Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Como Se Preparar para Concursos Públicos Com Alto Rendimento PDF
Como Se Preparar para Concursos Públicos Com Alto Rendimento PDF
O CANDIDATO E O EMPREENDEDOR
No mês julho de 2010, houve um final de semana no qual ocorreram dois eventos
aparentemente bastante distintos em Brasília, uma cidade considerada por muitos a capital
dos concursos públicos, percepção talvez influenciada pela expressiva quantidade de
servidores públicos em sua população economicamente ativa e pelo fato de abrigar órgãos de
cúpula dos Poderes da República. Os eventos foram a Feira do Empreendedor, organizada pelo
Sebrae, e a Feira do Candidato, a qual contou com a sua primeira edição. A aparente distinção
decorre do fato de que buscar uma carreira pública, por meio da aprovação no concurso, é
tido como uma opção de vida profissional completamente distinta da estruturação de uma
empresa, principalmente pelo aspecto da estabilidade.
Neste sentido, se por um lado, o empreendedor ao definir seu plano estratégico deve refletir
sobre aspectos como público-alvo (target), nichos de mercado e posicionamento, por outro
lado, ainda no plano estratégico, o candidato deve ter a preocupação com a definição de
objetivo, em termos de qual concurso pretende alcançar a aprovação, bem como programa de
estudos, consistindo no conjunto de matérias e conteúdos que devem ser enfrentados ao
longo do processo de preparação.
Já no plano tácito, enquanto o empreendedor deve se preocupar com aspectos como definição
de preço, produtos, publicidade e canais de distribuição, o candidato deve definir por quais
fontes de estudo irá enfrentar os conteúdos que compõem o seu programa, quais matérias
deve estudar a cada momento do dia e a cada dia da sua semana (grade de horários e
matérias), bem como em quais locais irá estudar.
1
Planejamento estratégico na prática. São Paulo: Atlas, 1991. p. 25
1
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
O empreendedor, ao estruturar sua empresa, deve ter claro qual missão pretende
desempenhar, a partir da identificação da necessidade que intenciona atender, bem como
contar com a definição dos valores da empresa e da visão com a qual pretende trabalhar. O
candidato, da mesma forma, deve ter a clareza de qual papel almeja realizar ao alcançar a
titularidade do cargo público pretendido (missão), devendo compreender também quais
valores considera relevantes e determinaram tal definição, bem como visualizar a forma que
pretende ser visto pelas pessoas à sua volta e pela sociedade (visão).
O empreendedor deve ter a preocupação com aspectos emocionais relevantes, tais como a
motivação e a crença no alcance dos seus objetivos. O consultor César Sousa, uma das maiores
referências do país na área de empreendedorismo, ao comentar a compreensão de diversos
líderes empresariais de êxito acerca do mencionado tema, afirma que “Eles compartilham a
crença de que sonhar é essencial para se manter motivados. Apontam a capacidade de sonhar,
aliada ao desejo e à determinação por resultados, como a força motriz do sucesso
empresarial”2.
2
Você é do tamanho de seus sonhos. São Paulo: Gente, 2003. p. 39-40.
2
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Neste sentido, adotando uma das construções desenvolvidas pelo técnico Bernardinho, autor
do livro Transformando suor em ouro, o qual faz parte das referências bibliográficas
trabalhadas no livro (Como se preparar para Concursos Públicos com Alto Rendimento, Ed
Método), da mesma forma que um atleta de alto rendimento começa a se preparar para a
olimpíada seguinte quando termina a anterior, não podendo iniciar seus treinos em momento
próximo às eliminatórias, o candidato ao concurso não pode aguardar a publicação do edital
para iniciar sua preparação. A publicação do edital está para o candidato assim como as
eliminatórias estão para o atleta de alto rendimento. Se for aguardar este momento para
iniciar sua preparação, dificilmente irá alcançar a aprovação.
E se não podemos ficar reféns do Edital, como se preparar? Daí entra a proposta metodológica
e de planejamento sustentada no livro. O candidato, na montagem do seu plano de
preparação, deve ter como primeira preocupação a definição de um objetivo, o que independe
de edital. No livro também são trabalhos alguns conceitos importantes sobre como definir um
objetivo, considerando inclusive construções da psicologia do trabalho.
O concurso público deve ser encarado como uma meta de médio ou longo prazo. Além disso, é
preciso compreender que concursos ocorrem com frequência, qualquer que seja o cargo, pois
na medida em que a sociedade avança, em termos de demandas, necessidades e mesmo
arrecadação de tributos, a máquina pública cresce. Por outro lado, existe também o fenômeno
das aposentadorias, as quais implicam na necessidade de ocupação dos cargos antes ocupados
pelos servidores em inatividade.
3
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
editais e a data da primeira prova não decorreram mais de dois meses, tempo extremamente
limitado para uma preparação adequada.
Portanto, caros(as) candidatos(as), não sejam reféns dos editais, mas do seu objetivo e do
planejamento da sua preparação.
Sucesso!
Tenho recebido algumas perguntas de candidatos, leitores do Blog e usuários do Tuctor, com a
dúvida sobre a decisão a ser tomada diante de situação na qual almejam um concurso que
exige uma longa trajetória de preparação ou depende de algum requisito temporal a ser
cumprido, mas teriam interesse, num prazo mais curto, na busca da aprovação num concurso
que não dependa do referido requisito temporal ou não exija um tempo tão expressivo de
preparação.
Esta mesma dúvida atinge candidatos que ainda estão cursando determinada graduação, mas
pretendem alcançar uma carreira que dependa da conclusão daquele curso superior.
Assim, enquanto a definição de objetivo, em termos de carreira pública almejada, faz parte
dos aspectos estratégicos, as técnicas de estudo adotadas fazem parte do universo de
elementos táticos. O fundamental é que o candidato compreenda as variáveis envolvidas no
referido processo, tenha a clareza da relação custo-benefício de cada opção realizada e
procure agir de maneira eficiente e racional, no sentido de otimizar a implementação de suas
energias e esforços cognitivos, com a finalidade de viabilizar, da forma mais rápida possível, a
sonhada aprovação.
Nos posts do meu Blog que fazem parte da pauta “Relato de Êxito” percebem-se muitos
conselhos dos candidatos de sucesso, em relação aos equívocos que consideram ter cometido,
4
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
os quais normalmente são acompanhados da visão de que se não tivessem agido daquela
maneira teriam conquistado a aprovação num espaço de tempo menor.
Dessa forma, considero que os candidatos que se encontram na situação ora abordada contam
com algumas possibilidades:
Naturalmente, é possível que o candidato vislumbre outras possibilidades além dessas. Mas o
fundamental é que entenda dois aspectos de grande relevância:
1º – A decisão é sua! Não tenho como dizer o que deve fazer. Não sou dono da verdade, nem
guru de concursos. Além do mais, quem vai pagar o preço e desfrutar das glórias é você, só
você!
2º – Esta decisão deve ser pautada por uma lógica de busca de eficiência. Ou seja, o que se
deve avaliar é o seguinte: qual opção é mais eficiente, principalmente diante das minhas
condições? Isto é, se o candidato for um pai de família que pretende sair da iniciativa privada o
mais rápido possível, talvez a 1ª opção seja mais adequada. Mas se o candidato não se
enquadra na referida situação e dispõe de condições de se manter por algum tempo
exclusivamente por conta dos estudos, talvez a 2ª ou 3ª opções possam ser mais pertinentes.
Pode ser ainda que, mesmo se enquadrando na segunda situação, o candidato considere que a
experiência profissional de uma carreira tida por intermediária seja importante e resolva
adotar a 1ª opção.
5
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Particularmente, quando fui aprovado para Procurador de Estado, havia feito a 3ª opção.
Estava focado na preparação para o concurso da Magistratura, mas, diante do concurso de
Procurador, promovi um pequeno desvio no plano original, de modo a incluir no meu
planejamento algumas matérias e conteúdos que não eram do programa da Magistratura, mas
eram importantes para Procurador, tal como a parte especial do Direito Tributário e Legislação
estadual.
Olhando para trás, considero que foi uma decisão adequada e eficiente.
Adotando a referida lógica, o candidato deve desenvolver uma avaliação séria e profunda, de
modo a compreender sua situação, suas condições para o empreendimento cognitivo do
concurso e suas expectativas.
Mas o fundamental mesmo é que você procure agir de forma estratégica, principalmente se
está iniciando sua trajetória na preparação para o concurso público, e, com isso, busque
empreender suas energias de forma eficiente e racional, viabilizando as condições necessárias
a enxergar, o mais rápido possível, o seu nome na lista de aprovados.
Este post traz uma das primeiras lições de um conjunto de ideias que compõe a Teoria Geral
do Tuctor. Conceitualmente, uma teoria geral envolve a abordagem de um objeto de estudo, a
partir de conceitos centrais e periféricos, voltada à compreensão e descrição lógica de
determinados fenômenos.
No caso da Teoria Geral do Tuctor, a presente construção consiste numa reunião de conceitos,
cientificamente desenvolvidos e empiricamente concebidos e aplicados, direcionados ao
estudo, compreensão e gestão do processo de preparação para o concurso público ou algum
exame oficial. Trata-se da cartilha do Candidato de Alto Rendimento, ou seja, aquele candidato
que empreende a sua preparação com planejamento, estratégia, eficiência e racionalidade.
Destaco, desde já, que publicarei no Blog outros textos voltados à apresentação da Teoria
Geral do Tuctor, enquanto proposta metodológica descritiva da postura do Candidato de Alto
Rendimento.
Considerando o objetivo do presente texto, o qual envolve uma primeira lição importante do
conjunto que compõe a TGT (Teoria Geral do Tuctor), uma noção inicial fundamental envolve a
compreensão da importância do tempo na preparação para o concurso público. Segundo
alguns estudiosos da gestão de projetos, o tempo consiste numa das variáveis mais
6
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
importantes. Conforme aponta a maioria das pesquisas sobre o tema, mais de 50% dos
projetos não são concluídos no prazo, o que decorre de uma inadequada gestão do tempo,
podendo gerar graves consequências.
No caso do concurso público, gerenciar o tempo de forma inadequada tende a implicar na não
conclusão do planejamento da preparação no prazo inicialmente previsto. O Sistema Tuctor,
enquanto uma ferramenta única e inédita, conta com funcionalidades que indicam ao
candidato-usuário uma estimativa de data de conclusão do seu plano de estudos, caso
desenvolva a execução conforme os parâmetros com os quais se comprometeu. O sistema
também conta com uma funcionalidade que permite ao usuário alterar a data de conclusão
pretendida, sendo que, a partir da nova pretensão, é indicado o que precisa ser modificado
para tanto.
Recentemente, estava dando aula para uma turma de Procurador Federal. Era precisamente o
dia 22 de janeiro deste ano de 2010. O edital do concurso havia sido publicado no dia 19 de
janeiro, tendo a prova inicialmente marcada, de forma não esperada e surpreendente, para o
dia 13 de março. Ou seja, faltavam precisos 49 dias até a prova.
Daí perguntei aos alunos o que iriam fazer até lá, isto é, como iriam estudar. Alguns tinham
definido o que estudariam, mas outros não. Alguns fariam revisão, outros iriam estudar o que
ainda não tinham enfrentado, considerando o conjunto de matérias e conteúdos previstos no
edital. Então, para este último grupo, fiz a seguinte pergunta: mas é viável a conclusão do
conjunto de matérias e conteúdos que pretendem estudar? Vocês conseguirão concluir estes
estudos? Afinal, faltavam menos de 2 meses até a prova.
E se fosse cobrado na prova um tema que foi não estudado em virtude do esgotamento do
tempo? E se este mesmo assunto cobrado e não estudado fosse determinante para o não
alcance da pontuação necessária à aprovação? No caso, entendo que poderíamos afirmar que
a causa da reprovação teria sido a inadequada gestão do tempo voltado à preparação. Ou seja,
que aqueles candidatos deixariam de se tornar Procuradores Federais pela falta de gestão do
tempo.
7
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Gerir o tempo não consiste apenas em organizar cronogramas, tarefas e horários. Gestão do
tempo consiste na estruturação de um minucioso e detalhado plano de estudos, bem como no
monitoramento da sua execução.
Mas independente da opção estratégica quanto aos contornos do programa, este deverá ser
estabelecido e estar presente no planejamento da preparação. Além de estabelecido, deve-se
ter como objetivo a conclusão do seu estudo.
8
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
O presente texto tem por objetivo a abordagem da preparação de alto rendimento, por meio
da adoção de um estudo estratégico, sistematizado, eficiente e racional. Trata-se de mais uma
lição que compõe a Teoria Geral do Tuctor.
Vale lembrar, por um lado, que a postura do candidato de alto rendimento envolve a ideia de
um processo de preparação para o concurso público pautada pela adoção de um adequado
planejamento de estudos, bem como dispondo de mecanismos que permitam o seu
monitoramento e controle. Assim, envolve uma lógica bastante semelhante à existente no
esporte de alto rendimento. Cabe destacar que o referido campo da ação humana conta com
várias semelhanças com a busca da aprovação no concurso público, não apenas quanto ao
processo, mas principalmente em relação ao alcance de resultados.
Por outro lado, conforme trabalhado no texto anterior sobre o tema, a Teoria Geral do Tuctor
consiste na reunião de conceitos, cientificamente desenvolvidos e empiricamente concebidos
e aplicados, direcionados ao estudo, compreensão e gestão do processo de preparação para o
concurso público, pautada na noção do alto rendimento, contando com planejamento,
monitoramento, controle, estratégia, eficiência e racionalidade.
9
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Trata-se de uma questão estratégica que deve ser assumida pelo candidato, em termos de
viabilidade, riscos, custos, vantagens e desvantagens. Ou seja, é preciso que o candidato faça
tal opção de forma consciente, bem como compreendendo o seu sentido. Cada opção
relacionada com o presente elemento estratégico tem um preço. E o candidato precisa
compreender o tamanho deste preço.
Toda preparação deve ser norteada por um objetivo principal. Qual o principal objetivo de
qualquer preparação para o concurso público? A resposta a essa pergunta pressupõe o
enfrentamento de outra pergunta anterior. Trata-se de entender o que é preciso para passar
no concurso. Para passar no concurso, é preciso atender à pontuação necessária, considerando
os parâmetros do edital. E o que é preciso para o alcance da referida pontuação? Dispor dos
conhecimentos e informações solicitados por meio das questões apresentadas.
Portanto, na realidade, qualquer preparação para o concurso conta com uma finalidade
mediata e outra imediata. A finalidade mediata, ou seja, o fim maior, consiste na aprovação. Já
a finalidade imediata, a qual viabilizará o fim maior, consiste na disponibilidade do conjunto de
informações e conhecimentos solicitados no momento da prova. E para tanto, é preciso passar
por um processo de apropriação destas informações.
3
Planejamento estratégico na prática. São Paulo: Atlas, 1991. p. 25.
10
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Mas outra questão de grande relevância é: quais informações deverão ser submetidas a este
processo de apropriação intelectual por meio dos estudos? Qual deverá ser o objeto de estudo
do candidato? Aí entra a questão estratégica.
Para o alcance da resposta, conto com uma tese muito clara em relação ao presente assunto.
Entendo que é fundamental que o candidato efetivamente esgote o programa previsto no
edital, ao menos por algum dos processos cognitivos passíveis de adoção.
No entanto, considero que a referida postura pode ser incorporada ou não. Exatamente por
isto, trata-se de uma questão estratégica a ser enfrentada pelo candidato.
Pode ser que o candidato entenda que a referida atitude seja ineficiente ou mesmo inviável.
Quanto ao último aspecto, destaco que a inviabilidade consiste numa preocupação de enorme
relevância a ser considerada. Pode ser que a execução do seu plano de estudos,
principalmente diante da provável data da prova, seja inviável. E muitos candidatos sequer
têm consciência disto.
Neste sentido, o Sistema Tuctor tem como uma de suas funcionalidades exatamente mostrar
para o candidato uma estimativa de tempo de conclusão do seu plano, considerando as
variáveis inseridas pelo usuário no sistema. A partir da referida informação, diante da provável
data da prova, pode ser que constate a inviabilidade da conclusão do planejamento
estabelecido.
E assim, o candidato teria que reconhecer que não há condições de levar adiante aquele plano
de estudos inicialmente estruturado. Ante o referido reconhecimento, um dos caminhos seria
a alteração do programa, de modo a excluir alguns conteúdos correspondentes a
determinadas matérias. Tal atitude, por sua vez, consiste numa decisão estratégica, a qual
precisa ser avaliada pelo candidato.
Avançando no mesmo raciocínio, um dos caminhos que podem ser adotados envolve o
levantamento dos conteúdos (correspondentes a cada matéria) que vem contando com mais
peso nas provas. Ou seja, em vez de o candidato fazer uma opção estratégica pelo programa
por completo, faz uma opção considerando as últimas provas.
Contudo, é preciso que se tenha algum cuidado com tais escolhas seletivas, pois existem
concursos que exigem pontuação mínima por matéria específica. Por exemplo, no último
11
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Com tais preocupações e cuidados, seguramente, o candidato adotará meios para viabilizar
uma preparação de alto rendimento, bem como criará condições fundamentais para que seu
nome esteja na lista dos candidatos aprovados.
Qual a relação entre o Princípio de Pareto e a preparação para o concurso público? Resposta: a
busca e a preocupação com a otimização de esforços empreendidos e recursos implementados
por parte do candidato! Trata-se de uma atitude inerente à postura do candidato de alto
rendimento.
O italiano Vilfredo Pareto foi um dos clássicos das construções da ciência econômica da Idade
Moderna. Criador da ideia de que geralmente 80% dos esforços são responsáveis por 20% de
resultados, o autor desenvolveu pesquisas empíricas em diversas frentes, como, por exemplo,
em relação a pêras no pomar. Tais ideias influenciaram conceitos como a noção de utilidade
marginal, o qual consiste em fonte de explicação das trajetórias ascendentes e descendentes
de otimização de recursos produtivos e esforços implementados, conceito este inclusive
atualmente adotado na explicação da curva de aprendizagem (o que será tema de um post
futuro).
Assim, Pareto foi responsável pela ideia hoje popularizada do 80/20, ou seja, 80% dos esforços
determinam 20% dos resultados.
12
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
A primeira noção fundamental é de que o candidato deve ter como objetivo fugir da lógica do
80/20, tendo como meta buscar o 20/80. Ainda que se trate de uma utopia, a proposta é que
seja encarada como um princípio programático, de modo a procurar sempre otimizar os
esforços empreendidos.
Dessa maneira, não seria eficiente estudar determinadas matérias e conteúdos, para se
preparar para determinados concursos públicos, com livros densos e analíticos, os quais
demandam tempo elevado e mobilização intelectual-cognitiva expressiva, a fim de realizar
uma prova objetiva, de uma matéria jurídica, por exemplo, que tem como conteúdo-objeto a
letra da lei. Da mesma forma, não seria eficiente gastar tempo estudando por um resumo
muito superficial ou mesmo pela legislação seca, para fazer uma prova que cobra conceitos
complexos e problemas não passíves de solução apenas com esta modalidade de estudo.
Exemplos práticos das referidas situações narradas seriam, respectivamente, estudar Direito
Constitucional pelo livro do Ministro Gilmar Mendes para fazer a prova de Técnico do MPU, e
estudar a mesma matéria por um resumo ou apostila superficiais e totalmente sintéticos para
fazer a prova de Procurador da República ou de Consultor Legislativo. Em ambas as situações,
considerando os objetivos, haveria falta de otimização de tempo e esforços.
Vale lembrar que, do ponto de vista psicopedagógico, temos basicamente dois modelos de
provas, quais sejam, o conceitual-conteudista e o operatório. O primeiro cobra dos candidatos
apenas conteúdos, sem exigir o desenvolvimento de raciocínios mais complexos, ao passo que
o segundo envolve a resolução de problemas. Naturalmente que também podemos ter
modelos híbridos.
Mas faço tal afirmação porque a lógica de otimização de esforços também pode exigir do
candidato a consideração do modelo de prova, avaliando a tradição do órgão quanto à
instituição responsável pelo concurso, bem como a concepção geralmente adotada por esta
instituição.
Neste sentido, não tenho dúvida em afirmar que o Sistema Tuctor pode proporcionar uma
significativa contribuição ao candidato, na perspectiva de buscar a otimização de seus
esforços. Primeiramente, um aspecto fundamental é que se trata de um mecanismo de
sistematização e planificação do processo de preparação, desenvolvido não apenas a partir de
elementos empíricos, mas também conceituais, inclusive com a adoção de construções
cientificamente concebidas. Assim, obviamente que a mencionada sistematização e
racionalização do referido processo, até por uma questão lógica, tende a colaborar com a
otimização de esforços, aliás, como ocorre com qualquer objetivo semelhante. Não precisamos
dizer o que acontece, por exemplo, ao se tentar construir uma casa sem qualquer
planejamento, monitoramento e controle.
Mas além da referida ideia, outro aspecto relevante consiste no papel desempenhado pelos
indicadores de metas e metas de desempenho. Com isso, ainda na fase da montagem do
13
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
plano, o candidato pode visualizar, de forma clara, efetiva, racional e quantitativa, o quanto
estará investindo em cada matéria, considerando inclusive a sua importância no processo de
preparação.
Vale lembrar que a importância da matéria pode decorrer da quantidade de questões passíveis
de cobrança na prova, do peso atribuído a estas questões ou do nível de dificuldade,
considerando a tradição daquele determinado concurso público. Por exemplo, num concurso
de carreira policial, Direito Processual Penal e Direito Penal tendem a ter uma importância
razoável, comparativamente com algumas outras matérias. Da mesma forma, num concurso
de carreira fiscal, Direito Tributário e Administrativo também tendem a ter a mesma
importância. Naturalmente que o edital será o balizador da referida compreensão.
Além dos indicadores de metas e metas de desempenho, o Sistema Tuctor também pode
colaborar com a compreensão da preparação para o concurso sob a ótima do Princípio de
Pareto, no sentido da busca de otimização, por meio dos indicadores de desempenho. Ou seja,
não apenas o candidato pode avaliar o seu plano sob a referida lógica antes do início da sua
execução, mas também fazer ajustes ao longo da implementação. Obviamente que isto se
relaciona com a necessidade de monitoramento e controle do processo de preparação para o
concurso público, preocupação esta muitas vezes ignorada pelos candidatos.
Enquanto candidato, sempre fui impulsionado e tomado pela referida preocupação. Estava a
todo momento procurando avaliar e mensurar de alguma maneira a eficiência de cada atitude
adotada, seja quanto ao processo cognitivo, quanto às fontes de estudos ou quanto à
ocupação do tempo. Principalmente pela necessidade de, a partir de determinado momento
no curso do processo de preparação, assumindo o cargo de Procurador de Estado e ainda
buscando a aprovação no concurso de Juiz, ter sido obrigado a conciliar as demandas,
responsabilidades e cobranças decorrentes da atividade profissional, com o tempo disponível
para os estudos. Seguramente tais atitudes e preocupações influenciaram o trabalho de
orientação e pesquisa sobre o tema da preparação para concursos, o qual desenvolvo
atualmente.
14
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
E hoje percebo que muitos candidatos também estão atentos a essa preocupação. Não tenho
dúvida de que esses candidatos estão no caminho natural e lógico da conquista da aprovação.
Estão no caminho da preparação de alto rendimento. Seguramente, também estão a alguns
passos adiante daqueles que sequer contam com a percepção da importância do presente
tema.
QUANTAS HORAS DEVO ESTUDAR PARA CONQUISTAR A APROVAÇÃO? (3a Lição da Teoria
Geral do Tuctor – Preparação de Alto Rendimento)
Recentemente, estava navegando pela Internet e me deparei com essa pergunta. Não apenas
me chamou atenção – apesar da falta de ineditismo do contato com tal questionamento, o
qual, com certa frequência, ouço em palestras, aulas e entrevistas, mas também me
submeteu, de forma diversa do ocorrido em outras ocasiões, a um curioso processo de
reflexão.
Não tenho dúvida de que se trata de uma indagação presente na cabeça de muitos candidatos.
Muitas vezes chega a se tornar uma angústia.
Acredito que o motivo de tudo isso decorre do fato de que a identificação de quantas horas de
estudo são necessárias torna mais concreto o caminho para a conquista do cargo público
pretendido. Ou seja, seguramente, se sei quantas horas preciso estudar, em tese, ao menos
me sinto mais tranquilo, por contar com alguma ação mais concreta acerca do que devo fazer
para conquistar o cargo pretendido. Mas tal definição tende não apenas a tornar mais
concreto o caminho, como também ajudar a mensurar parte do custo pessoal que será pago.
Assim, torna-se mais fácil a identificação do “mas qual é o sacrifício que eu preciso fazer?”
Outra frente de análise trata-se do sentido do “devo estudar”. Ou seja, trata-se do quanto
posso estudar, do quanto quero e gostaria de estudar, do quanto estou disposto a estudar ou
do quanto efetivamente preciso estudar?
Dessa forma, podemos pensar em quantas horas preciso estudar por dia ou por semana, mas
chegar à conclusão de que não posso estudar tal quantitativo de horas. No caso, seriam
necessários alguns ajustes na execução da preparação para o concurso público. Porém,
independente do caminho que se faça para realizar tais ajustes, bem como onde se chegue a
partir destes mesmos ajustes, uma questão fundamental é como se chegou à conclusão de que
aquelas horas por semanas correspondem ao quantitativo considerado necessário.
15
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Isto é, como se responde à pergunta: mas, afinal, quantas horas devo estudar?
Essas considerações iniciais são fundamentais. E todas têm a sua importância e o seu sentido.
Mas vamos considerar que nosso objetivo consiste na identificação de quantas horas
efetivamente preciso estudar.
Neste sentido, se a intenção consiste em saber quantas horas são necessárias ao longo do
processo de preparação, ou seja, se vamos adotar uma perspectiva mais ampla, algumas
variáveis são fundamentais: 1ª) qual é o meu objeto de estudo, ou seja, o que vou estudar?;
2ª) qual a natureza das fontes de estudos que vou utilizar?; e 3ª) qual processo cognitivo que
irei adotar?
Se vou estudar todo o programa do concurso pretendido (objeto de estudo), por meio de um
estudo puramente bibliográfico (fonte de estudo), desenvolvendo leituras associadas à
elaboração de resumos (processo cognitivo), levarei determinado tempo. Se estudar apenas
metade do programa previsto no edital, por meio de aulas na web e apenas as assistindo,
seguramente, o tempo será outro.
Nesses termos, vamos imaginar que encontramos a solução para saber quantas horas devo
estudar ao longo da preparação. No livro que lancei recentemente pela Editora Método (Como
se preparar para Concursos Públicos com Alto Rendimento), sustento, com base em estimativas
empíricas, que concursos para carreiras como da Magistratura ou do Ministério Público
(Promotor de Justiça ou Procurador da República) levam cerca de mil horas. Também tenho
estimativas que indicam quantitativos de horas totais para concursos de nível médio e para o
Exame da OAB.
O festejado escritor Malcolm Gladwel, em seu livro Fora de Série: Outliers, sustenta que, para
se tornar um expert em diversos campos da ação humana, são necessárias 10 mil horas.
Mesmo que diga agora como cheguei e os leitores, a partir daí, saibam identificar a resposta
para o seu processo de preparação, uma dúvida ainda permaneceria: “mas quantas horas devo
estudar por dia ou por semana?”
Enfim, para não cansar, não angustiar, bem como não instigar ainda mais a curiosidade,
inicialmente, posso afirmar que, num primeiro momento, as minhas estimativas de horas para
o concurso da Magistratura e do MP vieram da experiência que vivenciei, bem como de alunos
que tive a oportunidade de acompanhar e orientar. Registro que minha carreira de candidato
terminou em 2002, ao ter passado no concurso de Juiz, sendo que estou atuando como
professor, exclusivamente em cursos preparatórios, desde 2004.
16
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Mas independente da apuração por meio desse processo mais empírico e rudimentar, hoje
conto com estimativas levantadas por meio de processos muitos mais precisos e até
científicos. E como obtenho isso? Resposta: por meio de uma fórmula metodológica que
funciona no Sistema Tuctor.
O Tuctor consiste numa ferramenta única e inédita que responde exatamente à pergunta
formulada inicialmente. O sistema indica para o usuário não apenas quantas horas serão
precisas no total, mas também quantas horas devem ser estudadas por semana.
O sistema mostra esse quantitativo de metas de horas semanais no geral e por matérias.
Também indica para o usuário uma perspectiva de data de conclusão.
Porém, e se, considerando a data da prova, o candidato precisa concluir seus estudos antes da
data estimada? O Tuctor mostra quantas horas a mais de estudo são necessárias por semana.
E se o candidato não pode estudar o quantitativo de horas sugerido? Daí é preciso mudar
algumas das três variáveis antes apontadas, ou seja, o objeto de estudo (programa), a fonte de
estudo ou o processo cognitivo.
Enfim, em vez de buscar chutes empíricos, muitas vezes imprecisos e precários, o candidato
hoje tem à sua disposição uma ferramenta que gera estimativas e mensurações, voltadas à
busca da resposta à pergunta que está na cabeça de muitos.
Antes de mais nada, registro que as orientações apresentadas por meio do presente texto
envolvem tão somente proposta de considerações a serem avaliadas. Assim, na linha da
metodologia com a qual venho trabalhando e sustentando, trata-se de ponderações e
sugestões voltadas à montagem do planejamento da preparação para o concurso pretendido.
17
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Portanto, segundo o referido levantamento, existem no total 25 matérias para estudar. Destas,
4 não são específicas da área de formação, sendo que 21 são específicas.
Assim, montar uma grade semanal de estudos com 25 matérias pode ser algo inviável. Por
outro lado, segundo foi esclarecido, algumas matérias contam com um caráter mais básico e
prejudicial, ou seja, envolvem conhecimentos que contam com o sentido de antecedente
lógico e conceitual.
18
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Diante deste cenário, a ideia seria criar grupos de matérias vinculadas, ou seja, algumas
matérias poderiam ser agrupadas, de modo a viabilizar a grade semanal, passando a ser
estudadas em sequência.
Quanto às Gerais, uma primeira ideia seria arbitrariamente vincular português e língua
estrangeira. Também seria conveniente fazer o mesmo com Constitucional e Administrativo,
elegendo Constitucional como a primária-antecessora e Administrativo como a secundária-
sucessora.
2º – relação de afinidade e semelhança: se houver alguma matéria básica que tenha qualquer
tipo de semelhança com alguma específica. No caso do Direito, caberia considerar essa relação
entre Direito Constitucional e Administrativo. Outro exemplo seria Contabilidade Gerencial e
Administração Financeira e Orçamentária;
4º – aleatório: não conseguindo vincular com base nos critérios anteriores, passa-se ao
aleatório.
19
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Com isso pronto, o passo seguinte será identificar as matérias conforme a sua percepção de
dificuldade e de importância. A importância não deve ser uma avaliação subjetiva, mas uma
apreciação objetiva de pesos de questões geralmente previstos nos editais, bem como
quantidade de questões normalmente cobradas.
Assim, montei uma planilha para lhe ajudar nisso, que vai a seguir:
Rogério Neiva
20
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Oi, Rogério,
Estou aqui quebrando a cabeça tentando colocar os assuntos em ordem (+ bibliografia), mas
estou com TANTAS dúvidas!!
Exemplo:
São realmente muitos assuntos e se eu for criar muitos grupos significa que só os verei uma
vez por semana.
Olá, Helga,
Vamos às respostas:
1) Existe número máximo de grupos? Não. Não há regra. A questão é: qual seria o limite
razoável de matéria por semana? Como a proposta é trabalhar com estes ciclos semanais, o
que inclusive determinará os indicadores de metas de desempenho e de desempenho no
Tuctor, o que se precisa avaliar é quantas matérias seria possível para administrar o estudo
concomitante e por semana. Na verdade, a proposta que apresentei envolve um modelo
híbrido entre o estudo concomitante-simultâneo de matérias e o estudo modular-sucessivo.
Daí porque montei a sistematização que apresentei. O objetivo foi permitir um plano de
estudos administrável e executável dentro desta lógica semanal. Isso naturalmente também
depende do tempo disponível por semana, ou seja, de quantas janelas na semana existem na
sua grade de horários. Um candidado que tem cinco janelas não pode ter a mesma postura de
um que tem vinte. Concluindo, o que você precisa avaliar é o que seria razoável.
2) Ou a quantidade de grupos vai variar conforme o tamanho de cada grupo? Considero que
a resposta a esta pergunta está relacionada com a primeira. Obviamente que o tamanho do
21
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
4) Um amigo me passou uma bibliografia dele para provas do Cespe, e alguns assuntos
possuem mais de uma bibliografia. Reconheço muitos desses títulos e muitos são
complementares. Como deixar uma ou outra bibliografia de fora? É como se para estudar
Constitucional fosse necessário ler um livro de determinado autor específico e a Constituição
Federal, entende? Assim, sugiro sermos pragmáticos! Vamos definir uma fonte de estudos por
matéria e depois supriremos as eventuais deficiências existentes nas fontes bibliográficas
eleitas. Obviamente que é preciso que essa fonte proporcione o menor número e nível de
deficiência possível.
Logo após a publicação do edital do concurso público para Analista da Receita Federal, o que
ocorreu no segundo semestre de 2009, fui procurado pelo Portal G1, em função de uma
matéria que se pretendia escrever sobre o mencionado certame. Mas havia um desafio
colocado: o de apresentar considerações e dicas que fossem além daquelas informações
básicas e elementares normalmente colocadas para os candidatos. A partir dessa provocação,
comecei a desenvolver o que denominei “uma análise estratégica do edital”, tendo tal
exercício me inspirado a elaborar o presente texto. Portanto, a intenção é provocar o leitor a
ter essa mesma compreensão em relação a qualquer concurso que venha a prestar. Porém,
adotarei como modelo o caso do concurso de Analista da Receita Federal, objeto da análise
mencionada.
22
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Estabelecido este primeiro objetivo, o candidato deve procurar estruturar o seu plano de
estudos. Neste sentido, deveria definir as matérias e os conteúdos a serem estudados, bem
como as fontes correspondentes. Podemos tomar como fontes o estudo bibliográfico,
envolvendo apostilas e livros – de caráter mais analítico ou sintético –, os exercícios, a
legislação seca e as aulas (presenciais ou web).
Já para a definição das fontes de estudos inerentes a cada matéria, desenvolvendo uma
análise estratégica e racional do edital, o candidato deve considerar, com bastante cuidado e
atenção, aspectos como a importância das matérias. Esse nível de importância será
determinado pela quantidade de questões e pelo peso atribuído a elas. Assim, considerando o
edital de Analista da Receita Federal, constata-se o seguinte:
23
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Diante das mencionadas compreensões, além da definição do que será estudado, o candidato
precisa estabelecer as fontes de estudo voltadas a cada matéria, ou seja, se irá desenvolver
seus estudos por meio de livros, apostilas, exercícios, lei seca ou aulas. Cada fonte de estudo
tende a demandar determinado tempo e proporcionar certo nível de eficiência de
aprendizagem e disponibilidade da informação, sob uma lógica de custo-benefício. Isto é,
geralmente, a eficácia da apropriação do conteúdo tende a ser proporcional ao tempo
demandado.
Por fim, além de todas as atitudes apontadas, é preciso refletir e avaliar a viabilidade da
execução do plano de estudos estabelecido. O candidato precisa ter a noção clara das
condições de concluir o seu planejamento da preparação. Neste sentido, o Sistema Tuctor, ao
contar com mecanismos de mensuração de estimativa de conclusão do plano de estudos,
mostra a viabilidade ou não da sua conclusão, conforme as condições estabelecidas pelo
candidato.
24
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
O que você acha de fazer um curso preparatório? É eficiente investir tempo e outros recursos
num curso preparatório? Você tem a compreensão do papel do curso preparatório e da
importância que irá desempenhar no seu processo de preparação para o concurso público?
Não é incomum que muitos candidatos tenham dúvidas sobre a conveniência de ingressar
num curso preparatório.
Enquanto professor, percebo em sala de aula e nos pátios dos cursinhos muitos candidatos
que buscam o curso preparatório por não saberem como estudar ou por onde começar.
Existem também aqueles que se matriculam em função da publicação do edital do concurso
público.
Para uma conclusão e avaliação adequada, voltada à busca de uma decisão eficiente, a
primeira premissa fundamental consiste na compreensão sobre o próprio processo de
preparação para o concurso público. Assim, é preciso encarar a preparação enquanto um
empreendimento de natureza cognitiva e intelectual.
25
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
– cursos satelitários: há uma ocupação de sala de aula presencialmente pelos alunos, porém, o
professor transmite a informação por meio de equipamentos audiovisuais, os quais são
assistidos pelos alunos. Ou seja, há um equipamento que apresenta a aula do professor, a qual
pode estar sendo transmitida ao vivo ou ter sido gravada em outro momento. Neste modelo,
da mesma maneira que ocorre com o curso presencial, as aulas contam com horário e local
definidos;
– cursos web: o presente modelo, de forma semelhante ao satelitário, não conta com a
presença física do professor. Por outro lado, também não há a ocupação coletiva de espaço
físico por parte de alunos, inexistindo ainda a definição de local e horário para o contato com a
informação a ser transmitida. Ou seja, o aluno assiste de onde bem entende, no momento em
que considerar mais adequado, precisando apenas de um computador e de conexão de
Internet.
2 – quanto ao conteúdo:
– por matérias ou modular: neste caso o aluno tem contato apenas com as matérias
especificamente contratadas.
26
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Não há dúvida de que numa análise comparativa entre o curso preparatório e o estudo
bibliográfico existem diferenças significativas, principalmente em termos de processos
cognitivos mobilizados. Isto é, a apropriação da informação ao estudar numa biblioteca tende
a não ser a mesma ocorrida ao estar numa sala de aula assistindo ao professor.
Assim, se o aluno entra na sala de aula e ouve o professor falar, mas não se esforça para
entender, significa que a primeira etapa foi alcançada, mas não se chegou à segunda. Por
outro lado, se anota o que o professor diz, mas não entende o sentido da explicação,
teoricamente, foi para a terceira etapa sem passar pela segunda, o que tende a significar
ineficiência no processo de apropriação da informação.
Outro aspecto relevante consiste no papel que o curso preparatório irá desempenhar.
Conforme venho sustentando, a metodologia da preparação para o concurso público deve ser
estruturada em torno de duas etapas. Uma primeira seria voltada a um processo de
apropriação primária, envolvendo a construção dos pilares cognitivos fundamentais, isto é,
consiste naquilo que normalmente é chamado de conhecimento-base. Já a outra seria voltada
à manutenção e ao aperfeiçoamento das informações apropriadas na primeira fase.
Neste sentido, em termos táticos, a proposta é de que a primeira etapa seja desenvolvida por
meio do estudo bibliográfico. Já a segunda fase, considero comportar a realização de cursos
preparatórios.
27
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Mas o fundamental é que o candidato procure refletir sobre o seu processo de preparação,
suas condições e os possíveis modelos e papéis que podem ser exercidos pelo curso
preparatório, de modo a tomar uma decisão eficiente. Eficiente e consciente.
Não tenho dúvida de que o curso preparatório possui o seu papel e a sua importância. Mas
também não tenho dúvida de que não é a solução para todos os problemas. Não tenho dúvida
de que não é a fórmula do sucesso que vá garantir a aprovação.
Em certa ocasião vi um ex-colega professor afirmar que dizia aos alunos para saírem da sala de
aula e irem para a biblioteca, pois só assim passariam no concurso público. Algum tempo
depois, esse mesmo ex-colega se tornou um empresário de cursos preparatórios, tendo eu
ministrado aulas durante certo período na sua instituição. Ao me apresentar para uma turma,
assisti esse mesmo ex-colega, na minha frente, afirmar aos alunos para não irem para a
biblioteca e ficarem “aprendendo de verdade na sala de aula”.
Não obstante a falta de coerência – e talvez até de ética, não considero que estivesse correto
nem quando assumiu o primeiro personagem, tampouco quando assumiu o segundo.
O que não é correto é o candidato buscar o curso preparatório por não saber como se
planejar, como estudar ou pelo fato de ter sido publicado um edital. O fundamental é que o
candidato, assumindo a atitude do “Candidato de Alto Rendimento”, tenha uma compreensão
estratégica e tome uma decisão eficiente e racional. E, com isso, dê passos de grande
importância para que possa visualizar o seu nome na lista dos aprovados.
28
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
pode ocorrer de ser um espaço de caráter mais profissional, no qual se tenha condições
mínimas de estudo, tal como um escritório.
Diante disso, uma hipótese preliminar se impõe: muitos candidatos estão estudando nas
bibliotecas, principalmente no horário noturno, o que pode presumir estarem trabalhando
durante o dia.
Outro detalhe interessante que esse cenário revela consiste na colaboração da estrutura
educacional do Estado com a democratização da disputa aos cargos públicos e efetivação do
princípio do livre acesso, assim estabelecido no art. 37 da Constituição Federal. Vale lembrar
que a pesquisa tem como objeto exclusivamente as bibliotecas públicas.
Vale lembrar que a preparação para o concurso exige a preocupação com aspectos
estratégicos e táticos. Os primeiros estão no campo decisório, envolvendo elementos como a
definição de objetivo e programa. Já os aspectos táticos são aqueles que devem ser
considerados ao longo da implementação do planejamento da preparação.
29
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
A biblioteca consiste num local naturalmente adequado ao estudo, contando com diversos
fatores que contribuem com a concentração, tal como a adequação do ambiente e o fato de
outras pessoas estarem estudando, o que acaba por se traduzir num estímulo externo.
Seguramente esta também deve ser uma das preocupações dos candidatos frequentadores de
bibliotecas, os quais acabaram por influenciar o censo.
30
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
dedicarmos mais atenção a um estímulo, temos que diminuir a atenção voltada a outros. Basta
pensar na experiência de atravessar uma rua. Se formos dar atenção a todos os estímulos à
nossa volta, correremos o risco de seremos atropelados.
Dessa maneira, o local de estudos, em função dos estímulos relacionados com o ambiente,
pode contar com fatores exógenos de concentração ou desconcentração, podendo colaborar
ou atrapalhar com a eficácia do processo de aprendizagem.
Portanto, é fundamental que o candidato não apenas defina um local de estudos, mas também
avalie, refletindo sobre a relação de custo e benefício envolvida, e o caráter eficiente,
estratégico e racional de sua escolha. Seguramente essa preocupação lhe proporcionará uma
grande contribuição para o alcance da sua aprovação no concurso ou exame.
Um tema de grande relevância e que conta com pouca atenção, principalmente em termos de
produção intelectual, consiste na ideia de trabalhar o prazer em aprender no âmbito da
preparação para o concurso público. Na realidade, tal importância consiste não apenas em
trabalhar o prazer em aprender, mas também identificar a falta do prazer em aprender, bem
como as suas consequências no processo de busca da aprovação.
Naturalmente que se esta matéria é classificada como importante para o concurso almejado, o
cenário se torna ainda mais complicado. Vale dizer que o conceito de importância da matéria
pode decorrer da quantidade de questões passíveis de cobrança no momento da prova, do
peso atribuído a elas ou da complexidade dos conteúdos cobrados.
31
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
de que na esfera do domínio afetivo existem valores e crenças que, inegavelmente, acabam
por influenciar ou comprometer a aprendizagem. Ou seja, não é preciso se esforçar muito para
constatar que há uma íntima relação entre a falta do prazer em aprender – a qual é
influenciada por fatores emocionais – e a dificuldade para o aprendizado. Inclusive, existem
estudos indicativos que essas limitações podem contar com repercussões até mesmo
fisiológicas, causando, por exemplo, dor de cabeça durante os estudos.
Vale salientar que o objetivo da preparação para concursos públicos precisa ser encarado e
compreendido como um empreendimento de natureza intelectual. Isto é, um
empreendimento no qual a obra a ser construída consiste na apropriação cognitiva de um
conjunto de informações e conhecimentos passíveis de cobrança no momento da prova.
Dessa maneira, não há dúvida de que é possível identificar o sentido e a utilidade no estudo
para o concurso público, os quais vão além da prova. E isso geralmente vale para todas as
matérias previstas no edital.
32
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
que sentirmos prazer em aprender determinado conhecimento consiste em algo mais do que
natural.
Mas a ideia é estarmos focados no processo, na execução do plano, tendo na aprovação uma
consequência lógica. Vale lembrar que na preparação para o concurso público temos um
objetivo mediato e outro imediato. O objetivo mediato consiste na aprovação, ao passo que o
objetivo imediato consiste no desenvolvimento de um processo de apropriação do
conhecimento eleito como passível de cobrança no momento da prova.
Ou seja, por um lado, é preciso trabalhar com a ideia de que vou estudar para aprender e sei
que este conhecimento a ser aprendido me proporciona prazer, pois sou um ser humano
dotado de um equipamento biológico que, naturalmente e filogeneticamente, gera satisfação
ao me apropriar de um objeto cognitivo. Além do mais, também é fundamental compreender
que este conhecimento tem alguma utilidade na minha vida, inclusive enquanto cidadão.
Por outro lado, outra atitude importante consiste em estar focado no processo. Ou seja, não
apenas buscar ter satisfação no aprender, mas também admitir como objetivo o alcance de
metas de curto prazo, correspondentes ao cumprimento do que foi estabelecido no âmbito do
planejamento de estudo. Para os usuários do Tuctor, uma atitude importante consiste em
estar focado na superação ou alcance dos indicadores de metas de desempenho estabelecidos
no sistema.
PERGUNTA:
33
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Estou focando como objetivo de cargo público o concurso para Delegado de Polícia Civil, o qual
será composto em sua seleção pelas seguintes disciplinas: Penal, Processo Penal,
Administrativo, Constitucional, Civil, Processo Civil, Tributário e Legislação Ambiental.
Gostaria de saber qual a sua opinião sobre o estudo iniciando-se pela Lei Seca nos vários
códigos. Grato pela atenção e estarei no aguardo de resposta, sugestões e orientações.
Marco Aurélio.
RESPOSTA:
Neste sentido, com a intenção de colaborar com o alcance da resposta, o primeiro aspecto
fundamental é que se você tenta estudar apenas o texto da lei – e digo “tenta”, pois não
acredito que isso seja aprendizagem efetivamente – há uma tendência ao comprometimento
de eficiência na compreensão. Porém, obviamente, levará um tempo menor do que se fosse
realizar o estudo conjunto, ou seja, da bibliografia (doutrina) e do texto da lei.
Por outro lado, se realizar o estudo da legislação juntamente com o texto doutrinário,
demandará um tempo maior, mas acredito que terá um ganho de aprendizagem.
Por esse motivo, entendo que os estudos devem ser considerados complementares.
Exemplificando, considero que não há como estudar o art. 22 da Constituição Federal sem
entender os conceitos de competências legislativas. Não há como estudar o art. 927 do Código
Civil, sem entender a diferença entre responsabilidade civil objetiva e subjetiva. Não há como
entender os artigos da Parte Geral do Código Penal, sem entender o conceito de crime e a
teoria da imputação objetiva.
34
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Como costumo dizer nas palestras, normalmente temos uma aprendizagem mecânica da
primeira estrofe do Hino Nacional, pois sabemos a letra. No entanto, não temos a
disponibilidade imediata da compreensão do sentido. Ou seja, sabemos repetir de imediato a
primeira estrofe do nosso Hino, mas não sabemos explicar de imediato a história que é
retratada no referido trecho.
Portanto, meu caro, por trás da sua pergunta há um dilema, isto é, um trade-off de custo-
benefício. Minha intenção não é apresentar fórmulas mágicas, prontas e acabadas. Apresento
apenas caminhos e possibilidades, instigando o candidato à busca de eficiência.
Pode ser que tentando decorar a letra da lei tenha a disponibilidade da informação no
momento da prova. Pode ser que não. A decisão é sua. Pode ser que, dado o seu tempo, seja
mais estratégico e eficiente este caminho. Pode ser que tenha um tempo maior e seja mais
estratégico e eficiente partir para o outro caminho da aprendizagem de significados,
conjugando o estudo do texto da lei (lei seca) e da bibliografia (doutrina).
Atualmente, considero que temos uma pluralidade de fórmulas mágicas e vendas de ilusões
com ganhos fáceis no universo da preparação para concursos. Até mesmo recursos musicais
são invocados para ensinar assuntos complexos.
Não sou o dono da verdade e não tenho a pretensão de ser. E me considero um conservador.
Sou um entusiasta da aprendizagem com compreensão de sentido. Não acredito em fórmulas
mágicas e no “segredo do sucesso” de como passar em concursos públicos.
Não acredito em aprovação sem esforço. Não acredito na preparação para concursos públicos
pautada na perspectiva de curto prazo. Não acredito no êxito daqueles que assumem a
condição do “candidato micro-ondas”, o qual está sempre em busca da fórmula mágica, que
viabilize a aprovação de forma rápida e sem esforço.
Talvez seja viável algum caminho intermediário, na medida em que para determinadas
matérias e provas se adote a legislação seca apenas e para outras se desenvolva o estudo da
doutrina conjugado com a legislação. Confesso que jamais estudei apenas a legislação seca. Já
cheguei a fazer revisões para provas objetivas exclusivamente com o uso da legislação. Mas
para estudar de forma efetiva, sempre o fiz com a doutrina.
Na realidade, não posso lhe dar a resposta definitiva, pois a decisão deve ser tomada e
assumida por você, com os ônus e os bônus inerentes. Só posso tentar, humildemente, com
base na minha experiência, vivência e estudos sobre o tema – conquistados às custas de muito
35
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Espero que tenha ajudado. Também espero que tome uma decisão eficiente. Estou na torcida
e à disposição!
Você já teve contato, já usou ou já ouviu falar das drogas dos concurseiros?
Muito bem, ao que tudo indica, vem ganhando força a ideia do uso de drogas cognitivas no
universo da preparação para concursos públicos. Trata-se de um recurso perigoso e ilusório.
Alguns candidatos têm recorrido a substâncias químicas com a intenção de otimizar o processo
de estudos. Geralmente estas correspondem ao metilfenidato, mais conhecido como ritalina, e
o modafinil. A intenção seria melhorar as funções cognitivas primárias, tais como a atenção e a
concentração.
Antes de mais nada, vale lembrar que o referido recurso se trata de uma droga. Segundo o
dicionário de Michaelis, droga seria a “designação comum a todas as substâncias ou
ingredientes aplicados em tinturaria, química ou farmácia”.
Mas diante desse cenário, para os candidatos a concursos públicos, dois aspectos
fundamentais exigem consideração. O primeiro seria os efeitos colaterais e problemas
passíveis de ocorrência no futuro. O segundo seria a real eficiência do referido recurso.
Como sei que muitos dos candidatos não se preocupam com o futuro, estando tomados pelo
imediatismo e às vezes pelo desespero de busca pela aprovação, vou ignorar solenemente a
36
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
primeira preocupação. Registro que considero positivo este “quase desespero”, pois se traduz
em motivação e compromisso com o processo de preparação. No entanto, como tudo na vida,
radicalismos e exageros sempre são indesejáveis, inclusive pelo risco de que a referida
intensidade de envolvimento ao longo da trajetória de estudos não se mantenha constante.
Assim, considerando a preocupação-alvo que elegi, saliento que tenho sérias e consistentes
dúvidas sobre a eficiência do uso dos referidos medicamentos. Em tese, a intenção consiste no
aumento da concentração e atenção. Para entendimento da referida atitude, destaco que há
um conceito de grande aplicação.
Ou seja, resumo do resumo: 10 horas seguidas de estudos não são o resultado aritmético de 1
hora vezes 10 de estudos. Como se costuma invocar entre as construções conceituais sobre
gerenciamento de projetos, nove mulheres grávidas não fazem uma cirança nascer em um
mês.
Assim, não é o fato de tomar um medicamento que permita permanecer 10 horas estudando
que garantirá a eficácia de tal processo cognitivo e, principalmente, da apropriação intelectual
da informação passível de solicitação no momento da prova. Não custa lembrar que o cérebro
conta com uma estrutura biofisiológica complexa, não funcionando como uma máquina. Isto é,
não é uma questão de trocar a pilha ou colocar uma bateria mais potente.
Recentemente, o periódico Mente e Cérebro publicou uma matéria noticiando que alguns
cientistas estariam propondo a reflexão sobre a conveniência de adoção das mencionadas
substâncias, enquanto meio de otimização cognitiva. No entanto, não deixou de fazer o devido
e necessário alerta, ao colocar que “essas drogas devem ser cuidadosamente estudadas para
esse fim, e devem ser avaliados seus riscos e benefícios” (Ano XVI, n. 193, p. 21).
37
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Esclareço que isto não significa defender a tese de ineficácia da ritalina para superar
determinados distúrbios de aprendizagem. Até porque o objeto da presente abordagem não
envolve o prognóstico e o tratamento das referidas patologias cognitivas. Trata-se de refutar a
tese da utilidade da medicação para a otimização dos estudos, por parte de pessoas em
perfeitas condições, considerando o padrão de normalidade.
Portanto, não tenho dúvida em afirmar que, em vez da busca de ganhos facilitados e ilusórios,
a otimização dos estudos deve ser viabilizada por estratégias e atitudes adequadas,
principalmente em termos da estruturação do planejamento da preparação.
Enfim, espero que você reflita sobre os alertas apontados e manifesto meus votos de que
desempenhe uma preparação estratégica, eficiente, racional, de alto rendimento e, acima de
tudo, saudável!!!
Neste sentido, inicio pontuando que, como em relação a qualquer outra atitude ou decisão a
ser tomada pelo candidato, é preciso ponderar sobre um trade-off (conflito) envolvendo uma
lógica de custo-benefício. Ou seja, é preciso pensar e agir de forma estratégica e tática, de
modo a maximizar a eficiência do esforço empreendido.
Conforme tenho sustentado, normalmente sabemos a primeira estrofe do hino nacional, mas
geralmente não sabemos contar a história que é retratada por meio dessa mesma estrofe,
salvo parando, a partir da reprodução mecânica, para refletir sobre o significado do conteúdo.
38
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
O fato é que geralmente, exceto no caso de uma repetição muito intensa, a aprendizagem
mecânica se perde com mais facilidade que a de significados. Porém, esta última tem um preço
maior.
Existe uma construção muito importante, desenvolvida no âmbito das ciências cognitivas,
voltada à explicação do processo de aprendizagem humana, envolvendo os conceitos de
assimilação e acomodação. Na assimilação o aprendente compara a nova informação com a
preexistente, ou seja, a que havia sido apropriada anteriormente. Já na acomodação são
compreendidas as diferenças entre a informação nova e a anterior, permitindo a efetiva
construção do conhecimento. No entanto, existe o fenômeno da hipoassimilação, o qual leva à
hiperacomodação. Tal fenômeno ocorre nas aprendizagens totalmente mecânicas e
mnemônicas, sem a compreensão de sentido ou significado.
39
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
em concursos”. Não acredito que a aprovação seja uma loteria que nos proporciona o prêmio
de ter o nosso nome na lista de aprovados.
Será que o estudo em grupo consiste numa atitude eficiente na preparação para concursos?
Alguns candidatos incorporam a referida atividade aos seus estudos, avaliando ou não a sua
eficiência. Outros candidatos rejeitam tal possibilidade, seja por ignorá-la, seja por contar com
a convicção e a avaliação de que não se trata de uma estratégia adequada.
Fazendo uma leitura das descrições e trajetórias dos candidatos da pauta do Relato de Êxito,
podemos constatar nitidamente que alguns reconhecem a eficiência da referida atividade,
defendendo a sua adoção de maneira convicta, outros entendem como não recomendável,
havendo ainda aqueles que ignoram a possibilidade de adoção da referida modalidade de
estudos.
Dentre aqueles que defendem o estudo em grupo, destacam-se os seguintes fundamentos: (1)
permite o compartilhamento de informações, em relação às quais seria demandado tempo e
esforço maiores para que se tivesse o contato; (2) implica no compromisso de estudo perante
terceiros, de forma periódica e com caráter de obrigação; (3) imposição da atividade de
elaboração de textos, o que pode colaborar com a realização de questões dissertativas.
4
COEFFE, Michel. Guia dos métodos de estudo. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
40
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
no caso, estamos falando de candidatos que lograram êxito na aprovação no concurso público!
Mas o fato é que se trata de colocações estabelecidas a partir de um elemento puramente
empírico.
Procurando realizar uma análise mais consistente e fundamentada, por meio da adoção das
construções e conceitos estabelecidos no âmbito das ciências da aprendizagem, uma primeira
ideia relevante que poderia ser considerada para a análise da eficiência do estudo em grupo
consiste na tese das etapas da aprendizagem, propostas pelo psicopedagogo português Vitor
da Fonseca5. Segundo este, a aprendizagem se desenvolve em quatro etapas, envolvendo o
input (contato com a informação), a cognição (compreensão da informação), o output (a
exteriorização da informação) e a retroalimentação (a reiteração do contato com a
informação). Dessa forma, analisando o estudo em grupo a partir da referida ideia, podemos
considerar que se trata de uma oportunidade e mecanismo de output, por parte daquele que
faz a apresentação do tema que está sob sua responsabilidade, bem como de
retroalimentação, pois também subsiste a reiteração do contato com o conhecimento objeto
do estudo.
Outra ideia importante consiste na noção da aprendizagem segundo o festejado Jean Piaget.
Para o referido autor, um dos pais da psicopedagogia, a aprendizagem envolve a atividade de
assimilação, na qual se faz uma checagem entre o conhecimento novo e o preexistente e a
acomodação, em que é feita a adaptação entre o novo e o preexistente, fazendo, a partir desta
segunda etapa, com que se alcance um estado de equilíbrio, consolidando a aprendizagem.
Como candidato, nas diversas fases que vivenciei, até ser aprovado no concurso da
Magistratura, tive algumas experiências de estudo em grupo, tanto para provas dissertativas,
quanto para provas de sentença. Apesar de considerar que foi proveitosa e eficiente a referida
atividade, não posso negar que era comum a falta de otimização do tempo nos encontros
presenciais, principalmente em função da tentação das conversas desvinculadas daquelas que
deveria ser a pauta das reuniões, ou seja, o objeto de conhecimento a ser estudado.
5
FONSECA, Vitor da. Cognição, neuropsicologia e aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 2007.
41
Como se preparar para
CONCURSOS PÚBLICOS COM ALTO RENDIMENTO
Prepare-se com estratégia, eficiência e racionalidade
Rogerio Neiva
Portanto, não podemos ignorar, inclusive na linha das ponderações de alguns candidatos de
êxito, que é preciso tomar certos cuidados. Inegavelmente, os possíveis aspectos negativos
podem comprometer todas as vantagens inerentes à referida atividade. Mas o fato é que tais
vantagens existem, principalmente no plano da aprendizagem, e sustentadas por fundamentos
científicos e psicopedagógicos.
1 – é preciso que seja estabelecida a dinâmica a ser adotada, bem como algumas regras a
serem seguidas, inclusive sanções e normas de tolerância para o caso de descumprimento, de
modo a assegurar responsabilidade e compromisso no funcionamento do grupo;
2 – é preciso contar com garantias mínimas de que os membros do grupo estão com o mesmo
compromisso emocional em relação à meta de aprovação, sendo dotados de vínculos de
solidariedade, de modo que cada membro do grupo torça pelo sucesso dos demais, ainda que,
efetivamente, subsistam dificuldades em termos de mecanismos objetivos de verificação
dessas condições;
4 – por fim, lembrando as palavras de Michel Coéffé, é importante que tudo seja muito bem
planejamento e organizado, ou seja, a divisão dos temas, matérias e tarefas, bem como pauta
e duração das reuniões, prazos e obrigações.
42