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Raízes da Crise Política Brasileira

A palestra que apresento hoje é intitulada “Raízes da Crise Política


Brasileira”. Este título é inspirado no livro de José Pedro Galvão de Sousa, um
dos pensadores mais luminosos que o Brasil já teve. O livro, que será
relançado este ano pela Editora Resistência Cultural, tem o título “Raízes
Históricas da Crise Política Brasileira”.
José Pedro Galvão de Sousa: Um Luminar Esquecido
José Pedro Galvão de Sousa foi um eminente jurista e um dos maiores
pensadores do direito e da ciência política de sua época. Ele introduziu o
Brasil à obra de Arquivo e foi responsável pela primeira tradução de “A
Ciência da Política” para o português. No entanto, após sua morte, como
acontece com muitos grandes pensadores no Brasil, ele foi esquecido e suas
obras desapareceram das prateleiras.
Galvão de Sousa era um jurista católico conservador que defendia a tradição
tomista no país. Após sua morte, seus livros desapareceram, mas agora serão
relançados no Brasil pelas editoras Resistência Cultural e Magnificat.
A Eterna Questão: Por que nada na política do Brasil dá certo?
Todos nós nos perguntamos por que nada na política do Brasil parece
funcionar. Governos entram e saem, parlamentares mudam, regimes políticos
e leis são alterados, mas tudo parece continuar no mesmo caminho. A resposta
de José Pedro para essa questão é baseada em cinco capítulos de seu livro, que
tentarei sintetizar em três pontos principais:
1. Amnésia Fundacional: O Brasil tem um problema sério em relação à
sua própria identidade. É um país que poderia usufruir de uma herança
cultural da qual é herdeiro e proprietário em pleno direito, mas tenta
negar essa herança. Essa negação vem do momento em que o Brasil foi
fundado, um momento em que a Europa estava em plena crise cultural.
2. Desprezo ao Intelecto
3. Crise Religiosa
Cada um desses pontos exige uma explicação mais aprofundada, que tentarei
reduzir ao máximo. Mas aviso que minha capacidade de resumir não é tão
eficaz, então vamos lá.
Amnésia Fundacional
O primeiro ponto que precisamos perceber é que o Brasil tem um problema
sério em relação à sua própria identidade. O Brasil é um país que poderia
usufruir de uma herança cultural da qual é herdeiro e proprietário em pleno
direito, mas que tenta negar essa herança. Essa herança cultural advém do
momento em que o Brasil foi fundado, um momento em que a Europa se
encontrava em plena crise cultural.
A Crise Cultural Europeia e a Fundação do Brasil
A crise cultural europeia, que começou a se manifestar no início do século
XVI e se agravou até os dias atuais, não ocorreu de uma geração para outra,
mas sim ao longo de várias gerações. No entanto, o Brasil foi fundado a partir
de uma região que conseguiu resistir a essa crise cultural por muito tempo: a
Península Ibérica.
Na época em que a Europa continental estava sofrendo com divergências
religiosas, a Península Ibérica se distanciou dessa demolição do edifício
cultural que existia antes. Alguns fatos históricos podem ser lembrados, todos
atinentes ao momento em que o Brasil foi fundado.
Os reis católicos da Espanha, Isabel de Castela e Fernando de Aragão,
unificaram a Espanha sob o signo do catolicismo. Eles efetivaram uma
proteção cultural que circulava em torno de proteger a moral e a fé,
historicamente e culturalmente incluída no espírito do povo espanhol. Houve a
unificação em torno de uma cultura, uma língua e uma religião.
Foi graças ao grande avanço cultural que esses reis promoveram que se pôde
experimentar um evento como o descobrimento da América, que ocorreu
exatamente durante o reinado de Isabel de Castela e Fernando de Aragão.
Cristóvão Colombo foi patrocinado por eles.
Em Portugal, já na época dos anos 1400, as expansões marítimas eram
iniciadas. Camões dizia que essas expansões marítimas foram feitas para
dilatar a fé e o império. Gilberto Freyre, em Casa Grande e Senzala, tem uma
opinião idêntica à de Camões. Ele diz que o Brasil se formou sem que seus
colonizadores estivessem preocupados com a unidade ou a pureza da raça
durante quase todo o século 16.
Durante o período colonial, a colônia esteve aberta a estrangeiros, desde que
fossem de fé ou religião católica. O que barrava o imigrante era a heterodoxia,
a mancha de herege na alma, e não a raça. O que importava era a saúde
religiosa.
A Companhia de Jesus e a Escolástica
Santo Inácio de Loyola fundou a Companhia de Jesus, os jesuítas, que foram
responsáveis por alfabetizar milhões de pessoas e catequizar diversas
populações. Mas houve um ponto excepcional na história da Companhia de
Jesus: eles não apenas se dedicavam à alfabetização e catequização, mas
também ao desenvolvimento da escolástica. A filosofia tomista, que já estava
caindo na Europa continental, foi retomada pelos pensadores espanhóis, como
Luís de Molina, Ruanda e Mariana, Francisco Soares, Pedro de Inhapi, todos
jesuítas que retomaram a tradição escolástica e a recolocaram em
desenvolvimento.
A Influência Espanhola e a Escola Austríaca
Isso teve um impacto significativo no futuro para a Áustria. Após os
casamentos de Joana, a Louca, filha de Isabel de Castela, e Felipe, que na
época era herdeiro do Sacro Império, a Espanha e a Áustria foram unidas sob
a dinastia dos Habsburgo. Daí surgiu o Sacro Império Romano-Germânico.
A Escola Austríaca de economia vem do pensamento dos escolásticos tardios
espanhóis. Isso é um efeito que historicamente muita gente perde. Mises e
todos os pensadores da Escola Austríaca reconhecem que eles são herdeiros
da tradição espanhola. E quem é o outro que vai fazer parte da mesma Escola
Austríaca, mas em outra área? Eric Voegelin, na ciência política.

O Impacto Histórico da Reunião


A reunião das grandes ordens religiosas na Espanha teve um impacto histórico
significativo. Pensadores dessas ordens tentavam recuperar e atualizar o
pensamento medieval, alinhando-o com as preocupações contemporâneas.
Francisco de Vitória, um dominicano, é considerado o pai da escolástica
hispânica. Outros pensadores notáveis incluem Martin de Azpilcueta da
Ordem dos Cônegos Regulares, e André Medina, um franciscano.
Durante esse período, conhecido como o Século de Ouro da literatura e da
cultura espanhola, Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz realizaram a
reforma das ordens religiosas. Tudo isso aconteceu no momento anterior à
descoberta e fundação do Brasil.
A Herança Cultural do Brasil
O Brasil foi descoberto justamente no momento em que o rei de Portugal
estava casado com uma das filhas de Isabel de Castela. Assim, o Brasil nasceu
como herdeiro dessa tradição cultural. Quando a Europa estava em ebulição
cultural, a cultura genuinamente europeia, que se desenvolveu ao longo de mil
anos, se refugiou no Reino de Castela e na Península Ibérica, e de lá saltou
para o Brasil.
No entanto, essa herança milenar sofreu um esquecimento grave com as
primeiras incursões do Iluminismo no Brasil. Essa amnésia fundacional
penetrou no país de forma profunda, já na primeira constituição republicana
do Brasil, a Constituição de 1791. Mas mesmo antes, na Constituição do
Império de 1824, o pensamento liberal já havia penetrado.
O Brasil não teve o mesmo destino do restante da América Espanhola. Na
época, a América Espanhola era dividida em quatro vice-reinados. Quando a
dinastia de Bourbon assumiu o reino da Espanha, eles começaram a aplicar o
despotismo esclarecido, uma forma monárquica do Iluminismo, e tentaram
suprimir uma série de direitos que já haviam sido reconhecidos historicamente
aos colonos.
A Dinastia Bourbon e as Revoltas
A dinastia dos Bourbon tentou suprimir os direitos históricos dos colonos, o
que resultou em revoltas. Curiosamente, todos os libertadores da América
Espanhola eram monarquistas. Eles não pretendiam o fim da monarquia, mas
sim a manutenção do status que já haviam conquistado historicamente.
O Brasil se separou de uma maneira completamente diferente do que
aconteceu na América Espanhola. Enquanto na América Espanhola a
separação inicial foi baseada no pensamento dos jovens universitários da
época, que criaram as constituições e mudaram completamente a tradição
jurídica dos países, no Brasil a independência foi quase orgânica.
Em 1808, a corte se transferiu de Lisboa para o Rio de Janeiro, trazendo
consigo uma série de direitos que o Brasil já podia reivindicar como seus. Em
1821, quando a nova constituição de Portugal foi votada, deputados brasileiros
foram convocados. Eles foram a Lisboa para votar na constituição e, por não
concordarem com ela, os próprios portugueses reconheceram que eles tinham
o direito de se separar e formar um reino independente.
A Constituição de 1824 e a Manutenção da Tradição
O Brasil se tornou independente de uma maneira substancialmente diferente.
O Brasil não mudou sua tradição. Ele criou uma constituição em 1824, uma
constituição baseada em princípios liberais, mas manteve duas coisas que o
restante da Europa e da América Espanhola não mantiveram: a monarquia e a
dinastia reinante. Ao manter essas duas coisas, o Brasil manteve um elo de
tradição cultural que não existia nos outros países.
Enquanto na América Espanhola houve 15 anos de guerra, no Brasil houve
apenas 15 meses de revoltas, muitas delas causadas por falta de comunicação
entre os militares. Isso resultou em uma estabilidade notável para o Brasil sob
o Império, que durou 60 anos.
Os Três Elementos da Coesão Nacional
Gilberto Freyre, em seu livro “Uma Cultura Ameaçada: A Luz Brasileira”,
aponta três elementos que mantiveram a coesão nacional no Brasil durante o
Império: a língua portuguesa, a religião católica e as tradições da Hispânia.
Esses elementos foram mantidos intactos durante o Império, mesmo quando o
direito público brasileiro começou a assumir características estrangeiras,
copiando aspectos do direito francês.
Apesar da adoção de uma constituição de princípios liberais, o Brasil manteve
a monarquia e a dinastia reinante, preservando a tradição. Além disso, o
direito privado, que regula aspectos da vida cotidiana como contratos, relações
comerciais, casamento, propriedade e herança, continuou a ser regulado pelas
Ordenações Filipinas de Felipe II, rei de Espanha e Portugal. Essas
ordenações, que se baseiam no direito romano e no direito canônico, ligam o
Brasil a uma tradição milenar.
Quando a República foi fundada em 1916, o jurista Clóvis Beviláqua foi
convocado para redigir o novo Código Civil brasileiro. Beviláqua manteve
boa parte das Ordenações Filipinas, compilando-as de forma nova e mais
atualizada. Assim, o direito privado brasileiro, que regula aspectos da vida
cotidiana como contratos, relações comerciais, casamento, propriedade e
herança, continuou a funcionar por muitos séculos de uma maneira diferente
do direito público.
A Dicotomia entre a Vida Cotidiana e a Política
Essa feição particular do Brasil resulta em uma dicotomia notável entre a
nossa vida do dia a dia e a política como ela é praticada pelos detentores do
poder. As relações privadas se mantêm segundo tradições milenares, enquanto
que as relações de poder, as relações públicas, são mantidas numa perspectiva
completamente diversa da nossa tradição.
Borges de Medeiros, que introduziu o positivismo no Rio Grande do Sul, foi
um dos responsáveis por essa mudança. Ele criou um governo de técnicos,
pois acreditava que o povo era inculto. Borges de Medeiros foi o precursor do
positivismo na administração pública do Rio Grande do Sul, de onde saiu
Getúlio Vargas para levar essas ideias para todo o Brasil.
Após a República, o Brasil deixou de ser uma exceção no mapa sul-
americano. Seu presidencialismo sem freios e sem contrapesos eficientes
degenerou em um regime unipessoal e ditatorial. Borges de Medeiros, falando
há 40 anos da República, não poderia imaginar o ponto a que chegaríamos. A
maior parte desses erros ocorreu sob ditaduras legais e extralegais. Pode-se
dizer que o governo do PT foi um governo democrático no sentido aristotélico
do termo, pois a democracia, no sentido aristotélico, é exatamente aquela
bagunça geral, oposta à política.
A Amnésia Fundacional e a Identidade Nacional
O Brasil sofre de uma “amnésia fundacional”, um esquecimento de suas
raízes. Somos herdeiros de uma tradição, mas negamos essa tradição e
tentamos construir algo diferente. Isso resulta em uma identidade nacional que
é sempre “o país do futuro”, sem presente e sem passado.
Nossas constituições foram escritas com base no pensamento de estrangeiros,
como Benjamin Constant e os autores do Federalist Papers. Isso representa
uma importação de ideias que não são nossas, uma doença que leva o
brasileiro a importar coisas sem conhecer sua própria história.
O Desprezo ao Intelecto e a Tradição Brasileira
Temos no Brasil pensadores que muitos países gostariam de ter, mas nós os
enterramos, escondemos esses pensadores como se fossem uma vergonha.
Gilberto Freyre é um exemplo de um pensador que surge talvez a cada 500
anos. Ele escreveu extensivamente sobre questões nacionais, explicando como
o Brasil se insere em uma tradição e como as descobertas são oriundas de um
senso de expansão de uma cultura e de uma fé.
No entanto, muitos brasileiros preferem falar sobre Edmund Burke ou Thomas
Jefferson, sem conhecer um pingo de Gilberto Freyre. Precisamos ler esses
pensadores, colocando-os dentro da nossa tradição, e não transformando a
nossa tradição em uma pirataria do estrangeiro.
Temos um pensamento conservador brasileiro digno, exemplificado por
pessoas como José Pedro Galvão de Sousa, um dos maiores juristas do Brasil,
que tentou mostrar como a nação brasileira se enraíza na tradição milenar que
vem da Europa.
A Regra de São Paulo e a Tradição Intelectual
A regra deve ser a regra de São Paulo, utilizada por Santo Tomás: ouvir tudo e
ficar com o que é bom. Devemos valorizar o que é bom em Eric Voegelin,
Thomas Jefferson, Edmund Burke, entre outros, mas nossa prioridade deve ser
conhecer e recuperar os pensadores da nossa própria tradição.
Se você é conservador, revolucionando a tradição de pensamento do seu país,
ou negando a tradição de pensamento do seu próprio país, você está sendo
revolucionário, não conservador. Muitas vezes, vivendo em um país que
esqueceu suas raízes, você pode ir em busca de outra coisa sem saber
exatamente o que está procurando.
Hoje, quando você olha para o que os americanos estão produzindo sobre
política e direito, você verá que eles estão chegando perto do pensamento de
Santo Tomás de Aquino. Eles estão tentando interpretar a Constituição
Americana à luz de Santo Tomás de Aquino. Existem várias obras sobre isso,
porque eles perceberam que não dá para interpretar a constituição apenas à luz
de princípios humanos democráticos. Eles precisam de uma base de realidade
no direito e na ciência política. Pensadores americanos como John Finnis e
Robert George estão se esforçando por isso.
Nós, no Brasil, já temos essa tradição, mas muitas vezes a desprezamos.
Desprezamos pensadores como José Pedro Galvão de Sousa e Gilberto Freyre.
Freyre só não é mais desprezado porque ele fez a fama dele fora do Brasil. Ele
percebeu que o brasileiro gostava só de coisa estrangeira, então ele fez a fama
dele nos Estados Unidos e na Inglaterra, escrevendo alguns livros em inglês.
Depois disso, ele veio para cá e agora é reconhecido aqui.
A “amnésia fundacional” é um fenômeno que ocorre quando uma nação
esquece suas raízes e tradições. No Brasil, isso resultou em uma “anomia
jurídica”, uma divergência entre a forma como as leis existem e a maneira
como as pessoas vivem costumeiramente. Isso pode ser visto na quantidade de
leis que são ignoradas ou não seguidas pela população.
Há uma tendência no Brasil de desvalorizar os pensadores nacionais e tentar
copiar ideias estrangeiras. Pensadores como Gilberto Freyre, autor de “Casa-
Grande & Senzala”, e Miguel Reale, autor da Teoria Tridimensional do
Direito, são frequentemente reduzidos a conceitos simplificados ou mal
interpretados. Outros pensadores brasileiros, como Mário Ferreira dos Santos,
Otto Maria Carpeaux, Plínio Corrêa de Oliveira e João Camilo de Oliveira
Torres, são frequentemente esquecidos ou ignorados.
Quando as leis são ruins, a desobediência a essas leis pode ser vista como uma
forma de preservação da civilização. As pessoas percebem que existe uma
norma maior do que as normas dos homens. Isso é algo que os jesuítas
ensinaram aos brasileiros. A sociedade é a união de diversos corpos sociais,
dos quais o primeiro é a família. A família é forte no Brasil e é o que nos
mantém.
O caminho da brasilidade passa pela compreensão e valorização de nossa
própria tradição e história. Precisamos reconhecer a importância de nossos
pensadores nacionais e entender que a sociedade não é simplesmente a junção
dos indivíduos, mas a união de diversos corpos sociais.
O Desprezo ao Intelecto e a Descoberta de Galvão de Sousa
O desprezo ao intelecto é evidente na maneira como tratamos nossos
intelectuais. Uma história interessante é a de como Guilherme Freire
descobriu os livros de José Pedro Galvão de Sousa, um dos maiores juristas do
Brasil. Eles estavam escondidos em uma caixa na PUC, atrás de outros livros.
Isso mostra o tratamento que damos aos intelectuais brasileiros.
Uma das coisas que entristece sobre o movimento conservador atual no Brasil
é a assunção do conservadorismo como uma pauta identitária. Muitos
acreditam que ser conservador é repetir um conjunto de slogans. No entanto,
ser conservador é mais do que isso. É assumir os valores que se diz defender,
é ter integridade pessoal, é estudar, é respeitar os pensadores nacionais, é se
preocupar com o espírito.
Ser conservador, antes de tudo, é ter uma espiritualidade íntegra. Se você não
conserva a lei de Deus, você não conserva nada. A religiosidade é uma das
notas essenciais da brasilidade. É o respeito que existe à lei de Deus. Como
Gilberto Freyre, nosso maior sociólogo, disse, a existência de uma religião
una no país foi o que manteve a unidade nacional.
A Crise da Fé
No entanto, essa fé entrou em crise, em parte por causa do marxismo e da
teologia da libertação, mas também por causa da lassidão, da ausência de
apostolado, da inexistência de estudos e do apego à luxúria.
A falta de líderes religiosos dispostos a ministrar sacramentos, ouvir
confissões e ensinar as práticas religiosas tem contribuído para a perda da
coesão familiar e social no Brasil. Isso, por sua vez, tem consequências
negativas para a sociedade, incluindo o aumento da criminalidade.
A Responsabilidade Individual
Apesar desses desafios, cada um de nós tem a responsabilidade de tomar
ações positivas em nossas próprias vidas. Como São José Maria Escrivá
aconselhou, se cada um de nós se esforçar para melhorar, já seremos dois a
menos contribuindo para os problemas da sociedade.
O conservadorismo verdadeiro envolve mais do que a repetição de slogans.
Ele exige a vivência das virtudes, como a sabedoria, a justiça, a prudência e a
temperança, que são louvadas tanto na tradição judaico-cristã quanto na
filosofia platônica. Se não somos pessoas virtuosas, não podemos esperar criar
uma sociedade virtuosa.
A crise espiritual no Brasil, marcada pela queda do sentimento religioso, a
perda de pensadores reais e a negação de nossa fundação e dos valores
fundamentais da herança que recebemos de nossos fundadores, é um grande
desafio que enfrentamos. No entanto, é importante lembrar que temos a
capacidade e a responsabilidade de enfrentar esses desafios e trabalhar para
construir um futuro melhor.
A crise espiritual é a pior doença que o Brasil enfrenta. Não será resolvida
enquanto continuarmos acreditando que repetir slogans ou copiar leis
estrangeiras resolverá nossos problemas. Nossa vida se resolve entre nós e
Deus, e temos uma responsabilidade com a nação que só pode ser assumida
por pessoas virtuosas.
A Recuperação da Alma do Brasil
Os três elementos da nossa crise - a amnésia fundacional, o desprezo ao
intelecto e a crise religiosa - nos retiraram a alma. A recuperação da alma do
Brasil é o principal papel de um conservador nos dias atuais. Temos a
vantagem de já possuir um monumento de herança sobre o qual podemos nos
firmar. Temos pensadores, tradição, herança cultural e fé. Tudo isso nos une
numa linha não secular, mas milenar, que precisamos recuperar e conservar.
Aqueles que desejam seguir o caminho da restauração nacional precisarão
desenvolver excelência nas virtudes. Em dois dias, estarei em Goiânia, onde
darei uma palestra que poderia ser complementar a esta: “Cosmovisão Cristã
como Pressuposto de uma Política Conservadora”. Toda a cosmovisão política
que defendemos está no capítulo terceiro do Gênesis. Quem parar para ler e
estudar perceberá que toda a nossa luta entre revolução e manutenção da
ordem está já traçada ali. A busca da virtude é a única coisa que nos fará
seguir adiante.

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