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O lúdico no universo autista

Lilian Queiroz Daguano 1

Renata Andrea Fernandes Fantacini 2

Resumo: O presente artigo tem como intenção ressaltar a importância da educação lúdica
como forma de estimulação ao desenvolvimento de crianças autistas, ou seja, por meio
do uso de jogos, brinquedos e brincadeiras pode-se contribuir para que as crianças com
autismo se desenvolvam e se socializem com outras pessoas. Por intermédio da pesquisa
bibliográfica realizada observa-se que o Autismo pode ser considerado um transtorno
global do desenvolvimento (TGD) que compromete o desenvolvimento da criança,
sobretudo interferindo no desenvolvimento áreas da comunicação, da imaginação e da
sociabilização; mesmo com os mais recentes estudos em relação ao autismo, é correto
afirmar que ainda não há cura, o que existe são tratamentos e terapias que minimizam
as dificuldades, proporcionando um bom desenvolvimento e uma melhor qualidade de
vida, como por exemplo, através das atividades lúdicas que propiciam a essas crianças
um agir espontâneo e faz com que percebam suas habilidades e consigam desenvolver
muitas outras.

Palavras-chave: Autismo. Lúdico. Desenvolvimento. Habilidades.

1
Acadêmica do curso de Pedagogia do Centro Universitário Claretiano de Batatais (SP). E-mail: <lilian-
queirozdaguano@hotmail.com>.
2
Mestranda em Educação pelo Centro Universitário Moura Lacerda (CUML). Especialista em Educação
Especial pela Universidade de Franca (UNIFRAN). Especialista em Docência no Ensino Superior nas
Modalidades Presencial e EAD pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais (SP). Docente dos cursos
de Graduação e Pós-Graduação (Presencial e EAD) da mesma instituição. E-mail: <refantacini@hotmail.
com>.

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1. INTRODUÇÃO

Atualmente é possível encontrar várias instituições de ensino que


ainda não estão organizadas para incluir crianças que possuam algum tipo
de deficiência. É comum ouvirmos que as escolas buscam cada vez mais
inserir em suas salas de aulas crianças com deficiências, síndromes etc.
Mas será que essa inclusão pode ocorrer também com crianças autistas?
O presente artigo tem como justificativa apontar que com
uma educação adequada aliada a educação lúdica contribui para o
desenvolvimento de crianças autistas. É por meio do lúdico que o educador
ensina e desenvolve de forma prazerosa aspectos mentais, físicos e sócio-
emocionais da criança.
Este artigo tem como objetivo destacar que o brincar é fundamental
para a criança se desenvolver mentalmente e fisicamente, mesmo que
tenha algum tipo de necessidade especial. Através dos jogos, brinquedos e
brincadeiras podemos estimular a imaginação, a autoestima e a cooperação
entre as crianças, permitindo, assim, que a criança interaja e estabeleça
relações sociais com as outras crianças.
A metodologia utilizada para a realização deste artigo foi a pesquisa
bibliográfica, por meio de pesquisa em livros impressos, artigos disponíveis
em sites confiáveis de domínio público, revistas etc. Dessa forma, encontra-
se fundamentada teoricamente a partir das contribuições de autores como:
Gauderer (1993 - 1997), Santos (2008) e Cunha (2007).

3. DESENVOLVIMENTO

3.1 Autismo

O termo Autismo foi criado em 1911, pelo psiquiatra Paul Eugen


Bleuler, para indicar um sintoma da esquizofrenia, só que em uma área
dirigida para o retraimento do indivíduo. Porém, esse transtorno foi
descrito pela primeira vez, em 1943, pelo médico Leo Kanner, através

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de seu estudo sobre “[...] um grupo de crianças gravemente lesadas que
tinham certas características comuns. A mais notável era a incapacidade
de se relacionar com pessoas” (GAUDERER, 1993, p. 09).
Desde então muitos estudos foram desenvolvidos com o objetivo
de buscar informações variadas sobre esse distúrbio do desenvolvimento
humano.

Os autistas são crianças que apresentam atrasos na linguagem ou


ausência no desenvolvimento da fala, o que às vezes dificulta a ma-
nutenção de um diálogo. Os autistas poderão apresentar ecolalia que
é a repetição do que alguém acabou de dizer, incluindo palavras, ex-
pressões ou diálogos (FONSECA, 2009, p.16).

Apesar dos inúmeros trabalhos e pesquisas realizados nessa área,


ainda não se sabe ao certo as causas do autismo, sendo quatro vezes mais
comum ocorrer entre meninos do que em meninas. A médica psiquiatra
Lorna Wing (apud GAUDERER, 1993, p. 133), por meio de estudos
sobre a Síndrome Autista, percebeu-se características comuns em três áreas
do desenvolvimento desses indivíduos: a comunicação, a sociabilização e
a imaginação.
Nos desvios qualitativos da comunicação nota-se a presença da
dificuldade na comunicação seja ela verbal e não verbal, ou seja, ausência
de gestos, expressões faciais e linguagem corporal, sendo muito comum,
em crianças com autismo, a presença da Ecolalia, onde ocorre a repetição
de frases e palavras ouvidas anteriormente.
Já nos desvios qualitativos na sociabilização é possível desencadear
falsos diagnósticos, pois a criança com autismo muitas vezes chegam a
manifestar algum tipo de afeto, abraçando, beijando as pessoas, mas faz
isso não diferenciando quem são elas, sendo considerados como apenas
gestos repetitivos.
Quanto aos desvios qualitativos na imaginação, as crianças com
autismo apresentam dificuldades em aceitar mudanças e um brincar sem
uso da criatividade, como por exemplo, ficar um grande tempo analisando
a textura de um brinquedo.

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De acordo com Aragão (2005) certas características podem
representar algum problema no desenvolvimento de crianças, como por
exemplo:

• Ausência de balbucio aos 12 meses;


• Ausência de gesto de tipo apontar ou tchau com a mão aos 12
meses;
• Ausência de palavra aos 16 meses;
• Ausência de comunicação de duas palavras aos 24 meses;

Qualquer perda de competência (de linguagem ou social) em


qualquer idade.

Devido às características variadas e causas desconhecidas, o Autismo


ainda não tem cura, por isso o tratamento pode ser diversificado de caso
para caso.

A melhor abordagem é a flexibilidade e o ecleticismo, uma adaptação


de métodos diversos a fases e problemas diferentes. Os pais e as cri-
anças se beneficiam, acima de tudo, de um plano a longo prazo com
uma orientação clara e específica, que também leve em consideração
mudanças evolutivas e regressões espontâneas. Estas oscilações de-
vem ser reconhecidas para não serem confundidas com progressos ou
falhas de um plano terapêutico. É importante, sobretudo que o plano
seja realista. (GAUDERER, 1993, p. 44).

3.2 A importância do lúdico

Segundo a Declaração elaborada pela Associação Internacional pelo


Direito da Criança Brincar – IPA, revisada em Barcelona em setembro de
1989, o brincar é de extrema importância para que qualquer criança tenha
bons desempenhos na saúde física e mental.

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Na idade pré-escolar um jardim de infância ou creche, pelo menos
algumas horas por semana, pode ser de grande ajuda para as crian-
ças e seus pais. Nesse estágio, a criança autista pode se integrar com
outras crianças deficientes ou com crianças normais contanto que a
enfermeira ou professora esteja disposta a lidar com seus comporta-
mentos inapropriados. Pode levar algum tempo até que a criança se
acomode ao grupo, mas a experiência será bastante válida e útil para
ela, quando tiver que ser transferida de escola. (WING apud GAU-
DERER, 1993, p. 133-134).

Na Declaração Universal dos Direitos da Criança, assim como, no


Estatuto da Criança e do Adolescente, consta que toda criança, seja ela
deficiente física/mentalmente ou não, tem direito à educação gratuita,
recebendo um ensino especializado quando necessário. De acordo com
Rizzo (1996) a educação é fundamental para o ser humano até os seis
ou oito anos de idade, pois é nessa fase que a personalidade da criança é
formada, ou seja, que é desenvolvido seu próprio comportamento, com
características de cada pessoa.

[...] os indivíduos deficientes percebem, aprendem, pensam e se


adaptam de modo fundamentalmente idêntico ao dos demais. Assim
sendo, todos nós percebemos, pensamos, aprendemos e nos adapta-
mos, tanto pessoal como socialmente, de acordo com os mesmos
princípios e padrões gerais, haja ou não qualquer deficiência física,
mental ou sócio-emocional. Todavia, alguns fazem isto de maneira
eficiente e rápida, enquanto outros o fazem mais lenta e menos efi-
ciente. (RAPPAPORT, 1986, p. 05).

A palavra Lúdico, conforme definido no Novo Dicionário Aurélio


da Língua Portuguesa, está relacionada às atividades, jogos, brincadeiras
que proporcionam momentos divertidos para as pessoas. Muitos estudos,
projetos, livros foram elaborados, e assim, comprovou-se que as atividades
lúdicas devem estar presentes na educação da criança porque facilitam na
criação de ideias, de pensamentos.

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Através das atividades lúdicas a criança assimila valores, adquire com-
portamentos, desenvolve diversas áreas de conhecimento, exercita-se
fisicamente e aprimora habilidades motoras. No convívio com outras
crianças aprende a dar e receber ordens, a esperar sua vez de brincar, a
emprestar e tomar como empréstimo o seu brinquedo, a compartil-
har momentos bons e ruins, a fazer amigos, a ter tolerância e res-
peito, enfim, a criança desenvolve a sociabilidade. (SANTOS, 2008,
p. 56).

O lúdico quando presente no processo educacional da criança


contribui, de maneira prazerosa e mais eficaz, para o desenvolvimento e
aperfeiçoamento de habilidades motoras e do conhecimento da pessoa.
As brincadeiras, jogos e brinquedos quando presentes no cotidiano da
criança faz com que a aprendizagem seja mais descontraída e eficiente,
contribuindo para desenvolvimento e aperfeiçoamento de habilidades
físicas, intelectuais e morais do indivíduo. Cunha (2007) ressalta que é no
brincar que a criança conhece e coloca em prática seus pontos positivos,
além de aprender a considerar as diferenças que existem de uma pessoa
para outra.

Os brinquedos são parceiros silenciosos que desafiam a criança possi-


bilitando descobertas e estimulando a autoexpressão. É preciso haver
tempo para eles, e espaço que assegure o sossego suficiente para que
a criança brinque e solte a sua imaginação, inventando, sem medo de
desgostar alguém ou de ser punida. Onde possa brincar com serie-
dade. (CUNHA, 2007, p. 12).

Estudos de uma maneira geral apontam que a ludicidade deve estar


presente na vida de qualquer pessoa. Ela não deve ser considerada apenas
uma forma de divertimento, pois proporciona ao indivíduo uma facilidade
maior em aprender, assim como, a construção do conhecimento e o
desenvolvimento na comunicação.

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Por meio da brincadeira a criança envolve-se no jogo e sente a necessi-
dade de partilhar com o outro. Ainda que em postura de adversário,
a parceria é um estabelecimento de relação. Esta relação expõe as po-
tencialidades dos participantes, afeta as emoções e põe à prova as ap-
tidões testando limites. Brincando e jogando a criança terá oportuni-
dade de desenvolver capacidades indispensáveis a sua futura atuação
profissional, tais como atenção, afetividade, o hábito de permanecer
concentrado e outras habilidades perceptuais psicomotoras. Brincan-
do a criança torna-se operativa. (ALMEIDA, 2011).

É através da brincadeira que a criança irá perceber as habilidades que


possui e desenvolverá outras, procurando também interagir com outras
crianças. Para isso o brincar deve ser livre, natural, sem regras, pois é dessa
forma que a criança irá perceber suas emoções, conhecer seus desejos e
criar sua própria realidade. Nas brincadeiras as crianças interagem entre
si de maneira espontânea, tornando possível vivenciar novas experiências,
reconhecendo erros e acertos próprios, planejando novas atitudes a serem
tomadas.

É também na atividade lúdica que pode conviver com os diferentes


sentimentos que fazem parte de sua realidade interior. Na brincadeira
a criança aprende a se conhecer melhor e a aceitar a existência do
outro; organizando, assim, suas relações emocionais e estabelecendo
relações sociais. (ADAMUZ; BATISTA; ZAMBERLAN, apud:
SANTOS, 2000, p. 158).

O brincar e o brinquedo, de uma maneira geral, proporciona à criança


a estimulação da imaginação, fazendo com que seus pensamentos, seus
desejos possam ser realizados. O lúdico quando inserido na educação das
crianças criam condições favoráveis para a construção do conhecimento.
Segundo Almeida (1999) a educação lúdica leva o professor a transformar
as circunstâncias que seus alunos estão inseridos, pois a ludicidade restitui
a esse profissional a função de mediador no crescimento do educando,
e assim estimula o interesse das crianças pelo conhecimento. A criança

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desde cedo apresenta um desejo próprio de brincar. Nesse brincar, a
criança emite emoções variadas, entra em contato consigo mesma, explora
o ambiente ao seu redor, criando uma relação do seu mundo interior com
o exterior.

Com a ajuda do brinquedo, a criança pode desenvolver a imaginação,


a confiança, a auto-estima e a cooperação. O modo como a criança
brinca revela seu mundo interior. O brinquedo contribui assim, para
a unificação e a integração da personalidade e permite à criança entrar
em contato com outras crianças. (ADAMUZ; BATISTA; ZAM-
BERLAN, apud: SANTOS, 2000, p. 159).

Tendo em vista a presença constante do lúdico na vida das pessoas,


foram desenvolvidos espaços destinados para a realização de atividades
lúdicas. De acordo com a Associação Brasileira de Brinquedotecas (ABBri)
em 1963, na Suécia, os espaços criados tinham o objetivo de emprestar
brinquedos e orientar o brincar entre as crianças com necessidades especiais
e sua família. No Brasil, esses espaços foram desenvolvidos no século 20
e chamados de Brinquedotecas; além do empréstimo de brinquedos,
serviam também como espaços destinados ao estímulo de crianças com
algum tipo de necessidade educativa especial.

A Brinquedoteca busca resgatar a essência do ser humano pela via


da emoção. Razão e emoção são as características principais do ser
humano, pois é um ser racional e emocional na mesma medida.
Porém, estes dois elementos, no decorrer da história, não tiveram a
mesma relevância. As descobertas científicas e tecnológicas deram ao
homem grande prestígio e, por isso, a racionalidade é que foi procla-
mada como a especificidade da dimensão humana em detrimento da
emotividade. (SANTOS, 2000, p. 60).

Cunha (2007, p. 13) ressalta ainda que a Brinquedoteca “[...] é um


espaço onde as crianças (e os adultos) brincam livremente, com todo o
estímulo à manifestação de suas potencialidades e necessidades lúdicas”.
Hoje existem Brinquedotecas especializadas em determinadas

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áreas, como Hospitalar, Circulante, Terapêutica. As Brinquedotecas
Terapêuticas costumam atender crianças com deficiência e crianças com
dificuldades escolares. Segundo Cunha (2007, p. 98) “Brinquedotecas
terapêuticas são aquelas onde se procura aproveitar as oportunidades
oferecidas pelas atividades lúdicas para ajudar as crianças a superar
dificuldades específicas”.
A Brinquedoteca terapêutica oferece além do empréstimo de
brinquedos para as crianças levarem para casa, incentivando o brincar e
beneficiando o desenvolvimento, assim como, a orientação para os pais,
das crianças com necessidades educacionais especiais, de como brincar
com seus filhos e ajuda-los em seu desenvolvimento.

O empréstimo de brinquedos adequados (de preferência aqueles que


a criança escolheu e com os quais já brincou) irá assegurar a continui-
dade do trabalho em casa. Se o atendimento for individualizado, os
pais poderão estar presentes apenas para observar como os terapeutas
interagem. O apoio e a orientação aos pais é fundamental nestes ca-
sos, pois eles ficam a maior parte do tempo com a criança e irão dar
continuidade ao processo de estimulação em casa. (CUNHA, 2007,
p. 99).

Nessas Brinquedotecas disponibilizam de apoio psicológico, podendo


beneficiar a interação e a produtividade das crianças com necessidades
especiais, até mesmo influenciando na melhora do um relacionamento
com seus familiares.

Freqüentemente, a preocupação com o tratamento da criança faz de-


saparecer a alegria e a ludicidade no relacionamento. Quando isto
acontece, é preciso resgatar os aspectos lúdicos para que a família
tenha condições para brincar com a criança portadora de necessi-
dades especiais. Jogar jogos bem divertidos com os companheiros do
grupo de pais pode ser uma maneira de descontrair e aliviar tensões.
(CUNHA, 2007, p. 100).

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3.3 Autismo e tratamento

Apesar de não haver cura para o autismo, existem diversos


tratamentos como os psicoterapêuticos, os fonoaudiólogos, fisioterápicos,
temos a equoterapia, a musicoterapia, a Holding Terapy (Terapia do
Abraço) e alguns outros que auxiliam positivamente o desenvolvimento
de habilidades e diminuem dificuldades.
Cada vez mais casos de sucesso são relatados onde a educação é um
meio de extrema importância para um crescimento intelectual e social das
crianças autistas.

Na maioria dos métodos de educação especializados para a criança au-


tista, inicia-se por um processo de avaliação para poder selecionar os
objetivos estabelecidos por área de aprendizado. A forma de levar a cri-
ança aos objetivos propostos varia conforme o método adotado, mas na
grande maioria dos métodos a seleção de um sistema de comunicação
que seja realmente compreensível para a criança tem tanta importância
quanto as estratégias educacionais adotadas. (MELLO, 2011, p. 40).

Vale destacar também que existe um método de ensino que apresenta


resultados significativos no desenvolvimento de crianças autistas é o
Método Montessori. Ele foi desenvolvido pela educadora italiana Maria
Montessori e adotado em nosso país por meio do movimento Escolas
Novas (na década de 1920). Esse método tem como objetivo estimular as
atividades motoras, sensoriais e intelectuais, em um ambiente próprio, com
a observação de um professor qualificado intervindo quando necessário e
propondo melhorias, mudanças.

O professor não é o ser que focaliza a concentração do aprendiz, e


sim aquele que examina atentamente o comportamento e o desen-
volvimento das crianças, estimulando-as a buscar o saber de forma
criativa, prazerosa e lúdica. Ou seja, o mestre apenas conduz o estu-
dante nesta caminhada em direção ao conhecimento, solucionando
dúvidas e questionamentos. (SANTANA, 2011, p. 32).

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O ambiente escolar é capaz de oferecer oportunidades para que
essas crianças tenham um avanço no seu desenvolvimento, pois de acordo
com Paulon; Freitas; Pinho (2005, p. 32) as doenças mentais “[...] são
passíveis de remissão” e a educação acaba “[...] preservando e reforçando
os laços sociais e as experiências de aprendizagem, desde a primeira
infância, é muito mais provável que estas crianças consigam desenvolver
sua capacidade intelectual”.

4. CONCLUSÃO

De acordo com a Resolução do Conselho Nacional de Educação nº


2 de 11 de setembro de 2001, artigo 2º, toda instituição de ensino deve
matricular qualquer aluno, cabendo à elas se organizar e assim, oferecer
uma educação de qualidade para todos, inclusive alunos com necessidades
educacionais especiais.
Mas, isso não é o que acontece nas escolas em geral. É comum encontrar
no ensino, professores, diretores e até mesmo funcionários da educação
despreparados, sem nenhum conhecimento ou informação a respeito dos
alunos com algum tipo de necessidade especial, principalmente o Autista,
onde o que se sabe sobre essa síndrome ainda é muito limitado.
Algumas propostas político-educacionais nos dão a impressão que
as deficiências estão consolidadas nos indivíduos, ou seja, eles não teriam
capacidade de ler, escrever, se socializar, não conseguindo se desenvolver e
progredir. Dessa forma, faz com que a inclusão desses alunos não aconteça
nas instituições de ensino e seja valorizado apenas um ensino especializado,
individualizado e adaptado.
Para que isso não aconteça é de grande importância que o professor
tenha o conhecimento das especificidades dos alunos com necessidade
educacionais especiais, pois assim, o educador conseguirá saber e
entender as dificuldades de cada aluno com necessidades especiais e
consequentemente poderá buscar cada vez mais recursos, materiais e
projetos que possam ajudar o desenvolvimento desses alunos. O professor

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conhecendo as dificuldades desses alunos pode também se aproximar dos
familiares deles e buscar estabelecer parcerias e interagir com eles, pois
juntos poderão contribuir para o melhor aprendizado dos alunos com
necessidades educacionais especiais.
É necessário que as instituições de ensino reorganizem práticas
escolares, planejamento, currículo, avaliação, valorizando a capacidade
de cada criança garantindo assim os seus direitos de acesso a educação de
qualidade.
Está comprovado que as mais variadas metodologias, projetos,
terapias que abrangem o lúdico e existem no tratamento de pessoas autistas
é extremamente válido para o desenvolvimento dessas pessoas, juntamente
com o apoio, dedicação e amor dos pais, profissionais, familiares que estão
envolvidos no cotidiano delas.
As atividades lúdicas quando presentes na vida das pessoas sejam
elas crianças ou adultas, deficientes ou não, incentiva, provoca e estimula a
aprendizagem e o desenvolvimento do indivíduo em qualquer fase da vida.
O brincar favorece aos seres humanos um desenvolvimento com
confianças em si mesmos e em suas capacidades, facilitando nas interações
sociais, garantindo um entendimento maior de comunicação, sentimentos,
pensamentos e diferenças existentes.
Portanto, o profissional que trabalha ludicamente com pessoas
com necessidades educacionais especiais, inclusive o Autista, deve buscar
constantemente, conhecer, entender e trabalhar com as dificuldades
encontradas no processo ensino aprendizagem dessas crianças, assim
como buscar atualizar suas práticas pedagógicas, visando acima de tudo
oferecer uma educação de qualidade, contribuindo assim para a melhoria
do desenvolvimento integral dessas pessoas.

A EDUCAÇÃO LÚDICA é uma ação inerente da criança, ado-


lescente, jovem e adulto. Está distante da concepção de um simples
passatempo, brincadeira ou diversão superficial. Educar ludicamente
tem uma significação importante e está presente em todos os segmen-
tos da vida. [...] uma mãe que acaricia e se entretém com a criança,

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um professor que se relaciona bem com seus alunos, ou mesmo um
cientista que prepara prazerosamente sua tese ou teoria educa-se lu-
dicamente, pois combina e integra a mobilização das relações fun-
cionais ao prazer de interiorizar o conhecimento [...]. (ALMEIDA,
1999, p. 11).

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Title: The playful in the autist universe.


Authors: Lilian Queiroz Daguano; Renata Andrea Fernandes Fantacini.

ABSTRACT: This article is intended to emphasize the importance of education as a


form of playful stimulation to the development of autistic children, or through the use
of games, toys and games can help children with autism to develop and socialize with
others. Through literature search was undertaken shows that autism can be considered
a global development disorder (PDD) that affects a child’s development, especially in
the development interfering areas of communication, socialization and imagination,
even with the most recent studies relation to autism, is it true that there is still no cure,
there are treatments and therapies that minimize the difficulties, providing a good
development and a better quality of life, for example, through playful activities that
provide these children an spontaneous act and makes them to realize their abilities and
able to develop many others.
Keywords: Autism. Playful. Development. Ability.

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