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AGOSTINHO TOFFOLI TAVOLARO

JOINT VENTURE

I N D I C E

1– A GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA

2– PAPEL DAS JOINT VENTURES EM UMA ECONOMIA GLOBALIZADA

3– JOINT VENTURE – CONCEITO

4- JOINT VENTURE – DENOMINAÇÃO

5- JOINT VENTURE - HISTÓRICO

6– TIPOS DE JOINT VENTURES

6.1 – Quanto à nacionalidade : nacionais e internacionais


6.2 - Quanto ao risco : Equity e non equity joint ventures
6.3 - Quanto à forma jurídica adotada : corporate e non-corporate joint
ventures
6.4 - Quanto à duração : transitórias e permanentes
6.5 - Quanto às partes : estatais, privadas ou mistas

7- AS EMPRESAS BINACIONAIS BRASIL – ARGENTINA : JOINT VENTURES


COM TRATAMENTO DIFERENCIADO

8– MERCOSUL E JOINT VENTURE

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9– A JOINT VENTURE E A TRIBUTAÇÃO INTERNACIONAL

10 - A OPÇÃO PELA JOINT VENTURE – PRÓS E CONTRAS

11 - O CONTRATO DE JOINT VENTURE NA PRÁTICA

11.1 – Acordo de base


11.2 – Acordo satélites

12 – JOINT VENTURE – GUIA DE NEGOCIAÇÃO E INSTRUMENTALIZAÇÃO

13 - AS JOINT VENTURES E O NOVO CÓDIGO CIVIL

14 - CONCLUSÃO

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JOINT VENTURE

AGOSTINHO TOFFOLI TAVOLARO *

1 – A GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA

A partir da década de 90 a economia mundial apresentou uma notável


aceleração que se caracterizou pelo extraordinário incremento que tiveram as
transações entre empresas situadas entre diversos países, diversificando-se com
incrível velocidade fontes de produção, formas de investimento e financiamento,
além das inovações tecnológicas que resultaram no comercio eletrônico, permitindo
operações em tempo real entre partes situadas em distantes partes do mundo.

2 – PAPEL DAS JOINT VENTURES EM UMA ECONOMIA GLOBALIZADA

Nesse contexto, proliferaram as mais variadas formas de associação entre as


empresas, ditadas pelas múltiplas necessidades, objetivos e meios que se
pretendem atingir.

Dentre essas várias formas, o número de joint ventures revela que elas
tiveram utilização frequente e variada, em uma multiformidade que as torna aptas a
atender à dinâmica dos negócios.

*
- Advogado Sócio Diretor de TAVOLARO E TAVOLARO - ADVOGADOS – Campinas - São
Paulo.
- Ex-Membro do Comitê Permanente Científico da IFA - INTERNATIONAL FISCAL
ASSOCIATION – Amsterdam – Holanda.
- Ex-Presidente da ABDF - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DIREITO FINANCEIRO – Atual
Vice-Presidente – Rio de Janeiro – Brasil.
- Acadêmico da Cadeira nº 14 da ABDT - ACADEMIA BRASILEIRA DE DIREITO
TRIBUTÁRIO – Vice-Presidente – São Paulo – Brasil.
- Professor de Direito Comercial na Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica
de Campinas - São Paulo – Brasil.
- Membro do C.E.S.T.E.C. – Centre for European Studies on Taxation and Electronic-
Commerce – Rimini – Itália.

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Não tão nova essa utilização, pois já em 1981 ANDREA ASTOLFI escreveu
ser suficiente percorrer a imprensa econômica , não obstante a imprecisão no
emprego do termo joint venture, e a mais recente literatura (de então)
juscomercialista para verificar a freqüência com que a locução aparece como
fórmula usal de ilustração de cooperação industrial não melhor precisada de outra
forma1 .

3 – JOINT VENTURE – CONCEITO QUADRO I

Basicamente, uma joint venture representa a associação de duas ou mais


empresas a fim de criar ou desenvolver uma atividade econômica.

Embora essas empresas busquem com essa associação um ganho, esse


ganho nem sempre se apresenta como o mesmo para cada uma delas, pois
enquanto uma visa o lucro, outra pode estar à busca de novas tecnologias e outra
visa apenas e tão somente assegurar sua presença em um determinado mercado,
inúmeras outras motivações podendo existir ainda para cada partícipe do
empreendimento conjunto.

De se assinalar, desde logo, que essa associação não necessita, como


adiante se verá, assumir forma jurídica societária com personalidade jurídica
autônoma e distinta das empresas que unem seus esforços e conhecimentos em um
empreendimento comum.

Assim é que no Black’s Law Dictionary encontrávamos os verbetes “joint


adventure” e “joint venture”, dando-se ao primeiro o sentido de associação de
pessoas que conjugam bens, dinheiro, direitos , perícia e conhecimento para
obtenção de lucro, sem constituir sociedade ou companhia 2 , e ao segundo o
sentido de pessoa jurídica com a natureza de sociedade3 .

1
ASTOLFI, Andrea. II CONTRATO DI JOINT VENTURE. Milão : Giuffrè, 1981, p. 1.
2
Black’s Law Dictionary – St. Paul. Minn : West Publishing Co., 6ª Ed. 1990 : “Joint
Adventure – Any association of persons to carry out a single business enterprise for profit,
for which purpose they combine their property, money, effects, skill, and knowledge. A “joint
venture” exists where there is a special combination of two or more persons jointly seeking to
profit in some specific venture without actual partnership or corporate designation; it is na
association of persons to carry out a single business enterprise for profit, for which purpose
they combine their property, money, effects, skill, and knowledge. Fulton v. Fulton, Mo.App.,
528 S.W.2d 146, 155. See also Community of interest; Joint enterprise; Joint venture.”
3
Black’s Law Dictionary, id. : “A legal entity in the nature of a partnership engaged in the
joint undertaking of a particular transaction for mutual profit. Tex-Co Grain Co. v. Happy

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Nota-se, no entanto que tais definições, existentes na edição de 1990, na


edição de 1999 foram alteradas, remetendo-se “joint adventure” para o verbete “joint
venture” e a este se dando sentido de empreendimento comercial de duas ou mais
pessoas orientado para um único e definido projeto, tendo como elementos
necessários o acordo expresso ou tácito, uma finalidade comum, divisão de lucros e
perdas e igual poder das partes na direção do projeto4.

Definição singela dá o Barron’s , destacando que se trata de um


empreendimento de escopo e duração mais restritos que uma sociedade, embora os
termos usualmente sejam usados como sinônimos5.

De maior amplitude a conceituação do International Bureau of Fiscal


Documentation, que em seu International Tax Glossary , adverte que , embora o
termo “joint venture” seja bastante vago e pode significar quase todas as formas de
cooperação em empresas, o conceito é usualmente referido como investimento em
uma empresa existente ou recentemente formada, com ou sem personalidade
jurídica, em cujo capital duas ou mais empresas legalmente e economicamente
independentes ou grupos econômicos tem uma participação controladora
determinada por um acordo de muita cooperação, que disciplina obrigações de
contribuições específicas, direção conjunta em vários níveis e os graus de
atribuição de responsabilidade, lucros e riscos na forma acordada 6.

Wheat Growers, Inc., Tex.Civ.App., 542 S.W.2d 934, 936. An association of persons or
companies jointly undertaking some commercial enterprise; generally all contribute assets
and share risks. It requires a community of interest in the performance of the subject matter,
a right to direct and govern the policy in connection therewith, and duty, which may be
altered by agreement, to share both in profit and losses. Russell v. Klein, 33 III.App.3d 1005,
339 N.E.2d 510, 512.” A one-time grouping of two or more persons in a business
undertaking. Unlike a partnership, a joint venture does not entail a continuing relationship
among the parties. A joint venture is treated like a partnership for Federal income tax
purposes. I.R.C. § 7701 (a).”
4
Black’s Law Dictionary, St. Paul, Minn. : West Group, 7ª Ed., 1999 : “A business
undertaking by two or more persons engaged in a single defined project. The necessary
elements are: (1) an express or implied agreement; (2) a common purpose that the group
intends to carry out; (3) shared profits and losses; and (4) each member’s equal voice in
controlling the project – Also termed joint adventure; joint enterprise.”
5
Barron’s Law Dictionary, N. York : Barron’s, 1984. “A business undertaking by two or more
parties in which profits, losses, and control are shared. See 447 P. 2d 609. Usually connots
an enterprise of a more limited scope and duration than a partnership, although the terms are
often considered synonymous and both indicate similar types of joint liability for debts and
torts. See 27 N.Y.S. 785.”
6
International Tax Glossary, Amsterdam : International Bureau of Fiscal Documentation,
1988. “Although the term “joint venture” as such is rather vague and can imply almost every
form of cooperation between business enterprises, the concept is usually referred to as
investment in an existing or newly established enterprise, whether or not incorporated, in the
capital of which two or more legally and economically independent enterprises or other
economic subjects from one or more countries have a controlling participation according to a
mutual cooperation agreement which provides for an obligation to make specific

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Não se esqueça, no entanto, da advertência de RICARDO LORENZETTI, de


que “no hay autor que no señale la ambiguedad del termino joint venture en la
ciencia juridica. Ya sea señalando su extraneidad linguistica,su origen metajuridico,
su flexibilidad o su renuencia a ajustarse a los moldes normativos clasicos: lo cierto
es que há sido y continua siendo fertil para la indagación juridica.” 7.

4 - JOINT VENTURE – DENOMINAÇÃO

A expressão “joint venture”, de origem na língua inglesa já encontrou foros de


cidadania em nosso vernáculo, constando de nossos dicionários mais modernos,
como se pode ver do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (Editora Objetiva :
Rio de Janeiro, 2001), razão porque nos dispensamos de colocá-la entre aspas,
salvo quando a ela nos referimos, como acima, para dar-lhe as acepções ali
mencionadas.

5 - JOINT VENTURE - HISTÓRICO

LUIZ OLAVO BAPTISTA nos dá primoroso descortino da origem da joint


venture, situando-a no direito anglo-saxão, lecionando que em seus primórdios na
“common law” a expressão não existiu em uma primeira fase, encontrando-se
primeiro “adventure”, depois “joint adventure”, para chegar à forma atual “joint
venture”8.

contributions, a joint conduct of management responsibilities at some level and a certain


degree of liability and profit and risk sharing according to a commonly agreed formula.
Although the joint venture phenomenon as such is universal and the importance thereof is
steadily increasing, this form is particularly used by developing countries and Eastern
European countries as a tool to attract foreign investment and to acquire technology and
know-how. In many of these countries, specific tax incentives are provided in order to
encourage the setting up and conduct of joint ventures.”
7
LORENZETTI, Ricardo. Contratos Asociativos Y “Joint venture”, “in” Revista de Direito
Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, Abril-Junho/1981, 42/39.
8
BAPTISTA, Luiz Olavo. A “Joint Venture” – Uma perspectiva comparatista”, “in” Revista de
Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, Abril-Junho/1981, 42/39.

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ANDREA ASTOLFI frisando a origem jurisprudencial da joint venture, e


mencionando os contornos da joint venture traçados pelos tribunais norte-americanos da
época é incisivo ao destacar que as atuais feições da joint venture foram modeladas pela
praxe internacional9.

5.1. AS DIFERENTES MOTIVAÇÕES PARA FORMAR UMA JOINT VENTURE


QUADRO II

Cabe aqui apontar que a motivação para se constituir joint venture varia de caso a
caso e de país a país , podendo se dizer de um modo geral que as entabuladas entre
empresas dos países desenvolvidos tem por fim a realização de concentração de empresas
por coordenação, enquanto que as efetuadas entre empresas de países desenvolvidos e
entre empresas de países em vias de desenvolvimento, ou ainda entre estas e aquelas e
empresas de países subdesenvolvidos tem for finalidade, de um lado, assegurar a abertura
ou ampliação da presença em um determinado mercado e assegurar-se do fornecimento a
matérias primas, e de outro , das empresas de países em desenvolvimento ou
subdesenvolvidos, a participação na exploração dos recursos naturais, assegurando-se
também de fatia do mercado, ao mesmo tempo em que beneficiando-se de transferência de
conhecimentos tecnológicos. Não escapam ainda às finalidades das joint ventures o
estabelecimento de centrais de compras e de serviços, como aponta MARISTELLA BASSO
10
, o contorno às restrições ao capital estrangeiro em um determinado país ou a facilidade
de obtenção de financiamentos por organizações de fomento.

Não se olvide ainda a motivação financeira, que U.W.RASMUSSEN em 1988


apontava, escrevendo: “Enquanto nos anos 60 a incorporação, a aquisição, o “take over” ou
o investimento em capital de risco em subsidiárias ou filiais eram as ferramentas e
estratégias expansionistas, hoje, com o altíssimo custo do dinheiro , o “joint venture “ é o
método preferido dos administradores para executar seus planos expansionistas, tanto no
âmbito nacional quanto no âmbito transnacional” , acrescentando a seguir : “Executivos que
há duas décadas atrás nem queriam escutar falar em joint ventures”, hoje estão procurando
informações sobre estas técnicas microeconômicas” 11.

9
ASTOLFI, Andrea. II CONTRATO DI JOINT VENTURE. Milão : 1981, p. 4, que, na nota
de rodapé (5) detalha : “La dotrina è concorde nel ritenere di origine giurisprudenziale la
nozione di joint venture, “judicial legislation by classification”, in accordo al pensiero di Miller,
The Joint Venture : Problem Child of Partnership, in 38 Cal. L. Ver., 860 (1950), seguito, tra
gli altri, da BLAKE WEST, The Business Joint Venture in Luisiana, in 25 Tul. L. Ver., 382
(1951) e W. Jaeger, Joint Ventures: Origin, Nature and Development, in 9 Amer. Un. L. Ver.,
2 (1960). È vero però che le prime formulazioni della nozione di joint venture o, meglio, le
prime descrizioni come joint ventures di contratti di collaborazione tra diversi soggetti, si
rinvengono nella giurisprudenza inglese della fine del settecento.”
10
BASSO, Maristela. JOINT VENTURE. P. Alegre : Livraria do Advogado, 3ª Ed., 2002, p.
43.
11
RASMUSSEN, U.W. HOLDINGS E JOINT VENTURES. S.Paulo : Aduaneiras, 1988.

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6 – TIPOS DE JOINT VENTURES QUADRO III

As joint ventures podem ser classificadas em vários tipos, conforme a


nacionalidade de seus integrantes, o maior ou menor risco ( responsabilidade
patrimonial ) dos seus partícipes, quanto à aquisição de personalidade jurídica
autônoma e a forma societária adotada , quanto à sua duração e quanto às
atividades que desenvolverão.

6.1 - Quanto à nacionalidade : nacionais e internacionais

Podem as joint ventures constituir-se de partícipes sediados em um só país


ou em vários países. No primeiro caso, nacional se lhe chama, enquanto que no
segundo caso são elas denominadas internacionais.

Exemplo da primeira tivemos , no Brasil, com a AUTOLATINA, que uniu duas


empresas nacionais, ainda que subsidiárias de empresas estrangeiras, a FORD e a
VOLKSWAGEN.

Na atualidade , em uma só edição da revista ISTO Ë – DINHEIRO


(21/08/2002) em referência apenas a joint ventures nacionais ou internacionais
relativas ao Brasil encontramos noticias sobre a licitação para compra de caças
supersônicos de combate a que concorre a joint venture EMBRAER/ DASSAULT
(págs. 7 e 56); sobre a formação de uma confederação dos distribuidores das
marcas BRAHMA, SKOL e ANTARCTICA, hoje da joint venture AMBEV (pág. 14);
sobre a fusão das empresas do GRUPO GERDAU nos Estados Unidos com a
americana COSTEEL e as negociações para a formação de uma USIBRAS, que
reuniria USIMINAS, COSIPA E COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL e que
levaria à não concretização da associação CSN e o grupo anglo-holandes CORUS
objeto de noticia no “O Estado de São Paulo, de 14 de agosto de 2002, p. B7), já
anunciada, (pág. 40) ; sobre a COVISINT, portal de compras automotivas (e-
commerce) cujos 81% das ações pertencem às montadoras GENERAL MOTORS,
FORD e DAIMLER CHRISLER (pág. 46) , e finalmente sobre as agruras da TRITEC
MOTORS, fabricante de motores automotivos de Campo Largo, Paraná, joint
venture da BMW e da CHRYSLER para produção do motor para o carro Mini,
lançado na Inglaterra pela BMW (pág. 75).

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6.2 - Quanto ao risco : Equity e non equity joint ventures

Em economia , lembra com propriedade LUIZ OLAVO BAPTISTA (op. cit. 54),
já se fez clássica a distinção entre o equity capital , ou seja, o capital de risco,
investimento direto e o non equity investment, investimento indireto ou empréstimo,
sem participação nos resultados do empreendimento, assegurado o direito de
credito do investidor.

Destarte, uma equity joint venture é aquela em que existe investimento direto
de capital, que se sujeita assim aos azares do negócio, colocado assim em risco de
perder , caso os negócios tenham insucesso, ou auferir lucros, na eventualidade de
sucesso do empreendimento.

Já na non equity joint venture a posição do investidor é a de credor num


empréstimo, normalmente com remuneração pré-fixada, podendo conter ainda
cláusula de risco.

Constituiu-se essa modalidade na única possível, nos países socialistas, nos


tempos anterior à glasnot., cabendo ainda indagar, com BUCHEIT, se essa
operação realmente corresponde a uma joint venture 12.

6.3 - Quanto à forma jurídica adotada : corporate e non corporate joint


ventures

Distingue a doutrina dois tipos de joint venture, dependendo da forma jurídica


que venham a adotar:

a) Corporate joint ventures – quando os partícipes da joint venture resolvem


formar uma pessoa jurídica diversa da suas próprias personalidades jurídicas,
constituindo uma sociedade dentro do quadro legal do país onde pretendem
estabelecer sua sede ou onde exercerão suas atividades;

12
BUCHHEIT, L.C. IS SYNDICATED LENDING A JOINT-VENTURE? “In” International
Financial Law Reviwe, nº 8/12.

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b) Non corporate joint ventures – quando o desenvolvimento das atividades


não dá ensejo à constituição de uma pessoa jurídica.

No Brasil vimos assistindo, como prática usual, a opção pela corporate joint
venture, adotando-se uma das formas societárias que a lei brasileira faculta,
principalmente a sociedade por ações e a sociedade por quotas de
responsabilidade limitada, sendo ainda conhecida a utilização dos consórcios qual
disciplinada pela lei das sociedades por ações em seu artigo 278.

Em recente trabalho, CARMINE CARLO e FERDINANDO MARIA SPINA 13


apontam para distinção diversa, onde , ao lado das corporate joint ventures são
colocadas as contractual joint ventures e as partnership joint ventures.

Contractual joint ventures são aquelas decorrentes de acordo de tipo


negocial, estipulado entre as partes e que prevêem uma união temporária de
empresas, qual previu a lei italiana 1584 de 08 de agosto de 1977, e a lei argentina
sobre union transitória de empresas, segundo MARILDA ROSADO DE SÁ
RIBEIRO, “ de tipo contratual e não societário”, 14 apontando a autora conter a lei
normas sobre os sujeitos contratantes (art. 118); quanto ao objeto , a saber “ el
desarollo o ejecucion de una obra, servicio o suministro concreto, dentro o fuera del
territorio de la Republica” (art. 377); proporção e método para determinação da
participação (art. 378) ; regras de votação por unanimidade (art. 382); condições de
admissão e exclusão de membros (art. 377, incs. 9 e 10).

Partnership joint ventures são aquelas com as características da partnership


do direito anglo-saxão, sociedade de pessoas e não de capitais, onde se não
considera a pessoa jurídica da sociedade e sim a pessoa de cada um dos sócios.

13
CARLO, C. e SPINA, F.M. Le partnership joint ventures e le convenzioni contro le
doppie impozioni secondo I’OCSE. “In” Diritto e Pratica Tributaria Interenazionale, Padova
: Cedam, 2001, vol. 1, nº 1/88.
14
RIBEIRO, Marilda Rosado de Sá. As Joint Ventures na Indústria do Petróleo. Rio de
Janeiro : Renovar, 1997, p. 96.

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Importante é notar que, no Brasil, quando ocorrer uma contractual partnership


ela será considerada como sociedade irregular, ou seja, aquela que , na lição de
RUBENS REQUIÃO, não está inscrita no registro do comercio, sendo assim todos
os seus sócios solidariamente responsáveis por todas as obrigações assumidas pela
sociedade, sem qualquer limitação.

Last but no least necessário é apontar que a nacionalidade da sociedade


será a brasileira se organizada de acordo com as leis brasileiras e no Brasil tiver a
sede de sua administração, na forma do art. 60 da antiga lei das sociedades
anônimas (Dec. Lei 2627/40) superada a questão de sua revogação pela Lei de
Introdução ao Código Civil, - dec. Lei 4567/42 – art. 11, que determinava a
nacionalidade das pessoas jurídicas pela lei do Estado em que se constituírem, pelo
revigoramento expresso que lhe deu o artigo 300 da atual lei das sociedades por
ações ( Lei 6404/76), conforme ensina FABIO KONDER COMPARATO 15.

6.4 - Quanto à duração : transitórias e permanentes

Podem as joint ventures estabelecer sua duração limitada no tempo, seja por
prazo determinado , seja por prazo determinável, qual, por exemplo, a execução de
um projeto de construção de uma barragem ou de uma fábrica, ou ao contrário
serem estipuladas por prazo indeterminado.

6.5. Quanto às partes : estatais, privadas ou mistas

No que se refere aos co-venturers que as compõem, podem as joint ventures


ser classificadas em estatais, quando o empreendimento conjunto tenha como
partícipes somente pessoas jurídicas de direito público, privadas, quando somente
particulares delas façam parte, ou mistas quando Estado ou Estados se juntem a
empresas privadas em um empreendimento comum.

15
COMPARATO, Fábio Konder. Nacionalidade de sociedades privadas e aquisição de
imóveis rurais no país. “In” Direito Empresarial, S. Paulo : Saraiva, 1990, p. 60.

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7 - AS EMPRESAS BINACIONAIS BRASIL-ARGENTINA : JOINT VENTURES


COM TRATAMENTO DIFERENCIADO QUADRO IV

Mais importante parceira do Brasil dentro do contexto sul-americano,


Argentina e Brasil em 1985 iniciaram negociações para regulamentação de
empresas binacionais, às quais se daria um tratamento jurídico especial, o que
resultou no TRATADO DAS EMPRESAS BINACIONAIS BRASILEIRO-
ARGENTINAS, de 06/07/1990, aprovado pelo Brasil pelo Decreto Legislativo 26, de
26/05/1992 e ratificado pelo decreto 619 de 29/07/1992, e pela Argentina através da
Ley 23935 de 27/06/92.

Destaque-se que as binacionais não se constituem em pessoas jurídicas de


direito internacional, como enfatiza MARISTELA BASSO em sua obra citada, a qual
nos remetemos , tampouco sendo um novo tipo societário, agregando-se apenas
exigências aos tipos societários já existentes, a fim de que lhes seja concedido
tratamento favorável.

Brevitatis causam e em razão de sua excelência, permitimo-nos aqui reproduzir o


quadro sinóptico elaborado por MARISTELA BASSO (op. cit. nº 6.13, p. 175):

Lugar de Constituição Brasil ou Argentina


Sede Social Brasil ou Argentina
Forma Jurídica Qualquer tipo de sociedade comercial de acordo com a lei da
sede. No caso de Sociedade Anônima, ações nominativas
não transferíveis por endosso.
Registro e Formalidade de Lei da sede.
Constituição
Razão ou Denominação Lei da sede, e observância das siglas EBAB ou EBBA.
Social
Objeto Qualquer atividade econômica admitida pela lei da sede,
excetuando-se limitações constitucionais.
Duração Lei da sede

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Investidor Nacional Pessoas físicas : Domiciliadas no Brasil ou Argentina.


Pessoas jurídicas : de direito público brasileiro/argentino, ou
de direito privado do Brasil / Argentina.
Capital Mínimo Lei da sede.
Capital – Integração Investidores argentinos ou brasileiros:
Sozinhos : entre 30% a 70%;
Somados : mínimo de 80%;
Investidores de países terceiros : máximo de 20%.
Aportes de Capital 1) Em moeda:
- local do país do investimento;
- de livre convertibilidade.
2) Bens de capital e equipamentos. Tratamento diferenciado
quando são:
- argentinos ou brasileiros, em alguns casos;
- de terceiros países.
3) Qualquer outro aporte que a lei permita.
Controle Real e Efetivo por Devem eles deter mínimo de 80% do capital e dos votos, ter
parte dos investidores ao menos um membro de cada um dos dois países na
nacionais da Argentina ou administração e na fiscalização, seja qual for a parte do
do Brasil. capital.
Filiais Recebem o mesmo tratamento de Empresa Binacional, sendo
regidas pela lei da sede.
Tratamento Diferencial Recebem o mesmo tratamento das empresas nacionais, no
lugar de atuação, podem transferir utilidades e repatriar o
capital livremente.

8 – MERCOSUL E JOINT VENTURE

Embora firmado o Tratado de Assunção em 26/03/1991, marco inicial do


MERCOSUL, não existe em seu âmbito, até nossos dias, uma regulação especial
das joint ventures nem das sociedades binacionais, sendo de se esperar que, dadas
as finalidades semelhantes, se adote preceitos semelhantes aos hoje existentes
para as binacionais brasileiro- argentinas.

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14

9 – A JOINT VENTURE E A TRIBUTAÇÃO INTERNACIONAL

QUADRO V

Constituindo-se as joint ventures em importantes operações internacionais, a


sua caracterização jurídica e econômica é preocupação atinge todos os cultores do
direito tributário internacional, face ao dicotômico posicionamento : tributar a renda
da empresa ou de seus sócios?

Tendo em vista a diversidade existente entre o direito dos países que tem
como fonte de seu direito o direito romano e aqueles que tem como a common law,
e o fato de a tributação variar de um a outro país, quando em um se aplica lei
decorrente do direito romano, tributando-se a pessoa jurídica, enquanto que no outro
se aplica a common law , tributando-se a pessoa dos sócios, vê-se que a dupla
tributação internacional pode ocorrer com freqüência.

Estudos tem sido dedicados aos assunto, sendo de se apontar o realizado


pela IFA – INTERNATIONAL FISCAL ASSOCIATION, em seu congresso de
Cannes, 1995, que teve como tema “International income tax problems of
partnerships”, sendo relator geral o Prof. JEAN-PIERRE LE GALL , da França e
relatórios nacionais de 28 países, dentre os quais o Brasil, cujo relatório foi subscrito
por DEJALMA DE CAMPOS e EDYLCEA TAVARES NOGUEIRA DE PAULA 16,
bem como o efetuado pela OECD17, objeto este mesmo de análise crítica conjunta
de John F. Avery Jones * (United Kingdom), Luc De Broe (Belgium), Maarten J. Ellis
and Kees van Raad (Netherlands), Jean-Pierre Le Gall (France), Henri Torrione
(Switzerland), Toshio Miyatake (Japan), Sidney I. Roberts and Sanford H. Goldberg
(United States), Jürgen Killius (Germany), Guglielmo Maisto e Federico Giuliani
(Italy), Richard J. Vann (Australia), David A. Ward (Canadá) e Bertil Wiman
(Sweden)18 .

16
Cahiers de Droit Fiscal International – Vol. LXXXa – The Hague : Kluwer.
17
OECD – The Application of the OECD Model Tax Convention to Partnerships, Issues in
International Taxation nº 6 (Paris: OECD, 1999), as incorporated into the April 2000 update
of the OECD Model Tax Convention and Commentary.
18
JONES, John F. Avery. Characterization of Other States Partnerships for Income Tax.
Bulletin for International Fiscal Documentation – Vol. 56 – nº 7 p. 288.

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15

Dessa análise crítica , focalizada na categorização das partnerships dentro


do conceito utilizado pela common law, resultaram três sugestões para a
categorização das entidades estrangeiras dentro de um país que deverá tributar sua
renda, quais sejam :

a) aplicar uma regra diferente para caracterizar as entidades estrangeiras


quando tributar um sócio residente baseada no tratamento tributário do país de
domicílio da entidade, se este existir ou na lei do país de fonte do rendimento,
se no país de domicílio não houver tributação;

b) utilizar o tratados sobre dupla tributação de rendimentos para determinar a


caracterização da entidade;

c) aceitar a caracterização do país da fonte dos rendimentos , mas interpretar o


tratado ou nele introduzir cláusula específica de que estipule que o país de
fonte siga as regras de categorização do estado de residência do sócio.

Como se vê, trata-se, no caso, principalmente de tributação pelo país de


residência, sistema geral de tributação utilizado pela maioria dos países
desenvolvidos, exportadores de capital e que se constituem na maioria dos países
membros da OECD 19.

10 – A OPÇÃO PELA JOINT VENTURE – PRÓS E CONTRAS

QUADRO VI
Ao proceder ao estudo das joint ventures, devemos nos lembrar que a mesma
tem sido assemelhada, com justiça, a um casamento.

19
São membros da OECD – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
29 (vinte e nove) países, a saber: Austria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Alemanha,
Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda,,Noruega, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça,
Turquia, Inglaterra, Estados Unidos, Japão, Finlândia, Austrália, Nova Zelândia, México,
República Tcheca, Hungria, Coréia.

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16

Nesse caso, desde logo se torna oportuno lembrar o artigo de SCOTT T.


FENSTERMARKER20 – WHY DO FOOLS FALL IN LOVE? (Dealing with instability
in Joint Venture Marriages? , em que examina com humor, mas também com grande
dose de experiência, os problemas que surgem nas joint ventures.

Já referidas no item 5.1 acima as diferentes razões que podem levar a uma
joint venture, cumpre-nos apontar as vantagens e desvantagens que pode oferecer
uma joint venture, no quadro comparativo a seguir:

VANTAGENS DESVANTAGENS
1. Você ganha acesso aos 1. As outras partes da Joint Venture ganham
conhecimentos recursos e tecnologia acesso aos seus conhecimentos recursos e
das outras partes da Joint Venture tecnologia.
2. Joint Venture resulta em economia de 2. Joint Venture apresenta ineficiências
escala e eficiência. operacionais:
a) Necessidade de mais tempo e recursos
para iniciar;
b) Mais tempo e recursos para administrar;
c) Prováveis conflitos interesse em contratos
de vendas, compras, distribuição,
serviços, licenças, etc.
d) Necessidade de ajustamento de cultura
nacionais e de negócios das partes.
3. Joint Venture reduz as perdas em 3. Maior risco de fracasso da operação.
caso de fracasso, operação, pela
repartição do risco entre as partes.
4. Dono da empresa deseja a Joint 4. Se a exigência do vendedor é a única razão
Venture como condição de venda de para fazer a Joint Venture isto pode indicar
suas quotas ou ações. que o mesmo não vai trazer recursos para a
Joint Venture.
5. País hospedeiro exige que o 5. Exigência de Joint Venture pelo país
investimento seja feito através de Joint hospedeiro pode significar um mau ambiente
Venture de negócios e políticas xenófobas.
6. Decisões de negócios tomadas em 6. Redução de flexibilidade das decisões.
alto nível.
7. Aberturas de mercados no exterior. 7. Dificuldade de abertura de mercados por
compromissos dos co-venturesrs.

20
FENSTERMAKER, Scott T. “Why do fools fall in love? “ Artigo no site
www.demarest.com.br em 27.08.2002.

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17

11 – O CONTRATO DE JOINT VENTURE NA PRÁTICA

Ao contratar uma joint venture normalmente as partes estipulam, conforme


escrevem LAMY e BULHÕES PEDREIRA21 :

“(A) o modelo legal de sociedade que será adotado, as contribuições a que se


obrigam os sócios e os direitos de participação que caberão a cada um; (B)
preferência para adquirir a participação do sócio que pretender transferi-la a
terceiros; (C) direito de voto nas deliberações sociais – se o contrato não é
entre dois empresários com igual participação – proteção dos sócios
minoritários contra modificações na sociedade por deliberação da maioria; (D)
composição e atribuições dos órgãos da administração e mecanismos que
assegurem a cada sócio representação nesses órgãos e poder de escolher um
ou alguns dos administradores; e (E) política de distribuição de lucros”.

Quando se tem já definida a opção por uma equity coporation , o instrumental


jurídico ser utilizado constitui-se geralmente de um acordo de base e de acordos
paralelos ou satélites, muitas vezes figurando estes como anexos ao acordo de
base.

11.1 – Acordo de base - QUADRO VII

O acordo de base , também denominado acordo básico, contrato-mãe,


contrato quadro, contrato de investimento é o instrumento matriz que regula as
condições básicas e os demais instrumentos do negócio.

De um modo geral, o acordo de base contém:

a) Preâmbulo ou “consideranda” - em que se determinam em linhas gerais


os objetivos da JV, principalmente a sua estabilidade, sem se dar
vantagem injusta (“unfair advantage”) a qualquer das partes;

21
LAMY FILHO , Alfredo e PEDREIRA, José Bulhões. A lei das S/A. Rio de Janeiro :
Renovar, 1992, p. 34.

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b) Normas sobre a administração da JV , seus órgãos e atuação;


c) Cláusulas de duração e adaptação a situações ; retirada, recesso,
dissolução, liquidação , “hardship”;
d) Direitos e obrigações das partes : aportes de capital e de tecnologia,
destinação e distribuição dos lucros e resultados; dever de cooperação ,
cessão e transferência das participações na JV;
e) Solução dos conflitos : “umpire”, “swing man”, mediação, conciliação,
arbitragem;

11.2 - Acordos satélites (ancillary agreements) QUADRO VIII

Os acordos satélites visam a disciplinação de aspectos particulares


decorrentes do acordo de base, tais como:

a) Os estatutos ou o contrato social da pessoa jurídica , indicando-se a forma


societária eleita, sua sede, lei aplicável e foro, determinando-se a sua
nacionalidade;
b) Transferência de tecnologia e licença de marcas e patentes;
c) Financiamentos, mútuos, avais e garantias;
d) “Inter-company price” - preços de transferência e fontes de matérias-
primas, partes, peças e componentes;
e) Agências regulatórias – CADE – Meio Ambiente.

12 – JOINT VENTURE - GUIA DE NEGOCIAÇÃO E INSTRUMENTALIZAÇÃO

No seu esplêndido trabalho, MARISTELA BASSO oferece um valioso e


prático roteiro de estudo e planejamento de um joint venture, acompanhada de
minutas de contratos extremamente úteis que recomendamos aos iniciantes no
estudo e aplicação prática das joint ventures22 .

22
) BASSO, Maristela. Op. cit. p. 195

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13 – AS JOINT VENTURES E O NOVO CÓDIGO CIVIL QUADRO IX

O advento do novo código civil, com sua entrada em vigor prevista para o dia
10 de janeiro de 2002 , traz em seu bojo preocupações que nos incumbe apontar,
como, por exemplo, a da aplicação subsidiária às sociedades por quotas das
normas das sociedades simples, prevista no art.1053, o que conduz a que, nos
empates, se aplique a regra do art. 1010, § 2o, no sentido da prevalência da decisão
sufragada pelo maior número de sócios.

Também a adoção da teoria da imprevisão , no art.317, facultando ao juiz a


redução das prestações no caso de desproporção manifesta das prestações, causa
preocupação quando se cogita de contratos internacionais onde a variação cambial
pode se fazer presente, o mesmo se podendo dizer da resolução de contratos por
onerosidade excessiva ( cláusula “ rebus sic stantitbus” ) prevista no art. 478.

Chama a atenção, ainda, a possibilidade , nas sociedades por quotas de


responsabilidade limitada, de livre cessão das quotas a outro sócio, se de outro
modo não dispuser o contrato social ( art. 1057), e a necessidade de oposição de
mais de um quarto dos sócios , no caso de cessão de quotas a estranhos.

Releva ainda apontar que o artigo 1055 veda, nas sociedades limitadas, a
contribuição que consista em prestação de serviços, cabendo aqui trazer à baila a
questão de transferência da tecnologia que não se consubstancie em patente.

14 – CONCLUSÃO

A globalização da economia, como dito na abertura deste estudo, demanda a


polarização e junção de forças, de modo a propiciar um terreno fértil às joint
ventures; é , no entanto, um desafio que se põe aos profissionais do direito, no
Brasil, tornar-se parte atuantes no processo, seja na parte receptiva dos
investimentos, quanto na parte deles expedidoras de capitais, necessária à
preservação e mais que isso ao incremento da participação inexorável do Brasil no
comercio mundial.

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20

Preparar-se para isto, é , pois, condicionante de um futuro melhor para cada


um de nós e em especial dos que se preparam para ingressar no mercado de
trabalho como profissionais do direito, com o fito de tornar maior e mais pujante a
presença do Brasil no contexto internacional.

Palestra proferida em Franca, em 29 de agosto de 2001, na


XIII Semana Jurídica da UNESP.

Agostinho Toffoli Tavolaro

cs372

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