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Independência e Nacionalismo

Galego
Galiza é uma comunidade autónoma espanhola situada no noroeste da península ibérica. Esta
região passa despercebida aos olhares de muitos, mas é fonte de um património histórico e
cultural único. Por este motivo, as gentes deste canto do mundo sempre procuraram
independência de forma a conseguir a sua autodeterminação enquanto nação.
Ao contrário de outras regiões espanholas que buscam a independência, o movimento
independentista galego é levado a cabo por pessoas, tendencialmente, de esquerda (desde a
esquerda radical ao centro-esquerda). No entanto, dentro do movimento existe uma
divergência entre os moderados e os mais radicais. Esta divergência encontra-se no nível de
autonomia desejado por cada grupo: os moderados defendem que o melhor caminho para a
Galiza seria a formação de uma Espanha com estados confederados; os radicais, por sua vez,
afirmam que apenas a independência permitirá uma autonomia plena do povo galego.
De forma a ser possível a defesa de uma nação galega, a Galiza tem alguns elementos
característicos de outras nações independentes: uma língua própria, tradições e aspirações
comuns, um determinado território e um governo central que rege as suas próprias leis. É
exatamente por isto que os nacionalistas galegos defendem uma total soberania da nação
galega.
De 1960 a 1970, o movimento independentista africano foi fundamental para a criação de
novos modelos de independência para a Galiza. Através desta influência, a Galiza conseguiu
a aprovação do Estatuto de 1981 que garantiu a esta região o estatuto de nacionalidade
histórica. No entanto, este estatuto é muito criticado pelos nacionalistas galegos que
defendem que apenas a autodeterminação será suficiente.
É também importante referir a importância da cultura celta no nacionalismo galego. A Galiza
é vista como a sétima nação celta num grupo constituído pela Irlanda, Bretanha, Ilha de Man,
Escócia, País de Gales e Cornualha (Cornwall em inglês). Assim sendo, a Irlanda tornou-se,
entre 1920 e 1930, numa das referências para o nacionalismo galego. Esta influência inspirou
o poeta Eduardo Pondal a redigir aquele que viria a ser o hino da Galiza, Os pinhos. Para
além disso, foi também criada a Cova Céltica, um grupo de intelectuais galegos que levaria,
mais tarde, à criação da Real Academia Galega. A cultura celta também pode ser encontrada
na música e no folclore galego.
Na opinião de outros nacionalistas galegos, o caminho para a autodeterminação galega
encontra-se em Portugal. Para estes, acreditar no galego como uma língua independente é
errado. Deve-se, portanto, ver o galego como uma variante da língua portuguesa. A esta visão
dá-se o nome de lusista ou reintegracionista. Esta visão é assumida, em 1980, por parte do
nacionalismo independentista e produziu frutos tais como a criação da Academia Galega da
Língua Portuguesa (AGLP) que encontra-se ao mesmo nível de outras instituições lusófonas.
Um aspeto importante para qualquer nação está também na sua simbologia que a torna única.
A Galiza tem vários símbolos exigidos para a criação de uma nação independente: a bandeira,
o escudo, o hino, a língua e heróis nacionais.
Quanto à bandeira a Galiza tem três principais candidatas: a Bandeira Civil, surge no século
XIX, com fundo branco e uma faixa azul que começa do canto superior esquerdo até ao canto
inferior direito, atravessando o centro; a Bandeira do Estado, Institucional ou Oficial, nasceu
em 1972, igual à anterior, mas com a inclusão do escudo galego ao centro, escudo esse que
inclui o Santo Graal, usada atualmente pelas instituições galegas; a Estreleira, que começou a
usar-se na década de 1960 por movimentos nacionalistas de esquerda, também igual à
primeira, mas incluí uma estrela vermelha ao centro da bandeira simbolizando a luta
socialista pela independência da região. As três bandeiras têm a vantagem de ser bastante
distintas das restantes bandeiras a nível mundial não gerando, portanto, nenhuma confusão de
identidade tal como sucede com a bandeira do Chade e da Roménia e, também com a
bandeira do Mónaco e da Indonésia.
O hino galego, por sua vez, foi interpretado pela primeira vez em 1907 na cidade de Havana,
sendo, portanto, fruto da emigração galega. Durante a ditadura de Primo de Rivera e na
ditadura franquista, o mesmo foi proibido pois era visto como uma ameaça para a unidade
espanhola. Em 1984, o hino passou a ser, oficialmente, mais um dos símbolos da Galiza. No
entanto, o hino sofreu uma alteração no momento da sua oficialização.
Por fim, a Galiza tem também os seus mártires independentistas. Desses destacam-se os
nomes de Alexandre Bóveda na Caeira (Poio), o marechal Pardo de Cela e Castelão.
A história de todo este movimento é um conjunto de avanços e recuos para a independência.
E este processo arranca, de facto, com as Irmandades da Fala e, por fim, com a criação do
Partido Galeguista em 1931. No entanto, outros movimentos foram indispensáveis para a
criação do movimento independentista galego tais como o provincialismo, o federalismo e o
regionalismo.
O provincialismo foi um movimento que nasceu em 1840 com o objetivo de proteger a
unidade do território galego. Desde a morte de Fernando VII que vários projetos foram
elaborados com o objetivo de reorganizar o território galego em mais províncias. Este
movimento teve duas etapas: a primeira entre 1840 a 1846, caracterizada pela sua
proatividade política e cultural. A segunda, por uma via mais cultural com nomes como
Rosalía de Castro, Eduardo Pondal ou Manuel Curros Enríquez.
O federalismo, por sua vez, visava a criação de uma Espanha de confederações, onde a Galiza
seria uma dessas nações com o seu próprio poder central e as suas leis. Este movimento
alcançou o seu expoente na Primeira República Espanhola.
Por fim, o regionalismo resiste até aos dias de hoje e nasceu em 1875. Este movimento
defende que a Galiza é uma nação, no entanto, não deve buscar a independência, mas sim
deve tornar-se mais uma das regiões em Espanha. Este movimento levou à criação da
Associação Regionalista Galega e da Real Academia Galega, tendo, esta última, dado lugar
às Irmandades da Fala, fundada em 1916.
Avançando para o nacionalismo, é comummente aceite que este movimento nasceu na
reunião das Irmandades da Fala de 1918, onde se manifesta:

Tendo a Galiza todas as características essenciais da nacionalidade, nós, nomeamo-nos, de


hoje para sempre, nacionalistas galegos, já que a palavra regionalismo não recolhe todas as
aspirações nem contém toda a intensidade dos nossos problemas.
Esta assembleia define que o caminho da luta do nacionalismo galego deve ser a da
reivindicação de autonomia total e da criação de uma federação de nações na península
ibérica, bem como, da oficialização quer do galego, quer do castelhano e uma cadeira para a
Galiza na Liga das Nações.
Em 1921 surge o Comité Revolucionário Arredista Galego (CRAG) fundado em Havana e
liderado por Fuco Gómez. Desta forma, é necessário destacar a luta pelo independentismo no
estrangeiro, visto que, a Galiza sofria de repressão por parte da ditadura espanhola com Primo
de Rivera.
Em 1929, o nacionalismo galego cria a Organização Republicana Galega Autónoma (ORGA)
que defendia, tal como o nome indica uma certa autonomia para o povo galego. A ORGA
viria a impulsionara a criação da Federação Republicana Galega (FRG), em 1930, com o
objetivo de estabelecer as bases estratégicas para a criação de uma Galiza autónoma
republicana. Em 1931 é fundado o Partido Galeguista (PG) que reivindica que eles são, na
realidade, os verdadeiros sucessores das Irmandades da Fala e que têm o federalismo galego
como sua bandeira.
Apesar da existência de dois partidos para o federalismo, a ORGA e o PG, o PG viria a
tornar-se na principal voz do federalismo galego. Uma das grandes vitórias do PG foi a
inclusão da Galiza no IX Congresso de Nacionalidades Europeias (organismo adjunto da
Sociedade das Nações), em 1933.
Durante o período da ditadura franquista, todo o movimento independentista e cultural galego
fora duramente reprimido. De uma certa forma, a Galiza não viveu a guerra civil conforme
outras regiões espanholas. As tropas franquistas tomaram o controlo da região imediatamente
após o início da guerra jamais a perdendo para as forças republicanas.
Após o final da guerra, em 1943, o PG viria a tentar reorganizar-se e a estabelecer um Comité
Executivo Provisório de forma a reativar o partido e a formalizar a sua forma de luta política.
O PG viria, mais tarde, a integrar a junta Galega de Aliança Democrática constituída pelo
CNT, o PSOE e a UGT, bem como por outras organizações agrárias. A luta do PG é de teor
cultural aproveitando as folgas dadas pela censura do Regime.
Devido a este cenário boa parte da luta contra o regime franquista é realizada no exterior,
nomeadamente no México, onde é criada a Aliança Nacional Galega (ANG) com membros
da UGT, CNT, republicanos, galeguistas e socialistas.
Em 1950, com a morte de Castelão, o PG perde um dos seus membros mais influentes o que
leva ao fim do partido e do movimento nacionalista como um todo. No entanto, continuaram
os trabalhos ao nível da produção artística e literária no exterior da Galiza, com Isaac Díaz
Pardo e Luís Seoane, por exemplo.
Em 1953, nasce o Partido Socialista Galego (PSG) que desenvolve diversas atividades
culturais, vem como, trata de formar os seus membros.
Em 1964, surge o União do Povo Galego (UPG) com ligações ao marxismo-leninismo e com
o desejo de criação de uma Galiza soberana e também com um sistema económico socialista.
Em 1975, é criado o Sindicato Operário Galego (SOG) com o objetivo de lutar contra as
imposições do governo espanhol e das suas políticas antissociais. Também é neste ano que
nasce o Partido Popular Galego (PPG) defendendo um nacionalismo ao centro evitando
colocar os galegos de direita de fora do movimento independentista.
No ano de 1978, nasce o grupo armado de nome Luta Armada Revolucionária (LAR). Este
grupo desenvolveu diversas ações entre 1978 e 1980, até os seus elementos serem detidos
pelas forças policiais.
No ano seguinte é criada a Assembleia de Parlamentares Galegos com objetivo de definir o
texto de estatuto. Esta assembleia foi criticada pelos partidos nacionalistas, pois era pouco
ambiciosa em comparação com outras regiões, tal como, a Catalunha e o País Basco.
Os anos seguintes são marcados por avanços e recuos de diversos grupos e partidos na
Galiza, com vários partidos a conseguir representação parlamentar na Assembleia galega e,
também outros a conseguir formar governo regional.
Em 1984, surge uma nova organização militar independentista: o Exército Guerrilheiro do
Povo Galego Ceive (EGPGC). Este grupo realizou mais de 90 atentados, nomeadamente,
contra a Unión Fenosa e contra o narcotráfico.
Na atualidade, apenas o BNG encontra-se representado no parlamento da Galiza, sendo que,
o partido obteve o seu melhor resultado em 1997, com 18 deputados ou 25% dos votos.
Conseguiram, assim, várias presidências municipais, bem como um eurodeputado, três
deputados no Congresso espanhol e um senador. No entanto, ao longo dos últimos anos tem-
se presenciado a uma queda dos votos do BNG tendo hoje apenas 6 deputados.
Em 2005, surge um novo movimento armado pela independência chamado Resistência
Galega (RG) com um ataque a uma sucursal bancária. Em 2010, o Tribunal Supremo
Espanhol considerou a RG um grupo terrorista, tal como a ETA. No mês de junho de 2019,
foram detidos alguns membros do grupo.
Desta forma, pode ser dito que tanto o nacionalismo moderado, com o BNG, como o mais
radical apresentam sinais de abandono por parte da população galega. Isto poderá significar
que a população já não crê na hipótese de independência ou que, tal como acontece noutras
zonas da Europa, já não acredita nas instituições democráticas para realizar a mudança.

João Costa

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