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1 Introdução
2 Escolarização da Literatura
CAPARELLI, 2008, p. 67
É bem semelhate com a poesia “jacaflor ao sol da lagoa”- “na lagoa do barro/
passa jacaré e não passa carro”. As palavras “jacaré” formam os raios do sol. Percebe-se
que Caparelli se detém ao animal em muitas poesias. Segundo Oliveira (2014, p. 12) “O
trabalho de leitura poética com a criança deve envolver o lúdico envolvendo-a com o jogo
de palavras do texto poético em toda sua essência não perdendo o seu papel como texto
possibilitando o jogo com o uso da língua”. Sendo assim, no momento em que a criança
entrar em contato com poesias serão possibilitadas a construção de inúmeras imagens
poéticas, como nos poemas -“Minha bicicleta’’-, (...) com minha bici dou nó no vento e
até fantasma eu espavento/ com minha bici jogo o anzol no horizonte e pesco o sol com
minha bici... ‘’; Em ” E para elefante’’- “no Quênia, ao anoitecer, elefantes sem trabalho
jogam damas e xadrez e pulam de galho em galho agarrados em bambolês’’; já em ‘’Ruas
desertas’’- ‘’certas horas da noite/ as ruas desertas correm no asfalto/ e dobram-se nas
esquinas/ mortas de rir’’; por último, em “Um elefante” –“um elefante faz um ninho,
canta, tem asas e um biquinho, um elefante que voar/ adora, livre no ar, um elefante é -
ou passarinho?’’ (CAPARELLI, 1991, p. 35). Portanto, Sérgio Caparelli utiliza o lúdico
e o cômico criando imagens ditas absurdas, mas que no auge da sua construção de poemas
para o público infantil e juvenil isso se permite.
Ainda nos lembremos do ritmo contido nas poesias em Tigres no quintal de
Caparelli. Essa musicalidade de suas poesias é dada pela escolha certa das palavras e nos
seus trocadilhos possibilitados pela construção sonora. A sonoridade é audível pela leitura
em voz alta, que a criança pode também fazer uma associação à música. Apreciemos
algumas poesias que proporcionariam essa relação: “Boto de bota” - “um boto/ num bote/
cheinho/ de sorte/ um boto/de barba/ comendo/ biscoito/ (p. 18) (...), “afinando o violino”
- toco lino/ viofino/ toco vio/ fonolino/ vio toco/ linofino/ toco fino/ violino.(p. 61);
“Musiquinha chata” ‘’mané/ dó ré/ foi lá/ mi fá/ catá/ sol lá/ jiló/ si dó/ mané/ mané (p.
37); e “noite” - a noite/ foi embora/ lá do fundo do quintal,/ esqueceu/ a lua cheia/
pendurada no varal”. (p. 72) . Enfim, a musicalidade é presente em todo o livro.
Os recursos utilizados na construção dos seus poemas também nos chamam a
atenção. Além das figuras de linguagem, de estilo, de som, há os jogos de palavras e a
desconstrução dessas. A exemplificar: no poema “as ondas” - (...) Toda onda tem uma
sina/ De vagar e devagar/ Morrer sempre no mar? (p. 11) – Podemos perceber esse jogo
quando na sua escolha paradigmática, o autor escolheu palavras que possuem as mesmas
letras, porém, adquirem sentidos diferentes no poema pela justaposição da palavra. “O é
para ovo” também ocorre isso – Sem pente, é serpente!. Já o jogo de palavras no poema
“quem” dá-se pelas perguntas – quem estourou meu balão?/ escondeu meu pião? Quem/
soltou o curió do alçapão?/ os patinhos, na água,/ abanam as asas/ e perguntam quem;/ -
Quem? Quem? Quem? – Ou seja, o barulho que os patos fazem e a indagação de quem
pegou as coisas do menino.
De acordo com Oliveira (2014, p. 17):
Poesia de Capparelli aponta para uma trajetória singular, e contribui
distintamente para o caminho poético do autor em direção à infância.
As características que delineiam as práticas de criação poética que
invocam diversos recursos; através de abordagens que se alternam e se
recorrem, compõem-se poemas únicos, guiados pelo apelo ao pequeno
leitor.
Em o poema “O Capitão Sem Fim” a leitura deste parece sem fim quando as
rimas ocorrem com as palavras iniciadas e finais, bem como a história contada no poema.
Isto é, as palavras servem como palavras-chave – No mar tem um navio,/ No navio, um
capitão./ O capitão desce a escada,/ a escada vai ao porão;/ no porão tem uma caia,
caixinha e não caixão (...) (p. 17). Outro recurso é a supressão da palavra bici – no poema-
Minha bicicleta – Com minha bici/ Eu roubo a lua/ com minha bici dou nó no vento (p.
19) (...), utilizando assim uma linguagem coloquial para o fácil entendimento.
No poema “Piano alemão” há características de um anúncio de venda – Vendo
urgente/ muito urgente/ um piano/ Alemão./ Ele toca/ fino ou grosso/ em qualquer/
ocasião (p. 95) (...). Ainda nesse livro, podemos encontrar a personificação presente no
poema “ruas desertas”- certas horas da noite/ as ruas desertas correm no asfalto/ e
dobram-se nas esquinas/ mortas de rir./ Curvam-se nas curvas/ e brincam de esconde-
esconde/ com a lua. Já em “São Paulo” – ele constrói o poema fazendo referências a
lugares considerados relevantes na história e no cotidiano de São Paulo. Ele cita o
Butantã, Praça da Sé, São Miguel, Tatuapé, Tucuruvi etc. (...) À Consolação, em um táxi/
Verde-limão em que podemos compreender com a linha verde do metrô.
Na poesia “Agenda cheia” descreve o dia de uma criança desde às uma da tarde
e os afazeres. – À uma da tarde na casa da Luma/ às duas da tarde por becos e ruas/ às
três na aula de inglês/ às quatro ajudo mamãe com os pratos/ às cinco, banho batom e um
brinco (...) às dez, na cama e amanhã outra vez.
5 Conclusão
Dessa forma, esse artigo nos proporcionou saber um pouco mais sobre a
Literatura Infantojuvenil, bem como sobre a poesia de Sérgio Capparelli, a sua
composição estética, o estilo, o campo semântico e estrutural, as figuras de linguagem,
entre outros aspectos. Caparelli “[...] legitima o papel do maravilhoso no texto infantil,
desfazendo a tese de que o elemento mágico age de modo a alienar a criança da realidade
(...). Respeitando a imaginação e a formação de um espírito crítico no pequeno leitor”.
(MAGALHÃES, 1987, p 152).
Como Magalhães ressalta, Sérgio Caparelli é inovador, é único, consegue juntar
o lúdico, o inanimado, aliar a fantasia e a realidade numa poesia, e assim, instigar a criança
a perceber questões do seu mundo de modo descontraído e envolvente.
Em suma, acreditamos que é de grande relevância trabalhar a poesia na sala de
aula, pois aguça o senso crítico, imaginativo e criativo, bem como facilita no processo de
escrita. Em vista disso, é imprescindível a forma de abordagem que o professor deve levar
para a sala de aula, haja vista que a importância de se trabalhar a Literatura em sala de
aula, bem como sua função social.
Sendo assim, com a obra analisada Tigres no quintal de Sérgio Caparelli e os
estudos pesquisados a respeito da poesia do autor, nos permitiram conhecer e saber a
importância que todos esses elementos, como imagem, ilustração, musicalidade,
linguagem, interferem na construção da poesia, como também na formação da identidade
e das vivências do leitor.
Referências
CANDIDO, Antonio. A literatura e a formação do homem. In: Textos de intervenção:
seleção, apresentações e notas de Vinícius Dantas. São Paulo: Duas cidades; Ed. 34, 2002.
392 p. (Coleção Espírito Crítico).
______. O direito à literatura. In: vários escritos. 4 ed. São Paulo// Rio de Janeiro: Duas
Cidades/ Ouro sobre Azul, 2004, p. 169-191.
PASSOS, Daniela Oliveira. Juntos nessa: ensino fundamental, anos iniciais: Língua
Portuguesa, 1º/3° ano. 1 ed São Paulo: Leya, 2014.
PINHEIRO, Helder. Poesia na sala de aula. 3 ed. Campina Grande: Bagagem, 2007.
RESENDE, Vânia Maria. Literatura infantil e juvenil São Paulo: Saraiva, 1997.
SILVA, Vaneide Lima. Brincando com as palavras. Graphos. João Pessoa, p 177-190.
v. VI., n. 1., dez 2003.