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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA

4
Instrumentos de Gestão
Ambiental Integrada

A
implementação de um modelo de so IV), deve-se, ainda, considerar o conteúdo
gestão ambiental adequado a um técnico presente nas regulamentações fede-
empreendimento habitacional de in- rais associadas e em suas variantes estabe-
teresse social requer, preferencialmente, es- lecidas em cada estado e, em alguns casos,
tudos de detalhe ou semidetalhe, os quais de- municípios (BRASIL, 1981; 1988).
vem ser iniciados desde a concepção do pro-
Em princípio, dada a inegável tendência
jeto na fase de planejamento, passando pela
de intervenção significativa no meio físico,
sua construção e avançando continuamente
todo e qualquer empreendimento habitacio-
durante toda a sua ocupação. Os requisitos
nal é potencialmente causador de impacto
ambientais em desenvolvimento no País, tanto
ambiental e, portanto, sujeito aos princípios
legais quanto normativos, em especial os que
do processo de AIA e aos procedimentos de
se referem à Avaliação de Impacto Ambiental
licenciamento ambiental. Contudo, conforme
- AIA (conforme ampla legislação correlata
a legislação básica que regulamenta aquele
vigente) e ao Sistema de Gestão Ambiental -
dispositivo constitucional (Resolução Conama
SGA (conforme normas técnicas nacionais e
001/86), além dos projetos urbanísticos
internacionais editadas), fornecem alguns
acima de 100 ha, apenas os empreendimen-
fundamentos essenciais para o estabeleci-
tos que podem interferir em áreas conside-
mento de um modelo de gestão integrada,
radas de relevante interesse ambiental, a
ou seja, aplicável às relações do empreen-
critério do Instituto Brasileiro do Meio Am-
dimento com o meio ambiente desde sua
biente e dos Recursos Naturais Renováveis -
origem e ao longo de toda sua vida útil.
Ibama e dos órgãos ambientais estaduais e
municipais competentes, dependem de licen-
No caso de AIA, de acordo com a Política
ça ambiental prévia (BRASIL, 1992a).
Nacional do Meio Ambiente (Lei no 6.938/81)
e o dispositivo constitucional que estabelece De qualquer modo, mesmo consideran-
a exigência de Estudo Prévio de Impacto Am- do a incerteza de exigência de licenciamento
biental - Epia para “instalação de obra ou ati- prévio, visando a interação adequada e sus-
vidade potencialmente causadora de signifi- tentável entre as ações de engenharia e o
cativa degradação do meio ambiente” (Cons- meio ambiente, pode-se estabelecer uma re-
tituição Federal, Artigo 225, parágrafo 1o, inci- lação integrada entre as fases do empreen-

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HABITAÇÃO E MEIO AMBIENTE - Abordagem integrada em empreendimentos de interesse social

dimento, os estudos de engenharia, os instru- um Plano de Gestão Ambiental - PGA do em-


mentos de planejamento e gestão ambiental preendimento que, por usa vez, subsidiará a
aplicáveis (particularmente AIA e SGA, além estruturação do SGA.
da Auditoria Ambiental – AA e da Recupera-
ção de Áreas Degradadas – RAD, conforme 4.1 AVALIAÇÃO DE IMPACTO
previstos em normas legais e jurídicas), os AMBIENTAL
estudos ambientais necessários e o licencia- Considerando o contexto do processo
mento ambiental (Quadro 9). de AIA, tal como se encontra instituído no
Convém salientar que, dependendo da País, bem como requisitos exigidos no caso
regulamentação estadual e municipal referen- de estados que adotam o RAP para projetos
te ao licenciamento ambiental, o Epia pode urbanísticos, como São Paulo, apresentam-
corresponder ao EIA/Rima ou outro estudo se a seguir os principais tópicos que devem
técnico relativo à fase de Licença Prévia - LP, compor um Epia de um determinado empre-
como o Relatório Ambiental Preliminar - RAP, endimento habitacional de interesse social:
vigente no caso do Estado de São Paulo desde a) justificativa do empreendimento;
1994. Nesse estado, o RAP é o primeiro do- b) caracterização do empreendimento com
cumento técnico a ser apresentado para fins discussão das alternativas locacionais e
de licenciamento ambiental, com a função de tecnológicas;
instrumentalizar a decisão de exigência ou não
c) apresentação de diagnóstico integrado das
de EIA/Rima para obtenção de LP. Em caso
áreas de influência do projeto, abordando
de exigência de EIA/Rima, o RAP tende a sub-
a interação entre elementos dos meios físi-
sidiar a definição do Termo de Referência para
co, biótico e antrópico;
a elaboração do EIA/Rima. Quando o órgão
ambiental considerar, com base no RAP, que d) avaliação dos impactos resultantes da
não há necessidade de EIA/Rima, o mesmo construção e da ocupação do empreendi-
RAP é utilizado como referência para avaliar mento;
o empreendimento e conceder ou não a LP. e) definição das medidas mitigadoras e com-
pensatórias dos impactos identificados; e
Portanto, sob qualquer forma, o conteú-
do de um Epia deve propiciar a avaliação das f) programas necessários à viabilidade am-
prováveis conseqüências ambientais futuras biental do empreendimento.
decorrentes de um empreendimento a ser
instalado. Constitui-se, assim, como ponto 4.1.1 Justificativa do Empreendimento
de partida para realização continuada de es- e das Alternativas
tudos ambientais, os quais deverão conduzir, As considerações sobre a justificativa
no final do processo de AIA, à formulação de para a construção tratam basicamente das

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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA

Quadro 9 – Relações potenciais entre fases do empreendimento, estudos de


engenharia, instrumentos aplicáveis, estudos ambientais e fases do licenciamento ambiental

Fase do
Fase do Estudos de Instrumentos e Estudos ambientais e docu- licencia-
empreendimento engenharia procedimentos aplicáveis mentos técnicos de referência mento
ambiental

- IPA;
Projeto - AIA (análise inicial, revisão - Relatório da IPA; Emissão
conceitual de EIA/Rima, inspeção de - EIA/Rima e eventuais comple- de LP
ou campo, consulta pública e mentações, incluindo PGA ou
Anteprojeto tomada de decisão). preliminar. equivalente

PLANEJAMENTO - AIA e AA (acompanha- - EIA/Rima e eventuais comple-


mento pós-aprovação); mentações, incluindo PGA
- Implementação de preliminar; Emissão
Projeto básico resultados da fase - Pareceres e relatórios (análises, de LI
de LP e sua inclusão no recomendações e exigências) ou
projeto básico; resultantes da fase de equivalente
- AA para emissão de LI. emissão de LP;
- Relatórios de AA.

- AIA e AA (acompanha- - EIA/Rima e eventuais


mento pós-aprovação). complementações, incluindo
- Início da transição PGA preliminar; Vigência
AIA/SGA; - Pareceres e relatórios (análises, de LI
- Implementação de recomendações e exigências) ou
resultados das fases resultantes das fases de equivalente
de LP e LI e sua inclusão emissão de LP e LI;
no projeto executivo. - Relatórios de AA.
CONSTRUÇÃO Projeto
executivo - EIA/Rima e eventuais comple-
mentações, incluindo PGA
preliminar;
Emissão
- AIA e AA (acompanha- - Pareceres e relatórios (análises,
de LO
mento pós-aprovação); recomendações e exigências)
ou
- RAD; resultantes das fases de
equivalente
- AA para emissão de LO. emissão de LP e LI;
- Relatórios de AA;
- PGA e programas ambientais.

- PGA incorporando conteúdo do


EIA/Rima e eventuais comple-
Projetos de mentações, pareceres e relatórios Vigência e
manutenção e (análises, recomendações e exi- renovação
OCUPAÇÃO de eventuais - SGA e AA; gências) resultantes das fases de contínua
reformas e - RAD. emissão de LP, LI e LO e de LO
ampliações relatórios de AA; ou
- Manual do SGA; equivalente
- Relatórios de AA.
NOTA: AIA - Avaliação de Impacto Ambiental; EIA/Rima - Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental; LP - Licença Prévia; LI - Licença de Instalação;
LO - Licença de Operação; SGA - Sistema de Gestão Ambiental; AA -Auditoria Ambiental; PGA - Plano de Gestão Ambiental; IPA - Investigação de Passivo Ambiental;
RAD - Recuperação de Áreas Degradadas.

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questões relativas às etapas de identificação 4.1.2 Caracterização do


da demanda e seleção de áreas, na fase de Empreendimento
planejamento (ver Quadro 2 - Capítulo 3).
A caracterização do empreendimento
Assim, devem ser efetuadas principalmente
trata basicamente das questões relativas à
com base na análise da demanda a ser aten-
etapa de projeto, na fase de planejamento,
dida e na justificativa de utilização de uma
devendo incluir a descrição da sua tipologia e
dada gleba por esse mesmo empreendimen-
definir porte e usos previstos, além de outras
to, constituindo a alternativa locacional esco-
medidas e ações recomendadas (ver Quadro
lhida. A área selecionada deve estar alicer-
3 - Capítulo 3). A localização geral do empre-
çada em três aspectos básicos:
endimento e da gleba deve ser indicada em
1. Localização da gleba, em que convém ana- carta topográfica adequada (em escala
lisar as barreiras físicas e naturais do mu- 1:50.000, ou maior). As instalações previstas
nicípio no qual se insere e identificar as devem estar expressas em planta planialti-
relações do local com os vetores vocacio- métrica (em escala 1:10.000, ou maior), indi-
nais de expansão urbana. cando áreas com declividade superior a 30%,
usos previstos, sistema viário, especificação
2. Qualidade ambiental da área e de sua cir- dos lotes (número, dimensões), estimativa da
cunvizinhança. população e densidade de ocupação previstas,
estimativa da demanda a ser gerada pelo em-
3. Demanda por qualidade de vida, em que
preendimento (indicando sistemas previstos
a expressão “qualidade de vida” pode ser
de abastecimento de água e de disposição fi-
entendida como o conjunto de condições
nal de efluentes e resíduos sólidos). Além dis-
objetivas presentes em uma determinada
so, devem ser indicados aspectos das obras,
área e da atitude subjetiva dos indivíduos
como cortes e aterros, áreas de empréstimo
moradores nessa área, frente a essas con-
e bota-fora (com a especificação da origem e
dições (HORNBACK et al., 1974).
volume do material), canteiros e alojamentos,
A discussão das alternativas tecnoló- acessos e condições de tráfego, bem como
gicas pressupõe análise comparativa em face estimativa da mão-de-obra necessária para
da tipologia do empreendimento adotada (re- sua implementação, estimativa do custo to-
sidências unifamiliares ou plurifamiliares), tal do empreendimento e cronograma e des-
compreendendo essencialmente loteamentos crição das etapas da fase de construção.
com uso residencial predominante, condo- Visando preparar a análise dos prová-
mínios ou conjuntos habitacionais (casas, veis impactos ambientais, deve-se identificar
prédios, blocos de apartamentos isolados ou também as principais atividades ou opera-
articulados, entre outros). ções a serem realizadas nas fases de cons-

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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA

trução e ocupação do empreendimento, como bientais revele abrangências territoriais além


as ilustradas anteriormente (ver Quadros 7 das áreas de estudo previstas, deve-se rea-
e 8 - Capítulo 3). As atividades relativas à lizar uma revisão para fins de eventuais com-
eventual desativação geralmente não são plementações necessárias.
consideradas, dado que, em princípio, assu-
A abordagem das áreas de estudo deve
me-se que esta fase não deverá ser realiza-
ser efetuada em três níveis: Área de Influên-
da. Contudo, caso se cogite, em algum mo-
cia Direta - AID; Área de Influência Indireta
mento da vida útil do empreendimento, sua
- AII; e Área de Influência Regional - AIR.
desativação, estudos específicos deverão ser
Nos três níveis devem ser realizadas a descri-
realizados, no sentido de que o ambiente re-
ção e a análise dos fatores ambientais e suas
sultante esteja em condições sustentáveis.
interações, caracterizando a situação da qua-
lidade ambiental antes da construção e ocu-
pação do empreendimento.
4.1.3 Diagnóstico Ambiental
da Área de Influência A AID deve ser delimitada para os meios
físico, biótico e antrópico (socioeconômico/
A rigor, a delimitação da área de influ-
cultural), baseando-se na abrangência dos fa-
ência do empreendimento somente poderia
tores ambientais diretamente afetados pelo
ser estabelecida após a análise dos impactos
empreendimento. A AII deve ser delimitada
ambientais (identificação, previsão e hierar-
para os meios físico, biótico e antrópico, ba-
quização dos impactos ambientais). Porém,
seando-se na abrangência dos fatores am-
para o planejamento e execução dos levan-
bientais indiretamente afetados pelo empre-
tamentos de campo, necessários ao diagnós-
endimento. A AIR tende a ser delimitada ape-
tico ambiental, convém definir inicialmente
nas para o meio antrópico, baseando-se na
áreas de estudo, delineadas a partir de exer-
abrangência dos fatores ambientais regionais
cício preliminar de identificação dos impactos
indiretamente afetados pelo empreendimento.
ambientais esperados.
Assim, antes de proceder à realização
Os impactos mais freqüentes se rela-
do diagnóstico ambiental, convém definir, de
cionam a interferências na infra-estrutura
acordo com as características de cada seg-
existente, interferências no processo de urba-
mento do ambiente, as áreas de estudo/in-
nização da região; intensificação de tráfego
fluência do empreendimento, as quais devem
na área, valorização/desvalorização imobi-
abranger, no mínimo, as seguintes dimensões:
liária, erosão e assoreamento e remoção de
cobertura vegetal, os quais podem orientar a) meio físico: a menor bacia hidrográfica
a delimitação dessas áreas de estudo. Poste- onde está contida, totalmente, a área do
riormente, caso a análise dos impactos am- empreendimento;

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b) meio biótico: área de ocorrência das tipo- fológicos (sistema de relevo), com de-
logias de cobertura vegetal inseridas na talhamento na área da gleba (declividades).
menor bacia hidrográfica onde está con-
3. Caracterização dos processos do meio fí-
tida a área do empreendimento; e
sico, passíveis de alteração.
c) meio antrópico: distrito/bairro ou muni-
cípio onde se localiza o empreendimento.
A realização do diagnóstico ambiental
do meio físico pela caracterização de seus
4.1.3.1 Diagnóstico do meio físico processos permite o conhecimento da dinâ-
mica do meio físico. A importância do conhe-
O diagnóstico ambiental preliminar do
cimento dessa dinâmica reside no fato de que
meio físico, na área de influência direta, deve
é ela que tende a ser efetivamente alterada
ser realizado por meio da caracterização dos
quando da construção e ocupação de um em-
processos do meio físico, atuantes na área e
preendimento. Como exemplo, dentre os
passíveis de alteração em decorrência da rea-
processos geralmente identificados, e que
lização das operações necessárias para cons-
são passíveis de alteração pelas operações
trução e ocupação do empreendimento (ver
nessas fases de um empreendimento habita-
Quadros 7 e 8 - Capítulo 3).
cional, incluem-se: erosão pela água; escor-
Para tanto, podem ser desenvolvidos regamento; escoamento das águas em su-
os seguintes estudos: perfície; movimentação das águas em subsu-
1. Identificação dos processos do meio físico perfície; interações físico-químicas nas águas
atuantes na área e passíveis de alteração, (superficiais e subterrâneas) e no solo; circu-
em que pode-se considerar o contexto lação de partículas e gases na atmosfera; e
geológico-geomorfológico da área e pro- propagação de ondas sonoras.
ceder à análise preliminar de cada opera-
ção a ser realizada nas fases de construção
e ocupação do empreendimento. 4.1.3.2 Diagnóstico do meio biótico

2. Caracterização de aspectos geológicos e O conhecimento da cobertura vegetal


geomorfológicos para subsidiar a caracte- e da fauna a ela associada, na área do
rização dos processos do meio físico pas- empreendimento, visa subsidiar as decisões
síveis de alteração, efetuando: caracteriza- técnicas referentes às etapas do plane-
ção de aspectos geológicos básicos (lito- jamento, com o objetivo de reduzir o corte
logia e pedologia) da área de influência di- de elementos arbóreos e a supressão de
reta, com detalhamento na área da gleba; cobertura vegetal natural, além de proteger
e caracterização de aspectos geomor- a fauna.

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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA

A identificação de categorias de cober- obtidas em bibliografia especializada, efe-


tura vegetal da área deve ser estruturada tuando-se a confirmação a partir de levan-
com base na presença de elementos fitofisio- tamento de campo.
nômicos específicos (bio-indicadores), bem
como no grau de alteração observado, sobre-
tudo no que se refere aos parâmetros florís- 4.1.3.3 Diagnóstico do meio antrópico
ticos básicos como composição florística, fi-
Para o diagnóstico do meio antrópico
sionomia, CAP (circunferência na altura do
devem ser considerados fatores como popu-
peito), altura total, densidade de indivíduos
lação, atividades econômicas, emprego, ren-
e regularidade de espaçamento.
da, infra-estrutura, habitação, tráfego, lazer,
Assim, as atividades desenvolvidas na esportes, recreação, atividades culturais e,
elaboração do diagnóstico ambiental preli- ainda, a percepção ambiental que a comu-
minar referente à cobertura vegetal, devem nidade tem em relação à área onde será ins-
compreender: talado o empreendimento. Deve considerar
a) levantamento de campo para validação de também o uso do solo atual, com destaque
dados obtidos em fotografias aéreas e para núcleos urbanos, habitações isoladas,
sobrevôo de helicóptero, e reconhecimen- equipamentos urbanos e sociais, atividades
to de tipologias de cobertura vegetal, no econômicas predominantes e, especial-
nível de identificação dos estágios suces- mente, outros empreendimentos similares.
sionais em desenvolvimento; Deve-se, ainda, caracterizar a tendência de
uso do solo, indicando especialmente os ve-
b) observação e identificação de espécies bo-
tores de expansão urbana.
tânicas indicadoras da qualidade ambiental
e elementos arbóreos isolados; A percepção ambiental é entendida, de
c) definição dos estágios sucessionais em acordo com RIO & OLIVEIRA (1996), como
curso e descrição de fitofisionomias prin- um processo mental de interação do indivíduo
cipais da área de estudo, interfaceadas com o meio ambiente que ocorre por meca-
com processos de uso e ocupação dos nismos perceptivos propriamente ditos e,
recursos naturais; e principalmente, cognitivos. Os primeiros são
dirigidos pelos estímulos externos, captados
d) elaboração de mapa temático, contendo
pelo cinco sentidos, onde a visão é o que
a espacialização das formações encontra-
mais se destaca. Os segundos são aqueles
das, incluindo a indicação de áreas de pre-
que compreendem a contribuição da inteli-
servação permanente.
gência, uma vez que, admitindo-se que a
Para a identificação e caracterização da mente não funciona apenas a partir dos sen-
fauna, podem ser consideradas referências tidos e nem recebe essas sensações passi-

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vamente, existem contribuições ativas do 4.1.4.1 Identificação das prováveis


sujeito ao processo perceptivo desde a mo- alterações ambientais
tivação à decisão e conduta. Esses mecanis-
Para identificação das prováveis alte-
mos cognitivos incluem motivações, humo-
rações ambientais decorrentes do empreen-
res, necessidades, conhecimentos prévios,
dimento, pode-se utilizar matrizes de corre-
valores, julgamentos e expectativas.
lação, em que cada operação do empreen-
dimento deve ser analisada visando iden-
4.1.4 Análise dos Impactos
tificar as alterações que elas podem provocar
Ambientais
em cada processo ou fator do meio ambiente.
Essa atividade compreende a execução Observe-se, como já citado, que o termo pro-
das tarefas necessárias à identificação, pre- cesso visa refletir a dinâmica do meio am-
visão e hierarquização das alterações ambien- biente, pois é ela que será alterada quando
tais decorrentes do empreendimento e defi- da instalação e funcionamento de uma ati-
nição dos impactos ambientais a serem con- vidade modificadora do meio ambiente.
siderados para fins de estabelecimento de
Como exemplo, para o caso do meio
medidas mitigadoras, compensatórias e de
físico, pode-se ter uma matriz de correlação
monitoramento.
em que as linhas (1 até 4) abrigam as prin-
Para tal, a análise dos impactos am- cipais atividades ou operações do empre-
bientais decorrentes da instalação e uso de endimento e as colunas (a até n) os proces-
um empreendimento habitacional pode ser sos ou fatores do meio físico passíveis
realizada com o desenvolvimento de três de alteração, na fase de construção (Qua-
etapas de estudo, quais sejam: dro 10).
1. Identificação das prováveis
Quadro 10 – Esquema de matriz para identificação
alterações ambientais, de- de alterações ambientais no meio físico
correntes das diferentes para a fase de construção
operações do empreendi-
mento. Atividades a b c d e f ... n

2. Caracterização das altera- 1 (terraplenagem) 1a 1b 1c 1d ... ... ... 1n


ções ambientais identifica-
das. 2 (edificação e demais obras) 2a 2b 2c ... ... ... ... 2n

3. Hierarquização das altera-


3 (bota-fora) 3a 3a ... ... ... ... ... 3n
ções ambientais caracteriza-
das e definição dos impactos 4 (paisagismo) 4a ... ... ... ... ... ... 4n
ambientais.

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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA

Dessa forma, o cruzamento dos conteú- fícies revestidas) ou da inserção de obs-


dos de cada linha (operações ou processos táculos ao escoamento das águas pluviais
tecnológicos) com os de cada coluna (fatores (pontos onde a água retida escoa).
e processos do meio físico) propicia a iden- 2. Aceleração do processo erosivo em sub-
tificação das prováveis alterações no meio superfície, decorrente de eventuais va-
físico. Exemplo disso pode ser obtido em 1a zamentos ao longo de tubulações de água
(considerando 1 como sendo a operação rela- e esgoto.
tiva à terraplenagem e a como o processo 3. Ocorrência de escorregamentos, pela
de erosão), cuja alteração pode ser o au- eventual intervenção em taludes e em área
mento das áreas expostas à erosão e forma- de empréstimo (caso seja necessária a ob-
ção de depósitos de assoreamento. tenção de solo em locais externos ao em-
Da mesma forma, devem ser montadas preendimento). Poderão ocorrer, também,
matrizes de correlação para as fases de pla- escorregamentos, em corpos de bota-fora,
nejamento e ocupação, bem como para os caso haja necessidade de descarte de solo
meios biótico e antrópico, o que resultará ou rocha alterada.
em um total de (6) seis matrizes básicas. 4. Diminuição da quantidade de água que se
Considerando os processos ou fatores infiltra no solo, a partir da retirada da vege-
ambientais, conforme já exemplificado (ver tação, da movimentação de solo e do re-
Quadro 1 - Capítulo 2), algumas das altera- vestimento e impermeabilização superficial.
ções ambientais que podem ser identificadas, 5. Introdução de substância contaminante,
na análise de cada operação das fases de no solo e nas águas superficiais e subter-
construção e ocupação de um projeto habi- râneas, a partir do vazamento de óleos
tacional, a partir dos cruzamentos mencio- dos equipamentos utilizados em diversas
nados são: operações; de resíduos sólidos e líquidos
dispostos sobre o solo sem revestimento;
A) Meio físico: de eventuais acidentes com derramamen-
1. Aceleração do processo erosivo em super- to de produtos contaminantes (por exem-
fície, pela intensificação do escoamento das plo, óleo, graxa, tinta, solventes e verni-
águas pluviais em superfície, em detri- zes) no solo; de vazamento em rede de
mento da infiltração, decorrente da retirada esgotos; da disposição transitória de
da vegetação e da movimentação de solo resíduos sólidos sobre a superfície do solo
(particularmente na canalização da drena- sem revestimento.
gem). Poderá, ainda, ocorrer erosão em 6. Aumento da quantidade de partículas sóli-
pontos específicos quando da impermea- das e gases na atmosfera, a partir do fun-
bilização de superfícies (bordas das super- cionamento de motores movidos a com-

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HABITAÇÃO E MEIO AMBIENTE - Abordagem integrada em empreendimentos de interesse social

bustível, utilizados nas diversas opera- C) Meio antrópico:


ções, além do fluxo de veículos e do rola-
mento de equipamentos sobre superfícies 13. Redução do déficit habitacional do mu-
não-pavimentadas. nicípio, considerando a identificação da
demanda de moradias e o atendimento
7. Aumento da propagação de ondas so- previsto.
noras, a partir do funcionamento de
equipamentos e veículos, bem como de 14. Aumento pela demanda por infra-es-
eventual emprego de explosivos. trutura, especificamente em relação aos
serviços de abastecimento de água,
energia e telefonia; coleta, tratamento
B) Meio biótico: e disposição de esgoto; coleta, trata-
mento e disposição de resíduos sólidos;
8. Supressão da vegetação de forma irre-
e à manutenção desses serviços e das
versível ao longo dos acessos e de locais
vias de acesso (ruas, estradas).
edificáveis.
15. Aumento do consumo de água e ener-
9. Degradação da vegetação pelo efeito de gia no uso do empreendimento.
borda nos fragmentos de vegetação que
eventualmente serão mantidos no em- 16. Aumento de transações comerciais no
preendimento. município, pela comercialização de ma-
teriais de construção (tais como agre-
10. Degradação da vegetação pela deposição gados, materiais elétricos e de reves-
de partículas sólidas sobre folhas e tron- timento).
cos, decorrente do rolamento de equipa-
mentos sobre superfícies não-pavi- 17. Aumento da arrecadação de impostos,
mentadas. devido ao incremento das transações
comerciais (bens e serviços).
11. Danos à fauna, a partir da supressão da
vegetação e de eventual caça realizada 18. Aumento da oferta de emprego de mão-
por funcionários trabalhando nas obras de-obra qualificada e não-qualificada,
ou, ainda, por atropelamentos. nas fases de construção e de ocupação
do empreendimento.
12. Incômodos à fauna, que utiliza o local
19. Aumento do tráfego nas vias de acesso
como passagem ou hábitat, em decor-
e nas proximidades do empreendi-
rência de ruídos, da movimentação de
mento.
pessoas, do tráfego e da emissão de
partículas sólidas e gases para at- 20. Alteração na percepção ambiental de-
mosfera. vido às edificações, pela presença do

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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA

esqueleto das construções e das edi- medidas de mitigação, caso a ação que
ficações finais. provoque a alteração seja interrompida.
Assim, por exemplo, em um solo com alta
21. Alteração da percepção ambiental pela
suscetibilidade à erosão, a aceleração do
disposição de resíduos sólidos de forma
processo erosivo é uma alteração irrever-
inadequada.
sível, pois, ainda que cesse a ação, se não
for adotada qualquer medida de mitigação,
as feições erosivas tendem a adquirir, cada
4.1.4.2 Caracterização das alterações
vez mais, maior expressão;
ambientais identificadas
c) duração: cuja qualidade pode ser curta
As alterações ambientais identificadas
(como menor que 1 ano), média (como
devem ser caracterizadas e qualificadas, o
entre 1 e 5 anos) ou longa (como maior
que pode ser efetuado por meio de quatro
que 5 anos); reflete a continuidade, no
parâmetros básicos, geralmente utilizados
tempo, dos efeitos da alteração, sem con-
em avaliações ambientais, quais sejam: mag-
siderar a adoção de medidas de mitigação.
nitude, reversibilidade, duração e abrangên-
Assim, por exemplo, em um solo com alta
cia. Esses parâmetros podem ser conside-
suscetibilidade à erosão, a aceleração do
rados da seguinte forma:
processo erosivo é uma alteração de du-
a) magnitude: cuja qualidade pode ser pe- ração longa, pois não cessa sem a adoção
quena, média ou grande; é um parâmetro de medidas de mitigação;
básico para avaliar a importância da alte-
d)abrangência: que pode ser pontual (in-
ração, pois reflete a dimensão dos efeitos
terior à área do empreendimento), local
associados. Assim, por exemplo, em um
(interior da área de influência direta) ou
solo com alta suscetibilidade à erosão, a
regional (excede a área de influência dire-
aceleração do processo erosivo é uma alte-
ta). No caso dos meios físico e biótico, a
ração com magnitude grande, pois poderá
qualidade da abrangência reflete o alcan-
haver perda de grande quantidade de solo,
ce, em área, dos efeitos da alteração. As-
podendo, conseqüentemente, ocorrer tur-
sim, por exemplo, em um solo com alta
vamento expressivo da água de cursos
suscetibilidade à erosão, a aceleração do
d’água e o assoreamento, também signifi-
processo erosivo possui abrangência re-
cativo, do seu canal;
gional, pois seus efeitos, como o turva-
b)reversibilidade: cuja qualidade pode ser mento das águas e o assoreamento do ca-
total, parcial ou nula, isto é, irreversível; nal, podem extrapolar a área de influência
reflete a possibilidade de cessar os efeitos direta. No caso do meio antrópico, a qua-
decorrentes da alteração, sem adoção de lidade da abrangência, que pode ser pon-

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HABITAÇÃO E MEIO AMBIENTE - Abordagem integrada em empreendimentos de interesse social

tual (restrita a um setor do município), Considerando apenas um dos exemplos


local (restrita ao município) e regional anteriores, dentre as possíveis alterações
(restrita, por exemplo, à Região de Gover- ambientais identificadas, aceleração do pro-
no ou Região Administrativa em que se cesso erosivo em superfície, sua caracteri-
insere o município), reflete, também, o zação pode ser realizada conforme apre-
alcance em área dos efeitos, mas, tendo sentado a seguir.
em vista o critério específico de área de
influência, podem ser consideradas outras • Aceleração do processo erosivo em su-
áreas de alcance. Assim, por exemplo, no perfície: o empreendimento poderá ocupar
caso da geração de emprego, na fase de área onde predominam terrenos com alta
construção, quando se pretende empregar suscetibilidade à erosão, sendo o material
apenas mão-de-obra do município, a erodível rico em partículas finas (argila) que
abrangência tende a ser local. dificilmente poderão ser retidas em es-
truturas. Assim, qualquer intervenção que
Em síntese, o Quadro 11 ilustra os pa-
provoque alteração no escoamento das
râmetros básicos considerados e suas respec-
águas pluviais sobre a superfície do solo,
tivas qualificações, conforme utilizados na ca-
como a retirada da vegetação e a mo-
racterização das alterações ambientais.
vimentação de solo, concorrerá para a ace-
leração do processo erosivo. Essa acelera-
Quadro 11 – Parâmetros básicos e suas ção implica a perda de solo, podendo ocor-
qualidades, utilizados na caracterização das rer incremento no aporte de sedimentos
prováveis alterações ambientais
para os cursos d’água. As conseqüências
possíveis incluem o aumento do turvamento
das águas e do assoreamento, que poderá
prejudicar o uso da água para abasteci-
mento, implicando a elevação dos custos
de tratamento de água. O turvamento das
águas poderá, também, provocar a morte
de organismos aquáticos. A magnitude das
conseqüências da intensificação do escoa-
mento das águas em superfície e decorrente
aceleração do processo erosivo em super-
fície tende a ser grande, em função de o
empreendimento ocupar terrenos com alta
suscetibilidade à erosão. A reversibilidade
das conseqüências da aceleração do pro-

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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA

cesso erosivo tende a ser nula, isto é, sem básicos: análise técnico-científica por parte
medidas de mitigação, e as condições de da equipe que realizou a identificação e ca-
perda de solo, de turvamento das águas e racterização; e consulta à comunidade (mo-
de assoreamento de cursos d’água tende- radores potencialmente afetados, autorida-
rão a ser agravadas. A duração da altera- des públicas, pesquisadores da região, ONGs,
ção é longa, pois os processos de escoa- entre outros), esta última podendo envolver
mento das águas em superfície e erosão contatos, reuniões dirigidas e preenchimento
pela água tendem a se acentuar com o tem- de questionário orientativo previamente
po. A abrangência das conseqüências da elaborado.
aceleração do processo erosivo é local, pois
Esses procedimentos devem visar a
estão restritas à área de influência direta
classificação das alterações ambientais pre-
do empreendimento.
vistas em uma de três categorias fundamen-
Dependendo do caso considerado, po- tais, a saber:
der-se-ia incluir outros parâmetros, como re-
a) muito significativa;
levância social e confiabilidade da alteração
prevista, embora ambos possam estar, de al- b) significativa; ou
gum modo, relacionados com aqueles parâ- c) pouco significativa.
metros básicos.
A alteração pode ser considerada pouco
significativa quando, simultaneamente, a
4.1.4.3 Hierarquização das alterações
magnitude é pequena, a reversibilidade é to-
e definição dos impactos
tal, a duração é curta e a abrangência é pon-
ambientais
tual. A alteração pode ser considerada muito
Identificadas e caracterizadas todas as significativa quando, simultaneamente, a
alterações ambientais negativas e positivas magnitude é grande, a reversibilidade é nula,
nos meios físico, biótico e antrópico, deve a duração é longa e a abrangência é regional.
ser realizada uma integração dos resultados A alteração pode ser considerada significativa
com vistas à identificação das inter-relações nas situações intermediárias às duas an-
entre os meios e as alterações ambientais teriores.
de caráter geral. As alterações ambientais classificadas
Em seguida, deve ser efetuada, para nas categorias “a” e “b”, ou seja, muito
fins de hierarquização, a avaliação da impor- significativa e significativa, tendem a ser con-
tância de cada uma dessas alterações am- sideradas como impactos ambientais (nega-
bientais, utilizando-se para tal uma combi- tivos ou positivos) e, como tal, merecedores
nação dos resultados de dois procedimentos de medidas mitigadoras ou compensatórias

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HABITAÇÃO E MEIO AMBIENTE - Abordagem integrada em empreendimentos de interesse social

e, ainda, objeto de monitoramento específico. qüências tendem a ser reduzidas ou elimina-


Para as alterações classificadas em “c”, por- das. Exemplificando, para o caso do impacto
tanto consideradas pouco significativa, de- ambiental denominado aceleração do pro-
vem ser indicadas apenas recomendações cesso erosivo em superfície, deverão ser
gerais com vistas ao seu acompanhamento. adotadas as seguintes medidas de mitigação:
Exemplo de alteração ambiental cuja 1. Quaisquer operações que envolvam reti-
avaliação tende geralmente a considerá-la rada de vegetação e movimentação de
como muito significativa em um empreen- solo deverão ser realizadas no período de
dimento habitacional é a aceleração do pro- menor precipitação pluviométrica.
cesso erosivo em superfície, que, então, 2. Como a construção de residências será
passa a ser tratada como provável impacto paulatina, deverá ser mantida a vegetação
ambiental negativo. dos lotes, para que se favoreça a infiltração
da água e se evite o escoamento superfi-
cial concentrado.
4.1.5 Definição das Medidas de
Mitigação, Compensação e 3. A implementação do sistema de drenagem
Monitoramento deverá ocorrer acompanhando o capea-
Para cada um dos impactos ambientais mento asfáltico, sempre de jusante para
negativos identificados, ou seja, para cada al- a montante, para que seja evitada a im-
teração ambiental avaliada como muito permeabilização de montante e formação
significativa ou significativa, deverão ser de escoamento concentrado a jusante.
apresentadas medidas mitigadoras, compen- 4. A preparação dos lotes deverá ser pla-
satórias e de monitoramento ambiental, com nejada, de modo a permitir o mínimo pos-
respectivo cronograma de execução. Pode ha- sível de movimentação de solo.
ver uma distinção entre os impactos consi-
5. O projeto da residência de cada lote deverá
derados muito significativos e os significativos,
buscar reduzir a terraplenagem e manter
sendo que os primeiros provavelmente serão
o máximo possível da co–bertura vegetal.
objeto de propostas de soluções mais exi-
gentes. Preferencialmente, todas essas infor- 6. Todo material escavado deverá ser reapro-
mações deverão ser apresentadas na forma veitado, evitando-se a formação de corpos
de quadro-síntese, relacionando os impactos de bota-fora e a obtenção de material de
ambientais com as medidas propostas. empréstimo em áreas externas ao em-
preendimento.
A adoção dessas medidas permite que
as alterações sejam atenuadas ou mesmo não 7. Os materiais escavados, dispostos transi-
ocorram e, portanto, suas possíveis conse- toriamente, deverão ser protegidos da

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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA

ação erosiva da água pluvial, realizando- panhar, tanto por parte do empreendedor
se sua disposição em local sem linhas de como do órgão ambiental de fiscalização e do
fluxo de água superficial e munido de bar- próprio morador, o desempenho e a eficácia
reiras físicas para contenção da base. das medidas implementadas no controle dos
impactos ambientais previstos.
8. Na fase de ocupação, os pontos de deságüe
nos córregos são locais que deverão ser Considerando os indicadores ambien-
objetos de vistorias em curto intervalo da tais estabelecidos, a conjugação das medidas
periodicidade, no sentido de não afetar a de mitigação, compensação e monitoramento
eficiência do sistema inteiro. No caso de deverão interagir para o desenvolvimento de
serem observados grandes volumes de se- programas de gestão ambiental, contemplan-
dimento nos pontos de deságüe, procurar- do procedimentos práticos e exeqüíveis.
se-á impedir a continuidade desses proces-
Alguns dos programas comumente lem-
sos em suas origens, por meio da identifi-
brados em processos de AIA de empreen-
cação da causa e da adoção de medidas cor-
dimentos habitacionais são:
retivas eficazes, como o uso de revesti-
mentos vegetais apropriados. Os dispositi- a) programa de controle de erosão;
vos de deságüe deverão ser limpos, remo- b) programa de controle de escorregamento;
vendo-se todo o material acumulado. De-
verá, também, ser observado o nível de des- c) programa de controle da poluição química
gaste das peças estruturais (como das caixas a partir de máquinas utilizadas;
e escadas d’água) e, se necessário, deverão d) programa de controle de poluição bacte-
ser reparadas. riana a partir de fossas sépticas;
e) programa de redução de resíduos (sóli-
O estabelecimento de medidas compen- dos, líquidos e gasosos);
satórias se impõe em situações em que alguns f) programa de disposição controlada de re-
impactos não encontrem solução de mitigação. síduos (sólidos, líquidos e gasosos);
Exemplos disso são os casos em que a
g) programa de recuperação de áreas de-
supressão da vegetação é inevitável e, como
gradadas pela obtenção de material de
compensação, propõe plantios em outros lo-
empréstimo;
cais, abrangendo áreas, no mínimo, em dobro.
h) programa de proteção à fauna e à flora
A partir da definição dos impactos e das
(bosques/matas internos e/ou vizinhos);
medidas de mitigação e compensatórias, de-
verão ser estabelecidas, ainda, medidas de i) programa de monitoramento de áreas de
monitoramento ambiental. Objetiva-se acom- risco;

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HABITAÇÃO E MEIO AMBIENTE - Abordagem integrada em empreendimentos de interesse social

j) programa de comunicação externa (popu- realização do Estudo de Impacto Ambiental


lação vizinha, órgão ambiental estadual; - EIA, deve-se elaborar um documento espe-
órgão ambiental municipal; demais ór- cífico para tal.
gãos da prefeitura; órgãos prestadores de
Dessa forma, no Rima, ou em outro do-
serviço, entre outros);
cumento correlato, o texto não deve ser um
k) programa de redução do consumo de “corte-e-cola” do EIA (ou do Epia, sob qual-
água; quer forma), mas sim um documento dos
resultados obtidos, traduzidos em linguagem
l) programa de redução de consumo de
acessível a um público mais amplo e que per-
energia;
mita o entendimento das vantagens e des-
m) programa de educação no trânsito; vantagens da construção do empreendimen-
n) programa de manutenção da arborização to, bem como todas as conseqüências am-
interna; bientais de sua implementação.

o) programa de educação ambiental; e O documento deve ser ilustrado, visan-


do facilitar o entendimento da obra e de suas
p) programa de treinamentos. prováveis conseqüências ambientais, deven-
O conteúdo dos programas deverá pro- do conter, necessariamente:
piciar a elaboração do Plano de Gestão Am- a) apresentação da metodologia utilizada no
biental - PGA que, conforme mencionado, estudo, especialmente na realização do
subsidiará a estruturação do SGA. Não obs- diagnóstico ambiental e análise de impac-
tante, considerando um contexto mais geral, tos ambientais;
válido para a maioria dos empreendimentos,
b) caracterização do empreendimento, de
pode-se agrupá-los de acordo com situações
forma clara, privilegiando desenhos ilus-
específicas e para facilidade de gestão (ver
trativos;
Capítulo 5).
c) importância, objetivos e justificativas do
empreendimento;
4.1.6 Elaboração do Documento
de Conclusões d) discussão sobre as alternativas locacio-
nais e tecnológicas;
Quando necessário, como ocorre em
relação ao Relatório de Impacto Ambiental - e) descrição das diferentes etapas e opera-
Rima, cujo objetivo é dar conhecimento ao ções do empreendimento;
público sobre a viabilidade ambiental do em- f) resultados mais importantes dos estudos
preendimento, mediante a apresentação das de diagnóstico ambiental da área de in-
conclusões e recomendações obtidas com a fluência do projeto;

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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA

g) descrição dos prováveis impactos ambien- gestão global que inclui estrutura organiza-
tais das fases de construção e ocupação cional, atividades de planejamento, respon-
do empreendimento; sabilidades, práticas, procedimentos, proces-
h) descrição das medidas de mitigação e sos e recursos para desenvolver, implemen-
compensatórias; tar, atingir, analisar criticamente e manter a
política ambiental.
i) descrição dos programas de implemen-
tação das medidas de mitigação e com- O diferencial na adoção do SGA norma-
pensatórias (PGA); lizado é que seus requisitos são padrões; as-
j) descrição das medidas de monitoramento sim, há uniformidade de conceitos e procedi-
para acompanhamento dos programas de mentos. Além disso, a normalização permite
implementação das medidas de mitigação a certificação do SGA.
e compensatórias; Como exemplo, no Brasil, de empreen-
k) caracterização da qualidade ambiental fu- dimento habitacional com SGA certificado
tura da área de influência considerando tem-se o Riviera de São Lourenço, situado
os cenários com e sem a realização do no Município de Bertioga, em São Paulo. Ape-
empreendimento; sar de não se constituir ocupação de interes-
l) recomendações de ordem geral. se social, seu estabelecimento pode ser refe-
rência para qualquer tipo de conjunto habita-
cional, com as devidas adaptações e transfe-
4.2 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL rências de responsabilidades ao Poder Público.
Para garantir que as medidas de miti-
gação estabelecidas na fase de planejamento
sejam efetivamente adotadas, é importante 4.2.1 As Normas de Sistema de
a utilização de um instrumento de gestão am- Gestão Ambiental
biental adequado para este fim. As normas relativas a sistema de gestão
Entre os instrumentos de gestão ambien- ambiental (ABNT, 1996a,b) foram publicadas
tal disponíveis, o Sistema de Gestão Ambiental como normas internacionais em setembro de
- SGA é o que permite o controle dos aspectos 1996, tendo sido traduzidas, votadas e publi-
ambientais do empreendimento, em sua cons- cadas no Brasil (dezembro de 1996), como
trução e ocupação, de forma organizada. O NBR ISO.
SGA encontra-se, inclusive, normalizado por
A NBR ISO 14001 Sistemas de gestão
meio da NBR ISO 14001 (ABNT, 1996a).
ambiental - Especificações e diretrizes para
De acordo com essa norma, sistema de uso e a NBR ISO 14004 Sistemas de gestão
gestão ambiental é a parte do sistema de ambiental - Diretrizes gerais sobre princípios,

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