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AVEIA NA ALIMENTAÇÃO DO GADO

Autores: Dario N.Campos e Guillermo O.Gonzalez


Tradução: Julio César A. Gómez

Trata-se de um grão eminentemente forrageiro cujo uso como tal se estendeu pela Europa de leste a
oeste a partir do ano 100 da era Cristã. Na atualidade os verdeios de Aveia constituem a base de
alimentação dos pastejos de inverno na Argentina e só tem concorrência no Centeio em áreas
caracterizadas por grandes geadas.
Por esta razão do Grão de Aveia (GA) é colhido mais com a finalidade de armazenar sementes para o
próximo plantio e secundariamente para utilizar esse grão na formulação de concentrados energéticos
nas dietas de bovinos de carne e leite, ou destinado a alimentação de eqüinos.
Este fenômeno explica o fato de que a Aveia não tenha uma cotação constante nos mercados habituais,
apresentando constantes flutuações determinadas sobre tudo pela oferta e disponibilidade
Por parte da demanda, o uso do GA pode ser de uso ocasional ou frequente.
De uso ocasional, quando os preços se encontram deprimidos e favoráveis em termos de custo da
unidade energética em relação a outros grãos normalmente utilizados na alimentação animal;
De uso freqüente, em algumas zonas do país que, dada as características que são atribuídas a Aveia a
tornaram uma preferência particular por parte dos produtores, especialmente de carne. É possível que
um dos fatores principais dessa preferência se baseie tanto em seu conteúdo de fibra quanto no fato de
ser, sem dúvida alguma, a que apresenta o menor risco de ocasionar acidose em condições de
suplementação pouco controladas.
O conteúdo de fibra crua (FC) ou fibra detergente neutro (FDN) constitui um dos principais pontos em
que se baseia a diferença do GA com respeito aos demais Cereais. Os grão de Milho, Sorgo, Trigo e
Centeio possuem baixo conteúdo de fibra, que em geral não superam os 2,8% sobre a matéria seca
(MS).
Em contra partida a Aveia e a Cevada apresentam concentração de fibra crua na ordem de 5% a 6% na
Cevada e 12% a 13% na Aveia. Essa diferente composição em relação com o maior conteúdo de fibra
deste grão referidos se deve ao fato da semente esteja recoberta por uma envoltura que representa, em
média, 30% do peso do grão. A presença dessa cobertura é a causa pela qual os grãos de Aveia e Cevada
se classificam como “grãos vestidos”.
A envoltura é composta quase que em sua totalidade por paredes celulares que contém entre 30% e 40%
de celulose e outro tanto de “hemicelulose”, parcialmente digeridas pelo ruminante graças a ação das
enzimas provenientes da população microbiana que habita o rume. O 8% de lignina que está incluída
nesta cobertura não pode ser digerida pelos bovinos, pois nem as bactérias nem o animal conta com
enzimas capazes de degradá-la.
A existência desta “casca” na proporção mencionada tem, entre outras, a característica de que ao ocupar
um espaço importante no grão, a quantidade de amido (400 gramas por kg/MS para Aveia) seja
sensivelmente menor que a dos grãos “desvestidos” (740 gramas por kg/MS) no caso do Milho.
Esta particularidade fica evidenciada graficamente na comparação efetuada abaixo entre a composição
do grão de milho e o de aveia (Gráfico I).

Comparação entre a composição do grão de Milho e o grão de Aveia


Envoltura Pericarpo Gérmen Endospermas
Grão de Aveia 25% 9% 3% 63%
Grão de Milho --- 9% 11% 80%

A FIBRA É INIMIGA DA ENERGIA


Este tradicional e tão divulgado conceito, que indica que um ingrediente com maior quantidade de fibra
que outro, aporta menor quantidade de energia ao animal, é perfeitamente aplicável ao grão de Aveia e
dos Cereais. Com efeito, seu valor energético resulta inferior ao de outros Cereais nuns 15% a 30%,
mas seu conteúdo em materiais nitrogenados e óleo é mais elevado (com exceção ao milho, que é rico
em óleo) sendo assim o cereal melhor equilibrado em aminoácidos.
O Gráfico II compara a energia aportada pelos cereais em mega-calorias de energia metabolizável (EM)
por kg de matéria seca (kg/MS) para o gado bovino.
As primeiras duas colonas (Aveia inteira e Aveia laminada) se referem ao conteúdo de energia do grão
de Aveia com ou sem as envolturas, dados que coincidem com os conceitos vertidos neste trabalho.
Gráfico II - Quantidade de Energia (EM) aportada por diferentes Cereais
(EM bovinos) Aveia Aveia Cevada Trigo Sorgo Milho
Mcal/Kg/MS c/Casca Laminada
3,6
3,5
3,4
3,3
3,2
3,1
3,0
2,9
2,8
2,7

O grão de Aveia apresenta diferentes qualidades.


A diferença entre Aveia Branca, Preta ou Cinza carece de importância na avaliação do valor nutricional,
entretanto, a Aveia deve apresentar um peso específico elevado para ser de boa qualidade (50 kg/hl para
a Aveia Inteira e de 19 a 22 kg/hl para a laminada).
A variação de qualidade entre os diferentes lotes de Aveia pode ser muito ampla e as conseqüências
nutricionais se manifestam no caso de ser ignorado esse parâmetro.
Existe o costume de dosas o racionamento com este grão ou o de Sevada por peso (kg) e por capacidade
(litros; hectolitros = 100 litros), sem levar em consideração a variabilidade dos diferentes lotes
utilizados na alimentação dos animais (Gráfico III).

Peso hectolítrico dos Cereais


EM
Mcal/kg/MS Aveia Cevada Trigo Milho
75
70
60
50
40
30
20
10
0

É por isso que um lote oferecido “a muito bom preço” deve ser provavelmente composto com Aveia
com muita casca e portanto leve e com baixa energia. O desconhecimento de tais características
resultará num mau negócio.
Introduzamos neste momento um dos elementos físicos dos grãos, que adquire singular importância ao
se falar em grão de Aveia: O volume e peso hectolítrico do Grão de Aveia
O peso hectolítrico é definido de várias maneiras, mas todas as definições se resumem ao um
significado: por unidade de volume ou capacidade (isto é litro ou hectolitro) os alimentos de maior
volume tem menor peso e produzem relativamente pouca energia biologicamente útil.
Podermos supor justificadamente que o NDT (nutrientes digestíveis totais) o da ED (energia digestível)
dos alimentos básicos está absolutamente relacionados com o peso por litro (ou outra medida de
capacidade). A causa desta relação corrente se atribui ao nível de fibra do alimento, visto que das quatro
frações potencialmente energéticas a fibra é a menos digestível.
Vejamos com o exemplo prático abaixo como se calcula o peso hectolítrico:
Unidade de peso 55 kg.
Peso hectolítrico = ---------------------------- = ----------- = 0,55 kg/l
Unidade de capacidade 1001

O litro considerado na mostra do exemplo pesou 550 gr. Portanto 55 é o peso hectolítrico que teria este
lote de Aveia (55 kg em cada 100 litros ou 55 kg/hl).
A Aveia é um alimento básico que em função da variedade, época de plantio, tipo de solo, fertilização e
condições climáticas, pode variar de 25 (0,25 kg/l) a 60 kg. por hectolitro (60 kg/hl). Um peso
excessivo (maior de 60 kg/hl) contra 45 a 55 kg/hl correspondente a uma Aveia normal, pode ser
indicativo desfavorável (aveia úmid).
O peso hectolítrico baixo é indicativo do desenvolvimento insuficiente dos grãos. Também pode ser
avaliado com a retirada da casca de alguns grãos e pesando separadamente a casca e o miolo. Numa
boa Aveia a envoltura (casca) não deve ultrapassar a 30% do peso total do grão.
Os valores em NDT correspondentes podem oscilar entre 60 a 75%. Assim se consegue determinar
como “aveia pesada” (boa qualidade) e “aveia leve” (de qualidade inferior).
Dentro destes parâmetros e valores, serão necessários 0,7 hectolitros de aveia leve para aportar um NDT
correspondente a 0,31 hectolitros de uma aveia pesada. O custo por tonelada do grão leve deverá ser
50% menor daquele com melhor qualidade para compensar.
Tomemos como exemplo amostras de aveia as quais chamaremos de amostra-01 e amostra-02:
Amostra-01 = NDT 75% (2,7 Mcal/EM/kg MS) e peso hectolítrico 50.
Amostra-02 = NDT 70% (2,5 Mcal/EM/kg MS) e peso hectolítrico 40.
Se trabalhamos pesando o grão e fazemos o racionamento dos animais em base a kg. para que ambos os
alimentos aportem 1 kg de NDT ou 3,6 Mcal EM, precisaremos de:
Amostra 01 = 1 / 0,75 = 1,33 kg.
Amostra 02 = 1 / 0,70 = 1,43 kg.
Este resultado nos indica que se racionamos os animais em base a peso, 1,33 kg. da Amostra-01 aporta
a mesma quantidade de energia que 1,43 kg. da Amostra-02.
Mas se ao contrário considerar-mos o arraçoamento dos animais em base a Litros, para aportar a
mesma quantidade de energia do exemplo anterior o calculo deverá ser o seguinte:
Amostra 01 = Como o peso de 1 litro é de 0,5 kg. o conteúdo energético dessa aveia é de 0,75 kg
NDT/kg. correspondente a uma disponibilidade de energia (NDT) contida num litro será de: 0,5 0,75 =
0,375 kg NT D/l.. Para 1 kg de NDT teremos que aportar: 2,66 l (l/0,375).
Amostra 02 = Seguindo o mesmo raciocino, com os valores da amostra 02, constataremos que esta
possui 0,375 kg NT D/l e 0,375 NT D/l, para aportar a mesma quantidade de energia que a mostra
anterior.
O resultado que a chegamos nos mostra que se trabalhamos com volumem, para aportar a mesma
energia são necessários 2,66 litros da amostra 1 ou 3,57 litros da amostra 2.
Conclusão:
A diferença comparativa por peso é aproximadamente 7% (pequena) mas quando trabalhamos por
volume chega a 34% (muito grande). Na prática isso significa que em grãos de aveia é quase o mesmo
racionar os animais por peso ou por volume.

CARACTERÍSTICAS DO AMIDO DO GRÃO DE AVEIA


As características do amido de cada um dos Cereais, e neste caso particular do grão de aveia se reveste
de especial importância na nutrição e produção animal. Isto consiste no fato de que tanto a quantidade
de amido digerido como o local onde se processa, determinam que o resultado na produção animal
sejam diferentes.
O amido na Aveia contido no endosperma é digerido quase que em sua totalidade (98,5%) no rume, por
ser altamente solúvel (95,7%), semelhante ao amido do grão de trigo e cevada, mas diferente do amido
contido nos grãos de sorgo e milho, cujos grânulos estão protegidos da ação das enzimas bacterianas do
rume por uma envoltura protéica de baixa degradabilidade.
Esta característica do grão de Aveia pode ser utilizada para acoplar aporte de energia rapidamente
disponível de este amido com ingredientes nitrogenados de alta solubilidade. É o caso de grande parte
do nitrogênio presente em pastagens de inverno, suplementação em base a nitrogênio não protéico (uso
de uréia), cama de frangos, etc.

MINERAIS
O conteúdo mineral é muito desequilibrado. Seu teor de cálcio é baixo enquanto é rico em fósforo,
presente em grande parte como fitatos. A relação cálcio/fósforo varia de 0,1 a 0,25, inferior a relação
ideal que é de 1,5 (uma parte e meia de cálcio para cada parte de fósforo), pelo que se deve ter
precaução quanto ao equilíbrio mineral quando o grão de aveia constitui parte importante da dieta.
Neste caso a concha moída aporta o cálcio necessário para o balanceamento da dieta.

É NECESSÁRIO PROCESSAR O GRÃO DE AVEIA ?


O GA é uma exceção na regra geral que recomenda que “os grãos devem ser processados em dietas
base forragem, para animais adultos, quando esta tem participação inferior a 60%”.
Existem numerosos ensaios que coincidem em demonstrar que a moagem do GA aumenta ligeiramente
a digestibilidade, sem que essa diferença possa justificar o investimento necessário. As perdas fecais
resultantes alcançam a índices de 6,7 % de grãos e 6,6% em amido.
A respeito citamos interessante ensaio conduzido por Kimberley (Austrália) no qual se compara a
digestibilidade do grão de aveia inteiro quando consumido por animais de diferentes idades e pesos.
Este ensaio concluiu que tanto terneiros de 160 kg. quanto novilhos de 390 kg.com dois anos de idade,
digeriam o grão inteiro sem diferenças. Ficando assim comprovado e retificado por ensaios seguintes
que a idade dos animais não afeta a digestibilidade do GA quando administrado inteiro como parte de
dietas mistas.
McDonald e Hamilton também da Austrália, experimentaram dietas com GA inteiro e quebrado em
diferentes proporções de mistura com forragens. As quantidades de GA inteiro ou processado que
ensaiaram foram de 33% , 44%, 49%, 57%, 65% e 75%. Novamente constatou-se que em nenhum caso
houve diferença significativa na digestibilidade do grão inteiro ou processado.
Estudos com vacas leiteiras alimentadas com GA inteiro, quebrado ou tratado (alcalino) não mostraram
alterações significativas na produção de leite, entretanto o teor de graxa butirosa aumento ligeiramente
com o tratamento alcalino.
COMPARAÇÃO DE CONVERSÃO GRÃO/CARNE ENTRE AVEIA E MILHO
Quantidade necessária de grãos para produção de um kg. de carne

Consumo Consumo diário necessário de GA e GM para produção de Um/kg/Carne


kg/de grãos GA GM GA GM GA GM GA GM GA GM GA GM GA GM GA GM GA GM
11
10,5
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Kg/Peso Vivo 150 kg 200 kg 250 kg 300 kg 350 kg 400 kg 450 kg 500 kg 550 kg

Como primeiro ponto de avaliação, ficou claro que se requer uma maior quantidade de GA em relação
ao milho para aportar a mesma quantidade de energia . É importante quantificar essa relação na medida
em que a partir de seu resultado podemos aferir desde a economia à conveniência de utilizar um ou
outro grão.
Observando o gráfico constatamos que a relação grão-milho/grão-aveia se mantém quase constante
entre os animais de 150 a 550 kg. Portanto podemos estabelecer com base a aproximação uma única
relação de abranja uma ampla categoria de pesos.
Os cálculos sobre o resultado obtido aponta que, para dietas com alto consumo de grãos, 124 kg/Aveia
de boa qualidade se equivalem a 100 Kg/Milho.

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