Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Só por isso a data já merecia ficar registada e ser comemorada como o dia em
que na liberdade pela primeira vez foi exercida a vontade soberana do povo e
através dela se legitimou o exercício do poder político na república. Afinal, em
certo sentido, a democracia define-se como governo da maioria que resulta de
eleições periódicas e pluripartidárias. E foi nesse dia que tudo começou.
O 13 de Janeiro ganhou uma importância ainda mais fulcral para o devir do país
com o resultado eleitoral obtido ao assegurar uma maioria qualificada de mais
de dois terços dos deputados ao partido da mudança. A decisão popular em
mudar o regime político foi claramente expressa. O caminho ficou aberto para a
adoção de uma Constituição liberal e democrática que firmemente e sem
ambiguidades passou a garantir o respeito pela dignidade humana e a reconhecer
a inviolabilidade e inalienabilidade dos direitos fundamentais dos indivíduos.
Retrospetivamente, pode-se ver que sem uma maioria qualificada para adotar
uma nova Constituição, o pluripartidarismo cabo-verdiano provavelmente iria
conhecer anos de instabilidade e não teria adotado os valores civilizacionais que
o catálogo de direitos da Constituição de 1992 consubstanciam. Neste especto
são esclarecedores os anos de instabilidade na Guiné-Bissau e noutros PALOP, e
também na Nicarágua e na Argélia, entre vários outros países que na época
fizeram a sua transição para a democracia, que foram provocados em boa parte
por essa espécie de “hibridismo” constitucional. Por causa dos resultados do 13
de Janeiro Cabo Verde teve sorte nesse especto e essa é uma das razões por que
tem beneficiado de governos estáveis nestes trinta anos e tem conduzido
processos de transferência de poder em momentos de alternância política com
absoluta tranquilidade.