Você está na página 1de 167

desejável

mundo
no v o
VID A SUSTENT ÁV EL, DIV E RSA
LALA DEHEIN ZEL IN E
E CRIATIVA EM 2042
M OVIM ENTO C R IE F U TU R OS
foto Otto Coletivo Fotográfico
POR QUE NÃO?
LALA DEHEINZELIN é uma das pioneiras da Economia
Eis a frase que deveria nos orientar ao pensar futuros, para que possamos Criativa no Brasil. Rela­ cio­
nando sustentabilidade e
nos libertar do conhecido e plausível e mergulhar no desejável. modelos de futuro com experiências de economia
Por que não criar outra economia em que “valor” seja mais do que o criativa, realizou consultoria, palestras e oficinas em
financeiro? Por que não criar um modelo de governo regido pelo mérito e países de quatro continentes. Seu perfil transdisciplinar
pela participação direta da população? Ter cidades feitas para o desfrute foi iniciado no setor cultural e se expande na ação com
do tempo e não para a ocupação do espaço? Ou ter o “cuidar” norteando empresas, terceiro setor, governos e instituições de
todo tipo de atividade no século XXI? Por que não ter uma educação que nos fomento, organismos multila­terais e redes colaborativas.
ensine a escolher bem e a compreender as consequências de cada escolha? É sócia fundadora da Enthusiasmo Cultural e criadora
Por que não deixar para trás todas as dificuldades cotidianas que o medo e do movimento Crie Futuros.
a desconfiança acarretam? Por que não construir relações, empreendimentos Foi Assessora Sênior da Special Unit on South -
e territórios baseados em confiança? Por que não adotar a colaboração como South Cooperation, UNDP de 2005 a 2011. Membro do
modus operandi? Conselho do ­Instituto Nacional de Moda e Design e uma
Mundo sustentável, diverso e criativo. das fundadoras do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC.
Por que não? Saiba mais em ­www.laladeheinzelin.com
La l a D eh ein ze l in
TAGS:

x
Desejável Mundo novo
capítulo
Vida sustentável, diversa e criativa em 2042

1ª ediç ão
“Frase” São Paulo, SP | 2012

Autor
E diç ão: Claudia D eheinz elin
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Deheinzelin, Lala
Desejável mundo novo [livro eletrônico] : vida
sustentável, diversa e criativa em 2042 / Lala
Deheinzelin. -- 1. ed. -- São Paulo : Ed. do
Autor, 2012.

Vários colaboradores.

1. Criatividade 2. Desenvolvimento sustentável


3. Futuro - Perspectivas 4. Imaginário coletivo
5. Movimento Crie Futuros 6. Movimentos sociais
7. Mudanças sociais I. Título.

12-06683 CDD-303.4

Índices para catálogo sistemático:

1. Crie Futuros : Movimento para criação de


futuros desejáveis : Mudanças sociais :
Sociologia 303.4
SUmário

1 Por quê, para que, como 9


Por que criar futuros desejáveis? • Nosso ponto de partida • Sustentabilidade como? Três infinitos • Dando uma mãozinha para o futuro •
Por que não mudamos o mundo? • Um diálogo no Futuro, Pichi de Benedicts

2 Ganhar, Valorar, Negociar 27


Trabalhar para viver ou viver para trabalhar? • Índice Multidimensional de Riqueza, um futuro desejável. • Economia da Abundância, economia sistêmica •
Tempo: o quinto elemento • Economia 4DxT: recursos, resultados e valores multidimensionais • Do linear ao volumétrico: visualizar para compreender e atuar •
Novos indicadores e formas de medir riqueza • Função de Ativação: do valor absoluto ao valor relativo • Moedas 4DxT e moedas alternativas • Novo contexto,
novas dinâmicas profissionais • Ganhando a vida com multimoedas na economia 2.0, Melanie Swan

3 Governar, Decidir, Coordenar 51


Mudança de modelo do governo • De fronteiras a membranas, do muro à pele • Planejamento, longo prazo, comprometimento • O papel do Macro Moderador:
facilitador e conector • Gestão Mesh: aproveitar o que há • Inovação, Tecnologias soft e low tech • Novo Direito: confiança e simplicidade são a norma •
Uma ideia prospectiva cultural: como será a cultura do futuro?, Angel Mestres Vila • Governar o Futuro, Joxean Fernandez

4 HABITAR, DESLOCAR, CIRCULAR 77


Cidades • O Renascimento do Século XXI, Jorge Wilheim • Optecnia: sem separação entre natureza e cultura, Jacques Dezelin • Nos bairros • No campo • Deslocar-se

5 CUIDAR, NUTRIR, PRESERVAR 93


Sentindo junto: nossa natureza e a Natureza • Do reciclar à empatia: sustentabilidade de dentro para fora • Água • A gente não quer só comida! •
Saúde multi, trans, poli • A saúde em 2042 pelo olhar da besteriologia, Wellington Nogueira • Muito cuidado, Silvina Martinez

6 APRENDER, CRIAR, COMUNICAR 111


Onde estamos? Outra leitura da passagem do tempo. • Tecnologia: meio e não fim • Ferramentas para cada camada do processo Educriativo •
Sobre os Espaços Educriativos • Educação e Futuro, Rosa Alegria • Para fazer do mundo que temos, o mundo que queremos, Maria Arlete Gonçalves

7 SER, RELACIONAR, CONECTAR 141


Curiosidades da década de quarenta • Nossa história em um ano e um dia • Gaia, a Terra como ser vivo • Transcendendo a cultura • Ciclos, fluxos, regulação • Homo
Estheticus • Do medo ao agora • O desejável e o plausível • Trecho do livro “Imagens do Futuro”, Fred Polak

Créditos, Agradecimentos e Histórico 157


Obrigada a quem tornou possível este livro! • Crie Futuros agradece • Histórico
Céu D’Ellia, Brasil, 2000.
Bem-vindo ao nosso Desejável Mundo Novo.

Você está em 2042, é este o momento em que se passa esta ficção.


Este não é um livro técnico, de cenários ou projeções de futuros. É um livro inspiracional. Ele mostra o futuro que está nos desejos de
pessoas de diversas idades, origens e formações. Vem daí o nome, que é uma brincadeira com o nada desejável Admirável Mundo Novo, de
Aldous Huxley, que, em 1932, descrevia um futuro tenebroso. Aliás, hoje os futuros difundidos pela grande mídia, games e ficção científica
também são tenebrosos. A hipótese que defendemos em Crie Futuros é que nossos sonhos fertilizam o futuro – por isso nos dedicamos a
criar e semear futuros positivos, que possam inspirar o desejo de concretizá-los.
O texto tem dois fios condutores: a seleção de futuros de nosso acervo, criados no âmbito do movimento Crie ­Futuros desde 2008 – que
aparecem em destaque ou entremeados no texto – mais uma linha conceitual que embasou sua seleção e recorte, explicada no capítulo 1. A
partir dela desdobro nos demais capítulos os fatores que percebo s­ erem forças moldando o futuro. Finalmente, temos a preciosa contribui-
ção de convidados que mostram visões inspiradoras sobre os temas trabalhados.
Os capítulos são organizados em macrotemas da vida cotidiana, propositalmente genéricos e amplos, para evitar cair em padrões
­conhecidos. Por exemplo: “educação” lembra escola, enquanto “ensinar e aprender” pode acontecer em uma diversidade de contextos.
Evidentemente, cada tema traz apenas pinceladas de tudo o que poderia ser abordado. Selecionamos os assuntos mais recorrentes e (ou)
que estavam de acordo com o recorte conceitual proposto. E os mais divertidos, claro! Há soluções, curiosidades, carências, delírios, inventos,
­sabedoria infantil, esboços de leis, boas ideias, ideias impossíveis (será?) porém desejáveis, que servem para refletir a capacidade – ou a
­dificuldade – que temos de criar nosso futuro. Infelizmente, muitos dos futuros do acervo não é propositiva ou criativa e tende a cair no
abstrato (“um mundo onde todos sejam felizes”) ou na repetição de mensagens da grande mídia (“vamos de­fender nossos rios”).
­Convidamos você a interagir com o acervo de nossa wiki (www.criefuturos.com em português, inglês, espanhol), pois todos os futuros
­podem ser editados e complementados por novos textos, imagens ou vídeos.
Nosso futuro desejável é que este livro possa motivar mais e mais gente a criar seu futuro, inspirar lideranças na tomada de decisão e
apontar oportunidades.
E, sobretudo, esperamos que sua leitura seja prazerosa e suscite a pergunta: “Por que não?”
Lala Deheinzelin
Crie Futuros
“Toda sociedade se constrói tanto com base em sua história quanto em seus sonhos.” Carlos Fuentes

O pensamento prospectivo existe desde os tempos antigos, pois, como diz Peter Druker, “A Melhor forma de prever o futuro é criá-lo”. Na
visão do Holomovimento, de David Bohm, a Ordem Explícita se desdobra como manifestação a partir de uma Ordem Implícita subjacente. O
extraordinário visionário e futurista Buckminster Fuller1 também considera que a realidade tem um caminho interno subjacente que pode
nos alertar em relação a transformações mais radicais. Quando mudanças em nossa realidade se aproximam, as turbulências do sistema au-
mentam e observá-las pode permitir que nos preparemos adequadamente. Como acessar essas transformações em curso, mas ainda um
tanto imperceptíveis?
Nos anos 50, na Califórnia, a Rand Corporation originou a técnica Delphi, utilizada para lidar com os Quinze Desafios Globais pelo Millenium
Project2, que tem o NEF como representante no Brasil. Domenico de Masi explora o tema do Caos Criativo e seu último livro sobre Grupos
Criativos avança em novas tendências na utilização da inteligência e sabedoria coletivas; nos anos 90 surgiu o projeto Imagine Chicago, de
Bliss Brown, que utiliza a técnica de Dialogo Apreciativo Intergeracional e continua se expandindo pelo mundo.
A proposta de Crie Futuros consiste em elaborar contextos para gerar ideias inovadoras, que são compartilhadas pelas redes sociais e assim
polinizam memes, naquilo que Rupert Sheldrake denomina campos morfogenéticos. Parece-nos próxima da proposta de Integração de Sa-
beres iniciada por C. R. Snow, na qual interagem sinergicamente as Ciências Exatas (que analisam), as Ciências Sociais (que explicam) e as
Artes (que revelam). Esta última, acreditamos, é a chave neste momento de transição planetária, revelada por meio da economia criativa ou
de novos conceitos de design, como os propostos por Bruce Mau ao afirmar em seu livro Massive Change: “Não é sobre o mundo do design,
mas sobre o design do mundo”. Universidades de todo mundo dedicam-se a pensar que futuro é esse, e como ele se desenvolve, resultando
em laboratórios prospectivos e em projetos como EdXonline3.
No pensamento grego existem Kronos e Kairos, o tempo linear e o tempo das oportunidades, um mais quantitativo, outro mais qualitativo.
O momento atual é de oportunidades, de acelerar processos e ter esperanças que as iniciativas sugeridas na RIO +20, visando a um futuro
melhor para todos, como aquelas propostas neste livro, possam ser implementadas da forma certa e no tempo certo.
Arnoldo de Hoyos, 2012
Presidente do NEF, Núcleo de Estudos do Futuro da PUC, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo4

1 No seu clássico tratado O Caminho Critico.

2 www.millennium-project.org

3 http://www.edxonline.org/

4 http://www.nef.org.br/
Para criar o futuro, precisamos deixá-lo nascer

Cena 1: Em outubro de 2010, estive com Lala numa das primeiras atividades preparatórias da Rio+201, e do que viria depois dela, discutindo
perspectivas para concretizarmos a transição civilizatória que desejamos e necessitamos. Tratávamos do que poderia vir a ser uma “União
Global pela Sustentabilidade”. Não por acaso, ficamos na mesma mesa de trabalho, junto com Rosa Alegria, Pedro Tarak, Carlos Lopes2 e
outros colegas. E levantamos a bandeira: estratégias e planos de ação são necessários, mas não são suficientes.  Precisamos de uma visão
positiva do futuro, capaz de mobilizar e direcionar nossa energia criativa, de alimentar o ânimo de milhões de pessoas. A ideia foi ouvida, e
apreciada, mas não vingou como pauta central.
Cena 2: Na preparação daquele seminário, com outros companheiros fazedores de futuros, discutiamos o que se poderia esperar da Rio+20.
Duas frases me surgiram, e acho que são cada vez mais verdadeiras. Uma: “a Rio+20 deve ser a ocasião em que, finalmente, assumiremos
que o mundo é mais do que a soma dos países”. As implicações disso são enormes e requerem uma verdadeira reinvenção dos sistemas de
organização política e social. A lógica dos Estados-nação pressupõe o mundo fragmentado em territórios estanques, com fronteiras
­controláveis. Nada mais incongruente com a realidade que já vivemos, e que se aprofunda cada dia mais. Essa constatação, somada ao
­reconhecimento das imensas possibilidades tecnológicas e sociais já existentes, enseja a outra frase: “o que está em jogo na Rio+20 é a
c­ riação do f­ uturo-agora”. Ou seja, falamos de um futuro que já está entre nós, fazendo força para vir à luz. Mas, para criar o futuro, precisa-
mos ­deixá-lo nascer. E o parto tem que ser agora.
Cena 3: O cotidiano revela que mesmo nossas decisões mais banais trazem embutidas uma expectativa de futuro, quase sempre inconscien-
te. Há uma expectativa de futuro que condiciona nossas decisões no presente. No imaginário coletivo atual – nas notícias, nos filmes, nos
­livros, nas artes – predomina a visão de um futuro apocalíptico e não muito distante. É isso que vamos criar se não fortalecermos imediata-
mente a visão do desejável futuro, a qual já sentimos pulsar.
Cena 4: Um ano e meio depois da cena 1, Lala me liga: havia investido na ideia, cultivado a proposta de compartilhar futuros desejáveis. E
tinha um livro (este, que você está lendo), pronto para ser lançado na Rio+20. Convidou-me para ajudar a disseminá-lo. É claro que aceitei,
junto com os colegas do Vitae Civilis e muitos mais que, como nós, sabem que é possível criar o futuro. Afinal, fazemos isso todo dia, há
­muitos anos. Bem-vinda Lala, com seu entusiasmo e persistência. Bem-vindos vocês, leitores e leitoras, que compartilharão visões e se
­juntarão a nós nos esforço do parto e da criação do nosso desejado futuro. Aqui e agora.
Aron Belinky, Instituto Vitae Civilis3
Coordenador de Processos Internacionais

1 http://www1.ethos.org.br/EthosWeb/pt/4732/servicos_do_portal/noticias/itens/forum_global_pela_sustentabilidade_sera_lancado_no_rio_em_2011_.aspx

2 Respectivamente: Núcleo de Estudos do Futuro, Fundación Avina, Sub Secretário Geral da ONU

3 http://vitaecivilis.org/
Dedicado a todos que criam e acreditam em futuros
desejáveis. Seus sonhos fertilizam o futuro que está sendo
gestado neste mundo grávido de outro mundo.

A todos aqueles que participaram de Crie Futuros e, ao fazê-lo, nos autorizam o uso não comercial de seus futuros, obrigada pela confiança e inspiração.
Aos artistas profissionais que nos cederam suas ilustrações (maravilha!), especialmente a Claude Giordano pela emblemática imagem da capa.
Caso alguma imagem não possua crédito, pedimos desculpas e reiteramos nossa boa fé – é porque não conseguimos encontrar a autoria.
Nosso processo é colaborativo e possível graças ao engajamento de pessoas e instituições aos quais agradecemos. Saiba mais ao final do livro.
Nosso acervo é wiki: é possível conhecer, editar e complementar com textos/ imagens/ vídeos em www.criefuturos.com

Nota de responsabilidade:
Todo o conteúdo deste livro é de inteira responsabilidade de sua autora, que agradece a confiança dos apoiadores e os isenta de quaisquer
responsabilidades sobre o texto ou as imagens aqui contidos.
Para obter o livro, visite www.criefuturos.com. Os recursos obtidos pela eventual venda desta publicação são revertidos para a manutenção
do movimento Crie Futuros.
TAGS: futuro do passado - inspiração - felicidade -
consumo - sustentabilidade - cooperação - imaginário
coletivo - mudança de mentalidade - riqueza -
processos - redes - outro mundo possível - modelos
colaborativos - participação - abundância -
economia criativa - interdependência - confiança

1 por quê, para que, como

“O futuro é fruto dos sonhos do passado e escolhas do presente.”


Crie Futuros
10 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Por que criar mundo exterior; sofisticadíssimos e caros De toda forma, o recado fica claro:
artefatos de guerra. Imagens que ali- a maneira como enxergamos o futuro
futuros desejáveis? mentaram nossa relação com a energia, influencia sua criação. As escolhas de
o consumo, a sustentabilidade, a coope- hoje desenham o mundo de amanhã.
Olhando o futuro do passado, fica claro ração e a relação com o outro. Mudando as escolhas, podemos mudá-
que muito do que existe hoje foi antes -lo. E o que escolher? Como escolher?
sonhado. Desde o fim do século XIX, Será que temos visões de futuro dese-
encontramos muitas imagens de tecno- jáveis para orientar nossas escolhas e
logias de informação e comunicação, inspirar inovação? Peter Drucker diz:
como videoconferência, notebooks e “A melhor maneira de prever o futuro
tecnologia wireless. Assim como carros é criá-lo”...
e mais carros, cidades em escala inuma- Mas, desde os anos 60, as imagens
na, drive trough, fast food, cirurgia re- de futuro difundidas em massa são te-
mota, aquecimento solar1. nebrosas, ameaçadoras, indefinidas.
Percebe-se que quem cresceu vendo São imagens de violência, desastre,
aquilo se inspirou e trabalhou para trans- Conversa remota por vídeo, impressora, uso de tecnologia ameaça. Hoje as (poucas!!!) imagens
formar sonhos em realidade. Foram ima- wireless, cidades globais. Frank R. Paul, EUA, 1921. de futuro, presentes sobretudo em vi-
gens que orientaram escolhas de modos deogames e ficção científica, assustam
de viver, prioridades de políticas e inves- em vez de motivar.
timento, inovação tecnológica. É possível É preciso sonhar e semear imagens
perceber, também, que tipo de futuro se e ideias de futuros desejáveis que pos-
desejava – e, portanto, se criou. A oni- sam inspirar inovação e orientar esco-
presença de carros em todos os formatos lhas, sobretudo na direção da mudança
possíveis; felicidade como sinônimo de de modelos que necessitamos para o
consumo de bens; famílias e indivíduos mundo melhor – e possível. Crie Futuros
satisfeitos porque estão isolados do se propõe a fertilizar o imaginário cole-
A Vida no ano 2000: chamada telefônica com vídeo. E já tivo, criando sementes de futuros e pre-
1 Veja mais em www.paleofuture.com e
falando com a China. Biblioteca Nacional de França, 1912. parando terreno para que as urgentes
www.criefuturos.com.
por qu ê , para que , como 11

mudanças de mentalidade e comporta- e prioridades que não farão sentido. Um era de que a cidade ia continuar a crescer
mento possam acontecer. dos grandes desafios dos urbanistas e fu- e era movida a cavalos. O que fazer com
Acreditamos que, para romper mo- turistas da Londres do final do século XIX todo o cocô destes cavalos? Fraldas? E
delos e gerar inovação profunda, é pre- como se livrar delas e de seu conteúdo?
ciso também libertar-se da busca de fu- Mal sabiam que em menos de trinta anos
turos plausíveis e sair à procura do a questão não faria mais sentido já que
desejável, do improvável mas não im- os cavalos foram substituídos por carros.
possível. Ter sempre a ousadia de olhar Esta metáfora nos permite ver quantas
o mundo, e o que se deseja mudar, e de nossas preocupações e políticas são
pensar “E por que não?”. Parece utopia, “fraldas de cavalos” e se referem a ques-
mas o trabalho de centenas de pessoas­ tões que não têm sentido no futuro.
e instituições (como os empreendedores Medir riqueza de pessoas e nações
sociais da Ashoka2) tem mostrado que o só pela quantidade de dinheiro gera-
impossível é possível: como comunida- A vida no ano 2000: educação como linha de da; orçamentos que investem quase
montagem. Biblioteca Nacional de França, 1889.
des de bairros de baixa renda construin- tudo em infraestrutura, o hardware, e
do creches e parques, sem dinheiro e quase nada em inteligência e proces-
em dois dias!3 sos, o software (mas hardwares não
Enxergar futuros também é impor- funcionam sem software...)4; processos
tante, pois sustentabilidade vem das es- (como a burocracia) e estruturas (como
colhas harmônicas que fazemos no pre- as cidades) que provocam imensa perda
sente. Se não estamos em sintonia com o do recurso mais precioso, escasso e não
futuro, corremos sempre o risco de gas- renovável que temos: o Tempo. Eis algu-
tar enormes quantidades de tempo, re- mas “fraldas de cavalo” que devem ser
cursos e oportunidades fazendo escolhas repensadas nos nossos desenhos de esti-
e formulando políticas a partir de visões los de vida sustentáveis.

4 Exemplos trágicos são os orçamentos do que se


2 Veja https://www.ashoka.org e www.ashoka.org.br. Pensadas para 2889, estas torres idênticas onde toda
planeja no Brasil para Copa do Mundo e Olimpíada, até
uma cidade pode morar já são realidade. EUA, 1933.
3 Veja o www.institutoelos.com.br. mesmo no BID (www.copa2014.gov.br/tags/bid).
12 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Nosso ponto anos usando a imagem da capa: susten- ga a uma visão de sustentabilidade a
tabilidade não virá apenas de ajustes partir de economia criativa e modelos
de partida nos velhos modelos. Estamos falando colaborativos. Este trabalho se estru-
de algo novo. turou por meio de atividades realiza-
“Um problema não pode Nossa colaboração para esta “ges- das6 com os vários tipos de stakehol-
ser solucionado pela mesma tação” é fruto de um longo trabalho, ders: setor cultural, corporações,
mentalidade que o criou.” mix de criativa com futurista, que che- terceiro setor, governos locais e insti-
Albert Einstein tuições de fomento, cooperação inter-
nacional, redes colaborativas.
Os conceitos e as ferramentas que
“Desejável Mundo Novo” se constrói a desenvolvemos neste percurso norteiam
partir de centenas de futuros criados o recorte utilizado para costurar os futu-
entre 2008 e 2012, em oito países, por ros e desenhar estilos de vida sustentá-
pessoas pertencentes a dezenas de re- veis. Somos “sintetistas”: buscando for-
des e de todas as idades e funções. Lin- mas sintéticas e que possam ser aplicadas
guagem simples, diversa e divertida, em vários âmbitos; “comistas”: interes-
sem nenhuma pretensão técnica, unin- sados no fazer e “hubs”: tentando unir
do os pontos para que possamos enxer- linguagens, setores, áreas de atuação.
gar o desenho dos estilos de vida que
estes desejos revelam.
Nossa sensação é que eles tornam
visíveis alguns traços deste “outro Se preferir, vá direto aos futuros, pois
mundo possível” que está sendo gera- o que vem a seguir é um tanto técnico...
do. Diz Eduardo Galeno5: “Este é um Importante é sentir prazer nesta leitura.
mundo grávido de outro mundo”. Fra-
se que traduz o que dizemos há muitos
5 Durante os movimentos de democracia real na 6 Mais informações, artigos e vídeos no site
Tableaux Vivants. Claude Giordano, Paris, anos 90.
Espanha, em 2011. www.laladeheinzelin.com.
por qu ê , para que , como 13

Sustentabilidade c­ apital cultural/ humano e capital social que a sociedade em rede se organiza,
que, aliás, são abundantes nos países produz, reinventa e todas as novas for-
como? Três infinitos... “pobres”. Esta economia, baseada em mas de produzir e empreender que deri-
diversidade cultural, conhecimento, TICs vam destas associações, que se sinteti-
Sustentabilidade como, se a Terra é (Tecnologias de Informação e Comunica- zam na palavra “colaborativo”. Os
uma só e seus recursos são finitos e es- ção) e criatividade, traz a possibilidade exemplos são muitos: novos modelos de
cassos? A Economia Criativa pode ser de obter resultados não apenas econô- produzir, distribuir e ensinar como o Cir-
uma solução. micos, mas também ambientais, sociais e cuito Fora do Eixo7; as centenas de sites
Vivemos a passagem de séculos em culturais. Ou seja: sustentáveis. de crowdfunding8 – financiamento cola-
que sociedade, economia e política se A sustentabilidade pode ser possí- borativo; os negócios Mesh9, que pro-
organizaram em torno dos recursos ma- vel, pois estamos falando de três infini- põem uma economia do compartilhar; o
teriais como terra, ouro ou petróleo, tos! Um infinito potencializando o ou- fabuloso recurso representado pelo
que, por serem tangíveis, são finitos e tro... O primeiro é este dos recursos ­“excedente cognitivo”10, a produção co-
consumidos com o uso. Esta finitude cria intangíveis, que não apenas não se esgo- laborativa de conhecimento que gera
a economia da escassez, baseada em tam, como também se renovam e multi- frutos como a Wikipédia.
modelos de competição. Porém os recur- plicam com o uso. Só este fato já deveria O fascinante desta época é que
sos intangíveis como cultura, conheci- fazer com que a Economia Criativa fosse cada um desses “infinitos” ativa o outro,
mento e experiência, são infinitos e se prioridade estratégica – num momento permite que ele se potencialize, deixe de
multiplicam com o uso. Podem represen- em que o grande impasse é como seguir ser potencial e se converta em realidade.
tar uma economia da abundância, com a ampliação de qualidade de vida e
baseada em modelos de colaboração. a geração de renda se o planeta é um só, 7 Circuito que une mais de cem coletivos de criação;
De forma simplificada, podemos finito. Mas, se os átomos da Terra são fi- expande-se para outros países da América e inova em todas
as formas de gestão http://foradoeixo.org.br/.
dizer que a economia tradicional se ba- nitos, os bits das novas tecnologias cons-
8 Financiamento colaborativo, são centenas de sites
seou nos recursos tangíveis: capital tituem nosso segundo infinito. Com eles,
em poucos anos.
ambiental/estrutural e capital financei- podemos criar muitos mundos virtuais e
9 Veja o Livro Mesh, de Lisa Gansky ou o site
ro, escassos e finitos, resultando em mo- infinitas formas de potencializar, conec- http://meshing.it/.
delos insustentáveis. Já a Economia Cria- tar, recriar e interagir. Isto gera nosso
10 Termo proposto por Clay Shirky, em inglês cognitive
tiva se baseia nos recursos intangíveis: ­terceiro infinito: as infinitas formas em surplus, http://www.shirky.com/.
14 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

O infinito 1, dos recursos intangíveis Para que isso acontecesse, quais Partimos de algumas premissas:
(cultura, conhecimento, criatividade, ex- seriam alguns pontos de partida para BB Sustentabilidade só será possível com
periências), sempre existiu, claro. Mas as nossa ação? uma mudança cultural, de mentalidade,
novas tecnologias do infinito 2 criaram desejos, visão de mundo e de futuro. Esta­
as associações com outras áreas e parcei- mos tentando mudar hábitos sem mudar
ros, que permitem que o potencial se Dando uma mãozinha antes as mentalidades?
concretize, e fizeram com que se tornas- BB “Sustentável” não é um mero adjetivo,
sem mais visíveis e acessíveis, “tangibili- para o futuro mas um novo “sistema operacional” que
zando os intangíveis”. A combinação daqui para frente vai orientar ações em
dos dois infinitos gera o terceiro, aquele A logomarca de Crie Futuros11 é uma todos os âmbitos da vida. Da mesma manei­
das novas formas de organizar pessoas, mão, pois queremos “colocar a mão na ra que hoje a escravidão é impensável, num
relações, empreendimentos, enfim a tal massa” e “dar uma mãozinha ao futu- futuro próximo vai ser impossível não ser
“sociedade em rede”. ro”. Para tanto, identificamos alguns sustentável em cada detalhe da vida...
Mas para que esses infinitos se princípios norteadores e são eles que BB A palavra “sustentabilidade” nos provo­
combinem necessitamos de “ativado- nos orientaram na redação deste livro. ca culpa e não, entusiasmo –“sabemos”
res”: elementos que atuem como “mo- que sustentabilidade é essencial, mas a
dems” ou catalisadores, integrando se- UM NOVO “SISTEMA” “sentimos” como algo restritivo, técnico e
tores e linguagens, gerando a OPERACIONAL: MUDAR aborrecido. Mas sustentabilidade é uma
convergência que é necessária para MENTALIDADES PARA possibilidade de redesenho do mundo, pro­
uma ação sistêmica. Se tivermos a cora- MUDAR HÁBITOS. move a ampliação da qualidade de vida, é
gem de deixar para trás muitos dos “Desejável Mundo Novo” interessante e divertida.
modelos (conhecidos e confortáveis não é um livro técnico, mas BB A abordagem em relação à susten­tabi­
apesar de equivocados) do século XX e inspiracional. Gostaríamos lidade deve ser sistêmica, pois o ­ecossistema
fizermos as escolhas certas, esse “trio de motivar, ­divertir, colaborar em que vivemos é socioambiental, com
de infinitos” pode trazer a prosperida- para m
­ udar a cultura em relação interdependência entre o tan­gível da econo­
de e harmonia. Este é o recorte que à sustentabilidade. mia e ambiente e o intangível da sociedade
usamos neste Desejável Mundo Novo, e sua cultura. Reduzir sustentabilidade a
sustentável (e possível...). 11 www.criefuturos.com soluções ambientais é mais do que um ris­
por qu ê , para que , como 15

co, é tornar invisível aquilo que pode ser a estrutura, como se sua existência já fosse pre a “tradução” de um no outro. Exem-
solução: os patrimônios intangíveis. suficiente para gerar softwares/ pro­ plos: sustentável seria fazer uma gestão
BB Esta é uma das maiores mudanças cul­ cessos. A con­sequência é sempre um limpa e renovável tanto do patrimônio
tu­rais: perceber que uma solução para a ­tremendo desperdício, pois hardwares tangível (biodiversidade, recursos natu-
­sustentabilidade está nos patrimônios intan­ não funcionam sem software... E ­ xemplo: rais) quanto do patrimônio intangível
gíveis, como criatividade, diversidade cul­ Olimpíadas e Copa do Mundo, no Brasil. (diversidade cultural, recursos humanos
tural, conhecimento, experiência, cuidado, ­Quase tudo o que está sendo feito é e sociais). Criar “Créditos de Diversi­
valores humanos. São recursos abundantes “hardware”, estrutura – como os está- dade” da mesma forma que existem os
e que se renovam e multiplicam com o uso. dios ou estradas. Pouquíssimo está “Créditos de Carbono”. Damos muita
sendo­feito de “software”: gestão, em- atenção a não desperdiçar energia tan-
DUAS COORDENADAS EQUIVALENTES: preendedorismo. Fazemos os produtos, gível, mas não consideramos o gasto de
TANGÍVEL/ESTRUTURAL E mas não criamos o processo para torná- energia intangível, por exemplo, o “cus-
INTANGÍVEL/PROCESSUAL -los visíveis e circularem; in­vestimos mais to desconfiança”: ambientes e processos
A civilização contemporânea em infraestrutura do que em educação; sem confiança, como a maioria dos pro-
vive a explosiva combinação mudamos prioridades de governo, mas cedimentos burocráticos, resultam em
de evolução tecnológica não alteramos as leis e normas para que enorme desperdício de tempo, dinheiro,
rápida e evolução ética elas sejam possíveis. conhecimento. Aliás, atentamos para os
e social lenta.”12 O interessante é que uma mesma recursos naturais, tangíveis, mas cuida-
Exercitar-se em perceber a equiva- e strutura/ hardware pode receber
­ mos do recurso mais escasso e que de
lência e interdependência entre tangí- ­v ários processos/softwares, ou seja, fato não é renovável: o tempo.
vel/ hardware/ estrutura e intangível/ uma mesma forma pode ter várias fun- Em Desejável Mundo Novo pensa-
software / processo, ajuda a entender ções diferentes. Esta foi nossa lógica: mos em otimizar o tempo e encontrar
onde e como podemos ser mais susten- partir do que já existe hoje e pensar outras funções (processos/softwares)
táveis. A maioria das vezes o foco de po- novas funções. Afinal criatividade e para as formas (estruturas/hardwares)
líticas e investimentos está no hardware­/ inovação é isso. já existentes. Brincando de reinventar
Consideramos também que há sem- estas formas, é curioso ver quanta coi-
12 Ricardo Abramovay, Folha de S. Paulo, 27/03/2012,
pre uma equivalência entre o tangível e sa poderia ser feita com pouco esforço
leia em http://radarrio20.org.br/index.php?r=site/
view&id=233404. intangível, e assim podemos buscar sem- e recursos. Sustentável.
16 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

TRÊS FASES DO TEMPO: PASSADO, sim­plesmente porque já são suficien­ intangível traz a dimensão sociopolítica­
PRESENTE E FUTURO temente bons. Neste livro lidamos bas- e a simbólico-cultural. Curiosamente
Algo que a economia tradi- tante com “envelhação” e não apenas esta última ainda está pouco visível,
cional parece ignorar13 é com inovação... apesar de ser a dimensão em que estão
que qualquer produto ou Olhando para trás nos surpreende- os – abundantes e renováveis – re­
processo sempre existe a mos com barbáries como a Inquisição ou cursos que podem trazer a solução
partir de recursos recebidos a crença de que banho faz mal à saúde. para a sustentabilidade: os patrimônio­
do passado – e isso vale Pensar no Tempo é enxergar o presente ­intangíveis como conhecimento, cria­
­tanto para patrimônios e recursos natu- como se estivéssemos no futuro, pois aí tividade, cultura.
rais (como petróleo ou água) quanto notamos as barbáries do presente, sejam Falamos em capital humano, capi-
para os intangíveis (como os saberes e os engordantes cafés da manhã de tal intelectual, capital social, capital
fazeres). De igual maneira, todo pro- ­hotéis ou os desastres causados por des- ­cultural, capital ambiental, mas ainda
cesso ou produto deixa um legado para calabros do mercado financeiro. Este li- não reconhecemos que “valor” é muito
o futuro, seja ele positivo ou negativo, vro recria ou elimina umas tantas barbá- mais do que o econômico. Reputação
tangível (como resíduos sólidos) ou ries e lembra também que até há pouco (uma das poucas coisas que não é pos­
­intangível (como conhecimento a ser tempo não existiam coisas que por ve- sível copiar), por exemplo, é um valor
sistematizado). Sustentável é fazer a zes sentimos serem irrevogáveis, como a que tende a ser dos mais importantes.
­escolha responsável considerando os moeda centralizada ou a publicidade. Patrimônio não se refere apenas ao
recursos recebidos do passado e o lega- econômico, como investimento, finan-
do deixado para o futuro. O que tem QUATRO DIMENSÕES DA ciamento, mercados, permutas, banco
acontecido é que nossa visão tem sido SUSTENTABILIDADE NOS de horas, moedas complementares. Exis-
imediatista, de curto prazo, com foco PROCESSOS E VALORES te também patrimônio na dimensão
apenas no presente. O aspecto tangível de nos- ­sociopolítica: direitos adquiridos, redes,
Visão temporal implica considerar so ecossistema engloba a tecido social, instituições, articulação, li-
o passado, pois existem produtos e dimensão ambiental – tanto deranças, ação coordenada. Patrimônios
processos que devem ser mantidos natural quanto a tecnológica,­ na dimensão simbólico-cultural: como os
e a dimensão econômica – saberes e fazeres, as linguagens artísti-
13 Como aponta o economista José Eli da Veiga,
www.zeeli.pro.br. monetária e solidária. O aspecto cas, criatividade, história, ­espiritualidade,
por qu ê , para que , como 17

valores humanos. E patrimônios ambien- compreender sempre estas quatro di- possível compreender o ciclo da água
tais: não apenas o ambiente natural – a mensões na sua estruturação e formas estudando apenas o estado líquido,
biodiversidade, as matérias-primas, de avaliar. Isso provavelmente trará a percebemos que o mesmo pode acon-
­nosso corpo e saúde, mas também o necessidade de desenvolver indicadores tecer em relação ao valor. Por exemplo:
­ambiente tecnológico – os espaços, as e métricas quadridimensionais (4D+) de investimos capital financeiro em capital
­estruturas e os equipamento. riqueza, recursos e resultados. humano e assim geramos capital tec­
Nós propomos Sustentabilidade Constatamos que, assim como a nológico que por sua vez pode gerar
4D+ considerando que nossos produtos água muda de estado, ocorre uma capital ambiental.
e processos, para serem eficientes e “mudança de estado” na natureza do Quem sabe em breve teremos uma
­sustentáveis, devem ser sistêmicos e valor. Da mesma maneira que não é Economia 4D+? Para esta, o patrimônio
das nações, instituições e pessoas é a
soma de seus recursos e resultados nas
dimensões tangíveis (ambiental e eco-
nômica) e intangíveis (sociopolítica e
simbólico-cultural). Futuro desejável,
pois isso mudaria os patamares de
­negociação, a tomada de decisão, a
­formulação de prioridade e políticas.
Nosso Desejável Mundo Novo já
opera nesta lógica multidimensional:
projetos, processos, políticas visam sem-
pre resultados 4D+. A economia já foi
reinventada e ganhou novas dimensões
e moedas. As formas de avaliar e medir
também são 4D+, afinal medir vida,
­sustentabilidade e abundância usando
apenas as métricas atuais é como tentar
medir litros com régua. Impossível.
18 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

CINCO “COMOS” DA em que o foco está na morte – e outro menos emprego, mas haverá muito tra-
SUSTENTABILIDADE: de Parceria – que tem foco no suporte à balho no “cuidar de”, que deveria ser
CUIDAR, CONFIANÇA, vida. Pois não é que faz sentido? prioridade nas políticas nacionais16. A
POTÊNCIAS, FLUXO E ­Vivemos há milênios a cultura da domi- rápida recuperação da Islândia pós-crise
COLABORATIVO nação: o medo é o grande motor da de 2008 é um exemplo do foco no cui-
­economia e da sociedade; as teorias dar, sustentabilidade, economia criati-
CUIDAR é o propósito evolutivas se baseiam na ideia de luta, va, e não por acaso é uma gestão feita
O projeto What the World Wants, de lei do mais forte; o que está ligado ao por mulheres.17
199814, mostra que para solucionar a humano, sociocultural, não é valoriza- Em Desejável Mundo Novo os
maior parte (sim, quase tudo!) dos pro- do; as religiões pregam que o melhor da ­futuros selecionados estão ligados ao
blemas da humanidade seria suficiente vida é... depois da morte! CUIDAR e o afeto é o que orienta:
investir por dez anos apenas trinta por O modelo colaborativo é cada vez a fetamos e somos afetados. Como
­
cento do que o mundo gastava em mais presente, graças à sociedade em aponta Leonardo Boff, deveríamos
­armamentos. Passaram-se mais de dez rede, e será provavelmente o do futuro ­considerar mais a inteligência afetiva,
anos, a escolha para o bem comum não (ou não teremos futuro...). Para isso, o já que ela é mais evoluída surgindo
foi feita e os gastos com armas duplica- cuidar deveria ser a lente que norteia ­apenas nos mamíferos18.
ram. O futurista Buckminster Fuller diz escolhas, prioridades e políticas em to-
“Ou a guerra é obsoleta ou a huma­ das as áreas. Para cada coisa, projeto,
nidade é que é...”. Por que seguimos lei, investimento, relação, atitude, fazer
­fazendo escolhas insensatas? a pergunta: isso cuida de quê? Quanto
16 Uma das propostas de Ladislau Dowbor; Carlos
A historiadora Riane Eisler15 propõe mais cuida, mais merece nossa escolha,
Lopes e Ignacy Sachs no livro http://criseoportunidade.
uma releitura de nossa história a partir já que o cuidar é por natureza sustentá- wordpress.com
de dois modelos: um de Dominação – vel e com visão de longo prazo. 17 Uma entre muitas matérias. Note que optaram por
No cuidar estão muitas das ativi­ não salvar os bancos e sim, por investir nas pessoas.
14 O Que o Mundo Quer, veja a tabela que mostra esta dades do futuro: cuidar não apenas da http://internacional.elpais.com/internacional/2012/03/09/
relação e a proposta em http://www.unesco.org/education/ actualidad/1331323885_752952.html
tlsf/mods/them e a/interact/www.worldgame.org/
­natureza, mas das pessoas, cidades, sa-
18 Este é um de seus textos que cita o tema
wwwproject/index.shtml. beres e fazeres, tempo, relações, modos
http://www.mndh.org.br/index2.php?option=com_content
15 http://www.rianeeisler.com/ de vida, recursos 4D+. O futuro terá &do_pdf=1&id=60
por qu ê , para que , como 19

Ambientes e processos Os custos desconfiança são enormes, veja colaborativo, intuitivo, cada vez mais
de CONFIANÇA são a base ao seu redor quanta coisa é movida à guiado pelo bom senso do coletivo.
“Ser ou Estar, eis a questão...” Revisi­ desconfiança... Já imaginou quanto nos Nada disso é possível sem confiar. Como
tando Shakespeare notamos que há custa o entrave provocado pela enorme colaborar e conectar sem confiar? As
uma tremenda diferença entre o ser e o burocracia que tenta, com pouco sucesso, mudanças atuais são tantas e tão rápidas
­estar. O Japão é pobre – muitos desas- evitar corrupção e faz com que a maioria que cada vez mais temos que usar a in-
tres naturais, terra insuficiente para dos órgãos públicos do Brasil não consiga tuição e o bom senso como parâmetros,
­cultivar comida para todos, inverno ri- executar seus orçamentos anuais, devido e também eles dependem de confiança.
goroso. Porém, está rico, sua população às dificuldades de contratação? Desejável Mundo Novo é feito por
tem qualidade de vida. Já Moçambique A falta de confiança está por trás de e para aqueles que confiam – em si, no
está pobre, mas é rico – com sua abun- boa parte das desarmonias que vemos outro, em sua comunidade, em uma
dância de recursos naturais, diversidade no mundo, em qualquer âmbito da vida causa, percebem que há bom senso no
cul­tural, localização e clima privilegia- humana, e é fortemente alimentada coletivo e que é possível conviver e
dos. Por quê? Observando processos de pela grande mídia, que tem no medo operar a partir dele.
desenvolvimento fica claro que o capi- seu principal produto.
tal que é capaz de ativar os outros é Confiança é a base para processos Trabalhar sobre as POTÊNCIAS
aquele que é abundante no Japão e es- ligados a atividades que têm nos recur- já existentes é o recurso
casso em ­Moçambique: o Capital Social sos intangíveis sua matéria-prima e já Quando engenheiros traçam uma estra-
– r­ esultados coletivos e econômicos ob- vimos que estas são nosso caminho de da não partem dos buracos, mas sim de
tidos ­mediante relações sociais coope- futuro – já que os recursos intangíveis terreno firme. Podemos somar quantos
rativas e de confiança: planejamento e são abundantes e se multiplicam com o buracos forem, estes serão sempre um va-
ação integrados, instituições fortes, cul- uso. A experiência turística, a criativida- zio... No entanto, nossa cultura é operar
tura de solidariedade e cidadania. de, os valores de uma empresa, a gover- na lógica do buraco, do que falta e não
E capital social depende de quê? Re- nabilidade, o aprendizado, dependem do que há; vem daí o assistencialismo,
ciprocidade e confiança pessoal, interpes- de confiança. que desempodera e não resolve. Nor­
soal e institucional. No Japão as pessoas Desconfiar consome muito tempo, malmente as reuniões de planejamento
deixam suas bolsas marcando lugar na recursos, energia, conhecimento, ale- ­começam com a pergunta “O que nos
fila do Metrô enquanto vão ao banheiro! gria. É insustentável. O futuro é em rede, falta?” e não com “O que já temos?”.
20 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Será que esta


permanente sensa-
ção de “falta” – e o
consequente consumis-
mo e desperdício – não
vem do fato que não enxer-
gamos o que temos e esta-
mos sempre focados na meta- Avião usado transformado em parque
de vazia do copo? Esta sensação para crianças. Angela León, 2012.
também é maior porque ainda não
aprendemos a “tangibilizar o intangí- bém gera ambientes de confiança, no bem” com a potência dos bancos de da-
vel” e perceber recursos e patrimônios pessoal e comunitário, e já vimos que dos públicos, que são meras listas, sem
para além do econômico e tangível. confiança é o que alimenta o capital so- possibilidade de uso. Aliás, a definição
Verificamos que há abundância de cial – justamente aquele que nos falta. que dão de “hackear” é interes­sante:
recursos se mudarmos de perspectiva: A sociedade em rede permite cada conhecer profundamente as ferramen-
não mais trabalhar sobre carências, mas vez mais que cada um possa exercer sua tas, para poder encontrar novos usos,
sim sobre potências, o diferencial e for- potência e escolha, por meio da cocria- ampliar sua função.
taleza de cada pessoa, instituição, comu- ção e participação. A Transparência Ha- Em Desejável Mundo Novo “ha-
nidade. O reconhecimento e a valoriza- cker19, movimento que gera aplicativos ckeamos” as coisas que desejamos mu-
ção do que é próprio levam a identificar para tornar operacionais e visíveis os da- dar: criamos novas funções para as es-
os recursos 4D+ ( sociais, culturais, am- dos públicos, trabalha juntando a po- truturas existentes, pois, mesmo
bientais e econômicos) disponíveis e daí tência das habilidades de “hackers do quando parecem apenas um delírio di-
para frente podemos ver o que fazer vertido, apontam caminhos sustentá-
com eles. Reconhecer as potências tam- 19 http://thacker.com.br/ veis. Por que não?
por qu ê , para que , como 21

FLUXO justo e acessível 4D+: ambientais, sociais e culturais, Nossa visão é otimista (somos
dos recursos é o objetivo além do econômico. entusiasmo!)22, por isso olhamos o lado
Quando treinamos nosso olhar para Atentar para os fluxos revela uma cheio do copo e percebemos que estes
enxergar potências, verificamos que há coleção de barbáries do presente. A dados revelam oportunidades. Desejá-
abundância, o que falta é fluxo. Na energia anual que a controversa hidro- vel Mundo Novo considera que é um
­Natureza existe saúde onde há fluxo. elétrica de Belo Monte pode gerar privilégio viver nesta época em que,
Água parou, apodreceu; sangue pa- equivale ao que é desperdiçado pelo pela primeira vez na história da huma-
rou, morreu. Quem sabe, possamos ter sistema de transmissão de energia. No nidade, há recursos, conhecimentos e
uma visão mais ampla e sistêmica de Brasil, o Censo de 2010 revelou que o pessoas suficientes. E espera colaborar
s ustentabilidade se pensarmos em
­ número de casas vazias superava para promover escolhas conscientes e
identificar, promover e regular fluxos? o ­déficit habitacional, e mesmo assim sensatas, que façam circular esta abun-
Tsunamis ambientais e tsunamis fi­ o mercado imobiliário seguiu cons­ dância de forma justa.
nanceiros; fome ou obesidade; mobi­ truindo (mais uma bolha prestes a
lidade social e mobilidade urbana: estourar?)20. Faz sentido que os aproxi- Processos COLABORATIVOS
­problemas de fluxo. madamente trinta trilhões de dólares e em rede são o mecanismo
Dinheiro, conhecimento, comida, empenhados em salvar bancos21 na cri- Quando, em 1987, Riane Eisler propôs
água, saúde, cultura, afeto, vestuário, se de 2008 equivalem a um salário os dois modelos já citados de Domina-
habitação, energia – quanto do proble- mensal de US$ 357,00, por um ano, ção/centralizado e de Parceria/distribuí-
ma é de escassez real e quanto é de para os sete bilhões de habitantes do do, ainda não havia a noção de “cola-
­falta de fluxo? planeta? Ou notar que na “nuvem” borativo” ou a web. Mas a tipologia das
A abundância fica ainda mais evi- ­financeira circulam capitais 75 vezes redes traduz bem seu pensamento:
dente quando consideramos recursos maiores do que o PIB mundial? No Modelo Centralizado, o movi-
e resultados tangíveis e intangíveis. mento é de poucos para muitos: tudo
­Garantir sua valorização e fluxo, como 20 http://www.ecodebate.com.br/2010/12/15/ que é “de massa” – mídia, cultura, con-
uma espécie de “sistema de conversão” numero-de-casas-vazias-supera-deficit-habitacional- sumo, turismo, eventos; “grande” –
brasileiro-indica-censo-2010/
entre dimensões, é mais um dos moti- ­cidades, corporações, mercados, dívidas;
21 Veja também http://www.telegraph.co.uk/finance/
vos pelos quais num Desejável Mundo
newsbysector/banksandfinance/6722123/Bailing-out-the- 22 A Enthusiasmo Cultural lançou e coordena Crie
Novo há novas métricas e indicadores banks-cost-5500-per-family.html Futuros.
22 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

“mono” – cultura, teísmo, moeda; médios23; tudo é Multi e Trans – disci­


­“concentrado” – tomada de decisão, plinar, setorial, cultural, fronteiriço. A
renda, poder, recursos, conhecimento. ­tomada de decisão, renda, poder, recur-
Modelo hierárquico, basta pensar no sos, conhecimento são compartilhados.
significado da palavra “real”, e que Neste modelo estamos em rede, somos Modelo colaborativo,
­vivemos a “realidade”– não há povali- coautores, e portanto corresponsáveis, de muitos para muitos.
dade – o que é pessaol não importa ne, e o mundo virtual vai contribuindo para
é visível. As tecnologias são ligadas ao que exista finalmente uma “povalida-
tangível/ ­estrutural, se originam da de”, ao tornar visível e importante o Como ganhar tempo? Como ganhar
guerra – ou dela são derivadas, como a pessoal. As tecnologias são ligadas ao tudo? Colaborando. Nenhuma empresa
internet ou os games. Impomos nossa intangível/processual, tecnologias socio- do mundo teria recursos ou pessoas sufi-
visão à Natureza, traduzindo-a em luta, culturais, que se originam do suporte à cientes para fazer a Wikipédia, com
competição, lei do mais forte. Nosso vida. Aprendemos com a Natureza, há ­todos seus verbetes e línguas – ela só é
mote há milênios tem sido “a conquista quatro bilhões de anos um case de su- possível colaborativamente. Cálculos
do espaço”, que traz consigo a noção cesso, e passamos a atuar com designers mostram que foram necessários cem
do possuir. de ideias e processos baseados em bio- ­milhões de horas. Parece muito, mas isso
No Modelo Colaborativo, o movi- mimetismo. Modelos colaborativos es- equivale às horas gastas assistindo a co-
mento é de muitos para muitos: o de tão baseados no uso ou desfrute e não merciais de TV, em um fim de semana
“massa” é substituído pelo diverso, na posse – precisamos ter coisas ou usar nos EUA!!24 O mundo vê um trilhão de
­caracterizando e qualificando todos os coisas? E nosso mote de futuro passa a horas de TV por ano. Já imaginou tudo o
­aspectos da vida; o grande é substituído ser “a conquista do tempo”, pois ao ga- que poderíamos fazer de forma colabo-
por uma diversidade nhar o espaço, perdemos o tempo, este rativa aproveitando horas de tempo livre
de pequenos e recurso escasso, não renovável e que é a e conhecimento compartilhado?
chave para tudo de melhor que a vida Este livro também foi feito de for-
pode trazer. ma colaborativa e o conjunto de ­futuros

23 Note que as grandes corporações geram 24 Cálculos feitos pelo MIT e Clay Shirky em Cultura da
Modelo centralizado, de a maior parcela do PIB. Mas as MPEs geram a grande Participação. Assista www.ted.com/talks/clay_shirky_how_
poucos para muitos. maioria dos empregos. cognitive_surplus_will_change_the_world.html.
por qu ê , para que , como 23

que o inspira – nossa wikifuturos25 – Por que não E ainda temos um sonho27?
­revela que o desejo das pessoas está no Os cientistas ganhadores do Blue
melhor uso do tempo, assim como em mudamos o mundo? Planet Prize, uma espécie de Nobel do
conviver e compartilhar. Meio Ambiente que existe desde a Eco
Desejável Mundo Novo é aquele A ideia de Crie Futuros nasce em 1º de 92, começam seu texto para a Rio +2028,
em que se buscam a mistura, o cami- janeiro de 2007, num mix de crise pesso- reafirmando que sim, eles têm um
nho do meio, a resultante. Cair em po- al (perguntei-me “como desejo viver?” e ­sonho. Seu sonho questiona o mito do
larizações é sempre um risco, e talvez o notei que não sabia, só sabia como de- crescimento eterno e a visão de que “a
melhor modelo seja a combinação dos via fazer) e efeito pós-leitura de Massive economia verde será capaz de compa­­
modelos da página ao lado, como re- Change, do designer de ideias Bruce tibilizar o tamanho do sistema econô­
presentado no rizoma26. Mau – uma coletânea de informações mico, sempre maior, com os recursos­
sobre tecnologias e pessoas que partici- ­limitados dos ecossistemas”29.
pam de um redesenho do mundo. Com A economia verde, sozinha, pode
Rizoma. estas questões na cabeça, e preparando não conseguir tornar-se uma solução
uma palestra sobre os anos 60, decido para a sustentabilidade. Mas Desejável
começar 100 anos antes – para mostrar Mundo Novo considera que economia
como tudo convergia para um grande criativa, riqueza multidimensional e co-
salto de consciência e comportamento laboração são chaves importantes para
que, supostamente, se seguiria aos efer- que isto seja possível e possamos dese-
vescentes acontecimentos dos anos 60 e nhar – e viver – o mundo melhor que
70. O resultado dessa mistura de ano desejamos. Talvez ainda não tenhamos
novo, mudança maciça e anos 60 é a mudado o mundo porque achamos que
­velha pergunta que não quer calar: se
27 A emblemática frase de Martin Luther King:
25 Em www.criefuturos.com, com futuros ­temos recursos, conhecimentos e pesso-
I have a dream.
macrotemas deste livro. as para tanto, por que não mudamos o
28 http://www.af-info.or.jp/en/bpplaureates/
26 Modelo inspirado na Natureza, proposto por mundo? Por quê? doc/2012jp_fp_en.pdf
Gilles Deleuze e Félix Guattari, em que a organização dos
elementos não segue linhas de subordinação hierárquica 29 http://radarrio20.org.br/index.php?r=site/
e qualquer elemento pode incidir em outro. view&id=233404
24 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

é impossível! O nosso sonho é que os que eles sejam lidos de forma original, em box destaque, ou estão
futuros que oferecemos a seguir, cria- independente quanto para acentuar as entremeados em meu texto. Também estão
dos entre 2008 e 201230 e muitas vezes lógicas e premissas que propomos. em box os textos de convidados. As
inspirados em práticas que já existem, Os futuros do nosso acervo, texto ou delicadas ilustrações de Ângela León foram
possam inspirar, motivar, apontar cami- desenho, aparecem em sua redação feitas especialmente para o livro.
nhos, inovações e “envelhações”.

Um lembrete: A divisão de temas nos


próximos capítulos é didática, para facilitar
a organização e pesquisa dos futuros.
Evidentemente, na vida cotidiana tudo
está misturado. Os temas que trabalhamos
(uma parte muito pequena do que seria
possível abordar...) são aqueles mais
recorrentes ou relacionados com os eixos
que norteiam o livro: sustentabilidade
alcançada por meio da economia criativa,
novas tecnologias e modelos colaborativos.
E, claro, toda mudança de mentalidade que
isso requer. Algumas informações se
repetem nos capítulos, tanto para permitir

30 Cabe ressaltar que os estilos de vida retratados


refletem os grupos que os criaram. A diversidade
de pessoas é grande, mas o resultado traz ainda
uma visão predominante urbana, ibero-americana,
A Chegada do Ano 2000. Albert Robida, França, 1882.
jovem e de classe média.
por qu ê , para que , como 25

Um diálogo no Futuro1 — Não, são todos diferentes e ninguém quer se parecer com o outro.
— As religiões acabaram?
Pichi de Benedictis, Rosário, Argentina, 2008 — Não, existem centenas de religiões.
Gestor cultural, músico, fotógrafo, docente,um dos criadores do projeto Rosário Ciudad — Então, as pessoas acreditam em Deus?
Creativa/Franja Joven — As pessoas acreditam. Isso é o importante, alguns, certamente, em deuses.
— Vivem eternamente?
Isto é o que me lembro de um diálogo, ocorrido no futuro, entre um enfer- — Não, cerca de 100 anos, de acordo com a decisão de cada um.
meiro e um milionário criador de personagens de fantasia (digamos Walt Disney) — Como assim, de cada um?
que acorda de um sonho criogenizado. Tenho que avisá-los que nem tudo o que — É que cada um decide como viver. As pessoas escolhem se querem comer
pude lembrar daquela conversa pode ser interessante ou congruente para gente bem ou mal, não podemos obrigar ninguém. Alguns gostam de arriscar, não sei,
do século XXI como nós. Imaginem o estado de perturbação de um homem que escolhem como viver e como morrer.
ficou inconsciente durante séculos. Mas talvez seja melhor assim, sem certezas, — Não existem problemas, então?
para não acabar com a possibilidade de que o futuro nos surpreenda. — Sim, senhor, muitos problemas, por sorte. O que seria de nós sem problemas.
Seguramente andaríamos por ai nos matando uns aos outros. Gostamos de
Ainda um pouco tonto e tremendo de frio, o Sr. Disney perguntou: discutir apaixonadamente sobre tudo, isto faz com que, ao terminar, se desfrute
muito melhor a cerveja.
— Existe somente um tipo de governo? Como não entendia muito bem o que se passava na Terra, o Sr. Disney preferiu
— Não, existem milhares e as pessoas mudam de acordo com seus interesses. sair deste contexto e perguntou:
— E o que aconteceu com o Estado? — Existe gente vivendo em Marte?
— Pertence a todos. Passou a ser de todos quando as licitações fracassaram. — Sr. Disney, por que iríamos viver em algum lugar tão distante e escuro tendo
— Como assim, “as licitações”? todo o sol a nossa disposição, ar limpo para respirar profundamente ou rios de
— Bom, quando o sistema de governo por partidos políticos fracassou, durante água transparente.
muito tempo as pessoas elegiam empresas para gerenciar as cidades, mas tam- — Mas, então, a Terra não é nenhum deserto nem uma grande geleira?
bém não funcionava bem. Logo, tentaram criar computadores capazes de dar — De acordo com o que li, a única diferença entre a sua época e a nossa é que
todas as instruções para administrar as cidades, mas também não funcionou. agora o deserto e as geleiras são somente lugares turísticos, talvez como antes
Sendo assim, finalmente, decidimos fazer nós mesmos. fossem os seus falsos parques na Flórida. Temos muito tempo para ir de um
— E, finalmente, todos os homens são iguais? lado ao outro e amamos as montanhas, os rios, estar com gente diferente,
­provar suas comidas…
1 O original, de 2008, pode ser encontrado em http://criefuturos.com/futuros_criados/ — Explodiram a bomba atômica?
CF._Economia_Criativa_Pichi_de_Benedictis#pageFiles
26 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

— O que era a bomba atômica, senhor? — Fale-me do campo, o que cultivam?


— Não leve a mal a minha pergunta, mas estamos sozinhos: Existem — Em que época? Em que lugar, Sr. Disney? Cultiva-se o que é necessário para
as mulheres? viver. Você faz umas perguntas absurdas. As pessoas deixam em seus campos
— Como se pode imaginar qualquer tipo de vida sem mulheres!? um espaço para semear o que os outros precisem.
— Ah, então existe o casamento? — Existem povoados e cidades?
— Não, não sei o que é o casamento. — Claro que sim. E cada lugar tem sua festa diferente de todas as festas;
— Conte-me sobre os robôs e as máquinas. Morro de curiosidade. cada lugar tem sua comida diferente de todas as comidas; cada lugar tem
— Não faça isso, senhor Disney, justo agora que reviveu, vai voltar a morrer! seu produto diferente a todos os produtos; e muitos produtos necessários a
Olhe, não sei o que é um robô, sinto muito desapontá-lo. E sobre as máqui- todos os lugares.
nas, devo dizer que se construíram muitas nos últimos anos, mas só algumas Todos somos o todo.
nos serviram para alguma coisa, por exemplo, a máquina de mostrar as
­pessoas como são.
— Isso já existia antes, se chamava Raio x.
— Não, senhor, não me entendeu: como são. Creio que antes a chamavam de
terapia ou psicanálise, mas faziam isso sem as máquinas e não dava o
­resultado esperado. Deixe-me seguir.
Inventou-se a máquina de exterminar máquinas, para que as suas tarefas
­fossem cumpridas pelos homens; a máquina de limpar lixo espacial que
­tampava as estrelas; a máquina que recicla excrementos humanos e a que
purifica a água dos nossos domicílios para que chegue limpa aos rios.
Ia lhe dizer que também inventaram os carros que funcionam à água, mas me
lembrei a tempo que foram criados no século XX, embora ninguém explique
por que não os utilizavam nessa época.
— Com tão poucas máquinas, vocês devem estar muito ocupados, quanto
­tempo as pessoas trabalham por dia?
— Olha, só seis horas, durante a metade do ano.
— Só a metade do ano? E o que fazem o resto do tempo?
— Conhecem lugares, ajudam aos que precisam, educam, informam, se unem
com outras pessoas para pensar como se poderia viver melhor. Creio que agora
Rogério, Rio de Janeiro, 2011.
estão mais ocupados em viver do que em sobreviver.
TAGS: 4DxT –TAGS:
avaliação – bens intangíveis e tangíveis – crédito
– bolsa de valores humanos – economia – economia criativa
– economia verde – gestão – impostos – indicadores – lazer
– medidas sustentáveis – métricas – multidimensional –
novas moedas – profissões – participativo - riqueza –
tempo livre – trabalho – valores absolutos e relativos

x
2 Ganhar,
capítulovalorar, negociar

“Em economia, é fácil explicar o passado. Mais fácil ainda é predizer o futuro.
Difícil é entender o presente.”
“Frase”
Joelmir Beting
Autor
28 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Trabalhar para 20131, a população tardou a perceber


com clareza esses mecanismos e suas
viver ou viver consequências – ainda em meados do
para trabalhar? século passado o economista John
­Kenneth Galbraith2 dizia: ”O processo
“Ganhar a vida” era uma curiosa ex- de criação de dinheiro é tão simples que
pressão utilizada até algumas décadas a mente o rejeita”.
atrás, antes que ficasse claro que o Tem- Um exemplo: em 2010 um veículo
po é o que tem mais valor e que a vida especializado 3 informava: “Um dos
já está ganha! Cabe-nos desfrutá-la da maiores riscos da saúde financeira mun-
melhor forma possível... “Ganhar” refe- dial são os 1.2 quatrilhões de dólares do
ria-se a receber um único tipo de moeda Mercado de Derivativos”. Infelizmente,
em troca de bens oferecidos ou serviços nossos pesquisadores não encontraram
prestados. ”Vida” referia-se a pagar uma descrição clara sobre o que era co-
despesas ao final do mês, sem qualquer mercializado nesses mercados e tam-
tipo de compartilhamento de tarefas ou pouco conseguiram compreender o que
troca por horas de trabalho/habilidades, isso queria dizer, uma vez que esse valor
também pagas nessa moeda única. Esta equivalia a aproximadamente 20 vezes
situação, em que as pessoas mais viviam o PIB mundial (PIB é a antiga forma de
para trabalhar do que trabalhavam medir a riqueza das “nações” – unida-
para viver, era agravada pela já muito des de gestão que hoje corresponderiam
estudada distorção que levou à Grande
Bolha de 2013: existia “ganhar” sem en- 1 Se de fato foram investidos em torno de US$ 30
trilhões para salvar empresas do sistema financeiro em
volvimento de vida, bens ou trabalho,
2008/2009 isso corresponderia a um ano de salário mensal
mas pela emissão das moedas únicas ou de mais de US$ 400, por habitante do mundo.
de especulação financista. Apesar das 2 http://www.chrismartenson.com/crashcourse
Science and Invention – a invenção é um Eliminador
várias crises que antecederam a de de Sono, permite que se possa viver para trabalhar!!
3 http://www.dailyfinance.com/2010/06/09/
EUA, 1923.
risk-quadrillion-derivatives-market-gdp/
G a n h a r, va l o ra r, n e g o ci a r 29

aos nossos MacroESA– Macro Ecossiste- sez4”. Um milionário poderia então ser possível quando o acesso global e irres-
mas Socioambientais) e a quantia, divi- rico de dinheiro, mas escasso de tempo trito às TICs resultou em melhor educa-
dida pelo número de habitantes do pla- ou liberdade; um emprego podia garan- ção, mais transparência dos processos e
neta, resultaria em US$ 171.429,00 por tir abundância de segurança e escassez consequentemente melhor capacidade
pessoa, ou um ano de salário mensal de de autonomia; uma empresa poderia de escolha e decisão por parte da popu-
US$ 14.285,00 por terráqueo. gerar abundantes dividendos para os lação. Isso fez também com que nestas
E qual seria uma riqueza verdadei- acionistas e escassos benefícios para sua últimas décadas fosse quebrado um pa-
ra? Vimos espalhar-se a visão de riqueza comunidade ou mesmo um expert inter- drão histórico por eles percebido, e
como “Abundância que não gera escas- nacional poderia ser abundante em apelidado de “dança do caranguejo”.
­experiências e escasso em vínculos. Era um padrão de avanço e retrocesso
A grande instabilidade dos primei- que marcou quase ritmicamente as dé-
ros vinte anos deste século provocou cadas do século XX e início do XXI –
mudanças aceleradas e profundas. Nos veja-se, por exemplo, a alternância en-
BVH: Bolsa de Valores Humanos
anos vinte assistimos a um redesenho de tre governos progressistas e conserva-
Baseia-se nos seguintes índices:
1 - Índice de Expressão de Talentos;
praticamente todas as áreas da vida, e dores, que eram curiosamente chama-
2 - Índice de Transparência /Telepatia; com grande abrangência, graças ao pro- dos de “direita” e “esquerda” e que,
3 - Índice de Saúde Emocional ou do Brincar; cesso de compartilhamento e difusão de logo antes da extinção do sistema de
4 - Índice do desapego material ou tecnologias – tanto as “hard”, tangíveis, governo por “partidos”, tornaram-se
equilíbrio material; quanto as “soft”, intangíveis. Nos anos bastante indistintos em seus propósitos.
5 - Índice do vínculo afetivo; 30, essas novas estruturas foram moni-
6 - Índice de redução extrativa; toradas e ajustadas pela sociedade, por
7 - Índice de beleza; meio da CGDD: CoGovernança Direta
8 - Índice de gentileza. Digital. Um ano atrás uma dupla de
Gabriel, Sonia Bosco, Camila Aragão, Elen ­historiadores apresentou uma tese na
Igershemer, Mônica Cristina Ladim, Woody,
Rio + 50, mostrando que o CGDD foi
Laura, Helen Rose, Renata Proetti, Leatrice
­Cristina Affonso, Marilena Flores Martins, 4 Metariqueza: conceito cunhado em 2008 por
Brasil, 2009. Roberto Adami Tranjan http://www.leituracorporativa.com.
br/open.php?pk=34&fk=63&id_ses=4&canal=16
28 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

ÍNDICE MULTIDIMENSIONAL DE RIQUEZA, afirmar que alguns vetores deste sucesso foram a B) Conjunto de indicadores de riqueza, norteados
UM FUTURO DESEJÁVEL1 gestão multissetorial, educação transdisciplinar, pelo conceito de interdependência e valores huma-
O exercício abaixo foi criado em novembro de 2008, ­produção colaborativa, ação em redes e o empode- nos e que, ao abranger as dimensões do quadripé da
São Paulo, durante o Global Fórum América Latina, ramento de comunidades. Hoje, podemos afirmar Sustentabilidade Integral, promovam equilíbrio entre
uma iniciativa que é parte do BAWB – Business as que a ressignificação de riqueza como “abundância o material, tangível e o intangível visando à qualida-
Agent of World Benefit. Seguindo os passo a passo da que não gera escassez” é uma realidade.” de de vida.
Investigação Apreciativa foi construído o cenário
abaixo, para 2020. Se qualquer coisa fosse possível, projetamos: C) Legislação e políticas que transformem e regula-
INDÍCE MULDIMENSIONAL DE RIQUEZA: NOVOS mentem os fluxos econômicos e sociais que vão via-
Afirmação Aspiracional: Uma notícia em 2020 INDICADORES, MOEDAS E FLUXOS. bilizar a aplicação do IMR.
“A União Européia, último bloco econômico a adotar o
Índice Multidimensional de Riqueza (IMR), consolida Frase Aspiracional: Envolvidos:
o modelo desenvolvido pela ULA – União Latino- “Indicadores Multidimensionais de riqueza − Força Tarefa multissetorial e transdisciplinar para
-Americana e criado a partir da crise econômica global geram Sustentabilidade Integral para a desenhar a base do processo, que seria em seguida
de 2008.” humanidade e o planeta.” desenvolvido por grupo de trabalho transdisciplinar.
Tanto o conjunto de indicadores quanto as novas Eixos: sustentabilidade, inovação, desenvolvimento,
moedas do IMR permitem o equilíbrio na gestão do Maquete simbólica realizada pelo grupo – síntese cooperação.
quadripé da Sustentabilidade Integral: as dimen- inspiracional. Protótipo: − Instituições cujo trabalho já contenha referência ao
sões econômica, ambiental, social e cultural, men- Indíce Muldimensional de Riqueza inclui: tema; seleção de profissionais de perfil transdiscipli-
suradas por meio de métricas quantitativas e quali- nar originários de instituições de ensino (meio am-
tativas. O novo modelo vigente, que prioriza valores A) Moedas/métricas relativas ao quadripé da biente, direito, comércio cultura, política, desenvolvi-
humanos e recursos intangíveis (conhecimento, Sustentabilidade Integral (dimensões ambiental, mento etc.). Inclui “praticantes” e “pesquisadores”.
criatividade e cultura), ­alcança seus objetivos de social, cultural e econômica) que permitam sua
gerar políticas públicas e privadas baseadas no mensuração, avaliação, intercâmbio. Medir desenvol- Indicadores/cronograma
conceito de interdependência e voltados para a vimento e sustentabilidade só pelo valor econômico é Curto Prazo:
qualidade de vida da humanidade no planeta. como tentar medir litros com régua. Capital humano e Pesquisa preparatória:
A partir dos resultados de 2017 na África, podemos cultural, capital social, capital tecnológico e ambiental − Antecedentes: experiências e informações no tema.
permitem que diversidade cultural e natural, solidarie- Ex: FIB, Icons 2003, Indicadores de Sustentabilidade
1 Saiba mais sobre o Global Fórum América Latina e
dade, articulação, saberes e fazeres tradicionais, criati- de Nações e outras publicações, Economia Criativa e
veja a notícia em http://www.compendiosustentabilidade.
com.br/compendiodeindicadores/praticas/
vidade possam integrar a equação do desenvolvimen- Desenvolvimento Sustentável, Moedas Solidárias.
default.asp?paginaID=27&conteudoID=345 to sustentável. − Pesquisa de instituições e nomes para integrar a
G a n h a r, va l o ra r, n e g o ci a r 29

Força Tarefa inicial (Módulo Moedas, Módulo Indica-


dores, Módulo Legislação e Políticas). Economia da reúne as Empresas Sociais 3.0, os Cola-
Três meses: boratórios e os OrganoColetivos) no
− Distribuição de material preparatório resultante da
abundância, desenvolvimento de formas mais segu-
pesquisa. Economia sistêmica ras e abrangentes de mensurar a rique-
− Primeira reunião da Força Tarefa para estabelecer za. Foram os primórdios da constituição
as bases do projeto e definir quais os grupos de tra- Uma parte substancial das Medidas do que hoje é nossa Economia 4DxT,um
balho em cada módulo. Sustentáveis 4DxT, implementadas nos sistema quadridimensional, em que a
anos pós-Rio + 20, estava relacionada a dimensão econômica passou a chamar-
Longo Prazo: redesenhar o sistema econômico, pois -se “financeira” (já que “economia” de-
Seis meses:
ficou evidente que sem estas alterações signa o conjunto que inclui as outras
− Design de campanha de comunicação e mobiliza-
seria impossível avançar. O Brasil come- três) e a ela somaram-se os valores e as
ção, para preparar terreno para a mudança, simulta-
çou a trabalhar o tema em 2015, ten- métricas das dimensões ambientais,
neamente aos grupos de trabalho.
− Grupos de trabalho nos três módulos. tando evitar que o endividamento e os s ociopolíticas e simbólico-culturais.
­
Um ano: erros estratégicos causados pela Copa Hoje, para simplificar a redação, apenas
− Primeiro esboço apresentado. do Mundo (2014) se repetissem nas acrescentar o D/ ao nome já o caracteri-
− Segue campanha de preparação de terreno, agora Olimpíadas (2016). Foi, portanto, um za: voluntariado é um recurso D/finan-
realizada pela sociedade civil que já está mobilizada. dos pioneiros no desenho de uma eco- ceiro, governança um recurso D/Socio-
Dois anos: nomia sistêmica, multidimensional, e político, rede de esgotos um recurso D/
− Experiência piloto (ex.: município), monitoramento, alguns dos passos deste processo são ambiental e festas populares um recur-
adaptações necessárias. ­listados a seguir. so D/simbólico-cultural.
− Campanha multiplica resultados obtidos e inicia O universo empresarial costuma ser Esse processo de ampliação da eco-
preparação de terreno em outros âmbitos.
rápido e inovador, e isso também acon- nomia foi também necessário quando
Três anos:
teceu naquele momento de grande Economia Verde e Economia Criativa fo-
− Implementação da versão beta em âmbito amplia-
mudança. Percebendo que seu valor fi- ram consideradas prioridade estratégica
do (ex.: Estado)
− Início de campanha de sensibilização/mobilização nanceiro oscilava muito, ou dissolvia-se para governos e países. Para isso, foi
em esferas mais abrangentes e no exterior. em sucessivos estouros de bolhas, as preciso tangibilizar, mensurar, avaliar e
empresas associaram-se a organizações criar mecanismos de troca e conversão
do terceiro setor (similar ao que hoje entre as várias formas de riqueza –
28 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Indicadores de Qualidade do Projeto As bases para essa gias já existentes de avaliação socioam-
Apropriação: Equilíbrio entre o desejado e o alcançado. transformação da eco- biental9. Indicadores e métricas foram
Coerência: Relação teoria/prática. nomia já estavam deli- inicialmente combinados, adaptados e
Cooperação: Espírito de equipe, solidariedade. neadas nas metodolo- sistematizado na lógica 4D, para facili-
Criatividade: Inovação, animação/recreação.
gias de todos aqueles tar sua compreensão e aplicação.
Dinamismo: Capacidade de auto-transformação segundo as necessidades.
que necessitavam mé-
Eficiência: Identidade entre o fim e a necessidade.
tricas para além do
Estética: Referência de beleza.
Felicidade: Sentir-se bem com o que temos e somos.
quantitativo e finan- Tempo:
Harmonia: Respeito mútuo. ceiro. As antigas ONGS
Oportunidade: Possibilidade de opção. contribuíram com as- o quinto elemento
Protagonismo: Participação nas decisões fundamentais. pectos ligados às di-
Transformação: Passagem de um estado para outro melhor. mensões sociopolíticas Entretanto, conseguimos de fato avan-
Indicadores aplicados pelo Centro Popular de Cultura e simbólico-culturais5; çar nas questões de sustentabilidade
e Desenvolvimento, CPCD, Brasil. os processos multis­ quando incluímos o elemento TEMPO,
setoriais de busca de transversal a todas as dimensões. Aí
­soluções para a gestão passamos à Economia 4DxT, uma Eco-
t­ angíveis e intangíveis. No âmbito em- pública e cidades6, com indicadores de nomia da Abundância. A economia tra-
presarial houve uma grande mudança governabilidade e qualidade de vida; o dicional, vigente até o final dos anos 10,
na tomada de decisão, uma vez que foi setor financeiro7 e empresarial8, com as tinha uma visão de curto prazo, com
possível “enxergar” os resultados e o metodologias de avaliação de intangí- foco apenas no presente. Não conside-
valor gerados pelas áreas ligadas a in- veis, e a estas somaram-se as metodolo- rava10 que todo produto ou processo
tangíveis, como P&D, RH, Comunicação, existe sempre a partir de um legado re-
5 http://www.cpcd.org.br/principal/
Responsabilidade Social e Ambiental. cebido do passado – e isso vale tanto
publ/Guia%20IQP.pdf
Antes, eram consideradas despesa e não para patrimônios e recursos naturais
6 http://www.nossasaopaulo.org.br/
receita e depois ficou evidente sua cen- observatorio/indicadores.php
tralidade como geradores de valores- 7 Busque por BNDES, MAE e Eduardo Rath Fingerl 9 http://footprint.wwf.org.uk/ www.globalreporting.
-chave como Reputação, Fidelidade, En- org; www.cdproject.net; http://epi.yale.edu/
8 Busque por Daniel Domeneghetti e
gajamento, Inovação. http://www.domsp.com.br 10 Veja “Mundo em Transe”, de José Eli da Veiga, 2010.
G a n h a r, va l o ra r, n e g o ci a r 29

(como petróleo ou água) quanto para financiar um restaurante poderia fi­ O Banco Pró-Cidade
os intangíveis (como os saberes e faze- nanciar “hardwares”, produtos como apresenta sua Máquina Pro
res). Assim como todo processo ou pro- ­fogões ou a reforma de um espaço. Será inaugurada amanhã uma máquina na qual
duto deixa um legado (positivo ou ne- No entanto, não poderia financiar o os cidadãos poderão depositar todos os projetos
gativo) para o futuro, seja ele tangível ­“software”, processos como o de aper- que beneficiem a cidade. Ela então realizará um
(como resíduos sólidos) ou intangível feiçoamento do Chef. É justo aí, que estudo ponderando a exequibilidade, o financia-
mento necessário e os benefícios para a cidade.
(como conhecimento a ser sistematiza- ­reside o valor e o diferencial.
Aos projetos selecionados o Banco facilitará
do), tornamo-nos sustentáveis quando No Brasil, a mesma mudança de
não apenas o dinheiro necessário como tam-
as escolhas feitas no presente foram ca- foco em produtos/infraestrutura para bém ­outras relações institucionais, empresariais
pazes de equilibrar o uso dos recursos foco em processos/sistemas de gestão foi e ­outras necessárias a sua concretização. Os
recebidos do passado com o legado dei- o que evitou a repetição de erros socioe- ­juros serão reduzidos e proporcionais ao êxito
xado para o futuro. Um dos resultados conômicos e ambientais da Copa do do projeto.
mais imediatos dessa maneira de lidar Mundo de 2014. O que fazer com espa- Erica Sarchione e Florencia Lucchesi,
com a economia, considerando-a como ços construídos ou revitalizados que esta- Rosário, Argentina, 2010.
processo no tempo, foi a mudança na vam sem uso, possibilidade de manuten-
formulação de preços. A gasolina é um ção ou mesmo com pouco conteúdo,
exemplo. Seu valor por litro passou a in- gestores ou público? Como fazer com os realizando grandes eventos com lógica
cluir o “antes”– tempo de formação do que os recursos do evento irrigassem colaborativa, adotando tecnologias so-
petróleo – e o “depois” – o reequilíbrio uma diversidade de MPEs (Micro e Pe- cioculturais para ter baixo custo econô-
das consequências ambientais. quenas Empresas) locais e não se concen- mico e grandes resultados sociais. Este foi
Compare como é compreender trassem em poucas grandes empresas? o legado que o país deixou ao mundo.
algo a partir de uma foto ou a partir de Para as Olimpíadas de 2016, os maiores Ainda hoje, nos maravilhamos com a ori-
um filme. Foi algo similar que aconte- investimentos foram em inteligência e ginalidade dos estádios restaurados pe-
ceu quando passamos a considerar o na organização de coletivos – qualificar e las escolas de samba, cada uma deixando
Tempo. Passar do estático ao dinâmico preparar serviços, educar, formar gesto- sua marca com criatividade, numa com-
é, por exemplo, trabalhar com Processos res, organizar redes solidárias e (ou) de binação de cores e formas que era o pró-
(Dinâmicos) e não apenas com Produtos microempreendedores que pudessem prio retrato do jeito brasileiro de ser.
(Estáticos). Antes, um Banco que fosse atender às demandas de serviços. Inovar, Inaugurou-se o Urbanismo Colaborativo.
28 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

ECONOMIA 4D xT: atua como um coeficiente, um fator de tados em cada dimensão é igual ao Im-
multiplicação para o valor atribuído a pacto. Estes, quando somados (ou sub-
recursos, resultados cada recurso recebido do passado ou traídos...), geram o Impacto Total 4DxT
e valores resultado gerado no presente. Um – que pode ser negativo ou positivo.
r ecurso D/simbólico–cultural, como
­ Patrimônio Total mais (ou menos)
multidimensionais uma dança tradicional; um recurso D/ Impacto Total dão o Valor Real 4DxT,
ambiental, como as árvores frutíferas; que é o valor real de futuro.
As mudanças no sistema econômico ou um recurso D/sociopolítico, como o Uma empresa, por exemplo, pode
ainda estão em curso. Por isso, é bom ­respeito aos direitos humanos, terão ter resultado:
explicar melhor como ele está se dese- valores finais proporcionais ao coefi- • (D/financeiro) Vendas +8
nhando. Na Economia 4DxT,o Tempo ciente Tempo pelo qual foram multipli- • (D/ambiental) Aproveitamento de es-
cados. Ex.: direitos humanos paços ociosos -4
respeitados há mais­tempo, • (D/sócio-político) Reputação – 3
maior valor. • (D/simbólico – cultural) Gestão de co-
Na Economia 4DxT, a nhecimento +6
soma dos Recursos de cada O valor total é 8-4-3+6 = 7
dimensão constitui o Patrimô- Ao falar em Tempo, é fundamental
nio daquela dimensão.O Pa- ressaltar que nossos maiores avanços
trimônio 4DxT Total é a soma vieram da percepção de que Tempo é
dos patrimônios tangíveis (fi- muito mais do que dinheiro. Tudo aqui-
nanceiro monetário/solidário lo que torna pessoas, instituições e luga-
+ ambiental natural/tecnoló- res mais felizes e evoluídos acontece no
gico) e dos intangíveis: pa- Tempo, como relacionar-se, aprender,
trimônios sociopolíticos e criar, cuidar, compreender e saborear.
simbólico- culturais. “Otimizar o Tempo” é mais do que tor-
A mesma lógica se ná-lo mais produtivo. Sabemos que a
aplica aos Resultados. função de uma gestão melhor e de uma
O conjunto de Resul- produtividade maior é liberar mais
G a n h a r, va l o ra r, n e g o ci a r 29

­ empo para atividades que dão sabor e


T Do linear ao
­significado à vida.
Por meio do Tempo também é pos- volumétrico:
sível gerar o recurso abundante e pre- visualizar para
cioso, responsável por termos de fato
feito com que “sustentável”, “partici- compreender e atuar
pativo”, “criativo”, “diverso” deixas-
sem de ser adjetivos e se convertessem A passagem para uma economia multi-
em práticas amplamente adotadas: o dimensional permitiu enxergar com
“Excedente Cognitivo”, conceito pro- maior clareza os processos ligados à Relógio da Felicidade: mais tempo, mais feliz. Alexander
Matos e Ecthol Mejia, República Dominicana, 2009.
posto no início do século por Clay Shi- r iqueza em todas as suas formas...
­
rky. Pela combinação de tempo livre + ­Imagine a diferença entre conhecer
colaboração/conexão via web, temos uma construção a partir de uma planta
“Tempo livre”, “lazer” e “trabalho”
uma fonte abundante de conhecimen- baixa ou de uma maquete 3D. É a
serão praticamente sinônimos
to, talento, boa vontade e engajamen- ­mesma relação de percepção e acuidade
Além da semelhança, um está contido no outro.
to a ser aplicada em todo tipo de causa ­entre a economia tradicional e o novo Assim, a palavra “trabalho” não inspirará adjeti-
ou contexto. É o que tem acontecido, sistema econômico. vos negativos como maçante, enfadonho, es-
por exemplo, na CGDD (CoGovernança Tornar visível esta riqueza mul­ti­ tressante e limitador. No futuro, o trabalho será
Direta Digital): a CoGovernança é possí- dimensional e seus fluxos foi uma visto como uma hora de lazer; é o momento em
vel graças ao tempo e conhecimento – ­estratégia importante para engajar a que liberamos a criança que mora dentro de nós
excedente cognitivo – da população. p opulação planetária no CGDD, a
­ para ser livre e criar. Toda essa descontração, vi-
Quanto mais bem-sucedida é a CGDD (e ­CoGovernança Direta Digital. Logo após venciada horas por dia, refletirá em nossa saúde
o fim da corrupção foi uma prova), mais a Bolha de 2013 foram criados os Reló- e aparência: estaremos mais imunes às doenças
prazer têm as pessoas em dedicar-se a gios Do Dinheiro – painéis luminosos e envelheceremos mais lentamente, pois corpo e
ela, e isso gera melhores resultados, (antigamente utilizados para ­publicidade mente envelhecem juntos – e já que o segundo
demora mais para sentir o peso da idade, o pri-
que geram mais engajamento, e eis que ou cotações da Bolsa de Valores) que
meiro o acompanha.
finalmente saímos de círculos viciosos e mostravam quanto ­dinheiro havia, onde,
Olindo de Oliveira Estevam, Brasil, 2010.
estamos em círculos virtuosos. com quem e investido em quê.
cor que iam do vermelho ao verde e Novos Indicadores
­evidenciavam os estados de alerta ou
equilíbrio; os fluxos de recursos no tem-
e formas de medir
po e no espaço eram observáveis, assim riqueza
como as interações entre eles.
Ao tornar visíveis todos esses aspec- Há 60 anos, a economista e futurista
tos, as Maquetes da Abundância ­foram Hazel Henderson12 já apontava que o
extremamente eficazes nos processos PIB monetizado corresponde a apenas
públicos e privados de gestão. Ainda se- duas camadas do Sistema Produtivo
guem encantando os passantes quando ­Total. Em nossa lógica 4DxT, diríamos
estes veem a dimensão ambiental cres- que ficavam invisíveis a economia
cer e ganhar cores quando as manguei- ­informal (D/financeira), a economia da
ras estão carregadas de frutos. Também solidariedade (D/sociopolítica) e o
gera entusiasmo o intenso ­fluxo de ­oferecido pelo ambiente natural (D/
­recursos D/sociopolíticos no ­momento ambiental). Hoje, acrescentaríamos
em que centenas de pessoas estão nos mais uma camada, cientes de que é,
Exemplo de visualização da topologia da web, mostrando CoLaboratórios das escolas de samba, provavelmente, a maior de todas, pois
nodos e arvores de diretórios, usando a ferramenta para preparar o Carnaval do próximo se multiplica e renova: os patrimônios
Walrus. www.caida.org. ano. Assim como a magnitude dos valo- D/simbólico-culturais. Imaginem quan-
res representados pela diversidade to “valem” oito mil anos de história,
­cultural em MacroESAS11 (equivalem aos uma população 100% (e bem!) escola-
Posteriormente, passamos às Ma- ex-países) do Continente africano, que rizada ou todos os livros produzidos no
quetes 4DxT da Abundância, que utili- antes eram considerados pobres. mundo, acessíveis e online?
zavam as ferramentas dos softwares Desde os anos 70 do século XX, já
­arquitetônicos. As dimensões da riqueza se discutiam outras formas de medir
apareciam como os layers de programas
gráficos e os dados transformavam-se 12 Apresentado por ela em Crie Futuros Bancos
Moedas, 2009 http://criefuturos.com/futuros_criados/
em formas volumétricas; gradientes de 11 Macro Ecossistema SocioAmbiental C.F_Novos_Bancos_e_Moedas_Hazel_Henderson
G a n h a r, va l o ra r, n e g o ci a r 29

r­ iqueza13 que pudessem substituir o PIB,


índice distorcido que aumentava com
desastres ecológicos ou guerras e não
era capaz de fornecer um retrato ver-
dadeiro dos recursos disponíveis numa
nação. Foi ali que se cunhou o termo
FIB14, Felicidade Interna Bruta. À medi-
da que a lógica do viver = ganhar
­dinheiro foi sendo substituída por viver
= desfrutar bem o Tempo, outros índi-
ces surgiram15 e o FIB foi ganhando
aderência e novas adaptações.
Ao medir o Valor Real 4DxT dos
MacroEcossistemas SocioAmbientais
(ainda chamados de nações em alguns
lugares), a aplicação do FIB 4DxT ­mudou Hazel Henderson, em 1982 já demonstrava que o PIB considera apenas uma parte do sistema produtivo total.
os eixos do poder e da economia após a
revelação de que – no cômputo geral
das 4D – não há tanta disparidade entre Praticando o FIB
as dimensões. São muitos os exemplos A partir da percepção de que o PIB não traz qualidade de vida, e não é o único indicador que leva felicidade
de MacroESAs mais abundantes­ em para as pessoas, um condomínio com 2.500 pessoas desencadeou um censo, com o intuito de levantar as
oportunidades e as necessidades de seus moradores.
13 Veja por exemplo este Compêndio de Anne Louette, Alguns dos objetivos são: criar maior interação; encontrar locais próximos de trabalho; aproveitar o tempo
disponível em português e inglês e as competências das pessoas a fim de gerar cursos e workshops internamente nos condomínios para a
http://www.compendiosustentabilidade.com.br/ melhoria de renda e qualidade de vida.
compendiodeindicadores/default.asp
O resultado foi uma revitalizante relação entre as pessoas, amparado pelo FIB – Indicador de Felicidade
14 Gross National Happiness, formulado no Butão em Interna Bruta.
1972 http://www.gnh-movement.org
Fernando Figueiredo e Fernando ­Almeida, Brasil, 2009.
15 http://www.happyplanetindex.org/
28 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Oikos + Nomia ­ informal” (mas não necessariamente


“ seus respectivos equipamentos, espaços,
Finalmente os novos avatares da economia es- ilegal) crescia cada vez mais, na propor- conteúdos, adereços e etc. Isto porque
tão abandonando suas obsoletas teorias econô- ção em que crescia o empreendedo­ estamos nos referindo apenas aos as-
micas que não mais serviam para entender as rismo – sobretudo nos OrganoColetivos pectos D/financeiros – a importância do
novas práticas realizadas pelas comunidades. (grupos operando em organização “dançar” cresce ainda mais quando se
Indivíduos e comunidades, há tempos, descobri- ­funcional, mas não jurídica). Os paga- verificam seus Resultados e Impactos
ram que a economia é uma ciência do ser, já que mentos eram feitos em diversas moedas nas demais dimensões 4DxT.
etimologicamente, oiko é casa e nomia é cuida- e, embora houvesse muito sendo feito, Outro fator que forçou a mudança
do. Com essa percepção, as relações de troca
­havia cada vez menos “empregos”. na forma de coletar dados, foi a veloci-
vêm se dando pelo uso significativo do tempo
Na economia tradicional, era possí- dade espantosa com que novas profis-
de forma compartilhada e colaborativa.
vel mapear e medir usando procedi- sões e linguagens surgiam como fruto
Leila Garcia, Sergio Barbosa e José Salvino Filho,
Brasil, 2009. mentos lineares, sistematizados como da transdisciplinariedade e consequente
uma cadeia produtiva. Por exemplo, o necessidade de conectar diferentes
caminho do fio do algodão à camiseta. ­saberes e áreas de atuação. O antigo
r­ ecursos D/sociopolíticos, porém caren- Com a centralidade da Economia Verde ­padrão “taxonômico”, que tentava criar
tes de recursos D/ambientais e outros e da Economia Criativa, foi necessário códigos relativos a cada tipo de ativida-
que têm abundância D/simbólico–­ avaliar e medir sistemas complexos. de, revelou-se impossível de seguir. Nos
cultural e escassez D/financeira. Para Tanto a noção “setorial” quanto essa setores ligados à criatividade, era difícil
­diminuir ainda mais a disparidade, o line­aridade já não se aplicavam. Um enquadrar pessoas e projetos nos seto-
­comércio internacional está desenhado exemplo banal: ao medir o setor forma- res existentes já em meados do século
de forma a equilibrar carências e exces- lizado da dança, chegaríamos a um XX. Um dos resultados desta crescente
sos ao invés de acentuá-los. ­valor pequeno, talvez a parca soma de impossibilidade de encaixar conheci-
As coletas de dados econômicos bailarinos, coreógrafos e espetáculos. mento e profissões em áreas estanques
4DxT evoluíram bastante em relação às Contudo, a economia do “dançar” é e predeterminadas foi a reformulação
formas anteriores, capazes princi­ muito grande, pois inclui as festas popu- do ensino superior. Nas Pluriversidades,
palmente de coletar evidências quanti- lares (como o carnaval), as celebrações a convergência substituiu a especializa-
tativas, setoriais e correspondentes à (como festas populares ou casamentos), ção. São oferecidos cardápios de disci-
parte formalizada da economia. O setor a vida noturna e o fitness, com todos plinas (e não currículos fechados) e, uma
G a n h a r, va l o ra r, n e g o ci a r 29

vez que a informação está disponível FunÇão de ativação: de ­Heinsenberg17, quanto mais nos dedi-
em todos os lugares, tornaram-se cada camos a conhecer a posição (espaço/for-
vez mais laboratórios de prática. do valor absoluto ma) de um elétron, menos saberemos de
Ademais, no início do século XXI, ao valor relativo sua velocidade (tempo/processo) e vice-
­ficou claro que o desenvolvimento sus- -versa. De forma análoga, verificou-se
tentável acontecia ao nível local, nos Mapear e mensurar o intangível usando ser mais eficiente mapear a nova econo-
territórios. Isto também contribuiu para instrumentos e métodos de medir “coi- mia a partir de seu aspecto dinâmico
que, paulatinamente, o conceito “se­ sas” é pouco eficiente. Criando uma (velocidade/processo) do que de sua for-
torial” fosse ficando de lado. Lógica e analogia, não mapeamos nuvens da ma (posição/ quantidades), mesmo por-
­ferramentas 4DxT permitiram que os mesma forma que mapeamos monta- que, as áreas ligadas aos intangíveis ca-
ter­ritórios (atualmente denominados nhas, mas sim estudando seu comporta- racterizam-se por sua acelerada e
microESA - microEcossistemas Socio­ mento. Para medir o intangível foram constante mudança de forma: ao termi-
Ambientais) fossem estudados dentro adotadas formas mais semelhantes ao nar uma mensuração, aquela realidade
de uma concepção multidimensional e cálculo e estudo do clima – em que se es- já não existe mais – a nuvem mudou.
volumétrica. Tornou-se possível ter uma tudam interações e dinâmicas. Avança- Ao estudar mais o “comportamen-
leitura georreferenciada, em que os mos bastante quando os conceitos quân- to” do que a “forma”, verificou-se que
layers 4DxT eram sobrepostos às ima- ticos passaram a estar mais presentes no os ramos de atividade têm diferentes
gens de satélites; leituras através de cotidiano (imaginem que, nos anos 10, potenciais ativadores. Algumas têm ca-
imagens eram produzidas pelos fluxos quase cem anos após sua formulação, pacidade de ativar o seu entorno, im-
de dados no tempo (como nas visualiza- ainda se ensinava apenas a física newto- pulsionando outras áreas de negócio.
ções16 de dados) ou a combinação de niana nas escolas). Observou-se, então, Outras, apenas geram empregos. Com-
ambos. De toda maneira, era possível uma analogia entre as Partículas da pare, por exemplo, a uniformidade de
ter uma percepção de fato orgânica dos ­física quântica e os Tangíveis (base da um antigo bairro industrial à diversida-
territórios, e seus processos apareciam economia tradicional); e entre os Intan- de de um atual território criativo. Umas
como órgãos de um sistema vivo – evi- gíveis (base da Economia Criativa) e a causam danos ambientais, outras quali-
denciando seu caráter de ecossistema. Energia – reforçando a necessidade de ficam quem produz e quem consome,
estudar mais o “comportamento” do
16 http://www.webdesignerdepot. 17 Enunciado da mecânica quântica formulado
com/2009/06/50-great-examples-of-data-visualization/ que a ­forma. No Princípio da Incerteza em 1927.
28 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

r­ elativos à Função de Ativação de cada Moedas 4dxT e


Gazeta Íbero-americana, 13/10/2015
Lançadas hoje as novas moedas de troca de va- elemento da economia. moedas alternativas
lor socioambiental. Digamos que dois tipos de negócios
A partir de hoje, cada cidadão recebe seu cartão gerem US$1.000,00. Uma atividade A adoção da visão 4DxT de riqueza –
individual para realizar transações monetárias. extrativista desregulamentada pode
­ abundância com múltiplas facetas –
Inicialmente, o cartão, fará transações em qua- ter Função de Ativação negativa (- 2,5) ­resultou na criação de várias “moedas”
tro tipos de moeda: e o valor será computado como correspondentes aos recursos e resulta-
• Tempo de atenção social: para troca de tempo (- US$1.500,00). Isso quer dizer que dos das quatro dimensões. No início, a
(horas) disponibilizado ao outro;
g erou US$1000,00 de receita, mas
­ mudança gerou controvérsia. Muita
• Títulos de Recursos Esgotáveis: medida de
­causou US$2.500,00 de danos (ambien- gente considerava que esta era uma
tempo de reserva mineral;
tais, sociais etc.). O outro é dedicado a ­forma de “monetizar” os vários aspec-
• Taxa de reciclagem de bens materiais (recur-
sos não renováveis); facilitar o acesso às TICs, Função de Ati- tos da vida. Finalmente concluiu-se que,
• Ticket de restaurante orgânico: indução ao vação alta, digamos 5, resultando num nesta atual fase de transição, ainda é
consumo de orgânicos. valor ­final US$5.000,00. A receita de necessário tangibilizar os valores rela-
Haroldo Vilhena, Christophe Place e Cesar Mat- US$1.000,00 gerou outros US$4.000,00 cionados a outras dimensões que não a
sumoto, Brasil, 2009. em benefícios (sociais, culturais etc.). financeira até que se crie uma nova
­Outro exemplo: ao atribuir valor a um ­cultura capaz de percebê-los sem neces-
Recurso D/ambiental – um rio, por exem- sitar de moedas.
criando ou alterando culturas. Quanto plo – se ele estiver localizado numa O governo foi pioneiro em aceitar
mais benefícios são gerados, e em mais ­região tropical, de muita água, a Função pagamentos em diferentes moedas.
dimensões, maior o Potencial de Ativa- de Ativação pode ser 2, enquanto, em Este mês o dinheiro não deu? Pague seu
ção. Danos causados, geram potencial de uma região árida, pode alcançar 8. imposto dedicando tempo para a creche
ativação negativa, crescente de acordo Estudar as áreas econômicas a par- ao lado ou oferecendo tomates de sua
com o número de dimensões atingidas. tir de seu potencial de ativação foi uma horta urbana para a merenda... Como o
Ficou, então, evidente que as formas de das chaves para que a Economia Criativa governo é totalmente digitalizado, este
atribuir valor a recursos, resultados, e a Economia Verde – de alto potencial tipo de procedimento é de fácil gestão,
­produtos e serviços não podem ser uni- ativador – fossem definitivamente con- cada cidadão pode gerenciar sua Conta
formes. Hoje, temos outros coeficientes vertidas em prioridades. Pública de Múltiplas Moedas.
G a n h a r, va l o ra r, n e g o ci a r 29

por sua vez pode gerar “capital social”


(um Código Florestal); que pode gerar
“capital ambiental”; que finalmente
pode gerar novo “capital financeiro”. O Banco de dados dos produtos e
valor está “mudando de estado” ao serviços: Dons e Talentos
passar pelas dimensões 4D. Outro exem- BARTERCARD
plo: um desconhecido grupo de música Atenção, atenção! Notícias urgentes.
que participa de um grande festival co- Determinada, após a falência da Moeda em Es-
laborativo, sem cachê, mas recebendo pécie e da Casa da Moeda, uma solução inova-
um CD com seu espetáculo, foi pago dora: o governo avisou que já está em seu site
com “moedas” Reputação, Visibilidade um Banco de Dados com endereços, e-mails e
telefones de todos os Serviços e Produtos para
e Contatos18. A percepção de Ciclo do
Moedas alternativas. Acervo Circuito Fora do Eixo, 2008. troca, de empresas jurídicas e pessoas físicas.
Valor foi fundamental na implementa-
Por exemplo:
ção de Políticas e Investimentos em mé-
• Troque serviços de saúde com a empresa Dr.
Moedas também são importantes dio e longo prazo, escapando das arma- Faz Tudo;
para permitir a conversibilidade de valo- dilhas do resultado imediatista. • Consertos hidráulicos por 5 massagens ;
res entre as dimensões 4DxT. Antiga- A diversidade que caracteriza este • Faxina e pintura de sua casa por 10 sessões
mente, só éramos capazes de reconhe- nosso século está mais do que represen- de RPG ou Pilates;
cer valor financeiro: aplicou recurso tada nas moedas e outras formas de pa- • Um jantar no restaurante e lanchonete “Do
financeiro, recebeu recurso financeiro. gamento e acesso a crédito que temos Futuro” por 1 caixa de produtos hortogranjei-
Ainda não eram estudados os Os Ciclos hoje. Como, aliás, sempre tivemos, já ros da Fazenda Sta. Tereza.
da Geração de Valor, mostrando que o que moedas de troca existem há deze- Seus dons e talentos, serviços e produtos não se
valor “muda de estado” de forma aná- nas de milhares de anos, enquanto perdem e nem se roubam, mas valem ouro.
Eliana Fonseca, Rosangela da Silva e Zilda
loga às mudanças de estado da água. ­moedas únicas e centralizadas tiveram
Cristina dos Santos, Brasil, 2009.
Um exemplo simples se evidencia quan- um curta duração de pouco mais três
do usamos a palavra “capital”: “capital ­séculos – o período em que foram
financeiro” investido em educação gera
18 É, muitas vezes, o caso no Circuito Fora do
“capital humano” (pesquisadores), que Eixo- http://foradoeixo.org.br/institucional
28 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

f­ erramenta para a consolidação dos Es-


tados-nação.19 Quando uma moeda é
criada, estabelecesse-se um acordo de
troca dentro de um grupo. O maior re-
sultado consiste no fortalecimento de
vínculos e a geração de confiança, ou
seja, no capital social, aquele capaz de
ativar os outros. A transparência e aces-
sibilidade de informações fizeram com
que a sociedade deste século saísse do
estado de medo e desconfiança em que
esteve mergulhada durante anos e pas-
sasse a confiar – em si, no outro, nas
possibilidades. Como resultado, o crédi-
to voltou a seu significado original: dar
crédito = acreditar. Com as facilidades
oferecidas pelas novas tecnologias, os
indivíduos foram capazes de decidir
quanto, onde, para quem e como que-
riam aplicar seu dinheiro.

Times Square em 2042 –


indicadores de riqueza 4DxT.
Angela León, 2012.

19 Tom Greco, Money, Understanding and Creating


Alternatives to Legal Tender, 2001
G a n h a r, va l o ra r, n e g o ci a r 29

Novo contexto, design, inovação, atributos culturais, res- Nova Lei para comercialização de
ponsabilidade social e ambiental e lide- produtos – novos bancos e moedas
novas dinâmicas rança. Hoje, o motor da economia já não O Governo Central dos cinco continentes apro-
profissionais é mais o produto ou serviço e sim a ex- vou nesta terça-feira, dia 13 de outubro de 2042,
periência vivida (por isso turismo e en- uma lei obrigando todas as empresas do mundo
Nas últimas décadas, as instituições tive- tretenimento cresceram tanto). Os pró- a incluírem uma taxa de 10% a 15% de respon-
ram que aprender a fazer dos recursos prios produtos e serviços se distinguem sabilidade social nos seus produtos para obter
intangíveis a “matéria-prima” e a essên- pelo tipo de experiência que provocam. sua licença de.
cia de uma nova economia da abundân- Valores não são mais medidos apenas A empresa terá que destinar essa porcentagem
para alguma ação em que haja o desenvolvi-
cia, potencializada pelos infinitos ofere- quantitativamente, mas também quali-
mento sustentável de uma comunidade. Qual-
cidos pelas novas tecnologias e a tativamente. Mede-se não apenas Resul-
quer empresa que não aderir a esta nova lei fica-
organização em redes e coletivos. Como tado (visão de curto prazo), mas princi-
rá impedida de comercializar seu produto. O
o objetivo era criar modelos de negócios palmente Impacto (visão de médio órgão Produção cuidará da validade das ações
que gerassem resultados multidimensio- prazo). A Reputação é a grande medida sociais praticadas pelas empresas. Será provi-
nais, na lógica 4DxT, foi preciso repensar para o valor de uma empresa e institui- denciado assistência aos microempreendedores
a própria estrutura das instituições. Fo- ção, é o que garante a sua capacidade que não possuem recursos para aplicar tais
ram fortalecidas as áreas ligadas aos in- de seguir atraindo colaboradores para ações. Espera-se que esta nova lei permita uma
tangíveis e que promovem integração suas equipes e público que deseje aquilo melhora substancial das condições de vida de
com outras, atuando como uma espécie que ela oferece. milhões de pessoas ao longo dos próximos anos.
de “modem”, elemento estratégico e Abaixo, estão alguns dos elementos Bruno Dias Pereira de Andrade e Frederic Lavoie,
agregador que permite a soma das com- que tornaram possível essa mudança: São Paulo, 2010.
petências transdiciplinares necessárias. BB Era da Informação ou Era da Criativi-
Já no início deste século os produtos dade? Ficou claro que a questão central
e serviços se assemelham. Preço e quali- não é tanto a informação disponível, mas
dade eram premissas, não diferenciais. A sim a cultura e criatividade que nos dão a usar. As áreas ligadas aos Intangíveis passa­
prática demonstrou que aquilo que po- capacidade de usá-la. Um paralelo: ter os ram a ser elemento-chave no planejamento
dia ser garantia de longevidade, atrativi- ingredientes não significa ter o bolo. Falta a estratégico das organizações quando se
dade e fidelização era intangível: marca, receita, o processo, e saber o que/como verificou que os talentos e as competências
ram evoluir graças aos “modens” e conquistássemos o espaço e a quantidade.
“hubs”, com suas capacidades de integrar Nas primeira décadas, nos encantamos
e colocar em contato linguagens e siste­ com a possibilidade de estar em muitos
mas diferentes. Neste século XXI, a mudan­ lugares simultaneamente. Mas com isso
ça de época para a centralidade do intangí­ perdemos o tempo e a qualidade... Hoje, as
vel e da economia criativa só foi possível instituições nos ajudam não apenas a otimi­
graças a profissionais e instituições que zar o tempo como a resgatar e ampliar o
atuam como “modem”, como conectores. desfrute, a intensidade e o sentido que
O perfil do novo profissional é ser estavam se perdendo.
“modem” – capaz de ligar várias discipli­ BB Consequências e escolhas: Na primei­
nas, várias áreas dentro da empresa e de ra década deste século, o excesso de infor­
fazer também a necessária integração mação e demandas, a escassez de tempo e
entre governo e setores de negócios. a urgência da mudança rumo à sustenta­
Profissional de Futuros é multi, trans, poli, para exercer
sua função de “conector”. Elvis González, República BB Capital social, confiança e autoesti- bilidade fizeram com que saber escolher e
Dominicana, 2010. ma: as áreas da instituição que colaboram ter percepção das consequências de cada
para criar climas de autoconfiança e auto­ ato fosse prioridade. As instituições necessi­
estima – de pessoas, comunidades, empre­ taram, então, criar e oferecer ferramentas
são o grande patrimônio que elas possuem sas, cidades são estratégicas. Assim, se para que isso fosse possível.
e que eles estão que está nas pessoas... constrói a confiança interpessoal que, por A diversificação de profissões das
BB De produtos a processos: Nossos sua vez, é o que permite construir capital últimas décadas é notável e está de
sonhos do passado mostravam um futuro social. E a chave de desenvolvimento está acordo com as principais tendências des-
em que a tecnologia e os produtos inventa­ no capital social – aquele que geralmente te nosso século: diversidade, descentrali-
dos eram a solução para tudo. Hoje, sabe­ nos falta. Confiança e capital social são zação e autonomia.Grande parte delas
mos que a tecnologia é meio, não fim. Isto criados ao valorizar o positivo, a diversida­ tem função de conectar linguagens e
reforçou ainda mais a necessidade de pro­ de cultural, os talentos internos e tudo o áreas diferentes, sobretudo no contexto
cessos: mudar o jeito de pensar e fazer. que fortalece a cooperação. da Sustentabilidade 4DxT.
BB Modems e conectores: No século XX, BB Tempo, único recurso não renová-
as telecomunicações e computação pude­ vel: As novas tecnologias permitiram que
G a n h a r, va l o ra r, n e g o ci a r 29

Só coisas que importam, Os novos motoboys Promotor de Viabilidade Socioeconômico Am-


nada de urgente Os motoboys existem ainda hoje, mas com no- biental — Avalia e planeja a redução de impac-
Num futuro próximo, a empresa só se envolverá vas funções. Agora, as entregas de documentos tos econômicos sociais e ambientais em diver-
com clientes e projetos que tenham o poder de e volumes utilizam sistemas que localizam sas cadeias de valor,e em todas as esferas.
transformar ou criar relações duradouras e sus- quem já está indo para o local e pode fazer a
Especialista em Economia de Serviços Ambien-
tentáveis entre marcas e pessoas. A relevância entrega. Como o turismo cresceu muito, assim
tais e Biodiversidade — Faz a valoração dos
da causa proposta e o tempo de que o cliente como a quantidade de idosos, os motoboys tor-
“serviços da natureza e biodiversidade” para fins
dispõe definirão a posição do projeto numa ma- naram-se guia turísticos (quem conhece melhor
de planejamento territorial e licenciamento.
triz que nos dirá se podemos ou não nos envol- a cidade?) e também levam os idosos para onde
ver no projeto. Se a causa for relevante e o tem- precisarem. Em tempo: duas funções que neces- Empreendedor de Fluxos Sustentáveis — Cria
po disponível para o projeto for viável com o sitam direção atenta e cuidadosa! empreendimentos que, ao mesmo tempo, resol-
tempo necessário pela equipe para desenvolvê- Felipe Jordani, Brasil, 2012. vem questões coletivas e geram resultado social,
-lo com tranquilidade, atenção e calma, ele será ambiental e riqueza para os investidores.Consi-
assumido pela empresa. Caso um desses quesi- dera que fluxo é o que deve ser alcançado e sua
tos de importância sem urgência não for atendi- Motoboys em suas perspectiva é a interdependência.
novas funções.
do, a proposta é rejeitada.  Pesquisador Energético — Desenvolve soluções
Angela León, 2012.
Roberto e Ana, Brasil, 2010. energéticas de todo o tipo, para todo tipo de
processos, inclusive a alimentação.

Articulador de Ações para a Sustentabilidade —


Mapeia e conecta diferentes stakeholders para
potencializar/ampliar o impacto de ações que
promovam a sustentabilidade.

Técnico em Geração de Energia em Células Do-


mésticas — Traz alternativas de geração de
energia em pequena escala.
Criados durante o Workshop de Inovação em
Nova Economia, realizado pela Fundação Avina,
outubro 2010.
28 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Outras estão relacionadas ao novo Não Governamentais, pessoas que se zemos o que gostamos e acreditamos
cenário internacional, com crescente dedicam a causas públicas e comprovam no propósito do que produzimos, a ale-
mobilidade, onde moramos e trabalha- o extraordinário poder realizador e gria, o prazer, a descontração e o jogo
mos em vários países. transformador de indivíduos. O movi- estão em nossos cotidianos.
Uma das categorias mais atuantes mento cresceu desde que nossos histo-
hoje em dia são os INGs – Indivíduos riadores resgataram esta incrível histó-
ria de 2007, quando Severino Manoel
de Souza montou uma Biblioteca Comu-
nitária e José Luis Zagati exibia filmes Catadores de conhecimento
de graça no CineClube Tupy, montado Como circulam por todos os lugares, são tam-
Facilitador Cultural na laje da sua pequena casa. Ambos bém polinizadores de conhecimento: fazem cir-
Acompanha as pessoas para que possam apren- usaram materiais encontrados no lixo20. cular livros e outros produtos culturais por onde
der a viver a cultura de um país diferente ao de A alteridade é um princípio que passam.Seus carrinhos são equipados com som,
sua origem, de forma a conscientizar e enrique- norteia todo tipo de atividades e as ins- livros, brinquedos, tudo reciclado a partir do lixo.
cer a cultura global. tituições buscam sempre desenvolver di- Julia Toro, Fernando P. Tohmé e Bella Zubbelis,
• permanece em um determinado país nâmicas para reforçá-las. Quanto mais Brasil, 2009.
por 3 meses; as pessoas são capazes de compreender
• ali, vai se juntando a pessoas que a função de cada um, maior sua visão
compartilhem os mesmos interesses; do todo da instituição e melhores os flu-
• amplo conhecimento de histórico, político
xos internos.
e social;
E, finalmente o humor passou a ser
• habilidade de comunicador;
um elemento importante de qualquer
• está permanentemente conectado
com os interessados; ambiente de trabalho e profissão. No
• possui apoio governamental; passado havia momento de “trabalhar”
• é sensível aos interesses interpessoais. e momentos de “viver”. Hoje, como fa-
Edgar Morales e Jose Aldana,
20 Veja o vídeo de Averaldo Nunes Rocha e Márcio
México, 2010.
Mitio Konno, 2007, mostrando estas histórias
http://vimeo.com/22036447
G a n h a r, va l o ra r, n e g o ci a r 29

Inauguração do Mercado Municipal “Coletivo Feliz”


Ontem foi inaugurado o primeiro Mercado Municipal de Trocas e Comércio Justo, onde poderão ser encon-
Dia de ‘muda-muda’ leva funcionários trados serviços inovadores como: recarga energética “aperte um botão”; turismo virtual “pensão completa”;
a se conhecer melhor uma ampla gama de esportes radicais virtuais; empórios de cheiros e tatos; objetos utilitários e acessórios
Imagine chegar e encontrar o diretor geral ti- feitos a partir de resíduos. Há também uma grande oferta de ofícios e serviços para permutar.
rando xerox e recepcionando pacientes na clí- Os pagamentos podem ser feitos em MIR$( Moeda de Intercâmbio de Responsabilidade Social) e demais
nica, a coordenadora geral elaborando cardá- moedas locais, além de troca direta. Aberto 24 horas, todos os dias.
pios, o assistente administrativo assumindo a Andrea Jácome e Verónica Murias, Rosário, Argentina, 2010.
direção de uma reunião, ou ainda, o técnico em
informática dando aula pra criançada. Esses
são alguns exemplos do que aconteceu no pri-
meiro Dia do Muda-Muda.
A ideia é simples: nesse dia especial, cada fun-
cionário exerce uma função bastante diferente Decodificador de Urgência e Importância
da sua, a fim de conhecer melhor a instituição Foi criada uma ferramenta capaz de diferenciar assuntos urgentes de questões importantes.
e as e particularidades das tarefas, responsabi- Esta ferramenta é colaborativa, e começa-se com uma listagem de valores e crenças: no que acredito? O
lidades e funcionamento de cada posto. Essa que valorizo? O que é mais importante para mim e para a empresa? Quantas pessoas serão beneficiadas
prática vai acontecer mensalmente, numa es- com esta ação? E quantas serão prejudicadas?
pécie de rodízio. Depois, passa-se pelo exercício de fazer perguntas: E se a gente não fizesse isto para amanhã, o que acon-
A avaliação do primeiro dia da experiência ino- teceria? E se a gente não tivesse tantas etapas para cumprir, o que aconteceria? E se os feedbacks não de-
vadora foi positiva: todos se sentiram desafia- morassem tanto, o que a gente ganharia? E se não tivessem tantas etapas de aprovação, quanto ganharía-
dos, valorizaram o desempenho dos colegas e mos em tempo e qualidade? E se a gente fizesse juntos, todos comprometidos com a mesma entrega e os
sentiram-se mais integrados na instituição. mesmos prazos, como seria? E se mudássemos de função, trocássemos de posição – cliente X fornecedor –
Ana Cecília, Lourdinha e Patricia, o que mudaria?
São Paulo, 2010. Por fim, faz-se uma lista de prioridades e­ quilibrando tempo + gente + recursos + importância.
Depois, são definidas as ações urgentes e as importantes e equipes dedicadas a cada conjunto de ações.
Tânia e Mauricio, Brasil, 2010.
48 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

GANHANDO A VIDA COM 2. Sociedade Multimoeda


MULTIMOEDAS NA ECONOMIA 2.0 O segundo conceito em Economia 2.0 é a sociedade de multimoedas. Algumas
das novas moedas não monetárias incluem reputação, autoridade, tempo,
Melanie Swan, MBA, diretora do “MS Futures Group”, 2012. atenção, intenção, idéias, criatividade e saúde. As novas moedas ainda não
têm todas as propriedades de moedas tradicionais como serem fungíveis,
O ritmo acelerado dos avanços tecnológicos e da conectividade global está transferíveis, e conversíveis, todavia é de se esperar que isto ocorra se estas
trazendo a transformação em todos os aspectos da vida, inclusive a economia. moedas persistirem. No futuro, talvez seja possível transferir reputações on-li-
Noções tradicionais de produção, trabalho e valor de troca estão sendo re­ ne entre propriedades digitais como Amazon, eBay, Facebook e Google. A
formuladas. Sobretudo, há cinco conceitos que estão moldando a Economia mensuração das novas moedas é facilitada por suas pegadas digitais, por
2.0 e sua implementação: o capital de afinidade, a sociedade multimoeda, a exemplo, contando o número de amigos, seguidores, respostagens, links clica-
­proliferação de mercados, a evolução dos serviços financeiros e técnicas de dos e buscas de palavras-chave.
injetar abundância.
3. Proliferação de Mercados
1. Capital de Afinidade O terceiro conceito na Economia 2.0 é a proliferação de mercados. Há mais e
O primeiro conceito em Economia 2.0 é o capital de afinidade, em que níveis tipos diferentes de mercados e princípios de mercado estão sendo usados
mais profundos de informações sobre cada transação econômica passam a como elementos de design em contextos que não são tradicionalmente rela-
estar disponíveis de modo que indivíduos, empresas e comunidades podem cionados com mercado. Há uma ampliação de instrumentos nos mercados fi-
direcionar seus fluxos de capital de forma mais específica. Compras de produ- nanceiros, como o comércio de créditos de carbono, os futuros do clima e os
tos podem ser feitas com base em atributos relacionados à origem e ao fabri- futuros de habitação. Mercados têm surgido sob a forma de economias virtu-
co. Os funcionários podem ser mais seletivos sobre seus ganhos, verificando os ais online, em videogames como “World of Warcraft” e mundos virtuais como
indices corporativos e de responsabilidade social do empregador, e preferindo o “Second Life”. Mercados de previsão estão aparecendo como um importan-
ser contratados de forma independente por meio de mercados on-line. Capital te mecanismo para a captar aopinião de grupos sobre os resultados de even-
de afinidade pode ser direcionado em fluxos de capital mediante de fundos tos, como eleições e venda de produtos. Há novos mercados, como a economia
mútuos socialmente responsáveis, empréstimos diretos, peer-to- peer e capital da participação, onde os indivíduos trabalham de graça, possivelmente sem
de risco de caráter social. A filantropia está se fundindo com o investimento, e esperar nada em troca, ou talvez para ganhar um benefício reputacional, por
alguns investidores aderem a um retorno financeiro menor, aceitável quando exemplo, em projetos de software de código aberto e na Wikipedia. Outras
resultados sociais podem ser atingidos simultaneamente. plataformas digitais que alimentam a reputação o status incluem mercados de
ideia como Quora, Twitter e Innocentive.com.
Ganhar , valorar , negociar 49

4. Evolução dos Serviços Financeiros so à Internet. Em segundo lugar se poderia ampliar esforços para desenvolver
O quarto conceito na Economia 2.0 é a evolução dos serviços financeiros. O uma força tarefa qualificada em áreas de crescimento fundamentais para a
modelo tradicional era uma instituição central servindo, impessoalmente, mui- economia futura como energia, programação de computadores, serviços em
tas pessoas. Agora, há novos modelos inovadores de mercado que oferecem nuvem, e turismo médico, como a Índia fez com software e centrais de atendi-
alternativas na execução de muitos serviços financeiros. Para pagamentos na mento, e a China está fazendo com o sequenciamento genômico e supercom-
rede existem serviços como o PayPal, redes de telefonia celular, Google Wallet, putação. Em terceiro lugar pode ser a adoção precoce de futuras tecnologias
e chips NFC. Em modelos de financiamento, há serviços como empréstimo di- essenciais, tais como energia limpa, biologia sintética, impressão em 3D, am-
retos, peer-to-peer, financiamento colaborativo e a economia da solidariedade. pla manipulação de dados e nanotecnologia molecular.
Os serviços bancários estão se democratizando mais rapidamente do que ou-
tras indústrias, visto que a senhora com celular em uma aldeia remota está
agora oferecendo transferências financeiras e outros serviços a uma ampla
gama de clientela.

5. Técnicas de Injeção de Abundância


Hoje, como há um conceito mais empoderado e maleável de mercados, princí-
pios de mercado podem ser utilizados como elementos de design em outras
situações, sobretudo para criar abundância. Princípios de mercado e tecnolo-
gias digitais podem ser as ferramentas para fazer a diferença mediante a inje-
ção de abundância em antigas áreas de escassez. Em alguns casos, a escassez
é boa, como indicador de mercado do valor, porém há escassez desnecessária
que pode ser democratizada em muitos aspectos na sociedade. Já existem al-
guns exemplos de técnicas de injeção de abundância utilizados nos ambientes
institucionais da Academia e dos governos, por exemplo, pelo acesso livre a
revistas acadêmicas e licenças abertas de software.

Implementação da Economia 2,0


Para implementar a Economia 2.0, um plano de ação em etapas pode ser pro-
posto. O primeiro passo poderia ser habilitar a população para que seja a base
para o crescimento, proporcionando gratuitamente telefones celulares e aces- Edgleison, FILE, Rio de Janeiro, 2011.
28 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Guto Lacaz, Brasil, outubro de 2008.


TAGS: política – partidos – tomada de decisão
– indicadores nacionais – segurança – impostos
– planejamento – lideranças – consumo

3 governar, decidir,
coordenar

“Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente,


controla o passado.”
George Orwell
52 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Mudança de crenças que justificavam procedimentos batia o aquecimento global. Rever


insustentáveis. Hoje, inadmissível é não partidos, suas campanhas e processo de
Modelo do Governo ser sustentável em cada detalhe. financiamento foi parte da mobilização
A mudança civilizatória que vive- intensa para acabar com a corrupção
Escravatura e República; mos é semelhante àquela vivida no sé- em todas as suas formas: governos, em-
Sustentabilidade e Meritocracia culo XIX: o processo de abolição da es- presas e indivíduos.
Ao olhar nosso passado, nos surpreen- cravatura acontecia concomitantemente A globalização permitiu promover
demos com coisas como a venda de in- à passagem de monarquia para republi- troca e intercâmbio também do ponto
dulgências1 ou a existência da escravatu- ca. Não por acaso, a Abolição do Insus- de vista das práticas sociais e políticas.
ra. Da mesma maneira, olhamos para tentável acompanhou uma nova mu- Foi possível aprender com o melhor de
nossa história recente e nos surpreende- dança de modelo político: passamos de cada país (para facilitar a compreensão
mos com o quanto tardou até que a sus- republica à MTP: Meritocracia Transdis- histórica adotamos ainda o uso deste an-
tentabilidade se tornasse premissa e eixo ciplinar Participativa. tigo termo ou de “nação”). Exemplos: a
norteador de todas as políticas, empre- O sistema por partidos foi se enfra- confiabilidade/seriedade japonesas; a
endimentos, jeitos de pensar e de fazer. quecendo naturalmente, à medida em adaptabilidade/engenhosidade brasilei-
Durante séculos, uma série de nor- que novas formas de representatividade ras; os governos altamente técnicos da
mas econômicas e sociais tornava admis- de coletivos e tomada de decisão eram China; o capital social vindo do engaja-
sível o impossível, como comprar2 per- propiciadas pela sociedade em rede. mento da sociedade em clubes e associa-
dão para almas no Purgatório ou Além disso, os partidos foram progressi- ções como no Japão ou EUA; os países
escravizar o próximo. Analogamente, vamente se assemelhando. Na maioria do leste europeu da fase pós-socialista,
também foi necessário alterar normas e dos países, não havia distinção clara en- que saltaram diretamente para o século
tre as antigas direita e esquerda, tudo XXI, com governos digitais.
1 Na época, esta venda garantiu as bases do sistema
tendia mais ao centro. Percebendo que, Os países pequenos foram os pri-
financeiro. Será que vivemos algo análogo? Há “nadas” enquanto a emissão de CO2 corrói o meiros a se desmilitarizar. Alguns acaba-
sendo vendidos? ecossistema ambiental, a corrupção e a ram com seus exércitos já no século XIX3.
2 Pelas indulgências, os fiéis podem obter para si falta de ética corroem o ecossistema so- Não por acaso, havia uma correlação en-
mesmos e também para as almas do Purgatório, a remissão
ciocultural, tornou-se imperativo com-
das penas temporais, sequelas dos pecados.” (Catecismo da 3 http://abracoop.com.br/
Igreja, 1498) batê-las da mesma maneira que se com- lista-de-paises-sem-forcas-armadas-paises-desmilitarizados/
governar , decidir , coordenar 53

tre a lista destes países e dos países com criativo. Para evitar uma hegemonia,
melhores índices de qualidade de vida, o os outros países foram obrigados a
que estimulou outros a transformarem ­segui-la. E rápido!
suas forças armadas em Forças Cuidado-
ras. Os benefícios sociais, ambientais, Meritocracia Transdisciplinar
culturais e, sobretudo, econômicos fo- Participativa
ram tão amplos e imediatos que mais e Tivemos a Grande Bolha de 2013 e as
mais países estão adotando a estratégia. turbulências que a ela se seguiram; o
O estado de bem-estar social alcançado Apagão Global de Dados quase culmi-
por países pequenos foi uma das razões nou numa Terceira Guerra Mundial, fe-
para o desenho dos atuais mecanismos lizmente evitada pela conectividade e o
descentralizados de gestão, em que amplo acesso à informação em tempo
grandes cidades ou países são gerencia- real que fizeram com que os cidadãos
dos em unidades menores. Afinal, uma tivessem maior percepção dos jogos de
grande favela da cidade de São Paulo ti- poder no mundo. Este mesmo acesso
nha mais habitantes do que a Islândia. permitiu que a comunidade web e seus
Ainda na primeira década deste sé- hackers do bem resgatassem, pelo me-
Wiki Agora: Espaços Públicos dedicados à produção
culo, a China adotou a Economia Criati- nos parcialmente, os dados perdidos.
livre de conhecimento e tomada de decisão.
va e a Economia Verde como estratégias Dois anos depois da Primavera Ára- Reinaldo Pamponet e Thomaz Buckup, Brasil, 2009.
prioritárias percebendo que estas eram be, veio o Verão Europeu; mais ano e Ilustração Odete Arias, República Dominicana, 2010.
a chave para a prosperidade, a regene- meio, o Outono Latino Americano e fi-
ração do meio ambiente e o equilíbrio nalmente o Inverno Asiático. Estação por
das tensões internas4. Isso foi feito com estação, ano por ano, os movimentos de
extrema rapidez e eficiência. Ela tor- democracia real forçaram uma mudança. s­ egue a mesma visão orgânica e biomi-
nou-se o país a desenvolver mais tecno- A experiência iniciou-se com a mética que tem orientado outras
logias verdes, com o maior mercado­ ­Meritocracia Transdisciplinar Participa- esferas decisórias. Cada Unidade de
tiva. O nome “Transdisciplinar” vem da Gestão é considerada um ecossistema
4 http://www.worldbank.org/content/dam/Worldbank/
document/China-2030-complete.pdf ­gestão não segmentada, sistêmica, que socioambiental. Aos governantes, hoje
54 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

chamados Facilitadores, ou Conectores há um peso maior para Pegada Cívica5,


Públicos, cabe trabalhar na busca sistê- Pegada Otimização de Orçamentos e
mica de soluções. Pegada Rapidez de Resposta.
Não há divisão de poder por pas- Uma série de fatores contribuiu
Setores interligados e criativos tas, mas sim Nodos de Gestão Transdici- para a eficiência do novo modelo de go-
Agora, a relação entre os três setores é de circu- plinar que atuam em forças tarefas. verno: a ausência de competição ou feu-
laridade e interdependência. Não existe mais Cada Nodo é gerenciado por três pes­ dalização das pastas; a ação conjunta e
hierarquia. Por meio de compromissos setoriais soas: um conhecedor da área; um espe- integrada; a otimização de recursos; a
e regionais, se estabelecem metas de curto ou cialista no impacto das decisões desta progressiva substituição dos quadros
longo prazo, sem mais depender das políticas e área em relação ao ecossistema ambi­ por equipes altamente capacitadas e
do poder político, mas sim, dos atores e repre- ental (tangível); e o outro especializado comprometidas. O resultado é que, se
sentantes dos próprios desejos. Por isso, é im- no impacto no sistema sociocultural antes falar mal do governo era o segun-
portante que a criatividade e a arte estejam em
­(intangível). Os Facilitadores ou Conec- do esporte mais praticado no país, hoje
todos os setores. Para isso, é essencial potencia-
tores Públicos são indicados por seus o esporte mais praticado é a CoGover-
lizar os espaços células como a escola, que pos-
méritos e uma série de critérios como: nança e o jogo do poder transformou-se
sa ser a semeadora dessa convivência e dissemi-
nadora da criatividade como potencial corretivo competência e experiência técnica na no jogo do “poder fazer”.
e transformador, atendendo aos quatro campos área em questão (parece óbvio, mas an- O Game Social da CoGovernança
(simbólico, social, econômico, ambiental) com tigamente era possível até ser ministro conquistou mais adeptos a partir do
valores de solidariedade e cooperação. de uma área sem conhecê-la); articula- momento em que criou condições para
Guta Bodick, João Roberto Fava, Cláudia Maria ção efetiva, e sobretudo afetiva, com as aproveitar o excedente cognitivo da po-
Fontana, Marta Fernandes, Clara Prazuelo, ­comunidades que representam; dar pulação. O início, ainda no começo do
Marcos Borges, Nataly Simon, João Meirelles e atenção para os futuros desejáveis des- século, se deu por meio de movimentos
Ivan Melita, Brasil, 2008. tas comunidades; e ter visão e pratica como o Transparência Hacker6, nos quais
interdisciplinares e colaborativas. a sociedade civil colaborava com tempo
Fator decisório na MTP são as Pega-
das 4DxT: naturalmente, o candidato 5 Veja este interessante exemplo do Canadá:
tem que ter boa pontuação nas quatro http://www.civicfootprint.ca/
dimensões. Além da Pegada Ecológica 6 http://thacker.com.br
governar , decidir , coordenar 55

e conhecimento para tornar visíveis e população se dedica a acompanhar Lei que assegura o nível de
acessíveis os dados públicos. uma votação da reforma com a mesma sensibilidade dos futuros líderes
Um elemento importante neste dedicação que acompanha seu time! O Conselho Mundial se reuniu para determinar
game foi o aproveitamento do abun- Ou quando as pessoas dedicam-se a es- que existe uma única maneira de escolher gover-
dante excedente cognitivo dos reclusos tudar os elementos da gestão pública nantes. Ficam proibidas as candidaturas. Os líde-
como os loucos, com sua criatividade com o mesmo cuidado que acompa- res serão indicados por suas comunidades, entre
aqueles que: valorizam humildemente a enorme
e liberdade, ou aqueles ligados ao cri- nham o tratamento do menisco de um
responsabilidade do ser humano no planeta; te-
me organizado, com sua capacidade de craque da seleção.
nham vivido com a convicção de que a soma dos
liderança, aptidão gerencial, engaja- Foi inesquecível o dia em que torci-
saberes coletivos é a solução para os problemas;
mento e visão do todo. À medida que das organizadas, com suas camisetas e tenham trabalhado comunitariamente; tenham
estes conhecimentos foram direciona- rojões, foram para as ruas celebrar a se graduado na “Escola de Cultura Global”.
dos para ações positivas, os particiantes transformação das Forças Armadas em David Anica e Guillermo Dignani,
tinham a possibilidade de diminuir sua Forças Cuidadoras. Era surpreendente Rosario, Argentina, 2010.
divida com a sociedade pela da con- ver as ondulações das “olas” e os hinos
quista de pontuação positiva em suas “Educação, é meu timão! Educação, no
Pegadas 4DxT. coração!” em frente ao Congresso. Ou
Quanto mais intenso o Game da ouvir ecoar “Aprovoooooou”, como an- De detentos a doutores
Co-Governança, mais divertido e mais tes escutávamos “Goooool”, em todos Daqui a 10 anos, os indivíduos que forem deti-
adeptos. As missões eram muitas: der- os locais da cidade, já que as votações e dos e condenados serão acompanhados por
rube um político corrupto; recupere seu acompanhamento eram feitas pela profissionais capacitados. Receberão estudo,
educação, amor, conscientização da importân-
uma chefia do crime organizado; mobi- população, online ou por telas eletrôni-
cia da família e dele próprio na sociedade. O
lize para aprovação do código florestal; cas. Nas padarias, os homens se reuniam
detento sairá diplomado e com outra visão do
distribua melhor o orçamento; faça para acompanhar o placar de negocia- mundo, podendo assim reintegrar à sociedade
alianças e parcerias. Pouco a pouco, as ções e gritavam “Vai, vai! Fecha esta num espaço comum a todos. Apenas por meio
pessoas foram equilibrando melhor o parceria!” ou “Mais que moleza! Reduz do conhecimento e da educação, podemos mu-
tempo dedicado ao outros jogos e es- aí esse orçamento!”. Claro que faziam dar a sociedade e suas atitudes.
portes. Imagine todo o potencial de isso tomando cerveja de produção local, Sormani Medina, Marcia Regina Silva
transformação disponível quando uma acompanhada de amendoim orgânico e e Claudia Niza, Campinas, 2010.
56 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

sentados em banquetas com pedal para gadas 4DxT, maior o peso de sua esco- A visão sistêmica, em tempo real e
produzir energia pelo movimento. Ao lha. Foi assim que nos libertamos de colaborativa, permitiu que avançásse-
mesmo tempo, participavam votando e dinâmicas nas quais o voto realizado mos para a forma atual, a CGDD (CoGo-
escolhendo por meio de smartphones e sem o correspondente lastro de conhe- vernança Digital Direta).O modelo ain-
demais aparelhos móveis. cimento e consciência acabava por pro- da está em seus primórdios, mas é mais
duzir governos autoritários e não volta- descentralizado e plural do que a Meri-
Engajamento e Política 4DxT dos ao bem comum. tocracia Transdisciplinar Participativa e
Assim como a Economia 4DxT tem valo- As Pegadas 4DxT também fortale- tem ainda mais foco no nível micro (lo-
res multidimensionais e relativos, na ceram a transparência e os laços de con- cal), que é onde de fato acontecem os
Política 4DxT, o voto de cada cidadão fiança entre todas as esferas. Isso, so- processos de mudança. Houve uma in-
tem um peso proporcional ao seu enga- mado às possibilidades da sociedade versão: os antigos municípios estavam a
jamento: quanto mais positivas suas Pe- em rede, permitiu o desenvolvimento serviço da nação e por ela eram coman-
de um extraordinário sistema colabora- dados. Hoje, os MacroESAs são Redes
tivo de visualização e monitoramento de microESAs e as políticas são decidi-
Interatividade e tomada de decisão de dados públicos e privados. das localmente, tanto para garantir sua
O sistema de decisão via TV interativa feito por Os dados são alimentados pelos diversidade (o diferencial que garante o
meio do controle remoto, com IP’s individuais, próprios cidadãos e geram mapas dos Valor de cada localidade) quanto para
está cada vez mais eficaz. aspectos ambientais, simbólico-cultu- agilizar as tomadas de decisão e ação. A
Após proposta de ementa feita pelo Governo há rais, sociopolíticos e econômicos dos mi- instância gerencial Macro serve como
um mês e emissão televisiva de diversos espe- croESAs e de seu conjunto – os facilitador e organizador do fluxo entre
cialistas no assunto, o povo decidiu hoje, por MacroEcossistemas SocioAmbientais. eles. O que antes era Estado, hoje é cha-
imensa maioria, que não será permitido trafegar Esta visão multidimensional permite mado de MacroModerador (MM), pois
com veículos automotivos em um raio de 600 m uma leitura detalhada e dinâmica pela seu papel é de facilitar, articular e regu-
das praias e áreas preservadas.
qual é possível compreender a fisiologia lamentar os fluxos e tomada de decisão
O sistema será testado por três meses, quando o
geosociopolítica de cada uma destas entre as todas as partes envolvidas.
povo fará a aprovação final pelo mesmo sistema.
Eduardo Martin e Roberta Pinheiro,
Unidades de Gestão. O sistema permite
Brasil, 2010. a leitura de cada um de seus layers de
forma entrelaçada ou em separado.
governar , decidir , coordenar 57

Democracia direta digital credito e comercialização direta entre as


Sem políticos, sem corrupção, este sistema de discussões e votações online permitirá a transferência das partes, mesmo que distantes; crescente
­responsabilidades e competências de um parlamento diretamente para os cidadãos. Assim, nos permitirá número de pessoas trabalhando e mo-
dissolver o Poder Legislativo em todos os níveis: municipal, estadual e federal. A exploração às quais somos rando em mais de um país; crianças que
submetidos pelos políticos desonestos que só têm interesses próprios será extinta e assim serão executados estudam meio ano em cada país; gestão
os verdadeiros interesses da nação. pública compreendida como equilíbrio e
Dr. Clandestino, FILE, Rio de Janeiro, 2011. regulação de fluxos de patrimônios qua-
dridimensionais; tudo isso fez com que
se tornasse necessário mudar a própria
estrutura geopolítica. Os conceitos tradi-
De fronteiras cionais de países ou estados não faziam
a membranas, mais sentido. Fronteiras definidas politi-
camente não faziam mais sentido.
do muro à pele Evidentemente, era necessário dar
limites às Unidades de Gestão. Suas di-
Pensamento sistêmico, sustentabilidade, mensões foram relacionadas à função e
teoria de Gaia e biomimetismo levaram à maneira como operavam os ecossiste-
à uma visão orgânica do mundo. Isso mas tangíveis e intangíveis (ambientais
orientou a substituição das fronteiras e socioculturais). Um exemplo foi apre-
por mecanismos permeáveis e flexíveis sentado já em 2011, no Plano Brasil
como o dos seres vivos. Além de ques- Criativo7: a combinação de geografia
tões complexas como discriminação, lu- (tangível) com cultura, gerando as Ba-
tas étnicas, migrações e refugiados, uma cias Criativas – região geográfica defini-
série de fatores cotidianos demandavam da, formada por diversos territórios com
uma mudança estrutural profunda. identidade cultural comum.
Nova economia 4DxT; relações interna-
7 Proposta para o desenvolvimento do país através da
cionais sendo uma extensão das relações
Economia Criativa: http://www.cultura.gov.br/site/
locais; governos participativos e online; wp-content/uploads/2012/04/livro-portuguesweb.pdf, pag 66
58 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Em vários locais públicos é possível


participar da CoGovernança. Fim das alfândegas
Ângela León, 2012. Em comemoração aos seus dez anos de ativida-
de, o Parlamento Mundial (PMund) declarou o
fim das fronteiras alfandegárias e a flexibiliza-
ção das fronteiras territoriais. Com isso, os de-
putados globais pretendem acabar com dispu-
tas por soberania, protecionismo de mercado e
permitir a livre circulação de pessoas, mercado-
rias e cultura entre os países.
A decisão faz parte do plano dos legisladores
de extinguir a divisão do planeta em unidades
nacionais nos próximos dez anos. A organiza-
ção do mundo em países deixará de ser uma
questão territorial e passará a ser apenas cultu-
ral e prática. Considerada pelos analistas políti-
cos como um dos momentos mais importantes
na história da humanidade, a medida acabará
de vez com as fronteiras entre os povos.
Felipe Jordani, Brasil, 2012.

Daí, surgiram os micro (local) e Ma- sensorial, que fornece informações para camente saíram do léxico, pois impli-
cro (nacional) ESAs - Ecossistemas Socio- orientar escolhas. cam uma percepção de debilidade ou
Ambientais. Seus limites são orgânicos e Isso provocou mudanças também falta de capacidades daqueles que são
funcionais, com função semelhante à na Cooperação Internacional, que hoje apoiados. A Cooperação se dá sempre
das membranas ou pele: proteger, regu- tem processos bem distintos. Termos por troca. Por exemplo, a população
lar trocas e, sobretudo, ser um órgão como “ajuda” ou “capacitação” prati- que recebe apoio financeiro (cada vez
governar , decidir , coordenar 59

mais raro) deve, em troca, dedicar tem- ções colaborativas que somam suas Planejamento,
po para processos educativos. Os pro- competências transformadoras: treinar
cessos de Cooperação são quase sempre jovens a lidar com as TICs e reciclar longo prazo,
diretos, sem intermediação do Macro- equipamentos eletrônicos; agentes comprometimento
Moderador, tanto para agilizar ações ­locais de economia criativa; progra­
quanto para otimizar recursos. Eles se madores ajudando a visibilizar dados Estudos feitos em 2005, no Brasil10, mos-
dão,­principalmente, por meio de ou- públicos; produção colaborativa de co- tram que o país desperdiçava o corres-
tras moedas que não a financeira, pois nhecimento e ferramentas; trabalhar pondente a 150% de seu PIB. Tudo ge-
se verificou que esta criava relações de saúde por meio do humor; mutirões rava desperdício: alimento jogado
dependência, corrupção e problemas em forma de gincana para construção fora11; o tempo perdido em engarrafa-
correlatos. É utilizado, sobretudo, o de espaços de lazer; permacultura; mentos12; a burocracia impedindo solu-
apoio mediante o compartilhamento agricultora orgânica familiar; tecnolo- ção de problemas; a energia desperdi-
de tecnologias “Soft”: tecnologias so- gias low-tech.9 çada nas redes de distribuição – que
cioculturais para fortalecimento do ca- Hoje, o único passaporte que per- ainda eram feitas no antigo modelo
pital social (para que este possa ativar maneceu é o “Passaporte de Jovem”: centralizado/mono, usando grandes
os ­demais capitais) e para aproveita- com ele, os jovens podem conhecer, usinas ou hidroelétricas. Logo após a
mento dos patrimônios simbólico-cultu- ­experimentar e trabalhar em todos os Rio + 20, ampliou-se o incentivo à cria-
rais ­locais. As experiências comparti- tipos de atividade antes de escolher a ção de pequenas redes locais de
lhadas vêm das boas práticas de quais (sim, porque ninguém mais tem
organizações não governamentais e uma única...) vão se dedicar. Este 10 http://www.intranet.rj.gov.br/
empresas sociais que gerem simultane- ­processo acontece entre o que antes exibe_pagina.asp?id=1804
amente resultados empreendedores, era chamado “colégio” e o ingresso 11 O mundo já produz alimentos suficientes para todos.
culturais, edu­cativos e sociais. nas Pluriversidades e colabora para No Brasil, do plantio à mesa, 50% dos alimentos são
desperdiçados http://www.ecodebate.com.
Uma experiência muito exitosa foi que o jovem escolha bem: fazer o que
br/2009/11/12/o-brasil-esta-entre-os-10-paises-que-mais-
a dos “Criativos Sem Fronteiras”8, cara- gosta e acredita. desperdicam-comida-no-mundo/
vana formada por coletivos e institui- 12 Na EU, 50 Bilhões de Euros em 2009.
http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.
8 Veja referência em “Médicos sem Fronteiras”, 9 Várias das instituições, coletivos e ONGs citadas no
do?uri=CELEX:52006DC0059:PT:NOT
http://www. doctorswithoutborders. org/ livro, inspiraram este texto.
60 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Holística em Rede
Líder dotado de visão holística é facilitador e
mediador de rede cultural interativa. Tem o po-
der de enxergar e extrair riquezas de cada indi-
víduo, valorizando assim o capital humano.
Nessa rede, todos podem cocriar e serem coau-
tores de projetos e processos, mas sempre des-
vinculados de instituições, ou seja, precisam ser
autônomos e criativos. Assim, por meio de uma
casa comum (a rede), e a partir das potenciali-
dades de cada um, o líder faria circular e distri-
buir os potenciais e capitais (em todos os senti-
dos), estabelecendo novos paradigmas e
descentralizando a Economia.
Vivian Hirsch, Melina Roldan, Suzana Ferreira,
Vanessa Reis, Tais Masi, Silvia Sá, Patrícia de
Souza, Mariana Costa, Cláudia Cezar e Diana
Concurso Crie Futuros de HQ. Rio +20 na visão de Beatriz Rocha, Brasil, 2011.
Castro, Brasil, 2009.

produção­de energia e de fontes com- apenas o tangível, mas também os des- Priorização da alegria, ambientes de
binadas: mini-hidrelétricas, energia eó- perdícios dos recursos intangíveis como confiança e autonomia, foram algumas
lica, solar e cinética. tempo, ideias e conhecimento. Foi aí das estratégias para não desperdiçar en-
Um dos primeiros passos na direção que economizar energia humana pas- tusiasmo e boa fé.
da sustentabilidade foi expandir a no- sou finalmente a ser tão importante A extinção dos partidos foi um fator
ção de desperdício, considerando não quanto economizar água ou resíduos. importante na gestão de recursos tangí-
governar , decidir , coordenar 61

veis e intangíveis, pois a falta de conti- eventos e logo saiam e os seminários


nuidade entre gestões causava desperdí- terminavam sendo algo como “pregar
cios tremendos. Hoje, as políticas e seu para convertidos”. Talvez, a Remunera-
planejamento são acordadas com a co- ção Proporcional dos Facilitadores e Co- De Censores a Sensores
munidade, feitas por equipes técnicas e nectores Públicos, proporcional ao grau Foi inaugurada ontem a inovadora câmara de
implementadas em longo prazo. Impres- de sucesso de suas intervenções, tenha descompressão social, denominada Centro de
sionantes os ganhos obtidos com o Mo- contribuído para isso. Reabilitação Social. No lugar, uma determinada
vimento Abre Gavetas: foram desenga- Os resultados do bom planejamen- pessoa, eleita pela sociedade civil, passa por
vetados os projetos de governos que to e melhor aproveitamento do já exis- uma série de experiências sensibilizadoras que
a tornam mais reflexiva e perceptiva. A partir
haviam sido iniciados e descontinuados tente levaram ao desenho da Bolsa de
daí, ela passa a sentir na própria pele como é
devido a mudança de gestão. Equipes Pesquisa para Gestão Publica. Cada
viver a vida do outro, em um ângulo diferente
transdisciplinares formadas por gestores Nodo de Gestão Transdisciplinar tinha de sua realidade.
públicos e estudantes pluriversitários um ano para planejamento e formação Quem está mais apto para usufruir deste
voluntários organizaram o material e de equipes antes de sua candidatura. ­processo inovador?
verificou-se, então, que já havia solução Passamos do marketeiro, que planejava Pessoas que formulam leis, como os políticos,
criada e, muitas vezes, semi-implemen- campanhas, ao Treinador de Coopera- que após um período no Centro, passarão a de-
tada, para a maior parte das questões. ção, pois as equipes de gestores eram pender dos serviços públicos que foram criados
Foi mais um exemplo da adequação de treinadas com a mesma minúcia das por eles. Ou, o dono da empresa que demite um
trabalhar a partir do que há – as potên- equipes esportivas. Mesmo aqueles que funcionário, que terá de viver alguns meses
cias – e não das carências. não eram escolhidos, compartilhavam como o próprio funcionário demitido, para
Pequenas atitudes resultaram em seus Planos Transdisciplinares (afinal ­assim se sensibilizar com o problema e propor
soluções. Imagine só como isso transformará as
grandes resultados. Um exemplo foi o eram feitos com recursos públicos...). O
relações humanas!
fato de que as lideranças finalmente melhor de cada proposta era combina-
Esdras G. Cerqueiras; Ronaldo G. Alves;
participaram das discussões e seminários do para resultar no plano final. Anastácia Jean Kyrissoglou e Emelin Assef Jorge,
preparados para elas. Em muitos luga- O foco da gestão era o longo prazo, Brasil, 2009.
res, a antiga prática corrente era a de afinal estamos falando em sustentabili-
que as autoridades, que deveriam escu- dade e nada de sólido pode ser feito em
tar os conteúdos, faziam a abertura dos gestões que duram dois ou quatro anos.
62 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

O papel do
Quem decide a guerra vai para o front!
Quando os governos decidem fazer guerra, os primeiros a irem para o front são eles e seus ­familiares. Assim, Macro Moderador:
provavelmente nunca mais ­façam guerra.
facilitador,
A pessoa que cria uma lei também é a primeira que deverá obedecê-la. Por meio da experiência, só existirão
leis do bem, que sirvam para todos, e não só para si mesmo. conector, regulador
Mari Pini e Lyca Grinberg, Brasil, 2009.
Talvez, o maior patrimônio do Macro
Moderador (MM) seja o fato de ter
acesso a todos os setores, pessoas, em-
Essa transição foi feita por meio de um res não fossem eficientes na implemen- presas e instituições. Assim, ele é o úni-
número crescente de mulheres em car- tação dos planos propostos, eram co que pode desempenhar as funções
gos de liderança. Os melhores resultados substituídos por outros. Por outro lado, chave em nosso tempo: Conector e
foram obtidos quando estavam acompa- podiam permanecer enquanto sua ges- ­Facilitador de Processos. Com todos os
nhadas de homens, com seu poder de tão fosse de qualidade. sistemas digitalizados, é possível ao
síntese, simplicidade e foco. Após a fase Como dito anteriormente, esta sé- MM saber o quê, o quem, o quando, o
com predomínio de gestoras mulheres, rie de medidas fazia parte do Plano de onde e o como de todas as ofertas e de-
voltamos a um equilíbrio de gênero Gestão de Resíduos Intangíveis: nos pri- mandas. Para estabelecer, assim, pontes
­(aliás, de todos eles, que nesta altura já mórdios da sustentabilidade, houve e criar ou regulamentar fluxos. Esta, ali-
eram muitos) depois do Programa do muita preocupação com gestão de resí- ás, é a sua função principal desde que
Afeto Masculino. Foi curioso observar duos sólidos, mas pouca com os intangí- ficou claro que sustentabilidade equi-
que o momento em que os homens no- veis. Um dos piores resultados foi o vale a fluxo equilibrado entre os patri-
taram a relação existente entre compro- enorme desperdício de conhecimento mônios das 4DxT.
metimento nas relações afetivas e capa- pela troca constante de equipes e falta Ao MacroModerador, cabe inicial-
cidade de realização pessoal, coincide de sistematização de experiências. Em mente fazer aquilo que só ele é capaz:
com sua retomada a cargos de chefia. todos os setores, não apenas no público, criar os mecanismos regulatórios. Polí-
Em relação ao tempo de permane- tornou-se prioridade evitar que isso se- ticas, normas, leis e regulamentações;
cia no cargo, se em seis meses os gesto- guisse acontecendo. incentivos e financiamentos; estrutura
governar , decidir , coordenar 63

e processos de formação; ferramentas maior é propor atividades que culmi- lorização da diversidade cultural e a
para empreendedorismo, enfim, tudo nem na criação de um ambiente favorá- centralidade dos intangíveis como re-
aquilo que contribui para o seu objeti- vel à Economia Verde e à Economia cursos para a economia.
vo primeiro: criar ambiente favorável. Criativa. Para atingir estes objetivos, o O foco em sustentabilidade reve-
Num paralelo com a Natureza e o MacroModerador promove a ação lou um hiato da gestão tradicional, que
­processo de cultivo, ao MM cabe ga- ­concertada e integrada entre os Nodos só considerava o presente: produção,
rantir as sementes (reconhecer, valori- de Gestão Transdisciplinar, com suas distribuição e consumo. Este hiato foi
zar e preservar os patrimônios qua­ respectivas áreas de atuação. Realiza, um dos fatores que resultou na crise
dridimensionais) e uma etapa que também, parcerias com empresas pri­ planetária que, felizmente, consegui-
costumava passar despercebida: prepa- vadas, associações, organizações da mos solucionar. Hoje, em uma visão sis-
rar o terreno. ­sociedade civil e pluriversidades para têmica e sustentável, a gestão 4DxT in-
Um aspecto importante desta pre- garantir a sustentabilidade. clui as fases ligadas ao “antes” e o
paração de terreno é a Advocacy 13: Atitudes sustentáveis na dimensão “depois”: os recursos recebidos do pas-
­trabalhar a mudança cultural (intangí- econômica implicam foco na melhor sado e o legado deixado para o futu-
vel) e de mentalidade que precede distribuição de renda e utilização não ro14. Em vez de pensar na ideia linear de
cada mudança estrutural; formar par- apenas de ferramentas financeiras mo- cadeia, trabalhamos com a noção de
cerias e alianças; campanhas de comu- netárias, mas também daquelas ligadas Ciclo, que são finalizados com a siste-
nicação e fornecer informações para à economia solidária e às moedas alter- matização da experiência na forma de
mídia. O i­nteressante desta fase é que nativas. Na dimensão ambiental, em li- indicadores, dados e pesquisas que pos-
ela não consome recursos materiais, dar de forma renovável e limpa com os sam alimentar o Ciclo seguinte.
mas gera muitos resultados pela recursos naturais e compartilhar as in-
identificação de potenciais e como me- fraestruturas como espaços, equipa-
lhor aproveitá-los. mentos e redes de serviços. Na dimen-
Em um governo 4DxT, as políticas são sociopolítica, em otimizar tempo,
devem ter uma visão sistêmica (trans- recursos e informação por meio da ação
versal e multissetorial) e seu objetivo integrada e convergente entre institui-
ções. Finalmente, na dimensão simbóli-
14 Para mais informações, pesquisar o economista José
13 Termo equivale à defesa e difusão de um conceito co-cultural, temos a preservação e a va- Eli da Veiga, entre outros.
64 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Gestão Mesh: suprir as lacunas existentes. Os alunos já avançarem os países ditos “em desen-
se formam com profundo envolvimento volvimento”, que saíram de uma situa-
aproveitar o que há com a prática, o que não acontecia em ção de “atraso” e conseguiram evitar os
anos anteriores, pois desde o início, seu erros neoliberais do século XX, saltando
Nas últimas décadas, vimos a passagem conhecimento é aplicado. Alunos de en- direto para o século XXI. Nesses casos,
do Modelo Centralizado/Mono para o sino técnico e pluriversitários treinam foi interessante notar como “o atraso
Descentralizado/Pluri, possível graças equipes locais no uso das TICs, fazem foi a oportunidade”, pois seus patrimô-
às características da sociedade em rede, pesquisa a partir de necessidades con- nios ambientais, simbólicos e culturais
ao foco em intangíveis e na confiança cretas e atuam como Agentes Locais de ainda estavam preservados. O avanço
como premissa de relações interpes­ Fomento. Resultados excelentes foram deu-se pelo fato de este tipo de política
soais e comerciais. O mesmo aconteceu obtidos com a adoção da Convergência e ação colaborativa do MacroModera-
com o governo. Hoje, o conceito Mesh15 como eixo norteador – outra das marcas dor não necessitar recursos financeiros e
de compartilhamento se aplica tam- dos novos tempos, em contrapartida às sim, alianças. Duplo benefício, pois sem
bém à Gestão Mesh. O principio básico compartimentalizações do passado. Foi envolvimento de dinheiro em espécie,
é o mesmo que norteou as grandes extraordinária a quantidade de progra- havia menor propensão à corrupção e a
mudanças em nossa sociedade: traba- mas e projetos implementados a partir constituição de alianças fortalecia as re-
lhar sobre potencias e não sobre carên- da convergência de pesquisas da pluri- lações institucionais. Ou seja, simultane-
cias, criando sistemas para melhor uso versidade. Por exemplo, trabalhos de amente, trabalhava-se com os dois fato-
do já existente. conclusão de curso (TCC) nos quais os res-chave: o fortalecimento da ética e
Exemplo: suponha que, em um Ma- alunos convergiam para um mesmo do capital social. Tudo isso potencializa-
croESA, exista falta de quadros adequa- tema. Digamos que fossem TCCs de uma do e possível graças à priorização do
dos e a gestão é feita por funcionários turma de Engenharia Ambiental 4DxT. acesso amplo e irrestrito às TICs, uma
sem qualificação técnica. Neste caso, são Esta convergência permitiria que cada das recomendações das Medidas Sus-
estabelecidas parcerias com as institui- um abordasse um aspecto a ser melho- tentáveis Pós-Rio + 20.
ções de ensino para que estas possam rado e a soma dos trabalhos permitira A lógica vigente é verificar o que
uma solução sistêmica para o local. existe e como pode ser melhor aprovei-
15 Conceito criado por Lisa Gansky: significa unir pontas
Essa lógica de trabalhar sobre po- tado. Antigamente (desde as Pirâmi-
em uma economia do compartilhar. Veja o Manifesto em
http://meshing.it/manifesto_mesh_eng.pdf tências, com o que há, foi o que fez des!), os governos acreditavam que
governar , decidir , coordenar 65

construir mega empreendimentos era o microESAs. Na lógica de Gestão Mesh,


que revelava sua qualidade. O foco es- não criamos novos espaços (insustentá-
tava sempre na realização de grandes vel...), mas sim mapeamos os períodos
obras, geralmente caras e pouco funcio- ociosos nos espaços já existentes e de-
nais. Toda reunião de planejamento co- senvolvemos sistemas para ocupá-los.
meça por “precisamos de...” e não “já A mesma lógica, criar sistemas
temos...”. Um exemplo: no momento para melhor aproveitamento ao invés
em que ficou evidente que a economia da construção de grandes obras, foi o
criativa era uma estratégia que deveria que resolveu um dos grandes proble-
nortear o desenvolvimento, foram ma- mas enfrentados na transição para a
peadas as demandas dos microESAs com sustentabilidade: a questão energética.
relação ao desenvolvimento local. Veri- A solução, mais uma vez, foi passar do
ficou-se a necessidade de espaços multi- modelo centralizado/mono para o des-
funcionais, que tanto poderiam abrigar centralizado/pluri), com as já citadas
uma assembleia comunitária quanto Redes Locais de Micro Unidades de
uma exposição de artesanato ou proje- Produção Energética, com fontes reno-
ção de cinema. Evidentemente, estes váveis, diversificadas e geridas pelas
“hardwares”/estruturas necessitavam próprias comunidades.
de “softwares”: processos que os conec- Uma das estratégias do Governo
tassem e tornassem funcionais. Antiga- Mesh foi a intensificação de pesquisas
mente, a lógica vigente privilegiava o em logística reversa para verificar quais
contrário: foram construídos dezenas de sistemas já estavam desenvolvidos e po-
grandes espaços com programação limi- deriam ser melhor aproveitados. Um
tada a poucas linguagens artísticas, fun- exemplo simples e que deu muito resul-
cionando algumas horas, poucos dias tado foi o de aproveitamento de exce-
por semana, e cujo custo seria suficiente dentes, como livros ou equipamentos
pra equipar e integrar toda a Rede de usados, por meio de sistemas de distri- Logística Reversa: o mesmo sistema de entrega
Casas Multifuncionais em centenas de buição preexistentes. Hoje, todas as ca- se encarrega de redistribuir. RAI, Brasil, 2008.
66 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

sas têm um sistema de entrada e um de Inovação e redes wifi em todos os espaços públicos
saída. Por exemplo, entram as garrafas e, mesmo os microESAs menores, pos-
de leite (sim, elas foram reintroduzidas) Tecnologias Soft suem telecentros. No começo do século,
e saem livros que já foram lidos. A mes- e low-tech os Internet Cafés, sobretudo nas comu-
mas empresas que fazem as entregas re- nidades de baixa renda, utilizando com-
tiram os objetos disponíveis para rea- Ter a Economia Criativa e a Economia putadores reciclados, tiveram um papel
proveitamento: quem trouxe o fogão Verde como prioridades, e todo o avanço muito importante. Ainda hoje, são uma
novo já leva o velho para sua Central, que se seguiu, só foi possível graças ao das maiores fontes de geração de renda,
de onde ele é redistribuído. amplo acesso às TICs. São quase 20 anos promoção de encontro e intercambio.
Nesta lógica de verificar o que há e em que todas as crianças, em todos os Para as gerações mais velhas, foi
não o que falta, ficou evidente que, países do mundo, possuem computado- um pouco difícil fazer a passagem para
também na gestão pública, é importan- res simples e modens para acesso a inter- o pleno uso das TICs, mas elas foram
te atentar para as “envelhações” e não net. Para garantir este acesso mesmo em muito auxiliadas pelas crianças. Os Pro-
apenas para as inovações: muitas das so- países onde não havia eletrificação, fo- gramas de Aprendizado Intergeracional
luções necessárias para este nosso mun- ram adotadas soluções locais – de células tiveram muito êxito: os mais velhos
do desejável e sustentável já existiram solares a computadores movidos por bici- aprendiam com os jovens a lidar com as
em algum momento e foram restaura- cleta. O uso de aparelhos móveis permi- tecnologias digitais e ensinavam ofícios
das. Esta recuperação foi acentuada por tiu que cada cidadão do planeta estives- – afinal, estes oferecem hoje grandes
um movimento semelhante ao da aber- se conectado. Tornamos-nos pontos de oportunidades de trabalho.
tura das gavetas com projetos de gover- uma grande rede em torno do planeta. A enorme evolução das últimas dé-
no: o Movimento de Resgate de Desco- Rede que se comunica, distribui dados, cadas não seria possível sem a mudança
bertas e Patentes. Descobertas que compartilha visões e, sobretudo, é capaz conceitual em relação à inovação.
haviam sido engavetadas, pois geravam de sentir o pulso do planeta – atenta Como nos séculos anteriores, toda a
pouco lucro, foram recuperadas e pos- para manter seu estado sustentável. ênfase estava no tangível, estrutural.
tas em prática, como veículos movidos a Há mais de quinze anos, o acesso à Era considerado inovação apenas o que
água ou medicina herbal. internet é parte dos serviços básicos ofe- se referia a coisas, inventos, traqui­
recidos pelo MacroModerador: água, tanas – aquilo que chamamos de inova-
luz, saneamento, limpeza e internet. Há ção e tecnologia “hard”. Ao estudar as
governar , decidir , coordenar 67

causas do avanço de certos países, veri- commodities e consumidor de infraes- Banco de Conhecimento
ficou-se suas relações com uma maior trutura não é um caminho de desenvol- Em 2020, o governo lança projeto no qual os
valorização das tecnologias e inovações vimento para uma economia criativa alunos são catalisadores de experiências em
“soft”, processuais, ligadas à inteligên- própria do século XXI. suas comunidades. O objetivo é recrutar e re-
cia e gestão16. Na inovação “soft”, há união entre munerar alunos de escolas públicas para que
O MacroModerador precisa atentar conhecimento formal e informal. Os investiguem e conheçam os moradores de sua
para não criar políticas anacrônicas, já produtos e serviços inovadores incorpo- comunidade, seus conhecimentos e projetos
que seu papel no século XXI é viabilizar ram modelos, hábitos e tradições anti- criativos e inovadores, para assim organizarem
o futuro e não ser conduzido pelo ime- gas que seguem atuais e úteis. O patri- este conteúdo em uma vasta rede de “utilida-
des e conhecimentos”, catalogada para ser
diatismo, atendendo exclusivamente a mônio simbólico-cultural é vivo,
compartilhada com outras comunidades.
demandas do presente. Para tanto, é dinâmico e singular, para ser desfrutado
Eduardo Giacommazi e Ronaldo Gonçalves,
preciso considerar inovação para além pela população nativa e estrangeira.
São Paulo, 2009.
de produtos e infraestrutura e priorizar Inova-se também nos modelos de ges-
inovação de processos, pautados no co- tão e comercialização, incorporando
nhecimento e na gestão. Inovação que princípios colaborativos e outras formas
se apoia na diversidade cultural, no di- de ações coletivas.
namismo das tradições, nas experiências Os novos conceitos de inovação in- ções. Seu exemplo foi seguido por vá-
do terceiro setor, na geração de produ- cluem e valorizam as “envelhações” e os rios outros e os resultados são muito va-
tos e em serviços criativos. Verifica-se low-tech, reconhecendo a genialidade riados: centenas de aparatos para
que, até pouco tempo, os países mais das soluções criativas e de baixo custo facilitar lavoura; armações de óculos
desenvolvidos eram aqueles que con- desenvolvidas por camadas de baixa com células fotoelétricas, para ler à noi-
centravam a inteligência e a gestão, re- renda. A Índia 17 integrou governo, te; sapatos com dínamo na sola para co-
legando a produção aos países “emer- ONGs, empreendedores e escolas públi- letar a energia do movimento; e todo
gentes”. No início do século, estes se cas no desenvolvimento de mecanismos tipo de inventos baseados em bicicletas:
conscientizaram que ser fornecedor de para identificar e difundir estas inova- da e-bike ao aparelho respiratório movi-
do a pedal18.
16 Veja os estudos de Jin Zhouying, Diretora da CTISS, 17 No governo: http://www.nif.org.in/; na sociedade
Chinese Academy of Social Sciences,Beijing. http://www. civil http://www.sristi.org; no empreendedorismo: http:// 18 Veja a história em: http://www.idisc.net/en/
worldbusiness.org/about/fellows/zhou-ying-jin/ west.gian.org/ Article.38950.html
68 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

ambientais. Os gover- tecnologias que fazem muito com pou-


nos perceberam que co e geram resultados 4DxT que vão
seu papel neste mo- muito além do financeiro.
mento da historia esta-
va em criar processos
mais do que apenas ga- Novo Direito:
rantir infraestruturas.
Evidenciou-se a impor- confiança e
tância das tecnologias simplicidade
socioculturais, tecno­
logias do intan­ g ível, são a norma
que geram riqueza e
qualidade de vida qua- Os modelos de governo deixaram de
“Envelhações”: garrafas de leite e minicarros que já existiram. RAI, Brasil, 2008. dridimensional com ser segmentados e passaram a ser sistê-
uso de recursos sociais micos, buscando soluções integradas
e culturais. para cada questão. A saúde, por exem-
Na medida em que foram valoriza- O Brasil, por ser um celeiro e refe- plo, não pode ser resolvida sem sanea-
das as tecnologias “soft”, o empreende- rência neste tipo de tecnologia, foi o mento e educação não existe sem cultu-
dorismo social passou a ser fonte de ins- primeiro a criar uma Agência de Fomen- ra. Mais um caso que faz parte do
piração. Desde os anos 10 se expandem to e Exportação de Tecnologias Soft, ini- movimento geral de passar de visão se-
as B-Corporations, empresas para o be- cialmente desenhada para garantir o torial e atividades segmentadas para
nefício19, e as Empresas Regeneradores sucesso das novas políticas na realização uma visão sistêmica e integrada. A con-
de Vida20, que usam o poder dos negó- da Olimpíada 2016. Sistematizar e di- sequência foi a necessidade de mudar as
cios para solucionar problemas sociais e fundir metodologias foi imperativo normas, as legislações e as políticas.
quando Políticas Sociais 4DxT substituí- Isso se refletiu no Direito, já que o
19 Os EUA: http://hbr.org/2011/11/the-for-benefit-
ram as políticas de mercado que orien- conjunto de leis antes seguia uma lógi-
enterprise/ar/1 taram a Copa 2O14. Hoje, a América La- ca taxonômica, tentando classificar e
20 Na América Latina: http://www.erv-lrb.com/ tina é o maior provedor mundial destas encaixar tudo em categorias – inviável
governar , decidir , coordenar 69

num contexto de século XXI. Alguns his- hoje ­foram consequência da ampliação
toriadores recentes trazem duas refle- destes conceitos.
xões interessantes: a primeira delas é A discussão ampliada do que pode-
que este Direito “classificatório” acom- riam ser crimes contra a humanidade
panhou os processos de classificar tudo ­levou à revisão de muitas das questões
que marcaram os séculos XVIII e XIX. cotidianas daquela fase pré-sustentabi­
Antes da Ecologia, o próprio estudo da lidade como: hábitos alimentares, hege-
vida era altamente taxonômico, dedi- monias, manipulação de informação e
cando-se mais à morfologia que à fisio- restrição de patentes. Localizamos, in-
logia. A segunda, é que as antigas Cons- clusive, um registro de 2009 que aponta
tituições e leis estavam formuladas para o financismo predatório como mecanis-
defender a propriedade e o Estado e mo de exterminação em massa22. Da
não as pessoas; o Ter e não o Ser; os ampliação de conceitos de “patrimônio
­indivíduos e não a coletividade huma- comum da humanidade”, derivaram os
na. É necessário lembrar que a primeira conceitos de patrimônios em múltiplas
vez que em Direito se fala de “família dimensões, inicialmente referindo-se ao
humana” foi na Declaração Universal ambiental, em seguida ao social até
dos Direitos Humanos, em 1948. Só na chegar ao desenho final 4DxT.
década de noventa do século XX as Retomando o tema do taxonômico
constituições nacionais passaram a x sistêmico, a partir dos anos 20
­incorporar, por exemplo, a noção de ­assis­timos a uma gigantesca reformu­
­“humanidade”. Isso se deu em dois as- lação do sistema judiciário, que teve
pectos: “crimes contra a huma­nidade” e que ser ­simplificado e agilizado. Dados
“patrimônio comum da humanidade”21. ­mostram que no Brasil, em 2010, havia
Muitas das reformulações­que temos
22 Palestra sobre“ Innovation for Human Security”, de
21 Veja o texto a respeito,da jurista Mireille Delmas- David Harries, da Canadian Defense Academy and Foresight Jogos só para divertir, nos quais
Marty, capítulo 8, “A Religação dos Saberes”, organização Canada, 10/12/2009, 6th International Conference on não há vencedores. Isabela Correia e
de Edgar Morin, 1999 Innovation and Management, PUC, São Paulo. Castro, FILE Rio de Janeiro, 2011.
70 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Tecnologia para a paz. Ricardo Millen, Que cada grande cidade tenha em suas avenidas telas gigantes que apresentem atividades culturais de outros países.
FILE, Rio de Janeiro, 2011. Gabriel Castillo, Randy Encarnación, República Dominicana, 2009.

86,6 ­milhões de processos23 em anda- aumentava enormemente a cada ano, Outro fator que permitiu essa sim-
mento, o que significava 2,2 processos mas o de juízes não...25 No processo de plificação foi sair do Direito taxonômico,
por habitante24. Evidentemente, não simplificação, os Tribunais do Bom Sen- com seus milhares de leis, para um retor-
havia quadros ou tempo suficiente para so, na dimensão local, foram muito efi- no aos Princípios Fundamentais que pu-
solucioná-los. O número de processos cientes, pois uma parte significativa po- dessem nortear as ações. Esse processo
dia ser resolvida pela aplicação do bom acompanhou a tendência de sair do mor-
23 http://adperj.jusbrasil.com.br/noticias/2373555/
brasilia-brasil-tem-86-6-milhoes-de-processos-em-andamento
senso de cidadãos comuns. fológico (classificar situações e modalida-
des) e avançar no fisiológico (compreen-
24 http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/ 25 http://www.lunazonta.com.br/brasileiro-gasta-r-
noticia_visualiza.php?id_noticia=1766 17704ano-para-manter-o-judiciario der funções). Algumas obras sintéticas e
governar , decidir , coordenar 71

eficientes já existiam, começando nos


Dez Mandamentos ou na Magna Carta
carolíngia e indo até a Carta da Terra26
ou mesmo as infalíveis Oito Leis da Robó-
tica, de Isaac Asimov. Elas serviram como
insumo para desenhar as poucas normas
que hoje nos orientam, sendo a primeira
delas já bastante suficiente: “faça aos ou-
tros e ao planeta aquilo que gostaria
que fizessem por você”.
Todavia, a grande determinante
desta mudança foi passar do medo à
confiança. Confiar era infinitamente
mais prático, barato, simples e eficaz do
que temer. Era urgente que o tempo, os
recursos, as equipes, a estrutura (e entu-
siasmo!) gastos em desconfiar fossem
investidos em sustentabilidade. Medo
deixou de ser bom negócio e toda a sua
indústria foi direcionada para a susten-
tabilidade, a confiança e a colaboração,
mais rentáveis em longo prazo e numa
escala 4DxT e, evidentemente, mais
­éticos. E divertidos.

26 http://www.earthcharterinaction.org/content/ Replay. Tetsu Takita, Rio de Janeiro, 2009.


72 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Uma ideia prospectiva cultural:


como será a cultura do futuro? Prospectiva 1. Espaço público híbrido.
Ocupar e transformar o espaço público combinando a ação local, no espaço,
Angel Mestres Vilas1, Barcelona, Espanha, 2008.
com a organização e comunicação por meio das tecnologias digitais. O telefone
CEO da Transit Projectes e coordenador do curso de Gestão Cultural da Universidade de Barcelona.
celular evoluirá como um sistema de localização de pessoas com interesses
e atitudes similares. Uma rede social no espaço real, que permitirá também
Como será a cultura do futuro? Que novas criações culturais nos trará o modelo
a criação de complicados jogos e performances parcialmente on-line e parcial-
de criação coletiva? Como as novas tecnologias transformarão o desenvolvi-
mente presenciais. Aumento da informação de forma contextual e não invasiva.
mento local?
Prospectiva 2. Storytelling digital.
Levando em conta que a tecnologia é apenas uma ferramenta no nosso cotidia-
Criação de narrativas de forma coletiva, em formatos audiovisuais, para poten-
no, essas perguntas e muitas outras aparecem a cada dia quando ligamos
cializar a inclusão social e a criatividade. Performances e criações ao vivo, em
o computador, o tablet ou o smartphone. A internet já transformou o processo
tempo real, entre pessoas a milhares de quilômetros de distância entre si.
de criação e difusão cultural. Graças à rede, deixamos de ser meros consumido-
Novas tecnologias em dispositivos móveis facilitarão estabelecer este tipo
res para poder ser também produtores e distribuidores.
de links de interação direta entre o primeiro mundo e os países em vias de de-
senvolvimento. As narrativas se desenvolverão por vários canais, oferecendo
O que é a cultura? A cultura é um mecanismo de adaptação. É a ferramenta
experiências e histórias diferentes dentro de um mesmo mundo, e para enten-
que nos faz produzir e trocar símbolos. Mas, para responder à pergunta
dê-lo em sua globalidade, teremos de entrar em cada um dos canais.
que abre este artigo, é preciso começar a refletir sobre como criaremos esses
símbolos a partir de agora, já que as ferramentas atuais mudam e trocam
Prospectiva 3. Cultura do remix.
constantemente. Por isso, é importante referenciar três aspectos que são
As tendências vistas em ações e movimentos como o Copyleft, Creative Com-
­básicos e que podemos agrupar como “os três Cs”: Conhecimento, Comunica-
mons e o “procumún“2 acabarão gerando uma nova forma de considerar
ção e Cooperação.
a cultura; ao invés de produtos acabados, teremos peças de um quebra-cabeça
com pedaços de música, som, fotografia, cinema, animação etc., para que cada
Apresento oito propostas, não como fez Negroponte em “Mundo Digital”,
um construa as próprias obras. A cultura vai se construindo sobre símbolos an-
de 1995, mas, sim, desde uma perspectiva em que o usuário é o centro de to-
teriores, é um remix e uma reinterpretação constante.
dos os processos.

1 (www.transit.es), (www.asceps.org) 2 Conceito que se aplica a tudo aquilo que pertence ao coletivo.
governar , decidir , coordenar 73

Prospectiva 4. Eletrônica DIY ( Do It Yourself). Prospectiva 7. Cyborgs.


A introdução de hardwares como Arduino e o desenvolvimento de linguagens A inclusão de sensores, robótica e multimídia nas artes performáticas será cada
de programação potentes pensadas para artistas e designers, como o Proces- vez mais presente. Quando a novidade acabe, começarão a aparecer propostas
sing, permitirão que seja cada vez mais comum que, ao invés de comprar realmente interessantes em que o uso desses elementos tecnológicos não será
os nossos produtos digitais acabados, façamos os nossos. A popularização das feito somente porque “fica bonito”, mas sim porque eles estão associados
impressoras 3D permitirá que cada um pense seu próprio design de objeto à estória, transformando assim as artes como o teatro, a dança etc.
e o torne realidade, nós customizaremos a roupa incluindo componentes ele-
trônicos como sensores. Prospectiva 8. Diversidade.
Todos os pontos anteriores se orientam definitivamente pelas ferramentas ba-
Prospectiva 5. Geomídia. seadas nas novas tecnologias – o avanço que esses meio alcançam propicia
A inclusão de GPSs em cada vez mais aparelhos eletrônicos e a melhoria a sua incorporação decisiva nas atividades cotidianas.
de sistemas de geolocalização e outros programas de posicionamento espacial
possibilitarão criar um novo tipo de projetos artísticos multimídia, capazes O verdadeiro sentido da cultura do futuro é radicado no uso desses meios. Tra-
de indicar a cada momento onde estão e assim reagir e oferecer informações ta-se de uma mudança de paradigma que nos coloca como facilitadores da in-
contextualizadas sobre o lugar onde nos encontramos. Facilitará o acesso, rela- clusão, da democratização dos meios, da interculturalidade e do fomento à di-
cionando-o não só ao seu contexto local mais próximo, mas também versidade. Pessoas que cada vez se incluam mais neste fenômeno global,
a um contexto global. graças à redução de distâncias propiciada por essas ferramentas, conseguindo
utilizar as confrontações propiciadas pelos ditos olhares para entender suas
Prospectiva 6. E-emoção. próprias realidades. Multilinguismos, novos nomadismos, migrações, diversida-
Cultura é criar experiências e emoções. Projetos artísticos multimídia capazes de e cultura de todos para todos.
de reconhecer em que estado emocional estamos e produzir conteúdo adapta-
do a estas emoções. Câmeras que fotografam automaticamente quando obser-
vam o aumento do nosso interesse por um objeto ou situação concreta; um
equipamento musical que detecta o nosso estado de ânimo e coloca a música
adequada, ou um sistema que nos sugere, de acordo com os nossos gostos e
em cada momento, a que exposição, filme ou peça de teatro podemos assistir.
74 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Governar o futuro Novos ofícios


Desde a escola, os ofícios de maior prestígio são aqueles que melhoram o bem-
Joxean Fernández, Espanha, 2012. -estar da comunidade: cuidadores, sonhadores, saneadores, educadores, cola-
Consultor Internacional em Cultura, Desenvolvimento e Inovação1. boradores, cientistas, servidores públicos de fato.

Só a geração mais antiga se recorda de como era governar no passado. Era ad- Os sonhadores
ministrar o medo. Exercer o poder, um poder masculino, uniforme, indiferente às Os sonhadores são crianças de zero a 99 anos. Literalmente. Os olhos cheios de
necessidades dos seres humanos, autista. O futuro se construía com tijolos de futuro dos recém-nascidos. Os olhos cheios de sabedoria dos mais velhos, como
um temor antigo, de que o mal sempre prevaleceu ao bem, que a capacidade os círculos concêntricos de uma árvore antiga. Muitas vezes os sonhos são co-
de transformação do ser humano estava dormente, um espelho quebrado em letivos e crescem lentamente na consciência da comunidade. Sonhos loucos já
mil pedaços irreconciliáveis. pararam guerras, reconciliaram povos inimigos, impediram a destruição da
Amazônia.
Os sonhadores de futuro eram perigosos porque iam contra a corrente. O desti-
no dos sonhadores era o dos hereges, loucos ou palhaços, diferentes nomes Os dias arco-íris
para o mesmo personagem: o que olha ao seu redor e quer mudar o mundo. Cada pessoa dedica um número variável de dias ao ano para colaborar em
causas comunitárias. É fácil saber quando alguém está em um dia arco-íris:
Liberar-se da tirania do senso comum anda com um sorriso de felicidade iluminando o rosto. Há quem diga que as
Estávamos submetidos a um deus menor, o da razão prática e seus estreitos li- causas arco-íris são ineficientes e que deveriam ser substituídas por serviços
mites da realidade. profissionalizados (e obrigatórios). Estas iniciativas nunca prosperaram. A efici-
ência é um valor superestimado, uma relíquia própria dos excessos de raciona-
É preciso que tudo mude para que tudo mude lidade. Se os dias arco-íris medissem a contribuição à felicidade coletiva, seria
Há três gerações, se derreteu a calota polar e o mundo disse chega. Inundamos- uma das iniciativas mais luminosas.
-nos de água, mas também de esperanças. Sentimo-nos com a responsabilidade
de fazer alguma coisa antes que fosse tarde demais. Com a energia de 7 bilhões Os distribuidores de abraços
de pessoas convictas que era urgente e possível iniciar uma transformação o es- São seres especiais, empáticos, que as pessoas buscam como uma sombra em
tado de ânimo do futuro se converteu. Diante do discurso dos escribas do poder, um dia quente. Há distribuidores profissionais e há aficcionado, que abraçam
pretensiosamente racional e sempre ameaçador, as pessoas descobriram que nos dias arco-íris.Por vezes pode ser constrangedor, mas na verdade é sempre
sonhar era uma arma revolucionária. Junto podemos mudar. Romper amarras. bom ganhar um sorriso e um ou dois abraços...

1 www.ekinconsulting.com
governar , decidir , coordenar 75

Os novos servidores públicos As antenas da sensibilidade cidadã


O serviço público ganhou valor. Desapareceram os comportamentos oportunis- Há sensores de sensibilidade cidadã por todos os lados. Para os assuntos com-
tas. Existem novas formas de controle democrático que atuam como barreiras a plexos ou inovadores, agem como termômetros, medem a opinião das pessoas
condutas prejudiciais. Segue existindo falta de coordenação e os erros continu- sobre os temas de debate. Discute-se calorosamente como o sistema pode
am frequentes. Mas há uma determinação coletiva a melhorar, ajustar e seguir ­recolher da melhor forma possível a opinião dos cidadãos. Funcionam muito
mudando. bem para assuntos locais, mas podem ser melhorados para assuntos mais
­técnicos ou que afetam âmbitos superiores.
A política, arte do impossível
A política agora é a arte do impossível. Os melhores políticos são sonhadores Somos Gaia
compulsivos com vocação de artesãos. Sonham sonhos e cuidam para que se Há uma nova consciência global de que todos somos parte do todo. Desapare-
tornem realidade. A política se converteu em um ofício honorável e efêmero. ceu o pensamento linear na ciência, sociedade, cultura e também na política. O
Todos os cidadãos terão a responsabilidade e o privilégio de servir aos demais pensamento empático, holístico, sistêmico e interconectado é considerado a
em algum momento de suas vidas. Capacidade e vontade de aprender, espe- única perspectiva possível para tomar decisões adequadas. Governar é mudar,
rança, humildade, compromisso, são os valores mais apreciados. mas também é preservar o planeta para as futuras gerações.

Governar, articular, coordenar Como epílogo


O governo abandonou o uniforme. Governar deixou de ser dar instruções, emi- O novo sistema de governo é baseado na confiança e na produção de empa-
tir decretos e produzir leis. Já não é para poucos, mas sim de todos. A nova polí- tia. Os principais desafios: não deixar ninguém para trás, garantir a coesão,
tica não se entende sem responsabilidade e participação. Mesmo que seja uma promover diálogos reflexivos e transformadores, evitar o consenso fácil, pro-
decisão controversa, o voto é obrigatório. As decisões coletivas relevantes são mover a diversidade, não humilhar ninguém, aprender permanentemente
resultado de um longo processo de deliberação, requerem tempo. A velocidade ­sobre novas ideias.
é outro conceito do passado.
Alguns anos já passaram e a entropia do mundo diminuiu. Mesmo que o dano
Valoriza-se a capacidade dos governantes de promover processos de auto­ produzido em Gaia tenha sido muito grande, o planeta vai se recuperando
‑organização, cooperação, soma de vontades, mudança de opinião. O respeito é ­lentamente. A capacidade de autogestão melhora todos os dias. Respira-se um
a linguagem da nova política. Os problemas se resolvem no lugar mais próximo otimismo saudável, sem autocomplacências. Ainda temos muito trabalho pela
às pessoas. A maioria dos cidadãos é consciente de que faz parte da tripulação frente, e muito futuro adiante.
de um barco no qual viajamos todos.
76 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Concurso Crie Futuros de HQ. Alejo Curuchet Salvarey, Uruguai, 2011.


TAGS: urbanismo – arquitetura – design – moda
– energia – bairros – cidades planejadas –
ecovilas – transporte – distribuição

4 HABITAR, DESLOCAR, circular

“Se não mudarmos de direção, acabaremos onde estamos indo.”


provérbio chinês
78 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

materiais orgânicos. Um reflexo externo


do aparente caos de onde a criatividade
se origina. Quais desejos de futuro
orientaram o desenho de nossas cidades
nos últimos trinta anos?

Felicidade
Os carros deixaram de ser o eixo central São Paulo, métropole da cor. RAI, 2008.

no desenho das cidades, que passaram a


ser focadas na Natureza, nas pessoas e para o FIB 4DxT as crianças brincando
em como deixá-las mais felizes. Isso, em bando pelas ruelas; as portas abertas
alias, é uma obrigação pública, uma vez e receptivas; redes de colaboração e afe-
que o FIB 4DxT2 (Indice Quadridimensio- to, efervescência. Já, por trás dos muros
Science and Mechanics, EUA, 1932. nal de Felicidade Interna Bruta) é a nova altos e guardados dos bairros ricos, o FIB
forma de medir a riqueza das nações. Es- 4DxT diminui, pois foram registrados ín-
Cidades1 tudos sobre o tema revelaram o equívo- dices altos de solidão, tédio, perda de
co do século XX, que confundiu privaci- autonomia por excesso de cuidados, in-
O presente é fruto dos sonhos do passa­ dade e autonomia com isolamento e capacidade de sentir-se satisfeito com o
do:­leva um bom tempo para que as ideias individualismo, resultando em muita in-
saiam das pranchetas e ganhem vida. felicidade. Nas comunidades (antiga-
Aqueles arranha-céus de vidro es- mente chamadas favelas) contribuem Profissão: Processador de Emoções
pelhado, uniformes, fechados, assépti- Ao mesmo tempo em que sobrevoa as cidades
pesquisando as emoções e sensações das pes-
cos, foram sonhos da primeira metade 2 FIB – Índice de Felicidade Interna Bruta, para substituir
o PIB, Produto Interno Bruto. Veja artigo “Nobel defende que soas, tem o poder de captá-las e distribuí-las
do século XX, Hoje a cidade reflete os Índice de Felicidade seja criado”, Folha de S. Paulo, 3/04/ 2012. conforme a demanda, levando mais alegria e
sonhos do século XXI: divertida, irregu- http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/1070841-premio-
diversão para aqueles que estão mais tristes
lar, colorida, diversa, mutante, formas e nobel-de-economia-defende-indice-de-felicidade.shtml
e deprimidos.
Aqui está acrescido do nosso conceito 4DxT: indicadores
1 Começamos por aqui já que a partir de 2011 a maioria estruturados de forma a equilibrar as quatro dimensões: Raymundo Barros e Helio Fernandez Júnior,
da população do mundo está concentrada em cidades. econômica, ambiental, sociopolítica e simbólico-cultural. São Paulo, 2009.
h abi ta r, d e s l o ca r, ci rcu l a r 79

cos. Sucesso nas Pra- qualidade em campanhas e ações para


ças, e em promover que a cidade seja de fato pública e sus-
mistura e contato, têm tentável. Um de seus sucessos foi a Cam-
sido os Bailes Temáti- panha “CRER E CREDITAR” já que, logo
cos, semanais e com depois da Grande Bolha de 2013, ficou
temas relacionados à evidente que a solução não estava no cré-
cultura e tradição de dito bancário, naquele momento sem las-
cada lugar da cidade. tro, mas em acreditar nas pessoas. Frases,
Muito foi feito imagens e histórias de quem acreditou, e
como contraponto à por isso tornou possível, foram ampla-
“arquitetura antimen-
Praças cujo piso coleta energia do movimento. RAI, 2008.
digo” que prevaleceu
Reinvenção dos Coretos
no início do século
Hoje os coretos e praças estão cumprindo com
XXI, por exemplo, suas funções.
que tem. Muito foi feito para desfazer transformando praças em espaços vazios Aquelas construções redondas que parecem bal-
este equívoco, diminuindo o isolamento e cimentados, para evitar o uso de ban- des, nas praças, não ficam mais vazias, mas
e aumentando a autonomia. cos, sombra e similares por moradores cheias de gente fazendo discurso, bandas tocan-
Contribuíram para isso as dezenas de rua. Percebendo que isso era o equi- do, gente expondo ideias. A praça de futuro é
de Praças Energia = Movimento, onde as valente a jogar fora a água do banho um lugar muito especial, é possível sentar em
pessoas correm e dançam e transfor- com o bebê dentro os urbanistas dedica- baixo de uma árvore, em um banco e conhecer
mam seu excesso de calorias em energia, ram-se à envelhações como a Reinven- novas pessoas. Os coretos são os símbolos de
que é captada pelo piso especial3 e ali- ção dos Coretos. tudo o que as praças e a vida urbana podem
oferecer: lugar de encontro das diferenças, espa-
menta os Centros TransTeleMídia Públi- Por risco de extinção, devido a des-
ço para criação, troca, diversão, lugar onde tudo
serviços prestados, a Publicidade, passou
pode ser mostrado. A praça, de uns anos para cá,
3 Piso - http://springwise.com/weekly/2010-01-27. de fato a atuar mais conforme seu nome,
se tornou um lugar de síntese. Finalmente as
htm#pavegen “Publi+City”, e foi direcionada a impul- pessoas estão ocupando as ruas.
Casa Noturna com piso que gera energia:
sionar a cidadania e não o consumo, Claudia Cezar, Matheus Gropp, Harold Hellmutt,
http://www.springwise.com/eco_sustainability/dance
_powered_eco_nightclub usando todo o seu fabuloso talento e Sergio Napchan. Brasil, 2009.
80 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

O Renascimento do séc. XXI1 coragem/ousadia e o comportamento/ética. Daqui a 50 anos, poderão vir a ser:
a coragem de criar, o espírito de solidariedade, a ética democrática, a valoriza-
Jorge Wilheim, São Paulo, Brasil, 2008. ção do conhecimento e o aprendizado do prazer (embora exista o prazer do
Arquiteto, urbanista, gestor público, escritor. aprendizado, a inversão das palavras indica que pode existir uma elaboração
para ampliar a qualidade de vida pessoal).
Minha proposta é um novo ciclo cultural e civilizatório: o Renascimento do
S­ éculo XXI. O seu regime econômico seria denominado no futuro como Socia- Este Renascimento será mais facilmente observado em cidades que terão um
lismo de Mercado ou Capitalismo Social, e ele seria monitorado por um novo ambiente sadio, uma integração social que diminua a hoje existente diferença
Contrato Social firmado pelo Estado, o Mercado, os Produtores (trabalhadores, de oportunidades, uma paisagem urbana que nos satisfaça do ponto de vista
manuais ou intelectuais) e pela sociedade, que organizadamente “ocuparia” estético, aumentando a qualidade de vida do habitante urbano. O espaço públi-
seu espaço como ator do desenvolvimento. co será valorizado como principal ponto de encontro de uma sociedade solidá-
ria. A esse respeito, por exemplo, cabe comentar que se a crianças na rua é um
A fim de que este século venha a ser o do conhecimento e de criatividade, é problema, em vez de tirá-las da rua deveríamos desenhar ruas para as crian-
importante saber como passar dos dados e da informação que nos fornecem os ças... Livros serão deixados em todos os cantos, como em pontos de ônibus,
programas de computador para o nível do conhecimento, sendo que a constru- para alguém pegá-los e lê-los. E serão valorizadas as pessoas que ensinem algo
ção desta constitui um desafio para as universidades. O novo Renascimento a alguém, chamando-os de cidadãos mestres.
exige uma visão transversal e universal; isto é: a pessoa renascentista integra
dados e disciplinas diversas do conhecimento, e as disciplinas fornecem, além O Renascimento novo não surgirá se não o construirmos. Há muitos atores no
de sua especialidade, uma base fácil de ser compreendida e integrada ao co- palco urbano que preferem o atraso, quando não o retrocesso. Sua construção
nhecimento de outras especialidades. Os estabelecimentos de ensino oferece- constitui um projeto político e requer visão generosa, criatividade, sentimento
rão matérias que sejam denominadores comuns, ensejando, por exemplo, que o de solidariedade humana e social.
biólogo converse com o urbanista, o engenheiro com o médico, porque todos
têm algo em comum em uma visão renascentista.

O novo Renascimento baseia-se em uma visão de mundo, uma cosmogonia


que se utiliza da atual globalização, reinterpretada em nível humano e social,
para explicar os fenômenos que estão ocorrendo. Esta visão exige o estabeleci-
mento de um conjunto de valores humanos. No século 15, esses valores eram a

1 Em Crie Futuros Cultura de Paz


81

mente utilizadas para neutralizar o medo Tempo


e a desconfiança disseminados pela mídia Uma chave para a felicidade é aproveitar
de massa por mais de um século. o Tempo, já que é no tempo que aconte-
Outro caso interessante foi a arte cem as coisas que nos deixam mais feli-
pública usando imagens de ilusões de zes: relacionar-se, criar, compreender. No
ótica, que mostravam que tudo é ques- passado nos dedicamos a ganhar espaço,
tão de ângulo, de escolher o que quere- agora queremos ganhar tempo – e em
mos ver. Dela resultaram as divertidas torno dele a cidade e seus serviços se re-
Calçadas Repense! para estimular mu- organizaram. Aeroportos, por exemplo,
dança de ponto de vista: quando você eram insustentáveis, pois feitos na lógica
pisa nelas, luzes no piso se acendem do espaço: cada companhia aérea com
com a proposta: “Tem certeza? Repense seus portões de embarque, resultando
esta ideia encarando pelo aspecto em aeroportos quilométricos e vazios.
oposto:­como o problema pode ser solu- Ou mesmo abandonados, como na Espa-
ção, como o infortúnio de hoje pode nha do início dos anos 104. Hoje, a lógica
Daniel Picon: Vaso ou Beijo?
trazer a sorte de amanhã”. é de compartilhar todos os espaços, ad-
ministrando melhor o tempo e, portan-
Os Fóruns de Redução de Consumo usaram a to, economizando recursos de todo tipo. to imobiliário, orientou a criação de apli-
publicidade de maneira inversa: ao invés de As fábricas têm turnos utilizados por em- cativos para facilitar trabalho em casa,
criar o desejo de consumir um produto ela presas diferentes: como o que diferencia busca de trabalho nas vizinhanças e re-
revela de maneira objetiva o que está por trás cada empresa são seus intangíveis, como dução de des­locamentos.
dele: função, origens, significado. A estratégia conceito e marca, podem compartilhar Imagine que barbaridade: até os
pretende também evitar a criação daquele vazio espaços, insumos e equipamentos. Ga- anos 20, nos edifícios ou quarteirões ur-
interior que induz pessoas a adquirir sem
nhar tempo, além de ser o mote de todo banos, os habitantes realizavam todas
necessidade e, para tanto, foram eliminadas as
planejamento urbano e empreendimen- as suas tarefas sozinhos! Compras, lim-
associações com status, sucesso, pertencimento
peza, consertos, cuidado com crianças e
a grupos privilegiados. 4 Veja a pesquisa de Basurama.org, sobre o
Edgar Morales e Jose Aldana, Guadalajara, idosos nada disso era compartilhado,
metabolismo das cidades: diversos aeroportos novos e já
México, 2010. abandonados http://www.6000km.org/#3 como é hoje com todos os aplicativos
78 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

que encontram grupos de afinidades e lação com segurança e violência. Os in- Profissão: Cuidador Oficial
necessidades nos bairros. O resultado vestimentos em muros, guardas e armas e Cuidadores de Territorios
era que as pessoas não trabalhavam foram substituídos por investimento Representantes de organizações da sociedade
para viver, mas viviam para trabalhar. Os maciço em educação e cultura, espe- civil especializadas, que participam e represen-
maiores prejudicados eram as crianças, lhando-se no êxito de cidades como Me- tam coletivos de certo território em temas rele-
vantes. Articulam e definem um plano de ação
pois os jovens pais viviam um círculo vi- dellín, Colômbia5, que no passado luta-
para o território em parceria com o Cuidador
cioso: trabalhavam muito, pois não ti- ram contra o tráfico de drogas.
Oficial (atual prefeito). Assumem execução do
nham como cuidar sozinhos de seus fi- A lógica da Interdependência resul-
plano, na área de sua competência, combinando
lhos e precisavam pagar serviços como a tou numa mudança drástica de priori- dinheiro de recursos públicos com recursos in-
terceirização de afeto, com “babás” – dades da gestão pública, que deixou de tangíveis (conhecimento e similares) oferecidos
pessoas que apenas olhavam as crian- estar focada prioritariamente em infra- pela iniciativa privada.
ças, hoje substi­tuídas pela profissão de estrutura, a parte “hardware”, e passou Criados durante o Workshop de Inovação em
PoliCuidador, formado em Curiosidade, a investir em pessoas e processos, a par- Nova Economia, realizado pela Fundação Avina,
Jogos Colaborativos e Entusiasmo. Note te “software” – bastante lógico, pois outubro 2010.
que isso foi antes do Programa do Afeto hardwares não funcionam sem softwa-
Masculino, dedicado a envolver mais re. Ainda na lógica do software, assisti- produção de bens e mais em oferecer
homens em atividades do Cuidar, uma mos naqueles anos a uma ampliação de serviços – afinal, quando outros países
das soluções encontradas para fortale- conceitos, incluindo e valorizando as além da China6 adotaram a Economia
cer a cultura da sustentabilidade. tecnologias e inovações “soft”: tudo o Criativa como prioridade estratégica fi-
que está ligado à inteligência e função cou clara a passagem da era do TER
Interdependência como: tecnologias socioculturais; ges- para a era do USAR. Foi assim que boa
Desde 2014, quando foram finalmente tão; inovação de processos, design. Re- parte da demanda de moradia foi solu-
implementadas as premissas pós-Rio + sultado: menos obras monumentais de cionada, trazendo consigo solução para
20, Interdependência é a palavra que engenharia, mais educação e pesquisa; outras questões como segurança, trans-
norteia tudo: estamos cientes de que, menos empreendimentos focados na porte, equidade social. Verificando que
assim como ocorre na Natureza, tudo é
5 40% do orçamento público é investido em educação 6 Na China Economia Criativa e Economia Verde são
interligado e as soluções devem ser sis-
e cultura http://elpais.com/diario/2011/09/10/catalunya/ prioridades estratégicas nacionais desde o plano
têmicas. Isso influiu, por exemplo, na re- 1315616842_850215.html quinquenal de 2010 – 2014
h abi ta r, d e s l o ca r, ci rcu l a r 83

Optecnia: sem separaÇão


entre Natureza e Cultura TECN (Tecno = arte, ofício), que mostra que as sociedades humanas inven­
taram o trabalho especializado, o ofício de que são produtos os órgãos tecno-
Jacques Dezelin, São Paulo, 2012. lógicos, criados como extensão e ampliação de nossas potencialidades
Cineasta, pesquisador independente na área de economia. ­biológicas individuais, que permitem libertar-nos da lenta evolução biológica,
já que os inventos permitem soluções mais eficientes e rápidas.
“Optecnia” é o nome criado, na ausência de outro existente, para designar
o organismo sociobiotecnológico no qual o ser humano está imerso, e do qual Ficou assim criada uma fisiologia artificial que, num curioso paradoxo, favore-
é dependente, desde o seu nascimento. Isto porque todas as suas funções bio- ce extraordinariamente a variedade de opções das “pessoas” nela integradas
lógicas dependem de extensões tecnológicas, seja uma lança para caçar ali- e desenvolvidas. Única espécie não geneticamente programada numa parte
mento, uma espécie animal ou vegetal domesticada para se alimentar ou ves- cada vez maior de suas atividades funcionais, a pessoa humana integrada na
tir, ou um trem bala para se locomover. O ambiente sociotecnológico é uma optecnia pode escolher o seu modo de vida numa diversidade de que, hoje,
extensão exo-orgânica, e graças a ele os limites impostos pelo geneticamente como seres “clicantes”, somos todos testemunhas.
programado da biologia se ampliam com as OPções oferecidas pela TECNOlo-
gia; nossos 5km/horas de caminhada são amplificados pelo 20km/hora do ca- O estudo da realidade biológica, até agora sem nome, que constitui a
valo domesticado, os 100 do automóvel e os 800 do avião; tele-fonia e tele- ­Optecnia, vem sendo desenvolvido nos últimos anos, principalmente dentro
-visão ampliam a nossa audição e visão numa escala que é corriqueiramente da visão dita “ecológica”, mobilizando pesquisadores da Natureza e invento-
mundial; energia, alimentos, digestão são dependentes de redes que vão de res de tecnologias. Consideramos que esta pesquisa científica deveria ter
poços e refinadoras de petróleo, centrais e redes de eletricidade, água e esgo- como referência central a repartição do tempo humano, e como nesta reparti-
tos. As cidades, os campos cultivados, as estradas são extensões técnicas das ção o sistema de pagamento teve e tem um papel de extraordinária importân-
necessidades orgânicas do “indivíduo” da raça humana, que sem elas não cia, ela não pode deixar de estudá-lo.
tem existência possível – e vice-versa.
Na experiência do autor, se as premissas mais elementares do método cien-
O nome foi criado para designar e explicar este fenômeno biológico, e é tífico fossem aplicadas à “ciência” financeira muito do que vem sendo ensi-
­com­posto de: nado teria de ser excluído, com grave prejuízo para os mitos financeiros que,
como as r­ eligiões, tiveram e têm um gigantesco papel na criação de nossa
OPT, de Optar, que mostra que a tecnologia permite exercer o livre-arbítrio, ­realidade vivencial.
libertando-nos das limitações da biologia genética.
78 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

o déficit de moradias era inferior ao de


moradias desocupadas foi realizado um
processo para ocupação de RUS, já que
moradias desocupadas também foram
consideradas RUS: Resíduo Urbano
­Sólido7.destas moradias. O setor imobi­
liário passou a atuar como Facilitador

Acima e na página da direita: Viadutos urbanos transformados em áreas de lazer. Angela Léon, São Paulo, 2012.

de ­Moradia: intermediando a relação las convertidas em espaços de convívio


com os proprietários; a reforma e adap- onde eram realizadas a feiras livres, de
tação dos espaços; seu financiamento, alimentos e produtos locais ou áreas de
com possibilidade de pagamento em va- lazer para a população. Nas cidades sem
Hotéis e Cidades Transportadas. Bruna Lima, Oi Futuro.,
Rio de Janeiro, 09/06/2009.
lores 4DxT (pagar com serviços comuni- mar, isso foi um sucesso: os ex-viadutos
tários, tempo, conhecimento). se transformaram em praia e seus pila-
7 Veja o trabalho do grupo Basurama, que propõe
Outros Resíduos Urbanos Sólidos res de sustentação em galerias de arte a
que tudo aquilo que não tem uso é Resíduo Urbano Sólido ganharam novas funções (“software”) céu aberto e parques para brincar.
(viadutos, espaços públicos e privados). http://basurama. para suas estruturas (“hardwares”), Com o foco em Interdependência
org/destacado/publicacion-rus-residuos-urbanos-
solidos-basura-y-espacio-publico-en-latinoamerica-2008-
como é o caso das inúmeras e monstru- expandem-se as visões “metabólicas” do
%E2%80%93-2010 osas vias expressas elevadas, muitas de- desenvolvimento, considerando que
h abi ta r, d e s l o ca r, ci rcu l a r 79

cada organização humana é um organis- Fluxos


mo, com seus vários sistemas fisiológicos. Interdependência supõe também pen- rar bem as pessoas; falta de fluxo de
Uma delas é o conceito de Optecnia8, sar em fluxos: se tudo está interligado, oportunidades de negócio, que ficaram
que propõe o ambiente tecnológico cada processo obstruído interfere no concentradas em grandes empresas,
como uma extensão ou complemento próximo. Cálculos feitos em 2015, depois principalmente de capital estrangeiro,
das funções humanas: os satélites com- das dificuldades da Copa do Mundo resultando em escoamento de recursos
plementam nossos sentidos; a web 2014, realizada no Brasil, revelaram, por para o exterior ao invés de estímulo às
­complementa nossa mente; o sistema de exemplo, os exorbitantes prejuízos cau- MPEs locais. A noção de fluxo leva a re-
­esgotos complementa nossa digestão. sados pela falta de fluxo urbano – im- pensar a própria noção do “habitar”por
possível andar pela cidade (transporte); que não morar em casas, ou mesmo ci-
8 Interessante conceito desenvolvido por Jacques
Dezelin, em várias publicações, veja box correspondente. falta de fluxo de conhecimento (prepa- dades, que podem deslocar-se para ou-
78 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

tros lugares9 onde se “conectam” a uma Cidades Temáticas


rede de serviços de fornecimento de Um método para a descentralização das cidades
água, energia, informação? é a criação de cidades temáticas, seguindo o
exemplo dos parques temáticos, que são am-
Diversidade bientadas por diferentes assuntos, tais como:
Houve uma grande ampliação da impor- Lendas e Estórias, Lugares do Mundo; Atividades,
tância de diversidade: lembrando que Cores. O transporte dentro e fora delas é ferrovi-
“das diferenças vem a evolução”10, reco- ário e gratuito. A comunicação é por internet.
Carlos Ariel Barocelli e Esteban Tolj,
nhecer e celebrar a diversidade passou a
Argentina, 2010. Carlos Ariel Barocelli e Esteban Tolj, Argentina, 2010.
ser um dos vetores de todo o planeja-
mento, inclusive o urbano. Cada â ­ ngulo afastar os cidadãos – esclarecem o quê e
tem muitas profundidades, texturas e re- como acontece lá dentro; as calçadas,
levos diferentes, a simetria do planeja- que evidentemente têm grandes partes
mento de linhas retas e edificações iguais de terra para absorver água e impedir a
já não orienta mais os urbanistas. Ufa! impermeabilização das cidades, são plan-
que delícia não ter mais aquelas intermi- tadas com cheiros e cores, por exemplo,
náveis filas tediosas de casinhas ou pré- ervas para chás e temperos.
dios iguais. Antes, a cidade era o lugar A diversidade também se traduz
do invisível e anônimo, hoje, tudo nela nos tipos de negócios e serviços ofere­
conta histórias. As janelas são assimétri- cidos na cidade: o foco em economia
cas e refletem quem está por trás delas11; ­criativa e organizados em redes colabo-
os edifícios, principalmente os públicos – rativas de MPESS (Micro e Pequenas
muitas vezes feitos para confundir e Empresas Sociais e Sustentáveis): em-
presas cujo propósito é o bem comum12.
9 Veja o interessante trabalho do arquiteto holandês
que propõe casas flutuantes. http://waterstudio.nl/home

10 Como aponta Darwin em sua teoria da evolução.


12 Veja os exemplos das B Corporations, que já têm este
11 Como proposto pelo genial Hundertwasser. fim. http://www.bcorporation.net/about ou dos Negócios
http://www.hundertwasser.at/index_en.php Sociais: http://www.artemisia.org.br/
h abi ta r, d e s l o ca r, ci rcu l a r 79

Nos bairros
elaboradas brincadeiras que trabalham
Uma “envelhação” desejada por muitos a inclusão e não a exclusão e desta for-
e finalmente alcançada é uma vida co- ma ensinados os valores da cooperação,
munitária mais intensa, em que tudo é da negociação construtiva, da criativida-
trocado, comunitário, compartilhado. de, da motivação e da realização.
As Oficinas do Encontro13 são locais de Os bairros têm também Espaços
produção coletiva e experimentação Multilinguagem de Arte e Lazer, adap-
­interdisciplinar, abertas a toda comuni- táveis para diferentes linguagens artís-
dade. Ali se promovem o encontro das ticas, que integrados constituem um
pessoas, o intercâmbio de ideias, conhe- circuito que permite conhecer a produ-
cimento, ferramentas e materiais, assim ção de outros e circular a própria. Para
como o trabalho solidário. Tem anexo promover maior contato e fluxo, esses
um Armazém de Intercâmbio, para tro- Espaços estão juntos com as Feiras de
ca de matérias-primas, ferramentas e Produção Orgânica Urbana: que circu-
produtos e onde se pode doar aquilo lam tanto o produto das hortas urba-
Calçadas plantadas com temperos. que se tem a oferecer e pegar o que se nas, que se generalizaram desde os
RAI e Adriana Klisys, 2008.
necessita. Na lógica da abundância, anos 2014, quanto os produtos delas
cada coisa tirada se renova com as novas derivados. Em todos os espaços as tro-
Centro de Troca de Talentos criações que delas se originam. cas e os pagamentos podem ser feitos
Foi inaugurado hoje, com grande festa, o Centro Cada comunidade, a escola, o con- usando moedas 4DxT, isto é, pagando
de troca de Talentos. Esse centro funcionará to- domínio e o centro comunitário incenti- com moedas econômicas, sociais, cultu-
dos os dias da semana. Cada pessoa poderá es- vam e promovem a construção de jogos rais ou ambientais.
colher o(s) período(s) em que deseja trocar seu e brinquedos a partir do material reci- Os edifícios são todos pintados com
talento.Você que sabe cozinhar, cantar, modelar: clado14 pela própria comunidade. São tinta que transforma todas as superfí-
leve o seu talento e traga um outro pra casa. Ta- cies em receptores de energia solar15 o
lentos, todo mundo tem. 13 http://criefuturos.com/futuros_criados/
Encuentro_Taller
que, somado à tecnologia que evita des-
Magda Lucia de Lima, Hélia Mana e Regina
Tavares, Brasil, 11/05/2010. 14 http://www.wikifuturos.com/Futuros/ 15 http://www.wikifuturos.com/Futuros/Energia_
Construindo_brinquedos_e_um_mundo_melhor Solar_para_abastecimento_residencial_e_de_transportes
78 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

OFERTA DEMANDA
Tempo para passear com o
Companhia para desvendar
cachorro domingo de
a cidade e viajar
Tinta para captação de manhã
energia solar. Fabiana Brincar com crianças de 6 Assistir a filme
Victor, Nilton de Lima e a 8 anos nos feriados acompanhada
Giovane Mendonça,
Companhia Dormir de conchinha
São Paulo, 2009.
para dançar e cafuné
Chá dos 17 h Massagem nos pés
com idosos aos sábados
perdício de energia na transmissão, faz Horta (ter, manter
com que a energia gerada possa atender ma água que é filtrada e reciclada17 em Chá com artesanato,
e cuidar) e oferecer
filmes e bate-papo
a todas as necessidades energéticas/elé- recipiente ao lado, com isso uma lavado- aos vizinhos
tricas luz, equipamentos eletro-eletrôni- ra que consumia cerca de 4.500 litros de Cuidar e manter plantas Fim de semana longe
cos etc. A maioria da água é captada da água por mês passa a consumir apenas na casa dos outros de tecnologia
chuva, não apenas nos edifícios com 15; a água utilizada em banhos e nas Empréstimo de livros Bate-papo cult
suas cisternas como também nos espaços pias é filtrada e armazenada para usos Parte de produção Grupos de diálogos para
públicos inspirados na obra do arquiteto que não necessitem de água 100% lim- pessoal: banana, troca de informações,
Gaudí para o Parque Guell16: no alto dos pa, como regar plantas, limpeza externa mexerica, tomate etc. fofocas e afins
edifícios temos áreas abertas, para jar- ou descarga de sanitários (para aqueles Adubo para sua horta
Bike emprestada
dins e eventos, cujo piso poroso coleta e que ainda não aderiram aos banheiros no domingo

filtra a água antes de distribuí-la. Note secos da permacultura). Beatriz Telles e Elaine Ribeiro de Oliveira, São Paulo, 2010.
que esta ideia, tão óbvia, levou quase Em cada bairro existem redes de
150 anos para ter a difusão merecida. necessidades e desejos, que são troca-
Outros pontos óbvios, mas que tarda- dos, veja a interessante lista encontrada Todas as formas de coabitar são
ram a chegar na gestão da água domés- por um de nossos pesquisadores: mais fluidas e permeáveis, assim, se um
tica: máquinas de lavar utilizam a mes- bairro está começando do zero, ao invés
17 Já existe e foi inventada por Rubens de Oliveira
de começar por levantar muros, como
16 http://en.wikiarquitectura.com/index.php/ Filho. http://www2.tvcultura.com.br/reportereco/materia.
Park_G%C3%BCell asp?materiaid=124 ocorria no passado, começa pela intera-
h abi ta r, d e s l o ca r, ci rcu l a r 79

ção com seu entorno. Inicialmente verifi- combinações possíveis, visto que o Num perímetro de 120 quilômetros, coexistem
cando qual o sonho comum, pois a partir t­ empo das atividades e formas de viver pequenos de moradia e convivência onde famí-
dele os laços de confiança podem ser “mono” já passou! lia trabalham em atividades agroeconômicas e
construídos e depois os laços se fortale- Ecovilas foram largamente adota- sustentáveis. Com hortas comunitárias, são au-
cem graças às atividades culturais e cria- das, pois sabemos que as soluções e as tônomas na alimentação. Possuem, integrados,
tivas compartilhadas Se há confiança, possibilidades de gestão e governabili- um centro de cultura, um centro de educação e
estamos prontos para a próxima etapa: dade compartilhadas, coerentes e com- um centro de saúde. A energia é gerada ali mes-
mo, pela tecnologia de biomassa baseada no
gerar oportunidades empreendedoras petentes são possíveis em escala menor.
bagaço ou qualquer planta ambiente. Conta,
identificadas por meio de um mapea- A solução está no local.
também, com usina de compostagem (resíduos
mento prévio dos saberes e fazeres lo- Essas ecovilas se organizam em re-
sólidos que servem de adubo para a terra) e um
cais. A prioridade está em promover des, onde há troca e intercâmbio de ser- centro de logística para lavar, embalar e distri-
convívio e troca: a cidade dedicou-se a viços, produtos, competências. Tais redes buir a produção agrícola. Um Centro Ambiental
transformar a casca de seus muros em funcionam também como forma de re- garante a preservação do microclima do lugar:
pele: tecido social construído a partir de presentação política, já que vão ganhan- pomar, agrofloresta, etc. A cidade grande mais
redes de relações. do tamanho e escala: partem do local, próxima abastece o centro com serviços gerais.
passam pelas MacroESAS (aquilo que Ninguém precisa se locomover mais de uma
­antes era chamado “nação”, hoje, por vez por semana.
No Campo... não haver mais fronteiras, é definido Maria Angêla Baria, Sergio M. Barbosa e Renato
por ­características socioculturais até che- Ribeiro, São Paulo, 2009.
Grande número de pessoas vive hoje gar a redes globais.
em ecovilas. Ecovilas com todos os sabo- As trocas dentro dessas redes são
res possíveis e imagináveis, nas quais as feitas utilizando uma diversidade de
comunidades se organizam por afinida- moedas, com conversibilidade e parida-
de. Ecovila de idosos, ecovila de roquei- de entre elas. São moedas que corres-
ros, ecovila vegan, ecovila luxo. Sobre- pondem a valores também nas dimen-
tudo, ecovilas de caráter multi, pluri, sões social, cultural e ambiental, por
trans (multicultural, transnacional, exemplo, tempo, colaboração, diversi-
­plurifuncional) onde coexistem todas as dade, reputação.
78 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Sistema Integrado para Deslocar-se o esperado, pois são lindas e diversas, já


Proteção de Áreas Naturais que foram pintadas com ajuda de grafi-
Foi aprovada a lei que prevê o reconhecimento, o Hoje temos o predomínio de bicicletas e teiros e artistas urbanos. Inspirados em
mapeamento, a delimitação de ecossistemas e suas variantes, por exemplo, aquelas experiência começou no início do século
fragmentos de áreas naturais. Estas passam a ser que contam com bateria movida a ener- XXI, com bicicletas que pertenciam à
conectadas entre si para promover trocas biológi- gia solar e teto de materiais reciclados e municipalidade e eram utilizadas e de-
cas de sementes, maior disponibilidade de ali- com proteção UVA e UVB. Cansados de pois deixadas em locais predetermina-
mentos e maior proteção à fauna e às áreas ve- esperar pelas decisões das autoridades dos, geralmente próximos a estações de
getais, que passarão a cobrir o território criando os Bike ativistas de várias cidades se or- transporte p­ úblico. Depois se expandiu
maior diversidade de uso em espaços que hoje
ganizaram e, a partir dos estudos já exis-
são dominados pelo uso urbano ou agropecuário.
tentes, fizeram mobilizações noturnas
Thiago Vinicius da Silva e Mariângela Portela da Quando um se aproxima do outro, é possível
Silva, São Paulo, 2009.
para pintar as ciclo faixas necessárias,
prontamente ocupadas por milhares de conversar e trocar arquivos enquanto dirige, for-
mando uma rede de relacionamentos de gente
pessoas que há muito esperavam apenas
e carros ecologicamente corretos.
poder mover-se com mais segurança. As
Jéssica Nascimento, Instituto Criar,
ciclofaixas “hackeadas” pela população
Leis estabeleceram limites de crescimento para São Paulo, 2009.
as cidades e descentralizaram a produção e dis-
têm sido ainda mais respeitadas do que
tribuição de produtos e serviços em áreas de
30km², e em pequenos comércios em áreas de
2km², sendo que cada família deve ter uma área
de 600m² para viver e cultivar, onde todos têm o
seu próprio jardim e todas as casas têm 50% do
seu chão coberto por terra e vegetação típica da
região onde está inserida. Assim, além da água
escoar com facilidade, o homem vive em contato
com a natureza e tem mais qualidade de vida.
Francine Sayuri Segawa, oficina CRIAR,
São Paulo, 2009.
h abi ta r, d e s l o ca r, ci rcu l a r 79

para outros tipos de Veículos Públicos, tinta para captação de energia solar,
que passaram a ser de “uso” e não de além de sistema para transformar e ar-
“POSSE”: com seu Bilhete Único Do mazenar a própria energia cinética que
Transporte cada um pode usar os veícu- liberam ao mover-se. A maioria deles é
los e deixá-los nos muitos Pontos de Pa- mini e se inspira em pequenos veículos
rada, geralmente um por quarteirão. Es- que existiram no passado.
ses veículos também são pintados com Outra mudança importante no
transporte, originada da mudança de ló-
gica da forma (veículos) para a Função
Fazer rua, fazer calçada, fazer carro? Que atra-
(transportar) foi a criação de Esteiras Ro-
so... O transporte público evoluiu muito desde lantes, substituindo muitas das vias da
que houve uma convergência disso tudo. Hoje o cidade, um sonho antigo e sensato. Iremos à escola voando! Atiramos um CD no
que há são pistas em movimento. Anda a rua e chão e ele se converte num disco voador com o
não o carro na rua... Pistas mais lentas para se- nosso tamanho.
nhorzinhos e pistas rapidonas para aqueles que Final do século XIX, imaginando a vida no ano 2000 Carlos e Cristian, Barcelona, 2009.
gostam de emoções fortes.
Anônimo, arquivo Wikifuturos, 2010.
Ir e Vir: Direito Sustentável
Foi inaugurada a nova estação de metrô que pro-
Depois de ansiosa espera, o povo paulistano mete ser modelo para as próximas que virão.
participará de um mega evento para inaugura- Construída completamente com materiais ecoló-
ção das esteiras rolantes sobre os rios Tietê e Pi- gicos, conta com piso ultrassensível que, por meio
nheiros. A cada quilômetro, veremos uma esta- de atrito dos pés dos usuários com o solo, gera
ção de serviços e convivência, com ênfase na energia para abastecer a estação. Os trilhos dos
moderna estação de pescar com varas holográfi- trens são feitos de armas recicladas e os assentos
cas e digitais. dos vagões de fibra de coco. E viva o futuro!
Zenir Ramalho, Maria Lins e Graziela Valentino, Roberta Alves de Souza e Iuri Barbosa Ribeiro,
Brasil, 7/5/2010. São Paulo, 20/04/2010.
Concurso Crie Futuros de HQ. Nicolás Rios, Uruguai, 2011.

Concurso HQ e Ilustrações Crie Futuros, 2011 Geraldo Antonio Barba Rios, México Pablo Carrera Piritto, Uruguay
Foi realizado em parceria com Ocus Media e Montevídeo http://criefuturos.com/futuros_criados/ http://criefuturos.com/futuros_criados/
Comics, do Uruguay, e com a UDG Virtual (Universidade Concurso_M%C3%A9xico Aprendiendo_a_volar_con_la_raza_humana
de Guadalajara), do México, e o tema proposto estava
Bruno Garcia Olivo, Uruguay Cristina Hare, Brasil
relacionado aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
http://criefuturos.com/futuros_criados/Un_Cambio http://criefuturos.com/futuros_criados/
Selecionamos alguns para o livro e os demais vencedores
No_futuro_ser%C3%A1_Gol!
estão ao lado, com o link correspondente. Denise da Costa, Brasil
Obrigada e parabéns! http://criefuturos.com/futuros_criados/Ave_da_paz
TAGS: agricultura familiar – água – alimentos – consumo – corpo
– cuidar – cultivo – empatia – fontes – gastronomia – horta
urbana – hospitais – medicina – natureza – nutrição –
pensamento– quatro elementos – reciclar – relacionamentos
– remédios – resíduos – saúde – sensibilidade

5 CUIDAR, NUTRIR, preservAR

“Nunca duvide que um pequeno grupo de pessoas comprometidas


e preocupadas possa mudar o mundo. Certamente, é a única coisa que
alguma vez o fez.”
Margaret Mead
94 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Sentindo junto: Difícil precisar em que momento surgiu


a consciência de que CUIDAR era o ver-
nossa natureza e a Natureza bo que deveria orientar nossas ações.
Mas é provável que tenha contribuído
para isso a percepção que a sustentabili-
PLANETA PESSOA dade só aconteceria de fato se fossemos
capazes de “sentir mais” e “sentir jun-
to”. Sentir mais o próprio corpo e sentir
LUZ Sistema sua semelhança com o corpo do plane-
energia Nervoso ta. Sentir nossa natureza junto com a
fogo – intuição
Natureza, e atentar para a correspon-
Atmosfera Sistema
dência e interdependência entre elas.
ar – pensamento Respiratório
Como se nosso sistema circulatório cor-
Sistema respondesse ao sistema hídrico da Terra
Hídrico Sistema – entupir rios com o lixo dos resíduos é
Água – Emoção Circulatório como entupir artérias com o lixo das co-
midas que não nutrem, poluir a atmos-
Terreno Sistema fera da Terra e os nossos pulmões –,
(Geos) terra – sensação Motor aproveitar a energia criativa do Sol e a
energia criativa da mente.
Magma Sistema Esse tipo de abordagem – que bus-
(Fogo interno) fogo – pulsão Metabólico ca perceber o mundo de forma sintética
(interno) e analógica1 – se expandiu nos últimos

1 Esses estudos analógicos são parte da pesquisa que


realizei de 1991 a 1992, quando recebi o prêmio da Bolsa
Vitae. O objetivo era encontrar formas de fazer a ponte
Relação entre os quatro elementos, funções psicológicas básicas, sistemas fisiológicos e componentes planetários.
entre elementos abstratos/ teóricos e concretos/práticos. Já
Lala Deheinzelin, Pesquisa Vitae, 1992.
presente o interesse pela relação Intangível e Tangível.
cuidar , nutrir , preservar 95

anos devido à necessidade de compre- elemento Terra, ligado à Sensação, que a construção de uma cultura de susten-
ender e decidir usando a intuição, já que nos fornece informação sobre o que é tabilidade. Mudanças efetivamente pro-
as mudanças são cada vez mais rápidas. aquilo com o que estamos lidando. fundas foram alcançadas quando ambas
Resulta em exercícios de associação, vi- BB O Sistema Hídrico no planeta e começaram por motivar, trabalhar o de-
sando estimular a visão do todo e a cria- o Sistema Circulatório correspondem ao sejo de mudança (este foi o objetivo do
tividade. Por analogia com nossa consti- elemento Água, ligado à emoção (em – Movimento Crie Futuros com seus futu-
tuição em “camadas” e associação delas moção, em movimento) que nos ajuda ros desejáveis); depois ampliar a percep-
aos quatro elementos, chegamos, por a compreender o quando, o processo ção através dos cinco sentidos, o que re-
exemplo, à correspondência destes com no tempo.
as funções psicológicas básicas, como BB Atmosfera e Sistema
formuladas por Gustav Jung, que tam- Respiratório correspondem
bém indicam etapas de um processo. ao AR, associado ao Pensa-
BB Primeiro temos o Fogo: Sistema Meta- mento, que nos orienta, nos
bólico na pessoa e Magma na Terra, que localiza, e está ligado ao
corresponde à função psicológica da Pul- Onde em nosso processo.
são. Ou seja: os processos, por exemplo, a BB E finalmente, voltamos ao
educação ou criar um mundo sustentável, Fogo, agora aquele da Luz e
devem começar pelo desejo, pela motiva­ da Energia, que correspon­
ção (por isso nosso livro se chama Desejável de ao Sistema Nervoso, à
Mundo Novo2). O desejo é nosso motor, inteligência intuitiva que
sem ele não começamos nada, ele nos nos aponta os “Comos”.
mostra o porquê fazemos e o para que É notável que até o
estamos fazendo. princípio do século XXI a
BB Depois vem o Sistema Motor no corpo­ maioria dos processos já
e Geos, o terreno, que correspondem ao começava pelo pensamen-
to (ênfase em conteúdos e
2 O título é também um contraponto ao “Admirável
informações). Exemplos Relação entre os quatro elementos, funções psicológicas básicas e etapas de
Mundo Novo”, de Aldous Huxley, 1932, que narra uma
são a educação ou mesmo uma ação. Lala Deheinzelin, Pesquisa Vitae, 1992.
trágica visão de futuro.
96 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

sulta, por exemplo, em maior capacidade Do Reciclar à Empatia: de empresas e consórcios destinados a
de “ler” o mundo; em seguida, atenção isso entre 2015 e 2025. Os materiais re-
à emoção, por exemplo, através do afe-
sustentabilidade ciclados foram amplamente utilizados
to: quando algo nos afeta, passamos à de dentro para fora na construção em geral, tentando dar
ação; e finalmente chegamos ao pensa- um uso, sobretudo, ao trágico legado
mento, mas um pensamento ancorado Nos primórdios da sustentabilidade que nos sobrou do século XX, com suas
em desejo, experiência e sentimento – o toda a ênfase estava em lidar com o políticas equivocadas, que provocaram
que reduz o risco de operarmos mergu- tangível, material, e a atenção estava a destruição da malha ferroviária, falta
lhados num mundo de ideias e informa- no controlar emissões de CO2, economi- de investimento em transporte público
ções desconectadas e sem significado. zar energia, fazer gestão de resíduos. e, em decorrência, tudo girava em tor-
Nas primeiras décadas do século XXI, no da centralidade do automóvel. Esse
curiosamente, estes temas eram quase equívoco, aliás, foi fortemente alimen-
sinônimo de sustentabilidade. Após a tado pelos nossos sonhos coletivos:
Rio + 20, em 2012, ficou
clara a necessidade de
Vida no ano 2000 = carros! França, anos 30. Veja em www.paleofuture.com.
romper com essa ideia,
pois muitas instituições e
governos limitavam-se a
isso, não alteravam seus
processos e suas relações
socioculturais e se diziam
“sustentáveis”.Mas, ine-
gavelmente, foram anos
importantes para o cui-
dado com o meio am-
biente e anos em que
Concurso premiando melhor ideia para tudo era “reciclagem”, o
uso de partes de automóveis. EUA, 1932. que se nota pelo boom
cuidar , nutrir , preservar 97

olhando o passado do futuro o essa profunda capacidade


que mais se vê são carros de to- de empatia transformaram-
dos os tipos. -se naqueles que implemen-
O que fazer com todos os taram de fato as recentes
restos destes veículos? Desde o mudanças em todos os seto-
início do século XX já se perce- res. Os artistas tiveram um
bia que isso seria um problema papel fundamental nesta
sério e que usá-los para cons- formação para a empatia,
truir brinquedos poderia ser principalmente os ligados ao
uma das soluções. Toneladas de teatro e à dança: em todas
pneus necessitaram ser recicla- as áreas e temas, as pessoas
das e, além de brinquedos , se 3
praticavam jogos teatrais de
transformaram em pisos para colocar-se no lugar do outro.
estradas e outros materiais lar- Sentir-se terra plantada com
gamente utilizados em constru- Ação do Coletivo Basurama utilizando um RUS (resíduo urbano sólido). Lima, Perú, 2009. monocultura; sentir-se no lu-
ções e no design de objetos. gar daquele professor que
Mas, quando começamos a você não suporta; sentir-se
pensar susten­ tabilidade também de tia nas pessoas, para desenvolver sua ca- estômago sendo lavado com refrigeran-
“dentro para fora”, atentos para nosso pacidade de sentir o entorno e assim es- tes; sentir-se como a ideia boa que nin-
corpo, essa prática sustentável se revelou tar mais aptas a atuar como cocriadoras guém quer ouvir, pois altera rotinas;
mais eficiente do que apenas cuidar do e não apenas como espectadoras da sentir-se parede de casa pintada de cor
ambiente externo. vida. Nas escolas isso aconteceu de for- de sujo (para não sujar...); sentir-se sem
Muitos mecanismos foram usados ma intensa, pois a educação mudou e possibilidade de mexer pernas ou bra-
para isso, a começar por ativar a Empa- passou cada vez mais a ensinar o que im- ços; ouvir o diálogo entre uma casa de
porta4. As crianças que cresceram com permacultura e outra de empreendi-
3 Veja um exemplo na cidade de Lima, aproveitando mento imobiliário massificado. E tam-
um RUS: uma ponte inacabada https://plus.google.com/ 4 Veja projeto com este objetivo da Ashoka, Rede de
bém sentir-se leve como quem dança ou
photos/117670066423811111491/albums/543409093220886 Empreendedores Sociais, http://www.changemakers.com/
9217?banner=pwa pt-br/empatia/competicao como quem tem autonomia, pois atua
98 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

colaborativamente e sempre terá respal-


do de outros. Existem registros gravados
muito interessantes: executivos realizan-
do exercícios teatrais para se colocar no
lugar dos seus vários stakeholders, no
momento em que as grandes corpora-
ções necessitaram fragmentar-se.
Sentir-se água foi o mais fácil, já
que somos mesmo feitos de 75% de
água, assim como o planeta. Já imagi-
nou? Hordas de turistas em prantos nas
praias cheias de lixo? Os ainda mais, in-
suportáveis engarrafamentos de trânsito
nas vias expressas que margeiam rios? –
já que ninguém conseguia olhar o rio
poluído sem sentir na pele o que era.
Tanta choradeira resultou, e hoje os rios
O Rio Tietê agora é área de lazer! Angela Léon, 2011.
urbanos são parques e os surfistas lidera-
ram mutirões de limpeza das praias.
Os comunicadores colaboraram sangue a casca de besouro. lhões de dólares que poderiam ser in-
para tornar visível e evidente tudo o As Prateleiras Falantes foram muito vestidos em outras coisas, por exemplo,
que estava ligado a cada produto e que eficazes, e um caso emblemático foi o resolver a distribuição de água no mun-
ficava oculto: o “antes” (de onde vem e da eliminação de água embalada em do.” Ou “Olá! Eu custo cinco vezes mais
como foi feito) e o “depois” (o legado pequenas garrafas, há 15 anos. Quando do que meu similar, pois meu custo em-
cultural e ambiental). Um exemplo são você pegava uma garrafa da prateleira, bute a contratação de celebridades para
as descrições detalhadas dos conteúdos ela dizia: “Olá! Eu sou uma das dezenas fazer você acreditar que se tiver um cor-
dos alimentos industrializados, que pa- de bilhões de garrafas consumidas por po retocado, como o dela, será mais fe-
reciam receitas de poção de bruxa: de ano, que movimentam centenas de bi- liz”. Ou a couve-flor que dizia: “Olá!
cuidar , nutrir , preservar 99

Sou orgânica e fui cultivada em micro- os mesmos aplicativos ajudavam a pro- ção de pertencimento pela identificação
empreendimento de famílias que antes mover encontro, contato, alegria. Uma de quem está sentindo parecido. A par-
estavam excluídas em grandes cidades”. de suas funções: você selecionava uma tir dessas informações os Painéis de Sen-
Logo depois as prateleiras deixaram de porção de coisas que lhe interessavam e, timentos também selecionam citações
ser tão politicamente corretas e chatas, quando alguém próximo estava na mes- adequadas ao sentimento percebido.
passando a contar as coisas com mais ma sintonia, o celular vibrava. Artificial, Por exemplo: “Nada é mais poderoso do
humor e mais eficácia. é fato, mas necessário naquelas décadas que uma ideia cujo tempo chegou”, de
Antigamente eram permitidas es- estranhas em que as pessoas estavam Victor Hugo.
tratégias para forçar o consumo, como com receio de se relacionar.
supermercados e shopping centers dese- Recentemente vimos os aplicativos
nhados para desorientar; saídas de aero- de celular “Tô sentindo...” Caso você Água
portos dentro de freeshops ou pratelei- queira interação com outros, ou com os
ras de inutilidades e guloseimas criando Painéis de Sentimentos (lembra que a Avançamos de fato muito quando mu-
um labirinto na direção dos caixas para cidade é interação e conversa?), você daram as percepções e relações com o
pagamento. Nessas situações de impulso programa seu celular com dados que corpo, e cada um se assenhoreou de
de compra provocado, os Aplicativos de juntos componham sua sensação na- suas escolhas quanto a comer, beber,
celular para regular consumo tiveram quele dia. Os Painéis de Sentimentos mover-se. A primeira mudança foi em
função de superego, para quem não sa- mapeiam as sensações de quem passa relação à água, e na maioria dos luga-
bia mais se autogerir: você estendia a pela rua e transformam os dados em res já temos: captação de água de chu-
mão para aquela besteira e o aplicativo visualizações:5 digamos que cada senti- va, cisternas, reuso de água; banheiros
avisava: ”Você de fato queria um doce mento é um ponto de uma cor e o con- secos6. O processo foi acelerado pelo
ou era um abraço? Conversa com o vizi- junto se revela em formas desenhadas Programa Jovens Gestores da Água,
nho de fila, pois ele está sintonizado na pelos pontos combinados. Isso ajuda in-
mesma frequência, e desiste disso que só clusive os gestores públicos, que têm
6 Veja a experiência do Centro Popular de Cultura e
vai te engordar e dar espinhas!” Ao por dever “sentir” a população da qual Desenvolvimento, que trabalha de forma integrada os
mesmo tempo em que foi ficando evi- estão cuidando, e promove maior sensa- temas de agua, energia, alimento, habitação, trabalho,
educação e cultura por meio da aplicação de tecnologias
dente que os impulsos de consumo mas-
5 Exemplo: emoções humanas mapeadas na Web e socioculturais. http://www.cpcd.org.br/extras/Links/
caravam outros desejos mais profundos, transformadas em visualizações http://www.wefeelfine.org/ arassussa290508.htm
100 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

pelo qual estagiários da universidade


formam crianças do ensino fundamen-
tal e médio a praticar e disseminar o
uso racional da água. O Programa, im-
plementado logo após a Rio+20, foi
uma parceria entre as então Secretarias
de Educação e Meio Ambiente (na­
quela época ainda havia esse tipo de
divisão, só depois se passou a uma ação
­integrada e sistêmica e não compar­
timentada em setores) associadas às
­Empresas Concessionárias de Água e
­Esgoto. Algumas ideias foram particu-
larmente bem-sucedidas, como aquelas A Fonte Pública é o
que utilizavam as antigas garrafas pet local onde tudo acontece!
para esterilizar águas insalubres7, ou Angela León, 2012.
outras que fixavam pets em sistemas de
calhas, criando vários recipientes de velhação tão fácil que foi rapidamente tecia em volta das Fontes. Algumas de-
armazenamento8. adotada e resultou em redução de pre- las eram lúdicas e colaborativas: em
A eliminação das garrafas de água ços, melhor utilização de espaços, pro- dias quentes as pessoas davam as mãos
deu-se pela adoção de garrafinhas re- dução e descarte de embalagens. Em e giravam ao redor delas, sendo que
carregáveis – aliás, a maior parte dos relação à água, um dos benefícios mais mais gente e mais velocidade faziam
alimentos voltou a ser vendida a granel interessantes foi relacional, devido a com que o jato de água se levantasse
em recipientes dos usuários – uma en- outra envelhação: a retomada das Fon- mais alto, borrifando o entorno9.
tes Públicas, que se transformaram em Para limpeza e renovação da água,
7 Veja uma das vencedoras do Prêmio de Tecnologias
Sociais http://www.rc.unesp.br/ib/premiacao/premia.htm
espaços de convívio e troca. Paqueras e
9 Isso foi realizado durante a Expo Universal de
namoros, organização entre vizinhos,
8 http://www.likecool.com/Rain_Drops_by_Evan_Gant- Zaragoza, em 2008, com tema Água, com tecnologia
-Design--Home.html oportunidades de trabalho, tudo acon- desenvolvida por Barcelona Media.
101

Água é bem comum, não comercial


O Parlamento Virtual Mundial aprovou ontem a lei em que as corporações não podem comercializar a água
para lucro próprio. As fábricas e empresas que no final do século XX e início do XXI tentaram monopolizar as
fontes naturais terão agora que ceder suas instalações e estrutura operacional para que sejam geridas por
cooperativas em seus locais de origem. Essas cooperativas fazem parte do novo modelo de governo, a Mérito-
cracia Participativa, que finalmente chegou a um terceiro modelo de gestão, que é misto de público e privado.
Setenta por cento dos recursos resultantes da comercialização da água (que é feita de forma sustentável
desde que se aboliram, por exemplo, as garrafinhas e copos de água mineral) são investidos em programas
de recuperação do sistema hídrico, decididos pelo Conselho das Águas. O restante é o que fica com as corpo-
rações, como contrapartida.
Claudia, São Paulo, 2010.

houve uma diversificação de procedi- A gente não quer Quer conhecer uma cultura? Tome suco
mentos, dos mais tecnológicos a outros com o sabor dela. Breilin Montes e Luis
que investigam o potencial purificador só comida!11 Santana, República Dominicana, 2009.
das ondas produzidas pelo cérebro hu-
mano e pela linguagem, inspiradas nas Uma das razões pelas quais saímos das
pesquisas do Dr. Masaru Emoto, que no graves situações de desequilíbrio em que
século XX realizou trabalhos interessan- a humanidade esteve mergulhada du-
tíssimos submetendo água a emoções e rante milênios foi a relação com o “co-
verificando que meditação, música e mer”, hoje substituído pelo nutrir-se com
outras formas de linguagem eram capa- bons alimentos ou divertir-se com a gas-
zes de provocar alterações positivas em tronomia. Quando se concretizou a aces-
águas poluídas.10 sibilidade de alimentos, principalmente
industrializados, o mundo entrou em
­crise: seguimos nos comportando como
nossos ancestrais primitivos, comendo Festival Internacional
de Linguagem Eletrônica.
10 http://www.masaru-emoto.net/ 11 Trecho de canção do grupo brasileiro Titãs Pedro, Rio de Janeiro, 2011.
102 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Alimento saudável e sustentável agora é realidade em condomínio


Hoje comemoramos o sucesso do programa “Alimento Saudável e Sustentável”. Aproximadamente 70% dos condomínios da cidade implementaram hortas, pomares e
jardins nas coberturas de seus edifícios para o cultivo de alimentos, garantindo uma produção livre de agrotóxicos e adubos inorgânicos, além de proporcionar o frescor
e a variedade de produtos para uma vida mais saudável e autônoma.
O processo de distribuição se dá por um método mecânico-eletrônico. Cada unidade seleciona o produto que deseja e faz seu pedido por um painel eletrônico. Os ali-
mentos são coletados na hora garantindo o sabor e os nutrientes para uma alimentação saudável e prazerosa.
A produção dos alimentos é definida por um nutricionista que ouve o desejo dos moradores e organiza o cultivo dos alimentos.
Este projeto viabilizou a criação de restaurantes comunitários que preparam as refeições dos moradores, trazendo receitas inovadoras e facilitando o dia dos residentes.
O benefício desta iniciativa, além da melhor qualidade dos alimentos e refeições, foi propiciar uma maior qualidade de vida para os moradores dos condomínios.
Luciano Borghesi, Ricardo Rodrigues e Maria Cristina Rodrigues, Campinas, 2010.

tudo o que aparecia, como se não hou- ciais e de saúde pública. Já na primeira mensões 4DxT: social, ambiental e cultu-
vesse mais amanhã. Agimos como crian- década deste século o número de obe- ral. Depois, porque era fundamental re-
ças, seduzidos pela quantidade, diversi- sos havia ultrapassado o número de des- cuperar a aptidão e o bem-estar físicos
dade e atratividade de produtos que de nutridos12 e foi triste notar como a obe- e psicológicos, uma vez que ser susten-
fato eram ingeridos, mas estavam longe sidade, problemas cardiovasculares, tável internamente foi a chave encon-
de ser alimento. A insatisfação – que é o diabetes e demais doenças associadas trada para que sustentabilidade pu­
motor da mudança – foi anestesiada ou ao mal comer colaboraram para dimi- desse ganhar escala. No início foram
sufocada de várias formas, sendo o co- nuir a população mundial, contrariando adotadas medidas regulatórias um tan-
mer / beber uma delas. as previsões anteriores que falavam em to drásticas: as guloseimas foram trata-
Estudos evidenciaram o papel do aumento populacional. das como drogas e, como os antigos
comer/beber mal no estado de embo­ No momento em que se ampliou o maços de cigarro, explicitavam em texto
tamento e inércia em que uma grande conceito de sustentabilidade, a questão e imagem os ­males que causavam; im-
maioria estava imersa e que se agravou de “comer X nutrir-se” teve de ser enca- postos sobre calorias sem nutrientes fo-
após a Grande Bolha de 2013, cujo rada seriamente. Primeiro, por causar ram criados; publicidade estimulando
­impacto resultou em aumento na obesi- prejuízos econômicos e nas demais di- consumo de guloseimas foi proibida. Os
dade, venda de álcool e reguladores de serviços de alimentação em empresa,
12 http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/
humor e consequentes problemas so- story/2006/08/060815_obesosxesf escolas e universidades foram obriga-
cuidar , nutrir , preservar 103

dos a oferecer apenas alimentos frescos porados os custos ambientais (ex.: resul-
e leves, adequados para quem passava tados de monocultura de açúcar); sociais
horas sentado. (ex.: custos de saúde odontológica e mé-
No início dos anos 20 a formação de dica) e culturais (ex.: perda da diversida-
preço de todos os produtos já era feita de cultural e hábitos) e mesmo os econô-
pela combinação de custos 4DxT. Por micos (ex.: perda de produtividade por
exemplo: antigamente eram largamente saúde debilitada).
consumidas bebidas à base de corantes, Passar do comer ao nutrir-se teve André, FILE,
água e açúcar cujo preço por litro era uma importância maior do que o pre- Rio de Janeiro,
menor que o de água natural! Esta dis- visto, pois desenvolvia capacidades fun- 2011.
torção foi corrigida quando foram incor- damentais para a implementação da
sustentabilidade como sistema: escutar
e conhecer a própria natureza e suas
Feira da Agricultura Comunitária
necessidades; desenvolver disciplina e
A feira consiste em um espaço para a distri­
buição, dentro do bairro, de alimentos orgâni-
autorregulação; fazer escolhas sensatas;
cos, que são produzidos e colhidos por mora- ser consciente das consequências futu-
dores organizados. Essa possibilidade de ras das ações realizadas no presente.
abundância e beleza ­deve-se ao projeto de lei Houve aumento extraordinário de
aprovado no município, que prevê a doação de vegetarianos, mais ou menos radicais, ve-
terreno para a ­produção de alimentos, desde gans e todo tipo de dieta que levava em
que haja um grupo gestor organizado.
A feira nos bairros acontece semanalmente e
possibilita a alimentação com produtos frescos, Rede BigVegan
saudáveis, além de promover o encontro para Reúne os supermercados BigVegan, popularmente conhecidos como Super Veganão, e os Restaurantes Vega-
integração e trocas de habilidades, que alimen- no Soni com aquecimento ­solar, biohorta vegânica, cisterna, captação da água da chuva, pomar, biblioteca,
tam a vida comunitária. bicicletário, c­ ozinha fantástica, música ao vivo nas noites de lua. Para um futuro em que as pessoas não preci-
Daniela di Grazia, Lucilaine Oliveira e Inês sem sacrificar vidas para se alimentarem, reconheçam os animais como irmãos e eduquem as crianças a não
Soares Campos, Campinas, 2010. violência – a não combaterem o mal com o mal. Lolita Sala e Rodrigo, Brasil, 2010.
104 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

consideração as particularidades ­físicas e em massa/centralizada à produção em Saúde Multi,


culturais de pessoas e comunidades. nicho/ descentralizada), pequenos pro-
A gastronomia tornou-se cada vez dutores organizados em rede foram pro- Trans, Poli
mais uma maneira delicada de saborear gressivamente ganhando escala e substi-
e conhecer alimentos, principalmente à tuindo as monoculturas e agroindústrias Este nosso século é o “século do cui-
medida que “quantidade” foi sendo do passado, provando que é possível dar” e se caracteriza também por ser
substituída por originalidade, diversida- produzir, distribuir e suprir todas as de- “multi” e “trans” – e com a Saúde não
de e qualidade. Os Ecochefs prolifera- mandas por meio de outros modelos. poderia ser diferente. Nas últimas déca-
ram, tornando-se uma verdadeira m ­ ania, das conseguimos recuperar boa parte
e atrás deles veio o desenvolvimento de do tempo, do conhecimento e das vidas
centenas de nichos de negócios ligados perdidas pela negação e (ou) oposição
ao alimento. entre diferentes tipos de medicina, e
Tudo isso evidentemente resultou existe estreita cooperação entre elas,
em novas formas de produzir e comer- cada uma contribuindo com um aspec-
cializar: comércio justo, agricultura fami- to. A alopatia com seu êxito em conser-
liar, sustentável e orgânica. Seguindo a tar e costurar; a acupuntura com o mi-
mudança geral de padrão ( da produção lenar conhecimento de relações entre
órgãos; os medicamentos herbais por
Arranjos Produtivos Solidários sua acessibilidade e baixo custo etc. Es-
Três agricultores orgânicos – um asiático, um tes últimos hoje são largamente utiliza-
africano e um sertanejo brasileiro – reuniram- dos, desde que houve a união entre mi-
-se ontem, holograficamente, para conversas lênios de conhecimento tradicional com
­sobre trocas de sementes originais de suas a profundidade da ciência moderna. As
­comunidades, fortalecendo, assim, o acervo de decisões médicas são tomadas por um
seus bancos genéticos locais e garantindo a conjunto multidisciplinar de Cuidado-
preservação da biodiversidade. res/médicos e não podem mais limitar-
Claudio Próspero e Sergio M. Barbosa, -se a uma única especialidade, como
São Paulo, 2009. Concurso de HQ Crie Futuros. Sylvio Ayla, Brasil, 2011. acontecia antes.
cuidar , nutrir , preservar 105

Uma das grandes mudanças obser- Ideias Lúdicas para Hospitais


vadas foi na indústria farmacêutica. O Moda Leito: oficina de pijamas divertidos e moda saudável.
ápice de seu crescimento desregulamen- Jardim das delícias: mescla de jardim oriental com brasileiro, ervas, temperos, aromas, pedras variadas, areia
tado foi atingido na metade dos anos 20, e ancinhos para desenhar.
quando se verificou que drogas como Oficinas de lembranças: para os visitantes e acompanhantes.
antidepressivos, calmantes, reguladores Oficina de brinquedos: são doados para a seção de pediatria.
Circuito interno de TV: programação interna com apoio das Faculdades de Cinema e Jornalismo. Roteiros são
de humor e apetite, estimulantes, eram
criações coletivas dos pacientes com as equipe técnicas.
receitadas indiscriminada­mente e vendi-
História de Vida: rodízio de pacientes nos quartos para trocas de experiências. Pacientes elegem histórias de
dos em tal quantidade que ações de sa-
vida que podem ser roteirizadas para o circuito interno de TV.
neamento da situação foram necessárias. Cultura Hospitalar: programação semanal para áreas de convivência com contadores de estória, mágico,
Tentando responder à ­pergunta básica música. Palestras de nutrição, saúde, arte, cultura, história.
“Mas, afinal? Por que não mudamos o Jogoteca, Biblioteca, CDteca: jogos, literatura, ciências, “livros para os olhos”, estórias, piadas, música...
mundo?” encontramos respostas como Ateliê ambulante: móvel que circula nos quartos com apetrechos para artes,espelhos para autorretrato, ape-
“Porque criatividade e i­nconformismo, trechos para se fantasiar.
principalmente de crianças, são tratadas Painel Expositivo para trabalhos feitos por pacientes e acompanhantes.
como doenças”; “Porque anestesiamos Massagem: muita!
ou mascaramos nossa insatisfação e de- Adriana Klisys1, São Paulo, 2010.
sejo de mudança através de todo subter-
1 http://www.caleido.com.br/adriana-klisys.html
fúgio que esteja mais à mão”. Muito já
se escreveu sobre isso para compreender
também fenômenos de massa como con-
sumo, esportes, culto a celebridades e gados à física. São utilizados tanto os pa- O avanço da humanidade, que pas-
outras atividades cronófagas. drões vibratórios alcan­çados por tecnolo- sou da fase do “sobreviver” para a fase
Hoje, a visão que se tem da vida é gias high tech, como os Processos de do “viver”, trouxe mudanças importan-
menos mecanicista e determinista do Afinação Quântica que reconhecem os tes: os órgãos ligados à Guerra torna-
que no século anterior e, portanto, os diapasões de cada um e ­ o afinam, quan- ram-se órgãos dedicados à Paz e a medi-
processos de cura são multidimen­sionais, to aqueles alcançados através de medita- cina dedicou-se mais a conhecer e
menos relacionados à química e mais li- ção, sons, c­ ores, movimento. promover saúde do que a lidar com a
106 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

doença. No momento pós-estouro da seja, como “uma foto” daquele momen- A SAÚDE EM 2042, PELO
Grande Bolha, em que pessoas, institui- to. Depois, o acesso a dados de diversas
ções e empresas pactuaram que a sus- funções humanas,combinados à dados OLHAR DA BESTEIROLOGIA
tentabilidade seria o eixo norteador de da vida cotidiana, e observados em siste-
Wellington Nogueira, criador do Doutores da Alegria e
todas as atividades, ficou evidente que mas de layers sobrepostos (como os usa-
consultor empresarial. São Paulo, Brasil. 2012.
não era mais possível desperdiçar recur- dos em softwares de design gráfico) per-
sos, tempo e entusiasmo com doenças mitiram fazer diagnósticos que fossem Nos dias de hoje, nós, besteirologistas1, estamos
que poderiam ser evitadas. Mais do que mais “cinema”, acompanhando o desen- confusos: ONDE COMEÇA E ONDE TERMINA O HOS-
nunca a vida estava sendo boa demais rolar ao longo do tempo. Perceber PITAL? Essa confusão ocorre porque observamos
para ser perdida, e multiplicaram-se os doença e saúde como processos históri- uma série de doenças sendo cultivadas em nossas
grupos de Agentes de Saúde formados cos alterou conceitos importantes, por relações com a vida. Logo, o que chega até o hospi-
por voluntários e profissionais que exemplo, ligados ao envelhecer e ao que tal já começou muito antes, como, por exemplo, nos
­aplicavam tecnologias socioculturais13. é era “natural”. Para um habitante da locais de trabalho (que é onde o adulto se interna,
Conseguiu-se, assim, criar redes de rela- Idade Média era “natural” morrer aos como bem diagnostica a ilustre colega besteirologis-
cionamento e convívio que evitaram que 30, perder dentes e ter problemas de ta, Dra. Ferrara); na correria das grandes cidades e
insegurança, má alimentação, falta de pele – cenário que muda com a atenção em muitos lares... Basta uma visita aos pronto-socor-
higiene, informação, estímulo ou com- à higiene. Hoje, já percebemos que en- ros de hospitais públicos e privados e poderemos ter
panhia fossem causas de doenças. velhecer e adoecer não são sinônimos e uma radiografia dos problemas sociais que enfrenta-
Uma curiosidade foi observar que, que a doença é mais consequência do mos no dia a dia e que lá desembocam.
entre o século XX e XXI, a medicina vi- mal-viver do que do viver muito.
veu uma evolução semelhante à passa- Ao mesmo tempo, nunca se falou tanto em
gem da fotografia do século XIX para o sustentabilidade como agora. Onde começa e onde
cinema do século XX. Antes, os exames e termina a tal da sustentabilidade? Definitivamente,
os cuidadores/médicos baseavam-se em ela começa na qualidade de nossas relações com a
vida. Cada um de nós é o ponto de partida. Eu me
dados obtidos principalmente no mo-
mento da interação com o paciente, ou
1 palhaços profissionais integrantes do elenco dos
13 Um exemplo é a Pastoral da Criança, https://www. Doutores da Alegria, que recebem treinamento para atuar
pastoraldacrianca.org.br/ com excelência em hospitais.
cuidar , nutrir , preservar 107

olho, me escuto, me conheço, me acolho e, por isso, sou capaz de olhar, escutar, o uso da respiração é uma das primeiras coisas que se aprende na escola!
conhecer e acolher o outro. Se a Terra, hoje, está em perigo, é porque fazemos
para ela o que fazemos para nós mesmos: nos tratamos mal! Reproduzimos no Toda essa revolução tem um impacto devastador sobre as relações das pessoas
mundo aquilo que cultivamos dentro de nós! Portanto, vamos rever o mestre com o trabalho! Sim, porque nesta altura do campeonato, ninguém está traba-
Gandhi falando: ”Seja a mudança que você quer ver no mundo” e reler o prin- lhando para sobreviver ou enriquecer, mas exercendo seu propósito de vida por
cípio da Carta da Terra, onde está claramente descrito que somos seres interde- meio do trabalho, o que nos resgata ofícios considerados extintos, como os ar-
pendentes. Pronto, a partir destes pontos ligados, podemos começar a pensar tistas itinerantes, que fazem com que uma saída à rua se torne uma experiência
desejáveis futuros na área da saúde. de beleza e graça. Músicos, poetas, escultores, pintores, cantores, palhaços, ato-
res, todos esses artistas passam a fazer parte do cotidiano das pessoas, estimu-
Porque desenvolvemos a nossa consciência, vivemos saudavelmente, comendo lando conversas, debates, discussões e reflexões. Por isso, trabalhar é um prazer
bem aquilo que plantamos em nossas hortas coletivas, que, por sua vez, funcio- e uma honra, já que escolhemos trabalhar para tornar o mundo melhor e so-
nam também como salas de aula para crianças e jovens – sim, consciência ali- mos todos atores no mesmo grande espetáculo que criamos a cada dia, pela
mentar, agora, é uma matéria escolar, junto com gastronomia saudável e sabo- nossa convivência.
rosa – numa atividade que envolve também as famílias! Sem desperdício de
comida, todos vivem bem alimentados. Por conta desta onda, a indústria de Num mundo assim, os hospitais passam a ser centros de cultivo de saúde, resga-
agrotóxicos se reinventou e se tornou disseminadora de técnicas de plantio or- tando da Grécia antiga o conhecimento de Asclépio, que fazia uso das artes para
gânico, pois as grandes plantações perderam muita força desde que as pessoas curar as pessoas. Os médicos e profissionais de saúde passaram a receber forma-
pegaram para si a responsabilidade por sua alimentação. ção artística para fazer do cuidar uma arte. Escuta e Olhar são disciplinas de pri-
meira ordem! Isto causou uma reformulação geral no conceito de hospitais e
Toda essa revolução nos hábitos alimentares também abriu espaço para a diver- hospitalização, afinal, conscientes de seus propósitos de vida, médicos, enfermei-
são coletiva: muitas pessoas se divertem juntas, e acabam tornando a vida me- ras e outros profissionais de saúde entendem que o encontro com cada paciente
lhor. Famílias que se divertem juntas geram mais amizades duradouras e cuida- é uma oportunidade de, juntos, tornarem-se melhores seres humanos. A tecnolo-
do. Numa vizinhança, todo mundo se conhece e todo mundo cuida de todo gia torna os tratamentos rápidos e bem menos invasivos e assim sobra tempo
mundo, portanto, a violência urbana cai incrivelmente e as pessoas destroem para a construção de relações saudáveis em harmonia com o movimento da vida.
seus muros altos e cercas elétricas porque eles não são mais necessários. Uma
cidade que se apodera de suas ruas e espaços públicos para o lazer, a arte e a Em 2042, teremos aprendido a celebrar cada dia o encontro com o outro, por
cultura, se revela. Isso gera uma população mais saudável, feliz e consciente de sabermos que não existem dois seres humanos iguais e que somos a manifes-
que todos são parte de uma construção diária da saúde coletiva. Nas escolas, as tação de um milagre que até hoje a ciência não desvendou totalmente. A cele-
matérias são todas sobre como podemos ser melhores e mais harmônicos por- bração passa a ser um estilo de vida. A gente se motiva para algo que é muito
que temos consciência do legado que deixamos a cada respiro que damos. Aliás, forte: a vontade de fazer melhor para o outro. Isto é saúde na prática.
108 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Muito Cuidado Meus pais lembram com certo pudor que, além de tentarem reconhecer-se en-
Silvina Martinez, arquiteta, cujo trabalho une permacultura a economia criativa .
1 tre meus talentos, não tinham ideia do que fazer com a informação recebida, já
Buenos Aires, Argentina, 2012.
que não dizia “será médica” ou “floricultora”. A lista de aptidões era tão exten-
sa quanto imprecisa, e, além disso, as profissões e os ofícios já eram bem dife-
No futuro que imagino, a palavra mágica é “Cuidar”. É um futuro amável, rentes dos que conheciam em seu tempo.A segunda parte foi mais esclarecedo-
que cuida de cada pessoa e cria as condições para que elas desenvolvam o ra: “Hipersensibilidade à desordem”; “Dificuldade para digerir alimentos de cor
melhor de si. Um futuro onde os bebês venham com um manual (uma fantasia amarela…”.
compartilhada por muitos pais!). E onde o êxito se meça em níveis de satisfa-
ção. Um mundo onde eu me sentiria mais cômoda, e que descrevo a seguir: A escola
O sistema educativo se reformulou concomitantemente a toda essa nova infor-
(…) Faço parte da primeira geração nascida no Programa Muito Cuidado. O mação disponível. Além disso, se alguém o pede ou necessita, pode durar a vida
programa demorou 25 anos para ser colocado em prática, mas não para desen- toda. Nos primeiros anos não existe muita mobilidade: cada criança tem aulas
volver sua tecnologia: a verdadeira revolução consistiu em derrubar o mito de de acordo com as aptidões indicadas em seu Documento.
que não era possível atender a cada indivíduo em sua particularidade.
Assim, minha boa disposição ao pensamento abstrato moldou minha relação
Apesar de terem acompanhado juntos todo o processo, minha mãe não se es- com todas as Ciências e no final da minha educação básica tinha alcançado
quece da expressão de assombro e desconcerto do meu pai quando a Equipe conhecimentos que a geração anterior só conseguia obter na universidade.
de Recepção lhes entregou meu Documento Vital.
Minha aptidão artística, em compensação, era bastante baixa: assisti então a
O Documento aulas de “Percepção e Prazer Estético” nas quais desenvolvi sensibilidade sufi-
Quando cheguei a este – novo – mundo, a equipe verificava em silêncio minhas ciente para desfrutar todas as expressões da arte, e fui capaz de produzir obras
funções vitais na tela, a certa distância, e atenta para ver se algum dos três simples com resultados bastante satisfatórios.
precisava se alguma assistência. Em seguida, aproximaram-se para comparti-
lhar os resultados revelados pelo Sistema de Análise de Sensibilidade. Até a metade do ensino médio a maioria de nós exercita sua curiosidade em
áreas que não nos haviam interessado até então, por influência de novos ami-
Assim receberam um resumo primário das minhas “Coordenadas de Sensibili- gos ou inquietações pessoais. Comecei a participar da banda da escola como
dade”: a lista dos meus Talentos Primários e a de Riscos Potenciais (inimigos da percussionista, já que desenvolvi certa qualidade rítmica... Foi quando me apai-
minha saúde psicofísica). xonei por um músico. Talvez pela relação entre Aritmética e Harmonia...

1 www.culturafi.com.ar
cuidar , nutrir , preservar 109

As matérias “Ética” e “Criatividade” são ministradas em todas as disciplinas. O mais interessante foi demonstrar que, com cerca de nove bilhões de pessoas
As aulas mais heterogêneas e coloridas são as Humanidades, nas quais conver- computadas, em absolutamente todas são encontrados talentos e debilidades
gimos todos: o Novo Acordo Planetário (documento que embasa todo o progra- potenciais ao nascer. Quando se verificaram as semelhanças de condição “de
ma) coloca o Ser Humano como o primeiro responsável por todos os cuidados. base”, evidenciou-se a necessidade de equiparar as oportunidades de desenvol-
vimento, em nível mundial. E a fantasia (semiassumida) da existência de “super-
Outras aulas um pouco anárquicas foram: “Ciências Sociais” e “Habitat”, que -homens” se desvaneceu, infundindo uma nova autoestima na população.
se reformulavam permanentemente, e “Relações Intergeracionais” – já naque-
le momento era considerada um assunto de Estado. Mas a revolução apenas começou:

“Culturas” é ministrada a cada mês por pessoas que são referência em suas Ninguém pode prever o que acontecerá quando os níveis de insatisfação bai-
comunidades, que relatam seus traços identitários através de histórias da tradi- xem drasticamente. Ou quando seja excluída definitivamente do vocabulário a
ção oral. A matéria é uma celebração, em que aprendemos a dançar seus ritmos palavra “inútil”, quando nos referimos a um semelhante.
e, claro, os segredos de suas cozinhas.
Houve uma redução nos níveis de doença e violência, e os orçamentos necessá-
O Censo rios para Saúde e Segurança já diminuíram.
Cumpridos 20 anos do programa, organizou-se o Primeiro Censo Mundial da
Nova Era. Novos Documentos Vitais de toda a população foram emitidos, com Já não se escutam os nostálgicos “… no meu tempo, os jovens eram…”: Os
os seguintes resultados: mais velhos consideram que este também é o seu tempo e estão orgulhosos de
protagonizar o momento em que o planeta trocou o Poder pelo Cuidado.
• A relação de Talentos aumentou em relação à primeira medição, compro-
vando a hipótese de que conhecer as aptidões “de origem” melhora as Mas, uma coisa não mudou em absoluto: nas consultas com o psicanalista, as
capacidades, mesmo que em áreas não especialmente dotadas, e evita pessoas seguem falando sobre suas mães!
muitas frustrações.
Saúde!
• A respeito dos Riscos Potenciais, foi também notável a diminuição de zo-
nas de extrema sensibilidade, graças à prevenção e porque lidar com os
elementos comuns à maioria transformou-se em objetivo planetário, e es-
tes foram combatidos até seu desaparecimento (poluição, radiações UV
anormais etc.).
110 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Adão Itusgarrai, 2009.


TAGS: aprendizagem – ciclos – competências – conhecimento – convergência
– criatividade – diversidade – educação – emoção – escola – expressão
– fases da vida – fisiologia da web – intuição – linguagem – pensamento
– pulsão – sensação – síntese – tecnologia – qualitativo

6 aprender, criar, comunicar

“As visões que oferecemos aos nossos filhos moldam o futuro. É importante
quais são essas visões. Muitas vezes elas se tornam profecias auto-realizáveis.
Os sonhos são mapas.”
Carl Sagan
112 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Onde estamos? tidos por outra coisa percebida como tipo de informação profunda, qualifica-
doença: o envelhecer. da, consistente – afinal é aqui que tudo
Outra leitura da A mudança começou pela própria começa. O inverso do que se acreditou
passagem do tempo noção da passagem do tempo e as pala- por bom tempo, já que havia a ideia de
vras que a definem: o termo “Infância” que para os pequenos (por sofrerem de
Até pouco tempo, um visitante que (in–phonos, sem voz) foi progressiva- incompletude...) tudo poderia ser bobo,
­viesse do passado longínquo teria difi- mente abandonado, assim como “Ado- banal e de má qualidade. Essa qualida-
culdade de reconhecer nossas edifica- lescência” (adolescere, duplo significa- de e a diversidade são garantidas, pois,
ções e profissões. A escola, no entanto, do: crescer e adoecer). Sabemos que há como diz um provérbio africano, “é pre-
seria imediatamente reconhecida. Por três “adolescências”, uma em cada pas- ciso uma aldeia inteira para educar uma
tempo demais, ela seguiu sendo o local sagem de fase da vida e hoje são chama- criança” e, de fato, elas são cuidadas
onde éramos internados e isolados – das Primeira, Segunda e Terceira Transi- por todos.
como se ser criança fosse uma doença, ções (a quarta é a definitiva...). Depois da Primeira Transição (curio-
um mal de incompletude que se cura A fase que antes era Infância, hoje samente se verifica que pode durar dos
quando nos tornamos adultos. Mal, é Potentia, a fase de todos os poten- 13 aos 31), vem a Frutificare, a fase de
­aliás, recorrente quando éramos acome- ciais. É aquela em que se recebe todo criar filhos e consolidar trabalhos. Já
não é mais tão difícil, pois, felizmente,
abandonamos a ideia que autonomia é
Nem mesa, nem cadeira sinônimo de isolamento e hoje a vida
Agora, a relação entre os três setores é de circularidade e interdependência. Não existe mais hierarquia. Por cotidiana e doméstica é compartilhada.
meio de compromissos setoriais e regionais, se estabelecem metas de curto ou longo prazo, sem mais de- Inspirados em culturas de ajuda mútua,
pender das políticas e do poder político, mas sim, dos atores e representantes dos próprios desejos. Por isso, principalmente as vindas do Oriente, fa-
é importante que a criatividade e a arte estejam em todos os setores. Para isso, é essencial potencializar os mília e amigos colaboram para os inícios
espaços células como a escola, que possa ser a semeadora dessa convivência e disseminadora da criativi- dos empreendimentos e núcleos fami-
dade como potencial corretivo e transformador, atendendo aos quatro campos (simbólico, social, econômi- liares (em seus múltiplos formatos) dos
co, ambiental) com valores de solidariedade e cooperação.
jovens frutificantes.
Guta Bodick, João Roberto Fava, Cláudia Maria Fontana, Marta Fernandes, Clara Prazuelo, Marcos Borges,
A Segunda Transição, por volta dos
Nataly Simon, João Meirelles e Ivan Melita, Brasil, 2008.
cinquenta, revelou-se uma chave na mu-
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 113

dança para a sustentabilidade. Desde


que a expectativa de vida aumentou, já
não é mais o momento de parar, e sim de
recomeçar outra vida, uma vez que os fi-
lhos estão criados e a carreira consolida-
da (ou não...). A evolução do Movimento
do Afeto Masculino foi paralela à melhor
compreensão desta fase, facilitada bas-
tante pelos estudos da andropausa, até Perú, 2009.
então quase inexistentes. À medida que
compreendiam suas oscilações hormo-
nais (o que mulheres fazem a vida intei-
ra) os homens tornaram-se menos vulne- por isso, fazemos bem nosso trabalho.
ráveis e mais entregues. E o trabalho nos faz bem Corrente de Soluções
A maturidade hoje é Selectia, fase Na Terceira Transição, somos acolhi- Criação de software social que franqueie o con-
seletiva, da busca de profundidade. A dos pela comunidade, que cuida de nós, tato entre aqueles que tem problemas/perguntas
fase anterior é da quantidade e do pois deseja toda a sabedoria e experiên- e os que podem fornecer soluções e respostas.
“conquistar seu lugar”; esta é da quali- cia que acumulamos. Esta fase é Distri- A implementação e aceitação das sugestões ofe-
dade, possível pelo “usufruir o tempo” butie, pois é a momento de distribuir. recidas implica a instalação de uma dívida neces-
– aquele que permite vínculos, profun- Como hoje as trocas intergeracionais são sária: a de fornecer respostas e soluções a outros
problemas e perguntas.
didade, refinamento. É uma idade que prioritárias, é o momento em que a sa-
A sugestão de respostas e soluções deve obede-
une vigor à experiência. Esta é uma das bedoria dos mais velhos nutre e orienta
cer aos critérios de sustentabilidade coletiva.
razões pelas quais não há mais “apo- as crianças. Os jovens mantêm os mais
A rede conta com um grupo de trabalho que se
sentadoria” – insustentável financeira- velhos atualizados e, enquanto isso, dedica a criar mecanismos e formas de amplia-
mente pelas doenças e depressão que aprendem seus ofícios. Quando ainda se ção do alcance das soluções propostas.
acarreta e, principalmente, porque tra- acreditava que envelhecer trazia consigo Lilian Ana Faversan e Sérgio Teixeira,
balho não é mais um sofrimento a ser uma inevitável deteriorização, os mais São Paulo, 2010.
suportado. Fazemos o que gostamos e, velhos se recolhiam. Quando percebe-
112 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

mos que este era o momento de distri-


buir e difundir tudo o que foi colhido ao
longo da vida, a dinâmica se inverteu e
necessitou de um bom preparo. A disci-
plina para envelhecer bem é praticada
desde cedo, para garantir a qualidade
de vida dos cinquenta aos cem. Discipli-
na na alimentação, no movimento cons-
tante, no desafio mental, no desfrute do Fernanda, FILE, São Paulo, 2010.
belo, na busca do novo, no manter bons
pensamentos e no cultivar relações.
Antes, casava-se aos quinze pois
morria-se aos quarenta – éramos obri- Tecnologia:
gados a amadurecer rápido. Já os taois-
tas (e outras tradições antigas) dizem meio e não fim
que as fases de vida medem-se em ciclos
de 7 x 4 anos. Infância/Potentia até 28; Num primeiro momento, poderíamos É interessante notar que a origem
Juventude/Frutificare até 56: Maturida- pensar que os avanços tecnológicos fo- de computadores e sistemas digitais
de/Selectia até 84 e Velhice/Distributie ram a causa maior das mudanças na vem dos antigos EUA e, portanto, foram
até 112. Estamos quase lá. aprendizagem e criatividade, mas foi-se criados mantendo alguns de seus traços
Quando a percepção da passagem o tempo em que se acreditava que in- culturais: individuais (personal com­
do tempo é alterada, muda também a ventos e produtos seriam a solução para puters...), racionais, feitos para trocar
noção de “aprender e ensinar”. Cada tudo. Hoje, nossa ênfase esta nos pro- i nformação, predomínio de texto,
­
Transição necessita conhecimento e cria- cessos, em mudar mentalidades e hábi- audiovisual e jogos de competição. Isso
tividade adequados. Criamos, aprende- tos. De toda maneira, é inegável o papel mudou à medida que outras tecnologias
mos e ensinamos o tempo todo. Esta é desempenhado pelas tecnologias digi- foram desenvolvidas por países menos
uma das razões pelas quais tudo teve tais, especialmente depois que elas tor- racionais e mais intuitivos e sensoriais.
que ser reformulado. naram-se sensoriais. Hoje, nossos computadores também
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 113

BB Os dados sensoriais recebidos são “tra­


ALIT - Aprendizado Livre Interativo duzidos” em experiência por uma combi­
Por meio da Secretária da Educação Mundial, foi aprovada e lançada na Câmera dos Governos uma inova- nação tríplice: as Telas Envolventes 3D;
dora forma de educação. as Impressoras 3D/5S (três dimensões e
O novo modelo, denominado “ALIT” Aprendizado Livre Interativo, permite revolucionar o ato de educar. cinco sentidos) e as Cadeiras 5S (cinco
– Como funciona? sentidos). A imagem 3D + som de mar da
*A figura da escola não deixa de existir, mas as atividades educativas não estarão centradas nestes locais.
tela é acompanhada por seu cheiro, emiti­
*O novo modelo não depende do professor, mas envolve todos os ambientes sociais, desde que estejam
do pela impressora e pelo balanço mais
adaptados às novas tecnologias.
aspersão de gotas da cadeira. Tudo opcio­
*Normas e regras permanecem, com pequenas alterações que visam a busca do apreender de forma desejá-
vel e não obrigatória. Nas quais o tempo e o espaço não delimitam as regras de um novo saber. nal, claro, com opção para grupos... São
– Como o aluno vai desejar a escola? versões simplificadas da realidade virtual
*Com programas de incentivo e tratamentos culturais a partir de um acervo jovem – algo que o atraia da que, aliás, avançou muito e se disseminou
mesma forma que uma balada o atrai. desde a adesão em massa ao opensource e
*Bolsas, mesmo em escolas públicas do sistema. Não é um pagamento, mas uma ajuda de custo para o aluno. aos softwares livres. Esta adesão ocorreu
As bolsas se limitam àqueles que de fato desejam a escola: quem frequenta recebe, quem falta é descontado. logo após o caos instaurado quando cada
– Os espaços físicos serão: a escola em sua sede, os fragmentos da escola em todo ambiente social. cultura decidiu cobrar direitos de autor por
– O modo virtual se dará por todas as formas de comunicação e acesso ao aluno como celulares, televisão e seus inventos. Supostamente, todos os que
tudo o que é comunicável. usavam alfabeto, algarismos, soluções
Jacyara C. R. Mardgan, Dayana de O. Rosa e Wyuder da Silva Rodrigues, Vitória, 2010. matemáticas, papel, bússola, pólvora, vaso
sanitário, avião, macarrão, sorvete, entre
outros milhares de coisas, deveriam pagar
aos países que as inventaram. Houve uma
transmitem emoções e sensações: linguagem. Alguém pergunta: “Con­ paralisia geral e global, já que Apagão de
­cheiros, sons, movimentos, experiências seguiu preparar material para sua Conhecimento é ainda mais incontornável
táteis – basta ver a quantidade de tese?” E você responde: espiral, espiral, do que apagão energético.
“emoticons” olfativos, sonoros e ci­ bolhas de sabão, roxo com fúcsia, rock Hoje em dia, a Fisiologia da Web já
néticos, entre outros, que temos. Tanto, and roll, escorregões. Tradução: mo­ está mais conhecida, com sua pulsação
que já se transformaram em outra mento de pouca concentração. que alterna fases de expansão e diversi-
112 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

ficação com fases de concentração – contato com a web que fosse qualitativo e
mais uma vez o mesmo padrão concen- não quantitativo;
trado/mono x descentralizado/pluri que BB expansão no início dos anos 20, quando
já vimos tantas vezes. Listamos abaixo a web já não era mais um mar de dados
algumas destas pulsações. indiscriminados onde navegávamos sem
(Peço desculpas aos especialistas mapa. As novas interfaces já utilizavam sis­
por este exercício atrevido e improvável, temas de visualização de dados e, quando
aliás, aproveito para pedir desculpas a passamos a lidar com dados qualitativos, foi
todos os especialistas por todos os exer- possível ganhar profundidade. Com ela,
cícios atrevidos e improváveis que com- criamos algo como um “relevo ou topogra­
põem este livro...). fia da web”. Onde há relevo e profundida­
BB expansão quando surge, esparsa entre de, é possível discernir a relevância – que
universidades e centros técnicos; contra­ havia sido perdida no início dos anos 10.
ção com os primeiros megasites e Contração quando apenas alguns poucos
megaprovedores; são capazes de, uma vez conhecendo a
BB expansão com a web 2.0 e sua diversi­ morfologia da web, estudar sua fisiologia.
dade de wikis e blogs e intensa produção A história recente já é mais conhe-
colaborativa de conhecimento; contração cida: a leitura de dados em profundida-
com as redes sociais que consumiam todo de, com relevo fornecido por layers so-
o excedente cognitivo das pessoas em brepostos, começando pelos layers de
Concurso Crie Futuros de HQ.
posts efêmeros; georreferenciamento em tempo real.
Javier Milles Sierra, Uruguai, 2011.
BB expansão no final dos anos 10, quando Isso foi determinante para viabilizar a
retornam blogs e wikis 3.0, agora geor- Economia e a Gestão 4DxT a que nos re-
referenciados. As pessoas deixam de pos­ ferimos em capítulos anteriores. Assim
tar informação (pois era perdida...) nas como educação, comunicação e criativi-
redes sociais e estas passam a ter função dade multidimensionais, que são o tema
apenas relacional; contração quando pou­ deste capítulo.
cas plataformas digitais permitiam uma
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 113

houve necessidade de novos léxicos Ferramentas para


Agora eu sou professor (sempre faltam palavras para expressar
Hoje de manhã foi inventado um Chip que au- o novo...). A multiplicidade de formas e
cada camada do
tomaticamente ensina a pilotar helicópteros, a progressiva aquisição de multidimen- processo Educriativo
motos, carros e, inclusive, a fazer operações sionalidade podem ser notadas pela
matemáticas.
evolução das siglas. Como trabalhar o Educriativo em nos-
- E o que aconteceu com as Escolas?
De Tecnologias de Informação (TI) sa perspectiva atual, de ênfase no
- E desde quando os Chips ensinam relaciona-
às TICs (+ comunicação); depois à Ciên- ­orgânico e biomimético? Aqui, pode-
mento humano?
As escolas foram substituídas por praças de re- cia, Tecnologia e Sociedade (CTS), aos mos nos valer do mesmo esquema que
lacionamentos que permitem que as pessoas quais se acrescentaram as Artes (ACTS); iniciou o capítulo anterior e seguir a
falem de sua própria vida, o que querem do seu hoje, finalmente, temos a ACESTA: Arte, ordem que organiza nossa natureza e
futuro, o que acham de si mesmas, o que Ciência, Economia, Sociedade, Tecnolo- a Natureza circundante.
acham de tudo. gia e Ambiente. Ufa! Pelas palavras se
- E aí, melhoraram as coisas?! nota que as quatro dimensões são Camada um :
Só o futuro vai responder. abrangidas. O nome é tão grande que Pulsão – Transformação
Leonardo Almenara e Thiago de Oliveira, já virou verbo e adjetivo: “Este projeto A ciência atual aponta que aquilo que
Vitória, 2010. não está contemplando a D/Ambiental, caracteriza o Ser Humano são sua ca­
precisamos “acestá-lo” (torná-lo quadri- pacidade de representação simbólica e
dimensional). Ou “Nossa, esse projeto é o aprendizado, a comunicação e a cria-
ótimo, muito “acestante!” (que abran- ção que surgem a partir dela. Criar é a
Convergência: arte + ciência ge todas as dimensões 4DxT). essência da nossa natureza. Aí está a
+ economia + sociedade Hoje, então, os processos de apren- provável razão pela qual todas as tradi-
+ tecnologia + ambiente dizagem, pesquisa, criatividade e comu- ções colocam o ser humano como
Estamos, aqui, falando de aprender, nicação são integrados. São ACESTA. ­“criado à imagem e semelhança da
criar e comunicar em qualquer esfera da Como este é um léxico ainda pouco di- ­divindade”. O movimento na direção
vida, em todas as idades, locais e tem- fundido, em alguns momentos usare- de uma vida sustentável revelou que
pos. Quando estas atividades passaram mos os mais correntes como Educriati- nossa saúde, como indivíduos e socie-
a ser continuas, cotidianas e integradas, vo, por sua simplicidade elegante. dade, está relacionada ao exercício da
112 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Indivíduo do Futuro
Com a internet, as experiências estão cada vez Óculos com TV, agenda, internet e que pode
mais aceleradas, por isso as instituições “Ensi- ser usado através de controle remoto ou
no” e “Trabalho” estão ultrapassadas. Logo, as comando de voz. Este futuro foi criado em
Escolas e Empresas precisam se transformar. 2010. Em 2012 a Google lançou um
Principalmente a forma de trabalho precisa ser protótipo. FILE, Rio de Janeiro.
modificada.
A partir deste instante, para trabalhar em grupo,
as pessoas terão que aprofundar e desenvolver
os seguintes valores e habilidades:
- Cultura de tolerância; Escola da Brincadeira
- Relação cidadã, prática, inteligente e útil; Hoje em dia, os adultos estão muito duros, ou criatividade,­à ­transformação contínua
- Possibilidades de aprender e quebrar seja, não se divertem, levam a vida muito a sé- característica primeira da Vida e da Na-
preconceitos; rio. Por outro lado, as crianças estão muito tec- tureza – e portanto nossa.
- Lógica de trabalho inclusiva, um conhecimento nológicas, sem interação com outros. Foi criada,
Contudo, vivemos um contínuo im-
não anula o outro, somam-se; portanto a Escola da Brincadeira, onde os adul-
passe: nossa Cultura e, consequente-
Conhecimento sempre disponível online. tos aprendem com as crianças as brincadeiras
tecnológicas e linguagens que ainda desconhe-
mente, nossa educação, consideravam a
Maria do Carmo, Aracy Machado, Fabrício Jabar,
Natascha Penna, José Sávio, Alindo de Oliveira, cem. Os adultos ensinam as crianças a serem Transformação, o movimento contínuo,
Miriam Hunnicutt, Ronaldo Gonçalves Alves, mais espontâneas, livres, brincadeiras analógi- como algo ameaçador e difícil de lidar.
Jaci Lopes da Cruz, Jaron Rowan, Alexandra cas e de rua. Um intercâmbio diferente! Mudaríamos se fosse fácil. Não é. Mudar
Araujo. São Paulo, 2008. Ana, Ellen e Paloma, São Paulo, 2010. de hábito é muito mais difícil do que
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 113

mudar de ideia. Romper os padrões do


nosso cotidiano é difícil, já que ele tanto
nos sustenta quanto nos entrava. Essa
dualidade se revela até em nosso corpo:
a perna que nos suporta está no presen-
te e a perna que avança busca o futuro.
O resultado é a instabilidade – e tam-
bém o caminhar.
Diminuir a resistência à mudança e
ampliar a capacidade de transformação
foi possível graças à memória, usando
até mesmo recordações do Futuro!Três
mecanismos principais foram utilizados:

BB Simulador de Consequências: ajuda


a fazer escolhas conscientes e conse-
quentes. É alimentado com os dados rela­
tivos à escolha que está em questão e em
seguida mostra as consequências. Exemplo:
Parou em fila dupla um minutinho – quanto
congestionamento isso gerou atrás de Camadas de nossa constituição, relacionadas à funções psicológicas básicas e a etapas do processo de transformação,
você? Quanto custa (em moedas 4DXT) aprendizagem e criatividade.
esse congestionamento? Hoje em dia o
Simulador é alimentado por alunos de ensi­ BB Memorial das Barbáries do Presente: do hoje? Que atitudes corriqueiras na verda­
no médio, já que todos têm a disciplina enxergue o agora com os olhos de ama- de são insensatas; dilapidam nosso patrimô­
“Escolhas” e “Consequências”. O progra­ nhã. Quando olhamos para o passado, nios 4DxT; consomem entusiasmo e alegria;
ma é também disponível para aparelhos enxergamos com clareza as barbaridades destroem laços de confiança; enfim, são
móveis com leitura de código de barra. cometidas. E aquelas que estamos cometen­ insustentáveis? Excelente treinamento para
112 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

acabar com nosso mau hábito de aceitar o hoje, aplicada também às relações pes-
Memorial do Futuro – Simulações inaceitável1. Tornou-se uma prática cotidiana soais, sociais e internacionais. As dife-
para tomada de decisão até que as barbáries foram escasseando. renças (assim como a mudança) não são
É uma Exposição do Intangível na qual cada
BB Obituários Preventivos2: qual o seu mais percebidas como problema e ame-
pessoa que tiver alguma questão futura a re-
legado? Ainda mais eficazes que as Pega­ aça. Combinações entre diferenças são a
solver traz sua caixa de problemas e soluções
das 4DxT, são como uma nota de jornal base da vida e de tudo o que – como ela
contendo fotografias e objetos, entre outros,
formando um memorial de simulações do futu- ­descrevendo o que fica como marca de sua – é dinâmico, criativo, pulsante e saudá-
ro. Pode ser realizado em espaços sem uso, pú- vida. Inspiram-se no fato verídico de Alfred vel. Diverso, pois sabemos que diversi-
blicos ou privados, onde também estão dispo- Nobel: um jornal noticiou por engano a sua dade é a chave para a criatividade e
nibilizados imagens, sons, vestuários, entre morte, qualificando-o como “o mercador para o convívio harmônico entre as pes-
outros, para que as pessoas possam criar suas da morte” por ter feito fortuna fabricando soas. Foi-se, por exemplo, o tempo da
instalações. Toda simulação será registrada. explosivos. Vem daí sua decisão de premiar educação como linha de montagem,
Será criado o site Memorial do Futuro com as aqueles que deixam legados para o futuro. passando os mesmo conteúdos, ao mes-
soluções mais criativas e diferentes para pro- Como ninguém queria ser merecedor de mo tempo, num mesmo lugar, para pes-
blemas comuns. um obituário preventivo, houve um momen­ soas com a mesma idade e perfil3.
Robinson Borba, Araci, Claudia Cezar
to em que geraram certa paranoia. Mesmo Os Espaços ACESTA Inter Multi
e Jaques Faing, São Paulo, 2008.
assim, foram eficientes. de hoje são intergeracionais e neles
Além da memória, o desejo de ­“hardware” e “software” são móveis e
ACESTAR e o impulso educriativo vêm adaptáveis. As paredes e mobiliários
do prazer. Tudo aquilo que é proposto são módulos muito coloridos que rece-
HISTORIADOR DO FUTURO dever ser diverso e divertido. Diverso, bem novas configurações para cada
Possui um capacete (movido à energia solar) pois esta é a marca da vida contemporâ- tipo de atividade. Os conteúdos variam
que lhe permite regressar ao passado e alertar
nea, já que “das diferenças vem a evolu- de acordo com o contexto e a escolha
as pessoas sobre conflitos, divergências e
ção”. Esta célebre frase de Darwin é, de quem participa.
­guerras passadas, para que não sejam repeti-
dos no presente.
Carlos Rossetto e Carlos Bonbonatti, 1 No momento em que escrevo, recebi uma pérola:
Brasil, 2009. tive que assinar uma Declaração de Não Inidoneidade!
3 Em www.escoladaponte.com.pt descubra uma
2 A boa ideia é de Gilberto Dimenstein. proposta educativa que atende a diversidade.
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 113

É divertido, pois deixamos para trás


a ideia de que seriedade é sinônimo de
sisudez. Ao contrário, ficou claro que
quanto maior o prazer e a diversão,
maior o engajamento e a participação.
O conhecimento é fruto de uma mobili-
zação estética – no sentido original da
palavra, ou seja, se ancora em sensa-
ções e no afeto4. A fruição antecede a
análise, o que não acontecia muitas
­vezes. Aprendíamos a analisar obras de
arte antes mesmo de desenvolver o
gosto por sua fruição...
O desejo de compreender – saber
–tem que ser estimulado pelas sensa-
ções e sentimentos – sabor. A ligação Na escola, grandes e pequenos aprendem juntos e misturados. Os grandes ajudam os pequenos.
entre o saber e o sabor revela-se, por Francesc, Marina, Rosó e Victor, Barcelona, 2009.
exemplo, no fato de serem ambos
­experimentados e difundidos através
da língua – órgão ou linguagem. ­ scolas ainda como analfabetos funcio-
e jornais ou escrever ­roteiros, conseguiam
­Educriatividade vem da inclusão entre nais5. Dominar a linguagem decorando de fato apropriar-se do uso da língua.
saber e sabor, informação e vivência. o que era uma “oração subordinada Na educriatividade, sabor e prazer
Quando o aprendizado se separou do substantiva adjetiva nominal” não era são prioritários, assim como o propósi-
sabor, os resultados foram terríveis: exatamente eficaz. Em compensação, to: quanto mais clara está a função da-
­depois de anos, os jovens saíam das se motivados a usar a ­língua para criar quela atividade, melhor será aproveita-
da. Fruir uma obra de arte para ampliar
4 Veja as pesquisas de Monique Deheinzelin a respeito 5 Em www.saresp.fde.sp.gov.br/2011 o leitor encontra
pontos de vista, lapidar a sensibilidade e
em Conhecimento de si, Conhecimento do mundo, Editora resultados da avaliação sistemática que o governo paulista
Hedra Educação, 2012. realiza todos os anos. manejar linguagens. Compreender a
112 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Educação em Tratamento geometria para desenvolver raciocínio Desenvolver capacidades para ser feliz
A educação está passando por uma fase de tra- abstrato – fundamental neste momento O que quer a humanidade (e provavelmente as
tamento. Daqui a alguns meses ela sairá da UTI, em que “lemos” os vários aspectos da outras espécies também se a gente pudesse
totalmente recauchutada. vida por meio de volumes organizados entendê-las...) é felicidade. Então a principal
Na “Escola Nova”, os ensinos público e privado em layers sobrepostos. função das escolas é desenvolver capacidades
se unificarão. As aulas ocorrerão nos quintais Somar sabor e saber, diverso e di- para ser feliz. Por exemplo, com intenso treina-
de aula, e não mais nas salas de aula. Os pro- vertido é impossível sem a combinação mento em humor. Disciplinas como piadas de
fessores serão os gestores do conhecimento, de educação e cultura. Daí, a origem, há louco 1, de papagaio 2, palhaçaria iniciantes
criando matérias chamadas de “Estímulos”, ou avançado...
duas décadas, da palavra educriativida-
nas quais os alunos serão estimulados a escutar, Anônimo, Brasil, 2010.
de. A soma de ferramentas ACESTA -
cozinhar, entre outras coisas, para assim pode-
rem escolher.
combinado arte, ciência, tecnologia e
O professor mais qualificado será aquele que jogo - torna ainda mais instigante o pro-
assistir a dez filmes e não aquele que obtiver cesso e permite que o brincar siga fa- Camada dois : Sensação –
mais títulos. Saídas a campo toda semana! zendo parte de todas as etapas de nossa O que é sentido, faz sentido
A cada mês, será convidado um formador da vida. Basta ir a qualquer Play Ground de Nos últimos anos, estamos atentos a
cultura para falar e brincar com os alunos. Adultos, Baladas com Luderias, ou mes- todo tipo de desperdício e muita coisa
Os cuidados com o corpo farão parte do coti- mo frequentar os Espaços Lúdicos Rela- poderia ser mais simples se não desper-
diano, principalmente com a prática da Yoga, cionais que existem em todo tipo de ins- diçássemos o esclarecedor sentido das
que incentivará os estudantes a se conhecerem tituição ou empresa. As Salas de frases corriqueiras. Atenção na palavra
melhor internamente. Reunião com Camas Elásticas e o Espa- “amável” já explicitaria que é mais ama-
Será inventado o oitavo dia da semana! Um dia
ço de Café com Olhos Vendados têm co- do aquele que é mais gentil. Similar-
especial para experimentação, vivências e in-
laborado para desenvolver novas capa- mente, por muito tempo desperdiçamos
centivo da filosofia.
Adriana Klysis, Camila Margusi,
cidades psicomotoras. uma expressão que foi chave para a mu-
Vitor Haggar, Cristina e Reinaldo Pamponet, dança cultural rumo à sustentabilidade:
Brasil, 2009. “Isso não faz sentido”. É fato. Quanta
coisa não fazia sentido por ser definiti-
vamente insensata? Ou então porque os
sentidos não estavam sendo usados?
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 113

abandonamos o corpo e suas sensações


como se ele fosse algo menor (ah! esta
herança judaico cristã...) e não de uma
sofisticação e perfeição incomparáveis6.
Se não sentimos, não somos capazes de
dar significado às experiências e as in-
formações são estéreis. Qual é o terreno
onde isso pode acontecer? É o corpo,
esta fabulosa maravilha que há séculos
é considerada a vilã da história...
As coisas começaram a “fazer senti-
do” quando os sentidos foram utilizados
de forma melhor. Só por meio deles pu-
demos nos perceber e ao mundo. O sex-
As salas serão muito grandes, com diferentes espaços e
até sofás (espaços de descanso), como numa casa. to sentido só se desenvolveu a partir dos
Ada e Monique, Barcelona, 2009. outros cinco. É no corpo que isso aconte-
ceu, razão pela qual ele foi uma das cha-
Demasiadas coisas prescindiam do uso ves para o salto na direção da sustenta-
dos cinco sentidos no inicio do século bilidade. O corpo é nossa primeira
XXI e talvez, por isso, tanta gente acha- natureza, nosso maior patrimônio, nos- O Livro Visionário, quando aberto oferece um visão
va a vida sem sentido. Ao mesmo tem- so ponto de partida (e talvez de chega- tridimensional, sensorial e interativa. Rafael Reyes e Andres
po, ganhava uma boa dose de otimismo da...). A mudança tinha que acontecer Moreno, República Dominicana, 2009.
só por tomar um chocolate quente, dan- de dentro para fora.
çar uma música gostosa e rir de uma
piada. Só o que é sentido faz sentido. 6 O ser humano é capaz de perceber o cheiro
Por tempo demais, nos dedicamos produzido por um trilionésimo de grama de almíscar! Um
provador de vinho do Porto identificou 500 amostras
ao racional (esquecendo que o caminho
diferentes sem errar nenhuma! (Silva Mello, “Alimentação,
para cabeça passa pelo coração...) e Instinto e Cultura”).
112 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Guardar cheiros rafas. Esta foi a fonte de inspiração dos


Meu futuro desejável é conseguir guardar os sofisticadíssimos Empórios de Experi-
cheiros preciosos. ências de hoje, que existem tanto na
• cheiro de comida de mãe; categoria luxo (embrulhar-se no macio
• perfumes que lembram infância; cashmere de pelo de cabra; cheirar o
• cheiro de depois da chuva; Chanel número 500, edição limitada;
• cheiro de filho quando nasce; ouvir o tilintar de dobrões de ouro res-
• cheiro do nosso amor, que só a gente sabe... “Mundo sentido, muda sentidos”. Grafitti, Morro do
gatados do fundo do mar) quanto na
Shirley Shilikix, São Paulo, 2012. Querosene, São Paulo, Brasil, 2012.
categoria esportes radicais (abraçar
­suados lutadores de sumô; correr na
chuva atrás de um táxi usando salto
O tipo de vida do início do século são Offline eram praticadas em todas as agulha,tamanho 10). Os Tatorantes fo-
conduzia a todo tipo de dessensibiliza- empresas e instituições de ensino. ram o próximo passo, principalmente
ção e anestesia. Só rompemos, de fato, Este foi o momento em que surgi- quando as campanhas contra a obesi-
com o passado quando, no final dos ram os Empórios de Experiências, dade evidenciaram que comer e beber
anos 10, tomamos consciência do grau onde, em vez do ter (consumir), prati- em grupo eram a principal forma de
de anestesia em que estávamos imersos. cávamos o experimentar (fruir) e todo lazer das grandes cidades. Depois da
Os registros dessa época são muito diver- tipo de aroma, textura e experiência gastronomia, foi bem-vinda a Tato­
tidos: houve um retorno a todo tipo de cinética e sinestésica era oferecida. nomia, com o requinte e diversidade
exercício de sensibilização como aqueles Vale recordar a evolução dos empó- de experiências táteis oferecidas aos
dos anos 60 e 70 do século passado. Nos rios: quando nos demos conta de que ­grupos de amigos reunidos.
parques, era comum ver grupos de pes- todas aquelas embalagens não faziam Como contraponto à anestesia, te-
soas de olhos vendados farejando o ca- sentido (!), houve um retorno às ven- mos a sinestesia: vários sentidos funcio-
minho, tateando o vizinho e abraçando das a granel. Consequentemente, à nando juntos. Por meio da sinestesia,
árvores. Foram criados os Playgounds ­delicia de ver e cheirar as caixas de ampliamos os estados de consciência e a
Sensoriais, onde aqueles que mais se di- tempero a granel; mergulhar as mãos percepção, preciosos na passagem civili-
vertiam eram os da terceira (nesta altura em sacos de grão; ouvir o barulhinho zatória que vivenciamos. Antes, apren-
quarta...) idade. Sensibilização e Expres- dos líquidos recarregando nossas gar- díamos pelo condicionamento e mudá-
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 113

vamos forçados pelo sofrimento. Hoje, medo que permeava todo tipo de co-
passamos a aprender e a mudar por es- municação, educação e criação. O êxito Inauguração da Escola
colha e coautoria. Ampliando nosso re- tem sido alcançado pelos evidentes re- Cesto dos Sentidos
pertório de percepção, ampliamos nos- sultados positivos que isso trouxe e que Hoje haverá a inauguração da Escola “Cesto dos
Sentidos”, que tem como missão usar os cinco
so repertório de significados. fazem todo o sentido.
sentidos para fornecer uma educação prazerosa.
Se vida é movimento, criação e ex- Nas atividades ACESTA, são traba-
A escola e seu corpo de educadores (alunos, pro-
pansão, seu oposto é o medo que lhadas entrega, confiança, abertura e fessores, apoiadores, familiares e comunidade)
­promove paralisia, repetição e contra- ousadia no momento da experiência. A estarão reunidos para um grande jogo comunitá-
ção. Evoluímos quando deixamos de te- experiência é um momento de síntese e rio que vai celebrar os sentidos e a memória.
mer, já que o medo é o maior inimigo de inteireza. A análise só acontece nas Práticas como estas estarão presentes no dia a
da criação, das transformações, da coo- etapas seguintes, de reflexão para apro- dia da escola por meio de estímulos aos sentidos,
peração e do coletivo. Os frutos do veitamento do que foi vivenciado. promovendo a integração entre os seres huma-
medo - desconfiança, censura, julga- nos e a natureza da seguinte forma:
mento, inveja, medo do ridículo e de Camada três : Emoção – • Visão: estimular jogos e exercícios de observa-
perder ou errar – impediam os proces- Mudança de Estado ção e contemplação às cores, às formas, às
sos de transformação, pois bloqueavam natureza e aos seres humanos;
Em um capítulo anterior, já nos referi-
• Audição: será exercitada a escuta ao outro e
a experiência, o conhecimento e, por- mos ao “Ser ou estar, eis a questão”,
estimulada a percepção aos sons da natureza
tanto, a compreensão. comentando que se Shakespeare escre-
• Olfato: uso de cheiros e aromas nos ambien-
A tarefa de passar do medo à con- vesse em português, provavelmente se- tes e na natureza visando despertar, estimular
fiança está sendo árdua, afinal, são mi- ria este o enunciado de sua célebre fra- e compartilhar a memória;
lênios de uma cultura que fomenta o se “To be or no to be, that is the • Paladar: estímulo para degustações e trocas
temor e a separatividade. Tão corriquei- question”. Um dos primeiros passos de histórias e memórias com tempo para
ro quanto “passar o antivírus” foi o rumo ao mundo desejável foi a percep- saborear;
“Passar o antimedo”: em qualquer ati- ção da enorme diferença entre “ser” e • Tato: sessões de abraços diários, explorando o
tude ou atividade perguntar-se: “Isso “estar”. Uma característica nossa (gor- toque entre as pessoas no cotidiano.
fortalece a confiança ou dissemina te- dura, depressão, timidez) é uma carac- João Fabio Scabora, Haydée Agostini e Maria
mor? Depois do “deletar”, veio o “des- terística que é ou que está? Guerra é Cecília de Campos, Brasil, 2010.
medar”, o processo de desentranhar o inevitável ou está inevitável?
112 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

DISCERNIR VERDADE
E MENTIRA
O empoderamento das pesso-
as começa nas escolas, a par-
tir do desenvolvimento do
senso crítico e do aprendiza-
do em distinguir o que é ver-
dade ou mentira para cada
um, dependendo do conheci-
mento de si mesmo e da co-
munidade a que pertencem.
Fernando Beda, Valentino Ruy,
Maria Cristina Meirelles,
Margarida Maria A. Prado;
Hellmuth e Israel José Eloy
Ferreira, Brasil, 2008.

Nos Tatorantes é possível degustar todo tipo de


experiência dos cinco sentidos. Angela León, 2012.

A fantasia e a imaginação sugerem tam as possibilidades levantadas. Ado- zamos que as coisas estão e não apenas
como as coisas poderiam estar – propõe tamos mentalidade e hábitos sustentá- são, percebemos que mudanças de es-
processos, revelam potenciais. O conhe- veis quando percebemos que tudo na tado são possíveis e, portanto, podía-
cimento e a experiência mostram como Natureza (e, portanto em nós...) é cícli- mos sair de onde estávamos e passar a
as coisas são – fazem diagnósticos, limi- co e mutante. Quando nos conscienti- um estado de sustentabilidade. Passar
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 113

da paralisia à ação, da ideia à prática, clos. As emoções, ou humores, se por Camada quatro : Pensamento –
do potencial ao realizado, do individual meio de nossas águas internas: secar de Convergência e Analogias
ao coletivo. medo; umedecer de excitação; trans- Note-se que apenas agora chegamos à
Nossa cultura era insustentável bordar de tristeza. Se nos espelharmos camada que corresponde ao pensamen-
também por não perceber que mudan- em variação de estados da água na Na- to. Antes, os processos educacionais co-
ças de estado são possíveis e necessá- tureza, é fácil notar que às vezes esta- meçavam por aqui: conteúdos, informa-
rias. Não diferenciar “ser” do “estar” mos vaporosos e aéreos, em outras fluí- ção e pensar. Hoje, são bastante mais
era fruto da separação entre o Quê, es- mos e nos entregamos ou estamos eficazes, pois desejamos o conhecimen-
tático e ligado ao Ser, e o Como, dinâ- firmes e gelados. No entanto, muitas to, que é trabalhado através de nossas
mico e ligado ao estar. Não por acaso, vezes fazemos tudo ao contrário: so- sensações, mobiliza nossas emoções e,
nos dedicávamos mais a teoria e ao re- mos vaporosos e ambíguos quando de- quando chega ao pensamento, está fir-
sultado (Quê) do que à prática e ao pro- veríamos estar firmes como gelo, ou memente lastreado.
cesso (Como). Porém, conhecer (teoria) gelados quando deveríamos deixar Nossa história anterior foi construí-
as coisas não é a mesma coisa que com- fluir. Simples, mas foi extremamente da a partir de escolhas entre isso OU
preendê-las (teoria + pratica). Saímos eficaz para não estar nuvem em reuni- aquilo: patriarcado OU matriarcado;
do impasse desenvolvendo tecnologias ões de Conselho ou gelo no aniversário ­ciência OU religião; razão OU emoção;
em seu sentido original – techné como de casamento. local OU global; economia OU huma­
arte e habilidade tecnologia. O concei- Outra técnica, adotada e já citada, nismo. Teorias e práticas includentes
to ampliado incluía as tecnologias foi a Ativação de Empatia, um enorme promoveram as transformações efetivas
“hard” e as “soft”, o tangível e o intan- esforço que durou quase duas décadas, que vivenciamos e que permitiram que
gível, a teoria e a prática, o conhecer e mas resultou. Hoje, nenhum processo as diferenças fossem uma solução, não
o experimentar. de aprendizagem ou transformação é um problema.
Desenvolvemos, então, Tecnolo- possível sem embasamento afetivo e Do Ou ao E foi outra Tecnologia
gias Soft Para Facilitar Mudança de Es- emocional. Sabemos que a emoção é Soft, largamente adotada, cuja função
tado. A maioria delas partia do contato quem nos põe em movimento, nos mo- era sobretudo ligada à linguagem: cada
com as emoções. Observar Humores e biliza. Em – moção, em movimento. vez que um Ou aparecia na conversa,
Fluxos é algo praticado desde cedo, a nos perguntávamos: “Será que é mes-
partir da observação da água e seus ci- mo ou poderia ser um E?”. Por exem-
112 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Programa Global de Formação Empatia


Emocional para crianças Incluir nos programas escolares básicos exercícios que ampliam a sensibilidade e refinam a percepção das
crianças a tal ponto que estarão muito mais próximas umas das outras. Por exemplo: se uma criança ma-
em idade escolar
chucar alguém, a dor que infringiu vai passar para ela. Ela se sentirá sensibilizada em relação ao outro, vi-
Na manhã de hoje foi aprovada, oficialmente,
venciando na própria pele a dor alheia.
pelo Ministério da Educação o Programa Global
Com a telepatia, tudo ficará mais fácil. Imagine que mundo seria o nosso se conseguirmos, por meio de
de Formação Emocional para crianças em idade
exercícios de meditação, música, ioga e outros, desenvolver muito mais a sensibilidade das crianças e pes-
escolar, que tem como objetivo colocar as crian-
soas, eliminando as distâncias e as diferenças.
ças em contato com suas emoções e prepará-
Só assim, iremos sentir a comunidade que somos e a interdependência entre todos nós.
-las para que possam identificá-las e aceitá-las.
Érika Mota, Eliane Roemer, Leila Garcia e Ronnie Campos Mello, São Paulo, 2009.
Pretende-se assim, facilitar o desenvolvimento
integral humano em áreas como:
• Meio Ambiente;
• Economia Consciente;
• Relações Sociais; praticantes recebem faixas de acordo as formas de comunicação do passado
• Relação corpo-mente-espírito. com o aprimoramento de sua compe- que, curiosamente, usavam e abusavam
Com isso, se pretende que, pela da educação, os tência. Todas as pessoas praticam con- da palavra “exclusivo” como o máximo
feitos individuais se traduzam em bem-estar vergência, com maior ou menor maes- que alguém poderia almejar.
coletivo. tria. Para atuar como gestor no Os Aplicativos para Tradução Trans
Giselle Barilleau, Andrea Jácome e Verónica MacroModerador (o antigo Estado) é Linguagem foram a versão 2.0 dos tra-
Muria, México, 2010. necessário ser Faixa Preta em Conver- dutores tradicionais. Por exemplo, a pró-
gência. A arte do convergir recursos e pria estrutura deste texto, construído
ideias é a base para cooperação, visão e através da associação entre as funções
ação vinculados ao coletivo. Depois de psicológicas básicas de Jung, os quatro
plo, em “Não sei se toco harpa ou me séculos de uma cultura da exclusão, es- elementos, nossa fisiologia e as etapas
dedico à massagem”, acrescentar o E tamos finalmente pensando e agindo de um processo educriativo. Estes aplica-
resultava em inovação: uma técnica rít- de forma includente7 e, apenas nos Me- tivos nos auxiliam a perceber as seme-
mica e dedilhada de massagear. Assim moriais e Museus, é possível conhecer lhanças que existem entre cada lingua-
como os essenciais Treinamentos Inten- gem ou atividade. Por exemplo: as sete
7 Veja em www.portal.mec.gov.br a política de
sivos em Convergência, nos quais os educação inclusiva do governo brasileiro. cores do arco-íris e as sete notas musicais
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 113

são semelhantes. Então, a “linguagem Com essa prática, ler o mundo fica me- descrevê-lo. O abandono da linguagem
da cor” pode ser traduzida para a lin- nos complicado, o que nos dá mais se- complicada como forma de demonstrar
guagem do “som”. Assim, o biomimetis- guranças para decidir e agir. Esse empo- saber fez com que hoje muitas teses das
mo serviu de orientação: a Natureza está deramento, diretamente proporcional à Pluriversidades sejam best sellers.
repleta de exemplos de semelhanças e descomplicação, foi tão evidente que Como os exercícios de síntese, obti-
sínteses, do espectro de ondas eletro- virou campanha: Descomplicar para ser dos por meio de processos analógicos,
magnéticas ao desenvolvimento de um mais Complexo. Verificou-se que, quan- buscam também o Como corresponden-
feto em que ocorre uma recapitulação to mais complexo um tema, mais sim- te a cada o Quê, a distância entre teoria
da evolução das espécies8. Essa tradução ples deveria ser a forma de abordá-lo e e prática está cada dia menor. Somos
de uma linguagem para outra pode ser
feita em muitos níveis e permitiu a esco-
lha da linguagem mais adequada para
trabalhar um determinado aspecto. Cro-
moterapia, aromaterapia, musicoterapia
passaram a ser de uso corrente não ape-
nas nos espaços de cura como na decora-
ção e na resolução de conflitos.
A função destes exercícios de sínte-
se foi simplificar processos, desenvolver
raciocínio abstrato e preparar os Apren-
dizes de Tradutor do Universo9, aqueles
capazes de estabelecer paralelos, com-
parações, convergências e semelhanças.

8 Lei da Recapitulação Ontofilogenética: “A


Ontogenia recapitula a filogenia“.

9 Esse é o título da tese que resultou da Bolsa de


Pesquisa da Fundação Vitae, 1990-1992, e é daí que vêm as Olhando o espectro das Ondas Magnéticas, fica evidente que aquilo que está ao nosso redor tem semelhança:
associações que inspiraram este capítulo. eletricidade, som, luz, poeira de estrelas têm a mesma natureza, variando o comprimento de onda.
112 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Móbil Paz: Zeppelin


que Cura por meio do belo
Estamos em 2051 e acaba de ser lançado um
Zeppelin para sobrevoar zonas de conflito e
cidades. No corpo do veículo, luminosos com
frases e imagens transformadoras. As luzes,
sons e aromas emitidos pelo Móbil Paz fazem
cromoterapia, aromaterapia e musicoterapia
nas comunidades que sobrevoam, trazendo
bem-estar. Além disso, ele lança nanopétalas
que tocam o lado positivo das pessoas, esti- Semelhanças: a espiral é uma das formas básicas da vida, manifesta no movimento, nas galáxias, ou naquilo que cresce e brota.
mulando generosidade, ética, afeto, solidarie-
dade e criatividade.
Lafayette Álvaro do Amaral Lapa e Tânia Plaper
Tarandach, São Paulo, 2008.
Camada cinco : Intuição – cotovelo? Ela compreende o que sou eu,
A parte e o todo minha cidade, país e planeta?”.10
A sustentabilidade deixou de ser um Nosso organismo é um microcosmo
adjetivo e tornou-se de fato a cultura pelo qual é possível compreender o ma-
que norteia nosso dia a dia quando, me- crocosmo. E compreender, vimos, é fun-
diante as práticas antes descritas, de damental para escolher e agir. Compre-
também minuciosamente preparados uma visão muldimensional 4DxT, de um ender (= conhecer + experimentar) o
para encontrar a linguagem mais ade- cotidiano interdependente e colaborati- Universo é impossível, mas se a parte
quada para lidar com cada assunto, vo finalmente fomos capazes de sentir – contém o todo – como mostram a gené-
aquela que melhor combina forma e e não apenas compreender – o óbvio. tica, os fractais, o princípio holográfico
conteúdo. Reconhecer padrões, perce- Somos Parte de um Todo. Uma criança – compreender a si mesmo é um
ber ritmos, entender ciclos nos prepa- pode se perguntar: “Será que a célula
10 Esta era uma das questões que mais me intrigavam
ram para a próxima etapa. do meu cotovelo, sabe que é célula de em minha infância, digo, minha Potentia.
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 113

c­ aminho. Isso não é apenas uma bela fi- terapia mais eficientes nos atuais hospi- Sonhotecas Pessoais
losofia: é um principio funcional da Na- tais). Além disso, mulheres e homens As Sonhotecas Pessoais permitem recuperar e
tureza, cujas formas e funções se cons- aprenderam a escutar o outro e isso co- conservar os melhores sonhos de cada um.
troem de acordo com padrões que se laborou muito para solucionar a crise de Agora disponíveis também em versão compar-
repetem e assemelham. afetos do inicio do século XXI. tilhável, no idioma universal. Para ter acesso a
A percepção destas semelhanças Houve um boom de todo tipo de elas basta...
­facilita a compreensão e, portanto a es- trabalho artístico para ativar aquilo que Silvina Martinez, Argentina, 2010.
colha e ação. Depois de séculos de ainda estava dormente e potencial den-
­cultura e educação analíticas, final­ tro de boa parte da população. Traba-
mente d ­ esenvolvemos nossa capacidade lho corporal de todos os tipos. Artes
de ­síntese. Construída a partir da busca marciais, Yoga e tudo o que necessitasse Propagação de Habilidades
Foi sancionada a lei que determina que todos
de semelhanças, da parte mais essencial contato com o universo interior. Mitolo-
os indivíduos têm por obrigação compartilhar
e simples, pois aí residem os pontos gias de todas as origens, já que são uma
(ensinando, mostrando, compartilhando) com
de convergência. forma extremamente refinada de en-
cinco pessoas, no mínimo, um conhecimento,
Pensamento sintético tornou-se fun- trar em contato com a linguagem sim- produto de cultura, ou habilidade que possui.
damental na medida em que a vida fica- bólica. Houve uma proliferação de Téc- Isto ocorrerá em centros/comunidades de tec-
va cada vez mais complexa e acelerada. nicas de Registro e Difusão de Sonho, nologia que ocuparão desde centros culturais
Já não era possível coletar dados e anali- assim como de Sonhotecas. urbanos até os antigos edifícios de estaciona-
sar calmamente antes de tomar decisões. mento de carros (que já não existem mais...).
O racional era lento demais. Foi necessá- Nestes centros, todos os recursos tecnológicos
rio desenvolver a intuição, pois só atra- serão disponibilizados para viabilizar essas tro-
Sobre os Espaços cas culturais.
vés dela conseguíamos a agilidade e
abrangência necessária para agir harmô- Educriativos Há também a possibilidade que essa troca de
saberes e habilidades possa acontecer em ho-
nicamente em tempos tão instáveis.
rários ociosos de equipamentos culturais, pro-
Começamos por praticar “escuta”, Educriativo, Educomunicação, Educultu-
movendo também maior visitação.
fundamental quando se é parte de um ral, Edutenimento, Edutecnológico,
Maria Candida Di Pierro e Daniela Vianello,
todo... Houve um retorno das danças de Edusustentável. Os Espaços Educriativos Brasil, 2010.
salão (aliás, esta é uma das formas de (antigas escolas) hoje têm todas as face-
112 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

tas possíveis. Logo no início dos anos 10


ficou claro que “educação ambiental” Escola da Não Violência
não dava conta de todos os aspectos Uma escola de práticas e saberes promotores
que deveriam ser abordados nesta fase do convívio harmônico para todos os grupos
de transição que estávamos vivendo. (de casais a nações!), gerando um mundo sem
Passou-se em seguida a ter a disciplina violência nas convivências.
“Sustentabilidade”. Mais tarde a pensar Essa consciência nasce de uma visão de escola
também em “Sustentabilidade do Siste- em que tudo é negociado, desde como é o es-
paço, a metodologia, até o que será transmiti-
ma Educativo”. Pouco a pouco foi fican-
do. Não há um modelo pré-estabelecido, cada
do evidente que, de forma análoga ao
lugar desenvolve sua forma a partir dos sabe-
ocorrido com os sistemas econômico e
res e fazeres próprios. É possível ter escolas
político, apenas ajustes no modelo anti- que continuem com o modelo atual, ou escolas
go não seriam suficientes. Ajustar não localizadas em parques.
resultava mais: era necessário outro mo- Ana Terra, Vandré Brilhante e Victor Estevão,
delo de Educação. Educação onde sus- São Paulo, 2009.
tentabilidade fosse conceito e pratica.
Fosse o elemento capaz de mudar men-
talidade e hábitos. De ensinar a fazer
escolhas harmônicas e ter noção de suas balhadas nos anos 20. Selecionamos
consequências. De despertar nas pesso- aquelas relacionadas ao “Dar uma mão
as o desejo de mudança e empoderá-las ao Futuro” que constam neste livro e fi-
para isso. E de fazer tudo isso de forma zeram parte de Crie Futuros, um movi-
colaborativa, diversa e divertida. mento do início do século que trabalhou
Claro que este é um tema longo de- temas relativos à transição civilizatória
mais para ser esgotado em tão pouco daquele período.11
espaço. Mas acreditamos que possa ser
Tania Sabaget e Mauricio Sabra, útil compartilhar ao menos uma peque-
São Paulo, 2010.
na parte das habilidades que foram tra- 11 E que estão descritos no Capítulo 1.
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 113

DANDO UMA gível /processual; que há uma equiva- Chegou a hora da


lência entre eles e que é necessário eliminação dos relógios.
MÃOZINHA AO FUTURO identificá-los para verificar se estão em Os horários foram eliminados das escolas. Elas
equilíbrio. se transformaram em espaços de diversão
UM novo “sistema”
BB desenvolver a capacidade de identificar onde se aprende através do jogo. Com as por-
operacional: mudar mentalidades
componentes tangíveis e intangíveis em tas sempre abertas, para que um entre e outro
para mudar hábitos. saia, seja de dia ou de noite. É possível perma-
todo produto ou processo;
Operar a partir da percepção que nosso BB saber diferenciar o estrutural e o proces­ necer o tempo que se desejar. Sem pressões ou
imposições externas.
mundo não é apenas “ambiente”, mas sual; produto e processo; forma e função;
Ana Carolina Ayué e Maria Florencia,
também “sociedade” e que tudo o que ter e usar;
Rosário, Argentina, 2010.
nele existe tem uma relação de BB ser conector, “modem”, integrando e
interdependência. articulando linguagens e áreas.
BB ser capaz de sentir interdependência QUATRO dimensões
como vivência e não mero conceito; TRÊS fases do tempo: da sustentabilidade nos
BB desenvolver a noção de pertencimento e passado, presente e futuro processos e valores
sentir-se conectado; Enxergar os processos no tempo, com- Atuar considerando as várias formas de
BB desenvolver o pensamento sistêmico e preendendo que tudo o que existe no riqueza, e, portanto da sustentabilida-
sintético; presente é fruto do passado e determi- de, considerando resultados e patrimô-
BB buscar os princípios funcionais comuns na o que acontecerá no futuro. nios no social, ambiental, econômico e
ao Universo (macrocosmo ) e ao nosso uni­ BB compreender o valor e ser capaz de gerir cultural.
verso (microcosmo). e fruir o tempo; BB ser capaz de perceber as dimensões
BB localizar-se no tempo: compreender social, cultural, ambiental e econômica em
DUAS coordenadas equivalentes: o passado, viver o presente, enxergar o todos os aspectos da vida;
tangível/estrutural e futuro; BB ser capaz de reconhecer recursos e
intangível/ processual BB compreender a natureza cíclica dos valor nestas quatro dimensões da
Operar através da percepção que todo processos. sustentabilidade;
produto ou processo tem sempre um as- BB orientar escolhas em função do equilí­
pecto tangível / estrutural e outro intan- brio entre as quatro dimensões.
112 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

CINCO “comos” da sustentabilidade: Servidor Educacional


cuidar, confiança, potências, fluxo Com o intuito de criar uma rede qualitativa entre as escolas, onde não se avalia mais por notas, mas sim
e colaborativo. pelo intangível, agora as provas de fim de ano estão baseadas em três questões essenciais:
• O que vocês acharam da Escola nesse ano?
Para cada “O quê”, garantir que exista
• O que vocês aprenderam?
um “Como”, evitando teorias distantes
• O que vocês acham que poderíamos fazer para melhorar?
da prática. A partir daí pode-se estabelecer parâmetros
BB priorizar o “cuidar” como propósito; para melhor a qualidade do ensino e o envol-
BB ter a confiança como premissa; vimento do aluno, uma educação com menos
BB reconhecer, aproveitar e recombinar hierarquias e programas.
as potências existentes; Marcio Ferreira de Araújo,
BB promover equilíbrio de fluxos São Paulo, 2010.
quadrimensionais 4DxT;
BB criar ambientes e relações
colaborativos.

A escola terá uma piscina, coberta no inverno e descoberta no verão. Toda cercada de chaminés
com tubos com ar quente para nos enxugar. Adriá e Marcos, Barcelona, 2009.
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 135

EducaCão e Futuro mente só poderão ser destiladas em soluções se formos capazes de nos
orientar para o futuro.
Rosa Alegria, São Paulo, Brasil, 2012.
Vice-Presidente do NEF, Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP;
Novas realidades cognitivas - Estudos revelam que a exposição constante
Diretora do Nodo Brasileiro do Projeto Millennium.
a estímulos digitais, como games, equipamentos móveis, sobreposição de ima-
gens, pode mudar o cérebro e a maneira como ele percebe as coisas e proces-
“Os analfabetos do futuro não serão aqueles que não sabem ler ou escrever,
sa a informação.
mas aqueles que não sabem aprender, desaprender, e reaprender.”
Alvin Toffler Aprender a desaprender - A vez do especialista consagrado pela era indus-
trial está chegando ao fim. A era do conhecimento requer perfis latitudinais,
É nas escolas que as novas gerações, poderão aprender a criar o futuro multifuncionais, policompetentes.
que desejam. Afinal, só temos aprendido o passado. Que tal aprender-
mos também o futuro? A escola que vem de dentro - Sobre a interioridade, nenhuma escola trata.
Como se estivéssemos vivendo apenas um lado da realidade e jogando fora
Olhando para trás e percorrendo os últimos vinte e cinco anos num ­flashback todo o potencial criativo. Afinal de contas, somos completos. A única espécie
imaginativo, dá para ter ideia da magnitude das mudanças que hoje vive- com capacidade de enfrentar o mundo exterior (horizonte das mudanças)
mos e que irão continuar mais rápido daqui em diante. Não tínhamos a e o mundo interior (horizonte mental da imaginação).
AIDS, os transgênicos, telefones celulares, internet. A ovelha Dolly, o ataque
às torres gêmeas e a invasão Wikileaks seriam fruto de imaginações deli­ Estudo do Projeto Millennium − Futuros Possíveis para a Educação e
rantes. Se as tendências atuais seguirem sua aceleração, este século irá Aprendizagem 2030
­assistir a mudanças tecnológicas numa escala 80 vezes maior do que no
­século 20. Diante deste novo mundo, o que as escolas e os centros de O Ministério da Educação e Desenvolvimento de Recursos Humanos da Coreia
­aprendizagem podem fazer para que o choque do futuro que o Alvin Toffler do Sul pediu à rede de pesquisadores do Projeto Millennium, rede internacional
profetizou nos anos 80 não seja tão intenso? Como podemos tirar proveito de pesquisadores futuristas da qual faço parte, uma avaliação de possibilidades
dessas mudanças? futuras no campo da educação e aprendizagem para o ano 2030. O que pode-
mos fazer hoje para tirar proveito dessas novas possibilidades? Já que novas
Estudar para o futuro - Um dos aspectos que definem uma sociedade é ideias podem levar a caminhos inusitados, é prudente perguntar o que de nega-
sua atitude em relação ao tempo. As nossas escolas preparam pessoas para tivo e de positivo poderia delas surgir? Estas são algumas das possibilidades
o que virá? Certamente não. As mudanças pelas quais passamos constante- voltadas ao mundo high-tech para a educação em 2030:
136 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

• Programas para melhorar a inteligência coletiva. • Sistemas integrados de aprendizagem ao longo da vida.

• Conhecimento e aprendizagem just-in-time. • Programas que visam à eliminação dos preconceitos e ódio.

• Educação individualizada. • E-teaching: sistemas eletrônicos de inteligência para professores.

• Uso de simulações. • Computadores com inteligência extra-humana.

• Micróbios artificiais para aumentar a inteligência.


• Avaliação contínua dos processos de aprendizagem individual para preve-
nir instabilidade emocional e doenças mentais.
• O ensino da moral e a aplicação de novas métricas (inteligência emocional
• Nutrição individualizada para melhor desenvolvimento cognitivo. e inteligência espiritual).

• Inteligência geneticamente aumentada.


• O cérebro global: o desenvolvimento de um conhecimento coletivo a ca-
• Uso de simulações globais on-line como ferramentas de pesquisa social. minho da formação de um cérebro global e de novos estágios da consci-
ência humana.
• Utilização de comunicações públicas para ajudar na busca do
• Estudos inter-religiosos e interculturais.
conhecimento.
• O uso crescente de jogos, incluindo jogos on-line para o aprendizado.
• Dispositivos de inteligência artificial portáteis.
• Unidades modulares de conhecimento: ferramentas de gestão para que
• Mapeamento completo das sinapses humanas para mapear os processos
cada aluno possa baixar o que precisa.
de aprendizagem.
Provavelmente não estarão implantados em 2030 devido a questões de custo,
• Mecanismos para manter cérebros adultos saudáveis por períodos mais
interesses políticos e, principalmente, ao medo das instituições vigentes de per-
longos.Química para o aprimoramento do cérebro.
derem o poder instalado, diante das novas capacidades educacionais. Todos
esses futuros possíveis servem como sinalizadores de caminhos estratégicos
• Web 17.0 – integração de dados, análises, discussões, fóruns numa estru-
que levem a um novo sistema de ensino e aprendizagem. São pressupostos de
tura organizada e semântica. A Web Semântica que utiliza realidade virtu-
uma economia sustentável, que só poderá ser realidade mediante a formação
al e contém um subsistema inteligente.
de novas lideranças que nasçam de um novo sistema de educação.
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 135

Para fazer do mundo que temos no conteúdo e na estética dos meios de comunicação de massa, mas também
o mundo que queremos ampliar horizontes, quebrar preconceitos, reduzir as diferenças. Isto porque,
apesar de vivermos na era midiática, do conhecimento e da informação, em
Maria Arlete Gonçalves, Rio de Janeiro, Brasil, 2008. que somos inundados pelo noticiário do que ocorre no mundo em tempo real,
Jornalista, Diretora de Cultura do Oi Futuro. as imagens e os relatos que recebemos ainda estão nas mãos de pequenos
grupos formados pelas grandes corporações. O imenso mundo dos pobres,
As tecnologias de comunicações são os chamados eliminadores do tempo dos desassistidos, dos desvalidos só nos é mostrado pela óptica dos que domi-
e do espaço previsto pelos antigos vedas, aproximando pessoas e reduzindo nam os meios de comunicação.
distâncias geográficas. Com elas é possível trabalhar para a aproximação
dos diferentes, para a redução das distâncias sociais. Trabalhar com e para A responsabilidade social empresarial será cada vez maior no futuro. A ética
a juventude, que são os herdeiros deste mundo que nós também herdamos e nos negócios; a transparência; o comprometimento com o meio ambiente
que temos como missão passar adiante de forma mais positiva, construtiva, e com o desenvolvimento sustentável; o investimento social privado; ações
equilibrada, justa, saudável. Um mundo que dá claros sinais de que é preciso sociais em que coloquem seu conhecimento e tecnologias a serviço da comu-
ser repensado, reinventado, reciclado, compartilhado. Um mundo que busca, nidade de onde extraem riqueza serão condições fundamentais à sobrevivên-
cada vez mais, a humanidade. Para isso, utilizar a imaginação que cria e a tec- cia das empresas, quando os consumidores serão cada vez mais conscientes e
nologia que alavanca, que faz acontecer. menos vorazes. A contribuição cidadã será atributo de marca e grande diferen-
cial na hora da compra. Poder, sucesso, sedução e status deixarão de ser argu-
Futuro desejável é aquele que criamos a cada dia, pensando nos tataranetos. mentos para venda e darão lugar à reciclagem, ao reaproveitamento, à troca,
Futuro em que haverá mais igualdade de oportunidade para os que fazem par- ao respeito e à responsabilidade. As empresas estimularão de forma consis-
te das periferias sociais. A chamada juventude popular urbana, hoje considera- tente o voluntariado entre seus funcionários. Vejo a criação de uma Licença
da ou vítima ou algoz da sociedade, terá acesso cada vez maior às tecnologias para Causa Social, em que as empresas disponibilizarão tempo e remune­
e linguagens contemporâneas e estará capacitada para, ela mesma, ao invés ração para que os funcionários realizem projetos que contribuam para o
de ser retratada, passar a retratar de forma competente a sua visão de mundo, ­desenvolvimento humano.
a realidade das comunidades onde vive e, com isso, alterar o ambiente ao seu
redor. No mundo que desejamos, a juventude terá voz e vez: será protagonista. Para um futuro desejável, vejo um Museu de Valores da Humanidade, que mos-
Afinal, o futuro pertence aos jovens. trará para as futuras gerações exemplos das riquezas de pensamento e condu-
ta humanas, para que estas não se percam no tempo. Valores como generosida-
Acreditamos que a democratização de acesso à cultura, a construção da cida- de, honestidade, ética, amor, solidariedade, palavra, confiança e tudo aquilo
dania e as novas tecnologias vão operar mudanças significativas não apenas que pode garantir humanidade ao homem do futuro. Criar um museu para pre-
136 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

servar, guardar e divulgar valores da humanidade, pois muitos deles estão


em acelerado processo de extinção, como a Honra, a Fé, os Princípios, a Palavra
(no sentido do comprometimento), o Heroísmo etc.

Neste belíssimo exercício que é a Criação do Futuro, me ocorrem algumas


outras para o banco de ideias do amanhã. Por exemplo: Espaço LEV (Lugar de
Experimentação do Vazio) para desintoxicar as pessoas do excesso de infor-
mação a que são diariamente submetidas. Seu slogan: “Deletar para deleitar”.

Na mesma linha, sugiro o LDC – Lugar de Desaceleração do Consumo. No futu-


ro breve, em que haverá maior consciência do ser, e não do ter, existirão unida-
des de reeducação para a vida sustentável, que ensinarão as pessoas a enten-
derem e se libertarem do incontrolável e insaciável desejo de comprar,
e aprenderem novas maneiras de viver melhor com menos.

Licença paixão – as empresas darão licenças aos colaboradores que estejam


em estado de apaixonamento, ou seja, temporariamente incapacitados para
atividades que exijam concentração, foco, reflexão e produção. Com isso,
as empresas colaborarão também para que se mantenha o nível de enamora-
mento, sem o qual o mundo ficaria muito mais triste e sem graça.

O céu é o limite, quando se trata de imaginar um mundo melhor. Será


que tudo isso é fantasia, sonho? Que tal, no futuro, vê-los realizados?
É só começar.

Museo de valores da humanidde.


Katheryn Cabrera, República Dominicana, 2009.
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 113

Concurso Crie Futuros de HQ. Alexandre Szolnoky, Brasil, 2011.


112 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Concurso Crie Futuros de HQ. Alexandre Szolnoky, Brasil, 2011.


TAGS: aprendizagem
TAGS:- ciclos
afeto – competências
amor – auto conhecimento
– conhecimento – autonomia
– –
convergência – criatividade
ciclos – conexão
– diversidade
– convergência
- educação
– criatividade
– emoção––
escola – expressão
cronófago
- fases –dacultura
vida - –fisiologia
direitos fundamentais
da web - intuição
– escolha
-
linguagem - pensamento
– família – –fluxos
pulsão – gaia
- sensação
– interdependência
– síntese – tecnologia
– medo
– qualitativo – meio e fim – padrões – regulação – sinapses

67 aprender, Criar,
ser, relacionar, conectar
comunicar

“O otimismo é uma estratégia para fazer um futuro melhor. Porque


a menos que você acredita que o futuro pode ser melhor, é improvável
que você assuma a responsabilidade de faze-lo assim.”
“Frase”
Noam Chomsky
Autor
142 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Adão Itusgarrai, 2009.

CURIOSIDADES DA Para dar uma pequena amostra, f­ísica ou racial deixaram de existir há
elencamos alguns inventos e processos tempos, já que hoje o tipo de embala-
DÉCADA DE QUARENTA interessantes. A questão da moda, por gem dos seres humanos importa pouco.
exemplo, mudou muito. Os experimen- Acreditamos que houve, aí, uma contri-
O querido leitor que nos acompanhou tos recentes com Teletransporte Color buição dos Memoriais das Barbarida-
até aqui deve estar curioso acerca de Change permitiram opções no rearran- des do Presente e dos Simuladores de
detalhes sobre as comunicações, o de- jo atômico pós-desintegração. É possí- Futuro. Pudemos assistir a médicos per-
sign, a moda e as artes em nossa época. vel escolher, por exemplo, o tom de plexos examinando senhorinhas encur-
Este é um tema tão vasto que será tra- pele (violeta tem sido um sucesso) ou o vadas, mas com seios e nádegas saltan-
tado no próximo volume, no qual tipo de cabelo (fim dos alisamentos!). do das preguinhas da pele como se
­abordaremos a maneira como a cultura, Em breve, poderemos escolher nossos fossem bolas de futebol. Talvez o de-
a comunicação e suas ferramentas cola- tons de pele na escala Pantone. Aliás, créscimo de interesse por automóveis
boraram para a transição que vivemos cabe ressaltar que as políticas de cotas tenha alterado também a relação com
nos úl­timos anos. ou quaisquer outras ligadas à forma os corpos, não mais um chassi que vai
143

para a funilaria preparando-se para ser Os Créditos pagos alimentaram uma


mais cobiçado. forte produção independente. Logo,
As Mochilas Voadoras tão sonhadas desapareceram as sexys apresentadoras
hoje existem e nos transportam, mas po- que moldavam o público infantil com
demos também usar Roupas Voadoras. seu jeito de ser, vestir e atuar e uma
Num belo equilíbrio tangível/intangível, curiosa consequência foi a diminuição
à invenção do Colírio Para Miopia Dos da gravidez juvenil.
Olhos, seguiu-se o Colírio Para Miopias O crescente reconhecimento da di-
Do Olhar, ampliando a capacidade de versidade como marca de tempos mais
ver também com a alma. sustentáveis e harmônicos levou inclusi-
Logo após a Rio+20, foram criados ve à formulação dos Direitos Fundamen- Caio Castello (à esq.) e Sarah (à dir.),
outros créditos compensatórios, as pri- tais Diversos: não bastava ter apenas di- FILE, Rio de Janeiro, 2011.
meiras tentativas de regular fluxos em reito à educação, moradia ou saúde
dimensões 4DxT. Créditos de Temor, pa- massificada. Passamos a ter Direito à
gos por atividades que geravam medo Moradia Diversa; Direito à Saúde Diver-
e corroíam confiança. Créditos de sa; e à diversidade na Educação, Família,
­Consumo de Tempo, pagos por ativida- Trabalho, Cidadania e todas as outras
des cronófagas1 que desperdiçavam áreas da vida cotidiana.
­excessivas quantidades de excedente Mudanças muito grandes ocorre-
cognitivo das pessoas. ram no plano das relações amorosas,
Os Créditos de Diversidade foram seja com a nova profissão de Desentupi-
os primeiros e logo tiveram forte im- dor de Tesão, terapeuta para aqueles
pacto sobre a produção audiovisual. No casos em que ninguém tomava a inicia-
início do século, era comum que uma tiva, seja com a reformulação do Minis-
mesma obra ocupasse a maioria das sa- tério das Relações Exteriores, que pas-
las de exibição, lesando a diversidade. sou a dedicar-se aos cada vez mais
frequentes casos de amores distantes.
1 Que consomem tempo: Crono - Tempo;
Nos anos dez, vimos uma multiplicação Frank R.Paul, 1928.
Fagos - comer
144

Desmassificação de gostos
Irá ocorrer uma intensa desmassificação de
gostos e preferências. Esse processo se iniciará
a partir da democratização dos meios de co-
municação, da valorização e proteção dos pro-
dutos culturais e da liberdade de expressão.
Será criado o “Dia Mundial Das Pequenas Pro-
duções Culturais”, no qual todos os bairros se
organizam para fazer deste um grande e im-
portante evento de integração.
Carlos Eduardo, Leandro, Taís, Olindo e Antônio,
São Paulo, 2010.

de idade x conta bancária de um dos pa-


Carlos Dala Stela, res”. “Coeficiente de equilíbrio do dar e
Brasil, 2011. receber”. Ou mesmo algumas mais sim-
ples: “O quê esta relação provocou? Res-
de opções sexuais,­chegando a um total fato de os gêneros estarem se relacio- tringiu? Expandiu? Diversificou? Cuidou?
de quinze2, sem contar as preferências nando melhor. Fez sentir-se mais confiante?”. O fato é
mais bizarras. As constituições familiares Elementos que causaram muita ce- que algumas disparidades vieram à tona.
acompanharam esta diversidade, ainda leuma e desconforto, mas tiveram inegá- Por exemplo, a quantidade de defenso-
mais graças à fertilização in vitro e vel eficácia foram a Pegada Afetiva e o res da sustentabilidade que eram verda-
­outros que tais. Nos anos vinte, tanta Índice de Sustentabilidade de Relações deiros consumidores de pessoas, com
­experimentação causou um retorno a Amorosas (ISRA). Realmente, as ques- ISRA baixíssimos e Pegada Afetiva Nega-
padrões mais corriqueiros, também pelo tões eram por vezes de uma crueza tiva. Felizmente, esta fase ficou para trás.
­matemática. “Coeficiente de variação de No início dos anos 10, ficou evidente que
2 Hetero; bi; travestido; travesti- bi; transexual;
parceiros x quantidade anual de infelici- estávamos vivendo um momento de
transexual - bi; celibatário e isso vezes 2 (cada um dos
gêneros) e mais os hermafroditas! dade gerada”. “Coeficiente de diferença ­Liberação Sexual e Repressão do Afeto.
S E R, RE L A CI O N A R, CO N E CTA R 145

Houve, então, um intenso trabalho de tão, que o gênero Homo teria surgido a oitocentos mil anos do exíguo centíme-
Liberação do Afeto e Sofisticação do um centímetro do último andar! Somos tro citado em um ano. Constatamos,
Sexo. Aqui, como em outras áreas da muito, muito recentes na história da então,­que avançamos muito lentamente
vida, nos dedicamos a lutar contra a ba- evolução da vida e, no entanto, temos até o que corresponderia aos 10 de de-
nalização em todas as suas formas e pas- uma extraordinária capacidade de mu- zembro deste ano fictício. Neste dia co-
samos da quantidade à qualidade. dar o mundo ao nosso redor. Por quê? O meçaria a comunicação com linguagem,
Afetos e relações amorosas profun- que nos dá essa capacidade? e a partir daí a história se acelera. O dia
das e entregues têm um potencial sensi- Isso se evidencia em outro paralelo, 24 corresponde à Revolução do Paleolíti-
bilizador extraordinário. A ele se combi- no qual transformamos os um milhão e co Superior, com as pinturas nas caver-
naram todas as outras mudanças que
estavam em curso, principalmente nos
processos de aprendizagem e comunica-
ção. A história da Humanidade, que já
tem um ritmo vertiginosamente crescen-
te, acelerou mais ainda.

Nossa história em
um ano e um dia

Para ter um comparativo de tempo,


­podemos colocar a história da vida, com
seus quatro bilhões de anos3, ao longo
de um edifício de mais de cem andares e
400 metros de altura. Verificamos, en-
3 Peter Russel, em O Buraco Branco no Tempo,
disponível em vídeo e livro.
146 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

­ normemente. Especialmente quando


e Gaia, a Terra
potencializado por ferramentas como a
imprensa ou as TICs. Cultura, Criativida- como ser vivo
de e Comunicação são a Nossa Nature-
za. Canguru pula, alga faz fotossíntese, Em meados do século XX o homem pi-
ser humano cria. No final dos anos 10, sou na Lua. E pela primeira vez tivemos
passou a ser mais largamente adotada a a visão completa da Terra, linda e azul
hipótese de que criatividade, conheci- deslocando-se a 107 mil quilômetros
mento, cultura – os nossos tão falados por hora pelo espaço. Essa imagem de
intangíveis – são a característica que nos fato valeu mais que mil palavras e mu-
define como seres biológicos. Somos dou o mundo, pois ver a Terra de longe
Cultura e Criatividade e, com elas, trans- nos deu a perspectiva de que somos um
Angela León, 2012. formamos o nosso entorno. Evidente- só. A responsabilidade e o sentimento
mente, há outros animais que possuem de unidade resultaram no avanço da
linguagem ou cultura, mas nós temos consciência ecológica. E na mesma épo-
nas, início da linguagem e trocas simbóli- possibilidade de jogar com elas, inter- ca surge a Teoria de Gaia, proposta pelo
cas. Toda a história que conhecemos está cambiar, traduzir, remixar, relacionar. E cientista James Lovelock4 e depois am-
no último dia deste um ano, que equiva- tudo isso somado ao livro-arbítrio. Vem pliada por outros, como a laureada com
le a um centímetro! O nascimento de daí o enorme potencial transformador o Prêmio Nobel Lynn Margulis.
Cristo seria às 14 horas, os Descobrimen- que fez com que, em tão pouco tempo O nome Gaia é uma homenagem à
tos e a Imprensa, às 21h30; a Revolução de existência no planeta, fossemos capa- deusa mãe primordial da mitologia gre-
Industrial, às 23h00 e tudo aquilo que zes de promover tanta transformação. ga, e nesta hipótese a Terra é um ser
hoje é nossa vida a apenas alguns minu- Para quê? Esta era pergunta, afinal, vivo, pois sua biosfera tem a capacidade
tos antes da meia-noite deste dia 31... conhecer o propósito de cada coisa é de gerar, manter e regular as condições
Essa analogia deixa claro que, a uma das premissas da nossa sustentabili- de seu meio ambiente. Nas últimas déca-
partir do momento em que começamos dade. Teríamos nós alguma função espe- das esta hipótese teve maior aceitação,
a nos comunicar e trocar símbolos, cífica dentro do ecossistema socioam-
enfim a ser culturais, tudo se acelera biental do planeta Terra? 4 http://www.jameslovelock.org/
S E R, RE L A CI O N A R, CO N E CTA R 147

Gravura medieval alquímica. cação em tempo real ao redor do plane- Sentir-se parte de um todo, conec-
Johannes Fabricius. ta. E no momento em que, há pouco tados, curou um dos grandes males que
mais de uma de uma década, assumi- afligia a humanidade e que no passado
mos a hipótese de Gaia nós compreen- causou tanto medo, dor e as guerras e o
demos nossa função como humanidade. fanatismo deles derivados. Finalmente
na medida em Na evolução dos seres vivos o sistema nos sentimos pertencentes, acolhidos. E
que o estudo e as nervoso é uma das últimas coisas a se quando a carência primordial foi sanada
práticas da inter- formar. Somos o Sistema Nervoso de abriu-se o caminho para uma autono-
dependência deixa- Gaia. Por isso temos esta capacidade de mia verdadeira.
ram mais evidentes transformar tudo tão rápido. Por isso O impulso para a mudança estava
as interconexões entre cultura, criatividade e conhecimento lá, havia um propósito: ser um bom sis-
tudo o que é vivo. Uma são a nossa Natureza. tema nervoso, capaz de sentir com a
criança descreveu: “É como se tudo fos- Essa percepção teve um impacto maior acuidade possível o que acontecia
se uma piscina e nesta piscina tem uns maior do que a queda de um meteoro
pedacinhos mais duros, de gelatina, que gigante. A Terra é um ser vivo e nós so-
são as coisas vivas. Quando a água da mos seu sistema nervoso. Que responsa-
piscina mexe, mexe tudo. Cada gelatini- bilidade, e que oportunidade! Muita coi-
nha que mexe, mexe tudo. Todo mundo sa se esclareceu a partir daí e nos deu
sente o que todo mundo faz. Todo mun- elementos para que, em tão pouco tem-
do sente o que todo mundo sente.” po, conseguíssemos mudar tanto. Se so-
Pois foi isso que aconteceu. Senti- mos neurônios, necessitamos nos conec-
mos. E tudo que é sentido, faz sentido. tar e trabalhar integrados; as sinapses
Quando sentimos, nos afetamos, e a hi- são feitas por meio das TICS; a circulação
pótese de Gaia se confirmou. Pudemos de informações e conhecimento permite
sentir porque estávamos todos conecta- sentir e conhecer Gaia e seus processos.
dos pela web, sistemas de comunicação, Repare que aqui estão os três pilares infi-
GPS, satélites, telefones móveis criando nitos que estruturam nosso livro: intangí-
Sistema Nervoso
uma camada de informação e comuni- veis + tecnologias digitais + colaboração. de Gaia. Angela León, 2012.
148 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

com Gaia e todas as suas criaturas. busca é aquele com maior número de
­Precisávamos conhecer os ciclos, favore- views. Com nossa memória algo similar
cer os fluxos, compreender o tempo, cir- acontece: lembramo-nos das coisas às
cular informação. Afetar-se. quais está associado um número maior
Isso só seria possível se conseguísse- de referências. E o mesmo processo se
mos ir além de nossa cultura, transcen- repete na Natureza: quanto mais algu-
dê-la. Pode um sistema nervoso ter neu- ma coisa se repete, maior sua probabili-
rônios que se recusam a “sinapsar” com dade de permanência. O biólogo Rubert
outros, por qualquer motivo que seja? Sheldrake5 levantou a hipótese da Cau-
Ou ter neurônios famélicos e neurônios sação Formativa, segundo a qual a Na-
obesos? Era necessário romper padrões, tureza opera por “hábito”, e cada ele-
não mais cair nos mesmos hábitos e mento da Natureza contribui para uma
mentalidades que haviam gerado um espécie de memória coletiva, os Campos
mundo insustentável. Como mudar nos- de Ressonância Mórfica, que funcionam
sas mentalidades e hábitos? como matrizes. Simplificando muito,
isso quer dizer que quanto mais vezes
uma maçã nascer vermelha e redonda,
Transcendendo maior a probabilidade que maçãs sejam
vermelhas e redondas. O hábito e a re-
a cultura petição moldam a evolução.
Convergimos então, pessoas e suas
A Convergência de Disciplinas havia re- linguagens, usando todas as tecnologias
velado o enorme poder do hábito e da – hard e soft – para escapar das amarras
repetição. Essa revelação se explicitou de nossa cultura, para nos desprogramar,
com as ferramentas de busca, como o criar outras sensibilidades e olhares. Al-
antigo Google, que priorizam o acesso gumas mudanças podem acontecer por
àquilo que acontece maior número de
5 Morphic Ressonace, The Nature of Formative
Jaime Prades, Brasil, 2012. vezes: o vídeo que aparece primeiro na Causation, edição de 2009.
S E R, RE L A CI O N A R, CO N E CTA R 149

grifes para quê, se tudo foi falsificado e na insatisfação com sua vida ou com
resultou tanto em banalização quanto aquilo que possuíam.
em acessibilidade? Há pouca distinção O primeiro Renascimento veio
entre o jeans do milionário ou do came- quando nos unimos geograficamente,
lô. O que tem valor é de outra natureza. momento de conhecimento exterior;
Afeto, aprendizado, vivências, cria- conquista do espaço; sociedade e econo-
Lucas Buarque,
FILE, 2011.
ção, cuidado, são o fim. O resto é meio. mia voltadas para bens e processos tan-
Buscamos o conforto por dentro. Confor- gíveis. O segundo Renascimento veio do
ajuste, como uma fruta que amadurece. to da alma plena e consciência tranquila. conhecimento interior, da conquista do
Outras só por mudanças de estado, como Abundância do coração cheio de afetos, Tempo e da qualidade, compreensão,
as fases da borboleta. Foi preciso promo- da pele satisfeita por toques suaves e da profundidade de vínculos que ele permi-
ver mudança de estado e sair da fase la- mente plena de lembranças intensas. Os te. De uma nova economia e sociedade
garta, consumista e rasteira. Mudar men- novos e múltiplos valores, métricas e in- construídas a partir da centralidade dos
talidades e hábitos para desprogramar a dicadores 4DxT que havíamos desenvol- intangíveis e da convergência entre áre-
repetição. Antes, aprendíamos pela dor e vido nos auxiliaram a sentir que aquilo as e setores que ela exige.
pelo erro. Agora, por escolha e prazer. que vale são as relações, pois é com elas
Começamos por deixar para trás a que nos aprimoramos e evoluímos.
ênfase no tangível, e ficou claramente Antes, o que era notável era a vida Ciclos, fluxos,
evidente que o dinheiro – em todas as da nobreza ou das celebridades. Hoje,
suas formas – era meio, e não fim. É inte- sabemos que nada é tão surpreendente regulação
ressante observar que bilionários já não quanto a vida cotidiana e nenhuma fic-
existem mais e são poucos os que hoje ção chega aos pés do que ela oferece. As Quando nos “sinapsamos” e consegui-
querem dedicar-se à desgastante ativi- pessoas deixaram de permitir que seu mos sentir Gaia, fomos capazes de per-
dade de ser milionário. Muito esforço e desejo, vontade e boa fé fossem seques- ceber fluxos e ciclos, nas várias dimen-
pouco resultado, já que não se leva bens trados pela mídia. Os veículos pararam sões 4DxT, e, portanto, de regulá-los.
para o pós-morte e os descendentes, ge- de mostrar corpos, pessoas e situações Percebemos que na Natureza, em nós,
ralmente mal preparados, dilapidam ra- fabricados e irreais que faziam com que nos processos, tudo acontece por pulsa-
pidamente as fortunas herdadas. Possuir tanta gente perdesse potência e alegria ções, alternância de fases de expansão e
150 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Profissão: Homem Prisma Escuta


Contra a visão travada é preciso novas pers- No futuro, as pessoas conseguirão ouvir umas
pectivas sobre a mesma coisa. O Homem Pris- as outras, numa escuta ativa, viva. Estarão ha-
ma, por meio de seu cinto de utilidades, que bilitadas a entrar no pensamento do outro, e
conta com cheiros e outras ferramentas lúdicas, não se preocupar tanto com suas próprias
ajuda pessoas a se destravarem e as faz enxer- ideias já formadas. A criatividade não floresce
gar outras visões que fogem de seu alcance, li- com aquilo que já se sabe. Vamos navegar
berando os diferentes prismas que cada um rumo ao desconhecido!
carrega dentro de si. Rita Mendonça, São Paulo, 2009. Gabriella Vallu, FILE
Mario e Alberto, São Paulo, 2010. Rio de Janeiro, 2011.

O presente que mudou o mundo


Hoje, todos os habitantes do mundo acorda- contração. Agora escolhemos e, de acor- Percebendo ciclos desenvolvemos
ram com um presente ao lado. Era uma dose do com o contexto, oscilamos de forma melhor nossa intuição e consequente to-
farta e generosa de bom humor. Todos, sem mais consciente e harmônica entre os mada de decisão mais rápida e de acordo
exceção, foram contagiados e esse dia mudou modelos Concentrado/Mono e Descen- com o bem comum e o bom senso. Fo-
a história da humanidade. Reciclamos rancores, tralizado/Pluri. O Centralizado já não se mos capazes de perceber ciclos e o tem-
preconceitos, preocupações, temores, sofrimen-
chama mais Dominador6, pois já não nos po de cada coisa. Tempo necessário para
tos, impedimentos. Tudo foi transformado em
interessamos pelo Poder em si. Interes- si e para o outro, respeitando os ritmos
leveza. E, à medida que o bom humor era re-
partido, o mundo foi ficando melhor. Enlaça-
sam-nos o poder fazer e o poder ser. O de cada um. Isso mudou as relações pes-
mos as mãos. Somamos talentos. Encontramos mito da lei do mais forte foi derrubado. soais, profissionais, políticas e, evidente-
soluções e fizemos o que precisava ser feito A Natureza é colaborativa, cíclica, flexí- mente, também os processos de aprendi-
para viver plenamente. Hoje esse dia é celebra- vel, mutante, interdependente. Nós zagem e de produção. Não sofremos
do como o Dia da Graça, do Riso e da Alegria. também, afinal somos natureza... mais quando estamos em fase “inverno”,
Monica Cristina, Brasil, 2009. aparentemente estéril, mas onde tudo
6 Como proposto pela anteriormente citada Rianne
Eisler em O Cálice e a Espada. está latente e germinando. Não deseja-
S E R, RE L A CI O N A R, CO N E CTA R 151

mos mais frutificar sem parar. Sabemos mentaram a possibilidade de, finalmen- não há nada a perder ou temer, pois ge-
que na Natureza nada cresce para sem- te, estabelecer laços de confiança. ralmente o fracasso conduz à situação
pre. Na economia e sociedade 4DxT, a Saímos do online e nos dedicamos em que ela já está. E tentando, ela pode
palavra crescimento foi substituída por ao outro. Praticamos técnicas como a do chegar a algum outro lugar...
evolução. Mas, evoluir para onde? “Que legal!”8 em que o contacto com o
outro se apoia na escuta e aceitação,
partindo da premissa que aquilo que ele
Homo Estheticus 7 é, e faz, é muito legal! Claro que é, já
que não existe um ser humano igual ao
Durante séculos nos dedicamos a criti- outro na face da Terra, digo, na pele de
car, reconhecer erros, identificar proble- Gaia. O jogo do “Felizmente e Infe­
mas. A acidez da crítica era a medida lizmente”9 também foi eficiente: para
para a competência intelectual de quem rever pontos de vista sobre os fatos da
a produzia. Mas para conectar-se e for- vida basta descrevê-los ora com a pala-
mar sistema nervoso era necessário vra “felizmente”, ora com “infelizmen-
amar os outros. Isso exigiu uma nova te”. Também o Jogo do “O que Pode
postura: dedicar-se a enxergar o que piorar?” ajudou a mostrar que tudo é
existia de melhor e positivo em cada relativo e podemos ser mais destemidos.
pessoa ou contexto. Trabalhar sobre po- Nele, a pessoa que deseja fazer algo,
tências existentes e enxergar a metade mas tem medo do fracasso, começa por
cheia do copo, como propomos ao lon- perceber em que situação está no pre-
go do livro. Dedicamo-nos a intensos sente. Depois, ela compara com a situa-
treinamentos de enxergar o belo em ção em que pode se encontrar caso a
cada situação da vida, a perceber o belo ideia fracasse. E acaba por verificar que
Conselho de Sábios 24 horas. Podem ser consultados
em si e no outro. E através da beleza ad- telepáticamente para responder questões. Os consulentes
quirimos a leveza e a alegria que pavi- 8 Infalível técnica relacional de Wellington Nogueira e
devem multiplicar o conselho recebido. Giselle Romano e
seus Doutores da Alegria. Mariana Lafuente. Ilustração: Paulo Lara, República
Dominicana, 2010.
7 Veja as obras do filósofo Michel Maffesoli e de outros. 9 Brincadeira de Adriana Klisys.
152 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

As cores, as formas, os sons, o movi- sinestesia10 substituiu a anestesia, já


mento e todo tipo de experiência por que neurônios precisam funcionar com
meio dos (pelo menos...) seis sentidos nos o máximo de sensibilidade e percepção.
preparavam para ver o belo, confiar e Crianças brincam para aprender e
dedicar-se ao afeto. No vestir, deixamos nós nos dedicamos a brincar para desen-
para trás o pretinho básico ou o jeans e volver a capacidade amorosa, de todas
camiseta e nos esmeramos em usar aqui- as formas de amor. Ampliamos o reper-
lo que melhor transmitia o que somos e tório de graus e diversidade de vínculos,
sentimos a cada dia. Não desejávamos antes restritos a amigos, família e cônju-
mais ser anônimos e invisíveis, mas sim ges. Os homens aprenderam com as mu-
percebidos e compreendidos em nossa lheres a complexidade, o longo prazo e
singularidade. As cidades e espaços, o cuidado. As mulheres aprenderam a
Anônimo. onde tudo comunica, fala e provoca, nos simplicidade, o foco e a leveza. Mulheres
Rio de Janeiro, 2011. ajudavam. As formas de cada coisa eram sempre tão sérias, e, por vezes, aborreci-
cuidadosamente escolhidas para sua fun- das, aprendendo o jogo e a diversão
Almoço de Domingo ção. Como as cores deste livro, que com os homens. Estar juntos começou a
Percebemos a importância do contato e acolhi- ­combinam o amarelo da criação, com o ser cada vez mais divertido e as ativida-
mento de pessoas que compartilham de uma violeta da transformação e o verde da des cronófagas deixaram de consumir
mesma história, DNA, raízes e resolvemos re- cura. E homenageiam a diversidade, le- tempo, que foi então dedicado a intera-
cuperar uma tradição perdida há muitos anos: veza e ousadia da cultura brasileira. gir e brincar de reinventar o mundo.
o almoço de domingo. Criamos assim uma Percebendo que criatividade é a Brincamos de descobrir o que o outro
Rede de Trocas de Afeto e Experiência, na qual nossa essência e natureza, dedicamo-nos gosta, o que o faz feliz, o que ele tem de
cada família compartilha 1 minuto de um mo- a todas as formas de criação, expressão, diferente, o que nos aproxima, o que
mento especial criando um Banco de Carinho, autoconhecimento e contato. Foi assim podemos construir juntos. Mais uma vez
Amor, Vivências. Cada família também tem seu
que as drogas e os entorpecentes foram a diversidade foi saudada como solução
Materializador para propiciar que todos os fa-
substituídos por experiências sensoriais e não como problema.
miliares queridos estejam juntos fisicamente.
Fred Gelli e Roberta Jambor, São Paulo, 2010.
de todos os tipos: criar, respirar, tocar,
mover, gostar, transformar, inventar. A 10 Vários sentidos funcionando juntos.
S E R, RE L A CI O N A R, CO N E CTA R 153

Do medo ao agora PGT – Pensamento Global


Telepático _ TATIL
Transformar-se em sistema nervoso da Foi inventado um Satélite que conecta as pes-
criatura Gaia foi confiar e entregar-se. soas em um ritual global. Elas sentam-se na
Estabelecer contato e vínculo para que o terra e, ao colocar as mãos no chão, entram em
sintonia com todos os outros. Assim é possível
fluxo de informações e sentimentos pu-
trocar pensamentos positivos e negativos. O
desse nos contar o que estava aconte-
fluxo vai neutralizando e equilibrando e ao ter-
cendo em cada parte de Gaia, o que ela
minar todos saem mais leves e vazios, prontos
precisa, gosta e pede. Percebemos que para recomeçar.
isso era amor. Enquanto não nos sentía- Fred Gelli e Roberta Jambor, São Paulo, 2010.
mos acolhidos e pertencentes, ou não tí-
nhamos consciência de nosso poder de
escolha, operávamos a partir do medo. priori. Acreditamos que cada um faz o
Nosso empenho em construir ambientes possível, de acordo com seu jeito de ser,
e laços de confiança resultou, nos liber- contexto, momento e capacidade.
tamos do medo e fomos capazes de ex- Pouco a pouco fomos rompendo o Elevador do Tempo. Lourenço P. Duarte Braga,
perimentar do amor. modelo, e cada nova pessoa que confia- FILE, Rio de Janeiro, 2011.
Quando o medo transmutou em va e abandonava o medo era um passo a
confiança mudou a relação com o futuro. mais para que o outro mundo, aquele
Antes ele nos assustava: pânico (do gre- desejável, pudesse nascer. Mais um, mais
go “pan”, todo) nos sentido original da um11, mais um. À medida que cada pes- Profissão: História viva
palavra é o medo do todo. Esse medo da soa acreditava e aderia, criaram-se ­fluxos Mais do que contadores de histórias, teremos
amplitude das possibilidades fazia com de confiança, correntes cada vez mais pessoas que serão “Histórias Vivas”, capazes
que nos acomodássemos na repetição ­intensas, até que já não era mais possível de ser e transmitir a história de muitas culturas
dos padrões conhecidos. Depois que pas- e pessoas. Vestidos de estrelas e planetas, mas-
resistir. Conseguimos romper aquela
culinos e femininos ao mesmo tempo, median-
samos a achar esta amplitude divertida e
11 Essa percepção surge enquanto acompanhava o do a luz entre diversas estrelas cadentes.
não assustadora nos permitimos escolhas
lindo processo de financiamento colaborativo que Giovanni Barontini, São Paulo, 2010.
distintas. Perdoamo-nos e ­aceitamos a viabilizou este livro.
154 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

barreira em que os sonhos deixam de ser ção, que vínhamos praticando há anos, O desejável
individuais e passam a ser coletivos. E nos permitiu viver o presente e bem des-
quando alcançaram o inconsciente cole- frutar o tempo. A expressão “Dar um e o plausível
tivo passaram a germinar e a fertilizar F5”13 tornou-se recorrente: a referência à
atitudes e escolhas. tecla do computador com função “atua- Cenários de futuro normalmente par-
A mudança prevista pelas profecias lizar” era apropriada neste momento tem das condições do presente e as
aconteceu, mas não foi o fim do mundo em que perdoávamos o passado e não ­projetam no futuro. Buscam futuros
e sim o fim de um mundo, o fim de um temíamos o futuro. Dar um F5 em todas plausíveis. Mas, o que fazer quando
jeito de pensar e fazer. O mundo grávi- as nossas diferenças para viver bem o queremos mudar as condições do pre-
do mudou de estado. Passamos do so- presente. E para poder realizar bem nos- sente e projetar outras coisas? Romper
breviver ao viver. Animais são reativos e sa missão de sensíveis neurônios. com o presente, e sonhar o desejável. E
instintivos movidos pelo medo. Nós, E a guerra? Por que não falamos em por que consideramos que o desejável
agora movidos pela confiança e amor, guerra? Por que ela não faz mais senti- não é plausível?
pudemos finalmente ser criativos, como do. Ela era fruto da ignorância e hoje já Escolha um futuro plausível e per-
cabe a uma espécie que domina lingua- ninguém mais acredita nela. Houve até gunte-se se ele é o que você deseja. Se a
gens, tem livre-arbítrio e bom senso. um momento em que alguns governos resposta for não, por que considerar
Aplicamos nossa criatividade, livre- tentaram incitá-la, logo depois da Bolha que, apesar de indesejável, ele é plausí-
-arbítrio e bom senso em criar futuros de 2013 e do Apagão de Dados para que vel? Faça o exercício contrário e pense
desejáveis. E para que, qual o propósito? não se identificassem os responsáveis. um futuro desejável. Pergunte-se se ele
Para ter presentes desejáveis. Mas, quando convocadas, as pessoas es- é plausível. Não? E por que não, já que é
O futuro é um norte, uma bússola 12. colheram não ir para guerra. E, se nin- desejável? Por que não tentar? Geral-
É como um diapasão que afina e dá o guém for, não há guerra...14 mente o pior que pode acontecer em
tom do presente que escolhemos. Pois é cada escolha que fazemos é que o fra-
no aqui e agora que é possível ser feliz, 13 Esta é mais uma das geniais expressões “hackeadas” casso pode nos conduzir ao mesmo
já que o antes já passou e o depois ainda pelo Circuito Fora do Eixo. http://foradoeixo.org.br/ ­ponto de onde partimos. Por que não
institucional
não existe. A educação para a sensibiliza- tentar, já que o pior ponto de chegada é
14 Veja o filme de um minuto com este tema,
exatamente aquele onde já estamos?
12 Daí o nosso logo, da Enthusiasmo: a bússola é dirigido por Légis Schartzburd e por mim no início dos
orientação, e a borboleta transformação. anos 90: http://www.youtube.com/watch?v=rebmWDKfg_4
S E R, RE L A CI O N A R, CO N E CTA R 155

Por que não? Por que é assim? Para Muitos dos futuros desta ficção
que serve? Isso cuida de quê? Voltamos ­poderiam ser implantados. E logo.
a ser sábios como crianças e a duvidar de Por que não?
tudo, a enxergar os muitos reis nus15.
Nossos sentidos, agora tão aguçados,
hoje percebem com clareza aquilo que
não faz sentido em qualquer área da
vida, sociedade, economia.
Somos criatividade e escolha. Te-
mos a capacidade de lidar com todas as
linguagens. Recriamos a cada momento
o nosso futuro. Ele ainda não existe.
Tudo é possível, inclusive o desejável.
Como será o futuro? Não sabemos.
Mas sabemos que as visões do mundo
metálico, estéril, homogêneo, simétri-
co, frio, mecânico, uniforme do passado
nos estimularam a fazer diferente.
­Mudamos de direção, e este futuro não
se concretizou.
Só o que sabemos sobre o mundo
que está nascendo é que ele será
­colaborativo. Não há outra maneira de
ganhar o tempo, os recursos, a quali­
dade e a harmonia que desejamos. E
que é possível.
15 Da fábula infantil A Roupa Nova do Rei, em que só a
Aurora. Monique Deheinzelin, São Paulo, 2008.
criança se atreve a comentar que o rei está nu.
156 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Trecho do livro "Imagens


do Futuro", de Fred Polak
Em 1961, Fred Polak, um dos pioneiros em estudos do futuro, escreveu uma dades alternativas, mas ativa algumas escolhas e, de fato, as faz trabalhar
obra-prima: “The Image of the Future”, relacionando o desenvolvimento na determinação do futuro. Um exame cuidadoso das imagens predominantes
(ou não...) de culturas com a maneira como imaginam o futuro. Abaixo estão nos coloca então numa posição de prever o futuro provável.
parágrafos do capítulo final em que ele sintetiza esta relação.1
Toda a cultura que está na condição de nossa cultura atual, afastando-se
(...) Primeiro, encontramos a imagem positiva do futuro presente em todas de seu próprio patrimônio de visões positivas do futuro, ou ativamente empe-
as instâncias do florescimento de uma cultura, e imagens debilitadas do futuro nhada em mudar essas visões positivas em negativas, não tem futuro a menos
como um fator essencial na decadência das culturas. A imagem do futuro tem que poderosas forças contrárias sejam rapidamente postas em ação. Esta visão
sido representada como se ele próprio estivesse sujeito a um movimento dialé- é de crucial importância para a prática política. Ela abre novas perspectivas
tico entre os polos de otimismo e pessimismo. para os que desenham políticas em áreas em que ainda têm liberdade para
planejar e agir. (...)
Segundo, verificamos que a força potencial de uma cultura pode ser medida
pela mensuração da intensidade e energia de suas imagens do futuro. Essas
imagens pareciam atuar como um barômetro indicando a potencial ascensão
ou queda de uma cultura.

Terceiro, o conceito de imagem do futuro tornou possível passar do diagnós­


tico para o prognóstico. Isso é possível devido à relação íntima entre a imagem
de futuro e o futuro.

A imagem do futuro pode não apenas atuar como um barômetro, mas também
como um mecanismo regulador que alternadamente abre e fecha os abafado-
res do poderoso alto-forno da cultura. Ela não apenas indica opções e possibili-

1 Extraído de http://storyfieldteam.pbworks.com/f/the-image-of-the-future.pdf
Capítulo final: New Perspectives, parágrafos 4 a 7
créditos, agradecimentos e histórico

“Me interessa o futuro porque é aonde vou passar o resto da minha vida.”
Woody Allen
158 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

OBRIGADA A QUEM TORNOU POSSÍVEL ESTE LIVRO!


Se não fosse o exemplo de olhar corajoso e singular de meus pais, Gini e J­ acques, e de minha filha Rita este livro não existiria!
Este livro foi um processo colaborativo, em rede, de equipe. Sem a dedicação desta entusiástica e agilíssima equipe sua realização seria impossível.
A coordenação e supervisão de Marina Alonso, a produção de Dina Cardoso e a assistência editorial de Felipe Jordani; a tradução de Eugênia Deheinze-
lin e William Krell; o design gráfico de Helena Salgado, apoiada por Carol Lefèvre, Marília Glaffira, Marianne Lépine; a revisão de Martha D. Schelmm,
Antonia Schwinden e Rita Kohl.
Agradeço os textos inspiradores de Angel Mestres Vilas, Arnoldo de Hoyos, Aron Belinky, Jacques Dezelin, Jorge Wilheim, Joxean Fernandez,
Maria Arlete Gonçalves, Melanie Swan, Silvina Martinez, Pichi de Benedictis, Rosa Alegria, Wellington Nogueira. Observo que em sua maioria foram
feitos a partir de participações em atividades Crie Futuros.
As ilustrações feitas especialmente para o livro são de nossos especialistas em visualizar futuros: Ângela León, em 2012, e Raí (Raimundo Guima-
rães de Cerqueira Júnior) em 2008. Obrigada ­especial a Adão Iturrusgarai, Carlos Dala Stella, Céu D’Ellia, Claude Giordano, Guto Lacaz, Jaime Prades
e Monique Deheinzelin pelas belíssimas imagens cedidas. Nossa homenagem ao fabuloso ilustrador futurista dos anos 20 e 30, Frank Rudolf Paul e
agradecimentos a seu neto, William Frank Engle por autorizar o uso de suas imagens. Preciosas contribuições também através de Paolat de La Cruz,
Revista Lengua, e de Montevidéu Comics.
Aos parceiros e apoiadores que tornaram possível esta publicação: os duzentos e oitenta e oito participantes do financiamento colaborativo, lista-
dos adiante assim como Pedro Molina e I­gnácio Abbad Slocker, Centro Cultural da ­Espanha em São Paulo/AECID; Ricardo ­Resende e Ana Maria Rebou-
ças, Centro Cultural São Paulo; José Mauro Gnaspini e Kiko Azevedo, Virada Cultural/ PMSP; Luiz Coradazzi e Liliane Rebelo, British Council; Laís Villela
de Andrade e João Sassarão, Pancrom Gráfica.
A parceria de Arnoldo de Hoyos e Rosa Alegria, Núcleo de Estudos do Futuro PUC/SP; Aron Belinky, Vitae Civilis - Cidadania e Sustentabilidade;
Sérgio Miguez e Gil Torres, Livraria Cultura; Thiago Alixandre, Preta Ribeiro e Tati Almeida, Coletivo O12; André Palhano, Virada Sustentável; Luís
Otavio Felipe Ribeiro, Catarse.
A todos aqueles cujos futuros, co­letados em nossa wikifuturos ou em ­oficinas corporativas, alimentaram este livro. Lembro que é possível “wikizar”
estes futuros que estão em Box, localizando pela ferramenta de busca em www.criefuturos.com. Grande parte dos futuros pesquisados não está publica-
do na íntegra, mas aparece entremeado com meu texto. Inspiradores, divertidos, inteligentes!
S E R, RE L A CI O N A R, CO N E CTA R 159

CRIE FUTUROS AGRADECE...

Este livro é fruto do movimento Crie ­Futuros, razão pela qual aproveitamos a ocasião para tornar pública nossa gratidão­aos que acreditaram e
apoiaram o Projeto.
Começo por agradecer nossos “padrinhos”, aqueles que viabilizaram nosso­início. Foi para nós um grande estímulo saber-se merecedores dos
concorridíssimos prêmios recebidos da Convocatória Aberta Permanente, (Agência Espanhola de Cooperação Internacional ao Desenvolvimento) ou
dos Novos Brasis (Oi Futuros). Também pelas valiosíssimas conversas que ajudaram a aprimorar o projeto, nosso muito obrigado a Ana Tomé, Direto-
ra do Centro Cultural da Espanha no Brasil/Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento; Alfons Martinell, Diretor de
Relações Culturais e Cientificas da AECID; Maria Arlete Gonçalves, Diretora de Cultura da Oi Futuro; Samara Werner, Diretora de Educação da Oi
Futuro; Ana Toni, representante da Fundação Ford no Brasil e Marie Suzuki Fujisawa, Coordenadora de Cultura, SENAC - SP. Carinho e admiração
especial para Ana Tomé e Maria Arlete, as grandes inspiradoras de Crie Futuros.
A todas as pessoas que, desde 2008, fizeram ou fazem parte dessa equipe, para elas também vai nosso agradecimento mais do que especial.
Impossível listar todas então destacamos Ricardo Lima, da Bess Multimídia, criador do nosso site e tecnologias, com o auxilio de Ronaldo Gonçalves
Alves. Aquelas que levaram adiante o trabalho de coordenação nestes anos, companheiras fidelíssimas: Dina Cardoso, Marina Alonso, Tatiana Das-
cal, Luciana Prieto e o inestimável cuidado de Marlene de Oliveira. João Sebastião Pavese, Bangalô Filmes pela produção audiovisual nestes anos.
Paula de Paoli pelo conceito gráfico de Crie Futuros.
Generosidade inesquecível daqueles que acompanharam nossa jornada: Cristina
Meirelles, da Casa Sete; Maria Cândida di Pierro; Adriana Klisys, Célia Sanda; Zeca Nu-
nes; Gisele Schwartz; Ana Maria Wilheim; Robson Ruy; Miguel Yasuyuki Hirota; Odara
Carvalho, Daniele Pires. Pedro Caetano Guedes. Obrigada a todos os demais que esti-
veram conosco nestes anos!!
Crie Futuros se expandiu e ganhou diversidade graças aos Nodos Crie Futuros.
Destacamos e agradecemos o excelente trabalho realizado por Tomás Guido
Illgen,Trànsit Projectes, Barcelona, Nodo Espanha; Sergio Machin Cauda, Traful, Cane-
lones, Nodo Uruguay e Paolat de la Cruz, Revista Lengua, Santo Domingo, Nodo Repú-
blica Dominicana. E a colaboração importante de Mauricio Delfin y Lucia Cuba Reali-
dad Visual, Lima, Nodo Perú e Katya Padilha, Mosaico Cultural, Valparaiso, Nodo Chile
assim como nosso “nodo honorário”: Centro de Expresiones Contemporáneas, Rosário,
Argentina, com Pichi de Benedictis.
Aos nossos parceiros, cujo conhecimento e visão ajudaram a realizar ou moldar o
projeto: Rosa Alegria e Núcleo de Estudos do Futuros/PUC-SP; Jordi ­Pardo, Barcelona
Aspergindo perfume em paradas de ônibus. Cristian, Uruguai, 2009.
Media; Angel Mestres, Transit Projectes; Bruce Mau e Bisi William, Massive Change
160 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

Network;­Ronaldo Lemos e Paula Martini, Centro de Tecnologia e Sociedade e Overmundo; Reinaldo Pamponet, It’s Noon; Wellington Nogueira,
Doutores da Alegria; Pedro Jatobá, Produtora Cultural Colaborativa; Fred Gelli, Táctil Design; Angeles Díaz, Fundación Simetrias; Guiomar Alonso
Cano, UNESCO; Jesús Prieto de Pedro, Consultores Culturales; Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da FGV; Cássia Navas,Teatro da
Dança; Danielle Fiabane, Instituto Criar; Laura Topete e José Luis Mariscal ­Orozco, Universidad de Guadalajara – UDG Virtual; Yoshio Kakishima e
­Sanae ­Kosugi Bunka Fashion College; Ronaldo Robles, Cia Quase Cinema.
Meu irmão, Daniel, sempre cuidando de tudo e de
todos, minha irmã Monique e mais os mentores afetivo-
conceituais de Crie Futuros: Graça Cabral, Eduardo
­Giacomazzi, Beatrix Overmeer, Thomas Buckup, Léo
Brant, G ­ eorge Yudice, Sylvie Duran, Célio Turino,
Fernando Rueda, Fernando Vicário, Sylvina Martinez,
Silvia Villar ­Valverde, Ângela Hirata, Edson Natale, Anna
Claudia ­ A gazzi, Alvise Migoto, Francisco Simplício,
Lorraine Johnson, Michael Kundt, Ariel K ­ ogan, galera do
Circuito Fora do Eixo.
E um obrigada, seguido de desculpa, para aqueles
que lamento ter esquecido e vou com certeza lembrar
­assim que o livro entrar na gráfica!

Máquina de Memória. Filipe Meira Isenfee, Rio de Janeiro, 2011.


S E R, RE L A CI O N A R, CO N E CTA R 161

Foi lindo e emocionante assistir hora a hora a adesão dos 288 queridos l­is­tados ao lado, que participaram do p
­ rocesso de financiamento colaborativo.
Abel Falbo • Adélia Borges • Adélia Francheschini • Adriana Fortunato • Adriana Klisys • Alessandro Azevedo • Alexandra Aparício • Alexandra Schejelderup •
Alexandre Andrade • Alexandre Gomes • Alexandre Rebouças • Alfredo Martini Júnior • Alice • Alice Junqueira • Ana Carla Fonseca Cainha • Ana Correia • Ana Luisa
Lacombe • Ana Maria Wilheim • Ana Terra • André Martinez • Angelo Filardo • Angelo Piovesan • Anna Helena Altenfelder • Anna Van Steen • Antônio Mafra • Ariel
Kogan • Ariston Batista • Arô Ribeiro • Aroldo Batista • Augusto Tiburtius • Beatrix Overmeer • Bento Andreato • Beto De Jesus • Beto Firmino • Bia Blandy • Branca
Mandetta • Bruno Caramelli • Bubby Negrão • Cacá Machado • Cândido Azeredo • Carlos Dala Stella • Celso Pan • Cesar Piva • Chris Lima • Cibele De Barros • Cintia
Carvalho • Clara Irigoyen • Claudia Missura • Claudia Proushan • Claudia Taddei • Claudio Alvarez • Claudio Guedes • Cristina Zaccaria • Cyrce Andrade • Dani Lima
• Daniel Deheinzelin • Daniel Domeneghetti • Daniel Lima • Debora Laruccia • Demétrio Luiz Riguete Gripp • Denise Chaer • Denise Scarpa • Diego Conti • Dina
Cardoso • Diogo Melo • Dulce Maltez • Edegar Ferreira • Edgar Andrade • Edith Estela Pittier • Edson Natale • Eduardo Abramovay • Eduardo Barcellos • Eduardo
Giacomazzi • Eduardo Kobbi • Eduardo Muszkat • Eduardo Shimahara • Elisa Grinspum • Elisa Stecca • Elza Tamas • Elzo Sigueta • Eunice De Sá Cesnik • Fábio
Almeida • Fabio Feldmann • Fernanda Martins • Fernanda Rapacci • Fernando Belloube • Fernando Camilher Almeida • Fernando Grecco • Fernando Passos •
Fernando Stickel • Fernão Ramos • Flavia Berton • Flavia Lemes • Fred Furtado • Frederico Elboni • Gesta Cultura • Gilberto Bergstein • Gisela Heizenreder Cury •
Giselle Beiguelman • Gizeli Belloli • Glaucia Rodrigues • Graziela Araújo • Graziela Peres • Harmonia Solidária • Henrique Schucman • Homero Prado Lacreta Jr •
Homero Santos • Horácio Lafer Piva • Ibsen Costa Manso • Ignatius Abbad Slocker • Isabella Prata • Isis Palma • Ivenise Angelini • Jaime Prades • Jan Ghiraldini • Jany
Vargas Da Silva • Jaques Suchodolski • Jasmin Pinho• João Caldas • Jorge E Rubles • Jorge Grinspum • Jorge Sototuka • Jose Roberto Sadek • Josiane Del Corso •
Joxean Fernandez • Julia Forlani • • Julia Zardo • Julian Monteiro • Juliana Bollini • Julio Nogueira • Kaka Marinheiro • Kecya Donnelly • Kelynn Alves • Kluk Neto •
Laura Livia Calabi • Leeward Wang • Legis Schwartsburd • Liane Rossi • Lídia Goldeinstein • Lucia Merlino • Luciana Annunziata • Luciana Guilherme • Luciano Roxo •
Lucinaide Pinheiro • Luiz Alberto Moris • Luiz Algarra • Luiz De Franco Neto • Luiz Dos Santos • Magda Pucci • Malu Ramos • Manuel Blesa • Mara Mourão • Marcelo
Kahns • Marcelo Machado • Márcia Cristina Silva • Marcia De Barros • Marcia Matos • Marco Tulio Amaral • Marcos Renaux • Marcos T. Galvão (KALOY) • Margot
Ribas • Mari Salaroli • Maria Cândida di Pierro • Maria Cecilia Lacerda De Camargo • Maria Elena Chan • Maria Fernanda Costa • Maria Ferreira • Maria Thereza
Amaral • Mariana Garcia • Mariana Ochs • Marilia Viegas Araujo • Marina Barros • Marina Alonso • Marina Leão • Mário Candido da Silva Filho • Mario Henrique
Martins • Mario Tadokoro • Marisa Orth • Marise Cardoso • Mateus Mendonça • Mauricio Fernandes Pestana Moreira • Mauricio Iazzetta • Mauricio Pereira • Mayara
de Castro • Milzo Prado • Minom Pinho • Mônica Mion • Monique Deheinzelin • Nani Semiseck • Nelcivone Melo • Nelson Patron Chapira • Ney Piacentini • Nirvana
Marinho • Osvaldo Gabrieli • Osvaldo OZ •Oswaldo Pepe • Otavio Toledo • Paschoal Roma • Patrícia Fiori • Patrizia Bittencourt • Paula Alzugaray • Paula Lopez • Paula
Marcondes • Paula Martini • Paulo Suplicy • Paulo Von Poser • Pedro Mourão • Photozofia Arte E Cozinha • Pico Garcez • Preta Ribeiro • Rafael Reinehr • Rangel
Arthur Mohedano • Regina Ponce • Regina Silva • Reinaldo Pamponet • Renata Moraes Abreu • Renato Ribeiro • Ricardo Albuquerque • Ricardo Farah • Ricardo
Guimarães • Ricardo Penachi De Camargo • Ricardo Ramos Filho • Ricardo Viviani • Ricardo Voltolini • Richard Geyer • Roberto Amaral • Roberto Hirsch • Robson
Spadoni • Rodolfo Carreto • Ronaldo Gonçalves Alves • Ronaldo M. Silveira Silveira • Rosa Alegria • Rosalu Fladt Queiroz • Rosana Grant • Rosana Padial • Rose Ferraz
• Ruth Klotzel • Ruth Slinger • Ryan Donnelly • Sabrina Gledhill • Sara Asseis De Brito • Schirlei Freder • Sergio Ajzenberg • Sérgio Barbosa (Case) • Sergio Mastrocola
• Sergio Mattos Lomelino • Sergio Oeda • Sergio Roizenblit • Sheila Saraiva • Silvia Elboni • Silvia M. Do Espírito Santo • Silvia Rosenbaum • Silvina Martinez • Silvio
Francisco • Solange Ferraz De Linz • Solange Salva • Sonia Lara • Sonia Sobral • Tadeu Jungle • Tais Tatit Barossi • Tânia Bustamante • Tania Nomura • Tatiana Cobbett
• Tatiana De Simone • Tatiana Lohmann • Thiago Alixandre • Tuco Freire • Vany Alves • Vera Caetano • Vera Loureiro • Viviane Rodriguez • VM John • Waldir Martins
• Wellington Nogueira • Yoshihiro Odo • Zita Carvalhosa • + 9 anônimos
162 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O

HISTÓRICO

JUN São Paulo, Brasil. Futuro e Inovação – Mckinsey. Lançamento Web TV Crie Futuros. Transmissão simultânea dos eventos.
AGO São Paulo, Brasil. Apresentação Crie Futuros no Centro Cultural da Espanha. Rio de Janeiro, Brasil. Crie Futuros Iberoamerica Tecnologia e Produção Colaborativa.
Encontro Crie Futuros Cooperação Espanhola. Crie Futuros Iberoamericana Games e Mundos Melhores.
JUN
Apresentação Crie Futuros no Pecha Kucha Knight 2008, Denver, EUA. Case participante do In Good we Trust, coordenação Bruce Mau.
Seminário Internacional Crie Futuros Economia Criativa. São Paulo, Brasil. Crie Futuros Iberoamerica Corpo e Movimento.
2008

SET São Paulo, Brasil.


Dinâmica Crie Futuros Instituto Criar. Barcelona, Espanha. Oficina Crie Futuros O Futuro da Literatura - Cut e Paste.
Sarau Crie Futuros. Canelones, Uruguai. Oficina Crie Futuros em Escolas.
JUL
Crie Futuros e Cultura de Paz. Denver, EUA. Encontro de empreendedores Criativos com Bruce Mau.
Agraciado com o prêmio do Edital Novos Brasis, recebendo apoio da Toledo, Uruguai. Apresentação do Crie Futuros no Seminario de Gestión y Difusión Cultural.
OUT Rio De Janeiro, Brasil.
Oi Futuro.
Sarau Carta Cultural Iberoamericana.
NOV São Paulo, Brasil. Sarau Crie Futuros 2.
São Paulo, Brasil. Lançamento nova versão Wikifuturos 2.0.

2009
Oficina Crie Futuros “Um futuro melhor é possível”. Fórum Social AGO
Mundial. Oficina Crie Futuros PUC Sustentável - NEF.

JAN Belém, Brasil. Agraciado com o prêmio CAP – Convocatória Aberta e Permanente, Montevidéu, Uruguai. Oficina Crie Futuros no Presídio Feminino.
recebendo apoio da Agência Espanhola de Cooperação Internacional Barcelona, Espanha. Reflexiones sobre el futuro de las formas literarias.
para o Desenvolvimento.
São Paulo, Brasil. Oficina Crie Futuros Puc Sustentável - DERDIC.
São Paulo, Brasil. Sarau Crie Futuros - Sábado Cultural.
Montevidéu, Uruguai. Oficina o Futuro da Performance.
Apresentação Crie Futuros no VI Campus Euroamericano de
2009

MAR Cooperación Cultural. Valparaíso, Chile. Taller e Programa de Rádio Cree Futuros.
Buenos Aires, SET
Argentina. Lançamento site WIkifuturos 1.0 - Enciclopédia Digital Colaborativa de Santo Domingo, Rep.
Oficina Crie Futuros Carta Cultural Iberoamericana.
Futuros Desejáveis. Dominicana.

Oficina Crie Futuros e Economia Criativa. Programa de Indústrias Barcelona, Espanha. Reflexiones sobre el futuro de las Prácticas Artísticas.
Criativas. Lima, Peru. Oficina Crie Futuros: O Futuro do Transporte e da Cidade.
MAI Valparaiso, Chile. Criação da Rede Crie Futuros com integrantes em 7 países: Argentina, OUT Montevidéu, Uruguai. Realização do vídeo “El futuro de La Web”.
Chile, Colômbia, Espanha, Peru, República Dominicana e Uruguai.
São Paulo, Brasil. Seminário Crie Futuros Novos Bancos e Moedas.
Lançamento rede social Crie Futuros. www.criefuturos.com.br
S E R, RE L A CI O N A R, CO N E CTA R 163
Madrid, Espanha. Reflexiones sobre el futuro de los agentes culturales independientes. Rosário, Argentina. Oficina Parlamento Virtual Iberoamericano.
ABR
Seminário Cree Futuros España. “El futuro de la cultura”. Campinas, Brasil. Oficina Crie Futuros no Fórum DNA Social.
Barcelona, Espanha.
Oficina Crie Futuros com educadores JAN- Brasil e Rep. Elaboração Futuro de Bolso a partir do Seminário de Economia
OUT MAI Dominicana. Criativa.
Toledo, Espanha. Criar Toledo, oficinas, intervenção urbana e espetáculos Crie Futuros.
Wikidelícia - Encontro para conversa e troca de experiências
O Futuro do Turismo. JUN São Paulo, Brasil.
Montevidéu, Uruguai. e criação de futuros.
Mostra de Futuros nas Esquinas de Montevidéu. JUL São Paulo, Brasil. Crie Futuros FILE São Paulo.
Montevidéu, Encerramento de Gala- Apresentação dos futuros criados no Uruguai

2010
Oficina Crie Futuros na FLIP ZONA
Uruguai. em 2009. Parati, Brasil.
(Feira Literária Internacional de Parati).
Toledo, Uruguai. Oficina Cree Futuros con niños. AGO
Wikidelícia - Encontro para conversa e troca de experiências e criação
São Paulo, Brasil.
Barcelona, Espanha. Reflexiones sobre el futuro del audio visual de futuros.

Oficina Crie Futuros, Seminário Rede Jovem São Paulo, Brasil. Workshop Melanie Swan.
Vitoria Espírito Santo.
“Um Espírito de um Tempo”.
2009

Tokyo, Japão. Creative economy, sustainability and future no Bunka Fashion College.
Santo Domingo, Rep. Oficina El futuro del design y de la Fotografía. Criação de futuros NOV São Paulo, Brasil. Oficina BASF.
Dominicana. desejáveis.
NOV
Oficina: “Crea Futuros: redes virtuales y futuros deseables” no XIX
São Paulo, Brasil. Oficina Crie Futuros, Feira Preta. Guadalajara, México.
Encuentro de Educación a Distancia.
Oficina Crie Futuros: Qual é o futuro da relação entre tecnologia e Lançamento do site: Cree Futuros las Americas 2011
Lima, Peru. FEV Montevidéu, Uruguai.
sociedade? Plasma 2009. e Oficina de criar futuros.

2011
Oficina e Palestra Crie Futuros Rede Globo: Tendências de futuros ABR Rio de Janeiro, Brasil. FILE Games Rio 2011 | Fale com o futuro: Crie Futuros Desejáveis.
Embu, Brasil.
desejáveis.
MAI Porto Alegre, Brasil. Oficina Crie Futuros no VIVO enCena POA.
Encontro Cree Futuros República Dominicana: El futuro del design y de la
Santo Domingo, Rep.
Fotografía. Realização de uma edição especial da Revista Lengua con JUN Salvador, Brasil. Oficina Crie Futuros no VIVO enCena Salvador.
Dominicana.
futuros criados.
Chascomus,
MAR Oficina Crie Futuros REM 2.0.
Palestra “Crea Futuros: Redes virtuales y futuros deseables” en el XVIII Argentina.
Guadalajara, México.
Encuentro Internacional de Educación a Distancia.
DEZ Coleta de Futuros na Virada Cultural.
“Creando Futuros”, en el The 6th International Conference on São Paulo, Brasil.

2012
São Paulo, Brasil. MAI Espetáculo de Sombras Crie Futuros, na Virada Cultural.
Innovation and Management (ICIM 2009).
Rosário, Argentina. Planejamento do Parlamento Virtual Cultural Iberoamericano. Barroso, Brasil. Oficina Crie Futuros Minas Retroverso.
Coleta de Futuros na Virada Sustentável.
2010

JAN Montevidéu,
Encontro com Facilitadores de Cree Futuros Uruguai. JUN São Paulo, Brasil.
Uruguai. Oficina Crie Futuros Ecoação Cultural no Centro Cultural São Paulo.
FEV São Paulo, Brasil. Oficina Crie Futuros Tátil.
Entre a primeira ideia e a distribuição, este livro
foi feito em 90 dias, por uma equipe frenética e feliz,
que agradece o fato de você ter chegado até aqui e pede
desculpas pelos pequenos erros que ele fatalmente contém!
E aproveita para contar que os futuros desejáveis, tanto os plausíveis
quanto os improváveis, foram impressos pela Pancrom, no dia do
eclipse de Vênus, 2012, usando papel Couche Kroma Gloss
e fontes Frutiger e HandTimes.

Jaime Prades,
Brasil, 2012.
“Se tudo fosse possível, como você gostaria que
as coisas fossem?” A partir desta pergunta foram
criados os futuros desejáveis que serviram de base
a este livro, organizado em temas da vida cotidiana:
 Ganhar, Valorar, Negociar  Governar, Decidir, Coordenar
 Habitar, Deslocar, Circular  Cuidar, Nutrir, Preservar
 Aprender, Criar, Comunicar  Ser, Relacionar, Conectar
A criativa visão da vida em 2042 traz três pilares que são chave para a sustentabilidade no
­futuro: a Economia Criativa, essa economia baseada em recursos intangíveis; as ­tecnologias
de informação e comunicação; os processos colaborativos e novas formas de organização
da sociedade em rede.

Realizado com o apoio de 288 pessoas por financiamento colaborativo no site Catarse e mais:

Apoio: Parcerias:

Você também pode gostar