Agda Carvalho e Lisa Paraguai também falam sobre o corpo-bicho em seu artigo
Uma-coisa: corpo-bicho, corpo-dispositivo ,corpo-coisa. Segundo elas O corpo-bicho
estabelece-se no contato com as coisas no mundo, aproxima-se dos outros enquanto
experiência vivida, constitui-se em centro de agenciamento. Diz também que A estrutura
vestível corrompe processos perceptivos com sua materialidade. Essa condição do vestir
causa a convivência com o significado e as singularidades do artefato, que se revela como
um invólucro, um habitar que filtra aparentemente as interferências externas. Na
contaminação, o corpo habita o corpo-bicho e o corpo-bicho habita o corpo. (...) O
corpo-bicho é uma forma mutável, uma estrutura orgânica, assimétrica e celular, que se
adapta aos corpos e revela as subjetividades e individualidades físicas.
A nossa, - ou minha - ideia do corpo meio bicho se associa a essa habitação que Agda e
Lisa anunciam, o corpo meio-bicho habita e é habitado. Não como um apartamento que
recebe visitas,mas como contrariar Newton onde dois corpos ocupem o mesmo espaço e
tempo sem fundir mas sem multiplicar. O contato com o mundo causa o meio-bicho então?
Com qual parte do mundo? Se o corpo-bicho filtra interferências externas o corpo-meio
bicho absorve as interferências? A interferência do externo causa a repulsa do meio-bicho
que habita corpo meio-gente? Instinto de sobrevivência ou necessidade de revolta? Pode
ser os dois, ou nenhum, ou mais que isso. Ainda estamos descobrindo.
De acordo com o dicionário interferência significa ato ou efeito de interferir. Minhas milhares
de dúvidas e de perguntas voltam a se relacionar e criar novas conexões quando penso no
corpo real não tivesse ato
efeito de uma interferência. SE o corpo cisgênero que diz ser o
ou efeito de interferência nas corporeidades trans nós seríamos corpos todo- gente ?
Quando digo das interferências transpasso para além do campo físico que nos coloca em
lugar de violência e compulsividades, onde nos é permitido apenas o marginal, ou a borda,
ou os lugares pré determinados, falo dos acessos que não cabe ao tato, como as
probabilidades de afeto, de respeito, de reconhecimento, a educação onde nossos corpos
fossem possíveis e não escondidos. Se não fossemos de efeitos de uma compulsão sobre
corpos genitais, corpos meio-bicho não seriam objetos DE CAÇA. A probabilidade de
existência dos corpos trans ainda não é real. Esse é o maior efeito de interferência. Por isso
o corpo meio-bicho grita, ele também quer existir.
Bicha atômica
Bicha atômica I
corpo-bicho
corpo de bicha
transviado
não binário
sem família
sem renda
sem emprego
sem propriedade
corpo a curva
Bicha atômica II
expulso da igreja
minha Deusa é a Ventura Profana
‘’que o seu deus transicione’’
meus afetos não usam aliança
levantam os punhos cerrados uns pelos outros