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Introdução
Nossas idéias iniciais, sobre este fenômeno de interesse, nos levaram a considerar
as questões:
• O que é mecânica?
• O que é um mecânico industrial?
• O que é um técnico em mecânica?
visto que esses conceitos, em geral, não fazem parte do vocabulário usual de professores
e alunos de escolas acadêmicas. Estas questões foram trabalhadas e respondidas na
pesquisa.
Outra questão que fez parte de nossas idéias iniciais foi:
• Qual a importância da formação matemática para esse profissional da
mecânica?
Aqui, nós, como professor de matemática, nos manifestamos querendo conhecer o
que de importante há no ensino da matemática que tenha reflexo na formação desses
profissionais.
Em O desafio do futuro: aprender sempre (1999, p.17), lê-se:
1
O Prof. Dr. José Pastore é sociólogo, especialista em relações do trabalho e desenvolvimento
institucional, professor aposentado da Faculdade de Economia e Administração e pesquisador da
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, ambas da Universidade de São Paulo – USP.
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ajustes forçados. Olhando apenas para os ajustes móveis, pode-se ainda conseguir três
tipos de ajustes: deslizante, rotativo e rotativo leve. Daí o importante conceito de
Tolerância.
Tolerância é o valor da variação permitida na dimensão de uma peça. É,
particularmente, a diferença tolerada entre as dimensões limites, isto é, máxima e
mínima, de uma dimensão nominal2.
A tolerância é aplicada na usinagem3 de peças em série e avulsas, possibilitando a
intercambialidade das peças, isto é, a condição entre duas ou mais peças poderem ser
trocadas entre si, sem prejuízo do funcionamento do conjunto.
Para ilustrarmos uma aplicação, mostramos um exemplo retirado da apostila
SENAI de como cotar as peças de acordo com o ajuste desejado. Trata-se de um ajuste
que pede um furo (H7) para um eixo (f7)4.
50,000mm.
T = 50,025 – 50,000 = 0,025mm, T = tolerância
permitida no furo.
Para o eixo:
50 −−25
50 e o diâmetro real deve estar entre 49,975mm e
49,950mm.
T = 49,975 – 49,950 = 0,025mm, T = tolerância
permitida no eixo.
2
Dimensão nominal: dimensão básica que fixa a origem dos afastamentos.
3
Usinagem é a operação mecânica que confere à peça a forma ou as dimensões ou o acabamento ou
ainda a combinação destas, através de arranque de material por uma ferramenta cortante. Este material
arrancado chama-se cavaco.
4
H7 e f7 são as designações simbólicas dadas para indicar, em tabelas especiais, o grau de precisão
desejado no acoplamento furo/eixo.
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Podemos perceber apenas nesse exemplo que para o uso eficaz de toda essa teoria,
numa minuciosa interpretação dos conceitos de tolerância e ajuste para a usinagem de
peças intercambiáveis, fica implícita e explícita uma importante conexão com a
matemática: números racionais e operações com números racionais na forma decimal,
intervalos numéricos, familiaridade com o uso de tabelas, etc. Mas queremos, em
particular, destacar a possibilidade de explorar situações-problema que podem sair desse
contexto para se introduzir diversos conceitos matemáticos. Segundo o que pede nossa
metodologia, é preciso ter clareza sobre o objetivo da aula (números racionais,
operações com números racionais na forma decimal, intervalos numéricos, etc.). O
professor de matemática, em conjunto com os instrutores, deve elaborar essas situações-
problema academicamente.
Para que no processo de usinagem sejam garantidos os campos de tolerância
indicados para cada tipo de ajuste, encontramos, na apostila SENAI, os instrumentos de
medida mais utilizados para esse fim: o paquímetro e o micrômetro. Trata-se de
instrumentos interessantes que foram inventados para possibilitar a subdivisão do
milímetro e da polegada em partes não vistas a olho nu e conseguir uma leitura rápida
dessas medidas. Sem o uso e o completo domínio desses instrumentos, as tabelas
utilizadas para indicação dos valores das tolerâncias, que garantem um perfeito
acoplamento entre o furo e o eixo, não possuem significado algum. O paquímetro, como
exemplo, é o instrumento de medida mais presente no dia-a-dia do mecânico. Através
de uma escala denominada “vernier” ou “nônio”, pode-se atingir um grau de precisão de
"
1
até 0,02mm ou . Pode-se observar aqui, mais uma vez, a necessidade de se
128
ocupar com o estudo dos conjuntos numéricos.
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Como
" " " " "
16 15 1 15 8
1" = = + = +
16 16 16 16 128
temos que
" " " " "
121 " 120 1 " 15 1
2 = 2 + + = 2 + +
128 128 128 16 128
"
1
Olhando na escala vemos que para se atingir 3" falta exatamente . Mas
16
" " "
1 1 1 1 1
= ⋅ e o “vernier” corre apenas de .
128 8 16 8 16
"
121
Mas o problema levantado pelo aluno é o de se obter metade de 2 .
128
"
121
Com o paquímetro não foi possível abrir a metade de 2 , ou seja,
128
" "
121 1
1 . A grande dificuldade seria achar a metade de .
256 128
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Problema VII
Uma peça deverá ter um furo centralizado, como mostra o desenho. Qual será a
medida da abertura do paquímetro, para que se possa marcar na peça a medida x
desejada?
"
1
metade de 2 , deveriam contar, partindo do zero para a direita, dezessete espaços.
8
Como em 1" temos dezesseis espaços, bastou acrescentar mais um e conseguir
"
1
1 . Uma forma muito interessante se resolver o problema!
16
Os objetivos propostos para este encontro foram atingidos. Depois desse trabalho
com os alunos e de esclarecidas as dúvidas, o conceito matemático envolvido foi
formalizado.
Conclusão
As oportunidades de usar e melhorar conhecimentos, vistos no Ensino
Fundamental pelos alunos, ao estabelecer conexões com a prática em mecânica, devem
ser muito bem aproveitadas. Queremos que o aluno tenha oportunidade de ver essa
matemática para que possa aplicá-la, na prática, com segurança. O modo que estamos
propondo fazer essa retomada de construção de conceitos e conteúdos matemáticos, no
curso de Mecânica de Usinagem, adquire um caráter muito mais profundo. Deve-se tirar
do aluno a idéia errada de que fazer matemática é apenas fazer contas.
A falta de hábito e a não facilidade que cada aluno possa apresentar diante de uma
situação-problema dada só poderão ser corrigidas por meio da aplicação de várias
situações-problema. Com o apoio do professor e sempre com objetivos bem definidos
para cada problema, o aluno será colocado diante de situações que o façam pensar,
levando-o a superar cada barreira existente.
O professor, procurando meios para trabalhar a auto-estima do aluno, deve
valorizar os acertos, os caminhos escolhidos para a resolução de um problema, além de
fazer do erro uma oportunidade de aprender.
Cada problema escolhido deve ser gerador de novos conceitos ou conteúdos e,
sempre que possível, que seja tirado da prática desses alunos. Problemas da prática de
oficina bem preparados cumprem esta função, pois são situações de interesse desses
futuros profissionais.
Várias situações-problema tiradas dessa prática podem e devem ser abordadas nas
aulas de matemática, sendo uma motivação importante para a construção e reconstrução
do conhecimento matemático necessário a esses estudantes. A oficina é um ambiente
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muito rico de problemas que servem bem para a aplicação de nossa metodologia de
ensino-aprendizagem.
Um exemplo de que o trabalho colaborativo entre professor e instrutor dá certo,
aconteceu no dia em que acompanhávamos os alunos, com os quais aplicamos o projeto,
numa aula sobre o uso do paquímetro. Aquela situação criada por um aluno pôde
desenvolver um trabalho coletivo, dentro de um objetivo colocado pelo professor.
Por fim, essas ocasiões buscam levar cada aluno a perceber que, o que acontece na
realização de todas essas coisas da mecânica, não é mágica, mas é a matemática
tornando visível o invisível.
Referências
ALLEVATTO, N. S. G.; ONUCHIC, L. R. A Resolução de problemas e o uso de
computador na construção do conceito de Taxa Média de Variação. Revista de
Educação Matemática, São Paulo, ano 8, n. 8, p. 37 – 42, 2003.
PASTORE, J. Profissional vai precisar dominar sua área e muito mais. Folha de São
Paulo, São Paulo, 01 de maio de 1998. Disponível em:
<www.josepastore.com.br/artigos/emprego/072.htm>. Acesso em 12/06/2001.