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ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA ADRIANO PEREIRA DA SILVA

Rua dos Goitacazes, 71, Sl. 609 B, Centro de Belo Horizonte – CEP 30.190-050 – Tel.: (31) 30232744

EXMO. (A) SR. (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA
ESTADUAL DE BELO HORIZONTE/MG

CRISTIANE SANTANA COSTA, brasileira, solteira, técnica em


enfermagem, portadora da C.I. MG 14.916.381 / SSP-MG, inscrita no
CPF sob o nº 08930484611, residente e domiciliada na Avenida. F, nº 05,
CEP 39404143, bairro Jardim Primavera, Montes Claros / MG, vem,
respeitosamente, perante Vossa Excelência, por seu procurador infra-
assinado, ajuizar a presente

AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO ADMINISTRATIVO C/C COM


AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

ESTADO DE MINAS GERAIS, pessoa jurídica de direito público


interno, na pessoa de seu procurador, com endereço na Praça da
Liberdade, s/n.º, bairro Funcionários, CEP 30140-912, nesta Capital,
pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

I – DAS CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

I.I - DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM PARA O PROCESSAMENTO DO


PRESENTE FEITO

Preliminarmente, cumpre esclarecer que, embora o presente feito verse sobre infração
de trânsito, a competência para o processamento do mesmo é deste respeitável Juízo, haja
vista que o Juizado Especial da Fazenda Pública no Estado de Minas Gerais não tem
competência para processar ação de valor superior a 40 salários mínimos.

Isto é o que se infere do disposto no art. 8º, da Resolução 700/2012, do TJMG. Senão,
confira-se:

Art. 8º - A competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública, na


Justiça do Estado de Minas Gerais, ficará limitada às causas no valor
máximo de quarenta salários mínimos, relativas a:
I - multas e outras penalidades decorrentes de infrações de trânsito;
II - transferência de propriedade de veículos automotores terrestres;
III - imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISSQN);
IV - imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e
sobre prestação de serviços (ICMS);
V - imposto sobre propriedade predial e territorial urbana (IPTU);
VI - fornecimento de medicamentos e outros insumos de interesse
para a saúde humana, excluídos cirurgias e transporte de pacientes.

Sendo assim, reputa-se estar sobejamente demonstrada a competência deste respeitável


Juízo.

II – DOS FATOS

Conforme faz prova a documentação em anexo, a parte Autora é portadora da


PERMISSÃO para dirigir registrada sob o nº 05861482271.

Acontece que o DETRAN/MG realizou uma autuação em desfavor da parte Autora


(autuação esta que recebeu o número de AIT 001129482 e de processamento 5382406), em
função da prática da infração assim descrita no Código de Trânsito Brasileiro: “DEIXAR DE
EFETUAR REGISTRO DE VEICULO EM 30 DIAS” (Base legal: art. 233, CTB; Código de
infração: 6920).

Por tal motivo, o Órgão de Trânsito mineiro anotou cinco pontos no prontuário de sua
PERMISSÃO PARA DIRIGIR, ocasionando, assim, a cassação do referido documento.

Contudo, reputa-se que tal cassação é injusta, devendo ser revertida, por ser esta
medida de inteira justiça, conforme se demonstrará a seguir.

IV – DO DIREITO

Inicialmente, deve-se salientar que o objetivo do presente feito não é eximir a parte
Autora do pagamento da multa cabível devido à infração sob discussão (não transferir veículo
no prazo de 30 dias). O real motivo que ensejou a propositura da presente ação é a cassação
de sua permissão para dirigir, ato este que certamente não está revestido de justiça e de
razoabilidade e nem está em consonância com os princípios que devem reger a Administração
Pública, quando da aplicação de sanções e penalidades, uma vez que a infração praticada pela
parte Autora consiste na não realização de um ato de cunho meramente administrativo.

Sendo assim, aquela anotação não pode prosperar, haja vista que a multa de trânsito
que lhe deu origem não serve como parâmetro para se aferir a capacidade da parte Autora no
que diz respeito à condução de veículos no trânsito.

Por este motivo, a se manter a aludida anotação, em razão da qual a parte Autora teve a
sua permissão para dirigir cassada sumariamente, estar-se-ia diante do cometimento de uma
grande injustiça, pois se estaria impedindo a renovação de um documento que foi arduamente
obtido mediante a realização de todos os exames legais, nos quais aquela (a parte Autora) foi
aprovada sem nenhuma restrição, em função da aplicação de multa meramente administrativa,
que em nenhum momento tem o condão de aferir a capacidade e a responsabilidade do
motorista na direção de um veículo. Mostra-se, portanto, uma condenação injusta, sem
observância do princípio da razoabilidade, principalmente partindo do Poder Judiciário, o qual
tem como mister realizar a justiça.

Com certeza, a intenção do legislador, quando da feitura do CODIGO DE TRÂNSITO


BRASILEIRO, ao criar a figura da PERMISSÃO PARA DIRIGIR antes de conceder a CNH
DEFINITIVA, visava possibilitar a aferição da responsabilidade do futuro motorista na
condução do veículo, punindo aqueles condutores que não obedecem as leis, na condução de
seu veículo NO trânsito, cancelando a sua permissão para dirigir e exigindo novos exames dos
infratores, não sendo justo colocá-los no mesmo patamar de quem apenas cometeu uma
infração de cunho meramente administrativo.
Sendo assim, dada a gravidade dos efeitos causados pela imposição dos pontos
gerados pela infração administrativa em apreço no prontuário de CNH da parte Autora, que
teve sumariamente cassada a sua permissão para de dirigir, caberá ao D. Magistrado
distinguir, buscando sempre a justiça, a penalidade financeira (pagamento pecuniário pela
infração) da penalidade administrativa (anotação de pontuação no prontuário da CNH
provisória, com a conseqüente cassação de tal documento), de modo a declarar a nulidade
daquela pontuação ou, no mínimo, a inaplicabilidade do § 3º, do art. 148, do CTB, na situação
em tela, pelos motivos já expostos, tal como tem feito, entre outros tribunais, o próprio STJ,
revelando que este é realmente o entendimento jurisprudencial mais autorizado. Senão,
confira-se:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA


RECURSO ESPECIAL Nº 980.851 - RS (2007/0200288-7)
RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN
RECORRENTE : DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRÂNSITO DO ESTADO
DO RIO GRANDE DO SUL DETRAN RS
PROCURADOR : PAULO MOURA JARDIM E OUTRO(S)
RECORRIDO : GUSTAVO VAZ DA SILVA
ADVOGADO : EDUARDO NICOLETTI KALIL
EMENTA: ADMINISTRATIVO. CONCESSÃO DA CARTEIRA NACIONAL DE
HABILITAÇÃO DEFINITIVA. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA. EXPEDIÇÃO.
POSSIBILIDADE.
1. Discute-se a possibilidade de expedição de Carteira Nacional de Habilitação
definitiva a motorista que comete infração do art. 233 do CTB, tipificada como
grave, mas de natureza administrativa.
2. Hipótese em que o autor, ora recorrido, recebeu, após a conclusão do inventário
do seu pai, época em que era menor de idade, o automóvel Passat, tendo-o registrado
no Detran somente quando completou dezoito anos, descumprindo, assim, o art. 233
do CTB, que determina seja o registro do veículo efetuado no prazo de trinta dias,
3. A interpretação teleológica do art. 148, § 3º, do CTB conduz ao entendimento
de que o legislador, ao vedar a concessão da Carteira de Habilitação ao
condutor que cometesse infração de trânsito de natureza grave, quis preservar
os objetivos básicos do Sistema Nacional de Trânsito, em especial a segurança e
educação para o trânsito, estabelecidos no inciso I do art. 6º do CTB.
4. Desse modo, e considerando as circunstâncias do caso em exame, não é
razoável impedir o autor de obter a habilitação definitiva em razão de falta
administrativa que nada tem a ver com a segurança do trânsito (deixar de
efetuar o registro da propriedade do veículo no prazo de trinta dias) e nenhum
risco impõe à coletividade.
5. Recurso Especial não provido

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. MULTA DE


TRÂNSITO. PERMISSÃO DE DIRIGIR. INFRAÇÃO AO ARTIGO 233 DO CTB.
EXPEDIÇÃO DA CNH DEFINITIVA. CABIMENTO. A NÃO REALIZAÇÃO
DA TRANSFERÊNCIA DO VEÍCULO NO PRAZO DE TRINTA DIAS,
CONFORME PREVISTO NO ARTIGO 123 DO CTB IMPORTA EM
INFRAÇÃO GRAVE, DE ACORDO COM O ARTIGO 233 DO CTB.
CONTUDO, TAL INFRAÇÃO TEM CUNHO MERAMENTE
ADMINISTRATIVO, NÃO IMPEDINDO A CONCESSÃO DA CNH
DEFINITIVA, CONSIDERANDO-SE QUE A INFRAÇÃO FOI COMETIDA
PELO AUTOR NA QUALIDADE DE PROPRIETÁRIO E NÃO NO
EXERCÍCIO DA DIREÇÃO DO VEÍCULO, SENDO INAPLICÁVEL O ART.
148, § 3º, DO CTB, QUE VISA ASSEGURAR A HABILITAÇÃO AO
MOTORISTA QUE COM A PERMISSÃO PARA DIRIGIR NÃO COMETEU
INFRAÇÃO NO TRÂNSITO DURANTE UM ANO. Precedentes do TJRGS.
Apelação desprovida. Sentença confirmada em reexame necessário. (Apelação e
Reexame Necessário Nº 70017015363, Vigésima Segunda Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Carlos Eduardo Zietlow Duro, Julgado em 26/10/2006)

APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO. ADMINISTRATIVO.


TRÂNSITO. PERMISSÃO PARA DIRIGIR. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA.
CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO. CONCESSÃO. POSSIBILIDADE.
A intenção do legislador, ao vedar a concessão da Carteira de Habilitação ao
condutor que cometesse infração de trânsito de natureza grave, foi a de preservar os
objetivos básicos no Sistema Nacional de Trânsito, em especial da segurança e
educação para o trânsito, estabelecidos pelo inciso I do art. 6º do CTB. Interpretação
teleológica do art. 148, § 3º, do Código de Trânsito Brasileiro. O
COMETIMENTO DE INFRAÇÃO PREVISTA NO ART. 233 DO CÓDIGO
DE TRÂNSITO, DE ORDEM ADMINISTRATIVA, AINDA QUE
CONSIDERADA DE NATUREZA GRAVE, NÃO IMPEDE A CONCESSÃO
DA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO. Precedente da Corte.
Imposição da infração à impetrante que ainda pende de apreciação de recurso na
esfera administrativa, na qual, aliás, não foi observado o devido processo legal.
Ausência de notificação antes da aplicação da penalidade, sendo somente concedida
oportunidade de exercício de defesa depois de aplicada a multa. RECURSO
DESPROVIDO. SENTENÇA CONFIRMADA EM REEXAME NECESSÁRIO.
(Apelação e Reexame Necessário Nº 70011416757, Segunda Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Adão Sérgio do Nascimento Cassiano, Julgado
em 03/08/2005)

APELAÇÃO CÍVEL – ADMINISTRATIVO- TRÂNSITO-CARTEIRA


NACIONAL DE HABILITAÇÃO - PERMISSÃO PARA DIRIGIR-
COMETIMENTO DE INFRAÇÃO DE NATUREZA GRAVE NÃO
RELACIONADA AO EXERCÍCIO DA DIREÇÃO VEICULAR- NEGATIVA DO
ÓRGÃO RESPONSÁVEL EM EXPEDIR A CARTEIRA DE HABILITAÇÃO
DEFINITIVA- IMPOSSIBILIDADE - AUSÊNCIA DE RAZOABILIDADE,
ANTE A INFRAÇÃO DE CUNHO MERAMENTE ADMINISTRATIVO.
Apelo desprovido. Reexame necessário não conhecido. (Apelação e Reexame
Necessário Nº 70008469900, Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: João Carlos Branco Cardoso, Julgado em 18/08/2004)

APELAÇÃO CÍVEL. CÓDIGO BRASILEIRO DE TRÂNSITO. ANTECIPAÇÃO


DE TUTELA. NEGATIVA DE EMISSÃO DE CARTEIRA NACIONAL DE
HABILITAÇÃO DEFINITIVA. NEGATIVA DE EMISSÃO DE CNH
DEFINITIVA EM RAZÃO DE AUTUAÇÃO PORQUE, QUANDO
TRANSFERIU O VEÍCULO PARA O SEU NOME, O FEZ ALÉM DO
PRAZO DE TRINTA DIAS. A INFRAÇÃO NÃO É INFRAÇÃO DE
TRÂNSITO, ENQUANTO RESULTADO DA CONDUÇÃO DO VEÍCULO
EM DESCONFORMIDADE COM O ESTABELECIDO NO CÓDIGO DE
TRANSITO BRASILEIRO, NÃO SE TRATANDO DE INFRAÇÃO QUE
DESQUALIFIQUE A PARTE ENQUANTO MOTORISTA. AGRAVO
PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70005768429, Primeira Câmara Especial
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Angela Maria Silveira, Julgado em
22/05/2003).

O próprio Egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais, sabiamente, entendeu, no bojo


do processo de autos nº 1.0024.07.744186-3/001(1), que: “A penalidade que culminou no
acréscimo de pontos ao recorrente foi aplicada por não ter ele providenciado a
transferência do veículo que adquiriu no prazo de 30 dias; (...) não devendo ser penalizado,
vez que a conseqüência será a não entrega de sua CNH definitiva.”

Na primeira instância, também podem ser citadas decisões que esposam a tese ora
suscitada, dentre as quais, as sentenças proferidas pelo MM. Juiz da 4ª Vara da Fazenda
Pública Estadual desta Comarca, Dr. Saulo Versiani Penna, que nos processos autuados sob
os seguintes números 1174100-56.2010, 0350032.75.2010, 0344910.81.2010 e
0897925.05.2010, tratando de pedidos idênticos aos realizados no presente feito, sentenciou
dando total procedência ao pleito autoral.

Nesse mesmo sentido também decidiu o MM. Juiz da 6ª Vara da Fazenda Pública
Estadual desta Comarca, Dr. Manoel dos Reis Morais, que apreciando situação idêntica à ora
relatada, no processo de autos nº. 9005221.13.2011.813.0024, antecipou o merito causae,
determinando a suspensão dos pontos lançados no prontuário de CNH da parte Autora daquele
feito, devido à infração de trânsito em referência, possibilitando, assim, que a mesma
obtivesse, in limine litis, a sua Carteira de Habilitação definitiva.

Nesse diapasão, faz-se pertinente mencionar também a manifestação do próprio


DETRAN/MG que emitiu o parecer nº 185/AJ/2001, ainda vigente, no qual o Bel. Otto
Teixeira Filho, Chefe do Órgão Executivo de Trânsito à época, entendeu que:

...recomendo ainda que ao ser verificado de plano que a penalidade de multa aplicada no
permissionário/proprietário de veículo não fora decorrente da condução do auto, não
será imposto ao permissionário o efeito da não concessão da carteira nacional de
habilitação.”

O que se observa deste parecer é a determinação do afastamento da penalidade de não


concessão da CNH do indivíduo que não praticou infração na condução de veículo.

Também, no mesmo sentido, o parecer e o acolhimento do Chefe do DETRAN de


SANTA CATARINA, que ora se transcreve na íntegra:

PARECER JURÍDICO N.º: 033/DETRAN/ASJUR/2002


Assunto: Aplicabilidade dos Arts. 230, V e 233 do CTB.
Senhora Assessora Jurídica,
Trata-se de consulta formulada pela JARI, por meio de Comunicação Interna, subscritada pela Presidenta,
Senhora Marize S. Mazzolli, perquirindo, em síntese, sobre as autuações tipificadas nos artigos 230, inciso V e
233, do CTB.
Questiona sobre a legalidade de tais autuações, por não ocorreram na via pública, indicando como conseqüência
o cancelamento das permissões para dirigir. Alega que o condutor punido com fundamento no art. 233 do CTB
não está sendo julgado por sua conduta no trânsito, "mas sim como proprietário de um bem móvel". Menciona
também as implicações de tais multas em relação aos condutores pretendentes à mudança de categoria.É a
apertada síntese.

Nosso entendimento:
Esclareça-se, em prefácio, que é demasiadamente restrita a interpretação que se dá ao código de trânsito, no
sentido de que somente regula o trânsito nas vias terrestres.
A disposição do art. 1° do código é no sentido de que o trânsito de qualquer natureza nas vias terrestres do
território nacional, abertas à circulação, rege-se por este Código. Não está dito, portanto, que o CTB regula
apenas o trânsito na via terrestre.
Resumindo, todo o trânsito na via terrestre é regulado pelo código, mas o código não regula somente o trânsito
na via terrestre. Regula, v. g., as competências dos órgãos do sistema nacional de trânsito, as regras para a
delegação de serviços à particulares, os procedimentos relativamente às medidas administrativas, a habilitação de
condutores, etc.
Também não é verdade que a única multa de balcão é a do art. 233. Nas multas dos arts. 163, 164, 166, 234, 240,
241, 242, 243, o proprietário do veículo também não está na via terrestre.
A legalidade é o princípio basilar do Estado Democrático de Direito e, em relação à administração, tal princípio
encontra-se inserido no art. 37 da Constituição Federal.
Por esse princípio, não há como a autoridade de trânsito deixar de cumprir as disposições do art. 230, V e 233,
do CTB. Pode, de outro turno, utilizar-se dos remédios constitucionais para curar as mazelas originadas por
enunciados normativos inconstitucionais ou atentatórios ao interesse público. É assim que se alcança a segurança
jurídica, é assim que se garante a democracia, é assim que se assegura direitos humanos e fundamentais.
Mas não se pode deixar, também, de observar o bom-senso na aplicação da lei, resultando na atenção à
razoabilidade e proporcionalidade nas decisões da autoridade pública.
Se o proprietário do veículo não adota as medidas que o código exige, incorre nas sanções que o CTB prescreve,
e aí vai além da sua conduta na via terrestre, resultando em obrigações tais como manter o órgão de trânsito
informado sobre seu endereço, alteração nas características do veículo, licenciamento, transferência, etc. O
estatuto do trânsito não faculta à autoridade de trânsito a adoção das medidas e aplicação das penalidades. Essas
obrigações são imperativas.
No entanto, as medidas punitivas têm, dentre outros, o caráter pedagógico. Elas devem servir para coibir os
abusos e resguardar a segurança do Estado e da Sociedade, mas também para educar os cidadãos, que, na
espécie, refere-se à educação de trânsito.
Não nos parece razoável, por exemplo, que as multas aplicadas a teor das normas insertas nos arts. 230, V e 233
do CTB, tragam ao proprietário conseqüências que inviabilizem a sua condição de condutor.
Quando a penalidade for desproporcional ou descabida, se assim entender o cidadão, existem as instâncias
recursais que possibilitam a reforma das decisões de 1ª instância, como as JARIs e o CETRAN, e ali deve ser
observado, como critério para a anulação da penalidade, as circunstâncias que levaram o condutor ou
proprietário a serem multados. Não deve prosperar, por exemplo, multas aplicadas, quando a culpa na demora
para a transferência do veículo for do despachante, de funcionários ou das concessionárias.
Entendemos também que é demasiadamente severa a decisão de não habilitar definitivamente o condutor
permissionário, por infrações que não foram cometidas na via pública, porque para a habilitação o que tem que
ser observado é se a pessoa possui condições físicas e psicológicas para transitar com o veículo e não se ela
cumpre ou não a burocracia legal.
Nesse caso é bastante razoável que a autoridade de trânsito adote providências administrativas para que as
multas dos dispositivos legais prefalados tenham como desígnio apenas a coação legal e legítima do Estado para
que o veículo esteja registrado no nome do verdadeiro proprietário, cujo principal beneficiado é o cidadão, pois
não é raro ver-se pessoas que se dirigem ao Detran alegando que venderam o veículo e não o transferiram e estão
recebendo penalidades cometidas pelos compradores, estando respondendo, inclusive, nas esferas judiciais cível
e criminal.
É o parecer que submeto à elevada apreciação de Vossa Senhoria.
Florianópolis, 11 de abril de 2002.
LUIZ ANTONIO DE SOUZA
Assistente Jurídico
Recebo como meus os argumentos do Parecer Jurídico n° 033/DETRAN/ASJUR/2002 e submeto a elevada
apreciação do Senhor Diretor Estadual de Trânsito.
Florianópolis, 11 de abril de 2002.

MAGALI NUNES IGNÁCIO


Delegada de Polícia
Assessora Jurídica
DESPACHO
Acolho o Parecer Jurídico n° 033/DETRAN/ASJUR/2002, por seus fundamentos jurídicos. Informe-se aos
demais órgãos de trânsito que adotaremos medidas administrativas para que a aplicação dos artigos de lei
comentados, atendam ao fim social a que se destinam.
Florianópolis, 11 de abril de 2002
ADEMIR SERAFIM
Delegado de Polícia
Diretor-Geral
DETRAN/SC

Extrai-se dos pareceres transcritos, de maneira clara e sem margens às dúvidas, que a
perda ao direito de emissão da CNH definitiva é penalidade aplicada subsidiariamente àquele
que infringe a lei de trânsito QUANDO NA CONDUÇÃO DE VEÍCULOS, não devendo ser
aplicada nos casos em que a multa se tratar apenas de infrações meramente administrativas,
que não aferem a capacidade do motorista na condução do veículo e que, de igual modo, não
geram perigo à sociedade.

Por outro lado, dever-se-á levar em conta que todos os DETRANs do Território
Nacional fazem parte do SISTEMA NACIONAL DE TRÂNSITO – SNT, por justiça, o
que se aplica em um, deverá também ser aplicado no outro, sob pena de ferir o princípio
da igualdade entre os cidadãos brasileiros.

No mais, assina o art. 131, do CPC, que “o juiz apreciará livremente a prova,
atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas
partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe formaram o convencimento”.

Assim, Excelência, é que a apreciação do presente petitório há de ser feita para além
dos parâmetros estreitos da letra fria da Legislação, olhos postos na inserção constitucional da
matéria na Ordem Jurídica, com redobrada atenção ao art.5º da Lei de Introdução ao Código
Civil, que é norma de aplicação geral de direito.

"Art. 5° - Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum." (grifei)

Ademais, faz-se necessária, ainda, a aplicação dos princípios da razoabilidade e da


proporcionalidade, haja vista a situação peculiar tratada no presente caso.
Cumpre frisar que o princípio da razoabilidade se refere à legitimidade da escolha dos
fins em nome dos quais o Estado atuará, ao passo que a proporcionalidade verifica se os
meios são necessários, adequados e proporcionais aos fins já escolhidos.

O Estado deve justificar racionalmente sua atuação, enquadrando-a no conjunto de


regras e princípios albergados pela Constituição, com imprescindível derivação do princípio
do devido processo, pois o reconhecimento de uma inconstitucionalidade, baseado no
princípio da razoabilidade, não necessariamente será fundado em outro dispositivo
constitucional.

A proporcionalidade vai mais adiante, indagando se o ato é adequado e necessário à


finalidade, ao objetivo, além de verificar, no cotejo entre os bens, direitos ou interesses
protegidos e atingidos pela atuação estatal, qual deverá prevalecer no ato concreto, portanto
diferentemente da razoabilidade, sempre haverá duas grandezas em relação: bens, direitos ou
interesses constitucionalmente consagrados.

Dizia o grande Jurista Rui Barbosa que quando houver conflito entre o Direito e a
Justiça, dever-se-á prevalecer a Justiça.

Discorrendo acerca desses requisitos, MIGUEL REALE é contundente:

"Aqui fazemos uma pergunta: basta a validade técnico jurídica para que a norma
jurídica cumpra sua finalidade?
Temos o hábito de confundir facilmente o Direito com a lei. O Direito legislado, ou
seja, elaborado pelo Congresso e sancionado pelo Poder Executivo, é um Direito de
tal natureza que a muitos parece ser-lhe bastante o requisito da vigência.
...
Ocorre todavia, que os legisladores podem promulgar leis que violentam a
consciência coletiva, provocando reações por parte da sociedade. Há leis que entram
em choque com a tradição de um povo e que não correspondem a seus valores
primordiais. Isto não obstante, valem, isto é, vigem.
...
o Judiciário, ao ter de aplicar uma regra em conflito com os valores do ordenamento,
atenua, quando não elimina, os seus efeitos aberrantes, dando-lhe interpretação
condizente com o espírito do sistema geral, graças à sua correlação construtiva com
outras regras vigentes.
...
Toda regra jurídica, além de eficácia e validade, deve ter um fundamento. O Direito,
consoante outra lição de Stammler, deve ser, sempre, 'uma tentativa de Direito justo',
por visar a realização de valores ou fins essenciais ao homem e à coletividade.
O fundamento é o valor ou fim objetivado pela regra de direito. É a razão de ser da
norma, ou ratio iuris. Impossível é conceber-se uma regra jurídica desvinculada da
finalidade que legitima sua vigência e eficácia.
...

Em resumo, são três os aspectos essenciais da validade do Direito, três requisitos


para que uma regra jurídica seja legitimamente obrigatória: o fundamento, a
vigência e a eficácia que correspondem, respectivamente, à validade ética, à
validade formal ou técnico-jurídica e à validade social
Com efeito, ensina o grande jusconstitucionalista PAULO BONAVIDES, em seu
consagrado Curso de Direito Constitucional, que na técnica da aplicação das regras,
diante de disposições conflitantes a prevalente exclui a preterida do mundo jurídico;
diferentemente, na aplicação dos princípios, quando conflitantes entre si, o valor
informa o prevalente, afastando a incidência do preterido sem sua exclusão do
mundo jurídico.

ROBERT ALEXY (Theorie der Gunderechte) e WITTGENSTEIN (Philosophische


Untersuchengen), são citados nesse Magistério:
"Um conflito entre regras somente pode ser resolvido se uma cláusula de exceção,
que remova o conflito, for introduzida numa regra ou pelo menos se uma das regras
for declarada nula (ungültig)"
"Com a colisão de princípios, tudo se passa de modo inteiramente distinto ... se algo
é vedado por um princípio, mas permitido por outro, ... um dos princípios deve
recuar. Isto porém, não significa que o princípio do qual se abdica seja declarado
nulo, nem que uma cláusula de exceção nele se introduza... o princípio de maior
peso é o que prepondera".
"...os conflitos de regras se desenrolam na dimensão da validade, ao passo que a
colisão de princípios, visto que somente princípios válidos podem colidir, transcorre
fora do plano da validade, ou seja, na dimensão do peso, isto é, do valor."

Extrai-se, por todo o exposto, embasado em doutrina e jurisprudência, além de


pareceres emitidos por órgãos de trânsito, inclusive o mineiro, que uma multa de cunho
meramente administrativo, que em nada aferi a capacidade do motorista em conduzir veículo,
por uma questão de justiça, não poderá ter o condão de cassar a Carteira Nacional de
Habilitação da parte Autora.

V – DOS DANOS MORAIS

V.I - DO DANO MORAL

Nas palavras do Professor Yussef Said Cahali, o dano moral pode ser conceituado
como

a privação ou diminuição daqueles bens que têm um valor precípuo na vida do


homem e que são a paz, a tranqüilidade de espírito, a liberdade individual, a
integridade individual, a integridade física, a honra e os demais sagrados afetos,
classificando-se desse modo, em dano que afeta a parte social do patrimônio moral
(honra, reputação, etc.) e dano que molesta a parte afetiva do patrimônio moral
(dor, tristeza, saudade, etc.), dano moral que provoca direta ou indiretamente dano
patrimonial (cicatriz deformante, etc.) e dano moral puro (dor, tristeza, etc.) (in
Dano Moral, Editora Revista dos Tribunais, SP, 1998, 2ª edição, p. 20).

Sílvio Rodrigues, por sua vez, assevera que “dano moral é o prejuízo que afeta o
ânimo psíquico, moral e intelectual da vítima” (Rodrigues, Silvio. Responsabilidade Civil.
São Paulo: Atlas, 2003, p. 33).

Percebe-se, portanto, que o dano moral possui natureza abstrata e imaterial, se


consubstanciando na afetação gerada no íntimo da pessoa, de modo que esta sinta tristeza,
saudade, vergonha, irritação, baixa auto-estima, ou experimente qualquer tipo de
circunstância psicológica ou estado de espírito que de um modo geral seria indesejável.

Certamente o dano moral não pode decorrer de um dissabor comezinho, tais como
aqueles infortúnios cotidianos aos quais todos estão sujeitos e que, por serem de proporções
tão ínfimas, poderiam, com certa razoabilidade, ser relevados.

Pois bem. No caso dos autos, é certo que tem-se a hipótese de dano moral, não sendo
credível que alguém considere ser um mero dissabor cotidiano perder a permissão para dirigir
nas circunstâncias relatadas nos autos.

V.II – DO DEVER DE INDENIZAR DO RÉU – EXISTÊNCIA DE RESPONSABILIDADE


OBJETIVA

A Constituição da República, em seu artigo 5º, inciso V, dispõe que, "é assegurado o
direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material,
moral ou à imagem".
O código Civil, por sua vez, em seu art. 186 dispõe que, “aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem,
ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

Por outro lado, o art. 927, daquele mesmo Diploma Legal, dispõe que, “aquele que,
por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”.

Sabe-se que a responsabilidade aquiliana ou extracontratual pode ser subjetiva 1 ou


objetiva, e que o diferencial desta em relação àquela é a prescindibilidade do elemento culpa,
uma vez que sua configuração pressupõe apenas a existência de dano e de nexo causal2.

Saliente-se que a responsabilidade subjetiva é a regra, vez que só tem lugar a aplicação
da responsabilidade objetiva quando a Lei assim o permitir.

Nesse diapasão, cumpre frisar a Constituição da República é clara ao dispor o


seguinte:

“as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de


serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa” (CR, art. 37, § 1º).

Percebe-se que o dispositivo constitucional supracitado, de forma implícita, atribui


responsabilidade objetiva aos prestadores de serviço público, relativamente aos danos
causados pelos seus agentes, garantindo-lhes, contudo, o direito de regresso quando houver,
por parte destes últimos, dolo ou culpa.

Note-se que o inciso em referência faz menção a dolo e culpa somente em relação ao
direito de regresso, de modo que, havendo dolo ou culpa por parte do agente direto da conduta
danosa (servidor público ou equiparado), subsistirá para as pessoas jurídicas prestadoras de
serviço público o direito de reaver daquele agente o valor pago a título de indenização.

Contudo, deve-se pontuar que, não havendo dolo ou culpa, embora insubsistente o
direito de regresso, ainda assim persistirá o dever de indenizar em relação ao terceiro que
suportou o dano. Isto porque, conforme mencionado alhures, o dispositivo constitucional
supracitado só faz referência a dolo e culpa, relativamente ao direito de regresso da
Administração Pública e seus delegatários, e não ao dever de indenizar destes últimos em
relação a terceiros.

Portanto, na ação de indenização por danos (morais e/ou materiais) movida contra as
pessoas jurídicas prestadoras de serviço público, desnecessário se faz perquirir a existência ou
não de culpa. Contudo, em se tratando da referida ação de regresso, comprovar a existência de
culpa (lato sensu) certamente é uma medida que se impõe.

1
Em que pese o notório saber jurídico dos Doutos Magistrados, é válido salientar que a responsabilidade
subjetiva decorre da existência conjunta dos seguintes fatores: a) dano; b) nexo de causalidade entre a conduta
praticada e o dano sofrido; c) culpa lato sensu, a qual abarca tanto o dolo, quanto a culpa stricto sensu,
consubstanciada na violação de um dever de cuidado, violação esta que pode consistir em negligência,
imprudência ou imperícia; d) e, por último, deve-se verificar, ainda, se a conduta que ensejou o dano é
antijurídica, isto porque, por vezes há dano, há nexo de causalidade e há culpa lato sensu, só que, no entanto, a
conduta que ensejou o dano é permitida pelo ordenamento jurídico, hipótese em que não haverá o dever de
indenizar, haja vista a presença de uma (ou mais), excludente de responsabilidade. Tal situação se verificaria, por
exemplo, na hipótese de um dano decorrente de um ato praticado em estado de necessidade, em exercício regular
de direito ou em legítima defesa.
2
Relativamente à responsabilidade objetiva, leciona Venosa que, “(...) para o dever de indenizar bastam o dano e
o nexo causal, prescindindo-se da culpa” (VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: volume 4 : responsabilidade
civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003).
Deste modo, é totalmente desnecessário qualquer análise acerca da culpabilidade para
averiguação da existência ou não de responsabilidade extracontratual na situação em apreço,
devendo-se aplicar, ao presente caso, a teoria do risco administrativo, que, como se sabe,
constitui, em última análise, o próprio fundamento da responsabilidade objetiva do Estado (e
delegatários).

Sobre o assunto, faz-se oportuno conferir o magistério da doutrina mais autorizada:

A responsabilidade objetiva funda-se num princípio de eqüidade, existente desde o


direito romano: aquele que lucra com uma situação deve responder pelo risco ou
pelas desvantagens dela resultantes (ubi emolumentum, ibi onus; ubi commoda,
ibi incommoda) (DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. São Paulo:
Editora Saraiva, 2004, v. 7, p. 48.)

a responsabilidade, fundada no risco, consiste, portanto, na obrigação de


indenizar o dano produzido por atividade exercida no interesse do agente e sob
seu controle, sem que haja nenhuma indagação sobre o comportamento do
lesante, fixando-se no elemento objetivo, isto é, na relação de causalidade entre
o dano e a conduta do causador (SAVATIER. Traité de la responsabilité civile.
Paris, v. 1, p. 274.).

aquele que, em razão de sua atividade ou profissão, cria um perigo, está sujeito
à reparação do dano que causar [...] A teoria do risco criado importa em
ampliação do conceito do risco proveito. Aumenta os encargos do agente, é,
porém, mais eqüitativa para a vítima, que não tem de provar que o dano resultou de
uma vantagem ou de um benefício obtido pelo causador do dano (PEREIRA, Caio
Mário da Silva. Responsabilidade civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense,1992, p. 24.)

Portanto, Excelência, a responsabilidade do Réu, e, conseqüentemente, o seu dever de


indenizar, é fato incontestável, eis que restou mais que demonstrado a existência de dano, bem
como o nexo de causalidade entre este dano e a conduta daquele, sendo, por outro lado,
totalmente desnecessário perquirir se houve ou não violação de um dever de cuidado, agindo-
se de modo culposo, haja vista a aplicação, ao presente caso, da responsabilidade objetiva
prevista no § 6º, do art. 37, da Constituição da República.

Sendo assim, a procedência dos pedidos realizados mais adiante é algo que se impõe,
por ser esta medida de inteira JUSTIÇA!!!

V.III – DA FIXAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

Relativamente à fixação do quantum indenizatório, em ações de indenização por


danos morais, sabe-se que é necessário considerar que o valor a ser fixado deve ao mesmo
tempo servir de compensação à vitima pelos danos experimentados e, também, servir como
efetiva diminuição patrimonial àquele que causou o dano, como forma de punição e
desestímulo à prática da conduta danosa.

Nesse sentido é entendimento jurisprudencial:

INDENIZAÇÃO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. DERRAPAGEM. MORTE DO PAI


DA AUTORA. CULPA DO REQUERIDO. DANOS MATERIAIS.
DEPENDÊNCIA ECONÔMICA. DEVER DE PENSIONAMENTO. AUSÊNCIA
DE COMPROVAÇÃO DOS RENDIMENTOS DA VÍTIMA. DANOS MORAIS.
RECURSO ADESIVO. REQUERIMENTO CONDICIONAL. AUSÊNCIA - NÃO
CONHECIMENTO. VOTO VENCIDO PARCIALMENTE. Provado que o réu
condutor do veículo, em dia de chuva intensa, deixou de reduzir a sua velocidade e
guardar distância de segurança daquele que seguia à sua frente, atingindo a
contramão direcional em virtude de derrapagem ocorrida ao acionar os freios, deve
ser a ele imputada a responsabilidade pelo sinistro, que causou a morte do pai da
requerente, motorista do veículo abalroado. Emerge em decorrência da morte da
vítima o dever ressarcitório a seus dependentes, iniciando o pagamento da pensão
mensal na data do evento fatal, quando do efetivo prejuízo, até a data em que o filho
beneficiário atinja 25 anos, por se presumir que, nesse momento, terá concluído a
formação escolar, estando apto a prover o próprio sustento. Incabível o exame de
recurso adesivo quando as questões nele suscitadas não se referem à conformidade
condicional, bem como não se contrapõem à matéria abordada no recurso
principal.Incumbe à parte interessada a interposição do recurso adequado, na forma
e tempo devidos. V.v.p.: Deve o valor da indenização por danos morais ser fixado
segundo o prudente arbítrio do juiz, preservando-se, sempre, os dois principais
objetivos do instituto, quais sejam: PUNIR DIDATICAMENTE O OFENSOR
COM EFETIVA PERDA PATRIMONIAL, E COMPENSAR O OFENDIDO
PELO SOFRIMENTO EXPERIMENTADO, zelando-se para que tal reparação
não seja fonte de enriquecimento sem causa para aquele que a pleiteia, e nem
seja pena simbólica, pelo seu valor irrisório, imposta a quem lesa (TJMG, Ap.
1.0035.06.085929-1/001, Rel. Des. Duarte de Paula, j. 29/04/2009).

Percebe-se, portanto, que, além de um caráter reparador, a indenização por danos


morais também possui um elemento pedagógico, sendo que, o caráter reparador se
consubstancia na fixação de um valor indenizatório que guarde a máxima proporção possível
com a extensão do dano sofrido, ao passo que o elemento pedagógico tem-se por satisfeito
quando aquele valor é potencialmente capaz de desestimular a conduta danosa, por
representar, para o seu agente, efetiva diminuição patrimonial.

Contudo, no que tange à responsabilidade objetiva, deve-se salientar o seguinte: como


não se considera, nesta hipótese, a culpabilidade ou a intenção do responsável pelo dano, a
fixação do quantum indenizatório deve levar em consideração, sobretudo, a extensão do dano,
bem como a possibilidade do valor fixado representar efetiva diminuição patrimonial ao que
figura no pólo passivo da demanda.

Nesse sentido leciona a doutrina mais autorizada, conforme é possível observar do


seguinte magistério do professor Lima Alvino, a respeito da responsabilidade objetiva:

dentro do critério da responsabilidade fundada na culpa não era possível resolver um


sem-número de casos que a civilização moderna criava ou agravava; imprescindível
se tornava, para a solução do problema da responsabilidade extracontratual, afastar-
se do elemento moral, da pesquisa psicológica do íntimo do agente, ou da
possibilidade de previsão ou de diligência, para colocar a questão sob um ângulo até
então não encarado devidamente, isto é, sob o ponto de vista exclusivo da reparação,
e não interior, subjetivo, como na imposição da pena. Os problemas da
responsabilidade são tão-somente os da reparação de perdas. OS DANOS E A
REPARAÇÃO NÃO DEVEM SER AFERIDOS PELA MEDIDA DA
CULPABILIDADE, MAS DEVEM EMERGIR DO FATO CAUSADOR DA
LESÃO DE UM BEM JURÍDICO, A FIM DE SE MANTEREM INCÓLUMES
OS INTERESSES EM JOGO, CUJO DESEQUILÍBRIO É MANIFESTO, SE
FICARMOS DENTRO DOS ESTREITOS LIMITES DE UMA
RESPONSABILIDADE SUBJETIVA (LIMA, Alvino. Da culpa ao risco. São
Paulo, 1938, p. 87 apud DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil, Rio de
Janeiro: Forense, 1994, v. I, p. 49.)

Portanto, data maxima venia, não há que se justificar o valor da indenização sob a
ótica da gravidade ou não da conduta do Réu, pois, neste caso, estar-se-ia tendo como
parâmetro a culpa daquele e não a extensão do dano a ser reparado, conforme deve ser, por
tratar-se o caso de responsabilidade objetiva.

Sendo assim, Excelência, reputa-se que a fixação da indenização, no presente caso,


deve ser realizada em patamar não inferior a R$ 32.000,00 (trinta e dois mil reais), sendo que
valor inferior a este não seria razoável, tendo-se em vista a proporção dos danos morais
sofridos pela parte Autora, e nem cumpriria o seu caráter pedagógico, por não servir de efetiva
diminuição patrimonial ao Réu.
VI - DA TUTELA ANTECIPADA

Sabe-se que a concessão da tutela antecipada exige a presença de certos requisitos,


materializados na prova inequívoca que convença da verossimilhança da alegação (caput, art.
273, CPC), conciliada, alternativamente, com o fundado receio de dano irreparável ou de
difícil reparação (inciso I) ou, ainda, quando caracterizado o abuso de direito de defesa ou
mesmo o manifesto propósito protelatório do réu (inciso II).

No presente caso, encontram-se presentes os requisitos para antecipação da tutela


pretendida, haja vista os documentos acostados aos autos e toda a argumentação empreendida,
o que nos conduz à conclusão irrefragável de que a pontuação atribuída à parte Autora, assim
como a cassação de sua permissão para dirigir, constitui um ato administrativo em total
dissonância com a sistemática principiológica da Constituição da República, e com a
finalidade subjacente à criação da figura jurídica da permissão para dirigir.

Por outro lado, é patente também o fundado receio de dano irreparável ou de difícil
reparação em relação à parte Autora, já que a mesma é portadora de uma permissão para
dirigir vencida, estando, portanto, impedida de renovar tal documento e, por via de
conseqüência, de conduzir qualquer veículo automotor.

Sendo assim, repousa a parte Autora na expectativa da antecipação liminar dos efeitos
da tutela, haja vista a presença dos requisitos que autorizam a sua concessão.

Ademais, nos termos do parágrafo 2º, do artigo 6º, da Resolução 182/2003, do


CONTRAN:

“Se a infração cometida for objeto de recurso em tramitação na esfera


administrativa ou de apreciação judicial, os pontos correspondentes ficarão
suspensos até o julgamento e, sendo mantida a penalidade, os mesmos serão
computados, observado o período de doze meses, considerada a data da
infração”.

Não há que se olvidar que o dispositivo supracitado, da aludida Resolução, constitui


norma cogente, não havendo, deste modo, faculdade quanto à sua aplicação.

Portanto, a suspensão da pontuação ora impugnada é medida que se impõe, não só


pelo preenchimento dos requisitos legais para a concessão da tutela antecipada, mas, também,
pela existência de norma expressa determinando a adoção deste procedimento.

VII – DO REQUERIMENTO DE EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO AO SETOR DE


REATIVAÇÃO DE PRONTUÁRIOS DO DETRAN E DE FIXAÇÃO DE PRAZO,
COM CULMINAÇÃO DE ASTREINTES, PARA CUMPRIMENTO DA MEDIDA
LIMINAR

Na oportunidade, cumpre registrar a triste informação de que o DETRAN tem


realizado com demora injustificável o cumprimento das medidas liminares.

A referida demora, pelo que este Procurador tem verificado, tem ocorrido por
morosidade da Procuradoria do Estado em repassar cópia da ordem judicial ao DETRAN, ou
por morosidade da assessoria jurídica deste órgão de trânsito em repassar a referida ordem ao
setor de reativação de prontuários de CNH, cujo funcionário responsável, atualmente, atende
pelo nome de Donizete.

Registre-se, ainda, que a maior parte dos funcionários do DETRAN nega atendimento
ao advogado, ora imputando a responsabilidade pelo cumprimento da medida judicial a
setores diversos, num “jogo de empurra-empurra”, ora afirmando categoricamente que não
recebem advogado.

Só para se ter uma idéia da gravidade da situação, da última vez que este Procurador
esteve no DETRAN, ocorreu que o ofício da Justiça determinando uma reativação de
prontuário estava há meses no armário de um funcionário da assessoria jurídica, o qual,
questionado sobre o andamento da reativação determinada, disse que a decisão judicial estava
errada e que o Procurador que a esta subscreve sabia menos de direito do que ele, pois
supostamente era mestre na área.

Portanto, Excelência, é considerável a possibilidade de que a morosidade em comento


possa estar decorrendo de pura prevaricação e manifesto intento de descumprir a ordem
judicial emanada.

Sendo assim, este Procurador suplica a Vossa Excelência que, a par da intimação
pessoal do Estado de Minas Gerais, acerca de liminar deferida, que seja encaminhado ofício
endereçado ao setor de reativação de prontuário de CNH, sem que seja necessário perpassar
pelo longo e burocrático trâmite atual de cumprimento das liminares, trâmite este que
atualmente consiste no encaminhamento da ordem judicial à Procuradoria do Estado de Minas
Gerais, do repasse da ordem por parte desta à assessoria jurídica do DETRAN, a qual, por sua
vez, encaminha, quase sempre com injustificável atraso, a ordem ao setor de reativação de
prontuários de CNH.

Pede-se, ainda, que seja fixado desde já prazo para cumprimento da medida, bem
como que seja fixada multa por dia de atraso, tudo isso em nome da dignidade da Justiça e da
efetividade das decisões judiciais.

VIII - DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

Dispõe o caput do art. 4º, da Lei 1060/50, que:


a parte gozará dos benefícios da assistência judiciária, MEDIANTE SIMPLES
AFIRMAÇÃO, na própria petição inicial, de que não está em condições de
pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo próprio
ou de sua família.

Por fim, cumpre salientar, que a jurisprudência majoritária tem sido enfática no sentido
de afirmar o seguinte:

"PROCESSUAL CIVIL. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.


COMPROVAÇÃO DA HIPOSSUFICIÊNCIA.DESNECESSIDADE. LEI Nº
1.060/50, ARTS. 4º E 7º. 1. A Constituição Federal recepcionou o instituto da
assistência judiciária gratuita, formulada mediante simples declaração de
pobreza, sem necessidade da respectiva comprovação. Ressalva de que a parte
contrária poderá requerer a sua revogação, se provar a inexistência da
hipossuficiência alegada . 2. Recurso conhecido e provido." (REsp nº 200.390/SP,
Rel. Ministro EDSON VIDIGAL , DJU 04.12.2000).
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. BENEFÍCIO DA JUSTIÇA
GRATUITA. PESSOA FÍSICA: À concessão da gratuidade judiciária basta a
simples declaração de necessidade da parte (Lei 1060/50, art. 4º) . Precedentes
deste Tribunal e do Superior Tribunal de Justiça. PESSOA JURÍDICA: O feito veio
instruído com documentação suficiente para concessão do benefício pleiteado.
Mesmo tratando-se o recorrente de pessoa jurídica é admitida tal possibilidade.
Precedentes do STJ. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. (Agravo de
Instrumento Nº 70037690526, Décima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Luiz Roberto Imperatore de Assis Brasil, Julgado em 22/07/2010).
Portanto, uma vez que é pobre no sentido legal, conforme faz prova declaração de
hipossuficiência em anexo, redigida nos termos do artigo 4º da Lei 1050/60, a parte Autora
repousa na expectativa de que a assistência judiciária gratuita lhe será deferida, haja vista
cumprir integralmente os requisitos necessários à sua concessão.

IX - DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Por todo o exposto, a parte Autora pede e requer a Vossa Excelência o que se segue:

1- que seja deferida medida liminar, “inaudita altera pars”, determinando


ao Réu que proceda à reativação do prontuário de CNH da parte Autora, possibilitando a esta,
deste modo, renovar tal documento, após o cumprimento das praxes legais;
2- que, a par da intimação pessoal do Estado de Minas Gerais, acerca
de liminar deferida, que seja encaminhado ofício endereçado ao setor de reativação de
prontuários de CNH (funcionário Donizete), para que este proceda a reativação
ordenada, no prazo máximo de 72 horas, sob pena de multa diária de R$ 500,00, por dia
de atraso, sem prejuízo da configuração do crime de desobediência;
3- ao final, que Vossa Excelência dê procedência ao pleito autoral,
confirmando a medida liminar, acaso concedida, declarando a nulidade da cassação da
permissão para dirigir da parte Autora, haja vista que a multa descrita na segunda lauda desta
petição é de cunho meramente administrativo, não podendo, portanto, servir de instrumento
para aferir a capacidade do motorista no que diz respeito à condução de veículos NO
trânsito. Que seja oficiando, ainda, o DETRAN/MG da r. decisão para que este proceda à
reativação do prontuário de sua CNH, possibilitando-lhe renovar tal documento, após o
cumprimento das praxes legais;
4- que o pleito autoral seja julgado procedente, ainda, para condenar o Réu
ao pagamento de danos morais no valor de R$ 32.000,00 (trinta e dois mil reais) à parte
Autora;
5- que lhe sejam deferidos os benefícios da assistência judiciária gratuita,
por ser pobre no sentido legal, conforme faz prova a cópia da declaração de hipossuficiência
em anexo, redigida nos termos do artigo 4º, da Lei 1060/50.
6- Provará o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos.

Dá-se a causa o valor de R$ 32.000,00 (trinta e dois mil reais).

Nestes termos,
pede deferimento.

Belo Horizonte, 04 de Fevereiro de 2015

_____________________________
Adriano Pereira da Silva
OAB/MG-129.460

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