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ENTREVISTA - PATRÍCIA IZAR

1:23: percurso profissional

BLOCO 1: o que é etologia?

[3:04]: É o estudo do comportamento pela perspectiva da teoria da evolução. É olhar para o


comportamento com o mesmo olhar que a gente coloca para características morfológicas.
[3:23]: Etologia nasceu na zoologia. Primeiros etólogos são zoólogos que retomaram no
inicio do séc XX as ideias do Darwin, que já colocava nas suas ideias e isso já tem um
pouquinho anunciado na “Origem das espécies”, mas depois ele desenvolve muito mais na
expressão das emoções no homem e nos animais a ideia de que a gente encontraria
evidências de gradação para padrões de comportamento como ele já mostrava para os
caracteres morfológicos // [4:07]: Então esses zoólogos, especialmente ornitólogos,
começam a perceber que ele tinha muita razão olhando para padrões de corte de aves ou
mesmo formas de beber agua, têm textos clássicos sobre isso nesse início de etologia [4:29]
como eles começaram a classificar espécies de aves com base nesse padrões motores então
tem essa frase clássica [4:38]: “a forma como cada ave bebe água pode mostrar mais qual
espécie ela é do que caracteres morfológicos” [4:54] quando a gente fala de corte a gente
pensa essas aves em que os machos tem esses padrões que parece até uma dança muito
elaborados ou mesmo o pavão e todo o cortejamento do pavão, quando ele abre a cauda e
tem todo um ritual de abaixar a cabeça e levantar que parece muito com a dança //[5:21]
então a psicologia ou certos psicólogos abraçaram a etologia como uma reação há uma
linha de análise de comportamento na psicologia que considerava que todo o
comportamento era adquirido por aprendizagem, nada vem pronto tudo é adquirido. Então
havia dentro da psicologia uma corrente insatisfeita com essa ideia que começa com
Watson mas é depois bastante desenvolvida por Skiner, ficou chamado como behaviorismo,
então dentro da psicologia começa a ter essa oposição, inclusive entre as escolas, [6:09] e
isso ta dentro dessa discussão que a gente sempre pretende superada mas que parece que
nunca está realmente superada sobre inato ou aprendido, natureza ou cultura como
oposições e hoje o que a gente defende é que não há essa oposição, [6:39] a espécie
humana, a gente gosta de dizer, é naturalmente cultural.

BLOCO 2: o estudo dos primatas

[9:18] Há componentes do comportamento humano que a gente não pode atribuir a uma
arbitrariedade, a uma diversidade cultural. Existia muito essa ideia do universal /cultural,
olha como isso aparece em todas as culturas então deve set alguma coisa que faz parte da
nossa natureza e de novo essa ideia natureza como diferente da cultura e eu tinha uma
resistência quando lia isso vários artigos e eu ficava “mas eu acho que isso tem uma
influência da cultura”.

MACACO PREGO: [14:06]: a etologia na psicologia está interessada em entender


comportamento como produto e agente de evolução biológica, o ser humano incluído nisso,
o ser humano é mais uma espécie animal, mas como qualquer outra espécie animal tem
suas especificidades, [14:35] então a gente não quer dizer que não haja particularidades
humanas, mas essas particularidade humanas não são mais particulares ou mais especiais
do que particularidades de abelhas ou... de amebas. [14:50] A gente contextualiza essas
particularidades humanas. [15:00] Então é uma ferramenta metodológica importante da
etologia aquilo que a gente chama de análise filogenética, ou seja a gente mantém a
perspectiva da evolução das espécies ao tentar entender uma característica. Então essa
perspectiva filogenética, que dizer eu vou olhar para essa característica aqui e quero
entender se ela esta presente ou não, ai a gente vai usar a classificação em espécies muito
próximas, então tá dentro do gênero? Tá dentro da família? Onde é que essa característica
tá aparecendo na evolução? apareceu mais de uma vez? [15:43] O macaco prego ele se
tornou relativamente famoso porque hoje a gente sabe varias populações selvagens que
usam ferramentas de pedra – espontaneamente - para quebrar frutos duros, então isso era
uma coisa que só se conhecia... primeiro era considerada a característica que fez a
humanidade, man the tool maker, tudo bem, man the tool maker não the tool user, mas de
toda forma a ferramenta para processar alimentos era aquilo que conferiu a humanidade
num momento grande da literatura se imagina isso, dai a gente começa a ver em espécies
muito próximas nos chipanzés, e hoje a gente tem relatos em orangotangos em gorilas em
ambiente natural, não em condições de cativeiro, então é alguma coisa q tava aparecendo
ai numa linhagem muito próxima. [16:47] Aí se descobriu no macaco prego. Hoje tem
também numa espécie de macaca, macacos que habitam uma ilha e eles extraem ostras
com pedras, na verdade a gente tem três pontos de uso de ferramenta espontânea na
ordem dos primatas. [17:13] Mas então o que acontece, se você tem uma característica
aparecendo duas vezes porque você tem uma distancia filogenética bastante grande, então
se estima a separação dos primatas do velho mundo dos primatas neotropicais em cerca de
40 milhões de anos, os de ferramenta apareceu duas vezes certamente, então a gente pode
inferir, tentar estudar nessas duas linhagens contextos de evolução, isso nos ajuda testar
hipóteses porque quando você tem tudo na mesma linhagem, isso pode ter aparecido uma
vez só, você não consegue fazer comparações de contexto de evolução, é um contexto só.
Quanto mais exemplos tiver, melhor. Mas isso nos ajuda comparar que condições isso pode
ter aparecido. É diferente, por exemplo: [18:16] a vida em grupo, a vida em grupo não é
uma característica humana, a vida em grupo é uma característica primata. Então quando a
gente começa a fazer hipóteses sobre a evolução da vida social humana na verdade a gente
tem que pensar em hipóteses sobre o contexto da evolução da socialidade primata. Há
hipóteses sobre particularidades da socialidade humana. Há autores que defendem que o
grupo humano tem um grau de cooperação que não é visto em nenhuma outra espécie de
primata. {você concorda com isso?} [19:04] eu acho que sim o que a gente tem de evidência
até agora a gente tem uma cooperação que vai muito além do próprio grupo, de parentesco
e do próprio grupo. Grupo no sentido do grupo de convivência. Para qualquer outro primata
o seu grupo são aqueles indivíduos com quem você está convivendo diariamente você tem
uma regularidade de encontro. Um macaco prego não encontra outro macaco prego pela
primeira vez na sua vida e tem uma reação amistosa, afiliativa, o q pode acontecer com o
primata humano eu posso ir para a bombonera assistir uma final de libertadores e eu torço
para um time brasileiro e eu encontro lá um sujeito que eu nunca vi na minha vida, mas ele
tá usando a mesma camiseta que eu, ai a gente vai se abraçar e se ajudar ali naquele
contexto. [20:20] Então o nosso pertencimento a grupo realmente tem essa peculiaridade
de partilhar símbolos culturais, isso a gente não vê em outra espécie, aí a gente expande
essa cooperação para indivíduos que não são familiares não são aparentados ai a gente tem
essa cooperação que pode envolver a organização de papéis totalmente diferentes. A caça é
um exemplo muito bom porque ai as pessoas exercem papeis muito distintos para que essa
caça seja executada ... [21:27] mas mesmo quem não participou diretamente da caça vai
ganhar parte dessa caça. A gente não tem nenhum paralelo exatamente igual em primatas
não humanos. [21:45] Há uma variação entre populações de chipanzés. Em chipanzés de
Gombe por exemplo tem uma influência da dominância sobre quem vai comer a carne. O
dominante pode não ter caçado e ele vai comer porque ele chega lá e pega. [22:05] E tem
outra população de Thai na costa do marfim em quem só ganha a carne quem participa
independente do status, mas essas regras de divisão como a gente vê na nossa espécie a
gente não vê em outros primatas. [22:35] Na verdade a gente conhece muito pouco sobre
outras espécies em seu contexto natural e nem vamos conhecer porque é uma corrida
contra o tempo e nós somos muito mais lentos do que os devastadores de ambientes, então
a gente perdeu muito do que existia em outras espécies. Então do que a gente tem
estudado a gente não tem nada parecido com o humano.

BLOCO 3: definições – o que é cognição

[23:20] Isso é toda uma outra discussão de como é que a gente olha pros problemas, porque
mesmo com uma perspectiva evolucionista, você pode ter uma visão antropocêntrica,
mesmo da evolução a gente pode entender as especificidades cognitivas humanas como
muito superiores a de outras espécies; a gente tá cansado de ver na literatura, uma
cognição mais complexa, maior inteligência. E olhar para outra especies também com essa
compreensão hierárquica, mas tendo ai sim como modelo, como padrão - o padrão é a
característica humana e esse é o ápice e vamos olhar quem chega perto disso. [24:20] Então
a gente vê muito isso em cognição espacial, uma ideia de que a espécie humana tem uma
capacidade de orientação de navegação perfeita. Como se o nosso cérebro fosse o gps.
Traçasse mapas, afinal fomos capazes de fazer mapas, somos cartógrafos, geógrafos só que
a gente esquece q foi um ou outro na verdade é essa a grande característica, peculiaridade
humana incrível em relação a muitas outras espécies essa nossa cognição partilhada, um é o
gênio mas ai ele pode ensinar, ele pode partilhar, ai isso fica parecendo uma característica
humana. [25:41] A gente não tem essa capacidade tão superior em termos de resultado, o
que a gente fez de todas essas espécies migratórias, que percorrem a terra toda, é uma
capacidade de navegação elaboradíssima. [26:01]Então a ideia que a gente defende mais
modernamente para o estudo da cognição é de novo esse olhar para os problemas
adaptativos a cognição também sofre e sofreu evolução por seleção natural ou outros
processos, mas a gente tem diferentes mecanismos cognitivos que são ajustados ao
ambiente de adaptação de cada espécie, de cada organismo então não há um superior ou
inferior se é eficiente para a solução dos problemas adaptativos daquela espécie. [26:50]
Então é isso que é relevante, mais importante de estudar então como é que cada espécie
processa as informações do ambiente, armazena e age sobre essas informações, como é
que cada espécie se comporta. [27:09] Cognição nesse sentido não é consciência. É o nome
q a gente da para esse processamento das informações do ambiente pelo sistema nervoso
tanto da percepção quanto na ação, então até o nome dessa área de estudo eh percepção e
ação não tem necessariamente uma cognição q está enstalada dentro do cérebro e isolada
do ambiente e que faz um raciocínio anterior a ação então tem umas pessoas q acham q o
macaco prego senta olha as pedras olho o coco duro e reflete sobre qual é a melhor solução
depois q ele consegue fazer isso o outro olha e fala ah essa é a solução perfeita e ele vai lá e
faz a mesma coisa. [28:08] Não é isso, é uma solução que se constrói a partir de , agindo
sobre os elementos do ambiente sobre as pedras que vão se transformando em
ferramentas sobre esses alimentos duros agindo com o repertorio comportamental que é
muito próprio, que a gente pode dizer que é inato, então o macaco prego faz parte do
repertório motor deles isso que a gente chama de forrageamento percussivo eles batem
tudo o que eles vão comer, mesmo coisas moles, eles vão fazendo isso e de repente meio
por acaso quebra ai repete aquilo. [28:54] Um bichinho que cresce num ambiente como
esse em que comportamento já tá instalado, ele fica mais canalizado para essa ação a sua
cognição nesse sentido, a percepção do que é importante para a quebra ela vem mais
rápido, porque ele já tá exposto àquilo, tem vários adultos, não é ele que tá descobrindo
sozinho já tem um monte de parceiros sociais que estão fazendo isso ali, então ele começa a
ouvir o som e ele pode comer restinhos daquela comida deliciosa que sai, então ele fica
atraído para aquele lugar e a percepção dele fica canalizada para aquela ação e para aqueles
restinhos ai ele começa a repetir os mesmos movimentos não porque ele esteja imitando ou
naquele momento ele fala: ah isso que é importante, mas ele tá repetindo os movimentos
do mesmo jeito quando a gente quando alguém boceja a gente boceja ou se tem alguém
dançando você começa a dançar. Então tem alguém fazendo esse movimento de quebra
levantar o corpo com as mãozinhas descendo a pedra o outro começa a fazer a mesma
coisa, mas é nesse contágio, e com isso esse comportamento que parece refletir uma
inteligência humana. [30:17] Ai a gente mostra como isso se desenvolve com muita ação e
repetição, e ai isso é de fato um modelo super interessante pra gente entender processos
cognitivos humanos e processos de aprendizagem {por quê?} [30:33] porque a gente
percebe que também para nossa espécie a colocação de problemas deve passar por essa
percepção e ação, pouquíssimas pessoas são o Eistein e não sei quanto treinamento ele teve
que ter para pensar.

BLOCO 4: visão de Darwin

[31:46]

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