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2007
ADRIANE BRAMANTE DE CASTRO LADENTHIN
2007
Banca Examinadora
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AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, por me darem a oportunida de vir a este mundo, em
especial à minha mãe, que me mostrou o caminho do Direito Previdenciário.
RESUMO
ABSTRACT
It’s too recent the studies about employee of a pension social welfare instituition
law in Brazil. Herewith, became necessary a deep work in this subject to allow the
lawyers the possibility to find conceptions and studies that are absent in our work’s
law. This work went to history to tell about the social protection since it’s was born,
first like a care assistance on XV century until nowadays. It’s was possible check an
evolution on social protection field, that had the first reach with Bismarck, in 1883,
and, on that time just assure a little the workers. Slowly, this covering became deficient
in front of the necessity to protect who that are in case of needing. On XX century,
Beveridge create what nowadays is called Social Welfare Work, enlarging the protection
just not only with the benefit, but with the services. In other time, the work had an
evolution on old age, in Brazil and for the world, with the purpose of demonstrate
that how important is the old age protection , mainly because the world modification
on population number, where the old age has been subject of large contends, for that
social’s covering plans can be prepared to care all large number of old age people that
promises to exceed the infant mortality rate. In Brasil, there are three kinds of age
retirement , different about , if from the city, from the country or obliged to, and
about this last one it’s different from what the fundamental law of state establish.
Each one of these kinds has different way of be and are studies one by one. , Finishing,
it’s possible say that the age retirement is sofering modifications by the possibilities to
fix the age for retirement by the time of they pay the taxes. . Therefore, with the old
people age living more, mainly the women , it’s not possible allow that people get
retired five years before than men and that the age still be the same, face the longer
hope of live.
SUMÁRIO
RESUMO...................................................................................................................................................... V
ABSTRACT............................................................................................................................................. V I
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................... 1
PARTE I
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
PARTE II
CAPÍTULO III
PARTE III
CAPÍTULO V
CAPÍTULO VI
6.1 Da idade....................................................................................................................................... 8 1
6.2 Da carência.................................................................................................................................. 8 2
6.2.1 Os efeitos da Lei nº 10.666/03 na aposentadoria por idade....................................... 8 6
6.3 A qualidade de segurado........................................................................................................... 9 1
6.4 Os sujeitos da relação jurídica de proteção do benefício etário........................................... 9 6
6.5 Do objeto da relação jurídica de proteção................................................................................ 9 9
6.6 O nascimento do benefício etário urbano............................................................................... 1 0 1
6.7 Do desenvolvimento................................................................................................................... 1 0 2
6.8 Da extinção.................................................................................................................................. 1 0 3
6.9 Da rescisão do contrato de trabalho pela aposentação.......................................................... 1 0 4
6.10 Cálculo da aposentadoria por idade do trabalhador urbano................................................. 1 0 9
6.10.1 Da base de cálculo...........................................................................................................1 0 9
6.10.2 O fator previdenciário e a aposentadoria por idade...................................................1 1 2
6.10.3 Da alíquota.......................................................................................................................1 1 4
CAPÍTULO VII
7.1 Da idade.......................................................................................................................................1 1 6
7.2 Da qualidade de segurado do trabalhador rural.....................................................................1 2 1
7.3 Da carência..................................................................................................................................1 2 3
7.4 Os sujeitos da relação jurídica de proteção.............................................................................1 2 6
7.5 Do objeto da relação jurídica de proteção...............................................................................1 2 8
7.6 O nascimento do benefício etário rural...................................................................................1 2 9
7.7 Do desenvolvimento...................................................................................................................1 3 0
7.8 Da extinção..................................................................................................................................1 3 1
7.9 Da base de cálculo......................................................................................................................1 3 1
7.10 Da alíquota..................................................................................................................................1 3 3
CAPÍTULO VIII
8.1 Características........................................................................................................................... 1 3 4
8.2 A qualidade de segurado da aposentadoria por idade compulsória.................................... 1 3 6
8.3 Da carência..................................................................................................................................1 3 7
8.4 Os sujeitos da relação jurídica de proteção.............................................................................1 3 8
8.5 Do objeto da relação jurídica de proteção...............................................................................1 3 9
8.6 O nascimento do benefício etário compulsório.....................................................................1 4 0
8.7 Do desenvolvimento...................................................................................................................1 4 1
8.8 Da extinção..................................................................................................................................1 4 1
8.9 Do cálculo da aposentadoria por idade compulsória............................................................ 1 4 2
8.9.1 Da base de cálculo.......................................................................................................... 1 4 2
8.9.2 Da alíquota.......................................................................................................................1 4 3
CAPÍTULO IX
CONCLUSÕES........................................................................................................................................1 4 8
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................. 1 5 1
1
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por objetivo trazer as diferenças apontadas pela doutrina
pátria, que estabelece proteções distintas para cada sujeito de direito. Além disso, visa
demonstrar as diferenças da aposentadoria por idade nas suas três modalidades: urbana,
rural e compulsória.
Na segunda parte, é feita uma incursão pela velhice, mostrando seus aspectos
positivos e negativos. São apresentados dados sobre o envelhecimento populacional
2
mundial e a busca de um meio eficaz de proporcionar aos idosos uma cobertura social
que lhes garanta padrões mínimos de subsistência.
É certo que o risco social é o mesmo para as três modalidades, mas para cada
uma produz um efeito diferente. Esses efeitos serão abordados em estudo aprofundado
da dinâmica do benefício etário objeto deste trabalho.
Verificamos que muito se tem feito pelo idoso no Brasil, procurando resgatar
sua merecida dignidade. Atualmente, a legislação vem retirando-o da marginalidade e
da mendicância, proporcionando-lhe benefícios e serviços trazidos pela seguridade
social.
É este o norte a ser seguido por toda a sociedade: a busca incessante do bem-
estar social de todos os indivíduos, de forma universal, principalmente no que tange
aos idosos, que são a nossa herança cultural, profissional, e que, com sua experiência
e história, conseguem nos conduzir ao passado e mostrar o quanto já trabalharam
para que chegássemos aonde estamos hoje.
PARTE I
Capítulo I
Capítulo II
CAPÍTULO I
Getúlio Vargas
A busca pelo fim das aflições de alguns, aliada à generosidade de outros, fez
gerar um sentimento chamado caridade.
existência2. Não há como fixar uma data em que tenha se iniciado a ajuda caritativa ou
a assistência privada.
Coimbra também observa que o seguro social teve o seu início com a ajuda aos
indigentes, para retirá-los do estado de necessidade em que se encontravam:
A idéia de que a caridade é o sentimento que fez brotar o que chamamos hoje de
seguro social também se faz presente para Russomano, entendendo que as bases
previdenciárias nascem a partir da necessidade de compartilhar a contingência com a
proteção:
2 Para Manuel Alonso Olea, proteger apenas os riscos não se mostra suficiente. Entende que o termo ‘necessidade’ é mais
amplo e independente: “las necesidades pueden ser concebidas como reducidas a una sola, a saber: la deficiência aludida
de recursos. El riesgo se relega entonces a un segundo plano, favoreciendo así la tendência a igualar la protección ante la
necesidad, con independencia Del riesgo que en concreto sea sua causa” (Instituciones de Seguridad Social, p. 20).
3 Direito Previdenciário brasileiro, p. 18.
4 Curso de Previdência Social, p. 2.
6
sentido de cobrir seus membros na organização social de Roma como de ajudar, nos
casos de necessidades pessoais, os que se dedicavam ao mesmo ofício.
No entanto, esse sistema solidário não era suficiente, diante da mendicância que
se alastrava por todo o mundo. A simples cobertura individual, ou mesmo aquela
realizada por associações ou entidades beneficentes, era, na verdade, bastante limitada
e se mostrava insignificante diante da complexidade e magnitude das necessidades sociais
que surgiam cada vez com maior intensidade.
A chamada Lei dos Pobres (Poor Law Act), promulgada durante o reinado de
Isabel I, na Inglaterra, no ano de 1601, é considerada o passo inicial dessa assistência
pública, sendo custeada de acordo com a capacidade contributiva de cada um.
A referida lei não tinha como única finalidade o auxílio com dinheiro, mas
principalmente ensinava a jovens e mulheres o ofício do trabalho, fornecendo-lhes
matéria-prima para que o trabalho artesanal fosse aprendido e executado para, então,
ser vendido. Aos pobres inválidos ou idosos, a ajuda tinha o escopo de assisti-los,
socorrer-lhes.
Foi, portanto, no século XVII, com a criação das primeiras companhias náuticas,
que se vislumbrou a possibilidade de transpor as técnicas do seguro para a cobertura
de riscos advindos da atividade profissional.
É possível observar que a preocupação, nessa época, era assegurar bens ou coisas,
e não propriamente pessoas. Os bens assegurados eram instrumentos de trabalho,
com o objetivo de proporcionar ao trabalhador a continuidade do seu labor, caso seus
instrumentos sofressem algum dano que o impedisse de trabalhar.
O seguro não nasceu, portanto, com fins precípuos patrimoniais, em seu sentido
estrito, mas tão-somente com vistas a assegurar o instrumental de trabalho, indenizando
o laborioso em caso de sinistro desse instrumental. A visão do seguro estaria focada
no objeto de trabalho, assegurando ao trabalhador uma indenização que lhe permitisse
retomar a atividade profissional em caso de avaria do seu material de trabalho, sem o
qual a manutenção da sua própria sobrevivência ou a de sua família incorreria em
risco.
A cobertura dos riscos, ainda incipiente, com o tempo foi galgando degraus
cada vez mais amplos e moldando-se às situações de risco que foram surgindo ao longo
dos anos.
Russomano descreve muito bem qual foi o papel de Bismarck para o seguro social:
Ante o clamor popular, em uma nação que se industrializava com rapidez, o grande
estadista compreendeu que era inútil usar, apenas, a repressão policial ou militar. Ao
contrário, era preciso oferecer um programa político novo, que ‘roubasse’ o conteúdo
da pregação socialista e que, dentro do estilo e da estrutura do governo alemão, aliciasse,
a seu favor, a simpatia do povo.10
Desde seus primórdios aparece o direito à prestação, que o filiado ostenta, mas então
derivado não do vínculo contratual, nem se retratando a figura de uma adesão, mas
sim de um status, o da pessoa definida como segurada pela lei.11
9 Segundo Russomano, houve outras leis que antecederam Bismarck. Menciona a lei austríaca de 1854 ou mesmo, antes dela,
a legislação de 1810, na Prússia, que estabeleceu o seguro-doença em favor do assalariados, entre estes incluídos os criados
e os auxiliares do comércio (Curso de Previdência Social, p. 10-1). Nesse sentido, Dupeyroux também reporta-se à Lei da
Prússia: “Et sur le plan maladie signalons une loi de 1854 accordant aux communes et aux autorités locales l´autorisation
de créer des fond de lamadies et d´imposer une affiliation obrigatoire des salaries” (Droit de la Sécurité Sociale, p. 37).
10 Curso de Previdência Social, p. 9.
11 Direito Previdenciário brasileiro, p. 38.
10
Assis afirma com veemência que “a idéia do seguro social se inspira no desejo
profundo dos homens de se livrarem do temor da necessidade, para o que é preciso,
dentro de condições exeqüíveis, garantir ao indivíduo a proteção contra os riscos
comuns da vida”13.
Não existe na história da humanidade uma certeza de que o homem tenha vivido
só. O que se tem aceito é que ele foi se agrupando ao longo do tempo, até constituir-se
o que chamamos hoje de sociedade. A proteção que se objetiva é, portanto, da própria
sociedade como um todo.
O seguro social, segundo Derzi, tem dupla função: a função social, que almeja a
proteção em caso de necessidade, e a função econômica, que visa arrecadar junto ao
trabalhador uma contribuição compatível com sua capacidade contributiva, com o
fim de garantir o equilíbrio financeiro do sistema protetivo, “remediando, dessa forma,
as injustiças sociais, bem como aliviando a pressão social causada por estas”14.
Los seguros sociales son seguros obligatorios, de origen legal, gestionados por entes
públicos y dirigidos especificamente a proteger necessidades sociales derivadas de riesgos
que afectan a indivíduos determinados legalmente.15
A primeira fase vai até 1918. A proteção abrangia apenas riscos físicos,
estendendo-se àqueles cujo salário não ultrapassasse certo limite, variável de país para
país e de categoria profissional para categoria profissional. Não havia assistência social
ou serviços sociais, mas tão-somente benefícios em forma de prestação.
A crise econômica e social criada pela Primeira Grande Guerra foi marcante
nessa segunda fase. A cobertura expandia-se para além dos riscos físicos (trabalhadores
urbanos e rurais), proporcionando cobertura também ao risco econômico
(desemprego).
O ponto alto dessa fase foi a promulgação, em 14 de agosto de 1935, pelo então
presidente Roosevelt, da lei norte-americana de seguridade social 17, conhecida como
Social Security Act. O termo ‘seguridade’ era utilizado como correspondente do termo
inglês ‘security’18, do termo espanhol ‘seguridad’ ou ainda do termo francês ‘sécurité’.
Pastor ressalta que a denominação ‘seguridad social’ não pode ser confundida
com os instrumentos de proteção até então existentes, pois indica um conteúdo próprio,
diferente das medidas de proteção anteriormente utilizadas.
17 Embora a utilização do termo ‘seguridade social’ tenha tido significativa empregabilidade em 1935, Sussekind relata que
Simon Bolivar, em 1819, já utilizara o termo ‘seguridad social’ (em Previdência Social brasileira, p. 43-4).
18 O Brasil adotou o termo ‘seguridade’, definida no artigo 194 da Constituição Federal de 1988.
19 Droit de la Sécurité Sociale, p. 245.
20 Noções preliminares de Direito Previdenciário, p. 11.
13
A terceira e última fase da proteção social inicia-se com Lord William Beveridge,
em 1942, apresentando um verdadeiro plano de seguridade social, denominado Relatório
Beveridge21, que serviu de base para a reforma do sistema inglês, ocorrida em 1946.
Segundo Leite e Velloso, esse terceiro e último período, no qual ainda nos
encontramos, “se caracteriza pela progressiva passagem da previdência social para o
que se convencionou chamar de seguridade social, ou pelo menos por uma nítida
tendência para a seguridade social”22.
A seguridade social, segundo Pastor, pode ser definida, de modo conciso, como:
“todo indivíduo em situação de necessidade tem direito à proteção igualitária, que há
de ser dispensada pelo Estado, com meios financeiros integrados aos impostos gerais”23.
Coimbra destaca que a seguridade social é a ‘nossa época’. Para o autor, “marcha-
se para o estágio final, em que todos os cidadãos serão, em suas necessidades, amparados
por serviços estatais sejam quais forem sua profissão e sua condição social, tanto
bastando que se vejam, efetivamente, ante uma necessidade” 25.
21 Armando de Oliveira Assis escreve que o relatório de Beveridge propunha fundamentalmente duas medidas: a unificação
dos vários regimes existentes e a sua extensão a toda a população (Compêndio de Seguro Social, p. 61).
22 Previdência social, p. 38.
23 “Todo individuo em situación de necesidad tiene derecho a protección igualitária, que le há de ser dispensada por el
Estado, con médios financieros integrados en sus presupuestos generales” (PASTOR, Almansa. Derecho de la Seguridad
Social, p. 61).
24 Instituciones de Seguridad Social, p. 28.
25 Direito Previdenciário brasileiro, p. 38.
14
• a unidade de gestão – tendo o Estado como elemento essencial garantidor dos meios
de vida, o qual, até então, figurava em regimes diferentes. Dentro desta, a unidade
essencial dos serviços sanitários preventivos e curativos;
26 Compartilham do mesmo entendimento acerca dos princípios que regem a seguridade social: Pastor, na obra Derecho de la
Seguridad Social (p. 60), e Venturi, na obra Los fundamentos científicos de la Seguridad Social (p. 287-8).
27 Os beneficiários da pensão por morte, p. 79.
28 Existe um conceito jurídico de Seguridade Social?, p. 38.
15
CAPÍTULO II
PROTEÇÃO SOCIAL
29 Segundo Feijó Coimbra, risco “é o evento futuro e incerto, cuja verificação independe da vontade do segurado”. De acordo
com o autor, foi em razão dessa eventualidade futura e incerta, que poderia provocar um desfalque patrimonial ao
conjunto familiar do trabalhador, que o Estado buscou a cobertura de determinados riscos que não eram protegidos pelo
seguro privado. A esse conjunto de riscos (doença, acidente, morte ou velhice) convencionou-se denominar ‘riscos sociais’
(Direito Previdenciário brasileiro, p. 32).
16
Os meios protetivos oferecidos pela assistência privada, ainda que familiar, não
se mostravam suficientes para proteger o indivíduo da indigência.
SEGURO PRIVADO
O seguro privado tinha como escopo reparar o dano causado pela efetiva
ocorrência do risco, com o pagamento de uma indenização. Para fazer jus à reparação,
era imprescindível o pagamento de um prêmio ou contribuição que garantisse o lastro
financeiro do seguro.
33 Contratos, p. 501.
18
O dano pode ser definido como aquele que se pretende reparar pela ocorrência
do sinistro e que cause a necessidade de reparação, ocasionando um “desequilíbrio
desfavorável ao segurado, passível de indenização” 34.
No entanto, não haverá indenização (termo utilizado pelo seguro privado que
significa reparar o segurado pelo dano sofrido para que retorne ao seu status quo ante)
se o dano não causar a perda da estabilidade, se não houver um prejuízo ao segurado.
Deve-se salientar, entretanto, que mesmo existindo sinistro, para que ocorra a
proteção é preciso um dano, uma necessidade de proteção. Só haverá o direito à proteção
social diante da ocorrência de um dano, de um prejuízo, a ser coberto, caso haja o
pagamento de uma contribuição chamada ‘prêmio’, o qual reparará o dano ao segurado
por uma ‘indenização’ pecuniária.
Importante contribuição nos traz Borrajo da Cruz 37. O autor entende que seria
mais correto, na ciência jurídica do seguro, utilizar o termo ‘necessidade’ no lugar de
‘dano’, pois o primeiro definiria melhor a idéia de seguro, de necessidade econômica
que o seguro objetivaria assegurar.
Risco social, conforme pretendemos modelar, é o perigo, é a ameaça a que fica exposta
a coletividade diante da possibilidade de qualquer de seus membros, por esta ou aquela
ocorrência, ficar privado dos meios essenciais à vida, transformando-se, destarte, num
nódulo de infecção no organismo social que cumpre extirpar. 38
Para cada modalidade de proteção que se expandia, ampliava-se junto com ela a
busca pela libertação das preocupações e inquietudes que vinham assolando a sociedade
desde os seus primórdios.
Para Durand41, o conceito de risco social tem dois momentos históricos distintos:
no primeiro momento, iniciou-se precisamente com a cobertura ao trabalhador que
tivesse cessado de trabalhar, temporária ou definitivamente; o segundo momento seria
aquele que se percebe pela passagem do seguro social para a seguridade social, sem
isolar o risco, mas considerando-o no todo, bastando haver insegurança na vida social
do homem para se buscar a cobertura.
Para Pastor 43, o risco, seguindo a doutrina tradicional do seguro social, seria a
possibilidade de um acontecimento futuro, incerto e involuntário que produza um
dano econômico ao segurado. Diante da possibilidade de ocorrência desse risco, faz-se
necessária a previdência social.
A previdência social é, antes de tudo, uma técnica de proteção que depende da articulação
entre o Poder Público e os demais atores sociais. Estabelece diversas formas de seguro,
para o qual ordinariamente contribuem os trabalhadores, o patronato e o Estado e
mediante o qual se intenta reduzir ao mínimo os riscos sociais, notadamente os mais
graves: doença, velhice, invalidez, acidentes no trabalho e desemprego. 44
I – de origem PATOLÓGICA:
a) doença
1 – comum
b) invalidez
1 – comum
II – de origem BIOLÓGICA:
a) maternidade
b) velhice
c) morte
1 – natural
44 Noções preliminares de Direito Previdenciário, p. 49.
45 La política contemporánea de Seguridad Social, p. 57-8.
46 Estudios jurídicos de prevision social, p. 145-6.
47 Los fundamentos científicos de la Seguridad Social, p. 133.
48 Derecho de la Seguridad Social, p. 54-5.
49 Previdência Social brasileira, p. 34.
50 Previdência Social, p. 94-5. Adota também essa classificação: DERZI, Heloiza H. Os beneficiários da pensão por morte, p. 66-7.
51 O artigo 201 da Constituição Federal de 1988 elenca o ‘cardápio’ de riscos sociais abrangidos pela previdência social
brasileira.
22
1.1 – comum
2 – violenta
2.1 – comum
a) desemprego
b) encargos familiares
c) prisão
Percebeu-se que havia muito mais do que risco social, e que não se poderia
proteger apenas o trabalhador. O sistema de seguro social mostrava-se muito aquém
das necessidades sociais que se impunham. É nesse cenário, para a cobertura desses
eventos futuros e incertos que atingem não só o indivíduo, mas toda a coletividade,
que a seguridade social surge, com o objetivo de garantir ao cidadão um padrão mínimo
de subsistência, capaz de retirá-lo de um estado momentâneo ou definitivo de
necessidade.
Lord Beveridge, pela primeira vez, em seu relatório, cuidou não só de previdência
social, mas também incluiu, no rol de proteção, a assistência social e a saúde, ampliando-
se o sistema protetivo até então existente, propondo um campo de aplicação da
proteção social bem mais amplo e mais eficaz para atender o homem em suas
necessidades básicas.
23
Para que haja uma proteção universal, faz-se necessária a solidariedade social,
que só será completa quando todos os indivíduos tiverem garantido um padrão mínimo
de bem-estar. Ainda que tenhamos consciência de que nem todos precisarão de
proteção, cada indivíduo deve ter garantida sua quota de proteção em caso de ocorrência
de necessidade.
Para a proteção dos riscos sociais, existe a previdência social. Para a proteção
das necessidades, existem os serviços de assistência social e saúde. A preocupação não
é só proteger o trabalhador que foi atingido pela contingência, mas também prevenir
ou tratar o indivíduo, garantindo-lhe o pleno desenvolvimento da sua personalidade.
Derzi assegura:
A chave para que esse estado de bem-estar e de justiça social chegue ao ápice é
respeitar o homem como ser humano, dotado de dignidade que lhe é intrínseca, e
valorizar o trabalho como seu bem maior e o único meio a lhe assegurar o
desenvolvimento pessoal, para que possa se libertar de todo e qualquer estado de
necessidade.
Tomando como paradigma Oliveira 54 que, com muita propriedade, resumiu, num
único quadro, a evolução dos riscos sociais aos eventos geradores de ‘necessidades
vitais’, sedimentando a cobertura da seguridade social não só no fornecimento de
prestações, elaboramos novo quadro em conformidade com os benefícios e serviços
dispostos atualmente pela seguridade social, como se vê na página seguinte.
MORTE Perda definitiva dos meios de Pensão por morte (Previdência Social)
subsistência, pela morte do segurado Serviços sociais
instituidor
Serviços médicos (saúde)
Acréscimo de despesas com funeral
Capítulo III
Capítulo IV
CAPÍTULO III
Simone de Beauvoir 55, em sua clássica obra sobre a velhice, apresenta um estudo
bastante aprofundado do tema, buscando dados na filosofia, na sociologia, na
gerontologia e na antropologia.
Deve-se considerar vários aspectos para definir a velhice. Bobbio 61 sugeriu três
perspectivas sob as quais ela pode ser definida: a cronológica ou censitária, a burocrática
e a psicológica ou subjetiva.
O aspecto burocrático, assim denominado por Bobbio 64, seria aquele que imporia
a criação de direitos ao idoso, tais como prestações de cunho previdenciário ou
assistencial: “Hoje um sexagenário está velho apenas no sentido burocrático, porque
chegou à idade em que geralmente tem direito a uma pensão”.
• quadros superiores;
• quadros médios;
63 Bobbio relata que o octogenário era considerado um velho decrépito, de quem não valia a pena se ocupar, enquanto,
atualmente, ocorre o contrário. A velhice fisiológica começa quando a pessoa se aproxima dos 80 anos, que o autor
considera a idade média da vida (op. cit., p. 17).
64 Ib. ibid, p. 17.
65 Ib. ibid, p. 18.
66 A velhice. A realidade incômoda, 41.
30
• patrões;
• serviçais;
• serventes.
Embora os estudiosos ainda não tenham encontrando a chave desse enigma que
é o envelhecimento, o tempo não espera. Envelhecemos a cada dia, a cada hora, a cada
minuto. Entretanto, os avanços em diversas áreas, seja na tecnologia, seja no âmbito
social, seja na medicina, têm permitido que esse processo, ineludível, torne-se mais
brando, mais feliz.
Nas palavras do papa João Paulo II, na Carta aos participantes da II Assembléia
Mundial sobre o Envelhecimento, ocorrida em Madri em 2002:
uma em cada cinco na média mundial e de uma em cada três nos países
desenvolvidos.
• Estima-se que o número de pessoas com mais de 100 anos aumente quinze vezes,
projetando uma média de centenários da ordem de 2,2 milhões em 2050.
Honduras 10,8
71 Tabela apresentada no Congresso Internacional de Gerontologia, realizado em Nova York no ano de 1985. Apud Revista
de Saúde Pública, v. 21 n. 3, São Paulo, jun. 1987, de autoria de Luiz Roberto Ramos, Renato P. Veras, Alexandre Kalache,
sob o título “Envelhecimento populacional: uma realidade brasileira”.
33
Segundo dados do IBGE, até 2025 o Brasil terá 52 milhões de pessoas com idade
superior a 60 anos.
Desse número, as mulheres, como já foi dito, serão em maior número, diante da
expectativa de vida maior que a dos homens.
1960 6,21
1970 5,76
1980 4,01
1990 2,50
2000 2,04
2010 1,85
2020 1,81
Fonte: IBGE, Anuários Estatísticos
1965, 1982, 1992, 1994 e 1996
Gráfico 1 – BRASIL: Evolução da população de 80 anos ou mais de idade por sexo – Brasil: 1980/2050
Fonte: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2004/metodologia.pdf
Num futuro próximo, haverá mais idosos do que jovens, e a Previdência Social
tem importante papel nessa mudança demográfica, devendo se preparar para oferecer
a todos a proteção social de que necessitarão.
revalorização dos vínculos de proximidade, que estão hoje no coração das novas
políticas públicas dirigidas à inclusão social dos idosos” 73.
Com exceção dos dois primeiros países (Colômbia e Cuba), não há diferença de
idade para a aposentadoria, dentre os exemplos ora mencionados, entre homens e
mulheres, sendo exigida a igualdade entre os sexos nos demais países.
As políticas de proteção à terceira idade têm sido muito discutidas nos últimos
tempos, evoluindo e dando passos cada vez maiores. Na mesma proporção, ou até em
conseqüência dessas medidas protetivas, ocorreu uma mudança na pirâmide
demográfica, na qual os anciãos serão em maior número muito em breve.
O Direito da Seguridade Social tem importante papel nessa evolução, pois cabe-
lhe a busca pela proteção universal com benefícios e também com serviços sociais.
Caso essas medidas de proteção não sejam efetivadas, corremos o risco de uma
crise sem proporções em todos os segmentos. Se já existe um desequilíbrio do sistema
securitário mundial, com um déficit que cresce a cada ano, a situação tende a ficar
ainda mais dramática se não forem criadas políticas públicas capazes de atender à
iminente demanda no amparo ao envelhecimento.
No Capítulo VIII (“Da Ordem Social”), Seção IV, do Texto Magno, que trata
especificamente da assistência social, o artigo 20390 refere-se à proteção à velhice assistida
pelo Estado, destinada àquele em estado de miserabilidade, objetivando libertá-lo dessa
situação de mendicância. Observa-se que o termo utilizado nesse artigo é ‘velhice’.
O sujeito buscado para essa proteção é o idoso, e a política de proteção a ele foi
inserida na Lei nº 8.842/94 (em cumprimento ao mandamento constitucional), que
criou a Política Nacional do Idoso, posteriormente modificada pela Lei nº 10.741/
200392, atualmente regulando a proteção aos maiores de 60 anos de idade.
Nesse caso, o Estado não está sozinho no amparo ao idoso. Há uma união
entre Estado, família e sociedade na proteção à terceira idade, devendo defender sua
dignidade, proporcionando-lhe bem-estar e garantindo-lhe o direito à vida.
Outra expressão (ou termo) utilizada pela Constituição foi introduzida com a
Emenda Constitucional nº 20, de 16 de dezembro de 1998, que modificou a
terminologia do risco etário da previdência social: ‘idade avançada’93.
90 Artigo 203, I: “a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice” (grifo nosso).
91 Artigo 230: “A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na
comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida”.
92 Lei que dispõe sobre o Estatuto do Idoso, de 1 de outubro de 2003.
93 Artigo 201, inciso I da Constituição Federal de 1988: “cobertura de eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada”
(grifo nosso), sendo que, na redação anterior à referida Emenda, o nome dado ao risco etário era ‘velhice’.
94 A aposentadoria por velhice teve seu início com a promulgação da Lei nº 3.807/60, mais conhecida como Lops (Lei
Orgânica da Previdência Social).
40
Leite afirma que “o próprio termo (velhice) é meio duro e em geral procuramos
evitá-lo, na justa esperança de que os eufemismos atenuem o que a velhice tem de
inelutável e portanto de negativo”96.
É sabido que muitos aposentados, a não ser em caso de invalidez, não param de
trabalhar após o recebimento do benefício, em razão de fatores econômicos e sociais.
95 Evidentemente, essa presunção de incapacidade não condiz com a realidade demográfica que estamos vivenciando, em que
a terceira idade tem se revelado cada vez maior e melhor, como será visto em capítulo específico.
96 O século da aposentadoria, p. 138.
97 A aposentadoria por idade é tratada nos artigos 48 a 51 da Lei nº 8.213/91.
98 O Minidicionário Houaiss da Língua Portuguesa assim define aposentadoria: “estado de quem já não trabalha”, p. 38.
41
pensão’. Pensão, para a previdência social, é o nome dado à prestação dos dependentes
em caso de morte do segurado instituidor.
Para Vilas Boas, “velho é um termo mais depreciativo, se visto na sua pura
conotação unívoca, na conseqüente perda de sentidos e vigor”100.
Considera-se idoso aquele que tem muitos anos de vida, e velho, aquele muito
idoso. Desse ponto de vista, nem todo idoso é velho, mas todo velho é idoso.
Não podemos dizer que velho e idoso, portanto, tenham o mesmo significado.
O idoso, que tem muitos anos, não é velho, é ancião, enquanto o velho é mais do que
idoso, é senil.
Vilas Boas traz a diferença entre ‘velho’ e ‘idoso’, entendendo que esses termos
seriam quase sinônimos, “por analogia, uma vez que o processo de envelhecimento
afeta a todos, avança com a faixa etária de todos os viventes, mas de modos distintos
em tempo e espaço”101. No entanto, “há idoso no seu quase pleno vigor e não há velho
que não tenha experimentado a fraqueza orgânica visível”.
Nesse sentido, Leite destaca que “os ricos vivem mais do que os pobres; da
mesma maneira, naturalmente, a duração média da vida dos menos pobres é maior do
que a da vida dos mais pobres”102.
Pierdoná 105 , ao comentar essa passagem do livro do autor espanhol, diz que,
nesse primeiro sentido:
A velhice é entendida como o último período da vida ordinária do homem. Por isso,
a proteção se fundamenta e se justifica como um direito ao descanso, em virtude do
tempo que desempenhou atividades produtivas; a proteção seria uma compensação
pelos anos de atividade produtiva; por fim, dada a dificuldade de poupança individual,
a proteção seria uma institucionalização ou coletivização de poupança, através de
previsão social, sendo que a quantia da proteção depende da duração da atividade
produtiva.
Nesse caso, a proteção não se justificaria pelo direito ao descanso (que também
é uma necessidade do indivíduo), e sim pela situação de incapacidade funcional que o
impede de continuar trabalhando e, conseqüentemente, de receber salário. Essa retirada
das ocupações habituais do trabalhador é qualificada pelo autor como ‘retiro’.
A velhice, também para Venturi111, seria uma das formas de invalidez, com os
mesmos efeitos, porém com causas diferentes, não predominantemente patológicas,
mas principalmente fisiológicas.
Consideramos que a velhice começa entre os 60 e 65 anos. Esse é o período que vem
sendo usado também no conceito jurídico de velhice, porque se queremos definir para
efeitos práticos, para efeitos legais, o que é um velho, trata-se de determinar um limite
etário a partir do qual se consideraria a pessoa como anciã, podendo usufruir de
benefícios especiais, tais como no caso da previdência, a aposentadoria.113
Ao aposentado por idade, utilizando o mesmo sentido jurídico dado pelo direito
espanhol, é permitida a continuidade no emprego, não se lhe reconhecendo a condição
de inválido, mas tão-somente a chegada da idade definida pela lei como limite para
conceituá-lo como idoso. É uma questão puramente cronológica.
112 No âmbito previdenciário, além da idade mínima, é necessário o cumprimento de carência, enquanto no âmbito da
assistencial social exige-se também a comprovação de renda per capita igual ou inferior a um quarto do salário mínimo.
113 Curso sobre Direito Previdenciário, realizado em 1978 pela Assessoria Legislativa da Câmara dos Deputados e Coordenadoria
de Assuntos Parlamentares do então Ministério da Previdência e Assistência Social, p. 347.
46
Embora, sob o aspecto biológico, a velhice deva ser analisada de maneira pessoal,
individual e intransferível, conforme a situação concreta, no que se refere ao aspecto
legal, a objetividade da lei não deixa margem para entender diferente o que nela ficou
estabelecido. É presunção de incapacidade juridicamente definida.
É o critério cronológico que impõe a condição de idoso àqueles com idade igual
ou superior a 60 anos, conceituando-o na norma jurídica.
Fica bem claro o conceito jurídico de velhice, com toda a sua objetividade,
quando o comparamos ao risco invalidez, por exemplo.
Para Pulino114, que escreve sobre aposentadoria por invalidez, o conceito jurídico
de invalidez refere-se à situação fática de ficar inválido.
Esse critério é puramente jurídico, não devendo ser confundido com os critérios
psicológicos ou biológicos. É a ‘velhice burocrática’, ‘cronológica’, como bem definiu
Bobbio 115.
CAPÍTULO IV
NO MUNDO
Tão importante foi essa proteção social que, ainda hoje, o trabalhador tem a
mesma cobertura social em caso de incapacidade para o trabalho.
Mas não foi só à incapacidade para o trabalho propriamente dita que a lei
bismarckiana visou dar cobertura.
49
Sussekind 117 menciona ainda a França (em 1894) e a Bélgica (em 1911), que
ampararam primordialmente os trabalhadores mineiros, enquanto a lei austríaca de
1907 era aplicada, sem distinção da atividade profissional, aos empregados, excluindo
os trabalhadores braçais. Já a lei britânica cobria apenas os riscos de doença e invalidez,
excluindo a velhice e a morte. A Suécia, em 1912, foi o primeiro país a realizar um
verdadeiro seguro nacional a toda a população, sem distinção, proporcionando proteção
para os casos de invalidez, velhice e morte.
Em 1908, na Inglaterra, foi criada a Old Age Pensions, que concedia pensão aos
maiores de 70 anos de idade, independentemente de contribuição.
Essa convenção, que aguarda, há cinqüenta e cinco anos 125, a ratificação pelo
Brasil, preocupou-se também com a velhice, ao estabelecer:
Todo miembro para el cual esté en vigor esta parte del Convenio deberá garantizar a
las personas protegidas la concesión de prestaciones de vejez, de conformidad con los
artículos siguientes de esta parte.
O ano de 1999 foi considerado o Ano Internacional das Pessoas de Idade das
Nações Unidas, mostrando a preocupação das autoridades do mundo inteiro com a
velhice. A Organização das Nações Unidas propôs um Plano de Ação Internacional
sobre o Envelhecimento, determinando aos Estados-membros a necessidade de adoção
de medidas adequadas para estabelecer um seguro à velhice obrigatório, garantindo-
lhes a merecida proteção.
125 A Convenção 102 da Organização Internacional do Trabalho foi enviada ao Congresso em 1964 e rejeitada, pois não incluía
os trabalhadores rurais e domésticos nem cuidava dos acidentes de trabalho. Atualmente, a Comissão de Trabalho,
Administração e Serviço Público aprovou a Convenção 102 da Organização Internacional do Trabalho (votação ocorrida
em 18/05/2006), mas ainda terá de ser avaliada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania e pelo Plenário da
Câmara (notícia obtida pelo newsletter da Revista de Direito Social, publicada em 23/05/2006 sobre o tema: “Comissão
aprova convenção da OIT sobre Previdência”).
126 A Era dos Direitos, p. 79.
127 Publicação de Mary Robinson, Alta Comissionada das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
52
Os direitos humanos têm dado grande contribuição para que as políticas públicas
avancem na questão do idoso, prestigiando essa população senil que, durante muito
tempo, viveu (e ainda vive) à margem da proteção social.
Os planos de ação para acolher essa população idosa devem direcionar-se para
um envelhecimento ativo, participativo, criando oportunidades de emprego e de
inserção desse grupo na sociedade, de modo a modificar o estigma de inutilidade e
improdutividade que durante muito tempo predominou em relação aos idosos. O
envelhecimento deve ser tratado como sinônimo de atividade, produtividade e saúde.
fundamental porque ser velho significa ter direito à vida, significa dar continuidade a
esse fluxo, que deve ser vivido com dignidade”129.
O risco social velhice foi objeto de proteção nas principais Constituições Federais
do Brasil.
[...]
[...]
Nessa Carta Federal, a previdência social foi inserida juntamente com o direito
do trabalho e previu, em seu artigo 157, inciso XVI, o direito à previdência, mediante
contribuição da União, do empregador e do empregado, em favor da maternidade e
dos riscos de doença, velhice, invalidez e morte:
[...]
O artigo 201, desde sua redação original, trouxe o ‘cardápio’ dos riscos sociais
que devem ser assegurados pelas políticas públicas de previdência social.
130 Assim era o texto originário da Constituição Federal de 1988 em relação à aposentadoria por idade: “I – aos sessenta e cinco
anos de idade, para o homem, e aos sessenta, para a mulher, reduzido em cinco anos o limite de idade para os trabalhadores
rurais de ambos os sexos e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, neste incluídos o produtor
rural, o garimpeiro e o pescador artesanal”.
56
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente
de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
[...]
Silva ressalta que a “assistência social não é caridade, mas um direito social de
tantos quantos não disponham de meios para a satisfação das necessidades básicas,
aquele mínimo social sem o qual a dignidade da pessoa humana fica totalmente
prejudicada” 132 .
131 No presente trabalho, a aposentadoria por idade será estudada mais aprofundadamente em capítulo específico.
132 Comentário contextual à Constituição, p. 781.
57
Esse benefício veio substituir a antiga renda mensal vitalícia, que durante muito
tempo existiu no Brasil, proporcionando assistência social aos maiores de 70 anos de
idade.
Retomando mais uma vez a definição de velhice de Pastor, podemos dizer que,
no caso da assistência social, estamos diante da senectude, da velhice, cujo direito
presume sua incapacidade de prover a própria manutenção, seu desgaste físico ou
mental.
134 “Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e
amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.”
59
Desde a publicação da referida lei, passou a ser considerada idosa a pessoa com
mais de 60 anos de idade, conferindo-lhe uma série de direitos e oportunidades.
O idoso, a partir de então, passou a ser visto sob um novo prisma, como sujeito
de direitos, tais como: direito à vida, à liberdade, ao respeito, à dignidade, ao alimento,
à saúde, à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer, à profissionalização e ao trabalho,
à previdência social, à assistência social, à habitação digna, ao transporte gratuito, enfim,
a todos os direitos que lhe garantam um tratamento com dignidade e a proteção
merecidos, cabendo a responsabilização à família, à sociedade e também ao Estado.
Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover
sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal
de 1 (um) salário mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social.
No entender do autor Vilas Boas, essa exceção trazida pelo parágrafo único do
artigo 34 do estatuto enfraqueceu os dizeres do artigo 20, parágrafo 3º da Loas, que
fixava como parâmetro um quarto do salário mínimo para uma situação de incapacidade
econômica: “O parágrafo em pauta nada mais fez que possibilitar, na prática, o aumento
do teto financeiro para considerar o idoso pobre” 135.
Até o Estatuto do Idoso, a questão da renda per capita era absoluta. Entretanto,
a partir da Lei nº 10.741/03, esse critério foi relativizado, permitindo o recebimento
conjunto do benefício em caso de cônjuge que já receba o benefício da prestação
continuada.
Aos maiores de 60 anos o Estatuto assegura uma gama de direitos, nas suas
várias ramificações, possíveis a partir da tríplice conjugação Estado-família-sociedade.
Entre esses direitos, inclui-se o previdenciário (artigos 29 a 32) e o assistencial (artigos
33 a 36). O direito previdenciário, com sua legislação específica, elenca os benefícios e
serviços por ela dispostos na Lei nº 8.213/91, e a assistência social, também na sua
legislação específica, Lei nº 8.742/93, regula o amparo social.
Se entendermos que a idade trazida pelo Estatuto deveria abranger todo o sistema
de proteção ao idoso, também a legislação previdenciária deveria sofrer modificações,
pela ‘incompatibilidade’ de diferentes idades para a obtenção do benefício etário,
variando desde os 55 anos para a trabalhadora rural até os 70 anos para a aposentadoria
por idade da modalidade compulsória.
O bem maior tutelado na Lei nº 10.741/03, o direito dos idosos, resta guarnecido no
texto constitucional de forma a autorizar tratamento diferenciado em algumas
circunstâncias, inclusive para a efetivação dos princípios sociais previstos.
137 “Estatuto do Idoso: inconstitucionalidade do artigo 34 e seus reflexos no benefício assistencial da Loas”, p. 67.
138 “O Estatuto do Idoso sob a óptica do sistema de seguridade social”, p. 113.
62
Qualquer elemento residente nas coisas, pessoas ou situações pode ser escolhido pela
lei como fator discriminatório, donde se segue que, de regra, não é no traço de
diferenciação escolhido que se deve buscar algum desacato ao princípio isonômico. 140
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
CAPÍTULO V
Cada uma dessas modalidades possui suas próprias características e será estudada
neste trabalho de forma individualizada.
precisam estar no plano do direito positivo, não sendo possível concebê-los senão
diante de um ordenamento.
Nunes faz uma interessante distinção entre valor e princípio, entendendo que,
enquanto o valor “é sempre um relativo, na medida em que ‘vale’, isto é, aponta para
uma relação, o princípio se impõe como um absoluto, como algo que não comporta
qualquer espécie de relativização”141.
Para o autor, o princípio está inserido no próprio linguajar do direito, não sendo
possível aboli-lo, enquanto o valor pode sofrer influência histórica, geográfica, pessoal,
social, local e acaba se impondo mediante um comando de poder que estabelece regras
de interpretação, jurídicas ou não.
Para Silva 142 , valor é tudo aquilo que orienta a conduta humana, indicando sempre
um sentido, como um vetor que guia, atrai, consciente ou inconscientemente, o ser
humano. Já o princípio apresenta-se com uma acepção de começo, início, de
mandamento nuclear de um sistema.
Pode-se dizer que os valores trazidos pela Constituição Federal são axiomas
inexoráveis, não sendo possível ao aplicador do direito afastá-los por um minuto sequer.
Nunes 143 ensina que “não é possível falar – não deve ser possível falar – em
sistema jurídico legítimo que não esteja fundado na garantia da intangibilidade da
dignidade da pessoa humana”.
141 O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, p. 5.
142 Comentário contextual à Constituição, p. 35.
143 O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, p. 25.
66
E é com essa dignidade que o idoso deve ser tratado, não só por ser idoso, mas
por ser humano. Sua experiência, seu conhecimento profissional, suas habilidades
devem ser reconhecidos. Todo o sistema constitucional deve nortear-se a partir da
dignidade humana para estabelecer os direitos individuais.
A partir do Estatuto do Idoso, esse cenário vem tomando novo rumo, resgatando
seus valores intrínsecos, muitas vezes esquecidos pela população, para assegurar a essas
pessoas uma velhice mais digna, atendendo ao mandamus constitucional.
A Previdência Social, por sua vez, também faz a sua parte, regulando e
concedendo benefícios aos idosos trabalhadores, para que estes também possam ter
sua cota de proteção.
É tão importante esse princípio que foi trazido pela Constituição Federal em
quatro momentos importantes.
Santos ressalta que “tão grande é o valor dado ao trabalho pelo constituinte de
1988, que foi colocado lado a lado, em igualdade de importância, com os demais
fundamentos do Estado Democrático de Direito: soberania, cidadania, dignidade da
pessoa humana, livre iniciativa e pluralismo político”147.
Num segundo momento, verifica-se o trabalho incluído no rol dos direitos sociais
trazidos pela Constituição Federal de 1988, no artigo 6º148 , dentro do título ‘Dos Direitos
e Garantias Fundamentais’, mostrando-se de extrema relevância ao nosso ordenamento
jurídico.
Mais uma vez nos reportamos ao constitucionalista Silva , em conceito que traduz
com perfeição o objetivo do legislador constituinte ao inserir no Texto Constitucional
essa amplitude de direitos sociais. Escreve o autor:
Os direitos sociais, como dimensão dos direitos fundamentais do homem, são prestações
positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas em normas
constitucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos; direitos
que tendem a realizar a igualização de situações sociais desiguais. 149
145 Artigo 1º: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III –
a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político.”
146 Comentário contextual à Constituição, p. 28.
147 O princípio da seletividade das prestações de seguridade social, p. 83.
148 Artigo 6º: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a proteção à maternidade
e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.
149 Comentário contextual à Constituição, p. 183.
150 Artigo 170: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar
a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social...”
68
O pontífice papa João Paulo II editou a Carta Encíclica Laborem Exercens 154,
iniciando suas palavras dizendo que:
Para Balera, esse princípio possui dupla dimensão: “De um lado, ele se refere ao
elenco das prestações que serão fornecidas pelo sistema de seguridade. De outro, aos
sujeitos protegidos”156.
159 A igualdade (uniformidade e equivalência) dos trabalhadores urbanos e rurais no acesso aos benefícios previdenciários, p. 71.
160 Voltaremos a tratar desse assunto no subitem 5.2.1 deste capítulo.
161 Artigo 194, parágrafo único, inciso V da Constituição Federal: “eqüidade na forma de participação no custeio”.
162 Artigo 145, parágrafo 1º: “Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade
econômica do contribuinte...”
163 Artigo 195, parágrafo 9º da Constituição Federal: “As contribuições sociais previstas no inciso I deste artigo poderão ter
alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica ou da utilização intensiva de mão-de-obra”.
72
Cada uma dessas modalidades possui suas próprias características, com idades
diferenciadas e discriminadas em razão do sexo e da categoria de trabalhadores.
O primeiro ponto que cumpre observar diz respeito às diferentes idades trazidas
não só pela Constituição Federal, artigo 201, parágrafo 7º, no qual são impostas idades
mínimas necessárias para que o segurado faça jus ao benefício, como também a Lei nº
8.213/91, que regulamenta as referidas aposentadorias e ainda acrescenta a modalidade
aposentadoria por idade compulsória.
164 O Texto para Discussão nº 1050 do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) prevê a necessidade urgente de
reformar novamente a previdência social para estabelecer idade mínima para aposentadoria por tempo de contribuição,
com características análogas às dos servidores do Regime Próprio de Previdência Social.
74
Balera assinala que “por força da regra da igualdade – não por acaso colocada no
topo do art. 5º da Constituição –, os brasileiros se obrigam a proporcionar quantidade
de proteção suficiente ao atingimento da segurança social que cada um deve ter”167.
Não há dúvida de que as diferentes idades tiveram como condão a busca pela
universalidade. Assim como na França, onde a idade precisou ser reduzida (de 65 para
60 anos, como já exposto neste trabalho), diante do problema demográfico, visando
abarcar o maior número de segurados possível, o Brasil percorreu o mesmo caminho.
Ainda que a ‘idade avançada’ tenha chegado, isso não significa que a pessoa
esteja incapacitada para o trabalho, cabendo exclusivamente ao trabalhador a decisão
de parar ou não de trabalhar, de aposentar-se ou não, sendo sua relação empregatícia
outra relação jurídica, que não pode ser confundida com a relação jurídica de proteção
estabelecida no direito previdenciário.
O estudo do Ipea salienta ainda que, como as mulheres estão incisivamente mais
ativas no mercado de trabalho, aposentam-se mais cedo e recebem por mais tempo o
benefício. Com isso, o impacto econômico das aposentadorias precoces mostra-se a
olho nu.
Evidentemente, a pretensa mudança exigirá uma fase de transição, mas isso não
deverá assustar os cidadãos brasileiros, pois desde a Emenda Constitucional nº 20, de
15 de dezembro de 1998, as regras de transição têm sido uma constante no nosso
ordenamento jurídico.
Nogueira 174 qualifica esse “cavalheirismo com o sexo fraco” como “privilégio
concedido às mulheres” de se aposentar cinco anos mais cedo. Para o autor, haveria
duas explicações para isso:
Continua o autor:
Qualquer que fosse a causa, tal cavalheirismo legislativo agora se afigura anacrônico,
duvidoso e até ofensivo na medida em que insiste na velhice ou incapacidade produtiva
das sexagenárias, ou menospreza a pugna feminista pela repartição igualitária dos direitos
e deveres humanos, entre estes os encargos domésticos.175
legislador, pois que em plena conformidade legal. No que tange ao aspecto diferenciador
sob a ótica vertical, ou seja, entre homens e mulheres, o processo evolutivo das mulheres
no mercado de trabalho e sua condição de sobrevida consideravelmente maior que a
dos homens não justificam idades diferenciadas. Concordamos com o estudo do Ipea e
outros com relação à inexorável mudança constitucional para aumentar a idade das
mulheres que buscam o benefício etário.
Para que o segurado faça jus aos benefícios e serviços da previdência social, é
imprescindível que esteja filiado ao Regime Geral de Previdência Social, ou, no caso
específico da aposentadoria por idade, admite-se que já tenha sido filiado e tenha vertido
um número mínimo de contribuições.
CAPÍTULO VI
TRABALHADOR URBANO
6.1 DA IDADE
Art. 30. A aposentadoria por velhice será concedida ao segurado que, após haver
realizado 60 (sessenta) contribuições mensais, completar 65 (sessenta e cinco) ou mais
anos de idade, quando do sexo masculino, e 60 (sessenta) anos de idade, quando do
feminino, e consistirá numa renda mensal calculada na forma do § 4º do art. 27.
82
A idade inicial para requerer o benefício era (e ainda é, visto que com relação à
idade nada mudou) 65 anos de idade para homem e 60 anos para mulher e carência178
de 60 contribuições mensais.
6.2 DA CARÊNCIA
Savaris 179 indica dois requisitos essenciais para qualificar a carência: grau de
previsibilidade do requisito específico e presunção de cessação imediata da fonte de
subsistência de que dependia o segurado e sua família, justificando a diferença que o
legislador encontrou para exigir carência extensa de 180 contribuições, carência
pequena de 10 180 ou 12181 contribuições ou nem exigi-la182.
178 A terminologia ‘carência’ não foi conceituada pela Lei nº 3.807/60. Somente com a Lei nº 8.213/91 a definição atingiu
status legal, em seu artigo 24: “Carência é o número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário
faça jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências”.
179 Direito Previdenciário, p. 7.
180 Carência exigida para salário-maternidade de segurada facultativa, segurada especial e contribuinte individual (artigo 25,
III, da Lei nº 8.213/91).
181 Carência exigida para auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez previdenciária (artigo 25, I, da Lei nº 8.213/91).
182 Não se exige carência para benefícios de: pensão por morte, auxílio-reclusão, salário-família, auxílio-acidente, auxílio-
doença ou aposentadoria por invalidez oriundos de acidente do trabalho ou das doenças elencadas na Portaria Interministerial
nº 2.998/01.
83
Não havia conceituação de carência na Lei nº 3.807/60, vindo esta a ser definida
somente a partir da edição da Lei nº 8.213/91183.
[...]
Art. 142. Para o segurado inscrito na Previdência Social Urbana na data da publicação
desta Lei, bem como para o trabalhador e o empregador rurais cobertos pela Previdência
Social Rural, a carência das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e especial,
prevista no inciso II do art. 25, obedecerá à seguinte tabela, levando-se em conta o ano
da entrada do requerimento:
Geraldo Alckmin 185, relator do projeto que alterou a carência de 60 para 180
contribuições e da referida regra de transição, entende que ela atendeu prontamente
àqueles já inscritos no Regime Geral de Previdência Social:
A transição foi feita de tal forma que, para cada ano gregoriano, se aumentavam 6
meses de carência, de modo que o trabalhador poderia alcançar a nova carência, sem
ser prejudicado.
O marco inicial para a transição foi o ano de 1991. Neste ano e no seguinte
(1992) ficou mantida a carência de 60 contribuições mensais, como estava estabelecido
na Lei nº 3.807/60. A partir de 1993, a tabela progressiva passou a exigir seis meses a
mais a cada ano.
185 Em Seminário Internacional sobre Previdência Social, do qual o então deputado Geraldo Alckmin participou, como
debatedor, sobre o tema: ‘Previdência social: diagnósticos e perspectivas, em A previdência social e a revisão constitucional,
p. 155.
85
Art. 142. Para o segurado inscrito na Previdência Social Urbana até 24 de julho de
1991, bem como para o trabalhador e o empregador rural cobertos pela Previdência
Social Rural, a carência das aposentadorias por idade, por tempo de serviço e especial
obedecerá à seguinte tabela, levando-se em conta o ano em que o segurado implementou
todas as condições necessárias à obtenção do benefício:
Com isso, o segurado que tinha sido inserido na tabela de transição, já tendo
que cumprir os requisitos trazidos pela nova lei, teve que se adaptar à ‘transição da
transição’ para atingir a carência mínima exigida e, finalmente, obter a cobertura
previdenciária pretendida, atendendo às modificações legais.
Outra alteração trazida por essa lei, também no artigo 142, foi na parte final,
determinando que a carência fosse verificada levando-se em conta o ‘ano em que o
segurado implementou todas as condições necessárias à obtenção do benefício’.
86
Outra mudança trazida pela Lei nº 10.666/03, percebida em uma leitura atenta
do novo dispositivo ora transcrito, é que o requisito da carência também foi substituído
pela expressão: ‘tempo de contribuição correspondente ao exigido para efeito de carência’ 187 .
186 Parágrafo único do artigo 3º da Medida Provisória nº 83/2002. “Na hipótese de aposentadoria por idade, a perda da
qualidade de segurado não será considerada para a concessão desse benefício, desde que o segurado conte com, no mínimo,
duzentas e quarenta contribuições mensais”.
187 Idêntica redação foi dada pelo artigo 30 da Lei nº 10.741/03 (Estatuto do Idoso), in verbis: “A perda da condição de
segurado não será considerada para a concessão da aposentadoria por idade, desde que a pessoa conte com, no mínimo, o
tempo de contribuição correspondente ao exigido para efeito de carência na data de requerimento do benefício”.
87
Restou claro que, se assim não fosse, ele simplesmente indicaria como requisito
para a obtenção da aposentadoria por idade a seguinte expressão: ‘desde que o segurado
conte com a carência mínima exigida para o benefício’. Não foi o que aconteceu.
Los requisitos para la obtención del derecho a las prestaciones, la seguridad social,
conforme a los princípios de universalidad, globalidad e igualdad que lê son próprios
teinde a su completa abolición.
segurado, como se verá adiante, é a prova dessa atenuação em busca de um valor maior:
a dignidade da pessoa humana.
Além da substancial mudança trazida pela Lei nº 10.666/03, a nova lei altera
novamente a parte final do artigo 142 da Lei nº 8.213/91, retornando ao texto original,
exigindo-se a partir de então que o cômputo da carência fosse verificado pela ‘data da
entrada do requerimento do benefício’ 192 .
O critério temporal exigido pelo referido artigo, em que o direito será verificado
‘a partir da data do requerimento’, não tem respaldo constitucional.
A Lei de Introdução ao Código Civil destaca, em seu artigo 6º, parágrafo 2º:
Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa
exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo prefixo, ou condição
preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
O autor escreve:
Não há sustentáculo para essa disposição legal, sendo certo relacionar o ano em
que o segurado completou a idade mínima exigida pelo benefício com o número de
contribuições que traz a tabela de transição do artigo 142 da Lei nº 8.213/91.
195 O Direito e a vida dos direitos, p. 217. O autor ainda entende que “a disciplina legal oferecida à questão talvez não superasse
o juízo da proporcionalidade ou razoabilidade”.
196 Direito em foco, p. 26.
91
Para que o trabalhador urbano faça jus aos benefícios e serviços dispostos pela
legislação previdenciária, é preciso que esteja filiado ao sistema securitário.
Segundo Dacruz, filiação pode ser definida como “el acto administrativo por
virtud del cual se reconoce a una persona la condición de asegurado en un Seguro
Social, de acuerdo con lo establecido en una ley”197.
O segurado, portanto, para ter direito à aposentadoria por idade, precisava reunir
três requisitos básicos imprescindíveis: idade mínima, carência e qualidade de segurado.
A única exceção era o direito adquirido ao benefício antes da perda da qualidade de
segurado, garantido constitucionalmente, independente da data em que foi requerido
o benefício203.
Assim, muitos ex-filiados 204 que completavam a idade mínima exigida para
obtenção da aposentadoria por idade estavam excluídos da cobertura previdenciária,
pois, como se encontravam há muito tempo desempregados ou na informalidade, não
199 Direito Previdenciário, p. 148.
200 Citamos alguns exemplos de cessação do vínculo, que pode se dar pelo livramento do segurado detido ou recluso; pela
cessação de doença de segregação compulsória; pela cessação das contribuições para o segurado que exercia atividade
remunerada; pelo licenciamento, o segurado incorporado às Forças Armadas para prestar serviço militar ou mesmo o
segurado facultativo que parar de contribuir.
201 Art. 15. “Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições:
I – sem limite de prazo, quem está em gozo de benefício;
II – até 12 (doze) meses após a cessação das contribuições, o segurado que deixar de exercer atividade remunerada abrangida
pela Previdência Social ou estiver suspenso ou licenciado sem remuneração;
III – até 12 (doze) meses após cessar a segregação, o segurado acometido de doença de segregação compulsória;
IV – até 12 (doze) meses após o livramento, o segurado retido ou recluso;
V – até 3 (três) meses após o licenciamento, o segurado incorporado às Forças Armadas para prestar serviço militar;
VI – até 6 (seis) meses após a cessação das contribuições, o segurado facultativo.”
202 O parágrafo 3º da Lei nº 8.213/91 assim está grafado: “Durante os prazos deste artigo, o segurado conserva todos os seus
direitos perante a Previdência Social”.
203 O artigo 109, parágrafo único da Consolidação das Leis da Previdência Social nº 77.077/76 assim já entendia: “A aposentadoria
ou pensão para cuja concessão tenham sido preenchidos todos os requisitos não prescreverá, mesmo após a perda da qualidade de
segurado”. Atualmente, a Lei nº 8.213/91 traz o direito adquirido à aposentadoria, mesmo após a perda da qualidade de
segurado, cuja redação encontra-se no artigo 102, parágrafo 1º, onde se lê: “A perda da qualidade de segurado não prejudica
o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham sido preenchidos todos os requisitos, segundo a legislação em vigor
à época em que estes requisitos foram atendidos”.
204 Expressão utilizada pelo autor Fábio Lopes Vilela Berbel para definir aqueles que haviam perdido o status de segurados
pela expiração dos prazos estipulados no artigo 15 da Lei nº 8.213/91 (Teoria geral da previdência social).
93
205 Apelação Cível nº 45.723-PB, DJ 20/06/79, Rel. Ministro Américo Luz, e Apelação Cível nº 91.871-PE, Rel. Ministro Carlos
Madeira.
206 Citamos como exemplos: 2002.04.01.056131-3, 5ª Turma – Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Relator Celso Ripper
– DJU – 13/10/2005; 2003.70.07.002277-2 – 6ª Turma – Tribunal Regional Federal 4ª Região, Relator João Batista Pinto
Silveira, DJU 29/06/2005; 2001.71.019366-2, 5ª Turma – Tribunal Regional Federal 4ª Região – Relator Otávio Roberto
Pamplona, DJU 22/06/2005. “Não se exige o preenchimento simultâneo dos requisitos etário e de carência para a
concessão da aposentadoria, visto que a condição essencial para tanto é o suporte contributivo correspondente” (AC nº
2006.72.99.000872-9 – 6ª Turma SC, Relator Eduardo Vandré O. L. Garcia, DJU 23/08/2006).
207 Artigo 3º da Lei nº 10.666/03: “A perda da qualidade de segurado não será considerada para a concessão das aposentadorias
por tempo de contribuição e especial. Parágrafo 1º. Na hipótese de aposentadoria por idade, a perda da qualidade de
segurado não será considerada para a concessão desse benefício, desde que o segurado conte com, no mínimo, o tempo de
contribuição correspondente ao exigido para efeito de carência na data do requerimento do benefício”.
94
Para a concessão de aposentadoria por idade, desde que preenchidos os requisitos legais,
é irrelevante o fato do requerente, ao atingir a idade mínima, não mais ostentar a
qualidade de segurado. 209
Outra questão se abre com a novidade trazida pela Lei nº 10.666/03: a ausência
de qualidade de segurado na data da publicação da Lei nº 8.213/91 excluiria o direito
do segurado ao regramento transitório do artigo 142?
a quem participava das anteriores regras do jogo”, justificando que desviaria da noção
de sistema previdenciário a idéia de que, com a perda da qualidade de segurado, a relação
jurídica passada não poderia mais gerar nenhum efeito. Nesse sentido:
“Aplicável a regra de transição contida no artigo 142 da Lei nº 8.213/91 aos filiados
antes de 24-07-1991 (AC nº 2005.04.01.011127-8 – TRF 4ª Região (RS), Relator João
Batista Pinto Silveira, DJU 23/08/2006) “A filiação ao regime da Previdência antes do
advento da Lei 8.213/91, independentemente da perda da qualidade de segurado, exige a
aplicação da regra transitória esculpida no art. 142 da referida Lei” (TRF4, AC
2001.04.01.063121-9, Sexta Turma, Relator Victor Luiz dos Santos Laus, publicado
em 23/06/2004). “Tendo o demandante sido filiado ao sistema antes da edição da Lei nº
8.213/91, a ele deve ser aplicada, para fins de cômputo da carência necessária à concessão
da aposentadoria, a regra de transição disposta no art. 142 da Lei de Benefícios (AC nº
2003.70.00.001404-0, 5ª Turma (PR), Relator Celso Kipper, DJU 16/08/2006).
Restou claro, portanto, que à aposentadoria por idade vem sendo aplicado o
princípio da universalidade da cobertura e do atendimento que, com presteza, mostra-
se cumprindo os ditames constitucionais, garantindo aos idosos a devida proteção. O
legislador ordinário reconhece que eles estavam às margens da estrutura previdenciária.
A recusa de concessão do benefício por não exibirem mais a condição de segurados
não atende mais aos instrumentos sociais que vêm sendo traduzidos como um direito
universal do homem.
BENEFÍCIO ETÁRIO
Relação jurídica é o vínculo que se estabelece entre duas ou mais pessoas, gerando
direitos e obrigações.
Pastor 215 denomina essa relação jurídica de seguridade social de teoria escisionista
ou unilateral, vendo-a geograficamente representada por duas linhas paralelas, em que
as relações jurídicas não se inter-relacionam, não havendo nenhum sinal sinalagmático
entre ambas.
A relação jurídica que nos interessa neste trabalho é a de proteção, sendo que
utilizaremos apenas uma das linhas paralelas identificadas pelo autor espanhol.
Para que esse sujeito ativo faça jus aos benefícios e serviços da Previdência Social,
é necessário que haja um elemento fundamental: a incidência do risco social. Ainda
que ele tenha vertido contribuições ao sistema previdenciário, este não lhe permite
receber nenhuma prestação sem que o risco social tenha lhe causado um dano e,
conseqüentemente, uma necessidade de proteção.
Pastor 225 define o objeto da relação jurídica de proteção como constituído por
atos administrativos pelos quais se verifica o controle subjetivo dos sujeitos protegidos
220 O empregado doméstico “é aquele que presta serviço de natureza contínua a pessoa ou família, no âmbito residencial
desta, em atividades sem fins lucrativos” (artigo 11, inciso II da Lei nº 8.213/91).
221 São contribuintes individuais todos aqueles elencados nas alíneas ‘a’ a ‘h’ do inciso V do artigo 11 da Lei nº 8.213/91.
222 Trabalhador avulso é aquele que presta serviços de natureza urbana ou rural a diversas empresas, sem fins lucrativos (artigo
11, inciso VI, da Lei nº 8.213/91)
223 Segurado facultativo é aquele que, não exercendo nenhuma atividade remunerada, deseje voluntariamente contribuir para
a Previdência Social para dispor de seus benefícios e serviços.
224 Referida possibilidade encontra-se autorizada pelo Decreto nº 3.948/99, artigo 55, cuja redação é a seguinte: “A aposentadoria
por idade poderá ser decorrente da transformação de aposentadoria por invalidez ou auxílio-doença, desde que requerida
pelo segurado, observado o cumprimento da carência exigida na data do início do benefício a ser transformado”.
225 Derecho de la Seguridad Social, p. 265.
100
pelo sistema de seguridade social contributivo, dado que este não se estende à totalidade
da população ativa do país.
Todos 226 serão atingidos pelo risco da velhice, mas se esta puder ser combatida
economicamente com meios mais favoráveis de subsistência, será possível se
proporcionar uma vida mais tranqüila e mais digna a essas pessoas. Elas poderão contar
com uma prestação pecuniária que substituirá o ‘defeito de ingresso’ causado pela
impossibilidade presumida de trabalhar.
226 Todos, exceto aqueles que foram atingidos por outros riscos sociais imprevisíveis ou ainda não tiveram direito às demais
modalidades de aposentadorias programáveis.
227 Em busca de uma concepção moderna de risco social, p. 157.
101
Ibrahim 229 trata de forma bem ampla as maneiras de comprovar a idade para
obtenção do benefício:
A data exata em que irá iniciar a sua proteção será determinada da seguinte
forma, conforme preceitua o artigo 49 da Lei nº 8.213/91:
6.7 DO DESENVOLVIMENTO
230 Parágrafo 3º: “O 1º.(primeiro) pagamento de renda mensal do benefício será efetuado até 45 (quarenta e cinco) dias após
a data da apresentação pelo segurado da documentação necessária a sua concessão.” (Redação da Lei nº 11.430 de 26 de
dezembro de 2006 – DOU de 27/12/2006).
231 Estabelece o artigo 155 do Decreto nº 3.048/99 que: “Será fornecido ao beneficiário demonstrativo minucioso das importâncias
pagas, discriminando-se o valor da mensalidade, as diferenças eventualmente pagas, com o período a que se referem, e os
descontos efetuados”.
103
6.8 DA EXTINÇÃO
232 Artigo 166 do Decreto nº 3.048/99: “Os benefícios poderão ser pagos mediante depósito em conta corrente bancária em
nome do beneficiário”.
233 É de trinta dias o prazo para interposição de recursos e para o oferecimento de contra-razões, contados da ciência e da
interposição do recurso, respectivamente.
104
Nasce, nesse caso, uma nova prestação, a partir da ocorrência de outro risco
social, com sujeitos diferentes e características distintas, não podendo ser confundidos
com o benefício pago diretamente ao beneficiário.
234 Wagner Balera traz o informativo histórico da exigência de desligamento prévio para a concessão de aposentadoria
espontânea: “A primitiva regra do direito brasileiro, inscrita na Lei Orgânica da Previdência Social (Lei nº 3.807, de 23 de
agosto de 1960), exigia o desligamento do segurado do seu trabalho. Todavia, com o advento da Lei nº 6.887, de 10 de
dezembro de 1980, resultou modificado o preceituado na Lei nº 5.890, de 1973, e foi criada a possibilidade jurídica de
aposentadoria sem rompimento da relação laboral. Posteriormente, norma insculpida na Lei nº 6.950, de 1981, retomava
a exigência de rompimento do vínculo laboral, com conseqüente restauração da regra primitiva estampada na Lei Orgânica
da Previdência Social” (Revista de Direito Social, n. 20, p. 15).
105
Esse fato, contudo, tem gerado muita discussão, dando margem a entendimentos
divergentes, em que uns concordam que a aposentadoria rescinde o contrato de trabalho
por conta do artigo 453 da Consolidação das Leis do Trabalho e que, portanto, a
partir da aposentadoria se iniciaria um novo contrato de trabalho, e outros entendem
tratar-se de relações jurídicas distintas.
Nessa mesma esteira, Balera 236 entende que a legislação previdenciária deve ser
reformada para incluir a exigência de rompimento do vínculo laboral como pressuposto
para a concessão da aposentadoria, para que novos postos de trabalho sejam criados.
Ainda que a aposentadoria seja por idade e que haja presunção de incapacidade
laborativa, a rescisão contratual deve ser uma liberalidade entre empregado e
empregador, devendo ao primeiro o pagamento de todas as verbas rescisórias devidas
por ocasião da demissão sem justa causa. O Estado não pode e não deve intervir nessa
relação jurídica.
Além disso, diante da medida liminar que ainda está operando, mantém-se intacto
o contrato de trabalho pela aposentadoria, demonstrando os magistrados lucidez na
busca da valorização merecida do primado do trabalho.
URBANO
O critério quantitativo é aquele que expressa a exata quantia devida240 pelo sujeito
passivo. Refere-se ao quantum que deverá ser pago pelo sujeito passivo da relação
jurídica ao titular do direito subjetivo como cumprimento de uma obrigação prestacional.
Ataliba 241 ensina que “a base de cálculo é um conceito legal de tamanho; base
calculada é magnitude concreta, é a precisa medida de um fato”.
Não durou muito tempo essa forma de cálculo. Dois anos depois, a Lei nº
6.210/75 modificou novamente o período básico de cálculo (PBC): passou a ser
calculado o salário de benefício sobre a média das últimas 36 contribuições mensais
(corrigindo as 24 mais antigas), dentro de um período de até 48 meses para as demais
aposentadorias, incluindo a aposentadoria por idade.
Como a mudança foi abrupta, criou-se uma regra de transição para aqueles que
já estavam no sistema previdenciário, para que não fossem tão prejudicados.
Com isso, no caso dos que atenderam a todas as condições para ter direito ao
benefício até a véspera da publicação da Lei nº 9.876/99, foi respeitado o direito
adquirido, e o cálculo continuou a ser pela média aritmética dos 36 últimos salários de
contribuição 243 .
Note-se que o salário de benefício não pode ser inferior ao valor de um salário
mínimo, nem superior ao limite máximo do salário de contribuição 244.
Nem a aposentadoria por idade (ou qualquer outra aposentadoria) pode ser
cumulada com auxílio-acidente246, salvo no caso de direito adquirido, mas os salários
É garantido ao segurado com direito a aposentadoria por idade a opção pela não
aplicação do fator previdenciário a que se refere o art. 29 da Lei nº 8.213, de 1991,
com a redação dada por esta Lei.
Tc x a (Id +Tc x a )
f= x 1 +
Es 100
onde:
f = fator previdenciário;
Es = expectativa de sobrevida no momento da aposentadoria;
Tc = tempo de contribuição até o momento da aposentadoria;
Id = idade no momento da aposentadoria;
a = alíquota de contribuição correspondente a 0,31.
247 Como já esclarecido nesse subitem, há regra de transição àqueles que estavam inscritos no Regime Geral de Previdência
Social antes da Lei nº 9.876/99, utilizando, portanto, contribuições a partir da competência 07/94.
113
Para a aposentadoria por idade, como o fator é opcional, será aplicado somente
se for beneficiar o cálculo do benefício; do contrário, será automaticamente desprezado.
SB = Msc x f
ou
SB = Msc
onde:
SB = salário de benefício;
Msc = média dos salários de contribuição;
f = fator previdenciário.
Verifica-se, portanto, que não há prejuízo aos segurados que buscam aposentar-
se por idade, no que tange ao cálculo do salário de benefício, demonstrando, assim, a
preocupação do legislador ordinário em dar a esses atores sociais com direito ao
benefício a mais ampla proteção no momento da ocorrência do risco social.
114
6.10.3 Da alíquota
Vê-se, portanto, que para o cálculo do benefício é utilizada uma alíquota fixa de
70 por cento e uma alíquota variável que depende do número de grupos de doze
contribuições (incluindo nesta conta a carência) que o segurado tiver no momento da
aposentadoria.
onde:
R M I = renda mensal inicial;
SB = salário de benefício;
A = alíquota, onde A = % fixa (70%) +% variável.
115
CAPÍTULO VII
TRABALHADOR RURAL
7.1 DA IDADE
O custeio era feito pela contribuição, à base de 8 por cento sobre um mínimo
de três e um máximo de cinco vezes o salário mínimo vigente na região.
248 Súmula nº 21 do Tribunal Superior do Trabalho: “O empregado aposentado tem direito ao cômputo do tempo anterior à
aposentadoria, se permanecer a serviço da empresa ou a ela retornar” (cancelada pela Resolução TST 4/94).
118
Art. 27. Concluída a implantação definitiva do Sinpas, nos termos do art. 33 250, ficarão
extintos o Ipase e o Funrural, transferindo-se de pleno direito seus bens, direitos e
obrigações para as entidades a que, na forma desta lei, são atribuídas suas atuais
competências.
II – Benefícios por acidentes de trabalho para o trabalhador rural, instituídos pela Lei
nº 6.195, de 19 de dezembro de 1974.
249 Art. 3º “A aposentadoria por idade concedida ao trabalhador rural, na forma da mencionada Lei Complementar nº 11 e sua
regulamentação, não acarreta a rescisão do respectivo contrato de trabalho, nem constitui justa causa para a dispensa”.
250 O artigo 33 assim se encontrava grafado: “O Poder Executivo baixará o regulamento desta Lei e tomará providências para
a organização das novas entidades, a reformulação das remanescentes e a liquidação das extintas, com declaração da
extinção de sua personalidade jurídica, a fim de que o Sinpas seja efetivamente implantado até 1º de julho de 1978”.
251 Conforme redação do artigo 274 do Decreto nº 83.080/79.
252 O artigo 297 traz o conceito de chefe da unidade familiar:
a) o cônjuge do sexo masculino, ainda que casado apenas segundo o rito religioso, sobre o qual recai a responsabilidade
econômica pela unidade familiar;
b) o cônjuge do sexo feminino, nas mesmas condições da letra ‘a’, quando dirige e administra os bens do casal, nos termos
do artigo 251 do Código Civil, desde que o outro cônjuge não receba aposentadoria por velhice ou invalidez;
c) o cônjuge sobrevivente ou aquele que, em razão de divórcio, separação judicial, desquite ou anulação do casamento
civil, tem filhos menores sob sua guarda;
d) a companheira, quando cabe a ela a responsabilidade econômica pela unidade familiar.
253 O inciso III do artigo 297 do Decreto nº 83.080/79 estabelece que: arrimo da unidade familiar, na falta do respectivo chefe,
é o trabalhador rural que faz parte dela e a quem cabe, exclusiva ou preponderantemente, o encargo de mantê-la,
entendendo-se igualmente nessa condição a companheira, se for o caso, desde que o seu companheiro não receba
aposentadoria por velhice ou invalidez.
119
Com a Carta Federal de 1988, houve a unificação dos sistemas urbano e rural,
observada a necessária equivalência e uniformidade dos benefícios e serviços a esses
trabalhadores, por força do artigo 194, parágrafo único, inciso II da Carta Magna, já
mencionado neste trabalho.
I – aos sessenta e cinco anos de idade, para o homem, e aos sessenta, para a mulher,
reduzidos em cinco anos o limite de idade para os trabalhadores rurais de ambos
os sexos e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar,
neste incluído o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal.
Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal254 não considerou o artigo 202, inciso
I, auto-aplicável e, para tanto, estabeleceu a seguinte situação: antes da Lei nº 8.213/
91, seria devido benefício rural somente ao homem e excepcionalmente à mulher,
desde que chefe ou arrimo de família; a partir da Lei nº 8.213/91, o direito aos benefícios
e serviços passou a ser estendido aos demais integrantes do grupo familiar255.
Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do artigo 11 desta Lei, fica garantida
a concessão:
A aposentadoria por idade será devida ao segurado que, cumprida a carência exigida
nesta Lei, completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, ou 60 (sessenta), se
mulher, reduzidos esses limites para 60 e 55 anos de idade para os trabalhadores rurais,
respectivamente homens e mulheres, referidos na alínea ‘a’ do inciso I e nos incisos IV
e VII do artigo 11.
255 Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari também assim se posicionam: “a) a aposentadoria do trabalhador
rural por idade, no regime precedente à Lei nº 8.213/91, somente é devida ao homem, e, excepcionalmente, à mulher, desde
que esteja na condição de chefe ou arrimo de família, nos termos do art. 297 do Decreto nº 83.080/79; b) a partir da Lei nº
8.213/91, esse benefício foi estendido aos demais integrantes do grupo familiar (cônjuges ou companheiros, filhos maiores
de 14 anos ou a eles equiparados), nos termos do art. 11, VII, da mencionada lei; c) para a mulher obter o benefício da Lei
nº 8.213/91, precisava comprovar ser chefe de família ou cabeça-de-casal”.
121
Com sua inclusão no sistema previdenciário, passou a estar sujeito aos ditames
da legislação que o regulamentou.
Verifica-se que, para fazer jus à aposentadoria por idade, o trabalhador rural
tenha que comprovar o exercício da atividade rural, no período imediatamente anterior
ao requerimento do benefício, o que significa que deve estar filiado ao sistema para a
obtenção da prestação pretendida.
122
Não será concedido o benefício se o trabalho exercido pelo rurícola, ainda que
de forma descontínua, não obedecer ao critério temporal indicado no preceito legal
como condição para fazer jus a ele.
Concordamos com Savaris, que entende que “não será possível a obtenção da
aposentadoria mínima prevista nos arts. 39 e 143 da Lei 8.213/91 sem que o rurícola
detenha a condição de segurado (empregado, contribuinte individual ou especial) ao
tempo em que completou o requisito etário ou ao tempo em que formulou o
requerimento administrativo” 256.
Tanto dos trabalhadores rurais como dos segurados especiais é exigida filiação
ao Regime Geral de Previdência Social, comprovando ser necessária a qualidade de
segurado para o direito à aposentadoria por idade.
7.3 DA CARÊNCIA
Para esses trabalhadores de quem a contribuição não era exigida antes de 11/
91 , não há que se falar em carência para período anterior à Lei nº 8.213/91. Exige-se
257
257 Embora a Lei nº 8.213/91 tenha sido publicada em 24 de julho de 1991, somente foi regulamentada em 7 de dezembro do
mesmo ano, com a edição do Decreto nº 357/91, que tornou possível, a partir de então, operacionalizar a legislação e,
conseqüentemente, o recolhimento das contribuições previdenciárias dos trabalhadores referidos no mencionado artigo.
124
Urge ressaltar que, em se tratando de trabalhador rural que assim foi considerado
pelo Estatuto do Trabalhador Rural, Lei nº 4.214/63, o período de trabalho deve ser
contado para efeito de carência diante da exigência de contribuição por parte do
empregador.
A fim de solucionar essa questão, foi criada uma regra de transição para os
trabalhadores rurais, entre eles incluído o segurado especial, permitindo-lhes o direito
à aposentadoria por idade durante quinze anos a contar da data da publicação da Lei
nº 8.213/91:
Art. 143. O trabalhador rural ora enquadrado como segurado obrigatório no Regime
Geral de Previdência Social, na forma da alínea ‘a’ do inciso I, ou do inciso IV ou VII
do art. 11 desta Lei, pode requerer aposentadoria por idade, no valor de um salário
mínimo, durante quinze anos, contados a partir da data de vigência desta Lei, desde
que comprove o exercício de atividade rural, ainda que descontínua, no período
imediatamente anterior ao requerimento do benefício, em número de meses idêntico à
carência do referido benefício. (Redação dada pela Lei nº 9.063, de 14.6.95)258
258 O inciso IV está revogado pela Lei nº 9.876/99. O prazo de 15 anos foi prorrogado por mais dois anos, conforme Medida
Provisória nº 312, de 19 de julho de 2006, DOU de 20/7/2006, convertida na Lei nº 11.368, de 9 de novembro de 2006, DOU
10/11/06.
125
urbano, já transcrita neste trabalho, e que também faz menção expressa de seu uso
para o trabalhador e o empregador rural cobertos pela Previdência Social Rural.
c) Como trabalhador avulso, que presta serviço de natureza urbana ou rural a diversas
empresas, sem vínculo empregatício.
Nessa esteira, Ibrahim 261 observa que “a legislação, de modo indevido, limita o
enquadramento do segurado especial somente àqueles sem empregados, enquanto a
Constituição permite que estes venham a ter empregados, desde que não permanentes,
como os contratados por safra, por exemplo”.
Esses são os sujeitos protegidos da relação jurídica de proteção social, com direito
à aposentadoria por idade rural, integrando o pólo ativo dessa relação protetiva.
O seguro social tem como objetivo principal dar a devida proteção social àqueles
que dela necessitam.
Berbel 262 define o objeto da relação jurídica de proteção como aquele que “mantém
liame com o fato gerador da relação, pois se constitui em meio de saneamento da
situação social representada no fato jurídico, isto é, em forma de cessação da
contingência social que acomete o sujeito ativo da relação”.
7.7 DO DESENVOLVIMENTO
7.8 DA EXTINÇÃO
O artigo 143 da Lei nº 8.213/91 determina que a aposentadoria por idade seja
concedida com o valor de um salário mínimo durante o prazo de quinze anos (agora
dezessete anos, em razão da prorrogação desse prazo) contados a partir da publicação
da referida lei.
Para aqueles segurados que fazem jus à aposentadoria por idade rural de valor
mínimo, assim entendidos os segurados especiais, inseridos no artigo 39 da Lei nº
8.213/91, e os trabalhadores rurais, inseridos no artigo 143 da referida lei, não há
salários de contribuição para obter o salário de benefício, sendo que o valor já está
determinado na lei como sendo de um salário mínimo.
Com isso, para aqueles que atenderam a todas as condições para receber o
benefício até a véspera da publicação da Lei nº 9.876/99, o cálculo é pela média
aritmética simples dos 36 últimos salários de contribuição263. Como a inclusão dessa
categoria de trabalhadores ocorreu apenas no final de 1991, dificilmente será aplicado
esse cálculo.
7.10 DA ALÍQUOTA