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AUTOS Nº
O autor ingressou neste juízo com três ações contra o requerido, face ao
dolo e o ardil empregados, resultando numa sórdida trama engendrada por ATAÍDES
KIST, que extorquiu do requerente um imóvel, toda a sua pinacoteca, obras e objetos
de arte, e mais uma soma em dinheiro equivalente a R$ 280.000,00 ( duzentos e
oitenta mil reais ), perfazendo um montante de aproximadamente R$ 1.280.000,00,
em claro e óbvio detrimento ao patrimônio do demandante e enriquecimento ilícito do
requerido.
A saber:
1) Na cozinha removeu todos os móveis que eram embutidos e feitos sob medida, mesa de
jantar, cadeiras, fogão e geladeira, e conforme se vê pelas fotos ficou vazia, causando um
prejuízo de cerca de R$ 16.000,00 ( dezesseis mil reais;
2) Na sala foram retirados lustres, sofás e um barzinho com espelhos, que ficava em um dos
cantos da sala, causando um prejuízo de aproximadamente R$ 10.000,00 (dez mil reais);
3) Nos banheiros, retirou os gabinetes e espelhos, inclusive do lavabo, causando um prejuízo
de cerca de R$ 4.200,00 ( quatro mil e duzentos reais );
4) Na piscina – fez desaparecer mesa com cadeiras, louças, alfaias, até os vasos ornamentais,
fazendo-os desaparecer, causando um prejuízo de cerca de R$ 2.500,00 ( dois mil e
quinhentos reais ).
5) E, no desaparecimento de bens que se encontravam guardados do interior da casa, os
seguintes objetos:
a) Um lustre de cristal;
b) Uma bengala em madeira de lei, entalhada a mão, Com empunhadura em prata trabalhada
a mão, peça antiga e exclusiva de valor inestimável;
c) Espelho de banheiro em cristal, com mais de cento e cinqüenta anos de idade, fabricado por
artesão espanhol;
d) Um jogo copos, de cristal checo, para seis pessoas, formado por seis copos para água, seis
copos para champanhe, todos entalhados a mão, datado do século XIX;
e) Dois cálices de cristal, entalhados á mão, com base de prata, também com entalhes a mão;
f) Bebedouro de água de cristal para cama, consistente de um copo com pipeta, do século
XVIII;
g) Dois cinzeiros de prata, incrustrados com moedas de prata espanholas de durus - cinco
pesetas datadas de 1870;
h) Jogo de licor em cristal, composto de jarra com tampa de prata e seis cálices, entalhados a
mão;
i) Seis copos de cristal da Bohemia com base de prata, datados do século XVIII;
j) Jogo de café de porcelana de George V, com bocal em ouro 24 quilates;
k) Oito copos de licor de cristal, trabalhados a mão, tais objetos são raros e antigos, avaliados
em R$ 50.000,00.
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negócio se referia, já que haviam outros, entendendo o autor que esse valor deveria ficar a
disposição deste juízo.
a) Construção em alvenaria tipo residencial, com área de 231,84 m², edificada sobre o Lote
urbano nº 19/20-A, da quadra 250, com área de 937 ,50 m², situado no Loteamento Jardim
Espigão, desta cidade, com limites e confrontações conforme matrícula nº 35.630 atualmente
40.894 do R.I. desta comarca.
- Dois quadros de Pablo Fornes, que representam cada um, a livre interpretação do famoso
quadro do pintor espanhol Velasquez, no valor de mercado de R$ 15.000,00 ( ambos );
- Uma marina, datada de 1.900, do pintor espanhol OFERIL, da cidade de Barcelona,
comprovada pelo catálogo do artista, com repercussão internacional, pois a assinatura do
artista faz parte da escola catalã modernista – com valor de mercado de aproximadamente
R$ 14.000,00;
- Dois quadros de Plabo Fornes – um representa uma menina com o detalhe de leque,
retratada de lado, pintado em óleo metálico de prata e cobre, de grande envergadura, co
moldura entalhada e cor dourada, obra prima do pintor - e autorias de vários pintores
espanhóis entre eles Paulo Fornes, de valor aproximado de R$ 20.000,00;
A segunda obra, é uma menina com uma bola transparente, de retrospectiva de frente,
destacando a cor azul, como símbolo da época juvenil do pintor , avaliado em R$ 28.000,00;
-Um quadro que representa “Torren Del Paren”, obra inéditado paisagismo maiorquino, que
remete a escola valenciana de Soraya, valor aproximado de R$ 5.000,00
-Um quadro da escola valenciana, óleo sobre pele de carneiro, do século XVIII, comprado
em leilão de artes por U$ 27.500,00 ( vinte e sete mil e quinhentos dólares ).
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preço. A anulação sob a alegação de emprego de comprador/donatário não ter pago
qualquer valor, utilização de meio astucioso para o resultado, preconcebido, fraudulento,
induzimento do autor em erro.
O autor lhe disse que não tinha pressa em vender a casa, mas que mudar-
se para Cascavel, era uma necessidade, em razão de seus tratamentos de saúde, e como
possuía um imóvel em Cascavel, que já estava mobiliado e o utilizava, acabaria por torná-
lo sua moradia principal.
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Em janeiro de 2013, o requerido foi contratado pelo autor, como advogado,
eis que imaginou tratar-se de pessoa confiável, respaldado por um currículo vitae
recomendável.
Ponderou o autor que R$ 10.000,00 ( dez mil reais ), era uma importância
muito pequena, frente ao montante contratado, e concordou, crendo que o requerido não
iria negar-se.
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ao autor, para finalizar os trâmites do financiamento, mas que o valor integral dos R$
400.000,00 seriam depositados diretamente para o requerente.
1) SB-001041, da conta corrente Nº 03839-5, a ser sacado contra o Banco Itaú, no valor
de R$ 70.000,00 ( setenta mil reais ), emitido em 13/06/2013;
2) SB-001042, da conta corrente Nº 03839-5, a ser sacado contra o Banco Itaú, no valor de
R$ 70.000,00 ( setenta mil reais ), emitido em 13/06/2013;
e 3) SB-001043, da conta corrente Nº 03839-5, a ser sacado contra o Banco Itaú, no valor
de R$ 60.000,00 ( sessenta mil reais ), emitido em 13/06/2013, todos de titularidade do
demandado.
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O autor é espanhol, conta com 84 ( oitenta e quatro ) anos de idade e
era cliente do requerido, não sabendo ler em língua portuguesa, tem apenas parcial
entendimento da língua oral, e pelo requerido foi induzido a pensar que a negociação
estava sendo conduzida com lisura.
Insistiu com seu advogado, ora demandado, que queria uma defesa
imediata a estas acusações levianas, inclusive visando cessar tais impropérios, que o
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deixavam ofendido e deprimido, mas o ora requerido, foi incisivo em afirmar que, aqui no
Brasil, as coisas funcionam de forma diferente que na Espanha, especialmente com
estrangeiros, primeiro ele seria aprisionado, em cadeias que são verdadeiras pocilgas e
depois é que seriam apurados os fatos.
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pela própria doença, e pela fictícia situação, o autor caiu no “golpe” do requerido,
deixando-se conduzir pelo demandado, e assim viu-se em Salto Del Guairá- Paraguay,
sem entender com clareza o que realmente estava ocorrendo.
Logo após, o Sr. Walter constatou que Ataídes estava residindo no imóvel
de Marechal Cândido Rondon, sem nada pagar.
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deturpando as informações, aproveitando-se da ingenuidade de uma pessoa idosa,
doente, e com pouco entendimento da língua portuguesa e das leis que regem nossa
sociedade, para dar vazão a sua ganância, tomando-lhe os bens, sem nada pagar, e
ainda usou os bens para obter mais dinheiro.
QUANTO AS TELAS
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Tanto isso é verdade que temos no quinto parágrafo da segunda folha do
contrato de doação o seguinte: “...,sendo que os recebe de forma gratuita e
sem ônus do doador com a finalidade de divulgar a cultura e as
artes e geral.”
Depois de formalizada a doação, sob o mesmo argumento de que as
telas também seriam confiscadas e que a doação seria anulada, convenceu
Matias de que só não seriam “tomadas pelas autoridades” se tivesse um
documento onde pudesse afirmar que o acervo fora vendido a um brasileiro.
Junto a esta coleção, ficaram também quatro quadros sem valor econômico,
perfazendo o número de cinqüenta obras.
No que se refere aos bens, o requerido afirmava a Matias que assim que
tudo se resolvesse na Polícia Federal, rasgariam os contratos, ou se não se resolvesse e o
autor tivesse que ficar fora do Brasil, poderia decidir, se quisesse vendê-la, bastaria
comunicar ao demandado que este procuraria o melhor negócio e encaminhar-lhe-ia os
valores. Fazendo uma solene promessa de que cuidaria pessoalmente tanto do imóvel de
Cascavel, quanto dos demais objetos de arte e telas, enquanto o autor estivesse ausente.
Portando-se como “o salvador”.
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Como vimos, o requerido nada pagou pelos imóveis situados em Marechal
Cândido Rondon e Cascavel, nem pelas telas e objetos de arte dos quais se apossou de
forma dolosa, maliciosa e em verdadeiro enriquecimento sem causa e ilícito, subtraído de
forma vil de um homem idoso e extremamente doente.
E, ainda extorquiu a quantia de R$ 280.000,00 ( duzentos e oitenta mil
reais), num acordo onde pensava o autor que todas as demandas seriam findas, mas que
todos os bens lhe seriam devolvidos.
Em início de setembro de 2013, o sobrinho e cuidador do autor idoso, o Sr.
Santiago foi chamado ás pressas, por familiares, para a Espanha porque sua mãe sofreu
um infarto agudo de miocárdio.
Estando o autor sozinho e doente, em grave crise anêmica, com sintomas e
sinais relacionados à doença, pela redução do transporte de oxigênio aos tecidos,
variando com sonolência e confusão mental, entre outros, o requerido devidamente
informado desta situação, procurou o demandante propondo o término das demandas.
Mais uma vez, o requerido foi falso e ladino, chegou a chorar ao dizer que era
um “homem religioso e precisava devolver os bens que havia subtraído”, que queria
liberar a casa de Marechal Cândido Rondon, sobre a qual tinha levantado um
financiamento de mútuo no valor de R$ 250.000,00, e que com os encargos estaria em R$
280.000,00 o débito, mas que não tinha o dinheiro para quitar esse contrato.
Convenceu o autor a lhe alcançar o valor de R$ 280.000,00 que seriam
utilizados para pagar o financiamento junto a CEF e liberar o imóvel de Marechal Cândido
Rondon.
Disse-lhe que lhe pagaria esse valor, seria apenas um empréstimo, e tão
logo vendesse um imóvel de sua propriedade, mas que estava em nome do pai do
requerido, imóvel que retirou de seu nome para não dividir com sua ex-mulher, no
divórcio.
O autor ponderou que se o dinheiro – R$ 280.000,00 liberasse o imóvel, e o
tivesse de volta, pelo menos o prejuízo seria menor, haja vista que o imóvel de Marechal
atualmente está avaliado em R$ 750.000,00.
O requerido afirmou que devolveria todas as telas e os objetos do requerente,
bem como a casa de Cascavel.
Por outro lado, o autor não deveria cobrar os prejuízos causados no imóvel
de Cascavel. Ainda afirmou o requerido, que realizariam acordo na presença de um juiz.
E, “ - O juiz não permitiria que o autor fosse prejudicado”, palavras do demandado.
O documento já estava pronto, e no mesmo dia, ainda, conseguiu com que o
magistrado marcasse audiência para homologação.
De outra banda, aconselhou ao autor que sequer consultasse seus atuais
advogados sobre isso, pois segundo ele: “Os advogados não teriam interesse em
encerrar as ações e iriam atrapalhar o acordo” .
E, para mostrar sua “boa vontade”, entregou as chaves e o controle do
portão, do imóvel de Cascavel, situação irônica e meramente simbólica, mas fazia parte de
mais uma cena da ópera encenada pelo requerido.
O contrato foi exibido na mesma data 23/09/2013, tudo isso tratado pela
manhã, e o requerido não mais se apartou do autor, com ele almoçou, e depois o
transportou ao cartório, e ao fórum.
Lógico, que o contrato de acordo foi elaborado pelo requerido e como estava
escrito em português, ele o traduziu a seu modo, transmudando seu verdadeiro sentido e
conteúdo.
O juiz que promoveu a homologação, não foi o mesmo que conduziu a
audiência de justificação, designada nos autos em que foi solicitada liminar de reintegração
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de posse. O recebimento dos autos, a leitura das peças iniciais e o exame dos
documentos, bem como a audiência foi presidida pelo Dr. MARCIO DE LIMA, juiz
substituto, estando em férias o juiz titular.
Assim, lamentavelmente o Dr. PEDRO IVO LINS MOREIRA, ao retornar de
suas férias, deparou-se apenas com o pedido de homologação e ficou mais do que
satisfeito com a possibilidade de ver encerrado e no arquivo definitivo três processo
complexos.
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correspondente, mesmo porque fica configurada uma DOAÇÃO sequer cogitada pelo
autor.
Na audiência, nada foi dito, o acordo sequer foi lido pelo magistrado,
que se limitou ao requerimento, de outro lado, o autor sozinho, sem compreender a língua
pátria, imaginou que o conteúdo do documento fosse fiel a tradução oral, o que não foi,
afetando o consentimento do contratante, pois não foi livre e espontâneo.
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Por certo, ao se ler o contrato, verifica-se que o resultado foi o de
consolidar na posse e domínio, todas as telas, objetos de arte e mais a casa de Marechal
Cândido Rondon, e mais R$ 280.000,00, sem nenhum pagamento ou contrapartida
financeira do requerido, num franco enriquecimento ilícito e sem causa do demandado, em
grave lesão ao patrimônio do autor.
Este novo golpe, teve efeito direto sobre a saúde física do autor, que
ficou muito debilitado, por meses a fio, só se restabelecendo física e mentalmente em fins
de julho de 2014, quando decidiu vir a juízo expor suas razões e pedir a anulação da
homologação do estapafúrdio acordo, totalmente leonino e em favor do requerido, já que
obtido ardilosamente, e em artimanha que viciou a vontade do autor.
"O dolo pode ser caracterizado pelo abuso cometido por quem se aproveita do
estado psíquico desequilibrado de outrem, dando-lhe informação errônea para
incutir-lhe a falsa idéia de realizar negócio interessante" (RT 602/58).
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O RELATÓRIO DA POLÍCIA FEDERAL E SUAS CONCLUSÕES SOBRE O
TERMO DE ACORDO HOMOLOGADO E DEMAIS CIRCUNSTÂNCIAS E
ATOS DE ATAÍDES KIST PARA SUBTRAIR BENS DE MATIAS
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Não é necessário muito esforço de interpretação para concluirmos, que o
acordo nada mais é do que uma grande enganação, com doação de bens, para o que o
autor jamais concordou ou desejou.
Por outro lado, o fundamento jurídico desta ação é traduzido pelo vício da
manifestação de vontade, externada defeituosamente, na realidade de um artifício,
empregado para induzir à prática de um ato prejudicial, em proveito exclusivo do réu.
Mister se faz que o impulso gerador da vontade não seja maculado pelo
vício que distorça sua manifestação.
Diz Orlando Gomes que "as razões que levam alguém a realizar
determinado ato jurídico podem resultar de falsa representação, que suscite
desconformidade entre a vontade real e a vontade declarada, quer espontânea, quer em
conseqüência da ação de outrem".
"se alguém, por ignorância de certos fatos, realiza negócio jurídico, que não realizaria se
os conhecesse, a ordem jurídica não poderia deixar de lhe proporcionar os meios para
obter a invalidação ".
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E mais: "Em cada caso deve-se analisar a cultura, a inteligência e especialmente a
atividade profissional daquele que o alega" (RT 520/147).
Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada
do que ao sentido literal da linguagem.
A boa-fé objetiva atua ainda como forma de valorar o abuso no exercício dos
direitos subjetivos, conforme consta do art. 187 do Código Civil:
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos
bons costumes.
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E, por fim, quanto a boa-fé objetiva, também não foi observado pela
autoridade a aplicação dos princípios de probidade e boa-fé, segundo o disposto no art.
422 do Código Civil.
Para a Polícia Federal, veio à tona ilícita ação - houve manobra dolosa, antes
e durante o acordo.
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Esta ação anulatória fundamenta-se na lesão como modalidade de vício do
negócio jurídico, ou no caso a transação homologada em juízo:
“ Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade,
ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da
prestação oposta.
§ 1º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes
ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.
O novel Código Civil, no art. 157, introduz, no ordenamento jurídico pátrio, a
lesão como modalidade de vício do negócio jurídico, na realidade o CC apenas corrobora o
que o Código de Defesa do Consumidor também já defendia. Vedada a exigência de
vantagens manifestamente excessivas em perfeita consonância ao vício da lesão.
Assim manifesta-se a doutrina:
"A lesão enorme é a obtenção por uma parte, em detrimento
da outra, de vantagem exagerada incompatível com a boa fé ou a
equidade". (JURIS ON-LINE http://www.palhares.com.br apud MARTINS, Jonair Nogueira.
Teoria da lesão enorme. Incidente nos contratos bancários. Spread para a cobrança de juros.. Jus
Navigandi, Teresina, ano 2, n. 22, dez. 1997. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=644>. Acesso em: 09 jun. 2009.)
“Art. 486. Os atos judiciais, que não dependem de sentença, ou em que esta for
meramente homologatória, podem ser rescindidos, como os atos jurídicos em geral,
nos termos da lei civil.”
DO CABIMENTO
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face de julgarem a lide (eliminação do conflito com a declaração do direito, ou seja,
apreciando o mérito da causa).”
A sentença homologatória de ato judicial, por outro lado, não assumiria tais
características, visto a inexistência de apreciação do mérito.
“Mas, dir-se-á, o Código, no art. 269, III, afirma que o processo se extingue com
julgamento de mérito quando as partes transigirem. Então, haverá julgamento de mérito na
transação?
Não, a toda evidência.
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Trata-se de impropriedade do Código que deve ser interpretada com inteligência e bom
senso. Se as partes transigem, a homologação conseqüente, como se viu, não julga a lide,
porque esta não mais existe, eliminada como foi pelo acordo dos litigantes.”
Esta ação anulatória tem seus fundamentos nos vícios do direito material e
nas causas de anulabilidades comuns aos negócios jurídicos, onde foi proferida sentença
meramente homologatória, visando atingir diretamente o ato das partes, e não uma
decisão judicial, não se tratando de forma direta de ataque ao ato sentencial, mas sim de
impugnação reflexa, pois visa à desconstituição do ato praticado pelas partes em juízo e
homologado por sentença que não julgou o mérito das demandas.
“... Se a sentença do juiz restringe-se por outro lado, apenas a homologar a transação,
caberia, desse modo a ação anulatória do art. 486 do CPC. Nessa última hipótese, o juiz
não decidiu nada; a eliminação do conflito resultou de transação celebrada entre as partes.
O que objetiva, portanto, é anular a transação, e não a sentença, que, no particular, é
meramente homologatória. Dessa maneira, a distinção entre a ação rescisória e a
anulatória, no tocante á rescisão ou anulação da transação, estaria em perquirir se o juiz,
na sentença, julgou o caso com base na transação celebrada entre as partes, ou se ele
cingiu-se a homologar a transação, tendo as partes, elas mesmas, ao celebrá-las,
encerrando o litígio....”
“A ação anulatória prevista no art. 486 objetiva tão somente a anulação de ato judicial. Tal
meio de impugnação pode atingir, igualmente, sentenças homologatórias, na hipótese do
ato objeto de invalidação depender da referida chancela judicial.
Julgada procedente a ação anulatória, o ato impugnado não somente será declarado nulo,
mas também será desconstituído. Importa ressaltar, que embora não tenha como objeto a
desconstituição da sentença (que é o caso da ação rescisória), verifica-se que a
impugnação do ato também atinge a sentença que o homologou. Trata-se de uma
impugnação de caráter reflexo que esvazia o conteúdo da homologação.” O Voto é no
sentido de CONHECER o Recurso de Apelação e NEGAR PROVIMENTO. É o Voto.
Curitiba, 02 de agosto de 2007. J. S. FAGUNDES CUNHA RELATOR
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Nesse norte, invocando o comando do art. 486 do CPC, segundo o qual "os
atos judiciais, que não dependem de sentença, ou em que esta for meramente
homologatória, podem ser rescindidos, como os atos jurídicos em geral, nos termos da lei
civil."
a) o locupletamento;
Conforme disposto na Lei civil Pátria tais cláusulas são nulas de pleno
direito, e não operam efeitos, sendo que a nulidade de qualquer cláusula considerada
abusiva não invalida o contrato, somente as cláusulas abusivas são nulas: no nosso caso,
todas as cláusulas são abusivas, pelo que não subsiste o contrato, averiguado o justo
equilíbrio entre as partes.
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É bem verdade que as partes têm liberdade na estipulação do que lhes
convenha, mas essa autonomia de vontade sofre limitações e se sujeita aos princípios da
moral e da ordem pública.
Aliás, pode-se invocar aqui o art. 5º, da Lei de Introdução ao Código Civil,
pelo qual o juiz adotará no caso concreto a decisão que entender mais justa e equânime,
levando-se em conta os fins sociais e às exigências do bem comum.
O Requerente é ignorante em matéria negocial e jurídica, isto fica patente,
pois logo após a transação, quase dois meses depois, com a chegada de seu sobrinho,
inteirou-se que o requerido não lhe devolveria os bens e que no documento denominado
de acordo, levado para homologação, não estava escrito o que imaginou que contivesse
no texto, ao contrário, era vantajoso apenas para o demandado, tornou-se
desproporcional e espantosamente inescrupuloso. O acima alegado está comprovado, mas
ainda mais respaldado por provas testemunhais, e pareceres de peritos.
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verossimilhança do alegado e no risco de lesão grave ou de difícil reparação, encontram-se
suficientemente demonstrados, desafiando o acolhimento da tutela de urgência que vindica.
Para a aferição dos pressupostos necessários à antecipação dos efeitos da
tutela jurisdicional vindicada, e quanto à verossimilhança das alegações e o risco de dano
irreparável ou de difícil reparação, podem ser identificados sem grande complexidade pela
leitura dos documentos acostados, associadas as últimas atitudes do requerido.
De conformidade com o emoldurado pelo artigo 273, incisos I e II, do Código
de Processo Civil, a antecipação de tutela tem como pressupostos: (I) a existência de prova
inequívoca apta a revestir de verossimilhança a argumentação aduzida; (II) o risco de dano
irreparável ou de difícil reparação; ou (III) a caracterização do abuso de direito de defesa ou
manifesto propósito do réu. Esses pressupostos, que emergem da literalidade do aditivo
contratual apontado(2013), sendo possível se aferir a presença de flagrante ilegalidade.
No entanto, ainda que se considerasse como matérias a serem apreciadas no
mérito, subsistem outros elementos materiais aptos a ensejarem a concessão de tutela
acautelatória dos efeitos da prestação jurisdicional vindicada, cujos requisitos exigidos, como
cediço, são mais amenos que aqueles exigidos para a antecipação de tutela meritória,
reclamando somente a plausibilidade do direito (fumus boni iuris) e a irreparabilidade ou difícil
reparação desse direito (periculum in mora).
Porém, sem dúvida aqui, ainda há a presença da verossimilhança.
Nesse ponto, merece ser prestigiada a doutrina de Luiz Rodrigues Wambier e
Tereza Arruda Alvim Wambier, que assim ponderam sobre o tema:
“Parece-nos, todavia, mais convincente o argumento de que, se a todo
direito corresponde uma ação, a todo direito corresponde, também, e necessariamente,
uma cautela. Ou seja, assegurar o direito de ação é o mesmo que assegurar o direito à
eficácia da providência jurisdicional pleiteada, quando se demonstra que há o risco de
esta ficar comprometida.
“Parece que esta tendência genérica que diz respeito à fungibilidade de
medidas que têm a urgência como pressuposto, sob risco de ineficácia da prestação
jurisdicional, fica confirmada pelo art. 273, §7o, que permite expressamente a
fungibilidade entre medida cautelar e medida antecipatória de tutela.” (WAMBIER, Luiz
Rodrigues e WAMBIER, Tereza Arruda Alvim. Breves comentários á 2a fase da reforma do
Código de Processo Civil 2a ed. – atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2002, p. 65-64)
Nesse sentido, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, confira-se:
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No caso, conquanto, ainda que V. Exa. considere ausente a verossimilhança
das alegações do autor, subsiste a fumaça do bom direito, autorizando que seja concedida
medida acautelatória do provimento jurisdicional esperado.
Sob essa moldura de fato, aferido que o pedido de antecipação dos efeitos da
tutela jurisdicional formulado pelo autor se legitima face à verossimilhança do alegado, e
ainda subsistindo-lhe a fumaça do bom direito, satisfazendo os requisitos da tutela cautelar,
afigura-se recomendável que seja determinada a proibição de transferência do imóvel, e a
averbação junto a matrícula 40.894 do R.I. desta comarca, bem como a remoção e depósito da
pinacoteca e objetos de arte para o depositário público, com ofício ao registro de imóveis, a
fim de que os requerido fiquem impedido de transferir o domínio a terceiros, como medida de
resguardo aos efeitos práticos de eventual sentença meritória de procedência dos pedidos.
PEDIDOS E REQUERIMENTOS
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j) Requer a intervenção do Ministério Público, em razão da matéria e dos atos
ilícitos verificáveis nestes autos, outrossim, seja intimado o Ministério público local, para
que informe se já recebeu os documentos oriundos da Justiça Federal, no sentido de que
seja apurado criminalmente os fatos aqui narrados..
advocatícios á base de 20% ( vinte por cento ) sobre o valor da causa, e demais
inerentes aos ônus de sucumbência.
Nesses Termos,
Pede Deferimento.
ROL DE TESTEMUNHAS
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b) ATILIO WACHHOLZ NEUMANN, brasileiro, casado, caminhoneiro, residente e
domiciliado na Zona Rural, Linha Peroba, neste município;
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