Capítulo 4

Equilíbrio
pélvico
Objetivos
do capítulo
1
Entender como
ocorreu o processo
da nossa evolução
morfológica.
 3
Conhecer a diferença entre
os músculos profundos e
os superficiais.

Músculos

2
Saber economizar
superficiais

os nossos músculos
quando estivermos em
pé ou sentados.

Músculos
profundos
80 Hérnia de disco e dor ciática

Glossário A evolução
Aptidões
neurais e
do homem
motora O homem passou por uma grande evo-
O homem passou a lução física e biológica para chegar ao que
usar a inteligência é hoje. Foram quatro milhões de anos nesse
para sobreviver, processo. Ele se distanciou do macaco com
compreendendo o o desenvolvimento do cérebro e, conse-
clima e as mudanças quentemente, com as aptidões neurais e
ambientais. motoras. O cérebro cresceu e, com isso, a
caixa craniana também aumentou de ta-
Caixa craniana manho. Assim, a bacia teve de se adaptar aos
É formada por osso novos diâmetros da cabeça1.
e cartilagem. O novo formato da bacia determinou uma
É a estrutura que nova postura para o homem e novas curvatu-
protege o cérebro. ras para a coluna vertebral. Com a evolução e
o desenvolvimento, o homem passou da posi-
Bacia ção quadrúpede para bípede (Figura 24), a
É o mesmo que bacia ficou mais larga, passou a receber mais
pelve ou quadril. carga do nosso tronco e isso fez com que os
É responsável pela músculos posteriores do quadril e das costas se
sustentação do nosso desenvolvessem com mais força e volume (1,2).
tronco juntamente com (Figura 25)
a coluna vertebral.

Quadrúpede FIGURA 24
para bípede
Posição de quatro
apoios para posição
de pé.
 Capítulo 4 – Equilíbrio pélvico 81

Nova O cérebro ficou

mais desenvolvido;

postura a caixa craniana

aumentou também.

do homem

FIGURA 25
Bacia se adaptou
A bacia era ao novo diâmetro
mais vertical do crânio e a carga
do nosso corpo.
Músculos do
quadril mais finos
e longos

Quando os homininaes andavam de qua-

tro pés, os músculos do quadril eram finos, Glossário
longos e não suportavam grandes cargas.
Eles contribuíam para o movimento e des- Homininaes
locamentos nas árvores e muito pouco para São parentes extintos do
estabilizar o tronco1. Trazendo essas transfor- Homo sapiens, dos gori-
mações ósseas, musculares e biomecânicas las e dos chimpanzés.
(mecânica do movimento humano) para os
dias atuais, devemos ter a consciência do que
seja uma boa postura e um bom equilíbrio do
nosso corpo. A palavra equilíbrio é muito bem
empregada nesse contexto, pois, quando te-
mos uma má postura, seja em pé ou sentado,
82 Hérnia de disco e dor ciática

significa que estamos desequilibrados. Para

toda falta de equilíbrio, será necessário um
esforço maior dos nossos músculos para nos
mantermos estabilizados3.
Esse maior gasto energético e excesso
de trabalho dos nossos músculos irão gerar
compressões nos nossos ossos e articulações,
causando, assim, lesões e dores3. A pergunta
que fazemos é: será que estamos andando em
uma corda bamba e não sabemos?
Por milhões de anos, o homem evoluiu sua
postura e, a partir do momento que a nossa
estrutura óssea parou de evoluir, adquiri-
mos curvaturas e posturas que nos protegem
durante a vida. Porém, com a tecnologia e a
modernidade, os nossos gestos corporais e
posturais mudaram de maneira radical nos
últimos 50 anos. O automatismo, a internet, as
especificidades profissionais e muitos outros
fatores fizeram com que as pessoas ficassem
mais paradas. Cada vez mais, trabalhamos
realizando tarefas pontuais, de movimentos
repetitivos e de pouca variação. Estamos nos
movimentando menos.
Falamos com o mundo a qualquer momen-
to sem dar um só passo. Podemos ficar em
casa com um celular na mão para resolver
todos os problemas de casa ou do trabalho,
existe controle remoto para tudo e carro au-
tomático não é mais objeto de luxo. Estamos
parados literalmente. Se a geração dos anos
1950 fizer uma analogia com os dias atuais,
perceberá como essas mudanças foram radi-
cais e como estamos estáticos. Até o homem
do campo trocou o cavalo por uma moto. Fi-
car sentado é a palavra de ordem, ou melhor,
a postura de ordem.
 Capítulo 4 – Equilíbrio pélvico 83
Postura errada ao sentar
FIGURA 26

Pescoço fica
sobrecarregado
e surgem
dores na parte
superior.

Nesta posição a
coluna lombar
recebe todo o
peso do corpo.

Cadeira fixa
impede a
movimentação
e adaptação
correta do
corpo.

A posição sentada é, sem dúvida, um gran-

de vilão para a humanidade e para as altera-
ções dos ângulos do quadril e da coluna4. Os
estudos comprovam que as alterações desses
ângulos são os principais causadores de do-
res, de lesões degenerativas e, consequente-
mente, de cirurgias na coluna vertebral(5,6).
(Figura 26)

Fique por dentro

Como você se senta? Quanto tempo

você fica sentado por dia?
A relação das duas respostas poderá
ser a causa das suas dores.
>>>
84 Hérnia de disco e dor ciática

>>>

• Você sabia que uma sentada errada po-

derá fazer com que você perca todas as cur-
vaturas da coluna de uma só vez? Evite ficar
com a sua coluna em C ou sentar em cadei-
ras que tenham um assento muito grande.
Os maiores vilões são os sofás “confortáveis”,
que nos obrigam a sentar de forma extrema-
mente errada.
• A escolha da cadeira é extremamente im-
portante.
• Sente-se com o bumbum próximo do en-
costo da cadeira.
• Os calcanhares devem alcançar o chão.
• Mantenha a curvatura lombar, para aju-
dar, você pode colocar uma pequena almofa-
da nesta região.
• Se for ler ou escrever, é importante que a
cadeira tenha braços. Desta forma, os múscu-
los superiores dos ombros ficarão relaxados.

No momento em que conseguimos nos

Glossário manter em uma boa postura, ou seja, o nos-
so corpo não está para frente nem para trás
Equilíbrio nem para os lados. Isso significa que estamos
pélvico bem posicionados no espaço e os nossos mús-
É o equilíbrio das cur- culos estão trabalhando muito pouco, econo-
vaturas e do posicio- mizando energia. Essa economia muscular e
namento do sacro em articular é o que podemos chamar de equilí-
relação com a cabeça brio pélvico, equilíbrio do nosso corpo(7,2).
do fêmur e a coluna Mostraremos, neste capítulo e no capítulo das
vertebral. posturas do dia a dia, a importância da boa
postura em pé ou sentado para a saúde e o
bem-estar da coluna vertebral. (Figura 27)
 Capítulo 4 – Equilíbrio pélvico 85
Observe suas simetrias dos dois lados
FIGURA 27 Nível das orelhas
Equilíbrio pélvico
A cabeça
Quanto mais está inclinada
próximo o
indivíduo estiver
da faixa de
Mamilos na
normalidade
mesma linha
do equilíbrio
pélvico, os
músculos
trabalharão com Quadris simétricos
menor esforço.

Joelhos para frente

Verifique se os pés
são chatos ou cavos
Vista frontal

Muitas pesquisas têm mostrado a impor-

tância do equilíbrio pélvico, principalmente
quando observamos o homem de perfil. O po-
sicionamento do quadril tem uma influência
significativa em toda a postura da coluna ver-
tebral. Os estudos comprovaram que, quanto
mais próximo o indivíduo estiver da faixa de
normalidade do equilíbrio pélvico, os músculos
trabalharão com menor esforço. Menor tensão
irá acontecer, haverá menor compressão nos
discos e menor gasto energético3.
86 Hérnia de disco e dor ciática

Costumamos falar para os pacientes que

normalmente têm esse desequilíbrio postural,
principalmente os que têm o tronco projetado
um pouco mais para frente, que não adianta
tratar apenas a dor ou melhorar os movimen-
tos específicos da coluna. O mais importante é
manter a coluna alinhada.

Equilíbrio econômico
através de pêndulos
FIGURA 28
Cabeça não deve
ficar para frente
ou para trás.

Curva
cervical
Ombro
Não deve ficar
para frente
(arredondado)

Curva
Para analisarmos se o corpo lombar
está bem equilibrado, usamos
um linha, como um fio Quadril
de prumo de construção civil.

Colocamos a linha na orelha

do paciente e deixamos que ela
fique reta em direção ao chão.
Joelho
Observamos os pontos do corpo
do paciente pelos quais ela passa. Se ela passar
por esses pontos, o corpo está bem equilibrado;
se não, conseguimos constatar algum desvio.
Alinhamento dos principais pontos Tornozelo
 Capítulo 4 – Equilíbrio pélvico 87

Esse alinhamento é fácil de se constatar, bas-

ta apenas fazer uma foto de perfil e verificar se
Glossário
o seu tronco está projetado para frente. Você po-
derá usar também um fio de prumo partindo do Trocânter maior
ouvido e verificar se ele passa pela linha média É uma saliência óssea
do ombro, no trocânter maior do fêmur, joelho que se localiza na
e tornozelo. (Figura 28) lateral superior do
É importante que os profissionais de saúde e fêmur. Podemos tocá-
os pacientes entendam a importância e a neces- la facilmente na lateral
sidade da correção desses alinhamentos. A per- do quadril.
manência de um tronco projetado para frente,
ou seja, fora da linha de gravidade, é ter a cer- Mais profundos
teza de que os pacientes não irão melhorar e os ou posturais
episódios de dor irão voltar. São músculos
Pesquisadores procuram, cada vez mais, pequenos que ficam na
comprovar que os ângulos existentes na região mais próxima da
coluna e na bacia são de grande relevância coluna vertebral.
para o entendimento das lesões e das dores
nas costas2. Encontrar o melhor equilíbrio
da bacia e da coluna é a saída para esse mal
que persegue a humanidade.
Para um melhor entendimento do nosso
equilíbrio e da nossa postura, é importante sa-
bermos como funcionam os músculos das cos-
tas e do quadril nesse contexto. A musculatura é
a parte do nosso corpo que promove movimen-
tos, proteção e estabilidade. Temos dois tipos de
músculos que mantêm a nossa postura. O pri-
meiro grupo são os mais profundos ou postu-
rais. Como o nome diz, são mais internos, ficam
próximos à coluna vertebral, são menores, têm
funções específicas, auxiliam poucos movimen-
tos e suportam nossas cargas e “abusos” com
mais facilidade.
88 Hérnia de disco e dor ciática

Eles economizam o trabalho do segundo

Glossário grupo, que são os músculos externos, também
chamados de dinâmicos. As características fi-
Fibras siológicas das fibras musculares dos múscu-
musculares los profundos são de grande resistência8. Por
São estruturas que se isso, eles protegem e estabilizam a nossa coluna
localizam internamente com mais facilidade. (Figura 29)
aos músculos.
Esforço do corpo
para manter nosso
equilíbrio
FIGURA 29

1 A gravidade puxa

2
o corpo para frente.

Imediatamente
Músculos
músculos
dinâmicos
(externos)
começam a
trabalhar para nos
manter em pé e
puxar o corpo
para trás.

3
Discos
Mas os comprimidos
músculos

4
externos não
aguentam muito Esse trabalho
tempo de trabalho
em excesso causa uma
e logo fadigam, e
compressão da coluna
começam a ficar
e, por consequência,
em espasmos.
compressão dos discos
intervertebrais
 Capítulo 4 – Equilíbrio pélvico 89
É importante frisar que outros fatores ou al- Ângulos
terações mecânicas (como artrose no quadril, da coluna
artrose no joelho, uma perna maior que a outra, FIGURA 30A
pés com deformidades, fraturas nos membros

1
inferiores etc.) também poderão comprometer
o equilíbrio da coluna vertebral. Mais uma vez
fica claro que dar atenção ao paciente, ouvir
tudo o que ele tem para nos contar sobre suas
lesões do passado e dores atuais, além de fazer
um questionário pertinente às nossas buscas
clínicas serão a chave para um bom tratamento
e para orientações precisas.
Uma das saídas para um programa preven-
2
tivo de lesões degenerativa da coluna é encon-
trarmos as alterações da bacia e da coluna ver-
tebral nas crianças e realizarmos tratamentos
posturais que possam restabelecer as curva-
turas normais e o melhor equilíbrio pélvi-
co-lombar. Nos dias atuais, as crianças estão
ficando mais tempo paradas e sentadas. Pode-
mos estar passando por transformações sem
notarmos. Os ângulos que determinam nossa
postura podem estar se alterando e a população
deve ser esclarecida para se envolver nesse pro-
cesso. Essa é a principal proposta deste livro.
Também propomos uma escala de apren- 3
dizado para a população sobre o programa
qualitativo de fortalecimento dos músculos
profundos da coluna vertebral associado ao for-
talecimento dos glúteos médio e máximo e de
todo o complexo do quadril. (Figura 30B)
O mais importante é que pacientes e pro-
fissionais tenham consciência desses ângulos
e posturas, que busquem esse ponto de equi-
líbrio. (Figura 30A) Ele é o ponto de partida
para os tratamentos e principalmente para
a prevenção das lesões degenerativas. Nós,
profissionais, devemos com urgência reali-
90 Hérnia de disco e dor ciática

zarmos ações nesse sentido. Só assim pode-

Glossário remos tratar de forma mais definitiva essas
lesões assim como preveni-las.
Equilíbrio Com o entendimento da nossa postura e das
pélvico-lombar possíveis lesões, fica claro também que a fisiote-
É o equilíbrio das
rapia é mais ampla e complexa – diferente dos
angulações do quadril
que pensam que reabilitar coluna é simples-
em relação com a
mente infiltrar, estalar as costas e dizer que “co-
coluna lombar.
locou a coluna no lugar”, colocar o paciente em
algum aparelho e pronto!
Glúteo médio Entender a doença, os sintomas, o mecanis-
e máximo mo da dor e o paciente é fundamental para tra-
São grandes músculos
çar um plano individual de tratamento. Uma vez
superficiais localizados
que o paciente foi diagnosticado com alguma
no quadril, chamados
discopatia degenerativa, cabe ao fisiotera-
também de músculos
peuta definir o critério de escolha do trata-
do bumbum.
mento. Essa triagem vai compreender apro-
ximadamente oito condutas fisioterapêuticas
Complexo que poderão ser usadas isoladamente ou em
do quadril conjunto. Desse modo, fica claro que aquela
Músculos do quadril
fisioterapia que é feita igual para todo mundo
que são importantes
dificilmente vai funcionar.
para a estabilização da
coluna vertebral.

Multífidios e Glúteos
FIGURA 30B
Músculos
glúteo maior
 Capítulo 4 – Equilíbrio pélvico 91

Dicas

Espelho
Você tem duas maneiras para saber como estão as
suas assimetrias ou postura sem sair de casa:

1º - Tendo um espelho de bom tamanho no seu quarto,

será possível detectar as diferenças existentes no seu
corpo. Retire a sua camisa, fique de frente ao espelho e
compare cada uma das partes que falamos na página
85. Com outro espelho, você poderá também observar
o seu perfil, ou seja, o lado esquerdo e direito. Neste
caso, o mais importante é o alinhamento da cabeça
com o ombro, quadril, joelho e pé. Como também, ob-
servar as três curvaturas: cervical, torácica e lombar.

2º - Você pode, também, pedir para um familiar lhe

fotografar de frente e perfil. Ao finalizar, verifique se
existem as diferenças em questão.