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Apontamentos para o uso interno das alunas da Escola Secundaria de, 2019

Nacala-Porto

UNIDADE I – INTRODUÇÃO À LÓGICA II

1.1 Lógica e argumentação

Podemos dizer que a unidade básica da lógica é o argumento, pois nele se encadeiam, de um
modo que pretendemos correcto, uma série de razões que nos levam a uma conclusão. A
lógica ensina-nos a pesar, a consciencializar as exigências que presidem a um pensamento
válido. Para tal, ensina-nos a analisar o encadeamento de provas, procurando verificar até que
ponto elas se justificam.

O argumento

Na vida quotidiana, um argumento é frequentemente sinónimo de discussão e esta de litígio.


Daí por vezes associarmos argumento a zanga. Contudo, no plano filosófico, o argumento
perspectiva-se num domínio de estrita racionalidade, procurando-se encadear razões de um
modo lógico, sustentando que é absurdo seguir caminhos diferentes. Portanto, um argumento
destina-se a resolver dissidências e não provocá-las.

Assim, designamos por argumento ao conjunto de razões que apresentamos de modo a tornar
óbvia uma conclusão. O nosso interesse é mostrar aos nossos interlocutores que temos
“razões” para aderir a esta ou àquela posição que defendemos. O que diferencia um
argumento de uma descrição é o facto de nos apresentar razões (indicadores lógicos do
argumento) a favorecerem ou desfavorecerem uma dada conclusão. Por exemplo: as
publicidades.

Por isso, a linguagem não serve apenas para comunicar. Ela permite: influenciar as outras
pessoas e determinar as suas convicções e os seus actos; exprimir e “impor” valores julgados
preferíveis e aprovar ou desaprovar atitudes, de acordo com critérios assentes na força dos
argumentos que legitimam tais aprovações ou desaprovações.

Com base na lógica, não só distinguimos os argumentos válidos dos inválidos, também
compreendemos por que razões os mesmos são correctos ou incorrectos.

Normalmente, num argumento envolvem-se os interlocutores (o orador e o auditório) e as


razões (provas prós ou contras).

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Em lógica, um argumento é válido quando a conclusão do mesmo decorre das razões que o
sustentaram e é inválido quando não decorre dessas razões.

Argumentar e argumentação

Argumentar é fornecer razões que sejam a favor ou contra uma determinada tese. A
argumentação constitui um acto, por um lado, de pensamentos e de discurso, o que implica a
produção de proposições, ou seja, enunciados, teses e opiniões que requerem justificações e
provas demonstrativas. Ela ocorre num acto de comunicação entre interlocutores com uso de
princípios lógicos. Desta forma, a argumentação difere da demonstração que apenas produz
argumentos válidos.

A finalidade da argumentação

Toda a argumentação tem uma das duas finalidades: persuadir (que com argumentos
preferenciais e de ordem emocional procura convencer o auditório) ou refutar (negar uma
determinada proposição).

Com a capacidade de dialogar, a competência argumentativa remete para uma atitude de


abertura em relação aos outros; mostrar-se disponível falar ou influenciar/ouvir e ser
influenciado, o que implica que os interlocutores se apresentam de igual para igual, no que diz
respeito ao direito de cada um aderir ou de resistir os argumentos do outro.

Podemos concluir que argumentar (e contra-argumentar ou refutar) implica e exige:


tolerância; generosidade intelectual; respeito pelo outro e pela sua opinião e o reconhecimento
do nosso direito e do outro.

1.2 Noção do juízo e proposição

Enquanto o conceito é a primeira operação da mente, o juízo é uma espécie da segunda


operação da mente, que consiste no estabelecimento duma relação entre dois ou mais
conceitos.

Portanto, o juízo é o acto mental pelo qual a inteligência afirma ou nega uma coisa da outra.
Um juízo é verdadeiro quando se adequa com a realidade e falso quando não se adequa. Por
exemplo: O Mário é professor. Esta afirmação será verdadeira quando, de facto, o Mário for
professor, pelo contrário será falsa.
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Um ponto importante é de que só os enunciados que exprimem verdades e falsidades devem


ser considerados juízos, pois são eles que expressam uma relação de concordância ou
discordância entre dois conceitos ou termos (sujeito e predicado). Assim, termos soltos não
constituem juízos: Lurdes Mutola.

A proposição é a expressão verbal do juízo. No entanto, nem todas as proposições


Gramaticais são logicas. Por exemplo: o jantar está pronto? (proposição interrogativa); faz o
que deve! (proposição imperativa); meu Deus! (interjeições).

Estrutura do juízo

Todo o juízo é constituído por três elementos fundamentais:

 Sujeito (S) – aquilo acerca da qual se afirma ou se nega algo. A coisa de que ou de
quem se fala.
 Predicado (P) – é a qualidade ou característica que se afirma ou se nega pertencer ao
sujeito.
 Copula – é o elemento de ligação entre o sujeito e o predicado, representado pelo
verbo "ser".

Exemplo: Alguns alunos são inteligentes. Sujeito – alunos; predicado – inteligentes; cópula
– são.
Aos três elementos fundamentais do juízo se acrescenta um necessariamente: o
quantificador que indica se o predicado é atribuído a todos os elementos da extensão do
sujeito ou a uma parte deles, ou se não é atribuído a qualquer deles.

Juízo categórico
Juízo categórico é todo aquele que afirma ou nega, sem reservas a relação entre sujeito e
predicado. Eles são introduzidos pelos quantificadores todo ou todos, nenhum e alguns.
Trata-se da forma padrão do juízo que possui quatro elementos: quantificador, sujeito, cópula
e predicado.
Todo Homem e mortal

Quantificador Sujeito Copula Predicado

1.3 Classificação dos juízos

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1. Quanto à quantidade:
Universais O predicado se aplica a toda extensão do Ex: Nenhum Homem é
sujeito Cão

Particulares O predicado se aplica apenas a uma parte da Ex: Alguns homens são
extensão do sujeito inteligentes

Singulares O predicado se refere a único individuo Ex: A Clarinda é aluna

2. Quanto à qualidade:
Afirmativos O predicado é afirmado em relação ao sujeito Ex: A Suzana é uma rapariga
obediente

Negativos Quando a cópula indica que o predicado não é Ex: O Ruben não é um bom
aplicável ao sujeito estudante

3. Quanto à inclusão ou não inclusão do predicado no sujeito:


Analíticos Quando o predicado está compreendido no Ex: O quadrado tem quatro
sujeito lados iguais

Sintéticos Quando o predicado não está contido na noção Ex: Os Macuas são pacíficos
do sujeito

4. Quanto à dependência ou não da experiencia:

A priori A sua veracidade pode ser conhecida Ex: O quadrado tem quatro
independentemente da experiência lados iguais

A posteriori A sua veracidade só pode ser conhecida Ex: Os chineses são


através da experiência baixinhos

5. Quanto à relação ou condição:

Categóricos Há afirmação ou negação sem reservas Ex: O Homem é mortal

Hipotéticos Há afirmação e negação condicionais Ex: Se fores, também vou

Disjuntivos A afirmação dum predicado exclui outros Ex: Nita estuda ou joga

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6. Quanto à modalidade:
Assertórios Enunciam uma verdade de facto, embora Ex: A Lurdes Mutola é uma
não necessária logicamente atleta exemplar

Problemáticos Enunciam uma possibilidade Ex: Os macuas são


provavelmente apreciadores de
carne

Apodícticos São necessariamente verdadeiros Ex: O triângulo tem três lados.

7. Quanto à matéria:
Necessários O predicado convém e não pode Ex: O círculo é redondo
não convir ao sujeito

Contingentes O predicado convém de facto ao Ex: O Mário reprovou no


sujeito mas poderia não convir exame

Impossíveis ou absurdos O predicado não pode convir ao Ex: O quadrado é redondo


sujeito

Os tipos de proposições categóricas

Na combinação entre a qualidade e quantidade, surgem quatro juízos categóricos: A, E, I, O.


Estes são resultado do AFIRMO (A e I) e NEGO (E e O), sendo:

Tipo Qualidade Quantidade Exemplo

A Afirmativo Universal Todo S é P


Todo macua é honesto
E Negativo Universal Nenhum S é P
Nenhum macua é honesto
I Afirmativo Particular Algum S é P
Algum macua é honesto
O Negativo Particular Algum S não é P
Algum macua não é honesto

1.4 Raciocínio e argumento


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O raciocínio é uma operação mental a partir da qual passamos de juízos conhecidos para um
ou mais juízos novos até então desconhecidos e que são o seu fim lógico. Enquanto operação
mental, o raciocínio é composto por juízos e argumento.

O argumento é a expressão oral ou mental do raciocínio composto por proposições. Ele é o


resultado da relação entre as diversas proposições que constituem um raciocínio.

1.4.1 Inferência
A inferência é o processo mental (raciocínio) a partir do qual, partindo de uma ou mais
proposições, se passa para outra, ou outras, cuja conclusão lógica ou verdade resulta da
verdade das premissas. A inferência parte de um ou mais juízos (premissas), para chegar
chegar a um outro, a conclusão.

Por exemplo:

Todos os filósofos são sábios (premissa 1)


Alguns moçambicanos são filósofos (premissa 2)
Alguns moçambicanos são sábios (conclusão)

Tipos de inferências

1.4.1.1 Inferência imediata

São aquelas que se obtêm directamente sem qualquer novo termo intermediário. A proposição
dada e a inferida contêm os mesmos termos. Ou seja, é quando duma só proposição se conclui
outra. Estas se obtêm pelos processos de oposição e conversão das proposições.

Exemplo: Todos os filósofos são respeitosos

Logo, alguns respeitosos são filósofos.

Oposição das proposições nas inferências imediatas

A oposição ocorre quando duas proposições têm o mesmo sujeito e o mesmo predicado mas
diferem quer na quantidade quer na qualidade.

Tipos de oposições de proposições e suas leis

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a) Proposições contrárias

Duas proposições universais que diferem pela qualidade chamam-se contrárias – AE.
Designam-se contrárias, quando duas proposições não podem ser verdadeiras ao mesmo
tempo, mas podem ser ambas falsas, quando são da expressão de um juízo assertório, isto
quando o seu predicado é acidental.

Exemplo: (AE). Todo Homem é animal racional (A) e Nenhum Homem é animal racional
(E).

b) Proposições subcontrárias

Duas proposições particulares que diferem pela qualidade são subcontrárias – IO. São
subcontrárias quando duas proposições podem ser ambas verdadeiras, quando são da
expressão de um juízo assertório, mas não falsas ao mesmo tempo. Isto é, se uma é falsa, a
outra pode ser verdadeira ou falsa, isto é, duvidosa.

Por exemplo: (IO) – Alguns homens são animais racionais (I) e alguns homens não
são animais racionais (O).

c) Proposições subalternas

Duas proposições que diferem pela quantidade chamam-se subalternas. Segundo a lei das
proposições, dizem que são subalternas quando a verdade da proposição universal implica a
da proposição particular subordinada, a falsidade universal não acarreta da particular, a
verdade da particular não determina a da universal, a falsidade da particular exige a falsidade
da universal.

Exemplo: AI – Todo Homem é animal racional (A) e alguns homens são animais racionais
(I). EO – Nenhum Homem é animal racional (E) e alguns homens não são animais racionais
(O).

d) Proposições contraditórias

As duas proposições diferem ao mesmo tempo pela qualidade e quantidade que se chama
contraditórias.

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Segundo a lei das proposições, designa-se contraditória quando duas proposições não podem
ser verdadeiras nem falsas ao mesmo tempo. Se uma é verdadeira, a outra é falsa e vice-versa.

Exemplo: AO – Todo Homem é animal racional (A) e alguns homens não são animais
racionais (O). EI – Nenhum Homem é animal racional (E) e alguns homens são animais
racionais (I).

Quadro lógico da oposição das proposições

Conversão das proposições nas inferências imediatas

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A inferência pode também ser feita por transposição de termo: trocando o sujeito pelo
predicado e o predicado pelo sujeito. Para tal é preciso observar as seguintes regras: os termos
permutados não podem ter maior extensão na conclusão do que tinham na proposição
conversa, mas podem ser de extensão menor.

Tipos de conversão
a) Conversão simples, como nas proposições do tipo E (universais negativas) e as do
tipo I (particulares afirmativas); as primeiras são universais e as segundas são
particulares, por isso, só neste caso se pode fazer a conversão simples. Exemplo:

Nenhum metal é gás


Nenhum gás é metal
Nesta proposição, conserva-se a mesma qualidade e quantidade.

Convertem-se também simplesmente, as proposições chamadas recíprocas, ou equivalentes do


tipo A; por exemplo:

O triângulo é um polígono de três lados


O polígono de três lados é um triângulo
b) Conversão por limitação, nas proposições do tipo A, o sujeito é universal e o
predicado particular, por isso, ao converter a proposição, teremos que manter, na
conversa, a mesma extensão do predicado, de modo que passe de universal à particular
(I).

Exemplo:
Todos os homens são seres vivos
Alguns seres vivos são homens

c) Conversão por negação, nas proposições do tipo O, o sujeito é particular e o


predicado universal para respeitar a validade da conversão, que não podemos
converter simplesmente porque o sujeito fica com maior extensão, por isso, recorre a
um artifício que consiste em transformar a proposição a converter numa proposição
particular afirmativo (I) equivalente, o que consegue transferir a negação cópula para o
predicado.
Exemplo: Alguns homens não são pais
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Alguns homens são não pais


Alguns não pais são homens

d) Conversão por contraposição – pouco usada e violenta, obtém-se juntando uma


negação ao sujeito e outra ao predicado e invertendo, em seguida, a ordem dos termos.
Pode aplicar-se às proposições de tipo A e O.

Exemplo: Todo o homem é mamífero


Todo o não homem é não mamífero
Todo o não mamífero é não homem

1.4.1.2 Inferência mediata (raciocínio)


Trata-se de uma inferência mediata quando se conclui uma proposição de várias proposições.
Estas constituem o processo do raciocínio. Já aparece pelo menos um termo novo que serve
de mediador entre os restantes termos. Exige mais do que dois termos (normalmente três,
servindo um termo médio) e mais do que uma proposição.

Exemplo: Todo o Homem é mamífero


Ora, O António é homem
Logo, o António é mamífero

Tipos de raciocínio
Tradicionalmente, as inferências mediatas ou raciocínios dividem-se em três grupos:
raciocínios dedutivos, indutivos e raciocínios por analogia.

a) Raciocínio dedutivo – é aquele que de uma ou mais premissas tira uma conclusão e
que parte do mais geral ao particular. Vai da causa ao efeito, da lei ao facto concreto.
Exemplo: Todos os moçambicanos são pacíficos
Muapitão é moçambicano
Muapitão é pacífico

b) Raciocínio indutivo – é todo aquele que vai do particular ao geral, do efeito a causa,
do facto à lei.

Exemplo: Jorge, Ana é inteligente; Maria é inteligente; Fany é inteligente

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Ora, Jorge, Ana, Maria, Fany são moçambicanos


Logo, Todos moçambicanos são inteligentes

c) Raciocínio analógico – é todo aquele que infere de uma verdade particular para outra
verdade também particular por semelhança. Portanto, a analogia é um tipo de
raciocínio muito vulgar em senso comum também no âmbito científico, especialmente
no campo da biologia.

Por exemplo: em presença de dois doentes com o mesmo tipo de sintoma, o médico
conclui tratar-se da mesma doença, assim, está a fazer o uso do raciocínio por
analogia.

1.5 O silogismo
1.5.1 Noção do Silogismo

O silogismo é um raciocínio formado por três proposições em que das duas primeiras,
chamadas premissas, originam uma terceira, chamada conclusão lógica. Exemplo:

Todo o homem é mortal


O João é homem
O João é mortal

1.5.2 Estrutura e matéria do Silogismo

Todo silogismo regular é formado por três proposições, sendo as duas proposições, as
premissas: premissa maior (a primeira) e a premissa menor (a segunda) e, a última, a
conclusão e por três termos comparados, dois a dois: termo maior (P), termo médio (M) e
termo menor (S).

As proposições e termos constituem a matéria do silogismo; os termos são matéria remota e


as proposições são a matéria próxima. A ordenação dos termos e das proposições, de acordo
com as oito (8) regras do silogismo (que trataremos posteriormente) constituem a forma ou
estrutura do silogismo.

Por exemplo:

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Todo o homem é mortal (M e P) – premissa maior


O João é homem (S e M) – premissa menor
O João é mortal (S e P) – conclusão

Partindo deste exemplo, explicamos detalhadamente os termos e as proposições:

Os termos:
Esses são os três termos do silogismo (P, M, S). Em cada premissa teremos relações dos dois
(P e S) com um terceiro (M) – M é P, S é M) ou P não é M, S é P.

Detalhadamente teremos:

 Termo maior (P) ou (T) é aquele que tem maior extensão. É sempre o predicado da
conclusão. Do exemplo dado é: mortal.

 Termo menor (S) ou (t) é aquele que tem menor extensão e ocupa sempre o lugar de
sujeito na conclusão. Do exemplo dado é: João

 Termo médio (M) é aquele cuja extensão é intermediária entre o maior e o menor e
permite a relação destes, por isso, repete-se nas premissas. Nunca entra na conclusão.
Do exemplo dado é: homem.

Em suma, no silogismo cada um dos termos aparece duas vezes: o médio repete-se nas
premissas (homem); o maior e o menor que também se chamam extremos repetem-se nas
premissas e na conclusão. A repetição é indispensável para que seja possível a comparação
dos termos; sem isso nenhuma conclusão seria possível.

As proposições:

Premissa maior – é a proposição que contêm o termo maior ou o predicado da conclusão. E o


termo médio; em geral, é a primeira. Do exemplo dado é: Todo o homem é mortal.

Premissa menor – é a proposição que contém o termo menor ou sujeito da conclusão e o


termo médio; em geral é a segunda. Do exemplo dado é: o João é homem.

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Conclusão – é a proposição que contém o termo maior e menor; o sujeito da conclusão é o


termo menor e o seu predicado é o termo maior. O termo médio não entra na conclusão mas
repete-se nas premissas. Do exemplo dado é: o João é mortal.

Estrutura do silogismo TRÊS TERMOS

Dois extremos Intermédio

Menor Maior Médio

Duas Maior * *
Premissas
TRÊS Menor * *
PROPOSIÇÕES
Conclusão * *

1.5.3 Princípios do silogismo

A dedução funda-se no princípio de identidade que se enuncia da seguinte maneira, assim,


existem dois princípios fundamentais do silogismo:

Princípio de compreensão

 Duas coisas ou ideias iguais a uma terceira são iguais entre si.

Exemplo 1: A=B; B=C; logo, A=C.

 Duas coisas ou ideias em que uma é idêntica e a outra não é idêntica a uma terceira,
não são idênticas entre si.

Exemplo: A=B; B≠C; logo, A≠C.

Princípio de extensão

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 Tudo o que se afirma ou se nega universalmente do sujeito é afirmado ou negado das


suas partes.

Exemplo: se afirmamos que “todos moçambicanos são humildes”; quer dizer, os de Nampula,
Zambézia, Sofala, etc., e cada um dos moçambicanos é humilde.

1.5.4 Regras do silogismo

Todo o silogismo que pretende ser válido, para além de princípios, tem de se conformar a oito
(8) regras particulares: quatro (4) relativas aos termos e quatro relativas às proposições ou
premissas:

a) Regras dos termos

1ª. Os termos são três: médio, maior e menor. Viola-se esta regra quando se usa um termo
equívoco (com mais de um significado).

Exemplo:

Há animais que têm quatro patas.


Ora, as mesas têm quatro patas.
Logo, as mesas são animais.

2ª. Nenhum termo deve ter maior extensão na conclusão que nas premissas.

Exemplo:
Os africanos são homens
Ora, os russos não são africanos
Logo, os russos não são homens

3ª. O termo médio deve ser tomado, pelo menos, uma vez, universalmente. De contrário seria
tomado em duas extensões diferentes. Portanto, com dois significados diferentes.

Exemplo:

Os homens não são todos altos


Os gigantes são homens

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Os gigantes não são todos homens.

4ª. O termo médio nunca pode entrar na conclusão.


Por exemplo:
Maria é curiosa
Maria é bela
Maria é uma bela curiosa

b) Regras das proposições

5ª. De duas premissas afirmativas, não se pode tirar uma conclusão negativa.

Por exemplo:
Tudo o que respira vive.
Ora, eu respiro.
Logo, eu não vivo

6ª. De duas premissas negativas nada se pode concluir.

Por exemplo:
O António não é o filho de Nilza
O Pedro não é filho da Nilza.
……………………….(?)
Que parentesco existe entre António e Pedro? A pergunta não tem sentido.

7ª. De duas premissas particulares nada se pode concluir. Porque o termo médio não será
tomado nenhuma vez universalmente.

Exemplo:
Há homens que são virtuosos
Há homens que são pecadores
Logo, os pecadores são virtuosos

8ª. A conclusão segue sempre a parte mais fraca. Ao aplicar esta regra temos que ter em
conta que a particular é a mais fraca que a universal, a negativa mais fraca que afirmativa.

Exemplo:

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A virtude é digna de louvor


Alguns homens têm virtude
Alguns homens são dignos de louvor

1.5.5 Figuras e modos do silogismo


1.5.5.1 Figuras do silogismo
As figuras do silogismo são determinadas pelo papel que o termo médio (M) desempenha nas
duas premissas; pode tomar conforme a colocação (ou posição), o lugar de sujeito ou
predicado.

São quatro, as figuras possíveis:

1ª. O termo médio é sujeito da premissa maior e predicado da premissa menor (Sub – Prae).

Por exemplo:

Todo o mamífero é vertebrado (M é P)


O cão é mamífero (S é M)
O cão é vertebrado (S é P)

2ª. O termo médio é predicado das duas premissas (Prae - Prae).

Por exemplo:
Toda a mãe é mulher (P é M)
Joana é mulher (S é M)
Joana é mãe (S é P)

3ª. O termo médio é sujeito nas duas premissas (Sub - Sub).

Por exemplo:
Os morcegos são mamíferos (M é P)
Os morcegos são voadores (M é S)
Alguns voadores são morcegos (S é P)

4ª. O termo médio é predicado na maior e sujeito na menor premissas (Prae – Sub).

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Por exemplo:
Os africanos são homens (P é M)
Os homens são racionais (M é S)
Alguns racionais são africanos (S é P).

1.5.5.2 Modos do silogismo


Entendemos por modo do silogismo as variantes estruturais que apresenta dentro de cada
figura, devido à quantidade e qualidade das respectivas proposições.

Estudamos que combinando a quantidade com a qualidade obtemos quatro tipos de


proposições: A, E, I, O.

Combinando estas letras em grupos possíveis de três proposições, obteríamos 64 combinações


para cada figura. E, englobando os 64 modos possíveis nas quatro figuras obteríamos 256
possíveis combinações. É evidente que a quase totalidade destes modos possíveis são
ilegítimos por violarem as regras do silogismo já referidas.

Assim, os modos legítimos são apenas 19, distribuídos pelas quatro formas.

Para a 1ª figura – BARBARA (AAA), CELARENT (EAE), DARRII (AII), FERIO (EIO) –
quatro (4) modos.

Para a 2ª figura – CESARE (EAE), CAMESTRES (AEE), FESTINO (EIO), BAROCO


(AOO) – quatro (4) modos.

Para a 3ª figura – DARAPTI (AAI), DISAMIS (IAI), DATISI (AII), FELAPTON (EAO),
BOCARDO (OAO), FERISON (EIO) – seis (6) modos.

Para a 4ª figura – BRAMANTIP (AAI), CAMENES (AEE), DIMARIS (IAI), FESAPO


(EAO), FRESISON (EIO) – cinco (5) modos.

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Em suma, existem 19 modos de silogismos válidos, distribuídos nas quatro figuras, que
resultam de várias combinações possíveis dos quatro tipos de proposições (AEIO), sem
infringir qualquer regra do silogismo.

1.5.6 Classificação dos silogismos

Existem dois principais tipos de silogismo: categóricos e hipotéticos. Os silogismo


categóricos dividem-se em regulares e irregulares e, até agora vimos apenas os silogismos
categóricos regulares cuja estrutura apresenta três termos e três proposições.

Silogismos irregulares

Sendo que, normalmente, não seguimos as formas mais perfeitas de raciocínio, aparecem os
silogismos irregulares como resultado da omissão ou ampliação dos elementos que
constituem um silogismo regular. Os principais tipos de silogismos irregulares são: entimema,
epiquerema, polissilogismo e sorites.

Entimema (ou silogismo incompleto) – é um silogismo simplificado pela omissão duma das
premissas, que se subentende facilmente.
Exemplo:
Os homens são mortais
Logo, Pedro é mortal
Epiquerema – é um silogismo em que as premissas exibem uma justificação.
Exemplo:
A ciência é útil, porque ensina ao homem a verdade
A lógica é uma ciência, porque é um conjunto de verdades
Logo, a lógica é útil.

Polissilogismo – é um encadeamento de silogismos em que a conclusão do primeiro é a


premissa maior do segundo; a conclusão deste é a premissa maior do terceiro; e, assim,
sucessivamente.

Exemplo:
Todo mamífero é vertebrado
Todo o carnívoro é mamífero
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Logo, Todo o carnívoro é vertebrado


Todo o felino é carnívoro
Logo, Todo o felino é vertebrado.

Sorites – é o argumento em que quatro (4) ou mais proposições estão de tal modo enlaçados
que o predicado duma é sujeito da seguinte e, na conclusão, aparecem ligados o sujeito da
primeira e o predicado da última.
Exemplo:
A alma humana é imaterial
O imaterial é simples
O simples é indecomponível
O indecomponível é incorruptível
O incorruptível é imortal
Logo, A alma humana é imortal
Silogismos hipotéticos

Nos silogismos hipotéticos não se afirma nem nega nada rotundamente como acontece nos
silogismos categóricos; mas afirma-se ou nega-se sob uma condição ou estabelecendo uma
alternativa. Por isso, a premissa maior de um silogismo hipotético é constituída por duas ou
mais proposições simples cujas ligações são feitas por conectores como: “se…então; …e…;
…ou…”.

Os silogismos hipotéticos podem ser: condicionais, disjuntivos, conjuntivo e dilema.

Silogismo hipotético condicional – atende às relações de consequência entre proposições.


Estabelece uma relação entre o antecedente e o consequente (condição e condicionado).

Exemplo:

Se aquecermos um corpo metálico ele dilata-se


Este corpo metálico não se dilatou
Logo, não foi aquecido.

No silogismo hipotético condicional encontramos duas figuras:

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1ª figura: ponendo – ponens (tradução literal: “ao colocar…coloca-se”). O antecedente


coloca-se na premissa menor, o que leva a que a conclusão afirma consequente.

Exemplo:
Se um animal bebe leite em pequeno é mamífero (premissa maior)
O cão bebe o leite em pequeno (premissa menor)
Logo, o cão é mamífero (conclusão)

2ª figura: tollendo – tollens (à letra: ao excluir…exclui). Nesta figura, a premissa maior


continua a ser uma proposição hipotética, a menor nega a consequente e a conclusão nega o
antecedente.

Exemplo:
Se um animal bebe leite em pequeno é mamífero (premissa maior)
O peixe não é mamífero
Logo, o peixe não bebe o leite em pequeno.

Regras do silogismo hipotético condicional

1ª regra – num silogismo hipotético condicional, a negação ou afirmação da consequente


torna necessário a negação ou afirmação do antecedente. Assim, afirmar ou negar a condição
é afirmar ou negar o condicionado.

2ª regra –negar a consequente significa negar a condição.

Silogismo hipotético disjuntivo – aquele que estabelece uma alternativa entre dois termos ou
mais atributos, mas de tal modo que afirmando um deles, os restantes serão negados em bloco
e negando um ou vários, o outro será afirmado.

Exemplo:
Ou João é do Sporting ou do Benfica
Ora, João é do Sporting

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João não é do Benfica

Este tipo do silogismo tem duas formas ou modos válidos:

Modus ponendo – tollens (ao afirmar, nega). Nesta figura, a premissa maior anuncia uma
disjunção exclusiva. Veja o exemplo anterior.

Modus tollendo – ponens (negando, afirma).

Exemplo:
Ou Helena é nervosa ou é paciente
Ora, Helena não é nervosa
Logo, Helena é paciente.

Silogismo hipotético conjuntivo

Neste tipo de silogismo, a premissa maior não admite que dois termos opostos prediquem
simultaneamente um mesmo sujeito.

Exemplo 1:

Vaquina não pode ser, simultaneamente, professor moçambicano e americano.


Como Vaquina é professor moçambicano, logo, ele não é professor americano.

Exemplo 2:

Muapitão não pode ser preguiçoso e dedicado ao mesmo tempo.

Muapitão não é preguiçoso

Logo, ele é dedicado.

Modus ponendo – tollens (afirmando, nega). Nesta figura, a premissa maior anuncia uma
disjunção exclusiva. Veja o exemplo anterior. Veja o exemplo 1.

Modus tollendo – ponens (negando, afirma). Veja o exemplo 2.

Dilema

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É um argumento formado por uma proposição disjuntiva e duas condicionais que levam, seja
qual for a condição admitida conduz à mesma conclusão. É famosa faca de dois cumes (entre
a espada e a parede). Qualquer seja a opção escolhida, a consequência é sempre a mesma.

Exemplo:

Ou sabes que sabes, ou sabes que não sabes


Se sabes que sabes, sabes alguma coisa
Se sabes que não sabes também sabes alguma coisa
Logo, em qualquer dos casos, sabes.

Regras do dilema

1ª Regra – a disjunção deve ser completa para que o adversário não tenha outra saída.

2ª Regra – a refutação de cada uma das hipóteses deve ser feita validamente para que o
opositor não possa negar as consequências.

3ª Regra – a conclusão deve ser a única que pode ser deduzida, caso contrário, o dilema pode
ser contestado.

1.6 Falácias e paradoxos


1.6.1 Falácias

Falácia é todo raciocínio que tem, embora aparências de verdadeiro, é um raciocínio


incorrecto. E, como o erro pode ser involuntário (pois o homem está sujeito a enganar-se) ou
voluntário (quando há intenção de enganar alguém), as falácias podem-se dividir em:
paralogismos e sofismas.

Paralogismo – quando o homem se engana involuntariamente.

Sofismas – quando há intenção de enganar alguém, isto é, enganar duma forma voluntária.

Assim, em qualquer falácia ocorrem dois elementos essenciais: uma verdade aparente e um
erro oculto.

Importa-nos destacar as diferentes espécies dos sofismas que constituem erros voluntários.

Num raciocínio incorrecto, o erro tanto pode originar-se nas palavras empregadas como na
conexão das ideias. Assim temos:
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a) Sofismas verbais (ou gramaticais)

b) Sofismas lógicos (ou das ideias).

a) Os sofismas verbais mais ocorrentes, cujo erro se encontra na linguagem empregada


são:

 Ambiguidade ou equívoco que é o uso indevido do mesmo termo com diferentes


significações.

Exemplo:
Só o homem é que pensa
Ora, nenhuma mulher é homem
Logo, nenhuma mulher pensa.

 Metáfora – resulta da confusão originada pelo emprego de um termo em sentido


figurado.

As águias romanas conquistaram um grande império


Ora, as águias são aves
Logo, as aves conquistaram um grande império.

 Anfibologia – deriva da ambiguidade sintáctica de uma parte de um argumento.


Ocorre sempre que procuramos sustentar uma conclusão recorrendo a uma
interpretação errada de uma proposição gramaticalmente ambígua.
Todos os homens amam uma mulher
Pertuliano ama Abiba
Logo, todos os homens amam Abiba

 Confusão entre o sentido colectivo (indiviso) e o sentido individual (diviso),


empregando o mesmo termo com idêntico valor.

Os portugueses descobriram muitas terras


Camões e Vieira são portugueses
Logo, Camões e Vieira descobriram muitas terras.

b) Sofismas lógicos – são referentes à conexão das ideias e são os seguintes.

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 Sofisma da falsa analogia – resulta do facto de atendermos apenas às semelhanças


aparentes entre dois objectos chegando a conclusões precipitadas e, realmente, falsas.

A terra é um planeta
A terra é habitada
Logo, os planetas são habitados

 Ignorância de causa – consiste em considerar verdadeira causa uma circunstância


ocasional e de mera coincidência.

Joana partiu um espelho; e, pouco depois, sofreu um pequeno acidente. Joana concluiu que o
acidente foi provocado pelo espelho partido, pois, vidros partidos são prenúncio de desgraça.

 Enumeração imperfeita – quando se chega a conclusões repentinas e precipitadas,


generalizando aquilo que só pode atribuir-se a algumas partes.

Hoje é dia 13 e fui chamado


A chamada correu-me mal
O número 13 é aziago

 Petição de princípio – é o sofisma que apresenta uma conclusão baseada em


premissas que já pressupõem essa mesma conclusão.
A alma humana é imortal
Pedro tem alma
A alma de Pedro é imortal

 Tautologia – quando se apresenta a mesma ideia apenas por palavras diferentes


(explicação aparente), sem esclarecer nada.

O homem é racional porque é dotado de razão.

 Círculo Vicioso ou dialelo – que consiste em provar uma coisa por outra (a primeira
pela segunda e esta pela primeira), sem demonstrar nenhuma delas.

Provar a questão A por B e B por A.

P. – Que é uma ideia clara?

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R. – É aquela que não é obscura.


P. – E que é uma ideia obscura?
R. – É aquela que não é clara.

 Ignorância da questão – consiste num afastamento do assunto da discussão,


apresentando argumentos que levam a uma conclusão que, aparentemente, parece
consequência lógica da questão.
Raimundo comete um crime. Posta a questão em tribunal, os advogados (de acusação e de
defesa) intentam provar: um, a culpa; o outro, a inocência do Raimundo. Entretanto, o juiz
considera as provas insuficientes mas inclina-se pela culpabilidade do réu. Neste momento e
com a rara habilidade toma a palavra o defensor e, desviando o assunto, sugere que o réu seja
declarado inocente e absolvido, quer apelando para erros judiciais anteriores, quer lembrando
o comportamento exemplar do seu constituinte como chefe de família, a estima que todos lhe
dedicam, etc., e consegue que o Raimundo seja declarado inocente.

O argumento sofístico poderia redigir-se do modo seguinte:


Não pode ser criminoso que tem um passado limpo e é estimado por todos
Raimundo tem um passado limpo e é estimado por todos
Logo, Raimundo não é criminoso (= é inocente).

Remédio dos sofismas


O problema reveste dois aspectos:
a) Evitar o seu emprego – para os evitar exige-se uma grande bagagem de cultura que
nos permita ver os erros e remediá-los de acordo com as regras do pensamento
correcto.

b) Refutá-los – exige-se, além da cultura, uma perspicácia sagaz e astuta que nos
permita analisar criteriosamente a linguagem, a matéria e a forma dos sofismas, de
modo a descobrir e a atacar os erros que encerram.

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1.7 Lógica proposicional

Este tipo de lógica, diferentemente da Aristotélica ou clássica que é totalmente formal e


demonstrativa (silogística), é, além de ser formal, sistematicamente simbólica. Trata-se duma
lógica moderna e de inferência proposicional que recorre a uma linguagem simbólica para
traduzir as proposições e as suas relações.

A lógica proposicional é aplicada tendo em conta aos seguintes aspectos:

 As variáveis – as letras do alfabeto que representam qualquer enunciado, por isso, são
designadas por letras enunciativas: p, q, r, s, t p’, q’, r’, s’, etc.

 As conectivas ou proposições lógicas – são o número de cinco: ~, Ʌ, V, → e ↔.

 Os parênteses (curvos ou rectos) e as chavetas – os parênteses e as chavetas


funcionam como sinais de pontuação nas proposições complexas, tal como a vírgula e
os pontos: {, [, (), }, ].

 Os valores lógicos das proposições – tratam-se do verdadeiro e do falso na


qualificação das proposições e são abreviados pelas letras V – verdadeiro (1) e F –
falso (O).

1.7.1 Proposições simples e proposições complexas


As proposições são frases do tipo declarativo às quais se associam os valores lógicos
(verdadeiro ou falso). As proposições podem ser de dois tipos: simples ou atómicos;
complexas ou moleculares.

Simples ou atómicas – quando se trata de proposições que não se podem decompor noutras
proposições e, por isso, o seu valor lógico mede-se unicamente do confronto com os factos de
que anuncia com a realidade. Exemplo: Os moçambicanos são africanos.

Complexas ou moleculares – são proposições decomponíveis noutras proposições


consideradas mais simples.

Exemplo: Lurdes Mutola foi campeã olímpica dos 800m ou cantora e dançarina.

Decompondo, fica:

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Lurdes Mutola foi campeã olímpica dos 800m


Lurdes Mutola foi cantora
Lurdes Mutola foi dançarina
1.7.2 Conectivas lógicas ou operadores lógicos
As conectivas lógicas ou operadores são as operações elementares do cálculo proposicional.
Tais conectivas são o número de cinco e designam-se do seguinte modo:

Operação lógica Expressão verbal Símbolo

Negação Não ~

Conjunção E Ʌ

Disjunção Ou V

Condicional (ou implicação) Se…então… →

Bicondicional (ou equivalência) Se e só se ↔

1.7.3 As tabelas de verdade


Representam as tabelas de verdade, as combinações de todos os valores possíveis das
proposições conectadas. Admitindo-se dois valores de verdade: verdadeiro e falso, são
possíveis quatro casos.

Tomemos como ponto de partida o seguinte exemplo: “Vaquina estuda e Muapitão joga
futebol.”

Casos Proposições simples Proposição composta


possíveis
Vaquina estuda Muapitão joga futebol Vaquina estuda e Muapitão
joga futebol.

1º Caso Verdadeira Verdadeira Verdadeira

2º Caso Verdadeira Falsa Falsa

3º Caso Falsa Verdadeira Falsa

4º Caso Falsa Falsa Falsa

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Os quatro casos são logicamente possíveis Valores de verdade para cada


caso possível

1.7.4 As operações lógicas sobre as proposições

Negação (~) é um operador lógico que, ao ligar-se a uma única proposição, a torna falsa se é
verdadeira e verdadeira se é falsa. A negação de uma proposição P, representa-se por: ~P. A
proposição ~P só é verdadeira se a proposição P for falsa.

P ~P

V F

F V

Conjunção (Ʌ) traduz a partícula “e” da linguagem natural e desempenha do mesmo modo a
sua função corrente: ligar copulativamente duas expressões. Simbolicamente, representa-se da
seguinte forma: P e Q será P Ʌ Q. A proposição composta copulativamente será verdadeira se
as duas proposições simples envolvidas forem verdadeiras.

P Q PɅQ

V V V

V F F

F V F

F F F

Disjunção (V), corresponde à partícula “ou” da linguagem corrente e compete-lhe, por isso,
associar duas expressões (denominadas disjuntos) através da relação “ou…ou…”. Se for P e
Q, duas proposições, a sua disjunção será representada por P V Q.
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Essa expressão pode ser verdadeira ainda que uma das proposições seja falsa. Mas pode sê-lo
também se ambas forem verdadeiras, porque a condição da verdade da disjunção é que n uma
ou outra das proposições seja verdadeira.

P Q PVQ

V V V

V F V

F V V

F F F

Condicional ou Implicação (→), converte-se em linguagem natural na relação “se…então”.


A proposição encetada por “se” chama-se antecedente e a proposição encetada por “então”
chama-se consequente. Para a proposição P e Q, a fórmula será: P→Q.

Exemplo:

P = Sócrates é homem

Q = Sócrates é animal.

A relação de implicação P→Q será:

Se Sócrates é homem, então é animal.

Nesse caso, a implicação é verdadeira quando ambas as proposições forem verdadeiras e


também se ambas as proposições forem falsas. A implicação só é falsa caso o antecedente seja
verdadeiro.

P Q P→Q

V V V

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V F F

F V V

F F V

Equivalência (↔), é conectiva bicondicional do cálculo proposicional. Corresponde com a


conjunção de duas implicações e com o antecedente e consequente permutados, isto é, P↔Q
e Q↔P. Nesta medida pode dizer-se que duas proposições se equivalem quando se implicam
uma a outra.

Em linguagem natural, expressa-se a equivalência através da expressão: “se e só se”. Assim,


se forem dadas as proposições fica:

P = Sócrates é homem.

Q = Sócrates é racional.

A equivalência

P↔Q

Assim, ler-se-á: Sócrates é homem se e só se Sócrates é racional.

Para que a equivalência seja verdadeira é, evidentemente necessário que as proposições sejam
ambas verdadeiras ou ambas falsas.

P Q P↔Q

V V V

V F F

F V F

F F V

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UNIDADE II – FILOSOFIA POLÍTICA

2.1 Noções básicas

A palavra politica é de origem grega: polis, que quer dizer cidade. E, politica significa,
etimologicamente: arte de administrar (governar) a cidade. Usou a palavra política para
designar ao estudo das coisas que se referem ao Estado (república).

Para Aristóteles, a política é a ciência do governo (a arte de governar), ou seja, o tratado sobre
a natureza, funções e divisão do Estado e sobre as várias formas de governo.

A política é uma actividade imprescindível na vida humana e está ligada ao poder sobre os
outros homens. Para Hobbes, o poder são os meios adequados à obtenção de qualquer
vantagem e para Russell, o poder é conjunto de meios que permitem alcançar os efeitos
desejados.

Norberto Bobbio distingue três formas de poder:

Poder económico – assenta na posse de bens. Poder ideológico – baseia-se na influência que
os detentores do poder exercem sobre os demais, determinando-lhes o comportamento
(sacerdotes, pastores, líderes, etc.). Poder político – assenta na coerção e na força. É a
faculdade que um povo possui de, por autoridade própria, instituir órgãos que exerçam a
governação de um território.

Ciência política

A ciência política consiste nos estudos que se realizam sobre a análise política. Assim, a
ciência política é o estudo sistemático do facto político relacionado com o acesso, a
titularidade, o exercício e o controlo do poder político.

2.1.1 Política e Filosofia política

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A Filosofia política ocupa-se dos problemas relacionados com a origem do Estado, a sua
organização, a sua forma ideal, a sua função e o seu fim específico, a natureza da acção
política e as suas relações com a moral, a relação entre o Estado e o indivíduo, entre o Estado
e a Igreja e entre o Estado e os partidos políticos.

A Filosofia política se alimenta das práticas políticas, ou seja, dos acontecimentos políticos
levados a cabo por políticos e por aqueles que pensam o facto político, daí a necessidade de
haver filósofos políticos em todas as fases do desenvolvimento da sociedade.

A Filosofia procurar compreender e esclarecer os conceitos de justiça, bem comum de Estado,


tolerância, sociedade e até o próprio conceito de política. E, o filósofo político é aquele que
analisa criticamente a sociedade (identifica os aspectos positivos e negativos). É por isso que,
as decisões políticas deveriam ser sempre objecto de apreciação filosófica antes de serem
implementadas.

Mas, um dado a considerar é de que, em algumas sociedades, o filósofo não é bem-vindo


pelos governantes, pois é considerado como um perturbador da sociedade.

2.1.2 Ética política

A acção política deve basear-se em princípios morais, ou melhor na ética. Pois, é praticamente
impossível separar o problema da constituição da comunidade política da determinação de
certos fins éticos, que se caracteriza pela busca dos ideiais de justiça, de felicidade, etc.,
sempre considerados como um bem ao qual todos aspiram. Portanto, é em função de um
determinado bem que os homens se decidem a constituir uma comunidade política.

2.1.3 Estado/Nação

Considera-se sociedade ao estado dos homens ou dos animais que vivem sob a acção de leis
comuns; reunião de pessoas unidas pela mesma origem e pelas mesmas leis.

O Estado é um organismo político-administrativo que ocupa um território determinado; é


dirigido por um governo próprio e constitui-se como pessoa jurídica de direito público,
internacionalmente reconhecida. Compreende: população, território, poder soberano e
reconhecimento internacional.

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Governo é o conjunto de pessoas que detêm cargos oficiais e exercem autoridade em nome do
Estado e que lhe foi conferida pelo povo, no caso comum da democracia; é a acção dirigida ao
Estado. E o governante é qualquer funcionário público que assume cargos na direcção, que
dirige uma instituição pública.

Nação é a comunidade natural de homens que, reunidos num mesmo território, possuem em
comum a origem, os costumes e a língua e estão conscientes desses factos. Os elementos
essenciais para a constituição da nacionalidade são: tradição e cultura comuns, origem e raça
(factores objectivos) e a consciência do grupo humano de que estes elementos comunitários
estão presentes (factor subjectivo).

Constituição é o conjunto de leis básicas que regulam o relacionamento de todos os elementos


pertencentes a um mesmo Estado (indivíduos, instituições, relações de poder, etc.). A
constituição tem a função de traçar os princípios ideológicos da organização interna. A
mudança da constituição implica a mudança do tipo de Estado.

2.1.4 Participação política dos cidadãos

A questão política não é opcional, mas uma necessidade que se impõe ao Homem, enquanto
membro de uma comunidade organizada que se rege por leis comuns e assenta em princípios
éticos valorizados pelos seus membros.

Neste sentido, para Pasquino, “a participação política é o conjunto de actos e de atitudes que
aspiram a influenciar de forma mais ou menos directa e mais ou menos legal as decisões dos
detentores do poder no sistema político com o propósito de manter ou modificar a estrutura do
sistema de interesses dominante.”

Sendo que o problema político diz respeito a toda a sociedade, o cidadão que compõe a
sociedade tende participar nela como algo que lhe diz respeito; contribuir em ideias nas
decisões, participar em eventos de interesse do Estado. Exemplo: exercendo o direito de voto,
participar nos debates públicos, etc.

Uma outra possível forma de participação política é a formação e participação cívica através
de partidos políticos. O partido político é um grupo de indivíduos unidos por ideiais e
actividades comuns, com vista a consecução de certos fins políticos ou à eleição dos

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 33


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funcionários para o Estado, quer se trate de órgãos do governo central ou para autarquias
locais.

Em Moçambique, a participação dos cidadãos na governação local é regulada pela lei


n°8/2003 de 19 de Maio, chama da lei dos órgãos locais do Estado (LOLE).

Em suma, a política é um instrumento de solução dos problemas humanos quer sejam


políticos, sociais, educacionais, laborais, económicos, etc.

Em regimes democráticos, os partidos políticos sobem ao poder através de eleições; assim, a


eleição é a escolha por meio de sufrágio de pessoas para ocupar um cargo ou desempenhar
certas funções.

2.1.5 Direitos humanos e justiça social

Os direitos humanos são o conjunto de princípios essenciais à existência humana condigna


que apelam a um reconhecimento mútuo entre homens enquanto seres de direito. Eles são
inalienáveis, como o direito à vida, saúde, inviolabilidade física e psicológica, etc.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adoptada pela ONU a 10 de Dezembro d
1948.

Os Direitos humanos, segundo a doutrina do Direito natural, inatos; eles não são uma dádiva
de qualquer organização ou instituição, pois existem muito antes do Homem estar ligado aos
conceitos: sociedade, economia, Estado e religião.

Características dos direitos humanos

1) São universais: não dizem respeito a este ou aquele homem, mas sim a todos os
homens.

2) São individuais: o indivíduo, o homem livre é o seu portador e não o grupo,


associações ou cooperações de sociedade estratificada.

3) São anteriores ao Estado: resultam da natureza humana, o Estado só os pode


reconhecer e não outorgá-los. A constituição declara-os apenas mas não os cria.

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 34


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4) Quanto à origem e carácter individuais, são um direito de reivindicação durante o


Estado, pois exige do Estado o respeito de uma esfera de liberdade pessoal por ele
reconhecida e declarada.

Justiça social
A justiça social é vinculada ao conceito do bem comum pois a sua definição depende da
concepção político-económica de cada autor. Assim, a justiça social está ligada aos direitos
humanos e diz respeito à igualdade entre todos os cidadãos e ao direito de cada um ser
respeitado nos seus direitos.

Segundo John Rawls, a justiça é a primeira virtude das instituições sociais, por mais eficazes e
bem organizadas que sejam, as instituições e as leis devem ser reformadas e abolidas se forem
injustas. Por isso, o objecto da justiça social é entendida como equidade, que diz respeito à
estrutura de base como a constituição, as principais estruturas económicas e a maneira como
essas representam os direitos, os deveres fundamentais e como determinam a repartição dos
benefícios extraídos da cooperação social.

2.1.6 Estado de Direito e suas funções


O Estado de Direito diz respeito àquele onde os membros dessa sociedade estão todos
submetidos à mesma lei, isto é, onde a lei prevalece sobre todos os indivíduos. Num Estado de
Direito há respeito sobre a hierarquia das normas, separação de poderes e pelos direitos
fundamentais. Ele é garantido pela divisão de poderes. No Estado de Direito ninguém está
acima da lei; a lei reina sobre todos os indivíduos.

Funções do Estado

As funções do Estado são analisadas a partir de duas perspectivas fundamentais: funções


jurídicas e funções não jurídicas. Geralmente, são consideradas três funções do Estado:
segurança, justiça e o bem-estar.

2.2. A Filosofia política na história

Os debates filosóficos sobre a política não são recentes, eles acompanharam o


desenvolvimento da sociedade e das suas preocupações fundamentais. Os filósofos

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preocuparam-se, em seu contexto, em reflectir sobre os assuntos políticos e sobre a melhor


forma de organização social.

2.2.1 A Filosofia política na antiguidade

A Filosofia antiga, principalmente na vertente antropológica, é marcada por debates


relacionados ao homem e a sociedade. E, foram os sofistas que inauguraram assuntos
relacionados ao homem.

Os sofistas
Os sofistas foram os primeiros a roda tradicional de pensamento dos pré-socráticos (a procura
do arché na natureza) e concentraram-se no Homem e nas questões da moral e da política.
Destacam-se como famosos sofistas: Protágoras, Górgias, Trasímaco, Pródico e Hipódamo.

Na política elaboraram e legitimaram o ideal democrático e interessaram-se pela virtude do


cidadão fundamentada na justiça. Para isso, era necessária a educação dos cidadãos da polis
superando os privilégios da antiga educação elitista.

Outro grande contributo dos sofistas foi a sistematização do ensino: gramática, retórica e
dialéctica vinculando os jovens para a participação no debate público.

Platão (428 – 347 a.C.)


O seu pensamento político pode ser encontrado, fundamental, nas suas obras: A República e O
Político e as Leis.

Platão preocupou-se em imaginar uma cidade ideal na qual reinaria um bom governo e um
regime justo. Pois, o bom governo, segundo Platão, depende da virtude dos bons governantes.

Para Platão, a Filosofia Política não aceita pacificamente o Estado ou a Política como dados
absolutos e inquestionáveis: critica, interpreta, pensa e compreende essas realidades. A
Filosofia Política é um exercício da liberdade.

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 36


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Por isso, a política, deve ter a Filosofia como seu instrumento e fonte de inspiração, pois a
Filosofia é a via segura de acesso aos valores de justiça e de bem.

Origem do Estado
Platão advoga que a origem do Estado é convencional, ou seja, está no facto de os homens
não se bastarem a si mesmos. Ninguém pode ocupar ao mesmo tempo diversas profissões. Daí
a necessidade de cada um associar-se aos outros, cada um com tarefas sociais específicas
(especialização). E, de facto, ninguém pode ser, ao mesmo tempo, professor, médico,
mecânico, técnico, etc.

Comunismo/idealismo

O ideal de Platão era de ver as crianças educadas pelo Estado e orientadas segundo as suas
aptidões. Assim, deviam receber a mesma educação do Estado até aos vinte anos. E, de
acordo com a orientação das suas almas: os de bronze deviam dedicar-se à agricultura, ao
artesanato e ao comércio, por terem sensibilidade grosseira. Os outros estudariam mais dez
anos para o segundo corte familiar. Os que tivessem a alma de prata se dedicariam à defesa da
cidade. E, os da alma de ouro, instruídos na arte de pensar e dialogar governariam por
conhecerem o saber mais alto que é a Filosofia (aos 50 anos) com a principal virtude que é a
justiça.

Classes sociais

Para Platão, a sociedade organiza-se em três classes: trabalhadores (camponeses, artesãos e


commerciantes) – garantem a subsistência da cidade; soldados (guardas) – a defesa da cidade;
e, magistrados (governantes) – dirigir a cidade, mantendo-a coesa.

Formas do governo
A melhor forma de governo, para Platão, é a monarquia, sob o comando de um filósofo – rei
que governa com plena justiça e preserva a unidade. A segunda opção é a aristocracia
composta por filósofos e guerreiros; mas este tipo de governo, facilmente de degenera
transformando em timocracia, governo de ambiciosos de poder e de honra.

A oligarquia é a fase mais corrompida da aristocracia, na qual reina a avidez de riqueza. Aos
olhos de Platão, a democracia é a pior forma de governo, pois, estando o poder nas mãos do
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povo, e sendo este incapaz de conhecer a ciência política, facilita, através da demagogia, o
aparecimento da tirania – o governo exercido por um só homem, através da força.

Aristóteles (384 – 322 a. C.)


Discípulo de Platão e crítico de seu mestre sobre o idealismo político. Ele defende que a
cidade é constituída por indivíduos naturalmente diferentes, sendo impossível uma unidade
absoluta e, o poder não deve ser limitado apenas aos filósofos.

Origem do Estado
Para Aristóteles, a origem do Estado é natural e não convencional. Pois, o homem é, por
natureza, um animal político. O homem se distingue dos outros animais pelo facto de estar
integrado numa polis que resulta duma civilização da espécie humana (família, tribo, clã,
aldeia e cidade).

Neste sentido, o objectivo do Estado é de proporcionar felicidade aos cidadãos, pois, o escopo
da vida humana é a felicidade e, por isso, o escopo do Estado deve ser a consecução do bem
comum.

Formas de governo
Aristóteles concebeu três formas de organização política (constituições) do Estado que se
apresentam duas faces: bons e corruptos.

Governos rectos (interesses comuns) Governos corruptos (interesses particulares)

Monarquia – governo de um só homem Tirania (governo de um só homem que se move


(melhor forma do governo: preserva a com interesse próprio)
unidade do governo)

Aristocracia – governo de poucos homens Oligarquia – o governo dos ricos (preocupam-se


(um grupo de cidadãos virtuosos, os pelo bem económico próprio)
melhores que cuidam do bem de todos)

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República (politia) – governo de muitos Democracia – a forma corrupta da república


homens (constituído pelo povo, que cuida (quando o povo toma o poder e suprima todas as
do bem de toda a pólis) diferenças sociais em nome da igualdade)

2.2.2 A Filosofia política na idade média

Santo Agostinho (354 – 430 d.C.)


O pensamento político de Santo Agostinho encontra-se na sua obra: a Cidade de Deus. Na
qual teoriza que o mundo divide-se em duas cidades: a Cidade de Deus e a Cidade terrena.
Enquanto a igreja é a encarnação da cidade de Deus, o Estado é a encarnação da Cidade
terrena, manchada pelo pecado original. O Homem precisa do Estado para obrigar os
membros da comunidade ao cumprimento da lei.

Santo Agostinho defende a existência da autoridade política para que se mantenha a paz, a
justiça, a ordem e a segurança. A autoridade política é uma dádiva divina aos seres humanos,
daí que os governantes devem ser respeitados e distinguidos entre os justos e injustos.

São Tomás de Aquino


O pensamento político de São Tomás de Acnngr4uuquino está espelhado na sua obra: De
Regimine Principum (Do Governo dos Príncipes). Nesta obra reflecte sobre a origem e
natureza do Estado, as várias formas de governo e as relações entre o Estado e a Igreja.

Para Aquino, o Estado nasce da natureza social do Homem e não das limitações do indivíduo.
O Estado é uma sociedade porque consiste na reunião de muitos indivíduos que pretendem
fazer alguma coisa em comum e, é uma sociedade perfeita porque tem um fim próprio: o bem
comum e os meios suficientes para o realizar.

O Estado tem os meios suficientes para proporcionar um modo de vida que permita a todos os
cidadãos ter aquilo que necessitam para viver como homens.

A melhor forma de governo para Aquino é a monarquia constitucional. E, a Igreja é uma


sociedade mais perfeita, devendo, por isso, o Estado subordinar-se a ela, em tudo o que
concerne ao fim sobrenatural do homem.

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2.2.3 A Filosofia política na idade moderna


A Idade Moderna é colocada no início do século XVI aos fins do século XVII e teve três
características fundamentais: a libertação do Homem em relação às explicações teológicas da
realidade, através da razão; a libertação do Homem dos regimes ditatoriais, através da
democracia e a libertação do Homem da dependência da Natureza, através da técnica.
Portanto, os modelos do pensamento moderno são a razão, a técnica e a democracia. Este
ideal de pensamento justifica a riqueza de acontecimentos políticos em vários países do
mundo.

Nicolau Maquiavel

Com o fim do império cristão e com o enfraquecimento do poder politico do papado,


surgem, fora da Itália, as repúblicas e as senhorias. Eram regimes onde se respirava o ar de
liberdade e onde se procurava, acima de tudo, o bem-estar material dos cidadãos, em
detrimento do bem-estar espiritual.

Em o Príncipe, Maquiavel (1469 – 1527) – filósofo florentino (Itália), não se propondo em


descrever um estado ideal nem apresentar o governante como um pio administrador da
República; descreve o resultado da experiência das coisas modernas e da contínua lição nas
coisas antigas, abrindo uma política mais activa e circunstancial: governar é uma arte.

Maquiavel parte do pressuposto de que os homens, em geral, seguem cegamente as suas


paixões, esquecendo-se mais depressa da morte do pai do que da perda do matrimónio. As
paixões que se colocam em primeiro lugar são, além da cobiça e do desejo de prazeres, a
preguiça, a vileza, a duplicidade e a insolência. Por isso, torna-se imperioso que o governante
da república prepare as leis segundo o pressuposto de que todos os homens são réus e que
procedem com malícia em todas as oportunidades que tiverem.

O príncipe deve impor-se mais pelo temor do que pelo amor, para alcançar os seus
objectivos: preservar a sua vida e a do Estado. Porém, Maquiavel adverte que o príncipe não
deve esquecer a sua reputação. O político não deve confiar no aspecto positivo do homem
mas sim o seu aspecto negativo e agir em consequência disso. Nisto, não terá receio em ser
temido e a tomar as medidas necessárias para tornar-se temível. Mas o ideal para um príncipe

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 40


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seria o de ser ao mesmo tempo amado e temido, coisas muito difíceis de conciliar, no
entanto, o príncipe deve fazer a escolha mais funcional para o governo eficaz do estado.

Os filósofos ingleses

No século XVII, registavam-se, em Inglaterra, lutas acesas entre o rei e o parlamento, com o
predomínio ora de um, ora de outro, acabando por se impor definitivamente o parlamento, no
fim do século. Por isso, Hobbes, Locke, Berkeley e, posteriormente Hume, procuraram dar o
seu contributo para a política do seu país.

Assim, com tendência muito em voca da secularização do pensamento político, os filósofos


do século XVII estavam preocupados em justificar racionalmente e legitimar o poder do
Estado sem recorrer à intervenção divina ou a qualquer explicação religiosa. Daí que
começaram por se preocupar pela origem do Estado.

O Pensamento Político de Thomas Hobbes

Thomas Hobbes, filósofo inglês nascido em 5 de Abril de 1588, morto em 4 de Dezembro de


1679 que nas suas obras políticas De Cive e Leviatã (ou a matéria, a forma e o poder de um
estado eclesiástico e civil publicada em 1651) desenvolve uma teoria contratualista sobre a
Teoria do Estado de natureza e Pacto social. Para ele, o Homem conheceu dois estados: o
primeiro é natural e o segundo contratual.

O Estado de natureza é caracterizado pela expressão sem regras da natureza humana cujas
paixões fundamentais são o apetite de domínio sobre o seu semelhante e o medo correlativo
da morte violenta infligida por outrem. Todos estão em competição, cheios de desconfiança e
medo porque o direito de natureza, anterior das leis, é a liberdade que cada um tem de usar a
sua força para se conservar a sí mesmo, direito ilimitado que se estende a todas as coisas, até
ao corpo do outro, à sua integridade e à sua vida, daí a: guerra de todos contra todos (bellum
omnium contra omnes – homo homini lupus).

O medo e o desejo de paz levaram o homem a fundar um estado social e a autoridade política,
abdicando dos seus direitos em favor do soberano, que, por sua vez, terá um poder absoluto.
No contrato social, os Homens renunciam alguns dos seus direitos, colocando-os nas mão de

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um só homem (Soberano). Esse contrato, uma vez estabelecido, não poderá ser modificado
nem desfeito porque seria preciso o consentimento de todos e isso é irrealizável. Cabe ao
soberano julgar sobre o bem e o mal, sobre o justo e o injusto; ninguém pode discordar, pois
tudo o que o soberano faz é resultado do investimento da autoridade consentida pelo súbtido.

John Locke

As contribuições políticas de John Locke encontram-se na obra: Dois Tratados sobre o


Governo, onde postula a sua política e como Hobbes distingue dois estados em que o
Homem terá estado: o estado de natureza e o estado contratual.

Para Locke, no estado de natureza os homens são livres, iguais e independentes e não um
estado de guerra de todos contra todos. No estado natural cada um é juíz em causa própria.
Pela liberdade natural do Homem, ele não pode ser expulso da sua propriedade e ser
submetido ao poder político de outrem sem dar o seu consentimento.

A renúncia à liberdade natural da pessoa acontece quando as pessoas concordam em juntar-


se e unir-se em comunidade para viver com segurança, conforto e paz umas com as outras.
Portanto, quem abandona o estado de natureza e entra na comunidade abandona todo o poder
necessário aos fins que ditaram a reunião em sociedade, à maioria da comunidade. O Estado
não deve interdir mas sim garantir e tutelar o livre exercício da propriedade, da palavra e da
iniciativa económica.

Charles de Montesquieu (1689 – 1755)

Filósofo enciclopédico e pai do constitucionalismo liberal moderno, é autor da obra: L’Esprit


de Lois (Espírito das Leis) de 1748. Nesta obra pretende descobrir as leis naturais da vida
social. Para ele, as leis são relações indispensáveis emanadas da natureza das coisas.
Distingue entre leis de natureza (igualdade de todos os seres inferiores, procura de
alimentação, encanto entre seres de sexos diferentes e desejo de viver em sociedade) das leis
positivas que surgem da organização e convenção humanas, elaboradas pelo homem.

Montesquieu definiu como tipos sociológicos fundamentais do Estado: a democracia, a


monarquia e o despotismo. Mas o grande mérito foi de ter desenvolvido a teoria de separação

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de poderes em que advoga a separação dos poderes legislativo, executivo e judicial, com o
fim de estabelecer condições institucionais de liberdade política através de uma equilibrada
divisão de funções entre os órgãos do Estado (parlamento, governo e tribunais).

O poder legislativo tem a função de criar as leis (Parlamento); o poder executivo tem a
função de implementar as leis e de as fazer cumprir (Governo) e o poder judicial serve para
julgar aqueles que violam a lei (Tribunais). Cada tipo de poder deve actuar plenamente.

Jean Jacques Rousseau

Jean-Jacques Rousseau foi escritor e filósofo genebrence (Suíça) de língua francesa (1712-
1778). Em 1741 instala-se em Paris e aí conhece Diderot. Em 1750, o seu discurso sobre as
ciências e as artes tras-lhe uma notoriedade de escândalos e os seus escritores ulteriores, onde
continua a atacar a sociedade do seu tempo.

Rousseau começa a sua reflexão política partindo da hipótese de o Homem se ter encontrado
num estado de natureza e num outro estado contratual, na sua obra política: o Contrato Social.

No contrato social, Rousseau desenvolve a sua teoria sobre a origem e a constituição do


estado. Ele imagina um primeiro estado da humanidade que se poderia chamar estado de
Inocêncio, no qual não haveria nenhum dos abusos que se pode observar em nossa sociedade.
Os homens foram induzidos a sair desta condição feliz pelo desejo, pela necessidade e pelo
temor. Por isso é necessário um contrato verdadeiro, legítimo, em que o povo está reunido sob
uma só vontade.

O contrato social, produz os seguintes efeitos: o indivíduo já não é simples homem, mas
cidadão; ele renuncia os direitos pessoais em favor da comunidade e já não assume como
norma o instinto, mas a lei.

Com a entrada em vigor do contrato social, as acções adquirem uma moralidade que não tinha
antes: “somente então a voz do dever sucede ao impulso físico, o direito sucede ao apetite, e o
homem que até agora tomava em consideração somente a si mesmo, se vê forçado a agir em
conformidade com outros princípios e a consultar a razão antes de ouvir as próprias
tendências.

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A obediência à lei não é obediência a uma vontade estranha, mas a uma vontade que o próprio
indivíduo constitui: o cidadão é legislador e súbtido ao mesmo tempo. Sendo o povo a única
fonte do direito (no contrato social faz-se a renúncia ao uso de alguns direitos mas não aos
direitos como tais).

Os governantes não gozam de alguma autoridade definitiva sobre ele: ele permanece o único
verdadeiro soberano. Eles não são donos do povo, mas seus funcionários, e o povo pode
nomeá-los e destituí-los.

2.2.4 Filosofia política na época contemporânea

Hegel

A Filosofia do Estado de Hegel resume-se à subordinação do indivíduo ao Estado, no qual


este se dissolve em nome de uma ordem suprema. Assim, o indivíduo, no estado, é um
simples objecto e não o sujeito do seu destino. A sua vontade é sufocada pela vontade do
Estado e o indivíduo perde a sua liberdade.

John Rawls: a Justiça distributiva e o liberalismo político

Filósofo norte-americano, o seu pensamento político encontra-se nas obras: Uma Teoria de
Justiça, de 1971, e O Liberalismo Político.

Para Rawls, a justiça é a estrutura de base da sociedade e a primeira virtude das instituições
sociais. Esta concretiza-se na efectivação das liberdades individuais e na sua não restrição
para o benefício do outrem. Uma sociedade justa, defende Rawls, deve fundar-se na igualdade
de direitos.

A justiça deve ser encarada como a capacidade concedida à pessoa para escolher os seus
próprios fins. A justiça diz respeito a uma estrutura de base que congrega as instituições
sociais mais importantes, a constituição, as principais estruturas económicas, bem como a
maneira através da qual estas representam os direitos e os deveres fundamentais e determinam
a repartição dos benefícios extraídos da cooperação social.

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Devidas as desigualdades na posição social, a justiça deve corrigir essas desigualdades.


Assim, ninguém efectue escolhas em função da sua desigualdade; a justiça é equidade. A
diferença não pode prejudicar os desfavorecidos. Por isso o Estado deve dividir-se em quatro
departamentos: departamento das atribuições com a função de velar pela manutenção de um
sistema de preços e impedir a formação de posições dominantes excessivas no mercado;
departamento da estabilização, com objectivo de proporcionar pleno emprego; departamento
das transferências sociais, com a função de velar pelas necessidades sociais e intervir para
assegurar o mínimo social e o departamento para a repartição, com o papel de preservar uma
certa justiça graças à fiscalização e aos ajustamentos necessários do direito de propriedade.

Na sua obra o Liberalismo Político, reconhece que a justiça como equidade é um projecto
irrealista e defende que devem-se erguer instituições políticas liberais a partir do substrato
comum das ideias aceitáveis e aceites pela comunidade pública.

Karl Popper (1902 – 1994)

Filósofo Australiano, defende uma sociedade aberta que se baseia no exercício crítico da
razão humana, como sociedade que não apenas tolera como também estimula no seu interior e
por meio de instituições democráticas a liberdade dos indivíduos e dos grupos, tendo em vista
a solução dos problemas sociais, ou seja, as reformas contínuas.

Nesta sociedade aberta, os governados têm a possibilidade efectiva de criticar os seus


governantes e de os substituir sem derramamento de sangue e sem que isso signifique que o
democrata deva aceitar a ascensão do totalitário ao poder. Popper admite a possibilidade da
revolução violenta, a qual só é justificada se for derrubar um tirano.

2.3 Formas de sistemas políticos

Sistema político é a maneira como uma comunidade política se estrutura e exerce o poder
político. A estrutura do poder da comunidade política é feita de duas formas: como regime
político e como sistema de governo.

2.3.1 Regime político

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São as relações que se estabelecem entre o indivíduo e a sociedade política, cuja ideologia o
poder político tem a missão de implementar no âmbito jurídico.

O pensamento político antigo oponha a monarquia (governo de um só homem) à república


(governo de um colégio ou assembleia). Mas, actualmente a distinção entre estes governos
baseia-se no modo como é designado o chefe do Estado: enquanto a monarquia é um regime
político em que a designação do chefe de Estado se faz por herança; a república é o regime
político em que a designação do chefe do Estado se faz por formas diversas, por eleição
directa dos cidadãos ou pelos seus representantes, por golpe de Estado, por legislação, etc,
mas não por herança.

Classificação dos regimes políticos

Os regimes políticos classificam-se em ditatoriais e democráticos:

a) Um regime político é ditatorial quando há uma ideologia exclusiva ou liderança, há


um aparelho para impor a ideologia, não há efectiva garantia dos direitos pessoais dos
cidadãos, não existe livre participação na designação dos governantes e não existe um
controlo do exercício dos governantes.

O regime ditatorial pode ser autoritário quando o poder político exerce um certo controlo
sobre a sociedade civil. E, pode ser totalitário quando o controlo do poder político subjuga a
sociedade.

b) O regime é democrático quando não existe uma ideologia dominante ou liderança,


não existe um aparelho para impor a regra, há efectiva garantia dos direitos individuais
dos cidadãos, existe livre participação na designação dos governantes e existe um
controlo do exercício dos governantes.

2.3.2 Os sistemas de governo

É a titularidade e a estruturação do poder político, com a finalidade de determinar os seus


titulares e os órgãos estabelecidos para o seu exercício.

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Para a análise de um sistema de governo, deve-se ter em conta a separação dos poderes, a
dependência, a independência ou a interdependência dos órgãos e a responsabilidade política
de um órgão perante o outro.

Classificação dos sistemas de governo

1. Sistema de governo ditatorial – o poder político é detido por uma pessoa ou um


conjunto de pessoas com direito próprio e sem participação dos governados. Este, é
monocrático quando é exercido por um órgão singular e autocrático, quando o poder é
exercido por um grupo ou partido político (órgão colegial).

2. Sistema de governo democrático – o exercício do poder político advém da


participação dos governados. Pode ser directo, quando a assembleia-geral dos
cidadãos exerce integralmente as suas funções; democrático semi-directo, em que a
constituição prevê a existência de órgãos representativos de soberania popular através
de um referendo e democrático representativo, quando o poder político pertence à
colectividade mas regido por um órgão que actua em nome dele.

2.4 Filosofia política em África

2.4.1 Génese dos nacionalismos


Há uma ligação directa da filosofia política africana com o pan-aficanismo que, para além de
lutar pelo reconhecimento dos negros no mundo, com Du Bois, traçou linhas para uma
Filosofia política africana. A Filosofia política africana tem como objectivo a libertação física
e psíquica do jugo colonial do continente africano.

Desde o 5º Congresso Pan-Africano, as principais figuras africanas que se esforçaram por


lançar as bases da política dos Estados africanos são: Du Bois e Nkrumah. Enquanto Kwame
Nkrumah defendia a independência imediata dos Estados africanos; Léopold Sedar Senghor
acreditava que uma independência gradual dos Estados seria ideal. Mas a ideologia adoptada
pelos Estados africanos foi o socialismo, que como defendia Nkrumah, era conforme às
tradições socioculturais africanas e o consciencismo que pretendia assegurar o
desenvolvimento de cada individuo.

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 47


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Aliaram-se ao socialismo de Nkrumah outros políticos como Senghor, Luís Cabral, Júlio
Nyerere e Agostinho Neto; estes deram origem ao socialismo africano. Para Senghor,
defendendo o socialismo africano, defende que a alma negra é essencialmente colectiva e
solidária, por isso, a África, é por natureza do seu povo, socialista.

Mas o grande mérito de Nkrumah foi de conceber a unidade africana que transformaria o
continente africano num só Estado banindo as fronteiras traçadas arbitrariamente em Berlim,
pois os Estados africanos considerados individualmente não eram suficientemente fortes para
competirem com as grandes potências do ocidente.

Ena década de 1960 nasceram dois grupos: o de Monróvia (Califórnia, EUA) que defendia a
criação dos Estados Unidos da África e o de Casablanca (Marrocos) que defendia a criação da
nações e fundou a OUA (Organização da Unidade Africana) a 25 de Maio de 1963 em Addis
Abeba (Etiópia), com os seguintes objectivos: promover a unidade e a solidariedade entre os
Estados Africanos; coordenar e intensificar a cooperação entre os Estados africanos; defender
a soberania, integridade territorial e independência dos Estados; coordenar e harmonizar as
políticas dos países-membros, etc.

2.4.2 Pan-africanismo versus negritude

Estes dois movimentos desenvolvidos por estudantes e académicos africanos residentes em


Inglaterra e em França permitiram a difusão as mensagens de libertação dos africanos. O
objectivo era comum: lutar pela liberdade.

Enquanto o Pan-africanismo lutava pela emancipação política de todos os africanos; a


negritude lutava pela unidade dos negros sob o ponto de vista cultural.

2.4.3 Renascimento africano

Mesmo depois da libertação dos africanos da escravatura, ainda há, em alguns africanos
complexos de inferioridades a outros povos. A grande dificuldade que se manteve era: como
dizer ao africano, que nunca tinha sido valorizado, que tinha efectivamente valor, que ele era
igual ao seu colonizador, que tinha dignidade, que ser africano não era uma maldição, ect.

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 48


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Daí a necessidade de desenvolver uma ideologia do renascimento africano para o africano


sentir-se um homem igual aos outros. Um tornar-se a nascer psicologicamente para recuperar
a auto-estima extirpada pelos colonizadores.

A integração político-regional na União África

A União Africana pretendia dar continuação aos objectivos da OUA. Um dos objectivos era a
NEPAD (Nova Parceria para o Desenvolvimento da África), pôr em prática a visão Pan-
africana dos líderes africanos para promover o desenvolvimento sustentável da África.

Assim, a integração regional da África só seria possível se houvesse estabilidade política,


permitindo a criação de instituições democráticas e a promoção do desenvolvimento. Para a
NEPD, as condições necessárias para o desenvolvimento de África seria: a paz, a segurança, a
democracia e a boa governação política; a boa governação económica e corporativa.

UNIDADE III: A FILOSOFIA AFRICANA

3.1 Contextualização do debate sobre a Filosofia africana

3.1.1 Questões históricas


O povo africano foi vítima do colonialismo. Os ocidentais conceberam uma filosofia de
dominação que gerou um profundo complexo de inferioridade nos africanos em diferentes
campos de saber: desde a teologia, a filosofia e o direito.

Só mais tarde, as ciências sociais e humanas realizaram novas abordagens e adoptaram uma
visão que reconhecesse que toda a cultura representa uma determinada civilização,
independentemente da sua situação geográfica, histórica, social e económica.

Um longo período de colonização influenciou a mentalidade europeia, como também deixou


marcas na mentalidade do próprio povo negro, pois a sua auto-estima ficou afectada.

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 49


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Por isso, é importante a intervenção do filósofo africano, para projectar o futuro do homem
africano, partindo da sua própria história. A Filosofia africana vem recuperar a auto-estima
que o homem negro tinha perdido com o tratamento esclavagista.

3.1.2 A existência ou não da filosofia africana

A discussão sobre a existência ou não da filosofia africana emergiu quando muitos estudiosos,
africanos e não africanos, apresentaram ao mundo estudos sobre etnias africanas,
denominando-os “Filosofia Africana”, como Anyanw, Placide Tempels, Alexis Kagame,
Mbit, entre outros.

Os críticos como Hountondji, Franz Chahay, E. Boulaga, M. Towa, Werudu, entre outros,
colocam a seguinte questão: pode-se falar de Física ou Química africanas da mesma forma
que se fala da Filosofia africana? A discussão fundamental é do objecto de estudo da filosofia
africana.

3.2 Principais correntes da Filosofia africana

3.2.1 Etnofilosofia

É uma corrente de pensamento que defende que as tradições africanas espelham a


racionalidade do africano, podendo estas serem consideradas Filosofia africana (mitos,
provérbios, etc.)

Para os etnofilósofos, toda a filosofia é uma filosofia cultural, ou seja, ninguém faz a filosofia
sem se basear em alguma cultura. Para Anyanw, a missão do filósofo africano é compreender
e explicar os princípios sobre os quais se baseia cada uma das culturas africanas.

As críticas da etnofilosofia são várias, mas dentre elas podemos destacar as seguintes: os
filósofos da etnofilosofia descreviam práticas habituais de alguns povos africanos e
chamavam-os de Filosofia africana; tais estudos, enquanto feitos por intelectuais não
africanos, denegriam o africano (por exemplo, o sacerdote belga Placide Temples que falava
duma lógica menor do africano).

3.2.2 Filosofia profissional e crítica à Etnofilosofia

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 50


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Para os críticos da etnofilosofia, não podemos confundir o emprego do termo filosofia,


usando-o no sentido ideológico. Filosofia é uma palavra que se utiliza para designar uma
ciência rigorosamente científica. Reivindicar que os africanos têm a sua própria filosofia seria
cair nas mãos dos colonizadores, que querem dar ou manter a ilusão de que os africanos têm
uma filosofia, porque o que nós temos realmente são mitos, crenças e provérbios.

Um dos grandes críticos é Paulin Hountondji, na sua obra: African Philosophy, Mythe and
Reality, de 1971: reivindicar a filosofia africana é cair na ratoeira colonialista, pois a filosofia
africana obriga-nos a definir África em relação à Europa; a filosofia é uma disciplina científia,
teorética e individual; todo o projecto de edificar uma filosofia africana é um projecto europeu
de demarcar a todo o custo a civilização africana da do ocidente e, o papel criador da Filosofia
africana não pode nascer do nada, mas que necessariamente parte da herança cultural.

Acima de tudo, a ideia da filosofia africana deve ser aliada a um projecto de crítica e reflexão
de africanos sobre os problemas de África.

3.2.3 A Filosofia Política


A colonização dos africanos e a sua consequente escravização fez com que o povo negro fosse
visto como um povo inferior. Esta situação levou o homem negro a definir-se, desde cedo,
como um guerreiro pela liberdade. Vários intelectuais empenharam-se em investigar o
passado africano com o intuito de encontrar bases para fundamentar o seu valor. Criaram-se
movimentos, como o pan-africanismo e a negritude, que serviam como meio de união dos
africanos no que se refere aos domínios políticos e cultural, respectivamente.

Assim, a filosofia social e política africana, no ^âmbito das mudanças sociais, enterrou as
bases defendidas inicialmente por muito filósofos célebres, como Platào, que advogava as
virtudes como fundamentos para o bom governo, exigindo a justiça, a sabedoria, a coragem e
a temperança.

Pan-africanismo

Surge como manifestação da solidariedade entre os africanos e os povos de descendência


africana. O seu objectivo principal era a unidade política dos Estados africanos. Este
movimento lançou as bases da filosofia política africana. A primeira conferência pan-africana
Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 51
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foi realizada em Londres, em 1900 com o objectivo de procurar uma forma de protecção
contra os agressores imperialistas brancos e contra a política colonial que até então submetia
os negros.

3.2.4 A filosofia cultural (Negritude)

A negritude insere-se no espírito pan-africanista da união e solidariedade entre os africanos,


com a simples diferença de se revestir de um carácter cultural e literário. Trata-se de um
movimento de união dos africanos do ponto de vista cultural.

Coube a Aimé Césaire o mérito de ser considerado o grande impulsionador deste termo. A ele
cabe a paternidade do termo negritude. Os maiores impulsionadores são: Césaire (antilhano),
Senghor (senegalês) e Damas (guianês) – resumiram o projecto em três conceitos;

Identidade – consiste em o negro assumir plenamente a sua condição; Fidelidade – atitude


que traduz a ligação do homem negro à terra mãe; Solidariedade – sentimento que liga
secretamente todos os irmãos negros.
Na lusofinia, a negritude lutou pela revogação de todas as leis e regulamentos de excepção
contra os africanos.

UNIDADE II – FILOSOFIA POLÍTICA

2.1 Noções básicas

A palavra politica é de origem grega: polis, que quer dizer cidade. E, politica significa,
etimologicamente: arte de administrar (governar) a cidade. Usou a palavra política para
designar ao estudo das coisas que se referem ao Estado (república).

Para Aristóteles, a política é a ciência do governo (a arte de governar), ou seja, o tratado sobre
a natureza, funções e divisão do Estado e sobre as várias formas de governo.

A política é uma actividade imprescindível na vida humana e está ligada ao poder sobre os
outros homens. Para Hobbes, o poder são os meios adequados à obtenção de qualquer
vantagem e para Russell, o poder é conjunto de meios que permitem alcançar os efeitos
desejados.

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 52


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Norberto Bobbio distingue três formas de poder:

Poder económico – assenta na posse de bens. Poder ideológico – baseia-se na influência que
os detentores do poder exercem sobre os demais, determinando-lhes o comportamento
(sacerdotes, pastores, líderes, etc.). Poder político – assenta na coerção e na força. É a
faculdade que um povo possui de, por autoridade própria, instituir órgãos que exerçam a
governação de um território.

Ciência política

A ciência política consiste nos estudos que se realizam sobre a análise política. Assim, a
ciência política é o estudo sistemático do facto político relacionado com o acesso, a
titularidade, o exercício e o controlo do poder político.

2.1.1 Política e Filosofia política

A Filosofia política ocupa-se dos problemas relacionados com a origem do Estado, a sua
organização, a sua forma ideal, a sua função e o seu fim específico, a natureza da acção
política e as suas relações com a moral, a relação entre o Estado e o indivíduo, entre o Estado
e a Igreja e entre o Estado e os partidos políticos.

A Filosofia política se alimenta das práticas políticas, ou seja, dos acontecimentos políticos
levados a cabo por políticos e por aqueles que pensam o facto político, daí a necessidade de
haver filósofos políticos em todas as fases do desenvolvimento da sociedade.

A Filosofia procurar compreender e esclarecer os conceitos de justiça, bem comum de Estado,


tolerância, sociedade e até o próprio conceito de política. E, o filósofo político é aquele que
analisa criticamente a sociedade (identifica os aspectos positivos e negativos). É por isso que,
as decisões políticas deveriam ser sempre objecto de apreciação filosófica antes de serem
implementadas.

Mas, um dado a considerar é de que, em algumas sociedades, o filósofo não é bem-vindo


pelos governantes, pois é considerado como um perturbador da sociedade.

2.1.2 Ética política

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 53


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A acção política deve basear-se em princípios morais, ou melhor na ética. Pois, é praticamente
impossível separar o problema da constituição da comunidade política da determinação de
certos fins éticos, que se caracteriza pela busca dos ideiais de justiça, de felicidade, etc.,
sempre considerados como um bem ao qual todos aspiram. Portanto, é em função de um
determinado bem que os homens se decidem a constituir uma comunidade política.

2.1.3 Estado/Nação

Considera-se sociedade ao estado dos homens ou dos animais que vivem sob a acção de leis
comuns; reunião de pessoas unidas pela mesma origem e pelas mesmas leis.

O Estado é um organismo político-administrativo que ocupa um território determinado; é


dirigido por um governo próprio e constitui-se como pessoa jurídica de direito público,
internacionalmente reconhecida. Compreende: população, território, poder soberano e
reconhecimento internacional.

Governo é o conjunto de pessoas que detêm cargos oficiais e exercem autoridade em nome do
Estado e que lhe foi conferida pelo povo, no caso comum da democracia; é a acção dirigida ao
Estado. E o governante é qualquer funcionário público que assume cargos na direcção, que
dirige uma instituição pública.

Nação é a comunidade natural de homens que, reunidos num mesmo território, possuem em
comum a origem, os costumes e a língua e estão conscientes desses factos. Os elementos
essenciais para a constituição da nacionalidade são: tradição e cultura comuns, origem e raça
(factores objectivos) e a consciência do grupo humano de que estes elementos comunitários
estão presentes (factor subjectivo).

Constituição é o conjunto de leis básicas que regulam o relacionamento de todos os elementos


pertencentes a um mesmo Estado (indivíduos, instituições, relações de poder, etc.). A
constituição tem a função de traçar os princípios ideológicos da organização interna. A
mudança da constituição implica a mudança do tipo de Estado.

2.1.4 Participação política dos cidadãos

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 54


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A questão política não é opcional, mas uma necessidade que se impõe ao Homem, enquanto
membro de uma comunidade organizada que se rege por leis comuns e assenta em princípios
éticos valorizados pelos seus membros.

Neste sentido, para Pasquino, “a participação política é o conjunto de actos e de atitudes que
aspiram a influenciar de forma mais ou menos directa e mais ou menos legal as decisões dos
detentores do poder no sistema político com o propósito de manter ou modificar a estrutura do
sistema de interesses dominante.”

Sendo que o problema político diz respeito a toda a sociedade, o cidadão que compõe a
sociedade tende participar nela como algo que lhe diz respeito; contribuir em ideias nas
decisões, participar em eventos de interesse do Estado. Exemplo: exercendo o direito de voto,
participar nos debates públicos, etc.

Uma outra possível forma de participação política é a formação e participação cívica através
de partidos políticos. O partido político é um grupo de indivíduos unidos por ideiais e
actividades comuns, com vista a consecução de certos fins políticos ou à eleição dos
funcionários para o Estado, quer se trate de órgãos do governo central ou para autarquias
locais.

Em Moçambique, a participação dos cidadãos na governação local é regulada pela lei


n°8/2003 de 19 de Maio, chama da lei dos órgãos locais do Estado (LOLE).

Em suma, a política é um instrumento de solução dos problemas humanos quer sejam


políticos, sociais, educacionais, laborais, económicos, etc.

Em regimes democráticos, os partidos políticos sobem ao poder através de eleições; assim, a


eleição é a escolha por meio de sufrágio de pessoas para ocupar um cargo ou desempenhar
certas funções.

2.1.5 Direitos humanos e justiça social

Os direitos humanos são o conjunto de princípios essenciais à existência humana condigna


que apelam a um reconhecimento mútuo entre homens enquanto seres de direito. Eles são
inalienáveis, como o direito à vida, saúde, inviolabilidade física e psicológica, etc.
Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 55
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A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adoptada pela ONU a 10 de Dezembro d
1948.

Os Direitos humanos, segundo a doutrina do Direito natural, inatos; eles não são uma dádiva
de qualquer organização ou instituição, pois existem muito antes do Homem estar ligado aos
conceitos: sociedade, economia, Estado e religião.

Características dos direitos humanos

5) São universais: não dizem respeito a este ou aquele homem, mas sim a todos os
homens.

6) São individuais: o indivíduo, o homem livre é o seu portador e não o grupo,


associações ou cooperações de sociedade estratificada.

7) São anteriores ao Estado: resultam da natureza humana, o Estado só os pode


reconhecer e não outorgá-los. A constituição declara-os apenas mas não os cria.

8) Quanto à origem e carácter individuais, são um direito de reivindicação durante o


Estado, pois exige do Estado o respeito de uma esfera de liberdade pessoal por ele
reconhecida e declarada.

Justiça social
A justiça social é vinculada ao conceito do bem comum pois a sua definição depende da
concepção político-económica de cada autor. Assim, a justiça social está ligada aos direitos
humanos e diz respeito à igualdade entre todos os cidadãos e ao direito de cada um ser
respeitado nos seus direitos.

Segundo John Rawls, a justiça é a primeira virtude das instituições sociais, por mais eficazes e
bem organizadas que sejam, as instituições e as leis devem ser reformadas e abolidas se forem
injustas. Por isso, o objecto da justiça social é entendida como equidade, que diz respeito à
estrutura de base como a constituição, as principais estruturas económicas e a maneira como
essas representam os direitos, os deveres fundamentais e como determinam a repartição dos
benefícios extraídos da cooperação social.

2.1.6 Estado de Direito e suas funções

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 56


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O Estado de Direito diz respeito àquele onde os membros dessa sociedade estão todos
submetidos à mesma lei, isto é, onde a lei prevalece sobre todos os indivíduos. Num Estado de
Direito há respeito sobre a hierarquia das normas, separação de poderes e pelos direitos
fundamentais. Ele é garantido pela divisão de poderes. No Estado de Direito ninguém está
acima da lei; a lei reina sobre todos os indivíduos.

Funções do Estado

As funções do Estado são analisadas a partir de duas perspectivas fundamentais: funções


jurídicas e funções não jurídicas. Geralmente, são consideradas três funções do Estado:
segurança, justiça e o bem-estar.

2.2. A Filosofia política na história

Os debates filosóficos sobre a política não são recentes, eles acompanharam o


desenvolvimento da sociedade e das suas preocupações fundamentais. Os filósofos
preocuparam-se, em seu contexto, em reflectir sobre os assuntos políticos e sobre a melhor
forma de organização social.

2.2.1 A Filosofia política na antiguidade

A Filosofia antiga, principalmente na vertente antropológica, é marcada por debates


relacionados ao homem e a sociedade. E, foram os sofistas que inauguraram assuntos
relacionados ao homem.

Os sofistas
Os sofistas foram os primeiros a roda tradicional de pensamento dos pré-socráticos (a procura
do arché na natureza) e concentraram-se no Homem e nas questões da moral e da política.
Destacam-se como famosos sofistas: Protágoras, Górgias, Trasímaco, Pródico e Hipódamo.

Na política elaboraram e legitimaram o ideal democrático e interessaram-se pela virtude do


cidadão fundamentada na justiça. Para isso, era necessária a educação dos cidadãos da polis
superando os privilégios da antiga educação elitista.

Outro grande contributo dos sofistas foi a sistematização do ensino: gramática, retórica e
dialéctica vinculando os jovens para a participação no debate público.

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 57


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Platão (428 – 347 a.C.)


O seu pensamento político pode ser encontrado, fundamental, nas suas obras: A República e O
Político e as Leis.

Platão preocupou-se em imaginar uma cidade ideal na qual reinaria um bom governo e um
regime justo. Pois, o bom governo, segundo Platão, depende da virtude dos bons governantes.

Para Platão, a Filosofia Política não aceita pacificamente o Estado ou a Política como dados
absolutos e inquestionáveis: critica, interpreta, pensa e compreende essas realidades. A
Filosofia Política é um exercício da liberdade.

Por isso, a política, deve ter a Filosofia como seu instrumento e fonte de inspiração, pois a
Filosofia é a via segura de acesso aos valores de justiça e de bem.

Origem do Estado
Platão advoga que a origem do Estado é convencional, ou seja, está no facto de os homens
não se bastarem a si mesmos. Ninguém pode ocupar ao mesmo tempo diversas profissões. Daí
a necessidade de cada um associar-se aos outros, cada um com tarefas sociais específicas
(especialização). E, de facto, ninguém pode ser, ao mesmo tempo, professor, médico,
mecânico, técnico, etc.

Comunismo/idealismo

O ideal de Platão era de ver as crianças educadas pelo Estado e orientadas segundo as suas
aptidões. Assim, deviam receber a mesma educação do Estado até aos vinte anos. E, de
acordo com a orientação das suas almas: os de bronze deviam dedicar-se à agricultura, ao
artesanato e ao comércio, por terem sensibilidade grosseira. Os outros estudariam mais dez
anos para o segundo corte familiar. Os que tivessem a alma de prata se dedicariam à defesa da
cidade. E, os da alma de ouro, instruídos na arte de pensar e dialogar governariam por
conhecerem o saber mais alto que é a Filosofia (aos 50 anos) com a principal virtude que é a
justiça.

Classes sociais

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 58


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Para Platão, a sociedade organiza-se em três classes: trabalhadores (camponeses, artesãos e


commerciantes) – garantem a subsistência da cidade; soldados (guardas) – a defesa da cidade;
e, magistrados (governantes) – dirigir a cidade, mantendo-a coesa.

Formas do governo
A melhor forma de governo, para Platão, é a monarquia, sob o comando de um filósofo – rei
que governa com plena justiça e preserva a unidade. A segunda opção é a aristocracia
composta por filósofos e guerreiros; mas este tipo de governo, facilmente de degenera
transformando em timocracia, governo de ambiciosos de poder e de honra.

A oligarquia é a fase mais corrompida da aristocracia, na qual reina a avidez de riqueza. Aos
olhos de Platão, a democracia é a pior forma de governo, pois, estando o poder nas mãos do
povo, e sendo este incapaz de conhecer a ciência política, facilita, através da demagogia, o
aparecimento da tirania – o governo exercido por um só homem, através da força.

Aristóteles (384 – 322 a. C.)


Discípulo de Platão e crítico de seu mestre sobre o idealismo político. Ele defende que a
cidade é constituída por indivíduos naturalmente diferentes, sendo impossível uma unidade
absoluta e, o poder não deve ser limitado apenas aos filósofos.

Origem do Estado
Para Aristóteles, a origem do Estado é natural e não convencional. Pois, o homem é, por
natureza, um animal político. O homem se distingue dos outros animais pelo facto de estar
integrado numa polis que resulta duma civilização da espécie humana (família, tribo, clã,
aldeia e cidade).

Neste sentido, o objectivo do Estado é de proporcionar felicidade aos cidadãos, pois, o escopo
da vida humana é a felicidade e, por isso, o escopo do Estado deve ser a consecução do bem
comum.

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 59


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Formas de governo
Aristóteles concebeu três formas de organização política (constituições) do Estado que se
apresentam duas faces: bons e corruptos.

Governos rectos (interesses comuns) Governos corruptos (interesses particulares)

Monarquia – governo de um só homem Tirania (governo de um só homem que se move


(melhor forma do governo: preserva a com interesse próprio)
unidade do governo)

Aristocracia – governo de poucos homens Oligarquia – o governo dos ricos (preocupam-se


(um grupo de cidadãos virtuosos, os pelo bem económico próprio)
melhores que cuidam do bem de todos)

República (politia) – governo de muitos Democracia – a forma corrupta da república


homens (constituído pelo povo, que cuida (quando o povo toma o poder e suprima todas as
do bem de toda a pólis) diferenças sociais em nome da igualdade)

2.2.2 A Filosofia política na idade média

Santo Agostinho (354 – 430 d.C.)


O pensamento político de Santo Agostinho encontra-se na sua obra: a Cidade de Deus. Na
qual teoriza que o mundo divide-se em duas cidades: a Cidade de Deus e a Cidade terrena.
Enquanto a igreja é a encarnação da cidade de Deus, o Estado é a encarnação da Cidade

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 60


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terrena, manchada pelo pecado original. O Homem precisa do Estado para obrigar os
membros da comunidade ao cumprimento da lei.

Santo Agostinho defende a existência da autoridade política para que se mantenha a paz, a
justiça, a ordem e a segurança. A autoridade política é uma dádiva divina aos seres humanos,
daí que os governantes devem ser respeitados e distinguidos entre os justos e injustos.

São Tomás de Aquino


O pensamento político de São Tomás de Aquino está espelhado na sua obra: De Regimine
Principum (Do Governo dos Príncipes). Nesta obra reflecte sobre a origem e natureza do
Estado, as várias formas de governo e as relações entre o Estado e a Igreja.

Para Aquino, o Estado nasce da natureza social do Homem e não das limitações do indivíduo.
O Estado é uma sociedade porque consiste na reunião de muitos indivíduos que pretendem
fazer alguma coisa em comum e, é uma sociedade perfeita porque tem um fim próprio: o bem
comum e os meios suficientes para o realizar.

O Estado tem os meios suficientes para proporcionar um modo de vida que permita a todos os
cidadãos ter aquilo que necessitam para viver como homens.

A melhor forma de governo para Aquino é a monarquia constitucional. E, a Igreja é uma


sociedade mais perfeita, devendo, por isso, o Estado subordinar-se a ela, em tudo o que
concerne ao fim sobrenatural do homem.

2.2.3 A Filosofia política na idade moderna


A Idade Moderna é colocada no início do século XVI aos fins do século XVII e teve três
características fundamentais: a libertação do Homem em relação às explicações teológicas da
realidade, através da razão; a libertação do Homem dos regimes ditatoriais, através da
democracia e a libertação do Homem da dependência da Natureza, através da técnica.
Portanto, os modelos do pensamento moderno são a razão, a técnica e a democracia. Este
ideal de pensamento justifica a riqueza de acontecimentos políticos em vários países do
mundo.

Nicolau Maquiavel

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 61


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Com o fim do império cristão e com o enfraquecimento do poder politico do papado,


surgem, fora da Itália, as repúblicas e as senhorias. Eram regimes onde se respirava o ar de
liberdade e onde se procurava, acima de tudo, o bem-estar material dos cidadãos, em
detrimento do bem-estar espiritual.

Em o Príncipe, Maquiavel (1469 – 1527) – filósofo florentino (Itália), não se propondo em


descrever um estado ideal nem apresentar o governante como um pio administrador da
República; descreve o resultado da experiência das coisas modernas e da contínua lição nas
coisas antigas, abrindo uma política mais activa e circunstancial: governar é uma arte.

Maquiavel parte do pressuposto de que os homens, em geral, seguem cegamente as suas


paixões, esquecendo-se mais depressa da morte do pai do que da perda do matrimónio. As
paixões que se colocam em primeiro lugar são, além da cobiça e do desejo de prazeres, a
preguiça, a vileza, a duplicidade e a insolência. Por isso, torna-se imperioso que o governante
da república prepare as leis segundo o pressuposto de que todos os homens são réus e que
procedem com malícia em todas as oportunidades que tiverem.

O príncipe deve impor-se mais pelo temor do que pelo amor, para alcançar os seus
objectivos: preservar a sua vida e a do Estado. Porém, Maquiavel adverte que o príncipe não
deve esquecer a sua reputação. O político não deve confiar no aspecto positivo do homem
mas sim o seu aspecto negativo e agir em consequência disso. Nisto, não terá receio em ser
temido e a tomar as medidas necessárias para tornar-se temível. Mas o ideal para um príncipe
seria o de ser ao mesmo tempo amado e temido, coisas muito difíceis de conciliar, no
entanto, o príncipe deve fazer a escolha mais funcional para o governo eficaz do estado.

Os filósofos ingleses

No século XVII, registavam-se, em Inglaterra, lutas acesas entre o rei e o parlamento, com o
predomínio ora de um, ora de outro, acabando por se impor definitivamente o parlamento, no
fim do século. Por isso, Hobbes, Locke, Berkeley e, posteriormente Hume, procuraram dar o
seu contributo para a política do seu país.

Assim, com tendência muito em voca da secularização do pensamento político, os filósofos


do século XVII estavam preocupados em justificar racionalmente e legitimar o poder do
Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 62
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Estado sem recorrer à intervenção divina ou a qualquer explicação religiosa. Daí que
começaram por se preocupar pela origem do Estado.

O Pensamento Político de Thomas Hobbes

Thomas Hobbes, filósofo inglês nascido em 5 de Abril de 1588, morto em 4 de Dezembro de


1679 que nas suas obras políticas De Cive e Leviatã (ou a matéria, a forma e o poder de um
estado eclesiástico e civil publicada em 1651) desenvolve uma teoria contratualista sobre a
Teoria do Estado de natureza e Pacto social. Para ele, o Homem conheceu dois estados: o
primeiro é natural e o segundo contratual.

O Estado de natureza é caracterizado pela expressão sem regras da natureza humana cujas
paixões fundamentais são o apetite de domínio sobre o seu semelhante e o medo correlativo
da morte violenta infligida por outrem. Todos estão em competição, cheios de desconfiança e
medo porque o direito de natureza, anterior das leis, é a liberdade que cada um tem de usar a
sua força para se conservar a sí mesmo, direito ilimitado que se estende a todas as coisas, até
ao corpo do outro, à sua integridade e à sua vida, daí a: guerra de todos contra todos (bellum
omnium contra omnes – homo homini lupus).

O medo e o desejo de paz levaram o homem a fundar um estado social e a autoridade política,
abdicando dos seus direitos em favor do soberano, que, por sua vez, terá um poder absoluto.
No contrato social, os Homens renunciam alguns dos seus direitos, colocando-os nas mão de
um só homem (Soberano). Esse contrato, uma vez estabelecido, não poderá ser modificado
nem desfeito porque seria preciso o consentimento de todos e isso é irrealizável. Cabe ao
soberano julgar sobre o bem e o mal, sobre o justo e o injusto; ninguém pode discordar, pois
tudo o que o soberano faz é resultado do investimento da autoridade consentida pelo súbtido.

John Locke

As contribuições políticas de John Locke encontram-se na obra: Dois Tratados sobre o


Governo, onde postula a sua política e como Hobbes distingue dois estados em que o
Homem terá estado: o estado de natureza e o estado contratual.

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 63


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Para Locke, no estado de natureza os homens são livres, iguais e independentes e não um
estado de guerra de todos contra todos. No estado natural cada um é juíz em causa própria.
Pela liberdade natural do Homem, ele não pode ser expulso da sua propriedade e ser
submetido ao poder político de outrem sem dar o seu consentimento.

A renúncia à liberdade natural da pessoa acontece quando as pessoas concordam em juntar-


se e unir-se em comunidade para viver com segurança, conforto e paz umas com as outras.
Portanto, quem abandona o estado de natureza e entra na comunidade abandona todo o poder
necessário aos fins que ditaram a reunião em sociedade, à maioria da comunidade. O Estado
não deve interdir mas sim garantir e tutelar o livre exercício da propriedade, da palavra e da
iniciativa económica.

Charles de Montesquieu (1689 – 1755)

Filósofo enciclopédico e pai do constitucionalismo liberal moderno, é autor da obra: L’Esprit


de Lois (Espírito das Leis) de 1748. Nesta obra pretende descobrir as leis naturais da vida
social. Para ele, as leis são relações indispensáveis emanadas da natureza das coisas.
Distingue entre leis de natureza (igualdade de todos os seres inferiores, procura de
alimentação, encanto entre seres de sexos diferentes e desejo de viver em sociedade) das leis
positivas que surgem da organização e convenção humanas, elaboradas pelo homem.

Montesquieu definiu como tipos sociológicos fundamentais do Estado: a democracia, a


monarquia e o despotismo. Mas o grande mérito foi de ter desenvolvido a teoria de separação
de poderes em que advoga a separação dos poderes legislativo, executivo e judicial, com o
fim de estabelecer condições institucionais de liberdade política através de uma equilibrada
divisão de funções entre os órgãos do Estado (parlamento, governo e tribunais).

O poder legislativo tem a função de criar as leis (Parlamento); o poder executivo tem a
função de implementar as leis e de as fazer cumprir (Governo) e o poder judicial serve para
julgar aqueles que violam a lei (Tribunais). Cada tipo de poder deve actuar plenamente.

Jean Jacques Rousseau

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 64


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Jean-Jacques Rousseau foi escritor e filósofo genebrence (Suíça) de língua francesa (1712-
1778). Em 1741 instala-se em Paris e aí conhece Diderot. Em 1750, o seu discurso sobre as
ciências e as artes tras-lhe uma notoriedade de escândalos e os seus escritores ulteriores, onde
continua a atacar a sociedade do seu tempo.

Rousseau começa a sua reflexão política partindo da hipótese de o Homem se ter encontrado
num estado de natureza e num outro estado contratual, na sua obra política: o Contrato Social.

No contrato social, Rousseau desenvolve a sua teoria sobre a origem e a constituição do


estado. Ele imagina um primeiro estado da humanidade que se poderia chamar estado de
Inocêncio, no qual não haveria nenhum dos abusos que se pode observar em nossa sociedade.
Os homens foram induzidos a sair desta condição feliz pelo desejo, pela necessidade e pelo
temor. Por isso é necessário um contrato verdadeiro, legítimo, em que o povo está reunido sob
uma só vontade.

O contrato social, produz os seguintes efeitos: o indivíduo já não é simples homem, mas
cidadão; ele renuncia os direitos pessoais em favor da comunidade e já não assume como
norma o instinto, mas a lei.

Com a entrada em vigor do contrato social, as acções adquirem uma moralidade que não tinha
antes: “somente então a voz do dever sucede ao impulso físico, o direito sucede ao apetite, e o
homem que até agora tomava em consideração somente a si mesmo, se vê forçado a agir em
conformidade com outros princípios e a consultar a razão antes de ouvir as próprias
tendências.

A obediência à lei não é obediência a uma vontade estranha, mas a uma vontade que o próprio
indivíduo constitui: o cidadão é legislador e súbtido ao mesmo tempo. Sendo o povo a única
fonte do direito (no contrato social faz-se a renúncia ao uso de alguns direitos mas não aos
direitos como tais).

Os governantes não gozam de alguma autoridade definitiva sobre ele: ele permanece o único
verdadeiro soberano. Eles não são donos do povo, mas seus funcionários, e o povo pode
nomeá-los e destituí-los.

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 65


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2.2.4 Filosofia política na época contemporânea

Hegel

A Filosofia do Estado de Hegel resume-se à subordinação do indivíduo ao Estado, no qual


este se dissolve em nome de uma ordem suprema. Assim, o indivíduo, no estado, é um
simples objecto e não o sujeito do seu destino. A sua vontade é sufocada pela vontade do
Estado e o indivíduo perde a sua liberdade.

John Rawls: a Justiça distributiva e o liberalismo político

Filósofo norte-americano, o seu pensamento político encontra-se nas obras: Uma Teoria de
Justiça, de 1971, e O Liberalismo Político.

Para Rawls, a justiça é a estrutura de base da sociedade e a primeira virtude das instituições
sociais. Esta concretiza-se na efectivação das liberdades individuais e na sua não restrição
para o benefício do outrem. Uma sociedade justa, defende Rawls, deve fundar-se na igualdade
de direitos.

A justiça deve ser encarada como a capacidade concedida à pessoa para escolher os seus
próprios fins. A justiça diz respeito a uma estrutura de base que congrega as instituições
sociais mais importantes, a constituição, as principais estruturas económicas, bem como a
maneira através da qual estas representam os direitos e os deveres fundamentais e determinam
a repartição dos benefícios extraídos da cooperação social.

Devidas as desigualdades na posição social, a justiça deve corrigir essas desigualdades.


Assim, ninguém efectue escolhas em função da sua desigualdade; a justiça é equidade. A
diferença não pode prejudicar os desfavorecidos. Por isso o Estado deve dividir-se em quatro
departamentos: departamento das atribuições com a função de velar pela manutenção de um
sistema de preços e impedir a formação de posições dominantes excessivas no mercado;
departamento da estabilização, com objectivo de proporcionar pleno emprego; departamento
das transferências sociais, com a função de velar pelas necessidades sociais e intervir para
assegurar o mínimo social e o departamento para a repartição, com o papel de preservar uma
certa justiça graças à fiscalização e aos ajustamentos necessários do direito de propriedade.

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 66


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Na sua obra o Liberalismo Político, reconhece que a justiça como equidade é um projecto
irrealista e defende que devem-se erguer instituições políticas liberais a partir do substrato
comum das ideias aceitáveis e aceites pela comunidade pública.

Karl Popper (1902 – 1994)

Filósofo Australiano, defende uma sociedade aberta que se baseia no exercício crítico da
razão humana, como sociedade que não apenas tolera como também estimula no seu interior e
por meio de instituições democráticas a liberdade dos indivíduos e dos grupos, tendo em vista
a solução dos problemas sociais, ou seja, as reformas contínuas.

Nesta sociedade aberta, os governados têm a possibilidade efectiva de criticar os seus


governantes e de os substituir sem derramamento de sangue e sem que isso signifique que o
democrata deva aceitar a ascensão do totalitário ao poder. Popper admite a possibilidade da
revolução violenta, a qual só é justificada se for derrubar um tirano.

2.3 Formas de sistemas políticos

Sistema político é a maneira como uma comunidade política se estrutura e exerce o poder
político. A estrutura do poder da comunidade política é feita de duas formas: como regime
político e como sistema de governo.

2.3.1 Regime político

São as relações que se estabelecem entre o indivíduo e a sociedade política, cuja ideologia o
poder político tem a missão de implementar no âmbito jurídico.

O pensamento político antigo oponha a monarquia (governo de um só homem) à república


(governo de um colégio ou assembleia). Mas, actualmente a distinção entre estes governos
baseia-se no modo como é designado o chefe do Estado: enquanto a monarquia é um regime
político em que a designação do chefe de Estado se faz por herança; a república é o regime
político em que a designação do chefe do Estado se faz por formas diversas, por eleição
directa dos cidadãos ou pelos seus representantes, por golpe de Estado, por legislação, etc,
mas não por herança.
Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 67
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Classificação dos regimes políticos

Os regimes políticos classificam-se em ditatoriais e democráticos:

c) Um regime político é ditatorial quando há uma ideologia exclusiva ou liderança, há


um aparelho para impor a ideologia, não há efectiva garantia dos direitos pessoais dos
cidadãos, não existe livre participação na designação dos governantes e não existe um
controlo do exercício dos governantes.

O regime ditatorial pode ser autoritário quando o poder político exerce um certo controlo
sobre a sociedade civil. E, pode ser totalitário quando o controlo do poder político subjuga a
sociedade.

d) O regime é democrático quando não existe uma ideologia dominante ou liderança,


não existe um aparelho para impor a regra, há efectiva garantia dos direitos individuais
dos cidadãos, existe livre participação na designação dos governantes e existe um
controlo do exercício dos governantes.

2.3.2 Os sistemas de governo

É a titularidade e a estruturação do poder político, com a finalidade de determinar os seus


titulares e os órgãos estabelecidos para o seu exercício.

Para a análise de um sistema de governo, deve-se ter em conta a separação dos poderes, a
dependência, a independência ou a interdependência dos órgãos e a responsabilidade política
de um órgão perante o outro.

Classificação dos sistemas de governo

3. Sistema de governo ditatorial – o poder político é detido por uma pessoa ou um


conjunto de pessoas com direito próprio e sem participação dos governados. Este, é
monocrático quando é exercido por um órgão singular e autocrático, quando o poder é
exercido por um grupo ou partido político (órgão colegial).

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 68


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4. Sistema de governo democrático – o exercício do poder político advém da


participação dos governados. Pode ser directo, quando a assembleia-geral dos
cidadãos exerce integralmente as suas funções; democrático semi-directo, em que a
constituição prevê a existência de órgãos representativos de soberania popular através
de um referendo e democrático representativo, quando o poder político pertence à
colectividade mas regido por um órgão que actua em nome dele.

2.4 Filosofia política em África

2.4.1 Génese dos nacionalismos


Há uma ligação directa da filosofia política africana com o pan-aficanismo que, para além de
lutar pelo reconhecimento dos negros no mundo, com Du Bois, traçou linhas para uma
Filosofia política africana. A Filosofia política africana tem como objectivo a libertação física
e psíquica do jugo colonial do continente africano.

Desde o 5º Congresso Pan-Africano, as principais figuras africanas que se esforçaram por


lançar as bases da política dos Estados africanos são: Du Bois e Nkrumah. Enquanto Kwame
Nkrumah defendia a independência imediata dos Estados africanos; Léopold Sedar Senghor
acreditava que uma independência gradual dos Estados seria ideal. Mas a ideologia adoptada
pelos Estados africanos foi o socialismo, que como defendia Nkrumah, era conforme às
tradições socioculturais africanas e o consciencismo que pretendia assegurar o
desenvolvimento de cada individuo.

Aliaram-se ao socialismo de Nkrumah outros políticos como Senghor, Luís Cabral, Júlio
Nyerere e Agostinho Neto; estes deram origem ao socialismo africano. Para Senghor,
defendendo o socialismo africano, defende que a alma negra é essencialmente colectiva e
solidária, por isso, a África, é por natureza do seu povo, socialista.

Mas o grande mérito de Nkrumah foi de conceber a unidade africana que transformaria o
continente africano num só Estado banindo as fronteiras traçadas arbitrariamente em Berlim,
pois os Estados africanos considerados individualmente não eram suficientemente fortes para
competirem com as grandes potências do ocidente.

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 69


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Ena década de 1960 nasceram dois grupos: o de Monróvia (Califórnia, EUA) que defendia a
criação dos Estados Unidos da África e o de Casablanca (Marrocos) que defendia a criação da
nações e fundou a OUA (Organização da Unidade Africana) a 25 de Maio de 1963 em Addis
Abeba (Etiópia), com os seguintes objectivos: promover a unidade e a solidariedade entre os
Estados Africanos; coordenar e intensificar a cooperação entre os Estados africanos; defender
a soberania, integridade territorial e independência dos Estados; coordenar e harmonizar as
políticas dos países-membros, etc.

2.4.2 Pan-africanismo versus negritude

Estes dois movimentos desenvolvidos por estudantes e académicos africanos residentes em


Inglaterra e em França permitiram a difusão as mensagens de libertação dos africanos. O
objectivo era comum: lutar pela liberdade.

Enquanto o Pan-africanismo lutava pela emancipação política de todos os africanos; a


negritude lutava pela unidade dos negros sob o ponto de vista cultural.

2.4.3 Renascimento africano

Mesmo depois da libertação dos africanos da escravatura, ainda há, em alguns africanos
complexos de inferioridades a outros povos. A grande dificuldade que se manteve era: como
dizer ao africano, que nunca tinha sido valorizado, que tinha efectivamente valor, que ele era
igual ao seu colonizador, que tinha dignidade, que ser africano não era uma maldição, ect.

Daí a necessidade de desenvolver uma ideologia do renascimento africano para o africano


sentir-se um homem igual aos outros. Um tornar-se a nascer psicologicamente para recuperar
a auto-estima extirpada pelos colonizadores.

A integração político-regional na União África

A União Africana pretendia dar continuação aos objectivos da OUA. Um dos objectivos era a
NEPAD (Nova Parceria para o Desenvolvimento da África), pôr em prática a visão Pan-
africana dos líderes africanos para promover o desenvolvimento sustentável da África.

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 70


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Assim, a integração regional da África só seria possível se houvesse estabilidade política,


permitindo a criação de instituições democráticas e a promoção do desenvolvimento. Para a
NEPD, as condições necessárias para o desenvolvimento de África seria: a paz, a segurança, a
democracia e a boa governação política; a boa governação económica e corporativa.

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 71


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UNIDADE III: A FILOSOFIA AFRICANA

3.1 Contextualização do debate sobre a Filosofia africana

3.1.1 Questões históricas


O povo africano foi vítima do colonialismo. Os ocidentais conceberam uma filosofia de
dominação que gerou um profundo complexo de inferioridade nos africanos em diferentes
campos de saber: desde a teologia, a filosofia e o direito.

Só mais tarde, as ciências sociais e humanas realizaram novas abordagens e adoptaram uma
visão que reconhecesse que toda a cultura representa uma determinada civilização,
independentemente da sua situação geográfica, histórica, social e económica.

Um longo período de colonização influenciou a mentalidade europeia, como também deixou


marcas na mentalidade do próprio povo negro, pois a sua auto-estima ficou afectada.

Por isso, é importante a intervenção do filósofo africano, para projectar o futuro do homem
africano, partindo da sua própria história. A Filosofia africana vem recuperar a auto-estima
que o homem negro tinha perdido com o tratamento esclavagista.

3.1.2 A existência ou não da filosofia africana

A discussão sobre a existência ou não da filosofia africana emergiu quando muitos estudiosos,
africanos e não africanos, apresentaram ao mundo estudos sobre etnias africanas,
denominando-os “Filosofia Africana”, como Anyanw, Placide Tempels, Alexis Kagame,
Mbit, entre outros.

Os críticos como Hountondji, Franz Chahay, E. Boulaga, M. Towa, Werudu, entre outros,
colocam a seguinte questão: pode-se falar de Física ou Química africanas da mesma forma
que se fala da Filosofia africana? A discussão fundamental é do objecto de estudo da filosofia
africana.

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 72


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3.2 Principais correntes da Filosofia africana

3.2.1 Etnofilosofia

É uma corrente de pensamento que defende que as tradições africanas espelham a


racionalidade do africano, podendo estas serem consideradas Filosofia africana (mitos,
provérbios, etc.)

Para os etnofilósofos, toda a filosofia é uma filosofia cultural, ou seja, ninguém faz a filosofia
sem se basear em alguma cultura. Para Anyanw, a missão do filósofo africano é compreender
e explicar os princípios sobre os quais se baseia cada uma das culturas africanas.

As críticas da etnofilosofia são várias, mas dentre elas podemos destacar as seguintes: os
filósofos da etnofilosofia descreviam práticas habituais de alguns povos africanos e
chamavam-os de Filosofia africana; tais estudos, enquanto feitos por intelectuais não
africanos, denegriam o africano (por exemplo, o sacerdote belga Placide Temples que falava
duma lógica menor do africano).

3.2.2 Filosofia profissional e crítica à Etnofilosofia

Para os críticos da etnofilosofia, não podemos confundir o emprego do termo filosofia,


usando-o no sentido ideológico. Filosofia é uma palavra que se utiliza para designar uma
ciência rigorosamente científica. Reivindicar que os africanos têm a sua própria filosofia seria
cair nas mãos dos colonizadores, que querem dar ou manter a ilusão de que os africanos têm
uma filosofia, porque o que nós temos realmente são mitos, crenças e provérbios.

Um dos grandes críticos é Paulin Hountondji, na sua obra: African Philosophy, Mythe and
Reality, de 1971: reivindicar a filosofia africana é cair na ratoeira colonialista, pois a filosofia
africana obriga-nos a definir África em relação à Europa; a filosofia é uma disciplina científia,
teorética e individual; todo o projecto de edificar uma filosofia africana é um projecto europeu

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de demarcar a todo o custo a civilização africana da do ocidente e, o papel criador da Filosofia


africana não pode nascer do nada, mas que necessariamente parte da herança cultural.

Acima de tudo, a ideia da filosofia africana deve ser aliada a um projecto de crítica e reflexão
de africanos sobre os problemas de África.

3.2.3 A Filosofia Política


A colonização dos africanos e a sua consequente escravização fez com que o povo negro fosse
visto como um povo inferior. Esta situação levou o homem negro a definir-se, desde cedo,
como um guerreiro pela liberdade. Vários intelectuais empenharam-se em investigar o
passado africano com o intuito de encontrar bases para fundamentar o seu valor. Criaram-se
movimentos, como o pan-africanismo e a negritude, que serviam como meio de união dos
africanos no que se refere aos domínios políticos e cultural, respectivamente.

Assim, a filosofia social e política africana, no ^âmbito das mudanças sociais, enterrou as
bases defendidas inicialmente por muito filósofos célebres, como Platào, que advogava as
virtudes como fundamentos para o bom governo, exigindo a justiça, a sabedoria, a coragem e
a temperança.

Pan-africanismo

Surge como manifestação da solidariedade entre os africanos e os povos de descendência


africana. O seu objectivo principal era a unidade política dos Estados africanos. Este
movimento lançou as bases da filosofia política africana. A primeira conferência pan-africana
foi realizada em Londres, em 1900 com o objectivo de procurar uma forma de protecção
contra os agressores imperialistas brancos e contra a política colonial que até então submetia
os negros.

3.2.4 A filosofia cultural (Negritude)

A negritude insere-se no espírito pan-africanista da união e solidariedade entre os africanos,


com a simples diferença de se revestir de um carácter cultural e literário. Trata-se de um
movimento de união dos africanos do ponto de vista cultural.

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Coube a Aimé Césaire o mérito de ser considerado o grande impulsionador deste termo. A ele
cabe a paternidade do termo negritude. Os maiores impulsionadores são: Césaire (antilhano),
Senghor (senegalês) e Damas (guianês) – resumiram o projecto em três conceitos;

Identidade – consiste em o negro assumir plenamente a sua condição; Fidelidade – atitude


que traduz a ligação do homem negro à terra mãe; Solidariedade – sentimento que liga
secretamente todos os irmãos negros.
Na lusofinia, a negritude lutou pela revogação de todas as leis e regulamentos de excepção
contra os africanos.
UNIDADE IV: METAFÍSICA E ARTE

4.1 Noção e objecto da ontologia (ou metafísica geral)

Etimologicamente, a palavra “ontologia” deriva de dois termos gregos: onto, que significa ser,
ente, indivíduo, e lógia, que quer dizer tratado, saber, estudo, doutrina, investigação.
Portanto, a ontologia é uma parte da Filosofia que se ocupa dos problemas relativos ao ser
enquanto ser; ou seja, do ser na sua generalidade e das propriedades ou qualidades que
pertencem ao ser enquanto tal. Este termo “ontologia” foi introduzido por Aristóteles na sua
obra Metafísica IV,1.

As perguntas principais de que se ocupa a ontologia são: o que é o ser? Que qualidades
podemos encontrar no ser? Por que princípios se rege o ser?

O objecto de estudo da ontologia é o ser enquanto é. Não um ser determinado, mas de forma
abstracta, de máxima extensão porque abrange tudo quando é e de mínima compreensão
porque abstrai de qualquer propriedade particularizante. Logo, o objecto de estudo da
ontologia é a totalidade ôntica.

4.1.1 O ser, o que é?

Ser é tudo que existe, independentemente do modo como é. É um conceito quantitativamente


genérico e complexo porque é género supremo e, qualitativamente menos compreensivo
porque escapa a uma definição rigorosa, pois não possui uma característica peculiar (diferença
específica).

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4.1.2 As categorias do ser: substância e acidente

As categorias do ser são as grandes divisões que o mesmo comporta e, segundo Aristóteles,
existem dez (10) categorias, sendo a primeira a substâncias e as restantes nove (9) são
acidentes.

Substância é aquilo que é em si e por si, e não em outra coisa. Aquilo que permanece como
algo subsistente. São todas as coisas concretas e individuais: o homem, a caneta, o peixe, etc.

Aristóteles distinguiu a substância primeira da segunda. A primeira se refere a indivíduos


singulares e concretos, como por exemplo: este caderno, o Tito, esta Angelina, etc. e, a
segunda diz respeito às espécies e géneros singulares e abstractos (tudo que se existe como
pensamento); se atribuem às substancias primeiras, por exemplo: a Clarinda é uma mulher.

O acidente é tudo aquilo que ocorre ou acontece; aquilo que para ser necessita de se apoiar
numa substância. O acidente só existe na substância, não existe em si e por si; é predicado da
substância. Enquanto a substância permanece no indivíduo mesmo com as modificações, o
acidente é que está sujeito a mudanças no indivíduo. Exemplo: a minha escola é linda;
Egnésio é inteligente, etc.

A classe dos acidentes:

Qualidade – é a forma da substância (ex: professor, inteligente, bonito, etc).

Quantidade – atribuição de partes distintas a outras (exemplo: pequeno, grande, 12gr; 20kg).

Relação – ligação que se estabelece entre a substância e os acidentes (exemplo: pai, filho,
primo, presidente, chefe).

Tempo – momento ou ocasião disponível para que uma coisa se realize (de manhã, meio-dia, a
tarde, 1975, etc.).

Lugar – espaço que um corpo substanciado ocupa em relação a outros corpos (exemplo: em
casa, na sala, em Nacala-Porto, no cinema, etc.).

Acção – o que a substâncias faz usando as suas faculdades ou poderes (por exemplo: dialogar,
conduzir uma motorizada, etc.).

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 76


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Estado – conjunto de bens ou instrumentos que, por sua habilidade, complementam a natureza
da substância (por exemplo: luxo, fausto, etc.).

Posição – lugar ou postura relativa ocupada pela substância (de pé, sentado, deitado, etc.).

Paixão – sentimento ou emoção que provoca sentimento numa determinada substância (a


perda de um ente querido, o ferimento, a doença, a condenação de Sócrates, etc.).

4.1.3 Potência e acto

Para explicar o dinamismo do ser, Aristóteles recorreu a duas noções fundamentais: potência
e acto.

Potência é a possibilidade que uma matéria tem de vir a ser algo em acto; ou seja, é o carácter
dinâmico da matéria que lhe permite possuir um determinado modo de ser e que lhe confere a
capacidade de devir. Por exemplo: se sou aprendiz de filósofo, posso ou não vir a ser filósofo;
mas já que tenho a possibilidade, posso afirmar que sou filósofo em potência.

O acto é o que faz ser aquilo que é, é o ser real, é o que o determina. Dizer que uma coisa está
em acto é o mesmo que dizer que a mesma coisa tem actualidade, ou seja, passou da potência
de ser algo ao acto de ser. Por exemplo: a camisa do uniforme está em acto, existe
actualmente, não é aquele simples tecido.

Estes dois conceitos são correlativos: o acto explica a unidade do ser enquanto é e a potência
explica o que a matéria pode vir a ser.

4.1.4 Essência e existência

Também são dois conceitos correlativos. Para Aristóteles: a essência é o quê de uma coisa,
isto é, não o que seja, mas aquilo que uma coisa é. Trata-se da qualidade ou determinação sem
a qual uma coisa não seria o que factualmente é. A existência é a actualização da essência; é a
realidade, a substância em acto.

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 77


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Portanto, a essência e a existência são princípios necessários da afirmação e constituição do


ser; pois é inconcebível um ser sem essência ou um ser sem existência. Por isso, a essência
nada é sem a existência e a existência não é sem a essência.

Para o essencialismo, a essência é a primeira que a existência: o ser define-se primeiramente e


só depois se torna isto ou aquilo. Enquanto o existencialismo defende a primazia da existência
sobre a essência: uma pessoa não tem qualquer natureza ou conjunto de escolhas
predeterminadas, pois é sempre livre para fazer novas escolhas e constituir-se como uma
pessoa diferente.

4.1.5 A cadeia aristotélica de causas: Tomás de Aquino e as cinco vias

A causa refere-se à força transformadora das coisas (da potência ao acto) que confere um
determinado modo de ser.

Para Aristóteles, os seres criados não têm a razão de ser em si mesmos e distingue quatro
causas que concorrem para a produção de qualquer coisa:

Causa eficiente – aquilo que produz uma coisa. É o artífice que confere o ser que
antes uma coisa não possuía.
Causa material – condição ou aquilo de que uma coisa é feita.
Causa formal – a forma ou o aspecto que um determinado ser toma ou que é
plasmado pelo seu criador.
Causa final – o propósito ou o objectivo com que uma coisa é feita.

Tomás de Aquino, na idade média, fala de cinco vias que também são conhecidas como as
provas da existência de Deus.

1. O movimento do mundo só é explicável se existir um primeiro motor imóvel.

2. A série de causas eficientes no mundo devem conduzir a uma causa sem causa.

3. Os seres contingentes e corruptíveis devem depender de um ser necessário independente e


incorruptível.

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4. Os diversos graus da realidade e bondade do mundo devem ser aproximações a um máximo


de realidade e bondade subsistente.

5. A teologia normal de agentes não conscientes no universo implica a existência de um


orientador universal inteligente.

4.1.6 A metafísica e o fim último do Homem

Não há unanimidade sobre os fins para os quais o Homem foi criado. Mas prevalece uma
visão teleológica para a existência humana.

Para Aristóteles, toda a acção humana é feita em função de um fim que é o bem soberano, isto
é, a felicidade. Para ele, ser feliz é o fim último da existência humana. A chave da felicidade
compreende o prazer, ser cidadão livre e viver segundo a razão.

Também, na idade média, Santo Agostinho afirma que o Homem é chamado a ser feliz. Para
ele, a felicidade consiste na busca de um bem permanente que é Deus. São Tomás acredita
que o homem foi criado em função de um fim: o fim sobrenatural que é a salvação das almas
individuais e o fim natural que é a felicidade terrena.

Para Brazão Mazula, pensador moçambicano, o Homem tem de agir de acordo com a ética da
felicidade que se baseia num trabalho duro, na criatividade e na honestidade e não na
acumulação ilícita de bens.

4.2 Estética

4.2.1 Conceito de estética

A estética é a ciência do belo. Uma disciplina filosófica que se ocupa no estudo do belo. Para
Kant, a estética é a ciência que trata das condições de percepção pelos sentidos.

O objecto de estudo da estética, enquanto ciência e teoria do belo, é o tipo de conhecimento


adquirido pelos sentidos como bela arte. Os problemas fundamentais da estética são: a
natureza da arte, o seu fim e a sua relação com as outras esferas da vida humana.

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 79


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4.2.2 A essência do belo

Para Platão, a arte é uma imitação da natureza que é cópia das ideias do mundo das ideias; o
alvo da imitação é o belo. Para Aristóteles, a arte não é apenas a imitação da natureza, trata-se
de uma reprodução da natureza com a intenção de a superar. Para Vico, a arte é um modo
fundamental e original de homem se expressar numa determinada fase do seu
desenvolvimento: a dos sentidos, a da fantasia e a da razão.

A arte como a mais sublime expressão humana da natureza e do universo opõe-se a própria
Natureza que o homem pretende exprimir e interpretar. Quando é simples manifestação do
belo, denomina-se belas-artes e, quando a arte visa fins lucrativos, denomina-se artes úteis.

4.2.3 O belo como fundamento da arte


Não há consenso sobre o que é belo ou sobre o que não o é, porque, o que é belo é subjectivo.
A obra da arte é a representação subjectiva da realidade. Não existem valores comungados por
todos os povos e em todos os tempos. O belo é o que nos reúne mais facilmente e mais
misteriosamente. Daí que, a obra de arte deve ser uma representação bela do mundo do artista.

4.2.4 As belas artes

Existem as artes mecânicas (metalurgia e têxteis) em que o artista está preocupado com a
utilidade da sua obra (o lucro). Existem as belas artes em que a preocupação fundamental do
artista é a expressão do gosto pelo belo.

As belas-artes classificam-se em artes plásticas e artes rítmicas.

As artes plásticas são aquelas que exprimem a beleza sensível através do uso das formas e das
cores, que são: a escultura, a pintura e a arquitectura.

As artes rítmicas ou artes de movimento são artes que, na sua essência, produzem obras que
exprimem a beleza mediante várias formas: sons, ritmos e movimentos. São elas: a poesia, a
música e a coreografia.

4.2.5 Significado e valor social das produções artísticas

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As obras da arte tratam a vida quotidiana de uma sociedade. Sendo a representação da


percepção do artista, torna-se a janela através da qual a sociedade nela se revê. Ou seja, a
sociedade espelha-se nas obras de arte, porque estas são a sua representação. A arte pode
intuir o que poderá ser uma sociedade futura.

4.2.6 A arte e a moral: relação mútua?

Para Platão, a arte é fruto do amor que impele a alma para a imortalidade. Para atingi-la, a
alma gera e procria o belo antecipando a vida feliz. Assim, a arte deve subordinar-se à moral.
Deve ser favorecida só a arte que é útil `a educação e condenada e excluída a arte que
favorece a corrupção. Para Platão, a única arte digna de ser cultivada é a música porque educa
para o belo e forma a alma para a harmonia interior.

Para Kant, a estética e a ética estão separadas pelo interesse presente na ética (a moral –
virtudes), mas o belo e o bom estão próximos porque agradam imediatamente, são
universalmente partilháveis, são inspirados por uma forma e são livres.

Em suma, o artista, enquanto homem, está sujeito à moral.

Bibliografia

ALVES, Fátima. ARÊDES, José. CARVALHO, José. Introdução à Filosofia 11º Ano–
Pensar e Ser. 4.ed. Texto Editora. Lisboa. 1997.

CHAMBISSE, Ernesto e outros. Emergência do Filosofar. Moçambique Editora. Maputo.


2004.

DIAS, Rui dos Anjos. Filosofia 7º Ano. Livraria Almeida Editora. Coimbra. 1972.

FERREIRA, Maria Luísa Ribeiro. Introdução à Filosofia. 11º Ano. Texto Editora. Lisboa.
1997.

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 81


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GEQUE, Eduardo. BIRIATE, Manuel. Filosofia 12. Pré-Universitário. Editora Longmam.


Maputo. 2010.

Compilado por: dr Dauda Abudo , Página 82

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