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20/03/2019 Educação, escrita e combate ao plágio

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Educação, escrita e combate ao plágio
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Alessandra Junho Gama Belo [1]

Ana Terra Mejia Munhoz [2]

O tema do plágio gera crescentes inquietações quanto à ética e honestidade na escrita. O plágio é um desvio
de autoria, pois consiste na apropriação indevida de ideias ou palavras sem que se dê crédito ao autor
original; ele desrespeita, de um lado, o direito do autor de ser reconhecido por seu trabalho e, de outro, a
expectativa do leitor de acessar um texto inédito (DINIZ e MUNHOZ, 2011).[3],[4]

No Brasil, a preocupação ética com esse tema tem inspirado ações de distintas entidades. Entre 28 de maio e
1° de junho de 2012, realizou-se o II Encontro Brasileiro de Integridade em Pesquisa, Ética na Ciência e em
Publicações (Brispe), nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, com o apoio de organizações
como CNPq, OAB, Ibict, Fapesp e SBPC. Entre as questões consideradas na Declaração Conjunta sobre
Integridade em Pesquisa do Encontro (2012, p. 556), está seguinte recomendação:

Que as instituições do país [...] conscientizem os alunos que o plágio é uma violação
acadêmica, seja no ensino fundamental, ensino médio ou universitário. As
instituições de ensino e pesquisa do país devem fornecer materiais educativos que
mostrem que o plágio em monografias, dissertações e teses também é, além de
violação acadêmica, uma prática ilegal no Brasil.

Além disso, o CNPq, a Capes e a OAB têm se manifestado a respeito do plágio e outras fraudes, como a
compra e venda de trabalhos acadêmicos — que, embora também constitua uma infração ética, não equivale
ao plágio, pois não há cópia, e sim a violação de um dever de autoria do estudante que paga para que
alguém faça seu trabalho. A OAB (2010) divulgou o documento Proposta de Adoção de Medidas para
Prevenção do Plágio nas Instituições de Ensino e do Comércio Ilegal de Monografias, de autoria do
advogado e professor universitário Ricardo Bacelar Paiva. O CNPq (2011) publicou, em seu site, diretrizes
para garantir a integridade acadêmica e a qualidade do trabalho científico. E a postura da Capes (2011, p. 1),
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por sua vez, foi reforçar as orientações dadas no documento da OAB, entre elasa conscientização de
estudantes sobre propriedade intelectual, a fim de coibir o plágio.O texto da OAB sugere, ainda, medidas
como a adoção de softwares de detecção de plágio e a criação de comissões específicas para avaliar
possíveis casos de cópia indevida.

Esse posicionamento da OAB, do CNPq, da CAPES e dos membros participantes do grupo de trabalho do II
Brispe vai ao encontro do que é defendido por Munhoz e Diniz (2011, p. 54), para quem

estratégias como o uso de softwares caça-plágio e a instauração de comissões de


especialistas são, talvez, inevitáveis para o controle do plágio; entretanto, esse não
deve ser o objetivo das universidades, dos centros de pesquisa e dos editores de
periódicos. Antes, apostamos numa postura ética de prevenção ao plágio, por dois
caminhos: no campo da ciência, por meio do rigor na exigência de respeito às
normas da comunicação científica, bem como [...] da comunidade científica como
próprio sistema de controle; e no campo educacional, por meio da adoção de uma
cultura de formação ética, que abranja estratégias pedagógicas valorizadoras da
honestidade acadêmica.

Quando se trata de textos públicos, como artigos de periódico, livros e dissertações ou teses, em que se
pressupõe um autor familiarizado com as regras da comunicação científica, remediar o plágio pode envolver
medidas de grande proporção — retratações, processos por possível infração de direitos autorais,
exonerações, humilhação pública.Casos ocorridos no Brasil e no exterior registram desde opagamento de
multas por violação de direitos autorais até a perda de títulos devido a publicações contendo plágio.[5] A
consequência inescapável do plágio, porém, é a total perda de crédito e confiabilidade do plagiador perante
seus pares.

Já no ambiente de sala de aula, como entre alunos da educação básica e de graduação, lidar com casos de
cópia por estudantes deve envolver cuidados pedagógicos, especialmente quando se trata de plágio por
ignorância ou domínio incipiente das normas de registro das fontes consultadas. Nesse campo, as infrações
éticas podem ter as mais distintas motivações — desde o desinteresse pela aula e pela atividade proposta até
o desconhecimento das regras básicas de escrita. Nesse contexto, portanto, lidar com o plágio, assim como
com outras infrações textuais, requer medidas mais educativas que, simplesmente, punitivas.A aposta é que
a formação ética de escritores leve à existência de autores cientes das normas de reconhecimento e registro
das fontes.[6]

O combate ao plágio insere-se no debate sobre a dimensão ética da escrita e a integridade acadêmica
(DINIZ, 2008), mas também sobre a própria qualidade da educação. Para garantir que o exercício da
cidadania previsto no art. 2º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, assim como no inciso I do
art. 43 da referida lei, que prevê “o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento
reflexivo”(BRASIL, 2010, p. 35), se torne realidade, é necessário que estudantes, professores,
pesquisadores e poder público se comprometam com a educação ofertada nas salas de aula, desde a
educação básica até os cursos de pós-graduação. Uma das questões fundamentais que isso implica é discutir
a integridade na escrita e prevenir e combater o plágio, tanto entre pesquisadores experientes como entre
estudantes de diferentes níveis de ensino.

REFERÊNCIAS

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BAGNO, Marcos. Pesquisa na escola: o que é, como se faz. 20. ed. São Paulo: Loyola, 2006. 102p.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 5.
ed. Brasília: [Câmara dos Deputados], Coordenação Edições Câmara, 2010. 64p. Disponível em:
<http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/2762/ldb_5ed.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2013.

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq). Relatório da Comissão de


Integridade de Pesquisa do CNPq. 2011. Disponível em: <http://www.cnpq.br/documents/10157/a8927840-
2b8f-43b9-8962-5a2ccfa74dda>. Acesso em: 28 jan. 2013.

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior(CAPES). Orientações Capes: combate ao plágio. Brasília, 4 jan. 2011.

Disponível em: <http://capes.gov.br/images/stories/download/diversos/OrientacoesCapes_CombateAoPlagio.pdf>. Acesso em: 24 jan.

2013.

Declaração conjunta sobre integridade em pesquisa do II Encontro Brasileiro de Integridade em Pesquisa,


Ética na Ciência e em Publicações (II BRISPE),28 Maio-01 de Junho de 2012.Dados, v. 55, n. 2, p. 555-
560, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/dados/v55n2/a09v55n2.pdf>. Acesso em: 26 jan.
2013.

DINIZ, Debora. A ética e o ethos da comunicação científica. In: DINIZ, Debora et al. Ética em
pesquisa:experiência de treinamento de países sul-africanos. 2. ed. rev. ampl. Brasília: LetrasLivres/UnB,
2008. p. 171-180.

______. Carta de uma orientadora: o primeiro projeto de pesquisa. Brasília: LetrasLivres, 2012. 108p.

DINIZ, Debora; MUNHOZ, Ana Terra Mejia. Cópia e pastiche: plágio na comunicação
científica.Argumentum, Vitória (ES), v. 1, n. 3, p. 11-28, jan./jun. 2011. Disponível em:
<http://periodicos.ufes.br/argumentum/article/view/1430/1161>. Acesso em: 26 jan. 2013.

MUNHOZ, Ana Terra Mejia; DINIZ, Debora. Nem tudo é plágio, nem todo plágio é igual: infrações éticas
na comunicação científica.Argumentum, Vitória (ES), v. 1, n. 3, p. 50-55, jan./jun. 2011. Disponível em:
<http://periodicos.ufes.br/argumentum/article/view/1434/1162>. Acesso em: 24 jan. 2013.

ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. Proposta de adoção de medidas para prevenção do plágio
nas instituições de ensino e do comércio ilegal de monografias. Proposição 2010.19.07379-01. 19 de out. de
2010. Origem: Ricardo Bacelar Paiva. Relator: Conselheiro Federal José Norberto Lopes Campelo.
Comissão Nacional de Relações Institucionais do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.
Disponível em: <http://www.ucb.br/sites/000/20/CombatePlagioDocumentoOAB.pdf>. Acesso em: 24 jan.
2013.

PAIVA, Juliana Medeiros. Resenha do livro: "Carta de uma Orientadora: o primeiro projeto de pesquisa". 18 out. 2012. Disponível em:
<http://foiplagio.blogspot.com.br/2012/10/resenha-do-livro-carta-de-uma.html>. Acesso em: 26 jan. 2013.

VASCONCELOS, Sonia. Plágio em ciência. Oficina de divulgação para cientistas. Rio de Janeiro: Instituto
de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 9 dez. 2011. Disponível em:
<http://www.icb.ufrj.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=624&si

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[1]Estudante de Pedagogia da Universidade Federal de Minas Gerais — alessandrabelobh@gmail.com

[2]Linguista e pesquisadora da Anis — Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero. anis@anis.org.br

[3]Se de um lado o plágio é consensualmente considerado uma infração, de outro, defini-lo nem sempre é
tarefa fácil, pois podem existir divergências na sua conceituação (VASCONCELOS, 2011). A complexidade
do tema está não apenas na sua definição, mas também na sua prevenção, correção e punição.

[4]No meio acadêmico, são registradas várias outras infrações relacionadas à autoria, como autoria
fantasma, autoria compadrio, autoria feijoada e autoplágio. Essas práticas, apesar de também serem
violações éticas, não se enquadram no conceito de plágio (DINIZ e MUNHOZ, 2011).

[5]Casos nacionais e internacionais podem ser encontrados no blog Foi Plágio:


www.foiplagio.blogspot.com. Também a página do COPE (Comitê de Ética na Publicação, na sigla em
inglês) divulga uma série de casos discutidos pelo comitê desde sua fundação, em 1997:
http://publicationethics.org/category/keywords/plagiarism.

[6]Como exemplos, citamos dois livros que podem auxiliar professores na conscientização de estudantes
sobre o processo de escrita e o respeito às normas bibliográficas: um é sobre pesquisa na escola, de Marcos
Bagno (2006), voltado para a educação básica; outro é uma carta às orientandas, de Debora Diniz (2012),
voltado para a graduação.Para uma resenha de Diniz (2012), ver Paiva (2012).

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