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Condições de trabalho na Polônia

by Isadora Mendes Fevereiro 22, 2019 1 1984

“Mas, como você trabalha na Polônia sem falar Polonês?”


“Como você consegue viajar tanto?”

Essa são algumas perguntas que recebo com certa frequência e a resposta delas tem influência direta com
alguns aspectos positivos de trabalhar na Polônia. Pois bem, o país tem se tornado um mercado atrativo de
trabalho para muitos europeus e estrangeiros de outros continentes. Vale lembrar que junto com outros vizinhos
do leste, a Polônia apresenta uma das menores taxas de desemprego da Europa (3,7%), atrás apenas dos seus
vizinhos República Tcheca, Hungria e Alemanha (dados de 2018).

Devido a diversos fatores, especialmente pela moeda desvalorizada em relação ao Euro, muitas empresas
alocam suas operações aqui e isso naturalmente demanda pessoas qualificadas, não somente em experiência
profissional, mas também fluência em diferentes idiomas, já que os serviços atendem a clientes e empresas do
mundo inteiro.

A lei trabalhista polonesa se difere em vários aspectos da brasileira e meu objetivo aqui é trazer as principais
diferenças que impactam a vida profissional, especialmente no que diz respeito ao equilíbrio com a vida pessoal.
Ressalto que as percepções que vou citar são baseadas em trabalhos corporativos, onde a grande maioria dos
estrangeiros trabalha.

PRECISA SABER POLONÊS?

Como há centenas de empresas de diferentes nacionalidades que terceirizam suas operações por aqui, a
língua oficial interna acaba se tornando o inglês, não sendo necessário saber o polonês para trabalhar nelas.
Treinamentos, entrevistas e comunicação interna serão em inglês. Saber outros idiomas é essencial, pois te dá
maiores oportunidades e te garante um salário mais alto. Nós, brasileiros, com o português de brinde e um
espanhol semi-encaminhado, temos chances aumentadas para empresas que atuam com esses idiomas.

HORAS DE TRABALHO

A carga horária semanal de trabalho é de 40 horas, divididos em 5 dias de trabalho (8h/dia). Dependendo do
ramo, muitas empresas costumam ser flexíveis e não é necessário que o empregado cumpra um horário rígido.
Por exemplo, você pode ter um horário de trabalho das 8h as 16h, mas pode chegar as 8h30 e ficar até as 16h30,
ou seja, você deve cumprir as 8h a partir do momento que chega, não será contado como atraso.

A grande diferença, no entanto, está no intervalo mínimo estipulado por lei. Para jornada diária acima de 6
horas, a lei garante 15 minutos de intervalo. Um grande contraste com a lei brasileira, mas, calma, não é tão ruim
quanto parece!

Esses 15 minutos estão inclusos do seu horário de trabalho, ou seja, já são contados dentro das 8 horas e, a
não ser por um acordo específico da empresa, não há horário determinado, você aproveita esse intervalo no
momento que achar melhor. No entanto, o controle do horário não é rígido e caso você queira sair em algum lugar
e extrapolar os 15 minutos, pode compensar ficando alguns minutos a mais no final do dia. É importante ressaltar
que muitas empresas possuem um espaço interno para tomar um café e/ou comer, onde você pode aproveitar seu
intervalo sem ter que bater ponto (pois você não sai da empresa), ficando a organização do seu tempo ao seu
critério e bom senso.

Lembro quando fui contratada e pensava “como eu vou comer em 15 minutos??”. No fim, eu prefiro esse
sistema, pois ficamos 8 horas trabalhando e sobra bastante tempo pra outras coisas. Percebi que há, na verdade,
flexibilidade do intervalo e, a não ser que seja uma empresa super rígida (difícil), você consegue se organizar
conforme volume de trabalho e organização com outros colegas.

Horas extras são pagas em dobro e há adicional noturno. Trabalhar até de noite para depois voltar a trabalhar
pela manhã não é permitido, sendo obrigatório, no mínimo, 11 horas entre o último dia de trabalho e o início do
próximo (e isso é levado bem a sério).

FÉRIAS

O sistema de férias é bem diferente do brasileiro. No Brasil, de forma geral, temos 30 dias garantidos somente
após 12 meses de trabalho. Na Polônia, você vai receber um saldo de dias e pode usá-los desde o primeiro dia de
trabalho, podendo fracionar elas conforme desejar, contanto, claro, que isso seja informado previamente a sua
empresa. Isso tende a ser bem flexível e é o que tem me permitido tirar pequenas férias ou folgas aleatórias em
diferentes partes do ano (obrigada Polônia!).

O saldo pode ser de 20 ou 26 dias úteis de trabalho, ou seja, não são dias corridos como no Brasil. Esse saldo
vai depender da sua experiência profissional prévia e da sua formação (um sistema bem diferente!).

 20 dias – menos de 10 anos de experiência profissional


 26 dias – 10 anos ou mais

Essa conta não somente inclui empregos prévios, mas também formação. Um curso superior universitário
(independente da duração dele), por exemplo, já te garante 8 anos nessa soma. Cabe a você provar ao seu
empregador (através de documentos) a sua experiência prévia e, caso você não prove nada (ou não tenha direito
a nenhum ano), você acumula 1,67 dias a cada mês trabalhado. Pra entender como isso é calculado, sugiro ler
esse texto (em inglês).

Além disso, para melhorar, a lei garante outros tipos de férias. Já pensou acordar num dia de ressaca, sem a
mínima vontade de trabalhar? Ou algum imprevisto ocorreu e não vai poder ir trabalhar amanhã? Pois bem, dentro
do seu saldo de férias, a lei permite que você tire até 4 dias de folga “de última hora” (conhecida como on-
demand/on-request). O empregador pode até recusar dependendo da natureza do seu trabalho, apesar de isso
ser raro. E, por fim, há também férias adicionais pra estudantes de graduação ou pós graduação que estejam no
seu último ano de curso, até 20 dias (úteis) adicionais a suas férias normais, caso o estudante achar necessário
para preparar a dissertação final. Se um estudante desejar, pode ter aí um total de 46 dias de férias num ano.

Por outro lado, não há adicional pago para férias, você continua recebendo seu salário mensal normalmente.
Não há também o 13º salário, como há no Brasil.
AUSÊNCIA POR DOENÇA

Os médicos aqui tendem a ser muito compreensíveis e eu diria que praticamente qualquer indisposição lhe
garante um atestado. Ok, há muita gente que abusa dessa facilidade e da falta de controle rígido, mas, por outro
lado, sinto que realmente há uma preocupação com o bem estar geral e com a sua disposição para trabalhar,
especialmente quando se atua em escritórios sem ventilação natural (dos tempos que trabalhava no Brasil, só em
estado muito debilitado a gente conseguia um atestado!).

Com essas condições, aliadas a salários médios bons, acredito que trabalhar na Polônia pode ser uma
experiência bem confortável para um estrangeiro. Apesar de não haver alguns direitos garantidos como temos no
Brasil (adicional de férias, 13º e alguns outros), há salários, pacote de bônus e benefícios atrativos, além de
flexibilidade dos seus horários e férias, o que permite tranquilamente conciliar vida pessoal e profissional.

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