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INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA

NORMA PENAL
DOUTRINA: ROGÉRIO GRECO

CAPÍTULO 5 – INTERPRETAÇÃO E
INTEGRAÇÃO DA LEI PENAL
1. INTRODUÇÃO
- Interpretar é tentar buscar o efetivo alcance da norma. É
procurar descobrir aquilo que ela tem a nos dizer com a maior
precisão possível.
2. ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO
- Numa primeira abordagem, poderíamos subdivir a interpretação
em:
 objetiva (voluntas legis): busca-se descobrir a suposta
vontade da lei;
 subjetiva (voluntas legislatoris): procura-se alcançar a
vontade do legislador.
Essa distinção tem sido severamente criticada pela doutrina,
principalmente no que diz respeito à voluntas legislatoris.
- A interpretação, no que diz respeito ao sujeito que a realiza,
pode ser:
 Autêntica: a interpretação realizada pelo próprio texto legal.
Em determinadas situações, a lei, com a finalidade de
espancar quaisquer dúvidas quanto a este ou aquele tema,
resolve, ela mesma, no seu corpo, fazer a sua interpretação.
a) Contextual: é a interpretação realizada no mesmo momento
em que é editado o diploma legal que se procura interpretar.
b) Posterior: é a interpretação realizada pela lei, depois da
edição de um diploma legal anterior.
 Doutrinária: é aquela realizada pelos estudiosos do direito,
os quais, comentando sobre a lei que se pretende interpretar,
emitem opiniões pessoais. É a chamada communis opinio
doctorum. A interpretação doutrinária, embora seja
extremamente importante para que as falhas e os acertos da
lei possam ser apontados, não é de obediência obrigatória.
 Judicial: é a realizada pelos aplicadores do direito, ou seja,
pelos juízes de primeiro grau e magistrados que compõem
os tribunais. Por intermédio de suas decisões, os
magistrados tornam a lei viva, aplicando-a na solução dos
casos concretos que lhes são apresentados. No conceito de
interpretação judicial (ou jurisprudencial) podemos incluir
as chamadas súmulas, que traduzem as decisões reiteradas
de um Tribunal sobre determinado assunto.
a) Vinculante: De acordo com a determinação constitucional,
somente o Supremo Tribunal Federal é que poderá editar
súmulas com efeito vinculante.
b) Não vinculante: Os demais tribunais e, inclusive, o próprio
Supremo Tribunal Federal ainda poderão continuar a
produzir suas súmulas que, embora traduzam as conclusões
a respeito de suas reiteradas decisões sobre o mesmo fato,
não vinculam os juízes de primeiro grau, os
desembargadores ou mesmo os ministros que, atuando
naquela Corte Superior de Justiça, a ela não se filiam. São as
chamadas súmulas persuasivas ou suasórias.
- Quanto aos meios empregados, a interpretação pode ser:
 literal(ou gramatical): é aquela em que o exegeta se
preocupa, simplesmente, em saber o real e efetivo
significado das palavras.
 teleológica: o intérprete busca alcançar a finalidade da lei,
aquilo a que ela se destina a regular.
 sistêmica (ou sistemática): o exegeta analisa o dispositivo
legal no sistema no qual ele está contido, e não de forma
isolada.
 histórica: o intérprete volta ao passado, ao tempo em que foi
editado o diploma que se quer interpretar, buscando os
fundamentos de sua criação, o momento pelo qual
atravessava a sociedade etc., com vista a entender o motivo
pelo qual houve a necessidade de modificação do
ordenamento jurídico, facilitando, ainda, a interpretação de
expressões contidas na lei.
 progressiva: também conhecida como adaptativa ou
evolutiva, o intérprete traduz os tipos penais de acordo com
a realidade atual, ou seja, elementos dos tipos penais que,
anteriormente, tinham determinada interpretação, agora, no
momento atual, passam a ser entendidos de forma diferente,
por conta da evolução ou progressão pela qual passa
naturalmente a sociedade.
- Quanto aos resultados, a interpretação pode ser:
 declaratória: o intérprete não amplia nem restringe o seu
alcance, mas apenas declara a vontade da lei.
 restritiva: é aquela em que o intérprete diminui, restringe o
alcance da lei, uma vez que esta, à primeira vista, disse mais
do que efetivamente pretendia dizer (lex plus dixit quam
voluit), buscando, dessa forma, apreender o seu verdadeiro
sentido.
 extensiva: o intérprete necessita alargar seu alcance, haja
vista ter aquele dito menos do que efetivamente pretendia
(lex minus dixit quam voluit).
3. INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA
- O legislador, em determinadas passagens do Código Penal, por
não poder prever todas as situações que poderiam ocorrer na vida
em sociedade e que seriam similares àquelas por ele já elencadas,
permitiu, expressamente, a utilização de um recurso, que também
amplia o alcance da norma penal, conhecido como interpretação
analógica.
- Interpretação analógica quer dizer que a uma fórmula casuística,
que servirá de norte ao exegeta, segue-se uma fórmula genérica.
- Inicialmente, o Código Penal, atendendo ao princípio da
legalidade, detalha todas as situações que quer regular e,
posteriormente, permite que tudo aquilo que a elas seja
semelhante possa também ser abrangido pelo mesmo artigo.
Analisando a lei penal. Se, para abranger situações não elencadas
expressamente no tipo penal, o legislador nos fornecer uma
fórmula casuística, seguindo-se a ela uma fórmula genérica,
faremos, aqui, uma interpretação analógica.
Caso contrário, se, embora o legislador não nos tenha fornecido
um padrão a ser seguido, tivermos de ampliar o alcance do tipo
penal para alcançarmos hipóteses não previstas expressamente,
mas queridas por ele, estaremos diante de uma interpretação
extensiva em sentido estrito.
6. ANALOGIA
- Podemos subdividir a analogia em:
 analogia legal, ou legis: aquela que é levada a efeito
quando o intérprete aplica a um caso omisso uma
determinada lei que regula caso semelhante.
 analogia jurídica, ou juris: é aquela em que os
princípios gerais do direito são utilizados a fim de que
seja suprida uma lacuna existente.
- É terminantemente proibido, em virtude do princípio da
legalidade, o recurso à analogia quando esta for utilizada de modo
a prejudicar o agente, seja ampliando o rol de circunstâncias
agravantes, seja ampliando o conteúdo dos tipos penais
incriminadores, a fim de abranger hipóteses não previstas
expressamente pelo legislador etc.
Partindo desse raciocínio, podemos fazer a seguinte distinção
entre:
 analogia in bonam partem;
 analogia in malam partem.

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