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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE– CCBS


COORDENAÇÃO DO CURSO DE FARMÁCIA
______________________________________________________________________
DISCIPLINA: Sociologia da Saúde
CURSO: Farmácia   
CARGA HORÁRIA: 60 HS/AULA   PERÍODO: 2021.1
PROFESSORA: Cleoneide Moura do Nascimento

Equipe: Higor Victor de Lima Garcia


Livia Maria Gomes de Aguiar
Jonatas Nascimento Bulcao
David Souto Maior Vasconcelo
Clara Raquel F. Mota de Luna

O Tabu do Corpo – José Carlos Rodrigues

Capítulo III - O Nojo do Corpo ou a Magia sem Magos

Introdução

O autor inicia o capítulo fazendo um paralelo entre a sociedade, organismos e


sistemas e uma rápida análise sob as perspectivas da natureza-biológica e natureza-
social do corpo. Para diversos sociólogos, a sociedade é como um organismo, com seus
sistemas trabalhando em conjunto e com suas funções definidas. Logo, não há como
compreender a sociedade sem a relação com o corpo, órgãos e funções.

Os códigos do corpo e os códigos da sociedade

Neste capítulo, Rodrigues continua sua análise do corpo e a sociedade, onde diz
“Como parte do comportamento social humano, o corpo é um fato social. É parte de um
fato social ‘total’, em que cada parte depende de sua totalidade para construir o seu
sentido.” Ou seja, o corpo em si é parte do contexto social, pois através dele é possível
nos comunicar e expressar sentimentos, por exemplo.
O autor dá uma explanação sobre o corpo, para ele, significa ao mesmo tempo a
vida e a morte, o normal e o patológico, o sagrado e o profano, o puro e o impuro. Logo,
o significado é ambíguo, pois pode-se entender de várias formas e ultrapassa o limiar de
sentidos. E, a partir do corpo, surge elementos biológicos resultante da atividade
biológica que pode causar uma repulsa, como secreções nasofaríngeas, gástricas,
advindas de ferimentos, produtos de relações sexuais, entre outras.
Posteriormente, apresenta os sentidos e significados do sentimento nojo, os motivos,
situações as quais essa emoção surge, seja a partir dos nossos próprios corpos ou de
outrem. Também apresenta que para se ter “nojo” de algo, é necessário um contexto e
cita o exemplo de uma mulher que considera repulsivo o catarro escorrendo das narinas
de sua cozinheira, porém, não percebe da mesma forma se vier do nariz do seu filhinho
adoentado. E enfatiza: “Da mesma forma que existem situações codificadas, existem
códigos situacionais, isto é, códigos alternativos, paralelos, que o indivíduo elege de
acordo com as situações particulares em que se encontra.”
O nojo é algo abstrato, porém muito palpável e é definido de forma diferente por
cada indivíduo. A fim de evitar esse sentimento, o ser humano criou métodos, crenças e
rituais de assepsia corporal que também pode ser considerado como uma profilaxia
simbólica, com propósito de firmar um modelo de comportamento para as pessoas,
evitando transgridam limites e desorganize o todo o sistema. Ou seja, são
comportamentos criados para observar o corpo, mas que podem ser traduzidos para uma
linguagem do comportamento social.

Apresenta ainda uma definição social para o nojo. Para Rodrigues, significa uma
proteção a tudo que contrapõe valores sociais, algo que corrói a ordem de conceitos
sociais, algo imoral, como aversão à palavrões, ou a corrupção, por exemplo. E o sujo é
visto como desordem, falta de controle.
A reação do nojo pode ser associada ao medo, ou pode se aproximar em
conceitos. Nesse caso, sentiría-se medo do impuro ou de se impurificar. Por exemplo, a
repulsa por ratos e baratas, animais que devido ao seu habitat natural, são capazes de
transmitir moléstias. Além da visão biológica, cabe um viés social nesse contexto. O
fato de se estar próximo a estes animais significaria uma situação social semelhante e
associada ao meio que vivem essas bestas, ou seja, uma nítida degradação social.
Posteriormente, o autor apresenta diversos conceitos e sinônimos para o nojo sob
a visão de diversas pessoas comuns que se submeteram à entrevista, e situações
consideradas “nojentas” já vivida pelos entrevistados. São citados os conceitos
biológico, social e socioeconômico, já visto do decorrer do subcapítulo. O objetivo da
colheita desses depoimentos foi comprovar que cada indivíduo possui um conceito
diferente do nojo e que precisa de um contato, seja físico ou psíquico, para que decorra
o gatilho.
Lembrou ainda formas que contrastam com as naturalmente encontras na
natureza (sólida, líquida e gasosa) e, por não se enquadrar em nenhuma delas, resultam
em formas “nojentas”, como pastosas, melosas, geleosas, lamacentas, entre outras e que
seriam capazes de difundir doenças, como pesava a sociedade anterior ao conceito
Miasmático” e permaneceu assim até o século XIX, revolucionada por Louis Pasteur.
O autor cita regras sanitárias para a vivência comum, a ocasiões do seu
abandono. O indivíduo em seu local privativo, pode não sentir a necessidade de
obedecer às regras impostas, já que não existe a presença de outra pessoa, inclusive
pontos de vistas tidos como criminosos (racismo, xenofobia e homofobia, por exemplo).
Logo, conclui-se que o ser humano em presença de outro, está fadado à contenção de
seus atos, devido a convenção social de boa convivência e o conceito de “certo e
errado” de cada indivíduo.

O tabu do natural

O corpo é tido como individual e coletivo. Mais coletivo, que individual. Isto é,
um membro sagrado e essencial para a sociedade. Rodrigues cita Durkheim e o paralelo
entre o sagrado e o coletivo. Posteriormente, com a ideia de que corpo possui uma
‘sacralidade pura” e uma “sacralidade impura”, uma “sacralidade fasta” e uma
“sacralidade nefasta”, o autor vê o motivo do tabu do corpo, pois para ele, não há como
misturar algo que é fasto e nefasto ao mesmo tempo.
O sentimento do nojo é natural, pois independe de conceitos humanos, funciona
como regra igual a qualquer outra e é automático. Assim, sua transgressão gera um
sentimento que equipara o transgressor a própria sujidade, uma magia inexplicável da
sociedade, um reflexo instantâneo. Ou seja, para que haja nojo, assim como magia, não
se faz necessário o contato direto com o “impuro”, apenas o simples pensamento pode
consubstanciá-lo.
O ser humano é o único animal que sente repugnância pelos seus próprios
fluidos, sangue, vômito, secreções sexuais, pois, segundo Rodrigues, é o único que
possui cultura. O nojo é uma maneira de separação entre a natureza e a cultura e uma
forma de exteriorizar algo inconcebível à ordem social. Entretanto, há certas secreções
que não são consideradas “sujas”, como a lágrima e o suor atlético. Eles são vistos
como límpidos, transparentes, segundo a cultura popular.
Ainda segundo o autor, pode-se haver uma inversão do sentido do nojo no
contexto sexual. A relação entre pessoas tem, nesse sentido, uma busca, mesmo que
inconsciente, de fluidos corporais do/dos parceiros. Além disso, não são raras as pessoas
que acham excitantes e agradáveis ver e sentir secreções próprias e alheias como forma
de satisfação sexual. Dessa maneira, o homem se conecta com o natural, para
Rodrigues. Já em uma relação conjugal, esse homem se conectaria com o social, pois o
casamento é socialmente bem-visto e culturalmente, a esposa não seria “objeto de
perversões”.

Referências bibliográficas

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