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A FUNDAÇÃO DO ESTADO CABO-VERDIANO, A

INSTALAÇÃO DA PRIMEIRA REPÚBLICA

O arquipélago de Cabo Verde terá sido descoberto no ano de 1460 por


navegadores italianos e portugueses. Santiago foi a ilha mais favorável
para a ocupação e assim o povoamento começa ali em 1462.

Dada a sua posição estratégica, nas rotas que ligavam entre si a Europa,
a África e o Brasil, as ilhas serviram de entreposto comercial e de
aprovisionamento, com particular destaque no tráfego de escravos.
Cedo, o arquipélago tornou-se num centro de concentração e dispersão
de homens, plantas e animais.

Com a abolição do comércio de escravos e a constante deterioração das


condições climáticas, Cabo Verde entrou em decadência e passou a
viver com base numa economia pobre, de subsistência.

Europeus livres e escravos da costa africana fundiram-se num só povo,


o cabo-verdiano, com uma forma de estar e viver muito própria e o
crioulo emergiu como idioma da comunidade maioritariamente
mestiça.

Em 1956, Amílcar Cabral criou o Partido Africano para a Independência


da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), lutando contra o colonialismo e
iniciando uma marcha para a independência. A 19 de Dezembro de
1974 foi assinado um acordo entre o PAIGC e Portugal, instaurando-se
um governo de transição em Cabo Verde. Este mesmo Governo
preparou as eleições para uma Assembleia Nacional Popular que em 5
de julho de 1975 proclamou a independência.
O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA

Amílcar Cabral, num selo da ex-RDA.

As origens históricas nacionais da independência de Cabo Verde podem


ser localizadas no final do século XIX e no início do século XX. Foi um
processo gradual. Surgiu como uma tentativa de solução para as
reivindicações da elite crioula de então, que protestava contra o desleixo
e a negligência da metrópole portuguesa em relação ao que se passava
em Cabo Verde.
Com o processo de formação nacional, muito cedo a máquina
administrativa foi sendo assegurada pelos nascidos em Cabo Verde, ou
pelos que já tinham grande identificação com a colónia, com exceção
aos cargos elevados como governadores, chefes militares etc., ainda
reservados aos representantes da soberania de Portugal. Esta "auto-
suficiência" administrativa de Cabo Verde estava associada a uma
escolarização relativamente desenvolvida e à existência de uma
imprensa mais ou menos dinâmica introduzida por Portugal, que
contribuíram para o surgimento de uma elite intelectual e burocrática.
Esta começou, no século XX, a discutir cada vez mais a questão da
independência, gerando um clima de atrito com os representantes da
metrópole. Os leitores que acompanhavam a imprensa oficial entendiam
que se devia lutar pela independência ou, pelo menos, por uma
autonomia honrosa.

Aristides Pereira, primeiro presidente.

Em 1956, Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, entre outros


jovens patriotas das hoje Guiné-Bissau e Cabo Verde, fundaram
o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, que
surgiu no contexto do movimento libertador africano, que ganhou força
depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Esses patriotas
formaram uma unidade popular para lutar contra o que chamavam de
"deplorável política ultramarina portuguesa, afirmando que as vítimas
dessa política desejavam ver-se livres do domínio português".
A 19 de Dezembro de 1974, foi assinado um acordo entre o "Partido
Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde" e Portugal,
instaurando-se um governo de transição em Cabo Verde, governo esse
que preparou as eleições para uma Assembleia Nacional Popular. A 5 de
Julho de 1975, proclamou-se a independência do país, considerado na
altura por muitos como um país inviável, devido às suas próprias
fragilidades, havendo vozes políticas em Portugal, como é o caso de
Mário Soares, que eram contra a independência do arquipélago,
afirmando que Cabo Verde deveria usufruir de autonomia administrativa
tal como os outros arquipélagos portugueses (Açores e Madeira).
A 5 de julho de 1975, o PAIGC (Partido Africano da Guiné e Cabo
Verde), partido binacional que conduziu a luta de libertação dos dois
países, e que já estava no poder na Guiné-Bissau, tomou conta do poder
em Cabo Verde, passando ambos os países a viver sob o regime de
partido único.

Esta união foi mantida até ao golpe de Estado de 14 de novembro de


1980, em Bissau, liderada pelo general João Bernardo Vieira (Nino), o
que levou à cisão dos dois Estados, dando lugar a um novo partido, o
PAICV, que passou a governar Cabo Verde a partir de 1981.

No entanto, o regime continuou a ser de partido único. Até que, em


1990, o Conselho Nacional do PAICV decidiu proceder à abertura
política, permitindo que outros partidos concorressem às eleições.
Assim, as eleições legislativas, as presidenciais e as autárquicas de 1991,
foram vencidas de forma esmagadora pelo único partido da oposição que
cumpria as exigências legais para concorrer, o MpD (Movimento para a
Democracia).

Alcançada a Independência, os órgãos de soberania foram


compostos por elementos do PAIGC. O Governador do regime
colonial foi substituído pelo Presidente da República, Aristides Maria
Pereira. O Conselho Legislativo foi substituído pela Assembleia
Nacional Popular, liderado por Abílio Duarte e o Conselho do
Governo, pelo Governo, chefiado pelo comandante Pedro Pires que
nessa qualidade escolheria os demais elementos do governo. Apenas os
tribunais (poder judicial) continuaram com a mesma designação.
Portanto, em 1975, de acordo com a Lei sobre a Organização Política do
Estado (LOPE) que foi então adotada, tivemos como órgãos do Estado
os seguintes:

- Presidente da República (Chefe do Estado)


- Assembleia Nacional Popular (poder legislativo)
- Governo (poder executivo)
- Tribunais (poder judicial)
De 1975 até 1990 Cabo Verde foi dirigido pelo regime de um só partido.
O primeiro governo da República de Cabo Verde teve em 1975 a
seguinte composição:
- Primeiro Ministro – (Pedro Verona Pires)
- Ministro dos Negócios Estrangeiros (Abílio Duarte)
- Ministro da Defesa e Segurança Nacional (Silvino da Luz)
- Ministro da Economia (Osvaldo Lopes da Silva)
- Ministro da Educação, Cultura, Juventude e Desportos (Carlos Nunes
Fernandes dos Reis)
- Ministro de Transportes e Comunicações (Herculano Vieira)
- Ministro das Finanças (Amaro Alexandre da Luz)
- Ministro da Saúde e Assuntos Sociais (Manuel Santos Faustino)
- Ministério da Agricultura e Águas – Sérgio Cardoso Centeio
- Ministro da das Obras Públicas – Silvino de Oliveira Lima
- Ministro da Justiça – David Hopffer Almada
- Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros – André Corsino
Tolentino

Em 1991, o país conheceu uma viragem na vida política nacional, tendo


realizado as primeiras eleições multipartidárias e instituindo uma
democracia parlamentar, pondo fim à Primeira República e dando lugar
à Segunda República.

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