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O Capitalismo em Sociedade

Escravista

A Diáspora Africana

A diáspora africana foi a mobilização forçada de mulheres e


homens negros, vindos da áfrica, para as demais regiões do
planeta. Muitos países, como Portugal e Espanha, aderiram à
escravização dos negros africanos, pois era uma prática comercial
muito lucrativa.
Quando falamos de Brasil, temos um contexto muito complexo de
racismo que perdura até os dias atuais. Quando os indígenas que
aqui viviam começaram a resistir à escravidão – eles não estavam
acostumados ao trabalho forçado que os portugueses impunCam a
eles, e, para ajudar em sua fuga, conheciam muito melhor o
terreno brasileiro do que os europeus –, Portugal precisou tirar
mão de obra de outro local: a África.
Os africanos eram trazidos em navios negreiros, amontoados em
pequenos “porões” nos fundos dos navios, sem quaisquer
condições adequadas de vida. Muitos morriam nas viagens, ou,
num ato de misericórdia para consigo mesmos, jogavam-se ao
mar, preferindo a morte ao que os esperava aqui, em nossas terras.
A diáspora africana começou com os próprios negros africanos,
que, persuadidos pelos europeus, começaram a vender seus
prisioneiros de guerra para eles. Os negros eram tirados de suas
famílias e de suas casas; perdiam seus nomes, sua identidade, e
eram tratados como meras máquinas de trabalho forçado. Muitos
escravizados eram, na África, príncipes e princesas, mas foram
subjugados a meros trabalhadores quando aqui chegaram.
Estima-se que cerca de 4/5 milhões de escravos tenCam sido
trazidos para as nossas terras. Entre 1500 e 1900, cerca de quatro
milhões de escravos morreram no mar, enquanto vinCam para as
terras brasileiras.
Os primeiros escravos chegaram ao Brasil em meados do século
XVI, em Pernambuco.
Para evitar a comunicação e a fuga dos escravizados, como
ocorreu com os indígenas, os portugueses fizeram uma mistura de
tribos africanas em nossas terras; como consequência disso,
muitos africanos de tribos rivais foram obrigados a conviver e
trabalhar, assim, evitando sua fuga.
Uma das desculpas que os portugueses – que se diziam religiosos
e servidores de Cristo – utilizavam era que os negros africanos
eram descendentes de Cam, o filho amaldiçoado de Noé. Na
história narrada na bíblia sagrada, Noé havia se embriagado com
um vinho que havia feito e, cansado, deitou-se em sua tenda; e
dormiu. Cam teria chegado algum tempo depois e, vendo que Noé,
seu pai, estava despido, voltou para os seus irmãos e começou a
debochar da situação. Seus dois irmãos, Sem e Jafé, foram, então,
até a tenda de seu pai e, sem olhar diretamente para ele, pegaram
um manto e o cobriram. Quando Noé acordou, descobriu o que
havia acontecido, e então jogou uma maldição em Cam, que, de
acordo com Noé, seria escravo de seus irmãos.
Fato é que os africanos foram trazidos para o Brasil contra a sua
vontade, e vemos as consequências de tal atitude até os dias de
hoje em nosso país.

A visão do europeu de que sua cultura era superior à do


africano era chamada de ETNOCENTRISMO. O etnocentrismo
é uma forma de pensar em que um grupo de indivíduos – no
nosso caso, os reinos europeus, como Portugal – pensam que
sua cultura é superior a todas as outras existentes. Etno vem de
“etnia” e Centrismo vem de “centro”. Extraindo, assim, a
formação da palavra, vemos que, de forma simples,
etnocentrismo significa “uma etnia central” ou “minha etnia,
minha cultura, no centro de todas as coisas”. É por isso que os
europeus acreditavam que a Europa era o centro do mundo – e
não falavam isso em cunho geográfico.

O Comércio Triangular
– Séc. XVII-XIX –

O Comércio Triangular era uma espécie de acordo forjado entre


as colônias inglesas, economias da América Central, África e
Europa. Não envolvia o Brasil, mas essa prática comercial mostra
o quão terrível era a visão do mundo em relação aos africanos:
mercadoria.
Esse era um comércio onde sua origem começava na América do
Norte, com a saída de produtos como gado e peixe – haviam
outros –, indo em direção às Antilhas. Quando os norte-
americanos chegavam à América Central, trocavam esses produtos
por açúcar, rum e melaço. Esses produtos serviam para o consumo
interno, e principalmente na fabricação de rum – que seria trocado
por escravos, no litoral da África. Por fim, esses escravos obtidos
eram levados às Antilhas, e uma outra parte ia para as colônias do
Sul (Estados Unidos).
Essa prática comercial durou por um longo período de tempo,
estendendo-se até países como Espanha e Portugal, e mostra o
desenvolvimento do tráfico negreiro e da exportação negra em
todo o mundo.

A independência e a Escravidão
A Pressão Externa para o fim da Escravatura

Mesmo após a independência, diferentemente de outras colônias,


como as colônias espanholas, o Brasil se manteve unificado.
Dentre muitos outros motivos, como relata o autor do livro Mauá,
o motivo que levou os estados brasileiros – que tinham objetivos
econômicos totalmente distintos – a ficarem unificados foi a
escravidão. Por mais que eles tivessem objetivos econômicos
diferentes, tinham algo em comum: todos possuíam e dependiam
de escravos, para movimentarem sua economia.
A elite brasileira tinha medo de que ocorresse uma revolução
como a do Haiti em nossas terras – no Haiti, os escravos
dominaram o país e libertaram-se da dominação dos brancos
europeus. Com a independência, um número considerável de
revoltas começou a crescer entre o povo, lideradas por negros
escravizados. A unificação brasileira servia para que, caso essas
revoltas saíssem do controle, como ocorreu no Haiti, tropas de
Norte a Sul pudessem intervir nas manifestações, para assim
garantir a soberania das elites brasileiras e a subjugação dos
negros escravizados.
O livro Mauá relata que, em muitos estados brasileiros, metade da
população era feita de escravos. Os brancos ficaram muito
dependentes de seu trabalho; desde fazendeiros até donas de casa
dependiam deles. Não estava nos planos da elite brasileira deixar
que uma revolução acontecesse. Por que perderiam seus
privilégios?
O resto do mundo, porém, estava à frente do Brasil em relação à
escravidão; países como Inglaterra começaram a ver que a
escravidão prejudicava não só a vida daqueles que eram
escravizados, como também as suas economias. Não é como se os
países europeus fossem “bonzinhos” ou algo semelhante, mas eles
começaram a ver que a utilização de escravos estava atrapalhando
sua economia, tornando-a, então, em algo inviável. A Inglaterra,
por exemplo, proibiu seu tráfico de escravos em 1807, por conta
do bloqueio continental de Napoleão, na intenção de barrar a
produção de açúcar, que não poderia ser mais vendido. Escravos
não consomem, pois não ganham salário, e a base do capitalismo é
o consumo, a compra, ou seja, a rotação de capital por meio de
serviços assalariados. Um trabalhador, por mais mísero que seja o
seu salário, pode gastar o seu dinheiro; um escravo, não. Pense,
então, em uma sociedade como a nossa, que possuía, em alguns
estados, quase a metade de sua população formada por escravos.
Era um atraso econômico gigantesco.
O Brasil, porém, seguia com seu retrocesso. Com o passar dos
anos, em meados do século XIX, nosso país começou a sofrer com
diversas barreiras alfandegárias, e uma pressão externa absurda –
principalmente da Inglaterra – para que nós deixássemos o
trabalho escravo. Como consequência dessas barreiras, como a
que o Caribe impunha ao Brasil, por ser produzido por escravos, o
açúcar brasileiro pagava mais caro para entrar nessa região. Isso
ocorria não só com o açúcar, como também com todos os produtos
que o Brasil exportava na época.
Como consequência dessa pressão externa, criou-se, então, em
1850, a lei Eusébio de Queiroz, que passou a proibir o tráfico de
escravos. Essa lei não foi promulgada por conta da bondade da
elite, mas sim por conta da pressão sofrida da Inglaterra – que
também não fazia isso por nenhum motivo além do prejuízo
econômico que a escravidão trazia. Essa lei nem sequer saiu do
papel. Por mais que fosse proibido, o tráfico de escravos seguia “a
todo o vapor”, e muitos desses traficantes de escravos eram da
elite brasileira. Foram esses mesmos traficantes que, junto com
diversos empresários, assinaram o acordo que destituiu o Banco
do Brasil, em 1835.
Os escravos eram vistos como mera mercadoria, mesmo que
fizessem mal à economia. Muitas mulheres escravizadas eram
abusadas por seus senhores, mas ninguém fazia nada a respeito.
Diversas outras leis, como a lei do Ventre Livre, foram criadas
para tentar frear a escravidão, e a fiscalização contra o tráfico
negreiro passou a ser mais rígida com o tempo. Essas leis, por
mais fracas que foram, surtiram algum efeito. O preço dos
escravos se elevou, e seu número decaiu – o que gerava
descontentamento entre os membros da elite.
O Fim da Escravidão e o Capitalismo
Brasileiro Atual

Foi em 1888 que a famosa Lei Áurea foi assinada pela princesa
Isabel – não por ser boa, mas por motivos econômicos. Quanto
mais tempo o Brasil mantinha seus escravos, mais as barreiras
alfandegárias e a pressão externa aumentavam. Essa lei dava
liberdade imediata a todos os escravos que ainda restavam, mas
uma pergunta deve ser feita: para onde eles iriam?
Os negros foram tirados de suas terras à força, e não trouxeram
absolutamente nada para cá, além de seus corpos. Para onde eles
iriam? Não tinham casa, não tinham um lugar para retornar.
Muitos, mesmo sabendo que poderiam ser livres, saíram de suas
fazendas e foram trabalhar como escravos em outras, tudo porque
não tinham para onde ir.
O governo não moveu um dedo sequer para ajudar esses negros
que haviam sido “libertos”. Foram libertos da escravidão forçada,
mas não do preconceito social que continuaram a sofrer. Por mais
que não houvesse nenhuma lei de segregação, os negros foram
obrigados a serem segregados em cortiços, e, posteriormente, a
habitar as encostas dos morros. Trabalhavam às margens da
sociedade. E qual foi o plano do governo? Trazer imigrantes para
cá, para que eles “branqueassem” a nossa sociedade.
O governo brasileiro poderia ter feito um plano de amparo para os
ex-escravos, mas não o fez; em vez disso, trouxe estrangeiros para
as nossas terras, tudo porque preferia pagar pessoas de fora a
pagar aqueles que há mais de três séculos trabalhavam como
animais para os brancos da elite brasileira.
Há teorias de que um dos principais motivos pelo qual a
escravidão foi abolida foi o desejo de branquear, ou seja, de tornar
a população inteiramente branca, que a elite e o governo tinham.
Carregamos, até os dias de hoje, as consequências da segregação
que os negros sofreram lá atrás. Como isso interfere na nossa
economia capitalista hoje em dia? Levando em conta que os
negros, hoje, somam quase a metade de toda a população
brasileira, e que a pobreza é algo passado de geração para geração
– ou seja, os ex-escravos que foram libertos tiveram filhos, que
tiveram filhos e mais filhos, todos em um contexto precário –,
podemos ter certeza de que a nossa economia de hoje e os
problemas econômicos que nós enfrentamos são decorrência de
nosso processo histórico. Não significa que os negros não possam
ascender de classe social – muitos o fizeram –, mas é evidente que
os brancos são mais privilegiados – e bem-vistos socialmente – do
que os negros. Tudo isso é decorrência do nosso processo histórico
que promoveu a escravidão, que gerou uma sociedade
extremamente racista.

A Sociedade Escravocrata em Nova Friburgo

Não diferente das outras regiões brasileiras, houve escravidão em


Nova Friburgo. Em nossa cidade, tínhamos um barão, Antônio
Clemente Pinto, chamado de “O barão de Nova Friburgo”. O
barão possuía um luxuoso palácio, chamado de Palácio de Nova
Friburgo, e, posteriormente, Palácio do Catete, que hoje é nada
mais nada menos que o Museu da República. Esse palácio,
contudo, não ficava aqui, mas sim no Rio de Janeiro.
O barão, assim como quase todos os membros da elite brasileira
da época, tinha uma forte presença de trabalho escravo em suas
fazendas, um dos eixos de sua grande fortuna.
Dentre as inúmeras fazendas portadoras de escravos que o barão
possuía, a freguesia de São João Batista, em Nova Friburgo, o
barão possuía a fazenda de São Lourenço, com 42 escravos, 2000
alqueires de terras e criação de animais. Já a fazenda do Cônego
possuía 135 escravos e 1200 alqueires de terras, onde funcionava
uma olaria, que deu nome ao bairro de Olaria que conhecemos
hoje.
A Chácara do Chalet – atual Country Club –, construída em 1860,
servia como uma casa de campo para a família do barão.
Sabe-se que o barão se dedicou ao tráfico de escravos nas
primeiras décadas do século XIX, quando essa prática era ainda
muito lucrativa.

Alguns lugares de Nova Friburgo que eram utilizados


pelo barão:

Praça Marcilio Dias – Era onde se davam as punições aos


escravos, pois elas precisavam ser públicas e exemplares. Por isso,
acredita-se que nesta praça muitos escravos foram chicoteados,
punidos, pois era uma prática da sociedade escravista daquela
época.

Fundação Dom João VI – É quase certo que ali ficavam os


escravos domésticos que atendiam à família do barão. Sendo o
lugar mais simbólico de memória da escravidão no nosso
município.

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