1) Um cavaleiro estava perseguindo há 12 anos uma fera chamada "Besta Ladradora" na floresta.
2) Gilfret, outro cavaleiro, juntou-se à caçada, mas o primeiro cavaleiro o atacou por achar que estava interferindo.
3) O primeiro cavaleiro feriu gravemente Gilfret com sua espada.
1) Um cavaleiro estava perseguindo há 12 anos uma fera chamada "Besta Ladradora" na floresta.
2) Gilfret, outro cavaleiro, juntou-se à caçada, mas o primeiro cavaleiro o atacou por achar que estava interferindo.
3) O primeiro cavaleiro feriu gravemente Gilfret com sua espada.
1) Um cavaleiro estava perseguindo há 12 anos uma fera chamada "Besta Ladradora" na floresta.
2) Gilfret, outro cavaleiro, juntou-se à caçada, mas o primeiro cavaleiro o atacou por achar que estava interferindo.
3) O primeiro cavaleiro feriu gravemente Gilfret com sua espada.
A esto a q u e (3) u o s a b e s t a q u e veeo (4) aa p a r a b e u e r (5). E t a n t o q u e (6) a os cãaes (7) foram a par a matalla. E q u a n d o ella ujo (8) agua mal p a r a d a , c o m e ç o u de fugir (9). E glifet q u e c h e g a r a , q u a n d o a u j o , começou de hir ella. E q u a n d o a ujo decer m o n t a n h a e os cães a p o s ella, çousse a s i n a r (10) pella ligeirice que lhe ujo. O n d e (12) o disse depois em camalot A rrey a r t u r q u e lhe d e m a n d a u a (13) as nouas (14): "Senho r , q u a n d o a sseeta (15) da beesta, n o m vay toste (16) c o m o a eu vy c orrer Q u a n d o glifet vio a caça c o m eçada, começou hir em ella e d e u uozes a o s cãaes e (19). E q u a n d o o c a u a l e y r o deçeo da m o n t a n h a e vio e s t o , n o m lhe a prouue h e n d e (20), ca (21) lhe s emelhaua que lhe querria tolher (22) sua caça e disselhe: " t o rn ad eu o s , sodes (23) m o r t o . " E glifet n o m se quis tornar (24) p o r (25), ca desejaua d a r cima (26) a a q u e l l a caça. Q u a n d o o caualleiro vio q u e sse n o m t o rn au a (27), s emelhou lhe (28) q u e n o m p r ezaua t a n t o que sse por qujssese tornar. En- tam a e s p a d a e leixousse (29) hir a elle. E o c a u aleyro e r a grande e arrizado (30) e e n s i n a d o feramente de bonda- d e d e a r m a s e ferio glifet por cima d o e l m o t a m rijamente que meteo t o d a a espada por assi q u e lhe (32) o q u a r t o (33) da cabeça ataa (34) o c e s t o , e ao t i r a r da s p a d a c a y o glifet em t e r r a a t orda d o (35) q u e n o m sabia dessi p a r t e , nem se era noute n e m se era d i a . Q u a n - do o caualeyro o vio em t e r r a , disse: " a g o r a leixaredes deman- d a , ca affazer u o s (36). E mais uos u alera hir ueer uosso con- p a n h e i r o q u e j a z e m n a m o n t a n h a . " E s t o dizia, porque p r e s u m j a que e r a de cassa de rei a r t u r . E d e p o i s q u e e s t o disse, foy d e p o i s a besta o leixou glifet jazer em t e r r a . (Da História dos cavaleiros da mesa redonda e da do Santo de Ka r l Berlin, 1887, p . 69-70.)
Notas N o ciclo cavaleiresco d o G r a a l , a Demanda constitui a
parte, s e n d o a o Livro de José de e a2 . a
o Merlim, p e r d i d a ( m a s q u e figura no rol da livraria do rei D.
te). A Demanda t o d a s as a v e n t u r a s realizadas pelos cen to e cinqüenta c a valeiros do rei A r t u r , na busca do s a n t o v a s o , em q u e J o s é de Arimatéia h a v i a r e c o l h i d o o sangue de Cristo, taça mila- grosa que ele escondeu na floresta de Corbemic, n a Grã-Bretanha, e cujo resgate só poderia ser r ealizado pelo mais p u r o e c a s t o d o s ca- valeiros da T á v o l a R e donda. enredo é constituído de pequeninos q u e reproduzem a s peripécias cavaleirescas d a c o o r t e a r t u r i a n a : lutas entre cavaleiros rivais, castelos m i s t e r i o s o s , gi gantes e m o n s t r o s diabólicos. A " B e s t a L a d r a d o r " é um desses m o n s - tros q u e povoam as florestas percorridas p o r esses ela ocupa i n ú m e r a s cenas no início da novela, e a p a s s a g e m q u e se leu é um dos episódios ligados ao d e e x t e r m i n a r esse monstro , cujos l a d r i d o s eram o p a v o r d a q u e l a s paragens . caualeiro da besta: este cavaleiro fazia doze a n o s q u e a n d a va no encalço do m o n s t r o p a r a matá-lo; e como se c o n s i d e r a v a nhor a b s o l u t o dessa a v e n t u r a , e nfrentava e feria t odos a q u eles cava- leiros q u e p r e t e n d e s s e m e x t e r m i n a r a b e s t a ladradora. cavaleiro da b e s t a j á havia ferido q u a s e mortalmente I v ã , o bastardo , q u e resol- veu enfrentá-lo, n ã o o b s t a n t e tivesse sido advertido d o s p e r i g o s que corria, por u m d a r e g i ã o , q u e h a v i a perdido cinco filhos nes- sa empresa. (2) chagou: feriu. (3) esto aque: construção fre- qüentíssima na Demanda: falando nisto, eis q u e . . . (aque, do ce, eis, p o r influência de a forma pronominal vos comumente a c o m p a n h a a expressão, à guisa de um dativo ético: " e l e s em esto falando, aque-vos vem o m a r i d o " ; "ele estando em esto falando, aque- vos vem de c o n t r a o céu üu grã (4) veeo: veio (do lat. venit, c o m nasalização da vogal a n t e r i o r e e v o l u ç ã o do breve p a r a e: desnasalização: vee e paragoge da d e s i n ê n c i a o, por analogia: posteriormente , c r a s e e ditongação : veio. (5) beber, c o m dissimilação da segunda o c l u si v a bilabial bibere). (6) tanto que: logo q u e . (7) a os cãaes anteposição do objeto d i r e t o — (os cães a viram). (8) ujo: viu. F o r m a analógica d o s verbos em - ir, pois o latim vidit só poderia d a r — vi, forma da 1 pessoa, resultante de (9) começou de fugir, de ir regência q u e sobreviveu a t é o p e r í o d o clássico (10) começousse asinar: c o m e ço u a p e r s i g n a r - s e , em q u e o pronome reflexivo se se j u n t a ao verbo auxiliar (começar) e a preposição a, ao verbo principal. ligeirice: velocidade. Onde: de q u e (lat. co- mo se dissesse: a respeito do q u e disse d e p o i s em C amalot a rei A r tur. Camalote era a capital do r e i n o a r t u r i a n o de Logres. daua: pedia. (14) nouas: notícias. (15) sseeta: seta (lat. sagita). (16) toste: t ã o depressa. Toste, f r e q ü e n t e no port uguês arcaico, é do latim tostus (particípio de torrere, queimar), através do provençal tost. Francês tan toste corresponde ao francês aussitôt. Da idéia de "ardor", surgiu a idéia d e "lo-g o " " d e p r e s s a " . (17) como a eu vy correr: observe-se a tendência p a r a a anteposição do objeto direto pronominal. (18) em no encalço. (19) arriçauaos: instigava-os. (20) hende: ende (lat. inde), advérbio que e m português e v o l u i u p a r a em, q u e sobreviveu na locu- ç ã o conjuncional em que a i n d a que (ver a expressão " e m q u e pe- Tem também o s e n t i d o do francês en, d i s s o , d a í , dele. Nom lhe aprouve ende: n ã o g o s t o u d i s s o , isso n ã o lhe a g r a d o u (cf. C a r a c t . — Pro n o m e ca: p o r q u e (lat. quia). (22) tolher: t i r a r , p r i v a r . (23) sodes: sois, plural da p e s s o a d o presente do indicativo do verbo ser, cuja forma latina estis foi substituída p o r u m a analógica da pessoa do plural: *sutis, sunt. De sutis, provém sodes, c o m a e v o l u ç ã o n o r m a l d a s vogais breves p a r a o e e c o m a sonorização da oclusiva linguodental i n t e rvocálica p o s t e r i o r m e n t e , c o m a s í n c o p e da oclusiva sonora o c orreu a ditonga- ção: sodes soes (24) nom se quis tornar: observar a colo- cação pronominal proclítica a o auxiliar, nessa e s t r u t u r a de perífrase de infinitivo p r ecedida de n e g ação. (25) por subentenda-se: p a r a enfrentá-lo e lutar com ele. (26) dar cima d a r fim, c o n c l u i r . (27) nom tornaua: n ã o voltava. (28) semelhou lhe: pareceu-lhe. [A p a r t i r d a q u i a leitura de A ugusto diverge: que o n o m fazia p o r d e s d é m , q u e o n o m p r ezava v e r s ã o que propicia melhor s e n t i d o ao texto: pareceu-lhe [ao cavaleiro] que era por desprezo que Gilfrete não se voltava para ele, mas porque o não pre- zava tanto ( c o m o cavaleiro) para uma luta que não lhe traria glória alguma. (29) deixou-se (do laxare, afrouxar. A forma deixar, q u e predominou , p a r e c e provir do v e r b o prefixado com a m e s m a acepção). (30) b r i o s o , f o r t e . (31) ensinado: marcad o , apo n tado ( d o s i n a l a r ) . Raramente e m p r e - g a d o n e s t a acepção, e n c o n t r a - s e a t é e n t r e o s escritores clássicos. (32) assi que lhe de tal forma que lhe l e v a n t o u . (33) quarto. Au- g u s t o M a g n e faz leitura diferente: em vez de " q u a r t o " lê " c o u r o " ; e em vez de " c e s t o " lê " t e s t o " , f i c a n d o assim o s e n t i d o : levantou- lhe de forma o couro da cabeça até à testa. (34) ataa: até. As duas formas d e s t a preposição ocorrem j u n t a s , na Demanda, embora a va- r i a n t e antiga prevaleça. De origem á r a b e p a r a uns -hatta, que evo- luiu p a r a hasta em castelhano; para o u t r o s , do latim ad-tenus, atra- vés da forma ad-tenes, p o i s são vivazes as formas atees, no português arcaico. (35) a tordado: a t o r d o a d o (forma q u e A ugus- to M a g n e registra na sua edição da Demanda). (36) uos conuem: vos convém a fazer.