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UNIDADE TEMÁTICA: Introdução à Lógica II

LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO

Lógica – é a ciência que estuda as condições do pensamento válido, ou seja, do pensamento que
visa alcançar a verdade.

Visto que o Homem é capaz de argumentar e, neste processo é possível que os argumentos por
ele construídos sejam verdadeiros ou falsos, convicentes ou não e, por vezes enganosos, é
necessário que se baseie na lógica.

O Homem erra também no seu próprio pensamento. Por isso, com base na lógica, não só
distinguimos os argumentos válidos dos inválidos, como também compreendemos por que razão
os mesmos são correctos ou incorrectos.

O Homem possui uma ferramenta que outros animais não têm, a racionalidade.

A racionalidade é o uso da razão nas suas várias funções de conhecer, justificar, fundamentar
em diversos domínios da acção humana, facto que faz com que existam diversos tipos de
racionalidade. Mas aqui interessam-nos dois tipos de racionalidade:

Racionalidade argumentativa – é um tipo de racionalidade que se distingue em particular da


racionalidade demonstrativa, ou seja, da racionalidade puramente formal, que se aplica na
Geometria, na Matemática ou Lógica.

Racionalidade filosófica – é também uma racionalidade argumentativa, pelo facto da


característica fundamental da reflexão filosófica ser a argumentação, baseada na comparação,
confrontação e discussão de diferentes pontos de vista em teorias ou teses, sobre os problemas
filosóficos em debate.

Argumentar – é fornecer argumentos ou razões a favor ou contra determinada tese.

A argumentação constitui um acto de pensamento e de discurso, o que implica a produção de


proposições, ou seja, enunciados, teses e opiniões que requerem justificações e provas
demonstrativas.

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A argumentação é também um acto de comunicação no qual o interlocutor não só expõe, como
também partilha com o seu público-alvo, suas ideias ou opiniões sobre determinados assuntos.
Argumentar é sem dúvida a arte de persuadir e convencer um dado auditório. A argumentação é
um acto comunicacional, utilizando um discurso argumentativo e também a retórica.

O discurso filosófico é um discurso comunicacional que utiliza raciocinios argumentativos.

Argumentação V.S Demonstração

Na argumentação, fornecemos argumentos com recurso à retórica e não se trata de um


monólogo, mas sim de um diálogo comunicativo, onde pretendemos persuadir um auditório, que
recenhecemos como nosso interlocutor e do qual esperamos adesão: acto pessoal dirigido a
indivíduos.

A demonstração é um processo impessoal, cuja validade depende das deduções efectuadas. É


um processo independente do sujeito e orador e diz respeito à validade de uma conclusão que
parte das premissas com que se relaciona.

Persuasão – é um discurso que recorrendo à sedução, apela mais ao sentimento, ao coração, ao


inconsciente do que à razão; faz uso de argumentos passionais ou preferenciais. O seu objectivo
é tornar algo apetecível, desejável, agradável. Sua função é criar uma necessidade de forma
fictícia e, não só impor o um desejo.

LÓGICA DO JUÍZO/PROPOSIÇÃO

Tradicionalmente, designou-se juízo como segunda operação da mente, para diferenciá-lo do


conceito, que é a primeira operação.

No Conceito, o pensamento faz a apreensão das essências: “quadrado”, “mesa”. No Juízo o que
se segue é a tomada de posição face a essas mesmas essências, por exemplo, “A mesa é
quadrada.”

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Juízo é o acto mental pelo qual se afirma ou se nega alguma coisa. Como tal, todo o juízo é
susceptível de uma apreciação valorativa, em termos de verdade ou falsidade, consoante o seu
acordo ou não com a realidade.

É o processo que conduz ao estabelecimento das relações significativas entre conceitos, que
conduzem ao pensamento lógico.

Como acto do pensamento, o juízo tem a sua expressão verbal na proposição ou no enunciado, da
mesma forma que o conceito se materializa no termo.

Só são proposições lógicas ou correspondem à juízos, aquelas proposições que traduzem uma
afirmação ou negação, podendo ser consideradas verdadeiras ou falsas, recebendo assim o nome
de juízos, dado que exprimem uma relação de concordância ou discordância entre dois conceitos
ou termos considerados Sujeito e Predicado.

Conceitos ou termos soltos como “Lionel Messi”, “Severino Ngoenha”, não constituem
proposições ou juízos, porque não são susceptíveis de serem verdadeiros ou falsos. Apenas
quando relacionados com al.go é que formarão ou serão juízos: “Lionel Messi é jogador”,
“Severino Ngoenha é académico/filósofo”.

É preciso que se introduza o verbo ser (na forma afirmativa ou negativa), para que uma
proposição possa se tornar num juízo.

Existem juízos que aparentam não ter o verbo ser, como, por exemplo, “Maria Come”, “Paulo
Canta”. Mas estes juízos podem ser aceites como equivalentes a “Maria está a comer”, “Paulo é
cantor”.

ESTRUTURA DO JUÍZO E SUA FORMA PADRÃO

O juízo apresenta elementos constituintes que são:

Sujeito (S) – é aquilo acerca do qual se afirma ou se nega algo. Trata-se da coisa de que se fala
ou de quem se fala.

Predicado (P) – é a qualidade ou característica que se afirma ou se nega pertencer ao sujeito.

Cópula – é o elemento de ligação entre o sujeito e o predicado. É representado pelo verbo “ser”.
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No juízo é importante a presença dos quantificadores, visto que nos indicam se o predicado é
atribuído a todos os elementos da extensão do sujeito ou a uma parte deles ou ainda, se não é
atribuído a qualquer deles.

Quantificadores – todo(s) , nenhum, alguns ou certos ou ainda, há, estes três últimos como
indicadores da parte de um todo.

Forma padrão do juízo categórico

Juízo categórico, é todo juízo que afirma ou nega, sem reservas ou absolutamente, a relação entre
sujeito e predicado.

Na sua forma padrão os juízos, tal como consagra a lógica clássica, são introduzidos pelos
quantificadores todo ou todos, nenhum e alguns.

Alguns alunos são preguiçosos – é a forma padrão que exprime uma proposição como “Há
alunos que são preguiçosos”. Todas as proposições da nossa linguagem corrente podem ser
reduzidas à forma padrão.

Em lógica, expressões como nem todos, muitos, certos, há e existem, são utilizadas com o
significado de alguns.

CLASSIFICAÇÃO DOS JUÍZOS E DAS PROPOSIÇÕES

I. Quanto à quantidade
i.i. Juízos universais – quando o predicado se aplica a toda extensão do sujeito.
Ex: Todos os homens são mamíferos.
Nenhum homem é imortal.
i.ii. Juízos particulares – quando o predicado se aplica apenas a uma parte da extensão
do sujeito.
Ex: Algumas mulheres são educadas.
i.iii. Juízos singulares – quando o predicado se refere a um único indivíduo.
Ex: O José é carpinteiro.

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As proposições singulares referem-se a universos constituídos por um só indivíduo no conjunto
de tantos outros, isto é, universos particularizados. Por isso, rigorosamente falando, as
proposições singulares são redutíveis a proposições particulares.

II. Quanto à qualidade


ii.i. Afirmativos – quando o predicado é afirmado em relação ao sujeito.
Ex: Jorge é um menino exemplar.
ii.ii. Negativos – quando a cópula indica que o predicado não é aplicável ao sujeito.
Ex: O Mateus não é um aluno dedicado.
III. Quanto à inclusão ou não inclusão do predicado no sujeito
iii.i. Analíticos – quando o predicado está compreendido no sujeito.
Ex: O quadrado tem quatro lados iguais.
Todo triângulo possui três lados.
iii.ii. Sintéticos – quando o predicado não está contido na noção do sujeito, porém
acrescenta algo ao mesmo.
Ex: Os bitongas são avarentos.
Os militares são confusos.
IV. Quanto à dependência ou não da experiência
iv.i. a priori – quando a sua veracidade pode ser conhecida independentemente da
experiência.
Ex: O quadrado tem quatro lados iguais.
iv.ii. a posteriori – quando a sua veracidade so pode ser conhecida através da
experiência.
Ex: Os machanganas são altos.
V. Quanto à relação ou condição
v.i. Categóricos – quando há afirmação ou negação sem reservas. Exprimem uma
correspondência clara e sem condições entre o enunciado e aquilo que referem.
Ex: O Homem é mortal.
v.ii. Hipotéticos – quando há afirmação ou negação sob condição (condicional).
Ex: Se não te esforçares, serás um fracassado.
Se estudares, passarás de classe.

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v.iii. Disjuntivos – quando a afirmação de um predicado exclui os outros
(incompatibilidade).
Ex: Maria, coma ou cante.
VI. Quanto à modalidade
vi.i. Assertóricos – quando enunciam uma verdade de facto, embora não necessária
logicamente.
Ex: O Dominguês é um jogador exemplar.
vi.ii. Problemáticos – quando enunciam uma possibilidade.
Ex: Os alunos são provavelmente indisciplinados.
vi.iii. Apodícticos – quando são necessariamente verdadeiros; o predicado convém
necessariamente ao sujeito.
Ex: O Homem é racional.
VII. Quanto à matéria
vii.i. Necessários – quando o predicado convém e não pode não convir ao sujeito.
Ex: O Homem é mortal.
Vii.ii. Contigentes – quando o predicado convém de facto ao sujeito, mas poderia
também não convir.
Ex: O engenheiro cumpriu com o prazo.
vii.iii. Impossíveis (ou absurdos) – quando o predicado não pode convir ao sujeito.
Ex: O círculo é quadrado.

OS QUATRO (4) TIPOS DE PROPOSIÇÕES CATEGÓRICAS

Na combinação da qualidade e da quantidade, surgem quatro (4) tipos de juízos importantes na


teoria das inferências.

A Lógica trabalha com argumentos formalizados, substituindo por símbolos os conteúdos das
proposições ou juízos que compõem o argumento, abstraindo-se do conteúdo das mesmas e
trabalhando apenas a sua forma.

Aristóteles definiu que cada um dos elementos de uma proposição seria substituído por um só
símbolo.

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Ex: O Paulo é um jovem educado.
↓ ↓ ↓
Sujeito cópula predicado

Ao formalizar o juízo substituem-se os termos por letras ou símbolos ficando: Sujeito-S; Cópula-
é/não é; Predicado-P.
 Universais afirmativos (A): são da forma “Todo o S é P”.
Ex: Todos os angolanos são africanos.
 Universais negativos (E): são da forma “Nenhum S é P”.
Ex: Nenhum homem é imortal.
 Particulares afirmativos (I): são da forma “Algum S é P”.
Ex: Alguns funcionários são honestos.
 Particulares negativos (O): são da forma “Algum S não é P”.
Ex: Alguns funcionários não são honestos.
As vogais que identificam cada tipo de proposição são extraidas das palavras: “AfIrmo” e
“nEgO”.

LÓGICA DO RACIOCÍNIO/DISCURSO: NOÇÃO E DIVISÃO DO RACIOCÍNIO

Raciocínio (sinónimo de inferência) – é a operação mental a partir da qual passamos de juízos


conhecidos para um ou mais juízos novos até então desconhecidos e que são o seu fim lógico.
Composição do raciocínio
O raciocínio, enquanto operação mental, é composto por juízos, e o argumento, que é a
expressão oral ou mental do raciocínio, é composto por proposições.
O argumento, é a relação existente entre as diversas proposições que constituem um raciocínio.

Inferência – é o processo mental (raciocínio) a partir do qual, partindo de uma ou mais


proposições, se passa para outra, ou outras, cuja conclusão lógica ou verdade resulta da verdade
das primeiras.
Se partirmos do pressuposto de que os juízos representam conhecimentos que se adquirem, as
inferências serão formas de, a partir desses conhecimentos, chegar a outros conhecimentos. Para

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tal, a inferência parte de um ou mais juízos, que se designam por premissas, para chegar a um
outro juízo, que é a conclusão.
A inferência é o movimento do pensamento que liga a(s) premissa(s) à conclusão. Inferência,
raciocínio e argumento designam essa mesma operação e são, por isso, sinónimos. As
inferências são de dois tipos: inferência imediata e inferência mediata.

Inferência imediata ou simples


É a operação lógica em que de uma única premissa se extrai logo uma ou mais conclusões.
Os dois tipos de inferência imediata são a conversão e a oposição, que são importantes na
medida em permitem definir melhor a quantidade do predicado das proposições, possibilitando
maior flexibilidade noutros tipos de inferências, os silogismos.

Inferências imediatas por oposição


A oposição consistirá no processo de passar de uma proposição a outra, a qual apenas difere
da primeira na qualidade e/ou na quantidade. Deste processo resultam quatro (4) tipos de
proposições: contrárias, subcontrárias, contraditórias e subalternas.

Proposições Contrárias – (A e E)
São proposições universais que, tendo o mesmo sujeito, diferem apenas na qualidade.
Ex: Todos os homens são mortais. – A
Nenhum homem é mortal. – E
Lei – Não podem ser simultaneamente verdadeiras, mas podem ser ambas falsas.
Ex: Todos os africanos são negros. A
Nenhum africano é negro. E
Estas proposições são contrárias e são ambas falsas.

Proposições Subcontrárias – (I e O)
São proposições particulares que tem o mesmo sujeito, mas diferem na qualidade.
Ex: Alguns moçambicanos são altos. – I
Alguns moçambicanos não são altos. – O
Lei – Podem ser simultaneamente verdadeiras, porém não podem ser simultaneamente falsas.

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NB: Se uma proposição é falsa, a outra proposição é verdadeira.

Proposições Subalternas – (A e I; E e O)
São proposições que apenas diferem na quantidade.
Ex: Todos os maputenses são altos. – A Nenhum maputense é alto. – E
Alguns maputenses são altos. – I Alguns maputenses não são altos. – O
Lei:
 Sempre que a proposição universal for verdadeira, a particular também será.
 Se a universal for falsa, a particular pode ser verdadeira ou falsa.
 Quando a particular for falsa, a universal também será necessariamente falsa.
 Quando a particular for verdadeira, o valor da universal poderá ser verdadeiro ou falso.

Proposições Contraditórias – (A e O; E e I)
São proposições que tem mesmo sujeito e mesmo predicado, mas que diferem simultaneamente
em qualidade e em quantidade.
Ex: Todos os jovens são educados. – A Nenhum jovem é educado. – E
Alguns jovens não são educados. – O Alguns jovens são educados. – I
Lei – Não podem ser simultaneamente verdadeiras ou falsas.
NB: Se uma é verdadeira, a outra é falsa, e vice-versa.

Tabela das regras das relações de oposição de proposições


Relações de oposição Valores de Verdade
Contrárias (A – E) A(v) → E(f) E(v) → A(f)
A(f) → E(?) E(f) → A(?)
Subcontrárias (I – O) I(v) → O(?) O(v) → I(?)
I(f) → O(v) O(f) → I(v)

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A(v) → I(v) I(v) → A(?)
(A – I) A(f) → I(?) I(f) → A(f)
Subalternas E(v) → O(v) O(v) → E(?)
(E – O) E(f) → O(?) O(f) → E(f)
A(v) → O(f) O(v) → A(f)
(A – O) A(f) → O(v) O(f) → A(v)
Contraditórias E(v) → I(f) I(v) → E(f)
(E – I) E(f) → I(v) I(f) → E(v)

Quadro lógico da oposição de proposições


A Contrárias E

Contraditórias
Subalternas Subalternas

Contraditórias

I Subcontrárias O

Inferências imediatas por conversão


A oposição constitui a primeira forma de inferências imediatas ou simples.
A conversão é a segunda forma, como operação lógica.

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Na conversão o que ocorre é a troca do sujeito pelo predicado e do predicado pelo sujeito. Mas
há que ter em conta que os termos permutados não podem ter maior extensão na conclusão do
que tinham na proposição conversa.
Ex: “Algumas mulheres são engenheiras.”
Conversão: “Todas as engenheiras são mulheres.” – errada
“algumas engenheiras são mulheres.” – certa

Tipos de conversão
 Conversão simples – aplica-se às proposições do tipo E e I. E porque o sujeito e o
predicado têm a mesma extensão ou quantidade, a conversão será feita pela permuta do
sujeito pelo predicado e do predicado pelo sujeito da proposição inicial, sem alterar nem
a quantidade, nem a qualidade.
Ex: “Nenhum moçambicano é brasileiro.” – E “Certos alunos são responsáveis.” – I
“Nenhum brasileiro é moçambicano.” – E “Certos responsáveis são alunos.” – I
Excepção: Para o caso das proposições do tipo A, quando exprime definições recíprocas.
Ex: Todo triângulo é um polígono de três lados.
Todo polígono de três lados é um triângulo.

 Conversão por limitação (ou por acidente) – aplica-se às proposições do tipo A, nas
quais o sujeito é universal, isto é, é tomado em toda a sua extensão, e o predicado é
particular, por se tratar de uma proposição afirmativa.
Ao converter qualquer proposição do tipo A, tem que se manter na proposição inicial, a
extensão do predicado (particular), de modo que a proposição daí resultante seja
particular.
Ex: “Todo o homem é bípede.” – A “Todos os beirenses são moçambicanos.” – A
“Algum bípede é homem.” – I “Alguns moçambicanos são beirenses.” – I

 Conversão por negação – aplica-se às proposições do tipo O, que apresentam um sujeito


particular e um predicado universal, por ser negativa.
Primeiro deve se transformar a proposição do tipo O, numa proposição afirmativa do tipo
I, transferindo a negação da cópula para o predicado da proposição resultante.

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Ex: “Alguns alunos não são dedicados.” – O
“Alguns não-dedicados são alunos.” – I

 Conversão por contraposição – aplica-se às proposições do tipo A e O. Obtém-se


juntando a partícula da negação (não) ao sujeito e ao predicado da proposição a converter
e, em seguida, faz-se a conversão simples, isto é, a permuta dos termos.
Ex1: “Todos os casais são felizes.” – A
“Todos os não-felizes são não-casais.” – A
Ex2: “Alguns homens não são honestos.” – O
“Alguns não-honestos não são não-homens.” – O

Inferências mediatas (ou raciocínios e argumentos)


Dividem-se em três grupos: dedutivos, indutivos e analógicos
A analogia é um raciocínio muito vulgar entre o senso comum, que ocorre também no âmbito
científico, concretamente no caso da Biologia, onde o investigador conclui, a partir da presença
efectiva de alguns caracteres, a presença de outros caracteres a que não poderia chegar por outro
processo.
Consiste num raciocínio que, partindo de determinadas semelhanças observadas, infere outras
semelhanças que não são visíveis. Isso não significa que algo impeça a existência de diferenças
que levariam a resultados diferentes.
As conclusões que daqui surgem são mais ou menos prováveis, não oferecem a mesma
segurança que a dedução.
A analogia parte do particular para o particular.
Regras:
 A comparação deve basear-se em elementos reais e relevantes, e não em elementos
imaginários ou hipotéticos;
 Quanto mais elementos forem comparados, mais validade terá uma analogia;
 As divergências entre os elementos a comparar não devem ser muito profundas.

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A indução: parte do particular para o geral.
Caracteriza-se pela formulação de enunciados gerais a partir da observação de um número
particular de casos, ou seja, partindo do particular para o mais geral, ou da observação de alguns
fenómenos para a formulação de uma lei mais geral.
Ex: Os bitongas são avarentos.
Todos homens são iguais.

A dedução: parte do geral para o particular.


Aqui o raciocínio parte do geral para o particular, ou seja, da lei para a sua aplicação.
 Enquanto na indução o ponto de partida é a experiência, particular e contigente, para se
chegar ao geral, na dedução, a experiência não desempenha papel algum: chega-se a uma
conclusão, que deriva única e exclusivamente das premissas de que se partiu e constitui
uma consequência necessária dessas premissas.
Dedução é a inferência em que de uma ou mais premissas tomadas como verdadeiras, se tira
uma conclusão tomada necessariamente como verdadeira.
Ex: O Homem é racional.
Carlos é homem.
Logo, Carlos é racional.
NB: A dedução possui grau de rigor absoluto, enquanto a analogia e a indução, estão sempre
sujeitas a uma certa margem de erro.

NOÇÃO DO SILOGISMO:
- Estrutura e matéria, princípios do silogismo e regras dos termos.
O silogismo Categórico Regular

Para Aristóteles é uma forma de inferência mediata ou raciocínio dedutivo formado por três
proposições, sendo as duas primeiras designadas por premissas e a terceira por conclusão.

Estrutura e matéria do silogismo

Todo o silogismo categórico regular é composto por três proposições ou juízos.


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Exemplo: Todos os moçambicanos são simpáticos.

Ora, todos os machanganas são moçambicanos.

Portanto, todos os machanganas são simpáticos.

Termo Médio – figura nas duas premissas e não está presente na conclusão. Este é representado
pela letra M.

Termo Maior – figura na primeira premissa ou premissa maior e tem maior extensão. Este é
representado pela letra P.

Termo Menor – figura na segunda premissa ou na premissa menor e tem menor extensão. Este é
representado pela letra S.

P é S – S é sujeito na conclusão e o P é o predicado da conclusão.

PRINCÍPIOS DO SILOGISMO

São os fundamentos e garantes da possibilidade da coerência do pensamento (raciocínio).


Obedecer à eles, é a chave para uma formulação correcta e lógica do raciocínio. Os princípios do
silogismo são:

Princípio da compreensão ou princípio lógico da identidade - sustenta que duas coisas ou


ideias idênticas a uma terceira, são idênticas entre si.

Exemplo: Todos os jovens são educados.

Alguns alunos são jovens.

Alguns alunos são educados.

Princípio lógico da discrepância – sustenta que duas coisas ou ideias em que uma é idêntica e a
outra não é idêntica a uma terceira, não são idênticas entre si.

Exemplo: Todos os jovens são alunos.

As plantas não são jovens.

As plantas não são alunos.


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Princípio de extensão – sustenta que o que é afirmado ou negado universalmente de um sujeito,
afirma ou nega o que está contido na extensão desse sujeito. O que se afirma ou se nega do todo
afirma-se ou nega-se das partes.

Exemplo: Todos os moçambicanos são ambiciosos

Logo, afirmamos que os maputenses, macuas, beirenses e cada um dos moçambicanos


são ambiciosos.

REGRAS DO SILOGISMO

Existem oito regras que o silogismo deve obedecer para ser considerado válido: quatro são
referentes aos termos e quatro às proposições ou premissas.

Regras dos termos

1- O silogismo regular deve conter três termos: médio, maior e menor.


2- O termo médio não deve figurar na conclusão.
3- O termo médio deve ser tomado universalmente pelo menos uma vez. Ou seja, o termo
médio nunca deve ser empregue em ambas vezes com a extensão particular.
4- Nenhum termo deve ter maior extensão na conclusão do que tinha nas premissas.

Regras das proposições ou premissas

1- De duas premissas afirmativas não se pode tirar conclusão negativa.


2- De duas premissas negativas nada se pode concluir.
3- Nada se pode concluir de duas premissas particulares.
4- A conclusão segue sempre a quantidade e qualidade mais fracas das premissas.

FIGURAS E MODOS DOS SILOGISMOS, SILOGISMOS IRREGULARES E


SILOGISMOS HIPOTÉTICOS

Figuras dos silogismos

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As regras do silogismos das quais tratamos anteriormente, é que dão origem às figuras e aos
modos do silogismo.

Entende-se por figuras do silogismo as diferentes disposições dos termos resultantes da variação
da função lógica do termo médio nas premissas.

As figuras do silogismo são num total de quatro e se referem a posição que o termo médio ocupa
nas premissas:

 como sujeito numa premissa e predicado na outra;


 como predicado numa premissa e sujeito na outra;
 como predicado e sujeito em ambas premissas.

A designação de cada uma das figuras é baseada na abreviatura da função “sujeito” e


“predicado” formadas das palavras latinas de origem: sub (de subjectum) e prae (de
praedicatum).

As primeiras três figuras do silogismo são apelidadas figuras aristotélicas pelo facto de serem da
autoria de Aristóteles. A 4ª figura é uma inversão da primeira figura de Aristóteles, e é da autoria
de Galeno. As quatro figuras encontram-se relacionadas duas a duas de tal modo que da 1ª
figura (sub, prae) surge a 4ª figura (prae, sub); da 2ª figura (prae, prae) surge, por inversão, a
3ª figura (sub, sub).

Importante: os termos menor e maior na conclusão assumem uma posição invariável, ou seja,
constante. Isso significa que, o termo menor aparece sempre como sujeito e o termo maior
sempre como predicado na conclusão.

1ª Figura (Sub – Prae)

M P Ex: Todo jovem é esperto.

Ora, Xavier é jovem.

S M Logo, Xavier é esperto.


S cópula P

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Nesta figura o termo médio é sujeito na premissa maior e predicado na menor. E os restantes
termos (maior e menor) serão predicado e sujeito nas premissas, respectivamente.

2ª Figura (Prae – Prae)

P M Ex: Os poetas não são cantores.

Ora, os bailarinos são cantores.

S M Logo, os bailarinos não são


S cópula P poetas.

Nesta figura o termo médio é predicado nas duas premissas.

3ª Figura (Sub – Sub)

M P Ex: Os gatos não são racionais.

Ora, os gatos são peludos.

M S Logo, alguns peludos não são


S cópula P racionais.

Nesta figura o termo médio é sujeito nas duas premissas.

4ª Figura (Prae – Sub)

P M Ex: Os bitongas são hospitaleiros.

Ora, os hospitaleiros não são maus.

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M S Logo, não há maus que sejam bitongas.
S cópula P

Nesta figura o termo médio é predicado na premissa maior e sujeito na premissa menor.

Modos do silogismo

São a forma como os diferentes tipos de proposições (A, E, I, O) são apresentadas no silogismo.

Como obter o modo de um silogismo?

R: Nós temos 4 sentenças categóricas (A, E, I, O)

Figuras Possíveis Premissas Menores Premissas Maiores

4 × 4 × 4 = 64 Modos possíveis do silogismo

64 Modos possíveis do silogismo × 4 conclusões = 256 Silogismos possíveis

Deste resultado, apenas 19 modos são válidos.

1ª Figura BArbArA cElArEnt dArII fErIsOn


Todo M é Nenhum M é P Todo M é P Nenhum M é P
P
M P Todo S é M Algum S é M Algum S é M
Todo S é Nenhum S é P Algum S é P Algum S não é P
M
SM
Todo S é P
S cópula P

2ª Figura cEsArE cAmEstrEs fEstInO bArOcO


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Nenhum P é M Todo P é M Nenhum P é M Todo P é M

P M Todo S é M Nenhum S é M Algum S é M Algum S não é M


Nenhum S é P Nenhum S é P Algum S não é P Algum S não é P

SM

S cópula P

3ª Figura dArAptI fEiAptOn dIsAmIs dAtIsI bOcArdO fErIsOn


Todo M é P Nenhum M é P Algum M é P Todo M é P Algum M não é Nenhum M é P
P

MP Todo M é S Todo M é S Todo M é S Algum M é S Algum M é S


Algum S é P Algum S não é P Algum S é P Algum S é P Todo M é S Algum S não é P
Algum S não é P

MS

S cópula P

4ª Figura bAmAlIp cAmEnEs dImAtIs fEsApO frEsIsOn


Todo P é M Todo P é M Algum P é M Nenhum P é M Nenhum P é M

PM Todo M é S Nenhum M é S Todo M é S Todo M é S Algum M é S


Algum S é P Nenhum S é P Algum S é P Algum S não é P Algum S não é P

MS

S cópula P

Regras das figuras e modos do silogismo

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 Regra da 1ª Figura: a premissa maior será universal e a menor será afirmativa.

 Regra da 2ª Figura: a) a premissa maior será universal afirmativa, caso a menor for
negativa; b) a premissa maior será universal negativa, caso a menor for afirmativa. E a
conclusão será sempre negativa.

 Regra da 3ª Figura: a premissa menor deve ser afirmativa e a conclusão particular.

 Regra da 4ª Figura: a) quando a premissa maior é afirmativa, a menor é universal; b)


quando a premissa menor é afirmativa, a conclusão é particular.

CLASSIFICAÇÃO DOS SILOGISMOS

Existem dois tipos principais de silogismo: os Categóricos (que se subdividem em regulares e


irregulares) e os Hipotéticos.

Os categóricos regulares são aqueles silogismos que apresentam três proposições e três termos
na sua estrutura.

Silogismos irregulares/derivados são os silogismos categóricos que, na sua estrutura e matéria,


apresentam mais ou menos do que três termos e mais ou menos do que três premissas. Apesar
destas estruturas argumentativas serem válidas, não seguem o padrão do silogismo categórico.

Entimema (silogismo incompleto)

É o silogismo em que uma das premissas, às vezes até a própria conclusão, é subentendida.
Vezes há em que as duas premissas são subentendidas.

Exemplo1: “Não devo fazer isto”; “Tenho que fazer aquilo.”

As premissas podem ser: Se fizer isto ficarei mal visto;


Ora, não quero ser mal visto;
Logo, não devo fazer isto.

Exemplo2: A Sida é uma doença infecciosa porque é transmitida por um vírus.

Produção: Professor Fenias Chivambo 20


Falta no exemplo a premissa maior: - As doenças infecciosas são transmitidas por vírus.

Forma padrão: As doenças infecciosas são transmitidas por vírus.


A sida é transmitida por vírus.
Portanto, a sida é uma doença infecciosa.

Exemplo3: A malária é a principal causa de mortes humanas em África.

Faltam no exemplo a premissa maior e menor:

Premissa maior: As doenças são as principais causadoras de mortes humanas em África.

Premissa menor: A malária é uma doença.

Forma padrão: As doenças são as principais causadoras de mortes humanas em África.

A malária é uma doença.

Portanto, a malária é a principal causadora de mortes humanas em África.

Epiquerema

É um silogismo em que uma ou as duas premissas vêm acompanhadas da prova ou respectivas


demonstrações. As premissas demonstrativas são acompanhadas, em geral, pelo termo porque
ou por outro que sirva para justificar ou demonstrar.

Exemplo: Aqueles que não têm ocupação, não têm em que se interessar e, portanto, são
infelizes, visto que, quem não tem alguma coisa em que se interessar é infeliz porque a felicidade
depende do bom êxito das realizações em que cada um está interessado.

Polissilogismo – compõe-se este raciocínio de vários silogismos, organizados de tal maneira que
a conclusão do primeiro serve de premissa maior ou menor, do silogismo seguinte.

Polissilogismo progressivo – quando a conclusão de um silogismo é premissa maior do


silogismo seguinte.

Produção: Professor Fenias Chivambo 21


Exemplo: Tudo quanto é nutritivo(A) é saudável(B). A=B

A fruta(C) é nutritiva(A). C=A

A fruta(C) é saudável(B). C=B Esquema do


Polis-

O citrino(D) é fruta(C). D=C silogismo

O citrino(D) é saudável(B). D=B Progressivo

A laranja(E) é um citrino(D). E=D

Portanto, a laranja(E) é saudável(B). E=B

Polissilogismo regressivo – quando a conclusão de um silogismo é premissa menor do


silogismo seguinte.
Exemplo: Tudo que é nutrutivo (A) é saudável(B). A=B
A toranja(C) é nutritiva(A). C=A
A toranja(C) é saudável(B). C=B Esquema do
Polissi-
As coisas saudáveis(B) são apetitosas(D). B=D logismo
A toranja(C) é apetitosa(D). C=D Regressivo
Tudo o que é apetitoso(D) agrada ao paladar(E). D=E
A toranja(C) é agradável ao paladar(E). C=E

Sorites – são espécies de polissilogismos abreviados.

Sorites progressivo: o sujeito da 1ª premissa torna-se predicado da 2ª premissa; o sujeito da 2ª


premissa se torna o predicado da 3ª premissa, assim em diante até à conclusão que une o sujeito
da última premissa ao predicado da 1ª premissa.

Exemplo: Sorites da malária

As doenças infecciosas(A) são parasitárias(B). A=B


As viroses tropicais(C) são doenças infecciosas(A). C=A Esquema do Sorites

Produção: Professor Fenias Chivambo 22


A malária(D) é uma virose tropical(C). D=C Progressivo
Portanto, a malária(D) é parasitária(B). D=B

Sorites regressivo: o predicado da 1ª premissa é sujeito da 2ª premissa; o predicado da 2ª


premissa é sujeito da 3ª premissa, assim em diante até à conclusão que une o sujeito da 1ª
premissa ao predicado da última.
Exemplo: Sorites da vacina
As vacinas(A) previnem as doenças(B). A=B
Quem se previne das doenças(B) tem mais saúde(C). B=C Esquema do Sorites
Quem tem mais saúde(C), mais alegre é(D). C=D Regressivo
Quem mais alegre é(D), ganha mais longevidade(E). D=E
Portanto, as vacinas(A) garantem uma maior longevidade(E). A=E

Silogismos Hipotéticos ou Compostos

São aqueles silogismos cuja premissa maior não afirma nem nega de forma categórica ou
absoluta, mas sim sob condição, ou, então, aqueles em que nessa premissa se estabelece uma
alternativa.

A premissa maior do silogismo hipotético é constituída por duas ou mais proposições simples
cujas ligações são feitas or conectores, isto é, por particulas de uniao, por exemplo: “se...então”,
“...e...”, “...ou...”.

Tipos de silogismos hipotéticos: Condicional, Disjuntivo, Conjuntivo e Dilema.

Silogismo condicional – é um silogismo cuja premissa é uma proposição condicional dividida


em duas partes: 1ª – A condição (ou antecedente); 2ª – O condicionado (ou consequente).

O silogismo condicional pode ter um modo positivo e um modo negativo – ambos válidos.

Modo positivo = “Modus Ponens” (afirmação do antecedente)

Consiste em: afirmar o antecedente na premissa menor; e em afirmar o consequente na


conclusão.

Produção: Professor Fenias Chivambo 23


Exemplo: Se A, então B Se p, então q; Ora, p; Logo, q. (p→q; p; logo, q)
A Se António medicar, então vai melhorar. (p→q)
Logo, B. Ora, António medica. (p)
Logo, vai melhorar. (logo, q)

Modo negativo = “Modus Tollens” (negação do condicionado)

O condicionado ou consequente é negado na premissa menor; a condição ou antecedente é


negada na conclusão.
Exemplo: Se A, então B Se p, então q; Ora, não q; Logo, não p. (p→q; ~q; logo,
~p)
Não B
Se Paulo fosse rico, teria o carro dos sonhos. (p→q)
Logo, não A. Ora, Paulo não tem o carro dos sonhos. (~q)
Logo, Paulo não é rico. (logo, ~p)
Duas regras fundamentais:

 A negação do consequente torna necessária a negação do antecedente.


 Da negação do antecedente nada se pode concluir.

É errado afirmar o consequente para depois afirmar o antecedente.

Exemplo: Se passo fome, então sou pobre.


Ora, sou pobre.
Logo, passo fome.
Erro: A probabilidade de ser pobre sem passar fome é maior; poderia ser pobre por falta de
abrigo, amigos, familiares.

Silogismo disjuntivo – é aquele cuja premissa maior é uma proposição disjuntiva, ou seja, nela
se estabelece uma alternativa entre dois termos, de modo que a afirmação ou negação, isto na
premissa menor, de um dos termos exclua a afirmação ou negação do outro. Neste silogismo o
que sucede é que a premissa menor afirma ou nega um dos membros e, a conclusão afirma ou
nega o outro.

Modus Ponendo-Tollens (ao afirmar, nega)

Exemplo: Ou Pedro é jovem ou é adolescente. A afirmação da adolescência de Pedro exclui

Produção: Professor Fenias Chivambo 24


Ora, Pedro é adolescente. necessariamente a sua juventude.
Portanto, ele não é jovem.

Modus Tollendo-Ponens (ao negar, afirma)

Exemplo: Ou Pedro é jovem ou é adolescente. A negação da juventude de Pedro admite


Ora, Pedro não é jovem. necessariamente a sua adolescência.
Portanto, ele é adolescente.

Silogismo conjuntivo – é aquele no qual a premissa maior não admite que dois termos opostos
prediquem em simultâneo um mesmo sujeito.

Modus Ponendo-Tollens (ao afirmar, nega)

Exemplo: Daniel não pode ser, simultaneamente, aluno da 12ª e da 11ª classe.

Visto que Daniel é aluno da 12ª classe; logo, ele não é aluno da 11ª classe.

Modus Tollendo-Ponens (ao negar, afirma)

Exemplo: Maria não pode ser macua e machangana ao mesmo tempo.

Ora, Maria não é machangana.

Logo, ela é macua.

Dilema – é um duplo silogismo com uma única conclusão.

É um raciocínio hipotético e disjuntivo que, é formado por uma proposição disjuntiva e por duas
condicionais, e qualquer que seja a opção escolhida, a consequência é sempre a mesma.

Exemplo: (Dilema de quem não tem o que comer)

Ou como o que está na mesa ou deixo de comer.

Se como o que está na mesa é porque não tenho alternativa melhor e, por isso, tenho de comer.

Produção: Professor Fenias Chivambo 25


Se não como, ficarei desnutrido e poderei morrer à fome, por isso tenho de comer o que está na
mesa.

Logo, de qualquer das formas, tenho de comer.

Regras do dilema

 A disjunção deve ser completa, para que o adversário não tenha outra saída.
 A refutação de cada uma das hipóteses deve ser feita validamente para que o opositor não
possa negar as consequências.
 A conclusão deve ser a única que pode ser deduzida, caso contrário o dilema pode ser
contestável.

FALÁCIAS E PARADOXOS:

Falácia

É um raciocínio errado, enganoso, que possui a aparência de verdadeiro/válido, podendo isso


levar à sua aceitação. Em outras palavras, pode se dizer que, tratasse de um argumento que
envolve uma forma não-válida de raciocínio.

As falácias classificam-se em:

 Falácias voluntárias – designam-se por sofismas, que são raciocínios produzidos de


forma a confundir alguém numa discussão. Este raciocínio é usado de modo a produzir a
ilusão de validade e, a sua conclusão é um paradoxo ou impasse.
 Falácias involuntárias – designam-se por paralogismos, que são raciocínios falsos
quanto à sua forma lógica, mas sem a intenção de enganar, tal como o sofisma.

Nas falácias ocorrem dois elementos:

 Uma verdade aparente – nelas o argumento é convincente e leva os incautos


(imprudentes) ao equívoco;
 Um erro oculto – a partir de uma verdade são retiradas conclusões falsas. Este erro pode
ter como causa: a ambiguidade dos conceitos, o sair do particular para o geral sem

Produção: Professor Fenias Chivambo 26


cautela; a tomada do relativo como absoluto; do parcial como total; do acidental como
essencial.

Tipos de Falácias

Falácia do equívoco – ocorre sempre que usamos, num argumento, de forma acidental ou
pensada, a mesma palavra em dois sentidos diferentes.

Exemplo1: Só o homem é que pensa.


Ora, nenhuma mulher é homem.
Logo, nenhuma mulher pensa.
No exemplo acima, a 1ª premissa, apresenta a palavra “homem”, em referência à espécie
humana. E na 2ª premissa, a mesma palavra é apresentada como se referindo ao ser humano do
sexo masculino.

Exemplo2: O cão é animal.


Portanto, um cão pequeno é um animal pequeno.
A questão que a que se coloca é, o tamanho do cão faz com que ele deixe de ser considerado
animal?

Anfibologia – ocorre quando argumenta-se a partir de premissas cujas formulações são


ambíguas em virtude da sua construção gramatical. Considera-se anfibológico, o enunciado cujo
significado não é claro, pelo modo confuso como suas palavras são combinadas.

Exemplo1: Todos os homens amam uma mulher.


Jorge ama Joana.
Logo, todos os homens amam a Joana.
Aqui temos uma ambiguidade, pois em geral, cada homem ama uma mulher diferente. Todos
amam uma mulher diferente. Razão pela qual, não podemos concluir que todos os homens amam
a Joana.

Exemplo2: Crença em Deus preenche uma fenda muito necessária.

Produção: Professor Fenias Chivambo 27


Neste exemplo há uma ambiguidade pelo facto de se empregar o termo fenda num contexto
imprório.

Falácia de Analogia – ocorre quando se ressaltam as semelhanças entre duas coisas ou mais, ou
quando são desprezadas as diferenças relevantes.

Comclui-se que uma das coisas possui certa característica por ser semelhante a outra que tem
essa característica.

Exemplo: O Homem não tem chifres.


O porco não tem chifres.
Logo, o Homem é porco.
Falácia do acidental – ocorre quando tomamos o que é acidental pelo que é essencial e vice-
versa. Considera-se essencial o que é acidental. (Generalização abusiva)

Exemplo1: Quando se tenta prever o comportamento de um indivíduo com o comportamento que


a maioria teve frente à dada situação.

Exemplo2: O Céu é azul; Azul é uma cor; Logo, o Céu é uma cor.

Falácia de ignorância da causa – ocorre quando atribuímos a um fenómeno uma falsa causa ou
quando concluímos como sendo causa aquilo que antecedeu o fenómeno.

Exemplo1: Bebi um copo de vinho e esqueci todos os problemas; Logo, o vinho nos faz esquecer
os problemas.

Exemplo2: Depois das chuvas fortes em Maputo, famílias perderam todos bens; Logo, as chuvas
fortes em Maputo, causam a perda de bens.

Falácia da conversão – ocorre quando se convertem proposições sem se observarem as regras.

Exemplo1: Os loucos estão internados/em tratamento; Logo, quem está internado/em tratamento
é louco.

Exemplo2: O mendigo pede; Logo, quem pede é mendigo.

Falácia de oposição – ocorre quando não se observam as regras da oposição de proposições.

Exemplo: É falso que todo o homem é inteligente.

Produção: Professor Fenias Chivambo 28


Nenhum homem é inteligente.

Círculo vicioso/Petição de princípio – ocorre quando se pretende resolver uma questão


recorrendo a própria questão. Tanto o ponto de partida quanto a conclusão, carecem de
demonstração. Um é demonstrado pelo outro, formando assim um círculo.

Exemplo: Nós sabemos que Deus existe porque a Bíblia nos diz isso. E nós também sabemos
que a Bíblia é verdadeira porque é a palavra de Deus.

Falácia da falsa dicotomia – ocorre quando são apresentadas duas alternativas como únicas
existentes em dado universo, ignorando ou omitindo possíveis alternativas. Confunde opostos e
contraditórios, sendo, por isso, conhecida como falácia do “ou tudo ou nada”.

Exemplo1: Ou estás do meu lado ou estás contra mim.

Exemplo2: Ou comes tudo o que está no prato ou então não comes nada.

Argumentum ad hominem (ataque pessoal) – ocorre quando alguém tenta refutar o argumento
de outra pessoa, atacando a pessoa invés do argumento. No lugar de apresentar um contra-
argumento, há um ataque pessoal. Refuta-se a opinião de alguém, censurando, desacreditando ou
desvalorizando a pessoa que a defende.

Este ataque pode ocorrer de duas formas:

 Abusiva – quando não aceita uma afirmação, criticando a pessoa que a fez.
Exemplo: Você diz que é fiel a sua esposa. Mas como acreditar nisso, se no passado
tiveste várias amantes?
 Persuadir alguém a aceitar uma afirmação que você faz, referindo-se às circunstâncias
particulares dessa pessoa.
Exemplo: É aceitável matar animais para comer. Espero que não recuses, visto que estás
feliz em usar sapatos de couro e brincos de marfim.

Argumentum ad populum (apelo ao povo, à emoção) – ocorre quando na ausência de razões


convincentes ou pertinentes, se tenta ganhar aceitação de uma afirmação ao apelar à um grande
número de pessoas. Aqui há uma manipulação e exploração dos sentimentos de uma audiência
de forma a fazer com que o ponto de vista de quem fala seja aderido. O argumento tira vantagens
de preconceitos, desejos e emoções.
Produção: Professor Fenias Chivambo 29
Exemplo: Numa campanha eleitoral. A cidade está cheia de lixo. Todos sabem disso. Querem
sair dessa situação? Então, votem no partido Y.

Argumentum ad baculum (apelo à força) – ocorre quando alguém recorre à força para tentar
obrigar outros a aceitar uma conclusão. Este argumento baseia-se em ameaças explícitas ou
implícitas ao bem-estar físico ou psicológico do ouvinte ou do leitor (indivíduo ou grupo).

Exemplo1: Ou te portas bem ou dou-te uma falta disciplinar.

Exemplo2: A casa é minha, portanto quem manda sou eu.

Argumentum ad ignorantiam (apelo à ignorância) – ocorre quando se argumenta que algo


deve ser verdade, simplesmente porque não se provou que é falso. Ou que deve ser falso, porque
não se provou ser verdade.

Exemplo: Ninguém provou que Deus não existe. Logo, Deus existe.

Argumentum ad misericordiam (apelo à piedade) – ocorre quando alguém apela à piedade


pelo bem de ter a conclusão aceita.

Exemplo1: Senhor Juíz não me condene à prisão, pois se o fizer os meus filhos ficarão
desamparados.
Exemplo2: Preciso desta vaga de emprego, porque tenho três filhos por sustentar.

Falácia da composição (tomar a parte pelo todo) – consiste em concluir que a propriedade de
partes de um objecto, deve também ser uma propriedade da coisa inteira.

Exemplo: Concluir que todo o filme é perfeito a partir das fotos das cenas do mesmo.

Falácia da divisão – ocorre quando se assume que uma propriedade de alguma coisa deve se
aplicar às suas partes, ou que uma propriedade de uma colecção de itens é compartilhada por
cada item.

Exemplo1: Você estuda num colégio para ricos. Portanto, você deve ser rico.

Exemplo2: As formigas podem destruir uma árvore. Portanto, essa formiga pode destruir uma
árvore.

Falácia da metáfora – ocorre quando se toma a figura pela realidade.

Produção: Professor Fenias Chivambo 30


Exemplo: O amor é fogo; O amor queima.

Falácia da enumeração imperfeita – ocorre quando atribuímos ao todo aquilo que só é verdade
de algumas partes.

Exemplo: Este e aquele sumo são de manga. Então todos os sumos são de manga.

Tautologia – ocorre quando se apresenta a mesma ideia apenas por palavras diferentes, sem
esclarecer nada.

Exemplo: Principal protagonista; Manusear com as mãos; Entrar para dentro; Elo de ligação.

LÓGICA PROPOSICIONAL

A lógica moderna, para além de ser formal como a lógica clássica, é sistematicamente simbólica.

A lógica moderna/proposicional, recorre a linguagem simbólica para poder traduzir as


proposições e suas relações, de forma a evitar ambiguidades, que surgem do uso que se faz da
linguagem natural.

A lógica proposicional, já não lida com as proposições do género “todos os homens são
inteligentes”, da lógica clássica, mas com proposições puramente formais.

O simbolismo interessa à lógica na medida em que se liga à criação de uma língua artificial
com as propriedades seguintes:

 Sistema de signos escritos, de caracteres que não têm qualquer relação fonética com a
língua natural;
 É uma língua necessariamente ideográfica. A escolha dos signos da ideografia lógica é
feita dentro dos limites escritos das ideias que se pretende representar.
 A sua gramática substitui a gramática das línguas naturais. Na gramática lógica há uma
correspondência exacta entre a forma do discurso e a forma lógica.

Variáveis – são as letras do nosso alfabeto, com que representaremos as proposições simples ou
seja atómicas. Essas letras são ditas letras enunciativas, porque simbolizam enunciados. p e q
são as variáveis que utilizaremos.

Produção: Professor Fenias Chivambo 31


Signos auxiliares – são os pontuadores na formalização de enunciados moleculares (constituídos
por duas ou mais proposições atómicas). São parêntesis, aspas e vírgulas.

Proposições atómicas/simples – “O galo cantou”. “O sol abriu”.

Enunciados moleculares/proposições complexas – “O galo cantou e o Paulo acordou”.

Constantes ou operadores – são os signos utilizados nas operações lógicas e que conectam os
enunciados; por isso são chamados conectores ou operadores.

Valores lógicos das proposições – a proposição p é verdadeira ou falsa quando o seu enunciado
é verdadeiro ou falso.

Conectores lógicos ou operadores lógicos

São partículas que designam as diferentes operações lógicas.

Operação Lógica Expressão Verbal Operador Lógico


Negação Não ~
Conjunção E ˄
Disjunção inclusiva/exclusiva ou/ ou... ou... ˅/ṿ
Condicional (ou implicação) se... então... →
Bicondicional (ou equivalência) se e só se/só e somente se ↔

Tabelas de verdade

Negação – operador que, ao ligar-se a uma única proposição, a torna falsa se é verdadeira e
verdadeira se é falsa.
p ~p Exemplo: Não se estuda. (p)
V F
F V

Conjunção – liga duas ou mais proposições através da conectiva “e”.


A conjunção é verdadeira se e somente se as duas proposições forem verdadeiras. Basta que uma
proposição seja falsa para que a conjunção seja falsa.

Produção: Professor Fenias Chivambo 32


p q p ˄q Exemplo: João é professor e advogado.(p˄q)
V V V
p- João é professor.
V F F
F V F q- João é advogado.

F F F

Disjunção – é a operação que expressa uma alternativa, que se traduz na linguagem corrente pela
particula “ou”. Quando a disjunção é exclusiva temos a expressão “ou...ou...” e o símbolo ṿ. E
quando é inclusiva temos a expressão “ou” e o símbolo ˅.

Disjunção exclusiva: pṿq

Se uma proposição é verdadeira, a outra é obrigatoriamente falsa. É sempre falsa quando as duas
proposições simples têm o mesmo valoro lógico, ou seja, quando ambas são verdadeiras ou
falsas.

p q p ṿq Exemplo: Ou vais a escola ou vais ao jardim.( pṿq)


V V F
p- ou vais a escola.
V F V
F V V q- ou vais ao jardim.

F F F

Disjunção inclusiva: p˅q

A proposição composta é falsa quando as duas proposições simples são falsas. Basta que uma
seja verdadeira para que a disjunção seja verdadeira.

p q p ˅q Exemplo: Paulo vai a escola ou vai ao jardim.( p˅q)


V V V
p- Paulo vai a escola.
V F V
F V V q- Paulo vai ao jardim.

F F F

Produção: Professor Fenias Chivambo 33


Condicional/Implicação

Proposições “p e q” podem ser relacionadas através das conectivas lógicas “se...então...”.

Aqui se a proposição p, antecedente, for verdadeira, também a proposição q, consequente, será


verdadeira, uma vez que a fórmula “p→q” significa que não há “q” sem “p”.

NB: A implicação só é falsa caso o antecedente seja verdadeiro e o consequente falso.

p q p→q Exemplo: Se te cuidares, então escaparás da Covid19.( p→q)


V V V
p- Se te cuidares.
V F F
F V V q- então escaparás da Covid19.

F F V

Bicondicional/Equivalência

É verdadeira se “p e q” tiverem o mesmo valor lógico e é falsa se tiverem valores lógicos


diferentes.

p q p↔q Exemplo: Só e somente se te cuidares, é que vais escapar da Covid19.


V V V (p↔q)
V F F
p- Só e somente se te cuidares.
F V F
F F V q- é que vais escapar da Covid19.

Produção: Professor Fenias Chivambo 34

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