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SÉRIE

Debates ED
Nº1 – Maio de 2011
ISSN 2236-2843

Protótipos curriculares
de Ensino Médio e
Ensino Médio Integrado:
resumo executivo

Educação
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SÉRIE
Debates ED
Nº1 – Maio de 2011
ISSN 2236-2843

Protótipos curriculares
de Ensino Médio e
Ensino Médio integrado:
resumo executivo

Educação
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©UNESCO 2011
Coordenação: Setor de Educação da Representação da UNESCO no Brasil

Redação: José Antônio Küller


Revisão: Lúcia Leiria
Diagramação: Paulo Selveira
Capa e projeto gráfico: Edson Fogaça

Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos neste livro, bem como
pelas opiniões nele expressas, que não são necessariamente as da UNESCO, nem comprometem a
Organização. As indicações de nomes e a apresentação do material ao longo deste livro não implicam
a manifestação de qualquer opinião por parte da UNESCO a respeito da condição jurídica de qualquer
país, território, cidade, região ou de suas autoridades, tampouco da delimitação de suas fronteiras ou
limites.

BR/2011/PI/H/6 REV
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SUMÁRIO

Apresentação ...................................................................................................................................5

I. Justificativa e objetivos...................................................................................................................7

II. Protótipo, projeto pedagógico e plano de curso ............................................................................8

III. Princípios norteadores da proposta...............................................................................................8

IV. Protótipo curricular de ensino médio (EM) ....................................................................................9

V. Protótipo curricular de ensino médio integrado (EMI) .................................................................17

VI. Condições para a implantação da proposta ...............................................................................22

VII. Conclusão ................................................................................................................................23


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Equipe de consultores do estudo

José Antonio Küller (Coordenador)

Francisco de Moraes (Assistente de Coordenação)

Francisco Roberto Savioli (Linguagens)

Iole de Freitas Druck (Matemática)

Jane Margareth de Castro (Ensino Médio)

Luis Carlos de Menezes (Ciências da Natureza)

Paulo Miceli (Ciências Humanas)


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A P R E S E N TA Ç Ã O

As transformações globais da sociedade, da É preciso, para tanto, que a escola de ensino 5


economia e do trabalho pressionam as escolas de médio desenvolva um modelo educacional adequado
ensino médio do mundo inteiro para que busquem às características e à heterogeneidade dos novos
novas abordagens educativas. A preparação só para grupos e setores sociais que a frequentam. Segundo

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os vestibulares que dão acesso à educação superior o documento da UNESCO, intitulado “Reforma da
não é um objetivo adequado para a maioria dos educação secundária: rumo à convergência entre a
jovens, que não chega a este nível de ensino. A maior aquisição de conhecimento e o desenvolvimento de

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parte deles passa diretamente do ensino médio ao habilidade”1, esse modelo educacional deve articular
trabalho, aos cursos técnicos, ao treinamento aligei- a educação geral e a educação profissional e ser
rado ou ao desemprego. No Brasil, um número muito constantemente atualizado em função das transfor-
significativo de jovens abandona o ensino médio mações científicas, econômicas e sociais.
antes de sua conclusão, e o percentual daqueles Contribuindo na construção coletiva desse modelo,
acima da idade adequada é ainda muito alto no país. a UNESCO, ao longo dos últimos anos, realizou diver-
Há consenso sobre a solução para esses pro- sos estudos sobre o ensino médio na América Latina.
blemas. Todos concordam que o ensino médio, Um dos mais recentes, desenvolvido pela Represen-
além de proporcionar a desejável continuidade de tação da UNESCO no Brasil, tem suas principais
estudos, deve preparar o jovem para enfrentar os conclusões documentadas no livro “Ensino médio e
problemas da vida cotidiana, para conviver em educação profissional: desafios da integração”,
sociedade e para o mundo do trabalho. Renovando publicado em 20092. Este estudo analisou algumas
o compromisso internacional em favor da Educação iniciativas de implantação do ensino médio integrado
para Todos (EPT), o Fórum Mundial de Educação à educação profissional no Brasil. Uma das principais
(Dacar, Senegal, 2000), em seu Marco de Ação, em conclusões diz respeito ao fato de que há boa safra
consonância, define como um dos seus objetivos: de reflexões teóricas, argumentações ideológicas
“responder às necessidades educacionais de todos e normas sobre o tema; no entanto, são frágeis as
os jovens, garantindo-lhes acesso equitativo a propostas mais operacionais e raras as experiências
programas apropriados que permitam a aquisição de de implantação efetiva de cursos integrados.
conhecimentos tanto como de competências ligadas Em decorrência das conclusões deste estudo, a
à vida cotidiana”. Representação da UNESCO no Brasil desenvolveu um

1. UNESCO. Reforma da educação secundária: rumo à convergência entre a aquisição de conhecimento e o desenvolvimento de habilidade.
Brasília: UNESCO, 2008. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0014/001424/142463por.pdf>.
2. REGATTIERI, M.; CASTRO, J. M. (Orgs.). Ensino médio e educação profissional: desafios da integração. Brasília, UNESCO, 2009.
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projeto denominado Currículos de Ensino Médio, currículo originário pode articular-se com o conteúdo
com a finalidade de propor protótipos curriculares 3 dos eixos tecnológicos e das habilitações técnicas
viáveis para a integração entre a educação geral, a específicas, atendendo o objetivo de formação de
educação básica para o trabalho e a educação pro- técnicos de nível médio, conforme estabelecido na
fissional no ensino médio. No desenvolvimento do legislação como ensino médio integrado.
projeto, que conta com apoio do Ministério da A partir de uma mesma base curricular comum e
Educação, e no desenho dos protótipos de currículos, com variantes à escolha de cada escola e grupo de
buscou-se obsessivamente um modelo operacional estudantes, será possível aproximar a escola única da
que pudesse ser apropriado, amplamente utilizado e escola diferenciada e a desejada formação politécnica
continuamente aprimorado pela escola pública. da formação técnica, sempre que necessária. Se forem
O presente trabalho resume esses protótipos. implantados em uma mesma escola, cidade ou sistema
Descreve inicialmente um currículo de ensino médio de ensino, os currículos articulados possibilitam a
orientado para o mundo do trabalho e a prática troca do ensino médio integrado pelo ensino médio
6 social. Ele está desenhado para garantir aprendi- de formação geral ou vice-versa ou, ainda, a alteração
zagens necessárias ao desenvolvimento de conheci- da escolha de habilitação profissional no meio do
mentos, atitudes, valores e capacidades básicas para percurso.
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o exercício de todo e qualquer tipo de trabalho. Valori- Essa forma de organizar o currículo permite
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zando a continuidade de estudos, procura preparar postergar a escolha profissional ou ajustá-la a novos
o jovem para enfrentar os problemas da vida coti- interesses suscitados ainda durante o percurso
diana e participar na definição de rumos coletivos, do ensino médio. Tem a vantagem de possibilitar
promovendo o aperfeiçoamento dos valores humanos uma escolha profissional mais tardia, mais amadu-
e das relações pessoais e comunitárias. Deste primeiro recida, mais fundamentada em interesses pessoais
e originário tipo de protótipo, decorre outro, que inte- testados na confrontação com o campo profissional
gra o ensino médio com a educação profissional. e na análise objetiva de possibilidades e requisitos
No segundo tipo de protótipo, para atender os d e emprego, de trabalho ou de empreende-
que requerem profissionalização mais imediata, esse dorismo.

3. Protótipos são modelos construídos para simular a aparência e a funcionalidade de um produto em desenvolvimento. HOUAISS, A.;
VILLAR, M. S. Protótipo: primeiro tipo criado; original. In: _____; e_____. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva,
2009.
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Protótipos curriculares de ensino médio e


ensino médio integrado: resumo executivo

I. Justificativa e objetivos A preparação simultânea do jovem para o mundo


do trabalho e a prática social e para a continuidade
A proposição dos protótipos justifica-se por ne-
de estudos conjuga os objetivos de interesse nacional
cessidades concretas da sociedade e da juventude
com os interesses do público específico. Sabe-se que
brasileiras.
o ensino médio não tem conseguido atingir plena-
O ensino médio, como todo projeto educacional,
mente qualquer um desses objetivos. Além disso, os
deve estar fundado em objetivos que são perseguidos
índices de repetição e evasão são altos. As notas
pelo país: construir uma sociedade livre, justa e soli-
nas avaliações nacionais e internacionais são baixas.
dária; promover o desenvolvimento social e econômico;
Face ao insucesso, se currículo for entendido como o
erradicar a pobreza; reduzir as desigualdades sociais
conjunto de todas as oportunidades de aprendizagem
e regionais; promover o bem de todos sem nenhum
propiciadas pela escola, então é necessária uma
preconceito; defender a paz, a autodeterminação
mudança curricular.
dos povos e os direitos humanos; repudiar a violência
Uma mudança nos objetivos legais, no entanto,
e o terrorismo; preservar o meio ambiente.
é desnecessária. Basta observar o disposto no pará-
O ensino médio também precisa atender às
grafo 2º do art. 1º da Lei de Diretrizes e Bases da
necessidades de seu público específico. Em “Ensino
Educação Nacional (LDBEN): “A educação escolar
médio: múltiplas vozes”4, pesquisa realizada pela
deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática
UNESCO em parceria com o MEC, investigaram-se
as percepções de alunos, professores e corpo técnico- social”. Também é preciso assumir como essenciais e
pedagógico das escolas. Eles concordam que o buscar concretizar todas as finalidades do ensino
ensino médio é momento de transição e complemento médio, tais como vêm definidas no artigo 35º da Lei:
do ensino fundamental e que deve preparar o estu- I. a consolidação e o aprofundamento dos conheci-
dante para o ensino superior, para o mundo do mentos adquiridos no ensino fundamental, possibi-
litando o prosseguimento de estudos;
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trabalho, para viver em comunidade, para ter um


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bom senso crítico e para enfrentar os problemas do II. a preparação básica para o trabalho e a cidadania
dia a dia. do educando, para continuar aprendendo, de

4. ABRAMOVAY, M.; CASTRO, M. G. (Coord.). Ensino médio: múltiplas vozes. Brasília: UNESCO, MEC, 2003. Disponível em: <http://unesdoc.
unesco.org/images/0013/001302/130235por.pdf>. Acesso em: 30 jan 2011. 7
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modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade as escolas na definição, na organização e no funcio-
a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento namento de uma estrutura curricular integrada. Faci-
posteriores; litam a discussão das escolas na definição de meca-
III. o aprimoramento do educando como pessoa nismos de integração entre os componentes curriculares
humana, incluindo a formação ética e o desenvol- do ensino médio (áreas, disciplinas etc.) ou entre o
vimento da autonomia intelectual e do pensamento ensino médio e a educação profissional.
crítico; Os protótipos são referências curriculares e não
IV. a compreensão dos fundamentos científico- currículos prontos. Por isso, exigem um trabalho de
tecnológicos dos processos produtivos, relacio- crítica e complementação a ser feito pelos coletivos
nando a teoria com a prática, no ensino de cada escolares. Para tanto, em um primeiro movimento
disciplina.5 de aproximação, as escolas precisam conhecer o pro-
Os grandes objetivos que podem ser destacados tótipo adequado à modalidade de ensino médio
na Lei são a compreensão do mundo físico e social; a que pretendem implantar ou reformular.
8 preparação para o mundo do trabalho e o exercício Esse conhecimento deve ser complementado pela
da cidadania; o desenvolvimento da autonomia identificação das linhas de convergência e de distan-
na aprendizagem e a realização do estudante como ciamento entre o projeto pedagógico da escola e o
pessoa humana. Essas intenções mais gerais podem
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protótipo curricular. A análise da adequação do


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ser transformadas em resultados de aprendizagem protótipo às concepções do projeto pedagógico


mais específicos como fazem os eixos cognitivos e a deve anteceder a uma tomada de decisão democrática
matriz de competências e habilidades do novo Exame sobre a validade de seu uso.
Nacional de Ensino Médio (Enem). Tomada a decisão de usar um determinado
O protótipo curricular de ensino médio (EM) protótipo como referência, o segundo movimento
de formação geral atende todas as finalidades da é usá-lo na construção ou reformulação do currículo
LDBEN e, nos seus objetivos de aprendizagem, tem e na revisão do projeto pedagógico da escola. O uso
como referência o novo Enem. Objetivos relacionados do protótipo é indicado especialmente na discussão
com a preparação para o mundo do trabalho e a e na tomada de decisão sobre os princípios nortea-
prática social estão postos no centro do currículo dores do currículo e na definição da organização, da
como o principal foco de orientação da aprendizagem. estrutura e dos mecanismos de integração curricular
A partir dessa base comum, o protótipo de EM apresentados a seguir.
proporciona variações que visam à formação do
técnico de nível médio, de forma a atender à diversi- III. Princípios norteadores da proposta
dade de interesses da juventude brasileira.
Todos os protótipos curriculares resultantes do
projeto da UNESCO estão fundados na perspectiva
II. Protótipo, projeto pedagógico
da formação integral do estudante. Eles consideram
e plano de curso
que a continuidade de estudos e a preparação para
Os protótipos que são objetos desta apresentação vida, o exercício da cidadania e o trabalho são
devem ser compreendidos como referências a serem demandas dos jovens e finalidades do ensino médio.
usadas pela escola na definição do currículo do O trabalho, na sua acepção ontológica, entendido
ensino médio ou para a elaboração do currículo como forma do ser humano produzir sua realidade e
(e do plano de curso) do ensino médio integrado transformá-la, como forma de construção e realização
com a educação profissional. Eles pretendem ajudar do próprio homem, será tomado, nos protótipos,

5. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Coletânea de leis. Brasília:
Presidência da República Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos, 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/L9394.htm>.
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como princípio educativo originário. Ele articula e ensaiar a concretização de projetos de vida e de
integra os componentes curriculares de ensino médio, sociedade.
seja o de formação geral, seja o integrado com a Os protótipos têm, como perspectiva comum,
educação profissional. Isso quer dizer que toda a reduzir a distância entre as atividades escolares, o
aprendizagem terá origem ou fundamento em ativi- trabalho e demais práticas sociais. Têm também uma
dades desenvolvidas pelos estudantes que objetivam, base unitária sobre as quais se assentam diversas
em última instância, uma intervenção transformadora possibilidades: no trabalho, como preparação geral
em sua realidade. O currículo será centrado no planeja- ou formação para profissões técnicas; na ciência e na
mento (concepção) e na efetivação (execução) de tecnologia, como iniciação científica e tecnológica;
propostas de trabalho individual ou coletivo que cada na cultura, como ampliação da formação cultural.
estudante usará para produzir e transformar sua
realidade e, ao mesmo tempo, desenvolver-se como IV. Protótipo curricular de
ser humano. ensino médio (EM)
Associada ao trabalho, a pesquisa será instrumento 9
Um currículo é sempre organizado em função da
de articulação entre o saber acumulado pela huma-
perspectiva educacional que de fato o anima. A forma
nidade e as propostas de trabalho que estarão no
hoje dominante de organizar o currículo, dividido em

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centro do currículo. Como forma de produzir conhe-
disciplinas estanques, é adequada à perspectiva de

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cimento e como crítica da realidade, a pesquisa
transmissão verbal de conhecimentos (informações
apoiar-se-á nas áreas de conhecimento ou nas disci- /dados) desconexos e descontextualizados. Contra-
plinas escolares para o desenho da metodologia e pondo-se a isso, é proposta uma nova estrutura e
dos instrumentos de investigação, para a identificação organização curricular e uma nova forma de alocação
das variáveis de estudo e para a interpretação dos do tempo escolar. Elas substituem as velhas grades
resultados. A análise dos resultados da pesquisa, curriculares e o horário-padrão, sempre baseados em
também apoiada pelas áreas ou pelas disciplinas, uma divisão em aulas de diferentes disciplinas que
apontará as atividades de transformação (trabalho) se sucedem a cada 50 minutos.
que são necessárias e possíveis de serem concretizadas Considerando e aproveitando todas as formas já
pela comunidade escolar. previstas nas atuais Diretrizes Curriculares Nacionais,
Tomando o trabalho e a pesquisa como princípios especialmente a organização curricular por áreas
educativos, os protótipos unem a orientação para de conhecimento e as orientações referentes a
o trabalho com a educação por meio do trabalho. interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e contex-
Propõe-se, assim, uma escola de ensino médio que tualização, o protótipo de EM propõe mecanismos
atue como uma comunidade de aprendizagem. Nela, operacionais que atuam de modo sinérgico na inte-
os jovens desenvolverão uma cultura para o trabalho gração dos diferentes componentes do currículo:
e demais práticas sociais por meio do protagonismo6 núcleo articulador; áreas de conhecimento; dimensões
em atividades transformadoras. Explorarão interesses articuladoras (trabalho, cultura, ciência e tecnologia);
vocacionais ou opções profissionais, perspectivas de forma específica de estruturar e organizar o currículo;
vida e de organização social, exercendo sua auto- metodologia de ensino e aprendizagem; e avaliação
nomia e aprendendo a ser autônomo, ao formular e dos resultados de aprendizagem.

6. A palavra protagonista vem do grego Protagonistés. O principal lutador. Na definição de Antonio Carlos Gomes da Costa, protagonismo
juvenil é a participação do adolescente em atividades que extrapolam os âmbitos de seus interesses individuais e familiares e que
podem ter como espaço a escola, os diversos âmbitos da vida comunitária; igrejas, clubes, associações e até mesmo a sociedade em
sentido mais amplo, através de campanhas, movimentos e outras formas de mobilização que transcendem os limites de seu entorno
sociocomunitário. COSTA, A. C. G. Protagonismo juvenil: adolescência, educação e participação democrática. Belo Horizonte: Modus
Faciendi, 1996.
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IV.1 Núcleo de preparação básica para em uma comunidade de trabalho. Deve possibilitar
o trabalho e demais práticas sociais uma ampliação gradativa do espaço e da comple-
O protótipo para o ensino médio (EM) de formação xidade das alternativas de diagnóstico (pesquisa) e
geral propõe que o currículo seja organizado e inte- de intervenções transformadoras (trabalho). Para
grado por meio de um Núcleo de Preparação Básica tanto, propõe um contexto de pesquisa e intervenção
para o Trabalho e demais Práticas Sociais. O Núcleo é e um projeto articulador para cada ano letivo do
a principal estratégia de integração curricular e “é ensino médio.
um componente curricular que constitui um objeto O projeto do primeiro ano – Escola e Moradia
7 8
novo” ou “um objeto comum” a todas as áreas de como Ambientes de Aprendizagem – prevê o engaja-
conhecimento. Ele é diretamente responsável pelos mento do jovem na transformação da sua escola
objetivos de aprendizagem relacionados com a pre- em uma comunidade de aprendizagem cada vez
paração básica para o trabalho. Tal preparação é en- mais efetiva e da sua moradia em um ambiente de
tendida como o desenvolvimento de conhecimentos, aprendizagem cada vez mais favorável. A escola é a
10 atitudes, valores e capacidades necessários a todo unidade social e o ambiente de trabalho mais conhe-
tipo de trabalho: elaboração de planos e projetos; cido, próximo e comum a todos os estudantes. É um
trabalho em equipe; escolha e uso de alternativas de bom ponto de partida para a experimentação e o
divisão e organização do trabalho que sejam eficazes exercício dos processos de investigação (pesquisa) e
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e adequadas ao desenvolvimento humano; capacidade de atividades individuais e coletivas de transformação


de analisar e melhorar processos sociais, naturais ou (trabalho) que exigirão o protagonismo dos jovens e
produtivos, como exemplos. dos professores na construção e no desenvolvimento
Além da preparação básica para o trabalho, o de uma comunidade de aprendizagem. A moradia
Núcleo será também diretamente responsável pelos dos estudantes é outra referência muito próxima e
objetivos de aprendizagem relacionados com a importante para a ampliação das alternativas de
preparação para outras práticas sociais: convivência investigação e a transformação em um efetivo am-
familiar responsável; participação política; ações biente de aprendizagem.
de desenvolvimento cultural, social e econômico O projeto do segundo ano – Projeto de Ação
da comunidade; proteção e recuperação ambiental; Comunitária – tem como contexto a comunidade
práticas e eventos esportivos; preservação do patri- que circunda a escola ou um território delimitado a
mônio cultural e artístico; produções artísticas; e outras. partir dela. A comunidade será considerada como
O Núcleo ocupará, pelo menos, 25% das horas um espaço de aprendizagem e protagonismo. O espaço
do tempo previsto para todo o currículo. No caso de a ser delimitado para efeito de diagnóstico e inter-
um currículo de ensino médio, com duração mínima venção é aquele passível de ser compreendido
de 800 horas/ano, 2.400 horas no total e três anos pela ação transformadora dos jovens. As atividades
letivos, o Núcleo terá a duração total mínima de 600 propostas por intermédio do diagnóstico criarão
horas (200 horas/ano) e será o principal responsável o movimento de transformação, que será tão mais
por garantir que o trabalho e a pesquisa se constituam abrangente quanto mais articulado com outros
em princípios educativos efetivos. Ele será operado movimentos do trabalho e das práticas sociais que
por todos os professores de todas as disciplinas ou se cruzam no espaço delimitado. Tal movimento
áreas de conhecimento e por todos os estudantes de contextualiza e dará sentido às aprendizagens
ensino médio de uma determinada série. previstas no Núcleo e nas áreas de conhecimento.
O Núcleo será desenvolvido por meio de projetos O projeto do terceiro ano – Projeto de Vida e
que envolvem a participação ativa de todos, reunidos Sociedade – amplia a abrangência do contexto de

7. BARTHES, R. O Rumor da língua. São Paulo: Brasiliense, 1988.


8. MACHADO, N. J. Educação: projeto e valores. São Paulo: Escrituras Editora, 2004.
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pesquisa e transformação no espaço (mundo) e no é assim integrado por meio de seus objetivos de
tempo (história). É complementado com o autoconhe- aprendizagem. Outra referência para a definição dos
cimento e encerra-se com a elaboração de uma objetivos foi a matriz de competências e habilidades
previsão de trajetória individual e de uma proposta do novo Enem, assegurando a perspectiva de continui-
de transformação social. Os aspectos mais relevantes dade de estudos.
dessas escolhas envolvem carreira profissional, encami- O protótipo propõe uma organização diferente
nhamentos de vida e perspectivas de engajamento para cada área. A área de Ciências Humanas distribui
em ações de desenvolvimento social. Os horizontes a seus objetivos por focos temáticos (trabalho, tempo,
considerar são de curto, médio ou longo prazo. espaço, ética etc.) que fazem a integração de todas
O protótipo sugere organizar os diagnósticos as disciplinas da área. A área de Matemática define
(pesquisa) e as atividades de transformação por meio seus objetivos como especificações dos objetivos de
da própria escola e da moradia dos estudantes, preparação básica para o trabalho e outras práticas
ampliando o contexto da ação para a comunidade e sociais. A área de Linguagens não faz qualquer divisão
11
para o mundo. Isto objetiva graduar a complexidade por disciplinas de seus objetivos, mas neles se reco-
da intervenção, mas não significa que os conteúdos nhece sua origem disciplinar. Finalmente, a área de
necessários à compreensão e à intervenção, em cada Ciências da Natureza define objetivos gerais para a

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realidade, tenham de ficar restritos a cada contexto área e objetivos específicos para cada uma de suas

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considerado. disciplinas constituintes: Física, Química e Biologia.
As distintas formas são exemplos de organização das
IV.2 As áreas de conhecimento áreas que podem ser adotadas no desenho curricular
Além do Núcleo de preparação básica para o de cada escola.
trabalho e demais práticas sociais, o protótipo de Os objetivos de aprendizagem das áreas e os
ensino médio prevê, como outros grandes compo- projetos desenvolvidos no Núcleo serão as referências
nentes curriculares, quatro áreas de conhecimento: para a definição das atividades de aprendizagem a
(I) Linguagens, códigos e suas tecnologias; (II) Ma- serem propostas pelas áreas. Dos objetivos das áreas
temática e suas tecnologias; (III) Ciências da Natureza derivam as questões, problemas ou variáveis para o
e suas tecnologias; (IV) Ciências Humanas e suas diagnóstico a ser realizado no Núcleo. Além desses
tecnologias.9 As áreas podem ou não ser divididas mecanismos de articulação, a operação do Núcleo
em disciplinas, mas incluem sempre todos os conteúdos pelos professores das áreas induzirá a maior integração
curriculares previstos em lei. entre projetos do Núcleo e atividades de aprendizagem
Em todas as áreas, a integração dos conteúdos das áreas. O envolvimento dos estudantes com os
ou das disciplinas ocorre por meio da definição de projetos do Núcleo certamente também os levará a
objetivos de aprendizagem comuns para a área como ampliar demandas por orientação e por conhecimentos
um todo. As finalidades do ensino médio estabelecidas das áreas, que os subsidiarão para melhor eficácia de
pela LDB são o ponto de partida para a definição dos suas atividades de diagnóstico ou de transformação.
objetivos de aprendizagem das áreas. Os objetivos Esse movimento de dupla mão será o principal fator
de aprendizagem do Núcleo, tanto os relacionados à de integração do conjunto das atividades de apren-
preparação básica para o trabalho, quanto os relacio- dizagem, evitando os efeitos negativos da frag-
nados às outras práticas sociais, são uma das referências mentação disciplinar do currículo, sem perder a contri-
para a definição dos objetivos das áreas. O protótipo buição educativa do conhecimento especializado.

9. A inclusão da Matemática como área de conhecimento procurou seguir uma tendência normativa indicada pela matriz de competências
do novo Enem e pelo Ensino Médio Inovador (Parecer CNE/CEB 11/2009).
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IV. 3 As dimensões articuladoras: trabalho, Como dimensão articuladora, a cultura será


cultura, ciência e tecnologia (TCCT) entendida como a articulação entre o processo de
As dimensões do trabalho, da cultura, da ciência socialização e o conjunto de representações, alterações
e da tecnologia são assumidas como categorias arti- da natureza e comportamentos humanos, constituindo
culadoras das atividades de diagnóstico (pesquisa) e a forma de ser e viver de uma população. A ciência
das atividades de transformação (trabalho). No diag- será considerada como o conjunto deliberadamente
nóstico, elas serão as categorias que organizarão produzido e sistematizado do conhecimento, também
questões, problemas ou variáveis de investigação obra de um fazer humano. A tecnologia será vista
que se originam dos objetivos das áreas e têm como como uma mediação entre a ciência (ou conhecimento)
contexto o projeto anual do Núcleo. Nas atividades e a produção de bens e serviços.
de transformação, darão origem a grupos de trabalho Nos projetos do Núcleo, as dimensões do trabalho,
que serão responsáveis por elas dentro dos projetos da cultura, da ciência e da tecnologia são sempre
do Núcleo. consideradas. Na presente proposta, questões, pro-
12 Em sua acepção ontológica, o trabalho é princípio blemas ou variáveis de investigação surgem das áreas
educativo fundamental e estará presente em todas de conhecimento, que segmentam o real e o saber
as dimensões articuladoras. Especificamente como já construído sobre ele. Estas questões são integradas
dimensão articuladora, também será considerado e sistematizadas, tendo como referência as quatro
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em sua acepção econômica, nas formas que assume dimensões. Dividida entre as dimensões, a investigação
nos distintos modos de produção. Abrange, então, o dará origem às ações transformadoras desenvolvidas
estudo da evolução histórica das formas de relação no Núcleo. As ações transformadoras vão requerer a
do homem com a natureza e das atuais alternativas contribuição das áreas para serem desenvolvidas e
de organização, divisão, relações, condições e oportu- para a posterior reflexão sobre seus resultados. Assim,
nidades de trabalho. Assim entendido, o trabalho o olhar e o atuar mais especializados das áreas serão
orientará uma das vertentes do estudo, da pesquisa integrados pelos projetos e pelas dimensões do trabalho,
ou das propostas de transformação na escola, na da cultura, da ciência e da tecnologia. A ilustração a
moradia dos estudantes, na comunidade e na seguir resume os mecanismos de integração abordados
sociedade em geral. até aqui.

Ciências
Humanas

Núcleo
Ciências da
Natur
Natureza
eza
Pesquisa
Linguagens
Linguage
ens Projetos
Projetos
T
Trabalho
rrabalho
Primeiro
Primeiro ano
an
no Segundo ano Terceiro
Ter
e ceiro ano

Escola e Ação Vida


V ida e
como
Moradia como Comunitária Sociedade
Ambientes de
Aprendizagem
Aprendizag
gem

Matemática
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IV.4 Estrutura e organização do currículo as áreas e as dimensões articuladoras. A duração


O quadro a seguir sintetiza uma possível estru- total do curso e sua divisão pelos componentes
tura curricular resultante da junção dos três curricul a re s são meramente exemplificativas e
primeiros mecanismos de integração: o Núcleo, ilustrativas.

Primeiro
Primeiro ano Segundo ano Terceiro
Ter
e ceiro ano
PROJETOS
PRO
OJETOS
E l e
Escola A ã
Ação Vida
V id e
ida Duraçã
Duração
D ã
ão
Moradia como Comunitária Sociedade
So
ociedade totall
Ambientes de
Aprendizagem
Aprendizagem
Comp
Componentes
ponentes
curr
curriculares
riculares

DIMENSÕES
DIME
ENSÕES
Õ ARTICULADORAS
ARTICU
ULADORAS
TRABALHO
TRABALH
HO - CIÊNCIA - CUL
CULTURA
LTUR
T RA - TECNOLOGIA 13

Núcleo de
d preparação
preparação
bási
básica
ca para o 200 200 200 600
trabalho
ho e demais
trabalh horas horas horas horass

ED
práticas
práticas sociais

SÉRIE Debates
Áreas
Áreas de
conhecimento:
conhhecimento:
Ling
guagens
Linguagens
Mattemática
Matemática 600 600 600 1.800
0
Ciências
Ciênciaas Humanas horas horas horas horass
Ciências
ências da
Ciê
Natureza
Naatureza

800 800 800 2.400


0
Duração
ação total
Dura
horas horas horas horass

O protótipo sugere uma forma de operação do Semanas de diagnóstico (pesquisa): o diagnóstico


currículo. Ela envolve as ações abaixo: poderá ser feito em um número de semanas definido
Revisão anual do currículo e do projeto pedagógico: no calendário escolar. Este número poderá variar
anualmente, em período anterior ao início das aulas, segundo o projeto previsto para o ano. O diagnóstico
haverá reunião para a sistematização dos dados de (pesquisa/estudo) será a primeira etapa do projeto
avaliação do ano anterior e revisão da proposta anual e deve ser feito sobre o contexto (escola, comu-
curricular e do projeto pedagógico da escola. Esta nidade, sociedade) previsto para o ano. Ele deve ser
será uma tarefa da equipe escolar. Esta revisão dará iniciado nas áreas e realizado no Núcleo.
origem ao planejamento das áreas, ao calendário e Semana de planejamento das atividades de inter-
ao horário escolar de cada série. venção: as atividades de intervenção (trabalho) serão
Semana de integração: envolve a recepção dos previstas, tendo como referência o diagnóstico e os
estudantes e das suas famílias; a apresentação e a objetivos de aprendizagem definidos para o Núcleo.
discussão da proposta curricular; o estabelecimento Esta será uma atividade conjunta de professores e
de um pacto de coparticipação entre professores, estudantes. Para os estudantes, esta é uma forma de
estudantes e seus responsáveis; a definição de regras superação, dentro da vivência escolar, da divisão entre
gerais de convivência e de contrato de aprendizagem a concepção e a execução do trabalho. No planeja-
por classe e turno. mento, as atividades de intervenção serão divididas
Serie Debates 1_ED_GFCA:Layout 1 8/31/11 5:51 PM Page 14

pelas dimensões articuladoras do trabalho, da cultura, IV.5 Metodologia de ensino e aprendizagem


da ciência e da tecnologia. Geralmente, as diferentes propostas de integração
Execução do projeto do Núcleo e das atividades curricular – interdisciplinaridade, contextualização,
de aprendizagem das áreas: ao planejamento, sucede transversalidade ou outras – estão imbricadas com
a execução das atividades de intervenção previstas alternativas metodológicas centradas na aprendizagem
para o Núcleo e das atividades de aprendizagem e na ação do estudante, mas distintas da forma di-
previstas para as áreas de conhecimento. Na execução, dática predominante no ensino brasileiro: a exposição
os alunos de um determinado ano do ensino médio magistral. Existe uma íntima afinidade entre a divisão
serão divididos em grupos de trabalho, segundo as disciplinar do currículo, a fragmentação curricular e
dimensões articuladoras do trabalho, da cultura, da as “aulas”, estas quase sempre são entendidas como
ciência e da tecnologia, possibilitando variações um processo de transmissão (predominante oral) de
curriculares que atendam aos interesses específicos conteúdos curriculares do professor para o estudante,
dos estudantes. do qual se espera um comportamento de ouvinte
14 Semana de apresentação dos resultados dos atento e disciplinado. A necessidade de superar esta
projetos: a semana pode assumir a forma de uma postura metodológica está presente em todas as
feira de trabalho, cultura, ciência e tecnologia. Nela, normas recentes.
ED

os resultados das atividades de diagnóstico e inter- Em consonância com as normas, os protótipos


SÉRIE Debates

venção (relacionadas às quatro dimensões) devem ser partem de uma opção metodológica fundamental.
integrados. A mostra pode reunir os estudantes dos São valorizadas as formas didáticas que privilegiam a
três anos do ensino médio para a exibição dos resul- atividade do estudante no desenvolvimento de suas
tados dos três projetos anuais, eventualmente reunidos capacidades e na construção do seu conhecimento.
e integrados pelas dimensões articuladoras (trabalho, Os projetos e as atividades de investigação, de inter-
cultura, ciência e tecnologia). Isso possibilitaria, desde venção ou de aprendizagem, com ampla participação
o primeiro ano, uma aproximação sintética entre o ou protagonismo dos estudantes, são destacados
todo (sociedade) e as partes (escola e comunidade). como formas metodológicas fundamentais para atingir
Currículo variável: cada estudante, em dia ou período
os objetivos curriculares previstos. Em contraposição,
distinto do previsto para as atividades curriculares,
a metodologia centrada na exposição do professor
poderá ampliar a carga horária de trabalho no grupo
e na transmissão de conteúdos ou conhecimentos
escolhido (trabalho, cultura, ciência ou tecnologia)
acabados e descontextualizados é colocada em um
ou participar de outros grupos, compondo um currículo
segundo plano.
individual variável, superior à duração mínima estabe-
Essa opção metodológica parte de uma consta-
lecida pela escola. Essa possibilidade favorece também
tação fundamental: não é possível a preparação para
os estudantes do período noturno, especialmente os
a atuação no mundo do trabalho e para a prática
que não trabalham ou trabalham em tempo parcial.
social sem o envolvimento e a atuação do educando
Atividades de monitoria: para promover atividades
em atividades de pesquisa, intervenção ou aprendi-
de nivelamento e de recuperação de estudos, um
zagem que requeiram as capacidades e os conheci-
processo de monitoria pode reunir os fazeres tradicio-
mentos necessários para tal atuação. A sequência
nalmente escolares do Núcleo. A monitoria poderá
metodológica açãogreflexãogação é fundamental
ser exercida pelos próprios estudantes do ensino
médio ou por estagiários de cursos de licenciatura, na preparação para o mundo do trabalho e a prá-

ajudando a formação de novos professores. Quando tica social. A atividade de aprendizagem deve permitir
realizada pelos próprios estudantes, a monitoria será o ensaio, a reflexão constante sobre a ação e a expe-
exercida no contraturno e poderá ser considerada rimentação repetida.
como atividade curricular e constituir o currículo Assumida essa opção metodológica, a convencional
variável antes referido. relação de conteúdos que constituem os currículos
Serie Debates 1_ED_GFCA:Layout 1 8/31/11 5:51 PM Page 15

tradicionais será substituída pela definição de atividades excerto dos exemplos de atividades de pesquisa e
de aprendizagem que os requeiram, tanto no Núcleo transformação propostas para o Núcleo. Exemplifica
quanto nas áreas. No Núcleo, as atividades de inves- a possibilidade de construção de um currículo inte-
tigação e transformação estão ainda referenciadas grado e em rede que tem como centro a atividade
às dimensões articuladoras. O quadro a seguir é um e o protagonismo do estudante.

Primeiro
Primeiro ano S
Segundo ano Terceiro
Ter
e ceiro ano
PROJETOS
PROJETOS Escola e Mo
Moradia
rad
dia Ação
Ação Com
Comunitária
unitária Vida
V ida e Soci
Sociedade
iedade
Ambientes
como Ambiente es
Aprendizagem
de Apr endizageem
Dimensões
Dimen nsões
E
Exemplos de atividades
atiividades de pesquisa
pessquisa e
articula
articuladoras
doras
transformação
ransformação propostas
tr p para o Núcleo

Levantar a ocupação o dos Levantar as características


Levantar Fazer a análise comparada
c
15
familiares
familiares e dos estud
estudantes
dantes e e formmas de organização,
formas de formas de or rganização,
organização,
Trabalho
Traballho caracterizar a divisão
divissão e relações
relaçõ
ões e condições de relações
relações e condições
condições de
trabalho
organização do trab balho trabalho
traba
alho exixtentes na trabalho em difer
d
diferentes
entes
que vivenciam
vivenciam.. c
comunidade. países
s.
países.

ED
SÉRIE Debates
Desenvolver ativida
atividades
ades Criar ou par
participar
rticipar
de manutenção e Realizar uma feira de artes e programas
em pr ogramas de arte
Cultura
Cultu
ura preservação
pr patrimônio
eservação do patrim mônio de man
manifestações
nifestações culturais e cultura
a em
público (escola) e e esport
esportivas
tivas da comunidade. comunidadess virtuais
individual (residências).
(residênccias). nacionais e inte
internacionais.
ernacionais.

Desenvolver pr
programa
ogrrama Criar ou participar
parrticipar
de pr
prevenção
evenção do usou Desenv
Desenvolver
volver atividades de em pr
programas
ogram
mas ou
Ciência
Ciênc
cia drogas
de drogas e dee prevenção
preven
nção ambiental na comunidades virtuais
v de
DST/AIDS (escola ae c
comunidade. iniciação científica.
cie
entífica.
famílias).

Criar um blog e uma


Criar Criar pr
programas
ogramaas juvenis
Promover
Promover o aume
aumento
ento
Tecnologia
Te
ecnolo
ogia co
omunidade de
comunidade de desenvolv
desenvolvimento
vimento
da eficiência energ
energética
ética
aprendizagem
apr e
endizagem local. tecnológico
tecnológicco ou
(escola e residências).
residênciias).
participar deles.
d

Na dimensão trabalho, foram listadas apenas atividades de pesquisa e intervenção, ajustadas aos
atividades de investigação e, nas demais dimensões, objetivos do Núcleo.
atividades de intervenção/transformação. O protótipo O quadro a seguir apresenta excerto dos exemplos
fornece exemplos nos dois campos apenas como de objetivos e atividades de aprendizagem propostos
forma de estimular as escolas a criarem suas próprias pelas áreas.
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Projetos Primeiro
Pr imeiro ano
Segundo
Segund o ano T
Terceiro
e
erceiro ano
o
Escola
la e Moradia
Escol
Ação
Ação V ida e
Vida
como Ambientes
A bi de
d
Ob
Objetivos
bjetivos de Aprendizagem
Aprrendizagem
Comun itária
Comunitária Sociedade
aprendizagem
apr
rendizagem
Exemplos de atividades propostas
p para as áreas

Objetivoo 24 de Linguagem – Escreva uma


Escreva umma crônica sobre
sobre Escreva
Escreva uma crôn
crônica
nica sobre
sobre sua Escolha um editorial jornalístico
E jo
ornalístico
Identificar
car os elementos que
Identific um dia na sua escola, optando cidade, organizando
organizando a e resuma
resuma em poucas palavras
concorrem
e para a pr
concorrem ogressão
progressão por uma progressão
p pr
progr
g essão temática progr
p g essão temática
progressão temmática com estági
gios da
cada um dos estágios
temática e para a organização organizada a com base no base nos difer
diferentes
en
ntes espaços: progressão
progressão das ideias. Transcreva
Transcreva
e estruturação
estrutturação de textos de tempo: che
chegada,
egada, as primeiras a ruas do
as escolas, as as palavras ou expressões
expresssões que
diferen
ntes gêneros
diferentes gêneros e tipos. aulas, o lanche,
lan
nche, a última aula, comércio,
comércio, locais
locaais de lazer,
lazerr, funcionam como marcas
m cas
mar
saída... igrejas, bares,
igrejas, baares, etc. desenvolvimmento.
desse desenvolvimento.

Dispondo o do dinheiro
dinheiro para Levantar as taxas
tax
xas de juro
juro de
Objetivo 12.1 de Matemática – cheque especial praticadas
p pelos Fazer um levantamento
levantamen nto dos
comprar a vista, verificar se é
Avaliar
Avvaliar e fazer previsões
previsões em ba cos da região
bancos reg
egiã
ã
ão e elaborar
e abo a diversos tipos de financiamento
d financiamento
mais vantajoso
vantajoso comprar a prazo
situaçõess práticas que utilizam um painel contendo,
contenndo, para cada de casas oferecidos
oferecidos pela
ela rede
pe rede
(e em quantas
quaantas prestações)
prestações) e
Matemática
Mateemática Financeira. d uma dívida
banco, o valor de bancária e avaliar qual
ual é o
qu
aplicar o dinheiro
d
dinheiro em algum
de R$1.000,00 após
a um ano. mais vantajoso.
vantajosoo.
tipo
o de aplicação.

16 Objetivo
Objetivvo 4.9 de Ciências da Desenvolver hipóteses
h e
Natureza
Natur eza – Interpretar
Interpretar modeloss Desafiar grupos
g de colegas a Estudar
E modelos de reprodução
repr
e odução
modelos elementares
elemeentares que
experimentos para explicar
e experimentos apresentar
apresentarr modelo elementar d microorganismos
de microorganismos associados
associados
procurem explicar
p
procurem explic
p car a difusão
fenômenos
fenômen nos ou processos
processos em de difusão
ão no espaço e no
difusã à rapidez com que se podem
no espaço e no tempo
t de um
qualquerr nível de organização tempo de e um surto de gripe propagar
propagar viroses
viroses e infecções
infecções
surto de gripe num
n bairro e
bairro
dos sistemas
sistemas biológicos. nu
uma escola.
numa bacterianas.
numa cid
cidade.
dade.
ED
SÉRIE Debates

Objetivo 30
30 de Ciências Humanas – Elaborar
Elaborrar painéis com Elaborar painéis co
com
om informações Produzir
Produzir mapas temáticos,
temá áticos,
Identificar
Identifica
ar as principais causas, informações
informaçõões sobre
sobre a origem sobre
sobr e a origem geográfica
g dos registrando
registrando
e causas, características
caraccterísticas
caracteríssticas e resultados
características resultados doss geográficaa dos integrantes da moradores
morador es da comunidade
communidade onde e resultados
resultados dos principais
pais fluxos
princip
movimentos
movime entos de migração e escola, registrando
registrando dados está inserida a escola,
esccola, registrando
registrando populacionais no Brasil
Brasil e no
imigração
imigraçãão responsáveis
responsáveis pelos sobre
sobre as principais dados sobre
sobre as
as principais m
mundo, a partir do século
sécculo XVI,
processoss de ocupação territorial.
processos territoriall. características
sticas e ocorrências
caracterís influências recebidas
recebiddas e exercidas
exercidas rresponsáveis
esponsáveis pelo processo
proccesso de
de sua integração
ntegração cultural.
in em sua integração
integraação cultural. território.
ocupação de nosso território.

IV.6 A avaliação como mecanismo de Experiências recentes de ensino médio integrado10


integração curricular têm mostrado que a avaliação interna pode também
A avaliação educacional sugerida nos protótipos exercer um papel fundamental na integração curricular.
combina processos internos, contínuos e articulados Isso acontece quando ela é realizada em função de
com o projeto pedagógico de cada escola, com objetivos de aprendizagem compartilhados e utiliza
processos externos que envolvem parâmetros mais instrumentos, procedimentos e critérios comuns a
amplos e indicadores nacionais ou internacionais e é todos os professores que exijam destes o consenso
coadjuvante na integração curricular. nas decisões de atribuições de valor (nota) ou de
Algumas avaliações externas já buscam incentivar progressão (passar de ano). Uma avaliação integrada
a integração curricular. Exemplo dessa busca pode permite constatar as diferenças de critérios de avaliação,
ser visto na matriz de referência para o novo Enem, obriga diálogo sobre o desempenho individual e
em que, de um pequeno conjunto de eixos cognitivos coletivo dos estudantes e aponta para necessidades
comuns a todas as áreas de conhecimento deriva de aperfeiçoamento dos mecanismos de integração
uma série de competências e de habilidades espe-
e dos procedimentos de avaliação.
cíficas de cada área. No Enem, a avaliação externa Como atores fundamentais do processo de inte-
busca reforçar e assegurar a integração curricular gração curricular, os estudantes precisam participar,
prevista nas Diretrizes Curriculares do Ensino Médio. desde o início das atividades escolares, da elaboração
O uso do Enem, como referência para a definição de um projeto comum de avaliação. Por meio de
dos objetivos de aprendizagem dos protótipos, critérios e indicadores negociados desde o início
procurou aproveitar este efeito de integração. das atividades escolares, com base nos objetivos

10. O projeto da UNESCO incluiu um levantamento de experiências nacionais e internacionais de integração curricular.
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acordados, a autoavaliação da aprendizagem deve como exemplo a habilitação de técnico em Agroe-


ser também adotada como prática avaliativa eman- cologia. Simula uma duração de 3.200 horas, com
cipadora, combinada com avaliação pelos colegas quatro anos letivos e 800 horas anuais, atendendo
e pelos docentes. Além de apoiar a integração aos requisitos mínimos definidos pelas normas espe-
curricular, esta combinação planejada de autoa- cíficas. Por meio destas opções, as escolas ou os sis-
valiação com avaliação pelos colegas e pelos docentes
temas de ensino podem fazer adaptações, adotando
amplia o potencial de desenvolvimento da autonomia
durações alternativas.
dos estudantes, um dos objetivos fundamentais da
Esse protótipo mantém os mesmos objetivos
educação em geral e do ensino médio em especial.
relacionados à formação integral dos estudantes,
A avaliação da aprendizagem dos e pelos estu-
garantindo o cumprimento do estabelecido pela
dantes, a avaliação das atividades de ensino, a ava-
legislação. Porém, eles são ampliados, na medida em
liação da realização do projeto pedagógico e a parti-
que a educação profissional também contribui no
cipação estudantil na avaliação serão umbilicalmente
integradas, para que se reforcem mutuamente num desenvolvimento global do ser humano. Como no
protótipo de EM, o protótipo de EMI toma o trabalho 17
círculo virtuoso de aprender e ensinar, na construção
de uma comunidade efetiva de trabalho e aprendi- e a pesquisa como princípios educativos. Propõe os
zagem. Uma avaliação deste tipo, acompanhando o mesmos mecanismos de integração: o núcleo arti-

ED
Núcleo integrador e influindo decisivamente na ava- culador; as áreas de conhecimento; as dimensões

SÉRIE Debates
liação das áreas e das disciplinas que as podem compor, articuladoras; a estruturação e a organização do
será a alavanca na indução e na fixação das estratégias currículo; a metodologia; e a avaliação. Assim como
de integração curricular, além de viabilizar o constante os objetivos de aprendizagem, alguns destes meca-
aperfeiçoamento do projeto pedagógico da escola e nismos de integração são ampliados e ganham
da qualidade educacional do ensino médio realizado. variações, especialmente no Núcleo.

V.1 Núcleo de preparação para o trabalho


V. Protótipo curricular de ensino
e demais práticas sociais
médio integrado (EMI)
O protótipo para o EMI também propõe um
Por lei, a educação profissional técnica de nível núcleo articulador. Na sua denominação, quando
médio (educação profissional stricto sensu) é uma alter- comparado com o protótipo curricular de EM, a
nativa a ser oferecida somente se for acompanhada
preparação para o trabalho perde a qualificação de
da formação geral do educando ou posterior a ela.
básica. Agora, denomina-se Núcleo de Preparação
Dentre as formas de oferta da educação profissional
para o Trabalho e demais Práticas Sociais. Dessa
técnica, a forma integrada é prevista como uma
forma, adiciona objetivos de aprendizagem desti-
alternativa à concomitante e à subsequente. Em seu
nados à educação profissional de nível técnico aos
último sentido e nas normas estabelecidas pela
de preparação básica para o trabalho. Assim, em
legislação educacional, a integração é formalmente
relação à educação profissional e no Núcleo, o pro-
caracterizada por uma matrícula única no ensino
médio e na habilitação profissional. Para além do tótipo de EMI envolve os seguintes objetivos:
formal, como afirma o Parecer CNE/CEB Nº 39/2004, I – os objetivos de aprendizagem de conheci-
é “importante deixar claro que, na adoção da forma mentos, capacidades, atitudes e valores relacionados
integrada, o estabelecimento de ensino não estará à educação para o mundo do trabalho e para a
ofertando dois cursos à sua clientela. Trata-se de um prática social, necessários à formação e ao desenvol-
único curso, com projeto pedagógico único, com vimento profissional do cidadão. Tais objetivos são
proposta curricular única e com matrícula única”. equivalentes aos do protótipo de EM de formação
Com essa perspectiva, o estudo da UNESCO pro- geral e são perseguidos durante todos os anos de
duziu também um protótipo de currículo de EMI à duração do EMI, em termos de preparação básica
educação profissional. O protótipo de EMI utiliza para o trabalho e para a vida em sociedade;
Serie Debates 1_ED_GFCA:Layout 1 8/31/11 5:51 PM Page 18

II – os objetivos de aprendizagem para o domínio de educação geral e de educação profissional farão,


de tecnologias comuns aos técnicos de nível médio, em parceria, a mediação de projetos e oficinas do
no âmbito dos diferentes eixos tecnológicos, e sinto- Núcleo.
nizadas com o respectivo setor produtivo da habilitação Tal como no de EM, o protótipo de EMI no Núcleo
técnica, incluindo os fundamentos científicos, sociais, prevê a ampliação gradativa do espaço e da comple-
organizacionais, econômicos, estéticos e éticos que xidade das alternativas de diagnóstico (pesquisa) e
informam e alicerçam estas tecnologias. Tais tecnologias de intervenções transformadoras (trabalho). Também,
constam do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos, o Núcleo do EMI é desenvolvido por meio de pro-
complementadas por indicações de levantamentos jetos, mas estes são ampliados no processo de inte-
setoriais e ocupacionais. Especialmente em relação gração com a educação profissional.
ao domínio das tecnologias próprias do eixo tecnoló- O projeto do primeiro ano do EM – Escola e Mo-
gico, a busca destes objetivos de aprendizagem será radia como Ambientes de Aprendizagem – foi mantido
concentrada no terceiro ano do EMI, que privilegia a no EMI. As atividades podem variar para serem mais
18 formação tecnológica; contextualizadas à habilitação profissional pretendida.
III – os objetivos de aprendizagem necessários No caso do técnico em Agroecologia, por exemplo,
ao domínio de conhecimentos, habilidades, atitudes os estudos e as atividades em relação à moradia
ED

e valores necessários ao exercício específico de cada podem ser ampliados para a propriedade rural,
SÉRIE Debates

habilitação profissional de técnico de nível médio. quando os alunos morarem no campo.


Estes objetivos têm como referência o perfil profissional O projeto do segundo ano – Projeto de Ação
do técnico de nível médio. O perfil profissional é defi- Comunitária – também foi mantido. Similarmente,
nido por meio daquele previsto no Catálogo Nacional ao praticado com a moradia, a comunidade pode
dos Cursos Técnicos, suplementado por estudos e ser abordada com olhar mais orientado pela formação
pesquisas complementares. No quarto ano letivo, técnica visada. No caso do técnico em Agroecologia,
que privilegia a formação técnica específica, existe por exemplo, a zona rural do município e a agroin-
uma ênfase na busca destes objetivos. dústria local podem ser alvo de pesquisas ou de ati-
Assim, a educação profissional concentra-se no vidades de transformação.
Núcleo e está basicamente distribuída do geral para O projeto do terceiro ano do EM – Projeto de
o particular pelos diferentes anos letivos. Ao concentrar Vida e Sociedade – também é mantido no EMI, mas
os objetivos de aprendizagem mais diretamente sofre transformações. Agora ele é desenvolvido no
relacionados à educação profissional no Núcleo, o terceiro e no quarto ano letivo. Isto permite que a
protótipo de EMI reafirma o trabalho e a pesquisa como elaboração do projeto acompanhe e se apoie no
princípios educativos e dá centralidade à educação conhecimento da habilitação profissional escolhida.
profissional no processo de integração curricular. Complementarmente, as propostas de engajamento
Como no protótipo de EM, o Núcleo ocupará, em ações de desenvolvimento social podem ser
pelo menos, 25% das horas do tempo previsto para propostas por intermédio do engajamento profissional.
os dois primeiros anos letivos. Assim como no de Os horizontes a considerar continuam sendo os de
EM, ele será operado por todos os professores das curto, médio ou longo prazo.
áreas de conhecimento e por todos os estudantes Conjuntamente e com variadas possibilidades
matriculados no primeiro ou no segundo ano. Em de conexões com o Projeto de Vida e Sociedade, um
todos os anos letivos, alunos e professores contarão projeto relacionado ao eixo tecnológico também
com o apoio de um coordenador de curso (no caso articula o currículo do terceiro ano do EMI. No caso
do exemplo utilizado, um especialista em Agroeco- do técnico de Agroecologia, este projeto foi denomi-
logia). No terceiro e quarto anos, o Núcleo ocupará nado Tornar uma Área Produtiva de Forma Sustentável.
50% do currículo. Nas mínimas 800 horas anuais, Trata-se de planejamento, execução e avaliação dos
terá 400 horas de duração. Nestes anos, professores resultados do aproveitamento sustentável dos recursos
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naturais de um terreno experimental, envolvendo técnica (quarto ano) e aos projetos diretamente
basicamente atividades de agricultura e pecuária. relacionados com estas formações. Articuladas
Também, conjuntamente com o Projeto de Vida e pelos projetos, as oficinas destinam-se ao domínio
Sociedade, outro projeto articula o desenvolvimento de tecnologias específicas e à introdução ou ao apro-
da formação técnica específica no quarto ano. No fundamento de conhecimentos, atitudes, habilidades
caso do técnico em Agroecologia, o projeto denomi- e valores que estão previstos nos objetivos de apren-
na-se Ação Agroecológica Juvenil. Este projeto abrange dizagem dos projetos.
atividades de pesquisa e transformação que buscam
atender aos requisitos do desenvolvimento econômico, V.2 As áreas de conhecimento
social e cultural sustentável e que podem ser feitas O protótipo de EMI mantém as mesmas quatro
em três direções básicas: das condições, das relações áreas de conhecimento previstas para o ensino
e da organização do trabalho; da criação de alternativas médio: (I) Linguagens, códigos e suas tecnologias;
coletivas de geração de trabalho e renda; e do empreen- (II) Matemática e suas tecnologias; (III) Ciências da
dedorismo juvenil. O projeto aprofunda a perspectiva Natureza e suas tecnologias; (IV) Ciências Humanas e 19
do protagonismo juvenil já presente no ensino médio, suas tecnologias.
incluindo a atuação do jovem na transformação de No EMI, as áreas mantêm os mesmos objetivos
seu campo de trabalho concomitantemente ao seu de aprendizagem do ensino médio, os quais cumprem

ED
processo de formação profissional.

SÉRIE Debates
a mesma função de integração curricular. Como
Se mudanças nos sistemas de ensino, de forma geral, no ensino médio, cada área tem uma organização
e na escola, em particular, são fundamentais para
diferente. Estruturalmente, a única diferença reside
efetivar uma aprendizagem de qualidade no ensino
no fato de que a mesma duração e os mesmos obje-
médio, nada mais próprio que engajar os jovens na
tivos das áreas se distribuem pelos quatros anos
tarefa de repensar e transformar a sua organização
letivos do EMI.
de trabalho e seu currículo. Esta participação pode
Como no protótipo de EM, os objetivos de apren-
ser preparatória para uma ação protagônica na comu-
dizagem das áreas e os projetos desenvolvidos no
nidade mais imediata, promovendo ações de desen-
volvimento local. Estes dois movimentos, já previstos Núcleo serão as referências para a definição das

no protótipo de EM, podem ser ensaios para o enfren- atividades de aprendizagem a serem propostas pelas
tamento do desafio maior de promover mudanças áreas. Em todos os anos letivos, como mais uma forma
no próprio campo profissional, ao mesmo tempo em de integrar e contextualizar as áreas de conhecimento,
que perseguem os objetivos de aprendizagem rela- as atividades de aprendizagem podem ser relacionadas
cionados com sua formação técnica específica. com a formação técnica específica. O quadro a seguir
O Núcleo ainda inclui oficinas relacionadas à exemplifica esta possibilidade para o técnico em
formação tecnológica (terceiro ano) ou à formação Agroecologia:
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Primeiro
Primei
iro ano Segundo ano Terceiro
Te
erceiro ano Quarto
o ano
Projetos Escola e Moradia
Escola Ação Vida e Sociedad
Vida Sociedade
de Vida e Soc
Vida Sociedade
ciedade /
como Amb
A
Ambientes
b
bi
bientes d
de Comunitária To
Tornar
rnar uma Ár
Área
e
ea Ação Agr
Agroecológica
oe
ecológica
Aprendizagem
Apr end
dizagem Produtiva
Pr Forma
odutiva de For
rma Juvenil
Juvenil
O
Objetivos da Sustentável

área a de Matemática
Matemáticca Exemplos
Ex emplos de atividades
ativ
vidades propostas
proposttas para a área de Matemática
a
e ssuas
uas tecnologias
tecnologias
Elaborar
Elaborrar um A partir de uma Elaborar um Fazer uma planilha
manual simplifi-
simplifi- matéria
ma atéria de jornal
jornal painel comparativo
comparativ vo detalhadaa e com
cado com
c as local sobre
sobre sobre
sobre os gastoss as devidas justifica-
justifica-
1 – Expressar
E
Expressar com clareza,
clareza
a,
orientações
orientaçõões para agricultura,
agrricultura, realizar
realizar decorrentes
decorrentes da tivas a respeito
peito dos
resp
oralmente,
almente, por escrito e
ora o uso de
e algum a interpretação
in
nterpretação de utilização de custos envolvidos
env
volvidos
utilizando
tilizando diferentes
ut diferentes insumo agrícola.
a informações energia solar,
solarr, em uma horta,
h a
registros,
registtros, questionamentos,
questionamento
os, quantitativas
quantitativas e de elétrica ou outras
outra as fim de que os itens
ideias,
i raciocínios, gráficos
gráficos estatísticos na produção
produção plantados possam
argu
umentos e conclusões
argumentos conclusõe
es e comparar
co
omparar com as agrícola. suprir a demanda
de
emanda
conclusões
onclusões que
co de uma dada
em situações
s de resolução
resoluçã
ão
20 aparecem
apaarecem no texto. população.
populaação.
de problemas,
problemas, debates
Debater
Debater sobre
sobre a
ou
u outras envolvendo adequação
addequação do(s)
temas
mas ou procedimentos
tem procedimentos gráfico(s)
matemáticos
mate
emáticos e estatísticos.
estatístico
os. divulgado(s).
ED
SÉRIE Debates

É importante observar, no entanto, que nem todas Em relação à formação técnica, não se propõe
as atividades de aprendizagem das áreas estão uma forma específica de organizar, por meio das
relacionadas com a formação técnica específica. dimensões articuladoras, as atividades de diagnós-
Estão previstas também atividades relacionadas tico (pesquisa) e as atividades de transformação dos
à vida cotidiana, ao exercício da cidadania e aos projetos do terceiro e do quarto anos. O diagnóstico
objetivos de aprendizagem necessários à continui- previsto como parte dos projetos é orientado pelos
dade de estudos, evitando-se uma instrumentalização objetivos de aprendizagem da formação tecnológica
excessiva das áreas. e da formação técnica específica.
Tendo em vista facilitar a integração entre o ensino
V.4 Estrutura e organização curricular do EMI
médio e o ensino médio integrado, nos dois primeiros
O protótipo de EMI também insere uma síntese
anos letivos, os objetivos de aprendizagem do Núcleo
de estrutura curricular que pode ser usada como
e das áreas são os mesmos. Isto permite articular um
ponto de partida para o debate da equipe escolar na
conjunto de habilitações a um ciclo comum, possibi-
definição do currículo. A síntese de estrutura curricular
litando maior mobilidade entre elas e facilitando o
está apresentada no quadro a seguir. Novamente,
ajuste da oferta de ensino médio às diferentes neces-
a duração dos componentes curriculares e a do curso
sidades da juventude e às flutuações do mundo do
como um todo são meramente ilustrativas.
trabalho.
Como no protótipo de EM, os projetos do Núcleo
V.3 As dimensões articuladoras: trabalho, e as quatro dimensões são as colunas verticais da
cultura, ciência e tecnologia (TCCT) rede curricular, em que as áreas representam as linhas
No EMI, as dimensões do trabalho, da cultura, da horizontais. O quadro mostra que os dois primeiros
ciência e da tecnologia também são assumidas como anos são similares aos do protótipo de EM. Como já
categorias articuladoras, pelo menos no que tange à foi afirmado, isto favorece a integração e a transição
preparação básica para o trabalho e demais práticas entre o EM e o EMI. A duração em horas, os obje-
sociais, que se estende pelos quatro anos de duração tivos de preparação básica para o trabalho e demais
do segundo protótipo. práticas sociais e os objetivos das áreas são idênticos
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Primeiro
Primeiro ano Segundo
Segundo ano Terceiro
Te
erceiro ano Quarto ano
PROJETOS
PROJETOS
Escola e Ação Vida
Vida
id e Sociedade
S i d d Vida
V id e S
ida Sociedade
i d d Duração
ã
Moradia
M como Co
Comunitária
omunitária To rnar
Tornara uma Área
Área Ação
Ação total
A
Ambientes de P odutiva
Pr
Produtiva Agroecológica
Agroecológica
Compon
Componentes
nentes Aprendizagem
A endizagem
Apr de Forma
Formma Sustentável Juvenil
curriculares
curriculares

DIMENSÕES
DIMENSÕE
ÕES ARTICULADORAS
ARTICULADO
ORAS
TRABALHO - CIÊN
CIÊNCIA
NCIA - CUL
CULTURA
LTURA
T - TECN
TECNOLOGIA
NOLOGIA

Núcleo de pr
preparação
reparação
para o tra
trabalho
abalho 200 200 400 400 1.200
e demais
demmais horas horas horas horas horas
práticas sociais
s

Áreas de
Áreas
conhecimmento:
conhecimento:
21
Linguaggens
Linguagens
Matemática
Matemá ática 600 600 400 400 2.000
Ciências Humanas
Humanas horas horas horas horas horas
Ciência
as da
Ciências
Natureza
Natureza
e

ED
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800 800 800 800 3.200
o total
Duração
horas horas horas horas horas

aos do protótipo de EM. Variam as atividades do V.5 Metodologia e avaliação


Núcleo e das áreas que, nos quatro anos, procuram No protótipo de EMI, a metodologia e a avaliação
ser mais articuladas com a formação técnica espe- cumprem o mesmo papel que exerciam no primeiro
cífica, como foi demonstrado no quadro anterior. protótipo. Os projetos e as atividades de investigação,
Os dois primeiros anos têm como foco a preparação de intervenção ou de aprendizagem, com ampla
básica para o trabalho, que é continuada por meio participação ou protagonismo dos estudantes, conti-
do Projeto de Vida e Sociedade no terceiro e quarto nuam a ser as formas metodológicas predominantes

anos. Os projetos do terceiro e do quarto anos arti- no desenho curricular. Novamente, a relação de
conteúdos (ementas dos currículos tradicionais) é
culam, ainda, respectivamente, a formação tecnológica
substituída pela definição de atividades de aprendi-
e a formação técnica.
zagem, tanto no Núcleo quanto nas áreas.
O protótipo EMI sugere uma forma de operação
Mantém-se, também, a mesma perspectiva de
do currículo similar ao do EM, envolvendo a revisão
avaliação. À avaliação interna e externa propõe-se o
anual do currículo e do projeto pedagógico; a semana
mesmo papel na integração curricular. No EMI, o perfil
de integração; as semanas de diagnóstico (pesquisa);
profissional de conclusão e os critérios de desem-
a semana de planejamento das atividades de inter-
penho a ele associados fornecem um referencial comum
venção; a execução do projeto do Núcleo e das de avaliação a todos os professores envolvidos. Como
atividades de aprendizagem das áreas; e a semana os alunos continuam sendo atores importantes do
de apresentação dos resultados dos projetos. Prevê processo de avaliação, o perfil profissional também é
também a mesma possibilidade de um currículo fundamental na negociação de critérios e indicadores
variável e a inclusão de atividades de monitoria. de avaliação com os estudantes. O perfil profissional
de conclusão é ainda referência básica no desenho e
na utilização de procedimentos e instrumentos de
autoavaliação.
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VI. Condições para a implantação mulações periódicas como instrumentos para a


da proposta formação continuada em serviço;
• avaliação contínua em processo, com síntese
As condições para o uso dos protótipos na orien-
anual que orientará o planejamento do ano letivo
tação dos desenhos curriculares das escolas não
seguinte, além de estudos mais aprofundados
diferem muito das condições previstas nas Diretrizes
sobre os modos de gestão escolar e a condução
Curriculares Nacionais para a Educação Básica (Reso-
do projeto pedagógico que tenham sido indicados
lução CNE/CEB 04/2010). Parte delas diz respeito à
pela experiência como estratégicos e necessários.
formação continuada de educadores, e as outras
referem-se às condições mais gerais. Síntese das demais condições de uso dos protó-
tipos:
VI.1 Formação continuada dos educadores
• adesão voluntária da rede de ensino médio, que
A formação dos docentes e demais educadores
envolve o compromisso dos seus gestores com a
para a operação do currículo decorrente do protótipo
22 garantia de condições locais adequadas para as
deve ocorrer antes e ao longo de sua implantação. A
escolas interessadas;
escola deverá garantir os espaços e as condições para
• adesão voluntária da escola interessada no formato
isso. As três primeiras etapas adiante relacionadas devem
curricular proposto: participação da escola por
ED

acontecer no semestre anterior ao início da implantação.


escolha consensual de seus gestores, docentes e
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Todas elas são, ao mesmo tempo, etapas de educação


equipe de apoio;
continuada e de planejamento coletivo. É prevista uma
• no EM, criação do Núcleo articulador, com pelo
estratégia desdobrada em seis iniciativas essenciais:
menos 25% do tempo das aulas dos docentes
• estudo, discussão e formulação de linhas e
dedicados a ele; nova organização do horário de
propostas gerais de adaptação do protótipo à
aulas, do calendário escolar e das formas de ava-
concepção pedagógica e à situação concreta da
liação; novos enfoques metodológicos. Além disso,
escola, da rede ou do sistema de ensino;
no EMI, dupla docência (um professor de formação
• adaptação do protótipo ou revisão do projeto
geral e um professor de educação profissional)
pedagógico da escola. É o momento em que,
nas atividades do Núcleo relacionadas ao eixo
decidido o uso da referência curricular, são feitos
tecnológico e à habilitação profissional;
os necessários ajustes no protótipo ou no projeto
• disposição do diretor ou dos gestores da escola
pedagógico da escola;
para formas participativas de gestão, com divisão
• estudo e domínio das estratégias metodológicas
de responsabilidades e de autoridade com
fundamentais para a operacionalização do currículo
professores e com estudantes;
decorrente do protótipo. Este é um momento
• participação efetiva dos estudantes na gestão do
para formação sistemática da equipe escolar para
Núcleo e no planejamento curricular;
uso das estratégias metodológicas;
• docentes predominantemente em tempo integral,
• diagnóstico e planejamento da implantação do
projeto do primeiro ano do ensino médio (Projeto concursados e devidamente contratados para
Escola e Moradia como Ambientes de Aprendiza- todas as áreas de conhecimento, em quantidade
gem) e desenvolvimento dos projetos do Núcleo suficiente para atendimento a todos os estudantes;
nos demais anos. O estudo e o trabalho coletivo • infraestrutura adequada para funcionamento
necessário ao desenvolvimento destes projetos do EM e do EMI, com salas de aula que permitam
são educativos. A pesquisa e o trabalho também atividades em grupos e laboratórios com o equipa-
são princípios educativos na formação continuada mento mínimo recomendado, espaços escolares
dos educadores; e computadores com bom acesso à internet.
• implantação do currículo decorrente do protótipo, No EMI, laboratórios de práticas próprios ou
tomando-se a vivência, as avaliações e as refor- conveniados;
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• pessoal de apoio em quantidade suficiente para VII. Conclusão


atender o total de estudantes matriculados;
Cecília Braslavsky, ao falar sobre as experiências
• disponibilidade para compartilhar a experiência
de transformação do ensino médio da América Latina,
com outras escolas ou redes públicas.
assim se reporta:
Para uso dos protótipos, é fundamental o compro-
misso da Secretaria da Educação ou dos gestores A educação secundária parece ser o nível mais
difícil de se transformar no mundo inteiro. Prepa-
da escola em fornecer apoio técnico e administrativo
rada para receber jovens dos setores médios e
e garantir as condições de uso do protótipo e a implan-
altos, começou, já há algumas décadas, a rece-
tação do currículo decorrente, mediante garantias ber jovens de todos os setores sociais. Por outro
de permanência das equipes locais, com dedicação lado, sua proposta cultural e pedagógica segue,
exclusiva ou pelo menos concentrada nas escolas em importante medida, ancorada no século
que usem o protótipo, para viabilizar sua concretização XIX. O diagnóstico é claro. As alternativas estão
em construção.11
adequada.
No documento “Reforma da educação secundária: 23

rumo à convergência entre a aquisição de conheci-


mento e o desenvolvimento de habilidade”, traduzido
e publicado pela Representação da UNESCO no Brasil

ED
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(já citado), há um quadro que sintetiza a percepção
das tendências mundiais em relação às relações entre
educação geral e educação profissional:

Situação atual Visão para o futuro


Educação Superior Mercado de Educação Superior Mercado de
trabalho trabalho

Competências
genéricas
GSE TVET GSE essenciais TVET

Educação básica
Educação básica
PE
PE

PE – Educação primária • GSE – Educação secundária geral • TVET – Educação técnico-profissional e treinamento

Os protótipos aqui apresentados são caminhos


alternativos e complementares para a construção
mencionada por Braslavsky. Juntos, os dois protótipos
correspondem exatamente à visão de futuro repre-
sentada na figura anterior. Os protótipos de currículo
de EM e de EMI constituem mais uma contribuição
da Representação da UNESCO do Brasil na construção
do novo ensino médio brasileiro.

11 BRASLAVSKY, C. (Org.). Educação secundária: mudança ou imutabilidade? Brasília: UNESCO, 2002. Parágrafo final. Disponível em:
<http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001271/127146por.pdf>.
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