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CONSIDERAÇÕES SOBRE A FAMÍLIA MULTIESPÉCIE

Maria Helena Costa Carvalho de Araújo Lima1


Resumo
A ideia de que cães e gatos fazem parte da família é um fenômeno recente, que tem se
difundido nas classes médias e altas dos grandes centros urbanos verticalizados, em que
as funções de guarda e controle de pragas, tradicionalmente atribuídas a essas espécies,
perdem importância em relação à função de companhia. No Brasil, a popularização das
raças de cães de pequeno porte impulsionou o retorno dos animais de estimação aos
espaços de convivência íntima das casas, os quais passaram a dividir os mais variados
momentos da rotina familiar. Neste artigo, que apresenta um recorte de minha tese de
doutorado, procuro sistematizar as conceituações propostas por diversos autores a
respeito da família multiespécie, de forma a apontar as características desse tipo de
relação (reconhecimento familiar, consideração moral, apego, convivência íntima e
inclusão em rituais). Em seguida, proponho uma conceituação mais clara para a análise
de fenômenos variados relacionados às famílias multiespécie, considerados de forma
indistinta pelos cientistas sociais que abordam as relações com animais de estimação,
quais sejam: “tratar como gente”, antropomorfizar e humanizar.
Palavras-chave: Relações sociais interespécie. Impulso civilizador. família multiespécie.
Introdução
Dados sobre o aumento do número de animais de estimação no Brasil indicam a
proporção alcançada por esses animais nas zonas de relevância de determinados grupos
sociais. Em 2013, estimativas da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para
Animais de Estimação indicavam a existência de aproximadamente 37,1 milhões de cães
e 21,3 milhões de gatos domiciliados no país. De acordo com esses dados, seríamos a 2ª
maior nação do mundo em população de cães e gatos e 4ª em animais de estimação
(ABINPET, 2013). Divulgada recentemente, a Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE
(2013) apresenta uma estimativa ainda maior. De acordo com os dados, 52,2 milhões de
cães marcam presença em 44,3% dos domicílios brasileiros, além de 22,1 milhões de
gatos, presentes em 17,7% dos lares2. Os números levantados são relevantes para indicar
o quanto essa convivência tem se tornado frequente nos lares brasileiros.
A partir da comparação entre esses dados e os da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios (PNAD), o jornal Folha de São Paulo (2015) e a Revista Veja (2015)
noticiaram o fato de que o número de cães no país (52,2 milhões) superou o número de
crianças com até 14 anos (44,9 milhões). Faz-se necessário analisar a maneira como os
fenômenos da redução da taxa de fecundidade e do aumento do status dos animais de

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Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPE, mestra em sociologia e graduada
em comunicação social. Vice-coordenadora do Programa de Extensão Adote um Vira-Lata (UFPE).
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Esses números desconsideram o número de animais comunitários e em situação de rua, de maneira que o
número real de cães e gatos no Brasil é bastante superior a essas estimativas.

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estimação têm sido combinados. A afirmação de que as crianças estão sendo substituídas
por animais de estimação é apressada e, além de ignorar o estilo de vida relacionado à
decisão de não ter ou adiar a chegada de filhos, não oferece explicação para a elevação
do status dos animais de estimação no ambiente doméstico.
A ideia de que cães e gatos fazem parte da família é um fenômeno recente que, no
Brasil, remete ao final do século XX, momento em que as funções de guarda e controle
de pragas, tradicionalmente atribuídas a essas espécies, perdem importância em relação à
função de companhia. Esse fenômeno foi, em grande medida, resultado da popularização
das raças de cães de pequeno porte no país, a partir do qual, nas classes média e alta, os
animais de estimação passaram a dividir os espaços de convivência íntima e os mais
variados momentos da rotina familiar.
As consequências dessa convivência íntima e a experiência moral dos tutores nela
envolvidos formam o objeto de estudo de minha tese de doutoramento, na qual analiso o
surgimento de duas moralidades distintas a partir desse processo: a “moralidade pet”,
marcada pela lógica de distinção social, e a “moralidade de proteção”, marcada pelas
tentativas de contraposição ao mundo pet, mas, frequentemente, permeada por valores
semelhantes. Neste artigo, realizo um recorte, destacando o elemento em comum entre
essas duas moralidades: o “ethos familista”, a partir do qual os animais de estimação
passam a ser considerados como membros da família. Assim, procuro lançar algumas
luzes sobre o processo de longo prazo pelo qual a convivência íntima com os animais de
estimação foi estabelecida, até o surgimento das famílias multiespécie. Em seguida,
procuro identificar as características desse tipo de relação e proponho uma conceituação
mais clara para a análise de fenômenos variados relacionados às famílias multiespécie,
considerados de forma indistinta pelos cientistas sociais que tratam do assunto.
Entre Thomas e Elias: o processo civilizador e os animais de estimação
A ideia de que cães e gatos são companhias agradáveis e adequadas à convivência
íntima na família pode ser desnaturalizada se observarmos os documentos históricos da
Idade Média ao início da Idade Moderna, nos quais são recorrentes as representações de
cães e gatos como seres bestiais, perigosos, agressivos, ligados à feitiçaria e transmissores
de doenças (BATAILLE, 1993; BENJAMIN, 2008; SARANDY, 2010; THOMAS, 2010).
A convivência humana com cães e gatos e o surgimento da categoria “animal de
estimação” são fruto de um processo histórico, marcado por ambiguidades.
O quadro geral em que localizo essas transformações é o Processo Civilizador,
que constitui um dos aspectos de formação da sociedade moderna ocidental. Essa

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proposta teórica, cunhada por Norbert Elias (1993, 1994, 1997), trata de uma
transformação de longo prazo nas estruturas sociais e nas estruturas de personalidade, que
culminou no desenvolvimento de uma sociedade de indivíduos submetidos a um controle
constante da conduta e das emoções. Esse processo assume formas específicas a partir da
configuração social na qual é posto em andamento, mas tem características em comum,
como a relação entre centralização do poder e contenção da violência, o desenvolvimento
de uma sensibilidade de evitação à violência e a expansão gradativa do círculo dos
protegidos contra agressões.
Estudando um período semelhante (séculos XVI a XVIII), Keith Thomas (2010)
realizou um mapeamento acerca das transformações paulatinas nas relações da população
inglesa com a natureza (plantas, animais e ambientes naturais). Sua obra é referência
fundamental para os estudos sobre relações humanas com animais não humanos, na
medida em que destaca o surgimento da categoria animal de estimação, o estabelecimento
de uma ideologia de dominação do humano sobre a natureza e o posterior questionamento
social de tal concepção, seguido da condenação à violência, considerada desnecessária
contra os animais não humanos.
As transformações analisadas por esses dois autores estão profundamente
entrelaçadas, sendo necessário considerar que o processo civilizador, até agora estudado
com foco nas transformações para os humanos, precisa ser analisado em relação aos
impactos que gerou e ainda tem gerado nas relações com os animais não humanos.
A partir do século XVII, o impulso civilizador impôs padrões de higiene,
organização e distinção. Mais que diferenciar as classes altas das baixas, as regras de
etiqueta distinguiam humanos de animais, atribuindo aos pobres um estigma de
animalidade (ELIAS, 1994; INGOLD, 1995; THOMAS, 2010). Assim, eram visíveis os
esforços para garantir um afastamento em relação “às bestas”, tanto nos modos quanto no
espaço físico, com a abolição das casas ampliadas, em que os animais de fazenda se
aqueciam e dormiam misturados às pessoas.
A categoria “animal de estimação”, explica Thomas (ibidem), surgiu nesse
período Moderno, em que os animais não humanos estavam sendo, paulatinamente,
afastados do convívio cotidiano. Ao mesmo tempo em que “as bestas” eram expulsas para
currais e estábulos, alguns animais “inúteis” foram mantidos por perto, como objetos de
diversão ou afeição, por serem considerados boa companhia no ambiente doméstico ou
no lazer. Foi assim que surgiram os animais de estimação, que Thomas (2010) afirma
serem caracterizados por terem nomes, acesso à casa e não servirem de alimento. Na

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Inglaterra dos séculos XVII e XVIII, fizeram parte dessa categoria pássaros de pequeno
e grande porte (como falcões), macacos, cães, porcos, gatos, cavalos, coelhos, esquilos,
lontras, tartarugas, cordeiros e, embora menos comuns, são encontrados relatos de
camundongos, morcegos e sapos. Aos poucos, os cães e gatos tornaram-se os preferidos
nos países ocidentais, mas as representações sobre essas espécies eram bastante
ambíguas, indo desde a imagem dos cães como seres bestiais devoradores de carniça até
o cão promovido a santo pela população de Lyon no século XIII (THOMAS, 2010). No
caso dos gatos, as disparidades em um mesmo período histórico vão do seu uso como
alvo em brincadeiras de tiro ou em fogueiras (para dar efeito dramático) à escrita de
relatos de admiração à sua limpeza e elegância (SARANDY, 2010; THOMAS, 2010).
Ao longo dos séculos, com o avanço dos patamares de civilidade e dos padrões de
asseio, a convivência com os animais de estimação foi diretamente atingida, surgindo
para a aristocracia inglesa condenações morais, teológicas e médicas sobre o convívio
íntimo com cães e gatos. Do final do século XVII em diante, já não seria aceitável para a
“sociedade educada” apresentar suas casas “com bosta de cachorro e ossos de tutano
enfeitando o salão de entrada”, tampouco manter cães no adro frontal das grandes
mansões ou nos quartos (THOMAS, 2010:147). Nesse período, em que as principais
cidades já concentravam grandes contingentes populacionais, vários problemas de saúde
começaram a surgir pela falta de um sistema para a destinação dos detritos humanos e
animais. A partir do século XVII, o ambiente urbano tornou-se objeto de preocupação da
medicina e, entre os problemas de difícil gestão, que permeavam as cidades, estava a
circulação de animais soltos nas ruas e a superpopulação de cães, que se multiplicavam
rapidamente e passavam a ser vistos como problema em todas as cidades que se
pretendiam civilizadas. O contato com cães e gatos foi associado (muitas vezes sem base
factual) à transmissão de peste bubônica, asma, doenças respiratórias, alergia, raiva,
toxoplasmose e leishmaniose (calazar). A partir do século XVIII, as providências oficiais
de prevenção às zoonoses3 estiveram calcadas na captura e eliminação de animais
errantes, enquanto, dentro das casas, a presença de animais circulando livremente passava
a ser associada à sujeira, perigo e desordem. Assim como aconteceu com os animais de
criação, cães e gatos começaram a ser afastados do convívio doméstico, mantidos longe
dos quartos e cozinhas, restritos às áreas externas, com o surgimento do medo de
contaminação pelo contato e o nojo em relação aos seus corpos.

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Doenças transmitidas dos animais para os humanos e vice-versa, tanto de forma direta (contato físico,
ingestão de carne ou contato com secreções) quanto indireta (ingestão de água ou alimentos contaminados).

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Por outro lado, ao mesmo tempo em que a criação de uma autoimagem do cidadão
civilizado impôs um afastamento em relação à animalidade (nossa e dos outros animais),
esse ideal significou também a introdução de certos refinamentos no trato com os animais
não humanos, com vistas a controlar a expressão de emoções agressivas e proteger a
sensibilidade civilizada. Entre os aspectos mais evidentes dessa tendência estão o controle
da violência, o gradual desaparecimento do prazer que se extraía de assistir ao sofrimento
de animais e o desenvolvimento de uma sensibilidade de evitação em relação ao
sofrimento e à morte de animais não humanos4, que chamo, provisoriamente, de
"sensibilidade moral de empatia". Especialmente forte nas relações com cães e gatos, essa
sensibilidade moral pode ser descrita como a percepção de que certas espécies animais
são sensíveis (sentem emoções como dor, angústia, medo e alegria), o surgimento de
comoção diante da dor e do sofrimento e a sensação de dever moral em relação a eles5.
Partindo da perspectiva elisiana, é possível perceber o surgimento de uma
sensibilidade moral relativa às relações com animais não humanos como uma ampliação
da moralidade estabelecida, aos poucos, para as interações com humanos. Essa
ampliação, é válido ressaltar, não é uma continuidade direta e linear, fruto de um processo
histórico com direção pré-definida, e sim o resultado da conjunção de um impulso
civilizador de contenção à violência e as transformações nas representações sobre os
animais não humanos, a partir da qual a mudança de sensibilidade resultante do processo
civilizador passa a expandir o círculo dos seres considerados dignos de proteção. O
crescimento atual dos movimentos de defesa animal e de proteção de cães e gatos pode
ser compreendido a partir dessa chave explicativa, fornecida por Thomas e Elias. Mais
que as outras espécies, cães e gatos têm destaque nessa tendência, sendo contemplados
pelos movimentos de proteção animal, que surgiram com caráter fortemente assistencial
e, aos poucos, têm assumido uma postura de reivindicação política, pleiteando políticas
públicas e legislação específicas para proteger as espécies de estimação.
À semelhança dos impactos do impulso civilizador nas relações humanas, a
transformação civilizatória das relações com animais não humanos também gera

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É válido remeter a Foucault (2009) para lembrar que os sentimentos negativos diante do sofrimento de
outros humanos também são resultado de um processo histórico, pois, até o século XVIII, os suplícios de
condenados eram um espetáculo apreciado, que reunia uma multidão de espectadores.
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Nesta pesquisa, atenho-me a cães e gatos, mas uma mudança de sensibilidade pode ser percebida nas
relações com outras espécies, como demonstram o crescimento do vegetarianismo/veganismo e a abolição
ou regramento em formatos “mais suaves” de várias práticas culturais que envolvem a inflição de
sofrimento ou morte aos animais não humanos, como rinhas, touradas, vaquejadas, criação e abate na
indústria de alimentos, zoológicos, testes laboratoriais e uso de animais para fins didáticos.

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resultados repressores e contraditórios. Entre esses efeitos está o fato de que o impulso
civilizador expresso no afastamento dos animais da casa também resultou no
desenvolvimento artificial das raças caninas “adequadas” ao convívio civilizado. A partir
do século XIX, os cruzamentos intencionais de cães passaram a ser realizados de maneira
permanente e sistemática, com objetivos variados, que iam desde o aperfeiçoamento de
cães para o trabalho até o desenvolvimento das raças pequenas para fazer companhia às
damas e cavalheiros da alta sociedade. Os exemplares selecionados para a aristocracia
são caracterizados por Thomas (2010) como inúteis porque não possuíam nenhuma
característica proveitosa para o trabalho. De fato, esses cães não tinham força para tração
ou habilidade especial para o pastoreio, como os mastins.
As raças “femininas” eram as que se adequavam à vida reclusa, como a das
mulheres da época, enquanto as raças “masculinas” eram aquelas adequadas a atividades
externas de lazer, realizadas pelos fidalgos, com destaque para a caça. Com a mudança
no tipo de lazer desfrutado pelas classes altas, a caça tornou-se passatempo raro e os
esportes praticados com cães passaram a ser corridas e agility6. As raças de médio e
grande porte valorizadas passaram a ser aquelas adequadas à guarda e as raças de
companhia tornaram-se populares também entre os homens. Diante dessas
transformações, muitas raças inicialmente desenvolvidas para o trabalho foram sendo
selecionadas a partir de características estéticas, que valorizam a mercadoria a partir dos
prêmios em exposições. Assim, faro, agilidade e resistência física foram reduzidos,
enquanto a redução do tamanho, a pelagem e as cores tornaram-se mais importantes.
As ideias de exclusividade e pureza marcaram o processo de desenvolvimento das
raças de cães e gatos, reforçados com a criação do Kennel Club e as exposições de
exemplares “ideais”, ambos a partir do século XIX. As raças desenvolvidas pela cinofilia
tornaram-se indicadores de distinção social e o crescimento atual do mercado pet leva
essa lógica adiante, com o investimento em serviços e produtos “diferenciados”
(OLIVEIRA, 2006). De fato, foram esses cães, produzidos e/ou selecionados
intencionalmente com o objetivo de servirem como mascotes, que se mantiveram no
ambiente íntimo ao longo do processo civilizatório e foi a partir da popularização dessas
raças de pequeno porte que se difundiu no Brasil o tipo de relação hoje caracterizado
como família multiespécie.

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Prova de habilidade em que o cão deve percorrer um circuito de obstáculos, conduzido por um treinador

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Ao caracterizar a convivência com animais de estimação na sociedade
contemporânea, Archer (1997) afirma que, nas sociedades ocidentais modernas, as
pessoas gastam enorme quantidade de afeto, tempo e dinheiro com animais de estimação.
Entre os exemplos citados, estão: oferecer recompensas para quem os encontrar quando
estão perdidos, presenteá-los e pagar para que tenham serviços estéticos e de saúde.
Para além de toda a contextualização necessária para que se entenda o surgimento
dos animais de estimação e de seu status especial junto aos humanos, é preciso analisar,
em suas especificidades, a maneira como, em cada local, os animais de estimação foram
atingidos pelo impulso civilizador do qual tratamos até aqui. Em países como Inglaterra
e França, o desenvolvimento das raças caninas, significadas como nobres e leais, levou
esses cães “especiais” a ocuparem espaços de convívio próximos aos humanos. Além
disso, face à melancolia das relações com a natureza que se desenvolveu nas grandes
cidades europeias, os animais de estimação tornaram-se uma espécie de refúgio, uma
fonte de conforto que extrapolava a função prática de guarda, alerta ou controle de pragas.
Enquanto os europeus passavam pelo processo de criação de raças para companhia, eram
os cães de trabalho que chegavam ao Brasil, com os colonizadores, com o objetivo de
promover segurança, caçar e farejar.
A presença de cães de companhia teve lugar a partir do século XIX, como
exclusividade das moças de famílias abastadas (GODINHO, 2010). Até o final do século
XX, as raças valorizadas no Brasil eram aquelas voltadas para guarda, como doberman,
rotweiller, pastor alemão e fila brasileiro. Tanto no ambiente rural quanto no urbano, o
padrão era manter os animais nas áreas externas da casa e alimentá-los com restos de
refeições (HEYNEMANN, 2010) 7.
Nas cidades, os gatos eram criados com acesso à rua, naturalizando-se as “noitadas”
e o desaparecimento dos animais, sempre entendido como fuga – nunca como morte.
Entre os cães, a distinção era mais clara, pois, enquanto aqueles de raça eram mantidos
no domicílio (confinados durante o dia e soltos durante a noite) os cães sem valor tinham
acesso livre à rua. A partir da década de 1980, começa a ser difundida a raça de pequeno
porte pequinês que, representada como territorialista e agressiva com desconhecidos,
parece ter feito a transição entre os cães de guarda e os cães de companhia.

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Atualmente, o mercado de alimentos para animais de estimação está estabelecido no Brasil e tem se
expandido, com o lançamento de produtos premium, voltados para raças, idades e condições de vida dos
pets, conforme analisado por Lewgoy e Sordi (2011).

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Com a verticalização dos centros urbanos, as funções tradicionais de guarda e
controle de pragas perderam importância e, nos apartamentos, os animais passaram a
preencher, basicamente, a função de companhia para os adultos e diversão para as
crianças (ARCHER, 1997, COHEN, 2002). Enquanto isso, com o crescimento do
mercado pet, muitos domicílios que possuíam animais na área externa passaram a ter
também um mascote, com a função principal ou exclusiva de companhia, com acesso aos
espaços íntimos da casa, nos quais os animais de guarda não eram admitidos. A
popularização das raças apresentadas como “de companhia”, como poodle e pinscher,
deu origem a uma forma distinta de representação dos animais de estimação, que
assumiram o papel de fornecer diversão, beleza, afeto e distinção social8. De acordo com
Godinho (2010), a mudança de preferência dos cães de guarda para os cães de companhia
é bem documentada nos registros das associações de donos de cães. Em 1978, dos 15mil
cães registrados, três das quatro raças mais comuns eram “de guarda”. A contagem
daquele ano aponta 1.342 exemplares de dobermann, 1.325 de cocker spaniel inglês,
1.151 de boxer e 1.029 de fila brasileiro. Em 2009, entre os 98.800 cães, todas as quatro
raças em destaque são usadas como companhia: shi-tzus (14.500), yorkshire terriers
(13.100) e malteses (6.473), seguidos dos golden retrievers (4.683) que, apesar do grande
porte, são usados como companhia, por serem considerados muito dóceis.
A popularização das raças de companhia impulsionou um novo tipo de
convivência partilhada com animais de estimação, ainda que essa mudança não tenha sido
estendida a todos os animais “de casa”. Entendidos como animais “para criar dentro de
casa”, os cães de raças de pequeno porte geraram mudanças fundamentais nas formas de
convivência com animais de estimação. Liberados das barreiras físicas impostas aos
animais de guarda ou àqueles “sem importância”, os mascotes de raça se faziam presentes
em todos os momentos da rotina familiar, desde a rotina de acordar até o momento de
dormir, passando pelas refeições, em que adultos e crianças frequentemente se divertiam
oferecendo pedaços especiais de comida em troca de truques ou “gracinhas”. É possível
perceber uma distinção entre animais “propriedade da família” (cães de guarda e alerta e
gatos para caçar ratos), mantidos exclusivamente ou preferencialmente nas áreas externas,

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Sobre a relação entre a função de companhia e o desenvolvimento artificial das raças, é válido lembrar
que a dedicação ao desenvolvimento das raças caninas foi uma atividade realizada pela aristocracia europeia
desde o século XVII, reforçada pela fundação do Kennel Club e pela realização das exposições caninas, a
partir do século XIX (THOMAS, 2010). Na Inglaterra, a primeira exposição de gatos ocorreu apenas em
1871 – dado que reforça a percepção de que os gatos demoraram mais tempo para serem assumidos de
maneira ampla como animais de companhia.

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e os animais que se tornavam “membros da família”, quase sempre cães de raças de
pequeno porte, que tinham acesso livre aos espaços íntimos das casas civilizadas9.
A partir dos dados de observação em eventos de adoção e comunidades de adoção
no facebook, é possível perceber que os cães de pequeno porte são entendidos como
adequados ao convívio íntimo por três razões: 1 - cabem no colo, o que é valorizado em
animais criados com a função de companhia; 2 - não alcançam lugares altos, como mesa
e balcão da cozinha e muitas vezes são incapazes de subir sozinhos em camas e sofás; 3
– há uma crença de que, por serem pequenos, percorrer o espaço da casa ou apartamento
seria atividade física suficiente, enquanto animais maiores teriam que ser levados para
passear.
No momento em que essa convivência íntima se difundiu, as representações
dominantes sobre cães conferiam-lhes uma imagem de agressividade e risco à saúde,
devido à função de guarda que lhes era atribuída e ao pânico da raiva, que gerava um
medo difuso, especialmente em relação aos cães em situação de rua. A entrada dos cães
de companhia dentro das casas não gerou um abalo significativo nesse estereótipo
negativo, e sim uma dicotomia entre os cães especiais, com características distintivas da
raça, e os cães genéricos. Vale destacar que que o crescimento dos movimentos de
proteção animal foi indiretamente estimulado pelo crescimento do mercado pet, que
popularizou o padrão de convivência íntima com animais de estimação e tem jogado papel
importante na difusão da ideia de que os animais de estimação são membros da família.

A família multiespécie: em busca de uma definição


A família multiespécie implica em mudanças significativas nas relações com os
animais de estimação e, antes de esclarecer as características desse fenômeno, parece-me
relevante ressaltar que o simples uso de termos familistas não é o bastante para
caracterizá-la. O uso de terminologias do discurso familista parece estar ligado a três
fenômenos relacionados, mas, relativamente, independentes: 1 - o aumento do status de
animais de estimação nas famílias urbanas de classes média e alta gera a necessidade de
diferenciar os animais de maior status daqueles que eram/são criados de forma
distanciada; 2 – o crescimento do mercado pet impulsiona a difusão do discurso familista;
3 – no caso dos tutores cujas relações fogem ao padrão tradicional do animal como
propriedade, surgem choques de sensibilidade pelo descompasso entre os valores

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Também nesse sentido, chama atenção a semelhança com a Inglaterra, em que os cães eram proibidos na
corte de Henrique VIII (1409-1547), mas era feita exceção aos spaniels das damas (THOMAS, 2010:159).

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estabelecidos e as experiências recentes de convívio íntimo. Diante das críticas sobre o
fato de estarem “tratando os animais como gente”, há uma necessidade de legitimação
social dos tutores, para a qual o uso de terminologias familistas fornece apoio. A
afirmação “é meu filho” parece a forma mais rápida de responder um questionamento
sobre os “mimos” oferecidos ao animal.
A segunda ressalva sobre a questão é que, mesmo quando há mudanças que
justifiquem o uso do conceito família multiespécie, esse fenômeno não implica uma
abolição das diferenças entre humanos, cães e gatos, tampouco das disparidades
existentes na relação humana com essas espécies. É preciso lembrar que a família não é
uma instituição na qual as relações de poder e dominação estejam ausentes, e sim o espaço
em que as disparidades são permanentemente ativadas. A inclusão dos animais de
estimação na família, portanto, pode ser pensada como similar à família ampliada, que
predominou no Brasil até o final do século XIX, em que tios, primos e agregados residiam
no mesmo domicílio, cada um em condições específicas de status e poder.
Para definir o que seria uma família multiespécie, diferentes critérios são
levantados por autores interessados no tema. Bowen (apud FARACO, 2003), por
exemplo, fala em um sistema familiar emocional, composto não por laços de sangue, e
sim, de afeto. Nesse sistema estariam inclusos membros da família estendida, pessoas
sem grau de parentesco e animais de estimação. Faraco (2003), por sua vez, caracteriza a
família multiespécie como aquela em que são reconhecidos como seus membros os
humanos e os animais de estimação em convivência respeitosa, com os quais são travadas
interações significativas. Outros autores, que não se preocuparam diretamente com esta
definição, oferecem perspectivas importantes. A convivência dentro de casa é ressaltada
como elemento fundamental por Beck e Katcher (apud FARACO, 2003) e também por
Archer (1997), que aponta, ainda, o direcionamento de tempo e recursos financeiros para
os animais. Já Cohen (2002), que parte da afirmação dos tutores de que os animais são
membros da família, analisa os graus de apego dos tutores em relação aos animais e a
humanos de grande proximidade, concluindo que estes ocupam lugares diferentes, mesmo
quando o apego em relação aos animais é elevado. Considerados isoladamente, esses
estudos ressaltam características diversas e nenhuma delas parece suficiente para
descrever o fenômeno. A partir de agora, trato de cada uma dessas características, para
demonstrar a necessidade de considerá-las em conjunto: reconhecimento familiar,
consideração moral, apego, convivência íntima e inclusão em rituais.

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1 - Reconhecimento familiar
O fato de que as pessoas se refiram aos animais como “bebês”, “filhos” ou
referindo-se a um grau de parentesco (“lindinho de tia”, por ex) é a indicação mais
evidente das relações familiares e o uso desses termos tem se tornado cada vez mais
comum e vem sendo apontado por vários autores, tanto no Brasil (BRASIL, 2008;
OLIVEIRA, 2006; FARACO, 2008; OSÓRIO, 2011; SEGATA, 2012) quanto em outros
países (ARCHER, 1997; COHEN, 2002).
Quando considerado isoladamente, no entanto, o uso de termos familistas pode
levar à conclusão equivocada sobre o tipo de relação travada com o animal, pois a difusão
do discurso familista na publicidade e nos meios de comunicação tem levado à ampliação
do uso dessas terminologias, muitas vezes sem a presença de nenhuma das atitudes típicas
em relação a membros da família. Na pesquisa de campo, um exemplo claro disso é uma
tutora cuja filha havia resgatado uma gata com filhotes em situação de maus tratos na
vizinhança. Com o consentimento da vizinha, a moça entrou em sua casa para pegar a
gata Lila e sua ninhada, com o pretexto de castrar a mãe e tratar da saúde dos filhotes. Os
animais estavam vivendo em um vão fechado com menos de 2m², sem entrada de luz,
sujo de fezes e urina e a mãe permanecia amarrada a uma corrente que a impedia de deixar
o local. A entrevistada me contou essa história explicando que estavam tentando
convencer “a mãe de Lila” de que seria melhor que ela as deixasse ficar com a gata, mas
que “a mãe” a queria de volta. Para essa entrevistada, “dona” e “mãe” são sinônimos.
A naturalização e difusão do discurso familista tem sido bastante impulsionada
pela publicidade dos produtos do mercado pet, com afirmações como “seja a melhor mãe
do mundo para o seu filhote”, feita em propaganda recente da ração de gatos wiskas.
A principal ambiguidade do discurso familista no mercado pet é o fato de que faz
parte desse “mundo” a reificação do animal também como mercadoria, produzida de
acordo com as necessidades de cada um (raças para apartamento, raças para crianças,
raças para guarda, raças para pessoas atléticas, raças para quem tem gostos exóticos, raças
para quem é apaixonado pela vida selvagem, etc). Essa ambiguidade gera resultados
surpreendentes, como um anúncio publicado em 2013 no site de vendas OLX:

ola meu filho tem 1 ano ele estar com dernatite pois o clima aqui é quente
pois minha casa e muinto quente o sol e a tarde toda ele nao se da com o
clima resolvi treoca ele pelo um piche pois essa raça do meu é muinto
sencivel presisa de cuidado trabalho nao tenho tempo !!!

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A partir desse anúncio, é possível perceber com clareza que o uso de terminologias
familistas e o provável afeto pelo animal não implicam necessariamente em consideração
moral. Se o filho cão tem dermatite, poderá ser trocado por outro que se adeque melhor à
casa e ao clima, pois a mãe não tem tempo para lidar com seu problema de saúde.
2 - Consideração moral
O termo “convivência respeitosa”, usada por Faraco (2008) para caracterizar a
família multiespécie, tem um sentido vago e, mesmo entre os humanos, seria difícil
estabelecer consenso sobre o que viria a ser isso. Sendo assim, opto por falar em
consideração moral, termo usado por Peter Singer (2008) para indicar a existência da
preocupação com as consequências que determinadas ações podem gerar para outrem. A
consideração moral não suprime hierarquias ou priorização de uns sobre outros, apenas
estabelece o leque dos que importam e em relação aos quais são feitas ponderações éticas.
Um indicador importante de consideração moral numa relação é a capacidade de
fazer sacrifícios em prol do animal, a começar pelo gasto de tempo e dinheiro quando
adoecem. Em sentido contrário, foi observado, na pesquisa de campo, que o adoecimento
do animal e a mudança para um apartamento são os principais motivos de repasse de
animais adultos, frequentes nos grupos de adoção do facebook. Outra justificativa
recorrente para o repasse de animais são as alergias, muitas vezes por indicação de
médicos, antes de qualquer exame que confirme o fato. Algumas pesquisas, no entanto,
indicam que tutores que consideram os animais como membros da família se recusam a
abrir mão dos animais em caso de alergia (COHEN, 2002). Outro indicador interessante
de consideração moral é a mudança de planos para que se ajustem ao bem estar do animal,
como ficar em casa para não deixá-los sozinhos, como indicaram os respondentes de
pesquisa feita pela Associação de Medicina Veterinária dos EUA (idem, ibidem).
A presença de consideração moral, no entanto, também não é o bastante para
identificar uma relação como familiar. Defensores de animais, por exemplo, apresentam
um elevado grau de consideração moral em relação a várias espécies, mas muitos não
criam animais em casa e outros, que criam animais em chácaras ou sítios (pensados como
santuários), podem se esforçar para garantir o bem estar dos animais, sem no entanto
travarem relações de afeto ou estabelecerem convivência rotineira. Em nenhum desses
casos, portanto, seria possível falar em família multiespécie.
3 - Apego
Assim como o uso de termos familistas, a presença de afeto nas relações com
animais de estimação é recorrente, mas não é o bastante para caracterizar a relação como

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familiar. O padrão de criação dos cães de grande porte, por exemplo, frequentemente
envolve afeto e gastos (cuidados veterinários, adestrador, às vezes um profissional para
passear- dogwalker). Ainda assim, esses animais não são admitidos dentro de casas e,
justamente por isso, não participam da rotina familiar, tampouco de rituais familiares,
como viagens, festas e passeios. Por essa razão, o apego a esses animais é menor e os
sacrifícios feitos em seu nome costumam ser reduzidos. Por outro lado, é possível que um
animal criado dentro de casa não seja alvo de afeto – o que geralmente acaba por afastá-
los dos ambientes íntimos. Isso é comum nas famílias que adquirem animais para fazer
companhia às crianças sem que os adultos tenham apego a cães ou gatos. Quando entram
na família dessa forma, esses animais têm grande possibilidade de serem excluídos
quando as crianças crescem, especialmente quando saem de casa. Esses animais podem
permanecer dentro da casa e receber cuidados de higiene e saúde, mas dificilmente serão
tratados com gestos indicativos de afeto, como acariciar, conversar, trazer para perto de
si, cheirar, beijar e deixar-se lamber e mordiscar. Por outro lado, aqueles que são
considerados membros da família recebem esses gestos com frequência. Para além da
interação com eles, também são indicativos de afeto levar consigo fotos do animal e
referir-se a ele como fonte de conforto e parte importante da vida (ARCHER, 1997).
4 - Convivência íntima (rotina familiar)
A diferença entre os animais “membros da família” e os animais “propriedade da
família” pode ser comparada à diferença entre os membros humanos da família e os
empregados que residem no domicílio. Embora dividam boa parte do espaço e estejam
presentes diariamente, animais “propriedade” e empregados não são considerados parte
da família e não são inseridos como participantes na rotina familiar. Além disso, é exigido
que eles se adequem à rotina da família, nunca o contrário. Essa rotina inclui a hora de
recolher-se e de acordar, o horário das refeições e a adequação às atividades de lazer da
família (sendo relocados de um lugar para outro a depender da necessidade). O costume
no Brasil de falar de um empregado antigo afirmando que “é como se fosse da família”
demonstra a maneira como essas relações podem ser caracterizadas por um certo grau de
proximidade, mas não a ponto de se afirmar que sejam, de fato, da família. Embora muitas
vezes as próprias pessoas acreditem tê-las abolido, as fronteiras permanecem na relação.
No caso dos animais de estimação, que chegam a ser referidos como membros efetivos
da família, muitas vezes a situação é semelhante - especialmente com os cães de guarda,
que têm uma fronteira física claramente delimitada. Por contraste, pode-se perceber que
os animais “membros da família” fazem parte não apenas do cenário, mas interagem com

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as pessoas nos diversos ambientes da casa e interferem no planejamento da rotina, muitas
vezes definindo os horários dos tutores, de acordo com sua necessidade de alimentação,
passeio, medicação ou mesmo de companhia. Outro indicador importante da inserção do
animal na convivência íntima é a permissão para dormirem no quarto ou na cama.
5 - Inclusão em rituais
A inclusão em rituais é a participação dos animais de estimação em atividades
realizadas em conjunto pela família (festas, viagens, fotos de família, troca de presentes,
etc). Isso geralmente só ocorre com animais inseridos na convivência íntima e com os
quais se tem apego, por isso a inclusão em rituais talvez seja o indicador mais seguro para
a percepção de uma família multiespécie, pois dificilmente ocorrerá de forma isolada. Se
a presença de cães e gatos nesses momentos simbolicamente é um indicador relevante,
sua ausência por outro lado, não parece um forte indicador de exclusão, pois se faz
necessário observar as diferenças no tipo de atividades realizadas pela família e na
importância conferida pelos tutores a certos rituais. Outro aspecto a considerar, ainda, é
a forte relação entre os rituais com os mascotes e o mercado pet, que alguns tutores podem
evitar por questões ideológicas, da mesma forma como algumas pessoas recusam datas
comemorativas por acreditarem que se trata de estímulo ao consumismo. Efetivamente, o
consumo pet é marcante na inclusão dos animais nos rituais familiares, como é visível no
lançamento de produtos como carrinhos de bebê para animais, panetone, ovo da páscoa,
cerveja e sorvete para cães, serviços de fotografia especializada em animais de estimação,
entre outros. Todos esses produtos impulsionam essas práticas, mas eles não chegariam a
ser lançados se já não houvesse uma sensibilidade receptiva a esse tipo de investimento.
Outro fenômeno de mercado que acompanha essa vontade de incluir os animais em
momentos familiares é o surgimento de hotéis adaptados para receber animais de
estimação e de playgrounds caninos (cachorródromos) em condomínios e edifícios
empresariais (VEJA SP, 2014; GUIA..., 2014).
O surgimento das famílias multiespécie
Feito o panorama das características da família multipesécie, é preciso lembrar
que, como já ocorre entre humanos, há nessas famílias vários arranjos possíveis.
Consideração moral, apego e inclusão em rituais são características perceptíveis por
vários indicadores, e são muitas as combinações possíveis dentro do mesmo fenômeno.
Acredito que, para caracterizar uma relação com cão ou gato como família multiespécie,
seja necessário identificar ao menos três das cinco características aqui apontadas.

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O surgimento dessas características que nos permitem falar em família
multiespécie pode parecer uma contradição com o impulso civilizador que afastou os
animais dos espaços internos das residências, mas, como foi argumentado, os impulsos
civilizadores não têm direção determinada e seus efeitos são sempre ambíguos. Assim, o
refinamento da conduta e o desenvolvimento de uma sensibilidade de condenação à
violência e de valorização da ideia de inocência (inicialmente ligada ao universo infantil)
impulsionaram um aumento do status dos animais de estimação – principalmente dos cães
– adaptados para esse tipo de convívio. Essa sensibilidade voltou-se para os animais de
estimação a partir de sua entrada nos domicílios, a partir da popularização dos animais de
raça criados dentro de casa - inicialmente como companhia para as crianças. A entrada
dos animais nos espaços internos da casa foi impulsionada pela verticalização dos grandes
centros urbanos, que impossibilitou a criação de animais em quintais e jardins.
Paralelamente, com as mudanças nos padrões familiares, os animais de estimação
passaram a assumir a função de companhia também para os adultos.
Embora a presença de cães e gatos seja mais frequente nos domicílios rurais que
nos urbanos (IBGE, 2013), é nestes últimos que ocorre uma transformação no padrão de
convivência, a entrada dos animais na casa e a afirmação por parte dos tutores de que os
animais de estimação são parte da família. A percepção do animal como membro da
família é apontada como fenômeno dos centros urbanos em autores como Archer (1997),
Albert & Bulcrofi (1987), Cohen (2002) e Serpell (1996). Choques de sensibilidade são
causados pelo descompasso entre os valores estabelecidos e as experiências recentes de
convívio íntimo e, nos julgamentos sobre variados aspectos das novas formas de tutoria,
é recorrente a acusação de que esses tutores estão “tratando bicho como gente”. A
expressão indica que as relações familiares com cães e gatos se apresentam para algumas
pessoas como um risco para as fronteiras entre a espécie humana e espécies canina e
felina. Por outro lado, tutores e protetores de animais afirmam, com frequência, que seus
animais de estimação ou que as espécies canina e/ou felina de maneira geral são
equivalentes ou superiores à humana (OSÓRIO, 2011; COHEN, 2002). Nesse esforço por
afirmar uma equivalência, o ethos familista evidencia a dificuldade de incluir outras
espécies na comunidade moral sem ter que afirmá-las “quase humanas”, especialmente
nos critérios usados para nos conceder superioridade: inteligência e sensibilidade.
Conceituando alguns fenômenos
Assim como ocorre com a família multiespécie, parece-me que ainda não houve
um esforço de esclarecimento de conceitos em relação aos vários aspectos nos quais essas

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relações afastam-se do padrão tradicional de significação da animalidade. Assim, procuro
neste tópico distinguir três fenômenos, comumente referidos como sinônimos nas
ciências sociais, em um esforço conceitual para possibilitar observações da família em
sua variedade de dinâmicas. São eles: tratar como gente, antropomorfizar e humanizar.
Tratar como gente - este conceito nativo será definido em seu uso mais comum, que
aponta para a expansão dos cuidados e serviços para os animais (cuidados médicos,
alimentos especiais e serviços). A análise de Segata (2012) em relação à medicalização
dos animais de estimação é muito interessante para pensar esse aspecto. Em outra direção,
a análise de Oliveira (2006) sobre a realização de grandes festas de aniversário para os
animais também se insere nesse aspecto. Também pode ser considerado um aspecto do
“tratar como gente” a oferta de produtos antes restritos aos humanos (roupas, presentes,
sobremesa, cerveja, playground, etc). Seja na saúde, nas festas ou nos produtos, os
elementos desse fenômeno são alvos de críticas centradas na imoralidade que seria ofertar
a um animal algo ao qual muitos humanos não têm acesso.
Antropomorfizar – esse conceito será definido a partir de sua etmologia, para evitar
confusões. Antropomorfizar é conferir forma humana a algo que não é humano. Nas
relações com animais de estimação, portanto, antropomorfizar é conferir uma forma
humana a cães e gatos. É o caso de todas as ações que os aproximam esteticamente da
imagem humana, como vesti-los, colocar acessórios, fazer penteados, pintar unhas, etc.
Como observa Oliveira (2006), a estética projetada sobre os animais de estimação
aproxima-se muito da estética dos produtos para bebês, mas, enquanto ela interpreta esse
fato como indicador de uma equiparação entre bebês e cães, eu acredito que essa
aproximação seja meramente estética. Sendo o consumo uma forma de construir e marcar
identidades sociais, o consumo dos produtos de pet shop proporciona aos tutores de cães
e gatos desfrutarem da estética dos produtos e eventos infantis, mesmo que não tenham
crianças em casa. Diante das pressões sofridas especialmente pelas mulheres para se
adequarem ao “apito biológico” e à ideia de uma “idade de ter filhos”, esse tipo de
consumo muito provavelmente traz um certo conforto.
Os conceitos de “tratar feito gente” e “antropomorfizar” estão relacionados na
vida social pelo fato de que os tutores que “tratam como gente” no sentido de oferecer
festas e produtos pet especiais em geral também os antopomorfizam pela estética. Por
outro lado, muitos tutores que “tratam feito gente” com a oferta de serviços e produtos
voltados para a saúde não têm o costume de antropomorfizá-los.

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Humanizar – Esse conceito indica o ato de aos animais sentimentos, estados mentais e
personalidade e agir com eles de acordo com isso (conversar, pedir desculpas, negociar,
evitar visitas de quem não gostem, etc). Embora o termo seja utilizado com frequência,
os aspectos do que considero humanização são menos recorrentes nos trabalhos, que têm
dado mais ênfase ao fenômeno do mercado pet. Segata se aproxima desse aspecto ao
analisar o diagnóstico da depressão canina, mas não se aprofunda nas consequências de
humanização que tal diagnóstico gera no tipo de interação travada com os animais (como
a culpa que muitos tutores podem sentir diante de tal diagnóstico e as ações decorrentes
desse sentimento). Um leque maior de análise é aberto nos trabalhos de Osório (2011,
2012), que observa o fenômeno da humanização sob o ponto de vista da atribuição de
personalidade e emoções aos gatos, especialmente entre as protetoras de gatos.
Ao considerar que os animais tenham ciúmes, saudades, angústia, traumas,
depressão, surgem preocupações em evitar que sofram e em aumentar sua alegria, com
atos que vão desde o planejamento da rotina diária até o cancelamento de uma viagem de
férias porque o hotel não aceitou a presença de um cão no quarto do casal. A humanização
inclui a projeção de fantasias aos animais, como imaginar que entendem o conteúdo das
falas (não apenas o tom de voz), que se sentem orgulhosos com uma roupa nova, entre
outras. Entretanto, por mais que se deva considerar a influência do mercado pet e das
fantasias projetadas nos animais de estimação, considero excessivamente limitador
reduzir essas relações a esses dois elementos. A mudança nessas relações com cães e
gatos não diz respeito apenas à projeção de características humanas em outras espécies,
mas, fundamentalmente, ao desenvolvimento de práticas a partir das quais pessoas e
animais de estimação mudam, desenvolvem formas apuradas de comunicação e, portanto,
formas qualitativamente distintas de relacionar-se entre si. Certamente essas relações
envolvem a projeção de características fantasiosas aos animais, mas as relações entre
humanos também possuem esses elementos e nem por isso as ciências sociais pretendem
reduzir a fantasias ou simbolismos o que se passa entre os humanos.
Antropomorfização, substituição e equiparação: reflexões cabíveis
Identifico como humanização as reivindicações de proteção e atribuição e direitos
a animais não humanos, visto que as propostas da Ética Animal apontam como critério
de inclusão na comunidade moral a senciência ou a vida psíquica, presentes apenas em
mamíferos, aves e possivelmente peixes (aos quais é dado o benefício da dúvida). Esses
critérios ficam especialmente claros em Singer (2008) e Regan (2006). Afasto-me
portanto, do julgamento feito por Descola (1998), segundo quem os “amigos dos animais”

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defenderiam fundamentalmente os mamíferos por antropocentrismo, ou seja, por
condenarem a violência contra humanos e, inconscientemente, projetar a proteção sobre
os seres percebidos como semelhantes. Esse argumento desconsidera que a proteção aos
humanos é fruto de um processo histórico de aumento gradual da sensibilidade de
condenação à violência e de evitação ao sofrimento e à morte, não havendo nada de
excepcional na ampliação dessa sensibilidade para outros seres entendidos como
sensíveis. O segundo ponto no qual o argumento de Descola se revela antropocêntrico é
o fato de chamar a atribuição de emoções e sensibilidade a animais não humanos de
antropomorfização. Ao fazê-lo, Descola afirma implicitamente que esses animais não
possuem emoções ou sensibilidade e que os “amigos dos animais” os estariam
antropomorfizando ao falarem em dor, sofrimento, afeto ou alegria - um juízo de valor
fortemente cartesiano, de tratar animais como máquinas desprovidas de sensibilidade.
A crítica ao cartesianismo presente no olhar sobre os animais não humanos já foi
detalhadamente trabalhada por autores de diversas disciplinas, da etologia à filosofia,
passando pela neurociência, de forma que, aqui, parece-me suficiente frisar que
mamíferos e aves, por serem dotados de sistema nervoso central, possuem sensibilidade
à dor, capacidade de formar laços afetivos, capacidade de diferenciar indivíduos (e agir
de acordo) e sentem pelo menos emoções básicas, como medo, angústia, raiva, ansiedade
e alegria (DARWIN, 2009; MASSON & McCARTHY, 2001; SEARLE, 2006 e 2010).
Assim, opto por deslocar a definição de Serpell (2003:83) sobre antropomorfização, que
é o equivalente do que estou chamando de humanização: “atribuição de estados mentais
humanos (pensamentos, sentimentos, motivações e crenças) a animais não humanos”.
Reforço a necessidade de considerar separadamente de cada classe de fenômenos
relacionados à família multiespécie, apontados como um só. Na prática, os autores
atribuem o termo antropomorfização a tudo que consideram que seja fantasioso ou
exagerado nas relações com os animais não humanos. Vestir, conversar, atribuir emoções
e preferências, atribuir desejo sexual, gastar com sua saúde, chamar de filho; todos esses
fenômenos de natureza distinta são reunidos sob um mesmo termo, usado de forma
pejorativa. Diante da necessidade de conceituação mais precisa para estudar essas
relações, opto por deslocar a conceituação de Serpell e chamar esse fenômeno de
humanização, pelo fato de que o termo humanizar já no senso comum remete a emoção -
o que possibilita uma associação mais simples com o conceito elisiano de sensibilidade,
utilizado para tratar de transformações nas estruturas de personalidade que, como indica
Brito (2009), são transformações na moralidade. Enquanto isso, o termo

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antropomorfização remete à ideia de aparência e ao antropocentrismo, por isso opto por
utilizá-lo para falar do fenômeno da adequação estética aos padrões e modas humanos.
Ao falar em humanização, refiro-me ao fenômeno social, e não à natureza dos
animais não humanos, pois, mesmo que biologicamente eles possuam várias das
características atribuídas com a humanização, são as relações travadas em cada sociedade
que definem quais serão reconhecidas ou negadas. O crescimento da sensibilidade
humanizante resulta de fatores como as mudanças na convivência, o envolvimento
afetivo, o mercado pet e a inserção em grupos sociais que reforcem essa percepção.
Diante do fenômeno da humanização, uma das afirmações correntes, tanto no
senso comum quanto em alguns estudos, é a de que os animais de estimação e os filhos
estejam se equiparando -duas ideias que me parecem bastante apressadas. De acordo com
Oliveira, (2006), os casamentos pouco duradouros, que caracterizam o momento atual,
somado à inserção feminina no mercado de trabalho, fazem com que os casais optem por
criar animais ao invés de ter filhos, visto que o risco dessa decisão seria menor. A ideia é
bastante interessante para pensar a opção por animais de estimação entre os casais jovens,
mas é preciso lembrar que, de maneira geral, não se trata de uma substituição, pois os
casais brasileiros continuam tendo filhos, como indica a taxa de fecundidade atual de 1,89
filhos por mulher (CANANI & FARACO, 2010:5). Além disso, acompanhando eventos
de adoção de cães e gatos, é perceptível que muitos casais buscam animais justamente
para fazer companhia aos filhos que já têm. Essa idei é reforçada pelos dados de
Edmondson & Galper (apud COHEN, 2002), de quem, em 1998, 79% das famílias norte-
americanas com crianças tinham animais de estimação, enquanto apenas 30% das pessoas
idosas que moravam sozinhas criavam algum animal de estimação. Sem falar em
substituição, ainda assim é possível perceber que, no caso dos solteiros que morem
sozinhos e dos casais sem filhos, os animais de estimação cumprem a função apontada
por Oliveira (2006a) de mediar e formar um “arranjo conjugal”. A sensação de núcleo
familiar pode ser propiciada pelo fato do animal fornecer conforto emocional e reforçar
os laços do casal, na medida em que depende dos dois e frequentemente os reúne em
rituais cotidianos (refeição, brincadeiras, passeio, etc). Nesse ponto, porém, é preciso
fazer outra ressalva. O fato de cães e gatos passarem a ocupar um lugar de investimento
afetivo dos casais não significa que se equiparem aos filhos humanos, como em alguns
momentos sugere Oliveira (2006, 2008). Ao contrário disso, em uma situação de
instabilidade nos relacionamentos, o fato dos casais temerem a decisão de ter filhos, mas
decidirem ter um animal de estimação aponta justamente para a facilidade com que os

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laços com esses animais, ao contrário dos filhos, podem ser desfeitos em caso de divórcio,
pois as disputas pela guarda de animais de estimação ainda são raras. Mais ainda, o fato
de que tantos tutores se desfaçam de seus animais durante a gravidez evidencia claramente
o quanto o status dos animais de estimação numa família é instável.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo, parti de uma combinação de Elias (1993, 1994, 1997) e Thomas
(2010) para demonstrar como o impulso civilizador estimulou um afastamento físico e
comportamental em relação aos animais não humanos, assumidos como contraponto
negativo da humanidade. Simultaneamente, porém, algumas espécies foram assumidas
como animais de estimação e submetidas a um processo artificial de “melhoramento”
para a convivência íntima nas casas. Paralelamente, o crescente controle das emoções,
estabelecido pelo processo civilizador, levou ao desenvolvimento de uma sensibilidade
de condenação à morte e ao sofrimento, ampliado ao longo de séculos, até alcançar os
animais não humanos. Somando essa chave explicativa às condições específicas de vida
nos centros urbanos verticalizados, torna-se possível compreender a elevação do status
dos animais de estimação, que passaram de propriedade humana a membros das famílias.
O papel da popularização das raças de pequeno porte, nesse processo, foi decisivo,
ao difundir um padrão de convivência íntima e a ideia de que animais de estimação são
membros da família. A definição das características da família multiespécie
(reconhecimento familiar, consideração moral, apego, convivência íntima e inclusão em
rituais) é importante para possibilitar análises mais claras dos discursos circulantes e dos
estudos realizados a respeito do tema. Também nesse sentido, ressalto a importância de
distinguir os fenômenos tratar como gente, antropomorfizar e humanizar.
As relações familiares entre cães, gatos e humanos tem sido apontada na literatura
acadêmica como responsável pela diluição ou tensionamento de fronteiras entre
humanidade a animalidade. Embora essa perspectiva seja interessante para analisar tais
relações, é preciso lembrar que os mascotes não ameaçam a definição de humanidade,
apenas criam uma aproximação, sem abalar o sistema geral de classificação da
animalidade, que há séculos já reservou um lugar privilegiado para os animais de
estimação. Além disso, cabe refletir sobre o fato de que essas espécies passam a ser
valorizadas justamente à medida em que se tornam parecidas com os humanos, com suas
roupas, perfumes e penteados. É cabível refletir, então, se o que está ocorrendo é uma
flexibilização de fronteiras ou se, pelo contrário, esse fenômeno seria melhor
caracterizado como uma tentativa violenta de apagar a animalidade dos cães e gatos.

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