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o quadro de giz, sua utilização correta e seus acessórios

Albert Ebert *

1. Introdução; 2. Técnica da utilização do qua-


dro de giz; 3. Os acessórios do quadro de giz.

1. INTRODUÇÃO

O quadro de giz e seus clássicos aceSSOrIOS, giz e apagador, cons-


tituem o material didático mais comum, mais difundido e tam-
bém um dos mais antigos de que se utilizam professores e alunos.
Foi durante muito tempo o único recurso visual que auxiliava e
ilustrava as explicações e explanações dos professores. Embora
dos mais antigos, é um recurso visual que está longe de ser obso-
leto, continuando a prestar aos mestres e aos alunos os mais re-
levantes serviços, figurando como material obrigatório, clássico,
indispensável e insubstituível em todas as salas de aula, labo-
ratórios, salas-ambiente e salas-oficina.

Naturalmente, o que evoluiu muito e, certamente, continuará


evoluindo sempre, foi o aspecto material do quadro de giz, a téc-
nica do seu emprego e as funções por ele desempenhadas.

• Professor-adjunto da Faculdade de Educaçlío da UFRJ; Professor do curso técnIco de


estatlstlca da Escola Nacional de CIências Estatlstlcas do IBGE; autor do Caderno MEC
de Qulmlca Mineral publlcado pela FENAME; co-autor do caderno MEC de QulmIca Or-
gânIca publlcado pela FENAME.

Curriculum, Rio de Janeiro, 11 (2): 29/49, abr./jun. 1972


o tipo ideal do quadro de giz, que oferece maior segurança, esta-
bilidade completa e que pode fornecer maior área útil, é o fixado
de modo irremovível à parede da sala de aula.

Todos os antigos e superados tipos de quadros, tais como o de


guilhotina, o rotativo horizontal ou vertical e o montado sobre

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cavalete estão, atualmente, em completo desuso e a sua total con-
tra-indicação prende-se à sua instabilidade, que torna difícil a es-
crita sobre uma superfície trepidante e oscilante, além de poder
provocar acidentes que não só causam danos físicos e prejuízos ma~
teriais, como provocam sempre, pelo seu lado cômico e vexatório,
situações de indisciplina coletiva, às vezes, difíceis de contornar.

o quadro de giz 31
Acrescente-se ainda, como inconveniente, a pequena área utilizá-
vel que tais tipos de quadros oferecem, pois, sendo todos eles mon-
tados em suportes ou cavaletes, têm o seu tamanho limitado ao
peso que tais sustentáculos possam suportar.

São características de um quadro de giz ideal:


a) Fixo à parede, de modo irremovível, e não simplesmente pen-
durado, deve ele ocupar toda extensão dela fronteira aos alunos

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Sua área útil nunca deve ser inferior a 4,20 m 2 , ou seja, 1,20 m de
altura por 3,50 de comprimento.

É aconselhável, com a finalidade de melhorar a visibilidade da par~


te inferior do quadro de giz, que se coloque no assoalho, rente à
parede fronteira da sala, um estrado de madeira ou um largo
degrau no próprio piso da sala, que tenha cerca de 0,20 m de al~
tura, de modo que a altura entre o estrado e a base do quadro
fixado à parede seja de 1,10 fi e, entre o estrado e o topo do qua~

o quadro de giz 33
dro, a distância seja de 2,30 m. Estas medidas permitem que uma
pessoa de estatura mediana possa utilizar, sem ter que se abaixar
demais ou sem ter que ficar na ponta dos pés, a maior parte da
área útil de 1,20 m que representa a altura do quadro de giz.

É conveniente que o estrado seja suficientemente largo de modo


a permitir liberdade de movimentação a professores e alunos, en-
quanto se utilizam do quadro de giz, sem que haja perigo de tro-
peções e quedas provocadas pelo desnível entre o assoalho e o es-
trado.

A colocação do estrado sob o quadro de giz, além de cumprir a


função precípua de melhorar a visibilidade da parte inferior do
mesmo, também atinge o objetivo secundário de permitir ao pro-
fessor melhor visibilidade do fundo da sala, o que lhe assegura
melhor contato visual com os alunos das últimas filas de carteiras.

b) Uma característica das mais importantes de um quadro de giz


ideal é a natureza da superfície em que se deve escrever com
o giz.

Deve esta ser: fosca, ligeiramente áspera e colorida. Fosca, para


evitar, ou pelo menos atenuar bastante, os reflexos de luz na su-
perfície do quadro, pois são fatores que diminuem, dificultam e,
por vezes, até impedem a visibilidade de determinadas regiões do
quadro, fato esse que passa a exigir freqüentes intervenções de
manejo de classe por parte do professor, pode ocasionar problemas
de disciplina, tira eficiência às técnicas de incentivo da aprendi-
zagem que utilizam o quadro de giz e arrefece o interesse dos alu-
nos pelo assunto, motivo da aula, já que o complemento visual
que seria fornecido pelo quadro de giz encontra-se prejudicado.

o recurso clássico contra tal inconveniente é pintar uma ou duas


vezes por ano, nos períodos das férias escolares, os quadros de giz
com uma tinta preta fosca que o apagador, no seu contínuo vai-e-
vem, cedo dá polimento restituindo-lhe o indesejável e perturbador
brilho.
Atualmente existem materiais especiais que dispensam a pintura
da superfície, por já serem fabricados na cor desejada, que resis-

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tem ao polimento provocado pelo apagador. Além disso, tais ma-
teriais são vendidos a metro, como se fosse uma passadeira, já
com a largura ideal, o que permite assentá-las numa grande ex-
tensão, sem emendas, sobre uma base de compensado ou de euca-
tex que nivela as irregularidades do reboco da parede.

Uma ótima superfície para o quadro de giz e que tem, entre ou-
tras, a grande vantagem de anular por completo os reflexos, é
fornecida por uma placa de vidro de seis a oito milímetros de es-
pessura, tendo a face em que se escreve despolida e a face oposta,
que ficará contra o compensado, pintada de cinza ou de verde fos-
co. Deste modo, a cor é dada ao quadro por transparência e o giz,
ao escrever sobre a face despolida de vidro, não entra em contato
com a camada de tinta. Um pano úmido no final de uma jornada
de trabalho, passado sobre a superfície de vidro, devolve ao quadro,
indefinidamente, o aspecto de novo.

A fábrica de material de revestimento de fórmica já está produ-


zindo o referido material nas cores adequadas ao quadrodegfi,
completamente fosco, fornecendo uma ótima superfície para es-
crever com o giz, isenta de reflexos e permitindo ao apagador re-
mover - facilmente, sem que seja necessário exercer grande pres-
são sobre o mesmo - tudo que se deseja apagar.

Um detalhe que melhora muito a visibilidade da superfície do qua-


dro de giz, atenuando ainda mais a formação de reflexos, princi-
palmente quando é utilizado à noite, consiste em cercar todo o con-
torno do quadro, excetuando-se a parte de baixo onde se encontra
a calha para recolher o pó de giz, por uma moldura saliente, por
detrás da qual se instala, só na parte superior, tubos de luz fria,
controlados por interruptores colocados ao lado do quadro de giz.
Neste caso, o quadro deve ter ligeira inclinação, de tal forma que a
parte superior do mesmo fique um pouco mais afastada da parede
que a inferior. Tal dispositivo, mantendo a superfície do quadro
de giz iluminada, não só permite maior destaque e visibilidade do
que nele se escreve, como também anula os possíveis reflexos pro-
venientes da iluminação da própria sala.

o quadro de giz 35
'------'teto
r - - - -- - - -Iuz fria
- - - - - - -moldura superior
' - - - - - -- -·Tr lho para cortina

superfície do quadro

,--- - - - - - -calha para o pó de giz

oalho

A superfície deve ser ligeiramente áspera, para que o giz não des-
lise sem nela deixar suficiente quantidade de material aderente
que assegure a perfeita legibilidade do traço. Este tipo de super-
fície funciona como uma lixa, desbastando o giz de modo uniforme
e retendo uma camada bastante espessa de giz, o que assegura um
traço uniforme e bastante visível.

A coloração adequada do quadro de giz é indispensável, de modo


a assegurar um contraste marcante entre o traço deixado pelo
bastão de giz e o quadro. Entre as cores mais utilizadas destaca-se
o verde, o cinza, o azul e, às vezes, o preto. Para estas cores de
quadro, é indispensável o emprego do giz branco ou de cores claras.
Também estão em uso, atualmente, os quadros de cores claras, pas-
tel, nos quais se deve escrever com gis de cores escuras e fortes,
que se destaquem bem em um fundo claro.

É devido ao fato de os quadros usados atualmente serem raramente


de cor preta, que a antiga denominação de quadro-negro cedeu
lugar à atual designação de quadro de giz.

c) Complemento indispensável a todo quadro de giz é a calha infe-


rior destinada a recolher o pó de giz que se destaca do próprio bas-

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tão quando atritado na superfície do quadro, bem como o que se
desprende do apagador e do próprio quadro quando este é apa-
gado. Sem tal complemento, o pó de giz acumula-se rapidamen-
te no estrado e daí, levado pelas solas dos sapatos do professor e
dos alunos, espalha-se por todo o assoalho da sala de aula e pelos
corredores do colégio, o que é, evidentemente, antiestético, anti-
higiênico e, portanto, desaconselhável.

Esta calha funciona também como descanso para os apagadores e


para os bastões de giz, razão pela qual deve ser suficientemente
larga e profunda para bem acomodar aqueles acessórios do quadro
de giz. A limpeza diária da calha impõe-se e é facilitada pelo não-
fechamento das duas extremidades da mesma, por onde, empur-
rado por um pano ou por uma escova, o pó de giz é recolhido em
um recipiente qualquer.

d) Quando o professor utilizar a técnica de preparar um roteiro


da aula no quadro de giz, antes do início da mesma, ou preparar,
antecipadamente, desenhos, esquemas, fluxogramas, gráficos ou
qualquer outro tipo de elementos de ilustração e complementação
da exposição verbal, não é conveniente que todo esse material, que
será utilizado durante o transcurso da aula em diferentes ocasiões,
fique à mostra desde o início da mesma. No princípio da aula se-
ria uma fator de dispersão da atenção que dificultaria enorme-
mente o estímulo inicial, enquanto que, no decorrer da mesma,
teria perdido consideravelmente o poder incentivador, decorrente da
sua apresentação em momento oportuno, devido ao desgaste do in-
teresse provocado pela apresentação antecipada.

Para sanar esta dificuldade, pode-se instalar por detrás da calha


de contorno superior, um trilho, por onde possa deslisar suave-
mente, sobre rodízios, uma cortina de plástico não transparente
ou de pano grosso, de preferência da mesma cor do quadro de giz.
Com este acessório poderá ser oculto da vista dos alunos, o quadro
adrede preparado, que ao ser, pouco a pouco, descerrada a cortina,
irá revelando, setor por setor, o material ilustrativo ali existente,
à medida que se torne necessário às diferentes fases da aula.

o quadro de giz 37
I I

Esta técnica é conhecida pela denominação, um pouco irreverente,


de strip-tease.

e) Quando as condições assim o permitirem, pode-se associar ao


quadro de giz, desde que isso não prejudique a área útil mínima
que ele deve ocupar, um toalhógrafo, um flanelógrafo ou um iman-
tógrafo. O imantógrafo, que é constituído por uma placa de ferro
ou aço de superfície bem lisa, poderá ser pintado com tinta fosca
própria para quadros de giz, da mesma cor que o quadro de giz,
convertendo-se assim em um prolongamento do mesmo, o que
permitirá utilizá-lo indiferentemente, como imantógrafo ou como
quadro de giz. No caso de serem usadas estas associações, convém
que o flanelógrafo e ou o imantógrafo, quando não estejam sendo
utilizados, fiquem ocultos por uma cortina, a mesma que se utiliza
para encobrir partes do quadro de giz, conforme exposto anterior-
mente.

2. TÉCNICA DA UTILIZAÇÃO DO QUADRO DE GIZ

Para que um quadro de giz ao ser utilizado pelo professor ou pelos


alunos, durante uma aula, preencha efetivamente as duas princi~
pais funções que lhe são atribuídas pela didática moderna e que
são: dar organização aos conhecimentos e reforçar a experiência
auditiva através do sentido da visão, é necessário que ele seja uti-

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lizado com uma técnica específica, da qual as normas primordiais
são as seguintes:

a) nunca inicie uma aula sem que o quadro de giz esteja com-
pletamente limpo. Se quem o deve deixar limpo é o professor que
termina a sua aula ou se deve limpá-lo aquele que a inicia é de so-
menos importância. Se deve ser limpo pelo próprio professor, por
um servente da escola ou por um aluno que para isso se ofereça
ou atenda a um pedido do professor, não tem a menor importância,
contanto que o princípio fundamental de só iniciar a aula com o
quadro totalmente limpo seja respeitado.

É fato comprovado, e a experiência sempre o confirma, como é tra-


balhoso e por vezes difícil vencer, no princípio da aula, a apatia
inicial dos alunos e a natural dispersão da atenção que neles foi
provocada pelo intervalo entre .a saída de um professor e a entra-
da do outro. Sendo assim, não é normal que o professor dificulte
o seu trabalho de incentivo inicial, permitindo um quadro de
giz cheio de resumos, demonstrações, exercícios ou textos da aula
que precedeu a sua e que tenha sido tão bem dada que a moti-
vação por ela criada ainda perdure e venha a funcionar como um
poderoso fator de dispersão da atenção. Além disso, o simples fato
de o professor, antes de se dirigir à turma, apagar totalmente o
quadro de giz é mais uma maneira de predispor e preparar os alu-
nos para o começo do trabalho.

Ao apagar o quadro de giz, no início ou durante a aula, sendo


sempre grande a extensão a ser apagada devido ao tamanho dos
quadros de giz, deve-se fazê-lo por setores, cujo tamanho corres-
ponda à amplitude do movimento do braço de quem segura o
apagador. Ao apagarmos cada setor devemos fazê-lo com movi-
mentos calmos, regulares, da direita para a esquerda ou vice-versa
e de cima para baixo, de modo que o pó de giz seja melhor enca-
minhado para a calha inferior destinada a recebê-lo. Os movi-
mentos bruscos e desordenados são inadequados por espalharem
pó de giz em todas as direções e por não limparem completamente
a área.

o apagador deve ser segurado com firmeza de modo que não es-
cape da mão de quem o utiliza, e a pressão que sobre ele se exer-

o quadro de giz 39
ce deve ser suficiente para remover, totalmente, as partículas de
giz aderentes ao quadro, de modo que nenhum vestígio ou fan~
tasma do que estava escrito permaneça visível.

Uma recomendação muito importante quando se fala em como


apagar o quadro de giz é a de nunca fazê~lo com a mão. Mesmo
que se trate de apagar uma simples letra ou um único número ou
sinal a ser retificado, faça~o com o apagador, nunca com a mão.
É um reflexo que deve ser condicionado pelo professor, êste de
pegar o apagador sempre que o quadro de giz tenha que ser apa~
gado. Por outro lado, nunca deve o professor conservar o apagador
na mão durante a aula, e, muito menos, utilizá-lo para apontar
o que estiver escrito ou desenhado no quadro de giz. Para apon-
tar qualquer coisa a ser mostrada aos alunos, aconselha-se o uso
de uma ponteira, longa de um metro ou um metro e meio, que
permita ao professor apontar o que deseja, sem ocultar com o corpo
a região do quadro apontada. Uma boa ponteira é conseguida com
uma flecha das que se usam para fazer as armações das pipas ou
papagaios com que brincam as crianças e que pode ser adquirida
em qualquer quitanda. Uma ponteira deste tipo pode ficar pendu-
rada ao lado do quadro de giz por meio de um gancho, o que, para
o nível médio de ensino, não é aconselhável, pois, certamente, nos
intervalos entre as aulas a ponteira se transformaria em espada
para esgrimar ou em vara para importunar os colegas. Melhor
ainda será mandar confeccionar num carpinteiro uma ponteira de
madeira torneada que, por meio de parafuso de um lado e rosca
do outro, possa ser desmontada facilmente em dois ou três peda-
ços, de modo a poder ser guardada e transportada na pasta do pro-
fessor, evitando-se assim que nos intervalos das aulas a ponteira
se transforme em brinquedo, às vezes perigoso, para os alunos.
Já existem à venda, lapiseiras, que pela extremidade oposta àquela
pela qual se escreve, são extensíveis, como as antenas de televi-
sores e rádios portáteis, transformando-se assim em ótimas pon-
teiras, de fácil transporte pelo professor que poderá tê-la à mão a
qualquer momento em que dela precisar.
Depois de utilizado, o apagador deve ser colocado na calha do qua-
dro de giz e nunca sobre a mesa do professor ou sobre a carteira
de um aluno, que com isso rapidamente ficariam em lastimável
estado de sujeira.

40 Curriculum 2/72
b) uma segunda norma importantíssima a ser observada quando
se usa o quadro de giz é não utilizá-lo indiscriminadamente. O uso
indiscriminado e não planejado gera uma confusão tão grande que,
por vezes, o próprio professor se perde no emaranhado dos dados,
desenhos, gráficos, esquemas, etc., desordenadamente lançados.

Se uma das importantes funções do quadro de giz é dar organiza-


ção aos conhecimentos relativos à aula que está sendo dada, não
se pode admitir o seu emprego indiscriminado e desordenado. Por
esta razão, impõe-se o planejamento antecipado do seu emprego,
planejamento esse, que deve ser feito pelo professor, paralela-
mente ao da aula que o mesmo irá ilustrar e à qual deverá dar
organicidade. O planejamento antecipado do aproveitamento da
área útil do quadro de giz e da distribuição a ser dada à matéria
no mesmo impede que o professor venha a ser surpreendido no
transcurso da aula pela falta de espaço que o obrigue a apagar
• dados essenciais da matéria, cuja permanência no quadro, até o
final da aula, seria indispensável, ou fazendo-o perder tempo e
contato de comunicação com a turma, à procura de dados ali ano-
tados desordenadamente e dos quais necessita para dar seqüência
e unidade às suas explicações.

A organização do quadro de giz é, do nosso ponto de vista,


uma coisa muito pessoal, que depende da maneira pela qual o pro-
fessor tratará o assunto, além do que é variável com a disciplina e,
dentro de cada uma, varia conforme o assunto a ser discutido pelo
professor, devendo, além do mais, adaptar-se ao tamanho do qua-
dro de que disporá o professor para dar aula. Por isso julgo não
haver um padrão fixo e rijo para a organização do quadro de giz;
porém as variações individuais poderão girar em torno da seguinte
distribuição, que é a que mais se adapta às várias disciplinas e aos
vários níveis de ensino.

Podemos considerar o quadro dividido em três regiões verticais, sem


que contudo haja necessidade de demarcá-las por meio de traços:
uma região esquerda, uma central e uma direita.

Na região esquerda, que não deverá ser apagada durante todo o


transcurso da aula, será organizado um verdadeiro roteiro da aula,
iniciado pelo título do assunto sobre o qual versará a aula, escrito

o quadro de giz 41
em letra de forma, tipo grande, sublinhado, para que se destaque
bem. Logo abaixo do título, destacados por meio de números ou
letras, devem suceder-se os itens e subitens do assunto da aula.

Para a utilização da parte esquerda do quadro de giz existem três


diferentes escolas: a primeira acha que ao ser iniciada a aula já
deve o roteiro da mesma estar transcrito na parte esquerda do
quadro, onde foi escrito pelo próprià professor, por seu auxiliar ou
por um aluno, no intervalo que precede a aula. Tal técnica, a meu
ver, tem a desvantagem de provocar grande dispersão da atenção,
além, de ser um fator negativo em relação ao incentivo da aprendi-
zagem, pois o conhecimento antecipado dos itens que serão tra-
tados, tira-lhes o poder incentivador contido no fator surpresa ou
novidade. Além disso, o conhecimento antecipado de todos os itens
que serão vistos no transcurso da aula permite que haja uma dis-
criminação de interesses, isto é, cada aluno dará maior atenção ao
trecho da aula em que esteja sendo focalizado o 'item pelo qual
sinta maior interesse, assumindo uma atitude negativa de desin-
teresse em relação aos demais itens. É fácil prever os problemas
criados para o professor, nesta contingência, em relação ao ma-
nejo de classe e às dificuldades, para que surtam efeito as técnicas
de estímulo da aprendizagem.

A segunda escola, oposta à primeira, advoga a utilização da parte


esquerda do quadro, no final da aula, usando-a pois para uma sín-
tese integradora final. É uma ótima técnica para obter uma boa
e proveitosa síntese integradora final, mediante interrogatório de
fixação da aprendizagem, habilmente dirigido, de modo a ressal-
tar todos os itens importantes estudados durante a aula, ao mes-
mo tempo em que um aluno, ou o próprio professor, face às respos-
tas que vão sendo dadas ao interrogatório, vai organizando, na
parte esquerda do quadro de giz o roteiro ou resumo retrospectivo
do que acaba de ser dado. Acho, porém, que esta vantagem é anu-
lada pela desvantagem maior de não ter sido dada organização à
aula durante o seu transcurso e sim somente após o seu término.

Julgo ser a terceira a melhor opção para a utilização da parte


esquerda do quadro de giz. Trata-se da escola que defende a sua
utilização à medida que a aula transcorre, isto é, cada item é
escrito naquela parte do quadro antes de ser desenvolvido pelo

42 Curriculum 2/72
professor, e assim sucessivamente, de modo que, ao chegar a aula
ao seu término, o resumo da mesma, organizado, claro e sucinto,
estará ocupando toda a parte esquerda do quadro. Nada impede
que esta parte do quadro, depois de apagada, seja refeita, como
já indicado, a título de síntese integradora final ou simplesmente
para uma recapitulação do assunto da aula, no final da mesma.

A região central, que deve ser a mais ampla, é reservada ao desen-


volvimento, explicações, conclusões, esquematizações, etc., referen-
tes a cada um dos itens e subitens dos dados essenciais da matéria.
Esta região é periodicamente apagada, cada vez que se muda de
assunto, de modo que cada novo item adicionado à região es-
querda do quadro de giz deverá encontrar a região central apagada
para que na mesma seja iniciado seu desenvolvimento.

Finalmente, a ' região direita é reservada aos dados acessórios, re-


ferências anteriores ou futuras, elementos auxiliares, resolução e
atendimento de dúvidas suscitadas pelos alunos à medida que o
tema básico que está sendo focalizado se desenvolva na região
central.

Teríamos então esquematicamente:

Região esquerda Região central Região direita

Título do assunto da
Desenvolvimento, ex- Dados acessórios, re-
aula plicações, c o n c I u- ferências a assuntos
s õ e s, esquematiza- anteriores, colabora-
Organização esque-
mática dos dados es-
ções, etc., de cadação dos alunos, escla-
senciais da matéria
um dos itens dos da- recimentos de dúvi-
dos essenciais da das, cálculos auxilia-
NÃO SE APAGA matéria res, etc.
DURANTE TODA A
AULA APAGA-SE PERIODICAMENTE

c) como terceira norma prática, aconselharíamos ao professor que


não ficasse muito tempo voltado para o quadro, dando as costas
para a turma sem com ela se comúnicar oralmente. Tal atitude

o quadro de giz 43
conduz a uma perda de contato com os alunos, para cuja retomada
perde-se um precioso tempo e despende-se um esforço dobrado. O
correto é saber intercalar, habilmente, períodos de exposição com
períodos de escrita no quadro. Até mesmo a confecção de um es-
quema, de um gráfico, de um organograma ou de um fluxograma
nunca deve ser feito todo de uma vez, com paralisação da aula e
interrupção da comunicação entre o professor e os alunos. Ao con-
trário, a confecção deve ser feita por partes, à medida que as neces-
sárias explicações vão sendo dadas, o que permite alternar a ex-
posição com os períodos em que se está voltado para o quadro
de giz.

d) relativamente ao trabalho dos alunos no quadro de giz, são


aconselháveis as seguintes normas principais: quando um aluno é
convidado pelo professor a ir ao quadro para colaborar com ele, re-
solvendo um problema, fazendo a correção de um exercício ou de
uma prova para o confronto do trabalho dos demais colegas, para
transcrever um texto para o quadro de giz, etc., ou mesmo quando
o aluno, espontaneamente, vai ao quadro de giz expor uma dúvi-
da ou uma dificuldade surgida, expor o seu ponto de vista ou a
sua opinião pessoal ou de um grupo de alunos sobre o tema em
estudo, etc.; em qualquer destas eventualidades o professor nunca
deve permanecer junto ao aluno que está no quadro, devendo, ao
contrário, afastar-se para o meio da sala de aula, de onde, então,
dialogará com o aluno, fazendo-lhe as perguntas necessárias, res-
pondendo às que lhe forem feitas, orientando o trabalho do mes-
mo, etc. Este modo de agir permite que toda a turma, e não só o
aluno que está no quadro, ouça o diálogo travado entre o pro-
fessor e o aluno, podendo portanto dele beneficiar-se e dele par-
ticipar.

Não esquecer de, uma vez terminada a colaboração do aluno que


foi convidado a vir ao quadro, dispensá-lo com um "muito obriga-
do", para que possa voltar a sentar-se no seu lugar. Caso o traba-
lho realizado pelo aluno no quadro de giz tenha sido bom, demons-
trando o seu interesse pela matéria, ou no caso de ter ele contri-
buído com uma sugestão interessante e apropriada ao assunto da
aula, ou ainda, se a sua contribuição conduziu a conclusões ne"
cessárias à boa compreensão do assunto da aula, convém, ao dis-

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pensá-lo, dar-lhe uma breve palavra de estímulo e reconhecimento.
Tal atitude por parte do professor representa valioso incentivo que
só poderá contribuir, de modo positivo, para maior e melhor mo-
tivação.

e) em relação ao que se escreve no quadro de giz, as principais


recomendações são as seguintes: em primeiro lugar, segure o bastão
de giz com firmeza, de modo a assegurar um traço forte, homogê-
neo e firme. Para isso, o bastão de giz, depois de partido ao meio,
deve ser seguro por três dedos; o polegar e o médio imprensando-o
de cada lado e o indicador, comprimindo-o de encontro a super-
fície do quadro. No ato de escrever, a ponta do dedo indicador
quase toca a superfície do quadro, pois o pedaço do bastão que ul-
trapassa os dedos que o seguram é muito pequeno, sem o que, ao
exercer pressão o giz se quebra.

ERRADO

CERTO
o quadro de giz 45
É aconselhável para os que se iniciam na profissão, um período
de treinamento e praticagem da firmeza e uniformidade do traço
no quadro de giz, principalmente para os professores que lecio-
nam disciplinas que utilizam com freqüência o quadro de giz para
a confecção de gráficos, desenhos e esquemas. Tal treino deve com-
preender a praticagem do traçado de linhas retas verticais, oblí-
quas e horizontais, linhas retas paralelas separadas por grandes,
médias e pequenas distâncias, verticais e horizontais, linhas curvas
sob a forma de círculos, elipses e espirais, círculos concêntricos,
arcos de círculos com a convexidade à direita ou à esquerda, para
cima e para baixo.

Usar letra de tipo e tamanho visíveis e legíveis de qualquer ponto


da sala de aula, respeitando a correção gramatical e ortográfica,
inclusive acentuação e pontuação.

Para os títulos, subtítulos, nomes próprios e termos técnicos, em-


pregar, de preferência, letra de forma, evitando em todos os casos
a abreviatura de palavras que podem gerar confusões e interpreta-
ções errôneas.

Ao escrever, manter sempre a horizon~alidade das linhas bem como


a constância e a regularidade dos espaços entre elas. Evitar en-
gavetamentos de letras e de palavras bem como superposição das
mesmas, sobretudo nas zonas limítropes entre as diferentes re-
giões do quadro, bem como na extrema-direita do mesmo.

Utilizar, tanto para a organização dos itens da aula, na região


esquerda, como para os esquemas, gráficos, desenhos ou demons-
trações, feitas na região central do quadro, giz branco e de cores,
procurando assim dar maior organização e destaque aos mesmos.
O emprego de diferentes cores serve não somente para dar desta-
que a partes ou itens importantes, como também para facilitar
a identificação e o reconhecimento dos elementos ou termos iguais
ou comuns e que para tanto serão sempre destacados pelo empre-
go da mesma cor para a sua representaçãQ.

46 Curriculum 2/ 72
3. Os ACESSÓRIOS DO QUADRO DE GIZ

Os dois principais acessórios do quadro de giz são os bastões de


giz e o apagador.

Os bastões de giz não devem ser nem moles demais, nem duros
demais. O giz muito mole, que se esfarinha com facilidade, torna
difícil a escrita ou o desenho no quadro, pois à menor pressão que-
bra-se, impedindo assim que se possa obter um traço firme, unifor-
me e ininterrupto como é desejável. Ao contrário, o giz duro demais,
por maior pressão que sobre ele se exerça, deixa pouco material ade-
rente ao quadro, produzindo assim um traço pouco visível e por
isso mesmo desaconselhável. É importante que a contextura do giz
seja homogênea, livre de grãos de impurezas duras que riscam
a superfície do quadro deixando marcas indeléveis, bem como fa-
zem deslizar o giz nos momentos mais inoportunos, inutilizando
desenhos ou esquemas, dificultando sua confecção e pondo à pro-
va a estabilidade emocional e o autocontrole do professor.

Portanto o bastão ideal de giz é aquele constituído por uma mistu-


ra homogênea dos ingredientes que o compõem, de dureza média
e cujo traço possa ser removido facilmente do quadro pelo apaga-
dor, sem deixar manchas ou vestígios.

Os bastões de seção circular prestam-se mais à escrita, enquanto


que os de seção quadrada, por darem um traço mais largo e cons-
tante prestam-se mais à esquematização e ao desenho.

Para os professores que tenham alergia ao giz, é aconselhável o


uso de dedeiras de borracha nos dedos polegar, indicador e médio,
o que o protegerá do contato prolongado com o mesmo.
Quanto ao apagador, o tipo mais difundido e encontradiço é aque-
le constituído por um bloco de madeira tendo colado a uma de
suas faces um pedaço de feltro não muito espesso. É um tipo de
apagador totalmente contra-indicado por duas razões principais.
Em primeiro lugar, no fim de algum tempo de uso, as pontas do
feltro começam a se descolar da base de madeira de tal modo que,
ao forçar o apagador de encontro à superfície do quadro para apa-
gá-lo, a ponta se dobra, freia o apagador, que inesperadamente

o quadro de giz 47
salta da mão de quem o está utilizando e, em meio a uma nuvem
esvoaçante de pó de giz, vai ao chão, não sem antes deixar suas
marcas na roupa ou nos sapatos de quem o estava usando. Em se-
gundo lugar, como a camada de feltro é relativamente fina, o atri-
to com a superfície do quadro cedo a desgasta, de tal modo que
a base de madeira, principalmente nos cantos, começa a riscar a
superfície do quadro.

Um bom tipo de apagador em que tais inconvenientes foram supe-


rados é constituído por tiras de feltro bem rijo, com cerca de 1,5 cm
de largura por 2 a 2,5 cm de altura, dispostas paralelamente e bem
cerradas uma contra as outras, fixadas a uma base, também de
feltro.

Um material que se tem mostrado muito adequado para funcio-


nar como apagador é a esponja de matéria plástica encontrada
à venda em qualquer supermercado, que encaixada e colada a um
suporte de madeira serve como ótimo apagador.

Além destes dois acessórios do quadro de giz, cujo uso é comum a


todas as disciplinas e a todos os níveis de ensino e aos quais acres-
centaríamos a ponteira, já citada em páginas anteriores, existem
ainda outros acessórios que são específicos para determinadas dis-
ciplinas, como por exemplo: réguas, compassos, transferidores, es-
quadros, réguas T e gabaritos de todos os tipos:

a) Réguas, compassos, transferidores, esquadros e réguas T.


Este material, que é geralmente confeccionado em madeira, deve
ser suficientemente grande e possuir, com exceção do compasso, um
pequeno cabo saliente que permita segurá-lo de encontro ao quadro,
enquanto são traçadas as linhas ou medidos os ângulos. A única
recomendação especial diz respeito ao uso do compasso, para que a
sua ponta não inutilize, com as perfurações que produz, a superfí-
cie do quadro. Para evitar tal inconveniente, recorta-se, com uma
serro tico-tico, um pequeno quadrado ou círculo de plástico trans-
parente e rijo tendo cerca de 10 cm de diâmetro, no centro do qual
faz-se uma pequena escavação que faremos coincidir, por transpa-
rência, com o ponto exato onde pretendemos colocar a ponta do
compasso. Colocando-se a ponta do compasso na pequena depressão,
ao mesmo tempo em que, com a outra mão, seguramos a plaqueta

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de plástico de encontro ao quadro, poderemos utilizar o compasso
sem ferir a superfície do mesmo, e

b) Gabaritos de todos os tipos, adequados a cada disciplina, po-


dem ser recortados com serra tico-tico, em madeira compensada ou
em eucatex, fixando-se em seguida ao mesmo um pequeno cabo
que permita segurá-lo de encontro ao quadro. Deste modo, pro-
fessores que não possuam grande habilidade específica para a es-
quematização ou para o desenho, ou aqueles que não queiram per-
der muito tempo com tais recursos, poderão facilmente, contor-
nando o gabarito encostado à superfície do quadro, com um bas-
tão de giz, obter o contorno de continentes, países, estados, apa-
relhagem simples de física e química, folhas, corolas etc.

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