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IFCS - UFRJ

História da Filosofia Contemporânea VI -2017.1


Rafael Haddock-Lobo
Aluno: Rodolfo Caldeira - D.R.E.:116045815

Ciborguismo Dildológico

A partir de uma análise minuciosa de toda a evolução científica e


tecnológica presentes em nossa atualidade, e das diversas maneiras como essa
mesma afeta toda nossa experiência corpórea, Donna Haraway, resgata o conceito
ficcional de ciborgue e o insere em nossa política para discorrer sobre a condição de
existência do humano nas sociedades atuais.Para entendermos como a autora chega
nesta afirmação, é necessária uma revisão e questionamento das ideias de animal e
máquina, orgânico e inorgânico.
É na espontaneidade, em sua riqueza de acontecimentos não-previsíveis,
e em todo seu potencial de auto-criação, o local que costumamos colocar o animal,
local este, que apesar de seu poder de geração aleatória, também se encontra, em sua
completude, a organicidade da natureza, a regência e ignição destes movimentos,
desta forma de vida.
Já a máquina, consiste no inanimado por natureza, no que foi criado, e
que como resultado da ação humana gera o movimento fantasma do artificial,
movimentos que possuem uma lógica repetitiva, são objetos mortos, que tem
participação ativa e singular no mundo, uma existência linear, sensibilidades e
mecanismos de reação programáveis.
Haraway trás o ciborgue para a realidade ao ver máquinas que são
criadas com o intuito de preencher os espaços que deixamos ao pararmos de executar
certas ações, a necessidade do uso de um marca-passo para retomar e coordenar de
forma eficaz o movimento dos músculos cardíacos, é grande exemplo disso. Porém, a
autora ultrapassa a barreira física do ciborgue, não o enxerga somente como um
humano que possui maquinário acoplado à seu corpo.
O ciborgue é este ser que através das transformações sociais que passa,
tem sua identidade e visão de mundo e de si alteradas o tempo todo por produtos de
nosso avanço tecnológico e científico, a exemplo disso, temos também a
microeletrônica, tipos de tecnologia que trabalham no âmbito molecular e se tornam
cada vez mais invisíveis, aumentando seus poderes de influência sobre nós.
São capazes de editar sua própria programação, não se encontram fixos
dentro da regência natural dos elementos que o compõem, e também não se resumem
em artificialidade, não dependem de outro para alterá-lo.
Essa nossa imagem de animal-máquina, é fluida, e a maneira como o
ciborgue se dá no mundo, não se trata de um tipo criação que simula o humano, que
quebra a ideia de corpo como totalidade e separa seus órgãos por função, criam
individualidades e dividem os movimentos físicos do ser , ele não é apenas uma
reprodução dessas partes orgânicas e de suas funções no corpo humano, ele se
diferencia de Frankenstein por não ter necessitado um criador, e por não ser
necessariamente constituído apenas de partes com origens humanas, re-organizadas
com o intuito de gerar nova vida e também por não esperar por sua inclusão em nosso
mundo e forma de ser através da criação de um parceiro heterossexual.
O ciborgue é uma criatura que transcende uma narrativa de origem por
não possuir uma, ele não faz parte de unidade original e não está inserido nesta
totalidade da natureza, diferente do homem, um ciborgue já não seria capaz de
reconhecer o Jardim do Éden, ele não veio do barro e nunca poderá retornar ao pó, a
existência do ciborgue pertence à um mundo pós-gênero.
O conceito de pós-corpo utilizado por Paul Preciado em sua ideia de
contrassexualidade carrega consigo essa resistência ao natural, são estes, os corpos
que transgridem os padrões da heteronormatividade, utilizam, experimentam e tornam
fontes de prazer mais do que apenas os órgãos reprodutores, são todas as práticas
sexuais que vão para além da norma pênis/vagina e que contradizem todo o sistema
de normatização através do controle de uma cultura sexual pautada no falo como
símbolo da fertilidade humana.
No estudo das maneiras que o dildo se insere nas relações humanas,
Preciado descreve a morte do falo como o órgão dominante, a própria existência do
dildo, que simboliza uma prótese, membro artificial que para além de servir como
substituto do falo, que era chamado antigamente de “consolo de viúva” e entrava nas
casas para ocupar o lugar do marido que já não pode mais manter atividades sexuais,
agora também possui suas próprias funções exclusivas, o dildo suplementa a
necessidade do pênis e deixa grande espaço para exploração em sua inserção nas
práticas sexuais.

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