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editora brasiliens e
• A Linguagem e seu Funcionam ento- Eni P. Orlandi

Coleção Primeiros Passos


• O que é Comunicação - Juan E. D. Bordenave
• O que é Semiótica - Lúcia Santaella
J ocelyn Bennaton

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O UEE
CIBERNÉTICA
1~ edição 1984
4~ edição

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1986
Copyright © Jocelyn Bennaton

Capa e ilustrações:
Ettore Bottini

Revisão:
José G. de Arruda

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Editora Brasiliense S.A.
R. General Jardim, 160
01223 - São Paulo - SP
Fone (011) 231-1422
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ÍNDI CE

- Palavras iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
- Sistemas ...... ...... ...... ...... ...... 15 t

- Máquinas e organismos ...... ...... .... · 42


- Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

PALAVRAS INICIAIS

Muitas vezes as idéias que se tem das coisas


e do mundo a nossa volta estâ'o de tal modo
arraigadas na gente que é impossl'vel imaginá-las
diferentes . No entanto, idéias a gente faz, refaz,
passa adiante ou simplesme nte engaveta. Isto
significa que elas não são coisas acabadas, imu-
táveis, absolutas ou intransferí veis. Como as
trilhas que se abrem no mato, seu valor está no
uso que delas fazemos. E, principalm ente, na
extensão em que elas são compartilh adas com
nossos semelhant es.
Tome-se as variadas concepçõe s que existem a
respeito da criação do mundo.
Para os índios Desana, da Amazônia , por exem-
plo, o criador fez-se a si mesmo a partir de seis
coisas distintas: bancos de sentar, suporte de
panela, cuias, cigarros, coca e tapioca. Para nós
8 Jocelyn Bennaton

parece engraçado e fica-se em dúvida se eles real-


mente acreditam nisto. Porém, crenças como esta
não são nada incomuns.
Nas sociedades ditas primitivas é freqüente
objetos consagrados pelo uso humano prece-
derem o próprio homem nos mitos de criação.
Para os Mali, da África, a matéria-prima do uni-
verso é uma imensa gota de leite. No fantástico
mito Wapangwa, é .o excremento das formigas e
assim por diante. Diz-se que estas descrições ser-
vem para caracterizar tais objetos como símbolos
tangíveis da unidade entre o cotidiano da tribo e
uma realidade cósmica que a transcende.
Algo mais familiar agora. Nos versículos do
Genesís que antecedem à origem do homem, não
há menção a nenhum utensílio doméstico. Deus
criou o homem lido barro da terra" e ele, por
se atrever a "ser como os deuses", foi
expulso dos jardins do Éden. Só após romper
esta id flica e breve comunhão com a natureza
é que o homem "comerá o pão com o suor do seu
rosto até voltar à terra da qual foi formado".
Aqui, a terra fértil, o barro, é o elemento de
ligação da realidade humana com sua origem
celeste. Mas, ao contrário do mito Desana, o
trabalho, os instrumentos que o propiciam e o suor
dele advindo, estão por conta do próprio homem.
Há então diferentes idéias da criação do
mundo, todas elas igualmente coerentes com a
sociedade que as professa. Ora, não somos her-
O que é Cibernética 9

deiros da cosmogonia dos Desana, dos Mali ou dos


Wapangwa. Herdamos, quer se goste ou não, a que
está na 8 íblia. E portan to compreensl'vel que ela
impregne de modo definitivo nossa visão do
mundo.
Uma das convicções enraizadas no relato
bíblico diz existirem três reinos no universo: o das
coisas naturais, como as pedras, os vegetais e os
animais; o reino dos homens e, finalmente, o reino
dos engenhos por ele fabricados. O que se aprende
no Genesis é que tais domínios são estanques e
profundamente diversos na sua substância. Não há
possibilidade de sobrepor os dois primeiros, pois o
homem, graças ao sopro divino, tornou-se menos
natural que as outras coisas naturais. Também não
há como confundi-lo com o reino das máquinas
por serem elas obra sua, necessárias apenas após
a expulsão do paraíso. Trazem as máquinas, assim,
a marca do profano.
Não é história da carochinha. Trata-se de visão
encantadora do mundo e dela nos servimos tão
corriqueiramente que mal dá para perceber. Prova
disto é a corrente subdivisão das ciências em
naturais, humanas e exatas. Todos a aceitam sem
atinar que ela é inspirada na cosmogonia que está
no Genesis.
É sempre gratificante ter os mitos em mente
quando a meta é dar lugar ao homem na orde-
nação do mundo. Mas há outro meio pelo qual nos
posicionamos em relação à realidade. E quando a
'
10 Jocelyn Bennaton

conhecemos melhor. E, por vezes, o conhecimento


humano avança justamente por desafiar a rigidez
das fronteiras que a tradição nos obriga a reco-
nhecer no universo.
O modo de pensar evolucionista, por exemplo.
Seu grande mérito é ter fornecido meios para
contemplarmos a natureza muito além da sua
diversidade aparente. Acontece que os indivfduos
de cada espécie não desempenham papéis iso-
lados. Nem são, as várias espécies, fixas ou imu-
táveis.
. .Ao contrário
. . todos os organismos, humanos,
, .
amma1s vegetaiS, mtegram-se numa peça umca,
essencialmente dinâmica, qual seja o chamado pro-
cesso evolutivo. Este entendimento, embora cho-
cando-se com a visão bíblica, acaba por amplificar
as dimensões do próprio homem no reino natural.
O questionamento dos limites separando ani-
mais, homens ou máquinas deságua, finalmente,
no tema deste livro: a ciência da Cibernética.
O Evolucionismo foi a forma que a ciência
encontrou para afirmar a existência de uma uni-
dade na natureza. Pois bem. A esta, a Cibernética
contrapõe uma outra: uma unidade também ali-
nhavando organismos e máquinas.
Esta é a primeira lição. Diz a Cibernética que
estâ'o longe de ser estritas as linhas que demarcam
os três reinos da Bíblia. Há neles aspectos que os
aproximam. Embora a Cibernética reconheça como
evidente sua diversidade, são exatamente as seme-
lhanças o que deles se extrai de mais notável.
'
O que é Cibernética ll

lmbu(da disto, a Cibernética investe~se da missão


de proc_urar um enquadram ento maior no qual as
coisas naturais e aquelas fabricadas pelo homem
se insiram como itens de uma mesma paisagem.
Nã'o age assim só por agir, à toa. Existe o impe-
rativo histórico. A simples existência de máquinas
modernas, de tal modo complexas que parecem ~.

copiar o comporta mento animal e, também, nosso


intenso envolvime nto com elas, já faz por exigir
tal postura.
Quando se fala de unidade, como a almejada
pela Cibernétic a, deve-se registrar em torno do
que ela está sendo proposta. Cabe então perguntar:
como a Cibernética pretende realizar sua vocação?
11 11
A história da palavra cíbernétic é ta'o elucida-
a
tiva a este respeito que merece ser aqui transcrita.
"Cibernét ica" vem do grego. Entre eles, no prin-
cfpio, servia para designar aquele saber que per-
mite ao piloto conduzir adequadam ente· sua
embarcaçã o - a técnica da pilotagem . Depois,
Platão enriqueceu seu significado empregand o-a
para indicar a atividade de reger, não só o rumo dos
barcos, mas o destino dos homens todos numa
sociedad e- a arte de governar.
É com esta última conotação que a raiz grega
de "cibernéti ca" se notabiliza. Atravessa a Antigui-
dade e dá origem a sua corruptela latina, que
entre nós vem a ser a própria palavra "governo" .
Há mais ou menos cento e cinqüenta anos, o
ffsico francês Andrés Mar(a Ampere, utilizou-se
12 Jocelyn Bennaton

novamente do termo no seu Ensaios sobre a Filo~


sofia das Ciências. Ainda dest-a feita para, como
Platão, denominar o ramo do conhecimento que
se ocuparia de como governar e "garantir aos
cidadãos a possibilidade de gozar a paz".
Na época de Ampere não se dava muito crédito
aos reguladores,. servomecanismos e demais
engenhos automáticos. Eles existiam desde o
começo da era cristã, mas só vão merecer a atenção
da ciência um pouco mais tarde com o físico
inglês James Clerk Maxwell. Maxwell, sugestiva·
mente, vale-se da versa'o latina da palavra "ciber-
nética" para se referir aos artefatos de controle
das máquinas: seu artigo sobre o assunto, datado
11
de 1886, intitula·se 0n governors".
Após Ampere o termo "cibernética" foi esque-
cido. Até que, em meados dos anos quarenta, o
matemático norte·americano Norbert Wiener
resolve servir-se dele para designar "o domínio
todo da teoria da comunicação e do controle,
seja na máquina ou no animal". Com isto, funda-
va-se a Cibernética.
A escolha da palavra não foi casual. Um duplo
motivo levou Wiener a utilizá-la: consagrar o
trabalho pioneiro de Maxwell, pois é fundamental
na Cibernética o estudo de como as máquinas
podem ser controladas; e, depois, ressaltar que esta
atividade, o controle das máquinas, apenas repro-
duz em outra escala tanto a técnica dos pilotos
como a arte dos governantes.
O que é Cibernética 13

f: mais ou menos por a (que se desenrola a coisa


toda. A Cibernétic a interessa o modo de se com-
portar dos organismo s e das máquinas. Comporta -
mentos que podem ser singelos, como o funcio-
mento de um cortador de grama e a ação reflexa
de uma ostra, ou complexo s, como a maneira dos
homens organizare m a economia de uma nação.
Important e é que, ao se debruçar sobre tais fenô-
menos, ela pinça sempre dois aspectos primor-
diais: o trânsito da informaçã o e os esquemas de
controle existentes .
Colocado assim, o objetivo da Cibernétic a parece
qualquer coisa entre estranho, pretencios o, inútil
ou fantasioso . Isto por duas razões básicas. A
primeira é que não é fácil vê-lo correspon der às
idéias que a gente aprende a ter do mundo a
nossa volta. Mas aqui se esquece que, mais do que
nunca, tais idéias estâ'o em xeque e é necessário
alterá-las para fazer frente aos desafios do mundo
..
contempo raneo.
A outra razão é que não se consegue imaginar
a Cibernétic a convenien temente armada para
dar conta do seu recado. As várias ciências, a
Economia , a Física, a Biologia, etc., restringem-se
a procurar unidade no âmbito da sua própria espe-
cialização. Não dá para tomar emprestad os seus
conceitos básicos e simplesme nte transportá -los
para o contexto da Cibernétic a. Há necessidad e de
um arsenal de idéias exclusivam ente pertinente s à
Cibernétic a, à luz do qual lhe será possível

'
14 Jocelyn Bennaton

caminhar por conta própria.


Este livro foi escrito com o intuito de desfazer
tais estranham entos em relação à Cibernétic a.
Para tanto, existem nele dois cap(tulos.
''Sistemas ", o cap(tulo inicial, cuida de expor
aquilo que é considerad o o conjunto mínimo de
conceitos básicos da Cibernétic a: a idéia de sistema,
a de equivalência e modelos e a de informaçã o.
O uso destes termos disseminou-se por toda parte
e a tal ponto que é obrigatóri o tê-los aqui rede-
finidos do modo o mais exato possível.
O capítulo final, "Máquinas e Organismo s",
é mais um explorar de território. A luz de idéias
a respeito do seu comporta mento- realimentaçâ'o,
homeostas e, aprendizag em e automação -, má-
quinas e organismo s são cotejados de maneira a
sugerir a possibilida de de um discurso comum
engloband o-os.


• •
r

SISTEMAS

O problema da caixa-preta

Vivemos num mundo muito complicad o. Hoje


as pessoas sentem que os fatos que lhes dizem res-
peito estão de tal modo interligados que, se mexe~
rem num deles, todos os outros sofrerão de ime-
diato as conseqüên cias. Como num castelo de cartas.
Antes, as coisas não pareciam ser assim. Se algo
ocorria era porque, certament e, havia uma única
razão para tanto. E tudo acontecia encadeado , à
maneira como se passa numa fiteira de dominós
em pé. Ao ser derrubado o primeiro, o seguinte o
segue como efeito, depois outro e assim por
diante.
A velha concepção dinâmica do universo como
uma linha de causas e efeitos não parece, portanto,
16 Jocelyn Bennaton

fazer jus à complexa realidade do mundo atual. E


necessário buscar novos meios de entendimento.
Prover de sentido o emaranhado de coisas que,
acontecendo a nossa volta, teimam em não virem
mais encadeadas em pares de causa-efeito, mas
sim como teias de múltiplas interdependências.
Em poucas palavras, é preciso repensar o que um
fenômeno significa e que relação é possível manter
com ele aquele que o observa.
A teoria da Cibernética contém elementos con-
ceituais que permitem responder a estas exigências.
A proposta, em resumo, é que não pensemos mais
fenômenos como o lugar onde se indentificam
uma única causa e um único efeito. Em lugar disto,
que se eleja como objeto de investigação todo o
conjunto de fatos que, de um modo ou de
outro, se achem presumivelmente ligados. Da
correta análise desta totalidade resultará a com-
preensâ'o do fenômeno.
O problema da caixa-preta ilustra bem este
modo da Cibernética questionar a realidade.
Trata-se, na verdade, de um velho conhecido
dos engenheiros eletricistas. É comum, quando
estudantes, eles enfrentarem argüições onde uma
caixa fechada é apresentada exibindo apenas, na
sua superfície externa, um certo número de ter-
minais. Sabe-se que a caixa contém componentes
elétricos de alguma forma ligados entre si e aos
terminais. A tarefa proposta é determinar quais são
e como estão dispostos aqueles componentes.
O que é Cibernética 17

Para resolver a questa'o, o aluno argüido deve


intro duz·ir sinais elétric·os em alguns termi nais e
medir as pertu rbaçõ es result antes nos outro s.
Se soube r corre lacio nar corre tame nte o que é
impo sto à caixa e o que dela emana·, se sairá bem
do exam e.

"Mas, afinal -a pergu nta cruza quase semp re a


cabeça dos estud antes - , qual a utilid ade do pro-
blema da caixa -preta ?

Todo s os professores de circu itos elétricos unani-


mem ente responderiam que serve para pôr à prova
a argúcia dos seus discíp ulos quan to às caracte-
rísticas dos vários dispositivos elétricos. Um ou
outro apena s, mais atent o às sutilezas da didát ica,
acrescentaria: serve para forne cer um interessante
contr apon to à prática adota da nas aulas teóricas.
Nelas, o desem penho de um grupo de comp onen tes
é sempre dedu zido das propr iedad es dos seus ele-
ment os toma dos isoladamente.
De fato: mais do que um simples capri cho dos
mestres, o probl ema da caixa -preta sugere um
modo de investigação altern ativo . Ou seja, par-
tindo-se do comp ortam ento de uma totali dade,
tenta r extra ir informações a respeito de sua com-
posição. 'IDe fora para dentr o" e não 'de dentr o
1

para fora" como os alunos estc!o acost umad os.


Pois bem. Os objet os de investigação da Ciber-
nética não s§o propr iame nte as caixas-pretas dos
18 Jocelyn Bennaton

engenheiros eletricistas. Mas, como elas, são tota-


lidades com contornos bem definidos, onde a
comunicação entre exterior e interior também se
faz por meio de "terminais" ou ~~portas''. Estas
totalidades são os chamados sistemas. As vias
de acesso ao interior de sistema s§o suas entradas
e aquelas, por meio das quais o sistema responde,
são suas saídas.
A tarefa da Cibernética é tornar expl (citas as
leis que governam o comportamento dos sis-
temas, sejam eles de natureza elétrica, orgânica,
geológica, econômica, social e assim por diante.
~ por isto que se diz que a Cibernética nada mais
faz do que reeditar, numa escala mais ampla,
o velho problema da caixa-preta. Sobram cr(ticas
ao uso abusivo deste tipo de abordagem. Mas,
quando corretamente utilizada, seus méritos com-
pensam de longe seus defeitos.
E muito comum nos servirmos fortuita ou deli-
beradamente do modo de investigação da caixa-
-preta. Em casa, se aciono um interruptor e a lâm-
pada não acende, devo decidir se substituo o
fusível, chamo o eletricista ou simplesmente
aguardo por se tratar de um defeito na rede.
Para tanto, não é necessário percorrer toda a
fiação elétrica. Basta me situar como se toda a
instalação fosse uma caixa-preta. Testo-a através
dos únicos meios de acesso ao seu interior que
disponho: acionando interruptores e observando
lâmpadas.
t J t/111' é Cibernética 19
·-. --------------------
Há momentos, entretanto, onde o modo de
investigação da caixa~preta é inevitável. Isto
porque uma totalidade pode possuir caracterís-
t ieas que não sã'o exatamente aquelas dos seus
olt!mentos tomados isoladamente. O todo pode
!ior maior que as partes, como se diz. E o caso
da elasticidade de uma fibra, que não decorre
clns propriedades intrínsecas de suas moléculas,
ums sim da capacidade delas se arrumarem.
O sistema nervoso ilustra bem esta idéia. Sabe-se
da sua natureza elétrica semelhante à da rede de
força e luz que nos rodeia, com a diferença de
utilizar neurônios em vez de fios, chaves ou trans-
lormadores. Entretanto, seu comportamento - um
piscar de olhos, por exemplo - não dá para ser
<Induzido a partir dos neurônios que o constituem.
Eles sâ'o tantos e de tal modo complexos seus cir-
t:uitos que isto é inviável.
Tome-se estes exemplos como uma espécie de
utestado de idoneidade do modo de investigação
du caixa-preta. Ele nos permite contemplar fenô-
menos onde, por não ser possível a construção do
plural a partir do singular, aquele deve ser valori-
lado independente deste.

Entradas e saídas
Em um dos seus contos- Texto em uma Cader-
20 Jocelyn Bennaton

neta - Julio Cortázar alude a estranhas ocorrências


no metrô de Buenos Aires. Tudo começa quando
alguns funcionários resolvem fazer um levanta-
mento do fluxo diário de usuários. Como a linha
em questão era simples, sem ramificações, o estudo
não apresentou grandes dificuldades. Entretanto,
quando eles vão determinar o balanço final de
passageiros, descobrem algo espantoso: o número
dos que ingressaram no metrô não coincidia com
o dos que dele saíam. A julgar por este resultado,
algumas pessoas jamais retornavam à superfície!
Trata-se, sem dúvida, de um relato fantástico e '
o autor apenas se serve da incongruência no côm-
puto de passageiros como pretexto para a sua
narrativa. Como esta vai se desenrolar são outros
quinhentos.
Aqui, o que interessa é o modo pelo qual os
funcionários devem ter conduzido sua pesquisa.
Simples questão de organizar as coisas. Considera-
-se o tal meio de transporte como um sistema. Os
terminais de entrada e sa (da estâ'o evidentes e são
as várias estações da linha. Para se desincumbir
de sua tarefa os funcionários devem registrar o
número de pessoas que, por unidade de tempo -
digamos, por hora - entram e saem de cada uma
das estações. Um quadro ou um relato do desem-
penho do metrô - por exemplo, que estações ou
quais trajetos sâ'o utilizados com mais freqüência -
viria da correlação destas informações.
Como se vê, o estudo é simples e parte desta
t J l/Ue é Cibernética 21

simplicidade decorre exatamen te daquilo que sur-


preendeu os funcionári os do conto: o balanço de
passageiros não pode ser diferente de zero, pois
quem entra no metrô, acaba sempre saindo. Em
outras palavras, trata-se de um sistema que não
retém informaçã o". Sem memória, costuma-se
11

dizer. O seu desempen ho, avaliado digamos numa


~;ogunda-feira, tende a se reproduzir identica-
mente na semana seguinte.
Ao contrário do trânsito de passageiros no
metrô, fluxos migratório s são fenômeno s bem mais
c:omplexos. As pessoas vão, estabelece m-se em
ulnum lugar e acabam incorporan do-se ao sistema.
rorna-se quase impossível faze~ previsões porque
u sistema guarda ~~informação" e isto, é claro, vai
Interferir no seu comporta mento futuro.
Para contornar este tipo de problema é neces-
"f\rio levar-se em conta outras variáveis. Como,
puru o caso em pauta, as condições de saúde,
mnprego e moradia nos pólos do processo de mi-
urução. Mas é fácil perceber que, toda vez que esta
pwt:aução é tomada, a complexid ade do sistema
rturnenta considerav elmente.
Ouando o número de agentes que interferem
num fenômeno é muito grande, uma sa fda é fazer
wunn nos ensaios de laboratóri o. O modo clássico
du ussim proceder recomenda que, durante um
euqmrimento, deve-se permitir tâ'o somente a
vnríuçtío de dois dos agentes. Todos os outros, na
rmtdida do possfvel, são mantidos constantes .
22 Jocelyn Bennaton

Estabelecendo dependências apenas entre os


fatores que se deixa variar tem-se, pouco .a pouco,
um desenho do desempenho global do sistema.
Infelizmente, não se pode estar sempre nas
condições ideais de um laboratório. Muitas vezes,
o interesse do pesquisador obriga-o a observar
fenômenos in loco, no "campo" como se diz. E
a(, sã'o tantas as variáveis em jogo que, assumi-las
constantes, é raramente uma hipótese realista.
O caso das safras agrfcolas, por exemplo. E
simples estudar a produtividade de uma deter-
minada semente numa estufa, onde as condições
atmosféricas e as do solo são controláveis. No
campo, entretanto, a coisa muda de figura. Pragas,
ventos, peculiaridades do terreno, condições de
irrigação, etc., são inúmeros os fatores que agem
de modo agudo no rendimento de uma colheita.
São também. interdependentes, o que torna ainda
mais dif(cil a abordagem do sistema.
A teoria geral dos sistemas mostra que, mesmo
sendo de grande porte - sistemas com múltiplas
e interdependentes variáveis -, eles podem ser
corretamente investigados. Paga-se um preço
por isto, qual seja, o da enorme dificuldade de
cálculo que se vai encontrar pela frente. Mas,
acredita-se, isto é um problema que o advento de
novas gerações de máquinas computadoras cuidará
de resolver.

'
O que é Cibernética 23

Sistemas equivalentes

Não há, como parece, uma grande diversidad e


no mundo dos sistemas. Muito pelo contrário.
Quando o elemento de comparaç ão é o seu
comportam ento, os sistemas se notabiliza m mais
pelas semelhanç as do que por suas diferenças .
Convém, portanto, procurar equivalênc ias entre
eles.
De antemão, devem ser classificad os como equi-
valentes todos os sistemas passíveis de substituí-
rem-se mutuamen te no desempen ho de deter-
minada função. Isto, independe ntemente de
serem máquinas ou organismo s, pois não existe
razão para fazermos restrições quanto à sua consti-
tuição. Pode haver equivalênc ia mesmo em situa-
ções onde a natureza dos objetos envolvidos é
bastante distinta.
Um exemplo sugestivo ocorre durante as cirur-
gias cardfacas. Amiúde - como é o caso do
implante da safena - é necessário conduzir a ope-
ração com o coração parado. Isto só se torna
possível devido à existência de um artefato, o
coração artificial, que ligado ao corpo do
paciente cuida do bombeam ento sangu fneo
enquanto o coração está desativado . O órgâ'o do
paciente e aquela máquina são, portanto, equiva-
lentes. O argumento de que o coração artificial
está muito longe de ser o substituto ideal do
24 Jocelyn Bennaton

órgão humano não é relevante. Basta que ele


assim o pretenda.
A possibilidade de haver intercâmbio entre
dois sistemas no exerc(cio de uma mesma função
é condição suficiente para se estabelecer equiva-
lência. Entretanto, não é preciso que isto ocorra.
Um passeio numa loja de brinquedos pode ilus-
trar a idéia. Com a progressiva assimilação de
novas tecnologias pela indústria, alguns brin-
quedos cada vez mais se assemelham à coisa real.
As miniaturas, . por exemplo. Elas copiam com
tal riqueza de detalhes o modo de funcionamento
do· original que é Iícito afirmar que só os distingue
a escala e o material de que são feitos. É também
o caso de alguns jogos que promovem, entre os
competidores, situações idênticas às que ocorrem
na realidade. Não se cogitaria, é claro, de substituir
o brinquedo pelo sistema que ele logra reproduzir.
Mas, é legítimo também classificá-los como equi -
valentes.
A conclusão é, então, a seguinte: dois sistemas
são considerados equivalentes quando um repro-
duz o comportamento do outro.
Se isto for tomado como uma definição, é
necessário ressaltar o sentido em que o verbo
reproduzir está sendo empregado. Não é difícil.
Basta que se atenha, por exemplo, ao processo
fotográfico. E comum dizer-se que fotos repro~
duzem objetos sem que jamais seja especificado o
tipo e mesmo a qualidade da fotografia. Pode-se
---------------------- .,.
O que é Cibemética 25

tratar de um infravermelho, uma radiografia ou


mesmo uma foto fora de foco. Pouco importa,
desde que seja posst'vel reconhecer nelas o assunto
fotografado.
Ou seja, reproduzir não significa produzir idên-
ticos. O quanto é reproduzido, ou melhor, até que
ponto cópia e original vão se confundir, é questão
de conveniência e matéria para discussão. Assim,
pode se dizer que um simples aquário é equiva-
lente ao habitat natural dos peixes ali criados;
um trabalho de prótese é equivalente ao órgão
copiado; e um computador, ao executar a folha de
pagamento de uma firma, torna-se equivalente a
todo seu departamento de pessoal.

Modelos
O que há em comum entre uma colônia de
coelhos e uma companhia de investimentos? A
resposta seria imediata: nada. No entanto, uma
destas firmas já usou aqueles animais em seus
comerciais na televisão. Queria sugerir com isto
que um investidor, valendo-se dos seus serviços,
teria o capital aumentado na mesma proporção
que cresce uma população de coelhos.
t só uma imagem, diriam uns; uma metáfora
para conquistar clientes. Certamente. Mas não se
deve esquecer que até as mais ingênuas compa-
26 Jocelyn Bennaton

rações costumam fornecer pistas para equivalências


entre sistemas.
Imagine-se um sistema de investimen to com
juro. composto . Se aplico mil cruzeiros e os juros
são de cem por cento ao ano, no final de dois
anos tenho quatro mil; ao final de três, oito e ao
término do quarto ano, dezesseis mil cruzeiros. A
quantia dobra a cada ano. Ora, mas não é mais ou
menos isto que se passa numa colônia de coelhos?
Admitindo -se que cada casal gere em média quatro
filhotes, as taxas de crescimen to tanto dos coelhos
como do capital investido teriam o mesmo valor.
Conclui-se que os dois sistemas se comporta m
analogame nte. Portanto, sâ'o equivalent es.
O racioc(nio utilizado para mostrar equivalência
baseou-se num cálculo: um gera dois, que gera
quatro e assim por diante. Isto é indício de que
há uma rotina matemátic a, uma fórmula, capaz
de fornecer o censo da colônia de coelhos, ou o
saldo financeiro , em função das respectivas taxas
de crescimen to. Esta entidade matemátic a também
é um sistema. E, por . produzir números , que des-.
crevem tanto uma co1sa como a outra, e um SIS-
tema equivalent e aos dois primeiros.
Significa que analisar um dos três sistemas -
coelhos, juros e fórmula -é analisá-los todos, pois,
sendo equivalent es, o desempen ho de um é cópia
do comporta mento dos outros. Ninguém pensaria
em criar coelhos para estudar investimen tos. Mas
é natural que se eleja a fórmula matemátic a como

-----------------------------------------------------------------------
O que é Cibernética 27

objeto de estudo. Ela é mais simples, posso mani~


pulá-la à vontade ou adaptá-la a uma variedade de
circunstân cias. Constitui assim um modelo dos
outros dois sistemas.
Modelo, portanto, é simplesme nte um dos equi-
valentes de determ inado sistema.
Distingue-se por ser mais convenien te sua utili-
zação como meio de investigar indiretame nte o
objeto em estudo. Costuma ser uma equação,
uma entidade matemátic a, mas também pode ser
outra a sua natureza. Como no caso das maquetes,
protótipos ou os chamados modelos reduzidos.
Frente a um fenômeno desconhec ido, o pesqui-
sador estabelece com ele uma forma preliminar
de ligação. E a fase das observaçõ es e das pri-
meiras conjectura s. Diante do emaranha do de
informaçõ es recolhidas deve identificar as que são
relevantes para depois ordená-las. Deste estágio,
resulta quase sempre a confecção de um modelo
que passa a receber do pesquisado r a mesma aten-
ção antes apenas reservada ao sistema original.
A partir dai', a investigação do fenômeno torna-se,
no mínimo, mais confortáve l.
Um modelo é, então, como um mapa . Destinam-
-se ambos a reproduzir aspectos de uma realidade,
cuja apreensão , sem eles, seria difrcil ou mesmo
impossível. Também são escolhidos em função
do objetivo: se o que interessa é percorrer de auto-
móvel um território, o idea l é uma carta rodo-
viária, onde a menção a acidentes geográficos é
28 Jocelyn Bennaton

secundária.
Modelos também são feitos para serem jogados
fora. Na mesma medida que teorias e experiências
são contestadas ou enriquecidas, eles s§o desfeitos
e substitu (dos por outros mais convenientes. É
uma vantagem. Não se pode fazer o mesmo com
• •
as co1sas rea 1s ...

Sistemas processam informação


Tem-se empregado a idéia .de sistema sem que
fosse apresentada uma clara definição do seu signi-
ficado. Simplesmente apelou-se para o bom senso.
Na verdade, a noção é muito semelhante àquela
adotada pela Termodinâmica: uma totalidade pro-
vida de fronteiras, através das quais ela se comunica
com o exterior. Há, porém, uma leve diferença
entre estes dois usos do conceito de sistema.
A ciência da Termodinâmica tem seu âmbito de
atuação estabelecido no princípio da conservação
da energia. Isto é, como numa conta bancária,
deve ser nulo no sistema o balanço energético entre
as perdas, ganhos e diferenca •
de saldo.

O que
interessa então à Termodinâmica é o modo como
os sistemas transformam energia.
Sabe-se muito bem que energia custa caro e é
por isso que importa tanto quantos quilômetros
faz um carro com um litro de gasolina. Nenhuma
O que é Cibernética 29

r
novidade. Foi com o advento da revolução indus-
trial - e, simultaneamente, das máquinas que
convertem calor em trabalho útil - que se tornou
vital a preocupação com o custo da energia. Era -
e ainda é - necessária a construção de máquinas
com alto índice de aproveitamento energético.
Em nosso século, porém, surgiram outros
engenhos onde esta medida de rendimento é insig-
nificante. Trata-se dos sistemas de comunicação.
Quando se vai enviar uma mensagem- por meio
do correio ou de um cabo telefônico -, importa
menos a quantidade de energia empenhada no
processo e mais a qualidade da transmissão. Reven-
dedores de aparelhos de som se valem disto insis-
tindo que tal produto, independente da sua potên-
11
cia, se desempenha melhor que outro por distor-
cer" menos ou garantir maior "fidelidade" na
reprodução sonora. A propaganda procede, pois é
o que todos desejam: que a informação seja passada
com um mínimo de erro.
Também para a Cibernética interessa nos
sistemas mais o balanço informacional do que o
puramente energético. Para ela, portanto, sistemas
são processadores de mensagens ou de informação.
Eventualmente, por traduzir-se em custos finan-
ceiros, a energia pode vir a ser um fator conside-
rável. Mas, prioritariamente, os sinais que um sis-
tema recebe ou emite, portam informação e não
energia. Apenas para ilustrar a diferença: o custo
para se enviar um recado de um lugar a outro,
'
30 Jocelyn Bennaton

med iante um port ador no seu auto móv el, é


sem pre o mes mo se med ido em litro s de gasolina.
Entr etan to, depe nden do do teor , pode ser subs-
tanc ialm ente dife rent e o que é defla grad o por
uma ou outr a mensagem.

O que é informação?
Nada melh or que um exem plo para se trata r a
ques tão.
Na novela Dub rovs ki, de Puch kin, o heró i,
impe dido de se enco ntra r com a nam orad a, Mária,
com bina um estra tage ma. Dá a ela um anel que
deveria ser depo sitad o no oco de um carv alho
caso fosse indispensável sua presença. De temp o
em temp o, Dubrovski verificaria a árvore. Nada
faria se o anel não estivesse fá e, caso cont rário ,
corr eria em soco rro de sua ama da.
A desp eito de sua simplicidade, ficam no exem -
plo evid enci ados todo s os elem ento s cons titui ntes
de um proc esso de com unic ação : a font e, o recep-
tor, o código e o canal. Não são necessárias defi-
nições. Basta apenas pond erar que o códi go é a
form a de adeq uar a font e ao cana l de trans miss ão
e este, por sua vez, o meio de cone xão com o
rece ptor . No caso , Mária se serve de um código
biná rio: .o anel está ou não está na tal árvore.
O canal é a árvore com seu oco e, possivelmente,
O que é Cibernética 31

algu ém enca rreg ado por Dubrovski para obse r-


vá-la.
Mas afina l, onde entr a a info rmaç ão?
Bem , adm ita-se que Mária, valendo-se do mes mo
proc edim ento , quei ra passar a Dubrovski o resul -
tado de um jogo de cara ou coro a. Para tant o,
num a prim eira tenta tiva, ela conv enci ona o envi o
de duas mensagens: "saiu cara ou coro a", 'isaiu
coro a".
Ora, se assim fosse, a primeira men sage m,
quan do envi ada, nada acre scen taria ao que o desti-
natá rio já sabe. É claro que saiu cara ou coro a.
Port anto , é nula a info rmaç ão que esta men sage m
veicula. t o que tamb ém indica o sens o com um
íiO afirm ar que não há info rmaç ão algu ma em frase s
úhvias do tipo : "den tro de vinte e cinc o hora s será
outr o dia" . Vem daí o prim eiro juíz o a resp eito de
cont eúdo s info rmac iona is: mensagens só possuem
a/muna infor maç ão quan do é posslvel~ ao invés
'/t.•/as, a ocor rênc ia de outra s.
Admita-se agora que Mária, perc eben do seu
nt 1o, apri mor e as men sage ns relativas ao jogo de
• nr u ou coro a faze ndo-as entã o: 11
Saiu cara ", "sai u
•w o;t". Neste caso, se o jogo for justo , amb as as
muusauens têm igual chan ce de ocor rer e, por-
I•Utl u, nada mais acer tado do que dota r as duas do
rmuuno cont eúdo info rmac iona l. Cost uma -se dize r
ttttn c'• dn um bit - abre viaç ão da locu ção inglesa
11111m v tligiT - esta info rmaç ão. Ou seja, um bit
tl 11 quíln tidad e de info rmaç ão cont ida em cada
32 Jocelyn Bennaton

uma das mensagens de um par, quando ambas


têm a mesma chance de ocorrer.
E razoável conjecturar que as pessoas se sentem
mais ou menos informadas, dependendo de
quanto uma mensagem contraria suas expecta-
tivas. O trivial é pouco informativo se compa-
rado com o inusitado. Tome-se o caso de um jogo
de dados no qual a aposta é sobre dois eventos;
"saiu o dois", ''saiu número diferente de dois".
O primeiro resultado é menos provável que o
segundo; em outras palavras, deveria "pagar mais".
Logo, é Ifeito assegurar a ele maior conteúdo
informacional.
Infere-se da ( que a quantidade de informação
veiculada numa mensagem varia no sentido inverso
de sua chance de ocorrência. ~ este o outro fato a
ser respeitado na conceituação de informação:
quanto mais provável uma mensagem menor a
informação que ela carrega.
O terceiro item a que se deve ater na caracteri-
zação do que é informação diz respeito às con-
dições em que quantidades de informação podem
ser somadas. Não seria plausível, por exemplo,
adicioná-las no caso de mensagens contraditórias
ou quando o conhecimento da primeira dispensa
a segunda. Por outro lado, caberia somar infor-
mações se o impacto da segunda mensagem não
for alterado pelo conhecimento prévio da pri-
meira. Quando ambas forem independentes, como
se diz.
O que é Cibernética 33

Por exemp lo: suponh a que num jogo de dados


as mensagens a serem enviada s são as seguint es:
"saiu um ou dois li, ' 1 saiu par", "saiu ímpar~~. As
duas últimas não sã'o indepe ndente s, por exclu (-
rem-se mutuam ente. Entreta nto, ambas sâ'o inde-
penden tes da primeir a. Isto é, tratand o-se de uma
aposta onde meu palpite é a primeir a mensag em,
não preciso me preocu par após receber uma das
duas últimas . Mesmo sabend o que saiu um
número par, ou ímpar, as chance s de vitória
continu am as mesma s.
E esta, em breves pinceladas, a idéia de infor-
mação e não é necessá rio que se embren he nela
além do que foi expost o. Já dá para perceb er
que o concei to de inform ação está amarra do
à noção de probab ilidade . Se receber um trata-
mento matem ático adequa do, o que foi aqui
enfatiz ado à luz do bom senso pode vir a cons-
tituir um conjun to de axioma s que definiri a
rigoros amente o que é inform ação.
Cabe apenas um alerta. Como em tudo que
é apropr iado peta ciência , é preciso cuidad o ao se
utilizar o concei to de inform acão •
fora de seu
âmbito de definiç ão. Inform ação é proprie dade
de mensag ens dentro de uma multipl icidade
delas. Não tem nada a ver com conteú do semân-
tico ou mesmo com sentido .
Por exemp lo: diz -se, em tom jocoso, que para
se saber o valor de uma página literári a basta ima-
giná-la arranca da do livro. Muito bem. Admita "se
34 Jocelyn Bennaton

esta experiênci a: uma folha de um Iivro que se


preza muito fqi perdida. Um modo, embora meio
tolo, de resolver o di1ema é ir à uma tipografia
e solicitar a impressão de páginas escritas por
meio de uma seleção das letras ao acaso. Milha-
res delas seriam assim produzida s, a maioria sem o
menor sentido. Se o processo for repetido indefini-
damente, há uma chance, minúscula na verdade,
que uma destas páginas aleatórias venha a ser
idêntica àquela retirada do livro. Ora, como a
escolha das letras e dos espaços é arbitrária, a infor-
mação contida em qualquer página impressa é a
mesma. Logo, neste aspecto, o valor da página de
que tanto se lamenta a perda é igua l, por exemplo,
ao de uma página em branco ...

Entropi a da fonte
·O que é denomina do fonte, num sistema de
comunicaç ão, não passa de um elenco de unidades
de mensagens. Como as letras no alfabeto ou as
palavras em um dicionário que, quando juntadas,
formam frases, períodos e textos.
Diante de um repertório de "palavras" , o
emissor seleciona uma a uma aquelas que consti-
tuirão sua transmissã o. Algumas são mais
freqüentes ou têm mais chance de aparecer que
outras. E o caso da letra ''e" na I(ngua inglesa,
O que é Qõernética 35

fato que, aliás, levou Morse a reservar-lhe o


símbol o mais simples do seu código , ou seja, um
ponto. Outras vezes, ainda, há uma depend ência
entre as ''palavr as": em portugu ês, a letra que vem
após à seqüên cia LH" nâ'o será jamais uma
11

consoa nte e é mais provável que seja um "A" do


que um "U".
Há então uma espécie de amarra ção entre as
~~palavras" na fonte, o que a torna, para o emisso r,
mais rígida ou mais flexrvel. Em função da possibi-
lidade de ocorrên cia das "palav ras" e da sua
depend ência mútua, ele tem major ou menor
grau de liberda de na compo sição de .suas men-
sagens. Este fato é tão import ante que merece ser
visto mais de perto.
Admita -se um elenco de apenas duas lipalavras"
- "A" e "B",pa ra simplif icar -, onde a eleição
de uma delas indepe nde do que foi anterio r-
mente selecionado. Se ambas forem igualm ente
prováveis, pode-se afirma r que a liberda de do
emisso r na constru ção de suas mensagens é total:
ele pode inclusive deixar tudo ao acaso, sortean do
''A" ou "8'' por meio de uma moeda .
Pois bem. Ocorre ndo isto, é de se esperar que,
numa comun icação longa o bastan te - ou seja,
uma seqüên cia do tip·o~ ABBABAA ... " -,
11

metade das "palavr as", ou quase isto, seja de uma


espécie ou de outra. Calculando-se a informa ção
média por palavra nesta mensagem - isto é, a soma
das inform ações contida s em cada uma, dividida
36 •
Jocelyn Bennaton

pelo número total delas - o resultado será de um


bit. Lembre-se que é este, na verdade, o número
que mede o conteúdo informacio nal de cada uma
das "palavras" do elenco.
Imagine-se agora que a ~~palavra" "A" tenha
maior chance de ser eleita. A informaçã o nela
contida não chega a atingir um bit mas, nas men-
sagens extensas, ela comparece rá com bastante
11
assiduidad e: por exemplo, BAAAABA ... ".
Ao se computar a informaçã o média por ''pala-
vra" nas mensagens, resultará sempre um valor
abaixo da unidade. Isto porque, neste cálculo,
entra com maior peso a informaçã o da "palavra"
mais freqüente. No caso extremo - quando "A"
for muito mais prov~vel que "8" e, conseqüen -

temente, quase nula a informaçã o nela contida -,
a informaçã o média será um número muito perto
de zero. ·
Vale dizer que, neste último caso, é bem mais
restrita a liberdade que se tem na escolha de
mensagens. A organizaçã o na fonte, privilegiando
muito a "A", é rfgida, pouco flexfvel e, portanto,
é maior o grau de tolhiment o do emissor.
Tudo se passa então como nas combinaçõ es de
tintas. A cor resultante fica sempre mais próxima
daquela que deu sua contribuiç ão de modo mais
decisivo. Pode-se até arriscar dizer que a coloração
da mistura apresentar á "novidade " máxima quando
todas as componen tes participare m igualment e
e mínima se uma delas for superdime nsionada.
O que é Cibernética 37

A argumentação sugere que, mesmo em


situações mais complicadas, o cálculo da infor-
mação média deve ser utilizado para se avaliar a
amarração ou o grau de organização das
upalavras" numa fonte. A esta medida conven-
cionou-se dar o nome de entropia.
Para uma fonte determinada, a entropia é entâ'o
um número que pode variar de zero até um
máximo. Ela é maior, quanto maior for o grau de
liberdade franqueado ao emissor na composição
de suas mensagens. Ao seu máximo valor corres-
ponde a situação onde são idênticas as chances
de aparecer cada uma das ~~palavras". Ao mlnimo,
o caso onde apenas uma. ''palavra" pode ocorrer,
ou seja, somente uma única mensagem pode ser
enviada.
Quais os reflexos destas idéias na organização
dos sistemas? São muitas; a ponto de permitir uma
certa divagação a respeito.
Um sistema, como uma fonte, pode apresentar
maior ou menor grau de organização interna. Vem
daí que sistemas muito organizados, ou seja, com
entropia interna muito baixa, sâ'o pouco susce-
t(veis a influências do exterior.
Assim, toda vez que dois sistemas trocam infor-
mação entre si - acontece, para ilustrar, nos siste-
mas ecológicos onde há convivência entre diferentes
espécimes -, é de se imaginar que aquele com
amarração interna mais complexa leve uma certa
"vantagem". Ele é muito organizado e sendo assim
38 Jocelyn Bennaton

incorpora facilmente as informações recebidas.


O outro, ao contrário, tende a se desorganizar

ainda mais.
E o que ocorre, por exemplo, no contacto entre
comunidades agrárias - simples e pouco organi-
zadas no sentido que se está dando à palavra - e
comunidades industriais. Ao contrário do que se
poderia imaginar a princípio, a diferença de entro-
pia entre ambas tende sempre a aumentar e nunca a
diminuir. Se o raciocrnio for correto, resulta quase
sempre deste intercâmbi0 a extinção do menos
favorecido.

Ainda entropia

Não foi à toa que a denominação entropia foi


usada na Teoria da Comunicação. Acontece que a
fórmula utilizada no cálculo da informação média
é análoga a uma outra, de há muito empregada
pel_os físicos na determinação de certa proprie-
dade da matéria. A esta já havia sido dado o
nome entropia.
Na Termodinâmica, entropia -a palavra vem do
grego e quer dizer algo situado entre enrolar e
evoluir - tem muito a ver com a direção na qual
as coisas se transformam.
Sabe-se que se um determinado trabalho gera
calor, este por sua vez não admite ser recuperado

'
O que é Cibernética 39

• •
Entropia . .. medindo o •
• • modo das coisas se organizarem. ·

• • • • • • •
• •
• • • • • • •••
• • • • •••••••
• • ····~· ••••••••• ••
··:'··'·······
• •••••••••••••••
••• ••••••••••••• •
:, ••
• • ••••••••••••
•••••••••• •••• ••
................. •
•• -=·::::::::. • ••
• •••••••,, ,..••• • ••
• •••
• • ••• • •• •••••••
• •
• • • • • • • •
• • • • • •• • • • •
• • • • • •
• • • • • • •
40 Jocelyn Bennaton

de mod o a reed itar o trab alho orig inal. Por exem -


plo: o calo r prod uzid o nos túne is do metr ô, devi do
prin cipa lmen te ao atrit o das roda s nos trilh os, não
pode ser reut iliza do para desl ocar os próp rios tren s.
Se assim fosse - que maravilha! -, o supr imen to
exte rno de energia seria dispensável e tería mos algo
mov endo-se por si mes mo: um mot o perp étuo .
Infe lizm ente isto não é poss(vel , porq ue a natu -
reza pare ce prio rizar cam inho s para o seu desen-
rolar . A enti dade que apre ende esta orde naçã o
natu ral das coisas no tem po é a entr opia na Term o-
d inâm ica. Cada corp o possui uma entr opia próp ria,
cujo valo r tend e sem pre a cres cer. Só é possível
redu zi-lo med iante uma ação exte rna; com o as
que se fazem necessárias para se baix ar temp era-
tura s.
Pode-se dize r que a entr opia da Term odin âmic a
med e a deso rdem ou o grau de deso rgan izaç ão das
molé cula s no inter ior da maté ria: quan to maio r a
. .... .
organ1zaçao, men or a entr opia .
Não é dif(cil com pree nder esta idéia de organi -
zaçã o mole cula r. É fato sabi do que toda maté ria
com põe-se de part ícula s elem enta res que se mov em
e se choc am com o as pessoas num a mult idão . Tud o
se passa entã o com o nos ajun tame ntos de gent e.
Um grup o de pessoas é mais orga niza do - baix a
entr opia - num a sala de espe tácu los com cada
qual no seu lugar; é men os orde nado nas entr adas
d e cine ma e é caót ico - alta entr opia - num a
praç a públ ica, onde cada um está na sua.
( J que é Cibernética · 41

O conceito de entropia é reconheci damente


complicad o. E, além disso, tem-se duas entropias
-a da Teoria da Informaçã o e a da Termodin âmica
-, ambas medindo o modo das coisas se organi-
zarem, sejam elas mensagens ou partículas. Não é
muita reza para um santo só? Tudo leva a crer que

stm.
Mas não cabe aqui encomprid ar o assunto. Basta
dizer que a questão já deu muito pano para
mangas. Várias tentativas foram feitas para se fabri-
car uma única definição de entropia que absor-
vesse tanto a ffsica quanto a informacio nal. Entre-
tanto, a despeito destes brilhantes esforços, há
ajnda algumas coisas que não se encaixam muito
bem. ~ preciso cautela, portanto, ao se dedicar à
fascinante tarefa de associar os dois conceitos .

...., ______ •
• •
MÁQUINAS E ORGANISMOS

Controlar é retroagir

Já foi dito que a etimologia da palavra "ciber-


nética" tem algo a ver com pilotar e governar. Por
outro lado, a razão de ser da própria Cibernética
deve-se a estas ações muito se assemelharem
àquela de controlar uma máquina. Cabe perguntar:
o que, afinal, têm todas estas ações em comum?
Consulte-se um dicionário. Ficará claro que pilo-
tar, governar e controlar são meras variações do
exerc(cio de conduzir alguma coisa. Isto pressupõe
a existência de um vfnculo entre o elemento
condutor e o que é conduzido. Importante é que
esta ligação tenha mão dupla. De um lado, permite
ao sujeito verificar se é satisfatório o desempenho
. do objeto sob sua ação. De outro, em sentido con-
-. trário, permite-lhe agir de modo a colocar tudo
O que é Cibernética 43

novamente nos eixos.


Como quando se empina uma pipa num dia
ensolarado e ela ameaça fugir ao controle. Breves
toques na linha fazem com que a pipa, aos poucos,
retome as evoluções desejadas.
A estratégia, portan to, resume-se em imprimir
correções na entrada de um sistema a partir dos
desvios detectados na sa ida. De tão geral, este
procedimento tem nome. Chama-se retroaç ão ou
realime ntação - que é a tradução literal da palavra
i n·glesa feedbac k.
Exemplo ilustrativo é a brincadeira que as
crianças denominam ~~quente ou frio". to seguinte:
alguém é desafiado a encontrar um objeto escon-
dido. Ao se aproximar do local, as pessoas em volta
avisam: está esquen tando! ". Caso contrário,
li

quando se afasta, elas dizem melancolicamente


que está ficando frio.
Estabelece--se assim, entre os personagens, um
anel de realimentação. A partir da informação
fornecida pelos espectadores, quem fica na berlinda
é capaz de perceber se está caminhando na direção
das ''tempe raturas " crescentes ou decrescentes.
No primeiro caso, mantém o rumo . No segundo,
cuida de retroceder a fim de retomar um curso
• •
ma1s conventente.
Deve-se notar que todo anel de realimentação
possui um conjun to de três elementos funcionais
básicos: o sensor, o atuador e o controlador.
O sensor é aquela unidade que observa e registra
44 Jocelyn Bennaton

os desvios das condições ideais. Fazem este papel


os espectadores no jogo do ~~quente ou frio". Do
outro lado do anel está o atua dor. E a parte do
sistema capaz de opor-se à incorreção detectada
pelo sensor e, assim, corrigi-la. Como as próprias
pernas do personagem central do jogo.
Importante, e disto se incumbe o controlador,
é que a comunicação entre sensores e atuadores se
faça correta e coordenadamente. O erro, apreen-
dido pelos primeiros, deve suscitar nos atuadores
nada mais nada menos que a reação exata corres-
pondente. O pivô da brincadeira do ~~quente ou
frio" sairá vitorioso se comandar seus movi··
mentes de modo a jamais se afastar do objeto
escondido.
Os exemplos de realimentação são abundantes.
Ocorrem em praticamente todas as situações em
que é exigido discernimento humano. Dá até
para dizer que nosso sucesso na superfície do
planeta decorre exclusivamente desta habilidade
de retroagir corrigindo os rumos das coisas;
fazer a própria história dentro da história natu-
ral.
Entretanto, retroações não são propriedade
particular de nossa espécie. Muito pelo contrário.
E na natureza, à margem da inteligência humana,
que elas se revelam em toda sua potencialidade.

----------------------·
O que é Cibernética 45

Homeostase

A natureza - como se fosse se servindo de


pincéis cada vez mais finos para compor seu dese-
nho - levou milhares de anos para fabricar a vida.
1: razoável, então, que os seres animados sejam
coisas muito delicadas. Funcionam bem na vizi-
nhança de condições ideais, mas, fora disto, sua
existência fica definitivamente comprometida. No
corpo humano, por exemplo: a quantidade de
açúcar no sangue, o número de células brancas ou
vermelhas, a temperatura, etc., são todos índices
que, como se sabe, devem permanecer constantes.
Caso contrário, se persiste uma incorreção, é sinal
que algo não vai bem.
Por isso é que se diz que os seres vivos não
''stro", mas "acontecem". A frase serve para
ressaltar que o exercício da vida é um contínuo
usforço dos organismos para se sobreporem às
adversidades. A questão é: como, diante da inevi-
tável variabilidade das circunstâncias ambientais,
manter características vitais dentro de limites
plaus(veis?
Também aqui a natureza revela-se sábia. Junto
com o desenvolvimento de novas funções, os orga-
nismos munem-se da capacidade de, espontanea-
munte, buscar aquelas condições de equilfbrio
quo lhes são propfcias. A este fenômeno a Biologia
dA o nome de homeostase.
46 Jocelyn Bennaton
-..

Alguém chega esbaforido de uma corrida e


reclama que seu coração bate muito forte. Nada
de mais, em princfpio. Trata._se apenas da manifes-
tação de urn processo de retroação interna.
Acontece que a força motriz dos músculos pro-
vém do açúcar que eles retiram do sangue. Num
primeiro momento, na ocorrência de esforço
ffsico, os vasos dilatam-se, o fluxo sangu (neo cresce
e maior · quantidad e de açúcar é captada. Se mais
energia muscular é requerida, o corpo libera um
supriment o extra de sangue, providenc ialmente
armazenad o em alguns dos seus órgâ'os. Entre-
tanto, com este increment o no volume de sangue
em circulação, mais força é necessária para bom-
beá-lo. Conseqüe ntemente, o coração aumenta seu
ritmo.
Homeostase, portanto, é um anel de rea/in7en-
tação biológico. De in feio, a denomina ção foi reser-
vada para aqueles processos que, tendo lugar
dentro dos organismos, garantem sua integridad e:
a manutenç ão da temperatu ra interna por meio do
1
suor nos animais de ' sangue quente"; o controle
da abertura das pupilas dependen do da lumino-
sidade e assim por diante.
Entretanto , hoje em dia, o âmbito desse
conceito tende a ser ampliado. O argumento é que
os seres vivos, longe de constituír em unidades iso-
ladas, admitem vários graus de organicidade ao
relacionarem-se consigo mesmos, com seus seme-
lhantes e, finalmente , com a natureza. Assim, é
O que é Cibernética 47

Homeostase.

I /

I
48 Jocelyn Bennaton

possível contemplar fenômenos homeostáticos


também na esfera do social ou no plano ecológico.
O controle da temperatura de uma colmeia é
um exemplo de homeostase numa sociedade
animal. Quando o calor é demais, algumas abelhas
trazem água para dentro, enquanto outras, compas-
sadamente, agitam suas asas, criando uma corrente
de ar. A ação é de tal modo concatenada que a
ventilação, evaporando a água, causa a refrigeração
do ambiente.
Alguns afirmam que, na evolução das espécies,
o mecanismo de seleção natural propicia a sobre-
vivência dos mais aptos. E uma forma meio esdrú-
xula de ver a coisa. Sugere que a natureza possui
uma inclinação por aqueles tais seres "mais
capazes" e que, na direção destes, é que se
orienta.
Melhor seria dizer que a seleção natural também
é um processo homeostático. Acontece que, com
o resultado do atrito entre organismos e seu
ambiente, algumas de suas características são privi-
legiadas, em detrimento de outras. Com o passar
do tempo, geração após geração, fixam-se aquelas
que garantem a sobrevivência da espécie. Os orga-
nismos adaptam-se, se para tanto possuem poten-
cial; caso contrário, mesmo sendo bastante especia-
lizados, eles desaparecem. A natureza opera, por-
tanto, no sentido de eliminar aquelas formas de
vida que se dão nos extremos de suas possibili-
dades. E o seu modo de procurar equilíbrio.
O que é Cibernética 49

O olho do sapo

Os sistemas homeostát icos existentes na natu-


reza servem muitas vezes de inspiração para se
fabricar artefatos.
Nenhuma novidade nisto. Tenha-se apenas em
mente as câmeras fotográficas modernas. Com
seus diafragmas comandad os automatic amente
por fotocélula s, elas ·não passam de cópias do
olho humano onde a abertura das pupilas também
varia com a luminosidade incidente. Também é o
caso do radar, inspirado na audição dos morcegos,
ou do sonar, no qual os golfinhos são especialistas.
Fato é que para fazer funcionar suas homeos-
tases, os organismos carecem de possuir um con·
junto de sensores que lhes permita captar e
processar as informaçõ es continuam ente rece·
bidas do exterior. 1: graças a este sofisticado apa-
rato sensorial que eles são capazes de perceber
obstáculos , detectar sinais de perigo, pôr·se a
salvo, acasalar·se, descobrir alimentos, reconhece r
seus semelhant es, perseguir suas presas e assim
por diante.
Caso notável é o funcionam ento da visão dos
sapos. Mostra muito bem como a natureza otimiza
o processam ento de informaçõ es, amoldand o-o
às formas de vida correspon dentes.
O olho do sapo é quase estático e não passeia
em busca de itens que o motivem. Apenas registra
50 Jocelyn Bennaton

o que adentra seu campo visual não seguindo,


entretanto, no seu encalço. Assim como uma
câmera fixa num tripé.
Curioso é que as coisas paradas não lhe desper-
tam nenhum interesse. Mesmo em se tratando de
uma apetitosa mosca pousada numa folha, objetos
estacionários é como se não existissem. Só merece
sua atenção aquilo que, no seu quadro visual, está
em movimento. Neste caso, se for suficientemente
grande, provoca imediata reação de fuga. Mas se
for uma. mosca voando, a ação desencadeada é um
repentino e preciso ataque.
t isto o que torna o olho do sapo distinto dos
outros. Como, no meio de tantos outros itens
semoventes -folhas caindo, gotas de chuva, etc. -,
ele identifica exatamente sua presa?
Analisando a presteza com que este órgão
sensibiliza-se e deflagra ações de fuga e captura,
é ambição de alguns cientistas projetar engenhos
que auxiliem, apenas para citar um exemplo,
a navegação espacial. Com tal dispositivo, um astro-
nauta poderia detectar e rapidamente evitar uma
chuva de meteoritos capaz de por em risco sua
nave.
Há vários outros mistérios na natureza. Maneiras
engenhosas que os organismos encontram para
simplificar a aquisição e o processamento de infor-
mações. Por que as pombas conseguem encontrar
sempre o caminho de casa? De que módo os ani-
mais interiorizam a noção de tempo? Como alguns
O t/llt' ~ Cibernética 51

.. --- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -
uspécimes prevêem variações climatológicas?
Não exis te, aind a, resposta para a maioria destas
Pt~rguntas. E tam bém não con stit uem elas sim ples
t:uriosidades de alm ana que . Insistem alguns pesqui-
!mdores em des ven dar tais mis téri os na esp eran ça de
que, com isto, os seres hum ano s possam con stru ir
dispositivos que lhes possibilitem amp liar suas
f •róprias cap acid ade s sensórias.

Máquinas automáticas
Tod o mun do já viu este filme: calo r de uma
noit e trop ical , o paxã sen tado em alm ofad as de
c;otim e, logo atrá s, escravas lindíssimas aba nan do- o
<:om penas de ave stru z. Sonha-se com isto, até,
nuqueles dias esto rric ante s do verã o. Mas os tem pos
siJo outr os, as pen as de ave stru z cus tam caro e,
pura refrescar, a gen te se con tent a com um cho pe
uolado. Ou entâ'o, com pra-se um ven tila dor .
Esta máq uina de fazer ven to é o suc edâ neo dos
loques e aba nas . Resolve, às vezes. Mas, qua se
sompre, provoca uma ven tilaç ão tão mon óto na
que há que m diga tratar-se de um eng enh o estú -
pido. ~preferível um con dici ona dor de ar.
Alguns con dici ona dor es possuem uma van tage m
utlicional: são con trol áve is. Pode-se fazer com que
man tenh am a tem per atur a per to do valor dese-
judo. E, sem dúvida, algo a mais. Os ven tilad ores
52 .Jocelyn Bennaton

r
u
funcion am até. não mais podere m, de forma que,
quando esfria muito, a gente tem que levantar
para desligá-los. O condic ionado r automá tico. faz
_ isto por si só. Pára de trabalha r se a temper atura
atinge o nfvel requeri do e religa, depois, quando ela
ultrapassa certos limites. I: uma máquina munida
de realimentação, portan to.
Na verdade, indepe ndente da constit uição e do
propós ito, condic ionado res automá ticos e gela-
deiras slio equivalentes. Ambos execut am a mesma
tarefa, ou seja, manter temper aturas dentro de
faixas conven ientes.
Tais máquinas recebem a denom inação genérica
de termostatos e operam de modo bastant e sim-
ples. À imagem dos processos homeo stático s res-
ponsáveis pelo contro le térmic o dos organismos,
os termos tatos possuem · sensores que detecta m
quando a temper atura destoa do desejado. Diante
disto, estes elem·en tos enviam um sinal que vai
interro mper ou promov er a ação do atuado r que,
no caso dos condic ionado res e geladeiras, é simples-
mente um motor elétrico .
Os termos tatos estâ'o longe de serem os únicos
habitan tes do universo dos engenhos ditos auto-
máticos. Outros existem e se está de tal modo
deles rodead q que passam quase despercebidos. O
''ladrão " da caixa d'água e a bóia que cuidam de
manter o n rvel da água; as lâmpadas da iluminação
pública que acende m quançio fotocél ulas acusam
luminosidade insuficiente; as válvulas de pressa'o
'
()que é Cibernética 53

que, a bem dizer, funcionam como uma tampa de


panela: se a pressâ'o é demais a tampa é empurrada
liberando vapor, reduzindo a pressa-o e abaixando
u tampa novamente.
São tantos os artefatos que operam de modo
automático que se faz necessário botar um pouco
de ordem na casa.
Cabe, de in(cio, uma reavaliação do conceito.
Afinal, o que se pretende dizer quando o adjetivo
"automático" é associado a uma máquina?
A resposta tem muito a ver com aquela
seqüência usada no começo: abanas, ventiladores
o condicionadores. Há uma lógica aqui. Trata-se
do artefatos equivalentes, projetados com a mesma
finalidade. Assim ordenados, • revelam um índice
crescente de automatização e, ao mesmo tempo,
indicam uma redução da responsabilidade humana
pelo seu funcionamento.
Diz-se então que um processo ou uma atividade
nstá sendo automatizada quando a participação do
home m é cada vez mais indireta.
Diante da progressiva substituição do homem
pulas máquinas por ele fabricadas, distinguem-se
momentos que ajudam a diferenciar os vários graus
do automatização de um procedimento. Assim,
num primeiro estágio, o envolvimento do ser
humano com a máquina é total. Contribui com sua
cnpacidade de discernimento e, também, com sua
lurça física. 1: o caso dos abanas e todos os demais
utonsrlios e ferramentas.

54 Jocelyn Bennalt~tl

Na etapa seguint e, o homem abdica de atuar


como elemen to motriz , mas retém para si o exer~
cício integral do contro le da máquin a. Ilustra
isto o uso dos ventila dores que ele liga ou desliga,
muda de lugar e reorien ta a seu bel-prazer.
E também o que ocorre durant e as ações de pilo-
tagem: examina-se os mostra dores no painel, con-
sidera-se as condiç ões de tráfego e, em seguida,
atua-se no volante . As máquin as, nesta fase de
automa tizaçâ'o , estão desprovidas de versa ti Iidade
para redefinir-se na conduç ão de uma tarefa. No
anel de realime ntação formad o, é o homem quem,
rédeas à mão, coorde na o processo.
Nas fases posteriores, acentu a-se a desvinculação
human a e, também às máquinas, é cedida a função
de admini strar seu próprio compo rtamen to. E
o caso dos termos tatos e todos os demais engenh os
para os quais a designação ''autom ático" é comu-
mente usada. Nestes, são dispositivos de control e,
e não o homem , que se encarregam de passar aos
atuado res a informaçâ'o colhida junto ·aos
sensores. O anel de realime ntacão •
fecha-se na
própria máquin a.
Cabe agora pergun tar: até que ponto é possível
automa tizar um proced imento ?
Não-há limites para a au.tomatização e, em tese,
nada impede a criação de máquin as umas mais
autosu ficiente s que as outras. No final, as máquinas
seriam tão indepe ndente s que, por conta própria ,
cuidari am de procur ar fontes de energia, projeta r
ti •JIIt' t' Cibernética 55


•uu desempen ho, produzir outras máquinas e,
f lnalmente, reproduzir ·se a si mesmas.
Fantástico ? Talvez. Mas tais supermáqu inas
lontm já concebida s. Possuem o nome geral de
uutômatos e, durante os anos quarenta, mereceram
dovotada atenção do matemátic o húngaro-am eri-
t:uno John Von Neumann. Falta apenas fabricá-las
., 11 (, é claro, são outros quinhento s.
Mas não é necessário ir tão longe. Um modo de
c:nracteriza r até onde as máquinas podem ser auto-
tnatizadas, é imaginá-las independe ntes a ponto de
uun presença passar desperceb ida.
N~o é difícil. f: quase já o que anda acontecen do
n nossa volta. Os sistemas de aquecimen to domi-
c:iliur, por exemplo. Hoje em dia eles podem
Nnr tão sofisticado s que ligam e desligam, aquecem
•I 1íuua da caixa, da piscina, mantêm a temperatu ra
nos ambientes e, na falta de energia elétrica,
I ,. oca m a a Ii mentação para sola r ou vice-versa.
ructo isto sozinhos, sem que ninguém, a não ser
o proprietário, se dê conta.

Ensinando as máquin
, .
as
a serem automat1cas
Foi dito que as máqllinas se tornam cada vez
muis automátic as quanto mais elas supervisio nam
•cut próprio desempen ho. ~, na verdade, uma afir-
- -·-------------------------------------~
56 Jocelyn Bennaton

mação que dá margem a dúvidas.


Está-se acostumado a pensar nas máquinas como
extensões de apenas duas das potencialidades
humanas: a dos músculos - como nas alavancas
e tornos - e a dos sentidos - como nas balanças
de precisâ'o e outros instrumentos de medida.
Administrar a execução de tarefas nã'o tem nada
a ver com tais faculdades. É algo da alçada do
sistema nervoso central e, assim, fica difícil ima-
ginar engenhos dotados desta capacidade.
Diante disto, então, morta a cobra, é preciso
mostrar o pau. Como fazer com que as máquinas
desempenhem funções tão complexas como a de
se controlarem a si mesmas?
Antes de responder, é necessária a introdução
de uma terminologia adequada para a compreensão
do modo de se comportar das máquinas.
E comum dizer que as máquinas operam de
uma forma determinada porque foram progra-
madas para tanto. Ao contrário~ quando uma
pessoa é encarregada da mesma atividade, o comen-
tário é que ela aprendeu como dela se desincumbir.
A distinçâ'o é sugestiva. Serve para ressaltar a versa-
tilidade do ser humano em adotar novos padrões
de comportamento.
Entretanto, o funcionamento dos artefatos
modernos é de tal modo complexo, variável e
imprevisível que o termo "programar" perde o
sentido. E preciso fazer justiça à riqueza do seu
comportamento e, para isso, alguns estudiosos
tJ que é Cibernética 57

da Cibernética propõem que o verbo ''aprender"


também seja estendido às máquinas.
Ou seja:as máquinas.~ assim como os organismos,
aprendem de algum modo a desenvolver suas ati-
vidades.
Pode-se argumentar que o uso do termo é peri-
goso, principalmente porque não se sabe muito
bem o que ''aprender" significa. ~ verdade. Mas o
conceito é útil. Deixa a exposição mais clara e
permite um rápido entendimento das reais possi-
bilidades dos engenhos fabricados pelo homem.
Para se evitar discussâ"o, "aprendizagem" será
aqui entendida como o processo resultante de três
ações básicas que podem ocorrer conjunta ou
isoladamente: a de revelar vocações, a de acumular
informações e a de assimilar experiências.
A forma mais corriqueira e elementar de apren-
der das máquinas é exatamente aquela onde o uso
da palavra soa mais falso. Ocorre quando as máqui-
nas são instruídas mediante um simples apertar de
botões ou pela introdução de cartelas diretivas.
Como uma caixinha de música que soa diferente-
mente, dependendo do disco perfurado que nela
10 enfia.
As máquinas de tricotar, para se fixar num
uxemplo.
Antes eram as avós que ensinavam suas netas
cumo manejar agulhas e linha. Depois vieram as
conhecidas máquinas de uso doméstico: as pessoas
conseguem pontos variados apenas enredando as
58 Jocelyn Bennatoll

linhas convenientemente.
As mais recentes no mercado - embora sua
invenção e utilização em escala industrial remonte
ao século passado - são já chamadas de automá·
ticas. Permitem a introduçâ'o de cartões onde se
acham descritos os pontos a serem executados
pela máquina.
O recurso faz o papel da regra, da receita ou da
lição transmitida à máquina. Seguindo-a, é como
se ela aprendesse a conduzir a tarefa desejada.
É um comportamento pouco elaborado. O pro·
cesso de aprendizagem se faz apenas na direção
de uma de suas componentes, qual seja, a de revelar
vocações. As máquinas desta espécie, quando devi-
damente instru (das, apenas deixam transparecer
o que nelas já se achava embutido. Como se
agissem por instinto.

Uma calculadora que joga palitinhos


t comum se ouvir falar mal dos computadores
que são capazes de jogar damas, gamão ou xadrez.
O argumento é o de que eles são absolutamente
sem graça; que é mil vezes preferfvel enfrentar
parceiros de carne e osso e assim por diante.
t verdade. Entretanto, a existência destas máqui
nas não deixa de ser intrigante.
~ogar é uma atividade muito própria do sm
O que é Cibernética 59

humano. Põe à prova aquela virtude que faz dele


um privilegiado na natureza: a capacidade de ana-
lisar uma situação, pesar prós e contras e, final-
mente, decidir. A existência de engenhos capazes
de competirem com o homem demonstra que
até mesmo esta sua faculdade pode ser projetada
numa máquina.
A questão é: como é possfvel ensinar uma
máquina a tomar suas próprias decisões?
Um jogo de palitinhos, por exemplo. Caso
simples, onde há apenas dois contendores cada um
com um único palito.
Todo mundo tem suas manhas e truques de jogar
palitinhos e todos são válidos. Mas se fosse eu o
segundo a jogar, começaria tendo em mente que
rneu oponente, querendo acertar, errou. Errou
porque previu de modo incorreto o número de
palitos na minha ma'o. Raciocinando assim, com
uma simples subtração, sou capaz de estimar
quantos palitos ele possui. Este valor, somado
àquilo que efetivamente tenho na ma'o, produziria
meu palpite.
Resumindo, o raciocínio poderia ser expresso
numa fórmula matemática: P = C - NT + T.
Leia-se a fórmula do seguinte modo: meu pal-
pite - P - é obtido tomando-se a ''cantada" do
ndversário - C - subtraindo~a do número de
palitos que eu não tenho à mão - NT- e somando
tiO que tenho - T.
Quando o resultado da conta for algo absurdo
60 Jocelyn Bennaton

- número negativo ou maior que a soma dos


palitos em jogo - posso, de antemão, me consi-
derar derrotado . Se for igual a um, nem é preciso
abri r as mãos, pois sou eu mesmo o vencedor.
Nos outros casos, tanto eu como meu opo-
nente temos chances iguais de vencer e, entâ'o,
o palpite fornecido pela equação é o melhor
possível. Garantido . Basta verificar com lápis
e papel; ou com palitinhos .
Desde que há operações aritmética s na pauta,
posso me valer de uma calculador a para responder
ao lance adversário . Ora, encarregá-la disto é a
mesma coisa que ficar de fora; passa a ser ela,
e não eu, quem disputa a partida. A tomada de
decisões no jogo de paI i ti n h os foi, portanto, auto-
matizada.
Na verdade, isto tudo não deveria causar muitas
surpresas.
Nos jogos, independe nte da sorte e do estilo
de cada jogador, tem sempre algo de "automáti co"
que, por se repetir em todas as partidas, pode ser
projetado numa máquina. São as regras e as estra-
tégias do jogo.
As regras dizem o que se pode ou não fazer
durante a partida. As estratégias ensinam como se
deve jogar, lance após lance, para alcançar a vitória.
Quando são poucas - é o caso do jogo da velha -,
dá até para descobrir a estratégia ideal, ou seja,
aquela que leva sempre ou à vitória ou ao empate.
Num jogo de pôquer, por exemplo, isto já é
'
O que é Cibernética 61

mais difí cil. Basta dizer que não se arrisca a jogá-f o


nem por tele fon e, qua nto mais deix ar tal responsa-
bili dad e com uma máq uina . Mas, aind a assi m, é
possível form ular uma boa estratégia em term os
lógicos. Ou seja, num a linguagem que as máq uina s
con siga m apre nde r.

Teseu no labirinto
Nestas altu ras, algu ém argu men tará que , em
tod os os exe mpl os até ago ra cita dos , os proc esso s
de apre ndiz age m exib idos pelas máq uina s sâ'o do
tipo inst inti vo. Elas não fazem nada de nov o e
ape nas resp ond em às inst ruçõ es que lhes são
passadas. Sem pre da mesma form a.
De fato , não pare ce ter hav ido apre ndiz age m.
Mas, será possível que as máq uina s real men te
con siga m apre nde r algu ma coisa?
O uso que com ume nte se faz da palavra ''ap ren -
der " pres sup õe que haja uma inovação. Uma
mud anç a no com por tam ento de que m apre nde ,
graças ao acú mul o e assimilação tan to de infor-
maç ão qua nto de exp eriê ncia . Com o apr end er
a ler, a volt ar para casa dep ois das dez e assim por
dian te.
Ora , por isso persiste a dúvida. Em prin cfpi o,
tais virt ude s s§'o de excfusivo dom ínio hum ano .
Não pod em ter similares no mun do das máq ui-
62 Jocelyn Bennaton

nas.
Será verda de? A estória de Teseu e o Mino tauro
no Labir into vai botar um dedo de luz na quest ão.
O Labirinto era um palácio reple to de salas e
corre dores que se entre cruza vam de forma a impe-
dir asa fda de quem nele entrasse. O mons tro Mino-
tauro havia sido encer rado no Labir into e Teseu
impôs-se a missão de lá penet rar, a fim de liquidar
o animal.
Preocupada com o destin o de seu amad o,
Ariadne vai até Dédalo, o const rutor do Labir into,
que então lhe ensina um estratagema para entra r
e sair c·o m segurança do terrfvel local. O truqu e
era prend er a ponta de um novelo na entra da e
desenrolá-lo à medida que se fosse cami nhan do.
Para sair bastaria fazer o percu rso às avessas, enro-
lando a linha novam ente.
Assim instru (do, Teseu se sai bem da avent ura.
Pois bem. Teseu era um herói e hoje estam os na
era dos super-heróis. Pode-se perguntar~ então :
que super poder es deveria alguém possuir para esca-
pulir do Labir into?
Colo cando de lado extravagâncias - como
''visã o de raios X", etc. -, a artim anha do novelo
seria dispensável em duas situações: se o prisioneiro
tivesse temp o e capac idade para se familiarizar
com o lugar a ponto de conhecê-lo como a palma
da mão; ou então , se ele conseguisse se lembrar
de todos os detal hes do cami nho usado para entra r
no Labirinto.
O que é Cibernética 63

Em poucas palavras: extraordinário pendor para


assimilar experiências ou, simplesmente, uma
memória fantástica.
Te$eu não era um superdotado e possuía apenas
uma coragem legendária. O ardil que propiciou
sua sa ida do Labirinto aparece na estória como
uma terceira via. Como que substituindo as outras
duas - memória e experiência -, automatiza sua
escapada.
Isto é uma brecha. Significa que aquilo que se
julgava ta'o próprio e exclusivo dos seres humanos
- ou seja, a faculdade de aprender ajuntando ou
incorporando informações - pode ser trocado por
um reles carretel de linha.
Deve então ser possível a fabricação de artefatos
que se comportam como se usufruíssem de tais
qualidades. Criáwlos, como no caso do estratagema
de Dédalo, é tarefa para a engenhosidade humana.

Máquinas com memória


O novelo, usado por Teseu na estória, pode
ser olhado como um artifício para ajudar sua
memória: ao invés de recorda r todos os deta Ihes
do caminho, ele só precisou se lembrar de ter
desenrolado a linha ...
Não é, sob este aspecto, uma coisa inusitada.
Estamos rodeados de instrumentos mnemônicos:
. -·-·--------------------
64 Jocelyn Bennaton

calendários, agendas, disc·os e fitas magnéticas,


todos se prestam para guardar informação. Sâ'o
auxiliares da memória. Mas não a possuem propria-
mente, nem bem são máquinas no sentido usual da
palavra.
Uma máquina com memória deve ser capaz,
tanto de reter, como de dispor das informações
nela introduzidas. O trunfo de a possuir é ·que a
memória permite tomar decisões em consideração
a registros anteriores. Uma espécie de anel de reali-
mentação que se fecha no tempo: a partir das
informações passadas, corrige-se o comportamento
futuro.
É de se prever que uma máquina dotada deste
recurso tenha um comportamento bem mais ela-
borado. Acumulando informações, ela pode apren-
der como melhorar seu próprio desempenho
durante a execução de uma tarefa.
Novamente o caso dos jogos ilustra a idéia. Todo
bom jogador aprende a escolher sua estratégia
dependendo das manhas do adversário, que ele
pouco a pouco descobre, simplesmente obser-
vando-o em atuação. Da mesma forma, uma
máquina com memória também aperfeiçoa seu
jogo. Por exemplo, no jogo de palitinhos. Do
registro das partidas anteriormente jogadas, ela
pode concluir que seu oponente tem predileção por
um determinado número de palitos na mão.
Levando isto em consideração, ela aumenta suas
chances de vitória.
O que é Cibernética 65

I
o
() o

. ... o engenho terá~


no seu mapa interno, um registro
apurado do labirinto.
66 Jocelyn Bennaton

Os exemplares mais genu fnos de máquinas com


memória pertencem todos à família dos compu-
tadores. Basicamente, funcionam como um atmo~
xarifado repleto de gavetas cada qual com uma
senha ou número. Guarda-se um objeto indicando
a gaveta: objeto tal na gaveta número tal. Para
reavê-lo, basta apresentar a senha. Esta organi-
zação permite que o almoxarife execute uma série
de operações envolvendo os objetos guardados:
troque o objeto da gaveta X pelo da gaveta Y;
"some" o objeto da gaveta X com o da gaveta Y
e coloque o resultado na Z e assim por diante.
Nos computadores os objetos são as infor-
mações que ele guarda e processa e as gavetas são
as células de memória. O almoxarife é a un idade
de controle e as ordens que ele executa corres-
pondem às instruções do programa que alimenta
, .
a maquma.
Tudo muito simples como se vê, com apenas
uma ressa Iva.
A memória das máquinas existentes imita a dos
organismos e até a ultrapassa quando se trata de
''lembrar" de um grande número de dados em
tempos muito curtos. Entretanto, não se compara
ainda com a sofisticada memória humana.
Nossa memória não é simplesmente um arquivo
de informações linearmente ordenadas. Há nela
uma outra racionalidade: é criteriosa ao armazenar
dados, as lembranças ocorrem por ricas associações
e os registros sâ'o corrigidos constantemente. Em
O que é Cibernética 67

r
suma, a memória humana é mais "holográfica"
que "fotográfica". Quer dizer, as pessoas se lem-
bram de. uma praça, por exemplo, não como uma
sérfe de fotos, mas como um todo projetando
múltiplos e variados aspectos.
Há ainda um outro detalhe. Nossa memória não
é apenas capaz de armazenar dados numéricos,
como uma calculadora de bolso. Nisto, ela é até
mesmo defidente. O que na verdade a singulariza,
constituindo a base de todo processo de· aprendi-
zado humano, é sua habilidade em memorizar fatos
e assimilar acontecimentos.
Fica portanto a dúvida: com o tipo de memória
que as máquinas possuem, será possível nelas pro-
jetar também esta virtude?
A resposta é afirmativa. t posslve/ se fabricar
máquinas capazes de aprenderem a corrigir seu
comportamento por meio do registro de expe-
ri§ncias anteriores.
Por exemplo: imagine-se um mecanismo, uma
espécie de camundongo artificial, que consiga se
aprimorar na tarefa de achar "comida" num
labirinto. Esta tal ''comida" pode muito bem ser
um foco de luz ou calor que, colocado no centro
do labirinto, atraia de algum modo o · artefato.
Ao se encaminhar para o alvo, o 11Camundongo"
Inevitavelmente se chocará com as paredes do labi-
rinto. Nestas circunstâncias, ele age da seguinte
forma: registra a posição do obstáculo num mapa
Interno, retrocede e, finalmente, retoma o percurso
68 Jocelyn Bennaton

em outra direção. Se for assim instruído, o meca-


nismo acabará atingindo seu objetivo.
Pois bem. À medida que o ensaio se repete, o
engenho terá, no seu mapa interno, um registro
crescentemente apurado do labirinto. Se ele estiver
preparado para se guiar pelos dois critérios - ou
11
seja, o das paredes que ele evita e o da Comida"
que o atrai -, suas trajetórias serão cada vez mais
diretas até o alvo.
Omitiu-se, é claro, detalhes construtivos. Mas o
que importa é que a coisa é realizável. Já se fabri-
cou um artefato como este e o resultado foi aquele
previsto: o mecanismo aprende, com seus próprios
errros, a aprimorar seu comportamento.
A questão vem quase sem querer: e se, ao invés
do mecanismo, fosse utilizado um camundongo
de verdade? Quem se sairia melhor da tarefa de
encontrar comida no labirinto?
Para responder a esta curiosidade, testes foram
feitos demonstrando algo a primeira vista surpreen-
dente: ambos se comportam semelhantemente.
Diante da mesma situação, as curvas de aprendi-
zado do artefato e de seu paradigma natural são
praticamente as mesmas.
Não é fantasia. Na verdade, centenas de
engenhos parecidos com o nosso ''camundongo"
foram já constru fdos e ensaiados nas mais variadas
situações. A conclusão é uma só. As máquinas
podem aprender a melhorar seu comportamento.
E o fazem pouco a pouco, por meio de tentativas,
O que é Cibernética 69

erros e conseqüen te correção do desempen ho.


Exatamen te como os organismo s.·

Homens versus máquinas


Ouve-se muito falar de máquinas que fazem


coisas incríveis: resolvem problemas , tomam deci-
sões, traduzem livros; fazem até poesia e pintam
quadros! Um desfile de façanhas que as fazem
parecer melhores que nós, seus próprios criadores.
Soa meio estranho e é difícil acreditar. As
, ' ,... ,.., , ..
maqu1nas que nos cercam sao tao ... maqumas
mesmo: a T.V., a geladeira, o fliperama. Tão dóceis,
passivas, neutras. Coisas que a gente usa quando
quer, depois desliga e elas viram um nada, quase
um traste. Não parecem nos desafiar, nem de
longe seriam confundid as com o ma is reles mortal.
E verdade. Exagera-se muito as virtudes das
máquinas. Entretanto , há algumas coisas que não
podem ser esquecidas .
Os eletrodom ésticos e as outras máquinas do
dia-a-dia da gente não passam de artefatos pendu-
rados nas pontas de outros maiores e mais com-
plexos. A rede elétrica da cidade, o sistema tele-
fônico; também as usinas, as fábricas, as indús-
trias e assim por diante. Não nos é dàdo nem
ver nem atinar muito bem com o funcionam ento
destes sistemas. Mas é principalm ente aí, nos basti-
70 Jocelyn Bennaton

dores, que as máquinas têm· sua hora e vez.


Além disto, quando alguém desata a falar das
maravilhas das máquinas modernas, está especial-
mente se referindo aos computadores e fam flia.
Ou, o que dá no mesmo, aos engenhos que con-
tam com unidades processadoras de informação
fazendo as vezes do elemento controlador.
A origem desta espécie de artefato pode ser
fixada em 1946 com a construção do E NIAC, o
primeiro computador eletrônico digno deste nome.
Daí para cá, o que se viu foi um surto espantoso
de tais máquinas, que proliferaram principalmente
graças ao desenvolvimento da microeletrônica.
Da prodigiosa fam·ília dos computadores todos
conhecem seus membros mais corriqueiros, as
calculadoras portáteis. Há hoje maior número delas
espalhadas por aí do que jamais houve dos antigos
artefatos de fazer contas: os ábacos, as tabuadas,
as réguas de cálculo, etc. Tal disseminação prova
que o advento destas máquinas não é meramente
uma febre temporânea. Ao contrário, o domínio
da tecnologia é definitivo e elas vieram para ficar.
A principal caracterfstica das máquinas compu-
tadoras é seu potencial para acumular e assimilar
informações. E é isto que nelas é surpreendente.
Permite que acabem dando mais do que aquilo
que as alimentou inicialmente. Sendo assim, são
os únicos engenhos cujo comportamento, com o
tempo, pode se renovar de modo imprevisível.
Ora, é comum creditar-se a capacidade de ino-
O que é Cibernética 71

vação dos animais à existência de uma inteligência


ou à faculdade de pensar e criar. Da r dizer-se que
as máquinas computadoras são capazes de "pensar"
ou exibir um comportamento "inteligente". Refe-
rências impróprias, sem dúvida, mas sugestivas.
Indicam que estes engenhos estâ'o para nosso
sistema nervoso assim como uma alavanca está para
nossa musculatura.
Fica sempre a quest§'o de fronteira: até que
ponto pode-se classificar como inteligente o desem-
penho de uma máquina?
E uma pergunta difícil e até mesmo mal colo-
cada, pois pressupõe que se conheça o preciso signi-
ficado do vocábulo ''inteligência". Entretanto,
há pesquisadores que se embrenham nestas para-
gens em busca de fatores que venham a distinguir,
ou confundir, homens e máquinas.
A discussão é cheia de prós e contras. Há aqueles
que sempre imaginam coisas que lhes permitam
afirmar: ''Ah! mas disto uma máquina é incapaz!".
Em seguida, aparece um representante do time
contrário e, por "a mais b", prova o oposto. Para
gáudio de uns e desespero de outros, a disputa
prossegue ad infinitum.
O matemático inglês, Alan M. Turing, imaginou
um teste onde estas dúvidas poderiam ser diri-
midas. E mais ou menos o seguinte:

Alguém fica numa sala frente a dois teletipos


através dos quais conduzirá uma conversação
72 Jocelyn Bennaton

com uma pessoa e uma máquina. Em princí-


pio ele nâ'o sabe quem é uma ou outra. Se após
algum tempo de conversa ainda estiver incerto de
quem é seu semelhante, ele deverá conceder que
a máquina, no outro lado da linha, também possui
um comportamento inteligente.

A idéia é interessante, mas não é exeqüível.


Bastaria formular uma pergunta direta. Por exem-
plo: /lescuta aqui, você é uma máquina". Obvia-
mente, Turing estava ciente destas dificuldades
técnicas. Seu objetivo, com o teste, era apenas
chamar a atenção para o fato de ser possível repro-
duzir nas máquinas comportamentos tidos e
havidos como inteligentes.
Mas por que tanto empenho por uma causa que,
vista de hoje, parece tão descabida?
Acontece que Turing foi um precursor dos
computadores. Dez anos antes dos primeiros
aparecerem, ele já os havia idealizado na forma
de um engenho extremamente simples, a chamada
máquina de Turing.
Na verdade, não se trata de uma máquina
propriamente, mas de uma idéia de máquina. O
importante é que, munida apenas de uma memória
e umas poucas operações elementares, a máquina
de Turing é capaz de resolver uma infinidade de
problemas. Exatamente como os computadores
hoje em dia. ·
Cabe agora deter-se um pouco nesta questão.
_______________________ ..
O que é Cibernética 73

Afinal, o que significa resolver um problema?


Por exemplo: Teseu no Labirinto tinha um
problema: como entrar e escapar depois com segu-
rança? Dédalo, o engenheiro, não podendo dar·lhe
a planta do local, indica a artimanha, o ''jeitinho"
de escapulir. Usando uma linguagem mais ade-
quada, Dédalo forneceu a Teseu o algoritmo para
resolver seu dilema.
Um algoritmo é então uma espécie de receita
que, se seguida à risca, nos conduz à solução de
determinada questão.
Diante de um problema, se eu estiver de posse
do algoritmo, posso muito bem encarregar outra
11
pessoa de resolvê-lo. Tipo: faça aí esta conta
para mim". O encarregado não precisa saber qual
a finalidade nem o enunciado do problema. Basta
seguir as instruções. Ora, isto é indício de que uma
máquina pode igualmente se desincumbir da
mesma tarefa.
A conclusão é que, em tese, uma máquina é
capaz de resolver qualquer problema algoritmi-
zável. Sobra indagar se existem problemas que não
o são, isto é, problemas para os quais não existe
receita conduzindo à sua solução.
Alguns pensadores se preocupam com este tipo
de questão. A despeito de tudo ser ainda muito
discutido, há fortes argumentos a favor de que
existam problemas não algoritmizáveis. E, infeliz-
mente, parte daqueles que mais nos angustiam
-
parecem na o o ser. .
74 Jocelyn Bennaton

O uso humano dos seres humanos

A disputa homens versus máquinas não se dá


apenas no palco de suas potenciali dades intelec-
t ivas. Há também o corpo a corpo, jogado para
valer no espaço . das relações sócio-econ ômicas.
Ocorre quando as máquinas fazem as vez~s do
homem na execução de tarefas.
A substituiç ão da ação humana pela de uma
máquina é, antes de tudo, uma moeda de duas
faces. De um lado a coisa é vista com bons olhos:
o elemento humano fica desobrigad o de um
trabalho possivelm ente desagradável e pode se
dedicar a uma atividade mais prazerosa. Remido
pela máquina, ele se torna mais livre.
Do outro lado, o colorido é um pouco mais
negro. O sujeito deixa de fazer um trabalho, a
que tinha tanto direito como necessidade, porque
apareceu uma máquina mais eficiente. Alijado por
ela, se torna simplesme nte um desempreg ado.
E um dilema, sem sombra de dúvida. Espécie
de feitiço que se vira contra o faiticeiro. As
máquinas criadas pelo homem para servi-lo podem,
de repente, se voltar contra ele na disputa de
empregos.
Norbert Wiener, o fundador da Cibernétic a,
propôs que a quest§o fosse resolvida dentro dos
limites do seu famoso slogan: ''uso humano do
O que é Cibernética 75

O uso humano
dos seres humanos.
76 Jocelyn Bennaton

seres humanos" .
Segundo Wiener, é indigno executar tarefas
das quais uma máquina pode muito bem se desin-
cumbir. Ao passo que o homem se enobrece
tendo por meta o seu paulatino desprendi mento
destas empreitad as. Assim, ele poderia se ocupar
com afinco das coisas que, como ser humano,
lhe dizem mais respeito.
t uma idéia louvável e ninguém discordaria.
Entretanto , no mundo em que vivemos, onde o
objetivo do trabalhh não costuma ser o bem
estar de todos, mas o de alguns poucos, ela se
torna uma utopia.
É fato que as máquinas desafojam mão-de-ob ra.
Mas seria um total contrasens o privarmo-nos do
seu uso por causa disto. Ao contrário, devemos
enfrentar o desafio. Cumpre apenas organizar as
coisas de modo que prevaleça o aspecto liberatório
advindo da sua utilização.
Este ângulo de ataque desloca o problema. O
uso que é feito das máquinas não é questâ'o perti-
nente ao universo da Cibernética. Nem algo que
pode ser resolvido com meia dúzia de preceitos
lógicos, racionais ou humanitár ios. E assunto
da esfera das relações sociais e, portanto, primor-
dialmente , é um tema político.
Para finalizar, coloque-se o dilema da seguinte
forma: os homens almejam tanto a bem-aventu-
rança e o lazer como carecem de trabalho para
sobreviver. Aparentem ente são dois questiona-
'
O que é Cibernética 77

mentos distintos, mas -não o São. A estrada é uma


só, embora com-frent e e verso.
Se ambas as c_g}sas pudessem ser buscadas sepa-
radamente __ _...résúltãria, exagerand o um pouco,
naquela soéieâadi dó. futuro imaginada por Wells
no seu A Máquina -do Tempo. Nela havia dois
tipos de seres. Os Elóis, pessoas delicadas e inermes
que nada fazem e se divertem o tempo todo;
morâm em jardins, se alimentam de frutos e são
fracos. Os outros, os Morlocks, são uma espécie
de proletaria do obstinado que de tanto traba-
lharem embaixo da terra ficaram cegos. Mesmo
assim, instados pela rotina, continuam pondo suas
velhas máquinas para trabalhar. Mas todo o esforço
é inútil, pois as máquinas já não servem para nada.
Completa-se o quadro quando, nas noites sem luar,
os Morlocks sobem à superffcie e devoram os
Elóis ...

O desafio dos robôs


Toda esta conversa das máquinas roubarem dos
homens o emprego tem muita atualidade . Principal -
mente por causa dos robôs industriais que, é o que
dizem, estão prestes a serem instalados também
. ,
aqu 1 entre nos.
Mas vamos por partes. Primeiro, o que é um
robô?
78 Jocelyn Bennaton

A palavra tem raiz na Iíngua tcheca e significa


"trabalho". Já é um indício do que se trata. Entre"
tanto, graças aos filmes de ficção científica, passou-
-se a consagrar robôs de forma humana: com braços
e pernas, olho's, ouvidos e boca; com carácter e
charme também, pois há uns que são tímidos
.e nquanto outros são tão geniosos quanto uma
criança mimada.
Por mais divertido que possa parecer não é bem
isso. Robôs são máquinas construldas com a única
finalidade de substituir a força de trabalho
humano.
Alguns possuem sensores que os deixam rastrear
o terreno à sua volta. Outros têm a capacidade de
se locomoverem. Muitos vêm com braços mecâ-
nicos que lhes permitem agarrar e deslocar objetos.
Mas robôs não reproduzem necessariamente a
figura humana. Apenas amplificam nossa aptidão
para realizar trabalho.
Os dados que se tem hoje a respeito da difusão
de tais engenhos no mundo contemporâneo são de
impressionar. Consta que existem dezenas de
milhares de robôs sendo já utilizados em escala
industrial. E este número só não é maior devido à
resistência oferecida pelos sindicatos.
Sabe-se que a maior parte dos robôs está no
Japão: 14 mil em 1980, três vezes mais que o
número dos existentes nos EUA. Cabe então per-
guntar: por que no Japão? Não há sindicatos tam-
bém lá?
O que é Cibernética 79

Acon tece que as relações entre capital e traba lho


no Japão sâ'o um pouc o difere ntes daque las a que
se está acost umad o por aqui. Devido às circuns-
tânci as históricas em que se deu seu ingresso no
modo de produ ção capit alista , lá os traba lhado res
são beneficiários de uma pol ftica empr egatí cia
que fac ili ta a assimilaçâ'o de novas tecno logia s.
Por exem plo: a idéia de empr ego vitalí cio;
escal onam ento salarial basea do no temp o de ser-
viço; criaç ão de atividades paralelas àquel as que
estão sendo autom atizad as; traba lho comp arti-
lhado, onde duas ou mais pessoas desem penha m
a mesma funçã o com meno r jorna da de traba lho
e sem perda salarial; e assim por diant e.
O resur tado desta pol ftica pode ser medi do em
núme ros. No in feio da década de 70, a indús tria
autom obilís tica japonesa produ zia entre 2,5 e
3 milhões de carro s por ano e oferecia 450 mil
empregos. Em 1980 , graças à impla ntaçã o dos
robôs, a mesma indústria fabric ou 11 milhões de
ve(culos, dos quais 6 milhões para expo rtaçã o.
Tudo isto mant endo a mesma oferta de empr egos.
Nâ'o é necessário dizer que entre nós a coisa é
muito difere nte. Nosso parqu e industrial é heter o-
uôneo, precá rio e desca pitali zado. Não temo s
pol (tica de empr egos, os sindi catos não sã'o inde-
punde ntes e os salários são avilta ntes. Ainda não
dobra mos o cabo da Boa Esperança em matéria de
Industrialização.
Há excessões, sem dúvida. Indús trias que conta m
80 Jocelyn Bennaton

já com razoável grau de automatização, como as


montadoras de veículos. Para elas, o emprego de
robôs é subir apenas um degrau nesta escalada. E
um fato tão natural quanto imperativo e pode
significar sua própria sobrevivência frente à concorw
rência internacional.
Entretanto, a questâ'o que se coloca é: por serem
estas indústrias exatamente uma excessão, a sua
modernização não acarretará um ônus para toda a
sociedade?
As vezes a automatização de um procedimento
não se mostra nem urgente nem lógica. Pelo conM
trário, mais parece uma imposição do que uma
opção. Tipo geladeira em casa de esquimó. Será
este o caso?
Sobram também inconfessáveis razões para a
implantação dos robôs industriais. Imagine-se, do
ponto de vista do empresário, poder contar com
uma mâ'owdewobra assim, tâ'o pontual e compor-
tada. Máquinas não pleiteiam salários nem férias,
trabalham de sol a sol e não fazem greves. E o
ideal. Significaria um notável aumento de produ-
tividade sem nenhuma contrapartida na folha
de pagamentos.
A questão é complicada. E, para piorar, há ainda
uma outra componente. 1: o medo das máquinas,
puro, simples, sem mais nem quê.
O noticiário insiste em tratar os robôs como se
fossem seres extraterrenos numa calculada invasão
de nosso planeta. E não o fazem à toa. Apenas
O que é Cibernética 81

traduzem o temor geral que, na verdade, qualquer


artefato inspira. O mesmo sentimento que inspira
a figura de Frankenstein, o Labirinto, a cidade
de Metrópolis, os Golens da mitologia judaica e
assim por diante. E o cuidado com a exorbitância
das máquinas. Medo de que as coisas criadas pelo
homem se voltem contra ele próprio.
No caso dos robôs, a postura é irracional. Mas
não deixa de revelar a angustiante insegurança que
cerca qualquer cidadão nos dias de hoje.
O fato é que robôs são apenas máquinas. Exis-
tem, é legrtimo anunciá~los e tudo indica que sera'o
adotados mais cedo ou mais tarde. Também é
verdade que deslocam mão-de-obra, criam desem-
prego e, portanto, é igualmente legítimo opor-se
ao seu abrupto advento.
E este o limite de elasticidade da questa'o. Cabe
u esta entidade plural chamada sociedade decidir
u respeito de quando, como e quais setores da
produção serão robotizados. E, se por acaso o
forem, discutir as medidas a serem tomadas para
urrefecer seu impacto .


• •
CONCLUSÃO

Discorreu-se, no primeiro capítulo, sobre con-


ceitos básicos da Cibernética. A idéia de sistemas,
que sâ'o de fato processadores de informação, e a
de equivalentes e modelos que, na verdade, são
formas de se apresentar os sistemas.
Sâ'o estes os meios pelos quais a Cibernética
instrumentaliza seu jeito de enquadrar o mundo.
Através deles, afastando-se da visão linear de pares
''causa e efeito", ela busca um enfoque mais
global izante da realidade, onde fenômenos vários
e díspares possam ser reunidos e compreendidos
simultaneamente.
A Cibernética se caracteriza por enredar máqui-
nas e organismos num mesmo discurso.
No capítulo 11, viu-se que isto faz sentido se
,..,~ ... .
prestarmos atençao, nao na aparencta e consti-
.
tuição dos artefatos, mas no seu funcionamento.
O que é Cibernética 83

Homeostase nos · seres animados, realimentação


nas máquinas; o processo de aprender daqueles, a
"aprendizagem" destas e assim por diante.
O homem cria as máquinas à imagem e seme-
lhança das suas próprias virtudes e necessidades.
Elas estendem suas potencialidades Hsicas, mas
o que mais as notabiliza é serem capazes de repro-
duzir também seus atributos mentais.
Falou-se disto tudo um pouco. Resta concluir
corn um último dedo de prosa a respeito de como
se insere a Cibernética na esfera da história e do
conhecimento humano.
Quando, por volta de 1945, Norbert Wiener
forjou o termo "cibernética" havia um consenso.
Pesquisadores de áreas tá'o diversas quanto a Enge-
nharia, a Física, a Matemática e a Biologia, concor-
davam que os resultados do trabalho que vinham
conduzindo não podiam ser perfeitamente encai-
xados em nenhuma especialidade científica exis-
tente. Possu (am caráter, unidade; eram promis-
sores na esfera da ciência e relevantes no plano
social. Mereciam ser agrupados dentro de uma
nova denominacão •
.
As primeiras obras sob o rótulo Cibernética são,
então, como desenhos a serem coloridos pelas
uerações futuras. Estas, porém, em alguns anos,
cuidaram de carregar tanto nas cores que pouco
su distingue já do esboço inicial.
Hoje, o território da Cibernética ficou imenso
u embaralhado. Isto, sem sombra de dúvida,
84 Jocelyn Bennaton

reflete sua definitiva inserção no modo de pro-


dução contempo râneo. Mas também traduz a
impotênci a dos homens de ciência em compreen-
dê-la de fato.
A indústria da informaçã o e do consumo é,
em parte, responsável pela situação. Bombar-
deando-no s com artefatos, mitos, filmes e publi-
cações classificadas como "cibernéti cas", contribui
e muito para o desgaste do termo nos meios cien-
tíficos.
Há pesquisado res que se sentem até constran-
gidos quando seu trabalho é referido como do
domínio da Cibernétic a. Preferem outros nomes
- como Informátic a, Robótica, Biônica e Auto-
mática - que, possuindo maior afinidade etimo-
lógica com sua especializa ção, emprestam mais
credibilida de a sua obra.
Para outros, ao contrário, a Cibernétic a é uma
espécie de alquimia dos tempos atuais. A chave
que abre todas as portas do conhecim ento. Se
nela iniciados, crêem ser possível a resolução de
qualquer impasse do conhecim ento ou a superação
de todos os transtorno s que afligem a sociedade.
Feliz ou infelizmen te, isto é pura fantasia.
A maioria daqueles cujo trabalho tem algo a
ver com Cibernéti ca- e são inúmeros - utilizam-se
de modelos cibernétic os apenas em escala local,
tão somente para a resolução de seus problemas
imediatos. Ao passo que é bastante reduzido o
número dos que, em tempo integral, cuidam de
O que é Cibernética 85

sedimenta r-lhe as bases teóricas. Conseqüen te-


mente, a edificação desta nova ciência deve mais à
soma de ações isoladas do que ao desdobrar- se de
um projeto científico genu (no.
A Cibernétic a não é então uma ciência acabada,
pronta para entrega. E, por ora, apenas mais um
dos desafios colocados ao pensamen to humano no
decorrer de sua história. Por isto seu tempo parece
ser mais o do futuro que o do presente.
Mas, se ela ainda se faz, seu mérito é coisa já
comprova da. Nos últimos trinta anos, o aparato
teórico da Cibernétic a - ou como querem alguns,
a Teoria Geral dos Sistemas -vem sendo crescen-
temente uti lizado para dar conta de problemas
os mais complexo s e variados. Como o estudo de
redes neurônicas , o controle da trajetória de saté-
lites, a previsão de safras, a ecologia de populaçõe s,
etc.
Tal sucesso, em grande parte, decorre do notável
crescimen to da indústria de computad ores, com a .
qual a Cibernétic a parece manter constante sim-
biose. Ela necessita destas máquinas para simular
sistemas ou implemen tar teorias. E, por outro
lado, a fabricação de computad ores só pode ser
hem norteada se o for pelos desígnios da Ciber-
nética.
Uma coisa que não pode ser esquecida é o
l:nráter interdiscip linar da Cibernétic a. Desde sua
origem ela tem se afirmado como ciência eclética,
m<ntamente por crer na existência de unidade na
86 Jocelyn BemUlton

naturez a. Sem esta ousadia , que lhe está nas ra (zes,.


compro mete-s e todo seu desenvolvimento.
A Cibern ética, portan to, não possui um parti-
cular tema de interesse. Entre seus objetos de
investigação estâ'o arrolad os tanto os organismos
como as máquin as. Qualqu er que seja a naturez a
e a circuns tância destes objetos , cujo estudo cabe
a outras especialidades, ela os trata sempre de
modo indistin to.
É esta sua marca registrada. Uma espécie de
queda para valorizar estrutu ras de compo rtamen to
e não a constit uição elemen tar das coisas que nos
rodeiam . Ao agir assim ; termin a por revelar o que
tais coisas têm em comum e, sobretu do, como se
articula m.
Por tudo isto, mais do que um simples ramo da
ciência, a Cibern ética é antes de mais nada um
modo de olhar o mundo , uma linguagem . Em
decorrência, também uma possibilidade de s(ntese .


• •
-
INDICAÇOES PARA LEITURA

Para começar, dois clássicos obrigatórios: Cibernética, de


N. Wiener (Polígono/EDUSP) e Uma lntroduçaõ à Ciberné-
tica, de W. R. Ashby (Perspectiva/EDUSP). No primeiro os
alicerces. No outro, uma tentativa de edificar o corpo
teórico.
Um apanhado geral de vários e ilustres autores está em
Cibernética e Comunicação, organizado por lsaac Epstein
(Cultri x). Há também os Iivros da Editora MI R, todos
simples e entusiasmados; dentre eles, Pequena Enciclopedia
tio la Gran Cibernética, de V. Pekélis.
Máquinas em geral, em particular as modernas, é o
misunto de Panorama da Automaçaõ, vários autores (Fundo
cln Cultura) e Robots, Hombres y Mentes, de Bertalanffy
(liuadarrama).
Cibernética e Psicologia, de M. Apter (Vozes), abre
luuc:has nas ciências da mente e Cibernética e Sociedade, de
N Wiener (Cultrix), põe a coisa numa perspectiva social.
88 Jocelyn Bennaton

Alguns detalhes da Teoria da Informação podem ser


encontrados em lntroduçaõ à Teoria da Informação, de E.
Edwards (Cultrix), ou no clássico, Teoria da lnformaçaõ e
Percepção Estética, de A. Moles (Tempo Brasileiro), com
implicações para a Arte em geral. E, sobre computadores, o
bê-a·bá está em Computadores, de J. O. E. Clark (Melho·
ram entos/E DUSP).
Também não se pode deixar de lado as revistas de
divulgação científica que, como a da SBPC, Ciência Hoje,
trazem quase sempre artigos que interessam de perto à
Cibernética.

Coro leitor:
As opiniões expressas neste livro são as do autor.
podem não ser as suas. Casovocêache que vale< 1
pena escrever um outro livro sobre o mesmo temo.
nós estamos dispostos a estudar sua publicaçü('
com o mesmo título como "segunda visão" .


• •
--- . ---· ·····-- __.....,.. :
'

-.....
·-
-.......,.
.,.... ..
....
Biografia

Jocelyn Freitas Bennaton./ Paulistano da turma de 46,


descobre os aviões antes dos patinetes: em 2 pares de anos
os pais o levam a Belo Horizonte e a Curitiba onde aprende
a sorrir com um certo sotaque./ Retoma a São Paulo.
Colégio, brigas de rua, aprende a ler e ir até o Centro
soz.iJiho. Muda de voz, como se dizia./ Depois, calouro na
Poli, na Letras e no CRUSP onde fica até a invasão. Raiva,
revolta, fogo no rabo e as duas margens do rio Pinheiros./
Formado e inconformado parte pras periferias e a vida
ucadêmica o que, visto com um olho só, é a mesma coisa./
Muitas aulas e tese dá- o corte: quatro anos no Imperial de
l.ondres on.de, entre outras coisas, aprende a gostar de
lnn Dury e a gostar do Financiai Times ./ Volta Ph.D. e
vlra amador profissional aqui e na USP de São Carlos, a
ddudc do Bar do Centro .


• •
COLECÃO

PRIMEIRO S PASSOS

1 • Socialismo Ar11a~ do Spindel tenciallsmo João da Penha 62 • lngo} José A li!JUSID P6d11a 117 •
2 · Comunismo Arna!do Spindel Direito Robe rto Lyra Fi:ho 63 . Neol ogismo Nelly Carva!ho 118
3 · Sindicalismo Ricardo C. An· Poesia Fernando Paixão 64 • Ca· • Me dicina Preventiva Kurt
tunes 4 • Capitalismo A. Mendes pltal Ladis!a u Dowbor 65 . Mais· Kloetrel 119 • Nordeste Brasilei-
Catanl 5 • Anarquismo Caio Túlio Valia Pau!o Sandroni 66 • Recur- ro Carlos Garcia 120 • Naciona-
Costa 6 · Líberdade Caio Prado sos Humanos Flávio de Toledo lidade Gui:!ermo Raul Ruben
Jr. 1 • Racismo J. Rufino dos 67 • Comunicação Juan Diaz Bor- 121 · To rtura G!sru;o M111toso
Santos 8 • Indústria Cultural Tei- dcnave 68 · Rock Paulo Chacoo 122 • Pa raps icologia Osmard An-
xe!ra Coe!ho 9 • Cinema J . C!au- 69 • Pa~toral João Batista Liba- drade Far ia 123 . Mercadoria LI·
do Bernardo! 1o • Teatro Fernan- nlo 70 • Contabilidade Roque Ja. liana F!. Petr i:li Segn'ni 124 •
do Peixoto 11 • Energia Nuclear c!ntho 71 . Capital Internacional Etnccentrismo l:verardo P. Oui·
J . Go!demberg 12 - Utopia Tei- Rabah Benakouche 72 · Posit1vls· marãcs Rocha 125 . Medicina
xe ~ ra Coe!ho 13 • Ideologia Ma- mo JoAo Rlbe!ro J r. 73 • Loucura Popular Elda Rizzo de O~ive:ra
ri !cnn Chaui 14 • Subdesen>~olvi­ João A. Frayze-Pere:ra 74 • Lef· 126 · Aborto Oanda Prado 127 ·
mento H. Gonza!ez 15 • Jor na lis· tu ra M aria He!eoa Martins 75 • Suicídio Rooseve:t M . S Ces-
mo Clóvis Ros si 16 • Arquitetura Palestina, Questão Helena Sa :em saria 128 · Po rnografia E R Mn-
Ca rlos A. C. Lemo s 17 • H1stór1a 76 • Pu nk Antonio Bivar 77 · Pro· raes e S M Lape iz 129 • Ciber-
Vavy P11c!õ eco Borges 18 · Agrá- pag a nd a Ideológica Nelsoo Jah r néti c a Jocelyn Bcnnaton 130 ·
ria, Questão José G da S1!va 19 Ga rcia 78 • Magia João Ribe:ro Ge raçllo Beat André Bueno,'
· Comunidade Ec. de Base Frei J r. 79 • Educação Física Vitor Freei Góes 131 · Fislca Ernst
Betto 20 • Educação Carlos R. Marinho de Oliveira 80 • Música W . Hambu rger 132 · Filate!ia
Brandao 21 · Burocracia F. C. J . Jota ue Moraes 81 • Homos- Raymundo Galvão de Queiroz
Preste s Mutta 22 • Dit&duras se xualidade Peter FryjEdward 133 • Psicanálise . 2: visão Os·
Arnaldo Spindel 23 · Dialética Ma~Rae 82 • Fotografia Cláud:o c ar Cesaro tto,'M. Souza Leite
Leandro Konder 24 • Poder Gé· A Kubrusiy 83 • Política Nuclear 134 • Homeopatia F:óvio Oanlos
r-ard Lebrun 25 · Revolução Flo- Ricardo Arnt 84 • Medicina Al- 135 • Conto 'luria de Maria 136 ·
restan Fernande s 26 · Mult!na· te rnativa A:an lnd:o Serrano 85 · Erotismo Lucia Castelb Brllnco
cionais Bernardo Kucinski 27 . Violência Nilo Od a!ia 86 · Psíc!l· 137 · Vídeo Cãnd•do José Me n-
Market ing Raimar Rich~rs 28 · n~lise Fab io HermMn 87' . Paria· d es de Almeids 138 . Brinquedo
Empregos e Si!llários P n. de m enta.rlsmo Ruben Cesar Kc:nert Pau!o de Salles O l:ve :ra t39 .
Souza 29 · Intelectuais Horác:o 88 • Amor Bctty M:!an 8~ • Pes.
He rói Ma rtin Cezar Feijó 140 ·
Gonza~ez 30 • Recessão Pau~o soa s De ficientes João O. Ciotra Autonom ia operária Lú cia Barre -
Sandroni 31 · Religião Rubem Ribas 90 • De sobediência Civil to Bruno 141 • Alienação Wander·
A lves 32 • Igreja P. Evaristo. Ca r- Eva: do Viei ra 91 · Universidade ley Codo 142 · Benzeção Eld a
dea l Arns 33 · Reforma Agrária LUI Z E W. Wanderley 92 • Mora· R!zzo de Oliveira 143 • Consti·
J Eli v e:ga 34 • Stallnismo J dia, Qu estã o da Luiz C O. Ribei- tuinte Marilia Garcia 144 • His-
Pau:o Ne tto 35 · Imperialismo ro,'llobl!rl M . Pecnman 93 • Jan tória em Quadrinhos Sõn;a IJ:bc·
A . Mendes Catani 36 • Cultura Roberto Mugg:ali 94 • Biblioteca Luyten 145 · Acupuntura Marcus
Popular A . Augusto Arantes 31 . Vin(cil.IS Fc rro:ra 146 • Espíritjs.
L~;>Z M ilanesi 95 · Participação
Filosofia Ca!o Pr<>do Jr 38 • Mó· Jua n E. Diaz Bordenavc 96 • Ca· mo . 2.' visão Maria Laura Vi·Jci·
todo Paulo Freire C. R. Brandão poe ira A!nl! r das Areles 97 · Um. r os de Castro 147 . Numisr.1á·
39 . Psicologia Social S T Mau· banda f'a tric:a Birrnan 98 . Litera- tica A la:n Jeall Ccstdhes 148 ·
r er Lane 40 . Trotskismo J . Ro· tu ra Popular Joseph M Luyten Marxismo José Pau~o Netto 149
berto Campos 41 • Islamismo 99 • Pape l Otiivi~ Roth 100 · • Toxicomania Jantl:ra Mas~r 150
Jam1l A. Haddad 42 . Violência Contracultura Carl<:s A. M Pe· . Mo rte Jcsé Luiz d6 Souza Ma·
Urbana Rey:s de M~rais 43 • Poe· re :r o 101 . Co municação Rura l ranhiio 151 · Mito Everardo P
s ia M arginal G!au·=o Mat loso 44 • Juan E O. Borde!lave 102 · Fo me G Rocha 152. Menor Edson Pa~
Feminismo B M . A~•es ' J Pitan· n1curdo Abra:novay 103 • Semió. se ttl 153 · Habea s-Corpus Ada"·
guy 45 . Astronom ia Rodo!pho tica LuC18 Santae~!a 104 • Partic i- to Suannes 154 • Zoologia Fr ar:.
Can!ato 46 • Arte Jcrge Co:i 47 · pação Poli tic a Da~mo de Abreu eis Por/Mario Por 155 · Gorpo Ua·
Co mi ssõe s de Fábrica R. A!'ltU· oa::en 105 · Justiça J~ !: o Cósar trial Wanderley Codo;'V," ifsc n A
nes,'A. Noguc:ra 48 • Geografia T~deu Barbosa 106 · Astrologia Senna 156 . Ficç~o lvete Wa:ty
Ruy M ore: ra 49 · Direitos da Juan A. C. Müiler 'Léa M P 157 • Cometa Halley Car:cs A
Pe ssoa Oa~mo de Abreu Da::ari Mü:Jer 107 · Politica Cultural H. Gcbnra 158 · Informática João
50 • Fam!lia Danda Prado 51 • Pa· Martln Cezar Feijó 108 • Comu. Cfodomlro do Carmo t59 Ado·
trimõnio Histórico Car!os A. C . nidade s Alternativas Carlos A. lescê ncla Oan:er Becker 16íl ·
Lomos 52 · Psiquiatria Alterna. P. T~vares 109 • Romance Po· Teologia da libertação Franc:s·: ·•
ti va A!an lnd: o ~errar.o 53 • lite- licial Sandra Lúcia ne:mão 110 Catão 16 t · Psicologia Comunih't·
ratura Marisa Lajoio 54 • Pc;!itica • Cultura José Luiz dos Santos ria Ed11ardo M . Vasconce!cs 162 .
Wolfgang Leo Maar 55 • Espiri- 111 • Serviço Social Ana Moria Trânsito Eduardo A . Vasconçe:r:"
t ismo Roque Jac:P.t ho 56 · Po. Ramos Estevão 112 · Taylcr1smo 163 • Lite ra tura Infantil Líg:o C11
d~r l egislativo Nelscn Sa ~ danha Lur lo Margareth Rago;'Eduardo derna rt ori 164 . Português Brasl·
57 . Sociologia Carlos a. Mar- F. P. More:ra 113 • Budismo An- leiro Hr:do H do Cou!o 165 ·
tins 58 . Direito Internacional J ton :o Carlos Rocha 114 • Tea tro Pós-Mode rno Jair Fe rre:ra d;l'l
Mo nserrat Filho 59 . Te oria Ota. Nõ Dllrci Yasucu Kusano 11 5 · Sa nto s 166 · Tradução Gerr Ca;r:
v:an o Pere:ra 60 • Folcl ore Car. Reali dade João·Fra~.cisco 1/uor- pos 167 • Beleza João-Fr;:r.c ~ .::>
los n od riguos Brand ã.:> 61 • h is. .,, J... 116 . Ect~ f ogia A!"', h; r: ::·· ,... ·: arte Jr
DAG GIU.FICA E EDITORIAL LTDA.
Imprimiu
S<nh~'•..
•.. . ......do. O, 1.182
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TITULOS PUBLICADOS
FEVER EIRO D E 86

Aborto n: (126) f'icçilo n.' (I Só) i'astora l n.· (69)


Acupuntura ( 145) Filatella (132) Património His tórico (51)
Adolescência (1591 Filosofia (37) Pess oas Deficientes (89)
Agrá ria , Questão (18) Física (131) Poder [24)
Alienação {141) Folclore (60) Poder legislativo [56)
Amor (88) Fome (102) Poesia {63)
Anarquismo (5) Fotografia (82) Poesia Marginal (43)
Arquitetura (16) Geografia (48) Polillc.a (54)
Arte (46) Ge ração Beat (130) Política Cultural [107)
Astrologia (106) Habeas-Corpus (153) PoliUoa Nueiear (83)
Astronomia (45) Herói (139) Pornografia (128)
Autonomia Operária (140) História (1?) Português Brasileiro (164)
Beleza (1 67) Homeopatia (134) Positivismo (72)
Benzeçlio (142) História em Quadrinhos (144) Pós-Moderno (165)
Biblioteca {94) HomosseKualldade (~1} Propaganda Ideológica [77)
Brinquedo (138) Ideologia (13) Psicanálise (86)
Budismo (113) Igreja {32) Psicanálise (2.' visão) (133)
Burocracia (2 1) Informática (158) Psicolog ia Comunitária (161)
Capital (64) Imperialismo (35) Psicologia Social (39)
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Capoeira (96) Islamismo (41) Racismo (7)
Cibernética (129) Jaz:z (93) Realidade (115}
Cinema (9) Jornalismo (15) Recessão (30)
Cometa Halley (157) Jus tiç.a (tOS) Recursos Humanos (66)
Comissões de Fábrica (47) Leitura (74) Reforma Agrária (~3)
Comunicação (67) Libe rdade (6) Rl!lígião [31)
Comunicação Rar.d (101) Literatura (53) Revoh1çio (25)
Com. Alternativas ( 108) Litera tura Infantil [t 63) Rock (68)
Com. Eclesial de Base (1 9) litera tura Popular (98) Romance Policia l (109)
Comunismo (2) Loucura (73) Semi6tlca (103)
Constituinte ( 143) Magia (78) Serviço Social ( 111)
Contabilidade (70) Mais-Valia (65) Sindicalismo (3]
Contracultura (100) Marke ting {27) Soe Ia 11 srno (f}
Conto (135) Marxismo (148) Sociologia (57)
Corpo( latria) (155) Medicina Alternativa (84) Stalinlsmo (34)
C:ullnra (110) Medicina Popular (125) Subdesenvolviment o (14)
Cultura Popular (36) Medicina Preventiva (118) Suicídio (127)
llnanbcdlôncia Civil (90) Menor (f 52) Taylorlsmo (1 12)
1Jinl6tlca (23) Mercadoria (1231 Teatro (1 0)
Direito (62) Método Paulo Freire (38) Teatro Nõ (114)
IHrnlto lntornacional (S9} Mito ( 151) Teologia da Libertação (160)
lllrftltos da Pessoa (49) Moradia, Questão da (92) Teoria (59]
llltruluras (22} Morte (150) Tortura (1 21)
h .uluglcl ( 1161 Mutinaclonals (26) Toxicomania (149)
l:olur.11ç llo (20) Música (80) Tracfuçllo (166)
tohtc llçfto Fislca (79} Nacionalidade (1 20) TrãnGIIO (162)
tmttlft{)Os o Salários [28) Neologismo ( 11 7) Tro tskismo {40)
t.IIMIJI II Nuclear (11) Nordeste Brasileiro ( 119) Umbanda (97)
~ ~ ull atHO (136) Numismática (147) Universidade (91}
httl rltl amo (55} Palntlna, Questão (75) Utopia (12)
h tolllll l mo (2.' visão) (146) Papel [99) Video (137)
~'""tnul rlsmo (124} Pa rapsicologia (122) Violéncia (85)
h l •tencl~lismo (611 Parlamentarismo (87) Violência Urbana (42)
t -11111 (50) Participaçlio (95) Zoologia (154)
t • •" '" ' • mo (44) Pertlcipação Política (104}
Computa ção? Informát ica? Engenho
ou arte? Afinal, o que é cibernéti ca? A
que deus ela serve? Aprendiz agem ou
automaç ão? Expondo aquilo que é
consider ado o conjunto mínimo de
conceito s básicos da cibernét ica, de
forma acessível e límpida, este livro
desfai ".a velha imagem que
transform ou a cibernét ica em
comp.l icação e estranha mente,
exploran do o território de suas
múltiplas possibili dades.

edito ra brasi liens e

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