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Distúrbios Alimentares - Enfoque Junguiano
Distúrbios Alimentares - Enfoque Junguiano
A NYARA MENEZES
LASHERAS
Dafne era uma ninfa que foi objeto de intenso interesse por parte de Apolo.
Quando ele tentou aproximar-se dela, ela continuou caminhando como se nada
estivesse acontecendo, nem ao menos lhe dirigiu um olhar. Ele tenta falar com ela,
mas ela não lhe dá ouvidos e decide fugir, correndo sem parar. Quando chega perto do
rio Peneu (que é seu pai) lhe implora que retire dela toda beleza. Então, ele a
transforma num loureiro. Apolo, então a arranca do chão e a coloca em seu jardim e
transforma suas folhas em sua coroa.
Dafne, portanto, não é uma heroína, ou seja, não consegue fazer uma escolha
consciente, visto que ela dá as costas a Apolo (que representa o animus, a consciência
solar, a discriminação) e assim se mantém indiferenciada e eternamente cativa
daquele que rejeitou.
Este mito retrata que a ferida no feminino foi causada por uma conturbada
relação mãe-filha, pois Dafne busca ajuda do pai. Têm-se mitos que falam da ferida
causada pelo pai.
Neste mito observa-se o intenso e neurótico vínculo entre mãe e filha. Enquanto
Core, a eterna jovem, vemos a mulher que está entrando para o estágio de transição
para a fase adulta, mas teme fazer a passagem, assumir as responsabilidades – por
isso é comum a anorexia nervosa apresentar-se na adolescência – do crescer, da
escolha vocacional ou profissional, da sua sexualidade. Zeus, um pai passivo ou
ausente, concorda com o rapto. Isto é o que faz a anoréxica mostrar-se uma jovem
fria, perfeccionista, rígida, crítica demais, e a impede de relacionar-se adequadamente
com as pessoas que a cercam. É o Arquétipo do Pai que não foi bem elaborado.
No Hades ela não deve comer, comer significa desistir de voltar para o mundo
da mãe – proteção, ausência de responsabilidades, acomodação, passividade. Crescer,
ir para o Hades é ter que abandonar o paraíso. O mundo materno é esse paraíso. Core
não cuida, precisa de cuidados. Já como Perséfone ela deverá aprender a cuidar de si
mesma. Descer ao Hades é mergulhar no seu mundo interior e descobrir-se, assumir
sua própria identidade. Mas a Perséfone, antes de comer os grãos de romã, é aquela
que não permite ser nutrida e não nutri a si própria (como fazem as anoréxicas).
O mito do Herói, que utiliza o Arquétipo do Herói, pode ser empregado para
amplificar a simbologia nos quadros de obesidade masculina. Saliento que o Arquétipo
do Herói é constelado por homens e mulheres, e que tratarei do quadro de obesidade
masculina visto que a anorexia nervosa e a bulimia são pouco freqüentes na população
masculina.
O herói é descrito, via de regra, como sendo filho de pessoas ilustres, de reis,
de deuses com humanos, ou é o próprio rei. Desde o seu nascimento, é marcado por
situações desafiadoras para sua própria sobrevivência. É órfão, por falecimento ou por
ter sido abandonado pelos pais ou por um deles, em razão de alguma ameaça
profetizada, antes mesmo de seu nascimento. Então, é acolhido por outra família,
geralmente, muito humilde, e, acaba por se destacar por alguma habilidade. Então,
acaba por descobrir sua progênie e se dá início a jornada de reconquista da sua
identidade, retornando ao local de origem, retaliando o vilão ou seu pai, salvando a
donzela ou vítima e conquistando sua própria soberania. Mas, de um modo geral, deve
morrer em seguida, para assim ser declarado herói.
"O Inocente e o Órfão dão início à ação: o Inocente vive no estado de graça
anterior à queda; o Órfão enfrenta a realidade da Queda. Os próximos estágios
constituem estratégias para viver no mundo depois do pecado original: o Nômade
inicia a tarefa de se perceber separado dos outros; o Guerreiro aprende a lutar para se
defender e mudar o mundo segundo sua própria imagem; e o Mártir aprende a dar, a
confiar e a sacrificar-se pelos outros. Assim, a progressão vai do sofrimento para a
autodefinição, para a luta, para o amor." (Pearson, 1994, p. 29).
O Nômade é o arquétipo daquele que parte sozinho para explorar o mundo. Vai
à busca de aventuras ou de um tesouro perdido. Na verdade, esse é o momento que
define o início da jornada rumo a si mesmo, pois aliado à aventura, tem-se o
recolhimento interior. Ao desbravar o mundo, o Nômade identifica seus "dragões" e
"vilões", e, então, precisa passar para o estágio de Guerreiro para lutar contra eles. É
o arquétipo do Guerreiro, que melhor é identificado com o herói ou com o
heroísmo. Quando se fala em herói, equaciona-se o Guerreiro.
O Nômade é quando o rapaz volta-se para seu mundo interno e busca por seus
próprios valores; aqui ele deve identificar seus monstros e vilões. O detonador dessa
fase é a busca por relacionamentos, a sexualidade e a escolha vocacional e
profissional.
O Guerreiro vai lutar com os monstros e vilões; a velha e árdua batalha por
desvincular-se do mundo dos pais.
E por fim, o Mago, estágio em que o jovem torna-se único; já lutou com seus
monstros e vilões e ganhou sua identidade adulta, sua auto-estima foi otimizada, já
possui autoconfiança. Descobriu que o excesso de peso, além de não torná-lo mais
forte ainda o fazia sentir-se mais frágil e inadequado, tanto física como
psicologicamente.
Referencias Bibliográficas:
BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. Vol. I e II. Petrópolis, Vozes, 1997.