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RESENHA

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB


CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA
JOSÉ ROBSON DA SILVA SANTOS

EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E DEMOCRACIA

SKOVSMOSE, Ole. Educação Matemática e Democracia. in: Ole SKOVSMOSE.


Educação Matemática Crítica: A questão da Democracia. Papirus Editora, 2017, p.
37 - 63.

Ole Skovsmose é doutor em educação matemática pela “royal danish school of


educational studies” (1982) e atualmente é docente no Programa de Pós-Graduação
em Educação Matemática na Universidade Estadual Paulista (UNESP), em Rio Claro.
É pesquisador, e atualmente coordena o programa de pesquisa em Educação
Matemática Crítica. Já publicou mais de 20 livros, inclusive Educação crítica:
incerteza, matemática, responsabilidade, e possui vários artigos publicados em
revistas na área de educação matemática.
A obra analisada é o segundo capítulo do livro Educação Matemática Crítica:
A questão da Democracia. O livro é composto de 5 capítulos, sendo estes, artigos já
publicados anteriormente nas décadas de 1980 e 1990 em inglês e traduzidos por
Abgail Lins e Jussara L. Araújo, informações contidas no livro. O capítulo é
direcionado a discussão sobre a influência da educação matemática na construção de
uma competência democrática, sendo necessário uma certa “bagagem” a respeito do
tema para conseguir acompanhar o desenvolvimento das ideias do autor.
No texto o autor separa o conceito de democracia em institucional e não-
institucional, referindo-se a uma sociedade altamente tecnológica, e deixa claro que
trabalhará com este, e diz que deve haver uma relação entre a educação matemática
e a democracia, e que a educação matemática pode ser uma ferramenta na
democratização, dirigindo-se ao aspecto não-institucional da palavra. Baseando-se
em (Mellin-Olsen 1987) de que, “a educação matemática tem uma dimensão Política”,
trás os argumentos de democratização, o social e o pedagógico, como base para
mostrar essa relação. Abordando o argumento social de democratização como uma
prática de educação pragmática, defende que, conseguir despertar uma atitude crítica
a respeito da aplicação da matemática não é tão simples com se aponta o argumento
social.
O argumento pedagógico mostra que atualmente esperam-se resultados
contrários às práticas adotadas, que para se obter resultados no processo de
democratização, incentivos a essa prática devem ser levados ao sistema escolar,
como a participação do aluno no planejamento curricular. Este argumento também
abre portas para a sustentação da tese da familiaridade, que junto da etnomatemática
exprime a existência de uma relação de proximidade entre a linguagem ordinária e a
linguagem matemática. Para o autor, uma estratégia de maior aproximação destas
com o ensino da matemática, que na tese da familiaridade seria por meio dos materiais
de ensino-aprendizagem, chamados aqui de materiais abertos, poderia prevenir as
barreiras psicológicas entre os diferentes modos de pensamento numérico e
geométrico, segundo D’Ambrosio (1985) criadas ao “enfrentar uma abordagem
completamente nova e formal para os mesmos fatos e necessidades”. O autor
também trás as dificuldades do argumento pedagógico de democratização, que seria
“desenvolver situações abertas no processo educacional”, e também, do argumento
social, que seria “desenvolver situações libertadoras” e questiona a criação de
materiais que atendam aos dois requisitos, e para isto, trás a questão epistemológica
para ter uma visão mais profunda dos argumentos social e pedagógico.
Entrando um pouco mais na questão da competência democrática, o autor foge
da interpretação clássica de que a competência para governar é de natureza especial
e adota a interpretação materialista de democracia, que diz que, “a competência
democrática tem de ser desenvolvida”, e vê, como em uma das variante desta visão,
os problemas educacionais como um dos problemas para seu desenvolvimento, assim
como defende a necessidade de uma certa quantidade de conhecimento tecnológico
específico para a formação de uma competência democrática.
Epistemologicamente, o autor discorda do conceito clássico de conhecimento
(científico), defendendo em sua tese uma distinção não-clássica entre o conhecimento
tecnológico e o conhecimento reflexivo, por considerar problemático na epistemologia
concretizar uma junção, conhecimento tecnológico, educação matemática e
competência democrática. Continuando com a tese de que o conhecimento reflexivo
é de certa forma a base para a competência democrática, defende que a construção
do conhecimento democrático não é de total competência do conhecimento
tecnológico, e também deixando claro que possuem naturezas diferentes, mas que
deve haver uma relação entre ambos, assim como com o próprio conhecimento
matemático, descrevendo esses conhecimentos e relacionando-os com um processo
de modelagem matemática.
Por fim, traz sua observação a respeito da necessidade de novos aspectos do
processo educacional, assim como a importância de se trazer materiais abertos e
“libertadores” para a educação matemática. Não traz explicações do uso na prática ou
exemplos mais detalhados de suas construções teóricas e isso dificulta na hora do
leitor construir mentalmente as ideias. Não é uma leitura fácil, mas é possível e de
certa forma inspiradora.

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