termo fêmea pejorativo (diferente de macho), desprezível ao olhar masculino que
procura uma justificativa biológica deste sentimento.
beauvoir aponta que hegel estava correto em dizer que os homens definem os sexos e suas relações a partir da atividade sexual; mas ela não é inerente a natureza do ser humano. teoria aristotélica: com o advento do patriarcado, o macho concede à mulher um papel na procriação, mas apenas o de carregá-lo em seu ventre, pois ele é o único criado (engraçado por que não assume o filho então? rs) a mulher fornece matéria passiva, enquanto o masculino dá a vida. a teoria aristotélica perpetuou-se desde a idade média até a moderna (mesmo pós descobrimento dos ovários, espermatozóide, óvulo como o principio ativo) fisiólogos e biólogos empregam uma linguagem dinalista pois dão sentido aos fenômenos vitais; mas somente examinando a realidade concreta podemos entender a significação de "fêmea". nenhum dos dois gametas são privilegiado no encontro, ambos sacrificam de sua individualidade. > determinando que: (1) não exista passividade da fêmea, uma vez que o núcleo do óvulo é um principío vital assim como o espermatozóide (2) a permanência da espécie não é assegurada pela fêmea, já que o embrião perpetua tanto o germe da mãe quanto do pai. ou seja: o papel dos dois gametas é idêntico: criam juntos um ser vivo em que ambos se perdem. e assim há pessoas que submetem a mulher ao lar a partir do óvulo e definem o homem a partir do espermatozóide (filosofia da natureza). para beauvoir, no óvulo ainda não se acha a própria noção de fêmea; é preciso estudar o organismo feminino em sua totalidade. intersexualidade nas variadas espécies se dá por um desequilíbrio hormonal, onde nenhuma das potencialidades sexuais se desenvolveu de forma nitída. organismos masculinos e femininos são simétricos (ambos tem as glândulas produtoras de gametas), dois tipos complementes, é preciso vê-los de um ponto de vista funcional para apreender singularidade. não dá pra definir a fêmea apenas pelo seu modelo reprodutor, nem o macho. não existe "luta dos sexos" entre os animais, nem as formigas, as abelhas, as térmitas, nem as aranhas ou o louva-deus; não se pode dizer que a fêmea escraviza e devora o macho, a espécie que devora ambos. a fêmea pode viver por mais tempo, mas é uma escrava da sua função. o macho tem mais iniciativa que a fêmea, ele que vai até ela para a fecundação, tem que disputar com outros por ela etc. entre as espécies não há o que figa que a mãe assuma mais seus ovos/filhotes que os pais, muitas vezes o próprio pai expulsa a fêmea do ninho que tenta devorar os filhos. nos casos que os pais desempenham o papel nutriente (cuida dos filhos), a espermatogênese interrompe-se (deixa de produzir espermatozóides): ocupado de manter a vida não tem mais o impulso de criar novas vidas. é entre os mamíferos as formas de vida mais complexas. a cisão entre cuidar de sua prole define a separação dos sexos (entre os vertebrados): a mãe tem relações mais próximas com seus filhos e os pais se desinteressam. o organismo da fêmea é adaptado a maternidade e o ciclo de sua vida é comandado por um ciclo sexual, quando está no cio ela é passiva, está preparada pra receber o macho (ele que decide). {isso pode ter relação com homens que acham que tem direito de fazer sexo conosco quando bem entenderem} macho possui, ela é possuída. seu domínio é representado pela posição do coito: ele se coloca sobre ela. assim, embora tenha um papel fundamental na procriação, ela -sofre- o coito. a fêmea é durante toda gestação ela e outra; mesmo pós o nascimento ela dá de mamar em suas tetas. pós nascimento ela encontra autonomia e toma certa distância dos filhos, para assim, protêge-los tornando-se agressivas. mas abdica de sua individualidade (não porque não tem, muitas vezes é semelhante ao macho) em prol da espécie que reclama essa abdicação. (?) enquanto o macho se confirma a si mesmo. = hegel tem razão em ver no macho um elemento subjetivo (individualidade), ao passo que a fêmea continua envolvida na espécie. no cio o macho torna-se agressivo, nem pela competição, mas reinvindicando como propriamente seu. a fêmea carrega a espécie e isto consome metade da tua vida individual, o macho integra forças vivas em sua individualidade. a produção de espermatozóides não constitui uma fadiga para o macho, o coito é uma operação rápida e que não diminui a vitalidade do macho. não desenvolve um instinto paterno, normalmente abandona a fêmea pós o coito, quando permanece não é pelo interesse aos filhos, mas pela relação de comunidade que desempenha como protetor e alimentador. o desenvolvimento da individualidade não atenua a oposição dos sexos, mesmo a mulher que é a fêmea mais individualizada, também é a que aparece como mais frágil e a que tem o destino mais distante do macho. a vitalidade da mulher está nos ovários e a do homem nos testículos; o indivíduo castrado não desenvolve. a mulher é adaptada as necessidades do óvulo mais do que a ela própria, desde a puberdade até a menopausa uma história se desenvolve sem que a pertença. incessantemente, a mulher esboça o trabalho da gestação, não há nada de individual na menstruação. é nesse período que ela mais sente seu corpo como uma coisa alienada. a mulher, como o homem, é o seu corpo, mas seu corpo não é ela, é outra coisa. quando fica grávida a mulher sente uma alienação ainda mais profunda. a gestação mesmo que seja um fenômeno natural, é um trabalho cansativo que não traz nenhum benefício individual e sim sacrifícios. depois da menopausa a mulher é libertada da servidão de fêmea, diferente do eunuco ainda tem vitalidade, mas não é mais presa de forças que a superam. mulheres idosas já foram consideradas o terceiro sexo, nem macho nem fêmea, já que não precisavam mais passar pelo processo de reprodução. (que baboseira. reduziu ser mulher = fêmea = a dar a luz) as diferenças corporais, de saúde, da distribuição dos órgãos etc provém da subordinação da mulher à espécie (gravidez): ela é, entre os mamíferos, a mais alienada e a que mais recusa a alienação, a escravidão do organismo a função reprodutora é mais dificilmente aceita (menstruação, crise de puberdade e da menopausa, parto doloroso e perigoso, doenças). quanto mais se afirma como indivíduo mais seu destino pesa. assim, ao ser comparada com o macho, este é mais privilegiado por sua vida genital não contraria sua existência pessoal. os dados biológicos são importantes para compreender a mulher, mas não bastam para explicar a hierarquia dos sexos, nem para explicar porque a mulher é vista como o outro. o macho e a fêmea humana só podem ser comparados dentro de uma perspectiva humana. influenciada por sartre, heidegger, merleau-ponty, entende o corpo não como uma coisa, mas como uma situação: nossa tomada de posse do mundo e o esboço de nossos projetos. por ter menos força muscular, menor capacidade respiratória e etc, ela é mais fraca = fatos. por isso, seu domínio ao mundo é mais estrito, sua vida individual é menos rica que a do homem. ainda que sejam fatos, não tem sentido em si. a inferioridade muscular depende do contexto, ou seja, a "fraqueza" da mulher só se revela quando a força corporal é exigida na apreensão das diferenças. é preciso que haja referências existenciais econômicas e morais para que a noção de fraqueza possa ser concretamente definida. os limites das capacidade individuais das mulheres são fatos importantes, o corpo da mulher é essencial a situação que ela ocupa neste mundo, mas ele não é suficiente para defini-la. para compreender porque a mulher é o outro, é preciso saber o que a humanidade fez da fêmea humana (como a natureza é vista através da história em seus diversos contextos sociais, econômicos, psicológicos.)