Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Docente. Disciplina de Nefrologia. Departamento de Clínica Médica. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP.
CORRESPONDÊNCIA: Av Bandeirantes, 3900, CEP 14048-900 - Ribeirão Preto - SP - email: ebcoelho@fmrp.usp.br - Fone: 16-602-2543 /
Fax: 16- 633-6695
COELHO EB. Mecanismos de formação de edemas. Medicina, Ribeirão Preto, 37: 189-198, jul./dez. 2004
RESUMO: Edema é definido como acúmulo de fluido no espaço intersticial. Nesta revisão,
discutem-se os mecanismos formadores de edemas localizados e dos grandes edemas (gene-
ralizados), assim como aspectos semiológicos, empregados em seu diagnóstico diferencial.
São detalhados os mecanismos patofisiológicos dos edemas cardíaco, cirrótico e renal
(síndromes nefrítica e nefrótica) com destaque para as alterações dos mecanismos de controle
do volume arterial efetivo.
189
Coelho, EB
A Figura 1 esquematiza o equilíbrio de Starling bações nos mecanismos de controle do volume extra-
no nível do leito capilar. Em condições fisiológicas, celular. Nesse caso, haverá aumento do volume ex-
espera-se que a pressão hidrostática, na extremidade tracelular e do peso corpóreo. O aparecimento de ede-
arteriolar do leito capilar, seja maior que a pressão ma é conseqüência de alterações na homeostase do
oncótica do plasma. Esse gradiente de pressão faz sódio e da água(2,3). Como só acontece em Biologia e,
com que haja fluxo de fluido do compartimento intra- portanto, também na patofisiologia das doenças, os
vascular para o interstício. Ao longo do capilar, a pres- processos (mórbidos) são multifatoriais, ou seja, vários
são hidrostática se reduz de forma significativa. Em fatores atuam simultânea e conjuntamente para de-
adição, a saída do fluido intravascular faz com que a sencadear um determinado quadro patológico. O ede-
concentração de proteínas intracapilares se eleve, o ma não foge à regra. Assim, cada caso de edema re-
que acarretará um discreto aumento da pressão on- sulta da composição de um ou vários fatores daqueles
cótica. Assim, somados esses fatores, ocorrerá inver- mostrados na Figura 1 e na 2. Na dependência de tais
são do gradiente de pressão na extremidade venosa fatores, ficam caracterizados os edemas como: cardí-
da rede capilar, ou seja, a pressão oncótica tornar-se- aco, renal, cirrótico ou nutricional - grupados nesses
á maior que a pressão hidrostática. O eventual exces- nomes, porque, além das características patofisiológicas
so de líquido no espaço intersticial será drenado atra- próprias de cada grupo, apresentam também etiologia
vés dos vasos linfáticos. específica, daí a denominação.
Perturbações nas variáveis que regem o equilí- Na Figura 2, encontram-se resumidas as prin-
brio de Starling poderão ocasionar edema. Caso ocor- cipais alças fisiológicas de controle do volume extra-
ram em um território capilar restrito, haverá formação celular, que atuam no sentido da retenção de sódio.
de edema localizado. Os grandes edemas envolvem, Apenas para não tornar a figura muito complexa, es-
geralmente, alterações sistêmicas mais complexas, tão omitidas algumas alças natriuréticas, como o fator
sendo ocasionados, na maioria das vezes, por pertur- natriurético atrial (FAN), as prostaglandinas, as cininas
Figura 1- Forças que controlam o fluxo de fluído no leito capilar. Pc=pressão hidrostática capilar; c=pressão oncótica capilar;
Kf=coeficiente de filtração; p e =diferença artériovenosa da pressão hidrostática e oncótica.
190
Mecanismos de formação de edemas
e o óxido nítrico, assim como o hormônio antidiurético Starling), que, por sua vez, depende do tônus das gran-
(HAD). Observe que os principais sistemas de regu- des veias e, principalmente, do volume de sangue in-
lação, ou seja, o sistema nervoso autônomo simpático travascular. A redução do VSAE ativará os mecanis-
(SNAS) e o sistema reninangiotensina-aldosterona mos de controle de volume no sentido da retenção
(SRAA) atuam ou dependem do envolvimento renal. renal de água e sódio. Conforme detalharemos em
Os rins são, dessa forma, não só o principal efetor no seguida, as síndromes dos grandes edemas são acom-
balanço de água e sódio, mas, também, um importante panhadas de alterações do VSAE ou do seu principal
sensor, levando ao SNC informações sobre o volume órgão regulador, os rins.
extracelular através das aferências nervosas. Em adi-
ção aos sensores de volume e pressão, localizados nas 3- ASPECTOS SEMIOTÉCNICOS
arteríolas aferentes, a mácula densa também é um
importante sensor da concentração de sódio no inte- Uma história clínica e um exame físico cuida-
rior dos túbulos renais e, em conjunto com o SNAS, doso são suficientes, na maioria dos casos, para o es-
controla a liberação de renina do aparelho justaglo- clarecimento diagnóstico em pacientes com edema.
merular renal. A Figura 2 introduz, ainda um impor- O primeiro passo a ser dado visa à busca de pistas
tante conceito no entendimento da formação dos diagnósticas para a identificação de edemas localiza-
edemas generalizados. Trata-se do volume de sangue dos ou generalizados. As Tabelas I, II e III resumem
arterial efetivo (VSAE), um parâmetro de difícil men- os principais pontos a serem explorados para se atin-
suração, que representa o volume de sangue neces- gir esse objetivo. Em adição, as Figuras 4 e 5 ilustram
sário para manter o retorno venoso, a perfusão tecidual exemplos de edemas localizados. Entretanto, dois as-
e o débito cardíaco dentro dos valores normais. O pectos são passíveis de comentários mais detalhados.
VSAE depende do volume de sangue ejetado pelo O primeiro relaciona-se à importância da aferição se-
coração (volume sistólico), que é diretamente influen- qüencial do peso corporal. Edemas generalizados são
ciado pelo retorno venoso ao átrio direito (lei de Frank- acompanhados do aumento do peso e esse é um im-
Figura 2 - Vias relacionadas com a retenção de sódio para o controle do volume arterial efetivo
191
Coelho, EB
portante parâmetro para avaliação da eficácia tera- ção, a intensidade máxima (++++) é atribuída a edemas
pêutica. Estima-se que sejam necessários cerca de 4 que formam depressões maiores ou iguais a uma pol-
a 5% de aumento do peso corpóreo para que o edema pa digital. Uma segunda informação pode ser obtida,
seja clinicamente detectável. O segundo comentário observando-se o tempo necessário para o desapareci-
refere-se ao sinal do cacifo ou de Godet (Figura 3). mento da depressão após a remoção da compressão
Esse sinal é realizado, comprimindo-se a região pré- digital. Caso a depressão desapareça em um tempo
tibial com o polegar por cerca de 10 seg e observan- menor que 15 seg, suspeita-se de baixa pressão oncó-
do-se se há formação de depressão. A profundidade tica, ou seja, hipoalbuminemia. Tempos maiores que
da depressão pode ser comparada com escala de cru- esse sugerem edema secundário ao aumento da pres-
zes, variando de + a ++++. Para efeito de compara- são hidrostática (4).
Hipertensão Arterial,
Urina I (Hematúria, C ilindros)
Síndrome N efrítica Alta Ph Hematúria
C reatinina e Uréia Elevadas (Azotemia)
IRA (Leito C apilar) O liguria,
Eletrólitos (K + , N a+ )
N áuseas
Baixa c
Tempo de Protrombina, Bilirrubinas,
Alto K f
C irrose Hepática Vide Tabela V Enzimas Hepáticas, Ultrasom
Alta Ph
Abdominal, Albumina, Endoscopia
Baixo VSE
Edema Assimétrico e
Linfedema O bstrução Linfática C ausa Base
Duro. Gânglios
Antagonistas C álcio Vasodilatação Arteriolar (Alta Ph) Edema Simétrico, Indolor Tornozelos
192
Mecanismos de formação de edemas
Figura 4: Edema localizado em trombose venosa, profunda, de membro inferior esquerdo. Note a assimetria do
edema e a alteração da coloração da pele (cianose).
193
Coelho, EB
Edema Nefrítico
Nas síndromes nefríticas agudas, das glomeru-
lonefrites agudas, por exemplo, que se manifestam com
edema, hematúria, hipertensão - sem proteinúria im- Figura 6: Mecanismos formadores de edema na Síndrome
Nefrítica e na Insuficiência Renal Aguda.
portante (acima de 3,5 g/dia) - a causa fundamental
do edema é a redução da taxa de filtração glomerular
(TFG). Essa queda da filtração pode ser discreta em Edema Nefrótico
alguns pacientes (com creatinina sérica normal), mas
pode ser mais grave em outros, sendo que alguns fi- Sempre que uma doença renal tiver a presença
cam até anúricos (necessitando diálise). O edema é de lesões específicas da membrana basal glomerular
tão mais grave quanto maior for a redução da TFG, e/ou dos pedicelos das células epiteliais glomerulares,
pois, como conseqüência desta, ocorrerá uma dimi- haverá um aumento da permeabilidade glomerular às
nuição muito acentuada da carga filtrada de sódio macromoléculas. Nessas condições, as proteínas
194
Mecanismos de formação de edemas
plasmáticas são filtradas em grandes quantidades e a senta um efeito diluidor das proteínas plasmáticas,
perda urinária (proteinúria) ultrapassa 3,5 g/24 h. Cli- agravando a redução da pressão oncótica do plasma
nicamente, manifesta-se por urina espumosa (protei- e reciclando o estímulo à formação de edema.
núria) e edemas. Esse é um quadro que pode estar Clinicamente, o edema renal caracteriza-se pela
presente nas manifestações de várias doenças, por- localização facial, particularmente com a presença de
tanto é chamado de Síndrome Nefrótica. O edema edema palpebral - é um edema matinal, que tende a
reflete a redução na pressão oncótica do plasma, o dissipar-se com o correr do dia - além do inchaço de
que irá acarretar uma menor reabsorção do fluido in- membros inferiores, que (ao contrário) se exacerba
tersticial, na extremidade venosa do leito capilar. A com o passar das horas, constituindo um edema ves-
Figura 7 mostra, esquematicamente, as alterações pre- pertino. Pacientes nefróticos com albumina plasmáti-
sentes na síndrome nefrótica, responsáveis pelo ede- ca muito baixa podem apresentar edema generaliza-
ma. A hipoproteinemia, resultante da perda urinária do, intenso e extenso (anasarca), inclusive com derra-
de proteínas, é agravada pelo catabolismo aumentado mes cavitários (serosites: ascite, derrames pleural e/
da albumina, que acontece na síndrome nefrótica. A ou pericárdico).
redução da pressão oncótica do plasma, resultante da
hipoproteinemia, por si só, leva ao aparecimento de 4.2- Edema Cardíaco
edema. Além disso, pode provocar contração do vo- Fundamentalmente, o que leva à formação desse
lume intravascular, que pode acarretar redução do edema é a queda do débito cardíaco, em conseqüência
débito cardíaco (redução da pré-carga) e conseqüen- da falência do miocárdio. Como resultado, eleva-se a
te redução da perfusão renal. Esta, por sua vez, leva à pressão venosa sistêmica ao mesmo tempo em que se
ativação do SRAA, reduzindo a excreção renal de reduz o volume arterial efetivo de sangue (VAES). O
sódio. A queda da pressão arterial ou do volume volume de sangue, que banha os átrios cardíacos, o
plasmático pode, ainda, estimular a liberação de hor- ventrículo esquerdo (VE), o arco aórtico, o seio caro-
mônio antidiurético, que irá provocar retenção de água tídeo e a arteríola aferente renal, é crítico para o con-
e hiponatremia. Nessas condições, haverá maior re- trole da volemia, pois esses são segmentos providos
absorção de Na+ e de água pelos túbulos renais, com de receptores de volume e pressorreceptores que acu-
retenção de sódio e água. Quando houver maior ativi- sam um maior ou menor enchimento do lado arterial
dade antidiurética, poderá ocorrer retenção de água da circulação. Desse modo, fala-se em repleção vas-
(livre de solutos), que promoverá diluição do extrace- cular, overfilling, ou depleção vascular arterial,
lular, causando hiponatremia. Esse fluido retido repre- underfilling(6). Assim, neste texto, quando se fala em
redução do volume arte-
rial efetivo de sangue
(VAES), entende-se um
enchimento deficiente do
leito vascular arterial; ex-
pansão do VAES corres-
ponderá a um enchimen-
to supérfluo do leito car-
diovascular arterial.
A Figura 8 mostra
que a queda do débito car-
díaco (DC) na insuficiên-
cia cardíaca congestiva
(ICC) acarreta uma ele-
vação da pressão venosa
sistêmica e distúrbio do
equilíbrio das forças de
Starling nos capilares pe-
Figura 7: Mecanismos formadores de edema na Síndrome Nefrótica. riféricos. Prevalecendo a
pressão hidráulica intra-
195
Coelho, EB
vascular na extremidade
venosa do capilar, fica di-
ficultado o retorno do lí-
quido intersticial para o
capilar, e água acumula-
se no interstício. Essa re-
distribuição do fluido ex-
tracelular concorre para a
formação de edemas. A
figura mostra, ainda, que
outra conseqüência da
queda no DC é a diminui-
ção do VAES, ou seja,
ocorrerá um enchimento
deficiente do leito vascu-
lar arterial, com sensibili-
zação de volumerrecepto-
res e/ou pressorreceptores
(Figuras 2 e 8). Essas fi- Figura 8: Mecanismos formadores de edema na Insuficiência Cardíaca Congestiva.
guras, apesar de comple-
xas no seu aspecto (devi-
do ao caráter multifatorial
da patofisiologia do edema), ajudam a entender a inter- 4.3- Edema Cirrótico
relação existente entre os vários fatores envolvidos
no mecanismo de formação dos edemas. A Figura 2 Assim como comentado para a insuficiência
mostra a importante participação do sistema reninan- cardíaca congestiva, a cirrose hepática também será
giotensinaldosterona, levando à retenção renal de sódio. acompanhada de uma série de achados clínicos que
Além disso, a retenção de água, desacompanhada de facilitam seu diagnóstico diferencial (Tabela IV). O
soluto (água-livre) - por ação do HAD - pode levar à processo cirrótico - resposta hepática a vários tipos
diluição do sódio plasmático (hiponatremia). de agressão que leva à fibrose e regeneração nodular
Clinicamente, é um edema gravitário por ex- do fígado - afeta a função hepática em conseqüência
celência, por causa da pressão venosa elevada nas do que descrevemos a seguir:
extremidades e, portanto, acentua-se com a ortostase, a) Alterações do funcionamento dos hepatócitos por
no correr do dia (edema vespertino). Apesar da patofi- causa das lesões celulares (necrose, proliferação),
siologia complexa, o reconhecimento da insuficiência comprometendo, assim, a síntese de albumina.
cardíaca é relativamente simples devido à pletora de b) Destruição da arquitetura lobular, canalicular e vas-
achados físicos e a sua evolução clínica. Assim, em cular, levando a distorções estruturais, que dificul-
um paciente com edema generalizado, o diagnóstico tam o livre fluxo de sangue e linfa nos sinusóides
de insuficiência cardíaca é realizado na presença de hepáticos - resultado disto é o aumento da pressão
história de dispnéia progressiva, que se inicia aos gran- no território venoso (portal) e linfático (intra-hepá-
des esforços e culmina com ortopnéia; a presença de tico), que se conhece por hipertensão portal. Essa
episódios de dispnéia paroxística noturna; as queixas dificuldade de trânsito venoso através do fígado
de nictúria, hemoptise, tosse ou cianose; os antece- faz com que o sangue busque vias alternativas de
dentes pessoais de doenças cardíacas (Chagas, doen- tráfego, forçando o aparecimento de circulação
ça isquêmica do miocárdio, miocardiopatias, hiperten- colateral venosa, que promoverá um aumento da
são arterial e febre reumática entre muitas outras) e capacitância (venosa) esplâncnica, acarretando
aos achados do exame físico (taquicardia com ritmo “aprisionamento” de sangue no território mesenté-
de galope, 3° bulha, desvio do ictus cordis, estase ju- rico. Esse sangue, seqüestrado no leito venoso “am-
gular, estertores pulmonares crepitantes, derrame pliado”, irá prejudicar o enchimento vascular arte-
pleural e hepatomegalia). rial underfilling, causando redução do volume efe-
196
Mecanismos de formação de edemas
tivo de sangue com todas as conseqüências mos- vascular periférica, há redução do VAES e ativa-
tradas na Figura 2. Além disso, como ilustra a Fi- ção dos mecanismos de controle de volume extra-
gura 9, a hipoalbuminemia provocada pela defici- celular (Figura 2) no sentido de retenção renal de
ente síntese de albumina reduz a pressão oncótica água e sódio. Nesse sentido, são sólidas as evidên-
do plasma e concorre para a formação do edema. cias que mostram uma hiperatividade simpática e a
c) Formação de shunts arteriovenosos. A insuficiên- ativação do SRAA, com conseqüente hiperaldos-
cia hepática é acompanhada de um tônus vascular, teronismo secundário, em pacientes cirróticos com
deslocado para uma condição de relaxamento de- ascite(7).
vido à redução do metabolismo de várias substân- A existência de hipertensão portal torna o terri-
cias vasodilatadoras e ao aumento da produção de tório esplâncnico mais vulnerável na presença de hi-
óxido nítrico. Assim, com a redução da resistência poalbuminemia, daí a ocorrência de transudação líqui-
da para a cavidade peritonial, formando ascite com
maior exuberância nos pacientes cirróticos - que é uma
Tabe la IV: Principais achados clínicos e m pacie nte s das características clínicas desse tipo de edema.
cirróticos .
Icterícia 5- CONCLUSÕES
Eritema Palmar
Essencialmente, a análise dos mecanismos for-
Encefalopatia Hepática madores de edema é um estudo da regulação dos vo-
Hálito Hepático lumes líquidos do corpo e de seu controle pela excre-
Equimoses ção renal de Na+ (e água) (7). Assim, necessariamen-
Hematêmese/Melena te, a patofisiologia dos edemas é complexa e multifa-
Esplenomegalia torial, como já foi dito. É fundamental que o médico
Aranhas Vasculares (Spiders) conheça bem esses mecanismos para saber atuar ade-
quadamente no tratamento dos vários tipos de edema,
Hipotrofia Muscular
em que o único ponto comum é o uso de diuréticos (8).
Alopecia, Ginecomastia e Atrofia Testicular (Homens)
Fogem a essa regra duas doenças não abordadas nes-
Ascite sa revisão, o hipotireoidismo e a desnutrição protéica
Circulação Colateral ("Cabeça de Medusa") conhecida como Kuashiorkor. No hipotiroidismo há a
formação de um edema duro,
denominado de mixedema, se-
cundário as alterações das gli-
cosaminaglicanas do compar-
timento intersticial. Pacientes
com hipotireoidismo, apresen-
tam uma gama de sinais e sin-
tomas sistêmicos, que possi-
bilitam o diagnóstico diferen-
cial. O tratamento, nesse caso,
deverá ser feito com a repo-
sição dos hormônios tireoidea-
nos. A desnutrição protéica
causa edema por hipoalbumi-
nemia e vem acompanhada de
uma série de outros sinais e
sintomas, incluindo alteração
da coloração dos cabelos, défi-
cit de crescimento e associa-
Figura 9: Mecanismos formadores de edema na Cirrose Hepática ção com outras deficiências
de vitaminas e oligoelementos
197
Coelho, EB
com quadro clínico variável. O tratamento - uma nu- sidratações é também um exercício em fisiologia, ago-
trição adequada – ultrapassa as barreiras da Medici- ra da regulação da concentração osmótica do extra-
na e, infelizmente, parece ser de difícil resolução. celular, com menor participação da regulação do volu-
Se o estudo dos edemas constitui-se num exer- me. Desidratações e edemas estão entre as manifes-
cício de fisiologia da excreção renal de Na+ e da regula- tações mais freqüentes dos desequilíbrios hidroeletro-
ção do volume dos líquidos do corpo, o estudo das de- líticos e são, portanto, de grande importância clínica.
COELHO EB. Mechanisms of edema formation. Medicina, Ribeirão Preto, 37: 189-198, july/dec. 2004.
ABSTRACT: Edema is defined as liquid accumulation in the interstitial space. In this review,
the mechanisms of localized and generalized edema formation were discussed as well as
semiologic aspects used in approach to its differential diagnosis. The pathophysiologic
mechanisms of the cardiac, cirrhotic and renal (nephritic and nephrotic syndromes) edemas
were detailed highlighting the alterations of the mechanisms of control of the effective arterial
volume.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 5 - COSTA JAC; VIEIRA NETO OM; RAMOS FILHO R; COELHO
EB; DOMINGUEZ GCS & COIMBRA TM. Distúrbios do equilíbrio
1 - STARLING, EH. Physiologic forces involved in the causation hidroeletrolítico e insuficiência renal aguda. Medicina, Ri-
of dropsy. Lancet 1: 1267-1270, 1896. beirão Preto 24: 452-457 1992.
2 - BERNARD, C. Leçons sur les phénoménes de la vie, commun 6 - SCHREIER, RW. Body fluid volume regulation in health and
aux animaux et aux végétaux. Bailliére, J B et Fils, Paris, disease: A unifying hypothesis. Ann Intern Med 113:155-
1885. 159,1990.
3 - CANNON, W B. The wisdom of the body. New York, Norton, 7 - DUDLEY FJ. Pathophysiology of ascites formation.
p.37-40, p.77-97, 1939. Gastroenterol Clin North Am 21: 215-235,1992.
4 - DISKIN CJ; STOKES TJS; DANSBY LM; CARTER TB; RADCLIFF 8 - FURTADO MR. Mecanismos de formação de edemas. Medi-
L & THOMAS SG. Towards an understanding of oedema. cina, Ribeirão Preto 27: 49-55, 1994.
BMJ 318: 1610-1613, 1999.
198