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Instrumentos de Gestão
Ambiental Integrada
A
implementação de um modelo de so IV), deve-se, ainda, considerar o conteúdo
gestão ambiental adequado a um técnico presente nas regulamentações fede-
empreendimento habitacional de in- rais associadas e em suas variantes estabe-
teresse social requer, preferencialmente, es- lecidas em cada estado e, em alguns casos,
tudos de detalhe ou semidetalhe, os quais de- municípios (BRASIL, 1981; 1988).
vem ser iniciados desde a concepção do pro-
Em princípio, dada a inegável tendência
jeto na fase de planejamento, passando pela
de intervenção significativa no meio físico,
sua construção e avançando continuamente
todo e qualquer empreendimento habitacio-
durante toda a sua ocupação. Os requisitos
nal é potencialmente causador de impacto
ambientais em desenvolvimento no País, tanto
ambiental e, portanto, sujeito aos princípios
legais quanto normativos, em especial os que
do processo de AIA e aos procedimentos de
se referem à Avaliação de Impacto Ambiental
licenciamento ambiental. Contudo, conforme
- AIA (conforme ampla legislação correlata
a legislação básica que regulamenta aquele
vigente) e ao Sistema de Gestão Ambiental -
dispositivo constitucional (Resolução Conama
SGA (conforme normas técnicas nacionais e
001/86), além dos projetos urbanísticos
internacionais editadas), fornecem alguns
acima de 100 ha, apenas os empreendimen-
fundamentos essenciais para o estabeleci-
tos que podem interferir em áreas conside-
mento de um modelo de gestão integrada,
radas de relevante interesse ambiental, a
ou seja, aplicável às relações do empreen-
critério do Instituto Brasileiro do Meio Am-
dimento com o meio ambiente desde sua
biente e dos Recursos Naturais Renováveis -
origem e ao longo de toda sua vida útil.
Ibama e dos órgãos ambientais estaduais e
municipais competentes, dependem de licen-
No caso de AIA, de acordo com a Política
ça ambiental prévia (BRASIL, 1992a).
Nacional do Meio Ambiente (Lei no 6.938/81)
e o dispositivo constitucional que estabelece De qualquer modo, mesmo consideran-
a exigência de Estudo Prévio de Impacto Am- do a incerteza de exigência de licenciamento
biental - Epia para “instalação de obra ou ati- prévio, visando a interação adequada e sus-
vidade potencialmente causadora de signifi- tentável entre as ações de engenharia e o
cativa degradação do meio ambiente” (Cons- meio ambiente, pode-se estabelecer uma re-
tituição Federal, Artigo 225, parágrafo 1o, inci- lação integrada entre as fases do empreen-
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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA
Fase do
Fase do Estudos de Instrumentos e Estudos ambientais e docu- licencia-
empreendimento engenharia procedimentos aplicáveis mentos técnicos de referência mento
ambiental
- IPA;
Projeto - AIA (análise inicial, revisão - Relatório da IPA; Emissão
conceitual de EIA/Rima, inspeção de - EIA/Rima e eventuais comple- de LP
ou campo, consulta pública e mentações, incluindo PGA ou
Anteprojeto tomada de decisão). preliminar. equivalente
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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA
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b) meio biótico: área de ocorrência das tipo- fológicos (sistema de relevo), com de-
logias de cobertura vegetal inseridas na talhamento na área da gleba (declividades).
menor bacia hidrográfica onde está con-
3. Caracterização dos processos do meio fí-
tida a área do empreendimento; e
sico, passíveis de alteração.
c) meio antrópico: distrito/bairro ou muni-
cípio onde se localiza o empreendimento.
A realização do diagnóstico ambiental
do meio físico pela caracterização de seus
4.1.3.1 Diagnóstico do meio físico processos permite o conhecimento da dinâ-
mica do meio físico. A importância do conhe-
O diagnóstico ambiental preliminar do
cimento dessa dinâmica reside no fato de que
meio físico, na área de influência direta, deve
é ela que tende a ser efetivamente alterada
ser realizado por meio da caracterização dos
quando da construção e ocupação de um em-
processos do meio físico, atuantes na área e
preendimento. Como exemplo, dentre os
passíveis de alteração em decorrência da rea-
processos geralmente identificados, e que
lização das operações necessárias para cons-
são passíveis de alteração pelas operações
trução e ocupação do empreendimento (ver
nessas fases de um empreendimento habita-
Quadros 7 e 8 - Capítulo 3).
cional, incluem-se: erosão pela água; escor-
Para tanto, podem ser desenvolvidos regamento; escoamento das águas em su-
os seguintes estudos: perfície; movimentação das águas em subsu-
1. Identificação dos processos do meio físico perfície; interações físico-químicas nas águas
atuantes na área e passíveis de alteração, (superficiais e subterrâneas) e no solo; circu-
em que pode-se considerar o contexto lação de partículas e gases na atmosfera; e
geológico-geomorfológico da área e pro- propagação de ondas sonoras.
ceder à análise preliminar de cada opera-
ção a ser realizada nas fases de construção
e ocupação do empreendimento. 4.1.3.2 Diagnóstico do meio biótico
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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA
esqueleto das construções e das edi- medidas de mitigação, caso a ação que
ficações finais. provoque a alteração seja interrompida.
Assim, por exemplo, em um solo com alta
21. Alteração da percepção ambiental pela
suscetibilidade à erosão, a aceleração do
disposição de resíduos sólidos de forma
processo erosivo é uma alteração irrever-
inadequada.
sível, pois, ainda que cesse a ação, se não
for adotada qualquer medida de mitigação,
as feições erosivas tendem a adquirir, cada
4.1.4.2 Caracterização das alterações
vez mais, maior expressão;
ambientais identificadas
c) duração: cuja qualidade pode ser curta
As alterações ambientais identificadas
(como menor que 1 ano), média (como
devem ser caracterizadas e qualificadas, o
entre 1 e 5 anos) ou longa (como maior
que pode ser efetuado por meio de quatro
que 5 anos); reflete a continuidade, no
parâmetros básicos, geralmente utilizados
tempo, dos efeitos da alteração, sem con-
em avaliações ambientais, quais sejam: mag-
siderar a adoção de medidas de mitigação.
nitude, reversibilidade, duração e abrangên-
Assim, por exemplo, em um solo com alta
cia. Esses parâmetros podem ser conside-
suscetibilidade à erosão, a aceleração do
rados da seguinte forma:
processo erosivo é uma alteração de du-
a) magnitude: cuja qualidade pode ser pe- ração longa, pois não cessa sem a adoção
quena, média ou grande; é um parâmetro de medidas de mitigação;
básico para avaliar a importância da alte-
d)abrangência: que pode ser pontual (in-
ração, pois reflete a dimensão dos efeitos
terior à área do empreendimento), local
associados. Assim, por exemplo, em um
(interior da área de influência direta) ou
solo com alta suscetibilidade à erosão, a
regional (excede a área de influência dire-
aceleração do processo erosivo é uma alte-
ta). No caso dos meios físico e biótico, a
ração com magnitude grande, pois poderá
qualidade da abrangência reflete o alcan-
haver perda de grande quantidade de solo,
ce, em área, dos efeitos da alteração. As-
podendo, conseqüentemente, ocorrer tur-
sim, por exemplo, em um solo com alta
vamento expressivo da água de cursos
suscetibilidade à erosão, a aceleração do
d’água e o assoreamento, também signifi-
processo erosivo possui abrangência re-
cativo, do seu canal;
gional, pois seus efeitos, como o turva-
b)reversibilidade: cuja qualidade pode ser mento das águas e o assoreamento do ca-
total, parcial ou nula, isto é, irreversível; nal, podem extrapolar a área de influência
reflete a possibilidade de cessar os efeitos direta. No caso do meio antrópico, a qua-
decorrentes da alteração, sem adoção de lidade da abrangência, que pode ser pon-
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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA
cesso erosivo tende a ser nula, isto é, sem básicos: análise técnico-científica por parte
medidas de mitigação, e as condições de da equipe que realizou a identificação e ca-
perda de solo, de turvamento das águas e racterização; e consulta à comunidade (mo-
de assoreamento de cursos d’água tende- radores potencialmente afetados, autorida-
rão a ser agravadas. A duração da altera- des públicas, pesquisadores da região, ONGs,
ção é longa, pois os processos de escoa- entre outros), esta última podendo envolver
mento das águas em superfície e erosão contatos, reuniões dirigidas e preenchimento
pela água tendem a se acentuar com o tem- de questionário orientativo previamente
po. A abrangência das conseqüências da elaborado.
aceleração do processo erosivo é local, pois
Esses procedimentos devem visar a
estão restritas à área de influência direta
classificação das alterações ambientais pre-
do empreendimento.
vistas em uma de três categorias fundamen-
Dependendo do caso considerado, po- tais, a saber:
der-se-ia incluir outros parâmetros, como re-
a) muito significativa;
levância social e confiabilidade da alteração
prevista, embora ambos possam estar, de al- b) significativa; ou
gum modo, relacionados com aqueles parâ- c) pouco significativa.
metros básicos.
A alteração pode ser considerada pouco
significativa quando, simultaneamente, a
4.1.4.3 Hierarquização das alterações
magnitude é pequena, a reversibilidade é to-
e definição dos impactos
tal, a duração é curta e a abrangência é pon-
ambientais
tual. A alteração pode ser considerada muito
Identificadas e caracterizadas todas as significativa quando, simultaneamente, a
alterações ambientais negativas e positivas magnitude é grande, a reversibilidade é nula,
nos meios físico, biótico e antrópico, deve a duração é longa e a abrangência é regional.
ser realizada uma integração dos resultados A alteração pode ser considerada significativa
com vistas à identificação das inter-relações nas situações intermediárias às duas an-
entre os meios e as alterações ambientais teriores.
de caráter geral. As alterações ambientais classificadas
Em seguida, deve ser efetuada, para nas categorias “a” e “b”, ou seja, muito
fins de hierarquização, a avaliação da impor- significativa e significativa, tendem a ser con-
tância de cada uma dessas alterações am- sideradas como impactos ambientais (nega-
bientais, utilizando-se para tal uma combi- tivos ou positivos) e, como tal, merecedores
nação dos resultados de dois procedimentos de medidas mitigadoras ou compensatórias
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ação erosiva da água pluvial, realizando- panhar, tanto por parte do empreendedor
se sua disposição em local sem linhas de como do órgão ambiental de fiscalização e do
fluxo de água superficial e munido de bar- próprio morador, o desempenho e a eficácia
reiras físicas para contenção da base. das medidas implementadas no controle dos
impactos ambientais previstos.
8. Na fase de ocupação, os pontos de deságüe
nos córregos são locais que deverão ser Considerando os indicadores ambien-
objetos de vistorias em curto intervalo da tais estabelecidos, a conjugação das medidas
periodicidade, no sentido de não afetar a de mitigação, compensação e monitoramento
eficiência do sistema inteiro. No caso de deverão interagir para o desenvolvimento de
serem observados grandes volumes de se- programas de gestão ambiental, contemplan-
dimento nos pontos de deságüe, procurar- do procedimentos práticos e exeqüíveis.
se-á impedir a continuidade desses proces-
Alguns dos programas comumente lem-
sos em suas origens, por meio da identifi-
brados em processos de AIA de empreen-
cação da causa e da adoção de medidas cor-
dimentos habitacionais são:
retivas eficazes, como o uso de revesti-
mentos vegetais apropriados. Os dispositi- a) programa de controle de erosão;
vos de deságüe deverão ser limpos, remo- b) programa de controle de escorregamento;
vendo-se todo o material acumulado. De-
verá, também, ser observado o nível de des- c) programa de controle da poluição química
gaste das peças estruturais (como das caixas a partir de máquinas utilizadas;
e escadas d’água) e, se necessário, deverão d) programa de controle de poluição bacte-
ser reparadas. riana a partir de fossas sépticas;
e) programa de redução de resíduos (sóli-
O estabelecimento de medidas compen- dos, líquidos e gasosos);
satórias se impõe em situações em que alguns f) programa de disposição controlada de re-
impactos não encontrem solução de mitigação. síduos (sólidos, líquidos e gasosos);
Exemplos disso são os casos em que a
g) programa de recuperação de áreas de-
supressão da vegetação é inevitável e, como
gradadas pela obtenção de material de
compensação, propõe plantios em outros lo-
empréstimo;
cais, abrangendo áreas, no mínimo, em dobro.
h) programa de proteção à fauna e à flora
A partir da definição dos impactos e das
(bosques/matas internos e/ou vizinhos);
medidas de mitigação e compensatórias, de-
verão ser estabelecidas, ainda, medidas de i) programa de monitoramento de áreas de
monitoramento ambiental. Objetiva-se acom- risco;
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g) descrição dos prováveis impactos ambien- gestão global que inclui estrutura organiza-
tais das fases de construção e ocupação cional, atividades de planejamento, respon-
do empreendimento; sabilidades, práticas, procedimentos, proces-
h) descrição das medidas de mitigação e sos e recursos para desenvolver, implemen-
compensatórias; tar, atingir, analisar criticamente e manter a
política ambiental.
i) descrição dos programas de implemen-
tação das medidas de mitigação e com- O diferencial na adoção do SGA norma-
pensatórias (PGA); lizado é que seus requisitos são padrões; as-
j) descrição das medidas de monitoramento sim, há uniformidade de conceitos e procedi-
para acompanhamento dos programas de mentos. Além disso, a normalização permite
implementação das medidas de mitigação a certificação do SGA.
e compensatórias; Como exemplo, no Brasil, de empreen-
k) caracterização da qualidade ambiental fu- dimento habitacional com SGA certificado
tura da área de influência considerando tem-se o Riviera de São Lourenço, situado
os cenários com e sem a realização do no Município de Bertioga, em São Paulo. Ape-
empreendimento; sar de não se constituir ocupação de interes-
l) recomendações de ordem geral. se social, seu estabelecimento pode ser refe-
rência para qualquer tipo de conjunto habita-
cional, com as devidas adaptações e transfe-
4.2 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL rências de responsabilidades ao Poder Público.
Para garantir que as medidas de miti-
gação estabelecidas na fase de planejamento
sejam efetivamente adotadas, é importante 4.2.1 As Normas de Sistema de
a utilização de um instrumento de gestão am- Gestão Ambiental
biental adequado para este fim. As normas relativas a sistema de gestão
Entre os instrumentos de gestão ambien- ambiental (ABNT, 1996a,b) foram publicadas
tal disponíveis, o Sistema de Gestão Ambiental como normas internacionais em setembro de
- SGA é o que permite o controle dos aspectos 1996, tendo sido traduzidas, votadas e publi-
ambientais do empreendimento, em sua cons- cadas no Brasil (dezembro de 1996), como
trução e ocupação, de forma organizada. O NBR ISO.
SGA encontra-se, inclusive, normalizado por
A NBR ISO 14001 Sistemas de gestão
meio da NBR ISO 14001 (ABNT, 1996a).
ambiental - Especificações e diretrizes para
De acordo com essa norma, sistema de uso e a NBR ISO 14004 Sistemas de gestão
gestão ambiental é a parte do sistema de ambiental - Diretrizes gerais sobre princípios,
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