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Material de apoio à alfabetização de crianças disléxicas
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Material de apoio à alfabetização de crianças disléxicas
Emília Ferreiro
Agradecimentos
A conclusão desse TCC faz parte de uma trajetória muito mais longa de 6 anos de graduação,
que incluiu muitos projetos, dedicação e amizades. Por esse motivo, meus agradecimentos vão
para as pessoas que estiveram presentes durante todo esse processo e não apenas na reta final.
Primeiramente agradeço a todos aos professores que se dedicaram realmente em nos
transmitir o seu conhecimento. Agradeço também minhas colegas de classe e companheiras de
projeto Mayara, Rubi e Chris pela amizade e trabalho em grupo, assim como todos os outros
colegas de classe da turma 4.
Muito obrigada à minha família e amigos por terem me dado apoio todo o tempo, seja na
vida acadêmica, profissional ou pessoal. Agradeço imensamente ao Lucas sem o qual esse trabalho
jamais seria realidade, me oferecendo o seu tempo, paciência e força quando eu já não tinha mais.
Por fim, obrigada a professora Clice pela orientação e disponibilidade sempre, e aos
professores componentes da banca Sara, Giorgio, Zibel e Malaguti por se interessarem e doarem
seu tempo para avaliar esse projeto.
Resumo
Este trabalho pretende entender melhor a dislexia e como esse distúrbio influencia no
processo de aprendizado e alfabetização das crianças, investigando suas dificuldades e facilidades,
e como o design pode contribuir realizando o projeto de um novo material de apoio para essas
crianças. Esse material deve complementar o aprendizado em sala de aula e suprir a necessidade
de um material especialmente desenvolvido levando em consideração as características da criança
com dislexia.
Para tanto, foi utilizado como base dessa pesquisa livros e artigos provenientes da psicologia
e pedagogia, de autores como Capovilla, Braun, Davis e Mendonça, que esclareceram pontos a
respeito dos mecanismos da dislexia e como lidar com esse distúrbio. Além disso, entrevistas com
disléxicos e pais de crianças com dislexia contribuíram muito para o entendimento da questão,
complementada por uma pesquisa a respeito dos materiais disponíveis.
Abstract
This paper aims to better understand dyslexia and how the disorder influences the learning
and literacy children process, investigating difficulties and skills, and how design can contribute to
make the project of a new support material for these children. This material should complement
the learning process inside the classroom and meet the need for a material specially developed
taking into account the characteristics of children with dyslexia.
Therefore, it was used as the basis of this research books and articles from psychology and
pedagogy, from authors as Capovilla, Braun, Davis and Mendonça, who clarified points regarding
the mechanisms of dyslexia and how to deal with this disorder. Furthermore, interviews with
dyslexics and parents of children with dyslexia contributed greatly to the understanding of the
issue, complemented by a survey about the materials available.
Sumário
Resumo
Abstract
Introdução
Definição do problema 15
O que é dislexia 15
Dificuldades gerais de aprendizado 17
Importância do estudo 19
Situação das cartilhas 20
Como o design pode contribuir 21
Conclusão 22
Componentes do problema 23
Objetivos 24
Gerais 24
Específicos 24
Recolha de dados 26
Dislexia 26
Identificação do problema nas crianças 26
Como a família lida com a questão 28
Sobre as dificuldades relativas a alfabetização 31
Superação das dificuldades e estratégias de ensino 35
O dom da dislexia 36
Alfabetização 37
Métodos 37
Opções para o ensino de crianças disléxicas 41
Materiais de alfabetização diversos 44
Cartilhas 45
Livros 47
Jogos e atividades 49
Referências de jogos 55
Entrevistas 58
Design Thinking 65
Briefing 74
Público alvo 74
Conceito 74
Insights 75
Resultado final 76
Desenvolvimento da ideia 76
Componentes do jogo e funções 78
Caleidoscópio 78
Tabuleiro 81
Letras de acrílico 81
Funcionamento geral do jogo 81
Ações e habilidades - Mapa conceitual 82
Jogo e a dislexia 83
Nome e Identidade 84
Nomenclatura 84
Tipografia 85
Cores 88
Logotipo 89
Padrão 89
Construção e materiais 91
Modelos preliminares 91
Modelo definitivo 93
Montagem do caleidoscópio 103
Embalagem 104
Imagens do Jogo final 105
Desenhos Técnicos 108
Caleidoscópio 108
Tabuleiro 109
Bibliografia 153
Sites 156
Introdução
A dislexia é um dos principais distúrbios que afetam o aprendizado de crianças de diversas
maneiras, estima-se que afeta aproximadamente 10% da população escolar no Brasil. Dentre os
problemas encontrados por essas crianças o que mais chama a atenção é a dificuldade encontrada por
elas na aquisição da escrita. Para se ter uma ideia do problema, enquanto os estudantes sem problemas
levam um ano, em média, para aprender a ler e escrever, os disléxicos demoram o dobro, sendo que a
maioria se depara com o despreparo dos professores e enfrenta o preconceito dos colegas.
Desse modo, é fundamental que essas crianças encontrem à sua disposição um material didático
adequado ao seu aprendizado e que contribua para minimizar os efeitos causados pela dislexia. No
entanto, a primeira cartilha nacional especialmente desenvolvida para crianças disléxicas foi criada em
junho de 2006 e desde então não foi revisada ou atualizada, prejudicando o aprendizado de milhares
14 de crianças todo ano. Além da cartilha não há outros materiais de apoio especialmente desenvolvido
para essas crianças, sendo que elas precisam se adaptar aos materiais disponíveis no mercado.
Dessa forma, a proposta desse trabalho é a criação de um novo material de apoio para
a alfabetização de crianças com dislexia. Considero que a criação desse material é de extrema
relevância não somente para a sociedade, mas também para o Design ao passo que a criação desse
produto implica em lidar com questões relacionadas à didática de modo criativo, levando em
consideração as necessidades dessas crianças, ainda mais complexas em relação às demais.
Através de uma pesquisa bem feita e aprofundada sobre dislexia, alfabetização e ensino e
agregando meus conhecimentos aprendidos no curso de Design, ao final deste projeto terei criado
um material que possa auxiliar o aprendizado de modo criativo e dinâmico, agregando elementos
inovadores que captem o interesse da criança e facilite seu aprendizado em concordância com as
técnicas pedagógicas levantadas ao longo da pesquisa.
Definição do problema
A definição do problema será baseada em algumas informações importantes a respeito da
dislexia, sobre como essa doença influencia especificamente no aprendizado das crianças e seus
desdobramentos no processo de alfabetização, qual é a importância prática desse projeto, qual é a
situação das cartilhas para crianças com dislexia atualmente e como o design pode contribuir para
a resolução do problema.
O que é dislexia
Até hoje não existe uma definição exata para a dislexia, principalmente pelo fato de ela não
se manifestar exatamente da mesma maneira em diferentes pessoas. Os termos para descrever 15
a dislexia também foram se alterando ao longo dos anos à medida em que novos estudos eram
realizados. Segundo Mendonça (2011) a primeira definição de dislexia a que se tem notícia foi
realizada em 1896 como “cegueira verbal”, diagnosticado em um garoto de 14 anos que, apesar de
instrução adequada, apresentava dificuldades em ler e escrever. Após isso o termo usado passou
a ser “dislexia específica” e “distúrbio específico da leitura” proposto pelo neurologista americano
Dr. Orton em 1925. Ainda foram utilizados os termos “dislexia congênita”, “estrefossimbolia” e
“alexia do desenvolvimento” a medida em que diferentes estudiosos realizavam pesquisas que se
tornavam mais dominantes.
A descrição mais aceita atualmente para a dislexia a define como:
Transtorno específico da aquisição e do desenvolvimento da
aprendizagem da leitura, caracterizado por um rendimento em
leitura inferior ao esperado para a idade e que se caracteriza como
o resultado direto do comprometimento da inteligência geral,
lesões neurológicas, problemas visuais ou auditivos, distúrbios
emocionais ou escolarização inadequada. (MENDONÇA, 2011, p. 3)
Biologicamente falando, o que acontece segundo Frith (1997 apud CAPOVILLA, 2004, p.
52) são “anormalidades cerebrais na região perissilviana do hemisfério esquerdo do cérebro do
indivíduo o que acarretaria dificuldades cognitivas no processamento fonológico”, ou seja, no
processamento de informações baseadas na estrutura fonológica da linguagem oral, levando aos
problemas de leitura e escrita.
Resumindo, a dislexia é um transtorno específico de aprendizagem e comprovadamente
neurobiológico, caracterizado pela dificuldade de decodificação, soletração, fluência e interpretação,
sendo que não tem relação qualquer com o ambiente que a cerca, ou seja, influências externas
como a família e a educação não são a causa do transtorno. O déficit fonológico ainda aparece como
a principal causa da dislexia, envolvendo dificuldades na repetição de palavras, na memorização
16 de informações verbais, nomeação rápida e manipulação de fonemas e por esse motivo o distúrbio
se reflete de maneira tão forte na alfabetização (MENDONÇA, 2011).
De acordo com Capovilla (2004, p. 55) há dois tipos diferentes de dislexia:
• Dislexia adquirida: a perda de habilidade na leitura é devida a uma lesão cerebral
específica e ocorre após o domínio da leitura pelo indivíduo.
• Dislexia do desenvolvimento: não há lesão cerebral evidente e a dificuldade surge no
momento da aquisição da leitura pela criança.
Ainda segundo Mendonça (2011) apesar das características biológicas da dislexia o acompanhamento
mais atento de um disléxico nos faz compreender que uma somente uma teoria apenas não é suficiente para
explicar as manifestações deste distúrbio nos forçando a fazê-lo de maneira heterogênea, assim como cada
pessoa o manifesta de formas diferentes. Quando a dislexia afeta especificamente a leitura é chamada de
agrafia ou disgrafia, sendo que é até possível que a criança consiga ler, mas não escrever (BRAUN; DAVIS, 2004).
Dificuldades gerais de aprendizado
De maneira resumida os tópicos a seguir sugeridos por Alves (2011) nos fornecem
informações sobre as principais dificuldades apresentadas pelas crianças disléxicas:
• Apresentar ideias coerentemente.
• Aprender o alfabeto.
• Expandir seu vocabulário (via oralidade ou leitura).
• Identificar os sons que correspondem às letras.
• Entender questões e seguir instruções (ouvidas ou lidas).
• Memorizar convenções de tempo.
• Lembrar de sequências numéricas. 17
• Dizer as horas.
• Entender e reter detalhes de uma estória.
• Desatenção e distração.
• Aprender rimas e seguir músicas.
• Desorganização e incoordenação motora.
• Distinguir esquerda de direita e letras de números.
• Leitura lenta e compreensão reduzida do material lido.
Falando especificamente da leitura o que ocorre com a criança com dislexia é que ao ver a
palavra e notar que não sabe seu significado a imagina em diferentes posições tridimensionalmente
na tentativa de desvendar a palavra. Usando o processo de eliminação, com informações prévias
que já possui, ele acaba por descobrir por si só. Quando a professora faz a correção dizendo que
ele não deve adivinhar as palavras isso acaba por causar a angústia emocional característica da
dislexia (BRAUN; DAVIS, 2004).
A grande questão relacionada com a dislexia é que ela não irá atingir apenas a criança em
suas atividades acadêmicas, mas também em atividades comuns do dia a dia. Isso faz com ela
tenha problemas não só com as atividades relacionadas com a alfabetização propriamente dita,
mas também com outros aspectos ligados à organização diária da própria vida. Se a criança tem
problemas, por exemplo, em entender as convenções de tempo, terá sérios problemas em organizar
a execução da própria lição de casa e coordenar datas de entrega. Esse também é um fator decisivo
no possível insucesso da criança ao passo que pode ser interpretado como simples preguiça e falta
de interesse da criança em estudar.
Segundo Fernandes e Penna (2008, p. 45):
Dessa forma, fica claro que a orientação a essas crianças deve ser mais atenta e intensa em
relação às crianças normais. Além de ser um problema que afeta milhares de crianças todos os
anos e da alfabetização ser um dos componentes mais importantes da vida escolar, a omissão só
fará com que o problema seja agravado. Por esse motivo a criação de um material que auxilie essas
crianças é tão importante e, mais do que isso, deve haver em cada escola uma postura de igualdade
de direitos no acesso a educação, independente da condição de cada criança.
Situação das cartilhas
O design pode ajudar na solução dessa questão entendendo mais a fundo a dislexia e
como se dá o processo de aprendizado da escrita para posteriormente desenvolver um material
compatível com as necessidades dessas crianças e que esteja de acordo com os estudos realizados
por pedagogos e psicólogos.
Para tanto, primeiramente deverá ser feita a análise de materiais criados anteriormente
buscando os pontos positivos e negativos e levantar possíveis melhorias a serem realizadas. A
análise da didática utilizada também deverá ser feita com o objetivo de selecionar ou mesclar
21
aquelas que, segundo as pesquisas, sejam as mais eficientes no aprendizado. A reunião de materiais
bastante diversificados será feita, considerando não somente as cartilhas e livros destinados a
alfabetização, mas também jogos e outros materiais de suporte que tornam o aprendizado mais
dinâmico e menos entediante.
Em cima das informações colhidas sobre esses materiais serão agregadas novas técnicas,
mais criativas e dinâmicas baseadas no estudo do Design, em referências diversas e na observação
das necessidades da criança. Dessa forma, a principal contribuição do Design neste projeto será
a adequada combinação dos pontos fortes de cada projeto com elementos criativos e inovadores
que estimulem o aprendizado.
Conclusão
A dislexia é um distúrbio que merece atenção não só porque atinge milhares de crianças
em idade escolar e representa um dos principais causadores de atraso na aquisição da escrita
mas também porque a omissão no tratamento pode levar a sérios problemas de integração social
e desenvolvimento pessoal a longo prazo. Isso porque a dislexia atinge o indivíduo de diferentes
formas, atrapalhando o rendimento escolar e também causando dificuldades em expressar ideias
coerentemente, memorizar convenções do tempo, desatenção, distração, desorganização.
Dessa forma, muitas crianças passam anos se esforçando para aprender e se desenvolver da
mesma forma que os demais alunos, mas são taxadas de desinteressadas ou preguiçosas, causando
distúrbios emocionais sérios na criança. Tanto o não conhecimento do problema quanto a falta
de material e treinamento adequado dos educadores ferem o direito de toda criança de acesso a
22 educação e alfabetização.
É necessário, portanto, que se faça um diagnóstico precoce da situação do estudante e que
sejam utilizados métodos educacionais e materiais compatíveis com a situação e características
dessa criança. Em relação a esse problema o Design pode influenciar melhorando a qualidade do
material disponível e o tornando mais dinâmico e atrativo para a criança com dislexia, que possuem
uma dificuldade maior de concentração e memorização dos fonemas e tendência a distração e
desatenção. Além disso, a distribuição e divulgação do material fará com que o conceito de dislexia
seja mais difundido na sociedade, acelerando o diagnóstico e minimizando o preconceito.
Componentes do problema
Resumidamente os principais componentes do problema levantados são:
• Dificuldade na identificação da dislexia por pais e educadores: a maioria desconhece
os sintomas.
• Conceito de dislexia pouco difundido na sociedade: grande parte das pessoas não
sabe do que se trata.
• Preconceito em relação às pessoas com dislexia: pessoas confundem a dislexia com
algum tipo de retardamento mental ou outras doenças.
• Maior dificuldade das crianças com dislexia na aquisição da escrita: a alfabetização
é importante não só para a vida escolar mas para a vida em sociedade, fazendo com que o
analfabeto se torne marginalizado. 23
• Maior dificuldade das crianças com dislexia nas atividades do dia a dia: além
das dificuldades no desenvolvimento da escrita a criança pode manifestar complicações
em atividades básicas do dia a dia como ver as horas e organizar as próprias atividades,
causando transtornos.
• Pouco ou nenhum investimento do governo em materiais adequados para crianças
com dislexia: o último material criado pelo governo em 2004 nunca mais foi atualizado
e distribuído.
• Não existência de materiais gratuitos de apoio à alfabetização de crianças com
dislexia: uma cartilha foi desenvolvida para alfabetizar crianças com dislexia mas seu preço
o torna inacessível para a maioria das famílias.
Objetivos
Gerais
De maneira geral o material a ser criado tem o objetivo de melhorar a qualidade de vida da
criança com dislexia ao passo que aumenta seu nível e velocidade de aprendizagem e a poupa
de transtornos emocionais decorrentes de um atraso na aquisição da leitura. Além disso, tornar
público o conceito de dislexia para que educadores e familiares façam um diagnóstico precoce
e minimizar o preconceito. O segundo objetivo é que seja um material de melhor qualidade em
relação aos já oferecidos no mercado, mantendo-se o que for considerado adequado e incorporando
novos elementos.
24 Outro objetivo importante é que o material criado sirva também para a alfabetização de crianças sem
distúrbio, considerando que a alfabetização é uma fase importante e pode ser assustadora para qualquer
criança e que um material melhor resolvido pode ajudar no desenvolvimento desses alunos também.
Específicos
O primeiro objetivo específico é que o material seja não só mais criativo mas também que estimule
a criatividade da criança, um ponto muito forte dos portadores de dislexia - atraindo o interesse da
criança para a atividade. Outro objetivo importante é fazer com que o aprendizado seja uma tarefa
divertida e não entediante, já que essas crianças têm uma tendência maior à distração. Dessa
forma, abre-se a possibilidade da criação de um material de conteúdo lúdico, que entretenha a
criança ao mesmo tempo que estimule seu aprendizado.
É importante ressaltar que esse material não pretende que as crianças sejam autossuficientes
em seu aprendizado, mas que convide a participação de pais e educadores nas tarefas. Isso não
só porque o auxílio de pessoas alfabetizadas é fundamental no entendimento dos exercícios mas
também para expressar apoio ao aluno no momento de dificuldade e conscientizar a família
sobre as dificuldades e facilidades no aprendizado da criança, minimizando possíveis transtornos
psicológicos. Esse projeto deve utilizar materiais e/ou tecnologias diferentes das atualmente
empregadas, fazendo com que seja único e inovador do ponto de vista do Design. Por fim, é
importante ressaltar que esse material não pretende substituir os já utilizados em sala de aula,
recomendados pelos professores e desenvolvidos por pedagogos. A intenção desse material é
complementar o aprendizado e auxiliar a criança na aderência dos conteúdos aprendidos.
25
Recolha de dados
Dislexia
Identificação do problema nas crianças
O mais comum é que, apesar dos sinais da criança, muitos educadores optem por esperar
até a 2a ou 3a séries para fazer o diagnóstico, já que as dificuldades na escrita são um dos sinais
mais evidentes da dislexia. No entanto, para muitas crianças essa espera pode ser excessiva
já que a identificação precoce as ajudaria a ter um melhor desenvolvimento (MENDONÇA,
2011). Esperar demais para identificar o problema pode fazer com que a criança apresente uma
defasagem muito grande, perda do prazer na leitura, baixo rendimento em outras disciplinas e
26 baixa autoestima.
A fim de fazer esse diagnóstico outros fatores podem ser observados além da escrita, como
sugere Mendonça (2011):
• Análise do histórico familiar: considerando que um irmão ou pai da criança teve alguma
dificuldade na alfabetização, as chances de ela também desenvolver o problema cresce em
40%. Dessa forma, deve-se estar atento aos sinais de histórico familiar.
• Estar atento ao desempenho das crianças no jardim de infância: pesquisas
mostram que a maioria das crianças que posteriormente foram identificadas com dislexia
apresentaram nos primeiros anos escolares desempenho abaixo da média e dificuldades
em narrativas orais, vocabulário e gramática.
• Falantes tardios: apesar de apenas esse fator não ser indício de dislexia, combinado a
outros, pode ser um indicativo importante.
• Distúrbio Específico de Linguagem (DEL): déficit no desenvolvimento da linguagem,
vocabulário e gramática, mas desenvolvimento normal em habilidades cognitivas não
verbais. Pesquisas mostraram que de 18% a 36% das crianças com DEL no jardim de
infância também apresentaram dislexia na fase escolar.
Caso a família ou educadores observem algum ou mais de um desses sintomas na criança
a recomendação é de que procurem a ajuda de um profissional que irá se utilizar de alguns
métodos para detectar ou não a dislexia. Alguns sintomas adicionais foram apontados por Braun
e Davis (2004):
• Visão: sequências de números ou letras alterados ou invertidos, ortografia incorreta ou
inconsistente, pulam-se palavras, letras e números parecem se mover, omissão dos sinais de
pontuação, omissão de palavras e letras.
• Audição: sons difíceis de serem pronunciados, dígrafos como “ch”, “lh”, “nh” mal
pronunciados, parece não escutar ou ouvir o que é dito, sons percebidos mais alto ou mais 27
baixo, mais longe ou mais distante do que a realidade.
• Equilíbrio/ movimento: tonteira e náusea durante a leitura, senso de direção fraco,
incapacidade de ficar sentado quieto, dificuldade na escrita, problema de equilíbrio e
coordenação.
• Tempo: hiperatividade (excessivamente ativo), hipoatividade (pouco ativo), conceitos
matemáticos difíceis de aprender, dificuldade de ser pontual ou dizer as horas, perde a linha
de pensamento ou sequências.
Além desses sintomas alguns estudos têm demonstrado alterações no cérebro de disléxicos,
como polimicrogirias (excesso de pequenos giros no córtex), displasias corticais (desenvolvimento
cerebral anormal), entre outros, No entanto, ainda não é possível estabelecer uma relação direta
e exata entre essas alterações e o distúrbio, fazendo com que não exista um exame laboratorial
capaz de detectar a dislexia (CAPOVILLA, 2004).
Como a família lida com a questão
32
Erros comuns na
leitura e ortografia 33
Figura 3 - (chuva, vila e disse)
Larissa, 11 anos
Segundo Braun e Davis (2004) a primeira providência a ser tomada para ajudar a criança na
aquisição da escrita é libertá-la de orientações confusas e variadas a que foi submetida, fazendo com
que ela possa organizar apenas um sistema. Feito isso, sugerem ainda algumas outras recomendações
como usar uma tipografia legível nos materiais didáticos, observar o modo com que a criança pega o
lápis, orientar a maneira correta de se fazer e utilizar recursos para manter a atenção.
Fernandes e Penna (2008) acreditam que ao integrar métodos e intervenções, o tratamento
tende a ser satisfatório, e o disléxico pode superar a dificuldade de ler e escrever. Dessa forma, ele
se torna mais interessado e gradativamente aumenta seu vocabulário, criando possibilidades para
ler bem, escrever corretamente e ser integrado ao meio escolar, social e familiar.
Algumas estratégias foram sugeridas por Capovilla (2007, p. 61):
35
• Sentar próximo à professora para que a mesma possa ajudá-lo e encorajá-lo a pedir ajuda.
• Revisar cada ponto do estudo.
• Evitar sugerir que a criança é lerda ou pouco inteligente.
• Não pedir que leia em voz alta na classe.
• Habilidades devem ser julgadas mais pelos resultados orais do que pelos escritos.
• Não a forçar a usar o dicionário.
• Evitar passar várias regras na mesma semana. Repetir a mesma regra com palavras
diferentes algumas vezes antes de passar para a próxima.
• Repetir várias vezes sozinha o que a professora fez.
• Apresentação cuidadosa do material: cabeçalhos destacados, letras claras, maior uso de
diagramas e menor uso de palavras escritas.
• Ambiente quieto e sem distrações.
• Letra cursiva mais fácil do que a de forma pois auxilia a velocidade e a memorização da
forma ortográfica da palavra.
• Auxiliar a autoconfiança da criança através de áreas em que é boa (música, esportes,
artes, tecnologia).
O dom da dislexia
Muito foi apresentado até agora a respeito das dificuldades e problemas trazidos com a
dislexia, por outro lado essas pessoas possuem também talentos fantásticos. Podemos citar pessoas
notáveis diagnosticadas com dislexia como Agatha Christi, Albert Einstein, Alexander Graham Bell,
Auguste Rodin, Charles Darwin, Leonardo Da Vinci, Vincent Van Gogh e Walt Disney, segundo o site
36 Alma de Educador. Como é possível observar essas pessoas desenvolvem habilidades excepcionais
no campo das artes e ciências.
Isso acontece pois o pensamento do disléxico é multidimensional, ou seja, o cérebro interpreta
os pensamentos como se fossem estímulos originais. Por exemplo, o cérebro não ouve o que os ouvidos
estão ouvindo, o cérebro ouve o que a pessoa está pensando, como se os ouvidos estivessem ouvindo.
O pensamento multidimensional pode resultar em confusão mental como descrito anteriormente,
mas também permite que a pessoa experimente seus pensamentos como realidade e desenhe os
resultados para qualquer outra pessoa ver, como foi o caso de Leonardo da Vinci que pôde conceber um
submarino trezentos anos antes da invenção de um aparelho que poderia bombear água para fora dele,
demonstrando um processo criativo muito avançado. O raciocínio analítico e lógica também funcionam
de modo diferente, comparativamente, usando imagens em vez de palavras (BRAUN; DAVIS, 2004).
Por todos esses motivos deve haver uma conscientização da sociedade, da família e da
própria criança sobre a dislexia. É necessário entender que a criança que não só poderá superar
as dificuldades encontradas se for devidamente orientada, mas também desenvolver outras
habilidades excepcionais.
Alfabetização
Métodos
A alfabetização não é só fundamental para o sucesso escolar mas também para a vida
em sociedade.
Acredita-se que a leitura e a escrita sejam a porta de entrada
para a inserção na sociedade letrada em que vivemos, pois a
partir da conquista destas habilidades o educando se apropria
dos saberes acumulados pela humanidade, tornando-se um ser
globalmente social (FERNANDES et al, 2009, p. 4).
37
De acordo com o “Projeto Professor-Volante”, a alfabetização é a correspondência entre a
representação oral e escrita. Não é decifrar textos e copiar, e sim “uma nova maneira de se expressar,
de se comunicar com os outros e com o mundo” (FERNANDES et al, 2009, p. 4).
Segundo a Revista Brasileira de Educação (v. 13 n. 38 maio/ago. 2008 257 apud ALBUQUERQUE
et al, 2005) as práticas cotidianas de alfabetização seguem as seguintes subcategorias:
• Leitura de letras, sílabas, palavras ou frases com ou sem auxílio do professor.
• Escrita de letras, sílabas, palavras e frases com e sem auxílio do professor.
• Cópia de letras, sílabas, palavras e frases.
• Contagem de letras em sílabas, de letras e sílabas em palavras e de palavras em frases.
• Partição de palavras em sílabas e letras ou de frases em palavras.
• Identificação de letras e sílabas em palavras.
• Identificação, exploração e produção de rimas e aliterações.
• Comparação de: sílabas e palavras quanto ao número de letras; palavras quanto ao
número de sílabas, palavras quanto à presença de letras iguais/diferentes.
• Formação de palavras a partir de letras ou sílabas dadas.
• Exploração de diferentes tipos de letra, da ordem alfabética, da segmentação das palavras
e das relações som/grafia.
Fernandes et al (2009) considera que há duas maneiras distintas de alfabetizar, que
determinam o que o professor pode atingir. A primeira começa da parte para o todo - são os
métodos sintéticos, a outra vai do todo para as partes - os métodos analíticos. A partir disso é
possível compreender também como funcionam os métodos de alfabetização.
38 • O método sintético faz uma relação entre o oral e o escrito, ou seja, entre o som e a grafia,
por meio do aprendizado de letra por letra, ou sílaba por sílaba e palavra por palavra.
• Já, o método analítico que teve início como oposição teórica ao método sintético, defende
que a leitura é um ato global.
De acordo com método tradicional de alfabetização e com o método descrito pela Revista
Brasileira de Educação, ler é aprender a identificar letras, sílabas, palavras e frases para depois
conseguir compreender textos. Durante a alfabetização, “ler consiste em codificar e decodificar
letras e sons e, nesta perspectiva, alfabetizar é levar o aluno a uma aprendizagem mecânica”,
segundo os defensores do método analítico (FERNANDES et al, 2009, p. 5). Emília Ferreiro (1989
apud FERNANDES et al, 2009, p. 5) considera que “a construção do código linguístico não se dá
através do cumprimento de uma série de tarefas ou pelo conhecimento das letras e das sílabas,
mas pela compreensão do funcionamento desse código”, mostrando que os educadores têm ideias
e hipóteses e, que as confrontam com sua realidade e com as ideias de outras pessoas.
39
Dessa forma, as autoras consideram que é necessário não só saber ler, mas também
fazer uso de uma diversidade de gêneros: livros e jornais impressos, jornais televisivos,
filmes, desenhos animados, videoclipes, games, hipertextos. Segundo elas, “quanto maior o
domínio sobre os signos, sistemas e linguagens que circulam na sociedade em que vivemos,
maiores serão as oportunidades de entender e interagir com o mundo” (ARAUJO; ARAPIRACA,
2010, p. 2).
Neste contexto aparecerem os materiais diversificados para apoiar a educação e
alfabetização. Além dos tradicionais livros e cartilhas, podem ser utilizados jogos e outras
atividades que fazem com que a criança continue a praticar a alfabetização de maneira lúdica.
Cartilhas
As primeiras cartilhas brasileiras foram criadas no final do século XIX por professores
fluminenses e paulistas a partir de suas experiências próprias e utilizando principalmente os
métodos sintéticos (soletração, fônico e de silabação). A partir do século XX elas começaram a
seguir, em sua maioria, o método analítico (palavração e sentenciação). A partir desse momento, a
nova tendência foi de cartilhas usando o método misto (analítico-sintético e vice versa) e também
construtivistas (MORATTI, 2006).
A grande crítica feita às cartilhas é de que “’desensinavam’ o que é texto e o que são as funções
sociais dos gêneros escritos” (MORAIS, 2006, p. 4) já que são extremamente ricas em exercícios, mas
pobres em texto. No caso dos alunos disléxicos a cartilha tem se mostrado eficiente pois esse alunos
precisam exaustivamente repetir os exercícios, treinar a coordenação motora e tem problemas com
textos longos demais. A seguir temos uma seleção de imagens de algumas cartilhas: 45
Segundo Morais (2006), o problema dos livros didáticos é exatamente o contrário das
cartilhas, ou seja, muito texto e poucas atividades práticas:
No caso dos novos livros didáticos de alfabetização, substitutos
das antigas cartilhas, verificamos que, ao lado de um rico
repertório textual e de práticas frequentes de leitura de gêneros
escritos variados, os professores encontram poucas atividades
que levem o aluno a compreender como funciona o sistema
de notação alfabética e a explorar a relações som-grafia. (…)
Constatamos que eram escassas as tarefas em que os alunos
eram chamados a refletir sobre segmentos gráficos e orais das
palavras, a observar as relações entre estes, a analisar rimas e 47
aliterações de palavras semelhantes, a comparar palavras quanto
ao tamanho (quantidade de sílabas e de letras) ou mesmo a
explorar a diversidade de sons que um mesmo grafema assume
em nossa notação escrita (MORAIS, 2006, p. 6).
Dessa forma, o autor (MORAIS, 2006), observou que a tendência dos professores tem sido a
de complementar os livros com as atividades extraídas de cartilhas ou, até mesmo, criadas por eles
próprios, evidenciando a necessidade de um material que faça uma conexão melhor entre teoria e
prática. Algumas imagens exemplificam os livros de alfabetização:
Figura 11 – Livro
48 “Alfabetização inteligente”
Existe uma série de materiais desenvolvidos para alfabetização, a maioria deles criados
pelos próprios professores e confeccionados de forma artesanal. De qualquer maneira é um
material eficiente pois foi criado a partir da necessidade observada por professores na prática
do ensino. Segundo Araujo e Arapiraca (2006) é muito interessante que jogos, kits de materiais
e atividades possam ser criados a partir de textos e estruturados para favorecer a reflexão sobre
o sistema alfabético, reflexão fonológica e estratégias de leitura diversas, podendo ser inclusive
brincadeiras mais livres, jogos simbólicos, de enredo, de faz de conta, educativos, pedagógicos, de
regras, inclusive na fase anterior à alfabetização:
Para os que não sabem ainda ler e escrever com autonomia,
situações didáticas que desafiem a ler sem saber ler e a escrever
sem ainda saber escrever convencionalmente podem constituir 49
situações ricas de reflexão sobre o funcionamento da escrita.
(ARAUJO; ARAPIRACA, 2010, p. 6).
Algumas estratégias para esse tipo de aprendizado seria, por exemplo, procurar o nome
de um personagem ou o título de um conto, usar os conhecimentos que possue sobre letras
e seus valores sonoros, reconhecer partes de uma palavra que já se sabe ler uma que ainda
não sabe (ARAUJO; ARAPIRACA, 2010). Alguns exemplos de atividades e jogos desenvolvidos
pelos professores:
50
Figura 13 – Painel de
Gêneros Textuais
53
Figura 20 - Palavra Secreta (Grow) A partir de 7 anos.
Cada carta contém uma palavra secreta, que deve ser
desvendada. Juntando as sílabas, a criança decifra a
fórmula correta. Por exemplo: Garfo - FO + Girafa - GI =
GAR + RAFA = garrafa.
54
Figura 23 - Top Letras (Estrela) A partir de 7 anos. Os
participantes colocam uma letra em cima da outra, para
formar palavras na vertical e na horizontal. Fala, por
exemplo, vira Vala quando a letra F é substituída por V.
Referências de jogos
56
57
Dados Requisitos
Os pais e responsáveis devem ter uma postura - Material passível de integrar pais e crianças.
de conscientização da situação da criança e
60 oferecer apoio.
Crianças que aos 5 anos apresentam atraso - Material que forneça informações a respeito
na aquisição da linguagem irão apresentar do diagnóstico da dislexia.
importantes anormalidades neuropsicológicas
aos 9 anos.
Há grandes dificuldades por crianças com - Material que auxilie a criança na aquisição da
dislexia em aprender o alfabeto e na aquisição escrita e leitura e na memorização do alfabeto.
da escrita.
A dislexia não irá atingir apenas a criança em - Material que auxilie a aquisição de
suas atividades acadêmicas, mas também em competências ligadas ao dia-a-dia.
atividades comuns do dia-a-dia e aspectos
ligados à organização diária da própria vida.
Crianças enfrentam o despreparo dos - Material que incentive a colaboração e
professores para identificar e lidar com a dislexia integração entre professores, colegas de
e o preconceito dos colegas. classe e crianças com dislexia.
Dificuldades das crianças com dislexia em - Material que auxilie a criança a fazer a
identificar os sons que correspondem às correlação entre som e letras.
letras.
Dificuldades das crianças com dislexia em - Material que auxilie a criança a memorizar
memorizar convenções de tempo, lembrar de números e convenções do tempo. 61
sequências numéricas e dizer as horas.
Maior tendência das crianças com dislexia a - Material dinâmico e que estimule o interesse
desatenção e distração. da criança.
Maior tendência das crianças com dislexia a - Material que estime a organização e
desorganização e incoordenação motora. coordenação motora.
Não existência de materiais gratuitos de apoio a - Material de baixo custo que tenha um alcance
alfabetização de crianças com dislexia. amplo de crianças com dislexia.
Necessidade de libertar a criança com dislexia - Material sem regras complexas e confusas,
de orientações confusas e variadas a que foi de simples entendimento.
62 submetida, fazendo com que ela possa organizar
apenas um sistema.
É importante que a criança participe da construção - Material que estimule a criança a usá-lo em
dos seu plano de estudos, que esteja consciente favor do próprio desenvolvimento.
de que o sucesso depende de seu esforço.
Sincronização de tarefas realizadas por pais, - Material passível de ser utilizado de forma 63
educadores e alunos, para que a criança supere integrada, em casa ou em sala de aula.
suas dificuldades e crie prazer pela leitura.
A criança com dislexia precisa que esteja claro - Material que traga a consciência dos diversos
quais são os usos da escrita, como se organiza usos da escrita à criança.
64 em diversos gêneros e formas.
É muito interessante o uso de jogos, kits de - Material que estimule o lado lúdico do
materiais e atividades que possam ser criados aprendizado.
a partir de textos e estruturados para favorecer
a reflexão sobre o sistema alfabético, reflexão
fonológica e estratégias de leitura diversas
Design Thinking
Com o objetivo de melhor entender os apectos do projeto foi realizada ainda uma sessão de
Design Thinking. O resultado foi o seguinte:
1 – Persona
65
2 – Mapa de empatia
Fala Pensa
66
Faz Sente
3 – Jornada do Bob
Jornada do Bob
MINDSET
MINDSET
AÇÃO
67
AÇÃO
TOUCHPOINTS
TOUCHPOINTS
Lousa
Livros
Colegas Caderno Colegas Colegas
Professora
4 – Mapa de processo
68
5 – Brainstorming de soluções
69
6 – Agrupamento das soluções semelhantes
1
3
70
2
7 – Priorização das soluções
Benefícios
1 3
71
Viabilidade
73
Briefing
Público alvo
O jogo é destinado às crianças diagnosticadas com dislexia, com suspeita do distúrbio ou que
começam a apresentar indícios de dificuldades em se relacionar com o alfabeto. Alternativamente,
crianças que não possuem nenhum problema também podem utilizar o jogo, até mesmo em
conjunto com crianças com dislexia para que haja integração.
O início da alfabetização ocorre normalmente entre os seis e sete de anos de idade. Dessa
forma o jogo pode ser utilizado de duas formas diferentes:
1. Preferencialmente por crianças na fase de pré-alfabetização, ou seja, entre quatro e cinco
anos, já que o objetivo do jogo é proporcionar à criança um primeiro contato com o alfabeto e
74 habituá-la com a forma e posição das letras.
2. Alternativamente, pode ser utilizado por crianças que já iniciaram a alfabetização, mas
ainda não estão totalmente familiarizadas com a forma e posição das letras.
Lembrando que deverá ser utilizado também em conjunto com pais e educadores, que
auxiliarão com as regras e orientarão em caso de alguma dificuldade.
Conceito
As principais fases da alfabetização segundo a Revista Crescer (site Fonoterapia) são as seguintes:
1ª fase (pré-silábica) – A escrita é um amontoado de rabiscos, pois a criança não sabe
que as letras representam os sons da fala. Ao perceber isso, começa a criar hipóteses de escrita,
juntando letras e variando-as de posição.
2ª fase (silábica) – Nessa etapa, ela descobre que as sílabas representam os sons da fala, mas ainda
não sabe a combinação correta das letras. É comum escrever uma letra para cada sílaba pronunciada.
3ª fase (silábico-alfabético) – Ela insere novos caracteres na sua escrita, mas parece que
come letras, porque ainda não faz a palavra completa. O próximo passo é escrever palavras que
podem ser lidas e enfrentar as dificuldades da ortografia, como sons iguais de letras diferentes.
Dessa forma, o jogo será totalmente voltado para a primeira etapa da alfabetização e para
fase anterior a ela. Isso porque, segundo a pesquisa realizada, o sucesso do primeiro momento da
alfabetização é fundamental para que as demais também sejam bem sucedidas. O objetivo é preparar
a criança para as fases seguintes através da consolidação do conceito do alfabeto, apreensão perfeita
de cada letra e como são corretamente escritas. Isso porque as crianças com dislexia apresentam
especial dificuldade em organizar as letras e escrevê-las no posicionamento correto.
Insights
75
Durante a apresentação da primeira etapa desse trabalho, um dos componentes da banca
examinadora, me aconselhou a utilizar em meu jogo um modelo que privilegiasse a criança com
dislexia e sua habilidade em fazer combinações e enxergar a palavra espelhada de maneira
extremamente rápida. A figura 2, já apresentada nesse trabalho, retrata exatamente isso e foi usada
como ponto de partida.
Dessa forma, as particularidades do pensamento da criança com dislexia, que antes a tornavam
mais lenta e confusa do que as demais crianças, poderá ser utilizada a favor dela, em um jogo que
privilegia o pensamento rápido e tridimensional. Além disso, o problema comum de espelhamento
das letras, apresentado por crianças com dislexia, poderia ser utilizado em favor de seu aprendizado.
Desenvolvimento da ideia
Considerando o insight descrito como principal guia, além dos requisitos de projeto, o
desenvolvimento da ideia ocorreu a partir da própria imagem usada como referência:
76
Caleidoscópio
Figura 32 - Caleidoscópio de Dawid Brewster Caleidoscópio é um “objeto óptico formado por um pequeno tubo de cartão ou de metal, com
pequenos fragmentos de vidro colorido ou miçangas, que, através do reflexo da luz exterior em
Figura 35 - Referência 2
Dessa forma, o projeto deveria consistir em um meio termo entre essas duas referências,
fazendo com que a imagem fosse ao mesmo tempo visualmente interessante e para que fosse
possível observar a letra sem interferência do espelhamento, causando confusão à criança. Para
isso foi criado um compartimento individual para que a letra fosse inserida, dentro do triângulo
formado pelos espelhos. Havia duas possibilidades de inserção desse repartimento.
Opção 1 Opção 2
80
A opção 1 é mais simples de ser construída por se apóia no encontro do vértice do triângulo
menor com a aresta do maior, resultando em uma estrutura mais forte. No entanto, nessa opção
a letra teria um tamanho muito menor do que na opção 2. Dessa forma, apesar da estrutura mais
frágil e dificuldade de construção, a letra poderia ter um tamanho maior, o que facilita a visualização
pela criança e o torna mais seguro. Dessa forma, a opção 2 foi a escolhida.
Tabuleiro
Letras de acrílico
As letras de acrílico tem a função de serem utilizadas em conjunto com o caleidoscópio e com o
tabuleiro. Essas peças foram confeccionadas em cores diferentes para vogais, consoantes e números.
As letras transparentes servem para que a criança possa usá-las para formar palavras e um estágio
mais avançado de alfabetização.
81
Funcionamento geral do jogo
Todas as etapas do jogo tem o objetivo de estimular a criança de diferentes formas de modo
a integrá-la com o alfabeto e desenvolver as competências iniciais necessárias à alfabetização. A
seguir estão listadas as etapas pelas quais a criança irá passar durante o jogo:
1. Montagem do caleidoscópio: o objeto será recebido pela criança desmontado, o
que significa que elas, juntamente com os responsáveis, professores ou colegas, montarão o
caleidoscópio. Isso deve ser feito juntamente com uma pessoa alfabetizada, pois, apesar de uma
montagem muito simples, não é suficiente para que uma criança dessa faixa etária o faça sozinha.
Além disso, os detalhes de montagem constarão por escrito no manual de instruções. Dessa forma,
a criança deve seguir as instruções do adulto, mas poderá realizar a montagem sozinha. O resultado
será um brinquedo montado pela criança.
2. Observação da letra: Após a montagem do caleidoscópio o adulto deve inserir a letra ou
número de acrílico no objeto, assim como as contas coloridas que criarão um efeito interessante.
É importante que o adulto fique atento a não deixar que a criança veja a letra que está sendo
colocada. Após isso a criança deve observar a letra e girar o caleidoscópio para conseguir efeitos
diferentes e observar a rotação e espelhamento da letra.
3. Fixação da letra: A criança deve, então, dizer qual o nome da letra ou número observado
e buscá-lo no tabuleiro. Neste momento o adulto deve auxiliar a criança na descoberta, caso ela
sinta dificuldade. Assim que a criança descobrir a letra deve desenhar com a caneta o traçado do
caractere e depois encaixar a letra no tabuleiro.
82
Ações e habilidades - Mapa conceitual
Como foi dito, cada uma das etapas descritas anteriormente tem o objetivo de exercitar
alguma habilidade relacionada com a aquisição de competências necessárias para a leitura e a
escrita, considerando as particularidades e limitações da criança com dislexia. O quadro a seguir
apresenta de maneira geral o mapa conceitual das habilidades trabalhadas:
Colaboração
Descoberta
conjunta
Integração
Cooperação
Jogo e a dislexia
Nome e Identidade
Nomenclatura
Tipografia
86 A configuração das letras e a escolha das tipografias foram baseadas em alguns critérios
muito importantes como:
• Legibilidade.
• Alinhamento com a estratégia da escola.
• Possibilidade de a criança aprender os diversos formatos de cada letra.
Dessa forma, a configuração ficou da seguinte forma:
A Helvetica foi escolhida como a tipografia principal devido ao fato de ter um traçado limpo e
claro, importante para o entendimento da forma. Abaixo das letras principais são colocadas algumas
variações, alinhado com o modelo que é encontrado nas escolas infantis, como nas imagens:
87
Dessa forma, há a conexão entre formas diferentes da mesma letra fazendo com que a
criança associe a forma básica com as suas variantes.
Cores
O padrão de cores escolhido foi baseado em cores vivas e atrativas para as crianças. Além
disso, são cores que, no acrílico, ficam extremamente interessantes. Tanto as letras de acrílico quanto
a identidade e embalagem seguirão esse padrão de cores. A seguir temos a paleta de cores com as
amostras de acrílico:
88
O logotipo criado está baseado na letra básica utilizada em escolas. Assim, o nome do produto
foi escrito de forma simples e acessível às crianças. Além disso, está alinhado com a proposta do
trabalho e é semelhante à escrita cursiva aprendida. A escolha foi por ter todas as letras minúsculas
para conferir ainda mais simplicidade e delicadeza.
prisma
Figura 44 - Logotipo
Padrão
Como padrão para a identidade visual foram utilizadas fotos das letras cortadas em acrílico 89
distribuídas de forma aleatória. O objetivo foi criar um padrão que pudesse ser usado como estampa
para os objetos do jogo, criando um padrão visual entre eles. As imagens utilizadas foram as seguintes:
91
92
Modelo definitivo
98
O caleidoscópio virá com as partes separadas para que a criança o monte. Dessa forma, os
componentes são os seguintes:
• 3 espelhos
• Tubo de papelão
• Tampa circular com triângulos em acrílico
• Tampa superior
As etapas de montagem serão descritas no manual de instruções, juntamente com as regras do jogo.
103
A embalagem criada procurou explorar a simplicidade e deixar que a exposição do jogo seja
predominante. Dessa forma, foi criada uma base em papel triplex. Na parte de trás da caixa há uma breve
descrição do jogo, de modo a informar o foco do brinquedo. Na parte de dentro da caixa foi colocado um
berço para que o produto ficasse acomodado adequadamente e tivesse uma exposição mais coerente.
104
Figuras 77 e 78 - Base da caixa
A tampa da caixa foi produzida em acetato justamente para deixar o brinquedo à mostra, com
destaque apenas para o nome do jogo, recortada em acrílico azul de acordo com o padrão do brinquedo.
105
109
110
111
112
113
O brinquedo foi testado pelo Felipe, Lucas, Guilherme e pelo Gabriel, com idade entre 6 e 8 anos.
É importante destacar que nenhum deles possui qualquer diagnóstico de dislexia, sendo que
foi apenas testado o mecanismo do jogo e a interação com as crianças. O teste foi extremamente
positivo sendo que as crianças se interessaram especialmente pelo formato e cores do acrílico e
julgaram muito interessante o uso do caleidoscópio. Elas se alternaram nas atividades e brincaram
juntos, não executando as atividades necessariamente na ordem proposta. Ao final do teste elas
julgaram o brinquedo divertido e disseram que usariam na fase de alfabetização (a maioria já
estava quase completamente alfabetizada).
Não foram encontradas crianças com dislexia voluntárias para testar o projeto, no entanto,
os resultados que diferenciariam a experiência de uma criança com dislexia em relação a uma sem o
116 distúrbio só poderiam ser sentidos em meses de uso do produto e não apenas em uma única interação.
10. Material exija diferentes movimentos gráficos de modo a estimule trajetos neurais.
17. Material que integre o ensino a áreas de fácil compreensão para crianças com dislexia.
20. Material passível de ser utilizado de forma integrada, em casa ou em sala de aula. 121
21. Material que utilize os princípios do método fônico de alfabetização.
24. Material que traga a consciência dos diversos usos da escrita à criança.
122
Figuras 10 5 - Gráfico de requisitos
Dessa forma, a maioria dos requisitos foi atendida ou parcialmente atendida, o que indica
que o projeto atingiu seus principais objetivos. Alguns dos requisitos não atendidos não eram
prioritários para o projeto, conforme tabela de requisitos anteriormente apresentada.
Conclusão e considerações finais
Foi um grande desafio projetar um jogo para crianças com dislexia. Primeiramente por que
é difícil entender como o raciocínio dessas crianças funciona e em segundo lugar por não conhecer
nenhuma criança com esse distúrbio. Apesar disso, a pesquisa realizada no primeiro semestre foi
extremamente esclarecedora e me deu embasamento para realizar o projeto.
Outro desafio grande foi o de criar um projeto extremamente simples (pois, além da dislexia,
trata-se de crianças bem novas) e ao mesmo tempo interessante. O ponto de partida, imaginando
como utilizar o pensamento espelhado da criança com dislexia como parte do brinquedo, acabou
sendo o foco do brinquedo e o que o torna bastante interessante para as crianças com esse distúrbio.
Considero que a sequência de atividades pelas quais a criança passa, aliada à repetição da
atividade, torna o brinquedo extremamente eficiente na apreensão da leitura e da escrita. Como foi
dito, cada etapa foi pensada de forma que a criança passe por um ciclo completo desde a conexão até a 123
fixação das letras. No entanto, é difícil estimar qual seria a melhora e como seria a influência exata do
brinquedo no processo de alfabetização. Isso porque, para ter essa informação exata, seria necessário
testar o produto com um grupo amostral significativo de crianças com dislexia (por volta de 10 crianças
no mínimo) e fazer a comparação com outro grupo de crianças alfabetizado sem esse recurso. Como
se trata de um projeto de graduação com duração de um ano apenas esse teste não pôde ser realizado.
Outro ponto importante se refere à norma NM300-1:2004, parágrafo 3.24 que determina
que não podem haver cantos vivos no brinquedo. Essa norma não foi completamente atendida pela
impossibilidade de reproduzi-la no modelo final do tabuleiro com os recursos disponíveis. No entanto,
isso seria executado para o produto produzido em larga escada. Ainda assim, o brinquedo está dentro
das diretrizes observadas na fase de pesquisa e, como visto anteriormente, cumpre a grande maioria dos
requisitos de projeto. Pessoalmente também me sinto extremamente feliz com o resultado do projeto,
especialmente por ter podido contribuir com um material para um grupo de pessoas que frequentemente
não recebe a devida atenção. Trabalhar com educação de crianças é extremamente satisfatório visto que
isso influencia diretamente no futuro da sociedade e portanto, tem um impacto bem significativo.
Anexo I – Entrevistas
As entrevistas a seguir foram transcritas exatamente como os entrevistados a responderam,
preservando erros de português e gírias.
Idade:
1. de 15 a 20 anos
2. de 20 a 25 anos
124 3. maior de 25 anos
4. maior de 25 anos
5. de 20 a 25 anos
126 Você se lembra da sua fase de alfabetização? Quais foram as suas principais
dificuldades?
1. Não lembro direito. Mas lembro que tentar entender pq das letras com som paresido
tipo s ss z ç. Ou r rr não fazia sentido, não tinha diferença nem uma, e ainda nao vejo
diferença nem uma kk
2. Foi bem complicada além da dislexia e eu tive 4professoras diferentes.
3. ate no terceiro ano eu não lia nem escrevia
4. Memorizar
5. Escrever corretamente.
Seus pais ou responsáveis te auxiliaram na fase da alfabetização, estudando juntos
em casa, por exemplo?
1. Sim, mãe, mas estudar era meio difícil, saia vooando em meus pensamentos o tempo
todo.
2. Na época sim mas na maioria era sozinha e eu vivia com professora particular .
3. não
4. Não.
5. Sim
Você lembra de ter utilizado algum tipo de material especial para alfabetização como
cartilhas, jogos, caixa de palavras ou outros? Quais deles mais o ajudaram?
1. Utilizei, nao lembro de nem um, mas sei q ussei.
2. Não lembro
3. eu ainda estou criando as minhas estrategias o que me ajuda e os recursos tecnológicos
4. Não.
128 5. Não
Pais e responsáveis
A criança utiliza ou utilizou algum tipo de material especial para alfabetização como
cartilhas, jogos, caixa de palavras ou outros? Quais deles mais ajudaram a criança?
1. Todo material do Método da Boquinha da Dra. Renata Jardini, lousa, vídeos, música,
jogos de carta, dominó, massinha, tudo que estava disponível e que pude imprimir da
internet.
2. Jogos com letras e animais para fazer a diferença
3. Sim com so professors
4. nao
5. nenhum
6. Acho todos importante, mas nunca utilizei.
7. As ferramentas tem que ser diversas, pois a continuidade do uso de uma das estratégias
costuma não existir. Ou seja, em todas as estratégias usada há uma evolućão por um
tempo e depois gera uma reaćão negativa. Usei jogos, livros, kumon, cartilha, atividades
extras. A psicopedagoga hoje trabalha com atividades construidas em conjunto com ele
para conseguir motiva-lo continuamente.
8. A fono utilizava alguns programas no computador, mas não sei informar quais.
9. Ela usou somente junto ao profissional na época .
10. Sim jogos pedagógicos no computador, ou de mão mesmo, muitos desenhos com letras
e palavras já que os desenhos ajuda o a fixar melhor, vídeos, filmes, avaliações montadas 147
especificamente, livrinhos com leituras curtas bem ilustrados e coloridos, além do
óculos com overlay.
11. Sim usamos a professora e eu diversos recursos mas nao sinto que algum a tenha ajudado
12. sim,sempre
13. Só na sala de aula, Os mesmo usados para todos os alunos.
14. Estamos tentando implementar, mas ainda sem resultados efetivos.
15. _______
16. O que ajudou muito foi uma cartilha adotada pela escola municipal Parigout de Souza
em Campo Mourão -pr , Esta cartilha tem um método de ensino mais antigo EX: ba , be ,
bi ,bo , bu , bão aliado a cartilha do estado , e a professora me chamou para conversar , ai
falei para ela , e ela passou a trabalhar diferente com ela foi o que mais ajudou .
17. sim,alfabeto em madeira ,formando palavras
18. As cartilhas tradicionais, aquelas antigas com B, A, BA. E todo material com método
similar.
19. Uma cartilha especial elaborada pela fonoaudiologa
150
Educadores
Cargo
1. Psicopedagogo
Você já se deparou com uma criança com dislexia em sua sala de aula?
1. Sim, crianças com laudo de dislexia, apresentando comorbidade:TDAH(impulsivo),dis
grafia.Apresenta diiculdades acentuadas em toda parte leitora/interpretação e escrita.
Baixa auto estima
Como ocorreu o diagnóstico de dislexia nessa criança?
1. A escola identificou dificuldades acentuadas pela disgrafia, encaminhado ao psicopedagogo
que após a avaliação já orienta o acompanhamento mulltidisciplinar(neuropediatra/
fono/psicólogo), foi na verdade um diagnóstico multidisciplinar.
Você sentiu algum preconceito de outras pessoas ao seu redor em relação à dislexia?
151
Por parte de quem?
1. Sim, em todos os níveis(pais/colegas/professores, etc) rotulavam sempre de desleixado
e preguiçoso
A criança utiliza ou utilizou algum tipo de material especial para alfabetização como
cartilhas, jogos, caixa de palavras ou outros? Quais deles mais ajudaram a criança?
1. leitoril/plantar/óculos de prisma/jogos diversos
152
Você tem alguma dica de como melhorar o aprendizado de outras crianças?
1. material concreto, muito visual.
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Sites