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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

RAQUEL DA SILVA MARTINS

ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL:


Beneficio de Prestação Continuada LOAS (Lei Orgânica de
Assistência Social)

Biguaçu
2010
i

RAQUEL DA SILVA MARTINS

ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL:


Benefício de Prestação Continuada Loas (Lei Orgânica de
Assistência Social)

Monografia apresentada como requisito parcial para a


obtenção do título de Bacharel em Direito, na
Universidade do Vale de Itajaí, Centro de Educação
de Biguaçu.

Orientador: Prof. Márcio Roberto Paulo

Biguaçu
2010
ii

AGRADECIMENTO

Agradeço aos meus familiares, aos meus amigos e ao


meu Mestre pelo apoio e compreensão no momento
da elaboração deste trabalho.
iii

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, Joaquim Martins


e Bernadete da Silva, por terem me dado meu bem
maior: a vida! Dedico também aos meus irmãos,
Fernando Joaquim Martins, Silvania da Silva Martins e
Cristina da Silva Martins e ao meu companheiro
Fabiano Schütz e em especial a minha grande amiga
Simone Prosdossimi Stähelin responsáveis pelos
melhores momentos da minha vida.
iv

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do
Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de
toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Biguaçu, 2010

Raquel da Silva Martins


Graduanda
v

RAQUEL DA SILVA MARTINS

ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL:


Benefício de Prestação Continuada LOAS (Lei Orgânica de
Assistência Social)

Esta monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Bacharel em


Direito e aprovada pelo Curso de Direito da Universidade do Vale de Itajaí, Centro de
Educação de Biguaçu.

Área de Concentração: Direito Previdenciário

Biguaçu, junho de 2010.

Prof. Márcio Roberto Paulo


UNIVALI – CE de Biguaçu
Orientador

Prof. Fabiana Ávila


UNIVALI – CE de Biguaçu
Membro

Prof. Carlos Alberto Godoy Ilha


UNIVALI – CE de Biguaçu
Membro
vi

ROL DE ABREVIATURAS OU DE SIGLAS

BPC Beneficio de Prestação Continuada

CF/88 Constituição Federal de 1988

CPF Cadastro de Pessoa Física

CTPS Carteira de Trabalho e Previdência Social

INSS Instituto Nacional de Seguridade Social

LOAS Lei Orgânica de Assistência Social

NIT Numero de Identificação do Trabalhador

OIT Organização Internacional do Trabalho

RGPS Regime Geral de Previdência Social

SUS Sistema Único de Saúde

TRF Tribunal Regional Federal


x

SUMÁRIO

RESUMO....................................................................................................................XI

ABSTRACT ..............................................................................................................XII

INTRODUÇÃO.............................................................................................................1

1 SEGURIDADE SOCIAL............................................................................................3

1.1 HISTÓRICO DA PROTEÇÃO SOCIAL...................................................................3


1.2 HISTÓRICO CONSTITUCIONAL...........................................................................8
1.3 DENOMINAÇÃO DE SEGURIDADE SOCIAL......................................................11
1.4 CONCEITO DE SEGURIDADE SOCIAL..............................................................13

2 SEGURIDADE SOCIAL:
SAUDE, ASSISTÊNCIA SOCIAL E PREVIDÊNCIA SOCIAL...................................17

2.1 A SAÚDE..............................................................................................................18
2.2 ASSISTÊNCIA SOCIAL........................................................................................24
2.3 PREVIDÊNCIA SOCIAL.......................................................................................25

3 ASSISTÊNCIA SOCIAL:
BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA (LOAS) ........................................34

3.1 SOBRE O BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA....................................38


3.2 PARA QUEM?......................................................................................................42
3.3 DOCUMENTOS....................................................................................................45
3.4 VALOR..................................................................................................................47
3.5 REGRAS...............................................................................................................49

4 CONCLUSÃO.........................................................................................................53

5 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS................................................................56


xi

RESUMO

Este trabalho apresenta inicialmente a seguridade social bem como o


histórico da proteção social, onde este anseia a proteção do economicamente
insuficiente, bem como os princípios norteadores da seguridade social, conhecendo
os riscos de algumas atividades desenvolvidas no meio social oferecendo uma certa
segurança ao carente. No ano de 1919, houve a necessidade de criar as
Organizações Internacionais do Trabalho, que dispunha sobre a obrigação de um
programa de previdência social. Em contra partida a Constituição de 1824, já
versava sobre o tema da seguridade social, porem só com a Constituição Federal de
1934, inclui em seu texto a palavra previdência. Com o advento da Constituição
Federal de 1988 positivou em seu texto a seguridade social visando proporcionar a
sociedade à proteção a saúde, a previdência social e a assistência social. O
beneficio de prestação continuada, está conexo ao pagamento mensal de um salário
mínimo aos beneficiários, sendo eles, deficientes que sejam incapazes para
atividade laboral e ao idoso com 65 anos ou mais que não tenham meio para se
manter e nem família que os sustentem, sendo que este benefício é intransferível.
Em pesquisa doutrinária não houve entre os doutrinadores divergências sobre o
beneficio de prestação continuada, em contra partida na jurisprudencial há
entendimentos diversos, pois, em cada caso a ser analisado possuem
peculiaridades diferentes.

Palavras chave: Previdência Social, Assistência Social e Benefício de Prestação


Continuada.
xii

ABSTRACT

This paper first presents the social security as well as the history of social
protection, where it longs to protect the economically poor, and the guiding principle
of social security, knowing the risks of some activities undertaken in the social
environment offering some security to the needy. In 1919, there was a need to create
the International Organization of Labor, which had about the obligation of a welfare
program. By contrast the Constitution of Brazil of 1824, already was about the theme
of social welfare, but only with the Constitution of 1934, includes in its text the word
welfare. With the advent of the 1988 Federal Constitution in its text the positive social
security company aiming to provide health protection, social security and social
assistance. The benefit of continuous provision is related to the monthly payment of
minimum wages to the beneficiaries, and they, the disabled who are unable to work
activity and the elderly aged 65 or older who have no means to maintain and sustain
the family or, and this benefit is not transferable. In research there were no doctrinal
differences between scholars about the benefits of providing continuous, in departure
from the jurisprudential understandings different because in each case to be
analyzed have different peculiarities.

Keywords: Welfare, Social Welfare and Benefit Continued.


1

INTRODUÇÃO

A presente monografia aborda a “Assistência Social no Brasil: Benefício de


Prestação Continuada (LOAS)”.

Tem-se como objeto da presente pesquisa, a análise doutrinária sobre a


assistência social no Brasil, no que compete ao benefício de prestação continuada
instituído pela lei orgânica da assistência social (LOAS). Desta feita, objetiva-se
estudar o histórico da seguridade social para descobrir a origem do assistencialismo
brasileiro; analisar os desdobramentos da seguridade social, ou seja, a saúde, a
previdência social e a assistência social; observar as características para a
concessão do benefício, bem como os beneficiários, o valor, as regras, entre outros
fatores.

Dentre tantos benefícios proporcionados pela seguridade social, o presente


estudo teve como motivação saber quem podia receber o benefício de prestação
continuada, e quais os requisitos exigidos pela lei brasileira para a sua concessão,
abordando a doutrina cabível para esta temática.

Desta forma, a delimitação do tema desta monografia ocorre com o estudo da


assistência social, desvendando o benefício de prestação continuada inserido na Lei
Orgânica da Assistência Social.

Neste sentido, utilizar-se-á o método dedutivo, que se inicia do geral para o


específico. Durante todo o estudo desta monografia foi utilizada uma metodologia
baseada em pesquisa bibliográfica, partindo-se de trechos escritos por autores da
área, usando a legislação relacionada ao tema, com intuito de garantir o bom
desenvolvimento da pesquisa, bem como a finalização desta.

Ademais, nas fases dessa pesquisa utilizou-se as Técnicas da Pesquisa


Bibliográfica, conservando-se as palavras e idéias dos autores por meio da citação
direta e da paráfrase.
2

Para seguir uma ordem na pesquisa foi dividindo o estudo em três capítulos:
Seguridade Social, Seguridade Social: saúde, assistência social e previdência social,
e para finalizar Assistência social: benefício de prestação continuada (LOAS).

O capítulo inicial aborda a seguridade social, apresentando um breve estudo


sobre o histórico da proteção social, como também o histórico constitucional, após
isso demonstra a denominação de seguridade social, e por fim o conceito de
seguridade social.

O segundo capítulo explicita-se a seguridade social no que compete nos seus


desdobramentos em saúde, assistência social e previdência social, apresentando
rapidamente as características de cada elemento, como conceito, requisitos, custeio,
sujeitos (beneficiários) entre outros. Faz-se isso, uma breve explanação por cada
tópico conter material suficiente para escrever uma monografia, e como o presente
estudo enfoca a assistência social, foram apresentadas algumas características da
saúde, da previdência social e da assistência social.

O terceiro e capítulo, mostra a assistência social, mais especificamente o


benefício de prestação continuada. Para iniciar se voltou ao estudo mais detalhado
sobre a assistência social, para complementar o que foi visto no capítulo anterior,
para depois adentrar no benefício de prestação continuada, explicitando sua origem
e conceito, bem como os beneficiários, os documentos necessários para a
concessão deste benefício, o valor recebido pelos beneficiários, e por fim as regras
ou os requisitos para a concessão do benefício de prestação continuada.

Para finalizar a presente monografia, apresenta-se as Considerações Finais,


onde são abordados os pontos conclusivos do estudo, com uma breve retrospectiva
do que foi analisado.
3

1 SEGURIDADE SOCIAL

Abordar-se-á neste capítulo o histórico da proteção social, sua denominação


e seu conceito, para a posteriori explorar com mais clareza o instituto da assistência
social.

1.1 HISTÓRICO DA PROTEÇÃO SOCIAL

Em épocas remotas já se pode vislumbrar um esboço de medidas


assistenciais e da previdência social, reconhecendo-se nelas um anseio protetivo ao
economicamente insuficiente, como também nota-se o princípio norteador da
solidariedade social, prevendo-se certos riscos de algumas atividades desenvolvidas
na sociedade, proporcionando uma certa segurança ao carente. Observa-se que as
medidas adotadas não tinham um intuito protetor, visando a proteção do cidadão,
mas sim foram tidas como um passo inicial para a seguridade social.1
De acordo com Feijó Coimbra, sobre a proteção social na Antigüidade várias
foram às tentativas em textos legais, de:

[...] um gradual e constante predomínio do egoaltruísmo sobre o


egoísmo, ou seja, a admissão, dia a dia aperfeiçoada, do sentido da
responsabilidade social pelos danos que vulneram os membros da
mesma coletividade, compreendendo-se que tais danos sempre na
sociedade se refletirão. Como nos lembra Oscar Saraiva, as
primeiras manifestações de proteção social se assinalam em épocas
recuadas, pois em Teofrasto (228 a. C.) encontra-se referência à
associação existente na Hélade, cujos membros contribuíram para
um fundo, à conta do qual era prestado socorro aos contribuintes que
viessem a ser atingidos pela adversidade. Em Roma existiram
associações de finalidades similares, dedicadas à proteção de seus
membros, como refere Jefferson Daiber, ao lado de instituições de
caridade (Cód. De Teodósio – 1.15.17.19 e 22 – De Sacros Eccles)
chamadas brephotrophium, orphanotrophium, gerontocomium,
xenodochium, nosocomium. Mas também quanto ao trabalhador
ativo é possível achar texto que cogitava da sua proteção. Senão no

1
COIMBRA, Feijó. Direito Previdenciário Brasileiro. 11. ed. Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas, 2001. p. 1-
2.
4

direito de Roma, ao menos na Lei Lombarda, que incorporava a


magnitude do edifício jurídico romano, o Édito de Rotário, vê-se a
mais antiga concepção da responsabilidade patronal pelo acidente
de trabalho, dando-se o primeiro passo para descartar a idéia de
culpa do fundamento da reparação devida por dano decorrente de
atividade laboral, como anota Litala.2

Desta feita, iniciar o estudo sobre as origens da seguridade social,


compreendida pela proteção à Previdência Social é uma tarefa árdua. Vista em seu
todo, a seguridade social teve como primeira normatização orgânica o Plano
Beveridge. Assim, na Roma Antiga, têm-se as linhas iniciais sobre a proteção social:

Desse modo, por exemplo, é conhecido de todos que as


aposentadorias integram parte de um sistema em que se pretende a
preservação da seguridade social. E as primeiras “aposentadorias”,
no sentido como são conhecidas modernamente foram concedidas
aos veteranos dos exércitos, nos antigos tempos romanos. Como
forma de agradecimento pelos serviços prestados ao Império, era-
lhes concedida uma propriedade, de onde poderiam tirar a sua
subsistência. No entanto, quando se encontrava escassa a
possibilidade de se oferecer propriedade, esta era substituída por
uma renda em dinheiro, que subsistia enquanto vivesse o
beneficiário. É claro que aqui encontramos uma origem bem ampla
diante de um conceito mais restrito atualmente fornecido às
aposentadorias. No entanto, embora estejamos diante de uma
medida, dentre várias outras, de proteção social – ainda que
contemplada apenas determinada categoria de pessoas - , não se
pode dizer que, na Roma do Império.3

Nesta linha de raciocínio, não só Roma como também a Grécia traçaram as


linhas mestras na proteção social em relação ao homem. Por meio das instituições
mutualista que objetivavam prestar assistência a sua coletividade, com a devida
contribuição para ajudar os necessitados. Desta feita, a família romana prestava
assistência aos seus membros, e mais a frente na Idade Média, surgiram as
corporações profissionais que contribuíram para a criação dos seguros sociais.4
Corroborando com isso, ainda na Roma Antiga, a família romana tinha
obrigação de dar assistência aos servos e clientes, através do pater famílias,
prestando com a contribuição de seus membros socorro aos necessitados. Já os

2
COIMBRA, Feijó. Direito Previdenciário Brasileiro. 11. ed. Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas, 2001. p. 2.
3
CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de Direito da Seguridade
Social. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 2.
4
ARAÚJO, Francisco Carlos da Silva. Seguridade social . Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1272, 25 dez.
2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9311>. Acesso em: 11 nov. 2009.
5

soldados do exército romano, recolhia parte do seu salário para receberem em suas
aposentadorias um pedaço de terra e as economias.5

Da Grécia para Roma surgiram as associações denominadas de


collegia ou sadalitia formadas por pequenos produtores e artesãos
livres, igualmente, com caráter mutualista, constituídas de no mínimo
três indivíduos que contribuíram periodicamente para um fundo
comum, cuja destinação principal estava voltada para os custos dos
funerais dos seus associados.
Na Idade Média, assistimos à proliferação de instituições de proteção
social; mas, todas de cunho mutualista, ou seja, circunstanciadas a
determinados grupos – em regra organizações profissionais – com o
objetivo de prestar ajuda mútua a seus integrantes, razão pela qual
ainda não podemos falar propriamente de esquemas de proteção
social, de cunho universal.6

Ao longo da história da civilização tem-se o aparecimento da seguridade


social, ocorrendo o conseqüente aprimoramento da previdência social e de serviços
assistenciais. Neste sentido, a obrigatoriedade no custeio deste sistema foi a
maneira mais adequada na operacionalização da seguridade social, ocorrendo
desde os primórdios da história da sociedade. Destaca-se, para tanto, a
obrigatoriedade da assistência aos pobres instituída por Carlos Magno durante a
Idade Média.7
Tem-se como em 1344, a primeira notícia de preocupação com o infortúnio,
acontecendo neste ano o primeiro contrato de seguro marítimo, e a posteriori a
cobertura contra riscos de incêndio. Ainda sobre o histórico da seguridade social,
tem-se as confrarias que:

[...] eram as associações com fins religiosos, que envolviam


sociedade de pessoas da mesma categoria ou profissão, tendo por
finalidade objetivos comuns. Quando tinham características
religiosas, também eram chamadas de guildas. Seus associados
pagavam taxas anuais, visando ser utilizadas em caso de velhice,
doença, pobreza.
Em 1601, a Inglaterra editou a Poor Relief Act (lei de amparo aos
pobres), que instituía a contribuição obrigatória para fins sociais,
consolidando outras leis sobre assistência pública. O indigente tinha
direito de ser auxiliado pela paróquia. Os juízes da Comarca tinham o
poder de lançar um imposto de caridade, que seria pago por todos os

5
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p.3.
6
VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de Direito Previdenciário. 2. Ed. São Paulo: LTr Editora, 2007. p.
23.
7
CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de Direito da Seguridade
Social. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 2.
6

ocupantes e usuários de terras, e nomear inspetores em cada uma


das paróquias, visando receber e aplicar o imposto arrecadado.8

Na linha da história, a assistência pública e a beneficência, tinham oscilações


de amplitude, comandadas pelas políticas de cada país, até chegar a Revolução
Francesa (1789) e a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, onde obtém a
pedra fundamental da seguridade social moderna. Observa-se que o objetivo social
continuava o mesmo:

[...] a segurança do homem ante os riscos da vida. A diferença,


entretanto, residia em que pela Declaração, o auxílio prometido
passava a ser uma dívida da sociedade, do que decorria,
limpidamente, ser proclamado “direito do cidadão”. Reconhecido que
fosse tal direito pela legislação, instaurada estaria a era da
seguridade social, pois se teria no rol dos direitos do homem,
juridicamente protegidos, o de ser amparado pelo Estado em todas
as situações de necessidade, derivadas de um risco social. Era
evidente, entretanto, que ao legislador de então faltariam condições
de empenhar-se a fundo nessa obra de redenção, pois que, caso o
fizesse, colocar-se-ia às testilhas com os princípios fundamentais da
economia liberal, vazada em profundo individualismo, que se
acabava de implantar. Tudo o que, no anseio de amparar o
economicamente débil, se viesse então a pretender, com base em
uma ação estatal, valeria, aos olhos dos pregoeiros da economia
liberal, por aumentar a área de ação do Estado, acrescendo as
despesas públicas, criando novos encargos para fazer face aos
gastos com as medidas de proteção. Uma ação dessa índole revelar-
se-ia adversa ao pensamento dominante, de que o Estado deveria
eximir-se de intervir na vida econômica, pois “em el mundo
económico, como em el natural, todo marcha espontaneamente”.9

Neste sentido, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, teve como


um dos objetivos demonstrar que a seguridade social é direito de todos, tornando
universal o sistema. Várias outras leis traçam o mesmo espírito da universalização
social, como em 1883 com Otto Von Bismarck na Alemanha:

[...] surge o primeiro sistema de seguro social. Envolvia seguro-


doença, seguro de acidentes do trabalho, seguro de invalidez e
proteção à velhice, mediante contribuição do Estado, dos

8
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p.3-4.
9
COIMBRA, Feijó. Direito Previdenciário Brasileiro. 11. ed. Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas, 2001. p. 5-
6.
7

empregados e dos empregadores, iniciando-se aí a tríplice forma de


custeio, em prática até hoje.10

Com isso Instituiu-se o sistema tríplice de custeio da seguridade social, que


se constitui de empregadores, empregados e Estado. Assim, no modelo
bismarckiano os trabalhadores abrem mão de uma parte do seu salário para colocar
num fundo, sendo este usado quando houvesse necessidade para arcar com saúde,
renda para quem não pudesse mais trabalhar, e para desempregados. Destaca-se
que quem usufruía desta proteção social deveria obrigatoriamente contribuir para
tanto, pois sem contribuição não existia benefícios. Esse sistema:

[...] irradiou para todo o continente europeu. Na França se criou, em


1898, norma de assistência à velhice e a acidentes do trabalho. Na
Inglaterra, a proteção foi ampliada. Em 1907 se criou um seguro
obrigatório contra acidentes de trabalho. Passou a viger o princípio
da responsabilidade objetiva do empregador, no qual este era
responsabilizado pelo infortúnio, independentemente de ter
concorrido com culpa para o acidente, ficando obrigado ao
pagamento da indenização ao obreiro. Em 1908, conceberam-se
pensões aos maiores de 70 anos, independentemente de
contribuição. Em 1911 foi instituído o National Insurance Act,
iniciando-se na Inglaterra o sistema tríplice de custeio: empregador,
empregado e Estado.11

Entretanto, com a extinção das corporações os trabalhadores


economicamente desprovidos sofriam com a ganância dos empregadores. Em
virtude disso, a Santa Sé visando a proteção aos empregados, editou a encíclica
Rerum Novarum, em 1891 pelo Papa Leão XIII, questionando a intervenção estatal.
Sobre a encíclica destaca-se o trecho abaixo:

Assim como por todos estes meios o Estado pode tornar-se útil às
diversas classes, pode igualmente melhorar muitíssimo a sorte da
classe operária e isto em todo o rigor do seu direito e sem ter a temer
a censura de ingerência indébita, pois que, em virtude mesmo do seu
ofício, o Estado deve servir o interesse comum. E é evidente que,
quanto mais se multiplicarem as vantagens resultantes desta ação de
ordem geral, tanto menos necessidade haverá de recorrer a outros
expedientes para remediar a condição dos trabalhadores.12

10
VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de Direito Previdenciário. 2. Ed. São Paulo: LTr Editora, 2007. p.
23.
11
TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de Direito da Seguridade Social. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p.
6.
12
CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de Direito da Seguridade
Social. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 6.
8

Na continuidade apresenta-se brevemente o histórico constitucional sobre a


previdência social no mundo.

1.2 HISTÓRICO CONSTITUCIONAL

A primeira Constituição a dispor sobre o seguro social foi a do México, em


1917. Depois em 1918 a Constituição soviética assegurava os direitos
previdenciários aos cidadãos. Em 1919 a Constituição de Weimar da Alemanha,
abordava direitos que o Estado tinha que proporcionar aos cidadãos, como o da
subsistência. No mesmo ano foi criada a OIT (Organização Internacional do
Trabalho), que dispunha sobre a necessidade de um programa de previdência
social. Já os Estados Unidos com o New Deal, visava combater a miséria, além do
desemprego e a velhice. E só em 1935 obteve-se o Social Security Act, com a
aprovação no Congresso dos Estados Unidos, servindo como ajuda aos idosos e
com o auxílio-desemprego aos temporariamente desempregados.13

A despeito de já existir um sistema de Seguridade Social, somente


houve irradiação dessas idéias para outros continentes a partir do
famoso Relatório Beveridge, em 1942, na Inglaterra. Em meio às
agruras da ocupação de Londres, pelos nazistas, o Lord Beveridge
idealizou um sistema universal de proteção social, tendo por como
fundamento a proteção do berço ao túmulo. Uma proteção básica,
suficiente para que o trabalhador e sua família pudessem sobreviver
sem maiores desconforto, o período de desemprego, doença, morte
etc. As idéias contidas no famoso Relatório Beveridge foram
adotadas, em 1946, na Inglaterra.
É necessário realçar neste momento a diferença entre modelo
bismarckiano (1883) e o beveridgeano (1942), uma vez que esses
dois sistemas foram adotados em todo o mundo. O beveridgeano é
universal, protege todos os cidadãos. Por outro lado, o modelo
bismarckiano nada mais é que um seguro social, protegendo
somente aqueles que contribuem para o sistema. Quem não tem
disponibilidade financeira fica excluído.14

13
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 4-5.
14
TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de Direito da Seguridade Social. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p.
7.
9

Nesta linha de raciocínio, tem-se as palavras de Sergio Pinto Martins,


discorrendo sobre os objetivos do Plano Beveridge:

[...] (a) unificar os seguros sociais existentes; (b) estabelecer o


princípio da universalidade, para que a proteção se estendesse a
todos os cidadãos e não apenas aos trabalhadores; (c) igualdade de
proteção; (d) tríplice forma de custeio, porém com predominância do
custeio estatal. O Plano Beveridge era universal e uniforme. Visava
ser aplicado a todas as pessoas e não apenas a quem tivesse
contrato de trabalho, pois o sistema de então não atingia quem
trabalhava por conta própria. Isso dava a idéia da universalidade do
sistema. Objetivava proporcionar garantia de renda às pessoas,
atacando a indigência. Assim, deveria ser adiada a idade da
aposentadoria. Deveria haver amparo à infância e proteção à
maternidade. Os princípios fundamentais do sistema eram:
horizontalidade das taxas de benefícios de subsistência,
horizontalidade das taxas de contribuição, unificação da
responsabilidade administrativa, adequação dos benefícios,
racionalização e classificação.
Inspirado no Relatório Beveridge, o governo inglês apresentou, em
1944, um plano de previdência social, que deu ensejo à reforma do
sistema inglês de proteção social, que foi implantado em 1946.15

Destarte, aconteceu um exagero do Estado sobre as políticas particulares,


levando a várias despesas, ocorrendo um retrocesso em algumas situações,
lembrando que o contexto neoliberal em que o Estado atuava como interventor como
também patrocinador das políticas sociais.16
Sob esta perspectiva surgiram críticas, em virtude de problemas com a
implementação das políticas sociais relacionadas ao “Estado de Bem-Estar”, pois se
observou não alcançar-se tal estado em diversos países que o adotaram. Como
reação, nota-se:

[...] o modelo previdenciário vislumbrado na política do bem-estar


social, o Welfare State, vem sendo substituído, em diversos países,
por um outro, no qual o principal fundamento é a poupança
individual, sem a centralização dos recursos das contribuições em
órgãos estatais. Países da América Latina, como Chile – precursor
desta nova modalidade de previdência -, Peru, Argentina, Colômbia,
Uruguai, Venezuela, Equador e Bolívia, vêm adotando a privatização
da gestão previdenciária, uns mantendo a presença estatal em níveis
mínimos, outros deixando totalmente ao encargo da iniciativa privada
a questão da poupança previdenciária. O México, um dos primeiros
países da América a ter regras previdenciárias, acabou por sofrer

15
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 5.
16
PEREIRA, Cláudia Fernanda de Oliveira. Reforma da Previdência. Brasília: Brasília Jurídica, 1999. p. 23.
10

profundas alterações no seu regime previdenciário, por lei de


dezembro de 1995, cuja vigência se deu em janeiro de 1997.
Em alguns países do Leste Europeu também há notícia de que
houve adoção de regimes mistos, à semelhança do modelo
argentino, fundado em “dois pilares”: “um regime público compulsório
baseado na repartição, financiado por empregadores e assalariados
e, regime capitalizado como segundo pilar, constituído por fundos de
pensão privados de capitalização individual a cargo dos
assalariados”, estes últimos de natureza compulsória na Hungria, e
parcialmente compulsória, na Polônia.17

No Brasil, várias foram as Constituições que abordaram o tema da seguridade


social, iniciando-se com a Constituição de 1824, que constituía a instituição de
socorros públicos. Já em 1835 criou-se o Montepio Geral dos Servidores do Estado,
e no Código Comercial instituiu a remuneração aos comerciantes acidentados
durantes três meses. A Constituição de 1891 apresentou a palavra aposentadoria
em seu bojo, para os trabalhadores em caso de invalidez. E foi em 1923, com a Lei
Eloy Chaves que se introduziu a Previdência Social, criando-se a caixa de
aposentadoria e pensão dos ferroviários. Em 1934, a Constituição abarcou a palavra
previdência, visando a proteção ao trabalhador, à gestante, ao idoso e ao inválido,
surgindo também a tríplice forma de custeio social, com a contribuição obrigatória. A
Constituição de 1937 modificou a palavra previdência por seguro social e não trouxe
maiores novidades. Com a Constituição de 1946 tem-se a expressão previdência
social, tendo agora o empregador de contribuir com o seguro contra acidentes de
trabalho. A sexta Constituição dispôs que cada novo benefício criado deveria
obrigatoriamente indicar a fonte do custeio. Por último a Constituição de 1988, que
positivou a Seguridade Social, com intuito de proporcionar a todos a proteção à
saúde, previdência social e assistência social.18
Desta feita, a Constituição Cidadã de 1988 aponta a estrutura da seguridade
social, integrando o poder público e a sociedade.19
Neste afã, cita-se o trecho que segue:

Pelo ângulo da legislação ordinária, vários progressos e regressos


foram observados. (...)

17
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de, LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 7. ed. rev.
São Paulo: LTr Editora, 2006. p. 47-48.
18
TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de Direito da Seguridade Social. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p.
8-9.
19
VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de Direito Previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 26.
11

 em 1990, o Instituto Nacional de Previdência Social – INPS e o


Instituto de Administração Financeira da Previdência Social – IAPAS
fundiram-se num só instituto: o Instituto Nacional do Seguro Social –
INSS (Lei nº 8.029, de 12-4-90 e Decreto nº 99.350, de 27-6-90); (...)
 em 1991, foram sancionadas a Lei nº 8.212, de 24-7-91 (que
dispõe sobre a organização da Seguridade Social e institui os Planos
de Custeio) e a Lei nº 8.213, de 24-7-91 (que dispõe sobre planos de
benefícios da Previdência Social), regulamentadas, respectivamente,
pelos Decretos nº 356/91 e 357/91, publicados em Diário Oficial da
União, de 9-12-91. (...)
 publicada a Emenda Constitucional nº 20, de 15-12-98, que
modifica o sistema de previdência social, estabelece normas de
transição e dá outras providencias;
 publicado, em 12-5-99, o Decreto nº 3.048, de 6-5-99, que
aprova o regulamento da previdência social;
 publicada, em 29-11-99, a Lei nº 9.876, de 26-11-99, que criou
o denominado “fator previdenciário”. (...)
 promulgada a Emenda Constitucional nº 41, de 19-12-03, que
modificou normas do sistema previdenciário do servidor público;
 promulgada a Emenda Constitucional nº 45, de 31-12-04, que
ratificou alteração de regras relativas à competência da Justiça do
Trabalho e Justiça Federal; (...)20

A seguir explicita-se brevemente a denominação da expressão seguridade


social.

1.3 DENOMINAÇÃO DE SEGURIDADE SOCIAL

Antes de adentrar especificamente a denominação do título deste capítulo,


convém explicar o significado da expressão seguridade social: “Conjunto integrado
de ações e iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar
os direitos relativos à saúde, à previdência e a assistência social.”21
Na concepção de Sidou a Seguridade Social é o “[...] conjunto integrado de
ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os
direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.”22
Já Dinis dá um conceito mais amplo sobre a seguridade social:

20
GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de Direito Previdenciário. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 6-8.
21
Dicionário Jurídico. Organizador Deocleciano Torriei Guimarães; coordenadora Sandra Julien Miranda. 3.
ed. São Paulo: Rideel, 1999. p. 166.
22
Dicionário Jurídico. Planejado organizado e redigido por J.M. Othon Sidou. 10. ed. Rio de Janeiro: Forese
universitária, 2009.
12

1. É o conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos


e da sociedade, destinado a assegurar o direito relativo à saúde, à
previdência e à assistência social. A seguridade social obedece os
seguintes princípios e diretrizes: a) universalidade da cobertura e do
atendimento; b) uniformidade e equivalência dos benefícios e
serviços as populações urbanas e rurais; c) seletividade e
distributividade na prestação dos benefícios e serviços; d)
irredutibilidade do valor dos benefícios, de forma a preserva-lhe o
poder aquisitivo; e) equidade na forma de participação no custeio; f)
diversidade da base de financiamento; g) caráter democrático e
descentralizado da gestão administrativa com participação da
comunidade em especial de trabalhadores, empresários e
aposentados.23

Como comentado no item anterior, a denominação aparece pela primeira vez


na Constituição Brasileira de 1988, aonde acontece a distinção entre direito do
trabalho e direito da seguridade social. Assim, este último abrange a saúde, a
previdência e a assistência social. Assim a expressão seguridade social demonstra
preocupação com o futuro, e ainda:

É de se ressaltar que a atual Constituição, ao se referir à segurança,


foi clara no sentido de se utilizar da expressão “segurança pública”,
envolvendo a polícia, para a preservação da ordem pública (art. 144
da Lei Maior). Quando o Estatuto Supremo quis se referir à
seguridade, e não à segurança, empregou a expressão “seguridade
social”, tal qual se observa nos arts. 194 a 204.
Lembre-se de que a idéia essencial da Seguridade Social é dar aos
indivíduos e a suas famílias tranqüilidade no sentido de que, na
ocorrência de uma contingência (invalidez, morte etc.), a qualidade
de vida não seja significativamente diminuída, proporcionando meios
para a manutenção das necessidades básicas dessas pessoas.
Logo, a Seguridade Social deve garantir os meios de subsistência
básicos do indivíduo, não só mas principalmente para o futuro,
inclusive para o presente, independentemente de contribuições para
tanto. Verifica-se, assim, que é uma forma de distribuição de renda
aos mais necessitados, que não tenham condição de manter a
própria subsistência.24

Para tanto, a Constituição Federal discrimina em seu art. 194 dispõe sobre o
conceito de seguridade social e seus princípios, no que se cita:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de


ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas

23
Dinis, Maria Helena. Dicionário Jurídico. 2. ed. rev., atual e aum. São Paulo: Saraiva, 2005.
24
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 19.
13

a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à


assistência social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei,
organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:
I - universalidade da cobertura e do atendimento;
II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às
populações urbanas e rurais;
III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e
serviços;
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;
V - eqüidade na forma de participação no custeio;
VI - diversidade da base de financiamento;
VII - caráter democrático e descentralizado da administração,
mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores,
dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos
colegiados.25

Na continuação, apresenta-se o conceito de seguridade social, com intuito de


esclarecer o tema e iniciar os fundamentos para o próximo capítulo.

1.4 CONCEITO DE SEGURIDADE SOCIAL

Conceituar a expressão seguridade social não é tarefa simples, pois o


conteúdo jurídico mutável pelo decorrer dos anos e pelas diferentes perspectivas
jurídicas e políticas torna-se difícil a conceituação. Sendo assim, sob a óptica das
perspectivas política e jurídica tem-se:

a) Perspectiva política – Sob essa perspectiva, a seguridade social


tem em primeiro plano e como finalidade a proteção da necessidade
social, ou seja, estende-se a toda a sociedade e tem como principal
prestador o Estado, em missão fundamental.
b) Perspectiva jurídica – Quanto à perspectiva jurídica, refere-se esta
ao meio ou instrumento com que se pretende almejar a finalidade de
proteção às necessidades sociais, por meio de uma organização
normativa instrumental e das relações jurídicas decorrentes.
c) Em face da sociedade atual – Dessarte, pode-se, hoje, afirmar que
o conceito de seguridade social equivalente à Previdência Social
(destinada, apenas, à prestação dos chamados seguros sociais) está
ultrapassado, cedendo lugar a uma noção assistencial, que supera
todas as deficiências contidas na estrutura da Previdência Social,
inclusive o mecanismo clássico do seguro privado. Portanto, a

25
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acessado
em 11/11/2009.
14

seguridade social passa a ser concebida como “um instrumento


protetor, garantindo o bem-estar material, moral e espiritual de todos
os indivíduos da população, abolindo todo o estado de necessidade
social em que possam se encontrar”. Trata-se, na nossa
Constituição, de noção que inclui a previdência, a assistência e a
saúde.26

De acordo com Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari, a


seguridade social abrange um conjunto dos poderes públicos e da sociedade
especificamente nas áreas da saúde, assistência social e previdência, conforme a
Constituição Federal, organizada pelo Sistema Nacional que compreende os “[...]
conselhos setoriais, com representantes da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Municípios e da sociedade civil.”27
Neste sentido, a seguridade social também é entendida como um conjunto de
princípios que integram um sistema de proteção social aos cidadãos contra as
intempéries que impeçam-nos de prover seus próprios sustento, com o intuito de
garantir os direitos em relação à saúde, à assistência social e à previdência. Contem
a seguridade seus próprios princípios, sendo a maioria descrita no parágrafo único
do artigo 194 da Constituição Federal. Sobre as regras a:

[...] Seguridade Social inúmeras regras que versam sobre a matéria.


A maioria delas está contida nas Leis n. 8.212/91 e 8.213/91 e suas
alterações. O Poder Executivo ainda expede decretos, que são os
regulamentos das leis, além de portarias, ordens de serviço,
instruções normativas, circulares, etc.
No Direito da Seguridade Social não existe um conjunto de princípios
e normas, mas também de instituições, de entidades, que criam e
aplicam o referido ramo do Direito. Nas mãos do Estado está
centralizado todo o sistema de seguridade social, que organiza o
custeio do sistema e concede os benefícios e os serviços. O órgão
incumbido dessas determinações é o INSS, autarquia subordinada
ao Ministério da Previdência e Assistência Social. No próprio
Ministério da Previdência e Assistência Social há outras instituições,
como o Conselho Nacional de Seguridade Social, o Conselho de
Recursos da Previdência Social etc. Há, ainda, o Ministério da
Saúde, que implementa a política de saúde no país. Assim, temos
instituições, entidades, algo que perdura no tempo. Não se trata de
institutos, que seriam o conjunto de regras referentes a uma mesma
matéria.28

26
CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de Direito da Seguridade
Social. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 15-16.
27
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 7. ed. rev.
conforme as Emendas Constitucionais e a legislação em vigor até 10/1/2006. São Paulo: LTr, 2006. 141.
28
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 20.
15

Desta forma, reforça-se a idéia que a seguridade social corresponde a um


conjunto de ações dos poderes públicos e da sociedade, visando assegurar saúde,
previdência social e assistência social aos indivíduos. Este conceito no Brasil adveio
com a Constituição Brasileira de 1988. Assim, todos os cidadãos têm direito aos
benefícios que a seguridade social abarca, além de ter o dever de contribuição,
mantendo a solidariedade entre gerações. Essa idéia:

[...] que orientou as políticas sociais após a Segunda Guerra Mundial


nos países mais desenvolvidos e transformou aquelas sociedades
em Estados de Bem-Estar Social (welfare state). Importa consignar
que esse resultado não foi conseqüência da ação do mercado, mas
sim de uma atitude deliberada das sociedades através do apoio à
intervenção do Estado. Foi essa sem dúvida a base sobre a qual se
assentou o desenvolvimento econômico e social das sociedades
mais evoluídas.29

Neste afã, amparar os necessitados e suas famílias quando estes não podem
se sustentar por alguma intempérie é o objetivo primordial da seguridade social.
Infelizmente, a remuneração e a assistência médica ambas vinculadas a seguridade
dependem de contribuição social. A verdadeira idéia da seguridade social:

[...] em que a pessoa tem direito a benefícios ou serviços, sem


necessariamente ter contribuído para o sistema. No entanto, não é o
que se observa na Constituição, pois em relação à Previdência
Social é preciso contribuição por parte do próprio segurado (art. 201),
mas em relação à Assistência Social é desnecessária tal contribuição
(art. 203). Mostra-se, assim, um contra-senso dentro do sistema
adotado pela nossa Lei Maior.
É, portanto, bastante ampla a Seguridade Social, podendo até
mesmo confundir-se com um programa de governo, um programa de
política social. Na verdade, o interessado tem de suportar suas
próprias necessidades, Apenas quando não possa suportá-las, é que
subsidiariamente irá aparecer a Seguridade Social para ajudá-lo. O
preâmbulo da Constituição francesa, de 27-9-1946, mostra, v. g., que
todo ser humano que, em razão de sua idade, estado físico ou
mental, esteja incapacitado para o trabalho, tem direito de obter da
coletividade os meios convenientes de existência.30

Conforme Wladimir Novaes Martinez, ao criar as normas da seguridade


social, o legislador esqueceu-se de explicitar sobre a sua efetivação:

29
ARAÚJO, Francisco Carlos da Silva. Seguridade social . Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1272, 25 dez.
2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9311>. Acesso em: 12 nov. 2009.
30
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 20-21.
16

[...] por falta de definição política e reconhecida incapacidade de


efetivamente atender as diretrizes constitucionais da ambiciosa
matéria. Seguridade social é uma técnica de proteção social
avançada em relação à Previdência Social, capaz de integrá-la com
a assistência social e incorporar as ações de saúde. Mas, mais
ainda, é um esforço nacional extraordinário no sentido de um amplo
atendimento à população, obreira ou não, empenho cujos objetivos
estão a distância.31

No próximo capítulo tratar-se-á sobre um dos desmembramentos da


seguridade social, a assistência social, observando seu conceito, objetivos e
princípios.

31
MARTINEZ, Wladimir Novaes. CD – Comentários à Lei Básica da Previdência Social. Brasília: LTr, Rede
Brasil, 1999.
17

2 SEGURIDADE SOCIAL:
SAÚDE, ASSISTÊNCIA SOCIAL E PREVIDÊNCIA SOCIAL

O capítulo inicial da presente monografia dentre outros aspectos aborda o


conceito de seguridade social, sendo por vezes repetitivo na definição deste pela
simplicidade apresentada no texto da Lei. Desta forma, após a apresentação prévia
desse conceito, convém dispor sobre a organização da seguridade social:

A Seguridade Social, segundo o conceito ditado pela ordem jurídica


vigente, compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa
dos poderes públicos e da sociedade nas áreas da saúde,
previdência e assistência social, conforme previsto no Capítulo II do
Título VIII da Constituição Federal, sendo organizada em Sistema
Nacional, que é composto por conselhos setoriais, com
representantes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios e da sociedade civil.32

Neste afã, a seguridade social abarca o art. XXV da Declaração Universal dos
Direitos Humanos quando dita que:

Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a


si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação,
vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais
indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego,
doença, invalidez, viuvez, velhice, ou outros casos de perda dos
meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.

Assim, este segundo capítulo da monografia abordará a organização da


seguridade social, no que compete a saúde, a assistência social e a previdência
social, especificamente dispondo sobre os conceitos apresentados na doutrinas e
legislação vigente.

32
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 7. ed. rev.
Conforme as Emendas Constitucionais e a legislação em vigor até 10.1.2006. São Paulo: LTr, 2006. p.141.
18

2.1 A SAÚDE

Primeiramente convém explicitar o conceito da palavra saúde, que advém do


adjetivo latino saulus, e significa inteiro, já o verbo salueo tem como significado estar
são. Para a Organização Mundial de Saúde o conceito expressa uma situação de
inteiro bem-estar físico e mental do ser humano. Nesta linha:

[...] o conceito de saúde depende de condicionamentos mais amplos


do que o simples estado individual de estar são. São
condicionamentos biológicos (sexo, idade, herança genética), o meio
físico (ocupação territorial, alimentação), socioeconômico e cultural
(níveis de emprego e renda, educação e lazer, liberdade etc).
Dessa forma, a saúde não consiste no simples fornecimento de
assistência médica e de medicamentos, como comumente se tem
entendido. Envolve programas de medicina preventiva, o controle de
doenças infecciosas e parasitárias, por meio do acesso aos
programas de habitação e saneamento básico; o combate à
desnutrição ou subnutrição, mediante o acesso a adequados níveis
de renda.33

Diante deste conceito, a saúde deve compreender três categorias, quais


sejam: prevenção; que tem como intuito de evitar doenças e abarca a vigilância
sanitária e epidemiológica; proteção; recuperação, que visa reintegrar o trabalhador
ao serviço e é feita pelos serviços sociais e pela reabilitação social.34
Ademais, a saúde foi o tema que possivelmente sofreu as maiores alterações
no texto constitucional, uma vez que assegura a todos o direito à saúde sem
privilégios em todo o território brasileiro em caso de contração de doenças. Tais
serviços são dispostos em igualdade para todo e qualquer cidadão brasileiro,
quando há necessidade deles. Assim, aborda-se a prevenção de doenças e
restauração da saúde em uma rede hierarquizada e regionalizada de serviços
prestados a população através de um sistema único.35
A Constituição Federal dispõe sobre a saúde nos arts. 196 e seguintes,
indicando as diretrizes, atribuições entre outros, no que se cita:

33
TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de Direito da Seguridade Social. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
p.393.
34
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24. ed. 2. reimpr. São Paulo: Atlas, 2007. p. 502.
35
COIMBRA, Feijó. Direito Previdenciário Brasileiro. 11. ed. Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas, 2001.
p.57-58.
19

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido


mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do
risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde,
cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua
regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser
feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa
física ou jurídica de direito privado.
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede
regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único,
organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades
preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;
III - participação da comunidade.
§ 1º. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art.
195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes.
§ 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
aplicarão, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde
recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais calculados
sobre:
I - no caso da União, na forma definida nos termos da lei
complementar prevista no § 3º;
II - no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da
arrecadação dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos
de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II,
deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos
Municípios;
III - no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da
arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos
de que tratam os arts. 158 e 159, incisoI, alínea b e § 3º.
§ 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco
anos, estabelecerá:
I - os percentuais de que trata o § 2º;
II - os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde
destinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, e dos
Estados destinados a seus respectivos Municípios, objetivando a
progressiva redução das disparidades regionais;
III - as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas
com saúde nas esferas federal, estadual, distrital e municipal;
IV - as normas de cálculo do montante a ser aplicado pela União.
§ 4º Os gestores locais do sistema único de saúde poderão admitir
agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias
por meio de processo seletivo público, de acordo com a natureza e
complexidade de suas atribuições e requisitos específicos para sua
atuação.
§ 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico e a regulamentação
das atividades de agente comunitário de saúde e agente de combate
às endemias.
§ 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do art. 41 e no § 4º do art.
169 da Constituição Federal, o servidor que exerça funções
equivalentes às de agente comunitário de saúde ou de agente de
20

combate às endemias poderá perder o cargo em caso de


descumprimento dos requisitos específicos, fixados em lei, para o
seu exercício.
Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.
§ 1º - As instituições privadas poderão participar de forma
complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste,
mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência
as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.
§ 2º - É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou
subvenções às instituições privadas com fins lucrativos.
§ 3º - É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou
capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos
casos previstos em lei.
§ 4º - A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a
remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de
transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta,
processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo
vedado todo tipo de comercialização.
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras
atribuições, nos termos da lei:
I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de
interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos,
equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos;
II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem
como as de saúde do trabalhador;
III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;
IV - participar da formulação da política e da execução das ações de
saneamento básico;
V - incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico
e tecnológico;
VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de
seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo
humano;
VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte,
guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e
radioativos;
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o
do trabalho.36

Desta forma, os arts. 196 a 200 da Constituição Federal foram


regulamentados pela Lei n. 8.080/1990, que estabeleceu a Lei Orgânica da Saúde,
ressaltando o já disposto no texto constitucional sobre a saúde ser um direito
fundamental do ser humano. Neste caso, levanta-se a natureza securitária da saúde,
já que:

[...] dá-se proteção à pessoa pelo fato de ser pessoa, ausentes


indagações de ordem social, jurídica etc. Considerando que a saúde,
por definição legal, é “direito”, há de existir o correlato “dever” de

36
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal. 1988.
21

alguém. Esse “dever” é atribuído ao Estado (lato sensu). É o Estado


quem tem o dever de prover condições indispensáveis ao exercício
cabal do direito à saúde.
Na área da saúde, a atividade estatal não se limita ao ataque às
doenças. Antes, mais importante, é evitá-las. Por isso que, nos
termos da lei, as ações sanitárias envolvem outros fatores e
condicionantes, dentre os quais a alimentação, a moradia, o
saneamento básico, a preservação do meio ambiente, a renda, a
educação, o transporte, o lazer e o acesso a serviços e bens
essenciais.37

Sobremais, a Constituição Federal tornou universal o acesso à saúde,


independente de contribuição à seguridade social, transformando a saúde em um
direito de todos e um dever do Estado. A prestação deste serviço ocorre diretamente
através do poder público, ou por terceiros, por pessoa física ou jurídica de direito
privado, já que a assistência a saúde é livre para a iniciativa privada, desde que
cumpridos os requisitos constitucionais, quais sejam:

[...] 1. acesso universal e igualitário;


2. provimento das ações e serviços através de rede regionalizada e
hierarquizada, integrados em sistema único;
3. descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
4. atendimento integral, com prioridade para as atividade preventivas;
5. participação da comunidade na gestão, fiscalização e
acompanhamento das ações e serviços a saúde;
6. participação da iniciativa privada na assistência à saúde,
obedecidos os preceitos constitucionais.38

Ainda sobre a Constituição Federal, o art. 196 esclarece que a saúde é um


direito de todos e um dever do Estado, indicando assim os titulares de tal direito,
tendo o Estado o dever de prestação de serviços relativos à saúde. Denota-se como
objetivo o de:

[...] reduzir os riscos com doenças. A saúde é garantida mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doença e outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações
e aos serviços para sua promoção, proteção e recuperação. O dever
do Estado não exclui das pessoas, da família, das empresas e da
sociedade. O direito à saúde é um direito fundamental do ser
humano.
O art. 2º da Lei nº 8.212 dispõe que a saúde é direito de todos e
dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas
que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao

37
GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de Direito Previdenciário. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 16.
38
VIANNA, João Ernesto Aragonês. Curso de Direito Previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 29.
22

acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para sua


promoção, proteção e recuperação.
A ação do Estado deve ser preventiva e curativa, de recuperar a
pessoa.39

Sobre a competência em matéria da saúde, a Constituição Federal dita que é


responsabilidade de todos os entes da Federação, União, Estados, Distrito Federal e
Municípios. Como competência tem-se a:

[...] não legislativa (executiva) exclusiva da União (art. 21); a


competência legislativa privativa da União (art. 22); a competência
comum não legislativa da União, Estados, Distrito Federal e
Municípios (art. 23); a competência legislativa concorrente da União,
Estados e Distrito Federal (art. 24); a competência suplementar dos
Estados e Municípios (arts. 24, § 2º, e 30, II, respectivamente).
A competência não legislativa (executiva) privativa da União
relaciona-se à organização, manutenção e execução da inspeção do
trabalho (art. 21, XXIV). No tocante à competência legislativa
privativa da União, cabe ao ente federativo legislar sobre Seguridade
Social (at. 22, XXIII).
A competência não legislativa (executiva) comum dos entes
federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) na
proteção da saúde e assistência pública encontra-se disposto no art.
23, III.
A competência legislativa concorrente está prevista no art. 24, no
qual se encontra disposto que compete à União, aos Estados e ao
Distrito Federal legislar sobre “proteção do meio ambiente e controle
da poluição” (art. 24, VI), “previdência social, proteção e defesa da
saúde” (art. 24, XII).
No âmbito da competência legislativa concorrente, cabe à União
estabelecer normas gerais. No caso da saúde isso foi realizado por
meio da Lei Orgânica da Saúde (Lei n. 8.080/90).
A norma geral deve traçar diretrizes para todo o País. Traça a
moldura, enquanto a legislação estadual suplementar serve para o
preenchimento de lacunas, se existirem, de forma a amoldá-las às
peculiaridades locais ou regionais.40

No que compete ao financiamento da saúde, como esta integra a seguridade


social uma contribuíra para a outra, mas não com exclusividade. Desta forma, as
ações e serviços públicos da saúde são geridos pelo SUS, que recebe verbas da
União, Estados, Distrito Federal e Municípios, pois como a competência é comum,
todos devem contribuir para o financiamento. Assim a União contribui por meio do

39
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24. ed. 2. reimpr. São Paulo: Atlas, 2007. p. 502.
40
TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de Direito da Seguridade Social. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
p.402-403.
23

orçamento da seguridade social e os outros entes pelos seus orçamentos


respectivos. Há também outras fontes de financiamentos.41
Para tanto, o orçamento da seguridade social ficará destinado ao SUS,
conforme renda estimada, bem como:

[...] os recursos necessários à realização de suas finalidades,


previstos em proposta elaborada pela sua direção nacional, com
participação dos órgãos de Previdência Social e da Assistência
Social, tendo em vista as metas e as prioridades estabelecidas na Lei
de Diretrizes Orçamentárias.
Outras fontes de recursos poderão servir para ajudar no
financiamento do sistema, como:
a. serviços que possam ser prestados sem prejuízo da
assistência à saúde;
b. ajuda, contribuições, doações e donativos;
c. alienações patrimoniais e rendimentos de capital;
d. taxas, multas, emolumentos e preços públicos arrecadados no
âmbito do SUS;
e. rendas eventuais, inclusive comerciais e industriais. [...]
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão,
anualmente, em ações e serviços públicos de saúde, recursos
mínimos derivados da aplicação de porcentuais calculados sobre:
a. no caso da União, na forma definida nos termos da lei
complementar;
b. no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da
arrecadação dos impostos a que se refere o art. 155 da Lei Maior e
dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e
inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos
respectivos Municípios;
c. no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da
arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos
de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º da
Constituição.42

Cabe destacar que, a Constituição Federal almeja colocar a disposição de


toda a população os serviços médicos aos necessitados, vista agora como um
direito e não mais como caridade. “Ponto de importância é o em que se determina
ao legislador ordinário a elaboração de regras disciplinando o transplante de órgãos
e a pesquisa, vedando, contudo, a comercialização.”43
No próximo tópico tratar-se-á brevemente da assistência social, no que
compete ao seu conceito, custeio e competência.

41
VIANNA, João Ernesto Aragonês. Curso de Direito Previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 30.
42
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24. ed. 2. reimpr. São Paulo: Atlas, 2007. p. 504-
505.
43
COIMBRA, Feijó. Direito Previdenciário Brasileiro. 11. ed. Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas, 2001.
p.58
24

2.2 ASSISTÊNCIA SOCIAL

Convém iniciar a breve explanação sobre assistência social com seu conceito,
sendo esta um conjunto de regras que visa estabelecer uma política social aos
hipossuficientes, através das atividades estatais e particulares, que independem de
contribuição e concede pequenos serviços e benefícios.44
Para tanto, convém citar o texto constitucional, no que compete ao assunto
assistência social:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,


independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por
objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à
velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de
deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa
portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir
meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua
família, conforme dispuser a lei.
Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social
serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social,
previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base
nas seguintes diretrizes:
I - descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e
as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos
respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a
entidades beneficentes e de assistência social;
II - participação da população, por meio de organizações
representativas, na formulação das políticas e no controle das ações
em todos os níveis.
Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal
vincular a programa de apoio à inclusão e promoção social até cinco
décimos por cento de sua receita tributária líquida, vedada a
aplicação desses recursos no pagamento de:
I - despesas com pessoal e encargos sociais;
II - serviço da dívida;
III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos
investimentos ou ações apoiados.45

De acordo com o art. 203 da Constituição Federal, a assistência social está


disponível a população independente de contribuição à seguridade social, tendo

44
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24. ed. 2. reimpr. São Paulo: Atlas, 2007. p. 482.
45
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal. 1988.
25

como objetivos a proteção a família, a maternidade, a infância, a adolescência, a


velhice, bem como as crianças e adolescentes carentes, entre outros. Assim, a
iniciativa privada é chamada para contribuir na assistência social.46
No terceiro capítulo da presente monografia, abordar-se-á outras
características da assistência social, especialmente o benefício de prestação
continuada.
Apresenta-se, na continuação, a última modalidade da Seguridade Social, a
Previdência Social.

2.3 PREVIDÊNCIA SOCIAL

Antes de adentrar a análise deste tópico, convém explicitar que se fará uma
breve explanação sobre algumas características da previdência social, já que o tema
é de vasta abrangência.
Assim a previdência social é o terceiro e último tópico deste capítulo, cabendo
destacar o significado desta expressão, que deriva do verbo prever e tem como
sinônimo a palavra antever. Desta feita, independentemente do que se adote o que
importa é ver antecipadamente a situação que pode acontecer a posteriori.47
Desta forma, tem-se a previdência social como um segmento da seguridade
social, constituído de regras com intuito de estabelecer um sistema de proteção
social, com caráter contributivo, contendo como objetivo proporcionar “[...] meios
indispensáveis de subsistência ao segurado e a sua família, contra contingências de
perda ou redução da sua remuneração, de forma temporária ou permanente, de
acordo com a previsão legal.”48
Para Nair Lemos Gonçalves, sobre o conceito de previdência social tem-se “O
evidente propósito de, antecipadamente, reunir recursos dos interessados e
organizar mecanismos que pudessem e possam atender a contingências sociais
prováveis e futuras.”49

46
VIANNA, João Ernesto Aragonês. Curso de Direito Previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 35.
47
GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de Direito Previdenciário. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 23-27.
48
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24. ed. 2. reimpr. São Paulo: Atlas, 2007. p. 280.
49
GONÇALVES, Nair Lemos. Iniciação ao Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1985. P. 431.
26

Segundo o art. 201 da Constituição Federal dispõe:

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime


geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados
critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá,
nos termos da lei, a:
I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade
avançada;
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante;
III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos
segurados de baixa renda;
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou
companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º.
§ 1º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a
concessão de aposentadoria aos beneficiários do regime geral de
previdência social, ressalvados os casos de atividades exercidas sob
condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física
e quando se tratar de segurados portadores de deficiência, nos
termos definidos em lei complementar.
§ 2º Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o
rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao
salário mínimo.
§ 3º Todos os salários de contribuição considerados para o cálculo
de benefício serão devidamente atualizados, na forma da lei.
§ 4º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-
lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios
definidos em lei.
§ 5º É vedada a filiação ao regime geral de previdência social, na
qualidade de segurado facultativo, de pessoa participante de regime
próprio de previdência.
§ 6º A gratificação natalina dos aposentados e pensionistas terá por
base o valor dos proventos do mês de dezembro de cada ano.
§ 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência
social, nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições:
I - trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de
contribuição, se mulher;
II - sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de
idade, se mulher, reduzido em cinco anos o limite para os
trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exerçam suas
atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o
produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal.
§ 8º Os requisitos a que se refere o inciso I do parágrafo anterior
serão reduzidos em cinco anos, para o professor que comprove
exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério
na educação infantil e no ensino fundamental e médio.
§ 9º Para efeito de aposentadoria, é assegurada a contagem
recíproca do tempo de contribuição na administração pública e na
atividade privada, rural e urbana, hipótese em que os diversos
regimes de previdência social se compensarão financeiramente,
segundo critérios estabelecidos em lei.
§ 10. Lei disciplinará a cobertura do risco de acidente do trabalho, a
ser atendida concorrentemente pelo regime geral de previdência
social e pelo setor privado.
27

§ 11. Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão


incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e
conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da
lei.
§ 12. Lei disporá sobre sistema especial de inclusão previdenciária
para atender a trabalhadores de baixa renda e àqueles sem renda
própria que se dediquem exclusivamente ao trabalho doméstico no
âmbito de sua residência, desde que pertencentes a famílias de
baixa renda, garantindo-lhes acesso a benefícios de valor igual a um
salário-mínimo.
§ 13. O sistema especial de inclusão previdenciária de que trata o §
12 deste artigo terá alíquotas e carências inferiores às vigentes para
os demais segurados do regime geral de previdência social.50

Da mesma forma, cita-se o art. 1º da Lei nº 8.213:

A Previdência social, mediante contribuição, tem por fim assegurar


aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por
motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada,
tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de
quem dependiam economicamente.51

Assim, a previdência social é organizada na forma do regime geral, contendo


caráter contributivo e filiação obrigatória, e dá cobertura aos elementos doença,
morte, invalidez, idade avançada, maternidade, desemprego involuntário, salário-
família, auxílio-doença e pensão por morte. Como visto anteriormente, a
universalidade da cobertura só é aplicada no caso da previdência social, para o
segurado que efetivamente contribui.52
Cabe destacar alguns benefícios que a previdência social oferece aos seus
segurados, desde que cumpridos os requisitos legais, que são: salário-maternidade,
salário-família, auxílio-reclusão e seguro desemprego. O primeiro teve no passado
natureza trabalhista:

[...] evidenciada pelo seu caráter salarial e ônus do empregador


(vindo daí o nome salário-maternidade), tem, no atual ordenamento
jurídico, natureza previdenciária, eis que seu encargo econômico é
suportado pela Previdência Social. Trata-se, portanto, de benefício
previdenciário substitutivo (porque seu valor não pode ser inferior ao
salário-mínimo), embora atípico ou extravagante, já que, objetivando
a proteção do mercado de trabalho da mulher, foge à função
essencial de proteção contra os riscos sociais, na sua concepção

50
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal. 1988.
51
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213cons.htm acessado em 11/05/2010.
52
VIANNA, João Ernesto Aragonês. Curso de Direito Previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 31.
28

clássica. Outrossim, o salário-maternidade, de lege lata, é o único


benefício previdenciário do RGPS sobre o qual incide contribuição
previdenciária (art. 28, § 2º, Lei 8.212/91). [...]
O salário-família, muito embora não tenha natureza substitutiva da
remuneração do segurado (podendo, por isso mesmo, ter valor
inferior ao salário mínimo), tem caráter nitidamente alimentar,
evidenciado no auxílio à manutenção da família do segurado de
baixa renda. A despeito disso, não se incorpora, para qualquer efeito,
ao salário ou benefício (art. 70, Lei 8.213/91 – LBPS). [...]
O auxílio-reclusão, como a pensão por morte, encontra-se na
algibeira normativa dos benefícios destinados aos dependentes do
segurado, de sorte que apenas estes possuem legitimidade para
pleiteá-lo (art. 80, LBPS): o segurado recluso é parte ilegítima para
requerer a concessão de auxílio-reclusão, devendo o processo ser
extinto sem julgamento de mérito (art. 267, VI, do CPC).
Nos termos do art. 201, IV, CF/88 (redação dada pela EC nº 20/98),
a concessão do auxílio-reclusão é restrita aos dependentes do
segurado de baixa renda. Entenda-se por baixa renda o segurado
que não recebe salário mensal superior a R$ 360,00, limite este que
será corrigido pelos mesmos índices aplicados aos benefícios do
RGPS (art. 13, EC 20/98). A partir de maio de 2005, a remuneração
mensal não pode ser superior a R$ 623,44 (art. 5º, Pt 822/05). Esse
valor é auferido pelo último salário-de-contribuição do segurado
existente antes de sua prisão e tem como parâmetro o limite vigente
nessa data. Por exemplo, a prisão de segurado com renda mensal de
R$ 450,00, ocorrida em março de 2000, quando estava em vigor a Pt
5.188/99, que definia o limite de R$ 376,60, não enseja direito algum
ao benefício, nem mesmo a partir da Pt 727/03, que definiu o limite
de R$ 560,00, pois o limite a ser considerado é aquele da data da
prisão. [...]
O Regime Geral de Previdência Social – RGPS não se esgota na Lei
8.213/91 – LBPS, nem no INSS. A situação de desemprego
involuntário, que também é uma das modalidades dos denominados
riscos sociais, prevista nos arts. 7º, II, e 201, II, CF/88, é objeto de
legislação específica: principalmente a Lei 7.998/90, que regula o
seguro-desemprego, o abono salarial e o Fundo de Amparo ao
Trabalhador – FAT. O abono salarial (art. 9º) não tem natureza
previdenciária, por que dispensamos sua análise neste trabalho. O
seguro-desemprego, por outro lado, tem natureza de benefício
previdenciário, sendo custeado pelo FAT, fundo contábil, de natureza
financeira e vinculado ao Ministério do Trabalho (art. 10).53

Como dito anteriormente, o não segurado não tem direito aos benefícios da
previdência social, não se aplicando nesse caso o princípio da universalidade de
cobertura e atendimento. Para tanto, mesmo aqueles que não desempenham
atividade remunerada podem contribuir para o sistema e usufruir dos benefícios
previstos em lei. A partir disso, tem-se duas categorias de segurados, os segurados

53
SOMARIVA, Maria Salute; DEMO, Roberto Luis Luchi. Benefícios previdenciários e seu regime
jurídico. Salário-família, salário-maternidade, auxílio-reclusão e seguro-desemprego. Jus Navigandi,
Teresina, ano 10, n. 1099, 5 jul. 2006. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8599>. Acesso em: 11 maio 2010.
29

obrigatórios, que percebem remuneração, e os segurados facultativos, que não


exercem atividade economicamente remunerada.54
Encontra-se a classificação de beneficiários do regime geral da previdência
social os segurados e os dependentes, conforme art. 10 da Lei nº 8.213/1991, não
havendo no entanto, distinção entre trabalhadores urbanos e rurais por força de
texto constitucional. Os segurados obrigatórios estão dispostos no art. 11 da mesma
Lei, sendo mencionados como “obrigatoriamente segurados”: o empregado, o
empregado doméstico, o contribuinte individual, o trabalhador avulso, e o segurado
especial. Já o art. 12 da lei anteriormente citada dita como excluídos da condição de
beneficiários o:

[...] o servidor civil ocupante de cargo efetivo ou militar da União, dos


Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como os das
respectivas autarquias e fundações, que estejam submetidos a
regime próprio de previdência social. Defini-se regime ou sistema
próprio de previdência social aquele que assegura aos seus
beneficiários os direitos estabelecidos no art. 4055 da Constituição
Federal. Isto é, aquele que estabelece direito à aposentadoria e à
pensão.56

Destaca-se que a condição de dependente é aquela pessoa que necessita de


recursos pra sobreviver, dependendo do segurado, sendo o elemento caracterizador
o econômico. Tal dependência não precisa ser total, pode ser parcial. Desta feita, o
dependente:

[...] adquire o direito previdenciário de motu proprio. Motu proprio


exprime “tudo aquilo que se move por si mesmo, sem qualquer
influência estranha”. Significa dizer que não é ele (dependente)
herdeiro ou sucessor, relativamente ao direito previdenciário, do
segurado. Diz-se, em razão disso, que a aquisição desse direito é
personalíssima. Portanto, intransferível e intransmissível. Perdendo a
qualidade de dependente (pela aquisição da maioridade, por
exemplo), a cota-parte desse dependente é rateada entre os demais
beneficiários-dependentes. Não havendo mais nenhum beneficiário-
dependente, o benefício desaparece do mundo jurídico (Lei nº

54
TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de Direito da Seguridade Social. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p.
211.
55
“Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e
solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas,
observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo.” Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm acessado em 10/05/2010.
56
GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de Direito Previdenciário. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 32.
30

8.213/91, art. 77, §3º). A vocação previdenciária é diferente da


vocação hereditária (do Direito Civil), posto que não se caracteriza a
figura do herdeiro ou do sucessor.57

No que compete à manutenção da qualidade de segurado, por ter caráter


contributivo, o mesmo deve continuar pagando as contribuições mensalmente,
entretanto, o art. 1558 da Lei nº 8.213/1991 institui o período de graça, que significa a
manutenção da qualidade de segurado independente de contribuição. Ademais, a
perda da qualidade de segurado não importa na privação de todos os direitos, uma
vez que o parágrafo único do art. 24 da Lei citada expõe que:

[...] as contribuições anteriores a essa data serão computadas para


efeito de carência; mas, somente depois que o segurado contar, a
partir da nova filiação à previdência social, com, no mínimo 1/3 do
número de contribuições exigidas para o cumprimento da carência
definida para o benefício a ser requerido.
O art. 3º da Lei n. 10.666/03 determina que a perda da qualidade de
segurado não será considerada para a concessão das
aposentadorias por tempo de contribuição e especial e, na hipótese
de aposentadoria por idade, a perda da qualidade de segurado não
será considerada para a concessão desse benefício, desde que o
segurado conte com, no mínimo, o tempo de contribuição
correspondente ao exigido para efeito de carência na data do
requerimento do benefício. A carência da aposentadoria por idade
será de 180 contribuições, para os segurados inscritos na
previdência social a partir de 25 de julho de 1991, ou a fixada na
tabela do art. 142 da Lei n. 8.213/91, para os segurados inscritos
anteriormente a essa data.59

57
GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de Direito Previdenciário. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 33.
58
“Art. 15. Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições:
I - sem limite de prazo, quem está em gozo de benefício;
II - até 12 (doze) meses após a cessação das contribuições, o segurado que deixar de exercer atividade
remunerada abrangida pela Previdência Social ou estiver suspenso ou licenciado sem remuneração;
III - até 12 (doze) meses após cessar a segregação, o segurado acometido de doença de segregação
compulsória;IV - até 12 (doze) meses após o livramento, o segurado retido ou recluso;
V - até 3 (três) meses após o licenciamento, o segurado incorporado às Forças Armadas para prestar serviço
militar;
VI - até 6 (seis) meses após a cessação das contribuições, o segurado facultativo.
§ 1º O prazo do inciso II será prorrogado para até 24 (vinte e quatro) meses se o segurado já tiver pago mais de
120 (cento e vinte) contribuições mensais sem interrupção que acarrete a perda da qualidade de segurado.
§ 2º Os prazos do inciso II ou do § 1º serão acrescidos de 12 (doze) meses para o segurado desempregado, desde
que comprovada essa situação pelo registro no órgão próprio do Ministério do Trabalho e da Previdência Social.
§ 3º Durante os prazos deste artigo, o segurado conserva todos os seus direitos perante a Previdência Social.
§ 4º A perda da qualidade de segurado ocorrerá no dia seguinte ao do término do prazo fixado no Plano de
Custeio da Seguridade Social para recolhimento da contribuição referente ao mês imediatamente posterior ao do
final dos prazos fixados neste artigo e seus parágrafos.” Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213cons.htm acessado em 11/05/2010.
59
VIANNA, João Ernesto Aragonês. Curso de Direito Previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 216.
31

Cabe ressaltar, que a previdência social possui princípios e diretrizes próprias


que regem seu sistema como um todo, atenta-se para o art. 3º da Lei nº 8.212 e o
art. 2º da Lei nº 8.213/1991, que juntos compõem uma numerosa quantidade
de princípios, no que se cita:

[...] a. universalidade de participação nos planos previdenciários,


mediante contribuição.
Qualquer pessoa poderá participar dos benefícios da previdência
social, mediante contribuição na forma dos planos previdenciários
desde que contribua;
b. valor da renda mensal dos benefícios, substitutos do salário-de-
contribuição ou de rendimento do trabalho do segurado, não inferior
ao do salário mínimo;
c. cálculo dos benefícios, considerando-se os salários-de-
contribuição, corrigidos monetariamente;
d. preservação do valor real dos benefícios (§ 4º do art. 201 da
Constituição);
e. previdência complementar facultativa, custeada por contribuição
adicional;
f. uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às
populações urbanas e rurais (inciso II do art. 2º da Lei nº 8.213);
g. seletividade e distributividade na prestação dos benefícios (inciso
III do art. 2º da Lei nº 8.213).
h. irredutibilidade do valor dos benefícios de forma a preservar-lhes o
poder aquisitivo;
i. caráter democrático e descentralizado da administração, mediante
gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos
empregadores, dos aposentados e do governo nos órgãos
colegiados.
j. solidariedade. Os ativos contribuem para financiar os benefícios
dos inativos. A solidariedade social, até um certo valor, deve ser
obrigatória, pois, do contrário, não se pode falar na manutenção do
sistema de Previdência Social. A baixa renda do trabalhador o
impediria de contribuir se o sistema fosse voluntário, pois iria usar
todo o numerário para honrar seus compromissos.
k. a contrapartida é um princípio da Previdência Social, pois não há
beneficio sem custeio. Deve haver o custeio para o pagamento do
beneficio. Não pode haver contribuição sem benefício, nem benefício
sem contribuição. A contrapartida visa observar o equilíbrio
econômico-financeiro do sistema.60

Neste afã, a filiação no sistema da previdência social é automática junto ao


RGPS, desde que se exerça um trabalho remunerado e que ocorra a efetiva

60
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24. ed. 2. reimpr. São Paulo: Atlas, 2007. p. 489-
286.
32

proteção previdenciária. Já a inscrição é o cadastro do segurado e beneficiários


junto a Previdência Social, e a matrícula é o cadastro das pessoas jurídicas.61
Segundo João Ernesto Aragonês Vianna, não há que se confundir inscrição
com filiação. De acordo com o art. 20 do Decreto nº 3.038/1999 filiação é uma
relação jurídica que ocorre entre os contribuintes e a previdência social, tendo
ambos direitos e obrigações recíprocas. O segurado obrigatório tem sua filiação
automática diante do trabalho remunerado, e o segurado facultativo acontece com o
pagamento da primeira contribuição. Sobre a inscrição é o registro no cadastro da
previdência social. Desta feita, o art. 18 do Decreto anteriormente citado dita as
linhas mestras da inscrição do segurado da previdência social, havendo
necessidade de comprovação de dados cadastrais e ressaltando que:

A inscrição do segurado empregado e trabalhador avulso será


efetuada diretamente na empresa, sindicato ou órgão gestor de mão-
de-obra e a dos demais no INSS.
Deve ser observada a idade mínima de 16 anos para a inscrição do
segurado em qualquer categoria.
Nesse ponto, uma observação é importante. A consideração da
idade mínima deve levar em conta a legislação de regência à época
da prestação do serviço. Assim, para período anterior, é possível a
computação de tempo de serviço em função de idade menor do que
16 anos.62

Outro tema interessante é o cancelamento do benefício, que deve ter


embasamento num processo administrativo que verifica alguma irregularidade junto
ao INSS. Não restando comprovado em vias administrativa, restabelece-se o
benefício, sendo a via judicial cabível o Mandado de Segurança. Aponta-se para
esclarecer, os casos de cancelamento do benefício:

[...] a) o retorno ao trabalho em atividade nociva à saúde ou à


integridade física do segurado que percebe aposentadoria especial
(art. 57, §8º, da Lei n. 8.213/91; b) o reaparecimento do segurado
considerado falecido por decisão judicial que havia declarado morte
presumida (art. 78, §2º, da Lei n. 8.213/91); c) o retorno ao trabalho
do segurado aposentado por invalidez (art. 46 da Lei n. 8.213/91); d)
a verificação, pelo INSS, de concessão ou manutenção de benefício

61
CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de Direito da Seguridade
Social. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 152.
62
VIANNA, João Ernesto Aragonês. Curso de Direito Previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 217-218.
33

de forma irregular ou indevida (art. 11 da Medida Provisória n. 83, de


12.12.2002).63

Em relação ao salário-de-contribuição, tem-se a definição deste no art. 28 da


Lei 8.212/1991:

Art. 28. Entende-se por salário-de-contribuição:


I - para o empregado e trabalhador avulso: a remuneração auferida
em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos
rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante
o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua
forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de
utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer
pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição
do empregador ou tomador de serviços nos termos da lei ou do
contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou
sentença normativa;
II - para o empregado doméstico: a remuneração registrada na
Carteira de Trabalho e Previdência Social, observadas as normas a
serem estabelecidas em regulamento para comprovação do vínculo
empregatício e do valor da remuneração;
III - para o contribuinte individual: a remuneração auferida em uma ou
mais empresas ou pelo exercício de sua atividade por conta própria,
durante o mês, observado o limite máximo a que se refere o § 5o;
IV - para o segurado facultativo: o valor por ele declarado, observado
o limite máximo a que se refere o § 5o.

No entendimento de Augusto Massayuki Tsutiya, o §9º da Lei supracitada


dispõe sobre as verbas que não integram o salário-de-contribuição no caso do
segurado empregado e no trabalhador avulso, sendo verbas de caráter
indenizatório. Desta feita, apenas as verbas remuneratórias dão base ao salário-de
contribuição. Da mesma forma, o salário-maternidade e o décimo terceiro salário são
ditos como salário-de-contribuição. Sobre o valor do salário-de-contribuição há um
limite máximo fixado em R$ 3.038,99 (em março de 2008), e um limite mínimo que
corresponde ao salário mínimo vigente.64
No último capítulo abordar-se-á especificamente a assistência social, no que
compete ao benefício de prestação continuada (LOAS).

63
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 7. ed. rev.
Conforme as Emendas Constitucionais e a legislação em vigor até 10.1.2006. São Paulo: LTr, 2006. p.461.
64
TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de Direito da Seguridade Social. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p.
255.
34

3 ASSISTÊNCIA SOCIAL:
BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA (LOAS)

O capítulo finalizador da presente monografia retorna ao assunto assistência


65
social , visto brevemente no capítulo anterior, para explicitar o benefício de
prestação continuada, conhecido também como LOAS (Lei Orgânica da Assistência
Social).
No entanto, antes de adentrar ao benefício citado acima, convém relembrar
que a assistência social pode ser vista como um conjunto de atividades estatais e
particulares visando o atendimento ao hipossuficiente, tendo como bens oferecidos
aos beneficiários as prestações mínimas em dinheiro, o atendimento a saúde,
fornecer alimentos, entre outras. Desta forma, tem-se uma relação securitária e não
previdenciária, envolvendo pessoa jurídica e pessoa física no que compete a
proteção social. A diferença:

[...] maior reside na descrição legal do assistido, indivíduo com


características distintas do segurado ou contribuinte, no vínculo
jurídico e nas prestações.
Atendidos os preceitos normativos, subsiste direito subjetivo
constitucional à proteção. Diferentemente, na assistência social
privada, muitas vezes, depende da vontade do promotor.66

E ainda, a assistência social é uma política social que tem o intuito de


proteger sem ônus algum a família, a maternidade, a infância, a adolescência, a
velhice e aos deficientes físicos.67

A assistência social tem por objetivos a proteção à família,à


maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; amparo às
crianças e adolescentes carentes; a promoção da integração ao
mercado de trabalho; a habitação e a reabilitação das pessoas
portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida
comunitária e a garantia de 1 (um) salário mínimo de benefício
mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem

65
“Assistência social: proteção e auxílio que o Estado presta aos hipossuficientes sob o ponto de vista
econômico, educacional, jurídico etc.” GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico. 6.
ed. São Paulo: Rideel, 2004. p. 123.
66
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de Direito Previdenciário. 3 ed. São Paulo: LTr, 2005. Tomo I. p.
224-225.
67
TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. São Paulo: Editora Lumen Juris Ltda, 2005. p. 17.
35

não possuir meios de prover a própria manutenção ou tê-la provida


por sua família (art. 2º da Lei nº 8.742/93).68

Assim, convém destacar mais algumas características da assistência social


que conforme o art. 204 da Constituição Federal:

[...] as ações governamentais na área da assistência social serão


realizadas com recursos do orçamento da seguridade social,
previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base
na descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação
e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução
dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem
como a entidades beneficentes e de assistência social.69

Corroborando neste tema, cita-se Marco André Ramos Vieira:

A assistência social tem como diretriz a descentralização político-


administrativa, cabendo à esfera federal a coordenação e a
expedição de normas gerais, às esferas estadual e municipal e às
entidades beneficentes cabem a coordenação e execução dos
programas. Outra diretriz é a participação da população por meio das
organizações representativas na formulação de políticas e no
controle das ações.70

Desta feita, a assistência social ampliou a proteção aos necessitados, que


não são contemplados pela previdência social. A carência de recursos é o limite
para a concessão da assistência social, desde que se verifique o interesse da
pessoa. Para os deficientes físicos e idosos, que recebem o auxílio em moeda, a
condição para tal benefício de uma pensão mensal é a inexistência de outra fonte de
renda, que atenda suas necessidades. No que se cita:

O idoso – No artigo 203, V, a Carta Magna cria, em favor do idoso,


uma prestação de salário-mínimo mensal, desde que não disponha
de nenhuma fonte de renda, capaz de prover-lhe a manutenção. Da
legislação ordinária já consta uma prestação semelhante, instituída
pela Lei nº 6.179, de 1974, cujas disposições, contudo, são tímidas e
restritivas do direito do cidadão de proteger. Fixava-se a idade para a
concessão em setenta anos, e exigia-se vinculação previdenciária,
atual ou pretérita, admitidos diversos aspectos. A regra constitucional
refere-se ao idoso, permitindo que o legislador fixe idade mais baixa

68
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 14ª ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Impetus,
2009. p. 13.
69
VIANNA, João Ernesto Aragonês. Curso de Direito Previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 35.
70
VIEIRA, Marco André Ramos. Manual de Direito Previdenciário. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Impetus,
2002. p. 30.
36

para a concessão do amparo e não condiciona essa concessão a


nenhuma forma de vinculação previdenciária, realmente exigência
inadmissível, porque na realidade cuida-se de assistir, no que não
cabem referências à Previdência Social.
Deficientes – Igual prestação se concede ao deficiente físico.
Certamente o destinatário da prestação é o deficiente não amparado
pela Previdência Social e desprovido de outros meios de
subsistência. Quando tratamos [...] da aplicação da Lei nº 6.179,
lembramos ser ela fator de supressão da indigência, providência de
grande alcance social, trazendo o amparo aos que por alguma razão
estivessem desamparados da Previdência Social. E também nos
referimos [...] à proteção já dada a certos deficientes (as vítimas da
talidomida) pela Lei nº 7.070, de 1982. É evidente que a prestação
agora instituída pela Constituição é abrangente de qualquer forma de
deficiência física que gere incapacidade para o trabalho e não
amparada pelas leis previdenciárias. A lei ordinária poderá manter a
proteção especial para as vítimas da talidomida, que não se atrita
com o amparo generalizado agora instituído, o que foi deferida tendo
em vista diferentes graus de dependência. Em qualquer caso, porém,
a prestação deverá ser de um salário-mínimo.71

Cabe ressaltar, que a concessão do benefício proíbe a obtenção de outros


benefícios da seguridade social ou de outro regime, a única exceção é a assistência
médica. Assim entende-se como um benefício personalíssimo e que não se
transmite, sendo revisto a cada dois anos para uma avaliação. Caso ocorra qualquer
irregularidade será cancelado.72
Diante disso, a finalidade da assistência social não permite que qualquer
pessoa seja posta na condição de indigência, sem as mínimas condições de uma
existência digna. Para tanto, como um dos ramos do Sistema Nacional de
Seguridade Social está disciplinado pela Lei nº 8.742/1993, bem como a Lei nº
10.683/2003, criou o Ministério da Assistência Social que depois passou a vigorar
como Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.73
Outra finalidade da assistência social tem como objeto o socorro e o amparo
das necessidades vitais, da pessoa excluída socialmente. E o benefício destina-se a
programas de recuperação e a prevenção, como consultas médicas, prestações em
dinheiro e distribuição de remédios, entre outros.74

71
COIMBRA, Feijó. Direito Previdenciário Brasileiro. 11. ed. Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas, 2001.
p.59.
72
TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de Direito da Seguridade Social. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
p.439.
73
GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de Direito Previdenciário. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 21-22.
74
CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de Direito da Seguridade
Social. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 18-20.
37

Entretanto, entende-se como princípios que esse instituto destina-se a cobrir,


os descritos no art. 4º da Lei nº 8.742:

a. supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as


exigências de rentabilidade econômica. Verifica-se que o que importa
na assistência social é o atendimento às necessidades sociais;
b. universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário
da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas;
c. respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito
a benefícios e serviços de qualidade, bem como à conveniência
familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória
de necessidade;
d. igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem
discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às
populações urbanas e rurais;
e. divulgação ampla de benefícios, serviços, programas e projetos
assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público
e dos critérios para sua concessão (art. 4º da Lei 8.742). A
assistência social não tem característica universal, pois não atinge a
todos.75

Neste sentido, lembra-se que a forma de custeio da assistência social advém


do encargo da sociedade, ou seja, o art. 195 da CF dispõe que este instituto será
financiado por toda a sociedade, direta ou indiretamente, na forma da lei. Destaca-se
que as contribuições são extraídas da previdência social, dos orçamentos da União,
dos Estados e dos Municípios, além de taxas para entidade filantrópicas, isenções
em impostos, entre outras fontes.76
Ressalta-se que a assistência social está regulamentada pela Lei nº
8.742/1993, sendo que as prestações encontram-se divididas em benefícios e
serviços. O primeiro tem forma pecuniária e tem-se como exemplo a
prestação continuada, e os benefícios eventuais (auxílio natalidade e auxílio
morte). Já o segundo tem forma não pecuniária.77
Para finalizar, os serviços prestados pela assistência social visam a melhoria
de vida da população em ações continuadas, e dividem-se em: serviço social e
habilitação e reabilitação profissional. O primeiro tem como objeto esclarecer os
beneficiários sobre seus direitos sociais e como exercê-los, além de dar orientação
para os problemas sociais e familiares, celebrar convênios e credenciamentos. Já o

75
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24. ed. 2. reimpr. São Paulo: Atlas, 2007. p. 483.
76
GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de Direito Previdenciário. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 23-24.
77
TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. São Paulo: Editora Lumen Juris Ltda, 2005. p. 18.
38

segundo é prestado as pessoas deficientes que desde o nascimento sofrem


limitações, para qualificá-las e reabilitá-las para o trabalho.78
Na continuação apresenta-se o benefício de prestação continuada.

3.1 SOBRE O BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA

Convém expor inicialmente, a origem da denominação, que anteriormente em


1974 era chamada de amparo previdenciário, por força da Lei nº 6.179. Em seguida,
denominou-se renda mensal vitalícia, segundo o art. 139 da Lei nº 8.213/91 e por
fim, adquiriu a roupagem hoje utilizada na legislação vigente de benefício de
prestação continuada, em virtude do art. 20 da Lei nº 8.742.79
Sobre a origem histórica, tem-se nos tempos do Império que a escravidão
reinava sobre o Brasil e manchava a vida cívica da nação. Nos tempos atuais o que
impera é a desigualdade social, uma vez que grande parte da população vive abaixo
da linha da miséria e em virtude deste fato, a Constituição Federal traz em seu art.
3º, III, a erradicação da pobreza como um dos objetivos da República Federativa do
Brasil, sendo a assistência social o veículo para a realização deste, no que remete
ao art. 203 e 204 da CF.80
Ainda sobre as legislações:

A renda mensal vitalícia, principal benefício de assistência social, foi


criada pela Lei n. 6.170/74. Era devida ao maior de 70 anos ou ao
inválido que não exercesse atividade remunerada e que
comprovasse não possuir meios de prover sua própria subsistência
ou de tê-la provida por sua família. Nos termos do art. 139 da Lei n.
8.213/91, continuaria integrando o elenco dos benefícios da
previdência social até que fosse regulamentado o inciso V do art. 203
da Constituição Federal, o que finalmente ocorreu com a publicação
da Lei n. 8.742/93, a qual instituiu o benefício de prestação
continuada, no valor de um salário mínimo mensal, à pessoa
portadora de deficiência e ao idoso com 70 anos ou mais, desde que

78
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24. ed. 2. reimpr. São Paulo: Atlas, 2007. p. 489-
490.
79
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24. ed. 2. reimpr. São Paulo: Atlas, 2007. p. 489-
493.
80
TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de Direito da Seguridade Social. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p.
436.
39

comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção e


nem de tê-la provida por sua família. Referido benefício é conhecido
como LOAS, já eu instituído pela Lei de Organização da Assistência
Social.81

Da mesma forma, Sergio Pinto Martins corrobora para a evolução das leis, no
âmbito da assistência social, especialmente em relação ao benefício de prestação
continuada:

Foi instituída a renda mensal vitalícia pela Lei nº 6.179/74, tendo na


época o nome de “amparo previdenciário”. Alguns autores ainda se
utilizam dessa nomenclatura. Quando foi instituída pela Lei nº 6.179,
correspondia à metade do salário mínimo.
O amparo previdenciário era concedido ao maior de 70 anos ou
inválido, definitivamente incapacitado para o trabalho, que não
exercesse atividade remunerada ou tivesse rendimento superior ao
valor da renda mensal de 60% do valor do salário mínimo.
A renda mensal vitalícia é uma prestação de assistência social
prevista no inciso V, do art. 203, da Constituição. Referido comando
legal dispõe sobre a garantia de um salário mínimo de benefício
mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovar
não possuir meios de prover a própria manutenção ou tê-la provida
por sua família nos termos da lei.
O art. 139 da Lei nº 8.213 dispunha que a renda mensal vitalícia
continuaria integrando o elenco de benefícios da Previdência Social,
até que fosse regulamentado o inciso V do art. 203 da Constituição.
Era devida ao maior de 70 anos ou inválido que não exercessem
atividade remunerada, não auferindo qualquer rendimento superior
ao valor de sua renda mensal, nem fossem mantidos por pessoa de
quem dependessem obrigatoriamente, não tendo outro meio de
prover o próprio sustento. O valor do benefício era de um salário
mínimo. Seria vedada sua acumulação com qualquer espécie de
benefício do Regime Geral de Previdência Social ou de outro regime.
O art. 40 da Lei nº 8.742 dizia que com a implantação do benefício
de prestação continuada ficava extinta a renda mensal vitalícia. O art.
139 da Lei nº 8.213 perdeu eficácia a partir de 1º-1-96, quando houve
a implantação do benefício de prestação continuada, previsto nos
arts. 20 e 21 da Lei nº 8.742. O art. 15 da Lei nº 9.528/97 revogou o
art. 139 da Lei nº 8.213.
O Decreto nº 1.744, de 8-12-95, regulamenta o benefício de
prestação continuada devido a pessoa portadora de deficiência e a
idoso.82

Para explicitar o citado acima, transcreve-se os arts. 20 e 21 da Lei


8.742/1993:

81
VIANNA, João Ernesto Aragonês. Curso de Direito Previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 38.
82
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24. ed. 2. reimpr. São Paulo: Atlas, 2007. p. 489-
492-493.
40

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de 1 (um)


salário mínimo mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso
com 70 (setenta) anos ou mais e que comprovem não possuir meios
de prover a própria manutenção e nem de tê-la provida por sua
família.
§ 1oPara os efeitos do disposto no caput, entende-se como família o
conjunto de pessoas elencadas no art. 16 da Lei no 8.213, de 24 de
julho de 1991, desde que vivam sob o mesmo teto.
§ 2º Para efeito de concessão deste benefício, a pessoa portadora
de deficiência é aquela incapacitada para a vida independente e para
o trabalho.
§ 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa
portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per
capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo.
§ 4º O benefício de que trata este artigo não pode ser acumulado
pelo beneficiário com qualquer outro no âmbito da seguridade social
ou de outro regime, salvo o da assistência médica.
§ 5ºA situação de internado não prejudica o direito do idoso ou do
portador de deficiência ao benefício.
§ 6oA concessão do benefício ficará sujeita a exame médico pericial
e laudo realizados pelos serviços de perícia médica do Instituto
Nacional do Seguro Social - INSS.
§ 7oNa hipótese de não existirem serviços no município de residência
do beneficiário, fica assegurado, na forma prevista em regulamento,
o seu encaminhamento ao município mais próximo que contar com
tal estrutura.
§ 8oA renda familiar mensal a que se refere o § 3o deverá ser
declarada pelo requerente ou seu representante legal, sujeitando-se
aos demais procedimentos previstos no regulamento para o
deferimento do pedido.
Art. 21. O benefício de prestação continuada deve ser revisto a cada
2 (dois) anos para avaliação da continuidade das condições que lhe
deram origem.
§1º O pagamento do benefício cessa no momento em que forem
superadas as condições referidas no caput, ou em caso de morte do
beneficiário.
§2º O benefício será cancelado quando se constatar irregularidade
na sua concessão ou utilização.83

Neste sentido, o benefício de prestação continuada está relacionado ao


pagamento mensal de um salário mínimo ao deficiente que seja incapaz para o
trabalho e ao idoso com 65 anos de idade ou mais, que não tenham meios para se
manter, nem família que os sustente. Este benefício não é acumulável com qualquer
outro benefício da seguridade social, sendo possível o pagamento a mais de uma
pessoa da mesma família, desde que cumpridos os requisitos legais.84
No que concerne a assistência social, esta é direito de todo o cidadão e dever
do Estado, desde que cumpridos os requisitos legais, que visam garantir

83
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8742.htm acessado no dia 11/05/2010.
84
GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de Direito Previdenciário. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 23-24.
41

“[...] os mínimos sociais e ser realizada através de um conjunto integrado de ações


de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades
básicas da população.”85
Assim a luz da Constituição Federal, e com o advento da LOAS a assistência
social ganha visibilidade junto as esferas federais, estaduais e municipais, como
também junto a sociedade brasileira, estando todos interessados na implementação
da política assistencial no Brasil. No entanto, “[...] a questão da municipalização da
assistência e a da universalização dos direitos, ainda constituem pontos que
sugerem uma reflexão mais crítica, que traga à luz do debate, novas ambigüidades e
limites na implementação da lei.”86
Ademais, a descentralização da assistência social:

[...] e a participação da população na formulação das políticas sociais


são diretrizes privilegiadas na LOAS, assim como a universalização
dos direitos sociais e a igualdade no acesso aos serviços, figurando-
os como questões basilares.A descentralização é aqui entendida não
apenas no sentido de remanejamento de competências decisórias e
executivas, mas também de recursos financeiros e, introduzindo em
contrapartida, a participação da sociedade civil. Nesse enfoque a
LOAS estabelece como diretriz a descentralização política-
administrativa, transferindo para os Estados, Municípios e Distrito
Federal, o comando das ações de assistência social (cap. II, seção
II). Essa diretriz está presente em vários outros momentos da Lei,
incluindo a participação da população e entidades não
governamentais como participantes do processo decisório ao nível
local, estadual e nacional. O canal privilegiado para isso são os
Conselhos de Assistência: Nacional, Estadual, Distrito Federal e
Municipal, mediante a garantia de sua composição paritária formada
entre representantes do Governo e da Sociedade Civil. Por outro
lado há riscos da assistência ser prestada de forma clientelista e com
fins eleitorais em cada escalão de poder ou ainda, em nome de uma
parceria da sociedade civil com o Estado, atribuir-se à primeira, todos
os ônus financeiros e sociais, eximindo o Estado de sua real
responsabilidade enquanto gestor da política nacional de assistência.
Da mesma forma, a universalização dos direitos sociais da
população está presente enquanto princípio da LOAS (cap. II, seção
I), e em todos os seus desdobramentos, porém ela mascara várias
contradições contidas na própria.87

O benefício é intransferível e não gera direito a pensão por morte aos


herdeiros e sucessores, extinguindo-se com a morte do beneficiário. No entanto,

85
Disponível em: http://prattein.publier.com.br/texto.asp?id=113 acessado no dia 11/05/2010.
86
Disponível em: http://www.ssrevista.uel.br/c_v1n1_lei.htm acessado no dia 11/05/2010.
87
Disponível em: http://www.ssrevista.uel.br/c_v1n1_lei.htm acessado no dia 11/05/2010.
42

caso não seja recebido algum valor pelo beneficiário, este será pago diretamente
aos herdeiros. Convém explicitar os casos de cessação do benefício:

[...] I- superação das condições que lhe deram origem;


II- morte do beneficiário;
III- morte presumida do beneficiário, declarada em juízo;
IV- ausência declarada do beneficiário, na forma da lei civil;
V- falta de comparecimento do beneficiário portador de deficiência ao
exame médico pericial, por ocasião de revisão de benefício;
VI- falta de apresentação pelo idoso ou pela pessoa portadora de
deficiência da declaração de composição do grupo e renda familiar
por ocasião de revisão de benefício.88

A seguir explicita-se para quem o benefício de prestação continuação deve


ser concedido, segundo os ditames legais.

3.2 PARA QUEM?

Segundo Augusto Massayuki Tsutiya, a natureza jurídica do benefício da


prestação continuada, compõe-se de um benefício de natureza assistencial, que não
precisa de contribuição para a seguridade social, tendo como espécies o amparo
social ao idoso e o amparo social à pessoa deficiente.89
Válidos são os conceitos de Sergio Ferreira Pantaleão, que descreve:

[...] a) idoso: aquele com idade de 65 (sessenta e cinco) anos ou


mais;
b) pessoa portadora de deficiência (PPD): é aquela incapacitada
para a vida independente e para o trabalho, ou seja, aquela que
apresenta perdas ou reduções da sua estrutura, ou função
anatômica, fisiológica, psicológica ou mental, de caráter permanente,
em razão de anomalias ou lesões irreversíveis de natureza
hereditária, congênita ou adquirida, que geram incapacidade para
viver independentemente ou para exercer atividades, dentro do
padrão considerado normal ao ser humano, consoante estabelece a
súmula 29 da Turma Nacional de Uniformização dos JEFs;

88
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito Previdenciário. 14ª ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Impetus,
2009. p. 19.
89
TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de Direito da Seguridade Social. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p.
437.
43

c) incapacidade: fenômeno multidimensional que abrange limitação


do desempenho de atividade e restrição da participação, com
redução efetiva e acentuada da capacidade de inclusão social, em
correspondência à interação entre a pessoa com deficiência e seu
ambiente físico e social;
d) família: o conjunto de pessoas que vivam sob o mesmo teto,
assim entendido o cônjuge, o companheiro ou a companheira, os
pais, os filhos e irmãos não emancipados de qualquer condição,
menores de 21 (vinte e um) anos ou inválidos, e os equiparados a
filhos, caso do enteado e do menor tutelado (na forma do art. 16 da
Lei nº 8.213/1991);
e) família incapacitada de prover a manutenção da pessoa
portadora de deficiência ou idosa: aquela cujo cálculo da renda
per capita, que corresponde à soma da renda mensal bruta de todos
os seus integrantes, dividida pelo número total de membros que
compõem o grupo familiar, seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário
mínimo.
f) família para cálculo da renda per capita, conforme disposto no
§ 1º do art. 20 da Lei nº 8.742/1993: conjunto de pessoas que vivem
sob o mesmo teto, assim entendido, o requerente, o cônjuge, a
companheira, o companheiro, o filho não emancipado, de qualquer
condição, menor de 21 anos ou inválido, os pais, e o irmão não
emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido;
[...]90

Desta feita, a simples alegação da pessoa que não pode trabalhar, dizendo-
se deficiente, não é suficiente para a concessão do benefício Esta situação:

[...] pode, quando muito, gerar direito ao benefício previdenciário de


auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez, que exigem
contribuição.
A característica da deficiência, para os efeitos da Lei n.° 8.742/93 é,
além da incapacidade para o trabalho, a impossibilidade de vida
independente.
Ademais, consoante pontificou Luiz Alberto David Araújo, na obra
denominada "A Proteção Constitucional das Pessoas Portadoras de
Deficiência" (Brasília: Coordenadoria Nacional para Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência, 1997, p. 12): "O que define a
pessoa portadora de deficiência não é falta de um membro nem a
visão ou audição reduzidas. O que caracteriza a pessoa portadora de
deficiência é a dificuldade de se relacionar, de se integrar na
sociedade. O grau de dificuldade de se relacionar, de se integrar na
sociedade. O grau de dificuldade para a integração social é que
definirá quem é ou não portador de deficiência."
Desta forma, a pessoa portadora de deficiência, para os efeitos da
Lei n.° 8.742/93 é aquela que apresenta incapacidade para o
trabalho e para a vida independente, e que tal condição lhe cause
dificuldade de integração social.91
90
Disponível em: http://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/beneficio_loas.htm acessado no dia 12/05/2010.
91
BOTELHO, Marcos César. O Benefício Assistencial de Prestação Continuada. Jus Navigandi, Teresina, ano
8, n. 179, 1 jan. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4654>. Acesso em: 20 maio
2010.
44

Para tanto, o Decreto nº 1.744/1995 explica o que significa a palavra família:

[...] família está definida como a unidade mononuclear que vive sob o
mesmo teto, com economia mantida pelo ganho de seus integrantes.
Pessoa deficiente está definida como aquela incapacitada para a
vida independente e para o trabalho. Família incapacitada também
tem sua definição: é aquela cujos rendimentos mensais de seus
membros, divididos pelo número de seus integrantes sejam inferiores
a ¼ (um quarto) do salário mínimo. 92

Complementando o citado acima, entende-se por família a unidade


mononuclear que tem sua economia arcada por seus membros e que compreende
por cônjuge, companheiro (a), filho (a) menor de 21 anos, pais e irmãos menores de
21 anos. Também considera-se beneficiário os estrangeiros desde que domiciliados
no país, idosos e deficientes, e não tenham vínculo com o sistema previdenciário do
país de origem. E ainda:

Considera-se pessoa portadora de deficiência a incapacitada para a


vida independente e para o trabalho, em razão de anomalias ou
lesões irreversíveis de natureza hereditária, congênita ou adquirida,
que impeçam o desempenho das atividades da vida diária e do
trabalho. É considerada incapaz de prover a manutenção da pessoa
portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per
capita seja inferior a ¼ do salário mínimo.93

Neste sentido, o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003) no parágrafo único do


art. 34, dispõe que a concessão do benefício ora discutido não será contado para o
cálculo de renda familiar per capita, a que se refere a LOAS. Desta feita, numa
família composta de duas pessoas idosas, as duas terão direito a receber o
benefício de prestação continuada, uma vez que não compõe a renda familiar este
benefício, estando assim sem renda à família.94
Complementando a idéia acima, tem-se “Com a publicação da Lei n.
10.741/03 – Estatuto do Idoso, a idade mínima foi reduzida para 65, nos termos do
seu art. 34.”95

92
GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de Direito Previdenciário. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 23-24.
93
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24. ed. 2. reimpr. São Paulo: Atlas, 2007. p. 493.
94
TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de Direito da Seguridade Social. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p.
438.
95
VIANNA, João Ernesto Aragonês. Curso de Direito Previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 39.
45

Entretanto, não é inconstitucional o disposto na Lei nº 8.742 ao colocar um


limite de idade de 70 anos, já que o art. 203 da Constituição Federal menciona que o
benefício será disposto em lei.96
Para finalizar, a LOAS garante aos seus beneficiários, o valor de um salário
mínimo, pagos ao portador de deficiência e ao idoso, que cumpram os requisitos
legais. Tem-se como benefícios eventuais, o auxílio por natalidade ou morte, sendo
devido às famílias com renda abaixo de ¼ do salário mínimo. E ainda, prevê a
cobertura a criança, a família, a gestante que estejam em situações de riscos e em
casos de calamidade pública. Entretanto:

[...] na mesma definição onde a assistência é “um direito do cidadão”,


a lei expressa um caráter altamente seletivo, ao classificar enquanto
seus beneficiários, uma população que mais se aproxima da
miserabilidade. Ao selecionar a população pobre, na verdade, a
exclui. E ao excluir, deixa de assegurar os direitos à assistência
social de forma ampla e irrestrita. Não basta ser um idoso ou
deficiente, é preciso que se comprove a sua condição de
miserabilidade [...]97

Assim, a concessão do benefício de prestação continuada será feita ao


brasileiro, incluindo o indígena desde que não seja beneficiário de outro sistema de
previdência social, e ao brasileiro naturalizado e domiciliado no Brasil, que não tenha
vínculo como o sistema previdenciário de seu país de origem.98
Na continuação, analisar-se-á os documentos necessários para a requisição
do benefício de prestação continuada.

3.3 DOCUMENTOS

Para a concessão do benefício o interessado pode solicitar junto a uma


agência da Previdência Social, e cumpridos os requisitos legais apresentar os
documentos originais seu e de toda a sua família. Vários são os documentos a

96
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24. ed. 2. reimpr. São Paulo: Atlas, 2007. p. 493.
97
Disponível em: http://www.ssrevista.uel.br/c_v1n1_lei.htm acessado no dia 11/05/2010.
98
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 14ª ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Impetus,
2009. p. 18.
46

serem apresentados, como por exemplo: NIT (Número de Identificação do


Trabalhador) ou número de inscrição do trabalhador individual/ doméstico/
facultativo/ rural, carteira de identidade, carteira de trabalho e previdência social,
CPF, certidão de nascimento ou casamento, certidão de óbito do esposo(a),
comprovante de renda familiar e termo de tutela. Após isso, o interessado deve
acessar o site da previdência social e preencher o formulário disponível para a
obtenção do benefício.99
Dentre outros documentos, a concessão do benefício fica também sujeita a
exame médico pericial, além de outros exames e laudos médicos realizados por
médicos do INSS. Para salientar, cita-se:

Será devido o benefício de prestação continuada após o


cumprimento, pelo requerente, de todos os requisitos legais e
regulamentares exigidos para sua concessão, inclusive apresentação
de documentação necessária, devendo seu pagamento ser efetuado
em até 45 dias após cumpridas as exigências anteriormente
mencionadas. No caso de o primeiro pagamento ser feito após o
prazo citado, aplicar-se-á em sua atualização o mesmo critério
adotado pelo INSS na atualização do primeiro pagamento de
benefício previdenciário em atraso.
A comprovação da idade do beneficiário idoso far-se-á mediante
apresentação de um dos seguintes documentos: (a) certidão de
nascimento; (b) certidão de casamento; (c) certidão de reservista; (d)
carteira de identidade; (e) CTPS emitida há mais de cinco anos; (f)
certidão de inscrição eleitoral.
A prova de idade do beneficiário idoso estrangeiro naturalizado e
domiciliado no Brasil far-se-á pela apresentação de um dos
documentos: (a) título declaratório de nacionalidade brasileira; (b)
certidão de nascimento; (c) certidão de casamento; (d) passaporte;
(e) certidão ou guia de inscrição consular ou certidão de
desembarque devidamente autenticadas; (f) carteira de identidade;
(g) CTPS emitida há mais de cinco anos; (h) certidão de inscrição
eleitoral.
A comprovação da renda familiar mensal per capita será feita
mediante a apresentação de um dos seguintes documentos por parte
de todos os membros da família do requerente que exerçam
atividade remunerada: (a) CTPS com anotações atualizadas; (b)
contracheque de pagamento ou documento expedido pelo
empregador; (c) carnê de contribuição para o INSS; (d) extrato de
pagamento de benefício ou declaração fornecida pelo INSS ou outro
regime de previdência social público ou privado; (e) declaração de
entidade, autoridade ou profissional de assistência social.100

99
Disponível em: http://www.saudelegal.org/loas-direito-saude-legal.htm?id=loas acessado no dia 11/05/2010.
100
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24. ed. 2. reimpr. São Paulo: Atlas, 2007. p. 495.
47

Sobre o exame médico-pericial, este será realizado pelo INSS, e na hipótese


de não haver serviços “[...] no município de residência do beneficiário, fica
assegurado, na forma prevista em regulamento, o seu encaminhamento ao
município mais próximo que contar com tal estrutura.”101

Pelo novo Regulamento do BPC, também foi instituído novo modelo


para avaliação da deficiência e do grau de incapacidade, composta
não só por avaliação médica, mas outra social, que obedecerá aos
critérios da Classificação Internacional de Funcionalidades,
Incapacidade e Saúde, substituindo o modelo tradicional. Essa
avaliação, mais ampla, permite averiguar limitações sociais no
desempenho de atividades e na restrição de participação social, que
não seriam identificadas em uma perícia médica (art. 16).102

Além de todos os documentos já citados, o INSS acaba avaliando cada caso


e hipótese para o pagamento do benefício.103
Desta feita, insuficiente é ser idoso ou deficiente, pois é necessário que se
prove a condição de miserável, a partir dos elementos renda, idade, capacidade
para o trabalho, com avaliações periódicas de dois em dois anos para que haja
continuidade no recebimento do benefício de prestação continuada. 104
O tópico analisado a seguir, trata sobre o valor a ser recebido pelos
beneficiários em relação ao benefício de prestação continuada.

3.4 VALOR

Para a assistência social, as prestações podem ser pagas mediante dinheiro,


chamadas de benefícios, ou mediante prestação de serviços ou entrega de bens,
como roupa, alimentos e remédios. O benefício de prestação continuada se encaixa
no primeiro caso. 105

101
VIANNA, João Ernesto Aragonês. Curso de Direito Previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 39.
102
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 14ª ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Impetus,
2009. p. 21.
103
GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de Direito Previdenciário. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 23-
24-25.
104
Disponível em: http://www.ssrevista.uel.br/c_v1n1_lei.htm acessado no dia 11/05/2010.
105
TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. São Paulo: Editora Lumen Juris Ltda, 2005. p. 19.
48

Desta feita, o valor do benefício de prestação continuada é de um salário


mínimo, sendo devido ao idoso e a pessoa portadora de deficiência, conforme já
explicitado anteriormente.106
Nesta linha de raciocínio, este benefício não está sujeito a desconto de
qualquer tipo de contribuição. Não é aceitável cumulação deste benefício com outro
da seguridade social, exceto a assistência médica. Porém o benefício pode ser pago
a mais de uma pessoa da mesma família e não poderá ser o pagamento antecipado.

A entrega dos benefícios assistenciários é dividida. À União Federal


compete pagar o benefício de prestação continuada. Os de trato uno,
decorrentes dos eventos nascimento e morte, são canalizados aos
municípios.107

Ressalta-se que o pagamento do benefício de prestação continuada, tem


intuito de amenizar as condições de vida dos beneficiários. “Não enfrenta nem acaba
com a hipossuficiência, apenas a diminui, tentando servir de trampolim para
melhorar a situação do ser humano”.108
E ainda:

[...] o benefício assistencial não tem o condão de complementação


de renda familiar, já que assim o fazendo, não age provendo os
mínimos sociais, que no seu conceito não envolve recursos
destinados a complementação de renda.
Neste sentido, inclusive, decidiu o E. TRF 3.ª Região que, "O
benefício de prestação continuada não tem por fim a
complementação da renda familiar ou proporcionar maior conforto ao
beneficiário, mas sim, destina-se ao idoso ou deficiente em estado de
penúria" (AC 876500. 9.ª Turma. Rel. Des. Fed. Marisa Santos. DJU,
04.09.2003).109

A seguir, abordar-se-á as regras para a concessão do benefício de prestação


continuada.

106
VIANNA, João Ernesto Aragonês. Curso de Direito Previdenciário. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 38.
107
GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de Direito Previdenciário. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 25.
108
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de Direito Previdenciário. 3 ed. São Paulo: LTr, 2005. Tomo I. p.
226.
109
BOTELHO, Marcos César. O ´Benefício Assistencial de Prestação Continuada . Jus Navigandi, Teresina,
ano 8, n. 179, 1 jan. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4654>. Acesso em: 20
maio 2010.
49

3.5 REGRAS

Além do que já foi citado nos itens anteriores, cabe explicitar as regras para a
concessão do benefício da prestação continuada.
Para Társis Nametala Sarlo Jorge, o benefício de prestação continuada está
inserido na assistência social como um dos pilares da seguridade social, uma vez
que atinge diretamente os excluídos. Pelas regras ditadas pela lei, será devido
aquele que não possui cobertura previdenciária, e não consegue manter-se e nem
tem família que o faça. Sobre a família, o requisito é ter:

[...] renda per capita não supere ¼ de salário mínimo. Trata-se de


requisito que foi declarado constitucional pelo Supremo Tribunal
Federal. E, ainda de acordo com a mesma corte, é requisito
cumulativo. Em outras palavras, caso não seja preenchido, ainda que
o pretendente ao BPC110 possua os demais requisitos, não será
devido.
No que concerne ao requisito de impossibilidade de auto-sustento,
poderá se dar por invalidez patológica ou por idade. Quando à idade,
de acordo com o estatuto do idoso, é agora de 65 anos, não havendo
aqui qualquer diferença de idade para homens e mulheres. Quanto à
invalidez patológica, há uma série de questões práticas que se
apresentam, principalmente no que concerne à AIDS. De fato, o
soropositivismo não é em si incapacitante, mas tão somente quando
o paciente passa a ser acometido das chamadas doenças
oportunistas. No que tange a invalidez por dano ou defeito físico, os
critérios usados para o auxílio-doença ou acidente podem ser
utilizados de forma analógica.111

No que tange ao limite de ¼ do salário mínimo esta regra não é absoluta,


uma vez que deve ser lida como um limite mínimo, um valor a ser visto como “[...]
insuficiente à subsistência do portador de deficiência e do idoso o que não impede
que o julgador faça uso de outros fatores que tenham o condão de comprovar a
condição de miserabilidade do autor.(AGRESP 523864/SP, Rel. Felix Fischer).”112

[...] em razão da contínua polemica sobre a matéria, a própria Corte


Constitucional acena com alguma mudança em sua compreensão
admitindo a validade dos requisitos legais de miserabilidade, mas
110
BPC significa benefício de prestação continuada.
111
JORGE, Társis Nametala Sarlo. Manual dos Benefícios Previdenciários. Rio de Janeiro: Editora Lumen
Juris, 2006. p. 22-23.
112
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 14ª ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Impetus,
2009. p. 14.
50

sem limitar este conceito somente áqüeas condições. Assim decidiu


o Min. Gilmar Mendes, ao negar liminar na Reclamação nº 4374-
6/PE, em razão de concessão do BPC à pessoa que não atendia aos
requisitos da LOAS. Como expôs em seu decisório, “não se declara a
inconstitucionalidade do art. 20, § 3º, da Lei nº 8.742/93, mas apenas
se reconhece a possibilidade de que esse parâmetro objetivo seja
conjugado, no caso concreto, com outros fatores indicativos do
estado de penúria do cidadão. Em alguns casos, procede-se à
interpretação sistemática da legislação superveniente que estabelece
critérios mais elásticos para a concessão de outros benefícios
assistenciais”.
Adicionalmente, cumpre lembrar que o Brasil, mais recentemente,
aprovou, por meio do Decreto Legislativo nº 186/08, o texto da
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu
Protocolo Facultativo, assinados em Nova Iorque, em 30 de março
de 2007. Pela citada convenção, os Estados-partes reconhecem o
direito das pessoas com deficiência a um padrão adequado de vida
para si e para sua família, inclusive alimentação, vestuário e moradia
adequados, bem como à melhoria constante de suas condições de
vida, e deverão tomar as providências necessárias para salvaguardar
e promover a realização deste direito sem discriminação baseada na
deficiência (art. 28).113

Na ementa abaixo, nota-se que os requisitos são: incapacidade laboral,


deficiência, idade avançada, situação financeira precária entre outros:

PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. LEI Nº 8.742/1993


(LOAS). REQUISITOS: INCAPACIDADE LABORAL E PRECÁRIA
SITUAÇÃO FINANCEIRA. AVALIAÇÃO DA REALIDADE PESSOAL
DO CANDIDATO AO AMPARO. MOLÉSTIA OU DEFICIÊNCIA
FÍSICA OU IDADE AVANÇADA ASSOCIADA A OUTROS FATORES
DE RISCO SOCIAL. BAIXA RENDA, POUCA ESCOLARIDADE,
NENHUMA ESPECIALIZAÇÃO PROFISSIONAL. CHANCES
INEXISTENTES DE ASSIMILAÇÃO PELO MERCADO DE
TRABALHO. DEMONSTRAÇÃO DE SAÚDE PRECÁRIA E DE
IMPOSSIBILIDADE REAL DE PROVER A PRÓPRIA
SUBSISTÊNCIA. JUSTIFICADA A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO
ASSISTENCIAL. (TRF4 - APELAÇÃO CIVEL: AC 7820 RS
2007.71.99.007820-5 Relator(a): MARIA ISABEL PEZZI KLEIN,
Publicação: D.E. 31/01/2008)114

Da mesma forma deve ser comprovada a impossibilidade de prover o seu


sustento ou tê-lo provido por sua família:

113
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 14ª ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Impetus,
2009. p. 15.
114
Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1270604/apelacao-civel-ac-7820-rs-
20077199007820-5-trf4 acessado no dia 11/05/2010.
51

PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. LEI Nº. 8.742, DE


1993 (LOAS). REQUISITOS LEGAIS. PESSOA PORTADORA DE
DEFICIÊNCIA OU IDOSA. COMPROVAÇÃO DA IMPOSSIBILIDADE
DE PROVER A SUA PRÓPRIA MANUTENÇÃO OU TÊ-LA
PROVIDA POR SUA FAMÍLIA. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA
PESSOA HUMANA. HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA.
CONDIÇÃO DE MISERABILIDADE. LEIS Nº 9.533/97 E Nº.
10.689/2003. CRITÉRIO MAIS VANTAJOSO. CONCESSÃO DE
PENSÃO POR MORTE APÓS PROLAÇÃO DA SENTENÇA.
SUPERVENIENTE ALTERAÇÃO DA SITUAÇÃO FÁTICA.
DETERMINAÇÃO DE OPÇÃO PELO BENEFÍCIO MAIS
VANTAJOSO. ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA.
CONCESSÃO EX OFFICIO. POSSIBILIDADE.( TRF1 - APELAÇÃO
CIVEL: AC 3802 MG 2005.38.04.003802-1 Relator:
DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO DE ASSIS BETTI
Publicação: 23/10/2008 e-DJF1 p.114)115

Em outro julgado encontra-se a transcrição dos requisitos para a concessão


do benefício em questão, e assim cita-se a ementa e um trecho do voto do relator do
julgado:

PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. ART. 20 DA LEI


8.742/93. REQUISITOS. INCAPACIDADE PARA O TRABALHO E
PARA A VIDA INDEPENDENTE E HIPOSSUFICIÊNCIA
ECONÔMICA EVIDENCIADAS. RECURSO DESPROVIDO.(Relator
PEDRO BRAGA FILHO)116

Para concessão do benefício assistencial, faz-se necessário, então, o


preenchimento dos seguintes requisitos: a) seja a pessoa portadora
de deficiência ou idosa; b) impossibilidade de prover os meios
necessários à sua manutenção ou de tê-la provida por sua família. O
art. 2º, inciso II, do Decreto nº 1.744/95, que trouxe a
regulamentação da Lei nº 8.742/93, considera como pessoa
portadora de deficiência “aquela incapacitada para a vida
independente e para o trabalho em razão de anomalias ou lesões
irreversíveis de natureza hereditária, congênitas ou adquiridas, que
impeçam o desempenho das atividades da vida diária e do
trabalho”.117

Para tanto, a regra primordial para a concessão das prestações gratuitas da


assistência social é a impossibilidade de sobrevivência. Neste sentido, não sendo
possível a manutenção do próprio sustento é considerada:

115
Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/938375/apelacao-civel-ac-3802-mg-
20053804003802-1-trf1 acessado no dia 11/05/2010.
116
Disponível em: http://www.ba.trf1.gov.br/TurmaRecursal/Sessoes/Sessao_60/S60_ped/2005.766757-0.pdf
acessado no dia 11/05/2010.
117
Disponível em: http://www.ba.trf1.gov.br/TurmaRecursal/Sessoes/Sessao_60/S60_ped/2005.766757-0.pdf
acessado no dia 11/05/2010.
52

[...] 1) permanente, se a pessoa estiver incapacitada para o trabalho


por motivo de idade avançada ou deficiência física ou mental que a
afaste das atividades laborais de forma definitiva, ou 2) provisória, se
houver chance de habilitação ou reabilitação profissional, ou quando
houver atingimento eventual por calamidade. A responsabilidade pelo
sustento das pessoas é inicialmente do círculo familiar (arts. 229 e
230 da Constituição c/c art. 396 do Código Civil) e, supletivamente,
do Poder Público. Sendo assim, somente haverá direito às
prestações assistenciais se não houver meios próprios ou familiares
de sustento da pessoa.118

Além disso, não é só a Lei 8.742/1993 que dita os requisitos/regras para a


concessão desse benefício, mas também o Decreto nº 1.744/1995, que expõe: ser
portador de alguma deficiência ou ser idoso com idade mínima de 65 anos; ter renda
familiar mensal inferior a ¼ do salário mínimo por pessoa; não se vincular a nenhum
regime da previdência social; não perceber benefícios, exceto de assistência
médica; não possuir meios de se sustentar e nem tê-lo da família. 119

118
TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. São Paulo: Editora Lumen Juris Ltda, 2005. p. 19.
119
Disponível em: http://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/beneficio_loas.htm acessado no dia 12/05/2010.
53

4 CONCLUSÃO

A presente monografia analisou a seguridade social, e seus desdobramentos


em saúde, assistência social e previdência social, bem como se deteve ao benefício
de prestação continuada instituído pela lei orgânica da assistência social (LOAS).

No que compete a seguridade social, tem-se o conjunto de iniciativa do poder


público e privado, que segue as diretrizes da universalidade na cobertura e no
atendimento, uniformidade dos benefícios e serviços para a população, assim como
irredutibilidade do valor dos benefícios, financiamento pelo setor público e pela
sociedade e gestão administrativa democrática e descentralizada.

A partir dessas diretrizes, configura-se a assistência social como um conjunto


de medidas que o Estado deve garantir à população, tendo esta a capacidade de
exigir das autoridades competentes que se concretize o que está descrito nas leis.

Surge então na área de assistência social, a LOAS – lei orgânica da


assistência social – para dispor sobre os princípios e diretrizes, bem como os
requisitos para a concessão de benefícios e serviços assistencialistas.

Desta feita, encontra-se inserido na LOAS o benefício de prestação


continuada, que apresenta-se como algo muito restrito, exigindo dos possíveis
beneficiários uma série de requisitos para a sua concessão, embora tenha uma
política de abrangência restrita, embora apresentando-se como um avanço
significativo na política social brasileira. Observa-se que o benefício de prestação
continuada descrito na Lei 8.742/1993 teve o condão de garantir uma renda mensal
aos excluídos socialmente, vista anteriormente como um tipo de pensão vitalícia aos
seus beneficiários.

Aparece assim a LOAS para garantir a sobrevivência de seus beneficiários


quando a família não cumpre seu papel social, mesmo existindo amparo
constitucional, em conformidade com os arts. 229 e 230 da CF. Nota-se que estes
artigos esclarecem que cabe ao Estado o dever de intervir quando a família não o
fizer, incidindo o lado assistencialista da esfera constitucional.
54

Voltando ao benefício de prestação continuada, vários são os requisitos para


a sua concessão: incapacidade laboral, situação financeira precária, ser idoso ou
deficiente físico, passar por uma avaliação da realidade pessoal do possível
beneficiário, baixa renda, sem chances de inserção pelo mercado de trabalho,
impossibilidade de prover sua própria subsistência eu ter família que o faça, entre
outras.

Em virtude disso, de uma condição de miserabilidade, o possível candidato a


beneficiário passa por uma avaliação junto ao INSS, para a posteriori ter seu
beneficio concedido, desde que cumpridos os requisitos legais. Toda essa cobrança
ao redor deste benefício ocorre por não se exigir nenhum pagamento de
contribuição para a sua concessão, sendo o custeio realizado pelo poder público e
pela sociedade.

Mesmo diante de toda uma gama de regras e requisitos o beneficiário em


dois em dois anos tem que voltar a provar sua condição de miserabilidade.
Interessante é observar que o valor do benefício de prestação continuada serve
apenas para a sobrevivência do beneficiário, uma vez que não garante vestuários,
alimentação, moradia entre outros requisitos constitucionais que o salário mínimo
deveria suprir.

Vê-se assim, que o pagamento do benefício de prestação continuada, tem o


condão de amenizar as condições de vida dos beneficiários, uma vez que não
enfrenta o problema da hipossuficiência, apenas o ameniza, servindo como um
mecanismo que tenta melhorar a situação de vida dos beneficiários, ou seja, do
idoso e do deficiente físico.

No entanto, tem-se que a extensão dos direitos sociais deve ser feita com o
máximo cuidado, devido a escassez de recursos que sustentam o benefício de
prestação continuada. Quem sabe advém daí os rigorosos critérios para o
enquadramento de deficiente físico e idoso que o INSS analisa.

De qualquer forma, havendo desrespeito a concessão do benefício de


prestação continuada, ou alguma exigência fora da legalidade que o forma
inacessível, deve-se acionar ao Ministério Público para que guarde o direitos dos
possíveis beneficiários para que os direitos destes sejam alcançados e concedidos.
55

Pensar em um benefício que ajude ou amenize o sofrimento de alguém, que


faça este cidadão viver melhor e com dignidade é pensar em uma forma de
humanizar os benefícios sociais, especialmente o benefício de prestação
continuada, que amparam os idosos e os deficientes.
56

5 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

ARAÚJO, Francisco Carlos da Silva. Seguridade Social . Jus Navigandi, Teresina,


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