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Parte I

PRINCÍPIOS BÁSICOS
1
Propriedades dos alimentos e
teoria do processamento

1.1 PROPRIEDADES DE LÍQUIDOS, em sua temperatura de transição vítrea. O pro-


SÓLIDOS E GASES cesso depende do tempo, da temperatura e do
teor de umidade do alimento. Exemplos de tem-
Os líquidos, os gases e alguns sólidos (p. peraturas de transição vítrea são dados no Capí-
ex., pós e materiais particulados) são denomina- tulo 21 (Tabela 21.2). Quando os materiais mu-
dos “fluidos” e podem fluir sem se desintegra- dam para a forma vítrea, eles não se tornam cris-
rem quando uma pressão é aplicada sobre eles. talinos, mas mantêm a desorganização do esta-
Em contraste, sólidos deformam-se quando uma do líquido. No entanto, suas propriedades físi-
pressão é aplicada sobre eles (Seção 1.1.4). Nes- cas, mecânicas, elétricas e térmicas modificam-
ta seção, serão descritas as propriedades de flui- se enquanto eles passam pela transição. No esta-
dos e sólidos relevantes tanto para o projeto de do vítreo, os alimentos tornam-se mais estáveis,
processos alimentícios quanto para a qualidade pois os compostos envolvidos nas reações quími-
dos alimentos processados. Tratamentos mate- cas que produzem a deterioração são imobiliza-
máticos mais aprofundados e derivações de fór- dos e requerem períodos mais longos de tempo
mulas utilizadas nos cálculos de engenharia de para se difundirem através do material para rea-
alimentos são fornecidos em diversos textos, in- girem. Detalhes de nove conceitos fundamentais
cluindo Toledo (1999), Lewis (1990), Brennan e que destacam a relação entre a mobilidade
colaboradores (1990) e Earle (1983). molecular e a estabilidade do alimento são ex-
A transição de sólido para líquido e vice- plicados por Fennema (1996). Processos que são
versa é conhecida como transição de fase e é im- significativamente influenciados pela transição a
portante em muitos tipos de processamento de um estado vítreo incluem retenção de aromas,
alimentos (p. ex., água em vapor d’água na eva- cristalização, atividade enzimática, atividade
poração e destilação [Capítulo 13] e desidrata- microbiana, escurecimento não-enzimático, oxi-
ção [Capítulo 15], água em gelo no congelamento dação, aglomeração e aglutinação. A relação en-
[Capítulo 21] e liofilização ou concentração pelo tre a transição vítrea e a atividade da água (Se-
frio [Capítulo 22] ou cristalização de gorduras ção 1.5) e os fatores que afetam essa transição
[Capítulo 23]). O fenômeno ocorre isotermi- são descritos em detalhes por Rahman (1999),
camente e na temperatura de transição de fase Blanshard (1995) e Fennema (1996).
pela liberação ou absorção de calor latente, po-
dendo ser representado por um diagrama de fa-
ses (p. ex., Capítulo 22, Figura 22.1). 1.1.1 Densidade e peso específico
Um segundo tipo de transição, conhecida
como transição vítrea, ocorre sem liberação ou É importante conhecer a densidade dos
absorção de calor latente e envolve a transição alimentos nos processos de separação (Capítu-
de um alimento para um estado vítreo amorfo lo 6), pois diferenças na densidade podem ter
26 P. J. FELLOWS

efeitos importantes na operação de redução de la 15.7), e exemplos de densidades de líquidos


tamanho e em equipamentos de mistura (Capí- são mostrados na Tabela 1.2. A densidade dos
tulos 4 e 5). A densidade do material é igual a materiais não é constante e altera-se com a tem-
sua massa dividida por seu volume, e sua uni- peratura (temperaturas mais elevadas reduzem
dade é kg m-3. Exemplos de densidade de ali- a densidade dos materiais) e com a pressão. Isso
mentos sólidos e de outros materiais utilizados é particularmente importante para fluidos, nos
no processamento de alimentos são mostrados quais diferenças na densidade causam corren-
na Tabela 1.1 (veja também Capítulo 15, Tabe- tes de convecção (Seção 1.4.3).

TABELA 1.1 Densidade de alimentos e outros materiais


Densidade
Densidade a granel Temperatura
Material (kg m–3) (kg m–3) (oC)

Sólidos
Alumínio 2.640 – 0
Cobre 8.900 – 0
Aço inoxidável 7.950 – 20
Concreto 2.000 – 20

Uvas 1.067 368 –


Tomates – 672 –
Limões / laranjas – 768 –
Frutas frescas 865-1.067 – –
Frutas congeladas 625-801 – –
Peixe fresco 967 – –
Peixe congelado 1.056 – –
Água (0o C) 1.000 – 0
Gelo (0o C) 916 – 0
Gelo (-10o C) 933 – -10
Gelo (-20o C) 948 – -20
Gordura 900-950 – 20
Sal 2.160 960 –
Açúcar (granulado) 1.590 800 –
Açúcar (pó) – 480 –
Amido 1.500 – –
Trigo 1.490-1.430 790-819
Farinha de trigo – 480 –
Cevada 1.374-1.415 564-650 –
Aveia 1.350-1.378 358-511 –
Arroz 1.358-1.386 561-591 –

Gases –
Ar 1,29 – 0
Ar 0,94 – 100
Gás carbônico 1,98 – 0
Gás carbônico 1,46 – 100
Nitrogênio 1,30 – 0

Adaptada de dados de Earle (1983), Lewis (1990), Milson e Kirk (1980), Peleg (1983) e Moshenim (1970).
TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 27

TABELA 1.2 Propriedades de fluidos

Condutividade Calor Viscosidade


térmica específico Densidade dinâmica Temperatura
(W m-1 oK-1) (kJ kg-1 °K-1) (kg m-3) (N s m-2) (oC)

Ar 0,024 1,005 1,29 1,73 x 10-5 0


0,031 1,005 0,94 2,21 x 10-5 100
Gás carbônico 0,015 0,80 1,98 0
Oxigênio 0,92 1,48 x 10-3 20
Nitrogênio 0,024 1,05 1,30 0
Refrigerante 12 0,0083 0,92
Água 0,57 4,21 1.000 1,79 x 10-3 0
0,68 4,21 958 0,28 x 10-3 100
Solução de sacarose (60%) 6,02 x 10-2 20
Solução de sacarose (20%) 0,54 3,8 1.070 1,92 x 10-3 20
Solução de cloreto de sódio (22%) 0,54 3,4 1.240 2,7 x 10-3 2
Ácido acético 0,17 2,2 1.050 1,2 x 10-3 20
Etanol 0,18 2,3 790 1,2 x 10-3 20
Óleo de colza 900 1,18 x 10-1 20
Óleo de milho 1,73 20
Azeite de oliva 0,168 8,4 x 10-2 29
Óleo de girassol 1,93 20
Leite integral 0,56 3,9 1.030 2,12 x 10-3 20
2,8 x 10-3 10
Leite desnatado 1.040 1,4 x 10-3 25
Creme de leite (20% gordura) 1.010 6,2 x 10-3 3
Goma guar (solução de 1%) 1,5 x 10-2
Goma xantana (solução de 1%) 1.000

De Earle (1983), Lewis (1987) e Peleg e Bagley (1983).

A densidade de líquidos é uma medida A densidade dos líquidos pode ser expres-
direta da relação massa/volume sob uma tem- sa como gravidade específica, um número
peratura determinada, porém para sólidos adimensional (Apêndice D), que é encontrado
particulados e pós existem duas formas de den- pela divisão da massa (ou densidade) de um
sidade: a densidade dos pedaços individuais e líquido pela massa (ou densidade) de um volu-
a densidade do conjunto do material, que tam- me igual de água pura na mesma temperatura:
bém inclui espaços de ar entre os pedaços. Esta
última medida é denominada densidade a gra- SG = massa de líquido/massa de água 1.2
nel e é a massa de sólidos dividida pelo volu-
SG = densidade de líquido/
me bruto. A fração do volume que é ocupada 1.3
densidade da água
pelo ar é chamada de porosidade (∈) e é calcu-
lada por: Se a gravidade específica de um líquido é
conhecida em uma temperatura particular, sua
∈ = V a / Vb 1.1
densidade pode ser encontrada usando:
onde Va = volume do ar (m3) e Vb = volume
ρ L = (SG)T . ρ W 1.4
bruto (m3).
A densidade a granel do material depen- onde ρ L = densidade líquida (kg m-3 ) e ρ W =
de da densidade do sólido e da geometria, do densidade da água, à temperatura T (oC).
tamanho e das propriedades superficiais das A gravidade específica é muito utilizada no
partículas individuais. Alguns exemplos dessa lugar da densidade na produção de cerveja e em
densidade para alguns alimentos são mostra- outras fermentações alcoólicas (Capítulo 7), em
dos na Tabela 1.1 e ela é discutida em relação que o termo “gravidade original” (GO) é utiliza-
a pós secos por spray drying no Capítulo 15. do para designar a gravidade específica do líqui-
28 P. J. FELLOWS

do antes da fermentação (p. ex., “1.072” ou “72” onde P = pressão absoluta (Pa), V = volume
referem-se à gravidade específica de 1,072). (m3), n = número de móis de gás (kmole), R
A densidade dos gases depende de sua = constante dos gases (8.314 (N[m]/[kmole
pressão e temperatura (Tabela 1.1). A pressão K]) e T = temperatura (K).
é geralmente expressa como pressão gauge, Essa equação é útil para calcular transfe-
quando é acima da pressão atmosférica, ou rências gasosas em aplicações como armaze-
como vácuo gauge, quando é abaixo da pres- nagem ou embalagem em atmosfera modifica-
são atmosférica. A pressão é calculada utilizan- da (Capítulo 20), congelamento criogênico
do a equação dos gases ideais: (Capítulo 21) e permeabilidade de materiais
de embalagem (Capítulo 24).
PV = nRT 1.5

Problema-exemplo 1.1

Calcule a quantidade de oxigênio que entra através de um filme de embalagem de polietileno em 24 horas,
se, o pacote possui uma área superficial de 750 cm2 e uma permeabilidade ao oxigênio de 120 mL m-2 por 24
horas a 23°C e umidade relativa de 85% (veja Capítulo 24, Tabela 24.2).

Solução do Problema-exemplo 1.1


O volume de oxigênio entrando através do polietileno:

V = 120 x 750
100 2

= 9,0 cm3

Utilizando a Equação 1.5

n = 9,0 x 1.000 / (8.314 x 273)


= 0,00396 kmole

A densidade de gases e vapores é tam- durante a liofilização (Capítulo 22) ou evapo-


bém referida como volume específico, que é o ração a vácuo (Capítulo 13). Mais detalhes são
volume ocupado por uma unidade de massa dados por Lewis (1990) e Toledo (1999). Quan-
do vapor ou gás e é o inverso da densidade. do ar é incorporado em líquidos (p. ex., mas-
Esse valor é utilizado, por exemplo, no cálculo sas para bolo, sorvete, merengue), forma-se
da quantidade de vapor que deve ser empre- uma espuma e a densidade é reduzida. A quan-
gada pelos ventiladores durante a desidrata- tidade de ar incorporada é denominada over-
ção (Capítulo 15) ou por bombas de vácuo run e é descrita no Capítulo 4 (Seção 4.2.3).

volume de espuma – volume de líquido


over-run = x 100
volume de líquido

Valores típicos de over-run são 60 a 100% para sorvetes e 100 a 120% para creme batido.
TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 29

1.1.2 Viscosidade e proteínas. Esses líquidos freqüentemente apre-


sentam propriedades newtonianas em baixas
A viscosidade é uma característica impor- concentrações, mas, à medida que a concentra-
tante para alimentos líquidos em diversas áreas ção da solução aumenta, a viscosidade aumen-
do processamento de alimentos. Por exemplo, ta rapidamente, e ocorre uma transição para
a sensação bucal de produtos como ketchup, propriedades não-newtonianas (Rielly, 1997).
creme de leite, xaropes e iogurte depende de Fluidos não-newtonianos podem ser classifica-
sua consistência ou viscosidade.1 A viscosida- dos, de forma genérica, nos seguintes tipos:
de de muitos líquidos altera-se durante o aque-
cimento, o resfriamento, a concentração, etc., • Fluidos pseudoplásticos (linha B, na Fi-
e isso tem efeitos importantes, por exemplo, gura 1.1): a viscosidade decresce com
na força necessária para bombear esses produ- o aumento da taxa de cisalhamento (p.
tos. A viscosidade de alguns fluidos comuns é ex., emulsões e suspensões tais como
mostrada na Tabela 1.2. sucos de frutas concentrados e purês).
A viscosidade pode ser considerada a re- • Fluidos dilatantes (linha C, na Figura
sistência interna do líquido ao fluxo. Um líqui- 1.1): a viscosidade aumenta com a
do pode ser visto como tendo uma série de ca- taxa de cisalhamento (esse comporta-
madas e, quando flui sobre uma superfície, a mento é menos comum mas é encon-
camada superior flui mais rapidamente e ar- trado no chocolate líquido e em sus-
rasta junto a seguinte em uma velocidade um pensões de farinha de milho).
pouco mais baixa, e assim por diante, ao longo • Fluidos plásticos de Bingham ou
de todas as camadas, até a última, junto à su- Casson (linhas D e E, na Figura 1.1):
perfície, que permanece estacionária. A força não existe fluxo até que uma certa ten-
que move o líquido é conhecida como força ou são de cisalhamento seja atingida, en-
tensão de cisalhamento; e o gradiente de velo- tão a taxa de cisalhamento é linear
cidade, como taxa de cisalhamento. Em um (tipo Bingham) ou não-linear (tipo
gráfico da tensão de cisalhamento em relação Casson) (p. ex., ketchup).
à taxa de cisalhamento, a maioria dos líquidos • Fluidos tixotrópicos: a estrutura que-
simples e dos gases mostra uma relação linear bra-se e a viscosidade diminui com
(linha A na Figura 1.1) e são denominados flui- uma tensão de cisalhamento contínua
dos newtonianos. Exemplos incluem a água, a (a maioria dos cremes).
maioria dos óleos, gases e soluções simples de • Fluido reopéctico: a estrutura se for-
açúcares e sais. Quando a relação não é linear talece e a viscosidade aumenta com
(linhas B-E, na Figura 1.1), os fluidos são de- uma tensão de cisalhamento contínua
nominados não-newtonianos. Mais detalhes são (p. ex., creme batido).
fornecidos por Nedderman (1997). Para todos • Material viscoelástico: exibe proprie-
os líquidos, a viscosidade decresce com o au- dades viscosas e elásticas ao mesmo
mento da temperatura, porém, para a maioria tempo. Quando a tensão de cisalha-
dos gases, ela aumenta com a temperatura mento é removida, o material nunca
(Lewis, 1990). retorna integralmente à forma origi-
Muitos líquidos são não-newtonianos, in- nal, e ocorrendo uma deformação per-
cluindo emulsões, suspensões e soluções con- manente (p. ex., massa de pão, quei-
centradas que contêm amidos, pectinas, gomas jo, géis).
30 P. J. FELLOWS

Tensão de cisalhamento
E

B A

Taxa de cisalhamento

FIGURA 1.1 Mudanças na viscosidade de fluidos newtonianos (A) e diferentes tipos de fuidos não-
newtonianos; (B) fluido pseudoplástico; (C) fluido dilatante; (D) fluido plástico tipo Bingham e (E) fluido
plástico tipo Casson. (De Lewis, 1990.)

A medida da viscosidade é complexa pela veis, que possuem uma camada limite entre as
variedade de termos utilizados para descrevê- duas fases (Tabela 1.3). Essas fases são conhe-
la. A mais simples é a relação entre tensão de cidas como fase dispersa (que contém peque-
cisalhamento e taxa de cisalhamento, que é nas gotículas ou partículas) e fase contínua
denominada viscosidade dinâmica (kg m–1 s-1). (aquela na qual as gotículas ou partículas es-
Ela está relacionada a um outro termo, visco- tão dispersas). Detalhes da preparação de
sidade cinemática (m2 s-1) da seguinte forma: emulsões são fornecidos no Capítulo 4.
Uma característica desses sistemas é a
viscosidade dinâmica grande área superficial da fase dispersa que
viscosidade cinemática = está em contato com a fase contínua. Para au-
densidade
mentar a área superficial, é necessário intro-
1.6 duzir uma quantidade considerável de ener-
gia no sistema, utilizando, por exemplo, um
Outros termos, incluindo viscosidade re-
misturador de alta velocidade ou um homoge-
lativa, viscosidade específica e viscosidade apa-
neizador. Quando se criam novas superfícies,
rente, junto com descrições de métodos de me-
formam-se gotículas. Para entender o porquê
dição da viscosidade, são apresentados por
disso, é necessário conhecer as forças atuando
Lewis (1990) e Toledo (1999).
nos líquidos: dentro da massa de um líquido
as forças que atuam em cada molécula indivi-
1.1.3 Atividade superficial dualmente são iguais em todas as direções e
podem anular-se. No entanto, na superfície, a
Uma grande quantidade de alimentos é atração líquida é na direção da massa do lí-
formada por dois ou mais componentes imiscí- quido, e, como resultado, as moléculas da
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TABELA 1.3 Exemplos de sistemas de alimentos coloidais

Fase Fase
dispersa contínua Nome Exemplo

Líquida Gás Neblina, névoa, aerossol Sprays (p. ex. secagem por spray)
Sólida Gás Fumaça, aerossol Névoa de gás carbônico, fumaça
Gás Líquida Espuma Creme batido, aeração de meio de fermentação, hidrogena-
ção de óleos (hidrogênio em óleos)
Líquida Líquida Emulsão Creme, maionese, margarina, molho para saladas, salsichas
e bolos
Sólida Líquida Solução, solução coloidal, gel Achocolatados, suco de frutas
Gás Sólida Espuma sólida Merengue, sorvete

De Lewis (1990).

superfície são “puxadas para dentro” e estão cantes orientam-se na superfície das gotículas,
em estado de tensão (produzida pelas forças com a terminação polar na fase aquosa e a não-
de tensão superficial). Isso faz com que as polar na fase oleosa.
gotículas líquidas se transformem em esferas Detergentes são agentes de superfície ati-
porque essa forma possui a menor área su- va que reduzem a tensão superficial de líqui-
perficial para o volume de líquido específico. dos, tanto para promover a “molhabilidade”
(espalhamento do líquido) quando para agir
como emulsificantes para dissolver gorduras. As
Emulsões moléculas detergentes possuem uma região
Os compostos químicos que reduzem a lipofílica formada por uma longa cadeia de áci-
tensão superficial de um líquido são denomi- dos graxos e uma região hidrofílica com um sal
nados de superfície ativa e são conhecidos como sódico de acido carboxílico (detergente
“surfactantes”, “emulsificantes” ou “detergen- saponáceo) ou de sulfonato alquílico ou arílico
tes”. Pela redução da tensão superficial eles per- (detergentes aniônicos). Detergentes aniônicos
mitem que novas superfícies sejam produzidas não são afetados pela água dura, ao passo que
mais facilmente quando a energia é incorpora- detergentes saponáceos formam uma espuma
da ao sistema (p. ex., por homogeneizadores), escura em água dura. Detergentes não-iônicos,
permitindo, assim, que um maior número de que possuem álcoois, ésteres ou éteres como o
gotículas seja formado. Existem surfactantes componente hidrofílico, produzem pouca espu-
que ocorrem naturalmente nos alimentos, in- ma e são facilmente enxaguados. Enzimas tam-
cluindo álcoois, fosfolipídeos e proteínas, que bém podem ser adicionadas aos detergentes
são algumas vezes utilizados para criar para remover proteínas, outros ingredientes
emulsões em alimentos (p. ex., utilizar ovos podem incluir polifosfatos (para amaciar a água
em massa para bolos). No entanto, compostos e manter a sujeira em suspensão), sulfato ou
químicos sintéticos possuem uma atividade silicato de sódio (para fazer detergentes em pó
superficial maior e são utilizados em quanti- que fluam livremente) e perborato de sódio
dades muito pequenas para criar emulsões. (agente branqueador).
Outros são utilizados em detergentes para ope-
rações de limpeza (Capítulo 26). Detalhes de
Espumas
agentes emulsificantes sintéticos são forneci-
dos no Capítulo 4 e no Apêndice C. Espumas são sistemas bifásicos que pos-
Agentes de atividade superficial possuem suem bolhas de gás dispersas em um líquido
moléculas polares (ou “hidrofílicas”) em uma ou sólido separadas por uma película fina. Além
extremidade e não-polares (ou “lipofílicas”) na das espumas alimentares (Tabela 1.3), as es-
outra. Em emulsões, as moléculas dos emulsifi- pumas são muito utilizadas para limpar equi-
32 P. J. FELLOWS

pamentos. Os principais fatores necessários 1. Uma avaliação inicial da dureza, da


para produzir uma espuma estável são: capacidade de quebrar e da consis-
tência durante a primeira mordida.
• baixa tensão superficial para permitir 2. Uma percepção da mastigabilidade,
que as bolhas contenham mais ar e da adesividade e da gomosidade du-
evitar a contração; rante a mastigação e da umidade e
• gelificação ou insolubilização da pelí- da oleosidade do alimento, além de
cula das bolhas para minimizar a per- uma avaliação do tamanho e da ge-
da do gás contido e aumentar a rigi- ometria dos pedaços individuais do
dez da espuma; e alimento.
• baixa pressão de vapor nas bolhas para 3. Uma percepção da taxa na qual o
reduzir evaporação e ruptura do fil- alimento se quebra durante a masti-
me. gação, dos tipos de pedaços forma-
dos, da liberação ou absorção de
Em espumas alimentares, a estrutura da umidade ou de qualquer cobertura
espuma pode ser estabilizada por congelamen- na boca e na língua pelo alimento.
to (sorvetes), por gelificação (endurecimento
da gelatina em marshmallow), por aquecimento Essas várias características foram catego-
(bolos e merengues) ou por adição de estabili- rizadas (Tabela 1.4) e utilizadas para avaliar e
zantes como proteínas ou gomas (Apêndice C). monitorar as modificações na textura que afe-
tam a qualidade dos alimentos.
1.1.4 Reologia e textura Reologia é a ciência da deformação de
objetos sob a influência de forças aplicadas.
A textura dos alimentos tem uma influ- Quando um material sofre um estresse ele se
ência substancial na percepção da qualidade deforma, e a taxa e o tipo de deformação carac-
pelos consumidores. Durante a mastigação, in- terizam suas propriedades reológicas (as de ali-
formações sobre as modificações da textura do mentos sólidos estão descritas em maiores de-
alimento são transmitidas ao cérebro pelos talhes no Capítulo 4). Um grande número de
sensores na boca, pela audição e pela memó- diferentes métodos tem sido utilizado para ava-
ria para construir uma imagem das proprieda- liar a textura dos alimentos, incluindo perfil de
des de textura do alimento. Isso pode ocorrer textura por métodos sensoriais, utilizando pai-
em algumas fases: néis de testadores (p. ex., Bourne, 1982), a Aná-

TABELA 1.4 Características da textura dos alimentos

Característica primária Característica secundária Termo popular

Características mecânicas
Dureza Macio a firme a duro
Coesividade Fragilidade Farelento, crocante, quebradiço
Mastigabilidade Tenro, mastigável, duro
Gomosidade Curto, farinhento, pastoso, borrachudo
Viscosidade Fino, viscoso
Elasticidade Plástico, elástico
Adesividade Grudento, liguento, pegajoso
Características geométricas
Tamanho e forma das partículas Arenoso, granulado, grosseiro
Forma e orientação das partículas Fibroso, celular, cristalino
Outras características
Teor de umidade Seco a úmido a molhado a aguado
Teor de gordura Oleosidade Oleoso
Engraxamento Gorduroso

Adaptada de Szczesniak (1963).


TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 33

lise Descritiva Quantitativa (QDA) (Figura 1.2), métodos são descritos detalhadamente por
descrita por Clark (1990), e métodos empíricos Sherman (1979), Prentice (1984), Bourne
nos quais as medidas das forças necessárias para (1978), Brennan (1984), Kramer e Szczesniak
cisalhar, penetrar, extrudar, comprimir ou cor- (1973), Lewis (1990) e Bourne(1982).
tar um alimento são relacionadas a suas carac-
terísticas de textura. Esses métodos foram revi-
sados por Kilcast (1999), Rosenthal (1999), 1.2 TRANSFERÊNCIA DE MASSA
Lawless e Heyman (1998) e Brennan (1984).
Exemplos de métodos instrumentais inclu- A transferência de massa é um aspecto im-
em o sistema Brabender, para medir a textura portante de um grande número de operações de
de massas ou a viscosidade de pastas de amido; processamento de alimentos: é um fator funda-
penetrômetros de cone ou pino, para medir a mental em extrações com solvente, destilação
taxa de estresse em margarinas ou a dureza de (Capítulo 13) e processos com membranas (Ca-
frutas; o texturômetro General Foods, que si- pítulo 6) e é um fator importante na perda de
mula a mastigação pela compressão do alimen- nutrientes durante o branqueamento (Capítulo
to utilizando um êmbulo; e o equipamento 10). A transferência de massa de gases e vapores
Instron Universal Testing, que mede as forças é um fator primário na evaporação (Capítulo 13),
de estresse e tensão por compressão e exten- na desidratação (Capítulo 15), no forneamento
são. Métodos químicos incluem a medida do teor e no cozimento (Capítulo 16), na fritura (Capí-
de amido ou pectina, e métodos microscópicos tulo 17) e na liofilização (Capítulo 22), é a razão
incluem microscopia eletrônica de emulsões ou de queimaduras durante o congelamento (Capí-
da estrutura da carne de gado ou peixe. Esses tulo 21) e é a causa da perda de qualidade ali-

Textura
firme
Tempo de Textura
dissolução grossa

Textura grossa Textura


mastigável

Textura Textura
escorregadia borrachenta

Textura
Taxa de granulada
dissolução

Textura Textura
desaparece Textura pegajosa
farinhenta

Gel de amido

Goma gelana

Goma xantana / guar

FIGURA 1.2 Exemplo de avaliação de textura utilizando análise descritiva quantitativa. (Adaptada de
Clark, 1990.)
34 P. J. FELLOWS

mentar em alimentos refrigerados, mantidos em A taxa de difusão é encontrada utilizando:


atmosfera modificada e embalados (Capítulos 19,
20 e 24, respectivamente). NA = DW / RTx . PT / PAm . (Pw1 – Pw2) 1.7
De forma análoga à transferência de calor
(Seção 1.4), os dois fatores que influenciam a onde NA (kg s-1) ou (kmol s-1) = taxa de difu-
taxa da transferência de massa são a força são, Dw = coeficiente de difusão do vapor
motora que move os materiais e a resistência ao d’água no ar, R = constante dos gases (= 8,134
seu fluxo. Ao considerar sólidos dissolvidos em kJ/kmo-1K-1), T (K) = temperatura, x (m) =
líquidos, a força motriz é a diferença na con- largura da camada estacionária, PT(kN m-2) =
centração de sólidos, ao passo que para gases e pressão total, PAm (kN m-2) = pressão média
vapores é a diferença na pressão parcial ou pres- do gás não-difusor pela camada estacionária e
são de vapor. A resistência surge do meio atra- Pw1 – Pw2 (kN m-2) = força motriz da pressão
vés do qual o líquido, gás ou vapor se move e de do vapor d’água.
qualquer interação entre o meio e o material. Fórmulas para a difusão de solutos atra-
Um exemplo de transferência de massa é vés de líquidos e para gases dissolvidos em lí-
a difusão de vapor d’água por uma camada li- quidos são fornecidas por Lewis (1990) e
mite de ar em uma operação como desidrata- Toledo (1999).
ção, forneamento, etc. A embalagem também
cria camadas limites adicionais que atuam Balanços de massa
como barreiras ao movimento da umidade e à
transferência de calor (Figura 1.3). A lei de conversão de massa estabelece
que “a massa de material entrando em um sis-
tema é igual à massa de material saindo”. Isso
tem aplicação, por exemplo, na mistura (Capí-
Embalagem tulo 5), na fermentação (Capítulo 7) e na eva-
poração (Capítulo 13).
Geralmente, um balanço de massa para
um processo toma a seguinte forma:

massa de matérias-primas entrando = massa de


produtos e resíduos saindo + massa de material
armazenado + perdas

Muitos balanços de massa são analisados


em condições de estado estacionário, no qual
a massa de material armazenado e as perdas
são iguais a zero. Os balanços de massa são
utilizados para calcular as quantidades de ma-
terial em diferentes linhas de processo e para
Ar projetar processos e para calcular formulações,
Ar Alimento a composição após mistura, rendimentos de
Filmes limites
processo e eficiências de separação. Um balan-
ço de massa típico está mostrado na Figura 1.4.
FIGURA 1.3 Barreiras da embalagem à transfe-
rência de massa e ao fluxo de calor.
TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 35

Aqui o balanço de massa total é:

W + A = ar úmido + D

O balanço de massa para o ar é:

A + umidade = ar úmido

Ar (A) Ar úmido
Ar

Umidade

Sólidos
Massa úmida (W) Massa assada (D)

FIGURA 1.4 Diagrama de fluxo de materiais durante o assamento em forno.

O balanço de massa para os sólidos é: Em aplicações envolvendo concentração


ou diluição, o uso da fração mássica ou porcen-
W = ar úmido + D tagem em peso é freqüentemente utilizado:

Exemplos de cálculos de balanço de mas- massa do componente A


Fração mássica A =
sa são mostrados no Capítulo 13 (Problema- massa total da mistura
exemplo 13.3) e Capítulo 15 (Problema-exem- ou
plo 15.2). massa do componente A
Massa total da mistura =
fração mássica de A

Problema-exemplo 1.2

Calcule o balanço de massa total e o balanço de massa dos componentes para a mistura de ingredientes para
produzir 25 kg de salsichas com um teor de gordura de 30%, utilizando carne de gado fresca e gordura de gado.
Tipicamente, a carne de gado contém 18% de proteína, 12% de gordura e 68% de água, e a gordura de gado
contém 78% de gordura, 12% de água e 5% de proteína.

Solução do Problema-exemplo
Considerar F = massa de gordura de gado (kg)
Considerar M = massa de carne de gado (kg)
Gordura (78% de gordura, 12%
de água, 5% de proteína)
(F)
Carne (M) Salsichas (S)
18% de proteína, 12% de (25 kg, 30%
gordura e 68% de água de gordura)
Cutter
36 P. J. FELLOWS

Balanço de massa total

M + F = 25
Balanço de gordura

0,12 M + 0,78F = 0,3 (25)

Substituindo M = 25 – F no balanço de gordura

0,12 (25 – F) + 0,78 F = 7,5


3,0 – 0,12 F + 0,78 F = 7,5
= 6,82 kg

M = 25 – 6,82
= 18,18 kg

Se o peso do componente e sua fração ingredientes no lado esquerdo e o teor de gor-


mássica são conhecidos, a massa total da mistu- dura do produto no centro. Segundo o quadra-
ra pode ser determinada. Cálculos computado- do, pela subtração diagonal, as proporções re-
rizados de formulações são descritos no Capítu- sultantes de leite e creme de leite podem ser
lo 2 (Seção 2.2.1). encontradas (i.e., 10 partes de leite e 6,5 partes
Um método simples para calcular a massa de creme, na Figura 1.5). Um método alternati-
relativa de dois materiais necessários para uma vo é utilizar o balanço total e o balanço de gor-
mistura de composição conhecida é o quadrado dura (veja Problema-exemplo 1.2). Toledo
de Pearson (Anon., 1996). Se, por exemplo, lei- (1999) descreve a aplicação de balanços de mas-
te homogeneizado (3,5% de gordura) é mistu- sa em processamentos de múltiplos estágios e
rado com creme de leite (20% de gordura) para inclui um programa de computador para o uso
produzir um creme de leite light com 10% de de balanços de massa em formulação de recei-
gordura, o quadrado de Pearson (Figura 1.5) é tas. Outro exemplo do uso do quadrado de
construído com a composição de gordura dos Pearson é mostrado no Problema-exemplo 1.3.

Leite

3,5 10

10

20 6,5

Creme de leite

FIGURA 1.5 Quadrado de Pearson. (De Anon, 1996.)


TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 37

1.3 FLUXO DE FLUIDOS ção de líquidos, o que é essencial para o projeto


de alguns tipos de evaporadores (Capítulo 13).
Muitos tipos de alimentos líquidos são Quando um líquido passa por encanamen-
transportados por tubulações durante o proces- tos ou equipamentos de processamento existe
samento, e pós e pequenas partículas são ma- perda de energia e queda na pressão devido à
nuseados mais facilmente do que fluidos (por resistência friccional ao fluxo. Essa perda pela
fluidização). Os gases obedecem às mesmas leis fricção e as alterações nas energias potencial,
que os líquidos, e, para efeito de cálculos, são cinética e de pressão são descritas em detalhes
tratados como fluidos compressíveis. As proprie- nos textos de engenharia de alimentos
dades de alguns fluidos selecionados são mos- referenciados no início deste capítulo e por
tradas na Tabela 1.2. O estudo dos fluidos é, Loncin e Merson (1979). A perda de pressão
portanto, de grande importância no proces- nos canos é determinada por vários fatores, in-
samento de alimentos, sendo dividido em está- cluindo a densidade e a viscosidade do fluido,
tica de fluidos (fluidos estáticos) e dinâmica de o comprimento e o diâmetro do cano e o nú-
fluidos (fluidos em movimento). mero de curvas, válvulas, etc., na tubulação.
Uma propriedade dos líquidos estáticos é a Para superar essa perda de energia é preciso,
pressão que eles exercem no recipiente que os utilizando bombas para transportar o fluido,
contém. Esta está relacionada com a densidade aplicar uma força necessária que é determina-
do líquido e a altura de sua massa no recipiente. da pela viscosidade do fluido (Seção 1.1.2),
Os líquidos na base de um recipiente estão a uma pelo tamanho dos canos, pelo número de cur-
pressão maior do que os na superfície, por causa vas e conexões e pela altura e distância que o
do peso do líquido acima deles (a pressão fluido deve ser transportado.
hidrostática). Essa é uma importante característi- Para calcular o balanço de energia quan-
ca para o projeto de tanques de contenção ou do um líquido circula por uma tubulação, o
armazenagem e processamento, de forma a ga- efeito das válvulas e curvas na taxa de fluxo
rantir que o recipiente seja construído com ma- ou a pressão produzida pela bomba, utiliza-se
teriais de resistência adequada. Uma grande pres- a equação de Bernoulli, que demonstra a con-
são hidrostática também afeta o ponto de ebuli- servação de energia.

Problema-exemplo 1.3

Use o quadrado de Pearson para calcular a quantidade de suco de laranja (10% de açúcar) e xarope (60%
de açúcar) necessária para produzir 50 kg de refresco de fruta contendo 15% de açúcar.

Solução do Problema-exemplo 1.3


Suco de laranja
10 45

15

60 5

Xarope

O resultado indica que 45 kg de suco de laranja devem ser misturados com 5 kg de xarope.
38 P. J. FELLOWS

v1
P1 + v21 = z1g = P2 + v22 + z2g A
ρ1 2 ρ2 2 1.8

z1 v2
onde P(Pa) = pressão, r (kg m-3) = densidade do B
fluido, g (= 9,81 m s-1) = aceleração da gravida- z2
de, v (m s-1) = velocidade do fluido e z (m) =
altura. O subscrito 1 indica a primeira posição na FIGURA 1.6 Aplicação da equação de Bernoulli
tubulação e o subscrito 2, a segunda. ao fluxo de fluido sem fricção.

Problema-exemplo 1.4

Uma solução de sacarose a 20% passa de um tanque de mistura a 50 kPa através de um cano horizontal de
5 cm de diâmetro a 25 m3 h-1. Se o diâmetro do cano for reduzido para 3 cm, calcule a nova pressão no cano.
(A densidade da solução de sacarose é 1.070 kg m-3 [Tabela 1.2].)

Solução para o problema-exemplo 1.4

Taxa de fluxo = 25
3.600 m3 s-1

= 6,94 x 10-3 m3 s-1

π 2
Área do cano 5 cm de diâmetro = D
4
3,142
= (0,05)2
4

= 1,96 x 10-3 m2
6,94 x 10-3
Velocidade de fluxo =
1,96 x 10-3

= 3,54 m s-1

Área do cano de 3 cm de diâmetro = 7,07 x 10–4 m2


6,94 x 10-3
Velocidade de fluxo =
7,70 x 10-4
= 9,81 m s-1

Usando a Equação 1.8

P1 + v 12 = z1g = P2 + v 22 + z2g
ρ1 2 ρ2 2

3,542 + 50 x 10-3 + 0 = P2 + 9,812 + 0


2 1.070 1.070 2

Portanto,
P2 = 56.656 Pa
= 56,7 kPa
TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 39

Filme limite

(a) Velocidade

(b)

Filme
limite

(c)

FIGURA 1.7 Fluxo de fluidos: (a) distribuição de velocidade e camada limite; (b) fluxo laminar; (c) fluxo
turbulento.

Em qualquer sistema em que exista um as camadas misturam-se, e estabelece-se um


fluxo de fluidos, há um filme limite (ou filme fluxo turbulento (Figura 1.7c) no seio do flui-
superficial) de fluido junto à superfície sobre a do, apesar de o fluxo permanecer laminar na
qual o fluido escorre (Figura 1.7a). A espessu- camada limite. Os fluxos maiores produzem
ra do filme limite é influenciada por uma série mais turbulência e, portanto, uma camada li-
de fatores, incluindo a velocidade, a viscosida- mite mais fina.
de, a densidade e a temperatura do fluido. Os O fluxo de fluidos é caracterizado por um
fluidos que possuem baixa taxa de fluxo ou alta número adimensional (Apêndice D) denomi-
viscosidade podem ser considerados uma série nado número de Reynolds (Re). Ele é calculado
de camadas que se movem umas sobre as ou- utilizando
tras sem se misturar (Figura 1.7b). Isso pro-
Dvρ
duz o movimento do fluido, que é denomina- Re = 1.9
μ
do de fluxo laminar. Em um cano, sua veloci-
dade é maior no centro e inexistente nas pare- onde D (m) = diâmetro do cano, v (m s-1) = ve-
des. Acima de uma certa taxa de fluxo, que é locidade média, ρ (kg m-3) = densidade do flui-
determinada pela natureza do fluido e do cano, do e μ (N s m-2) = viscosidade do fluido.
40 P. J. FELLOWS

Um número de Reynolds menor que 2.100 Em fluxo turbulento, as partículas do flui-


caracteriza um fluxo laminar, e maior que 4.000, do movimentam-se em todas as direções, e os
um fluxo turbulento. Para números de Reynolds sólidos são mantidos em suspensão mais facil-
entre 2.100 e 4.000, tem-se um fluxo de transi- mente. Isso reduz a formação de depósitos em
ção, que pode ser tanto laminar ou turbulento trocadores de calor e evita a deposição de sóli-
em momentos diversos. Essas diferentes carac- dos na tubulação. O fluxo laminar produz uma
terísticas de fluxo possuem implicações impor- variação mais ampla do tempo de residência
tantes para a transferência de calor e operações para as partículas individuais fluindo em um
de mistura; o fluxo turbulento produz uma ca- tubo. Isso é especialmente importante para o
mada limite mais fina, que permite taxas maio- cálculo do tempo de residência necessário para
res de transferência de calor. As implicações o tratamento térmico de alimentos líquidos, uma
desse fenômeno para o projeto e desempenho vez que é preciso garantir que todas as partes
de equipamentos são discutidas nos Capítulos do alimento recebam a quantidade de calor de-
11 a 13 e 17 (para líquidos em tubos ou sobre terminada. Esse aspecto é discutido em mais
placas de metal). O número de Reynolds tam- detalhes em relação ao aquecimento ôhmico
bém pode ser usado para determinar a potência (Capítulo 18). O fluxo turbulento causa maio-
necessária de bombas e misturadores utilizados res perdas por fricção que o fluxo laminar e,
para operações de mistura (Capítulo 5). portanto, requer maior energia das bombas.

Problema-exemplo 1.5

Dois fluidos, leite e óleo de colza, são escoados por tubulações de mesmo diâmetro (5 cm) a 20°C e na
mesma velocidade de 3 m s-1. Determine se o fluxo de cada fluido é laminar ou turbulento. (As propriedades
físicas do leite e do óleo de colza são aparentadas na Tabela 1.2.)

Solução do Problema-exemplo 1.5

Pela Tabela 1.2, para o leite, μ = 2,10 x 10-3 N s m-2 e ρ = 1.030 kg m-3. Pela Equação 1.9,
Dvρ
Re =
μ

Portanto,

0,05 x 3 x 1.030
Re =
2,1 x 10-3

= 73.571

Logo, o fluxo é turbulento (porque Re é maior que 4.000).

Para o óleo de colza, pela Tabela 1.2, μ = 118 x 10-3 N s m-2 e ρ = 900 kg m-3. Portanto

0,05 x 3 x 900
Re =
118 x 10-3

= 1.144

Logo, o fluxo é laminar (porque Re é menor que 2.100).


TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 41

1.3.1 Fluxo de fluidos através de leito (ρs – ρ) g d2 ε3


vf = 1.10
fluidizado μ 180 (1 – ∈)

Quando o ar passa de baixo para cima atra- onde vf (m s-1) = velocidade de fluidização, ρs
vés de um leito de alimentos, as partículas cri- (kg m-3) = densidade das partículas sólidas, ρ
am uma resistência ao fluxo de ar e reduzem a (kg m-3) = densidade do fluido, g (m s-2) =
área disponível para o fluxo através do leito. aceleração da gravidade, μ (N s m-2) = viscosi-
Com o aumento da velocidade do ar, atinge-se dade do fluido, d (m) = diâmetro das partícu-
um ponto no qual o peso do alimento é balan- las, ε = volume vazio do leito.
ceado pela força do ar, e o leito torna-se Fórmulas para alimentos de outras formas
fluidizado (p. ex., secagem em leito fluidizado são descritas por Kunii e Levenspiel (1969). A
[Capítulo 15]). Se a velocidade é aumentada velocidade mínima do ar necessária para trans-
ainda mais, o leito torna-se mais aberto (o volu- portar partículas é encontrada utilizando:
me vazio aumenta), até que, eventualmente, as
4d (ρs – ρ)
partículas são transportadas na corrente de flu- ve = 1.11
3Cd ρ
xo (p. ex., separação [Capítulo 3]), secagem
[Capítulo 15] ou transporte pneumáticos [Ca-
pítulo 26]). A velocidade do ar necessária para onde ve (m s-1) = velocidade mínima do ar e Cd
atingir a fluidização de partículas esféricas é (= 0,44 para Re = 500 – 200.000) = coeficien-
calculada utilizando: te de arraste.

Problema-exemplo 1.6

Ervilhas com um diâmetro médio de 6 mm e densidade de 880 kg m-3 são secas em um secador de leito
fluidizado (Capítulo 15). O volume vazio mínimo é 0,4 e a área transversal do leito é 0,25 m2. Calcule a velocida-
de mínima do ar necessária para fluidizar o leito se a densidade do ar for 0,96 kg m-3 e a viscosidade do ar é 2,15
x 10-5 N s m-2.

Solução para o Problema-exemplo 1.6


Da Equação 1.10,

(880 – 0,96) 9,81 (0,006)2 (0,4)3


vf =
2,15 x 10-5 180 (1-0,4)
= 8,5 m s-1

1.4 TRANSFERÊNCIA DE CALOR cia direta de energia molecular dentro dos sóli-
dos (p. ex., através de recipientes de metal ou
A maioria das operações unitárias no alimentos sólidos). A convecção é a transferên-
processamento de alimentos envolve a transfe- cia de calor por grupos de moléculas que se mo-
rência de calor do alimento ou para ele. Exis- vem como resultado de diferenças na densida-
tem três formas nas quais o calor pode ser trans- de (p. ex., em ar aquecido) ou como resultado
ferido: por radiação, por condução e por da agitação (p. ex., em líquidos agitados). Na
convecção. A radiação, descrita em detalhes no maioria das aplicações, os três tipos de transfe-
Capítulo 18, é a transferência de calor por on- rência de calor ocorrem simultaneamente, mas
das eletromagnéticas (veja Capítulo 18, Figura um tipo pode ser mais importante que os de-
18.1), por exemplo, em um grill elétrico. A con- mais em algumas aplicações. Mais detalhes são
dução é o movimento de calor pela transferên- fornecidos por Hayhurst (1997).
42 P. J. FELLOWS

1.4.1 Balanços de energia rial ou, mais comumente, como sua recíproca,
que é denominada de condutividade térmica.
Em um balanço de energia, “a quantida- As condutividades térmicas de alguns materiais
de de calor ou energia mecânica entrando em encontrados no processamento de alimentos
um processo = energia total saindo com os pro- são mostradas nas Tabelas 1.2 e 1.5.
dutos e resíduos + energia armazenada + ener- Sob condições estacionárias, a taxa de
gia perdida para o ambiente”. Se as perdas de transferência de calor é calculada utilizando:
calor são minimizadas, as perdas de energia
para o ambiente podem ser ignoradas para so- kA (θ1 – θ2)
luções aproximadas no cálculo, por exemplo, Q= 1.12
x
da quantidade de vapor, ar quente ou refrige-
rante necessária. Para soluções mais precisas,
devem ser feitas compensações para as perdas onde Q (J s-1) = taxa de transferência de calor, k
de calor. (J m-1 s-1 K-1 ou W m-1 K-1) = condutividade tér-
mica, A (m-2) = área superficial, θ1-θ2 (ºC ou K)
= diferença de temperatura e x (m) = espessura
1.4.2 Mecanismos da transferência do material. A razão (θ1-θ2)/x também é conhe-
de calor cida como gradiente de temperatura.
Apesar de, por exemplo, o aço inoxidável
A transferência de calor estacionária ocor- conduzir 10 vezes menos calor do que o alumí-
re quando existe uma diferença de temperatu- nio (Tabela 1.5), a diferença é pequena compara-
ra constante entre dois materiais. A quantida- da com a baixa condutividade térmica dos alimen-
de de calor entrando em um material é igual à tos (20 a 30 vezes menor do que a do aço) e não
quantidade de calor saindo, e não há mudança limita a taxa de transferência de calor. O aço ino-
de temperatura do material. Isso acontece, por xidável é muito menos reativo que qualquer ou-
exemplo, quando o calor é transferido através tro metal, particularmente em relação a alimen-
das paredes de uma câmara fria, se a tempera- tos ácidos, e é, por essa razão, usado na maioria
tura da câmara e do ambiente são constantes dos equipamentos de processamento que entram
(Capítulo 19), e em processos contínuos, após em contato com o alimento.
a estabilização das condições de operação. No A condutividade térmica dos alimentos é
entanto, na maioria das aplicações de proces- influenciada por uma série de fatores relaciona-
samento de alimentos, a temperatura do ali- dos com a natureza do alimento (p. ex., estrutu-
mento e/ou do meio de aquecimento ou ra da célula, quantidade de ar preso entre as cé-
resfriamento está mudando constantemente, e lulas e teor de umidade) e com a temperatura e
a transferência de calor não-estacionária é a a pressão do ambiente. A redução do teor de
mais freqüente. Os cálculos da transferência umidade causa uma diminuição substancial na
de calor sob essas condições são extremamen- condutividade térmica, o que tem implicações
te complicados, mas são simplificados por uma importantes nas operações unitárias envolvendo
série de considerações e pelo uso de tabelas e a condução de calor pelo alimento para a remo-
modelos computacionais para alcançar solu- ção de água (p. ex., na secagem [Capítulo 15],
ções aproximadas (Toledo, 1999). na fritura [Capítulo 17] e na liofilização [Capítu-
lo 22]). Na liofilização, a condutividade térmi-
ca do alimento também é influenciada pela
Condução estacionária
redução da pressão atmosférica. O gelo possui
A taxa de calor transferida por condução uma condutividade térmica maior do que a água,
é determinada pela diferença de temperatura o que é importante na determinação da taxa de
entre o alimento e o meio de aquecimento ou congelamento e descongelamento (Capítulo 21).
resfriamento e a resistência total à transferên- (Um problema-exemplo indicando a importân-
cia de calor. A resistência à transferência de cia da condutividade térmica é mostrado no Ca-
calor é expressa como a condutância do mate- pítulo 17.)
TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 43

TABELA 1.5 Condutividade térmica de alguns alimentos e outros materiais

Condutividade térmica Temperatura da medida


Tipo de material (W m-1 K-1) (°C)

Materiais de construção
Alumínio 220 0
Cobre 388 0
Aço inoxidável 21 20
Outros metais 45-400 0
Tijolo 0,69 20
Concreto 0,87 20

Alimentos
Azeite de oliva a 0,17 20
Leite integral a 0,56 20
Alimentos liofilizados 0,01-0,04 0
Carne congelada b 1,30 –10
Porco (magro) b 0,48 3,8
Bacalhau congelado 1,66 –10
Suco de maçã 0,56 20
Laranja 0,41 0-15
Vagens 0,80 –12,1
Couve-flor 0,80 –6,6
Ovo 0,96 –8
Gelo 2,25 0
Água a 0,57 0

Materiais de embalagem
Cartolina 0,07 20
Vidro 0,52 20
Polietileno 0,55 20
Cloreto de polivinila (PVC) 0,29 20

Materiais de isolamento
Espuma de poliestireno 0,036 0
Espuma de poliuretano 0,026 0
Outros tipos 0,026-0,052 30
a
Presumindo que correntes de convecção estejam ausentes.
b
Fluxo de calor paralelo às fibras.
De Earle (1983), Lewis (1978) e Woodams e Nowrey (1968).

Condução não-estacionária Exemplos de calor específico de alimen-


tos são dados nas Tabelas 1.2 e 1.6. A difusivi-
Durante o processamento, a temperatura dade térmica está relacionada com a conduti-
em um determinado ponto dentro do alimen- vidade térmica, com o calor específico e com a
to depende da taxa de aquecimento ou densidade de um alimento por:
resfriamento e da posição no alimento. Portan-
to, a temperatura altera-se continuamente. Os
fatores que influenciam as mudanças de tem- k
a= 1.13
peratura são: ρc

• a temperatura do meio de aquecimen- onde a (m2 s-1) = difusividade térmica, ρ (kg


to; m-3) = densidade, c (J kg-1 K-1) = capacidade
• a condutividade térmica do alimento; e térmica específica e k (W m-1 K-1) = conduti-
• o calor específico do alimento. vidade térmica.
44 P. J. FELLOWS

TABELA 1.6 Calor específico de alguns alimentos e outros materiais

Alimento/ material Calor específico (kJ kg-1 K-1) Temperatura (°C)

Alumínio 0,89 20
Maçãs 3,59 Ambiente
Maçãs 1,88 Congelamento
Bacalhau 3,76 Ambiente
Bacalhau 2,05 Congelamento
Cobre 0,38 20
Gelo 2,04 0
Cordeiro 2,80 Ambiente
Cordeiro 1,25 Congelamento
Batatas 3,43 Ambiente
Batatas 1,80 Congelamento
Aço inoxidável 0,46 20
Água 4,18 15
Vapor d’água 20,5 100

Adaptada de dados de Peleg e Bagley (1983), Jowitt et al. (1983) e Polley et al. (1980).

A equação básica para a transferência de como exemplos misturadores (Capítulo 5), se-
calor não-estacionária em uma única direção cadores de leito fluidizado (Capítulo 15), con-
(x) é: geladores com jato de ar (air blast) (Capítulo
21) e líquidos bombeados através de trocado-
dθ k d2 θ res de calor (Capítulos 11 a 13).
= 1.14
dt ρc dx 2 Quando líquidos ou gases são usados como
meio de aquecimento ou resfriamento, a taxa
onde dθ/dt = alteração da temperatura com o de transferência de calor do fluido para a su-
tempo. perfície do alimento é encontrada utilizando:
Exemplos de soluções para essa equação
para formas simples (p. ex., uma fatia, cilindro
ou esfera) são descritos por Earle (1983), Jackson Q = hsA (θb – θs) 1.15
e Lamb (1981) e Loncin e Merson (1979).

onde Q (J s-1) = taxa de transferência de calor, A


Convecção (m2) = área superficial, θs (K) = temperatura da
Quando um fluido tem sua temperatura superfície, θb (K) = temperatura no seio do flui-
alterada, as modificações resultantes na den- do e hs (W m-2 K-1) = coeficiente de transferên-
sidade estabelecem correntes naturais de cia de calor da superfície (ou filme).
convecção. Exemplos incluem evaporadores de O coeficiente de transferência de calor super-
circulação natural (Capítulo 13), movimento ficial é a medida da resistência ao fluxo de calor
do ar em freezers (Capítulo 21) e movimento causada pelo filme limite, e é, portanto, equiva-
de líquidos dentro de latas durante a esterili- lente ao termo k/x na equação da condução
zação (Capítulo 12). A convecção forçada acon- (Equação 1.12) (Polley et al., 1980). Ele é maior
tece quando um misturador ou ventilador é no fluxo turbulento que no laminar. Valores típi-
utilizado para agitar o fluido. Isso reduz a es- cos de hs são apresentados na Tabela 1.7.
pessura do filme limite para produzir taxas mais Esses dados indicam que a transferência
altas de transferência de calor e uma redistri- de calor pelo ar é menor do que através de lí-
buição mais rápida da temperatura. Conse- quidos, e taxas de transferência maiores são
qüentemente, a convecção forçada é mais obtidas por ar em movimento quando compa-
comumente empregada que a convecção na- radas com ar parado. Trocadores de calor mai-
tural no processamento de alimentos, tendo ores são, portanto, necessários quando o ar é
TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 45

TABELA 1.7 Valores de coeficientes de transferência de calor superficial

Coeficiente de transferência
de calor superficial hs
(W m-2 K-1) Aplicações típicas

Líquidos ferventes 2.400 - 60.000 Evaporação


Vapor saturado condensante 12.000 Enlatamento, evaporação
Vapor condensante
Com 3% de ar 3.500 Processamento térmico
Com 6% de ar 1.200
Amônia condensante 6.000 Congelamento, resfriamento
Líquido fluindo em canos
Baixa viscosidade 1.200 - 6.000 Pasteurização
Alta viscosidade 120 - 1.200 Evaporação
Ar em movimento (3 m s-1) 30 Congelamento, cozimento
Ar parado 6 Câmara fria

Adaptada de Loncin e Merson (1979) e Earle (1983).

utilizado para aquecimento (Capítulos 15 e 16) onde hc (W m-2 K-1) = coeficiente de transferên-
ou resfriamento (Capítulos 19 e 21) compara- cia de calor por convecção na interface sólido-
dos àqueles necessários quando se usam líqui- líquido, D (m) = dimensão característica (com-
dos. O vapor condensante produz taxas de trans- primento ou diâmetro), k (W m-1 K-1) = conduti-
ferência de calor maiores do que água quente vidade térmica do fluido, cp (J kg-1 K-1) = calor
na mesma temperatura, e a presença de ar no específico a pressão constante, ρ (kg m-3) = den-
vapor reduz a transferência de calor. Isso tem sidade, μ (N s m–2) = viscosidade, g (m s-2) =
importantes implicações no enlatamento (Ca- aceleração da gravidade, β (m m-1 K-1) = coefi-
pítulo 12), uma vez que qualquer ar presente ciente de expansibilidade térmica, Δθ (K) = di-
no vapor pode diminuir a temperatura e conse- ferença de temperatura e v (m s-1) = velocidade.
qüentemente diminuir a quantidade de calor Para o fluxo laminar através de canos,
recebida pelo alimento. Tanto termômetros
como medidores de pressão são necessários para Nu = 1,62 (Re Pr D )0,33 1.19
L
verificar se o vapor está saturado.
O coeficiente de troca térmica superficial onde L (m) = comprimento do cano, quando
está relacionado com as propriedades físicas Re Pr D/L > 120 e todas as propriedades físi-
de um fluido (p. ex., densidade, viscosidade, cas são medidas na temperatura média da
calor específico), a gravidade (que causa a cir- massa de fluido.
culação devido às mudanças de densidade), o Para o fluxo turbulento através de canos,
gradiente de temperatura e o comprimento ou
diâmetro do recipiente sob investigação. As Nu = 0,023 (Re)0,8 (Pr)n 1.20
fórmulas que relacionam esses fatores são ex-
pressas como números adimensionais (Apên- onde n = 0,4 para aquecimento ou n = 0,3
dice D) da seguinte forma: para resfriamento. Quando Re > 10.000, a vis-
cosidade é medida na temperatura média do
hcD filme e as outras propriedades são medidas na
Número de Nusselt Nu = 1.16
k temperatura média da massa de fluido.
O número de Grashof é utilizado para a
cp μ 1.17 convecção natural, quando não existe turbu-
Número de Prandtl Pr =
k lência no fluido. Fórmulas para outras condi-
ções de fluxo e diferentes vasos são descritas
D3 ρ2gβΔθ por Loncin e Merson (1979), Jackson e Lamb
Número de Grashof Gr = 1.18
μ2 (1981) e Earle (1983).
46 P. J. FELLOWS

Problema-exemplo 1.7

O leite integral é resfriado em um trocador de calor tubular de 30 a 10°C, com água a 1°C. O diâmetro do tubo
é 5 cm, e a velocidade do fluxo do leite é 1,0 m s-1. Calcule o coeficiente de transferência de calor para o leite
utilizando as propriedades físicas descritas na Tabela 1.2.

Solução para o Problema-exemplo 1.7

30 + 10
Temperatura média da massa =
2

= 20°C

Da Tabela 1.2, ρ = 1.030 kg m-3, c = 3,9 kJ kg-1 °K-1


E

k = 0,56 W m-2 °K-1.

Se Re > 10.000, a viscosidade deve ser medida na temperatura média.

1
1+ 2 (30 + 10)
Temperatura média do filme =
2
= 10,5°C

Para leite a 10,5°C , μ = 2,8 x 10-3 N s m-2. Da Equação 1.9,

Dvρ
Re =
μ

= 0,05 x 1,0 x -3
1.030
2,8 x 10

= 18.393

Da Equação 1.17,

cp μ
Pr =
k
=
(3,9 x 103) (2,8 x 10-3)
= 19,5 0,56

Das Equações 1.16 e 1.20,


hcD
Nu =
k
= 0,023 (Re)0,8 (Pr)0,33

Portanto,
k
hc = 0,023 (Re)0,8 (Pr)0,33.
D
0,56
= 0,023 (18.393)0,8 (19,5)0,33
0,05
= 1.768 W m-2 °K-1
TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 47

A maioria dos casos de transferência de As temperaturas desconhecidas da parede


calor no processamento de alimentos envolve a θ2 e θ3 não são necessárias, e todos os fatores
transferência através de diferentes materiais. para resolver a equação podem ser medidos.
Como exemplo, um trocador de calor tubular O somatório das resistências ao fluxo de
de um fluido quente, através da parede de um calor é denominado coeficiente global de trans-
recipiente para um segundo fluido é mostrada ferência de calor (CGTT) U, e a taxa da transfe-
na Figura 1.8. rência de calor pode ser expressa como:
A diferença de temperatura global é en-
contrada utilizando: Q = UA (θa – θb) 1.22

O CGTT é um termo importante que é uti-


lizado, por exemplo, para indicar a efetividade
θa – θb =
Q
A ( 1 x
ha k
+
1
hb ) 1.21 do aquecimento ou do resfriamento em dife-
rentes tipos de equipamentos de processo. Al-
guns exemplos são mostrados na Tabela 1.8.

Filmes limites

Metal
Temperatura

θa θ1

θ2
θb
θ3

Quente Frio

Distância

FIGURA 1.8 Mudanças de temperatura de um líquido quente para um líquido frio através das paredes
de um recipiente.

TABELA 1.8 Coeficiente global de troca térmica (CGTT) no processamento de alimentos


Fluidos de transferência de calor Exemplo CGTT (W m-2 K-1)

Água quente – ar Aquecedor a ar 10-50


Líquido viscoso – água quente Vaso encamisado 100
Líquido viscoso – água quente Vaso encamisado agitado 500
Líquido viscoso – vapor Evaporador 500
Líquido não-viscoso – vapor Evaporador 1.000-3.000
Gás fluido – água Caldeira 5-50
Amônia evaporante – água Unidade de refrigeração de água 500

Adaptada de Lewis (1990).


48 P. J. FELLOWS

Os líquidos podem fluir na mesma direção onde θ1 é maior do que θ2.


ou em direções opostas em um trocador de calor. Problemas-exemplo relacionados a esse
O fluxo contracorrente de líquidos (Figura 1.9) aspecto são mostrados nos Capítulos 11, 13 e 15.
tem uma eficiência de transferência térmica maior O tempo de aquecimento no proces-
do que o paralelo e é, por essa razão, amplamen- samento em batelada é encontrado utilizando:
te empregado em trocadores de calor (para exem-
plos, veja Capítulos 10 a 21). No entanto, a dife- mc θh – θi
rença de temperatura varia em diferentes pon-
tos do trocador e é necessário usar uma média
t=
UA
ln
( θh – θf ) 1.24

logarítmica das diferenças de temperatura nos


onde m (kg) = massa, c (J kg-1 ºK-1) = capaci-
cálculos (Equação 1.23):
dade de calor específica, θn (ºC) = temperatura
do meio de aquecimento, θi (ºC) = temperatu-
Δθ1 – Δθ2 ra inicial θf (ºC) = temperatura final, A (m2) =
Δθm = 1.23 área superficial e U (W m-2 K-1) = CGTT.
In (Δθ1 / Δθ2)

Problema-exemplo 1.8

No trocador de calor em contracorrente mostrado na Figura 1.9, o leite é resfriado de 73 a 38°C a uma taxa de
2.500 kg h-1 utilizando água a 15°C, que deixa o trocador de calor a 40°C. A tubulação de 2,5 cm de diâmetro é
construída em aço inox de 3 mm de espessura; os coeficientes de troca térmica superficial são 1.200 W m-2 K-1
pelo lado do leite e 3.000 W m-2 K-1 pelo lado da água. Calcule o CGTT e o comprimento de cano necessário.

Solução do Problema-exemplo 1.8


Para encontrar o CGTT, a partir das Equações 1.21 e 1.22,

1 1 x 1
= + +
U ha k hb

1 3 x 10-3 1
= + +
1.200 21 3.000

= 1,3 x 10-3

Portanto, o CGTT é

U = 769,2 W m-2 °K-1

Para encontrar o comprimento de cano necessário, procede-se da forma a seguir.


Das Equações 1.22 e 1.23,

Q = UAΔθm

E
Δθ1 – Δθ2
Δθm =
ln (Δθ1 – Δθ2)

(73 – 40) / (38 - 15)


=
ln[(73 – 40) / (38-15)]

= 27,8°C
TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 49

Agora Q é o calor removido do leite que é igual mcp(θa-θb ). Da Tabela 1.2, cp = 3,9 kJ kg-1 °K-1. Portanto,

2.500
Q= (3,9 x 103) (73 - 38)
3.600

= 9,48 x 104 J

Agora a área é

Q
A=
UΔθm
9,48 x 104
=
769,2 x 27,8

= 4,4 m2

Além disso,

A = πDL

Portanto, o comprimento do tubo é

A
L=
πD

4,4
= = 56 m
3,142 x 0,025

θ2

θ1

θ2

θ1 θ1

θ2

θ2

Paralelo Contracorrente

FIGURA 1.9 Fluxos paralelo e de contracorrente em um trocador de calor.


50 P. J. FELLOWS

Transferência de calor em estado zando a Equação 1.24, empregando o coeficien-


não-estacionário por condução e te de transferência de calor do filme hs em vez
de U. No entanto, na maioria das aplicações a
convecção
condutividade térmica do alimento é o fator
Quando um pedaço sólido de alimento é limitante à taxa de transferência de calor (Bi >
aquecido ou resfriado por um fluido, as resis- 0,2). Esses cálculos são complexos, e uma sé-
tências à transferência de calor são o coefici- rie de gráficos está disponível para a resolução
ente de transferência de calor e a condutividade das equações para alimentos de formas sim-
térmica do alimento. Esses dois fatores são re- ples (Figura 1.10). Tais gráficos relacionam o
lacionados pelo número de Biot Bi: número de Biot (Bi) (Equação 1.25), o fator
temperatura (a fração da mudança de tempe-
hδ ratura que permanece a ser atingida [Equação
Bi = 1.25
k 1.26]) e o número de Fourier Fo (número
adimensional que relaciona a difusividade tér-
mica, o tamanho do pedaço e o tempo de aque-
onde h (W m-2 K-1) = coeficiente de troca tér-
cimento ou resfriamento [Equação 1.27]).
mica, δ = “meia dimensão” característica (p.
ex., raio de uma esfera ou cilindro, meia es-
pessura de uma fatia) e k (W m -1 K -1) = θh – θf
1.26
condutividade térmica. θh – θi
Em valores de Bi pequenos (menores que
0,2), o filme superficial é a principal resistência onde os subscritos h, f e i indicam, respectiva-
ao fluxo de calor, e o tempo necessário para mente, o meio de aquecimento, o valor final e
aquecer o alimento sólido é encontrado utili- o valor inicial.

1,0
0,8 10,0
0,6 6,0
0,4 4,0
θH – θF
θH – θI

3,0
0,2 2,0
k 0 0,25 0,50 1,5
hr 0,10 0,75 1,0
(a) 1,0
0,8 4,0
0,6 2,0
1,0 1,5
0,4
0,75
0,50
0,2 k
hl 0 0,10 0,25
(b) 1,0
0,8 10,0
6,0
0,6 4,0
3,0
0,4 2,0
1,5
0,2 k
hr 0,25 0,50 0,75 1,0

(c) 1,0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4
k t
cρ δ 2

FIGURA 1.10 Gráfico para a transferência de calor em estado não-estacionário: (a) esfera; (b) fatia; (c)
cilindro. (Conforme Henderson e Perry, 1955.)
TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 51

Exemplos de cálculo de estado não-


k t estacionário são mostrados adiante e no Capí-
Fo = 1.27
cρ δ 2 tulo 19. Cálculos mais complexos são descri-

Problema-exemplo 1.9

Ervilhas com um diâmetro médio de 6 mm são branqueadas para atingirem a temperatura de 85°C no centro. A
temperatura inicial das ervilhas é 15°C e a água de branqueamento está a 95°C. Calcule o tempo necessário,
considerando que o coeficiente de troca térmica é 1.200 W m-2 K-1 e que, para ervilhas, a condutividade térmica
é 0,35 W m-1 K-1, o calor específico é 3,3 kJ kg -1 K-1 e a densidade é 980 kg m-3.

Solução para o Problema-exemplo 1.9


Da Equação 1.25,


Bi =
k

1.200 (3 x 10-3)
=
0,35

= 10,3

Portanto,
k
= 0,097

Da Equação 1.26,

θh - θf 95 – 85
=
θh - θi 95 – 15

= 0,125

Do gráfico para a esfera (Figura 1.10), Fo = 0,32. Da Equação 1.27,


k t
Fo =
cρ δ2
= 0,32

Portanto, cρδ 2
tempo t = 0,32
k

0,32 (3,3 x 103) 980 (3 x 10-3)2


=
0,35

= 26,6s
52 P. J. FELLOWS

tos por Lewis (1990), Earle (1983) e Jackson e Métodos de aquecimento direto
Lamb (1981).
Nos métodos de aquecimento direto, o ca-
lor e os produtos da queima do combustível
1.4.3 Fontes de energia e métodos estão em contato direto com o alimento. Exis-
de aplicação em alimentos te um risco óbvio de contaminação do alimen-
to pelos odores ou pela queima incompleta,
O custo de energia para aquecimento tem- razão pela qual somente gás e, em menor es-
se tornado uma das principais considerações cala, combustíveis líquidos são usados. Aplica-
na seleção dos métodos de processamento e, ções incluem secadores de forno (Capítulo 15)
ultimamente, no custo dos alimentos proces- e fornos para assar (Capítulo 16). Esses méto-
sados e na lucratividade da operação. Diferen- dos diretos não devem ser confundidos com
tes combustíveis têm vantagens específicas e injeção “direta” de vapor, na qual o vapor é
limitações em termos de custo, segurança, ris- produzido em um local separado da planta de
co de contaminação do alimento, flexibilidade processamento. A eletricidade não é um com-
de uso e custos de capital e de operação para o bustível da mesma forma que os outros tipos
equipamento de transferência de calor. As se- recém-descritos. Ela é gerada por turbinas a
guintes fontes de energia são utilizadas no vapor por um fluido primário (p. ex., carvão
processamento de alimentos: mineral ou óleo combustível) ou por hidrelé-
tricas ou fissão nuclear. No entanto, a energia
• Eletricidade elétrica também é usada diretamente no aque-
• Gás (natural ou gás liquefeito de pe- cimento dielétrico ou por microondas (Capí-
tróleo) tulo 18).
• Óleo combustível
Métodos indiretos
Combustíveis sólidos (antracita, carvão
mineral, lenha e carvão) são utilizados em pe- O resfriamento indireto de alimentos está
quena escala. As vantagens e as limitações de descrito nos Capítulos 19 e 21. Métodos de
cada tipo de fonte de energia são mostradas aquecimento indiretos empregam um trocador
na Tabela 1.9. de calor para separar o alimento dos produtos

TABELA 1.9 Vantagens e limitações de diferentes fontes de energia para o processamento de alimentos

Combustível Combustível
Eletricidade Gás líquido sólido

Energia por unidade de massa ou volume Não aplicável Baixaa Altab Moderada a altac
Custo por kJ de energia Alto Baixo Baixo Baixo
Custo do equipamento de troca térmica Baixo Baixo Alto Alto
Eficiência do aquecimentod Alta Moderada a alta Moderada a baixa Baixa
Flexibilidade de uso Alta Alta Baixa Baixa
Perigo de fogo ou explosão Baixo Alto Baixo Baixo
Risco de contaminação do alimento Baixo Baixo Alto Alto
Custo de mão-de-obra e manuseio Baixo Baixo Baixo Alto
a
O valor de aquecimento para o gás é 1,17 x 103 – 4,78 x 103 kJ kg-1.
b
O valor de aquecimento para o óleo é 8,6 x 103 – 9,3 x 103 kJ kg-1.
c
O valor de aquecimento para o carvão mineral é 5,26 x 103 – 6,7 x 103 kJ kg-1 e para a madeira é 3,8 x 103 – 5,26 x 103 kJ kg-1.
d
A eficiência é definida como a quantidade de energia utilizada para aquecer o produto dividida pela quantidade de energia
ornecida.
Dados compilados de Farral (1979) e Whitmanm et al. (1981).
TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 53

da combustão. Em sua forma mais simples, um que são mergulhados no alimento. Esses aque-
sistema indireto consiste de um combustível cedores são utilizados para aquecimento loca-
queimando embaixo de uma placa de metal e lizado ou intermitente. Aquecedores por infra-
se aquecendo pela energia radiada da placa. O vermelho estão descritos no Capítulo 18.
tipo mais comum de sistema de aquecimento
indireto usado no processamento de alimen-
tos é vapor ou água quente gerada em um tro- 1.4.4 Conservação de energia
cador de calor (caldeira) afastado da área de
processamento. Um segundo trocador de ca- Uma pesquisa em indústrias de alimen-
lor transfere o calor do vapor para o alimento tos na União Européia encontrou uma grande
sob condições controladas, ou o vapor é inje- variação no consumo de energia em diferentes
tado no alimento. Uma variação desse sistema tipos de processamento; moinhos de trigo ti-
envolve um outro trocador de calor que trans- veram o menor gasto de energia (586 MJ por
fere calor do vapor para o ar a fim de secar tonelada de produto), e o processamento de
alimentos ou aquecê-los sob condições secas. cacau e chocolate teve o mais alto (8.335 MJ
As vantagens do vapor para o aquecimento no por tonelada de produto) (Whitmann et al.,
processo e a descrição dos equipamentos utili- 1981). Uma comparação dos gastos de ener-
zados para a produção e manuseio de diferen- gia em diferentes tipos de processamento de
tes tipos de vapor são descritas por Farall batatas é mostrada na Tabela 1.10.
(1979). As propriedades do vapor são discuti- Em todos os tipos de processamento de ali-
das por Brennan e colaboradores (1990) e mentos, a maior parte da energia (58%; varia-
Toledo (1999) e as temperaturas do vapor ção de 40 a 80%) é utilizada para o proces-
saturado são mostradas no Capítulo 12 (Tabe- samento propriamente dito, porém quantidades
la 12.6). significativas são também empregadas para o
O aquecimento elétrico indireto utiliza empacotamento (11%; variação de 15 a 40%),
aquecedores com resistências ou aquecedores transporte (12%; variação de 0,56 a 40%), água
por infravermelho. Aquecedores com resistên- de limpeza (15%) e armazenagem (até 85% do
cias são fios de níquel-cromo contidos em pla- consumo geral de energia para alimentos conge-
cas sólidas ou bobinas, que são conectadas às lados). Os combustíveis para caldeira contam
paredes do recipiente em camisas flexíveis que como 8,6 a 97,2% do consumo total da fábrica,
recobrem vasos ou em aquecedores de imersão, porém a utilização das caldeiras tem uma média

TABELA 1.10 Consumo comparativo de energia no processamento de batatas


Consumo de energia (MJ t-1)

Secagem Pouches
com ar quente Liofilizada Enlatada autoclaváveis Congelada

Processamento 8 42 6 4 5
Embalagem 1 2 14 7 7
Armazenagem 0,1 0,1 0,1 0,1 32
(Casa) 0 0 0 0 (24)
Transporte 2 2 8 8 8
Total 11 46 28 19 52

Apresentada em Kelford (1982).


54 P. J. FELLOWS

de 45%, devido à prática de mantê-las em aque- • isolamento apropriado de tubulações


cimento baixo durante os períodos de baixa taxa de vapor e água quente;
de produção (p. ex., turnos vesperais e notur- • minimização de vazamentos de vapor; e
nos). No entanto, em média, apenas metade do • encaixe de purgas de vapor.
condensado é retornada à caldeira, e o calor con-
tido nele é desperdiçado. Aproximadamente 40% Equipamentos de processamento são pro-
do calor perdido nas fábricas estão contidos nos jetados com o propósito de economizar ener-
vapores e gases e outros 10 a 20% são perdidos gia. Exemplos incluem regeneradores de calor
em água quente (Whitman et al., 1981). em trocadores de calor (Delashmit et al., 1983)
Fica claro a partir desses e outros dados (exemplos nos Capítulos 10, 11, 16 e 17), sis-
(p. ex., Kefford, 1982) que, potencialmente, a temas de múltiplo efeito ou recompressão do
maior economia de energia no processamento vapor (Capítulo 13) e descongelamento auto-
de alimentos está associada à operação da cal- mático e isolamento adequado de equipamen-
deira, ao fornecimento de vapor ou ar quente tos de congelamento (Capítulos 19 a 21). O
e à reutilização de calor dissipado. Uma audi- controle por microprocessadores de equipa-
toria de energia é usada para identificar áreas mentos de processo (Capítulo 2) é usado am-
específicas e equipamentos na fábrica onde se plamente para reduzir o consumo de energia.
pode efetuar uma economia de energia A recuperação de calor do ar de secagem é mais
(Boardman, 1986). Em resumo, a operação de difícil do que de vapores, porque o ar não é
caldeiras pode ser melhorada por: recompressível. No entanto, alguns projetos de
trocadores de calor são utilizados para recu-
• retorno do condensado como água de perar o calor perdido do ar ou de gases (p. ex.,
alimentação; a “polia térmica” na Figura 1.11).
• preaquecimento de ar para a queima Aplicações comerciais desse equipamen-
de combustível; to são descritas no Capítulo 15 (fornos de as-
• isolamento da caldeira; e sar) e no Capítulo 16 (fritadores). Se a umida-
• recuperação de calor dos vapores. de do ar é reduzida, ele é reaquecido com mais
economia. A “polia rotatória” (Figura 1.12) e
O controle computadorizado da operação as bombas de calor são exemplos de equipa-
de caldeiras é descrito por Wells e Swientek mentos desumidificadores. Bombas de calor são
(1983). A economia de energia no fornecimen- similares a plantas de refrigeração (veja Capí-
to de vapor para a área de processamento pode tulo 19, Figura 19.1) mas operam pela remo-
ser alcançada por: ção de calor de uma fonte de baixa temperatu-

Duto de exaustão

Entrada de ar fresco
Polia térmica

Duto de fornecimento

FIGURA 1.11 Polia térmica. (Cortesia do Electricity Council.)


TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 55

ra, utilizando-a pra aquecer ar ou água. A apli- decimal ou valor D (5min na Figura 1.13). Va-
cação de bombas de calor para a secagem de lores de D variam para diferentes espécies
confeitos sob baixa temperatura é descrita por microbianas (Tabela 1.11), e um maior valor
Anon. (1983a, b, c). O uso de lâminas de ar de D indica maior resistência ao calor.
para a secagem de embalagens é descrita por Existem duas implicações importantes
Anon (1983d) e Beevers (1985). Outras técni- que surgem com o tempo de redução deci-
cas de economia de energia durante a desidra- mal: em primeiro lugar, quanto maior for o
tação são descritas por Senhaji e Bimbenet número de microrganismos presentes na ma-
(1984), Flink (1977) e Green (1982). téria-prima, mais tempo leva-se para reduzi-
los ao nível especificado. Em operações co-
merciais, o número de microrganismos varia
1.4.5 Efeitos do calor nos microrganismos em cada batelada de matéria-prima, mas é
difícil recalcular o tempo de processamento
O efeito preservativo do processamento para cada batelada de alimento. Portanto,
com calor é devido à desnaturação de proteí- utiliza-se uma combinação temperatura-tem-
nas que destroem a atividade enzimática e os po definida para processar todas as bateladas
metabolismos controlados por enzimas nos mi- de um certo produto, e procedimentos ade-
crorganismos. A taxa de destruição é uma rea- quados de preparação (Capítulo 3) são utili-
ção de primeira ordem; isto é, quando o ali- zados para garantir que a matéria-prima te-
mento é aquecido a uma temperatura alta o nha uma qualidade microbiológica satisfatória
suficiente para destruir microrganismos e uniforme. Em segundo lugar, como a des-
contaminantes, a mesma porcentagem morre truição microbiana ocorre logaritmicamente,
em um determinado intervalo de tempo, inde- em tese, é possível destruir todas as células
pendentemente do número presente no come- somente após um aquecimento por tempo in-
ço. Isso é conhecido como ordem logarítmica finito. Assim, o processamento objetiva redu-
de morte e é descrito pela curva da taxa de zir o número de microrganismos sobreviven-
letalidade (Figura 1.13). tes por uma quantidade predeterminada. Com
O tempo necessário para destruir 90% dos isso, surge o conceito de esterilidade comercial,
microrganismos (reduzir seu número por um que é discutida mais profundamente nos Ca-
fator de 10) é referido como tempo de redução pítulos 10 a 12.

Vista do equipamento montado no te-


lhado da sala de condicionamento
Ar seco

Ar de processo

Aquecedor
de ar

Ar úmido Ar de reativação

Detalhes da polia rotatória de Munters

FIGURA 1.12 Polia rotatória. (Cortesia do Electricity Council.)


56 P. J. FELLOWS

1000

Nº de esporos sobreviventes

100

10

1
0 5 10 15

Tempo de aquecimento (min)

FIGURA 1.13 Curva da taxa de letalidade.

TABELA 1.11 Propriedades térmicas de alguns componentes nutritivos e sensoriais dos alimentos em
relação à resistência térmica de enzimas e microrganismos
Faixa de
Componente Fonte pH z (°C) D121 (min) temperatura (°C)

Tiamina Purê de cenoura 5,9 25 158 109-149


Tiamina Purê de ervilha Natural 27 247 121-138
Tiamina Purê de cordeiro 6,2 25 120 109-149
Lisina Farinha de soja - 21 786 100-127
Clorofila a Espinafre 6,5 51 13,0 127-149
Clorofila a Espinafre Natural 45 34,1 100-130
Clorofila b Espinafre 5,5 79 14,7 127-149
Clorofila b Espinafre Natural 59 48 100-130
Antocianina Suco de uva Natural 23,2 17,8* 20-121
Betanina Suco de beterraba 5,0 58,9 46,6* 50-100
Carotenóides Páprica Natural 18,9 0,038* 52-65
Peroxidase Ervilhas Natural 37,2 3,0 110-138
Peroxidase Várias – 28-44 – –
Clostridium botulinum, Vários >4,5 5,5-10 0,1-0,3* 104
esporos tipos A + B
Bacillus stearothermophilus Vários >4,5 7-12 4,0-5,0 110+

* Valores de D em temperaturas diferentes de 121°C.


Adaptada de Felliciotti e Esselen (1957), Taira et al. (1966), Gupta et al. (1964), Ponting et al. (1960), von Elbe et al. (1974), Adams e
Yawger (1961), Esselen e Anderson (1956) e Stumbo (1973).
TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 57

A destruição dos microrganismos depen- 1. Tipo de microrganismo. Diferentes


de da temperatura; as células morrem mais espécies e variedades mostram am-
rapidamente em temperaturas elevadas. Co- pla variação em sua resistência tér-
tejando valores de D sob diferentes tempera- mica (Tabela 1.11). Os esporos são
turas, pode-se construir uma curva de tempo muito mais resistentes do que as cé-
de destruição térmica (TDT) (Figura 1.14). A lulas vegetativas.
inclinação da curva de TDT é denominada 2. Condições de incubação durante o
valor z e definida pelo número de graus crescimento de células ou a forma-
Celsius necessários para alterar 10 vezes o ção de esporos. Estas incluem:
tempo de redução decimal (10,5ºC na Figura
1.14). Os valores D e z são utilizados para a) temperatura (esporos produzidos
caracterizar a resistência térmica de um mi- em temperaturas mais altas são
crorganismo e sua dependência da tempera- mais resistentes que os produzi-
tura, respectivamente. dos em baixas temperaturas);
Existe um grande número de fatores que b) idade da cultura (o estágio de cres-
determina a resistência térmica dos microrga- cimento das células vegetativas
nismos, mas afirmações gerais sobre o efeito afeta sua resistência térmica); e
de uma determinada variável na resistência c) o meio de cultura utilizado (p.
térmica nem sempre são possíveis. Os fatores ex., sais minerais e ácidos graxos
adiante são considerados importantes. influenciam a resistência térmi-
ca de esporos).

1000
Tempo de redução decimal D (min)

100

10

1
90 100 110 120 130

Temperatura (°C)

FIGURA 1.14 Curva TDT. A destruição microbiana é mais rápida em temperaturas mais elevadas (p.
ex, 100min a 102,5°C tem o mesmo efeito letal que 10min a 113°C).
58 P. J. FELLOWS

3. Condições durante o processamento tér- microrganismos e estão discutidos em detalhe


mico. As condições importantes são: em Whitaker (1972).
a) o pH do alimento (bactérias pato- A resistência térmica de enzimas e/ou mi-
gênicas e deteriorantes são ter- crorganismos encontrados em um alimento es-
micamente mais resistentes per- pecífico é utilizada para calcular as condições de
to da neutralidade; mofos e le- aquecimento necessárias para sua destruição. Na
veduras têm maior capacidade prática, o microrganismo ou enzima mais resis-
de tolerar condições mais ácidas, tente ao tratamento térmico, possível de ocorrer
mas são menos resistentes do que em um determinado alimento, é utilizado como
esporos bacterianos ao calor); base para o cálculo das condições de processo.
b) a atividade de água do alimento Presume-se que outras espécies menos resisten-
(Seção 1.5) influencia a resistên- tes ao tratamento térmico também são destruídas.
cia térmica das células vegeta- Métodos para o cálculo do tempo de proces-
tivas; além disso, o calor úmido samento são discutidos no Capítulo 12.
é mais efetivo do que o ar seco
para a destruição de esporos;
c) a composição do alimento (pro- 1.4.6 Efeitos do calor nas características
teínas, gorduras e altas concen- nutricionais e sensoriais
trações de açúcar aumentam a
resistência térmica dos microrga- A destruição de muitas vitaminas, com-
nismos; a baixa concentração de postos aromáticos e pigmentos pela tempera-
cloreto de sódio utilizada na tura segue uma reação de primeira ordem, si-
maioria dos produtos alimentí- milar à destruição microbiana. Exemplos de
cios não possui um efeito signifi- valores de D e z de algumas vitaminas e pig-
cativo; o estado físico do alimen- mentos são mostrados na Tabela 1.11. Em
to, particularmente a presença de geral, ambos os valores são mais altos do que
colóides, afeta a resistência tér- aqueles para os microrganismos e enzimas.
mica das células vegetativas); e Como conseqüência, as propriedades senso-
d) as condições do meio de cresci- riais e nutricionais são melhor retidas pelo uso
mento e incubação utilizadas para de altas temperaturas e tempos mais curtos
avaliar a recuperação de micror- durante o processamento térmico. Por isso, é
ganismos em estudos de resistên- possível selecionar combinações específicas de
cia térmica afetam o número de tempo-temperatura a partir da curva de TDT
sobreviventes observado. (todas atingindo o mesmo nível de destrui-
ção enzimática ou microbiana) para otimizar
A maioria das enzimas possui valores de o processo em relação à retenção de nutrien-
D e z dentro de uma faixa similar à dos micror- tes ou preservação de qualidades sensoriais
ganismos, sendo inativadas durante o proces- desejadas. Esse conceito forma a base do bran-
samento térmico normal. No entanto, algumas queamento rápido individualizado (Capítulo
enzimas são muito resistentes ao calor. Isso é 10), da pasteurização HTST (high tempera-
importante sobretudo em alimentos ácidos, nos ture-short time – alta temperatura – curto tem-
quais elas podem não ter sido completamente po [Capítulo 11]), esterilização em tempera-
desnaturadas pelos tratamentos térmicos rela- turas ultra-altas (UHT) (Capítulo 12) e
tivamente curtos em temperaturas mais baixas extrusão HTST (Capítulo 14). A perda de nu-
necessários para a destruição microbiana. Os trientes e alterações na qualidade sensorial
fatores que influenciam a resistência térmica durante o processamento são discutidas nos
de enzimas são similares aos descritos para os Capítulos 10 a 18.
TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 59

1.5 ATIVIDADE DE ÁGUA quando expressar um resultado. A base úmida


é a utilizada neste texto, a menos que tenha
A deterioração de alimentos por micror- alguma observação em contrário.
ganismos pode acontecer rapidamente, ao pas- Apenas o conhecimento do teor de umida-
so que as reações enzimáticas e químicas ocor- de não é suficiente para predizer a estabilidade
rem de modo mais lento durante a armazena- de um alimento. Alguns alimentos são instáveis
gem. Em ambos os casos, o teor de água é um com um baixo teor de umidade (p. ex., o óleo de
fator muito importante no controle da taxa de amendoim deteriora-se caso a umidade exceda
deterioração. O teor de umidade dos alimentos a 0,6%), enquanto outros alimentos são estáveis
pode ser expresso em base úmida: com teores de umidade relativamente altos (p.
massa de água
ex., amido de batata a 20% de umidade) (van
m= x 100 1.28 den Berg, 1986). A disponibilidade da água para
massa de amostra
a atividade microbiológica, enzimática ou quí-
mica é que determina a vida de prateleira de um
massa de água alimento, e isso é medido pela atividade de água
m= x 100 1.29
massa de amostra + sólidos (aa) do alimento, também conhecida como pres-
são de vapor relativa (PVR).
Ou em uma base seca Exemplos de operações unitárias que re-
duzem a disponibilidade de água em alimen-
massa de água tos incluem aqueles que removem fisicamente
m= x 100 1.30 a água (desidratação [Capítulo 15], evapora-
massa de sólidos
ção [Capítulo 13] e liofilização ou concentra-
ção por congelamento [Capítulo 22]) e aque-
(Lewis, 1990). les que imobilizam a água no alimento (p. ex.,
A base seca é mais utilizada para os cál- pelo uso de umectantes em alimentos de umi-
culos de processamento, enquanto a base úmi- dade intermediária e pela formação de cristais
da é freqüentemente relacionada em tabelas de gelo no congelamento [Capítulo 21]). Exem-
de composição de alimentos. No entanto, é im- plos de teor de umidade e aa de alimentos são
portante observar qual o sistema utilizado mostrados na Tabela 1.12, e o efeito da aa re-

TABELA 1.12 Teor de umidade e atividade de água de alimentos


Alimento Teor de umidade (%) Atividade de água Grau de proteção necessário

Gelo (0°C) 100 1,00a


Carne fresca 70 0,985
Pão 40 0,96 Embalagem para prevenir perda de umidade
Gelo (-10°C) 100 0,91a
Geléia 35 0,86
Gelo (-20°C) 100 0,82a

Farinha de trigo 14,5 0,72


Gelo (-50°C) 100 0,62a Proteção mínima ou nenhuma embalagem
necessária
Passas 27 0,60
Massas 10 0,45

Cacau 0,40
Doces fervidos 3,0 0,30
Biscoitos 5,0 0,20 Embalagem para prevenir absorção de
Leite desidratado 3,5 0,11 umidade
Chips de batata 1,5 0,08
a
Pressão de vapor do gelo dividida pela pressão de vapor d’água.
Adaptada de Troller e Christian (1978), van den Berg (1986) e Brenndorfer et al. (1995).
60 P. J. FELLOWS

TABELA 1.13 Importância da atividade de água nos alimentos

aa Fenômeno Exemplo

1,00 Alimentos frescos altamente perecíveis


0,95 Inibição de Pseudomonas, Bacillus, Clostridium Alimentos com 40% de sacarose ou 7% de sal, salsichas
perfringens e outras leveduras cozidas, pão
0,90 Limite inferior para o crescimento microbiano Alimentos com 55% de sacarose, 12% de sal, presunto
(geral), inibição de Salmonella, Vibrio curado, queijos levemente maturados.
parahaemolyticus, Clostridium botulinum, Alimentos com umidade intermediária (aa = 0,90 – 0,55)
Lacotobacillus e algumas leveduras e fungos
0,85 Inibição de muitas leveduras Alimentos com 65% de sacarose, 15% de sal, salame,
queijo maturado, margarina
0,80 Limite inferior para a maioria das atividades Farinha, arroz (15 a 17% de água), bolo de frutas, leite
enzimáticas e crescimento da maioria dos condensado, xaropes de frutas, glacê
fungos; inibição de Straphlococcus aureus
0,75 Limite inferior para bactérias halofílicas Marzipã (15 a 17% de água), doces de frutas
0,70 Limite inferior para o crescimento da maioria
dos fungos xerofílicos
0,65 Velocidade máxima para a reação de Maillard Flocos de aveia (10% de água), caramelo, melados, nozes
0,60 Limite inferior para o crescimento de leveduras Frutas desidratadas (15 a 20 % de água), balas de cara-
e fungos osmofílicos ou xerofílicos melo (8% de água), mel
0,55 O ácido desoxirribonucléico torna-se desordenado
(limite inferior para continuação da vida)
0,50 Alimentos desidratados (aa = 0 a 0,55), temperos, massas
0,40 Velocidade mínima de oxidação Ovo integral em pó (5% de água)
0,30 Cream crackers, farinha de pão (3 a 5% de água)
0,25 Resistência máxima ao calor de esporos
bacterianos
0,20 Leite integral em pó (2 a 3% de água), vegetais desidrata-
dos (5% de água), sucrilhos (5% de água)

duzida na estabilidade está mostrado na Tabe- o teor de umidade por meio de diversas equa-
la 1.13. ções, incluindo a seguinte:
A água exerce uma pressão de vapor nos
alimentos, a qual depende:
aa 1 C–1
= + aa 1.32
• da quantidade de água presente; M (1 – aa) M1 C M1 C
• da temperatura; e
• da concentração dos solutos dissolvi-
dos (particularmente sais e açúcares) onde aa = atividade de água, M = umidade
na água. como percentual do peso seco, M1 = umidade
(base seca) de uma camada monomolecular e
A atividade de água é definida como “a C = constante. Um cálculo de exemplo é des-
razão da pressão de vapor da água no alimen- crito por Karel (1975).
to e a pressão de vapor saturada da água na Uma proporção do total de água está for-
mesma temperatura” (Equação 1.31): temente ligada a pontos específicos (p. ex., gru-
pos hidroxila de polissacarídeos, grupos
P carbonila e amino de proteínas e pontes de hi-
aa = 1.31
P0 drogênio). Quando todos os pontos estão (es-
tatisticamente) ocupados por água absorvida,
onde P (Pa) = pressão de vapor do alimento, o teor de umidade é chamado de valor de
P0 = (Pa) = pressão de vapor da água pura na monocamada de BET (Brunauer-Emmett-Teller)
mesma temperatura. A aa está relacionada com (Fennema, 1996). Exemplos típicos incluem
TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 61

gelatina (11%), amido (11%), lactose amorfa das condições do ar (temperatura e umidade).
(6%) e leite integral seco em secador de spray Sob uma temperatura constante, o teor de umi-
(3%). O valor de monocamada de BET repre- dade do alimento altera-se até entrar em equilí-
senta o teor de umidade no qual o alimento brio com o vapor d’água no ar circundante. O
está em seu estado mais estável. Em teores de alimento, então, não ganha nem perde peso na
umidade abaixo desse nível, existe uma maior armazenagem nessas condições. Isso é chamado
taxa de oxidação de gorduras e, em teores mais de teor de umidade de equilíbrio do alimento, e a
altos, ocorre o escurecimento por Maillard e umidade relativa da atmosfera de armazenagem
atividades enzimáticas e microbiológicas são é conhecida como umidade relativa de equilíbrio.
estimuladas (Figura 1.15). Quando diferentes valores de umidade relativa
O movimento do vapor d’água de um ali- são plotados em relação ao teor de umidade de
mento para o ambiente depende tanto do ali- equilíbrio, obtém-se uma curva chamada isoterma
mento (teor de umidade e composição) como de sorção de água (Figura 1.16).

1,0
Oxidação

0,5

0
1,0
Escurecimento
Taxa relativa de deterioração (máx = 1,0)

0,5

0
1,0
Atividade
enzimática
0,5

0
1,0
Crescimento de mofos

0,5

0
1,0
Crescimento
bacteriano
Produção de
0,5 toxinas

0
0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Atividade de água

FIGURA 1.15 Efeito da atividade de água nas alterações microbianas, enzimáticas e químicas nos
alimentos. (Baseada em Karel, 1975.)
62 P. J. FELLOWS

Desorção C
25

Teor de umidade (%)


20

15

10 Adsorção

0
20 40 60 80 100
Umidade relativa (%)

FIGURA 1.16 Isotermas de sorção de água.

Cada alimento possui um conjunto parti- reira à umidade necessárias para os materiais
cular de isotermas de sorção sob diferentes tem- de embalagem (Capítulo 24).
peraturas. A forma precisa dessas isotermas é A taxa de mudança da a a em uma
resultado de diferenças na estrutura física, com- isoterma de sorção difere dependendo de a
posição química e quantidade de água ligada umidade ser removida do alimento (desorção)
no alimento, apesar disso todas elas possuem ou adicionada ao alimento seco (absorção) (Fi-
uma forma característica, similar à mostrada gura 1.16). Isso é denominado loop de histerese.
na Figura 1.16. A primeira parte da curva, até A diferença é grande em alguns alimentos (p.
o ponto A, representa a água da monocamada, ex., arroz) e é importante, por exemplo, na de-
que é muito estável, não-congelável e não-re- terminação da proteção necessária contra o
movível por secagem. A segunda, a parte rela- ganho de umidade.
tivamente reta da curva (AB), representa a água
adsorvida nas múltiplas camadas dentro do
alimento e soluções de componentes solúveis. 1.5.1 Efeitos da aa nos alimentos
A terceira porção (acima do ponto B) é água
“livre” condensada dentro da estrutura capilar Os efeitos da aa em reações microbiológicas
ou nas células do alimento. Ela está mecanica- e em algumas biológicas são mostrados na Figu-
mente presa dentro do alimento e é mantida ra 1.15 e na Tabela 1.13. Quase toda atividade
apenas por forças fracas, sendo facilmente con- microbiana é inibida abaixo da aa = 0,6, e a maio-
gelada ou removida pela secagem, como indi- ria dos fungos, das leveduras e das bactérias é
cado pela inclinação acentuada da curva. A inibida, respectivamente, abaixo de aa = 0,7, aa
água livre está disponível para o crescimento = 0,8 e aa = 0,9. A interação da aa com tempera-
microbiano e atividade enzimática, e o alimento tura, pH, oxigênio e dióxido de carbono ou
que possui um teor de umidade acima do pon- conservantes químicos tem um efeito importan-
to B na curva está propenso a deterioração. te na inibição do crescimento microbiano. Quan-
A isoterma de sorção indica a aa na qual do qualquer uma das outras condições ambientais
o alimento é estável e permite previsões do é subótima para um determinado microrganis-
efeito de alterações do teor de umidade na aa mo, o efeito da aa reduzida aumenta. Isso permi-
e, como conseqüência, na estabilidade da ar- te a combinação de vários mecanismos de con-
mazenagem. Ela é utilizada para determinar a trole mais suaves, que resultam na preservação
taxa e a capacidade de secagem (Capítulo 15), do alimento sem perdas substanciais do valor
as temperaturas ideais de armazenagem con- nutricional ou características sensoriais (Tabela
gelada (Capítulo 21) e as propriedades de bar- 1.14) (veja Seção 1.8.2).
TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 63

TABELA 1.14 Interação da aa, do pH e da temperatura em alguns alimentos

Alimento pH aa Vida de prateleira Observações

Carne fresca > 4,5 > 0,95 Dias Conservada por refrigeração
Carne cozida > 4,5 0,95 Semanas Armazenagem ambiente quando embalada
Salsichas secas > 4,5 < 0,90 Meses Conservada por sal e aa baixa
Hortaliças frescas > 4,5 > 0,95 Semanas “Estável” enquanto respirar
Picles < 4,5 > 0,90 Meses Baixo pH mantido por embalagem
Pão > 4,5 > 0,95 Dias
Bolo de frutas > 4,5 < 0,90 Semanas Conservado por calor e baixa aa
Leite > 4,5 > 0,95 Dias Conservado por refrigeração
Iogurte < 4,5 < 0,95 Semanas Conservado por baixo pH e refrigeração
Leite em pó > 4,5 < 0,90 Meses Conservado por baixa aa

A atividade enzimática praticamente ces- 1.6 EFEITOS DO PROCESSAMENTO NAS


sa em valores de a a abaixo do valor de CARACTERÍSTICAS SENSORIAIS DOS
monocamada de BET. Isso se deve à baixa mo- ALIMENTOS
bilidade do substrato e sua inabilidade para
difundir-se até o ponto reativo da enzima. Mu- Existe uma variedade de definições sobre
danças químicas são mais complexas. As duas “qualidade” de alimentos, as quais são discuti-
reações mais importantes que ocorrem em ali- das por Cardello (1998). Para o consumidor,
mentos com baixa aa são o escurecimento por os atributos de qualidade mais importantes são
Maillard e oxidação dos lipídeos. A aa que cau- suas características sensoriais (textura, sabor,
sa a maior taxa de escurecimento varia para aroma, forma e cor). Elas determinam a prefe-
diferentes alimentos. No entanto, em geral, rência individual por produtos específicos, e
uma a a baixa restringe a mobilidade dos pequenas diferenças entre marcas de produtos
reagentes e o escurecimento é reduzido. Já em similares podem ter uma influência substanci-
aa mais altas, ele atinge seu máximo. A água é al na aceitação. Um objetivo contínuo dos fa-
um produto da reação de condensação no bricantes de alimentos é buscar melhorias no
escurecimento e, em níveis de umidade mais processamento que retenham ou criem quali-
altos, este é diminuído por “inibição por pro- dades sensoriais desejáveis ou reduzam os da-
dutos finais”. Em teores de umidade mais al- nos causado pelo processamento. Exemplos
tos, a água dilui os reagentes, e a taxa de desses melhoramentos são descritos nos capí-
escurecimento cai. tulos subseqüentes.
A oxidação de lipídeos ocorre em aa bai-
xa devido à ação dos radicais livres. Acima do
valor de monocamada de BET, antioxidantes e 1.6.1 Textura
agentes quelantes (que seqüestram catalisa-
dores de metal residual) tornam-se solúveis e A textura de um alimento é determinada
reduzem a taxa de oxidação. Em valores de aa principalmente pelos teores de umidade e gor-
mais altos, a atividade catalítica dos metais é dura, pelos tipos e quantidades de carboidratos
reduzida por hidratação e formação de estruturais (celulose, amidos, materiais
hidróxidos, porém, em valores altos, catalisa- pécticos) e pelas proteínas presentes. Altera-
dores de metal tornam-se solúveis, e a estrutu- ções na textura são causadas pela perda de
ra do alimento incha-se para expor pontos mais umidade ou gordura, formação ou quebra de
reativos (Figura 1.15). emulsões e géis, hidrólise de carboidratos
64 P. J. FELLOWS

poliméricos e coagulação ou hidrólise de proteí- tremamente baixas (Tabela 1.15). Esses com-
nas. Informações detalhadas sobre as caracterís- postos podem ser perdidos durante o proces-
ticas texturais dos alimentos são fornecidas por samento, o que reduz a intensidade dos aro-
Mohsenin (1980), Lewis (1990) e Szczesniak mas ou revela outros compostos de aroma/sa-
(1983). O efeito da composição dos alimentos e bor. Compostos aromáticos voláteis também
da estrutura na textura está descrito por Stanley são produzidos pela ação do calor, da radiação
e Tung (1976) e Sherman (1976). ionisante, da oxidação ou da atividade
enzimática em proteínas, gorduras e carboidra-
tos. Exemplos incluem a reação de Maillard
1.6.2 Gosto, sabor e aroma entre aminoácidos e açúcares redutores, ou
grupos carbonila e produtos da degradação de
Atributos de gosto consistem de salgado, lipídeos (Capítulo 16), ou hidrólise de lipídeos
doce, amargo e ácido, e alguns desses atribu- em ácidos graxos e subseqüente conversão em
tos podem ser detectados em limites muito aldeídos, ésteres e álcoois. Os aromas percebi-
baixos nos alimentos (Tabela 1.15). O sabor é dos nos alimentos resultam de combinações
amplamente determinado pela formulação uti- complexas de muitas centenas de compostos,
lizada para um alimento em particular e não algumas das quais atuam sinergeticamente
é, na maioria dos casos, afetado pelo proces- (Maruniak e MacKay-Sim, 1984). Além disso,
samento. Exceções a isso incluem aumento da o sabor percebido nos alimentos é influencia-
doçura devido a mudanças respiratórias em do pela taxa em que os compostos aromáticos
alimentos frescos (Capítulo 19) e alterações na são liberados durante a mastigação e, portan-
acidez ou na doçura durante a fermentação de to, é muito associado com a textura dos ali-
alimentos (Capítulo 7). Alimentos frescos con- mentos e com a taxa de quebra da estrutura
têm misturas complexas de composto voláteis, do alimento durante a mastigação (Clark,
que dão aromas e sabores característicos, al- 1990). Pesquisas sobre a liberação de aromas
guns detectáveis mesmo em concentrações ex- são descritas por Wyeth e Kilcast (1991) e

TABELA 1.15 Limites de detecção para componentes básicos em alimentos


Composto Sabor ou aroma Limite de detecção

Compostos de sabor
Ácido hidroclorídrico Azedo 0,0009 N
Ácido cítrico Azedo 0,0016 N
Ácido láctico Azedo 0,0023 N
Cloreto de sódio Salgado 0,01 M
Cloreto de potássio Amargo/salgado 0,017 M
Sacarose Doce 0,01 M
Glicose Doce 0,08 M
Sacarina sódica Doce 0,000023 M
Sulfato de quinino Amargo 0,000008 M
Cafeína Amargo 0,0007 M

Compostos de aroma
Citral Limão 0,000003 mg/L
Limoneno Limão 0,1 mg/L
Ácido butírico Manteiga rançosa 0,009 mg/L
Benzaldeído Amêndoas amargas 0,003 mg/L
Etil acetato Frutal 0,0036 mg/L
Salicilato de metila Ciprestes 0,1 mg/L
Sulfeto de hidrogênio Ovo podre 0,00018 mg/L
Acetato de amila Óleo de banana 0,039 mg/L
Safrol Açafrão 0,005 mg/L
Etil mercaptano Repolho podre 0,00000066 mg/L

De Cardello (1998).
TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 65

Plattig (1984), e descrições mais detalhadas senvolvimento de cores indesejáveis (p. ex., du-
da produção de compostos aromáticos ou per- rante o processamento térmico e a secagem
da de compostos naturalmente presentes nos [Capítulos 12 e 15]).
alimentos são dadas por Lindsay (1996) e nos
capítulos subseqüentes.
1.7 EFEITOS DO PROCESSAMENTO
NAS PROPRIEDADES NUTRICIONAIS
1.6.3 Cor
Muitas operações unitárias, especialmen-
Métodos para avaliar a cor e a aparência te aquelas que não envolvem calor, possuem
dos alimentos são descritos por MacDougall pouco ou nenhum efeito na qualidade nutri-
(1984). Muitos pigmentos naturais são destruí- cional dos alimentos. Exemplos incluem mistu-
dos pelo processamento térmico e alterados ra, limpeza, seleção, liofilização e pasteuriza-
quimicamente por mudanças no pH ou por ção. Operações unitárias que intencionalmente
oxidação durante a armazenagem (Tabela separam componentes dos alimentos (Capítu-
1.16). Como conseqüência, os alimento pro- los 3, 4 e 6) alteram a qualidade nutricional de
cessados podem perder sua coloração caracte- cada fração comparada com a matéria-prima. A
rística e, assim, seu valor. Pigmentos sintéticos separação não-intencional de nutrientes solú-
(Apêndice C) são mais estáveis ao calor, à luz veis em água (minerais, vitaminas solúveis em
e a mudanças no pH e são, por isso, adiciona- água e açúcares) também ocorre em algumas
dos para manter a cor de alguns alimentos pro- operações unitárias (p. ex., branqueamento [Ca-
cessados. Detalhes de alterações em pigmen- pítulo 10], e em perdas por gotejamento de as-
tos naturais estão descritos nos Capítulos 10 a sados ou alimentos congelados [Capítulos 16 e
17. O escurecimento por Maillard é uma causa 21]).
importante tanto de alterações desejáveis na O processamento térmico é a maior causa
coloração dos alimentos (p. ex., em assados de alterações nas propriedades nutricionais de
ou frituras [Capítulos 16 e 17]) quanto do de- alimentos. Por exemplo, a gelatinização de ami-

TABELA 1.16 Pigmentos naturais em alimentos

Solúvel em Estabilidade
água ou
Pigmento Fonte típica óleo Ao calor À luz Ao oxigênio A alterações de pH

Antocianinas Frutas Água Alta Alta Alta Baixa


Betalaína Beterraba Água Moderada Alta Alta Alta
Bixina Casca da Óleo Moderada a Baixa Alta –
semente de baixa
Bixa orellana
Canxantina Óleo Moderada Moderada Moderada Moderada
Caramelo Açúcares Água Alta Alta Alta Alta
aquecidos
Carotenos Folhas Óleo Moderada a baixa Baixa Baixa Alta
Clorofila Folhas Água Alta Alta Alta Baixa
Cochonilhaa Inseto Água Alta Alta – Moderada a alta
(Dactylopius
coccus)
Cúrcuma Turmérico Água Baixa Baixa Baixa –
Norbixina Veja bixina Água Moderada a baixa Baixa Alta –
Oximioglobina Animais Água Baixa – Alta Baixa
Polifenóis Folhas de chá Água Alta Alta Alta Alta
Quinonas Raízes, cascas Água Alta Moderada – Moderada
de árvores
Xantofilas Frutas Água Moderada Alta Alta Baixa
a
Como laca de alumínio.
De Zapsalis (1985) e Coultate (1984).
66 P. J. FELLOWS

dos e a coagulação de proteínas melhoram sua Exemplos de perdas de vitaminas causadas por
digestibilidade, e compostos antinutricionais (p. operações unitárias são individualmente des-
ex., o inibidor de tripsina em leguminosas) são critos nos próximos capítulos.
destruídos. No entanto, o calor também destrói A importância da perda de nutrientes du-
alguns tipos de vitaminas termolábeis (Figura rante o processamento depende do valor
1.17), reduz o valor biológico de proteínas (de- nutricional de um alimento particular na die-
vido à destruição de aminoácidos ou a reações ta. Alguns alimentos (p. ex., pão, batatas e lei-
de escurecimento não-enzimático) e promove a te em países ocidentais e arroz e milho em paí-
oxidação de lipídeos. Os efeitos do calor em pro- ses orientais e em desenvolvimento) são fon-
teínas e lipídeos são descritos em detalhes por tes importantes de nutrientes para um grande
Mauron (1982), e Witting e Dimick (1982), res- número de pessoas. Perdas de vitaminas são,
pectivamente. portanto, mais significativas nesses alimentos
A oxidação é a segunda causa mais im- do que naqueles consumidos em pequenas
portante de mudanças nutricionais nos alimen- quantidades ou que possuem uma baixa con-
tos. Ela ocorre quando o alimento é exposto centração de nutrientes.
ao ar (p. ex., na redução de tamanho ou seca- Em países industrializados, a maioria da
gem por ar quente [Capítulos 4 e 15]) ou como população obtém um fornecimento adequado
resultado da ação do calor ou enzimas de nutrientes a partir da mistura de alimentos
oxidativas (p. ex., peroxidase ou lipoxigenase). que são consumidos. Perdas devidas ao
Os principais efeitos da oxidação são: processamento de um componente da dieta são,
portanto, insignificantes à saúde de um indiví-
• a degeneração de lipídeos em hidrope- duo a longo prazo. Em um exemplo descrito por
róxidos e subseqüentes reações para Bender (1987), refeições completas que inicial-
formar uma grande variedade do com- mente continham 16,5 mg de vitamina A perdi-
postos carbonílicos, compostos hidro- am 50% no enlatamento e 10% após armaze-
xílicos e ácidos graxos de cadeia curta nagem por 18 meses. Apesar de a perda pare-
e em óleos de fritura para compostos cer significativa, a refeição original continha
tóxicos (Capítulo 17); e apenas 2% da dose diária recomendável (DDR),
• a destruição de vitaminas sensíveis ao e a extensão da perda é, portanto, de mínima
oxigênio (Figura 1.17 e Apêndice A). importância. A mesma refeição continha 9 mg
de tiamina e perdia 75% após 18 meses de ar-
Alterações em lipídeos são discutidas por mazenagem. O teor de tiamina é 10 vezes o
Zapsalis e Beck (1985), e uma discussão das DDR, logo, quantidades adequadas ainda per-
propriedades de vitaminas e perdas durante o maneciam. Possíveis exceções são as necessida-
processamento é encontrada em Bender (1978), des dietéticas especiais de bebês, mulheres grá-
Harris e Karmas (1975) e De Ritter (1982). vidas e idosos. Nesses grupos, pode haver uma

A D E K C Complexo B
e ácido pantotênico
Destruída Aumentada Destruída por Muito estável Destruída por –
por luz na luz gordura ar, enzimas,
ultravioleta ultravioleta rançosa luz ultravioleta,
e ar ferro e cobre

Instável Mais estável


Estáveis ao calor, normalmente não são afetadas pelo processamento ao calor ao calor
térmico

Lixiviadas, destruídas por álcalis,


estáveis em ácido

FIGURA 1.17 Estabilidade de vitaminas nos alimentos


TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 67

necessidade especial de certos nutrientes ou uma As pressões para esse desenvolvimento


dieta mais restrita que a normal. Esses casos tiveram de duas influências: primeiro, comer-
especiais são discutidos detalhadamente por ciais, incluindo:
Watson (1986) e Francis (1986).
O tema sobre perdas reportadas de vita- • aumento na competição entre compa-
minas durante o processamento faz parte dos nhias;
capítulos seguintes para dar uma indicação de • necessidade de acesso a mercados ali-
quão severa é cada operação unitária. No en- mentícios nacionais e internacionais; e
tanto, esses dados devem ser tratados com cau- • sistemas de gerenciamento da quali-
tela. Variações em perdas de nutrientes entre dade exigidos pelas redes de comercia-
cultivares ou variedades podem exceder as di- lização.
ferenças causadas por métodos alternativos de
processamento. Condições de crescimento ou Todos esses aspectos exigiam um sistema
procedimentos de manipulação e preparação efetivo de monitoração e controle do alimento
antes do processamento também causam vari- para fiscalizar os recursos e garantir que ali-
ações substanciais na perda de nutrientes. Da- mentos seguros e de alta qualidade fossem fa-
dos de alterações nutricionais não podem ser bricados, e conduziram para o conceito de
aplicados diretamente a operações comerciais Gerenciamento de Qualidade Total (GQT). Em
devido a diferenças nos ingredientes, nas con- segundo lugar, novas legislações exigiam sis-
dições de processamento e nos equipamentos temas que poderiam tanto manter a qualidade
utilizados pelos diferentes produtores. e a sanidade como provar que a empresa as
mantém sob controle. A legislação inicial de
garantia da qualidade (padrões BS 5750/ BS
1.8 SEGURANÇA ALIMENTAR, BOAS EN ISO 9000) foi expandida para poder consi-
PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO E derar todos os tipos de negócios. O objetivo do
GARANTIA DA QUALIDADE GQT é fazer com que as companhias definam
e entendam todos os seus processos, para
Tradicionalmente, sistemas de controle da implementar controles, monitorar desempe-
qualidade eram baseados na inspeção de um nhos e medir melhorias. O padrão BS 7850
produto em vários pontos de uma linha de define o GQT como “uma filosofia de gerencia-
processamento, com a rejeição de qualquer pro- mento e práticas empresariais que objetivam
duto que não atendesse aos padrões estabele- empregar os recursos humanos e materiais de
cidos. Essa abordagem reativa em qualidade uma organização da maneira mais objetiva
dos alimentos focalizava principalmente a possível para atingir os seus objetivos”. Esse
testagem do produto final, o que é atualmente conceito leva em consideração padrões dife-
reconhecido como um desperdício de recursos rentes para as operações de produção e de de-
(recursos já gastos na produção do alimento senvolvimento de novos produtos (BS EN ISO
no momento que ele é testado e rejeitado, o 9001), instalações de produção (BS EN ISO
que significa uma perda financeira). Uma abor- 9002), gerenciamento ambiental e de resídu-
dagem mais proativa e preventiva em seguran- os (ISO 14001, também Capítulo 26), direitos,
ça alimentar e gerenciamento da qualidade, saúde e segurança do trabalhador (BS 8800),
denominada “Garantia da Qualidade”, foi de- gerenciamento de laboratórios (EN 45000),
senvolvida durante a década de 1980, basea- bem como qualidade e segurança alimentar.
da nos princípios de Boas Práticas de Fabrica- Como parte do programa de GQT, os fa-
ção (BPF) (Anon., 1998). Seu objetivo é ga- bricantes de alimentos também devem consi-
rantir que a qualidade e a sanidade sejam derar as necessidades de um outro sistema de
mantidas ao longo do processo e, assim, evitar gerenciamento da segurança alimentar deno-
a rejeição do produto e a perda financeira. minado APPCC (Análise de Perigos e Pontos
68 P. J. FELLOWS

Críticos de Controle), que foi desenvolvido pelo produtos de pescado). No entanto, qualquer
Codex Alimentarius. Ele fornece as medidas de padrão de referência é somente uma base so-
controle básico necessárias para compreender bre a qual a companhia constrói seus próprios
os mecanismos de produção de um alimento padrões de desempenho para atender aos re-
seguro e a base para a criação de sistemas de quisitos da lei e dos consumidores e as suas pró-
controle de produção para a garantia da quali- prias necessidades.
dade. Uma grande mudança na direção de uma Em linhas gerais, um sistema de GQT co-
maior ênfase nas legislações internacional, em bre as seguintes áreas:
detrimento das nacionais, aconteceu em 1994,
quando um acordo do GATT2 recomendou a • Compra e controle de matérias-primas
aceitação da APPCC como um padrão necessá- (incluindo especificações predefinidas,
rio para a livre movimentação internacional de auditoria dos fornecedores, armazena-
alimentos. A OMC agora avalia tanto as bar- gem das matérias-primas, controle de
reiras técnicas quanto os controles comerciais estoque, rastreabilidade, inspeção, in-
e sanitários, com referência aos padrões de vestigação de não-conformidade às
APPCC do Codex (Mitchell, 1996). especificações).
Mais recentemente, no Reino Unido, o • Controle do processo (incluindo iden-
Consórcio Britânico de Varejo (British Retail tificação, verificação e monitoração de
Consortium) emitiu o “Padrão Técnico para pontos críticos de controle em um es-
Companhias Fornecedoras de Alimentos com quema de APPCC, projeto higiênico da
Marca de Varejo”, que está sendo utilizado planta e de leiaute para minimizar
como um padrão definitivo para fornecedores contaminação cruzada, planilhas de
e forma a base de seus contratos de negócios limpeza, registro de dados críticos de
(Rose, 2000). Ele cobre seis áreas básicas: sis- produção, procedimentos de amostra-
temas de APPCC, sistemas de gerenciamento gem e planos de contingência para
de qualidade, padrões ambientais industriais, cobrir assuntos de segurança).
controle do produto, controle do processo e • Instalações (incluindo métodos de
controle de pessoal. Ele é implementado por construção para minimizar contami-
meio de grupos de inspeção terceirizados (p. nação, manutenção e descarte de re-
ex., o Serviço de Inspeção Europeu de Segu- síduos).
rança Alimentar – European Food Safety • Controle da qualidade (incluindo
Inspection Service [EFSIS]). especificações do produto e padrões
O GQT é, portanto, algo mais amplo do de qualidade para aspectos não-rela-
que apenas controle da qualidade, é uma filo- cionados à segurança, monitoração e
sofia de gerenciamento que busca melhorar con- verificação da qualidade antes da dis-
tinuamente a efetividade e a competitividade tribuição).
da empresa como um todo. Ele é um sistema • Pessoal (incluindo treinamento, higie-
integrado, que garante que todas as áreas do ne pessoal, uniformes e seleção médi-
negócio sejam controladas, para permitir aos ca).
consumidores receber consistentemente produ- • Produto final (incluindo tipos e níveis
tos de qualidade que vão ao encontro de suas de inspeção para determinar confor-
necessidades e expectativas. A abordagem re- midade com as especificações de qua-
quer responsabilidade coletiva e comprometi- lidade, isolamento de produtos fora
mento em todos os níveis do negócio, o que só das normas, inspeção de empacota-
pode ser atingido por meio de relações de con- mento, registros de inspeção, sistemas
fiança no trabalho e boa comunicação. Siste- de monitoração de reclamações).
mas de gerenciamento da qualidade são nor- • Distribuição (para manter a integrida-
malmente desenvolvidos com referência a pa- de do produto ao longo da cadeia, a
drões internacionais ou padrões legislativos es- rastreabilidade do lote e os sistemas
pecíficos (p. ex., o Padrão Europeu 91/493 para de recolhimento de produto).
TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 69

Mann e Adebanjo (1997) e Rose (2000) não-conformidade com as especificações, pa-


produziram revisões sobre GQT, e Dillon (1999) drões de desempenho, necessidades do consu-
descreveu uma abordagem prática para iniciar midor ou legislação para uma operação em um
projetos de GQT em pequenas empresas. departamento da fábrica precisam estar clara-
Um sistema de GQT exige que a compa- mente definidos, e as ações apropriadas devem
nhia tenha um nível de organização de ser explicitadas para o caso da ocorrência de
gerenciamento que a permita atingir os objeti- alguma falha. Por exemplo, se o desvio é em
vos de GQT. A companhia deve: relação a um aspecto legal, a ação apropriada é
colocar o produto em quarentena, mas se é em
• ter uma estrutura organizacional de- relação a uma necessidade do consumidor, a
finida; ação pode envolver a informação ao consumi-
• definir claramente autoridade e divi- dor e venda a um preço reduzido.
são de responsabilidades; A revisão gerencial é um componente es-
• definir procedimentos; sencial de qualquer sistema, e a gerência deve
• interligar os componentes do sistema; considerar a realimentação do sistema e decidir
• preparar a documentação básica; e sobre as ações apropriadas, utilizando encon-
• alocar recursos suficientes para imple- tros formais com agendas, ações e responsabili-
mentar o sistema (Dillon e Griffith, dades padrão. A necessidade de gerenciar in-
1996). formações pelo controle de documentos assegu-
ra que os documentos sejam aprovados, emiti-
Rose (2000) enfatizou a necessidade de dos e armazenados em locais definidos em fi-
comprometimento da gerência sênior à imple- chários, disquetes ou winchester de computador
mentação de um sistema de GQT e a necessi- ou CD. Códigos definidos de referência, estru-
dade de gerentes seniores revisarem e atuali- turas de diretórios, procedimentos de armaze-
zarem a efetividade dos sistemas em uso. Os nagem, instruções de arquivamento e mecanis-
procedimentos para introduzir um sistema de mos de backup são essenciais. Existe uma hie-
gerenciamento da qualidade incluem: rarquia de documentações, desde manuais de
delineamento de políticas, procedimentos que
• desenvolvimento de métodos de au- interligam atividades-chave, instruções de tra-
ditoria; balho detalhadas e registros de produção que
• procedimentos de ação corretiva; requerem uma organização para provar que o
• procedimentos para revisão gerencial; e sistema fornece o controle necessário. Regras
• documentação do sistema. para o controle de documentos devem, portan-
to, ser estabelecidas e colocadas em prática logo
A implementação efetiva demanda o uso no início do desenvolvimento do sistema de con-
combinado de todos os recursos, incluindo as trole. Procedimentos para ações corretivas são
pessoas. Dillon (1996) enfatizou que muitos sis- necessários para prevenir a recorrência de quais-
temas falharam porque pouca atenção foi dada quer deficiências dentro do sistema.
aos profissionais que iriam implementar o siste- Os benefícios de um sistema de GQT ade-
ma. As auditorias são a coleta e realimentação quadamente implantado são colocados por
sistemática e regular de informações objetivas Rose (2000) como:
por pessoas independentes e competentes. Elas
são utilizadas, por exemplo, para monitorar a • Econômicos (maior custo-benefício da
capacidade de um fornecedor de produzir, de “obtenção correta na primeira vez”, re-
acordo com os padrões determinados, ou as ro- dução de material descartado, menos
tinas de produção. Enfim, as auditorias são uma reclamações do consumidor, melhoria
ferramenta efetiva para monitorar o sucesso de da eficiência de equipamentos e au-
um sistema de qualidade e são descritas em de- mento da capacidade de manufatura).
talhes por Sayle (1998), Mortimer e Wallace • De marketing (atendimento consisten-
(1998) e Dillon e Griffith (1997). Os tipos de te das necessidades do consumidor, au-
70 P. J. FELLOWS

mento da confiança do consumidor e 2. Identificação das características es-


das vendas). senciais do produto e seu uso e defi-
• Internos (melhoria da moral dos funcio- nição dos perigos reais ou potenciais
nários, aumento dos níveis de comuni- que poderiam ameaçar o consumi-
cação, funcionários mais bem-treinados dor ou o produto. A formulação do
e percepção/comprometimento em re- produto, os procedimentos de ma-
lação a qualidade, melhoria do contro- nuseio e as condições de armazena-
le gerencial e confiança nas operações). gem, a embalagem, a expectativa de
• legais (demonstração de diligência, manuseio pelo consumidor e o pú-
provimento de evidências de compro- blico-alvo devem ser incluídos.
metimento com a qualidade e capaci- 3. Consideração de todas as etapas do
dade para melhorar). processo, incluindo desvios realistas
do processo, e identificação das eta-
pas críticas (PCCs) que devem ser con-
1.8.1 APPCC troladas para garantir a segurança. O
julgamento do risco é realizado por
A análise de perigos é a “identificação de três métodos: probabilístico, compa-
ingredientes, condições de armazenagem, em- rativo ou pragmático, e deve ser feito
balagem, pontos críticos do processo e fatores por pessoas que tenham um alto grau
humanos relevantes que possam ser potencial- de conhecimento e experiência.
mente perigosos e afetar a segurança ou a qua- 4. Visualização dos níveis a serem atin-
lidade do produto”. O sistema de APPCC per- gidos e limites críticos para cada PCC
mite a identificação, a avaliação e o controle e elaboração de procedimentos efe-
ou a eliminação de perigos potenciais em um tivos para monitorá-los e verificá-los
processo. Ele estabelece tolerâncias para os pe- e para a implementação de ações
rigos e define medidas de controle apropria- corretivas. A monitoração pode ser
das, a freqüência de suas aplicações, procedi- realizada por testes físicos, microbio-
mentos de amostragem, testes específicos a lógicos ou químicos ou por observa-
serem utilizados e os critérios para aceitação ções visuais ou sensoriais. Todos os
do produto. O sistema é baseado na monito- procedimentos de monitoração de-
ração de pontos críticos de controle3 e na ação vem ser registrados e também deve-
a ser tomada quando os resultados da monito- se incluir a localização do PCC, a fre-
ração estão fora dos limites preestabelecidos qüência de monitoração e os crité-
(Figura 1.18). O sistema APPCC é utilizado ao rios de aceitação satisfatória. Exem-
longo de cada etapa do processo e inclui maté- plos incluem procedimentos de lim-
rias-primas, processamento, armazenagem e peza (o que deve ser limpo, como e
distribuição. Ele pode ser utilizado para todos quando deve ser limpo, quem limpa
os perigos potenciais, incluindo qualidade ina- e com o quê), temperaturas dos ali-
dequada ou segurança, e pode identificar áre- mentos, condições de processo, re-
as de controle onde falhas ainda não ocorre- ceitas de formulação, práticas de
ram, tornando-o útil para novas operações. higiene, oportunidades para conta-
A implementação de um esquema de minação cruzada e doenças ou in-
APPCC envolve os seguintes passos: fecções dos trabalhadores.
5. Estabelecimento dos documentos para
1. Produção de um fluxograma deta- registrar o sistema de APPCC e os pro-
lhado, incluindo métodos de produ- cedimentos necessários para revisá-lo.
ção e planos, preparação e transpor-
te de matérias-primas, estocagem Exemplos de aplicações de APPCC são des-
durante o processo, etc., confirma- critos por Dillon e Griffith (1996), Mortimer e
do por uma visita ao local. Wallace (1998) e Fellows e colaboradores (1995).
TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 71

Responder a cada questão, em cada etapa,


para cada contaminante identificado

Q1 Você tem em
mãos os controles Modifique a etapa, o
para o contaminante? processo ou o produto

O controle neste ponto


Não é necessário para a Sim
segurança?
Sim

Não Não é um Pare1


PCC

Q2 Esta etapa do processo controla


o contaminante a um nível aceitável?

Sim
Não

Q3 O contaminante poderia ocorrer a um nível que


poderia causar danos ao consumidor ou reclamações?

Não Não é Pare1


Sim um PCC

Q4 Uma outra etapa do processo irá Ponto


controlar a contaminação a um nível Crítico de
aceitável? Controle
Não
Sim Não é Pare1
um PCC

1
Continue para a próxima etapa descrita no processo.

FIGURA 1.18 Árvore de tomada de decisões para pontos críticos de controle. (De Felows et al., 1995.)

1.8.2 Tecnologia de barreiras ser refrigerados ou mantidos em atmosfera


modificada para aumentar a vida de prateleira.
Em alimentos tradicionalmente conserva- Em geléias e outros doces de frutas, os fatores
dos, tais como peixe ou carne defumados, ge- combinados são calor, alto teor sólido (ativida-
léias e outros doces, existe uma combinação de de de água reduzida [Seção 1.5]) e alta acidez.
fatores para garantir a segurança microbiológica Esses fatores de conservação têm uma grande
e a estabilidade, permitindo, assim, sua conser- influência nas características sensoriais do pro-
vação. Em produtos defumados, por exemplo, duto e contribuem para diferenças importantes
essa combinação inclui calor, teor de umidade no sabor, na textura ou na cor entre diferentes
reduzido e compostos químicos antimicrobianos produtos. Na fermentação de vegetais (Capítu-
depositados pela fumaça na superfície do ali- lo 7), a qualidade desejada do produto e a esta-
mento. Alguns produtos defumados também po- bilidade microbiológica são atingidas por uma
dem ser mergulhados ou encharcados em sal- seqüência de fatores que surgem em diferentes
moura ou esfregados com sal antes da defu- etapas do processo de fermentação: a adição de
mação, para impregnar a carne com sal e, as- sais seleciona a população microbiana inicial,
sim, acrescentar mais um mecanismo de con- que utiliza todo o oxigênio na salmoura. Isso
servação. Produtos defumados também podem reduz o potencial redox e inibe o crescimento
72 P. J. FELLOWS

de microrganismos deteriorantes anaeróbios, fa- rém, devido à dificuldade de manter as tem-


vorecendo a seleção de bactérias lácticas. Estas, peraturas baixas ao longo de toda a cadeia de
então, acidificam o produto e estabilizam-no. produção, distribuição e estocagem, são ne-
Tratamentos posteriores podem incluir pasteu- cessários obstáculos (ou “barreiras”) para con-
rização (Capítulo 11) e embalagem (Capítulo trolar o crescimento de microrganismos
24) para aumentar a vida de prateleira e facili- deteriorantes ou patogênicos. O conceito de
tar a distribuição. combinar diversos fatores para conservar o
A demanda dos consumidores por ali- alimento foi desenvolvido por Leistner (1995)
mentos de alta qualidade com características e outros no efeito de barreiras (cada fator é
“frescas” ou “naturais”, que necessitam de uma uma barreira que o microrganismo deve ul-
preparação mínima, levou ao desenvolvimen- trapassar). Isso levou à aplicação da tecno-
to de alimentos de conveniência e prontos logia de barreiras,4 na qual o entendimento
para comer que são conservados por tecnolo- das interações complexas entre temperatura,
gias mais brandas. A principal técnica de con- atividade de água, pH, conservantes quími-
servação é a refrigeração (Capítulo 19), po- cos, etc. (Tabela 1.17) é utilizado para criar

TABELA 1.17 Exemplos de barreiras utilizadas para conservar alimentos


Tipo de barreira Exemplos Capítulo

Barreiras físicas Embalagem asséptica 12, 25


Energia eletromagnética (microondas, radiofreqüência, campos
magnéticos pulsantes, campos energéticos) 9, 18
Altas temperaturas (branqueamento, pasteurização, esterilização,
evaporação, extrusão, cozimento, fritura) 10 a 17
Radiação ionizante 8
Baixas temperaturas (resfriamento, congelamento) 19, 21
Atmosferas modificadas 20
Filmes de embalagem (incluindo embalagem ativa, filmes comestíveis) 24
Inativação fotodinâmica 9
Pressões ultra-altas 9
Ultra-som 9
Radiação ultravioleta 9

Barreiras físico-químicas Dióxido de carbono 20


Etanol 7
Ácido láctico 7
Lactoperoxidase 7
Baixo pH
Baixo potencial redox
Baixa atividade de água 15 e 16, 22
Produtos de reação de Maillard 1, 16
Ácidos orgânicos 7
Oxigênio
Ozônio
Fenóis
Fosfatos
Sal
Defumação
Nitrato/nitrito de sódio
Sulfito de sódio ou potássio
Temperos e ervas
Agentes surfactantes

Barreiras derivadas de Antibióticos 7


micróbios Bacteriocinas 7
Flora competitiva
Culturas protetoras

O número do Capítulo indica a fonte para informações mais detalhadas.


Adaptada de Leistner e Gorris (1995).
TECNOLOGIA DO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS 73

uma série de barreiras que garantam a segu- de microrganismos antes do congelamento ou


rança microbiológica do alimento processa- secagem. Se, na Figura 1.19, as mesmas bar-
do. As barreiras também são utilizadas para reiras forem utilizadas com um produto dife-
melhorar a qualidade do alimento e suas pro- rente, mais rico em nutrientes que possam pro-
priedades econômicas (p. ex., o peso de água mover o crescimento microbiano (Figura
que pode ser adicionado ao alimento, consi- 1.19c), elas podem ser inadequadas para
derando sua estabilidade microbiana), e para conservá-lo, e uma combinação diferente pode
serem bem-sucedidas, elas devem levar em ser necessária ou sua altura deve ser aumen-
consideração o número inicial e o tipo de mi- tada. Apesar de as barreiras na Figura 1.19
crorganismo mais provável de ser encontra- serem representadas como uma seqüência, na
do no alimento. As barreiras selecionadas de- prática os diferentes fatores podem operar
vem ser “altas o suficiente” para que o núme- simultânea, sinérgetica ou seqüencialmente.
ro previsto de microrganismos não possa A combinação de tecnologia de barreiras
ultrapassá-las. No entanto, as mesmas barrei- e APPCC no desenvolvimento de um processo
ras que conservam satisfatoriamente um ali- é descrita por Leistner (1994). Pela combina-
mento quando preparadas adequadamente ção de barreiras, a intensidade de técnicas de
(Figura 1.19a) podem ser superadas por uma conservação individuais pode ser mantida com-
maior população inicial de microrganismos parativamente baixa para minimizar perdas na
(Figura 1.19b), quando, por exemplo, as ma- qualidade do produto, enquanto, no geral,
térias-primas não são limpas adequadamente ocorre um grande impacto no controle do cres-
(Capítulo 3). Nesse exemplo, as principais cimento microbiano. Exemplos de novos pro-
barreiras são a baixa atividade de água e os cessos brandos que mantêm a qualidade do
conservantes químicos no produto, com tem- produto estão descritos no Capítulo 9 (proces-
peratura de estocagem, pH e potencial redox samento mínimo), no Capítulo 18 (aquecimen-
tendo um menor efeito. O branqueamento de to ôhmico) e nos Capítulos 19 e 20 (cozimento
verduras ou frutas (Capítulo 10) possui um sous vide e atmosferas modificadas).
efeito similar na redução do número inicial

(a)

t aa pH Eh pres.

(b)

t aa pH Eh pres.

(c)

N
V t aa pH Eh pres.

FIGURA 1.19 Exemplos de barreiras no processamento de alimentos (t = resfriamento, aa= baixa


atividade de água, pH = acidificação, Eh = baixo potencial redox, pres. = conservantes, V = vitaminas, N
= nutrientes). (Adaptada de Leistner e Gorris, 1995.)
74 P. J. FELLOWS

1.9 AGRADECIMENTOS BLANSHARD, J. M. V. (1995) The glass transition, its


nature and significance in food processing. In: S. T
Beckett (ed.) Physico-Chemical Aspects of Food
Agradecemos pelas informações forne- Processing. Blackie Academic and Professional,
cidas pelo Electricity Council, Londres SW1P London, pp. 17-48.
4RD, Reino Unido. BOARDMAN, J. (1986) Effecting efficient energy usage.
Food Process. May 29-31.
BOURNE, M.C. (1978) Texture profile analysis. Food
Technol. 7, 62.
1.10 NOTAS
BOURNE, M.C. (1982) Food Texture and Viscosity.
Academic Press, New York.
1. Apesar de esses dois termos serem utilizados BRENNAN, J.G. (1984) Texture perception and
indistintamente, “viscosidade” é empregado so- measurement. In: J.R. Piggott (ed.) Sensory Analysis
mente para fluidos newtonianos – veja adiante. of Foods. Elsevier Applied Science, London, pp. 59-
2. Acordo Geral sobre Tarifas e Trocas, mais tar- 92.
de substituído pela Organização Mundial do BRENNAN, J. G. BUITERS, J. R., COWELL, N.D. and
Comércio (OMC). LILLEY, A. E. V. (1990) Food Engineering Operations,
3. Fatores de processamento cuja perda de con- 3rd edn. Elsevier Applied Science, London.
trole resulta em um alimento com segurança BRENNDORFER, B., KENNEDY, L., OSWIN-BATEMAN.
C. O. and TRIM. D. S. (1985) Solar Dryers,
inaceitável ou risco da qualidade. Commonwealth Science Council, Commonwealth
4. Também conhecida como “processo combina- Secretariat, London SW1Y 5HX.
do”, “conservação combinada” ou “técnicas de CARDELLO, A.V. (1998) Perception of food quality. In:
combinação”. I.A. Taub and R.P. Singh (eds) Food Storage Stability.
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CLARK, R.C. (1990) Flavour and texture factors in
1.11 REFERÊNCIAS model gel systems. In: A. Turner (ed.) Food
Technology International Europe. Sterling Publica-
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ADAMS. H. W. and YAWGER, E.S. (1961) Enzyme
COULTATE, T. P. (1984) Food, the Chemistry of its
inactivation and colour of processed peas. Food
Components, Royal Society of Chemistry, London,
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