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O catalão como língua

nacional
Prof. Me. Miguel Afonso Linhares – IFRN
Pressupostos teóricos
O nacionalismo não é o despertar de uma nação à consciência de si, mas algo que cria e
mantém uma nação.
Os fundamentos ideológicos dos nacionalismos estabeleceram-se em fins do século XVIII e
começos do XIX.
Uma nação não é uma comunidade definida naturalmente por um conjunto de condições
objetivas, mas uma comunidade imaginada, que existe enquanto os sujeitos que a compõem
creem que formam uma nação.
Uma nação não surge do nada. É um processo lento e que pode ser favorecido por elementos
distintivos da comunidade que se constrói como nação.
Os nacionalismos são oportunistas. Segundo lhes convenha, apresentam-se como
nacionalismos ou patriotismos, ou advogam um fundamento étnico ou civil.
A definição de um código linguístico como uma língua também não resulta de uma
essência desse código ou da comunidade que o usa, mas uma construção sócio-
histórica, uma atividade política atravessada por ideologias, especialmente os
nacionalismos.
Não há uma relação necessária entre língua e nacionalismo. Os nacionalismos
linguísticos não são a regra, mas a exceção. Em geral, os nacionalismos começam por
evocar uma independência perdida, que deve ser recobrada.
O poder da língua como elemento constituinte da nação costuma ser percebido a
partir da doutrinação no nacionalismo através do ensino obrigatório da língua.
A partir da França, a fórmula jacobina um Estado = uma nação = uma língua tornou-
se um verdadeiro dogma da doutrina nacionalista.
(cf. ZABALTZA, 2006)
A língua catalã
A língua catalã é a continuação do latim falado ao nordeste da província romana da Hispânia
Tarraconense.
Esse território dilatou-se primeiro até o rio Ebro através das conquistas de Raimundo Berengário IV
(1131-1162), conde de Barcelona, e depois às ilhas Baleares e a Valência através das conquistas de
Jaime I (1213-1276), conde de Barcelona e rei de Aragão.
Hoje, o catalão é a língua vernácula dos seguintes territórios:
na França, do departamento dos Pireneus Orientais (exceto a comarca do Fenouillèdes/Fenolheda);
do Principado de Andorra;
na Espanha, da comunidade autônoma da Catalunha (exceto a comarca do Vall d’Aran/Val d’Aran), de
uma faixa de municípios da comunidade autônoma de Aragão rente à fronteira com a Catalunha,
conhecida como Franja de Aragão, da maior parte da Comunidade Valenciana, de algumas aldeias na
serra de El Carche (el Carxe), na região de Múrcia, da comunidade autônoma das Ilhas Baleares;
Na Itália, do município de Alghero (l’Alguer), localizado na ilha da Sardenha.
PIRINEUS
ANDORRA ORIENTALS

FRANJA D’ARAGÓ
CATALUNYA

L’ALGUER
Els Països
COMUNITAT
VALENCIANA
ILLES BALEARS
Catalans
EL CARXE
O nacionalismo catalão
O nacionalismo catalão, ou “catalanismo” (catalanisme), é
o conjunto dos discursos constituintes da nação catalã. É
ambíguo em mais de um sentido.
Por um lado, o entendimento sobre o território da nação catalã
pode restringir-se à Catalunha ou aos Países Catalães (Països
Catalans).
Por outro lado, compreende vários projetos políticos para a
nação, desde a autonomia até a independência.
O catalanismo remonta a meados do século XIX, quando
começou a desenvolver-se a Renaixença, o “renascimento”
da língua catalã: um movimento de dignificação e
glorificação dessa língua, após um momento de
“decadência”, que se arrastava desde o século XVI.
Fases do catalanismo
Segundo Gimeno Ugalde (2010), podem-se distinguir três fases no desenvolvimento
do catalanismo desde a primeira manifestação literária da Renaixença até a maior
conquista do catalanismo antes do estabelecimento da ditadura do general Francisco
Franco:
primeira fase: estende-se da publicação da ode La pàtria, de Bonaventura Carles
Aribau, em 1833, à restauração da dinastia de Bourbon em 1874;
segunda fase: estende-se da restauração borbônica em 1874 ao Desastre de 1898;
terceira fase: estende-se do Desastre de 1898 à promulgação do Estatuto de
Autonomia em 1932.
Primeira fase
Na primeira fase, houve um movimento de
dignificação e glorificação da língua catalã.
A Catalunha era entendida como uma região da
Espanha e aspirava-se a um Estado espanhol federal.
Consequentemente, o castelhano era encarado como
a língua nacional da Espanha e da Catalunha, de
modo que se aceitava a diglossia.
O próprio status do catalão foi motivo de discussão.
Surgiram as primeiras tentativas de codificação do
catalão.
Segunda fase
Na segunda fase, houve um movimento de extensão do
uso da língua catalã para além da literatura.
O entendimento de qual era a nação dos catalães era
ambíguo.
O catalanismo foi politizado após romper com o
federalismo espanhol.
Questionou-se o estatuto do castelhano como única língua
nacional da Espanha e propugnou-se que o catalão
também o era.
Apareceu a reinvindicação de oficializar o catalão, nesse
momento majoritariamente como cooficialidade com o
castelhano.
O debate acerca da codificação do catalão intensificou-se.
Terceira fase
Na terceira fase, houve um movimento de reivindicação do uso geral da
língua catalã.
A Catalunha passou a ser entendida como a única nação dos catalães.
A burguesia catalã apoiou as instituições catalanistas, que obtiveram as suas
primeiras vitórias eleitorais.
O Estado espanhol reconheceu a Catalunha como entidade política em dois
momentos:
de 1914 a 1925 como uma federação das províncias catalãs (Mancomunitat de
Catalunya);
de 1931 a 1939 como região autônoma da República.
O catalão passou a ser encarado como a língua nacional da Catalunha e a
oficialidade exclusiva tornou-se majoritária na reinvindicação de
oficialização.
Alcançou-se a codificação do catalão.
“Língua”, “nação” e “identidade” no discurso
da política linguística da Catalunha
Què vol dir llengua pròpia? Segons el diccionari, propi és “allò que és d’una persona o
d’una cosa en exclusió de tota altra, per tant és quelcom que contribueix a definir una
persona o una cosa. Propi és el que és genuí en oposició al que és derivat”. Propi és,
continua dient el diccionari, “quelcom que no és manllevat”.
Totes aquestes accepcions es poden aplicar al “català, llengua pròpia de Catalunya” i
això no és d’estranyar perquè el català és la la llengua històrica de Catalunya, és la
llengua de Catalunya des dels orígens, la llengua usual única fins fa cent anys. És la
llengua medul·lar, és la que li dóna personalitat pròpia i definida. Tot això només ho és
el català (PUJOL, 1996, 178).
Crítica:
A relação entre língua e nação é unidimensional.
A língua própria define a nação.
A língua própria é a única arraigada legitimamente na Catalunha.
A relação entre língua e nação é imutável.

El catalán es la lengua propia de Cataluña, porque es la lengua que se forjó en Cataluña a lo


largo de los siglos, por evolución natural del latín […] (MOLL, 1981, p. 14).
[...] l’adjectiu pròpia no es pot predicar en el cas de la llengua castellana, perquè no és la
llengua que ha nascut a Catalunya (RENIU, 1995).

Crítica:
O catalão não é falado apenas na Catalunha. Nos demais territórios, também se advoga
que é a língua própria.
Aquestes llengües [històriques], tot i ser en realitat extraterritorials, a causa d’altres
factors demogràfics o polítics poden passar a ser dominants i arribar a ser
considerades també històriques al mateix territori [...], amb un estatus igual o encara
més alt que la llengua originària.
[llengües sobrevingudes són] fruit de desplaçaments de població amb escassa
tradicionalitat, les quals es trobarien en una posició ben diferent, de clara
extraterritorialitat (MARÍ, 1995, p. 46).

Crítica:
O que é essa tradicionalidade? Como se mede?
El esfuerzo desmesurado por parte de los lingüistas de proporcionar una definición de
llengua pròpia que haga posible atribuirle este estatus solamente al catalán,
excluyendo al castellano, demuestra que tales definiciones no se fundan en hechos
científicos y neutrales, sino que se basan en el deseo de probar la mayor legitimidad
del arraigo del catalán en Cataluña (y en el País Valenciano e Islas Baleares) con
respecto al castellano y otras lenguas (SÜSELBECK, 2008, p. 171)

Crítica:
El hecho histórico de que en Cataluña ha existido población castellanoparlante a
partir del siglo XV (SÜSELBECK, 2008, p. 171).
[O sistema educativo catalão] restringe dramáticamente el derecho de los niños
castellanohablantes a recibir la enseñanza en su lengua materna, un derecho
fundamental proclamado por la UNESCO en 1951 (SÜSELBECK, 2008, p. 171).
[L]a crítica hacia el nacionalismo se reduce a culpar a los Estados de la invención de
naciones “ilegítimas”, cuando al mismo tiempo se afirma que las minorías
constituyen naciones “auténticas” (SÜSELBECK, 2008, p. 181).
Normalitzar vol dir fer normal, oi? Quina seria la situació lingüística normal? En un
territori on hi ha una llengua oficial que a més a més és la pròpia del país, el normal és
que tots els ciutadans sàpiguen aquesta llengua i l’emprin en qualsevol situació [...].
Hem de tendir a que el català sigui veritablement la llengua pròpia d’aquí, que tota
relació normal es faci en català (MOLL, 1986, p. 25).

Crítica:
Pressupõe que o desenvolvimento histórico que comportou a situação anormal é
ilegítimo e deve ser corrigido voltando à situação normal original.
Val la pena de remarcar que els prejudicis que puguin existir en pro de la normalització
de la llengua catalana com a idioma del país són fruit d’una desinformació absoluta
que existeix entre la població pel que fa a la importància del fet lingüístic, del que vol
dir llengua i poble i de la interrelació entre llengua i pensament (ARENAS, 1991, p. 61).

Crítica:
A política linguística é desenvolvida em uma contradição: favorece-se uma língua
que deixou de ser importante para a população.
Considerações finais
O estudo de Süselbeck contém uma problematização relevante de definições
essencialistas de língua, nação e identidade mesmo em tempo recente, definições
que, segundo sua interpretação, não dão conta da complexidade da vivência dos
objetos a que se referem. Contudo, a nosso ver, o autor não ultrapassa o
essencialismo: se as definições de língua própria (da Catalunha) estudadas não
conseguem coerentemente excluir o castelhano, que entendimento coerente se pode
construir desse conceito? Defendemos que é preciso encará-la em uma perspectiva
sócio-histórica: o catalão foi construído como a língua própria da Catalunha por ter
sido e ser o principal elemento constituinte da identidade nacional catalã.
Referências
SÜSELBECK, Kirsten. “Lengua”, “nación” e “identidad” en el discurso de la política
lingüística de Cataluña. In: SÜSELBECK, Kirsten; MÜHLSCHLEGEL, Ulrike. Lengua,
nación e identidad: la regulación del plurilingüismo en España y América Latina.
Madrid: Iberoamericana; Frankfurt am Main: Vervuert Verlag, 2008, p. 166-185.

GIMENO UGALDE, Esther. La identidad nacional catalana: ideologías lingüísticas entre


1833 y 1932. Madrid: Iberoamericana; Frankfurt am Main: Vervuert Verlag, 2010.

ZABALTZA, Xabier. Una historia de las lenguas y los nacionalismos. Barcelona: Gedisa,
2006.

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