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ESCOLHAS PERIGOSAS, CONSEQUÊNCIAS DESASTROSAS

Texto Bíblico: Rute 1.1-6

Jogos de tabuleiro: quem nunca jogou um destes? Ler o primeiro capítulo


de Rute nos lembra de um que, sem dúvidas, fez parte de nossas vidas,
afinal, quem de nós nunca jogou Damas? Pra quem não jogou, a lógica é
bem simples: várias peças estão no tabuleiro e objetivo é retirar o máximo
possível de peças do adversário. O começo do livro de Rute nos lembra
um jogo de Damas: no início (v. 1), várias peças estão sobre o tabuleiro,
mas já no v. 5, somente uma peça sobrevive no tabuleiro da vida, pois
Noemi fica desamparada de seu esposo e de seus dois filhos.

Há aqui uma escalada de coisas ruins, que acontecem em sequência. Mais


tarde, Noemi irá reconhecer que “grande amargura me tem dado o Todo-
Poderoso” (v. 20). Ela ainda compreende que é o Senhor o responsável
por seu sofrimento, pois Ele havia se manifestado contra ela, lhe causando
aflição (v. 21). Para entendermos o porquê de uma história como esta
permanece registrada na Bíblia, devemos refletir sobre o que esta história
é. Não seria impreciso definirmos este livro como uma história de amor.

Todavia, o amor que é colocado em evidência não é o amor de um homem


por uma mulher, tampouco o amor entre uma nora e uma sogra. O amor
que é assinalado em Rute é o amor fiel de Deus em relação ao Seu povo, o
que é importante notar. O firme amor de Deus para com o povo da aliança
é fiel e duradouro: ele permanece constante, jamais vacila. Ele prometeu
jamais abandonar Seu povo, mesmo nos dias difíceis: “Quando passares
pelas águas, eu serei contigo; quando pelos rios, eles não te submergirão;
quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti”
(Is 43.2).

É de um conforto enorme sabermos que o amor fiel de Deus para com o


Seu povo não se perde em meio ao sofrimento, em meio às tragédias que
acontecem conosco e, especialmente, quando realizamos escolhas
erradas. Afinal, o livro de Rute começa com escolhas perigosas, que
conduzem toda uma família à consequências desastrosas.

A narrativa nos situa cronologicamente: “no tempo em que julgavam os


juízes”. A sociedade hebraica vivia no conhecido ciclo de prosperidade,
apostasia, juízo, arrependimento e libertação. É no tempo dos juízes que
personagens como Gideão, Sansão e Jefté surgem na história, como
libertadores do povo de Deus. É também no tempo dos juízes que os
homens de Gibeá cometem o estupro e o assassinato da mulher de um
levita. Ou seja, em um tempo de caos moral e espiritual, onde “cada um
fazia o que achava mais reto”.

É neste contexto que há fome na terra. Fome que frequentemente era


usada pelo Senhor para provar seu povo. Abrão, assim que chega à terra
da promessa, encontra a fome e, por isso, desce ao Egito. Isaque também
deverá enfrentar este problema, passando a habitar entre os filisteus.
Fome, no contexto histórico do Antigo Testamento, tem um tom de
provação divina, bem como de juízo do Senhor.

A saga de uma família começa, portanto, destes pontos: é tempo de caos


moral, espiritual e econômico. Elimeleque toma a decisão com sua família
de sair da terra de Israel, passando a peregrinar em Moabe, visando fugir
da fome. Esta não uma decisão como mudar daqui para São Paulo em
busca de emprego, mas uma escolha perigosa, que revela falta de fé. O
pacto de Deus com Seu povo envolvia a posse da terra de Canaã:
abandonar aquele lugar, mesmo em um cenário de fome, era um ato de
grande ingratidão. Não era uma escolha sábia, mas uma decisão tomada
pela falta de fé. Somos chamados pelo Senhor para vivermos não por
vista, mas por fé. Quando tomamos decisões a partir da nossa
incredulidade, estamos ignorando a sabedoria de Deus e o pacto que Ele
firmou conosco.

Proposição: Não acontecem coisas boas quando agimos sem fé em Deus.

I. A falta de fé nos leva a caminhos perigosos, v.1,2

No fundo do coração desta família, estava o conceito de que ir até Moabe


iria ser a solução imediata para um grave problema. Esta aí uma nítida
ilustração do fascínio que o pecado consegue provocar em nós. Toda
tentação tem consigo a semente da incredulidade, pois Satanás sempre
quer germinar uma dúvida em nosso coração em relação às promessas de
Deus.

A promessa em relação à terra da aliança dizia que o Senhor iria sustentar


Seu povo, afinal, isto já acontecia desde a peregrinação no deserto. Mas
Satanás busca insistentemente nos fazer duvidar das promessas de Deus e
dos mandamentos de Deus, para assim nos enredar com o pecado. O
pecado jamais é inocente, ele é perigoso, ele é fatal. A maldição é filha da
desobediência. No embrulho do pecado, vem a mensagem de que ele é
inofensivo e que você poderá vencê-lo facilmente, o que não é a
realidade.

Elimeleque seguiu por um caminho perigoso por duvidar da providência


do Senhor. Ele agiu como um ímpio, andou no caminho dos ímpios. E
assim como o caminho dos ímpios perecerá, o crente que anda no
caminho dos ímpios não subsistirá. Há caminho que ao homem parece
direito, mas o seu fim é a morte.

II. A falta de fé nos leva a caminhos fatais, v.3

Quem planta desobediência, colhe a morte. Na perspectiva humana, a


morte chegou precocemente para Elimeleque. Sua ida até Moabe, que ele
julgava ser passageira, foi para sempre. Há idas sem vindas, há saídas sem
retornos. Os nossos planos são diferentes dos planos de Deus.

Aqui, cabe a advertência tanto sobre a falibilidade dos planos humanos,


quanto das nossas licenças para o pecado, que costumamos praticar. “É
somente um flerte totalmente inocente” ou “é apenas uma espiada,
ninguém irá saber”, ou “é tão pouco valor, o dono não irá sentir falta”. Os
olhos do Senhor estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons.

Em nome da fome, para satisfazer nossos apetites, podemos ser levados a


caminhos fatais. São caminhos fatais no sentido de que podem levar
realmente à morte física e também no sentido de que podem nos
provocar problemas irreversíveis. O salário do pecado é a morte; o
pecado, uma vez consumado, gera a morte.

III. A falta de fé nos leva a caminhos embaraçosos, v.4

O casamento com um uma mulher moabita não era expressamente


proibido pela lei de Deus, mas sem dúvidas não era uma decisão sábia.
Elimeleque não colocou esta possibilidade na balança quando resolveu
abandonar a terra da aliança, indo em direção a Moabe. Há decisões que
não são em si mesmo pecado, mas nos causam embaraço. Temos que
correr a carreira que nos está proposta, deixando de lado o pecado e tudo
aquilo que nos embaraça. Decisões sem fé nos levam a caminhos de
atraso e fracasso. Muitas vezes ficamos procurando problemas com nossa
incredulidade e nós tornamos parte de grandes problemas. Há diferenças
entre tentações e provações quanto à origem de ambas, mas há também
as lutas que procuramos com nossas próprias mãos, com nossos pés e
com nossas línguas.

A metáfora que a Bíblia traz sobre a vida cristã é a de uma carreira, ou


seja, de uma corrida. Em nosso caso, corremos não em um tiro curto, mas
em uma maratona. Buscar situações embaraçosas é semelhante a
procurar uma calça jeans molhada e tentar correr com ela. Precisamos nos
livrar daquilo que pode nos embaraçar.

No fim do v. 4, lemos: “ficaram ali quase dez anos”. Certamente que o


interesse daquela família não seria passar todo este tempo em Moabe.
Ficaram dez anos! Na verdade, quem ficou dez anos foi Noemi, pois
Elimeleque e seus filhos morreram e ficaram por lá para sempre.

IV. A falta de fé nos leva a caminhos amargos, v. 5

Morre o esposo e morrem também os filhos de Noemi. O tabuleiro está


vazio, pois as peças já saíram do jogo. Sobrou uma mulher viúva,
desamparada de seus dois filhos e de seu marido. Sua companhia agora
são duas mulheres viúvas. Mais tarde, Noemi irá falar de sua amargura.
Ela diz, ao voltar a Belém : “Saí daqui plena, mas agora estou voltando
vazia”. Deus não nos deixa em paz durante a desobediência. Deus não irá
abençoar nossa falta de compromisso com Ele.

Irmãos, que sejamos gratos ao Senhor por ele nos enviar a amargura
enquanto somos desobedientes. O julgamento mais severo de Deus é
quando Ele nos entrega ao nosso pecado, sem nos admoestar. Servimos a
um Deus bondoso e severo! Andamos na presença de Deus e não nos
damos conta de o quanto estamos plenos. Nos concentramos nas
circunstâncias, até que o Senhor nos mostra que nossa satisfação não
pode estar em coisas terrenas.

O Salmo 73 nos mostra tal realidade. Asafe era um músico do tempo e


esta incomodado com a prosperidade dos ímpios. Ele chega a invejar a
fartura do banquete daqueles que ignoram ao Senhor. Em dado
momento, ele diz: “foi inútil conservar puro o meu coração”. Contudo,
quando ele entra no santuário, ele vê o quão bruto ignorante ele havia
sido, pois o Senhor um dia julgará o ímpio. O ímpio está em um lugar
escorregadio, prestes a cair em destruição. Asafe vê isto e se arrepende de
seu pensamento pecaminoso.

V. Contudo, no Senhor, há um caminho de volta, v.6

E é também o arrependimento que marca a mudança de rumo na vida de


Noemi. Ela ouve as boas novas e, por este motivo, ela retorna para Belém,
a casa do pão. Aqui está a graça do Senhor sobre a vida destas mulheres,
pois apesar de toda amargura, elas não dão as costas para o Senhor. Há
aqui um arrependimento claro em Noemi.

A graça do Senhor nos chama, mesmo enquanto estamos encobertos pela


dúvida, pelo desespero e pela amargura. Deus nos chama para dar um
passo de fé na presença dEle. Não nos afastemos do Senhor: Ele fez a
ferida, mas Ele irá curar a ferida. Ele nos atrai a Si mesmo com laços de
amor.
Entre os vários dialetos africanos há um chamado baouli e nele a palavra
arrependimento possui um significado bastante interessante: “dói tanto
que eu quero desistir disso”. Esta é a realidade do arrependimento que
precisamos praticar.

Precisamos nos arrepender de nossa falta de fé, de nossa falta de zelo, de


nossa falta de amor. Precisamos nos arrepender de nossa dureza de
coração, nos submeter ao Senhor e nos voltarmos para Ele. Ele quer nos
dar um banho de graça, nos mostrar o Seu favor imerecido.

Soli Deo Gloria

Conclusão

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