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 SOCIOLINGUÍSTICA



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SOCIOLINGUÍSTICA


DERMEVAL DA HORA


Introdução

A língua sempre ocupou, na sociedade, papel de destaque, e a ela estão atrelados conceitos que
definemposturasdiferenciadas,dependendodaformaçãodequemaobserva,selinguistaoucurioso.

Comumouvirmospalpiteacercadoquefalamosedaformacomofalamos.Seessevemdealgum
leigo,noqueconcerneaosconceitoslinguísticos,aconfusãoseestabelece.

Falaracercadoqueseouveoudoqueseescreve,estabelecendojuízodevalorémuitocomumnos
diferentes círculos. Julgamentos subjetivos estão atrelados à maneira de falar das pessoas, promovendo ou
nãoalínguausada;classificandoͲa,enfim,julgandoͲa.

Associadosàlínguausada,estãoinúmerosconceitosquemerecemadevidaatenção,principalmente
por aqueles que se dispõem a um estudo mais sistemático, procurando compreender melhor esse bem
humanoqueéalíngua.

A fim de melhor entender a relação entre a língua e a sociedade em que ela está circunscrita,
elencaremos,nessematerialsobre Sociolinguística,umconjuntodeconceitosindispensáveisàcompreensão
doqueacontececomalíngua.

Apropostaqueaquiapresentamostemaseguinteestrutura:naprimeirapartediscutiremosalguns
conceitos considerados básicos para entendermos a relação entre língua e sociedade; na segunda parte,
trataremos, basicamente, de dois conteúdos: o primeiro deles voltado para os fundamentos dos estudos
dialectológicos; o segundo, para os estudos variacionistas. Tais estudos situam as duas disciplinas: a
DialectologiaeaSociolinguísticaemsuaperspectivavariacionista.



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UNIDADE I

SOCIOLINGUÍSTICA


Conceitos Fundamentais:

LÍNGUA – DIALETO – SOTAQUE - REGISTRO – ESTILO – ETNIA - BILINGUISMO

DIGLOSSIA – PIDGIN - CRIOULO

Objetivo:

- refletir acerca desses conceitos, definindo-os e verificando em que situações eles se


aplicam.

Língua e dialeto

QuandofalamosdoPortuguês,doInglês,doFrancês,doEspanholetc,estamosfalandodelínguas,e
aquialínguanãoteráamesmaacepçãoconcebidaporSaussure,quandoestabeleceuadicotomia“languex
parole”, ou seja, língua versus fala. Cada uma das línguas a que nos referimos tem sua autonomia, tem um
papelsocialnascomunidadesemqueestãoinseridas.Asvariedadesquecadaumadelastem,quandosetrata
doseuuso,podemserdenominadasdedialeto.
O termo dialeto pode ser definido de forma diversa, dependendo da perspectiva que queiramos
abordar. Falando em termos regionais, dialeto é o mesmo que falar, e as diferenças encontradas em
comunidadescomdialetosdiferentesnãofuncionamcomoempecilhonacomunicação.Emgeral,alterações
nafonologia,nasintaxe,noléxicoexistem,mastodossecompreendem.NoBrasil,otermodialetoseencaixa
nessa modalidade. De norte a sul, de leste a oeste, temos uma grande variabilidade na lingua, mas as
variações, em geral, não funcionam como obstáculo no processo de comunicação. Vale observar que
ressaltamosqueissoacontecedeformageral,poisalgumasvezespodemosteralgumruídonacomunicação

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devidoaousodeumtermomuitolocalqueimpedeasuacompreensãoporpartedointerlocutor.Entedemos,
porém,queissoéesporádico.
Em sentido mais restrito, dialeto é o mesmo que sublíngua. Temos, desta forma, uma lingua
considerada nacional, conhecida de todos, e línguas que são específicas de determinadas comunidades, os
dialetos.OsfalantesdecomunidadecomdialetosdiferentesnãoconseguementenderͲse,paraissoprecisarão
utilizaralingualnacional.Istoécomum,principalmente,nospaíseseuropeus.
A relação entre língua e dialeto é muito estreita. A conjunção de fatores sociais, politicos,
psicológicos e históricos contribuem para caracterizar o que seja uma língua e um dialeto. Aspectos
puramentelinguísticosnãosãosuficientesparacaracterizarumououtro.Eaquianoçãodepoderentraem
jogo.
Adistinçãoentrelínguaedialetoétãosutilqueédifícildeterminarmosquantaslínguasequantos
dialetos existem no mundo. Sob uma perspective sincrônica, descritiva, “língua” se refere ou a uma única
normalinguísticaouaumgrupodenormasrelacionadas.Emumsentidodiacrônico,alínguapodetantoser
uma língua comum em sua trajetória para a dissolução, como uma língua comum que resulta de uma
unificação.Um“dialeto”,então,éumadasnormasrelacionadasaonomegeraldelíngua;historicamente,éo
resultadodadivergênciaoudaconvergência.
Tendo em vista que esse processo histórico pode repetirͲse indefinidamente, os dois termos são
aplicaveisciclicamente,ouseja,com‘língua”semprecomootermosuperordenadoe“dialeto”,semprecomo
subordinado.Dissoresulta,termossempreaseguinterelação:“X”éumdialetodalíngua“Y”,oualíngua“Y”
tem os dialetos “A” e “B”. Nunca se tem, por exemplo, “Y” é uma língua do dialeto ‘X”. Essa relação de
dependênciatambémlevaͲnosaconstatarqueotermo“língua”podeserusadosemquefaçamosreferência
adialetos;omesmonãoacontecequandofalamosdealgumdialeto.Nessecaso,semprevamosdizerqueo
dialetopretenceaumalíngua.Podemos,apartirdoquefoidito,concluirquetododialetoéumalíngua,mas
nemtodalínguaéumdialeto.
Emfrancês,umterceirotermofoiutilizado,“patois”,queseaplicou,principalmente,àlínguafalada.
DeacordocomodicionáriodaAcademiaFrancesa,dialetoéumavariedaderegionaldeumalíngua,eleinclui
uma cultura literária completa. Para André Martinet (1964), a situação do francês é diferente, pelo fato de
seremencontradosváriospadrõesregionaisescritos.Osdialetosfranceseseramregionaise,quandodeixaram
deserescritos,tornaramͲse“patois”.Um“patois”,então,éumanormalinguísticanãousadacompropósitos
literários, limitado a situações informais.  Tal distinção introduz uma nova dimensão no que colocamos  até
aqui: as funções sociais de uma língua. Em se tratando da distinção línguaͲdialeto, podemos dizer que o
“patois” é um dialeto que serve a uma população em suas funções de menos prestígio. A distinção patoisͲ
dialetonãoé,portanto,entredoistiposdelínguas,masentreduasfunçõesdalíngua.
 EmInglês,otermo“patois”nuncafoiadotadonadescriçãodalíngua,edialetocarregouoseu
sentido de uso popular. “Dialeto” é um termo que sugere fala informal ou fala rural ouainda fala de classe
socialmaisbaixa.Comoumanormasocial,umdialetoéumalínguaqueéexcluídadasociedadepolida.Um

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americano senteͲse meenos ofendid
do se alguém
m referirͲse a ele dizend
do que fala com o “sotaaque” dessa ou
daquelareggião,doquesedisserqueeelefalaum
mdialeto.
Faalando de dialeto,
d ecer uma distinção entre dialeto social
podeemos tambéém estabele s e dialeto
regional.O ostatussociaalaquesepertence;oúltimo,àregiããodeondesseéoriginad
Oprimeirodizzrespeitoao do.
A distinção entre
e língua e dialeto remeteͲnos a duas claraas distinçõees: uma estrrutural e ou
utra
Aestruturalttemavercomoaspecto
funcional.A odescritivod
dalínguaemsi;afuncion
naltemaverrcomoaspeecto
descritivo de
d seus usoss sociais na comunicação. Consideraando que o estudo da eestrutura linguística é viisto
comotarefaacentraldosslinguistasfo
ormais,cabee,aossociolin
nguístas,oeestudofuncio
onal.
Ao
odiscutirmo
osarelação entredialeto
oelíngua,d
devemosincluirtambém
m“anação”. Emvistadissso,
podemosesstabelecerq
quatroaspectosdodesen odalínguaquesãocruciiaisparaumdialetotorn
nvolvimento narͲ
seumlíngua,oumelhor,passardousovernacularparaoussopadrão:

(1)seleçãod
danorma;
(2)codificaçããodanorma;
(3)elaboraçããodafunção;
(4)aceitação
opelacomunidade.


Ass duas primeeiras se refeerem, princip


palmente, à forma; as duas
d últimass, à função. A primeira e a
últimaestãovoltadasp
paraasocied
dade;asegu
undaeatercceira,paraaalíngua.Esseesquatroaspectosform
mam
umamatrizzquepodep
possibilitarͲnosdiscutirtodososprin
ncipaisproblemasdalíngguaedodiaaletonavidaade
umanação..
Po
or fim, vale a pena chamar a atenção para o
o fato de que
q o estudo do dialeto é campo da
Dialectologia. Uma discciplina que, no Brasil, tem
t muitos adeptos, co
omo veremo
os na segunda parte deeste
material.




DE:Reflitassobreassegguintesquesstões:
ATIVIDAD

SobreoPPortuguêsfaaladonoBrasil,oquesserialínguaeoqueserria
dialeto?
Queexem
mplosjustifiicariamasu
uaresposta??
Façaumlevantamen ntodealgun
nsitenslexicaisqueconsiderasereem
osdesuareegião.
específico



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Sotaque e dialeto
d


Em
m geral, é comum perceebermos, no
os falares re
egionais brassileiros, deteerminadas marcas
m que não
n
estão atrelaadas, por exxemplo, a asspectos segm
mentais, ou seja, aos elementos qu
ue constitue
em as palavrras.
Facilmente sabemosqu mosouvindo,porexempllo,umbaian
uandoestam no,ummineiiro,umcario
oca,umgaúccho
etc,apenasspelosotaqu
uequecada umdelesteemdepeculiiar.Écomossecadaum tivessesuam
melodia,eeessa
melodiasoaaͲnos,diferentemente,ccomomaisleenta,maisrápida,maisaggradávelounãoetc.
Háá quem pen
nse que quan
ndo falamoss em sotaqu
ue, estamos falando de uso diferencciado dos itens
lexicais.Nãoéistoqueéosotaquee.Éfácilobsservarmosa musicalidad
dequeexisteenofalarde
ecadaregião
o,e
obrasileiro.A
mesmode cadaestado Amusicalidaadequehán mentediferentedaquelado
nofalarbaiaanoétotalm
carioca, por exemplo. E
E mesmo o baiano do in
nterior vai ter uma mussicalidade differente. Não
o é o fato de o
baiano falaar “oxente” o mineiro falar
f “uai”, o
o gaúcho faalar “tchê” que
q caracterriza o sotaque. Estes itens
constituemasmarcasdialetaisquecaracterizam
messesfalares.
mtermosbeemgerais,é muitocomu
Em umjuízodevvaloracercada
umquecadaaindivíduoeestabeleçau
fala que esttá sendo ou
uvida: mais cantada,
c menos cantadaa, mais elegaante, mais brega etc. Issso caracterizza o
que se chaama de sotaaque, que pode
p ser en
ntendido com
mo uma forma determ
minada de pronunciar
p u
uma
variedade,m
masconsiderandooaspeectoprosódiicoou,como
onosreferim
mos,anteriorrmente,meló
ódico.
Asssociadasaosotaque,po
odemencon
ntrarmarcassegmentaisqueenvolveemprincipalm
menteaspecctos
fonéticos. Cada
C falantee no Brasil, acreditamoss, deve ser capaz
c de ideentificar os sotaques de
e determinad
dos
grupos,asso
ociandoͲlheumdeterminadoaspecto.
See pensarmos em termo
os segmentaais, podemo
os verificar que os differentes falaares brasileiiros
também têm marcas característica
c as. Logo perrcebemos qu
ue o cariocaa fala “chiando”, isto po
orque é forte a
palatalizaçããodasfricatiivascoronais[s,z]entre eles;queo paulistado interior,alggunsmineiro
os,paranaen
nses
etc. produzzem um “errre” bastantee diferente do
d encontrad
do em outro
os estados, d
denominado
o de retrofleexo;
quemuitosnordestinossproduzem asoclusivassdentais/t/ e/d/,antessdavogal[i]],bemdifere
entesdeouttras
partes do Brasil. Esses aspectos caracterizam
m falares de determinaados gruposs, mas som
mente eles não
n
mosotaque.
caracterizam
mdialeto.NoBrasil,apalavradialeto
Nããodevemosconfundirsotaquecom otemamesmaacepção
ode
falar.Difereentedeoutro
ospaísesqueeconvivemccomdiferenççasdialetaisbemacentu
uadas.


Agoraaé
com
m Veriffiquenasuaccomunidadeoquenafalaaatornadiferentedeoutrascomunidaades.
você
Apartirdaverificcaçãoanterio
or,comovocê
êreageaessaasmarcasdifeerenciadorass?

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Registro e Estilo

Semprefazemosmuitaconfusãoquandoprocuramosdefinirregistroeestilo.
O termo registro está mais ligado ao uso do que ao usuário.  Ao definirmos registro, é importante
consideraracircunstânciaeopropósitodasituaçãocomunicativa.
Oregistropodeserdefinidosobdoisângulos:restritoouamplo.
Quandopensamosdeformarestrita,oregistropodeservistocomoumavariedadeocupacionalda
língua.Dessaforma,sãoconsideradosregistroquaisquerformasdefalarutilizadaspordeterminadosgrupos
quefazem partede uma dadaáreadeconhecimento:advogados,médicos, técnicosem computação etc.E
quanto a isso, é interessante observarmos que, se não pertencemos a uma dessas áreas, dificilmente
entederemosoqueelesdizemouescrevem,senãotivermosoauxíliodealguémdaárea.Aexperiêncianos
dizqueépraticamenteimpossívelacompanharmos,porexemplo,asanotaçõesnosprocessosjudiciaisquesão
veiculadospelainternet.Semprevamosbuscarajudaentreoscolegasdojudiciárioparaqueacomopreensão
nãosejaprejudicada.
Deformaampla,oregistropodeservistocomoumtipodegênerosocialdousolinguístico,poderia
equivaler a um tipo de gênero textual ou discursivo. Assim, uma fala sobre como se fazer um bolo, uma
receita,seriaumtipoderegistro.
Emgeral,oregistrousadoporpessoascomníveldeescolaridademaisaltoapresentaͲsecomomais
elaboradodoqueoutilizadoporpessoascommenosescolaridade.
Nocontextodoestudosociolinguístico,oestiloserefereàvariaçãodentrodosregistrosquepodem
representar as escolhas individuais ao longo das dimensões sociais. Uma dimensão estilística dentro de um
registroseriaaescalanocontinuumformalidade–casualidade.Essaéumavisãoquefoitrabalhadanosanos
1960porWilliamLabov.
A maioria dos estilos sãopensados como escalas, indo do maisformal ao mais casual, com muitas
gradações entre si. Outras escalas estilísticas incluem relações como: impessoal – íntima, monolóica –
dialógica,formulaica–criativaeassimpordiante.Todasessaspossibilidadespodemserescolhaslinguísticas
dosenunciados.
Emgeral,oestiloéconsideradoumdostraçosmaisimportantesparaasociolinguísticaquantitativa,
quandosetratadainterseçãodocontinuumsocialcomoestilístico.Comisso,estamosdizendoque,seum
traçoocorrecommaisfrequêncianafaladaspessoasdeumgruposocialmenosfavorecido,comcertezaele
ocorrerácommaisfrequêncianousoinformalportodososfalantes.Acondutadecadagruposocialvariade
acordocomograudeformalidadeimpressoàfala,semaisformaloumaisespontâneo.Assim,oestilopode
passardeformalainformalporrazõesquecompreendemocontextosocial,arelaçãoentreosparticipantes,
o sexo, a idade, a escolaridade e o tema. Embora cada grupo social apresente índice de usos diferentes em
cadaestilo,todososgrupos,àmedidaquecresceaformalidade,mudaoestilonamesmadireção.Todosos
gruposreconhecemodeclaradoprestígiodavariedadepadrãoepassamaelaquandoutilizamumestilomais


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formal.Ograudeformalidadepodeserdefinidoemfunçãodograudeatençãoqueosfalantesprestamasua
própriafalada.EéassimqueLabovviuoestiloemsuaspesquisas.
Se a classe social pode  estar atrelada a essa concepção de estilo, será que o que foi dito no
parágrafo anterior pode aplicarͲse ao Português Brasileiro? A dificuldade em aplicarͲse está exatamento no
fato de não se ter no Brasil uma definição de classe social muito precisa. Parâmetros que funcionam para
outrascomunidades,noBrasil,nãoseaplicam.Reunir,parâmetros,comofezLabovemNewYork,emnívelde
ocupação,renda,localderesidênciaeescolaridadeparadefiniraclassesocialaquepertenceofalantenão
funcionaaqui.Sabemosque,emgeral,aclassesocialmaisaltanoBrasilépensadaparaaquelesquedetém
maiorpoderaquisitivo,enemsempreelessãoosquetêmmaisaltoníveldeescularidade,oqueimplicanem
sempreconheceremoquedefinealínguapadrão.
Muitas vezes o desconhecimento da norma por essas pessoas pode gerar um processo de
hipercorreção.
Suponhamosqueadistribuiçãodeumdeterminadousodalínguaapresentedesviosemrelaçãoao
queseconsiderapadrão.Ogrupoqueestálocalizadononívelsocialmaisaltoetambémoqueestánonível
maisbaixomostammudançasdeestilotãoradicalquenosníveismaisformaisogrupoqueestásituadomais
baixousaumadeterminadavariantecommaiorintensidadedoqueogrupomaisalto.Essepadrãocruzadose
considera um sintoma da chamada hipercorreção. A classe mais baixa reconhece uma norma externa de
correçãoesuacondutasecaracterizaporessereconhecimentoeporsuainsegurançaacercadesuaprópria
fala.Oscasosmaisclarosdehipercorreçãosedãoquandootraçolinguísticoemquestãoestáexperimentando
uma mudança como resposta à pressão exercida pela norma da classe mais alta. A hipercorreção praticada
pela classe mais baixa acelera a introdução da nova norma. Quando falamos dessa classe mais baixa, não
estamos falando dos grupos menos favorecidos brasileiros, mas, o que acabamos de mencionar é uma
característicadaquelegrupoqueconhecemoscomoclassemédia.
Outrotipodehipercorreçãodizrespeitoàproduçãoaritificaldeformasque sãoincorretas.Assim,
pronúnciasaltamenteestigmatizadasseassocialmpopularmenteaochamadosotaque,embora,narealidade,
possamserencontradasnaclassesocialmaisbaixadetodaacomunidade.Determinadosfalantesquequerem
distanciarͲse dessa forma de falar “corrigem” tais formas. Os falantes alteram esses sons porque são
conscientes do estereótipo a ele associado, estereótipo que indica que é uma pronúncia incorreta. Muitas
vezes, o fenômeno produz uma forma que não só é hipercorreta, mas que também inexiste na forma
prestigiosa da fala que estão tentando imitar. Tais hipercorreções chegam a ser tão frequentes que se
convertem,porsuavez,emestereótipos.
Asdiferençasdeestilopodemserobservadasnovocabulário,nasintaxe,napronúncia.
Oestiloéumadasfontesdevariaçãointernadeumalínguapadrão.Diferentesgrausdeformalidade
em situações específicas produzirão diferentes variedades da língua. Normalmente, os estilos são
caracterizadospelousodecertaspalavras.Elepodevariaremtermosdeformalidade.Assim,podemosafirmar
quealínguaescritacarregamaiscaracterísticasdoestiloformal,enquantoalínguafalada,emgeral,temmais
característicasdeumestiloinformal.
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Agoraaé Façaaumlevantamentodeitenslexicaiscaaracterísticosdealgunsreggistrosprofisssionais(taisccomo
educação,direito o,música,meedicina).Dêu
umaexplicaçããoparacadaumdelesno oestiloinformmal.
com
m Vocêêachaqueousodoestilooinformalmaaisdoqueorregistroprofissionalajudaariaaescrita
vocêê proffissionaldesssesdomíniossermaiscommpreensível?

ntifiqueformasdiferenciadasderegistroapartirdaaobservaçãoquediferenttesprofission
Iden nais
emaoutilizarralínguaespeecificamentenasuaárea.
faze

Relaateumaexpeeriênciaemqueomesmofalanteutilizeestilosdiferenciadosao
omudara
situaação.

Etnia, bilingguismo, digloossia



m muitos paaíses do mundo, há um
Em ma grande prredominânciia do uso dee mais de uma
u lingua. Em
termosoficiais,muitosdelessãodeeclaradamentemonolínggues,aexemplodosEstadosUnidose
edoBrasil.N
Não
sedeveesq
quecer,entreetanto,que aoladodas línguasoficiaispredominantesnesseespaísesditosmonoglottas,
há a convivvência com outras
o línguaas, a exemplo das línguaas indígenass. Há também
m comunidaades que falaam,
além da lingual oficial, uma outra lingua, como
o é o caso dos outros paísess  que aindaa se
d povos orriundos de o
mutilizandoaalinguamaterna.NosesstadosdosuldoBrasil,éécomumgru
comunicam uposaindafaalaremalem
mão,
italiano,jap
ponêsetc.,reeflexodacolonização.
Ousodalingu
ua,emborasejavistocom nacionalista,podetambéémidentificaardiferençassde
mosímbolon
etnia,sejaeelaracialoucultural.
Ao divíduopodeeescolherussarumalingguaespecíficaouumdiaaleto,ouum regitro,ou um
ofalar,oind
sotaque,ou
uumestilo,o
ouseja,usarrumcódigo emdiferenttesocasiões ecomdifereentespropósitos.Aesco
olha
docódigop
podeserusad
daparaseid
dentificarcom
moutrosfalaantes.
Em
m geral, os falantes têm
m a sua disposição dife
erentes códiggos, mesmo
o quando fala apenas uma
u
mudançadeccódigopodeeráacontecer,porexemplo,comaaalteraçãodoestilo,indodo
lingua.Nesssecaso,am
estilomaisfformalparaomenosforrmal.
Qu
uandosefalaemmudan
nçadecódigo,aelaseasssociaanoçããodecodeͲsswitching,se
egundoaquaala
escolha do
o código é determinadaa pelo dom
mínio dos faalantes. A situação
s de codeͲswitching implicaa o
movimento
onodomínio
odeumcódiggoparaoutrro.
A habilidaded nguasereferreàcapacidadebilíngueeoumultilínguedofalan
defalarmaissdeumalin nte.
Assim, o in
ndivíduo quee fala mais de mbém pode ser
d uma linggualé chamaado de multilingue. Essee termo tam
utilizado paara aquelas comunidadees em que duas ou maiss línguas são
o comumentte faladas pe
ela maioria das
pessoas.
mfrequênciaa,definidoedescritoem
Bilinguismoteemsido,com deescalaoude
mtermosde categoria,d
omia. Assim, podemos pensar
uma dicoto p em bilingue parciial x bilinguee ideal; bilingue coorden
nado x bilinggue
omo proficiêência, função etc. Uma das primeiiras
composto. A essas cattegorias estãão atrelados fatores co
definiçõesd
debilinguism
mosurgecom
mBloomfield,paraquem
mcorrespon
nderiaaocontroledofalantenativo
ode

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duaslínguas.Deláparacá,outrasacepçõesforamadotadas,admitindoͲse,porexemplo,queessecontrolede
duaslínguasnãofossecompleto,eaíteríamosumbilinguismocaracterizadocomoincipiente.
Ousodobilinguismopode,muitasvezes,contribuirparaamudançaoumortedeumadaslínguas.
Emgeral,acomunidademonolínguequepassaabilinguepodeviverumasituaçãodiglóssica.Comotempo,a
língua que detém maior poder na comunidade pode contribuir para que a outra passe a ser utilizada com
menosfrequência,atéchegaraoseudesaparecimento.
Os anos 50 do século passado foram uma década de muitos estudos voltados para o contato
linguístico,fornecendomuitosestudosdescritivoseváriaspropostasteóricas,promovendo,assim,ointeresse
pelodesenvolvimentodemaispesquisas.TextocomoosdeWeinreich–LanguagesinContacteodeHaugen–
Bilingualism in the Americas – procuraram salientar a necessidade de mais estudos interdisciplinares com
vistasàidentificaçãodefatoresextralinguísticosquepossamassociarͲseaestecampodeestudo.
Quando duas língua estão em contato, os falantes de uma língua podem aprender elementos da
outra.EssaaquisiçaodalínguanãoͲnativaproduzobilinguismo.Emboraamudançaresultantenossistemas
sejamumproblemapuramentelinguístico,obilinguismoemsiéessencialmentesociológico.
Vários exemplos de línguas em contato sugerem que o bilinguismo é raro caso se espere o
balanceamentoentreosdoisgruposdefalantes.Emgeral,oqueseobservaéquefalantesdeumdosgrupos
de fala tornamͲse mais bilingues do que outros. Isto pode resultar do domínio que um grupo tem sobre o
outro.Alínguadogrupomaisforteésempremaisprivilegiada,eissofazcomqueogrupomaisfracoaprenda
alínguadooutrogrupo.
Visto historicamente, duas coisas podem resultar do contato linguístico em uma determinada
comunidade: primeiro, o bilinguismo pode ser indefinidamente prolongado, de forma que ambas as línguas
continuemaseraprendidas;segundo,umadasduaslínguaspodecairemdesuso,e,nessecaso,podeͲseestar
diante de uma mudança linguística, e o bilinguismo cessa com a morte do ultimo falante da língua que não
estásendomaisaprendida.
Falar de bilinguismo no Brasil não é algo muito comum, considerando que essa nào é uma
característicadamaioriadascomunidadesbrasileiras.
Nonordestebrasileiro,porexemplo,praticamenteinexisteessetipodecomunidade.Emgeral,em
todaselasosindivíduosfalamapenasalinguaportuguesa.Aocontrário,daregiãosul,emqueosindivíduosde
váriascomunidadesdominammaisdeumalingua.
Nas comunidades em que duas variedades de lingua são usadas, e onde há uma divergência
funcional institucionalizada no uso, dizemos haver diglossia. Situação diglóssica é aquela, portanto, em que
convivem duas línguas, cada uma delas servindo para um determinado fim. Sabemos que há comunidades
indígenasnoBrasil,comfortepredomíniodoPortuguês,mascomautilizaçãodalinguaindígenaparafins,por
exemplo,religiososeculturais.Podemosafirmarqueumasituaçãodiglóssicacorrespondeaumadistribuição
complementar,ouseja,ondeumalínguaforusadaaoutranãooserá.

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m dos mais importantes traços da diglossia é a
Um a especializaação de cada uma das variedades.
v Em
determinad
das situaçõess apenas um
ma variedadee é apropriada, enquantto que em o
outras situaçções só a ou
utra
variedadeééqueéaprop
priada.
O estudo dass diglossias é de grand os processos de mudança
de valor para que se entendam o
linguística.


Agorraé Façaumleevantamento
odeitenslexicaiscaracterrísticosdealggunsregistross
comm profission
nais.
voccê Relateum
maexperiênciaemqueom
mesmofalantteutilizeestillosdiferenciaadosao
mudardesituação.



Pidgin e criooulo

Em
m geral, tod
das as línguaas naturais tiveram
t o estreitamente
origgem em outras línguas aa que estão
relacionadaas.Podemosidentificaro
oprocessodeenascimento
oedematuraçãodeum
malinguacom
moresultado
ode
línguaspidgginecrioulas.
Em
mduascomu
unidadescomcontatop
prolongado,e
emgeralse desenvolve umalíngua franca,ouseeja,
umalíngua comum.Istopodeacon
ntecerdequ
uatroformass:umalínguadecontato
o,umalíngu
uaauxiliar,u
uma
línguainternacionalouumlínguadeecomércio.
O Latim,poreexemplo,ap
partirdocon
ntatoentre váriaslínguaasdesenvolvveumuitasfformasque, em
seguida,ressultaramemoutraslíngu
uas,aexemp
plodoPortugguês,Francêss,Italiano,Esspanhol,Rom
menoetc.
En
ntendemos por m determinaados fins. O Esperanto, por
p língua auxiliar línguaas artificiais criadas com
exemplo,é umadelas. Emgeral,elastêmvocaabuláriotécn
nicoaltamen
nterestrito. Houvemom
mentos,emq
que
q o Esperaanto seria a língua que serviria paraa a comuniccação entre ttodos os povos falantes de
pesnamos que
diferenteslíínguas.Umaasériededificuldades,en
ntretanto,nããoapromovveuaessestaatusdelíngu
uaunificadorra.
Um
malínguaintternacionalsseprestaparaacomuniccaçãocomdiferentespaíses.OInglês,porexemp
plo,
éutilizadom
mundialmentepordifereentescomun
nidades.NaA
AméricaLatina,omesmo
oacontececomoEspanh
hol,
o diferentees países a utilizam.  Viajando
visto que os V pela Europa, que
q reúne p
países com línguas oficciais
diferenciadas,podemossperceberqueoInglêstemessecarááterdelíngu
uainternacio
onal.
Háá situações em que co
omunidadess em contatto necessitaam de umaa língua com
mum com fins
f
comerciais.
uandoocon
Qu ntatoentred
diferentesgruposémaisprolongado,umalínguaahíbridapod
desurgir,aeessa
línguadáͲseeonomedepidgin.Emggeral,istoacconteceemssituaçõesond
deumalíngu
uadominaassdemais.Deesta


LETRAS|8
81


forma,oselementosdasintaxeedoléxicodecadaumadaslínguassãosimplificadosecombinadosparaque
hajacompreensãoentreosfalantes.
Apesardeopidginterelementosreconhecíveisdecadaumadaslínguasqueoconstituam,elenãoé
simplesmenteumaforma“quebrada”deumadaslínguas:ospidginstêmsistemasderegrasquedevemser
aprendidos.Consequentemente,aslínguaspidgintendematerumvocabuláriorestrito,umsistemasintático
simples, e também têm uma limitada quantidade de funções (comércio local, negócios relacionados a
casamento, disputas de terras, por exemplo). Qualquer um que use o pidgin sempre terá sua língua nativa
própria,eousaráapenasquandofornecessário.
 Os pidgins, normalmente, são encontrados em áreas litorâneas, e surgiram tipicamente no
período das colonizações. Por essa razão, os pidgins tendem a ser baseados nas línguas dos colonizadores
europeus:Francês,Holandês,Espanhol,PortuguêseInglês.Quaseametadedetodosospidginsecrioulostêm
o Inglês como elemento. Em geral, seu papel está diretamente relacionado a questões de ordem política e
social.Quandosedizqueospidginsoucrioulossebaseiamnestaounaquelalínguaéporqueamaiorpartedo
vocabulário foi tomado da língua em questão, enquanto a estrutura gramatical tem influência de outras
línguas, geralmente conhecidas como substrato. Assim, crioulo de base francesa significa que ela tomou do
francês maior parte do seu vocabulário. No estado do Amapá, na região do Oiapoque, podeͲse encontrar
exemplodecrioulodebasefrancesa. 
QuandoumpidgintornaͲseumcrioulo?
UmpidgintornaͲseumcriouloquandoeleforadquiridocomolínguamaternadeumanovageração.
Nessas circunstâncias, os pidgins rapidamente desenvolvem um maior número de fonemas, um vocabulário
mais amplo, sintaxe mais complexa e uma grande variedade de opções estilísticas, permitindo ao usuário
opçõesdeescolhas,dependendodasituação.Contudo,nemtodopidgintornaͲseumcrioulo,e,àsvezes,um
pidgineumcrioulopodemcoͲexistiremcentrourbanoserurais.
Levando em consideração aspectos históricos, geográficos e linguísticos, podemos reconhecer dois
grandes grupos de línguas crioulas: as do Atlântico e as do Pacífico. As primeiras tiveram sua formação nos
séculosXVIIeXVIII,noCaribeenaÁfricaocidental,enquantoasúltimas,tiveramsuaorigem,principalmente,
noséculoXIX.AsdoAtlântico,resultaram,emgeral,docomérciodeescravosnoocidentedaÁfrica,deonde
veiograndenúmerodeescravosparaseremdistribuídosentreospaísesatravésdoCaribe.TambémdoReino
Unidomuitasdelasforamtransplantadaspelosseusimigrantes.AslínguascrioulasdoAtlânticopossuemum
mesmosubstrato,oquejustificacompartilharemmuitosdeseustraços.
AslínguascrioulasdoPacíficotêmsubstratoconstituídopordiferenteslínguase,alémdisso,tiveram
condiçõessocioculturaisdiferentesdasdoAtlântico.Nasduasáreas,oaparecimentodospidginstiveramforte
influênciadasplantações,apesarde,noPacífico,ostrabalhadoresnãoserem,emgeral,escravos;sim,homens
recrutadosecontratados.IstocontribuiuparaqueoprocessodecrioulizaçãodoPacíficofossemaisgraduale
menosabruptodoqueodoAtlântico.


LETRAS|82



Crrioulos,como
oosafricano
os,podemdeesenvolverͲsseapontodeesetornarem
mlínguaslivvres,compou
uco
ou nenhum
ma interferên
ncia da língu
ua parente européia.
e Co
ontudo, muittos crioulos baseados no
o Inglês sofrrem
pressãodo poderlocal empresenççadalíngua padrão.Nessascircunstââncias,umccontinuumpó
ósͲcrioulopo
ode
desenvolverͲse.
Diiferentesforrmasdocriou
ulopodemtornarͲsesoccialmenteesttratificadas: ocriolulopllenamenteliivre
asiletal;umavariedadem
faladoporttrabalhadoreesmanuais,vvariedadeba maisligadaàformapadrãão,faladapeelas
o,comvariedadesentresi,omesoleeto.Oacroleetopodeevo
elitessociaiis,oacroleto oluirparaum
manovalínggua,
comoéoccasodoInglêêsJamaicano
o.Istoépartedeumprrocessomaissamplo,con
nhecidocom
moxͲização(por
ndianização,americanizaçãoeassimpordiante).
exemplo,in
Caasoapressãodepoderd
dopadrãolo
ocalsejamuitoforte,occrioulopodeetornarͲsed
descreolizado
o,e
des basiletais e mesolettais tornamͲͲse estigmattizadas e asssociadas com
as variedad m a falta de
e letramento
o e
ignorância.Nessascircu
unstâncias,o
ogovernoloccalsemprep
proíbeousodocrioulo,cconsideradoimpróprio,eeas
escolaseossjornaisnãooutilizam.Excetoalealdadeàlíngu
uaeoprestíggiocoberto,ouimplícito
o,asustenta,,do
contrárioocrioulopodeedesapareceeraoperdertodososseu
usfalantes.
Ap
pesar de serrem muito utilizadas
u pela população nguas crioulaas não goza de
o, a maior  parte das lín
reconhecim
mentooficial nospaiseseemquesãoffaladas.LingguistasdoCaaribeedoPaacíficotêmlutadoparaq
que
oscrioulos mudemdesstatusesejamnormalizaados,afimdepoderemsserutilizadoscomfinseducativos,m
mas,
viaderegraa,osgoverno
ossemantêm
momissos. 


Agoraaé
com
m
NoBrasil,existeumaggrandediscusssãoacercadabasedoPortuguêsaqui
vocêê usquealiteraturapertinen
falado.Bu nteeapresen
nteosdiferen
ntes
posicionammentossobreeapresençado“crioulo”noPortuguêsBrasileiro.

Etnia, bilingguismo, digloossia



m muitos paaíses do mundo, há um
Em ma grande prredominânciia do uso dee mais de uma
u lingua. Em
termosoficiais,muitosdelessãodeeclaradamentemonolínggues,aexemplodosEstadosUnidose
edoBrasil.N
Não
sedeveesq
quecer,entreetanto,que aoladodas línguasoficiaispredominantesnesseespaísesditosmonoglottas,
há a convivvência com outras
o línguaas, a exemplo das línguaas indígenass. Há também
m comunidaades que falaam,
além da lingual oficial, uma outra lingua, como
o é o caso dos outros paísess  que aindaa se
d povos orriundos de o
mutilizandoaalinguamaterna.NosesstadosdosuldoBrasil,éécomumgru
comunicam uposaindafaalaremalem
mão,
italiano,jap
ponêsetc.,reeflexodacolonização.
ua,emborasejavistocom
Ousodalingu nacionalista,podetambéémidentificaardiferençassde
mosímbolon
etnia,sejaeelaracialoucultural.

LETRAS|8
83


Aofalar,oindivíduopodeescolherusarumalinguaespecíficaouumdialeto,ouumregitro,ouum
sotaque,ouumestilo,ouseja,usarumcódigoemdiferentesocasiõesecomdiferentespropósitos.Aescolha
docódigopodeserusadaparaseidentificarcomoutrosfalantes.
Em geral, os falantes têm a sua disposição diferentes códigos, mesmo quando fala apenas uma
lingua.Nessecaso,amudançadecódigopoderáacontecer,porexemplo,comaalteraçãodoestilo,indodo
estilomaisformalparaomenosformal.
Quandosefalaemmudançadecódigo,aelaseassociaanoçãodecodeͲswitching,segundoaquala
escolha do código é determinada pelo domínio dos falantes. A situação de codeͲswitching implica o
movimentonodomíniodeumcódigoparaoutro.
Ahabilidadedefalarmaisdeumalinguaserefereàcapacidadebilíngueoumultilínguedofalante.
Assim, o indivíduo que fala mais de uma lingual é chamado de multilingue. Esse termo também pode ser
utilizado para aquelas comunidades em que duas ou mais línguas são comumente faladas pela maioria das
pessoas.
Bilinguismotemsido,comfrequência,definidoedescritoemtermosdecategoria,deescalaoude
uma dicotomia. Assim, podemos pensar em bilingue parcial x bilingue ideal; bilingue coordenado x bilingue
composto. A essas categorias estão atrelados fatores como proficiência, função etc. Uma das primeiras
definiçõesdebilinguismosurgecomBloomfield,paraquemcorresponderiaaocontroledofalantenativode
duaslínguas.Deláparacá,outrasacepçõesforamadotadas,admitindoͲse,porexemplo,queseessecontrole
deduaslínguasnãofossecompleto,eaíteríamosumbilinguismocaracterizadocomoincipiente.
Ousodobilinguismopode,muitasvezes,contribuirparaamudançaoumortedeumadaslínguas.
Emgeral,acomunidademonolínguequepassaabilinguepodeviverumasituaçãodiglóssica.Comotempo,a
língua que detém maior poder na comunidade pode contribuir para que a outra passe a ser utilizada com
menosfrequência,atéchegaraoseudesaparecimento.
Os anos 50 do século passado foram uma década de muitos estudos voltados para o contato
linguístico,fornecendomuitosestudosdescritivoseváriaspropostasteóricas,promovendo,assim,ointeresse
pelodesenvolvimentodemaispesquisas.TextocomoosdeWeinreich–LanguagesinContacteodeHaugen–
Bilingualism in the Americas – procuraram salientar a necessidade de mais estudos interdisciplinares com
vistasàidentificaçãodefatoresextralinguísticosquepossamassociarͲseaestecampodeestudo.
Quando duas língua estão em contato, os falantes de uma língua podem aprender elementos da
outra.EssaaquisiçaodalínguanãoͲnativaproduzobilinguismo.Emboraamudançaresultantenossistemas
sejamumproblemapuramentelinguístico,obilinguismoemsié,essencialmente,sociológico.
Vários exemplos de línguas em contato sugerem que o bilinguismo é raro, caso esperemos o
balanceamentoentreosdoisgruposdefalantes.Emgeral,oqueobservamoséquefalantesdeumdosgrupos
de fala tornamͲse mais bilingues do que outros. Isto pode resultar do domínio que um grupo tem sobre o
outro.Alínguadogrupomaisforteésempremaisprivilegiada,eissofazcomqueogrupomaisfracoaprenda
alínguadooutrogrupo.

LETRAS|84



Visto historicaamente, duas coisas podem resulttar do conttato linguísttico em uma determinaada
comunidadee: primeiro, o bilinguism
mo pode serr indefinidam
mente prolon
ngado, de fo
orma que am
mbas as línguas
continuemaseraprend
didas;segund
do,umadasduaslínguaspodecaireemdesuso,ee,nessecaso
o,podeͲseesstar
diante de uma
u mudançça linguísticaa, e o bilingu
uismo cessa com a mortte do ultimo
o falante da língua que não
n
estásendomaisaprend
dida.
Faalar de bilin
nguismo no Brasil não é algo muito comum,, consideran
ndo que esssa nào é uma
u
nidadesbrasileiras.
característiccadamaioriadascomun
No
onordesteb
brasileiro,po
orexemplo, praticamentteinexisteeessetipode comunidade
e.Emgeral, em
todaselaso nasalingua portuguesa..Aocontrário,daregião
osindivíduossfalamapen osul,emqueindivíduossde
váriascomu
unidadesdom
minammaisdeumalingua.
Naas comunidaades em qu
ue duas varriedades de lingua são usadas, e onde há um
ma divergên
ncia
nstitucionalizzada no uso, dizemos haver diglossia. Situação diglóssica éé aquela, porrtanto, em que
funcional in q
convivem duas
d línguas,, cada uma delas servin
ndo para um
m determinad
do fim. Sabeemos que há comunidades
indígenasnoBrasil,com
mfortepredo
omíniodoPo
ortuguês,maascomautilizaçãodalin
nguaindígen
naparafins,por
exemplo,reeligiososecu demosafirmaarqueuma situaçãodigglóssicacorreespondeaumadistribuiçção
ulturais.Pod
complemen
ntar,ouseja,,ondeumalíínguaforusaadaaoutran
nãooserá.
Um
m dos mais importantes traços da diglossia é a
a especializaação de cada uma das variedades.
v Em
determinad
dassituaçõessapenasumavariedadeéapropriada,enquantoque,emouttras,sóaou
utravariedad
deé
queéaprop
priada.
Oestudodasd
diglossiaséd
degrandevaalorparaque
eentendamo
ososprocesssosdemudaançalinguística.


Agoraaé
com
m
vocêê Relatesituaçõ
R õesemquealínguafaladaarefletecadaaumdosconceitosdessaseção.

As línguas e a sociedadee

uantaslínguasexistemn
Qu nomundo?
Esstanãoéum
mapergunta fácildeser respondida..Alémdofaatode,porq
questõesprááticas,serdiffícil
estabelecerrmos esse número,
n exiiste o problema de, muitas
m vezess, estarmos diante de um continu
uum
linguístico,ondeasfron
nteirassãodifíceisdemaarcarmos.
Deesde as últim
mas décadass do século passado, mu
uitos linguisttas têm deseenvolvido esstudos voltad
dos
para uma grande
g ntidade de línguas. Todo
quan os esses estu usão de que não há razões
udos resultam na conclu


LETRAS|8
85


linguísticasparadizermosqueumalínguaésuperiorouinferioremrelaçãoaumaoutra.Comisto,podemos
afirmar que todas as línguas podem gozar do mesmo status. Todas elas são constituídas de sistemas
complexosesãoigualmenteválidasparaseusfins.
Éverdadequeaslínguasdiferem,maselasdiferemapenasnoqueelastêmadizer,nãonoqueelas
podem dizer.  Às vezes, em uma língua, precisamos de apenas uma palavra para dizermos o que em outra
seriam necessárias duas ou mais.  Algumas línguas podem ter vocabulário mais amplo sobre alguns tópicos,
masistoé,simplesmente,umreflexodasnecessidadesdosseusfalantes.
Ofatodenenhumalínguasermelhordoqueoutraédesumaimportânciaparaopapeldalínguana
educação. No caso do Português falado no Brasil, que representa uma só língua com algumas diferenças
quando se compara falares de diferentes regiões, não podemos dizer que um falar é superior ou inferior a
outro. Todos os falares são igualmente complexos, estruturados e sistemas linguísticos válidos. Não existe
evidênciaparasugerirmosqueumfalarsejamaisexpressivo,maislógicodoquequalqueroutro,oupostular
queháfalaresquesãomaisoumenosavançados,quandosãocomparados.
Os estudos realizados no Brasil sobre os diferentes falares têm abordado questões de natureza
fonológica, sintática, lexical, semântica, discursiva etc. Podemos afirmar que tais diferenças não afetam o
sitemagramaticaldalíngua.Acorrelaçãoentreoquesefalanonorteenosul,oucasosedesejecomparar
outras regiões, não acarreta problemas de compreensão entre os falantes, e, quando isso acontece, é
facilmenteresolvido.Temos,muitasvezes,diferençasentreosfalaresquedizemrespeito,principalmente,ao
usodecertositenslexicais.Isto,podemosdizer,refletequestõesculturaislocaisinerentesàcomunidade.
Muitas pessoas podem não concordar com a idéia de que todos os falares são igualmente “bons”.
ElaspodemacharqueofalardosudesteémelhordoqueodonordesteeviceͲversa.Paraessaspessoas,a
língua padrão do Brasil deve ser a de sua região. Atitudes dessa natureza não têm fundamento no fato
linguístico. Não há parâmetro linguístico para avaliar um falar ou sotaque como melhor ou pior do que
qualqueroutro.
Casoquestionemosseasatitudesemrelaçãoàformadefalarsãodecaráterlinguísticoousocial,a
resposta é que não são, completamente, de caráter linguístico. Elas são atitudes sociais. Julgamentos que
parecemser,naverdade,sobrealíngua,são,defato,julgamentosbaseadosnosvaloresculturaisesociais,e
têmmuitomaisavercomaestruturasocialdacomunidadedoquecomalíngua.Oqueaconteceéque,em
qualquersociedade,diferentesgruposdepessoassãoavaliadasdediferentesformas.Algunsgrupostêmmais
prestígioestatusdoque outro,e,comoresultado,asformasdefalaresotaquesassociadosaessesgrupos
tendemasermaisfavoravelmenteavaliadosdoqueoutrosfalaresousotaques.
Algumas pessoas podem acreditar que existem “bons” e “maus” falantes devido às conotações
sociais,maisdoquepelofatodeacreditaremqueelessãoinerentementesuperioresouinferiores.Épossível
que suas avaliações digam respeito muito mais aos diferentes sotaques. Esses, sm,  em geral, são avaliados
como uns sendo melhores do que outros. Há quem diga que os sotaques do sul e do sudeste são mais
agradáveis,maisatrativos,maisbonitos,maischarmosos,equeosdonordestesãomaisfeios,maisbregaetc.

LETRAS|86



Taisjulgamentos,comcerteza,sãodeordemestética,comonocasodosfalares,portrásdessesjulgamentos
estãoasconotaçõessociais.
Não é difícil provar que isso é verdade. Primeiro, a avaliação do sotaque tem a ver com a classe
social.Pessoasdeclassesocialmaisaltasãoacreditadasteremumsotaquemaisbonito,ofeioestáassociado
àspessoasdeclassessociaismenosprivilegiadas.Segundo,nãoéraroossotaquesconsideradosfeiosestarem
vinculados a zona de habitação das pessoas. Pessoas de zona rural, em geral, são consideradas terem o
sotaquefeio.Etambémissoseestendeàregião.Nordestinostêmsotaquefeio,afirmarãoaspessoasdosule
do sudeste. Nordestinos têm sotaque ‘bonitinho”, “engraçadinho”, também dizem eles.  No Brasil, tais
atitudes, chegam a ser preconceituosas, com reflexos em vários campos do cotidiano. O sotaque regional,
muitasvezes,podeinfluenciasnaconcessãode,porexemplo,postosdetrabalho.EissoocorrenoBrasilcomo
umtodo.
Atéaqui,vimosqueosjulgamentossobrealgumasvariedadescomosendomelhoresdoqueoutras
não têm base no fato linguístico e que o mesmo também é verdade para os julgamentos estéticos sobre a
relativaatratividadedediferentessotaques.OPortugêspadrão,valedizer,estáassociadoafalantesdestatus
maisaltonacomunidadeetemprestígioapenasporessarazão.Paramuitaspessoas,naverdade,oprestígio
doPortuguêspadrãoétãoaltoqueelesnãosóoconsideram“bom”,nosentidoreferidoanteriormente,mas
também o consideram correto. Não poucas vezes, as pessoas entendem que determinados usos são
consideradoscorretoseoutrossãoconsideradoserrados.
Quandoalguémdizqueumaformadefalaré“ruim”,elarealmenteestásereferindoaostatussocial
baixodofalar.Omesmoéverdadeparaanoçãodecorreção.Traçosgramaticaisquesãovistoscomocorretos
são,exatamente,aquelesquetambémsãoconsiderados“bons”,porcontadesuasimplicaçõessociais.
De um ponto de vista puramente linguístico, não faz sentido falarmos de “certo” e “errado” em
língua. Assim como ninguém sugeririra que uma língua  é mais correta do que outra, não há razão para se
acreditarqueumfalarsejamaiscorretodoqueoutro.
Apesar disso, temos de reconhecer que muitas pessoas acreditam que algumas construções  e
pronúncias do Português sejam erradas.  Algumas razões devem ser colocadas para sustentar essa visão.
Primeiro, podemos  alegar que uma determinada forma seja um erro. Professores que desconhecem, por
lacunaemsuaformação,osconceitoslinguísticosatreladosaessasnoções,têm,emgeral,ohábitodenomear
aqueleusodalínguaquenãoestádeacordocomanormagramaticalcomosendoerrado..Emrelaçãoaisso,
podemoselencarumagrandequantidadedeexemplosnosdiferentesníveislinguísticos,sejadafonologia,da
morfologia,dasintaxeetc.
Segundo,todososfalarestêmgramáticaseelassãotodasiguaisnoverdadeirosentidodapalavra.
Gramática é um termo que, dentre outras coisas, se refere à forma como as palavras são combinadas nas
sentenças, e também às relações que existem entre as sentenças. Ela também se volta para as funções das
diferentes partes da fala e para as restrições sobre que combinações de palavras são possíveis.  Visto que
essessãoproblemasqueseafetamigualmente,todososfalaresdevemserconsideradostergramática.


LETRAS|87


Um
madasgrandesdificuldaadesemrelaaçãoaoPortu
uguêsfalado
onoBrasilédefinirmosaavariedadeq
que
deveserconsideradapaadrão.
ofalarmosd
Ao delínguapad
drão,nãodeevemosesqu
uecerqueelaanãoconstiituiumacate
egoriaclara;;há
diferençasd
degrau,meesmoentreaaslínguasbeemestabeleccidas.Daslínguaseurop
péias,oFran
ncêsé,talvezz,a
línguamaispadronizadaa;maisdoque,porexem
mplo,oInglê
êseoAlemão
o.EmsuaheerançaimediiatadoLatim
m,o
Francêsabssorveumuito
osdeseusco
onceitosdeccorreçãoede
eelaboração
ointelectual,,comissoofrancêstornouͲ
seummodeeloparaoutraslínguasp
padrão.
Qu
uandoosesscritoresingleses,nosécculoXVIII,de
ebateramseepoderiamccriarumaaccademiainglesa
pararegularalíngua,aidéiadeumainstituiçãoassimveiod ApropostaffoirejeitadaporqueoIngglês
doFrancês.A
nãodesejavvaduplicaro
oqueelesviaamcomotiraaniadoFranccês.
NaaFrança,com ospaíses,o processodepadronizaçããoesteveinttimamenteligadoàhistó
moemoutro ória
daprópria nação.Comoaspessoassdesenvolveeramumsen
ntidodecoeesãoemtorn
nodeumgo
overnocomu
um,
mveículoeumsímbolod
sualínguatornouͲseum desuaunidad
de.
o Brasil, em
No m geral, quan
ndo pensam
mos em língu
ua padrão, sempre
s obseervamos maais a sua forrma
escrita, norrteada pela gramática
g normativa, qu
ue a torna uniforme
u mos pensar em
de norte a sul. Não podem
padrão,con
nsiderandoaapenasafalaa.Aofazermosisto,entrrarãoemjoggointeressessoutrosque
eextrapolam
mos
aspectos lin A sociedades brasileiras que detêm maior podeer, na maioria das vezess, reivindicam
nguísticos. As m a
suaformad
defalacomo
oapadrão,ggerandopreconceitosqu
uesãonocivvosediscrim
matórios,afettandoavidaade
muitoscidadãos.

Ativid
dade

Vocêêachaque,n
noBrasil,exisstepreconceeitolinguísticco?Emcasoafirmativo,
justiffique.

Emgeral,quando
oaspessoasmudamdeu umacidadepparaoutra,p
principalmennte
emsetratandod
decidadesde
eregiõesdifeerentes,ocorreumproceessode
modaçãolinguística.Quaiisosaspecto
acom quesãoatinggidosprimeiro?
osdalínguaq

Queaspectosdesuavariedad delinguísticaavocêacreditaserdifere
entedode
outraasregiões?O
Ofatodeusaaralínguaco
omousajálh
hecausoualggumproblem ma?
Emcasoafirmativvo,dequenatureza?

Aspectosrelacionnadosàlínguua,comofonnologia,sintaaxe,morfologia,semântica,
podeemterusodiiferenciadosdependendo odaregião.Achaqueosstatusdofalante
podeecorrelacionarͲseaisso??Dequeform
ma?

LETRAS|88
8



Agoxra
m
écom
vocêê Faççaumlevantaamentodealgunsitenslexicaisquevariamdesentidodeuma
reggiãobrasileiraaparaoutra.

Concluindo a Primeira Parte


P

Neestaprimeiraparte,trattamosdeco mentaisparaacompreen
onceitosque sãofundam nsãodouso
oda
línguanaso
ociedadedeumaformaggeral.Taisco
onceitosnorrteiamfalanttesecomunidadesedetterminamco
omo
alínguapod
deserusada.
os, com focco principal na
Naa segunda parte, a seeguir, tratareemos de asspectos maiis específico
SociolinguíssticaVariacio
onista.Antess,porém,aprresentaremo
osalgunsfun daDialectologia.
ndamentosd




LETRAS|8
89


UNIDADE II

SOCIOLINGUÍSTICA E DIALECTOLOGIA


Conceitos Fundamentais

VARIAÇÃO – VARIANTE – VARIÁVEL – MUDANÇA - TEMPO REAL

TEMPO APARENTE - RESTRIÇÕES





Objetivos

Apresentar a diferença entre a Sociolinguística Variacionista e a Dialectologia.


Apresentar diferentes concepções acerca da concepção de língua que antecederam a
sociolinguística variacionista.
Discutir conceitos relacionados aos estudos sociolinguísticos.



Dialectologia: fundamentos

Pormuitosséculos,asdiferençasnafalatêmchamadoaatençãodemuitosestudiosos.Porvoltado
século XVIII, vários glossários dialetais surgiram na área de língua inglesa, cujas observações sobre
característicasregionaisjádatavamdoséculoXII.Essaslistasapresentavampeculiaridadeslexicaisqueeram
predominantesemalgumaslocalidades.Foi,porém,apartirdoséculoXIX,comodesenvolvimentodafilologia
comparativaqueoestudodialetalteveseumaiorimpulso.
Afilologiacomparativalidavacomahistóriadaslínguaseasrelaçõesentresi.Umdosseusobjetivos
eraestabelecerascorrespondênciasentrelínguasdiferentes,masrelacionadas,elaborandoagenealogiadas
línguas,emostrandoquediferençasdeveriamterocorridodentrodecadalíngua.Pararealizartaltarefa,os
filólogosprocuravamosdadosmaispurosdecadalíngua,observandoqueosdialetossemprepreservamas
formasmaisregularesemaisantigasdoqueumalínguapadrão.
Comocrescenteinteressenosdialetos,oiníciodoséculoXIXcontanãosócomumgrandenúmero
deglossáriosdialetais,mastambémcomoaparecimentodasgramáticasdialetais:essaserammuitomaisdo

LETRAS|90



que uma gramática no sentido usual, elas reuniam, em detalhes, as correspondências entre os sons e as
flexõesdeumdeterminadodialeto,desdoosprimeirosestágiosdalínguaaqueelespertencem.
OsestudosmaisimportantessobreadialectologianostemposmodernosapareceramnaAlemanha.
A primeira gramática que tentou tratar não só de um dialeto, mas de todos os dialetos de uma área foi
publicada em 1821 por Johann Andreas Schmeller. “The dialects of Bavaria” deu uma ideia da gramática
histórica e da geografia da língua alemã na Bavária, incluiu um pequeno mapa classificando seus dialetos,
provavelmenteoprimeiroatlaslinguístico.
A primeira pesquisa dialetal de uma área foi realizada em 1873 por L. Liebich que enviou um
questionáriopelocorreioparaprofessoresdeumaescolaprimáriaemtoasasáreasquesefalavaalemãona
Alsácia. O questionário solicitava uma grande quantidade de informação sobre a fonologia e a gramática
locais, e seus resultados foram escritos como uma gramática dialetal da Alsácia, com vários mapas. Liebich
concluiu seu trabalho em 1876, ano que pode ser considerado um marco na história, tanto da dialectologia
comodalinguística.Infelizmente,essetrabalhonuncafoipublicado.
Voltadoparaoestudodosdialetos,aindanaAlemanha,GeorgeWenkerdesenvolveuumapesquisa
quecomeçouemDusseldorf,noanode1877,equeviriaaestenderͲseportodooimpérioalemão,resultando
noAtlasLinguísticodoImpérioAlemão.Suapublicaçãosedeuentre1953e1978.Apesquisafoirealizadacom
oenviodeumquestionárioatodasasvilasquetinhamumaescola.Essequestionárioeracompreendidode40
sentenças, contendo aspectos gramaticais e fonéticos selecionados. Foram enviados 52.000 questionários,
masmuitosdelesnãoforamdevolvidos.
VinteanosdepoisqueWenkercomeçousuapesquisanaAlemanha,teveinícioumagrandepesquisa
naFrança,realizadaporJulesGilliéron,que,em1880,publicouumatlaslinguísticocobrindoalgumasdas25
localidadesnaáreadefalafrancesanaSuissa.OAtlasLinguísticodaFrançacomeçouem1897.Diferentede
Wenker,Gilliéron,usouométododeinvestigaçãoinloco.Pararealizaratarefa,elerecrutouEdmondEdmont
que,utilizandoumabicicleta,visitou639localidadesruraisnaFrançaenasáreasdefalafrancesadaBélgica,
da Suíssa e da Itália. Depois de completar sua tarefa, ele visitou 44 localidades na Córsega para o Atlas
LinguísticodaCórsega,publicadoem1914.
ApesquisadeGilliéronedeEdmontserviudemodeloparamuitaspesquisasdialetaisquemaistarde
foramrealizadasnaEuropa,nosEstadosUnidosenoBrasil.
AindanaEuropa,departicularinteresseforamaspesquisasrealizadaspelosestudantesdeGilliéron,
KarlJabergeJakobJud.QuandodaspesquisasrealizadascomosdialetositalianosnaItáliaenosuldaSuíssa,
elesrefinaramosmétodosanteriores.Dentresuasmelhorias,estáoesboçodeumquestionárioqueapresenta
umasequênciadetópicosmaisoumenosnatural,deformaqueointeressedoinformantesecentremaisno
assunto principal do que no uso linguístico propriamente dito, como aconteceu no passado. Eles também
estenderam suas pesquisas aos centros urbanos e às diferenças lingüísticas entre as classes sociais. A
observação de que a fala do povo não pode ser simplesmente equivalente à fala rural foi um importante


LETRAS|91


avanço, maas, infelizmeente, aos diaaletos sociaiis e urbanoss não foi daada a atençãão que eles mereciam por
muitosemuitosanos.
M
Muita coisa considerada
c uilliéron foi mantida, mas outras melhorias
boa na pesquisa de Gu m forram
acrescentad
das: (a) a invvestigação preliminar
p onduzida antes da pesquisa propriamente dita; (b)
erra sempre co
outrasforamdescartadass,enovasfo
muitasquesstõesforam mantidas,o oramintrodu
uzidas;(c)oq
questionário
ofoi
m uma partee mais geral e uma parte mais esp
dividido em pecífica; (d) melhoras naas técnicas de
d pesquisa de
campoforamintroduzid
dasapartird
daexperiêncciadeEdmon
nt.
A metodologiaautilizadano
osestudosd
dialetais,emgeral,seguiramabased
dapesquisafrancesacom
mo
pioneiro trabalho de Guilliéron. Para
P ele, ass localidades a serem investigadass deveriam ser escolhidas
anteriormente, e eram
m observadoss aspectos como
c densid
dade populaaconal, facilidade de comunicação etc.
e
ocalidades taambém são escolhidas com antece
Hoje, as lo edência, mass isso é feitto onde o estudo
e piloto
o é
conduzido,ou,seisson
nãoacontecee,opesquisadortemalgu
umconhecim
mentoprévio
osobreacom
munidade.
Naapesquisad
dialectológicaapropriamentedita,doiismétodosp
podemseru
usados:odirreto,aquele em
queopesquisadorvisittaacomunid
dadeefazo
ocontatodirretamenteco
omoinform
mante;eoin
ndireto,emq
que
umquestionárioéenviaadoviacorrreiosparaqu eguro,eeleéo
ueoinformanteresponda.Oprimeirroéomaisse
doseguidop
quetemsid pelamaioria dosquedessenvolvemesstudosdialettais.Umadaasdesvantaggensdométo
odo
diretoéqueeoresultado otempoparaaserobtido.Oindireto,apesardem
odapesquissalevamuito maisrápido,ttem
onderemaosquestionários.
adesvantaggemdenemtodosrespo
No
o Brasil, as pesquisas dialetais
d têm
m sido basttante produttivas. Para Suzana Card
doso e Carlota
Ferreira, am
mbas professsoras da Universidade Federal
F ória da dialectologia brasileira tem três
da Bahia, a histó t
fases.
A primeirafassevaide182
26a1920,q
quandofoip
publicadoottextodeAm
madeuAmaraal,denominaado
‘DialetoCaipira’.Asegu
undafasevaide1920até1952,quandosãodad
dososprimeirospassosp
paraosestud
dos
voltadospaaraageograffialinguísticaanopaís.Atterceirafase
e,atestamassautoras,“temcomomarcoumato
odo
governobraasileiro,oDeecreto30.64
43,de20deemarçode1
1952,que,ao
odefinirasffinalidadesd
daComissão
ode
FilologiadaaCasadeRu quevinhadeesercriada, assentavaccomoaprinccipaldelasaelaboraçãodo
uiBarbosa,q
atlaslingüíssticodoBrasil”.
oje,SuzanaC
Ho CardosocoordenaarealizaçãodoAttlasLinguísticcodoBrasil(ALiB),queo
objetivarealiizar
estudosdiaaletaisabrangendotodo oterritório nacional.Diferentede outrosatlas járealizado
osnoBrasilq
que
muito focalizaram o lééxico, o ALiiB, em seu questionário
o, contemplla os difereentes aspecttos lingüísticcos:
fonológicoss,mórficos,ssintáticos,semânticos,leexicais,textuaaisetc.

Agoraaé
com
m
vocêê Buscarnaliteraturapertinente,ejáexistentenoBraasil,informaççõesacercad
B dosAtlas
e
elaborados,avvaliandoseussobjetivosecaracterísticaas.

LETRAS|92
2



SUGESTÃO
ODELEITURA:
CARDOSO O,SusanaAlliceMarcelino.AdialecctologianoBrasil:
perspectivvas.D.E.L.T.A.Vol.15,1
1999.Dispo
onívelemw
www.scielo.br.
Informaçõ
õessobreoAtlasLingu
uísticodoBrrasil
Visitarossitewww.uffba.alib.br



Sociolinguísstica Variacioonista

É impossíveln
negarquea línguasejau
umfenômenosocial.PorrémestudáͲllasobessap
perspectivan
não
foi sempre consensual. Se observarmos os estudos de Platão e Aristó
óteles, na Grrécia antiga, constatarem
mos
queapreoccupaçãoera comacateggorizaçãodasformaslingguísticas,ouseja,coma agramática..Nenhumdeeles
chamou a atenção
a para a variação
o linguística de qualquer natureza, e sua contib
buição para o pensamento
occidentalffoifundameentalparaqu
ueo aspecto
osocialdalíínguanunca fosseobserrvado.Naan
ntiguidade,ttem
00BC),massuasobservaaçõesforamnegligenciadas
mençãoàvvariabilidadenagramáticcadoSânscriitoPãnini(60
porseussucessores,claassificandoͲasdemarginaaiseinaceitááveis.
O estudiosoclássicoquep
podemosconsiderarcom
moopatriarccadasociolinguísticaéo
osábioromaano
6Ͳ27BC),queenãosóreco
Varrão(116 onheceuavaariação,mastambémligo
ouͲaaousovernacular.Infelizmentee,o
tratadolingguísticodeV
Varrão,quessobreviveap
penascomo umfragmen
nto,nãodeu
uorigemanenhumaesccola
depensameento.Eleperrmanececom
moumafigurraisoladanaahistóriadoestudodalín
ngua.
Attéoaparecim
mentodasociolinguísticaa,noseusen
ntidomaisam
mplo,incluin
ndoestudosdediscurso,,de
pragmática etc.,nãoho obrirosignificadosocial davariação linguística.IIssosejustiffica,
ouvetentativvasdedesco
o fato de ass ciências so
talvez, pelo nte jovens.  A sociolingu
ociais serem relativamen uística, como um ramo de
ciênciasocialdalinguísttica,énovata,secomparradaaoramoconhecidocomolinguíísticateóricaa,quedescen
nde
deestudosmaisvenerááveisdagram
mática,darettóricaedafiilologia.
mdosusosd
Um dotemosocciolinguísticarefereͲseao
osestudosquesebaseiaamnotraballhoempírico
oda
língua, segu
undo é falad
da em seu contexto
c soccial. Nesse sentido,
s sociolinguistica é  uma metodologia, uma
u
formadefaazerlinguísticca.
A sociolinguístticaéumad
disciplinarelativamente novaqueaiindabuscaeencontrarseusfins,eain
nda
muitasáreasdediscordânciasobreseeusmétodosseseusobjeetivos.
apresentam
Oss estudos daa linguagem dos séculossXVII e XVIIII, séculos daas gramáticasgerais,foramfortemente
peloracionalismo,poisalinguagemeeraestudadaacomomeraarepresentaçãodopensamento.Oaalvo
marcadosp
que esses estudos qu ngir era a línguaͲidealͲͲ língua un
ueriam atin niversal, lóggica, sem equívocos,
e s
sem
des,capazdeeasseguraraaunidadedaacomunicaçãão.Nesseseestudos,presssupunhaͲse
ambiguidad eumafixidezzda
língua, con
nsequentemeente, as deescrições grramaticais tinham um caráter esssencialmente
e normativo
o e


LETRAS|9
93


filos6fico.ExemplosdessastendênciasencontramͲsenaGrammairedePortͲRoyalenateorialinguísticadeDu
Marsais.
A primeira metade do século XIX é marcada pela Linguística Histórica, com as gramáticas
comparativas.Oidealdeuniversalidadecedelugaraofatodequeaslínguasestãoaptasasofreremmudanças
com o tempo, de forma regular e sistemática. Não é mais a precisão, mas a mudança o que importa.
Buscamos,então,areconstruçãodalínguaͲmãe(protolíngua).Passaavigoraroidealromântico:umatentativa
de reconstruir o estado ideal da língua (estudo do indo europeu). Esses estudiosos elencavam palavras
cognatas de vários sistemas, com semelhanças de forma e sentido, e, através da comparação, buscavam o
estabelecimentodaprotolíngua.
As eventuais mudanças sofridas pela língua serviram de base para inúmeras teorias ligadas à
linguagem, e a diversidade das explicações para essas mudanças vai dos estudos neogramáticos aos
variacionistas.
Antes de chegarmos aos estudos variacionistas propriamente ditos, entendemos ser fundamental
umapassagemporvisõesteóricasqueaantecederamequeamotivaram.


Perspectiva neogramática


NoséculoXIX,nadécadade70,umgrupodeacadêmicosgermânicosdaUniversidadedeLeipzigͲ
Alemanha,conhecidoscomoneogramáticos,procuraramdemonstrarqueaLínguaépartedacoletividadedos
falantesenãoumorganismoindependente.Paraeles,sãoosfalantesquedeterminamaevoluçãodaLíngua.
OscânonesdestadoutrinaforamestabelecidosporOsthoff,Brugmann,HermannPauleLeskien.
Osneogramáticosforamosprimeirosaobservararegularidadenamudançadossons,intensificando
oestudodasmudançaslinguísticas.
Os princípios mais importantes postulados pela escola neogramática são as leis fonéticas e a
analogia.Asleisfonéticasnãoadmitiamquehouvesseexceçãoasmudançasfonológicas;aanalogiabuscava
explicarasmudanças,indicandoqueasformasmudadasseguiampadrõesoutroraexistentesnaLíngua.
Deacordocomoprincipiodasleisfonéticas(forçamecânica),qualquermudançadesomseproduz
deacordocomleisquenãoadmitemexceção,jáquesãoresultadoderealizaçõesmecânicas.
O princípio da analogia (força psíquica) representa uma exceção, e é através dele que podem ser
explicadososfenômenoslinguísticosdequeasleisfonéticasnãodãoconta.
HermannPaulfoioprimeirolinguistaaisolaralínguacomoobjetodeestudolinguístico.Todaasua
abordagemfoiexpostanaobraPrincípiosdeLinguísticaHistórica,influenciandoopensamentolinguísticoda
AméricaedaEuropa.
NotrabalhodeHermannPaul,podemosencontrarfundamentosrelacionadosaoestudohistóricoda
linguagem. Paul concebia a ciência da linguagem como uma analise do desenvolvimento dos fenômenos
linguísticos. Para ele, o único estudo científico da língua é o estudo histórico, e todo estudo linguísticoͲ
LETRAS|94



quenãosejahistóricoem
científico,q mseusobjetivosemétod
dos,sópodeserexplicadoemconseq
quênciadeu
uma
deficiênciadoinvestigadoroudedeeficiênciasnaasfontesdequedispõe.
dotada por Paul
A doutrina ad P divíduo. Toda mudança é vista como o
é a psiccológica, basseada no ind
resultadodeumprocesssomental,q
quefazcomqueoindivíd
duopromovvauma"seleçção"determ
moslinguísticcos,
unsemdetrim
utilizandou mentodeou
utros,influen
nciadopelasrelaçõessocciais.
A
Apesar de muito
m inovadores para a época, os postulad
dos neogram
máticos foraam fortemente
criticados,p
principalmen
ntepornãoaadmitiremexxceçõesàsm
mudanças,teendocomob
basearigidezzdaquestão
oda
regularidadeeousocontínuodaan
nalogia.
Scchuchardt fo
oi o maior oponente da teoria neogramática, principalmeente no que
e se refere ao
princípiodaasleisfonéticcas.
Seegundo essee autor, a língua é reggulada por leis sociológgicas, ou seeja, no âmb
bito da messma
comunidadee linguística e do mesm
mo dialeto exxistem diverrsas falas ind
dividuais quee exercem influência um
mas
sobreasoutras.
AbbéRousseelotcomparttilhadaafirm
L'A maçãodeSch
huchardt,ao
oacrescentarrquefatoresscomoaidaade,
o sexo e a cultura pod
dem distingu
uir o estilo de
d fala dos indivíduos, provocando,
p consequenttemente, a não
n
de,mesmon
uniformidad nasmenoresscomunidadeeslinguísticaas.
ue a fala é modificada de forma natural pelo
A ideia de qu os indivíduo
os é retomada pela esccola
estruturalista, fortemente representada por Ferdinand
F de
e Saussure, cujos pressupostos aprresentaremo
os a
seguir.


Agoraé
comm
voccê Co
onsultaraliteeraturaeaprresentaropensamentoneeogramáticossobreasleisffonéticasea
an
nalogia,buscandoexempllosqueasilustrem.

Perspectiva estruturalista

o século XX é marcado


O começo do o pelo início
o do Estrutu dentificável em
uralismo, movimento id
Linguística a partir da publicação
p d Cours de linguistique generale dee Ferdinand de Saussure
do e em 1916. Ele
conceitua a
a língua com
mo um "sisteema de signo
os", ou seja,, um conjunto de unidades que esttão organizadas
formando um
u todo. A metodologia
m o interior de um sistemaa. A
a estruturalissta se preoccupa com as relações no


LETRAS|9
95


intençãonãoeraformarumsistema deumalínguaparticular,maselaborarumsistemadeconceitosgerais
quepudessedarcontadetodasaslínguas.
ParaSaussure,alinguagemévistaapartirdedoisangulos:umindividual(falaouparole)eumsocial
(línguaoulangue).Oobjetodesuasinvestigaçõeséalíngua(ideal),queédenaturezapuramentepsíquicae
estádepositadacomoprodutosocialnamentedecadafalantedeumacomunidade.Éexterioraoindivíduo,e
este não pode nem criáͲla, nem modificáͲla. Assim delimitada, ela é de natureza homogenea. Já a fala, que
tem uma natureza psicofísica, é a realização concreta da língua pelo sujeitoͲfalante, sendo circunstancial e
variável,porissoeleaexcluideseusestudos.
Ao lado da dicotomia langueͲparole, Saussure também desenvolveu uma outra que diz respeito à
divisãodosestudoslinguísticosemsincrônicosediacrônicos.Saussureprefereestudaralínguasoboaspecto
sincrônico, pois, nesse nível, a língua é concebida como um sistema completamente estático, homogêneo e
regular.Jánoníveldiacrônico,elaévistacomoumelementoevolutivo;apreocupaçãoécomostermosquese
substituemunsaosoutrosnotempoemnívelsincrônico,nãocomasrelaçõesentreostermoscoexistentesde
umestadodelíngua.
A investigação estruturalista saussuriana baseiaͲse na língua como sistema homogêneo, estrutura
definida por si mesma, encontrada na consciência do falante, podendo ser estudada na ausência de uma
comunidadedefala:asincroniaconheceapenasumaperspectiva,adofalante,etodoseumétodoconsiste
emreuniroseutestemunhoqueexistenaconsciênciadecadafalante.Assim,oestruturalismoestudaavida
dossignosnointeriordacomunidade,baseandoͲseemapenasuminformanteenoseupróprioconhecimento
dalíngua.ParaLabov,estudaralínguaͲaspectosocialͲapartirdecadaindivíduo,eafalaͲpostuladacomo
individualͲinseridanocontextosocialconstituiumparadoxo.
Asubstâncialínguísticarepresentava,então,oprincipalobjetodeestudodacorrenteestruturalista
europeia difundida por Saussure. Por outro lado, a análise do "conjunto da substância concreta da língua"
constituía a base do estudo do estruturalismo americano, representado principalmente por Leonard
Bloomfield, para quem o processo de mudança da língua é impossível de ser observado; assim como é
impossível a realização de uma analise dos mecanismos que influenciam essa mudança. Para esse
estruturalista, a mudança fonética é representada apenas como uma alteração no movimento de produção
dossons,fenômenoqueconsideradenaturezaespecificamentemecânica.
NaconcepçãodeBloomfield,aexplicaçãoparaamudançaestánofatodeofalanterelacionáͲlaao
comportamento linguístico de prestígio, ou seja, por imitação, o falante utiliza as formas consideradas
prestigiadas,descartandoasformasestigmatizadas.
Essa posição de Bloomfield foi igualmente defendida por Hockett, para quem a mudança fonética
estárelacionadaànãopreocupaçãocomoestilolinguístico,fatoestequelevaofalanteaumapronúnciados
fonemasdistintadaqueforaoutroraadquiridaporele.
ParaosestruturalistasdaprimeirametadedoséculoXX,umalínguatem queserestruturadapara
funcionar eficientemente. Eles defendiam e pregavam que a noção de estrutura implica em efetivo

LETRAS|96



funcionameentodosisteema;então,ffalaremmudançarevelaavaproblemasdeconcepção,pois,n
nosperíodossde
mudança,o
ossistemasp
passariampo
orfasesmeno
ossistemáticcas.


Agoraaé
com
m
vocêê LLevantarosp
pontosfundamentaisentreosestruturralistasqueto
ornamalíngu
ua
d
diferentedaf
fala.

Refllitaeapreesentesuaaopiniãossobreaseguintequestão:
avaariaçãopreesentenacomunidadedizreespeitoapenasà
falaouelatambémfazzpartedalíngua?

Perspectiva gerativista

No
osanos50,ssurgeoGera molinguistaaamericano NoamChom
ativismo,com msky,queviaaalínguaco
omo
umconjunttodesenten
nçasedava umaatenção
oespecialao
oseucaráteersintático. Eleestabele
eceuadistinção
entrecomp
petênciaedeesempenho.SSegundoJoaaquimMatto
osoCâmaraJJr.,a"forma idealdalínggua"começo
oua
serestudad
daatravésdaateoriada""competênciia"eaativid
daderelacion
nada,afala (parole),se estudacomoo
fenômenod
dedesempen mance).
nho(perform
mpetênciadeeumfalanteͲouvinteideal,pertencente
O escopodaggramáticageerativaédesccreveracom
aumacomunidadelingguisticamentehomogêneea,equeconhecesualínguaperfeittamente.Esttefalantenããoé
afetadoporr condições irrelevantesde gramaticcidadecomo
olimitações dememóriaa,distraçõess,mudançassde
atençãoein
nteresse,eeerrosdeapliccaçãodeseu
uconhecimen
ntodalínguaanodesemp
penhoreal.
PaaraChomskyy,alínguasó
óélinguisticaamenteestudadaatéond mogênea,ouseja,namente
deelaéhom
do falante. O que sai da mente, através da fala, e entraa em contatto com o m
meio externo
o, faz parte do
hodofalanteeeéirrelevanteparaseerestudado..Conforme Chomsky,attravésdoestudodalínggua,
desempenh
estudamos,,também,ofuncionameentodosmeccanismosme
entais.Fazen
ndousodem
métodospuraamente1ógicos
edaintuiçããolinguísticaadopesquissador,éjulgaadaaqualid
dadedosenu
unciados,rellegandoͲoso
otítulodeb
bem
oumalform
mados.
A representaçção da comp
petência lingguística de um
u falante individual
i paassa por um
ma formalização
analíticadafaculdadeh
humanadalinguagem,q
queaGramáticaGerativaachamade GramáticaU
Universal.Deesse


LETRAS|9
97


modo,aco
ompetêncialinguísticaindividualsitu
uaͲse,empiriicamente,nu
umafaculdaadedamentehumana,n
não
empadrõesslinguísticosscoletivos.
É ainda de Chomsky
C a dicotomia competence
c ance, consideerada como
/ performa o uma possíível
reformulaçãão da dicoto
omia saussuriana languee/parole. A competência
c a equivale ao
o conhecime
ento disponíível
emcadafalante,aopassoqueodeesempenho dizrespeito àseleçãoe execuçãodasregrasqu
ueadvêmdeesse
nto. Com base
conhecimen b no sisttema homogêneo, os gerativistas
g elaboram rregras categgóricas que se
relacionam com a com ugerindo a elaboração de regras opcionais, qu
mpetência, su ue explicam as formas que
q
fogemdoparadigmadaacategorizaçção.Essasforrmasseriam,portanto,aasformasvarriantes.
O modelo gerrativo elaborrado por Ch
homsky (1965) absorve as
a idéias esttruturalistas,, à medida que
q
estabelece adicotomia"competencce"e"períorrmance"com
moobjetodeeestudo.A "competencee"correspon
nde
umconheciimentoabstratodasreggrasdalínguaea"perfo
ormance",seeleçãoeexeccuçãodetaiisregras,oq
que
corresponde,basicamente,adistinççãosaussuriaanaentre"laangue"e"paarole".
bservamos que
Ob q o enfoq uística Ͳ sejaa estruturalista, seja geerativista Ͳ centralizaͲse
que da Lingu c na
língua enqu
uanto sistem
ma de signo
os bem defiinidos, hieraarquizados, sem considerar os asp
pectos variávveis
deestudodaapropostavariacionista,comoverem
inerentesàlíngua,queseráobjetod mosaseguir..


Agoraé
comm
voccê Ap
partirdaconccepçãogerattivistadalínguaedousoq
quefazdela,distingaoqu
ueseria
competênciaeoqueseriad desempenho..Utilizeexem mplosdoseucotidiano.

Perspectiva variacionistta

O estudodavvariaçãotemorigem,principalmente
e,naobservaaçãodecom
moaspessoassusamalínggua
mbiente natural e tamb
em seu am bém na cattegorização das diferentes formas de dizer a mesma coisa,
dependendodesuadisttribuiçãosoccial.

Seegundo Cham
mbers (2002 ociolinguisticca variacionissta tem seu começo ap
2, p. 5), a so penas em 19
963,
quando William Labov apresenta o
o primeiro reelato de um
ma pesquisa sociolinguíst
s ontro annual da
tica no enco
deLinguísticadaAmérica(LSA),eneessemesmo anoelepub
Sociedaded blicou“Thesocialmotivationofasou
und
change“(Laabov,1963). Sãoesses doiseventossquedeterm
minamainseerçãodosesstudoslinguíísticosvoltad
dos
paraaidenttificaçãodaccorrelaçãoentrevarianteeslinguísticaasefatoresssociais.
O termo Socio
olinguística surgiu uma década ante
es em um comentário
c d
de Haver C. Currie sobrre a
noção de que “as funçõ
ões sociais e
e as significaações dos fatores de falaa oferecem um campo prolífico parra a
pesquisa”taalcampoéd
designadoco
omosociolingguística.

LETRAS|98
8



Nadécadadesessenta,surgeaTeoriadaVariaçãoouSociolinguísticaQuantitativa,desenvolvidaa
partir da proposta de Weinreich, Labov e Herzog (1968), com o objetivo de descrever a língua e seus
determinantes sociais e linguísticos, levando em conta seu uso variável. Esse modelo teóricoͲmetodológico
discuteaconcepçãodelínguaqueascorrentesanteriores,especificamenteoestruturalismoeogerativismo,
pregavam. A língua era vista como um sistema homogêneo, uniforme, estático, podendo ser estudada na
ausênciadeumacomunidadedefala.ASociolinguísticarechaçaessarelaçãoentrelíngua/homogeneidadee
incorporaaidéiadevariaçãosistemáticamotivadaporpressõessociaisque"continuamenteoperamsobrea
língua",nãodevendo,pois,serestudadaforadocontextosocial.
A Teoria da Variação opõeͲse à ausência do componente social e à concepção de língua que até
então impera na linguística estrutural e gerativa. SituaͲse em relação ao conjunto língua e sociedade,
considerando a variedade das formas em uso como objeto complexo, decorrente dos fatores internos,
próprios do sistema linguístico, e dos fatores sociais que interagem no ato da comunicação. A variação da
línguaconstitui,portanto,umdadorelevantedateoriaedadescriçãoSociolinguística.ParaWeinreich,Labov
e Herzog (1968), um modelo de língua que acomodasse os fatos de uso variável, com seus determinantes
sociais e estilísticos, não somente conduziria a descrições mais adequadas da competência linguística, como
tambémproduziriaumateoriadamudançadalínguaquesuperasseosparadoxoscomosquaisoslinguistas
históricosvinhamͲsedebatendohámaisdemeioséculo.Umateoriadamudançadeve,pois,conceberalíngua
Ͳ de um ponto de vista diacrônico e/ou sincrônico Ͳ como um objeto possuidor de heterogeneidade
sistemática.
É na heterogeneidade refletida através do desempenho que se deve buscar estrutura, sistema e
funcionamento da língua, bem como explicar o efetivo funcionamento dos sistemas em momentos de
mudança.Paratal,fazͲsenecessárioestudaralínguadoindivíduonacomunidadeemsituaçãodefalareal.
Na tentativa de estabelecer a tão propalada heterogeneidade sistemática, fortemente defendida
pelosautoresdaTeoriadaVariação,são,portanto,apontadosdoisprincípiosbásicosparaoestudodalíngua:
(i)deixardeidentificarestruturalinguísticacomohomogeneidadeeconcebercomoopçãoracionala
possibilidadededescreverordenadamenteadiferenciaçãonumalínguaqueserveacomunidade.
(ii)entenderqueasgramáticasnasquaisumamudançalinguísticaocorrerepresentamgramáticasde
comunidadedefala.
OmodeloteóricoͲmetodológicovariacionistabuscaaordenaçãodaheterogeneidadeeconsideraa
variação inerente ao sistema linguístico, sistemática, regular e ordenada. PropõeͲse explicáͲla, descrevêͲla,
relacionandoͲaaoscontextossocialelinguístico.
ATeoriadaVariaçãoenfatizaavariabilidadeeconcebealínguacomoinstrumentodecomunicação
usadoporfalantesdacomunidade,numsistemadeassociaçõescomumenteaceitoentreformasarbitrariase
seussignificados.
Objetiva explicar o processo de mudança linguística em função de diversos fatores, assim
subdivididos: linguísticos, variáveis internas da língua; sociais, variáveis relacionadas ao falante como sexo,


LETRAS|99


idade, grau de escolaridade, classe social, entre outras; e estilísticos, considerando os diferentes usos a
dependerdaatençãoprestadaàfala.Essasvariáveisatuamdemaneiraprobabilísticanavariaçãodalíngua,
sendopossívelrevelarquaisambienteslinguísticosinfluenciamregularmenteafrequênciadeumavarianteou
outra,equaiscontextoslingüísticos,sociaise/ouestilísticossãomaisrelevantesparaofenômenoobservado.
Dessa forma, a pesquisa sociolinguística imp1ica levantamento cuidadoso dos registros de língua
falada,descrevendoavariável(conjuntodevariantes),etraçandoumperfildasvariantes(diversasmaneiras
de se dizer a mesma coisa em um mesmo contexto, e com o mesmo valor de verdade); analise dos fatores
estruturais, sociais e estilísticos condicionantes; encaixamento da variável no sistema linguístico e social da
comunidade;avaliaçãodavariável,paraaconfirmaçãodoscasosdevariaçãooumudança.
Já em 1966, Labov distinguiu entre variável e variantes. Variável foi definida como uma
‘inconsistência ou discordância que uma determinada forma da língua pode exibir em relação ao padrão
abstrato’.EporvarianteentendeͲse‘umvalorespecíficodeumavariável’.Porexemplo,oróticoemposição
de coda pode ser considerado como uma variável. As variantes seriam as múltiplas possibilidades de sua
ocorrência.Apresençaouausênciadele,porexemplo,tambémsãovariantes.
Comovariáveislinguísticas,Labov(1966)elegeutrêstipos:indicadores,marcadoreseestereótipos.
Umavariáveléconsideradaumindicadorquandoelatemumvalorindexicalquesecorrelacionaa
umdosaspectossociaisdeseuusuário.Comoindicadorelaéreconhecidapelacomunidadeemgeral,enão
está sujeita à variação estilística, ou seja, ela é relativamente uma característica permanente da fala de
determinadosindivíduosegrupos,quenãomudamdeumasituaçãoparaoutra.
Osmarcadores,aocontrário,têmvalorindexicalcomoosindicadores,masestãosujeitasàvariação
estilística.Seafalaémaisoumenosformal,avariávelsealterna.
Os estereótipos não se relacionam a fatores sociais, e estão sujeitos a mudança estilística. Os
estereótiposdemonstramvisõessobreasnormasdefalaquepodemestaremvariânciacomosfatosreaisese
baseiamnoshábitosdefalaqueforam,naverdade,comunsàsváriasgerações.
E importante salientarmos que a dimensão histórica da variável pode se realizar a partir de uma
projeção em tempo real (diacrônico), estabelecendo um espaço de tempo determinado cronologicamente,
e/ouemtempoaparente(sincrônico),sendonecessário"umrecortetransversaldacomunidadedefalantes"
obtendoͲsevariadasfaixasetárias.
Considerando que nem tudo o que varia implica mudança, mas que toda mudança pressupõe
variação,éimportanteestabelecerseaanalisesociolinguísticadasvariantesapontaparaumavariaçãoestável
(coexistênciamutuanosistemalinguístico)ouparaumamudançaemprogresso(dueloentreasvariantesate
apermanênciadeapenasumadelasnosistemaemquestão).
Nesse caso, a análise realizada em tempo real fazͲse necessária e relevante, pois a observação
diacrônicapoderáexplicitaroestagiodecoexistênciaounãodasvariantesnacomunidadelinguística.
A análise em tempo aparente, por sua vez, estabelece o estagio pelo qual passam as variantes no
momento do recorte temporal em que estão sendo observadas. TrataͲse de uma analise específica daquele
momento,sendorelevanteaobservaçãosincrônicadoestágiodasvariantes.
LETRAS|100



Uma das mais significativas contribuições dos estudos sociolinguísticos nos últimos anos foi a
descoberta de que vários dialetos sociais são diferenciados entre si não apenas por conjuntos discretos de
traços, mas também pelas variações nas frequências com que certos traços ou regras ocorrem. Estudos de
dialetossociaistêmclaramenteindicadoqueadiferenciaçãodosdialetosnãopodeserindicadasimplesmente
por formulações categóricas. Não é mais possível, como tradicionalmente, indicar que algumas regras são
categóricaseoutrasopcionais.
OfatodeumaregraopcionalespecíficaaplicarͲseemcontexto(linguísticoousocial)foiconsiderado
irrelevantenaformulaçãodasregrasparaumadeterminadalínguaedialeto.Seumagramáticaobservavaque
ograudeflutuaçãovariavamaisemcertoscontextosdoqueemoutros,eleeradescartadocomoinformação
incidental, isto é, não tinha relação com a formulação real da regra. O grau de opcionalidade não era
considerado na descrição linguística da competência da língua. Estudos detalhados de variação, entretanto,
têmindicadoqueháumaregularidadesistemáticadavariação.Emparte,essaregularidadepodeseratribuída
afatoressociaiscomoidade,sexo,estilo,c1assesocialetc.Mastambémpodeestarcorrelacionadaavariáveis
linguísticasindependentes,aexemplodocontextofonológico,daextensãodovocábulo,datonicidadeetc.
O estudo das variáveis linguísticas, mais do que as constantes categóricas, acrescenta uma nova
dimensão ao exame das diferenças de fala. Os estudos iniciais indicam como os métodos quantitativos são
utilizados e também como as correlações entre os padrões sociolinguísticos e sociais surgem. O valor
particulardeumadeterminadavariávellinguísticaévistocomoumafunçãodesuacorrelaçãocomvariáveis
extralinguísticas e com as variáveis linguísticas independentes. A variável linguística, em si mesma uma
abstração,erealizadanafalarealporvariantes.
Enquanto a variação linguística não tem significado real em termos das representações formais de
umagramática,aregravariávelécolocadacomoumaspectoformaldateorialinguísticaaserconsideradonas
gramáticasdaLíngua.SuaaceitaçãoemnívelteóricobaseiaͲseemvariaspremissas.
Oestabelecimentodaregravariávelé,antesdetudo,baseadonahipótesedavariabilidadeinerente.
Por variabilidade inerente, entendemos que a f1utuação das variantes não pode ser desprezada como
empréstimo dialetal ou mudança de código no repertório do falante. A flutuação é parte de um sistema
unitário. A variação ocorre, mas os contextos linguísticos e sociais permanecem. Existem casos em que a
mudançalinguísticatornaͲseestável,istoé,avariabilidadepodepermanecerconstantepormuitasgerações.
Neste sentido, a variabilidade pode revelar uma estabilidade igual a de muitas regras categóricas. Nesses
casos,dizerqueavariabilidadeéapenasumaindicaçãodemudançalinguísticaemprogressopareceseruma
generalizaçãocomoadedizerquealínguaestásempremudando.
Existemaspectosdasrestriçõesvariáveisquesãoespecíficosdeumadadacomunidade.Emrelaçãoà
universalidadedasrestrições,existemdoisaspectosaseremconsiderados:(a)oefeitodeprevisibilidadee(b)
aordemdeprevisibilidade.
Oefeitodeprevisibilidadedizrespeitoaofatodequeumtipoespecíficodecontextosempreteráum
efeitoparticularouvariabilidade.Aordemdeprevisibilidadeserefereaordenaçãoespecíficadasrestrições.


LETRAS|101


Paara que umaa ordenação
o assim seja parte de um
ma teoria geral de regrras opcionaiss, devemos ser
capazesde prevernãossóoefeitod
darestrição, mastambém
msuaorden
naçãoemrelaçãoàsoutrrasrestrições.E
muito posssível asseverrar que o efeito
e de preevisibilidade
e derive de alguns princípios unive
ersais de no
ossa
metateoriadalíngua,m demdeprevisibilidadeéespecíficadalíngua.
masqueaord
A teoriadavaariaçãoeateeoriacategó
óricatêmseu
usprópriosd
domíniosefformasdeprrocedimento
o.A
separaçãoeentreasduassnãopareceeserbementendida.
paraasregrasvariáveis,elasforam concebidas comoumre
Naasprimeirasspropostasp efinamento das
regrasopcio
onaisdateo
oriagerativa contemporâânea.Aimpo
ortânciadas regrasvariááveispodese
erapreciadaade
um certo ponto de vistta paradigmático, o quee constitui um
ma leve, maas distinta m
mudança da teoria
t gerativa.
Como sugeestão de algguns estudio
osos, ficam, primeiro, ampliar
a a noção de co
ompetência; segundo, usar
u
amostrasdeefalarealco
omodados,eemvezdebaasearͲseapenasnasintuiições.
O axioma da categoricidaade não é uma propried
dade acidental da linguíística categó
órica, mas uma
u
propriedadeeessencial. Nosúltimos anos,asreggrastêmsido
odescartadaaspeloslinguistascategó
óricosemfavor
de generalizações notaacionais diferrentes, a exemplo dos filtros,
f templates e princcípios. Do mesmo
m modo
o, a
formalizaçãão das regras variáveis não
n tem sido mais discu
utida na lingguística variaacionista. Mas
M o prograama
estatístico que trata das
d regras variáveis
v não desaparecceu com ass regras. Elee continua sendo um dos
d
ntos disponíveis para os pesquisadores corrrelacionarem
procedimen m variáveis dependente
es e variávveis
independen
ntes.
A regravariávvelsuperato
odaequalqu
uertendênciaaousodo conceitodeevariaçãolivvre,jáqueto
oda
variaçãoéccondicionadaaporrestriçõ
õeslingüísticcas,sociaise/ouestilísticcas.
Deessaforma, ousodaregravariável permiteao variacionistaaextrairas regularidade
esetendênccias
dosdados,podendo,attravésdela,d
determinarccomoaseleççãodeumaeestruturalingguísticaéinffluenciadapeelas
configuraçõ
õesespecíficaasdosfatoreesquecaractterizamoco
ontextoemq
queelaocorrre.
É por isso qu
ue, ao conssiderar a língua como uma
u estrutu
ura heterogêênea ordenaada, o mod
delo
variacionisttaeliminaosfalantesideaise,conseq
quentemente,acomunid
dadelinguístticahomogênea.
Ass regras têm
m sido descartadas, nos últimos anos, peloss linguistas categóricoss em favor de
õesdiferenttes,chamadaasdefiltros,templatese
generalizaçõ eprincípios, oquelevaaadiscussão sobreasreggras
variáveisnaalinguísticavvariacionistaaoesvaziam
mento.
En
ntretanto,o programaestatísticosubjacenteàs regrasvariávveisaindaé aplicado,fazendoparteede
um conjuntto de proceedimentos utilizado prim
mordialmente para a co
orrelação daas variáveis dependentees e
independen
ntes.

Agoraaé
com
m
vocêê Apartirdoexp
A postoatéaqu
ui,apesenteaalgumascaraacterísticasqu
uediferenciamapostura
vaariacionistad
daspropostassestruturalisttaegerativissta.

LETRAS|10
02



A mudança Linguística

Nosmoldesgerativos,avariaçãodecorrentedodesempenhotemsidoexplicadacomoaexecuçãoou
nãoderegrasopcionais:formasalternadasdedizeramesmacoisa.
ParaaTeoriadaVariação,osfatoslinguísticossãoentidadesteóricas,demodoquearealizaçãode
uma ou outra variante das formas em competição constitui o seu objeto de analise. Esse modelo teóricoͲ
metodológicoobservaqueanoçãodeopcionalidadedeixadecapturaranaturezadavariaçãosistemáticaque
existe,mesmononíveldagramáticadeumúnicoindivíduo.
Paraomodelovariacionista,afrequênciadeaplicaçãodeumadadaregraopcionalpodedepender
fortementederestriçõesdocontextolinguísticoedosaspectossociaisdiretamenteligadosaofalante.Nesse
sentido,introduzanoçãoderegravariável,desenvolvidaapartirdaanaliseenotaçãofonológicagerativa,em
que a presença de um dado traço ou subcategoria deve afetar a frequência de aplicação de uma regra de
forma probabilisticamente uniforme em todos os ambientes em que esses traços apareçam. A operação de
umaregravariávelésempreoefeitodaaçãosimultâneadeváriosfatores.
As regras variáveis descrevem, portanto, os fatos linguísticos que a linguística estruturalista e a
gerativa representariam por meio de regras opcionais ou categóricas. Assim, o estudo do processo da
mudançaenvolveoconceitodevariaçãoeregragovernada.
Dessaforma,aobservaçãoeanalisedefenômenosvariáveispermitemolevantamentodehipóteses
sobreporqueseproduzemcertasmudanças,comosedifundematravésdotempoequaissãoosmecanismos
lingüísticos,sóciase/ouestilísticosqueasfavorecem.
Quandoaconteceumamudançalinguística?
Uma mudança linguística acontece quando uma variante se generaliza em um subgrupo de uma
comunidade e adquire uma certa direção e significado social; o progresso da mudança está associado à
aprovaçãodosvaloresdeumgrupopelosmembrosdeoutro.
Amudançasemprerequer,virtualmente,umperíododetransição,devariabilidade,decompetição
entreestruturasededivergênciasdentrodacomunidadedofalante.
Naprimeiraetapadeumprocessodemudança,asformasconservadorasraramentesãoexpostasàs
formasinovadoras.Ocontatoentrefalantesfavoreceaexpansãodasformasinovadoras,atingindo,então,as
conservadoras. A realização da mudança se dá quando uma variante se sobrepõe à outra. A expansão da
mudançaserátantomaiorquantomaiorforafrequênciade contatoentrefalantes.Oprocessodevariação
que está em competição por um longo período de tempo se completa produzindo um elemento linguístico
categóricoadquirindonovosignificadosocial.
Noentanto,esseprocessonãoéfacilmenteobservado;implica,emprincípio,identificar asformas
analisadaseoscontextosqueestãooperandoesseprocessodemudança.Cabeaoanalistainferirosignificado
ouafunçãodecadadado,conheceravariedadedefalaeentenderobastantesobreoqueestápresenteno


LETRAS|103


discurso particular, para ser capaz de compreender as intenções do falante. É necessário utilizarͲse de
observaçõesdiretascombaseemgrandesamostrasdedadoscoletadosnoseiodacomunidadedefala.
Para o processo de entendimento da mudança linguística em progresso, precisamos traçar os
estudosemdoisaspectosbaseadosnaestratificaçãodaamostra:tempoaparenteetemporeal.
Naamostraemtempoaparente,avariávellinguísticaédistribuídaatravésdosníveisdeidadedos
falantes.Adificuldadedessetipodeobservaçãoconsisteementendermosseasignificativacorrelaçãoentrea
idadeeavariávellinguísticaestabelecidatrataͲsedeumaverdadeiramudançaemprogressooudegradação
etária,queéamudançadecomportamentolinguísticocaracterísticadeumacertaidade,queserepeteem
cadageração,alterandoafrequênciadealgumasvariáveislinguísticasporseremmodificadasoucorrigidasem
uma idade mais avançada do indivíduo. Adolescentes e adultos jovens usam variantes estigmatizadas mais
livrementedoquefalantesdemeiaidade,especialmentequandoestãosendoobservados.
Adolescentes e préͲadolescentes parecem estar à margem principal para o progresso da mudança
sonora.Sugerimos,então,umaestratificaçãodaamostraqueincluagravaçõesdefalantestãojovensquanto
osdeoitoanosdeidade:8Ͳ14;15Ͳ19;20Ͳ29;30Ͳ39;40Ͳ49;50Ͳ59;60Ͳ69emaisde70anos.
Essaformadeestratificaçãopodeaprimoraravisãodosmovimentosemtempoaparente,umavez
que os resultados obtidos através dos grupos de idade não fornecem uma resposta segura de como a
mudançaprossegueatravésdosseusváriosníveis.
Osdadosemtempoaparentesão,portanto,relevantesparaasobservaçõesemtemporeal,umavez
que eles podem suscitar questões acerca do tipo de mudança, bem como das diferenças que constituem a
mudançalinguística.
Todaviaumarespostamaisseguraacercadoqueestáemprocessodemudançaounãopoderáser
obtidanumestudobaseadoemtemporeal.
Duas abordagens básicas são, portanto, sugeridas para o problema de acumular dados em tempo
real: uma consiste em relacionar os estudos já realizados numa comunidade em questão e comparar as
conclusões anteriores com as atuais; outra, consiste em retornar à comunidade depois de um intervalo de
tempoerepetiromesmoestudo.
O primeiro tipo de abordagem é denominado de "estudo de tendência", consiste em localizar
falantesquetenhamcaracterísticassimilaresàsusadasnaestratificaçãorealizadanopassado,submetendoͲos
aosmesmosquestionários,entrevistasouexperimentos.
Para obtermos e produzirmos respostas mais seguras e próximas da realidade é necessário que a
comunidade tenha permanecido mais ou menos estável durante o período decorrido. Caso mudanças
drásticastenhamacontecidoemsuaconstituiçãodemográfica,oqueestamosobservadoéamudançaexterna
na língua e pode ter pouca importância para a lógica da mudança em progresso. Tais mudanças, motivadas
externamente, podem ser mais importantes para a história da íngua do que para o seu desenvolvimento
interno,paiselasdependemdeumacadeiadecausaseefeitosqueestãoforadasrelaçõeslinguísticas.
Osegundotipodeobservação,"estudodepainel",consistebasicamentenorecontatodosmesmos
falantesemperíodoposterior.
LETRAS|104



Esses tipos de estratégias, se bem realizadas, poderão produzir respostas mais reais e dizer,
decididamente,seamudançaavançouemtemporealouserepeteamesmadistribuiçãoemtempoaparente.
O investigador, nesse caso, faz uso do presente para explicar o passado, procedimento inverso ao utilizado
pelalinguísticahistórica,quelançamãodealgunsestudospréviosetentacorrelacionáͲlosaoobjetodeestudo
sobinvestigação,ouseja,utilizaͲsedopassadoparaexplicarapresente.
Ainterrelaçãoentredadosdetempoaparenteedadosdetemporealtornapossívelreconstruiruma
cronologia dos vários passos da mudança e correlacionar essa cronologia com as características
sociolinguísticasdecadaestágiodomecanismodamudançalinguística.
A abordagem em tempo real baseada no "estudo de painel" detectará as condições em que cada
indivíduo muda ou está estável, como também mostra de que maneira a gradação etária está presente nas
gravações.Aabordagembaseadaem"estudodetendência"mostraquaissãoasvariáveisque,aooperarem
nonívelmaisaltodaconsciênciasocial,sãomodificadasportodootempodevidadosfalantescomgradação
etáriaconsistentenacomunidade.
Assim, o processo de observação da mudança da língua requer técnicas de investigação, análise e
discussãodosdadosemvariaçãosincrônicaqueoperamnagramáticadofalante,exigindodopesquisadorum
longoperíododetempo,comoobjetivodeapresentarumquadrodofuncionamentodaLínguamaispróximo
darealidadedosfatose,consequentemente,evitarafirmaçõesapressadasacercadoqueestáacontecendono
sistemasobanálise.
Paraseestudaramudançaéprecisosaberquaissãoasfatoresqueacondicionam;comoeporquais
caminhosalínguamuda(transição)eporquê;comoelaseencaixanosistemacircundantederelaçõessociais
elinguísticas;comoosmembrosdeumadeterminadacomunidadelinguísticaavaliamamudança,equandoe
ondedeterminadamudançafoiimplementada,ouseja,devemosdarcontadecincoproblemasquenorteiam
este tipo de estudo, que são: o problema das restrições, o problema da transição, o problema do
encaixamento,oproblemadaavaliaçãoeoproblemadaimplementação.
O Problema das Restrições diz respeito ao conjunto de possíveis mudanças e possíveis condições
paramudançasquepodemacontecernumaestruturadeumdeterminadotipo,poisoprocessodemudança
linguísticararamenteéummovimentodeumsistemainteiroparaoutro,e,sim,omovimentodeumconjunto
limitadodevariáveisdeumsistemaquealteragradualmenteseusvaloresmodaisdeumparaoutro.
Enquanto alguns linguistas anteriores aos variacionistas acreditavam que para cada forma há uma
funçãocorrespondente,osvariacionistasadvogamqueumafunçãopodeserdesempenhadaporduasoumais
formas,chamadasdevariantes.
Emsetratandodasrestrições,podemosclassificáͲlasemtrêsgrandesconjuntos:(a)aslinguísticas;
(b)associais;(c)asestilísticas.Istovaledizerqueacorrelaçãoentreessasrestriçõeseasvariantesatreladasa
uma variável determinará o caminho da possível mudança. De posse desse conhecimento, poderemos dizer
quevariante(s)sãocondicionadasporessa(s)ouaquela(s)restrições.


LETRAS|105


InúmerosestudosjárealizadosnoBrasildãocontadessascorrelações.Sugerimosumaconsultaaos
trabalhosjádesenvolvidosnoâmbitodoProjetoVariaçãoLinguísticanoEstadodaParaíba(VALPB).
Observar se a mudança linguística se processa por estágios discretos ou faz parte de continuum
consistenumProblemadeTransição.Paraosestudiososestruturalistas,amudançaseprocessavacomouma
sucessão de estágios discretos intercalados por períodos de transição, sendo que cada estágio discreto
constituiria um sistema autônomo em termos estruturais e funcionais; sendo, portanto, esses estágios
discretosoobjetoprópriodaanalisesincrônica.
Diferente dos outros paradigmas que viam no indivíduo, ou em sua mente, o recinto da
homogeneidade linguística, os sociolinguistas acreditam que até na mente de um único indivíduo existe
heterogeneidade. Weinreich, Labove Herzog (1968) queriam romper com a identificação entre estrutura e
homogeneidade, acreditando que "o comando nativo de estruturas heterogêneas não é um problema de
multidialetalismoou'mero'desempenho,masépartedacompetêncialinguísticaunilíngue".
Na concepção estruturalͲfuncionalista, a mudança linguística só poderia ser compreendida se
considerássemos a sua inserção no sistema linguístico afetado pela mudança. A Sociolinguística não pensa
diferente, mas acredita que o estudo da mudança não se deve restringir apenas à observação da estrutura
linguística.ÉaíqueselocalizaoProblemadoEncaixamento.
Os variacionistas reconheceram que uma análise estritamente linguística é insuficiente para dar
contadamudança,entãorealizaramainteraçãodessesistemacomaestruturasocialdacomunidadedefala.
Dividiram, desse modo, o problema do encaixamento em dois ramos complementares: o encaixamento da
estrutura linguística e o encaixamento da estrutura social. Este ultimo constitui um dos mais importantes
avanços do modelo sociolinguístico e que o difere da concepção estruturalͲfuncionalista com relação à
questãodoencaixamento.
Cadacomunidadedefalapossuiumperfilvariacionistaparticular,mas,atravésdacomparaçãodos
estudosfeitosemumacomunidadecomosdeoutracomunidade,podemosterumaideiadosuniversaisda
variação,ouseja,o(s)elemento(s)oufator(es)querege(m)determinadofenômenovariacionista.
Fazendoumrecortetransversaldaamostrasincrônicaemfunçãodafaixaetáriadosinformantes,ou
seja,umaanaliseemtempoaparente,podemossaberseoprocessoemanaliseestáapenassofrendovariação
(variantes lutando por sua subsistência ou coexistência), ou se há uma situação de mudança em progresso
(mortedeumadasvariantes).
Como a língua para a Sociolinguística é estudada como um elemento flexível, que pode ir e vir no
tempo,conformeanecessidadedoestudo,então,embuscademelhoresexplanaçõesparaosprocessosde
variaçãolinguística,podemosprocederaumencaixamentohistóricodavariávelnotemporealeaumestudo
longitudinal da língua através do tempo (nível diacrônico), com base em fontes históricas (atlas, cartas
pessoais, textos teatrais, gramáticas antigas etc., por falta de material oral armazenado). Assim, a pesquisa
Sociolinguística objetiva atacar a variação linguística em todos os ângulos, visando a obter um panorama
descritivodadiversidadelinguística.

LETRAS|106



A questão levantada por Saussure, de que o indivíduo aceita o processo de estruturação da língua
passivamente, foi posta em xeque por Weinreich, Labov e Herzog (1968) com o Problema da Avaliação. Os
sociolinguistas defendem que estágios iniciais da mudança estão abaixo do nível de consciência social e os
falantes não os percebem. Em estágios posteriores, desvios estilísticos começam a aparecer, bem como a
estratificaçãosocial.
Testes de reação subjetiva revelam a avaliação social. Nas últimas etapas da mudança, quando a
sociedadejáécapazdepercebêͲla,começamasurgirosestereótiposligadosaatributossociaisnegativose,
imediatamente,areação dofalantee acorreçãonadireçãodasformasconservadoras,ouseja,osfalantes,
quandopercebem,rejeitamasformasinovadoras.
Sendo assim, os falantes não aceitam passivamente o modo como a língua chega até eles. Eles
avaliampositivamenteasformascomasquaisseidentificamdentrodogruposocialaquepertencem,ouas
deumgrupoque,paraeles,édeprestígio,maspodendo,inconscientemente,produziremformasquejulgam
terumaavaliaçãosocialnegativa.
O Problema da Implementação centraͲse na dificuldade que estudos anteriores encontraram em
determinaradireçãoqueamudançatomanaestruturasocial.
Labov,atravésdeestudosempíricos,descobriuqueopadrãodamudançaemprogresso,encontrado
em estudos nos centros urbanos, era que o grupo mais inovador nos processos de mudança provinha dos
grupossociaisintermediários,eque,aocontrariodascorrentesanteriores,queatribuíamaomovimentoda
mudança uma direção de cima para baixo, ou viceͲversa (gráfico retilíneo), a direção da implementação da
mudançadiagnosticadaporLabovdesenhavaumgráficocurvilíneo.
Assim,comoafirmamosantes,apesquisasociolinguísticatemporobjetivoprincipalasistematização
davariação.Parasealcançartalobjetivo,elatemqueformarumcorpusbaseadoemdadosnaturaisdefala,
descrever detalhadamente a variável e suas variantes, estabelecer quais os possíveis fatores lingüísticos,
sociaiseestilísticosqueinfluenciamavariável,encaixáͲlalinguisticamente,avaliáͲlaeobservarosprocessos
detransiçãoeimplementaçãoqueaenvolvem.Dessaforma,éobtidooresultadoesperadopelopesquisador:
darcontadadimensãosocial,culturalehistóricadofenômenolinguístico.
Contudo,apesquisasociolinguísticanãoterminaporaqui.Umateoriageraldemudançalinguística
para ser satisfatória deverá dar conta das condições que determinam o início, a velocidade, a direção, a
propagação e o término de uma determinada mudança, e, eventualmente, a partir de dados analisados de
váriossistemas,generalizaroconjuntodetaiscondiçõesparaamudançalinguística.
Assim,restaaindaaopesquisadorenveredarpelocampodosUniversaisvariáveis,poistodoprocesso
linguístico variável se mostra complexo e sistemático. Complexo, por apresentar um grande número de
restrições;esistemático,pelofatodeamaioriadasrestriçõesseremsimilaresnascomunidadesdefala.
É exatamente a incidência dos mesmos efeitos linguísticos e sociais em processos similares que
podemos denominar de universais variáveis, ou seja, os fatores linguísticos e extralinguísticos que se


LETRAS|107


correlacionaam com um processo
o de mudaança em diferentes co
omunidadess linguísticas, sendo essa
e

sistematicid
dadeofocod olinguística.
dosestudosatuaisnapeesquisasocio

Agoraaé
com
m
vocêê Busq
quenaliteratturaexplicaçõ
õesemquessepautaamu
udançalinguíística,partind
dodos
neoggramáticosatéosgerativiistas.




A variaçãoo estável

É importante colocarmos quenemseempreavariiabilidadeexxistentenalíínguaseexp


pandeeprod
duz
mudanças:nemtodavaariabilidadeeeheterogeneidadedalín
nguaenvolveemudança,mastodamu
udançaenvo
olve
deeheterogeeneidade.
variabilidad
Háá casos em que uma determinada
d variante pe
ermanece esstável ao lo
ongo dos sécculos. Assim
m, o
comportam
mento do ind
divíduo é esttável por tod
do o tempo de sua vida, e a comun
nidade, consequentemen
nte,
permaneceestável;não
ohavendo,p
portanto,varriaçãoparaanalisar.
Neesse sentido
o, temos veerificado uma estreita correlação
c dos fatores ssociais com os fenômenos
linguísticos.. Labov (1990) apresen
nta, com baase em levaantamento de
d inúmerass pesquisas,, um princíp
pio,
segundoo qual,numa estratificaçããosociolingu
uísticaestáve
el,oshomen
nsmaisdoq
queasmulheresusamccom
maisfrequêênciaasform
masnãoͲpadrrão.
O autor obserrva também que a faixaa etária é um
m indicador do processo o. Em casos de
o de variação
variaçãoesttável,osjovenseidosossapresentam
momesmoccomportameento,contrasstandocom apopulação
ode
o,oquadro representatiivoapresenttaumpadrãocurvilinearrcomousodasformasde
meiaͲidade.Nessecaso
prestígiosittuadonafaixxaetáriainteermediaria.
Vaariáveis estááveis, portan
nto, são aqu
uelas que estão
e bem estabelecida
e s em uma comunidadee e,
consequenttemente,não
osofremmu
udança.
Po
or fim, é importante accrescentarmo
os que o fen
nômeno de mudança linguística pe
erpassa as mais
m
variadasescalastempo
orais;sendo, portanto,umadiscussããohamuito iniciada.Divversasforam
masexplicações
para sua occorrência, vaalendo ressaaltar as inovaações propo
ostas pela So
ociolinguísticca que, com eficiência, tem
t
possibilitadooestudossistemáticod
dadiversidad
delinguísticaacorrelacion
nandoaofen
nômenoestu
udadoaspecctos
sociaiseesttruturais.
No
os estudos já realizadoss no Brasil, com
c base naa perspectivaa variacionissta, em geraal, os processsos
analisados,sejamemnííveldafonologiasejameemníveldassintaxe,refleetemumavariaçãoestável.

LETRAS|10
08



Uma palavrra final

MuitojáfoifeittonoBrasilccombasenaaperspectivaavariacionistta,eacreditaamosqueháámuitoaind
daa
ser feito.  As conclusõ
ões alcançadas têm sid
do utilizadass, inúmeras vezes, por docentes em
e suas aulas,
mostrando comoavariaçãolinguístticaéalgoin
nerenteàlíngua,contrib
buindo,sobreemaneira,paaraminimizaaro
preconceito
o tão arraiggado entre os defensores do uso da língua com base, puramente,, na gramáttica
tradicional.
 Ao ler tudo aqu e no sentido de
uilo que aprresentamos aqui, nossaa expectativaa é a de quee algo mude
oraumareflexãoqueocconduzaaavvaliarasdife
levaroleito erentesformasouvariantesdeumam
mesmavariáável
comopossíveisformas deseremdittas,considerrandoquemestádizendo,ondeestáádizendoeaasituação.SSem
isso,ficadifíciltermos umaavaliaççãocoerenteedalínguaq
que nosbeneficia comssuariquezam
multicoracaada
dia.


Agoraaé
com
m
Buuscar,naliterraturapertinente,estudosdevariaçãooestávelnosníveisfonoló
ógicoe
vocêê sintático.AspeesquisasjáreealizadasnoââmbitodoVA
ALPBpodemo oseruminícioparasua
buusca.




SUGESTÃO
ODELEITURA
A:
FARACO,C CarlosAlberto
o.LingüísticaH
Histórica:umaaintroduçãoaaoestudodah
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LLETRAS|10
09

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