Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Desejavel Mundo Novo-Crie Futuros
Desejavel Mundo Novo-Crie Futuros
mundo
no v o
VID A SUSTENT ÁV EL, DIV E RSA
LALA DEHEIN ZEL IN E
E CRIATIVA EM 2042
M OVIM ENTO C R IE F U TU R OS
foto Otto Coletivo Fotográfico
POR QUE NÃO?
LALA DEHEINZELIN é uma das pioneiras da Economia
Eis a frase que deveria nos orientar ao pensar futuros, para que possamos Criativa no Brasil. Rela cio
nando sustentabilidade e
nos libertar do conhecido e plausível e mergulhar no desejável. modelos de futuro com experiências de economia
Por que não criar outra economia em que “valor” seja mais do que o criativa, realizou consultoria, palestras e oficinas em
financeiro? Por que não criar um modelo de governo regido pelo mérito e países de quatro continentes. Seu perfil transdisciplinar
pela participação direta da população? Ter cidades feitas para o desfrute foi iniciado no setor cultural e se expande na ação com
do tempo e não para a ocupação do espaço? Ou ter o “cuidar” norteando empresas, terceiro setor, governos e instituições de
todo tipo de atividade no século XXI? Por que não ter uma educação que nos fomento, organismos multilaterais e redes colaborativas.
ensine a escolher bem e a compreender as consequências de cada escolha? É sócia fundadora da Enthusiasmo Cultural e criadora
Por que não deixar para trás todas as dificuldades cotidianas que o medo e do movimento Crie Futuros.
a desconfiança acarretam? Por que não construir relações, empreendimentos Foi Assessora Sênior da Special Unit on South -
e territórios baseados em confiança? Por que não adotar a colaboração como South Cooperation, UNDP de 2005 a 2011. Membro do
modus operandi? Conselho do Instituto Nacional de Moda e Design e uma
Mundo sustentável, diverso e criativo. das fundadoras do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC.
Por que não? Saiba mais em www.laladeheinzelin.com
La l a D eh ein ze l in
TAGS:
x
Desejável Mundo novo
capítulo
Vida sustentável, diversa e criativa em 2042
1ª ediç ão
“Frase” São Paulo, SP | 2012
Autor
E diç ão: Claudia D eheinz elin
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Deheinzelin, Lala
Desejável mundo novo [livro eletrônico] : vida
sustentável, diversa e criativa em 2042 / Lala
Deheinzelin. -- 1. ed. -- São Paulo : Ed. do
Autor, 2012.
Vários colaboradores.
12-06683 CDD-303.4
O pensamento prospectivo existe desde os tempos antigos, pois, como diz Peter Druker, “A Melhor forma de prever o futuro é criá-lo”. Na
visão do Holomovimento, de David Bohm, a Ordem Explícita se desdobra como manifestação a partir de uma Ordem Implícita subjacente. O
extraordinário visionário e futurista Buckminster Fuller1 também considera que a realidade tem um caminho interno subjacente que pode
nos alertar em relação a transformações mais radicais. Quando mudanças em nossa realidade se aproximam, as turbulências do sistema au-
mentam e observá-las pode permitir que nos preparemos adequadamente. Como acessar essas transformações em curso, mas ainda um
tanto imperceptíveis?
Nos anos 50, na Califórnia, a Rand Corporation originou a técnica Delphi, utilizada para lidar com os Quinze Desafios Globais pelo Millenium
Project2, que tem o NEF como representante no Brasil. Domenico de Masi explora o tema do Caos Criativo e seu último livro sobre Grupos
Criativos avança em novas tendências na utilização da inteligência e sabedoria coletivas; nos anos 90 surgiu o projeto Imagine Chicago, de
Bliss Brown, que utiliza a técnica de Dialogo Apreciativo Intergeracional e continua se expandindo pelo mundo.
A proposta de Crie Futuros consiste em elaborar contextos para gerar ideias inovadoras, que são compartilhadas pelas redes sociais e assim
polinizam memes, naquilo que Rupert Sheldrake denomina campos morfogenéticos. Parece-nos próxima da proposta de Integração de Sa-
beres iniciada por C. R. Snow, na qual interagem sinergicamente as Ciências Exatas (que analisam), as Ciências Sociais (que explicam) e as
Artes (que revelam). Esta última, acreditamos, é a chave neste momento de transição planetária, revelada por meio da economia criativa ou
de novos conceitos de design, como os propostos por Bruce Mau ao afirmar em seu livro Massive Change: “Não é sobre o mundo do design,
mas sobre o design do mundo”. Universidades de todo mundo dedicam-se a pensar que futuro é esse, e como ele se desenvolve, resultando
em laboratórios prospectivos e em projetos como EdXonline3.
No pensamento grego existem Kronos e Kairos, o tempo linear e o tempo das oportunidades, um mais quantitativo, outro mais qualitativo.
O momento atual é de oportunidades, de acelerar processos e ter esperanças que as iniciativas sugeridas na RIO +20, visando a um futuro
melhor para todos, como aquelas propostas neste livro, possam ser implementadas da forma certa e no tempo certo.
Arnoldo de Hoyos, 2012
Presidente do NEF, Núcleo de Estudos do Futuro da PUC, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo4
2 www.millennium-project.org
3 http://www.edxonline.org/
4 http://www.nef.org.br/
Para criar o futuro, precisamos deixá-lo nascer
Cena 1: Em outubro de 2010, estive com Lala numa das primeiras atividades preparatórias da Rio+201, e do que viria depois dela, discutindo
perspectivas para concretizarmos a transição civilizatória que desejamos e necessitamos. Tratávamos do que poderia vir a ser uma “União
Global pela Sustentabilidade”. Não por acaso, ficamos na mesma mesa de trabalho, junto com Rosa Alegria, Pedro Tarak, Carlos Lopes2 e
outros colegas. E levantamos a bandeira: estratégias e planos de ação são necessários, mas não são suficientes. Precisamos de uma visão
positiva do futuro, capaz de mobilizar e direcionar nossa energia criativa, de alimentar o ânimo de milhões de pessoas. A ideia foi ouvida, e
apreciada, mas não vingou como pauta central.
Cena 2: Na preparação daquele seminário, com outros companheiros fazedores de futuros, discutiamos o que se poderia esperar da Rio+20.
Duas frases me surgiram, e acho que são cada vez mais verdadeiras. Uma: “a Rio+20 deve ser a ocasião em que, finalmente, assumiremos
que o mundo é mais do que a soma dos países”. As implicações disso são enormes e requerem uma verdadeira reinvenção dos sistemas de
organização política e social. A lógica dos Estados-nação pressupõe o mundo fragmentado em territórios estanques, com fronteiras
controláveis. Nada mais incongruente com a realidade que já vivemos, e que se aprofunda cada dia mais. Essa constatação, somada ao
reconhecimento das imensas possibilidades tecnológicas e sociais já existentes, enseja a outra frase: “o que está em jogo na Rio+20 é a
c riação do f uturo-agora”. Ou seja, falamos de um futuro que já está entre nós, fazendo força para vir à luz. Mas, para criar o futuro, precisa-
mos deixá-lo nascer. E o parto tem que ser agora.
Cena 3: O cotidiano revela que mesmo nossas decisões mais banais trazem embutidas uma expectativa de futuro, quase sempre inconscien-
te. Há uma expectativa de futuro que condiciona nossas decisões no presente. No imaginário coletivo atual – nas notícias, nos filmes, nos
livros, nas artes – predomina a visão de um futuro apocalíptico e não muito distante. É isso que vamos criar se não fortalecermos imediata-
mente a visão do desejável futuro, a qual já sentimos pulsar.
Cena 4: Um ano e meio depois da cena 1, Lala me liga: havia investido na ideia, cultivado a proposta de compartilhar futuros desejáveis. E
tinha um livro (este, que você está lendo), pronto para ser lançado na Rio+20. Convidou-me para ajudar a disseminá-lo. É claro que aceitei,
junto com os colegas do Vitae Civilis e muitos mais que, como nós, sabem que é possível criar o futuro. Afinal, fazemos isso todo dia, há
muitos anos. Bem-vinda Lala, com seu entusiasmo e persistência. Bem-vindos vocês, leitores e leitoras, que compartilharão visões e se
juntarão a nós nos esforço do parto e da criação do nosso desejado futuro. Aqui e agora.
Aron Belinky, Instituto Vitae Civilis3
Coordenador de Processos Internacionais
1 http://www1.ethos.org.br/EthosWeb/pt/4732/servicos_do_portal/noticias/itens/forum_global_pela_sustentabilidade_sera_lancado_no_rio_em_2011_.aspx
2 Respectivamente: Núcleo de Estudos do Futuro, Fundación Avina, Sub Secretário Geral da ONU
3 http://vitaecivilis.org/
Dedicado a todos que criam e acreditam em futuros
desejáveis. Seus sonhos fertilizam o futuro que está sendo
gestado neste mundo grávido de outro mundo.
A todos aqueles que participaram de Crie Futuros e, ao fazê-lo, nos autorizam o uso não comercial de seus futuros, obrigada pela confiança e inspiração.
Aos artistas profissionais que nos cederam suas ilustrações (maravilha!), especialmente a Claude Giordano pela emblemática imagem da capa.
Caso alguma imagem não possua crédito, pedimos desculpas e reiteramos nossa boa fé – é porque não conseguimos encontrar a autoria.
Nosso processo é colaborativo e possível graças ao engajamento de pessoas e instituições aos quais agradecemos. Saiba mais ao final do livro.
Nosso acervo é wiki: é possível conhecer, editar e complementar com textos/ imagens/ vídeos em www.criefuturos.com
Nota de responsabilidade:
Todo o conteúdo deste livro é de inteira responsabilidade de sua autora, que agradece a confiança dos apoiadores e os isenta de quaisquer
responsabilidades sobre o texto ou as imagens aqui contidos.
Para obter o livro, visite www.criefuturos.com. Os recursos obtidos pela eventual venda desta publicação são revertidos para a manutenção
do movimento Crie Futuros.
TAGS: futuro do passado - inspiração - felicidade -
consumo - sustentabilidade - cooperação - imaginário
coletivo - mudança de mentalidade - riqueza -
processos - redes - outro mundo possível - modelos
colaborativos - participação - abundância -
economia criativa - interdependência - confiança
Por que criar mundo exterior; sofisticadíssimos e caros De toda forma, o recado fica claro:
artefatos de guerra. Imagens que ali- a maneira como enxergamos o futuro
futuros desejáveis? mentaram nossa relação com a energia, influencia sua criação. As escolhas de
o consumo, a sustentabilidade, a coope- hoje desenham o mundo de amanhã.
Olhando o futuro do passado, fica claro ração e a relação com o outro. Mudando as escolhas, podemos mudá-
que muito do que existe hoje foi antes -lo. E o que escolher? Como escolher?
sonhado. Desde o fim do século XIX, Será que temos visões de futuro dese-
encontramos muitas imagens de tecno- jáveis para orientar nossas escolhas e
logias de informação e comunicação, inspirar inovação? Peter Drucker diz:
como videoconferência, notebooks e “A melhor maneira de prever o futuro
tecnologia wireless. Assim como carros é criá-lo”...
e mais carros, cidades em escala inuma- Mas, desde os anos 60, as imagens
na, drive trough, fast food, cirurgia re- de futuro difundidas em massa são te-
mota, aquecimento solar1. nebrosas, ameaçadoras, indefinidas.
Percebe-se que quem cresceu vendo São imagens de violência, desastre,
aquilo se inspirou e trabalhou para trans- Conversa remota por vídeo, impressora, uso de tecnologia ameaça. Hoje as (poucas!!!) imagens
formar sonhos em realidade. Foram ima- wireless, cidades globais. Frank R. Paul, EUA, 1921. de futuro, presentes sobretudo em vi-
gens que orientaram escolhas de modos deogames e ficção científica, assustam
de viver, prioridades de políticas e inves- em vez de motivar.
timento, inovação tecnológica. É possível É preciso sonhar e semear imagens
perceber, também, que tipo de futuro se e ideias de futuros desejáveis que pos-
desejava – e, portanto, se criou. A oni- sam inspirar inovação e orientar esco-
presença de carros em todos os formatos lhas, sobretudo na direção da mudança
possíveis; felicidade como sinônimo de de modelos que necessitamos para o
consumo de bens; famílias e indivíduos mundo melhor – e possível. Crie Futuros
satisfeitos porque estão isolados do se propõe a fertilizar o imaginário cole-
A Vida no ano 2000: chamada telefônica com vídeo. E já tivo, criando sementes de futuros e pre-
1 Veja mais em www.paleofuture.com e
falando com a China. Biblioteca Nacional de França, 1912. parando terreno para que as urgentes
www.criefuturos.com.
por qu ê , para que , como 11
mudanças de mentalidade e comporta- e prioridades que não farão sentido. Um era de que a cidade ia continuar a crescer
mento possam acontecer. dos grandes desafios dos urbanistas e fu- e era movida a cavalos. O que fazer com
Acreditamos que, para romper mo- turistas da Londres do final do século XIX todo o cocô destes cavalos? Fraldas? E
delos e gerar inovação profunda, é pre- como se livrar delas e de seu conteúdo?
ciso também libertar-se da busca de fu- Mal sabiam que em menos de trinta anos
turos plausíveis e sair à procura do a questão não faria mais sentido já que
desejável, do improvável mas não im- os cavalos foram substituídos por carros.
possível. Ter sempre a ousadia de olhar Esta metáfora nos permite ver quantas
o mundo, e o que se deseja mudar, e de nossas preocupações e políticas são
pensar “E por que não?”. Parece utopia, “fraldas de cavalos” e se referem a ques-
mas o trabalho de centenas de pessoas tões que não têm sentido no futuro.
e instituições (como os empreendedores Medir riqueza de pessoas e nações
sociais da Ashoka2) tem mostrado que o só pela quantidade de dinheiro gera-
impossível é possível: como comunida- A vida no ano 2000: educação como linha de da; orçamentos que investem quase
montagem. Biblioteca Nacional de França, 1889.
des de bairros de baixa renda construin- tudo em infraestrutura, o hardware, e
do creches e parques, sem dinheiro e quase nada em inteligência e proces-
em dois dias!3 sos, o software (mas hardwares não
Enxergar futuros também é impor- funcionam sem software...)4; processos
tante, pois sustentabilidade vem das es- (como a burocracia) e estruturas (como
colhas harmônicas que fazemos no pre- as cidades) que provocam imensa perda
sente. Se não estamos em sintonia com o do recurso mais precioso, escasso e não
futuro, corremos sempre o risco de gas- renovável que temos: o Tempo. Eis algu-
tar enormes quantidades de tempo, re- mas “fraldas de cavalo” que devem ser
cursos e oportunidades fazendo escolhas repensadas nos nossos desenhos de esti-
e formulando políticas a partir de visões los de vida sustentáveis.
Nosso ponto anos usando a imagem da capa: susten- ga a uma visão de sustentabilidade a
tabilidade não virá apenas de ajustes partir de economia criativa e modelos
de partida nos velhos modelos. Estamos falando colaborativos. Este trabalho se estru-
de algo novo. turou por meio de atividades realiza-
“Um problema não pode Nossa colaboração para esta “ges- das6 com os vários tipos de stakehol-
ser solucionado pela mesma tação” é fruto de um longo trabalho, ders: setor cultural, corporações,
mentalidade que o criou.” mix de criativa com futurista, que che- terceiro setor, governos locais e insti-
Albert Einstein tuições de fomento, cooperação inter-
nacional, redes colaborativas.
Os conceitos e as ferramentas que
“Desejável Mundo Novo” se constrói a desenvolvemos neste percurso norteiam
partir de centenas de futuros criados o recorte utilizado para costurar os futu-
entre 2008 e 2012, em oito países, por ros e desenhar estilos de vida sustentá-
pessoas pertencentes a dezenas de re- veis. Somos “sintetistas”: buscando for-
des e de todas as idades e funções. Lin- mas sintéticas e que possam ser aplicadas
guagem simples, diversa e divertida, em vários âmbitos; “comistas”: interes-
sem nenhuma pretensão técnica, unin- sados no fazer e “hubs”: tentando unir
do os pontos para que possamos enxer- linguagens, setores, áreas de atuação.
gar o desenho dos estilos de vida que
estes desejos revelam.
Nossa sensação é que eles tornam
visíveis alguns traços deste “outro Se preferir, vá direto aos futuros, pois
mundo possível” que está sendo gera- o que vem a seguir é um tanto técnico...
do. Diz Eduardo Galeno5: “Este é um Importante é sentir prazer nesta leitura.
mundo grávido de outro mundo”. Fra-
se que traduz o que dizemos há muitos
5 Durante os movimentos de democracia real na 6 Mais informações, artigos e vídeos no site
Tableaux Vivants. Claude Giordano, Paris, anos 90.
Espanha, em 2011. www.laladeheinzelin.com.
por qu ê , para que , como 13
Sustentabilidade c apital cultural/ humano e capital social que a sociedade em rede se organiza,
que, aliás, são abundantes nos países produz, reinventa e todas as novas for-
como? Três infinitos... “pobres”. Esta economia, baseada em mas de produzir e empreender que deri-
diversidade cultural, conhecimento, TICs vam destas associações, que se sinteti-
Sustentabilidade como, se a Terra é (Tecnologias de Informação e Comunica- zam na palavra “colaborativo”. Os
uma só e seus recursos são finitos e es- ção) e criatividade, traz a possibilidade exemplos são muitos: novos modelos de
cassos? A Economia Criativa pode ser de obter resultados não apenas econô- produzir, distribuir e ensinar como o Cir-
uma solução. micos, mas também ambientais, sociais e cuito Fora do Eixo7; as centenas de sites
Vivemos a passagem de séculos em culturais. Ou seja: sustentáveis. de crowdfunding8 – financiamento cola-
que sociedade, economia e política se A sustentabilidade pode ser possí- borativo; os negócios Mesh9, que pro-
organizaram em torno dos recursos ma- vel, pois estamos falando de três infini- põem uma economia do compartilhar; o
teriais como terra, ouro ou petróleo, tos! Um infinito potencializando o ou- fabuloso recurso representado pelo
que, por serem tangíveis, são finitos e tro... O primeiro é este dos recursos “excedente cognitivo”10, a produção co-
consumidos com o uso. Esta finitude cria intangíveis, que não apenas não se esgo- laborativa de conhecimento que gera
a economia da escassez, baseada em tam, como também se renovam e multi- frutos como a Wikipédia.
modelos de competição. Porém os recur- plicam com o uso. Só este fato já deveria O fascinante desta época é que
sos intangíveis como cultura, conheci- fazer com que a Economia Criativa fosse cada um desses “infinitos” ativa o outro,
mento e experiência, são infinitos e se prioridade estratégica – num momento permite que ele se potencialize, deixe de
multiplicam com o uso. Podem represen- em que o grande impasse é como seguir ser potencial e se converta em realidade.
tar uma economia da abundância, com a ampliação de qualidade de vida e
baseada em modelos de colaboração. a geração de renda se o planeta é um só, 7 Circuito que une mais de cem coletivos de criação;
De forma simplificada, podemos finito. Mas, se os átomos da Terra são fi- expande-se para outros países da América e inova em todas
as formas de gestão http://foradoeixo.org.br/.
dizer que a economia tradicional se ba- nitos, os bits das novas tecnologias cons-
8 Financiamento colaborativo, são centenas de sites
seou nos recursos tangíveis: capital tituem nosso segundo infinito. Com eles,
em poucos anos.
ambiental/estrutural e capital financei- podemos criar muitos mundos virtuais e
9 Veja o Livro Mesh, de Lisa Gansky ou o site
ro, escassos e finitos, resultando em mo- infinitas formas de potencializar, conec- http://meshing.it/.
delos insustentáveis. Já a Economia Cria- tar, recriar e interagir. Isto gera nosso
10 Termo proposto por Clay Shirky, em inglês cognitive
tiva se baseia nos recursos intangíveis: terceiro infinito: as infinitas formas em surplus, http://www.shirky.com/.
14 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
O infinito 1, dos recursos intangíveis Para que isso acontecesse, quais Partimos de algumas premissas:
(cultura, conhecimento, criatividade, ex- seriam alguns pontos de partida para BB Sustentabilidade só será possível com
periências), sempre existiu, claro. Mas as nossa ação? uma mudança cultural, de mentalidade,
novas tecnologias do infinito 2 criaram desejos, visão de mundo e de futuro. Esta
as associações com outras áreas e parcei- mos tentando mudar hábitos sem mudar
ros, que permitem que o potencial se Dando uma mãozinha antes as mentalidades?
concretize, e fizeram com que se tornas- BB “Sustentável” não é um mero adjetivo,
sem mais visíveis e acessíveis, “tangibili- para o futuro mas um novo “sistema operacional” que
zando os intangíveis”. A combinação daqui para frente vai orientar ações em
dos dois infinitos gera o terceiro, aquele A logomarca de Crie Futuros11 é uma todos os âmbitos da vida. Da mesma manei
das novas formas de organizar pessoas, mão, pois queremos “colocar a mão na ra que hoje a escravidão é impensável, num
relações, empreendimentos, enfim a tal massa” e “dar uma mãozinha ao futu- futuro próximo vai ser impossível não ser
“sociedade em rede”. ro”. Para tanto, identificamos alguns sustentável em cada detalhe da vida...
Mas para que esses infinitos se princípios norteadores e são eles que BB A palavra “sustentabilidade” nos provo
combinem necessitamos de “ativado- nos orientaram na redação deste livro. ca culpa e não, entusiasmo –“sabemos”
res”: elementos que atuem como “mo- que sustentabilidade é essencial, mas a
dems” ou catalisadores, integrando se- UM NOVO “SISTEMA” “sentimos” como algo restritivo, técnico e
tores e linguagens, gerando a OPERACIONAL: MUDAR aborrecido. Mas sustentabilidade é uma
convergência que é necessária para MENTALIDADES PARA possibilidade de redesenho do mundo, pro
uma ação sistêmica. Se tivermos a cora- MUDAR HÁBITOS. move a ampliação da qualidade de vida, é
gem de deixar para trás muitos dos “Desejável Mundo Novo” interessante e divertida.
modelos (conhecidos e confortáveis não é um livro técnico, mas BB A abordagem em relação à sustentabi
apesar de equivocados) do século XX e inspiracional. Gostaríamos lidade deve ser sistêmica, pois o ecossistema
fizermos as escolhas certas, esse “trio de motivar, divertir, colaborar em que vivemos é socioambiental, com
de infinitos” pode trazer a prosperida- para m
udar a cultura em relação interdependência entre o tangível da econo
de e harmonia. Este é o recorte que à sustentabilidade. mia e ambiente e o intangível da sociedade
usamos neste Desejável Mundo Novo, e sua cultura. Reduzir sustentabilidade a
sustentável (e possível...). 11 www.criefuturos.com soluções ambientais é mais do que um ris
por qu ê , para que , como 15
co, é tornar invisível aquilo que pode ser a estrutura, como se sua existência já fosse pre a “tradução” de um no outro. Exem-
solução: os patrimônios intangíveis. suficiente para gerar softwares/ pro plos: sustentável seria fazer uma gestão
BB Esta é uma das maiores mudanças cul cessos. A consequência é sempre um limpa e renovável tanto do patrimônio
turais: perceber que uma solução para a tremendo desperdício, pois hardwares tangível (biodiversidade, recursos natu-
sustentabilidade está nos patrimônios intan não funcionam sem software... E xemplo: rais) quanto do patrimônio intangível
gíveis, como criatividade, diversidade cul Olimpíadas e Copa do Mundo, no Brasil. (diversidade cultural, recursos humanos
tural, conhecimento, experiência, cuidado, Quase tudo o que está sendo feito é e sociais). Criar “Créditos de Diversi
valores humanos. São recursos abundantes “hardware”, estrutura – como os está- dade” da mesma forma que existem os
e que se renovam e multiplicam com o uso. dios ou estradas. Pouquíssimo está “Créditos de Carbono”. Damos muita
sendofeito de “software”: gestão, em- atenção a não desperdiçar energia tan-
DUAS COORDENADAS EQUIVALENTES: preendedorismo. Fazemos os produtos, gível, mas não consideramos o gasto de
TANGÍVEL/ESTRUTURAL E mas não criamos o processo para torná- energia intangível, por exemplo, o “cus-
INTANGÍVEL/PROCESSUAL -los visíveis e circularem; investimos mais to desconfiança”: ambientes e processos
A civilização contemporânea em infraestrutura do que em educação; sem confiança, como a maioria dos pro-
vive a explosiva combinação mudamos prioridades de governo, mas cedimentos burocráticos, resultam em
de evolução tecnológica não alteramos as leis e normas para que enorme desperdício de tempo, dinheiro,
rápida e evolução ética elas sejam possíveis. conhecimento. Aliás, atentamos para os
e social lenta.”12 O interessante é que uma mesma recursos naturais, tangíveis, mas cuida-
Exercitar-se em perceber a equiva- e strutura/ hardware pode receber
mos do recurso mais escasso e que de
lência e interdependência entre tangí- v ários processos/softwares, ou seja, fato não é renovável: o tempo.
vel/ hardware/ estrutura e intangível/ uma mesma forma pode ter várias fun- Em Desejável Mundo Novo pensa-
software / processo, ajuda a entender ções diferentes. Esta foi nossa lógica: mos em otimizar o tempo e encontrar
onde e como podemos ser mais susten- partir do que já existe hoje e pensar outras funções (processos/softwares)
táveis. A maioria das vezes o foco de po- novas funções. Afinal criatividade e para as formas (estruturas/hardwares)
líticas e investimentos está no hardware/ inovação é isso. já existentes. Brincando de reinventar
Consideramos também que há sem- estas formas, é curioso ver quanta coi-
12 Ricardo Abramovay, Folha de S. Paulo, 27/03/2012,
pre uma equivalência entre o tangível e sa poderia ser feita com pouco esforço
leia em http://radarrio20.org.br/index.php?r=site/
view&id=233404. intangível, e assim podemos buscar sem- e recursos. Sustentável.
16 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
TRÊS FASES DO TEMPO: PASSADO, simplesmente porque já são suficien intangível traz a dimensão sociopolítica
PRESENTE E FUTURO temente bons. Neste livro lidamos bas- e a simbólico-cultural. Curiosamente
Algo que a economia tradi- tante com “envelhação” e não apenas esta última ainda está pouco visível,
cional parece ignorar13 é com inovação... apesar de ser a dimensão em que estão
que qualquer produto ou Olhando para trás nos surpreende- os – abundantes e renováveis – re
processo sempre existe a mos com barbáries como a Inquisição ou cursos que podem trazer a solução
partir de recursos recebidos a crença de que banho faz mal à saúde. para a sustentabilidade: os patrimônio
do passado – e isso vale Pensar no Tempo é enxergar o presente intangíveis como conhecimento, cria
tanto para patrimônios e recursos natu- como se estivéssemos no futuro, pois aí tividade, cultura.
rais (como petróleo ou água) quanto notamos as barbáries do presente, sejam Falamos em capital humano, capi-
para os intangíveis (como os saberes e os engordantes cafés da manhã de tal intelectual, capital social, capital
fazeres). De igual maneira, todo pro- hotéis ou os desastres causados por des- cultural, capital ambiental, mas ainda
cesso ou produto deixa um legado para calabros do mercado financeiro. Este li- não reconhecemos que “valor” é muito
o futuro, seja ele positivo ou negativo, vro recria ou elimina umas tantas barbá- mais do que o econômico. Reputação
tangível (como resíduos sólidos) ou ries e lembra também que até há pouco (uma das poucas coisas que não é pos
intangível (como conhecimento a ser tempo não existiam coisas que por ve- sível copiar), por exemplo, é um valor
sistematizado). Sustentável é fazer a zes sentimos serem irrevogáveis, como a que tende a ser dos mais importantes.
escolha responsável considerando os moeda centralizada ou a publicidade. Patrimônio não se refere apenas ao
recursos recebidos do passado e o lega- econômico, como investimento, finan-
do deixado para o futuro. O que tem QUATRO DIMENSÕES DA ciamento, mercados, permutas, banco
acontecido é que nossa visão tem sido SUSTENTABILIDADE NOS de horas, moedas complementares. Exis-
imediatista, de curto prazo, com foco PROCESSOS E VALORES te também patrimônio na dimensão
apenas no presente. O aspecto tangível de nos- sociopolítica: direitos adquiridos, redes,
Visão temporal implica considerar so ecossistema engloba a tecido social, instituições, articulação, li-
o passado, pois existem produtos e dimensão ambiental – tanto deranças, ação coordenada. Patrimônios
processos que devem ser mantidos natural quanto a tecnológica, na dimensão simbólico-cultural: como os
e a dimensão econômica – saberes e fazeres, as linguagens artísti-
13 Como aponta o economista José Eli da Veiga,
www.zeeli.pro.br. monetária e solidária. O aspecto cas, criatividade, história, espiritualidade,
por qu ê , para que , como 17
valores humanos. E patrimônios ambien- compreender sempre estas quatro di- possível compreender o ciclo da água
tais: não apenas o ambiente natural – a mensões na sua estruturação e formas estudando apenas o estado líquido,
biodiversidade, as matérias-primas, de avaliar. Isso provavelmente trará a percebemos que o mesmo pode acon-
nosso corpo e saúde, mas também o necessidade de desenvolver indicadores tecer em relação ao valor. Por exemplo:
ambiente tecnológico – os espaços, as e métricas quadridimensionais (4D+) de investimos capital financeiro em capital
estruturas e os equipamento. riqueza, recursos e resultados. humano e assim geramos capital tec
Nós propomos Sustentabilidade Constatamos que, assim como a nológico que por sua vez pode gerar
4D+ considerando que nossos produtos água muda de estado, ocorre uma capital ambiental.
e processos, para serem eficientes e “mudança de estado” na natureza do Quem sabe em breve teremos uma
sustentáveis, devem ser sistêmicos e valor. Da mesma maneira que não é Economia 4D+? Para esta, o patrimônio
das nações, instituições e pessoas é a
soma de seus recursos e resultados nas
dimensões tangíveis (ambiental e eco-
nômica) e intangíveis (sociopolítica e
simbólico-cultural). Futuro desejável,
pois isso mudaria os patamares de
negociação, a tomada de decisão, a
formulação de prioridade e políticas.
Nosso Desejável Mundo Novo já
opera nesta lógica multidimensional:
projetos, processos, políticas visam sem-
pre resultados 4D+. A economia já foi
reinventada e ganhou novas dimensões
e moedas. As formas de avaliar e medir
também são 4D+, afinal medir vida,
sustentabilidade e abundância usando
apenas as métricas atuais é como tentar
medir litros com régua. Impossível.
18 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
CINCO “COMOS” DA em que o foco está na morte – e outro menos emprego, mas haverá muito tra-
SUSTENTABILIDADE: de Parceria – que tem foco no suporte à balho no “cuidar de”, que deveria ser
CUIDAR, CONFIANÇA, vida. Pois não é que faz sentido? prioridade nas políticas nacionais16. A
POTÊNCIAS, FLUXO E Vivemos há milênios a cultura da domi- rápida recuperação da Islândia pós-crise
COLABORATIVO nação: o medo é o grande motor da de 2008 é um exemplo do foco no cui-
economia e da sociedade; as teorias dar, sustentabilidade, economia criati-
CUIDAR é o propósito evolutivas se baseiam na ideia de luta, va, e não por acaso é uma gestão feita
O projeto What the World Wants, de lei do mais forte; o que está ligado ao por mulheres.17
199814, mostra que para solucionar a humano, sociocultural, não é valoriza- Em Desejável Mundo Novo os
maior parte (sim, quase tudo!) dos pro- do; as religiões pregam que o melhor da futuros selecionados estão ligados ao
blemas da humanidade seria suficiente vida é... depois da morte! CUIDAR e o afeto é o que orienta:
investir por dez anos apenas trinta por O modelo colaborativo é cada vez a fetamos e somos afetados. Como
cento do que o mundo gastava em mais presente, graças à sociedade em aponta Leonardo Boff, deveríamos
armamentos. Passaram-se mais de dez rede, e será provavelmente o do futuro considerar mais a inteligência afetiva,
anos, a escolha para o bem comum não (ou não teremos futuro...). Para isso, o já que ela é mais evoluída surgindo
foi feita e os gastos com armas duplica- cuidar deveria ser a lente que norteia apenas nos mamíferos18.
ram. O futurista Buckminster Fuller diz escolhas, prioridades e políticas em to-
“Ou a guerra é obsoleta ou a huma das as áreas. Para cada coisa, projeto,
nidade é que é...”. Por que seguimos lei, investimento, relação, atitude, fazer
fazendo escolhas insensatas? a pergunta: isso cuida de quê? Quanto
16 Uma das propostas de Ladislau Dowbor; Carlos
A historiadora Riane Eisler15 propõe mais cuida, mais merece nossa escolha,
Lopes e Ignacy Sachs no livro http://criseoportunidade.
uma releitura de nossa história a partir já que o cuidar é por natureza sustentá- wordpress.com
de dois modelos: um de Dominação – vel e com visão de longo prazo. 17 Uma entre muitas matérias. Note que optaram por
No cuidar estão muitas das ativi não salvar os bancos e sim, por investir nas pessoas.
14 O Que o Mundo Quer, veja a tabela que mostra esta dades do futuro: cuidar não apenas da http://internacional.elpais.com/internacional/2012/03/09/
relação e a proposta em http://www.unesco.org/education/ actualidad/1331323885_752952.html
tlsf/mods/them e a/interact/www.worldgame.org/
natureza, mas das pessoas, cidades, sa-
18 Este é um de seus textos que cita o tema
wwwproject/index.shtml. beres e fazeres, tempo, relações, modos
http://www.mndh.org.br/index2.php?option=com_content
15 http://www.rianeeisler.com/ de vida, recursos 4D+. O futuro terá &do_pdf=1&id=60
por qu ê , para que , como 19
Ambientes e processos Os custos desconfiança são enormes, veja colaborativo, intuitivo, cada vez mais
de CONFIANÇA são a base ao seu redor quanta coisa é movida à guiado pelo bom senso do coletivo.
“Ser ou Estar, eis a questão...” Revisi desconfiança... Já imaginou quanto nos Nada disso é possível sem confiar. Como
tando Shakespeare notamos que há custa o entrave provocado pela enorme colaborar e conectar sem confiar? As
uma tremenda diferença entre o ser e o burocracia que tenta, com pouco sucesso, mudanças atuais são tantas e tão rápidas
estar. O Japão é pobre – muitos desas- evitar corrupção e faz com que a maioria que cada vez mais temos que usar a in-
tres naturais, terra insuficiente para dos órgãos públicos do Brasil não consiga tuição e o bom senso como parâmetros,
cultivar comida para todos, inverno ri- executar seus orçamentos anuais, devido e também eles dependem de confiança.
goroso. Porém, está rico, sua população às dificuldades de contratação? Desejável Mundo Novo é feito por
tem qualidade de vida. Já Moçambique A falta de confiança está por trás de e para aqueles que confiam – em si, no
está pobre, mas é rico – com sua abun- boa parte das desarmonias que vemos outro, em sua comunidade, em uma
dância de recursos naturais, diversidade no mundo, em qualquer âmbito da vida causa, percebem que há bom senso no
cultural, localização e clima privilegia- humana, e é fortemente alimentada coletivo e que é possível conviver e
dos. Por quê? Observando processos de pela grande mídia, que tem no medo operar a partir dele.
desenvolvimento fica claro que o capi- seu principal produto.
tal que é capaz de ativar os outros é Confiança é a base para processos Trabalhar sobre as POTÊNCIAS
aquele que é abundante no Japão e es- ligados a atividades que têm nos recur- já existentes é o recurso
casso em Moçambique: o Capital Social sos intangíveis sua matéria-prima e já Quando engenheiros traçam uma estra-
– r esultados coletivos e econômicos ob- vimos que estas são nosso caminho de da não partem dos buracos, mas sim de
tidos mediante relações sociais coope- futuro – já que os recursos intangíveis terreno firme. Podemos somar quantos
rativas e de confiança: planejamento e são abundantes e se multiplicam com o buracos forem, estes serão sempre um va-
ação integrados, instituições fortes, cul- uso. A experiência turística, a criativida- zio... No entanto, nossa cultura é operar
tura de solidariedade e cidadania. de, os valores de uma empresa, a gover- na lógica do buraco, do que falta e não
E capital social depende de quê? Re- nabilidade, o aprendizado, dependem do que há; vem daí o assistencialismo,
ciprocidade e confiança pessoal, interpes- de confiança. que desempodera e não resolve. Nor
soal e institucional. No Japão as pessoas Desconfiar consome muito tempo, malmente as reuniões de planejamento
deixam suas bolsas marcando lugar na recursos, energia, conhecimento, ale- começam com a pergunta “O que nos
fila do Metrô enquanto vão ao banheiro! gria. É insustentável. O futuro é em rede, falta?” e não com “O que já temos?”.
20 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
FLUXO justo e acessível 4D+: ambientais, sociais e culturais, Nossa visão é otimista (somos
dos recursos é o objetivo além do econômico. entusiasmo!)22, por isso olhamos o lado
Quando treinamos nosso olhar para Atentar para os fluxos revela uma cheio do copo e percebemos que estes
enxergar potências, verificamos que há coleção de barbáries do presente. A dados revelam oportunidades. Desejá-
abundância, o que falta é fluxo. Na energia anual que a controversa hidro- vel Mundo Novo considera que é um
Natureza existe saúde onde há fluxo. elétrica de Belo Monte pode gerar privilégio viver nesta época em que,
Água parou, apodreceu; sangue pa- equivale ao que é desperdiçado pelo pela primeira vez na história da huma-
rou, morreu. Quem sabe, possamos ter sistema de transmissão de energia. No nidade, há recursos, conhecimentos e
uma visão mais ampla e sistêmica de Brasil, o Censo de 2010 revelou que o pessoas suficientes. E espera colaborar
s ustentabilidade se pensarmos em
número de casas vazias superava para promover escolhas conscientes e
identificar, promover e regular fluxos? o déficit habitacional, e mesmo assim sensatas, que façam circular esta abun-
Tsunamis ambientais e tsunamis fi o mercado imobiliário seguiu cons dância de forma justa.
nanceiros; fome ou obesidade; mobi truindo (mais uma bolha prestes a
lidade social e mobilidade urbana: estourar?)20. Faz sentido que os aproxi- Processos COLABORATIVOS
problemas de fluxo. madamente trinta trilhões de dólares e em rede são o mecanismo
Dinheiro, conhecimento, comida, empenhados em salvar bancos21 na cri- Quando, em 1987, Riane Eisler propôs
água, saúde, cultura, afeto, vestuário, se de 2008 equivalem a um salário os dois modelos já citados de Domina-
habitação, energia – quanto do proble- mensal de US$ 357,00, por um ano, ção/centralizado e de Parceria/distribuí-
ma é de escassez real e quanto é de para os sete bilhões de habitantes do do, ainda não havia a noção de “cola-
falta de fluxo? planeta? Ou notar que na “nuvem” borativo” ou a web. Mas a tipologia das
A abundância fica ainda mais evi- financeira circulam capitais 75 vezes redes traduz bem seu pensamento:
dente quando consideramos recursos maiores do que o PIB mundial? No Modelo Centralizado, o movi-
e resultados tangíveis e intangíveis. mento é de poucos para muitos: tudo
Garantir sua valorização e fluxo, como 20 http://www.ecodebate.com.br/2010/12/15/ que é “de massa” – mídia, cultura, con-
uma espécie de “sistema de conversão” numero-de-casas-vazias-supera-deficit-habitacional- sumo, turismo, eventos; “grande” –
brasileiro-indica-censo-2010/
entre dimensões, é mais um dos moti- cidades, corporações, mercados, dívidas;
21 Veja também http://www.telegraph.co.uk/finance/
vos pelos quais num Desejável Mundo
newsbysector/banksandfinance/6722123/Bailing-out-the- 22 A Enthusiasmo Cultural lançou e coordena Crie
Novo há novas métricas e indicadores banks-cost-5500-per-family.html Futuros.
22 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
23 Note que as grandes corporações geram 24 Cálculos feitos pelo MIT e Clay Shirky em Cultura da
Modelo centralizado, de a maior parcela do PIB. Mas as MPEs geram a grande Participação. Assista www.ted.com/talks/clay_shirky_how_
poucos para muitos. maioria dos empregos. cognitive_surplus_will_change_the_world.html.
por qu ê , para que , como 23
que o inspira – nossa wikifuturos25 – Por que não E ainda temos um sonho27?
revela que o desejo das pessoas está no Os cientistas ganhadores do Blue
melhor uso do tempo, assim como em mudamos o mundo? Planet Prize, uma espécie de Nobel do
conviver e compartilhar. Meio Ambiente que existe desde a Eco
Desejável Mundo Novo é aquele A ideia de Crie Futuros nasce em 1º de 92, começam seu texto para a Rio +2028,
em que se buscam a mistura, o cami- janeiro de 2007, num mix de crise pesso- reafirmando que sim, eles têm um
nho do meio, a resultante. Cair em po- al (perguntei-me “como desejo viver?” e sonho. Seu sonho questiona o mito do
larizações é sempre um risco, e talvez o notei que não sabia, só sabia como de- crescimento eterno e a visão de que “a
melhor modelo seja a combinação dos via fazer) e efeito pós-leitura de Massive economia verde será capaz de compa
modelos da página ao lado, como re- Change, do designer de ideias Bruce tibilizar o tamanho do sistema econô
presentado no rizoma26. Mau – uma coletânea de informações mico, sempre maior, com os recursos
sobre tecnologias e pessoas que partici- limitados dos ecossistemas”29.
pam de um redesenho do mundo. Com A economia verde, sozinha, pode
Rizoma. estas questões na cabeça, e preparando não conseguir tornar-se uma solução
uma palestra sobre os anos 60, decido para a sustentabilidade. Mas Desejável
começar 100 anos antes – para mostrar Mundo Novo considera que economia
como tudo convergia para um grande criativa, riqueza multidimensional e co-
salto de consciência e comportamento laboração são chaves importantes para
que, supostamente, se seguiria aos efer- que isto seja possível e possamos dese-
vescentes acontecimentos dos anos 60 e nhar – e viver – o mundo melhor que
70. O resultado dessa mistura de ano desejamos. Talvez ainda não tenhamos
novo, mudança maciça e anos 60 é a mudado o mundo porque achamos que
velha pergunta que não quer calar: se
27 A emblemática frase de Martin Luther King:
25 Em www.criefuturos.com, com futuros temos recursos, conhecimentos e pesso-
I have a dream.
macrotemas deste livro. as para tanto, por que não mudamos o
28 http://www.af-info.or.jp/en/bpplaureates/
26 Modelo inspirado na Natureza, proposto por mundo? Por quê? doc/2012jp_fp_en.pdf
Gilles Deleuze e Félix Guattari, em que a organização dos
elementos não segue linhas de subordinação hierárquica 29 http://radarrio20.org.br/index.php?r=site/
e qualquer elemento pode incidir em outro. view&id=233404
24 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
é impossível! O nosso sonho é que os que eles sejam lidos de forma original, em box destaque, ou estão
futuros que oferecemos a seguir, cria- independente quanto para acentuar as entremeados em meu texto. Também estão
dos entre 2008 e 201230 e muitas vezes lógicas e premissas que propomos. em box os textos de convidados. As
inspirados em práticas que já existem, Os futuros do nosso acervo, texto ou delicadas ilustrações de Ângela León foram
possam inspirar, motivar, apontar cami- desenho, aparecem em sua redação feitas especialmente para o livro.
nhos, inovações e “envelhações”.
Um diálogo no Futuro1 — Não, são todos diferentes e ninguém quer se parecer com o outro.
— As religiões acabaram?
Pichi de Benedictis, Rosário, Argentina, 2008 — Não, existem centenas de religiões.
Gestor cultural, músico, fotógrafo, docente,um dos criadores do projeto Rosário Ciudad — Então, as pessoas acreditam em Deus?
Creativa/Franja Joven — As pessoas acreditam. Isso é o importante, alguns, certamente, em deuses.
— Vivem eternamente?
Isto é o que me lembro de um diálogo, ocorrido no futuro, entre um enfer- — Não, cerca de 100 anos, de acordo com a decisão de cada um.
meiro e um milionário criador de personagens de fantasia (digamos Walt Disney) — Como assim, de cada um?
que acorda de um sonho criogenizado. Tenho que avisá-los que nem tudo o que — É que cada um decide como viver. As pessoas escolhem se querem comer
pude lembrar daquela conversa pode ser interessante ou congruente para gente bem ou mal, não podemos obrigar ninguém. Alguns gostam de arriscar, não sei,
do século XXI como nós. Imaginem o estado de perturbação de um homem que escolhem como viver e como morrer.
ficou inconsciente durante séculos. Mas talvez seja melhor assim, sem certezas, — Não existem problemas, então?
para não acabar com a possibilidade de que o futuro nos surpreenda. — Sim, senhor, muitos problemas, por sorte. O que seria de nós sem problemas.
Seguramente andaríamos por ai nos matando uns aos outros. Gostamos de
Ainda um pouco tonto e tremendo de frio, o Sr. Disney perguntou: discutir apaixonadamente sobre tudo, isto faz com que, ao terminar, se desfrute
muito melhor a cerveja.
— Existe somente um tipo de governo? Como não entendia muito bem o que se passava na Terra, o Sr. Disney preferiu
— Não, existem milhares e as pessoas mudam de acordo com seus interesses. sair deste contexto e perguntou:
— E o que aconteceu com o Estado? — Existe gente vivendo em Marte?
— Pertence a todos. Passou a ser de todos quando as licitações fracassaram. — Sr. Disney, por que iríamos viver em algum lugar tão distante e escuro tendo
— Como assim, “as licitações”? todo o sol a nossa disposição, ar limpo para respirar profundamente ou rios de
— Bom, quando o sistema de governo por partidos políticos fracassou, durante água transparente.
muito tempo as pessoas elegiam empresas para gerenciar as cidades, mas tam- — Mas, então, a Terra não é nenhum deserto nem uma grande geleira?
bém não funcionava bem. Logo, tentaram criar computadores capazes de dar — De acordo com o que li, a única diferença entre a sua época e a nossa é que
todas as instruções para administrar as cidades, mas também não funcionou. agora o deserto e as geleiras são somente lugares turísticos, talvez como antes
Sendo assim, finalmente, decidimos fazer nós mesmos. fossem os seus falsos parques na Flórida. Temos muito tempo para ir de um
— E, finalmente, todos os homens são iguais? lado ao outro e amamos as montanhas, os rios, estar com gente diferente,
provar suas comidas…
1 O original, de 2008, pode ser encontrado em http://criefuturos.com/futuros_criados/ — Explodiram a bomba atômica?
CF._Economia_Criativa_Pichi_de_Benedictis#pageFiles
26 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
x
2 Ganhar,
capítulovalorar, negociar
“Em economia, é fácil explicar o passado. Mais fácil ainda é predizer o futuro.
Difícil é entender o presente.”
“Frase”
Joelmir Beting
Autor
28 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
aos nossos MacroESA– Macro Ecossiste- sez4”. Um milionário poderia então ser possível quando o acesso global e irres-
mas Socioambientais) e a quantia, divi- rico de dinheiro, mas escasso de tempo trito às TICs resultou em melhor educa-
dida pelo número de habitantes do pla- ou liberdade; um emprego podia garan- ção, mais transparência dos processos e
neta, resultaria em US$ 171.429,00 por tir abundância de segurança e escassez consequentemente melhor capacidade
pessoa, ou um ano de salário mensal de de autonomia; uma empresa poderia de escolha e decisão por parte da popu-
US$ 14.285,00 por terráqueo. gerar abundantes dividendos para os lação. Isso fez também com que nestas
E qual seria uma riqueza verdadei- acionistas e escassos benefícios para sua últimas décadas fosse quebrado um pa-
ra? Vimos espalhar-se a visão de riqueza comunidade ou mesmo um expert inter- drão histórico por eles percebido, e
como “Abundância que não gera escas- nacional poderia ser abundante em apelidado de “dança do caranguejo”.
experiências e escasso em vínculos. Era um padrão de avanço e retrocesso
A grande instabilidade dos primei- que marcou quase ritmicamente as dé-
ros vinte anos deste século provocou cadas do século XX e início do XXI –
mudanças aceleradas e profundas. Nos veja-se, por exemplo, a alternância en-
BVH: Bolsa de Valores Humanos
anos vinte assistimos a um redesenho de tre governos progressistas e conserva-
Baseia-se nos seguintes índices:
1 - Índice de Expressão de Talentos;
praticamente todas as áreas da vida, e dores, que eram curiosamente chama-
2 - Índice de Transparência /Telepatia; com grande abrangência, graças ao pro- dos de “direita” e “esquerda” e que,
3 - Índice de Saúde Emocional ou do Brincar; cesso de compartilhamento e difusão de logo antes da extinção do sistema de
4 - Índice do desapego material ou tecnologias – tanto as “hard”, tangíveis, governo por “partidos”, tornaram-se
equilíbrio material; quanto as “soft”, intangíveis. Nos anos bastante indistintos em seus propósitos.
5 - Índice do vínculo afetivo; 30, essas novas estruturas foram moni-
6 - Índice de redução extrativa; toradas e ajustadas pela sociedade, por
7 - Índice de beleza; meio da CGDD: CoGovernança Direta
8 - Índice de gentileza. Digital. Um ano atrás uma dupla de
Gabriel, Sonia Bosco, Camila Aragão, Elen historiadores apresentou uma tese na
Igershemer, Mônica Cristina Ladim, Woody,
Rio + 50, mostrando que o CGDD foi
Laura, Helen Rose, Renata Proetti, Leatrice
Cristina Affonso, Marilena Flores Martins, 4 Metariqueza: conceito cunhado em 2008 por
Brasil, 2009. Roberto Adami Tranjan http://www.leituracorporativa.com.
br/open.php?pk=34&fk=63&id_ses=4&canal=16
28 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
ÍNDICE MULTIDIMENSIONAL DE RIQUEZA, afirmar que alguns vetores deste sucesso foram a B) Conjunto de indicadores de riqueza, norteados
UM FUTURO DESEJÁVEL1 gestão multissetorial, educação transdisciplinar, pelo conceito de interdependência e valores huma-
O exercício abaixo foi criado em novembro de 2008, produção colaborativa, ação em redes e o empode- nos e que, ao abranger as dimensões do quadripé da
São Paulo, durante o Global Fórum América Latina, ramento de comunidades. Hoje, podemos afirmar Sustentabilidade Integral, promovam equilíbrio entre
uma iniciativa que é parte do BAWB – Business as que a ressignificação de riqueza como “abundância o material, tangível e o intangível visando à qualida-
Agent of World Benefit. Seguindo os passo a passo da que não gera escassez” é uma realidade.” de de vida.
Investigação Apreciativa foi construído o cenário
abaixo, para 2020. Se qualquer coisa fosse possível, projetamos: C) Legislação e políticas que transformem e regula-
INDÍCE MULDIMENSIONAL DE RIQUEZA: NOVOS mentem os fluxos econômicos e sociais que vão via-
Afirmação Aspiracional: Uma notícia em 2020 INDICADORES, MOEDAS E FLUXOS. bilizar a aplicação do IMR.
“A União Européia, último bloco econômico a adotar o
Índice Multidimensional de Riqueza (IMR), consolida Frase Aspiracional: Envolvidos:
o modelo desenvolvido pela ULA – União Latino- “Indicadores Multidimensionais de riqueza − Força Tarefa multissetorial e transdisciplinar para
-Americana e criado a partir da crise econômica global geram Sustentabilidade Integral para a desenhar a base do processo, que seria em seguida
de 2008.” humanidade e o planeta.” desenvolvido por grupo de trabalho transdisciplinar.
Tanto o conjunto de indicadores quanto as novas Eixos: sustentabilidade, inovação, desenvolvimento,
moedas do IMR permitem o equilíbrio na gestão do Maquete simbólica realizada pelo grupo – síntese cooperação.
quadripé da Sustentabilidade Integral: as dimen- inspiracional. Protótipo: − Instituições cujo trabalho já contenha referência ao
sões econômica, ambiental, social e cultural, men- Indíce Muldimensional de Riqueza inclui: tema; seleção de profissionais de perfil transdiscipli-
suradas por meio de métricas quantitativas e quali- nar originários de instituições de ensino (meio am-
tativas. O novo modelo vigente, que prioriza valores A) Moedas/métricas relativas ao quadripé da biente, direito, comércio cultura, política, desenvolvi-
humanos e recursos intangíveis (conhecimento, Sustentabilidade Integral (dimensões ambiental, mento etc.). Inclui “praticantes” e “pesquisadores”.
criatividade e cultura), alcança seus objetivos de social, cultural e econômica) que permitam sua
gerar políticas públicas e privadas baseadas no mensuração, avaliação, intercâmbio. Medir desenvol- Indicadores/cronograma
conceito de interdependência e voltados para a vimento e sustentabilidade só pelo valor econômico é Curto Prazo:
qualidade de vida da humanidade no planeta. como tentar medir litros com régua. Capital humano e Pesquisa preparatória:
A partir dos resultados de 2017 na África, podemos cultural, capital social, capital tecnológico e ambiental − Antecedentes: experiências e informações no tema.
permitem que diversidade cultural e natural, solidarie- Ex: FIB, Icons 2003, Indicadores de Sustentabilidade
1 Saiba mais sobre o Global Fórum América Latina e
dade, articulação, saberes e fazeres tradicionais, criati- de Nações e outras publicações, Economia Criativa e
veja a notícia em http://www.compendiosustentabilidade.
com.br/compendiodeindicadores/praticas/
vidade possam integrar a equação do desenvolvimen- Desenvolvimento Sustentável, Moedas Solidárias.
default.asp?paginaID=27&conteudoID=345 to sustentável. − Pesquisa de instituições e nomes para integrar a
G a n h a r, va l o ra r, n e g o ci a r 29
Indicadores de Qualidade do Projeto As bases para essa gias já existentes de avaliação socioam-
Apropriação: Equilíbrio entre o desejado e o alcançado. transformação da eco- biental9. Indicadores e métricas foram
Coerência: Relação teoria/prática. nomia já estavam deli- inicialmente combinados, adaptados e
Cooperação: Espírito de equipe, solidariedade. neadas nas metodolo- sistematizado na lógica 4D, para facili-
Criatividade: Inovação, animação/recreação.
gias de todos aqueles tar sua compreensão e aplicação.
Dinamismo: Capacidade de auto-transformação segundo as necessidades.
que necessitavam mé-
Eficiência: Identidade entre o fim e a necessidade.
tricas para além do
Estética: Referência de beleza.
Felicidade: Sentir-se bem com o que temos e somos.
quantitativo e finan- Tempo:
Harmonia: Respeito mútuo. ceiro. As antigas ONGS
Oportunidade: Possibilidade de opção. contribuíram com as- o quinto elemento
Protagonismo: Participação nas decisões fundamentais. pectos ligados às di-
Transformação: Passagem de um estado para outro melhor. mensões sociopolíticas Entretanto, conseguimos de fato avan-
Indicadores aplicados pelo Centro Popular de Cultura e simbólico-culturais5; çar nas questões de sustentabilidade
e Desenvolvimento, CPCD, Brasil. os processos multis quando incluímos o elemento TEMPO,
setoriais de busca de transversal a todas as dimensões. Aí
soluções para a gestão passamos à Economia 4DxT, uma Eco-
t angíveis e intangíveis. No âmbito em- pública e cidades6, com indicadores de nomia da Abundância. A economia tra-
presarial houve uma grande mudança governabilidade e qualidade de vida; o dicional, vigente até o final dos anos 10,
na tomada de decisão, uma vez que foi setor financeiro7 e empresarial8, com as tinha uma visão de curto prazo, com
possível “enxergar” os resultados e o metodologias de avaliação de intangí- foco apenas no presente. Não conside-
valor gerados pelas áreas ligadas a in- veis, e a estas somaram-se as metodolo- rava10 que todo produto ou processo
tangíveis, como P&D, RH, Comunicação, existe sempre a partir de um legado re-
5 http://www.cpcd.org.br/principal/
Responsabilidade Social e Ambiental. cebido do passado – e isso vale tanto
publ/Guia%20IQP.pdf
Antes, eram consideradas despesa e não para patrimônios e recursos naturais
6 http://www.nossasaopaulo.org.br/
receita e depois ficou evidente sua cen- observatorio/indicadores.php
tralidade como geradores de valores- 7 Busque por BNDES, MAE e Eduardo Rath Fingerl 9 http://footprint.wwf.org.uk/ www.globalreporting.
-chave como Reputação, Fidelidade, En- org; www.cdproject.net; http://epi.yale.edu/
8 Busque por Daniel Domeneghetti e
gajamento, Inovação. http://www.domsp.com.br 10 Veja “Mundo em Transe”, de José Eli da Veiga, 2010.
G a n h a r, va l o ra r, n e g o ci a r 29
(como petróleo ou água) quanto para financiar um restaurante poderia fi O Banco Pró-Cidade
os intangíveis (como os saberes e faze- nanciar “hardwares”, produtos como apresenta sua Máquina Pro
res). Assim como todo processo ou pro- fogões ou a reforma de um espaço. Será inaugurada amanhã uma máquina na qual
duto deixa um legado (positivo ou ne- No entanto, não poderia financiar o os cidadãos poderão depositar todos os projetos
gativo) para o futuro, seja ele tangível “software”, processos como o de aper- que beneficiem a cidade. Ela então realizará um
(como resíduos sólidos) ou intangível feiçoamento do Chef. É justo aí, que estudo ponderando a exequibilidade, o financia-
mento necessário e os benefícios para a cidade.
(como conhecimento a ser sistematiza- reside o valor e o diferencial.
Aos projetos selecionados o Banco facilitará
do), tornamo-nos sustentáveis quando No Brasil, a mesma mudança de
não apenas o dinheiro necessário como tam-
as escolhas feitas no presente foram ca- foco em produtos/infraestrutura para bém outras relações institucionais, empresariais
pazes de equilibrar o uso dos recursos foco em processos/sistemas de gestão foi e outras necessárias a sua concretização. Os
recebidos do passado com o legado dei- o que evitou a repetição de erros socioe- juros serão reduzidos e proporcionais ao êxito
xado para o futuro. Um dos resultados conômicos e ambientais da Copa do do projeto.
mais imediatos dessa maneira de lidar Mundo de 2014. O que fazer com espa- Erica Sarchione e Florencia Lucchesi,
com a economia, considerando-a como ços construídos ou revitalizados que esta- Rosário, Argentina, 2010.
processo no tempo, foi a mudança na vam sem uso, possibilidade de manuten-
formulação de preços. A gasolina é um ção ou mesmo com pouco conteúdo,
exemplo. Seu valor por litro passou a in- gestores ou público? Como fazer com os realizando grandes eventos com lógica
cluir o “antes”– tempo de formação do que os recursos do evento irrigassem colaborativa, adotando tecnologias so-
petróleo – e o “depois” – o reequilíbrio uma diversidade de MPEs (Micro e Pe- cioculturais para ter baixo custo econô-
das consequências ambientais. quenas Empresas) locais e não se concen- mico e grandes resultados sociais. Este foi
Compare como é compreender trassem em poucas grandes empresas? o legado que o país deixou ao mundo.
algo a partir de uma foto ou a partir de Para as Olimpíadas de 2016, os maiores Ainda hoje, nos maravilhamos com a ori-
um filme. Foi algo similar que aconte- investimentos foram em inteligência e ginalidade dos estádios restaurados pe-
ceu quando passamos a considerar o na organização de coletivos – qualificar e las escolas de samba, cada uma deixando
Tempo. Passar do estático ao dinâmico preparar serviços, educar, formar gesto- sua marca com criatividade, numa com-
é, por exemplo, trabalhar com Processos res, organizar redes solidárias e (ou) de binação de cores e formas que era o pró-
(Dinâmicos) e não apenas com Produtos microempreendedores que pudessem prio retrato do jeito brasileiro de ser.
(Estáticos). Antes, um Banco que fosse atender às demandas de serviços. Inovar, Inaugurou-se o Urbanismo Colaborativo.
28 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
ECONOMIA 4D xT: atua como um coeficiente, um fator de tados em cada dimensão é igual ao Im-
multiplicação para o valor atribuído a pacto. Estes, quando somados (ou sub-
recursos, resultados cada recurso recebido do passado ou traídos...), geram o Impacto Total 4DxT
e valores resultado gerado no presente. Um – que pode ser negativo ou positivo.
r ecurso D/simbólico–cultural, como
Patrimônio Total mais (ou menos)
multidimensionais uma dança tradicional; um recurso D/ Impacto Total dão o Valor Real 4DxT,
ambiental, como as árvores frutíferas; que é o valor real de futuro.
As mudanças no sistema econômico ou um recurso D/sociopolítico, como o Uma empresa, por exemplo, pode
ainda estão em curso. Por isso, é bom respeito aos direitos humanos, terão ter resultado:
explicar melhor como ele está se dese- valores finais proporcionais ao coefi- • (D/financeiro) Vendas +8
nhando. Na Economia 4DxT,o Tempo ciente Tempo pelo qual foram multipli- • (D/ambiental) Aproveitamento de es-
cados. Ex.: direitos humanos paços ociosos -4
respeitados há maistempo, • (D/sócio-político) Reputação – 3
maior valor. • (D/simbólico – cultural) Gestão de co-
Na Economia 4DxT, a nhecimento +6
soma dos Recursos de cada O valor total é 8-4-3+6 = 7
dimensão constitui o Patrimô- Ao falar em Tempo, é fundamental
nio daquela dimensão.O Pa- ressaltar que nossos maiores avanços
trimônio 4DxT Total é a soma vieram da percepção de que Tempo é
dos patrimônios tangíveis (fi- muito mais do que dinheiro. Tudo aqui-
nanceiro monetário/solidário lo que torna pessoas, instituições e luga-
+ ambiental natural/tecnoló- res mais felizes e evoluídos acontece no
gico) e dos intangíveis: pa- Tempo, como relacionar-se, aprender,
trimônios sociopolíticos e criar, cuidar, compreender e saborear.
simbólico- culturais. “Otimizar o Tempo” é mais do que tor-
A mesma lógica se ná-lo mais produtivo. Sabemos que a
aplica aos Resultados. função de uma gestão melhor e de uma
O conjunto de Resul- produtividade maior é liberar mais
G a n h a r, va l o ra r, n e g o ci a r 29
vez que a informação está disponível FunÇão de ativação: de Heinsenberg17, quanto mais nos dedi-
em todos os lugares, tornaram-se cada camos a conhecer a posição (espaço/for-
vez mais laboratórios de prática. do valor absoluto ma) de um elétron, menos saberemos de
Ademais, no início do século XXI, ao valor relativo sua velocidade (tempo/processo) e vice-
ficou claro que o desenvolvimento sus- -versa. De forma análoga, verificou-se
tentável acontecia ao nível local, nos Mapear e mensurar o intangível usando ser mais eficiente mapear a nova econo-
territórios. Isto também contribuiu para instrumentos e métodos de medir “coi- mia a partir de seu aspecto dinâmico
que, paulatinamente, o conceito “se sas” é pouco eficiente. Criando uma (velocidade/processo) do que de sua for-
torial” fosse ficando de lado. Lógica e analogia, não mapeamos nuvens da ma (posição/ quantidades), mesmo por-
ferramentas 4DxT permitiram que os mesma forma que mapeamos monta- que, as áreas ligadas aos intangíveis ca-
territórios (atualmente denominados nhas, mas sim estudando seu comporta- racterizam-se por sua acelerada e
microESA - microEcossistemas Socio mento. Para medir o intangível foram constante mudança de forma: ao termi-
Ambientais) fossem estudados dentro adotadas formas mais semelhantes ao nar uma mensuração, aquela realidade
de uma concepção multidimensional e cálculo e estudo do clima – em que se es- já não existe mais – a nuvem mudou.
volumétrica. Tornou-se possível ter uma tudam interações e dinâmicas. Avança- Ao estudar mais o “comportamen-
leitura georreferenciada, em que os mos bastante quando os conceitos quân- to” do que a “forma”, verificou-se que
layers 4DxT eram sobrepostos às ima- ticos passaram a estar mais presentes no os ramos de atividade têm diferentes
gens de satélites; leituras através de cotidiano (imaginem que, nos anos 10, potenciais ativadores. Algumas têm ca-
imagens eram produzidas pelos fluxos quase cem anos após sua formulação, pacidade de ativar o seu entorno, im-
de dados no tempo (como nas visualiza- ainda se ensinava apenas a física newto- pulsionando outras áreas de negócio.
ções16 de dados) ou a combinação de niana nas escolas). Observou-se, então, Outras, apenas geram empregos. Com-
ambos. De toda maneira, era possível uma analogia entre as Partículas da pare, por exemplo, a uniformidade de
ter uma percepção de fato orgânica dos física quântica e os Tangíveis (base da um antigo bairro industrial à diversida-
territórios, e seus processos apareciam economia tradicional); e entre os Intan- de de um atual território criativo. Umas
como órgãos de um sistema vivo – evi- gíveis (base da Economia Criativa) e a causam danos ambientais, outras quali-
denciando seu caráter de ecossistema. Energia – reforçando a necessidade de ficam quem produz e quem consome,
estudar mais o “comportamento” do
16 http://www.webdesignerdepot. 17 Enunciado da mecânica quântica formulado
com/2009/06/50-great-examples-of-data-visualization/ que a forma. No Princípio da Incerteza em 1927.
28 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
Novo contexto, design, inovação, atributos culturais, res- Nova Lei para comercialização de
ponsabilidade social e ambiental e lide- produtos – novos bancos e moedas
novas dinâmicas rança. Hoje, o motor da economia já não O Governo Central dos cinco continentes apro-
profissionais é mais o produto ou serviço e sim a ex- vou nesta terça-feira, dia 13 de outubro de 2042,
periência vivida (por isso turismo e en- uma lei obrigando todas as empresas do mundo
Nas últimas décadas, as instituições tive- tretenimento cresceram tanto). Os pró- a incluírem uma taxa de 10% a 15% de respon-
ram que aprender a fazer dos recursos prios produtos e serviços se distinguem sabilidade social nos seus produtos para obter
intangíveis a “matéria-prima” e a essên- pelo tipo de experiência que provocam. sua licença de.
cia de uma nova economia da abundân- Valores não são mais medidos apenas A empresa terá que destinar essa porcentagem
para alguma ação em que haja o desenvolvi-
cia, potencializada pelos infinitos ofere- quantitativamente, mas também quali-
mento sustentável de uma comunidade. Qual-
cidos pelas novas tecnologias e a tativamente. Mede-se não apenas Resul-
quer empresa que não aderir a esta nova lei fica-
organização em redes e coletivos. Como tado (visão de curto prazo), mas princi-
rá impedida de comercializar seu produto. O
o objetivo era criar modelos de negócios palmente Impacto (visão de médio órgão Produção cuidará da validade das ações
que gerassem resultados multidimensio- prazo). A Reputação é a grande medida sociais praticadas pelas empresas. Será provi-
nais, na lógica 4DxT, foi preciso repensar para o valor de uma empresa e institui- denciado assistência aos microempreendedores
a própria estrutura das instituições. Fo- ção, é o que garante a sua capacidade que não possuem recursos para aplicar tais
ram fortalecidas as áreas ligadas aos in- de seguir atraindo colaboradores para ações. Espera-se que esta nova lei permita uma
tangíveis e que promovem integração suas equipes e público que deseje aquilo melhora substancial das condições de vida de
com outras, atuando como uma espécie que ela oferece. milhões de pessoas ao longo dos próximos anos.
de “modem”, elemento estratégico e Abaixo, estão alguns dos elementos Bruno Dias Pereira de Andrade e Frederic Lavoie,
agregador que permite a soma das com- que tornaram possível essa mudança: São Paulo, 2010.
petências transdiciplinares necessárias. BB Era da Informação ou Era da Criativi-
Já no início deste século os produtos dade? Ficou claro que a questão central
e serviços se assemelham. Preço e quali- não é tanto a informação disponível, mas
dade eram premissas, não diferenciais. A sim a cultura e criatividade que nos dão a usar. As áreas ligadas aos Intangíveis passa
prática demonstrou que aquilo que po- capacidade de usá-la. Um paralelo: ter os ram a ser elemento-chave no planejamento
dia ser garantia de longevidade, atrativi- ingredientes não significa ter o bolo. Falta a estratégico das organizações quando se
dade e fidelização era intangível: marca, receita, o processo, e saber o que/como verificou que os talentos e as competências
ram evoluir graças aos “modens” e conquistássemos o espaço e a quantidade.
“hubs”, com suas capacidades de integrar Nas primeira décadas, nos encantamos
e colocar em contato linguagens e siste com a possibilidade de estar em muitos
mas diferentes. Neste século XXI, a mudan lugares simultaneamente. Mas com isso
ça de época para a centralidade do intangí perdemos o tempo e a qualidade... Hoje, as
vel e da economia criativa só foi possível instituições nos ajudam não apenas a otimi
graças a profissionais e instituições que zar o tempo como a resgatar e ampliar o
atuam como “modem”, como conectores. desfrute, a intensidade e o sentido que
O perfil do novo profissional é ser estavam se perdendo.
“modem” – capaz de ligar várias discipli BB Consequências e escolhas: Na primei
nas, várias áreas dentro da empresa e de ra década deste século, o excesso de infor
fazer também a necessária integração mação e demandas, a escassez de tempo e
entre governo e setores de negócios. a urgência da mudança rumo à sustenta
Profissional de Futuros é multi, trans, poli, para exercer
sua função de “conector”. Elvis González, República BB Capital social, confiança e autoesti- bilidade fizeram com que saber escolher e
Dominicana, 2010. ma: as áreas da instituição que colaboram ter percepção das consequências de cada
para criar climas de autoconfiança e auto ato fosse prioridade. As instituições necessi
estima – de pessoas, comunidades, empre taram, então, criar e oferecer ferramentas
são o grande patrimônio que elas possuem sas, cidades são estratégicas. Assim, se para que isso fosse possível.
e que eles estão que está nas pessoas... constrói a confiança interpessoal que, por A diversificação de profissões das
BB De produtos a processos: Nossos sua vez, é o que permite construir capital últimas décadas é notável e está de
sonhos do passado mostravam um futuro social. E a chave de desenvolvimento está acordo com as principais tendências des-
em que a tecnologia e os produtos inventa no capital social – aquele que geralmente te nosso século: diversidade, descentrali-
dos eram a solução para tudo. Hoje, sabe nos falta. Confiança e capital social são zação e autonomia.Grande parte delas
mos que a tecnologia é meio, não fim. Isto criados ao valorizar o positivo, a diversida tem função de conectar linguagens e
reforçou ainda mais a necessidade de pro de cultural, os talentos internos e tudo o áreas diferentes, sobretudo no contexto
cessos: mudar o jeito de pensar e fazer. que fortalece a cooperação. da Sustentabilidade 4DxT.
BB Modems e conectores: No século XX, BB Tempo, único recurso não renová-
as telecomunicações e computação pude vel: As novas tecnologias permitiram que
G a n h a r, va l o ra r, n e g o ci a r 29
Outras estão relacionadas ao novo Não Governamentais, pessoas que se zemos o que gostamos e acreditamos
cenário internacional, com crescente dedicam a causas públicas e comprovam no propósito do que produzimos, a ale-
mobilidade, onde moramos e trabalha- o extraordinário poder realizador e gria, o prazer, a descontração e o jogo
mos em vários países. transformador de indivíduos. O movi- estão em nossos cotidianos.
Uma das categorias mais atuantes mento cresceu desde que nossos histo-
hoje em dia são os INGs – Indivíduos riadores resgataram esta incrível histó-
ria de 2007, quando Severino Manoel
de Souza montou uma Biblioteca Comu-
nitária e José Luis Zagati exibia filmes Catadores de conhecimento
de graça no CineClube Tupy, montado Como circulam por todos os lugares, são tam-
Facilitador Cultural na laje da sua pequena casa. Ambos bém polinizadores de conhecimento: fazem cir-
Acompanha as pessoas para que possam apren- usaram materiais encontrados no lixo20. cular livros e outros produtos culturais por onde
der a viver a cultura de um país diferente ao de A alteridade é um princípio que passam.Seus carrinhos são equipados com som,
sua origem, de forma a conscientizar e enrique- norteia todo tipo de atividades e as ins- livros, brinquedos, tudo reciclado a partir do lixo.
cer a cultura global. tituições buscam sempre desenvolver di- Julia Toro, Fernando P. Tohmé e Bella Zubbelis,
• permanece em um determinado país nâmicas para reforçá-las. Quanto mais Brasil, 2009.
por 3 meses; as pessoas são capazes de compreender
• ali, vai se juntando a pessoas que a função de cada um, maior sua visão
compartilhem os mesmos interesses; do todo da instituição e melhores os flu-
• amplo conhecimento de histórico, político
xos internos.
e social;
E, finalmente o humor passou a ser
• habilidade de comunicador;
um elemento importante de qualquer
• está permanentemente conectado
com os interessados; ambiente de trabalho e profissão. No
• possui apoio governamental; passado havia momento de “trabalhar”
• é sensível aos interesses interpessoais. e momentos de “viver”. Hoje, como fa-
Edgar Morales e Jose Aldana,
20 Veja o vídeo de Averaldo Nunes Rocha e Márcio
México, 2010.
Mitio Konno, 2007, mostrando estas histórias
http://vimeo.com/22036447
G a n h a r, va l o ra r, n e g o ci a r 29
4. Evolução dos Serviços Financeiros so à Internet. Em segundo lugar se poderia ampliar esforços para desenvolver
O quarto conceito na Economia 2.0 é a evolução dos serviços financeiros. O uma força tarefa qualificada em áreas de crescimento fundamentais para a
modelo tradicional era uma instituição central servindo, impessoalmente, mui- economia futura como energia, programação de computadores, serviços em
tas pessoas. Agora, há novos modelos inovadores de mercado que oferecem nuvem, e turismo médico, como a Índia fez com software e centrais de atendi-
alternativas na execução de muitos serviços financeiros. Para pagamentos na mento, e a China está fazendo com o sequenciamento genômico e supercom-
rede existem serviços como o PayPal, redes de telefonia celular, Google Wallet, putação. Em terceiro lugar pode ser a adoção precoce de futuras tecnologias
e chips NFC. Em modelos de financiamento, há serviços como empréstimo di- essenciais, tais como energia limpa, biologia sintética, impressão em 3D, am-
retos, peer-to-peer, financiamento colaborativo e a economia da solidariedade. pla manipulação de dados e nanotecnologia molecular.
Os serviços bancários estão se democratizando mais rapidamente do que ou-
tras indústrias, visto que a senhora com celular em uma aldeia remota está
agora oferecendo transferências financeiras e outros serviços a uma ampla
gama de clientela.
3 governar, decidir,
coordenar
tre a lista destes países e dos países com criativo. Para evitar uma hegemonia,
melhores índices de qualidade de vida, o os outros países foram obrigados a
que estimulou outros a transformarem segui-la. E rápido!
suas forças armadas em Forças Cuidado-
ras. Os benefícios sociais, ambientais, Meritocracia Transdisciplinar
culturais e, sobretudo, econômicos fo- Participativa
ram tão amplos e imediatos que mais e Tivemos a Grande Bolha de 2013 e as
mais países estão adotando a estratégia. turbulências que a ela se seguiram; o
O estado de bem-estar social alcançado Apagão Global de Dados quase culmi-
por países pequenos foi uma das razões nou numa Terceira Guerra Mundial, fe-
para o desenho dos atuais mecanismos lizmente evitada pela conectividade e o
descentralizados de gestão, em que amplo acesso à informação em tempo
grandes cidades ou países são gerencia- real que fizeram com que os cidadãos
dos em unidades menores. Afinal, uma tivessem maior percepção dos jogos de
grande favela da cidade de São Paulo ti- poder no mundo. Este mesmo acesso
nha mais habitantes do que a Islândia. permitiu que a comunidade web e seus
Ainda na primeira década deste sé- hackers do bem resgatassem, pelo me-
Wiki Agora: Espaços Públicos dedicados à produção
culo, a China adotou a Economia Criati- nos parcialmente, os dados perdidos.
livre de conhecimento e tomada de decisão.
va e a Economia Verde como estratégias Dois anos depois da Primavera Ára- Reinaldo Pamponet e Thomaz Buckup, Brasil, 2009.
prioritárias percebendo que estas eram be, veio o Verão Europeu; mais ano e Ilustração Odete Arias, República Dominicana, 2010.
a chave para a prosperidade, a regene- meio, o Outono Latino Americano e fi-
ração do meio ambiente e o equilíbrio nalmente o Inverno Asiático. Estação por
das tensões internas4. Isso foi feito com estação, ano por ano, os movimentos de
extrema rapidez e eficiência. Ela tor- democracia real forçaram uma mudança. s egue a mesma visão orgânica e biomi-
nou-se o país a desenvolver mais tecno- A experiência iniciou-se com a mética que tem orientado outras
logias verdes, com o maior mercado Meritocracia Transdisciplinar Participa- esferas decisórias. Cada Unidade de
tiva. O nome “Transdisciplinar” vem da Gestão é considerada um ecossistema
4 http://www.worldbank.org/content/dam/Worldbank/
document/China-2030-complete.pdf gestão não segmentada, sistêmica, que socioambiental. Aos governantes, hoje
54 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
e conhecimento para tornar visíveis e população se dedica a acompanhar Lei que assegura o nível de
acessíveis os dados públicos. uma votação da reforma com a mesma sensibilidade dos futuros líderes
Um elemento importante neste dedicação que acompanha seu time! O Conselho Mundial se reuniu para determinar
game foi o aproveitamento do abun- Ou quando as pessoas dedicam-se a es- que existe uma única maneira de escolher gover-
dante excedente cognitivo dos reclusos tudar os elementos da gestão pública nantes. Ficam proibidas as candidaturas. Os líde-
como os loucos, com sua criatividade com o mesmo cuidado que acompa- res serão indicados por suas comunidades, entre
aqueles que: valorizam humildemente a enorme
e liberdade, ou aqueles ligados ao cri- nham o tratamento do menisco de um
responsabilidade do ser humano no planeta; te-
me organizado, com sua capacidade de craque da seleção.
nham vivido com a convicção de que a soma dos
liderança, aptidão gerencial, engaja- Foi inesquecível o dia em que torci-
saberes coletivos é a solução para os problemas;
mento e visão do todo. À medida que das organizadas, com suas camisetas e tenham trabalhado comunitariamente; tenham
estes conhecimentos foram direciona- rojões, foram para as ruas celebrar a se graduado na “Escola de Cultura Global”.
dos para ações positivas, os particiantes transformação das Forças Armadas em David Anica e Guillermo Dignani,
tinham a possibilidade de diminuir sua Forças Cuidadoras. Era surpreendente Rosario, Argentina, 2010.
divida com a sociedade pela da con- ver as ondulações das “olas” e os hinos
quista de pontuação positiva em suas “Educação, é meu timão! Educação, no
Pegadas 4DxT. coração!” em frente ao Congresso. Ou
Quanto mais intenso o Game da ouvir ecoar “Aprovoooooou”, como an- De detentos a doutores
Co-Governança, mais divertido e mais tes escutávamos “Goooool”, em todos Daqui a 10 anos, os indivíduos que forem deti-
adeptos. As missões eram muitas: der- os locais da cidade, já que as votações e dos e condenados serão acompanhados por
rube um político corrupto; recupere seu acompanhamento eram feitas pela profissionais capacitados. Receberão estudo,
educação, amor, conscientização da importân-
uma chefia do crime organizado; mobi- população, online ou por telas eletrôni-
cia da família e dele próprio na sociedade. O
lize para aprovação do código florestal; cas. Nas padarias, os homens se reuniam
detento sairá diplomado e com outra visão do
distribua melhor o orçamento; faça para acompanhar o placar de negocia- mundo, podendo assim reintegrar à sociedade
alianças e parcerias. Pouco a pouco, as ções e gritavam “Vai, vai! Fecha esta num espaço comum a todos. Apenas por meio
pessoas foram equilibrando melhor o parceria!” ou “Mais que moleza! Reduz do conhecimento e da educação, podemos mu-
tempo dedicado ao outros jogos e es- aí esse orçamento!”. Claro que faziam dar a sociedade e suas atitudes.
portes. Imagine todo o potencial de isso tomando cerveja de produção local, Sormani Medina, Marcia Regina Silva
transformação disponível quando uma acompanhada de amendoim orgânico e e Claudia Niza, Campinas, 2010.
56 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
sentados em banquetas com pedal para gadas 4DxT, maior o peso de sua esco- A visão sistêmica, em tempo real e
produzir energia pelo movimento. Ao lha. Foi assim que nos libertamos de colaborativa, permitiu que avançásse-
mesmo tempo, participavam votando e dinâmicas nas quais o voto realizado mos para a forma atual, a CGDD (CoGo-
escolhendo por meio de smartphones e sem o correspondente lastro de conhe- vernança Digital Direta).O modelo ain-
demais aparelhos móveis. cimento e consciência acabava por pro- da está em seus primórdios, mas é mais
duzir governos autoritários e não volta- descentralizado e plural do que a Meri-
Engajamento e Política 4DxT dos ao bem comum. tocracia Transdisciplinar Participativa e
Assim como a Economia 4DxT tem valo- As Pegadas 4DxT também fortale- tem ainda mais foco no nível micro (lo-
res multidimensionais e relativos, na ceram a transparência e os laços de con- cal), que é onde de fato acontecem os
Política 4DxT, o voto de cada cidadão fiança entre todas as esferas. Isso, so- processos de mudança. Houve uma in-
tem um peso proporcional ao seu enga- mado às possibilidades da sociedade versão: os antigos municípios estavam a
jamento: quanto mais positivas suas Pe- em rede, permitiu o desenvolvimento serviço da nação e por ela eram coman-
de um extraordinário sistema colabora- dados. Hoje, os MacroESAs são Redes
tivo de visualização e monitoramento de microESAs e as políticas são decidi-
Interatividade e tomada de decisão de dados públicos e privados. das localmente, tanto para garantir sua
O sistema de decisão via TV interativa feito por Os dados são alimentados pelos diversidade (o diferencial que garante o
meio do controle remoto, com IP’s individuais, próprios cidadãos e geram mapas dos Valor de cada localidade) quanto para
está cada vez mais eficaz. aspectos ambientais, simbólico-cultu- agilizar as tomadas de decisão e ação. A
Após proposta de ementa feita pelo Governo há rais, sociopolíticos e econômicos dos mi- instância gerencial Macro serve como
um mês e emissão televisiva de diversos espe- croESAs e de seu conjunto – os facilitador e organizador do fluxo entre
cialistas no assunto, o povo decidiu hoje, por MacroEcossistemas SocioAmbientais. eles. O que antes era Estado, hoje é cha-
imensa maioria, que não será permitido trafegar Esta visão multidimensional permite mado de MacroModerador (MM), pois
com veículos automotivos em um raio de 600 m uma leitura detalhada e dinâmica pela seu papel é de facilitar, articular e regu-
das praias e áreas preservadas.
qual é possível compreender a fisiologia lamentar os fluxos e tomada de decisão
O sistema será testado por três meses, quando o
geosociopolítica de cada uma destas entre as todas as partes envolvidas.
povo fará a aprovação final pelo mesmo sistema.
Eduardo Martin e Roberta Pinheiro,
Unidades de Gestão. O sistema permite
Brasil, 2010. a leitura de cada um de seus layers de
forma entrelaçada ou em separado.
governar , decidir , coordenar 57
Daí, surgiram os micro (local) e Ma- sensorial, que fornece informações para camente saíram do léxico, pois impli-
cro (nacional) ESAs - Ecossistemas Socio- orientar escolhas. cam uma percepção de debilidade ou
Ambientais. Seus limites são orgânicos e Isso provocou mudanças também falta de capacidades daqueles que são
funcionais, com função semelhante à na Cooperação Internacional, que hoje apoiados. A Cooperação se dá sempre
das membranas ou pele: proteger, regu- tem processos bem distintos. Termos por troca. Por exemplo, a população
lar trocas e, sobretudo, ser um órgão como “ajuda” ou “capacitação” prati- que recebe apoio financeiro (cada vez
governar , decidir , coordenar 59
mais raro) deve, em troca, dedicar tem- ções colaborativas que somam suas Planejamento,
po para processos educativos. Os pro- competências transformadoras: treinar
cessos de Cooperação são quase sempre jovens a lidar com as TICs e reciclar longo prazo,
diretos, sem intermediação do Macro- equipamentos eletrônicos; agentes comprometimento
Moderador, tanto para agilizar ações locais de economia criativa; progra
quanto para otimizar recursos. Eles se madores ajudando a visibilizar dados Estudos feitos em 2005, no Brasil10, mos-
dão,principalmente, por meio de ou- públicos; produção colaborativa de co- tram que o país desperdiçava o corres-
tras moedas que não a financeira, pois nhecimento e ferramentas; trabalhar pondente a 150% de seu PIB. Tudo ge-
se verificou que esta criava relações de saúde por meio do humor; mutirões rava desperdício: alimento jogado
dependência, corrupção e problemas em forma de gincana para construção fora11; o tempo perdido em engarrafa-
correlatos. É utilizado, sobretudo, o de espaços de lazer; permacultura; mentos12; a burocracia impedindo solu-
apoio mediante o compartilhamento agricultora orgânica familiar; tecnolo- ção de problemas; a energia desperdi-
de tecnologias “Soft”: tecnologias so- gias low-tech.9 çada nas redes de distribuição – que
cioculturais para fortalecimento do ca- Hoje, o único passaporte que per- ainda eram feitas no antigo modelo
pital social (para que este possa ativar maneceu é o “Passaporte de Jovem”: centralizado/mono, usando grandes
os demais capitais) e para aproveita- com ele, os jovens podem conhecer, usinas ou hidroelétricas. Logo após a
mento dos patrimônios simbólico-cultu- experimentar e trabalhar em todos os Rio + 20, ampliou-se o incentivo à cria-
rais locais. As experiências comparti- tipos de atividade antes de escolher a ção de pequenas redes locais de
lhadas vêm das boas práticas de quais (sim, porque ninguém mais tem
organizações não governamentais e uma única...) vão se dedicar. Este 10 http://www.intranet.rj.gov.br/
empresas sociais que gerem simultane- processo acontece entre o que antes exibe_pagina.asp?id=1804
amente resultados empreendedores, era chamado “colégio” e o ingresso 11 O mundo já produz alimentos suficientes para todos.
culturais, educativos e sociais. nas Pluriversidades e colabora para No Brasil, do plantio à mesa, 50% dos alimentos são
desperdiçados http://www.ecodebate.com.
Uma experiência muito exitosa foi que o jovem escolha bem: fazer o que
br/2009/11/12/o-brasil-esta-entre-os-10-paises-que-mais-
a dos “Criativos Sem Fronteiras”8, cara- gosta e acredita. desperdicam-comida-no-mundo/
vana formada por coletivos e institui- 12 Na EU, 50 Bilhões de Euros em 2009.
http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.
8 Veja referência em “Médicos sem Fronteiras”, 9 Várias das instituições, coletivos e ONGs citadas no
do?uri=CELEX:52006DC0059:PT:NOT
http://www. doctorswithoutborders. org/ livro, inspiraram este texto.
60 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
Holística em Rede
Líder dotado de visão holística é facilitador e
mediador de rede cultural interativa. Tem o po-
der de enxergar e extrair riquezas de cada indi-
víduo, valorizando assim o capital humano.
Nessa rede, todos podem cocriar e serem coau-
tores de projetos e processos, mas sempre des-
vinculados de instituições, ou seja, precisam ser
autônomos e criativos. Assim, por meio de uma
casa comum (a rede), e a partir das potenciali-
dades de cada um, o líder faria circular e distri-
buir os potenciais e capitais (em todos os senti-
dos), estabelecendo novos paradigmas e
descentralizando a Economia.
Vivian Hirsch, Melina Roldan, Suzana Ferreira,
Vanessa Reis, Tais Masi, Silvia Sá, Patrícia de
Souza, Mariana Costa, Cláudia Cezar e Diana
Concurso Crie Futuros de HQ. Rio +20 na visão de Beatriz Rocha, Brasil, 2011.
Castro, Brasil, 2009.
produçãode energia e de fontes com- apenas o tangível, mas também os des- Priorização da alegria, ambientes de
binadas: mini-hidrelétricas, energia eó- perdícios dos recursos intangíveis como confiança e autonomia, foram algumas
lica, solar e cinética. tempo, ideias e conhecimento. Foi aí das estratégias para não desperdiçar en-
Um dos primeiros passos na direção que economizar energia humana pas- tusiasmo e boa fé.
da sustentabilidade foi expandir a no- sou finalmente a ser tão importante A extinção dos partidos foi um fator
ção de desperdício, considerando não quanto economizar água ou resíduos. importante na gestão de recursos tangí-
governar , decidir , coordenar 61
O papel do
Quem decide a guerra vai para o front!
Quando os governos decidem fazer guerra, os primeiros a irem para o front são eles e seus familiares. Assim, Macro Moderador:
provavelmente nunca mais façam guerra.
facilitador,
A pessoa que cria uma lei também é a primeira que deverá obedecê-la. Por meio da experiência, só existirão
leis do bem, que sirvam para todos, e não só para si mesmo. conector, regulador
Mari Pini e Lyca Grinberg, Brasil, 2009.
Talvez, o maior patrimônio do Macro
Moderador (MM) seja o fato de ter
acesso a todos os setores, pessoas, em-
Essa transição foi feita por meio de um res não fossem eficientes na implemen- presas e instituições. Assim, ele é o úni-
número crescente de mulheres em car- tação dos planos propostos, eram co que pode desempenhar as funções
gos de liderança. Os melhores resultados substituídos por outros. Por outro lado, chave em nosso tempo: Conector e
foram obtidos quando estavam acompa- podiam permanecer enquanto sua ges- Facilitador de Processos. Com todos os
nhadas de homens, com seu poder de tão fosse de qualidade. sistemas digitalizados, é possível ao
síntese, simplicidade e foco. Após a fase Como dito anteriormente, esta sé- MM saber o quê, o quem, o quando, o
com predomínio de gestoras mulheres, rie de medidas fazia parte do Plano de onde e o como de todas as ofertas e de-
voltamos a um equilíbrio de gênero Gestão de Resíduos Intangíveis: nos pri- mandas. Para estabelecer, assim, pontes
(aliás, de todos eles, que nesta altura já mórdios da sustentabilidade, houve e criar ou regulamentar fluxos. Esta, ali-
eram muitos) depois do Programa do muita preocupação com gestão de resí- ás, é a sua função principal desde que
Afeto Masculino. Foi curioso observar duos sólidos, mas pouca com os intangí- ficou claro que sustentabilidade equi-
que o momento em que os homens no- veis. Um dos piores resultados foi o vale a fluxo equilibrado entre os patri-
taram a relação existente entre compro- enorme desperdício de conhecimento mônios das 4DxT.
metimento nas relações afetivas e capa- pela troca constante de equipes e falta Ao MacroModerador, cabe inicial-
cidade de realização pessoal, coincide de sistematização de experiências. Em mente fazer aquilo que só ele é capaz:
com sua retomada a cargos de chefia. todos os setores, não apenas no público, criar os mecanismos regulatórios. Polí-
Em relação ao tempo de permane- tornou-se prioridade evitar que isso se- ticas, normas, leis e regulamentações;
cia no cargo, se em seis meses os gesto- guisse acontecendo. incentivos e financiamentos; estrutura
governar , decidir , coordenar 63
e processos de formação; ferramentas maior é propor atividades que culmi- lorização da diversidade cultural e a
para empreendedorismo, enfim, tudo nem na criação de um ambiente favorá- centralidade dos intangíveis como re-
aquilo que contribui para o seu objeti- vel à Economia Verde e à Economia cursos para a economia.
vo primeiro: criar ambiente favorável. Criativa. Para atingir estes objetivos, o O foco em sustentabilidade reve-
Num paralelo com a Natureza e o MacroModerador promove a ação lou um hiato da gestão tradicional, que
processo de cultivo, ao MM cabe ga- concertada e integrada entre os Nodos só considerava o presente: produção,
rantir as sementes (reconhecer, valori- de Gestão Transdisciplinar, com suas distribuição e consumo. Este hiato foi
zar e preservar os patrimônios qua respectivas áreas de atuação. Realiza, um dos fatores que resultou na crise
dridimensionais) e uma etapa que também, parcerias com empresas pri planetária que, felizmente, consegui-
costumava passar despercebida: prepa- vadas, associações, organizações da mos solucionar. Hoje, em uma visão sis-
rar o terreno. sociedade civil e pluriversidades para têmica e sustentável, a gestão 4DxT in-
Um aspecto importante desta pre- garantir a sustentabilidade. clui as fases ligadas ao “antes” e o
paração de terreno é a Advocacy 13: Atitudes sustentáveis na dimensão “depois”: os recursos recebidos do pas-
trabalhar a mudança cultural (intangí- econômica implicam foco na melhor sado e o legado deixado para o futu-
vel) e de mentalidade que precede distribuição de renda e utilização não ro14. Em vez de pensar na ideia linear de
cada mudança estrutural; formar par- apenas de ferramentas financeiras mo- cadeia, trabalhamos com a noção de
cerias e alianças; campanhas de comu- netárias, mas também daquelas ligadas Ciclo, que são finalizados com a siste-
nicação e fornecer informações para à economia solidária e às moedas alter- matização da experiência na forma de
mídia. O interessante desta fase é que nativas. Na dimensão ambiental, em li- indicadores, dados e pesquisas que pos-
ela não consome recursos materiais, dar de forma renovável e limpa com os sam alimentar o Ciclo seguinte.
mas gera muitos resultados pela recursos naturais e compartilhar as in-
identificação de potenciais e como me- fraestruturas como espaços, equipa-
lhor aproveitá-los. mentos e redes de serviços. Na dimen-
Em um governo 4DxT, as políticas são sociopolítica, em otimizar tempo,
devem ter uma visão sistêmica (trans- recursos e informação por meio da ação
versal e multissetorial) e seu objetivo integrada e convergente entre institui-
ções. Finalmente, na dimensão simbóli-
14 Para mais informações, pesquisar o economista José
13 Termo equivale à defesa e difusão de um conceito co-cultural, temos a preservação e a va- Eli da Veiga, entre outros.
64 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
Gestão Mesh: suprir as lacunas existentes. Os alunos já avançarem os países ditos “em desen-
se formam com profundo envolvimento volvimento”, que saíram de uma situa-
aproveitar o que há com a prática, o que não acontecia em ção de “atraso” e conseguiram evitar os
anos anteriores, pois desde o início, seu erros neoliberais do século XX, saltando
Nas últimas décadas, vimos a passagem conhecimento é aplicado. Alunos de en- direto para o século XXI. Nesses casos,
do Modelo Centralizado/Mono para o sino técnico e pluriversitários treinam foi interessante notar como “o atraso
Descentralizado/Pluri, possível graças equipes locais no uso das TICs, fazem foi a oportunidade”, pois seus patrimô-
às características da sociedade em rede, pesquisa a partir de necessidades con- nios ambientais, simbólicos e culturais
ao foco em intangíveis e na confiança cretas e atuam como Agentes Locais de ainda estavam preservados. O avanço
como premissa de relações interpes Fomento. Resultados excelentes foram deu-se pelo fato de este tipo de política
soais e comerciais. O mesmo aconteceu obtidos com a adoção da Convergência e ação colaborativa do MacroModera-
com o governo. Hoje, o conceito Mesh15 como eixo norteador – outra das marcas dor não necessitar recursos financeiros e
de compartilhamento se aplica tam- dos novos tempos, em contrapartida às sim, alianças. Duplo benefício, pois sem
bém à Gestão Mesh. O principio básico compartimentalizações do passado. Foi envolvimento de dinheiro em espécie,
é o mesmo que norteou as grandes extraordinária a quantidade de progra- havia menor propensão à corrupção e a
mudanças em nossa sociedade: traba- mas e projetos implementados a partir constituição de alianças fortalecia as re-
lhar sobre potencias e não sobre carên- da convergência de pesquisas da pluri- lações institucionais. Ou seja, simultane-
cias, criando sistemas para melhor uso versidade. Por exemplo, trabalhos de amente, trabalhava-se com os dois fato-
do já existente. conclusão de curso (TCC) nos quais os res-chave: o fortalecimento da ética e
Exemplo: suponha que, em um Ma- alunos convergiam para um mesmo do capital social. Tudo isso potencializa-
croESA, exista falta de quadros adequa- tema. Digamos que fossem TCCs de uma do e possível graças à priorização do
dos e a gestão é feita por funcionários turma de Engenharia Ambiental 4DxT. acesso amplo e irrestrito às TICs, uma
sem qualificação técnica. Neste caso, são Esta convergência permitiria que cada das recomendações das Medidas Sus-
estabelecidas parcerias com as institui- um abordasse um aspecto a ser melho- tentáveis Pós-Rio + 20.
ções de ensino para que estas possam rado e a soma dos trabalhos permitira A lógica vigente é verificar o que
uma solução sistêmica para o local. existe e como pode ser melhor aprovei-
15 Conceito criado por Lisa Gansky: significa unir pontas
Essa lógica de trabalhar sobre po- tado. Antigamente (desde as Pirâmi-
em uma economia do compartilhar. Veja o Manifesto em
http://meshing.it/manifesto_mesh_eng.pdf tências, com o que há, foi o que fez des!), os governos acreditavam que
governar , decidir , coordenar 65
sas têm um sistema de entrada e um de Inovação e redes wifi em todos os espaços públicos
saída. Por exemplo, entram as garrafas e, mesmo os microESAs menores, pos-
de leite (sim, elas foram reintroduzidas) Tecnologias Soft suem telecentros. No começo do século,
e saem livros que já foram lidos. A mes- e low-tech os Internet Cafés, sobretudo nas comu-
mas empresas que fazem as entregas re- nidades de baixa renda, utilizando com-
tiram os objetos disponíveis para rea- Ter a Economia Criativa e a Economia putadores reciclados, tiveram um papel
proveitamento: quem trouxe o fogão Verde como prioridades, e todo o avanço muito importante. Ainda hoje, são uma
novo já leva o velho para sua Central, que se seguiu, só foi possível graças ao das maiores fontes de geração de renda,
de onde ele é redistribuído. amplo acesso às TICs. São quase 20 anos promoção de encontro e intercambio.
Nesta lógica de verificar o que há e em que todas as crianças, em todos os Para as gerações mais velhas, foi
não o que falta, ficou evidente que, países do mundo, possuem computado- um pouco difícil fazer a passagem para
também na gestão pública, é importan- res simples e modens para acesso a inter- o pleno uso das TICs, mas elas foram
te atentar para as “envelhações” e não net. Para garantir este acesso mesmo em muito auxiliadas pelas crianças. Os Pro-
apenas para as inovações: muitas das so- países onde não havia eletrificação, fo- gramas de Aprendizado Intergeracional
luções necessárias para este nosso mun- ram adotadas soluções locais – de células tiveram muito êxito: os mais velhos
do desejável e sustentável já existiram solares a computadores movidos por bici- aprendiam com os jovens a lidar com as
em algum momento e foram restaura- cleta. O uso de aparelhos móveis permi- tecnologias digitais e ensinavam ofícios
das. Esta recuperação foi acentuada por tiu que cada cidadão do planeta estives- – afinal, estes oferecem hoje grandes
um movimento semelhante ao da aber- se conectado. Tornamos-nos pontos de oportunidades de trabalho.
tura das gavetas com projetos de gover- uma grande rede em torno do planeta. A enorme evolução das últimas dé-
no: o Movimento de Resgate de Desco- Rede que se comunica, distribui dados, cadas não seria possível sem a mudança
bertas e Patentes. Descobertas que compartilha visões e, sobretudo, é capaz conceitual em relação à inovação.
haviam sido engavetadas, pois geravam de sentir o pulso do planeta – atenta Como nos séculos anteriores, toda a
pouco lucro, foram recuperadas e pos- para manter seu estado sustentável. ênfase estava no tangível, estrutural.
tas em prática, como veículos movidos a Há mais de quinze anos, o acesso à Era considerado inovação apenas o que
água ou medicina herbal. internet é parte dos serviços básicos ofe- se referia a coisas, inventos, traqui
recidos pelo MacroModerador: água, tanas – aquilo que chamamos de inova-
luz, saneamento, limpeza e internet. Há ção e tecnologia “hard”. Ao estudar as
governar , decidir , coordenar 67
causas do avanço de certos países, veri- commodities e consumidor de infraes- Banco de Conhecimento
ficou-se suas relações com uma maior trutura não é um caminho de desenvol- Em 2020, o governo lança projeto no qual os
valorização das tecnologias e inovações vimento para uma economia criativa alunos são catalisadores de experiências em
“soft”, processuais, ligadas à inteligên- própria do século XXI. suas comunidades. O objetivo é recrutar e re-
cia e gestão16. Na inovação “soft”, há união entre munerar alunos de escolas públicas para que
O MacroModerador precisa atentar conhecimento formal e informal. Os investiguem e conheçam os moradores de sua
para não criar políticas anacrônicas, já produtos e serviços inovadores incorpo- comunidade, seus conhecimentos e projetos
que seu papel no século XXI é viabilizar ram modelos, hábitos e tradições anti- criativos e inovadores, para assim organizarem
o futuro e não ser conduzido pelo ime- gas que seguem atuais e úteis. O patri- este conteúdo em uma vasta rede de “utilida-
des e conhecimentos”, catalogada para ser
diatismo, atendendo exclusivamente a mônio simbólico-cultural é vivo,
compartilhada com outras comunidades.
demandas do presente. Para tanto, é dinâmico e singular, para ser desfrutado
Eduardo Giacommazi e Ronaldo Gonçalves,
preciso considerar inovação para além pela população nativa e estrangeira.
São Paulo, 2009.
de produtos e infraestrutura e priorizar Inova-se também nos modelos de ges-
inovação de processos, pautados no co- tão e comercialização, incorporando
nhecimento e na gestão. Inovação que princípios colaborativos e outras formas
se apoia na diversidade cultural, no di- de ações coletivas.
namismo das tradições, nas experiências Os novos conceitos de inovação in- ções. Seu exemplo foi seguido por vá-
do terceiro setor, na geração de produ- cluem e valorizam as “envelhações” e os rios outros e os resultados são muito va-
tos e em serviços criativos. Verifica-se low-tech, reconhecendo a genialidade riados: centenas de aparatos para
que, até pouco tempo, os países mais das soluções criativas e de baixo custo facilitar lavoura; armações de óculos
desenvolvidos eram aqueles que con- desenvolvidas por camadas de baixa com células fotoelétricas, para ler à noi-
centravam a inteligência e a gestão, re- renda. A Índia 17 integrou governo, te; sapatos com dínamo na sola para co-
legando a produção aos países “emer- ONGs, empreendedores e escolas públi- letar a energia do movimento; e todo
gentes”. No início do século, estes se cas no desenvolvimento de mecanismos tipo de inventos baseados em bicicletas:
conscientizaram que ser fornecedor de para identificar e difundir estas inova- da e-bike ao aparelho respiratório movi-
do a pedal18.
16 Veja os estudos de Jin Zhouying, Diretora da CTISS, 17 No governo: http://www.nif.org.in/; na sociedade
Chinese Academy of Social Sciences,Beijing. http://www. civil http://www.sristi.org; no empreendedorismo: http:// 18 Veja a história em: http://www.idisc.net/en/
worldbusiness.org/about/fellows/zhou-ying-jin/ west.gian.org/ Article.38950.html
68 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
num contexto de século XXI. Alguns his- hoje foram consequência da ampliação
toriadores recentes trazem duas refle- destes conceitos.
xões interessantes: a primeira delas é A discussão ampliada do que pode-
que este Direito “classificatório” acom- riam ser crimes contra a humanidade
panhou os processos de classificar tudo levou à revisão de muitas das questões
que marcaram os séculos XVIII e XIX. cotidianas daquela fase pré-sustentabi
Antes da Ecologia, o próprio estudo da lidade como: hábitos alimentares, hege-
vida era altamente taxonômico, dedi- monias, manipulação de informação e
cando-se mais à morfologia que à fisio- restrição de patentes. Localizamos, in-
logia. A segunda, é que as antigas Cons- clusive, um registro de 2009 que aponta
tituições e leis estavam formuladas para o financismo predatório como mecanis-
defender a propriedade e o Estado e mo de exterminação em massa22. Da
não as pessoas; o Ter e não o Ser; os ampliação de conceitos de “patrimônio
indivíduos e não a coletividade huma- comum da humanidade”, derivaram os
na. É necessário lembrar que a primeira conceitos de patrimônios em múltiplas
vez que em Direito se fala de “família dimensões, inicialmente referindo-se ao
humana” foi na Declaração Universal ambiental, em seguida ao social até
dos Direitos Humanos, em 1948. Só na chegar ao desenho final 4DxT.
década de noventa do século XX as Retomando o tema do taxonômico
constituições nacionais passaram a x sistêmico, a partir dos anos 20
incorporar, por exemplo, a noção de assistimos a uma gigantesca reformu
“humanidade”. Isso se deu em dois as- lação do sistema judiciário, que teve
pectos: “crimes contra a humanidade” e que ser simplificado e agilizado. Dados
“patrimônio comum da humanidade”21. mostram que no Brasil, em 2010, havia
Muitas das reformulaçõesque temos
22 Palestra sobre“ Innovation for Human Security”, de
21 Veja o texto a respeito,da jurista Mireille Delmas- David Harries, da Canadian Defense Academy and Foresight Jogos só para divertir, nos quais
Marty, capítulo 8, “A Religação dos Saberes”, organização Canada, 10/12/2009, 6th International Conference on não há vencedores. Isabela Correia e
de Edgar Morin, 1999 Innovation and Management, PUC, São Paulo. Castro, FILE Rio de Janeiro, 2011.
70 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
Tecnologia para a paz. Ricardo Millen, Que cada grande cidade tenha em suas avenidas telas gigantes que apresentem atividades culturais de outros países.
FILE, Rio de Janeiro, 2011. Gabriel Castillo, Randy Encarnación, República Dominicana, 2009.
86,6 milhões de processos23 em anda- aumentava enormemente a cada ano, Outro fator que permitiu essa sim-
mento, o que significava 2,2 processos mas o de juízes não...25 No processo de plificação foi sair do Direito taxonômico,
por habitante24. Evidentemente, não simplificação, os Tribunais do Bom Sen- com seus milhares de leis, para um retor-
havia quadros ou tempo suficiente para so, na dimensão local, foram muito efi- no aos Princípios Fundamentais que pu-
solucioná-los. O número de processos cientes, pois uma parte significativa po- dessem nortear as ações. Esse processo
dia ser resolvida pela aplicação do bom acompanhou a tendência de sair do mor-
23 http://adperj.jusbrasil.com.br/noticias/2373555/
brasilia-brasil-tem-86-6-milhoes-de-processos-em-andamento
senso de cidadãos comuns. fológico (classificar situações e modalida-
des) e avançar no fisiológico (compreen-
24 http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/ 25 http://www.lunazonta.com.br/brasileiro-gasta-r-
noticia_visualiza.php?id_noticia=1766 17704ano-para-manter-o-judiciario der funções). Algumas obras sintéticas e
governar , decidir , coordenar 71
1 (www.transit.es), (www.asceps.org) 2 Conceito que se aplica a tudo aquilo que pertence ao coletivo.
governar , decidir , coordenar 73
Só a geração mais antiga se recorda de como era governar no passado. Era ad- Os sonhadores
ministrar o medo. Exercer o poder, um poder masculino, uniforme, indiferente às Os sonhadores são crianças de zero a 99 anos. Literalmente. Os olhos cheios de
necessidades dos seres humanos, autista. O futuro se construía com tijolos de futuro dos recém-nascidos. Os olhos cheios de sabedoria dos mais velhos, como
um temor antigo, de que o mal sempre prevaleceu ao bem, que a capacidade os círculos concêntricos de uma árvore antiga. Muitas vezes os sonhos são co-
de transformação do ser humano estava dormente, um espelho quebrado em letivos e crescem lentamente na consciência da comunidade. Sonhos loucos já
mil pedaços irreconciliáveis. pararam guerras, reconciliaram povos inimigos, impediram a destruição da
Amazônia.
Os sonhadores de futuro eram perigosos porque iam contra a corrente. O desti-
no dos sonhadores era o dos hereges, loucos ou palhaços, diferentes nomes Os dias arco-íris
para o mesmo personagem: o que olha ao seu redor e quer mudar o mundo. Cada pessoa dedica um número variável de dias ao ano para colaborar em
causas comunitárias. É fácil saber quando alguém está em um dia arco-íris:
Liberar-se da tirania do senso comum anda com um sorriso de felicidade iluminando o rosto. Há quem diga que as
Estávamos submetidos a um deus menor, o da razão prática e seus estreitos li- causas arco-íris são ineficientes e que deveriam ser substituídas por serviços
mites da realidade. profissionalizados (e obrigatórios). Estas iniciativas nunca prosperaram. A efici-
ência é um valor superestimado, uma relíquia própria dos excessos de raciona-
É preciso que tudo mude para que tudo mude lidade. Se os dias arco-íris medissem a contribuição à felicidade coletiva, seria
Há três gerações, se derreteu a calota polar e o mundo disse chega. Inundamos- uma das iniciativas mais luminosas.
-nos de água, mas também de esperanças. Sentimo-nos com a responsabilidade
de fazer alguma coisa antes que fosse tarde demais. Com a energia de 7 bilhões Os distribuidores de abraços
de pessoas convictas que era urgente e possível iniciar uma transformação o es- São seres especiais, empáticos, que as pessoas buscam como uma sombra em
tado de ânimo do futuro se converteu. Diante do discurso dos escribas do poder, um dia quente. Há distribuidores profissionais e há aficcionado, que abraçam
pretensiosamente racional e sempre ameaçador, as pessoas descobriram que nos dias arco-íris.Por vezes pode ser constrangedor, mas na verdade é sempre
sonhar era uma arma revolucionária. Junto podemos mudar. Romper amarras. bom ganhar um sorriso e um ou dois abraços...
1 www.ekinconsulting.com
governar , decidir , coordenar 75
Felicidade
Os carros deixaram de ser o eixo central São Paulo, métropole da cor. RAI, 2008.
O Renascimento do séc. XXI1 coragem/ousadia e o comportamento/ética. Daqui a 50 anos, poderão vir a ser:
a coragem de criar, o espírito de solidariedade, a ética democrática, a valoriza-
Jorge Wilheim, São Paulo, Brasil, 2008. ção do conhecimento e o aprendizado do prazer (embora exista o prazer do
Arquiteto, urbanista, gestor público, escritor. aprendizado, a inversão das palavras indica que pode existir uma elaboração
para ampliar a qualidade de vida pessoal).
Minha proposta é um novo ciclo cultural e civilizatório: o Renascimento do
S éculo XXI. O seu regime econômico seria denominado no futuro como Socia- Este Renascimento será mais facilmente observado em cidades que terão um
lismo de Mercado ou Capitalismo Social, e ele seria monitorado por um novo ambiente sadio, uma integração social que diminua a hoje existente diferença
Contrato Social firmado pelo Estado, o Mercado, os Produtores (trabalhadores, de oportunidades, uma paisagem urbana que nos satisfaça do ponto de vista
manuais ou intelectuais) e pela sociedade, que organizadamente “ocuparia” estético, aumentando a qualidade de vida do habitante urbano. O espaço públi-
seu espaço como ator do desenvolvimento. co será valorizado como principal ponto de encontro de uma sociedade solidá-
ria. A esse respeito, por exemplo, cabe comentar que se a crianças na rua é um
A fim de que este século venha a ser o do conhecimento e de criatividade, é problema, em vez de tirá-las da rua deveríamos desenhar ruas para as crian-
importante saber como passar dos dados e da informação que nos fornecem os ças... Livros serão deixados em todos os cantos, como em pontos de ônibus,
programas de computador para o nível do conhecimento, sendo que a constru- para alguém pegá-los e lê-los. E serão valorizadas as pessoas que ensinem algo
ção desta constitui um desafio para as universidades. O novo Renascimento a alguém, chamando-os de cidadãos mestres.
exige uma visão transversal e universal; isto é: a pessoa renascentista integra
dados e disciplinas diversas do conhecimento, e as disciplinas fornecem, além O Renascimento novo não surgirá se não o construirmos. Há muitos atores no
de sua especialidade, uma base fácil de ser compreendida e integrada ao co- palco urbano que preferem o atraso, quando não o retrocesso. Sua construção
nhecimento de outras especialidades. Os estabelecimentos de ensino oferece- constitui um projeto político e requer visão generosa, criatividade, sentimento
rão matérias que sejam denominadores comuns, ensejando, por exemplo, que o de solidariedade humana e social.
biólogo converse com o urbanista, o engenheiro com o médico, porque todos
têm algo em comum em uma visão renascentista.
que encontram grupos de afinidades e lação com segurança e violência. Os in- Profissão: Cuidador Oficial
necessidades nos bairros. O resultado vestimentos em muros, guardas e armas e Cuidadores de Territorios
era que as pessoas não trabalhavam foram substituídos por investimento Representantes de organizações da sociedade
para viver, mas viviam para trabalhar. Os maciço em educação e cultura, espe- civil especializadas, que participam e represen-
maiores prejudicados eram as crianças, lhando-se no êxito de cidades como Me- tam coletivos de certo território em temas rele-
vantes. Articulam e definem um plano de ação
pois os jovens pais viviam um círculo vi- dellín, Colômbia5, que no passado luta-
para o território em parceria com o Cuidador
cioso: trabalhavam muito, pois não ti- ram contra o tráfico de drogas.
Oficial (atual prefeito). Assumem execução do
nham como cuidar sozinhos de seus fi- A lógica da Interdependência resul-
plano, na área de sua competência, combinando
lhos e precisavam pagar serviços como a tou numa mudança drástica de priori- dinheiro de recursos públicos com recursos in-
terceirização de afeto, com “babás” – dades da gestão pública, que deixou de tangíveis (conhecimento e similares) oferecidos
pessoas que apenas olhavam as crian- estar focada prioritariamente em infra- pela iniciativa privada.
ças, hoje substituídas pela profissão de estrutura, a parte “hardware”, e passou Criados durante o Workshop de Inovação em
PoliCuidador, formado em Curiosidade, a investir em pessoas e processos, a par- Nova Economia, realizado pela Fundação Avina,
Jogos Colaborativos e Entusiasmo. Note te “software” – bastante lógico, pois outubro 2010.
que isso foi antes do Programa do Afeto hardwares não funcionam sem softwa-
Masculino, dedicado a envolver mais re. Ainda na lógica do software, assisti- produção de bens e mais em oferecer
homens em atividades do Cuidar, uma mos naqueles anos a uma ampliação de serviços – afinal, quando outros países
das soluções encontradas para fortale- conceitos, incluindo e valorizando as além da China6 adotaram a Economia
cer a cultura da sustentabilidade. tecnologias e inovações “soft”: tudo o Criativa como prioridade estratégica fi-
que está ligado à inteligência e função cou clara a passagem da era do TER
Interdependência como: tecnologias socioculturais; ges- para a era do USAR. Foi assim que boa
Desde 2014, quando foram finalmente tão; inovação de processos, design. Re- parte da demanda de moradia foi solu-
implementadas as premissas pós-Rio + sultado: menos obras monumentais de cionada, trazendo consigo solução para
20, Interdependência é a palavra que engenharia, mais educação e pesquisa; outras questões como segurança, trans-
norteia tudo: estamos cientes de que, menos empreendimentos focados na porte, equidade social. Verificando que
assim como ocorre na Natureza, tudo é
5 40% do orçamento público é investido em educação 6 Na China Economia Criativa e Economia Verde são
interligado e as soluções devem ser sis-
e cultura http://elpais.com/diario/2011/09/10/catalunya/ prioridades estratégicas nacionais desde o plano
têmicas. Isso influiu, por exemplo, na re- 1315616842_850215.html quinquenal de 2010 – 2014
h abi ta r, d e s l o ca r, ci rcu l a r 83
Acima e na página da direita: Viadutos urbanos transformados em áreas de lazer. Angela Léon, São Paulo, 2012.
Nos bairros
elaboradas brincadeiras que trabalham
Uma “envelhação” desejada por muitos a inclusão e não a exclusão e desta for-
e finalmente alcançada é uma vida co- ma ensinados os valores da cooperação,
munitária mais intensa, em que tudo é da negociação construtiva, da criativida-
trocado, comunitário, compartilhado. de, da motivação e da realização.
As Oficinas do Encontro13 são locais de Os bairros têm também Espaços
produção coletiva e experimentação Multilinguagem de Arte e Lazer, adap-
interdisciplinar, abertas a toda comuni- táveis para diferentes linguagens artís-
dade. Ali se promovem o encontro das ticas, que integrados constituem um
pessoas, o intercâmbio de ideias, conhe- circuito que permite conhecer a produ-
cimento, ferramentas e materiais, assim ção de outros e circular a própria. Para
como o trabalho solidário. Tem anexo promover maior contato e fluxo, esses
um Armazém de Intercâmbio, para tro- Espaços estão juntos com as Feiras de
ca de matérias-primas, ferramentas e Produção Orgânica Urbana: que circu-
produtos e onde se pode doar aquilo lam tanto o produto das hortas urba-
Calçadas plantadas com temperos. que se tem a oferecer e pegar o que se nas, que se generalizaram desde os
RAI e Adriana Klisys, 2008.
necessita. Na lógica da abundância, anos 2014, quanto os produtos delas
cada coisa tirada se renova com as novas derivados. Em todos os espaços as tro-
Centro de Troca de Talentos criações que delas se originam. cas e os pagamentos podem ser feitos
Foi inaugurado hoje, com grande festa, o Centro Cada comunidade, a escola, o con- usando moedas 4DxT, isto é, pagando
de troca de Talentos. Esse centro funcionará to- domínio e o centro comunitário incenti- com moedas econômicas, sociais, cultu-
dos os dias da semana. Cada pessoa poderá es- vam e promovem a construção de jogos rais ou ambientais.
colher o(s) período(s) em que deseja trocar seu e brinquedos a partir do material reci- Os edifícios são todos pintados com
talento.Você que sabe cozinhar, cantar, modelar: clado14 pela própria comunidade. São tinta que transforma todas as superfí-
leve o seu talento e traga um outro pra casa. Ta- cies em receptores de energia solar15 o
lentos, todo mundo tem. 13 http://criefuturos.com/futuros_criados/
Encuentro_Taller
que, somado à tecnologia que evita des-
Magda Lucia de Lima, Hélia Mana e Regina
Tavares, Brasil, 11/05/2010. 14 http://www.wikifuturos.com/Futuros/ 15 http://www.wikifuturos.com/Futuros/Energia_
Construindo_brinquedos_e_um_mundo_melhor Solar_para_abastecimento_residencial_e_de_transportes
78 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
OFERTA DEMANDA
Tempo para passear com o
Companhia para desvendar
cachorro domingo de
a cidade e viajar
Tinta para captação de manhã
energia solar. Fabiana Brincar com crianças de 6 Assistir a filme
Victor, Nilton de Lima e a 8 anos nos feriados acompanhada
Giovane Mendonça,
Companhia Dormir de conchinha
São Paulo, 2009.
para dançar e cafuné
Chá dos 17 h Massagem nos pés
com idosos aos sábados
perdício de energia na transmissão, faz Horta (ter, manter
com que a energia gerada possa atender ma água que é filtrada e reciclada17 em Chá com artesanato,
e cuidar) e oferecer
filmes e bate-papo
a todas as necessidades energéticas/elé- recipiente ao lado, com isso uma lavado- aos vizinhos
tricas luz, equipamentos eletro-eletrôni- ra que consumia cerca de 4.500 litros de Cuidar e manter plantas Fim de semana longe
cos etc. A maioria da água é captada da água por mês passa a consumir apenas na casa dos outros de tecnologia
chuva, não apenas nos edifícios com 15; a água utilizada em banhos e nas Empréstimo de livros Bate-papo cult
suas cisternas como também nos espaços pias é filtrada e armazenada para usos Parte de produção Grupos de diálogos para
públicos inspirados na obra do arquiteto que não necessitem de água 100% lim- pessoal: banana, troca de informações,
Gaudí para o Parque Guell16: no alto dos pa, como regar plantas, limpeza externa mexerica, tomate etc. fofocas e afins
edifícios temos áreas abertas, para jar- ou descarga de sanitários (para aqueles Adubo para sua horta
Bike emprestada
dins e eventos, cujo piso poroso coleta e que ainda não aderiram aos banheiros no domingo
filtra a água antes de distribuí-la. Note secos da permacultura). Beatriz Telles e Elaine Ribeiro de Oliveira, São Paulo, 2010.
que esta ideia, tão óbvia, levou quase Em cada bairro existem redes de
150 anos para ter a difusão merecida. necessidades e desejos, que são troca-
Outros pontos óbvios, mas que tarda- dos, veja a interessante lista encontrada Todas as formas de coabitar são
ram a chegar na gestão da água domés- por um de nossos pesquisadores: mais fluidas e permeáveis, assim, se um
tica: máquinas de lavar utilizam a mes- bairro está começando do zero, ao invés
17 Já existe e foi inventada por Rubens de Oliveira
de começar por levantar muros, como
16 http://en.wikiarquitectura.com/index.php/ Filho. http://www2.tvcultura.com.br/reportereco/materia.
Park_G%C3%BCell asp?materiaid=124 ocorria no passado, começa pela intera-
h abi ta r, d e s l o ca r, ci rcu l a r 79
ção com seu entorno. Inicialmente verifi- combinações possíveis, visto que o Num perímetro de 120 quilômetros, coexistem
cando qual o sonho comum, pois a partir t empo das atividades e formas de viver pequenos de moradia e convivência onde famí-
dele os laços de confiança podem ser “mono” já passou! lia trabalham em atividades agroeconômicas e
construídos e depois os laços se fortale- Ecovilas foram largamente adota- sustentáveis. Com hortas comunitárias, são au-
cem graças às atividades culturais e cria- das, pois sabemos que as soluções e as tônomas na alimentação. Possuem, integrados,
tivas compartilhadas Se há confiança, possibilidades de gestão e governabili- um centro de cultura, um centro de educação e
estamos prontos para a próxima etapa: dade compartilhadas, coerentes e com- um centro de saúde. A energia é gerada ali mes-
mo, pela tecnologia de biomassa baseada no
gerar oportunidades empreendedoras petentes são possíveis em escala menor.
bagaço ou qualquer planta ambiente. Conta,
identificadas por meio de um mapea- A solução está no local.
também, com usina de compostagem (resíduos
mento prévio dos saberes e fazeres lo- Essas ecovilas se organizam em re-
sólidos que servem de adubo para a terra) e um
cais. A prioridade está em promover des, onde há troca e intercâmbio de ser- centro de logística para lavar, embalar e distri-
convívio e troca: a cidade dedicou-se a viços, produtos, competências. Tais redes buir a produção agrícola. Um Centro Ambiental
transformar a casca de seus muros em funcionam também como forma de re- garante a preservação do microclima do lugar:
pele: tecido social construído a partir de presentação política, já que vão ganhan- pomar, agrofloresta, etc. A cidade grande mais
redes de relações. do tamanho e escala: partem do local, próxima abastece o centro com serviços gerais.
passam pelas MacroESAS (aquilo que Ninguém precisa se locomover mais de uma
antes era chamado “nação”, hoje, por vez por semana.
No Campo... não haver mais fronteiras, é definido Maria Angêla Baria, Sergio M. Barbosa e Renato
por características socioculturais até che- Ribeiro, São Paulo, 2009.
Grande número de pessoas vive hoje gar a redes globais.
em ecovilas. Ecovilas com todos os sabo- As trocas dentro dessas redes são
res possíveis e imagináveis, nas quais as feitas utilizando uma diversidade de
comunidades se organizam por afinida- moedas, com conversibilidade e parida-
de. Ecovila de idosos, ecovila de roquei- de entre elas. São moedas que corres-
ros, ecovila vegan, ecovila luxo. Sobre- pondem a valores também nas dimen-
tudo, ecovilas de caráter multi, pluri, sões social, cultural e ambiental, por
trans (multicultural, transnacional, exemplo, tempo, colaboração, diversi-
plurifuncional) onde coexistem todas as dade, reputação.
78 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
para outros tipos de Veículos Públicos, tinta para captação de energia solar,
que passaram a ser de “uso” e não de além de sistema para transformar e ar-
“POSSE”: com seu Bilhete Único Do mazenar a própria energia cinética que
Transporte cada um pode usar os veícu- liberam ao mover-se. A maioria deles é
los e deixá-los nos muitos Pontos de Pa- mini e se inspira em pequenos veículos
rada, geralmente um por quarteirão. Es- que existiram no passado.
ses veículos também são pintados com Outra mudança importante no
transporte, originada da mudança de ló-
gica da forma (veículos) para a Função
Fazer rua, fazer calçada, fazer carro? Que atra-
(transportar) foi a criação de Esteiras Ro-
so... O transporte público evoluiu muito desde lantes, substituindo muitas das vias da
que houve uma convergência disso tudo. Hoje o cidade, um sonho antigo e sensato. Iremos à escola voando! Atiramos um CD no
que há são pistas em movimento. Anda a rua e chão e ele se converte num disco voador com o
não o carro na rua... Pistas mais lentas para se- nosso tamanho.
nhorzinhos e pistas rapidonas para aqueles que Final do século XIX, imaginando a vida no ano 2000 Carlos e Cristian, Barcelona, 2009.
gostam de emoções fortes.
Anônimo, arquivo Wikifuturos, 2010.
Ir e Vir: Direito Sustentável
Foi inaugurada a nova estação de metrô que pro-
Depois de ansiosa espera, o povo paulistano mete ser modelo para as próximas que virão.
participará de um mega evento para inaugura- Construída completamente com materiais ecoló-
ção das esteiras rolantes sobre os rios Tietê e Pi- gicos, conta com piso ultrassensível que, por meio
nheiros. A cada quilômetro, veremos uma esta- de atrito dos pés dos usuários com o solo, gera
ção de serviços e convivência, com ênfase na energia para abastecer a estação. Os trilhos dos
moderna estação de pescar com varas holográfi- trens são feitos de armas recicladas e os assentos
cas e digitais. dos vagões de fibra de coco. E viva o futuro!
Zenir Ramalho, Maria Lins e Graziela Valentino, Roberta Alves de Souza e Iuri Barbosa Ribeiro,
Brasil, 7/5/2010. São Paulo, 20/04/2010.
Concurso Crie Futuros de HQ. Nicolás Rios, Uruguai, 2011.
Concurso HQ e Ilustrações Crie Futuros, 2011 Geraldo Antonio Barba Rios, México Pablo Carrera Piritto, Uruguay
Foi realizado em parceria com Ocus Media e Montevídeo http://criefuturos.com/futuros_criados/ http://criefuturos.com/futuros_criados/
Comics, do Uruguay, e com a UDG Virtual (Universidade Concurso_M%C3%A9xico Aprendiendo_a_volar_con_la_raza_humana
de Guadalajara), do México, e o tema proposto estava
Bruno Garcia Olivo, Uruguay Cristina Hare, Brasil
relacionado aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
http://criefuturos.com/futuros_criados/Un_Cambio http://criefuturos.com/futuros_criados/
Selecionamos alguns para o livro e os demais vencedores
No_futuro_ser%C3%A1_Gol!
estão ao lado, com o link correspondente. Denise da Costa, Brasil
Obrigada e parabéns! http://criefuturos.com/futuros_criados/Ave_da_paz
TAGS: agricultura familiar – água – alimentos – consumo – corpo
– cuidar – cultivo – empatia – fontes – gastronomia – horta
urbana – hospitais – medicina – natureza – nutrição –
pensamento– quatro elementos – reciclar – relacionamentos
– remédios – resíduos – saúde – sensibilidade
anos devido à necessidade de compre- elemento Terra, ligado à Sensação, que a construção de uma cultura de susten-
ender e decidir usando a intuição, já que nos fornece informação sobre o que é tabilidade. Mudanças efetivamente pro-
as mudanças são cada vez mais rápidas. aquilo com o que estamos lidando. fundas foram alcançadas quando ambas
Resulta em exercícios de associação, vi- BB O Sistema Hídrico no planeta e começaram por motivar, trabalhar o de-
sando estimular a visão do todo e a cria- o Sistema Circulatório correspondem ao sejo de mudança (este foi o objetivo do
tividade. Por analogia com nossa consti- elemento Água, ligado à emoção (em – Movimento Crie Futuros com seus futu-
tuição em “camadas” e associação delas moção, em movimento) que nos ajuda ros desejáveis); depois ampliar a percep-
aos quatro elementos, chegamos, por a compreender o quando, o processo ção através dos cinco sentidos, o que re-
exemplo, à correspondência destes com no tempo.
as funções psicológicas básicas, como BB Atmosfera e Sistema
formuladas por Gustav Jung, que tam- Respiratório correspondem
bém indicam etapas de um processo. ao AR, associado ao Pensa-
BB Primeiro temos o Fogo: Sistema Meta- mento, que nos orienta, nos
bólico na pessoa e Magma na Terra, que localiza, e está ligado ao
corresponde à função psicológica da Pul- Onde em nosso processo.
são. Ou seja: os processos, por exemplo, a BB E finalmente, voltamos ao
educação ou criar um mundo sustentável, Fogo, agora aquele da Luz e
devem começar pelo desejo, pela motiva da Energia, que correspon
ção (por isso nosso livro se chama Desejável de ao Sistema Nervoso, à
Mundo Novo2). O desejo é nosso motor, inteligência intuitiva que
sem ele não começamos nada, ele nos nos aponta os “Comos”.
mostra o porquê fazemos e o para que É notável que até o
estamos fazendo. princípio do século XXI a
BB Depois vem o Sistema Motor no corpo maioria dos processos já
e Geos, o terreno, que correspondem ao começava pelo pensamen-
to (ênfase em conteúdos e
2 O título é também um contraponto ao “Admirável
informações). Exemplos Relação entre os quatro elementos, funções psicológicas básicas e etapas de
Mundo Novo”, de Aldous Huxley, 1932, que narra uma
são a educação ou mesmo uma ação. Lala Deheinzelin, Pesquisa Vitae, 1992.
trágica visão de futuro.
96 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
sulta, por exemplo, em maior capacidade Do Reciclar à Empatia: de empresas e consórcios destinados a
de “ler” o mundo; em seguida, atenção isso entre 2015 e 2025. Os materiais re-
à emoção, por exemplo, através do afe-
sustentabilidade ciclados foram amplamente utilizados
to: quando algo nos afeta, passamos à de dentro para fora na construção em geral, tentando dar
ação; e finalmente chegamos ao pensa- um uso, sobretudo, ao trágico legado
mento, mas um pensamento ancorado Nos primórdios da sustentabilidade que nos sobrou do século XX, com suas
em desejo, experiência e sentimento – o toda a ênfase estava em lidar com o políticas equivocadas, que provocaram
que reduz o risco de operarmos mergu- tangível, material, e a atenção estava a destruição da malha ferroviária, falta
lhados num mundo de ideias e informa- no controlar emissões de CO2, economi- de investimento em transporte público
ções desconectadas e sem significado. zar energia, fazer gestão de resíduos. e, em decorrência, tudo girava em tor-
Nas primeiras décadas do século XXI, no da centralidade do automóvel. Esse
curiosamente, estes temas eram quase equívoco, aliás, foi fortemente alimen-
sinônimo de sustentabilidade. Após a tado pelos nossos sonhos coletivos:
Rio + 20, em 2012, ficou
clara a necessidade de
Vida no ano 2000 = carros! França, anos 30. Veja em www.paleofuture.com.
romper com essa ideia,
pois muitas instituições e
governos limitavam-se a
isso, não alteravam seus
processos e suas relações
socioculturais e se diziam
“sustentáveis”.Mas, ine-
gavelmente, foram anos
importantes para o cui-
dado com o meio am-
biente e anos em que
Concurso premiando melhor ideia para tudo era “reciclagem”, o
uso de partes de automóveis. EUA, 1932. que se nota pelo boom
cuidar , nutrir , preservar 97
Sou orgânica e fui cultivada em micro- os mesmos aplicativos ajudavam a pro- ção de pertencimento pela identificação
empreendimento de famílias que antes mover encontro, contato, alegria. Uma de quem está sentindo parecido. A par-
estavam excluídas em grandes cidades”. de suas funções: você selecionava uma tir dessas informações os Painéis de Sen-
Logo depois as prateleiras deixaram de porção de coisas que lhe interessavam e, timentos também selecionam citações
ser tão politicamente corretas e chatas, quando alguém próximo estava na mes- adequadas ao sentimento percebido.
passando a contar as coisas com mais ma sintonia, o celular vibrava. Artificial, Por exemplo: “Nada é mais poderoso do
humor e mais eficácia. é fato, mas necessário naquelas décadas que uma ideia cujo tempo chegou”, de
Antigamente eram permitidas es- estranhas em que as pessoas estavam Victor Hugo.
tratégias para forçar o consumo, como com receio de se relacionar.
supermercados e shopping centers dese- Recentemente vimos os aplicativos
nhados para desorientar; saídas de aero- de celular “Tô sentindo...” Caso você Água
portos dentro de freeshops ou pratelei- queira interação com outros, ou com os
ras de inutilidades e guloseimas criando Painéis de Sentimentos (lembra que a Avançamos de fato muito quando mu-
um labirinto na direção dos caixas para cidade é interação e conversa?), você daram as percepções e relações com o
pagamento. Nessas situações de impulso programa seu celular com dados que corpo, e cada um se assenhoreou de
de compra provocado, os Aplicativos de juntos componham sua sensação na- suas escolhas quanto a comer, beber,
celular para regular consumo tiveram quele dia. Os Painéis de Sentimentos mover-se. A primeira mudança foi em
função de superego, para quem não sa- mapeiam as sensações de quem passa relação à água, e na maioria dos luga-
bia mais se autogerir: você estendia a pela rua e transformam os dados em res já temos: captação de água de chu-
mão para aquela besteira e o aplicativo visualizações:5 digamos que cada senti- va, cisternas, reuso de água; banheiros
avisava: ”Você de fato queria um doce mento é um ponto de uma cor e o con- secos6. O processo foi acelerado pelo
ou era um abraço? Conversa com o vizi- junto se revela em formas desenhadas Programa Jovens Gestores da Água,
nho de fila, pois ele está sintonizado na pelos pontos combinados. Isso ajuda in-
mesma frequência, e desiste disso que só clusive os gestores públicos, que têm
6 Veja a experiência do Centro Popular de Cultura e
vai te engordar e dar espinhas!” Ao por dever “sentir” a população da qual Desenvolvimento, que trabalha de forma integrada os
mesmo tempo em que foi ficando evi- estão cuidando, e promove maior sensa- temas de agua, energia, alimento, habitação, trabalho,
educação e cultura por meio da aplicação de tecnologias
dente que os impulsos de consumo mas-
5 Exemplo: emoções humanas mapeadas na Web e socioculturais. http://www.cpcd.org.br/extras/Links/
caravam outros desejos mais profundos, transformadas em visualizações http://www.wefeelfine.org/ arassussa290508.htm
100 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
houve uma diversificação de procedi- A gente não quer Quer conhecer uma cultura? Tome suco
mentos, dos mais tecnológicos a outros com o sabor dela. Breilin Montes e Luis
que investigam o potencial purificador só comida!11 Santana, República Dominicana, 2009.
das ondas produzidas pelo cérebro hu-
mano e pela linguagem, inspiradas nas Uma das razões pelas quais saímos das
pesquisas do Dr. Masaru Emoto, que no graves situações de desequilíbrio em que
século XX realizou trabalhos interessan- a humanidade esteve mergulhada du-
tíssimos submetendo água a emoções e rante milênios foi a relação com o “co-
verificando que meditação, música e mer”, hoje substituído pelo nutrir-se com
outras formas de linguagem eram capa- bons alimentos ou divertir-se com a gas-
zes de provocar alterações positivas em tronomia. Quando se concretizou a aces-
águas poluídas.10 sibilidade de alimentos, principalmente
industrializados, o mundo entrou em
crise: seguimos nos comportando como
nossos ancestrais primitivos, comendo Festival Internacional
de Linguagem Eletrônica.
10 http://www.masaru-emoto.net/ 11 Trecho de canção do grupo brasileiro Titãs Pedro, Rio de Janeiro, 2011.
102 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
tudo o que aparecia, como se não hou- ciais e de saúde pública. Já na primeira mensões 4DxT: social, ambiental e cultu-
vesse mais amanhã. Agimos como crian- década deste século o número de obe- ral. Depois, porque era fundamental re-
ças, seduzidos pela quantidade, diversi- sos havia ultrapassado o número de des- cuperar a aptidão e o bem-estar físicos
dade e atratividade de produtos que de nutridos12 e foi triste notar como a obe- e psicológicos, uma vez que ser susten-
fato eram ingeridos, mas estavam longe sidade, problemas cardiovasculares, tável internamente foi a chave encon-
de ser alimento. A insatisfação – que é o diabetes e demais doenças associadas trada para que sustentabilidade pu
motor da mudança – foi anestesiada ou ao mal comer colaboraram para dimi- desse ganhar escala. No início foram
sufocada de várias formas, sendo o co- nuir a população mundial, contrariando adotadas medidas regulatórias um tan-
mer / beber uma delas. as previsões anteriores que falavam em to drásticas: as guloseimas foram trata-
Estudos evidenciaram o papel do aumento populacional. das como drogas e, como os antigos
comer/beber mal no estado de embo No momento em que se ampliou o maços de cigarro, explicitavam em texto
tamento e inércia em que uma grande conceito de sustentabilidade, a questão e imagem os males que causavam; im-
maioria estava imersa e que se agravou de “comer X nutrir-se” teve de ser enca- postos sobre calorias sem nutrientes fo-
após a Grande Bolha de 2013, cujo rada seriamente. Primeiro, por causar ram criados; publicidade estimulando
impacto resultou em aumento na obesi- prejuízos econômicos e nas demais di- consumo de guloseimas foi proibida. Os
dade, venda de álcool e reguladores de serviços de alimentação em empresa,
12 http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/
humor e consequentes problemas so- story/2006/08/060815_obesosxesf escolas e universidades foram obriga-
cuidar , nutrir , preservar 103
dos a oferecer apenas alimentos frescos porados os custos ambientais (ex.: resul-
e leves, adequados para quem passava tados de monocultura de açúcar); sociais
horas sentado. (ex.: custos de saúde odontológica e mé-
No início dos anos 20 a formação de dica) e culturais (ex.: perda da diversida-
preço de todos os produtos já era feita de cultural e hábitos) e mesmo os econô-
pela combinação de custos 4DxT. Por micos (ex.: perda de produtividade por
exemplo: antigamente eram largamente saúde debilitada).
consumidas bebidas à base de corantes, Passar do comer ao nutrir-se teve André, FILE,
água e açúcar cujo preço por litro era uma importância maior do que o pre- Rio de Janeiro,
menor que o de água natural! Esta dis- visto, pois desenvolvia capacidades fun- 2011.
torção foi corrigida quando foram incor- damentais para a implementação da
sustentabilidade como sistema: escutar
e conhecer a própria natureza e suas
Feira da Agricultura Comunitária
necessidades; desenvolver disciplina e
A feira consiste em um espaço para a distri
buição, dentro do bairro, de alimentos orgâni-
autorregulação; fazer escolhas sensatas;
cos, que são produzidos e colhidos por mora- ser consciente das consequências futu-
dores organizados. Essa possibilidade de ras das ações realizadas no presente.
abundância e beleza deve-se ao projeto de lei Houve aumento extraordinário de
aprovado no município, que prevê a doação de vegetarianos, mais ou menos radicais, ve-
terreno para a produção de alimentos, desde gans e todo tipo de dieta que levava em
que haja um grupo gestor organizado.
A feira nos bairros acontece semanalmente e
possibilita a alimentação com produtos frescos, Rede BigVegan
saudáveis, além de promover o encontro para Reúne os supermercados BigVegan, popularmente conhecidos como Super Veganão, e os Restaurantes Vega-
integração e trocas de habilidades, que alimen- no Soni com aquecimento solar, biohorta vegânica, cisterna, captação da água da chuva, pomar, biblioteca,
tam a vida comunitária. bicicletário, c ozinha fantástica, música ao vivo nas noites de lua. Para um futuro em que as pessoas não preci-
Daniela di Grazia, Lucilaine Oliveira e Inês sem sacrificar vidas para se alimentarem, reconheçam os animais como irmãos e eduquem as crianças a não
Soares Campos, Campinas, 2010. violência – a não combaterem o mal com o mal. Lolita Sala e Rodrigo, Brasil, 2010.
104 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
doença. No momento pós-estouro da seja, como “uma foto” daquele momen- A SAÚDE EM 2042, PELO
Grande Bolha, em que pessoas, institui- to. Depois, o acesso a dados de diversas
ções e empresas pactuaram que a sus- funções humanas,combinados à dados OLHAR DA BESTEIROLOGIA
tentabilidade seria o eixo norteador de da vida cotidiana, e observados em siste-
Wellington Nogueira, criador do Doutores da Alegria e
todas as atividades, ficou evidente que mas de layers sobrepostos (como os usa-
consultor empresarial. São Paulo, Brasil. 2012.
não era mais possível desperdiçar recur- dos em softwares de design gráfico) per-
sos, tempo e entusiasmo com doenças mitiram fazer diagnósticos que fossem Nos dias de hoje, nós, besteirologistas1, estamos
que poderiam ser evitadas. Mais do que mais “cinema”, acompanhando o desen- confusos: ONDE COMEÇA E ONDE TERMINA O HOS-
nunca a vida estava sendo boa demais rolar ao longo do tempo. Perceber PITAL? Essa confusão ocorre porque observamos
para ser perdida, e multiplicaram-se os doença e saúde como processos históri- uma série de doenças sendo cultivadas em nossas
grupos de Agentes de Saúde formados cos alterou conceitos importantes, por relações com a vida. Logo, o que chega até o hospi-
por voluntários e profissionais que exemplo, ligados ao envelhecer e ao que tal já começou muito antes, como, por exemplo, nos
aplicavam tecnologias socioculturais13. é era “natural”. Para um habitante da locais de trabalho (que é onde o adulto se interna,
Conseguiu-se, assim, criar redes de rela- Idade Média era “natural” morrer aos como bem diagnostica a ilustre colega besteirologis-
cionamento e convívio que evitaram que 30, perder dentes e ter problemas de ta, Dra. Ferrara); na correria das grandes cidades e
insegurança, má alimentação, falta de pele – cenário que muda com a atenção em muitos lares... Basta uma visita aos pronto-socor-
higiene, informação, estímulo ou com- à higiene. Hoje, já percebemos que en- ros de hospitais públicos e privados e poderemos ter
panhia fossem causas de doenças. velhecer e adoecer não são sinônimos e uma radiografia dos problemas sociais que enfrenta-
Uma curiosidade foi observar que, que a doença é mais consequência do mos no dia a dia e que lá desembocam.
entre o século XX e XXI, a medicina vi- mal-viver do que do viver muito.
veu uma evolução semelhante à passa- Ao mesmo tempo, nunca se falou tanto em
gem da fotografia do século XIX para o sustentabilidade como agora. Onde começa e onde
cinema do século XX. Antes, os exames e termina a tal da sustentabilidade? Definitivamente,
os cuidadores/médicos baseavam-se em ela começa na qualidade de nossas relações com a
vida. Cada um de nós é o ponto de partida. Eu me
dados obtidos principalmente no mo-
mento da interação com o paciente, ou
1 palhaços profissionais integrantes do elenco dos
13 Um exemplo é a Pastoral da Criança, https://www. Doutores da Alegria, que recebem treinamento para atuar
pastoraldacrianca.org.br/ com excelência em hospitais.
cuidar , nutrir , preservar 107
olho, me escuto, me conheço, me acolho e, por isso, sou capaz de olhar, escutar, o uso da respiração é uma das primeiras coisas que se aprende na escola!
conhecer e acolher o outro. Se a Terra, hoje, está em perigo, é porque fazemos
para ela o que fazemos para nós mesmos: nos tratamos mal! Reproduzimos no Toda essa revolução tem um impacto devastador sobre as relações das pessoas
mundo aquilo que cultivamos dentro de nós! Portanto, vamos rever o mestre com o trabalho! Sim, porque nesta altura do campeonato, ninguém está traba-
Gandhi falando: ”Seja a mudança que você quer ver no mundo” e reler o prin- lhando para sobreviver ou enriquecer, mas exercendo seu propósito de vida por
cípio da Carta da Terra, onde está claramente descrito que somos seres interde- meio do trabalho, o que nos resgata ofícios considerados extintos, como os ar-
pendentes. Pronto, a partir destes pontos ligados, podemos começar a pensar tistas itinerantes, que fazem com que uma saída à rua se torne uma experiência
desejáveis futuros na área da saúde. de beleza e graça. Músicos, poetas, escultores, pintores, cantores, palhaços, ato-
res, todos esses artistas passam a fazer parte do cotidiano das pessoas, estimu-
Porque desenvolvemos a nossa consciência, vivemos saudavelmente, comendo lando conversas, debates, discussões e reflexões. Por isso, trabalhar é um prazer
bem aquilo que plantamos em nossas hortas coletivas, que, por sua vez, funcio- e uma honra, já que escolhemos trabalhar para tornar o mundo melhor e so-
nam também como salas de aula para crianças e jovens – sim, consciência ali- mos todos atores no mesmo grande espetáculo que criamos a cada dia, pela
mentar, agora, é uma matéria escolar, junto com gastronomia saudável e sabo- nossa convivência.
rosa – numa atividade que envolve também as famílias! Sem desperdício de
comida, todos vivem bem alimentados. Por conta desta onda, a indústria de Num mundo assim, os hospitais passam a ser centros de cultivo de saúde, resga-
agrotóxicos se reinventou e se tornou disseminadora de técnicas de plantio or- tando da Grécia antiga o conhecimento de Asclépio, que fazia uso das artes para
gânico, pois as grandes plantações perderam muita força desde que as pessoas curar as pessoas. Os médicos e profissionais de saúde passaram a receber forma-
pegaram para si a responsabilidade por sua alimentação. ção artística para fazer do cuidar uma arte. Escuta e Olhar são disciplinas de pri-
meira ordem! Isto causou uma reformulação geral no conceito de hospitais e
Toda essa revolução nos hábitos alimentares também abriu espaço para a diver- hospitalização, afinal, conscientes de seus propósitos de vida, médicos, enfermei-
são coletiva: muitas pessoas se divertem juntas, e acabam tornando a vida me- ras e outros profissionais de saúde entendem que o encontro com cada paciente
lhor. Famílias que se divertem juntas geram mais amizades duradouras e cuida- é uma oportunidade de, juntos, tornarem-se melhores seres humanos. A tecnolo-
do. Numa vizinhança, todo mundo se conhece e todo mundo cuida de todo gia torna os tratamentos rápidos e bem menos invasivos e assim sobra tempo
mundo, portanto, a violência urbana cai incrivelmente e as pessoas destroem para a construção de relações saudáveis em harmonia com o movimento da vida.
seus muros altos e cercas elétricas porque eles não são mais necessários. Uma
cidade que se apodera de suas ruas e espaços públicos para o lazer, a arte e a Em 2042, teremos aprendido a celebrar cada dia o encontro com o outro, por
cultura, se revela. Isso gera uma população mais saudável, feliz e consciente de sabermos que não existem dois seres humanos iguais e que somos a manifes-
que todos são parte de uma construção diária da saúde coletiva. Nas escolas, as tação de um milagre que até hoje a ciência não desvendou totalmente. A cele-
matérias são todas sobre como podemos ser melhores e mais harmônicos por- bração passa a ser um estilo de vida. A gente se motiva para algo que é muito
que temos consciência do legado que deixamos a cada respiro que damos. Aliás, forte: a vontade de fazer melhor para o outro. Isto é saúde na prática.
108 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
Muito Cuidado Meus pais lembram com certo pudor que, além de tentarem reconhecer-se en-
Silvina Martinez, arquiteta, cujo trabalho une permacultura a economia criativa .
1 tre meus talentos, não tinham ideia do que fazer com a informação recebida, já
Buenos Aires, Argentina, 2012.
que não dizia “será médica” ou “floricultora”. A lista de aptidões era tão exten-
sa quanto imprecisa, e, além disso, as profissões e os ofícios já eram bem dife-
No futuro que imagino, a palavra mágica é “Cuidar”. É um futuro amável, rentes dos que conheciam em seu tempo.A segunda parte foi mais esclarecedo-
que cuida de cada pessoa e cria as condições para que elas desenvolvam o ra: “Hipersensibilidade à desordem”; “Dificuldade para digerir alimentos de cor
melhor de si. Um futuro onde os bebês venham com um manual (uma fantasia amarela…”.
compartilhada por muitos pais!). E onde o êxito se meça em níveis de satisfa-
ção. Um mundo onde eu me sentiria mais cômoda, e que descrevo a seguir: A escola
O sistema educativo se reformulou concomitantemente a toda essa nova infor-
(…) Faço parte da primeira geração nascida no Programa Muito Cuidado. O mação disponível. Além disso, se alguém o pede ou necessita, pode durar a vida
programa demorou 25 anos para ser colocado em prática, mas não para desen- toda. Nos primeiros anos não existe muita mobilidade: cada criança tem aulas
volver sua tecnologia: a verdadeira revolução consistiu em derrubar o mito de de acordo com as aptidões indicadas em seu Documento.
que não era possível atender a cada indivíduo em sua particularidade.
Assim, minha boa disposição ao pensamento abstrato moldou minha relação
Apesar de terem acompanhado juntos todo o processo, minha mãe não se es- com todas as Ciências e no final da minha educação básica tinha alcançado
quece da expressão de assombro e desconcerto do meu pai quando a Equipe conhecimentos que a geração anterior só conseguia obter na universidade.
de Recepção lhes entregou meu Documento Vital.
Minha aptidão artística, em compensação, era bastante baixa: assisti então a
O Documento aulas de “Percepção e Prazer Estético” nas quais desenvolvi sensibilidade sufi-
Quando cheguei a este – novo – mundo, a equipe verificava em silêncio minhas ciente para desfrutar todas as expressões da arte, e fui capaz de produzir obras
funções vitais na tela, a certa distância, e atenta para ver se algum dos três simples com resultados bastante satisfatórios.
precisava se alguma assistência. Em seguida, aproximaram-se para comparti-
lhar os resultados revelados pelo Sistema de Análise de Sensibilidade. Até a metade do ensino médio a maioria de nós exercita sua curiosidade em
áreas que não nos haviam interessado até então, por influência de novos ami-
Assim receberam um resumo primário das minhas “Coordenadas de Sensibili- gos ou inquietações pessoais. Comecei a participar da banda da escola como
dade”: a lista dos meus Talentos Primários e a de Riscos Potenciais (inimigos da percussionista, já que desenvolvi certa qualidade rítmica... Foi quando me apai-
minha saúde psicofísica). xonei por um músico. Talvez pela relação entre Aritmética e Harmonia...
1 www.culturafi.com.ar
cuidar , nutrir , preservar 109
As matérias “Ética” e “Criatividade” são ministradas em todas as disciplinas. O mais interessante foi demonstrar que, com cerca de nove bilhões de pessoas
As aulas mais heterogêneas e coloridas são as Humanidades, nas quais conver- computadas, em absolutamente todas são encontrados talentos e debilidades
gimos todos: o Novo Acordo Planetário (documento que embasa todo o progra- potenciais ao nascer. Quando se verificaram as semelhanças de condição “de
ma) coloca o Ser Humano como o primeiro responsável por todos os cuidados. base”, evidenciou-se a necessidade de equiparar as oportunidades de desenvol-
vimento, em nível mundial. E a fantasia (semiassumida) da existência de “super-
Outras aulas um pouco anárquicas foram: “Ciências Sociais” e “Habitat”, que -homens” se desvaneceu, infundindo uma nova autoestima na população.
se reformulavam permanentemente, e “Relações Intergeracionais” – já naque-
le momento era considerada um assunto de Estado. Mas a revolução apenas começou:
“Culturas” é ministrada a cada mês por pessoas que são referência em suas Ninguém pode prever o que acontecerá quando os níveis de insatisfação bai-
comunidades, que relatam seus traços identitários através de histórias da tradi- xem drasticamente. Ou quando seja excluída definitivamente do vocabulário a
ção oral. A matéria é uma celebração, em que aprendemos a dançar seus ritmos palavra “inútil”, quando nos referimos a um semelhante.
e, claro, os segredos de suas cozinhas.
Houve uma redução nos níveis de doença e violência, e os orçamentos necessá-
O Censo rios para Saúde e Segurança já diminuíram.
Cumpridos 20 anos do programa, organizou-se o Primeiro Censo Mundial da
Nova Era. Novos Documentos Vitais de toda a população foram emitidos, com Já não se escutam os nostálgicos “… no meu tempo, os jovens eram…”: Os
os seguintes resultados: mais velhos consideram que este também é o seu tempo e estão orgulhosos de
protagonizar o momento em que o planeta trocou o Poder pelo Cuidado.
• A relação de Talentos aumentou em relação à primeira medição, compro-
vando a hipótese de que conhecer as aptidões “de origem” melhora as Mas, uma coisa não mudou em absoluto: nas consultas com o psicanalista, as
capacidades, mesmo que em áreas não especialmente dotadas, e evita pessoas seguem falando sobre suas mães!
muitas frustrações.
Saúde!
• A respeito dos Riscos Potenciais, foi também notável a diminuição de zo-
nas de extrema sensibilidade, graças à prevenção e porque lidar com os
elementos comuns à maioria transformou-se em objetivo planetário, e es-
tes foram combatidos até seu desaparecimento (poluição, radiações UV
anormais etc.).
110 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
“As visões que oferecemos aos nossos filhos moldam o futuro. É importante
quais são essas visões. Muitas vezes elas se tornam profecias auto-realizáveis.
Os sonhos são mapas.”
Carl Sagan
112 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
Onde estamos? tidos por outra coisa percebida como tipo de informação profunda, qualifica-
doença: o envelhecer. da, consistente – afinal é aqui que tudo
Outra leitura da A mudança começou pela própria começa. O inverso do que se acreditou
passagem do tempo noção da passagem do tempo e as pala- por bom tempo, já que havia a ideia de
vras que a definem: o termo “Infância” que para os pequenos (por sofrerem de
Até pouco tempo, um visitante que (in–phonos, sem voz) foi progressiva- incompletude...) tudo poderia ser bobo,
viesse do passado longínquo teria difi- mente abandonado, assim como “Ado- banal e de má qualidade. Essa qualida-
culdade de reconhecer nossas edifica- lescência” (adolescere, duplo significa- de e a diversidade são garantidas, pois,
ções e profissões. A escola, no entanto, do: crescer e adoecer). Sabemos que há como diz um provérbio africano, “é pre-
seria imediatamente reconhecida. Por três “adolescências”, uma em cada pas- ciso uma aldeia inteira para educar uma
tempo demais, ela seguiu sendo o local sagem de fase da vida e hoje são chama- criança” e, de fato, elas são cuidadas
onde éramos internados e isolados – das Primeira, Segunda e Terceira Transi- por todos.
como se ser criança fosse uma doença, ções (a quarta é a definitiva...). Depois da Primeira Transição (curio-
um mal de incompletude que se cura A fase que antes era Infância, hoje samente se verifica que pode durar dos
quando nos tornamos adultos. Mal, é Potentia, a fase de todos os poten- 13 aos 31), vem a Frutificare, a fase de
aliás, recorrente quando éramos acome- ciais. É aquela em que se recebe todo criar filhos e consolidar trabalhos. Já
não é mais tão difícil, pois, felizmente,
abandonamos a ideia que autonomia é
Nem mesa, nem cadeira sinônimo de isolamento e hoje a vida
Agora, a relação entre os três setores é de circularidade e interdependência. Não existe mais hierarquia. Por cotidiana e doméstica é compartilhada.
meio de compromissos setoriais e regionais, se estabelecem metas de curto ou longo prazo, sem mais de- Inspirados em culturas de ajuda mútua,
pender das políticas e do poder político, mas sim, dos atores e representantes dos próprios desejos. Por isso, principalmente as vindas do Oriente, fa-
é importante que a criatividade e a arte estejam em todos os setores. Para isso, é essencial potencializar os mília e amigos colaboram para os inícios
espaços células como a escola, que possa ser a semeadora dessa convivência e disseminadora da criativi- dos empreendimentos e núcleos fami-
dade como potencial corretivo e transformador, atendendo aos quatro campos (simbólico, social, econômi- liares (em seus múltiplos formatos) dos
co, ambiental) com valores de solidariedade e cooperação.
jovens frutificantes.
Guta Bodick, João Roberto Fava, Cláudia Maria Fontana, Marta Fernandes, Clara Prazuelo, Marcos Borges,
A Segunda Transição, por volta dos
Nataly Simon, João Meirelles e Ivan Melita, Brasil, 2008.
cinquenta, revelou-se uma chave na mu-
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 113
ficação com fases de concentração – contato com a web que fosse qualitativo e
mais uma vez o mesmo padrão concen- não quantitativo;
trado/mono x descentralizado/pluri que BB expansão no início dos anos 20, quando
já vimos tantas vezes. Listamos abaixo a web já não era mais um mar de dados
algumas destas pulsações. indiscriminados onde navegávamos sem
(Peço desculpas aos especialistas mapa. As novas interfaces já utilizavam sis
por este exercício atrevido e improvável, temas de visualização de dados e, quando
aliás, aproveito para pedir desculpas a passamos a lidar com dados qualitativos, foi
todos os especialistas por todos os exer- possível ganhar profundidade. Com ela,
cícios atrevidos e improváveis que com- criamos algo como um “relevo ou topogra
põem este livro...). fia da web”. Onde há relevo e profundida
BB expansão quando surge, esparsa entre de, é possível discernir a relevância – que
universidades e centros técnicos; contra havia sido perdida no início dos anos 10.
ção com os primeiros megasites e Contração quando apenas alguns poucos
megaprovedores; são capazes de, uma vez conhecendo a
BB expansão com a web 2.0 e sua diversi morfologia da web, estudar sua fisiologia.
dade de wikis e blogs e intensa produção A história recente já é mais conhe-
colaborativa de conhecimento; contração cida: a leitura de dados em profundida-
com as redes sociais que consumiam todo de, com relevo fornecido por layers so-
o excedente cognitivo das pessoas em brepostos, começando pelos layers de
Concurso Crie Futuros de HQ.
posts efêmeros; georreferenciamento em tempo real.
Javier Milles Sierra, Uruguai, 2011.
BB expansão no final dos anos 10, quando Isso foi determinante para viabilizar a
retornam blogs e wikis 3.0, agora geor- Economia e a Gestão 4DxT a que nos re-
referenciados. As pessoas deixam de pos ferimos em capítulos anteriores. Assim
tar informação (pois era perdida...) nas como educação, comunicação e criativi-
redes sociais e estas passam a ter função dade multidimensionais, que são o tema
apenas relacional; contração quando pou deste capítulo.
cas plataformas digitais permitiam uma
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 113
Indivíduo do Futuro
Com a internet, as experiências estão cada vez Óculos com TV, agenda, internet e que pode
mais aceleradas, por isso as instituições “Ensi- ser usado através de controle remoto ou
no” e “Trabalho” estão ultrapassadas. Logo, as comando de voz. Este futuro foi criado em
Escolas e Empresas precisam se transformar. 2010. Em 2012 a Google lançou um
Principalmente a forma de trabalho precisa ser protótipo. FILE, Rio de Janeiro.
modificada.
A partir deste instante, para trabalhar em grupo,
as pessoas terão que aprofundar e desenvolver
os seguintes valores e habilidades:
- Cultura de tolerância; Escola da Brincadeira
- Relação cidadã, prática, inteligente e útil; Hoje em dia, os adultos estão muito duros, ou criatividade,à transformação contínua
- Possibilidades de aprender e quebrar seja, não se divertem, levam a vida muito a sé- característica primeira da Vida e da Na-
preconceitos; rio. Por outro lado, as crianças estão muito tec- tureza – e portanto nossa.
- Lógica de trabalho inclusiva, um conhecimento nológicas, sem interação com outros. Foi criada,
Contudo, vivemos um contínuo im-
não anula o outro, somam-se; portanto a Escola da Brincadeira, onde os adul-
passe: nossa Cultura e, consequente-
Conhecimento sempre disponível online. tos aprendem com as crianças as brincadeiras
tecnológicas e linguagens que ainda desconhe-
mente, nossa educação, consideravam a
Maria do Carmo, Aracy Machado, Fabrício Jabar,
Natascha Penna, José Sávio, Alindo de Oliveira, cem. Os adultos ensinam as crianças a serem Transformação, o movimento contínuo,
Miriam Hunnicutt, Ronaldo Gonçalves Alves, mais espontâneas, livres, brincadeiras analógi- como algo ameaçador e difícil de lidar.
Jaci Lopes da Cruz, Jaron Rowan, Alexandra cas e de rua. Um intercâmbio diferente! Mudaríamos se fosse fácil. Não é. Mudar
Araujo. São Paulo, 2008. Ana, Ellen e Paloma, São Paulo, 2010. de hábito é muito mais difícil do que
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 113
acabar com nosso mau hábito de aceitar o hoje, aplicada também às relações pes-
Memorial do Futuro – Simulações inaceitável1. Tornou-se uma prática cotidiana soais, sociais e internacionais. As dife-
para tomada de decisão até que as barbáries foram escasseando. renças (assim como a mudança) não são
É uma Exposição do Intangível na qual cada
BB Obituários Preventivos2: qual o seu mais percebidas como problema e ame-
pessoa que tiver alguma questão futura a re-
legado? Ainda mais eficazes que as Pega aça. Combinações entre diferenças são a
solver traz sua caixa de problemas e soluções
das 4DxT, são como uma nota de jornal base da vida e de tudo o que – como ela
contendo fotografias e objetos, entre outros,
formando um memorial de simulações do futu- descrevendo o que fica como marca de sua – é dinâmico, criativo, pulsante e saudá-
ro. Pode ser realizado em espaços sem uso, pú- vida. Inspiram-se no fato verídico de Alfred vel. Diverso, pois sabemos que diversi-
blicos ou privados, onde também estão dispo- Nobel: um jornal noticiou por engano a sua dade é a chave para a criatividade e
nibilizados imagens, sons, vestuários, entre morte, qualificando-o como “o mercador para o convívio harmônico entre as pes-
outros, para que as pessoas possam criar suas da morte” por ter feito fortuna fabricando soas. Foi-se, por exemplo, o tempo da
instalações. Toda simulação será registrada. explosivos. Vem daí sua decisão de premiar educação como linha de montagem,
Será criado o site Memorial do Futuro com as aqueles que deixam legados para o futuro. passando os mesmo conteúdos, ao mes-
soluções mais criativas e diferentes para pro- Como ninguém queria ser merecedor de mo tempo, num mesmo lugar, para pes-
blemas comuns. um obituário preventivo, houve um momen soas com a mesma idade e perfil3.
Robinson Borba, Araci, Claudia Cezar
to em que geraram certa paranoia. Mesmo Os Espaços ACESTA Inter Multi
e Jaques Faing, São Paulo, 2008.
assim, foram eficientes. de hoje são intergeracionais e neles
Além da memória, o desejo de “hardware” e “software” são móveis e
ACESTAR e o impulso educriativo vêm adaptáveis. As paredes e mobiliários
do prazer. Tudo aquilo que é proposto são módulos muito coloridos que rece-
HISTORIADOR DO FUTURO dever ser diverso e divertido. Diverso, bem novas configurações para cada
Possui um capacete (movido à energia solar) pois esta é a marca da vida contemporâ- tipo de atividade. Os conteúdos variam
que lhe permite regressar ao passado e alertar
nea, já que “das diferenças vem a evolu- de acordo com o contexto e a escolha
as pessoas sobre conflitos, divergências e
ção”. Esta célebre frase de Darwin é, de quem participa.
guerras passadas, para que não sejam repeti-
dos no presente.
Carlos Rossetto e Carlos Bonbonatti, 1 No momento em que escrevo, recebi uma pérola:
Brasil, 2009. tive que assinar uma Declaração de Não Inidoneidade!
3 Em www.escoladaponte.com.pt descubra uma
2 A boa ideia é de Gilberto Dimenstein. proposta educativa que atende a diversidade.
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 113
Educação em Tratamento geometria para desenvolver raciocínio Desenvolver capacidades para ser feliz
A educação está passando por uma fase de tra- abstrato – fundamental neste momento O que quer a humanidade (e provavelmente as
tamento. Daqui a alguns meses ela sairá da UTI, em que “lemos” os vários aspectos da outras espécies também se a gente pudesse
totalmente recauchutada. vida por meio de volumes organizados entendê-las...) é felicidade. Então a principal
Na “Escola Nova”, os ensinos público e privado em layers sobrepostos. função das escolas é desenvolver capacidades
se unificarão. As aulas ocorrerão nos quintais Somar sabor e saber, diverso e di- para ser feliz. Por exemplo, com intenso treina-
de aula, e não mais nas salas de aula. Os pro- vertido é impossível sem a combinação mento em humor. Disciplinas como piadas de
fessores serão os gestores do conhecimento, de educação e cultura. Daí, a origem, há louco 1, de papagaio 2, palhaçaria iniciantes
criando matérias chamadas de “Estímulos”, ou avançado...
duas décadas, da palavra educriativida-
nas quais os alunos serão estimulados a escutar, Anônimo, Brasil, 2010.
de. A soma de ferramentas ACESTA -
cozinhar, entre outras coisas, para assim pode-
rem escolher.
combinado arte, ciência, tecnologia e
O professor mais qualificado será aquele que jogo - torna ainda mais instigante o pro-
assistir a dez filmes e não aquele que obtiver cesso e permite que o brincar siga fa- Camada dois : Sensação –
mais títulos. Saídas a campo toda semana! zendo parte de todas as etapas de nossa O que é sentido, faz sentido
A cada mês, será convidado um formador da vida. Basta ir a qualquer Play Ground de Nos últimos anos, estamos atentos a
cultura para falar e brincar com os alunos. Adultos, Baladas com Luderias, ou mes- todo tipo de desperdício e muita coisa
Os cuidados com o corpo farão parte do coti- mo frequentar os Espaços Lúdicos Rela- poderia ser mais simples se não desper-
diano, principalmente com a prática da Yoga, cionais que existem em todo tipo de ins- diçássemos o esclarecedor sentido das
que incentivará os estudantes a se conhecerem tituição ou empresa. As Salas de frases corriqueiras. Atenção na palavra
melhor internamente. Reunião com Camas Elásticas e o Espa- “amável” já explicitaria que é mais ama-
Será inventado o oitavo dia da semana! Um dia
ço de Café com Olhos Vendados têm co- do aquele que é mais gentil. Similar-
especial para experimentação, vivências e in-
laborado para desenvolver novas capa- mente, por muito tempo desperdiçamos
centivo da filosofia.
Adriana Klysis, Camila Margusi,
cidades psicomotoras. uma expressão que foi chave para a mu-
Vitor Haggar, Cristina e Reinaldo Pamponet, dança cultural rumo à sustentabilidade:
Brasil, 2009. “Isso não faz sentido”. É fato. Quanta
coisa não fazia sentido por ser definiti-
vamente insensata? Ou então porque os
sentidos não estavam sendo usados?
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 113
vamos forçados pelo sofrimento. Hoje, medo que permeava todo tipo de co-
passamos a aprender e a mudar por es- municação, educação e criação. O êxito Inauguração da Escola
colha e coautoria. Ampliando nosso re- tem sido alcançado pelos evidentes re- Cesto dos Sentidos
pertório de percepção, ampliamos nos- sultados positivos que isso trouxe e que Hoje haverá a inauguração da Escola “Cesto dos
Sentidos”, que tem como missão usar os cinco
so repertório de significados. fazem todo o sentido.
sentidos para fornecer uma educação prazerosa.
Se vida é movimento, criação e ex- Nas atividades ACESTA, são traba-
A escola e seu corpo de educadores (alunos, pro-
pansão, seu oposto é o medo que lhadas entrega, confiança, abertura e fessores, apoiadores, familiares e comunidade)
promove paralisia, repetição e contra- ousadia no momento da experiência. A estarão reunidos para um grande jogo comunitá-
ção. Evoluímos quando deixamos de te- experiência é um momento de síntese e rio que vai celebrar os sentidos e a memória.
mer, já que o medo é o maior inimigo de inteireza. A análise só acontece nas Práticas como estas estarão presentes no dia a
da criação, das transformações, da coo- etapas seguintes, de reflexão para apro- dia da escola por meio de estímulos aos sentidos,
peração e do coletivo. Os frutos do veitamento do que foi vivenciado. promovendo a integração entre os seres huma-
medo - desconfiança, censura, julga- nos e a natureza da seguinte forma:
mento, inveja, medo do ridículo e de Camada três : Emoção – • Visão: estimular jogos e exercícios de observa-
perder ou errar – impediam os proces- Mudança de Estado ção e contemplação às cores, às formas, às
sos de transformação, pois bloqueavam natureza e aos seres humanos;
Em um capítulo anterior, já nos referi-
• Audição: será exercitada a escuta ao outro e
a experiência, o conhecimento e, por- mos ao “Ser ou estar, eis a questão”,
estimulada a percepção aos sons da natureza
tanto, a compreensão. comentando que se Shakespeare escre-
• Olfato: uso de cheiros e aromas nos ambien-
A tarefa de passar do medo à con- vesse em português, provavelmente se- tes e na natureza visando despertar, estimular
fiança está sendo árdua, afinal, são mi- ria este o enunciado de sua célebre fra- e compartilhar a memória;
lênios de uma cultura que fomenta o se “To be or no to be, that is the • Paladar: estímulo para degustações e trocas
temor e a separatividade. Tão corriquei- question”. Um dos primeiros passos de histórias e memórias com tempo para
ro quanto “passar o antivírus” foi o rumo ao mundo desejável foi a percep- saborear;
“Passar o antimedo”: em qualquer ati- ção da enorme diferença entre “ser” e • Tato: sessões de abraços diários, explorando o
tude ou atividade perguntar-se: “Isso “estar”. Uma característica nossa (gor- toque entre as pessoas no cotidiano.
fortalece a confiança ou dissemina te- dura, depressão, timidez) é uma carac- João Fabio Scabora, Haydée Agostini e Maria
mor? Depois do “deletar”, veio o “des- terística que é ou que está? Guerra é Cecília de Campos, Brasil, 2010.
medar”, o processo de desentranhar o inevitável ou está inevitável?
112 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
DISCERNIR VERDADE
E MENTIRA
O empoderamento das pesso-
as começa nas escolas, a par-
tir do desenvolvimento do
senso crítico e do aprendiza-
do em distinguir o que é ver-
dade ou mentira para cada
um, dependendo do conheci-
mento de si mesmo e da co-
munidade a que pertencem.
Fernando Beda, Valentino Ruy,
Maria Cristina Meirelles,
Margarida Maria A. Prado;
Hellmuth e Israel José Eloy
Ferreira, Brasil, 2008.
A fantasia e a imaginação sugerem tam as possibilidades levantadas. Ado- zamos que as coisas estão e não apenas
como as coisas poderiam estar – propõe tamos mentalidade e hábitos sustentá- são, percebemos que mudanças de es-
processos, revelam potenciais. O conhe- veis quando percebemos que tudo na tado são possíveis e, portanto, podía-
cimento e a experiência mostram como Natureza (e, portanto em nós...) é cícli- mos sair de onde estávamos e passar a
as coisas são – fazem diagnósticos, limi- co e mutante. Quando nos conscienti- um estado de sustentabilidade. Passar
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 113
da paralisia à ação, da ideia à prática, clos. As emoções, ou humores, se por Camada quatro : Pensamento –
do potencial ao realizado, do individual meio de nossas águas internas: secar de Convergência e Analogias
ao coletivo. medo; umedecer de excitação; trans- Note-se que apenas agora chegamos à
Nossa cultura era insustentável bordar de tristeza. Se nos espelharmos camada que corresponde ao pensamen-
também por não perceber que mudan- em variação de estados da água na Na- to. Antes, os processos educacionais co-
ças de estado são possíveis e necessá- tureza, é fácil notar que às vezes esta- meçavam por aqui: conteúdos, informa-
rias. Não diferenciar “ser” do “estar” mos vaporosos e aéreos, em outras fluí- ção e pensar. Hoje, são bastante mais
era fruto da separação entre o Quê, es- mos e nos entregamos ou estamos eficazes, pois desejamos o conhecimen-
tático e ligado ao Ser, e o Como, dinâ- firmes e gelados. No entanto, muitas to, que é trabalhado através de nossas
mico e ligado ao estar. Não por acaso, vezes fazemos tudo ao contrário: so- sensações, mobiliza nossas emoções e,
nos dedicávamos mais a teoria e ao re- mos vaporosos e ambíguos quando de- quando chega ao pensamento, está fir-
sultado (Quê) do que à prática e ao pro- veríamos estar firmes como gelo, ou memente lastreado.
cesso (Como). Porém, conhecer (teoria) gelados quando deveríamos deixar Nossa história anterior foi construí-
as coisas não é a mesma coisa que com- fluir. Simples, mas foi extremamente da a partir de escolhas entre isso OU
preendê-las (teoria + pratica). Saímos eficaz para não estar nuvem em reuni- aquilo: patriarcado OU matriarcado;
do impasse desenvolvendo tecnologias ões de Conselho ou gelo no aniversário ciência OU religião; razão OU emoção;
em seu sentido original – techné como de casamento. local OU global; economia OU huma
arte e habilidade tecnologia. O concei- Outra técnica, adotada e já citada, nismo. Teorias e práticas includentes
to ampliado incluía as tecnologias foi a Ativação de Empatia, um enorme promoveram as transformações efetivas
“hard” e as “soft”, o tangível e o intan- esforço que durou quase duas décadas, que vivenciamos e que permitiram que
gível, a teoria e a prática, o conhecer e mas resultou. Hoje, nenhum processo as diferenças fossem uma solução, não
o experimentar. de aprendizagem ou transformação é um problema.
Desenvolvemos, então, Tecnolo- possível sem embasamento afetivo e Do Ou ao E foi outra Tecnologia
gias Soft Para Facilitar Mudança de Es- emocional. Sabemos que a emoção é Soft, largamente adotada, cuja função
tado. A maioria delas partia do contato quem nos põe em movimento, nos mo- era sobretudo ligada à linguagem: cada
com as emoções. Observar Humores e biliza. Em – moção, em movimento. vez que um Ou aparecia na conversa,
Fluxos é algo praticado desde cedo, a nos perguntávamos: “Será que é mes-
partir da observação da água e seus ci- mo ou poderia ser um E?”. Por exem-
112 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
são semelhantes. Então, a “linguagem Com essa prática, ler o mundo fica me- descrevê-lo. O abandono da linguagem
da cor” pode ser traduzida para a lin- nos complicado, o que nos dá mais se- complicada como forma de demonstrar
guagem do “som”. Assim, o biomimetis- guranças para decidir e agir. Esse empo- saber fez com que hoje muitas teses das
mo serviu de orientação: a Natureza está deramento, diretamente proporcional à Pluriversidades sejam best sellers.
repleta de exemplos de semelhanças e descomplicação, foi tão evidente que Como os exercícios de síntese, obti-
sínteses, do espectro de ondas eletro- virou campanha: Descomplicar para ser dos por meio de processos analógicos,
magnéticas ao desenvolvimento de um mais Complexo. Verificou-se que, quan- buscam também o Como corresponden-
feto em que ocorre uma recapitulação to mais complexo um tema, mais sim- te a cada o Quê, a distância entre teoria
da evolução das espécies8. Essa tradução ples deveria ser a forma de abordá-lo e e prática está cada dia menor. Somos
de uma linguagem para outra pode ser
feita em muitos níveis e permitiu a esco-
lha da linguagem mais adequada para
trabalhar um determinado aspecto. Cro-
moterapia, aromaterapia, musicoterapia
passaram a ser de uso corrente não ape-
nas nos espaços de cura como na decora-
ção e na resolução de conflitos.
A função destes exercícios de sínte-
se foi simplificar processos, desenvolver
raciocínio abstrato e preparar os Apren-
dizes de Tradutor do Universo9, aqueles
capazes de estabelecer paralelos, com-
parações, convergências e semelhanças.
c aminho. Isso não é apenas uma bela fi- terapia mais eficientes nos atuais hospi- Sonhotecas Pessoais
losofia: é um principio funcional da Na- tais). Além disso, mulheres e homens As Sonhotecas Pessoais permitem recuperar e
tureza, cujas formas e funções se cons- aprenderam a escutar o outro e isso co- conservar os melhores sonhos de cada um.
troem de acordo com padrões que se laborou muito para solucionar a crise de Agora disponíveis também em versão compar-
repetem e assemelham. afetos do inicio do século XXI. tilhável, no idioma universal. Para ter acesso a
A percepção destas semelhanças Houve um boom de todo tipo de elas basta...
facilita a compreensão e, portanto a es- trabalho artístico para ativar aquilo que Silvina Martinez, Argentina, 2010.
colha e ação. Depois de séculos de ainda estava dormente e potencial den-
cultura e educação analíticas, final tro de boa parte da população. Traba-
mente d esenvolvemos nossa capacidade lho corporal de todos os tipos. Artes
de síntese. Construída a partir da busca marciais, Yoga e tudo o que necessitasse Propagação de Habilidades
Foi sancionada a lei que determina que todos
de semelhanças, da parte mais essencial contato com o universo interior. Mitolo-
os indivíduos têm por obrigação compartilhar
e simples, pois aí residem os pontos gias de todas as origens, já que são uma
(ensinando, mostrando, compartilhando) com
de convergência. forma extremamente refinada de en-
cinco pessoas, no mínimo, um conhecimento,
Pensamento sintético tornou-se fun- trar em contato com a linguagem sim- produto de cultura, ou habilidade que possui.
damental na medida em que a vida fica- bólica. Houve uma proliferação de Téc- Isto ocorrerá em centros/comunidades de tec-
va cada vez mais complexa e acelerada. nicas de Registro e Difusão de Sonho, nologia que ocuparão desde centros culturais
Já não era possível coletar dados e anali- assim como de Sonhotecas. urbanos até os antigos edifícios de estaciona-
sar calmamente antes de tomar decisões. mento de carros (que já não existem mais...).
O racional era lento demais. Foi necessá- Nestes centros, todos os recursos tecnológicos
rio desenvolver a intuição, pois só atra- serão disponibilizados para viabilizar essas tro-
Sobre os Espaços cas culturais.
vés dela conseguíamos a agilidade e
abrangência necessária para agir harmô- Educriativos Há também a possibilidade que essa troca de
saberes e habilidades possa acontecer em ho-
nicamente em tempos tão instáveis.
rários ociosos de equipamentos culturais, pro-
Começamos por praticar “escuta”, Educriativo, Educomunicação, Educultu-
movendo também maior visitação.
fundamental quando se é parte de um ral, Edutenimento, Edutecnológico,
Maria Candida Di Pierro e Daniela Vianello,
todo... Houve um retorno das danças de Edusustentável. Os Espaços Educriativos Brasil, 2010.
salão (aliás, esta é uma das formas de (antigas escolas) hoje têm todas as face-
112 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
A escola terá uma piscina, coberta no inverno e descoberta no verão. Toda cercada de chaminés
com tubos com ar quente para nos enxugar. Adriá e Marcos, Barcelona, 2009.
a p re n d e r, Cri a r, c o m u n i c a r 135
EducaCão e Futuro mente só poderão ser destiladas em soluções se formos capazes de nos
orientar para o futuro.
Rosa Alegria, São Paulo, Brasil, 2012.
Vice-Presidente do NEF, Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP;
Novas realidades cognitivas - Estudos revelam que a exposição constante
Diretora do Nodo Brasileiro do Projeto Millennium.
a estímulos digitais, como games, equipamentos móveis, sobreposição de ima-
gens, pode mudar o cérebro e a maneira como ele percebe as coisas e proces-
“Os analfabetos do futuro não serão aqueles que não sabem ler ou escrever,
sa a informação.
mas aqueles que não sabem aprender, desaprender, e reaprender.”
Alvin Toffler Aprender a desaprender - A vez do especialista consagrado pela era indus-
trial está chegando ao fim. A era do conhecimento requer perfis latitudinais,
É nas escolas que as novas gerações, poderão aprender a criar o futuro multifuncionais, policompetentes.
que desejam. Afinal, só temos aprendido o passado. Que tal aprender-
mos também o futuro? A escola que vem de dentro - Sobre a interioridade, nenhuma escola trata.
Como se estivéssemos vivendo apenas um lado da realidade e jogando fora
Olhando para trás e percorrendo os últimos vinte e cinco anos num flashback todo o potencial criativo. Afinal de contas, somos completos. A única espécie
imaginativo, dá para ter ideia da magnitude das mudanças que hoje vive- com capacidade de enfrentar o mundo exterior (horizonte das mudanças)
mos e que irão continuar mais rápido daqui em diante. Não tínhamos a e o mundo interior (horizonte mental da imaginação).
AIDS, os transgênicos, telefones celulares, internet. A ovelha Dolly, o ataque
às torres gêmeas e a invasão Wikileaks seriam fruto de imaginações deli Estudo do Projeto Millennium − Futuros Possíveis para a Educação e
rantes. Se as tendências atuais seguirem sua aceleração, este século irá Aprendizagem 2030
assistir a mudanças tecnológicas numa escala 80 vezes maior do que no
século 20. Diante deste novo mundo, o que as escolas e os centros de O Ministério da Educação e Desenvolvimento de Recursos Humanos da Coreia
aprendizagem podem fazer para que o choque do futuro que o Alvin Toffler do Sul pediu à rede de pesquisadores do Projeto Millennium, rede internacional
profetizou nos anos 80 não seja tão intenso? Como podemos tirar proveito de pesquisadores futuristas da qual faço parte, uma avaliação de possibilidades
dessas mudanças? futuras no campo da educação e aprendizagem para o ano 2030. O que pode-
mos fazer hoje para tirar proveito dessas novas possibilidades? Já que novas
Estudar para o futuro - Um dos aspectos que definem uma sociedade é ideias podem levar a caminhos inusitados, é prudente perguntar o que de nega-
sua atitude em relação ao tempo. As nossas escolas preparam pessoas para tivo e de positivo poderia delas surgir? Estas são algumas das possibilidades
o que virá? Certamente não. As mudanças pelas quais passamos constante- voltadas ao mundo high-tech para a educação em 2030:
136 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
• Programas para melhorar a inteligência coletiva. • Sistemas integrados de aprendizagem ao longo da vida.
• Conhecimento e aprendizagem just-in-time. • Programas que visam à eliminação dos preconceitos e ódio.
Para fazer do mundo que temos no conteúdo e na estética dos meios de comunicação de massa, mas também
o mundo que queremos ampliar horizontes, quebrar preconceitos, reduzir as diferenças. Isto porque,
apesar de vivermos na era midiática, do conhecimento e da informação, em
Maria Arlete Gonçalves, Rio de Janeiro, Brasil, 2008. que somos inundados pelo noticiário do que ocorre no mundo em tempo real,
Jornalista, Diretora de Cultura do Oi Futuro. as imagens e os relatos que recebemos ainda estão nas mãos de pequenos
grupos formados pelas grandes corporações. O imenso mundo dos pobres,
As tecnologias de comunicações são os chamados eliminadores do tempo dos desassistidos, dos desvalidos só nos é mostrado pela óptica dos que domi-
e do espaço previsto pelos antigos vedas, aproximando pessoas e reduzindo nam os meios de comunicação.
distâncias geográficas. Com elas é possível trabalhar para a aproximação
dos diferentes, para a redução das distâncias sociais. Trabalhar com e para A responsabilidade social empresarial será cada vez maior no futuro. A ética
a juventude, que são os herdeiros deste mundo que nós também herdamos e nos negócios; a transparência; o comprometimento com o meio ambiente
que temos como missão passar adiante de forma mais positiva, construtiva, e com o desenvolvimento sustentável; o investimento social privado; ações
equilibrada, justa, saudável. Um mundo que dá claros sinais de que é preciso sociais em que coloquem seu conhecimento e tecnologias a serviço da comu-
ser repensado, reinventado, reciclado, compartilhado. Um mundo que busca, nidade de onde extraem riqueza serão condições fundamentais à sobrevivên-
cada vez mais, a humanidade. Para isso, utilizar a imaginação que cria e a tec- cia das empresas, quando os consumidores serão cada vez mais conscientes e
nologia que alavanca, que faz acontecer. menos vorazes. A contribuição cidadã será atributo de marca e grande diferen-
cial na hora da compra. Poder, sucesso, sedução e status deixarão de ser argu-
Futuro desejável é aquele que criamos a cada dia, pensando nos tataranetos. mentos para venda e darão lugar à reciclagem, ao reaproveitamento, à troca,
Futuro em que haverá mais igualdade de oportunidade para os que fazem par- ao respeito e à responsabilidade. As empresas estimularão de forma consis-
te das periferias sociais. A chamada juventude popular urbana, hoje considera- tente o voluntariado entre seus funcionários. Vejo a criação de uma Licença
da ou vítima ou algoz da sociedade, terá acesso cada vez maior às tecnologias para Causa Social, em que as empresas disponibilizarão tempo e remune
e linguagens contemporâneas e estará capacitada para, ela mesma, ao invés ração para que os funcionários realizem projetos que contribuam para o
de ser retratada, passar a retratar de forma competente a sua visão de mundo, desenvolvimento humano.
a realidade das comunidades onde vive e, com isso, alterar o ambiente ao seu
redor. No mundo que desejamos, a juventude terá voz e vez: será protagonista. Para um futuro desejável, vejo um Museu de Valores da Humanidade, que mos-
Afinal, o futuro pertence aos jovens. trará para as futuras gerações exemplos das riquezas de pensamento e condu-
ta humanas, para que estas não se percam no tempo. Valores como generosida-
Acreditamos que a democratização de acesso à cultura, a construção da cida- de, honestidade, ética, amor, solidariedade, palavra, confiança e tudo aquilo
dania e as novas tecnologias vão operar mudanças significativas não apenas que pode garantir humanidade ao homem do futuro. Criar um museu para pre-
136 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
67 aprender, Criar,
ser, relacionar, conectar
comunicar
CURIOSIDADES DA Para dar uma pequena amostra, física ou racial deixaram de existir há
elencamos alguns inventos e processos tempos, já que hoje o tipo de embala-
DÉCADA DE QUARENTA interessantes. A questão da moda, por gem dos seres humanos importa pouco.
exemplo, mudou muito. Os experimen- Acreditamos que houve, aí, uma contri-
O querido leitor que nos acompanhou tos recentes com Teletransporte Color buição dos Memoriais das Barbarida-
até aqui deve estar curioso acerca de Change permitiram opções no rearran- des do Presente e dos Simuladores de
detalhes sobre as comunicações, o de- jo atômico pós-desintegração. É possí- Futuro. Pudemos assistir a médicos per-
sign, a moda e as artes em nossa época. vel escolher, por exemplo, o tom de plexos examinando senhorinhas encur-
Este é um tema tão vasto que será tra- pele (violeta tem sido um sucesso) ou o vadas, mas com seios e nádegas saltan-
tado no próximo volume, no qual tipo de cabelo (fim dos alisamentos!). do das preguinhas da pele como se
abordaremos a maneira como a cultura, Em breve, poderemos escolher nossos fossem bolas de futebol. Talvez o de-
a comunicação e suas ferramentas cola- tons de pele na escala Pantone. Aliás, créscimo de interesse por automóveis
boraram para a transição que vivemos cabe ressaltar que as políticas de cotas tenha alterado também a relação com
nos últimos anos. ou quaisquer outras ligadas à forma os corpos, não mais um chassi que vai
143
Desmassificação de gostos
Irá ocorrer uma intensa desmassificação de
gostos e preferências. Esse processo se iniciará
a partir da democratização dos meios de co-
municação, da valorização e proteção dos pro-
dutos culturais e da liberdade de expressão.
Será criado o “Dia Mundial Das Pequenas Pro-
duções Culturais”, no qual todos os bairros se
organizam para fazer deste um grande e im-
portante evento de integração.
Carlos Eduardo, Leandro, Taís, Olindo e Antônio,
São Paulo, 2010.
Houve, então, um intenso trabalho de tão, que o gênero Homo teria surgido a oitocentos mil anos do exíguo centíme-
Liberação do Afeto e Sofisticação do um centímetro do último andar! Somos tro citado em um ano. Constatamos,
Sexo. Aqui, como em outras áreas da muito, muito recentes na história da então,que avançamos muito lentamente
vida, nos dedicamos a lutar contra a ba- evolução da vida e, no entanto, temos até o que corresponderia aos 10 de de-
nalização em todas as suas formas e pas- uma extraordinária capacidade de mu- zembro deste ano fictício. Neste dia co-
samos da quantidade à qualidade. dar o mundo ao nosso redor. Por quê? O meçaria a comunicação com linguagem,
Afetos e relações amorosas profun- que nos dá essa capacidade? e a partir daí a história se acelera. O dia
das e entregues têm um potencial sensi- Isso se evidencia em outro paralelo, 24 corresponde à Revolução do Paleolíti-
bilizador extraordinário. A ele se combi- no qual transformamos os um milhão e co Superior, com as pinturas nas caver-
naram todas as outras mudanças que
estavam em curso, principalmente nos
processos de aprendizagem e comunica-
ção. A história da Humanidade, que já
tem um ritmo vertiginosamente crescen-
te, acelerou mais ainda.
Nossa história em
um ano e um dia
Gravura medieval alquímica. cação em tempo real ao redor do plane- Sentir-se parte de um todo, conec-
Johannes Fabricius. ta. E no momento em que, há pouco tados, curou um dos grandes males que
mais de uma de uma década, assumi- afligia a humanidade e que no passado
mos a hipótese de Gaia nós compreen- causou tanto medo, dor e as guerras e o
demos nossa função como humanidade. fanatismo deles derivados. Finalmente
na medida em Na evolução dos seres vivos o sistema nos sentimos pertencentes, acolhidos. E
que o estudo e as nervoso é uma das últimas coisas a se quando a carência primordial foi sanada
práticas da inter- formar. Somos o Sistema Nervoso de abriu-se o caminho para uma autono-
dependência deixa- Gaia. Por isso temos esta capacidade de mia verdadeira.
ram mais evidentes transformar tudo tão rápido. Por isso O impulso para a mudança estava
as interconexões entre cultura, criatividade e conhecimento lá, havia um propósito: ser um bom sis-
tudo o que é vivo. Uma são a nossa Natureza. tema nervoso, capaz de sentir com a
criança descreveu: “É como se tudo fos- Essa percepção teve um impacto maior acuidade possível o que acontecia
se uma piscina e nesta piscina tem uns maior do que a queda de um meteoro
pedacinhos mais duros, de gelatina, que gigante. A Terra é um ser vivo e nós so-
são as coisas vivas. Quando a água da mos seu sistema nervoso. Que responsa-
piscina mexe, mexe tudo. Cada gelatini- bilidade, e que oportunidade! Muita coi-
nha que mexe, mexe tudo. Todo mundo sa se esclareceu a partir daí e nos deu
sente o que todo mundo faz. Todo mun- elementos para que, em tão pouco tem-
do sente o que todo mundo sente.” po, conseguíssemos mudar tanto. Se so-
Pois foi isso que aconteceu. Senti- mos neurônios, necessitamos nos conec-
mos. E tudo que é sentido, faz sentido. tar e trabalhar integrados; as sinapses
Quando sentimos, nos afetamos, e a hi- são feitas por meio das TICS; a circulação
pótese de Gaia se confirmou. Pudemos de informações e conhecimento permite
sentir porque estávamos todos conecta- sentir e conhecer Gaia e seus processos.
dos pela web, sistemas de comunicação, Repare que aqui estão os três pilares infi-
GPS, satélites, telefones móveis criando nitos que estruturam nosso livro: intangí-
Sistema Nervoso
uma camada de informação e comuni- veis + tecnologias digitais + colaboração. de Gaia. Angela León, 2012.
148 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
com Gaia e todas as suas criaturas. busca é aquele com maior número de
Precisávamos conhecer os ciclos, favore- views. Com nossa memória algo similar
cer os fluxos, compreender o tempo, cir- acontece: lembramo-nos das coisas às
cular informação. Afetar-se. quais está associado um número maior
Isso só seria possível se conseguísse- de referências. E o mesmo processo se
mos ir além de nossa cultura, transcen- repete na Natureza: quanto mais algu-
dê-la. Pode um sistema nervoso ter neu- ma coisa se repete, maior sua probabili-
rônios que se recusam a “sinapsar” com dade de permanência. O biólogo Rubert
outros, por qualquer motivo que seja? Sheldrake5 levantou a hipótese da Cau-
Ou ter neurônios famélicos e neurônios sação Formativa, segundo a qual a Na-
obesos? Era necessário romper padrões, tureza opera por “hábito”, e cada ele-
não mais cair nos mesmos hábitos e mento da Natureza contribui para uma
mentalidades que haviam gerado um espécie de memória coletiva, os Campos
mundo insustentável. Como mudar nos- de Ressonância Mórfica, que funcionam
sas mentalidades e hábitos? como matrizes. Simplificando muito,
isso quer dizer que quanto mais vezes
uma maçã nascer vermelha e redonda,
Transcendendo maior a probabilidade que maçãs sejam
vermelhas e redondas. O hábito e a re-
a cultura petição moldam a evolução.
Convergimos então, pessoas e suas
A Convergência de Disciplinas havia re- linguagens, usando todas as tecnologias
velado o enorme poder do hábito e da – hard e soft – para escapar das amarras
repetição. Essa revelação se explicitou de nossa cultura, para nos desprogramar,
com as ferramentas de busca, como o criar outras sensibilidades e olhares. Al-
antigo Google, que priorizam o acesso gumas mudanças podem acontecer por
àquilo que acontece maior número de
5 Morphic Ressonace, The Nature of Formative
Jaime Prades, Brasil, 2012. vezes: o vídeo que aparece primeiro na Causation, edição de 2009.
S E R, RE L A CI O N A R, CO N E CTA R 149
grifes para quê, se tudo foi falsificado e na insatisfação com sua vida ou com
resultou tanto em banalização quanto aquilo que possuíam.
em acessibilidade? Há pouca distinção O primeiro Renascimento veio
entre o jeans do milionário ou do came- quando nos unimos geograficamente,
lô. O que tem valor é de outra natureza. momento de conhecimento exterior;
Afeto, aprendizado, vivências, cria- conquista do espaço; sociedade e econo-
Lucas Buarque,
FILE, 2011.
ção, cuidado, são o fim. O resto é meio. mia voltadas para bens e processos tan-
Buscamos o conforto por dentro. Confor- gíveis. O segundo Renascimento veio do
ajuste, como uma fruta que amadurece. to da alma plena e consciência tranquila. conhecimento interior, da conquista do
Outras só por mudanças de estado, como Abundância do coração cheio de afetos, Tempo e da qualidade, compreensão,
as fases da borboleta. Foi preciso promo- da pele satisfeita por toques suaves e da profundidade de vínculos que ele permi-
ver mudança de estado e sair da fase la- mente plena de lembranças intensas. Os te. De uma nova economia e sociedade
garta, consumista e rasteira. Mudar men- novos e múltiplos valores, métricas e in- construídas a partir da centralidade dos
talidades e hábitos para desprogramar a dicadores 4DxT que havíamos desenvol- intangíveis e da convergência entre áre-
repetição. Antes, aprendíamos pela dor e vido nos auxiliaram a sentir que aquilo as e setores que ela exige.
pelo erro. Agora, por escolha e prazer. que vale são as relações, pois é com elas
Começamos por deixar para trás a que nos aprimoramos e evoluímos.
ênfase no tangível, e ficou claramente Antes, o que era notável era a vida Ciclos, fluxos,
evidente que o dinheiro – em todas as da nobreza ou das celebridades. Hoje,
suas formas – era meio, e não fim. É inte- sabemos que nada é tão surpreendente regulação
ressante observar que bilionários já não quanto a vida cotidiana e nenhuma fic-
existem mais e são poucos os que hoje ção chega aos pés do que ela oferece. As Quando nos “sinapsamos” e consegui-
querem dedicar-se à desgastante ativi- pessoas deixaram de permitir que seu mos sentir Gaia, fomos capazes de per-
dade de ser milionário. Muito esforço e desejo, vontade e boa fé fossem seques- ceber fluxos e ciclos, nas várias dimen-
pouco resultado, já que não se leva bens trados pela mídia. Os veículos pararam sões 4DxT, e, portanto, de regulá-los.
para o pós-morte e os descendentes, ge- de mostrar corpos, pessoas e situações Percebemos que na Natureza, em nós,
ralmente mal preparados, dilapidam ra- fabricados e irreais que faziam com que nos processos, tudo acontece por pulsa-
pidamente as fortunas herdadas. Possuir tanta gente perdesse potência e alegria ções, alternância de fases de expansão e
150 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
mos mais frutificar sem parar. Sabemos mentaram a possibilidade de, finalmen- não há nada a perder ou temer, pois ge-
que na Natureza nada cresce para sem- te, estabelecer laços de confiança. ralmente o fracasso conduz à situação
pre. Na economia e sociedade 4DxT, a Saímos do online e nos dedicamos em que ela já está. E tentando, ela pode
palavra crescimento foi substituída por ao outro. Praticamos técnicas como a do chegar a algum outro lugar...
evolução. Mas, evoluir para onde? “Que legal!”8 em que o contacto com o
outro se apoia na escuta e aceitação,
partindo da premissa que aquilo que ele
Homo Estheticus 7 é, e faz, é muito legal! Claro que é, já
que não existe um ser humano igual ao
Durante séculos nos dedicamos a criti- outro na face da Terra, digo, na pele de
car, reconhecer erros, identificar proble- Gaia. O jogo do “Felizmente e Infe
mas. A acidez da crítica era a medida lizmente”9 também foi eficiente: para
para a competência intelectual de quem rever pontos de vista sobre os fatos da
a produzia. Mas para conectar-se e for- vida basta descrevê-los ora com a pala-
mar sistema nervoso era necessário vra “felizmente”, ora com “infelizmen-
amar os outros. Isso exigiu uma nova te”. Também o Jogo do “O que Pode
postura: dedicar-se a enxergar o que piorar?” ajudou a mostrar que tudo é
existia de melhor e positivo em cada relativo e podemos ser mais destemidos.
pessoa ou contexto. Trabalhar sobre po- Nele, a pessoa que deseja fazer algo,
tências existentes e enxergar a metade mas tem medo do fracasso, começa por
cheia do copo, como propomos ao lon- perceber em que situação está no pre-
go do livro. Dedicamo-nos a intensos sente. Depois, ela compara com a situa-
treinamentos de enxergar o belo em ção em que pode se encontrar caso a
cada situação da vida, a perceber o belo ideia fracasse. E acaba por verificar que
Conselho de Sábios 24 horas. Podem ser consultados
em si e no outro. E através da beleza ad- telepáticamente para responder questões. Os consulentes
quirimos a leveza e a alegria que pavi- 8 Infalível técnica relacional de Wellington Nogueira e
devem multiplicar o conselho recebido. Giselle Romano e
seus Doutores da Alegria. Mariana Lafuente. Ilustração: Paulo Lara, República
Dominicana, 2010.
7 Veja as obras do filósofo Michel Maffesoli e de outros. 9 Brincadeira de Adriana Klisys.
152 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
barreira em que os sonhos deixam de ser ção, que vínhamos praticando há anos, O desejável
individuais e passam a ser coletivos. E nos permitiu viver o presente e bem des-
quando alcançaram o inconsciente cole- frutar o tempo. A expressão “Dar um e o plausível
tivo passaram a germinar e a fertilizar F5”13 tornou-se recorrente: a referência à
atitudes e escolhas. tecla do computador com função “atua- Cenários de futuro normalmente par-
A mudança prevista pelas profecias lizar” era apropriada neste momento tem das condições do presente e as
aconteceu, mas não foi o fim do mundo em que perdoávamos o passado e não projetam no futuro. Buscam futuros
e sim o fim de um mundo, o fim de um temíamos o futuro. Dar um F5 em todas plausíveis. Mas, o que fazer quando
jeito de pensar e fazer. O mundo grávi- as nossas diferenças para viver bem o queremos mudar as condições do pre-
do mudou de estado. Passamos do so- presente. E para poder realizar bem nos- sente e projetar outras coisas? Romper
breviver ao viver. Animais são reativos e sa missão de sensíveis neurônios. com o presente, e sonhar o desejável. E
instintivos movidos pelo medo. Nós, E a guerra? Por que não falamos em por que consideramos que o desejável
agora movidos pela confiança e amor, guerra? Por que ela não faz mais senti- não é plausível?
pudemos finalmente ser criativos, como do. Ela era fruto da ignorância e hoje já Escolha um futuro plausível e per-
cabe a uma espécie que domina lingua- ninguém mais acredita nela. Houve até gunte-se se ele é o que você deseja. Se a
gens, tem livre-arbítrio e bom senso. um momento em que alguns governos resposta for não, por que considerar
Aplicamos nossa criatividade, livre- tentaram incitá-la, logo depois da Bolha que, apesar de indesejável, ele é plausí-
-arbítrio e bom senso em criar futuros de 2013 e do Apagão de Dados para que vel? Faça o exercício contrário e pense
desejáveis. E para que, qual o propósito? não se identificassem os responsáveis. um futuro desejável. Pergunte-se se ele
Para ter presentes desejáveis. Mas, quando convocadas, as pessoas es- é plausível. Não? E por que não, já que é
O futuro é um norte, uma bússola 12. colheram não ir para guerra. E, se nin- desejável? Por que não tentar? Geral-
É como um diapasão que afina e dá o guém for, não há guerra...14 mente o pior que pode acontecer em
tom do presente que escolhemos. Pois é cada escolha que fazemos é que o fra-
no aqui e agora que é possível ser feliz, 13 Esta é mais uma das geniais expressões “hackeadas” casso pode nos conduzir ao mesmo
já que o antes já passou e o depois ainda pelo Circuito Fora do Eixo. http://foradoeixo.org.br/ ponto de onde partimos. Por que não
institucional
não existe. A educação para a sensibiliza- tentar, já que o pior ponto de chegada é
14 Veja o filme de um minuto com este tema,
exatamente aquele onde já estamos?
12 Daí o nosso logo, da Enthusiasmo: a bússola é dirigido por Légis Schartzburd e por mim no início dos
orientação, e a borboleta transformação. anos 90: http://www.youtube.com/watch?v=rebmWDKfg_4
S E R, RE L A CI O N A R, CO N E CTA R 155
Por que não? Por que é assim? Para Muitos dos futuros desta ficção
que serve? Isso cuida de quê? Voltamos poderiam ser implantados. E logo.
a ser sábios como crianças e a duvidar de Por que não?
tudo, a enxergar os muitos reis nus15.
Nossos sentidos, agora tão aguçados,
hoje percebem com clareza aquilo que
não faz sentido em qualquer área da
vida, sociedade, economia.
Somos criatividade e escolha. Te-
mos a capacidade de lidar com todas as
linguagens. Recriamos a cada momento
o nosso futuro. Ele ainda não existe.
Tudo é possível, inclusive o desejável.
Como será o futuro? Não sabemos.
Mas sabemos que as visões do mundo
metálico, estéril, homogêneo, simétri-
co, frio, mecânico, uniforme do passado
nos estimularam a fazer diferente.
Mudamos de direção, e este futuro não
se concretizou.
Só o que sabemos sobre o mundo
que está nascendo é que ele será
colaborativo. Não há outra maneira de
ganhar o tempo, os recursos, a quali
dade e a harmonia que desejamos. E
que é possível.
15 Da fábula infantil A Roupa Nova do Rei, em que só a
Aurora. Monique Deheinzelin, São Paulo, 2008.
criança se atreve a comentar que o rei está nu.
156 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
A imagem do futuro pode não apenas atuar como um barômetro, mas também
como um mecanismo regulador que alternadamente abre e fecha os abafado-
res do poderoso alto-forno da cultura. Ela não apenas indica opções e possibili-
1 Extraído de http://storyfieldteam.pbworks.com/f/the-image-of-the-future.pdf
Capítulo final: New Perspectives, parágrafos 4 a 7
créditos, agradecimentos e histórico
“Me interessa o futuro porque é aonde vou passar o resto da minha vida.”
Woody Allen
158 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
Este livro é fruto do movimento Crie Futuros, razão pela qual aproveitamos a ocasião para tornar pública nossa gratidãoaos que acreditaram e
apoiaram o Projeto.
Começo por agradecer nossos “padrinhos”, aqueles que viabilizaram nossoinício. Foi para nós um grande estímulo saber-se merecedores dos
concorridíssimos prêmios recebidos da Convocatória Aberta Permanente, (Agência Espanhola de Cooperação Internacional ao Desenvolvimento) ou
dos Novos Brasis (Oi Futuros). Também pelas valiosíssimas conversas que ajudaram a aprimorar o projeto, nosso muito obrigado a Ana Tomé, Direto-
ra do Centro Cultural da Espanha no Brasil/Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento; Alfons Martinell, Diretor de
Relações Culturais e Cientificas da AECID; Maria Arlete Gonçalves, Diretora de Cultura da Oi Futuro; Samara Werner, Diretora de Educação da Oi
Futuro; Ana Toni, representante da Fundação Ford no Brasil e Marie Suzuki Fujisawa, Coordenadora de Cultura, SENAC - SP. Carinho e admiração
especial para Ana Tomé e Maria Arlete, as grandes inspiradoras de Crie Futuros.
A todas as pessoas que, desde 2008, fizeram ou fazem parte dessa equipe, para elas também vai nosso agradecimento mais do que especial.
Impossível listar todas então destacamos Ricardo Lima, da Bess Multimídia, criador do nosso site e tecnologias, com o auxilio de Ronaldo Gonçalves
Alves. Aquelas que levaram adiante o trabalho de coordenação nestes anos, companheiras fidelíssimas: Dina Cardoso, Marina Alonso, Tatiana Das-
cal, Luciana Prieto e o inestimável cuidado de Marlene de Oliveira. João Sebastião Pavese, Bangalô Filmes pela produção audiovisual nestes anos.
Paula de Paoli pelo conceito gráfico de Crie Futuros.
Generosidade inesquecível daqueles que acompanharam nossa jornada: Cristina
Meirelles, da Casa Sete; Maria Cândida di Pierro; Adriana Klisys, Célia Sanda; Zeca Nu-
nes; Gisele Schwartz; Ana Maria Wilheim; Robson Ruy; Miguel Yasuyuki Hirota; Odara
Carvalho, Daniele Pires. Pedro Caetano Guedes. Obrigada a todos os demais que esti-
veram conosco nestes anos!!
Crie Futuros se expandiu e ganhou diversidade graças aos Nodos Crie Futuros.
Destacamos e agradecemos o excelente trabalho realizado por Tomás Guido
Illgen,Trànsit Projectes, Barcelona, Nodo Espanha; Sergio Machin Cauda, Traful, Cane-
lones, Nodo Uruguay e Paolat de la Cruz, Revista Lengua, Santo Domingo, Nodo Repú-
blica Dominicana. E a colaboração importante de Mauricio Delfin y Lucia Cuba Reali-
dad Visual, Lima, Nodo Perú e Katya Padilha, Mosaico Cultural, Valparaiso, Nodo Chile
assim como nosso “nodo honorário”: Centro de Expresiones Contemporáneas, Rosário,
Argentina, com Pichi de Benedictis.
Aos nossos parceiros, cujo conhecimento e visão ajudaram a realizar ou moldar o
projeto: Rosa Alegria e Núcleo de Estudos do Futuros/PUC-SP; Jordi Pardo, Barcelona
Aspergindo perfume em paradas de ônibus. Cristian, Uruguai, 2009.
Media; Angel Mestres, Transit Projectes; Bruce Mau e Bisi William, Massive Change
160 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
Network;Ronaldo Lemos e Paula Martini, Centro de Tecnologia e Sociedade e Overmundo; Reinaldo Pamponet, It’s Noon; Wellington Nogueira,
Doutores da Alegria; Pedro Jatobá, Produtora Cultural Colaborativa; Fred Gelli, Táctil Design; Angeles Díaz, Fundación Simetrias; Guiomar Alonso
Cano, UNESCO; Jesús Prieto de Pedro, Consultores Culturales; Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da FGV; Cássia Navas,Teatro da
Dança; Danielle Fiabane, Instituto Criar; Laura Topete e José Luis Mariscal Orozco, Universidad de Guadalajara – UDG Virtual; Yoshio Kakishima e
Sanae Kosugi Bunka Fashion College; Ronaldo Robles, Cia Quase Cinema.
Meu irmão, Daniel, sempre cuidando de tudo e de
todos, minha irmã Monique e mais os mentores afetivo-
conceituais de Crie Futuros: Graça Cabral, Eduardo
Giacomazzi, Beatrix Overmeer, Thomas Buckup, Léo
Brant, G eorge Yudice, Sylvie Duran, Célio Turino,
Fernando Rueda, Fernando Vicário, Sylvina Martinez,
Silvia Villar Valverde, Ângela Hirata, Edson Natale, Anna
Claudia A gazzi, Alvise Migoto, Francisco Simplício,
Lorraine Johnson, Michael Kundt, Ariel K ogan, galera do
Circuito Fora do Eixo.
E um obrigada, seguido de desculpa, para aqueles
que lamento ter esquecido e vou com certeza lembrar
assim que o livro entrar na gráfica!
Foi lindo e emocionante assistir hora a hora a adesão dos 288 queridos listados ao lado, que participaram do p
rocesso de financiamento colaborativo.
Abel Falbo • Adélia Borges • Adélia Francheschini • Adriana Fortunato • Adriana Klisys • Alessandro Azevedo • Alexandra Aparício • Alexandra Schejelderup •
Alexandre Andrade • Alexandre Gomes • Alexandre Rebouças • Alfredo Martini Júnior • Alice • Alice Junqueira • Ana Carla Fonseca Cainha • Ana Correia • Ana Luisa
Lacombe • Ana Maria Wilheim • Ana Terra • André Martinez • Angelo Filardo • Angelo Piovesan • Anna Helena Altenfelder • Anna Van Steen • Antônio Mafra • Ariel
Kogan • Ariston Batista • Arô Ribeiro • Aroldo Batista • Augusto Tiburtius • Beatrix Overmeer • Bento Andreato • Beto De Jesus • Beto Firmino • Bia Blandy • Branca
Mandetta • Bruno Caramelli • Bubby Negrão • Cacá Machado • Cândido Azeredo • Carlos Dala Stella • Celso Pan • Cesar Piva • Chris Lima • Cibele De Barros • Cintia
Carvalho • Clara Irigoyen • Claudia Missura • Claudia Proushan • Claudia Taddei • Claudio Alvarez • Claudio Guedes • Cristina Zaccaria • Cyrce Andrade • Dani Lima
• Daniel Deheinzelin • Daniel Domeneghetti • Daniel Lima • Debora Laruccia • Demétrio Luiz Riguete Gripp • Denise Chaer • Denise Scarpa • Diego Conti • Dina
Cardoso • Diogo Melo • Dulce Maltez • Edegar Ferreira • Edgar Andrade • Edith Estela Pittier • Edson Natale • Eduardo Abramovay • Eduardo Barcellos • Eduardo
Giacomazzi • Eduardo Kobbi • Eduardo Muszkat • Eduardo Shimahara • Elisa Grinspum • Elisa Stecca • Elza Tamas • Elzo Sigueta • Eunice De Sá Cesnik • Fábio
Almeida • Fabio Feldmann • Fernanda Martins • Fernanda Rapacci • Fernando Belloube • Fernando Camilher Almeida • Fernando Grecco • Fernando Passos •
Fernando Stickel • Fernão Ramos • Flavia Berton • Flavia Lemes • Fred Furtado • Frederico Elboni • Gesta Cultura • Gilberto Bergstein • Gisela Heizenreder Cury •
Giselle Beiguelman • Gizeli Belloli • Glaucia Rodrigues • Graziela Araújo • Graziela Peres • Harmonia Solidária • Henrique Schucman • Homero Prado Lacreta Jr •
Homero Santos • Horácio Lafer Piva • Ibsen Costa Manso • Ignatius Abbad Slocker • Isabella Prata • Isis Palma • Ivenise Angelini • Jaime Prades • Jan Ghiraldini • Jany
Vargas Da Silva • Jaques Suchodolski • Jasmin Pinho• João Caldas • Jorge E Rubles • Jorge Grinspum • Jorge Sototuka • Jose Roberto Sadek • Josiane Del Corso •
Joxean Fernandez • Julia Forlani • • Julia Zardo • Julian Monteiro • Juliana Bollini • Julio Nogueira • Kaka Marinheiro • Kecya Donnelly • Kelynn Alves • Kluk Neto •
Laura Livia Calabi • Leeward Wang • Legis Schwartsburd • Liane Rossi • Lídia Goldeinstein • Lucia Merlino • Luciana Annunziata • Luciana Guilherme • Luciano Roxo •
Lucinaide Pinheiro • Luiz Alberto Moris • Luiz Algarra • Luiz De Franco Neto • Luiz Dos Santos • Magda Pucci • Malu Ramos • Manuel Blesa • Mara Mourão • Marcelo
Kahns • Marcelo Machado • Márcia Cristina Silva • Marcia De Barros • Marcia Matos • Marco Tulio Amaral • Marcos Renaux • Marcos T. Galvão (KALOY) • Margot
Ribas • Mari Salaroli • Maria Cândida di Pierro • Maria Cecilia Lacerda De Camargo • Maria Elena Chan • Maria Fernanda Costa • Maria Ferreira • Maria Thereza
Amaral • Mariana Garcia • Mariana Ochs • Marilia Viegas Araujo • Marina Barros • Marina Alonso • Marina Leão • Mário Candido da Silva Filho • Mario Henrique
Martins • Mario Tadokoro • Marisa Orth • Marise Cardoso • Mateus Mendonça • Mauricio Fernandes Pestana Moreira • Mauricio Iazzetta • Mauricio Pereira • Mayara
de Castro • Milzo Prado • Minom Pinho • Mônica Mion • Monique Deheinzelin • Nani Semiseck • Nelcivone Melo • Nelson Patron Chapira • Ney Piacentini • Nirvana
Marinho • Osvaldo Gabrieli • Osvaldo OZ •Oswaldo Pepe • Otavio Toledo • Paschoal Roma • Patrícia Fiori • Patrizia Bittencourt • Paula Alzugaray • Paula Lopez • Paula
Marcondes • Paula Martini • Paulo Suplicy • Paulo Von Poser • Pedro Mourão • Photozofia Arte E Cozinha • Pico Garcez • Preta Ribeiro • Rafael Reinehr • Rangel
Arthur Mohedano • Regina Ponce • Regina Silva • Reinaldo Pamponet • Renata Moraes Abreu • Renato Ribeiro • Ricardo Albuquerque • Ricardo Farah • Ricardo
Guimarães • Ricardo Penachi De Camargo • Ricardo Ramos Filho • Ricardo Viviani • Ricardo Voltolini • Richard Geyer • Roberto Amaral • Roberto Hirsch • Robson
Spadoni • Rodolfo Carreto • Ronaldo Gonçalves Alves • Ronaldo M. Silveira Silveira • Rosa Alegria • Rosalu Fladt Queiroz • Rosana Grant • Rosana Padial • Rose Ferraz
• Ruth Klotzel • Ruth Slinger • Ryan Donnelly • Sabrina Gledhill • Sara Asseis De Brito • Schirlei Freder • Sergio Ajzenberg • Sérgio Barbosa (Case) • Sergio Mastrocola
• Sergio Mattos Lomelino • Sergio Oeda • Sergio Roizenblit • Sheila Saraiva • Silvia Elboni • Silvia M. Do Espírito Santo • Silvia Rosenbaum • Silvina Martinez • Silvio
Francisco • Solange Ferraz De Linz • Solange Salva • Sonia Lara • Sonia Sobral • Tadeu Jungle • Tais Tatit Barossi • Tânia Bustamante • Tania Nomura • Tatiana Cobbett
• Tatiana De Simone • Tatiana Lohmann • Thiago Alixandre • Tuco Freire • Vany Alves • Vera Caetano • Vera Loureiro • Viviane Rodriguez • VM John • Waldir Martins
• Wellington Nogueira • Yoshihiro Odo • Zita Carvalhosa • + 9 anônimos
162 D E S E JÁV EL MU N D O N O V O
HISTÓRICO
JUN São Paulo, Brasil. Futuro e Inovação – Mckinsey. Lançamento Web TV Crie Futuros. Transmissão simultânea dos eventos.
AGO São Paulo, Brasil. Apresentação Crie Futuros no Centro Cultural da Espanha. Rio de Janeiro, Brasil. Crie Futuros Iberoamerica Tecnologia e Produção Colaborativa.
Encontro Crie Futuros Cooperação Espanhola. Crie Futuros Iberoamericana Games e Mundos Melhores.
JUN
Apresentação Crie Futuros no Pecha Kucha Knight 2008, Denver, EUA. Case participante do In Good we Trust, coordenação Bruce Mau.
Seminário Internacional Crie Futuros Economia Criativa. São Paulo, Brasil. Crie Futuros Iberoamerica Corpo e Movimento.
2008
2009
Oficina Crie Futuros “Um futuro melhor é possível”. Fórum Social AGO
Mundial. Oficina Crie Futuros PUC Sustentável - NEF.
JAN Belém, Brasil. Agraciado com o prêmio CAP – Convocatória Aberta e Permanente, Montevidéu, Uruguai. Oficina Crie Futuros no Presídio Feminino.
recebendo apoio da Agência Espanhola de Cooperação Internacional Barcelona, Espanha. Reflexiones sobre el futuro de las formas literarias.
para o Desenvolvimento.
São Paulo, Brasil. Oficina Crie Futuros Puc Sustentável - DERDIC.
São Paulo, Brasil. Sarau Crie Futuros - Sábado Cultural.
Montevidéu, Uruguai. Oficina o Futuro da Performance.
Apresentação Crie Futuros no VI Campus Euroamericano de
2009
MAR Cooperación Cultural. Valparaíso, Chile. Taller e Programa de Rádio Cree Futuros.
Buenos Aires, SET
Argentina. Lançamento site WIkifuturos 1.0 - Enciclopédia Digital Colaborativa de Santo Domingo, Rep.
Oficina Crie Futuros Carta Cultural Iberoamericana.
Futuros Desejáveis. Dominicana.
Oficina Crie Futuros e Economia Criativa. Programa de Indústrias Barcelona, Espanha. Reflexiones sobre el futuro de las Prácticas Artísticas.
Criativas. Lima, Peru. Oficina Crie Futuros: O Futuro do Transporte e da Cidade.
MAI Valparaiso, Chile. Criação da Rede Crie Futuros com integrantes em 7 países: Argentina, OUT Montevidéu, Uruguai. Realização do vídeo “El futuro de La Web”.
Chile, Colômbia, Espanha, Peru, República Dominicana e Uruguai.
São Paulo, Brasil. Seminário Crie Futuros Novos Bancos e Moedas.
Lançamento rede social Crie Futuros. www.criefuturos.com.br
S E R, RE L A CI O N A R, CO N E CTA R 163
Madrid, Espanha. Reflexiones sobre el futuro de los agentes culturales independientes. Rosário, Argentina. Oficina Parlamento Virtual Iberoamericano.
ABR
Seminário Cree Futuros España. “El futuro de la cultura”. Campinas, Brasil. Oficina Crie Futuros no Fórum DNA Social.
Barcelona, Espanha.
Oficina Crie Futuros com educadores JAN- Brasil e Rep. Elaboração Futuro de Bolso a partir do Seminário de Economia
OUT MAI Dominicana. Criativa.
Toledo, Espanha. Criar Toledo, oficinas, intervenção urbana e espetáculos Crie Futuros.
Wikidelícia - Encontro para conversa e troca de experiências
O Futuro do Turismo. JUN São Paulo, Brasil.
Montevidéu, Uruguai. e criação de futuros.
Mostra de Futuros nas Esquinas de Montevidéu. JUL São Paulo, Brasil. Crie Futuros FILE São Paulo.
Montevidéu, Encerramento de Gala- Apresentação dos futuros criados no Uruguai
2010
Oficina Crie Futuros na FLIP ZONA
Uruguai. em 2009. Parati, Brasil.
(Feira Literária Internacional de Parati).
Toledo, Uruguai. Oficina Cree Futuros con niños. AGO
Wikidelícia - Encontro para conversa e troca de experiências e criação
São Paulo, Brasil.
Barcelona, Espanha. Reflexiones sobre el futuro del audio visual de futuros.
Oficina Crie Futuros, Seminário Rede Jovem São Paulo, Brasil. Workshop Melanie Swan.
Vitoria Espírito Santo.
“Um Espírito de um Tempo”.
2009
Tokyo, Japão. Creative economy, sustainability and future no Bunka Fashion College.
Santo Domingo, Rep. Oficina El futuro del design y de la Fotografía. Criação de futuros NOV São Paulo, Brasil. Oficina BASF.
Dominicana. desejáveis.
NOV
Oficina: “Crea Futuros: redes virtuales y futuros deseables” no XIX
São Paulo, Brasil. Oficina Crie Futuros, Feira Preta. Guadalajara, México.
Encuentro de Educación a Distancia.
Oficina Crie Futuros: Qual é o futuro da relação entre tecnologia e Lançamento do site: Cree Futuros las Americas 2011
Lima, Peru. FEV Montevidéu, Uruguai.
sociedade? Plasma 2009. e Oficina de criar futuros.
2011
Oficina e Palestra Crie Futuros Rede Globo: Tendências de futuros ABR Rio de Janeiro, Brasil. FILE Games Rio 2011 | Fale com o futuro: Crie Futuros Desejáveis.
Embu, Brasil.
desejáveis.
MAI Porto Alegre, Brasil. Oficina Crie Futuros no VIVO enCena POA.
Encontro Cree Futuros República Dominicana: El futuro del design y de la
Santo Domingo, Rep.
Fotografía. Realização de uma edição especial da Revista Lengua con JUN Salvador, Brasil. Oficina Crie Futuros no VIVO enCena Salvador.
Dominicana.
futuros criados.
Chascomus,
MAR Oficina Crie Futuros REM 2.0.
Palestra “Crea Futuros: Redes virtuales y futuros deseables” en el XVIII Argentina.
Guadalajara, México.
Encuentro Internacional de Educación a Distancia.
DEZ Coleta de Futuros na Virada Cultural.
“Creando Futuros”, en el The 6th International Conference on São Paulo, Brasil.
2012
São Paulo, Brasil. MAI Espetáculo de Sombras Crie Futuros, na Virada Cultural.
Innovation and Management (ICIM 2009).
Rosário, Argentina. Planejamento do Parlamento Virtual Cultural Iberoamericano. Barroso, Brasil. Oficina Crie Futuros Minas Retroverso.
Coleta de Futuros na Virada Sustentável.
2010
JAN Montevidéu,
Encontro com Facilitadores de Cree Futuros Uruguai. JUN São Paulo, Brasil.
Uruguai. Oficina Crie Futuros Ecoação Cultural no Centro Cultural São Paulo.
FEV São Paulo, Brasil. Oficina Crie Futuros Tátil.
Entre a primeira ideia e a distribuição, este livro
foi feito em 90 dias, por uma equipe frenética e feliz,
que agradece o fato de você ter chegado até aqui e pede
desculpas pelos pequenos erros que ele fatalmente contém!
E aproveita para contar que os futuros desejáveis, tanto os plausíveis
quanto os improváveis, foram impressos pela Pancrom, no dia do
eclipse de Vênus, 2012, usando papel Couche Kroma Gloss
e fontes Frutiger e HandTimes.
Jaime Prades,
Brasil, 2012.
“Se tudo fosse possível, como você gostaria que
as coisas fossem?” A partir desta pergunta foram
criados os futuros desejáveis que serviram de base
a este livro, organizado em temas da vida cotidiana:
Ganhar, Valorar, Negociar Governar, Decidir, Coordenar
Habitar, Deslocar, Circular Cuidar, Nutrir, Preservar
Aprender, Criar, Comunicar Ser, Relacionar, Conectar
A criativa visão da vida em 2042 traz três pilares que são chave para a sustentabilidade no
futuro: a Economia Criativa, essa economia baseada em recursos intangíveis; as tecnologias
de informação e comunicação; os processos colaborativos e novas formas de organização
da sociedade em rede.
Realizado com o apoio de 288 pessoas por financiamento colaborativo no site Catarse e mais:
Apoio: Parcerias: