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pt | sábado, 14 de março de 2020


N.º 448| Este caderno faz parte integrante
do Diário de Notícias n.º 55 115
e do Jornal de Notícias n.º 287 do ano 132

Os remédios de que a economia ENTREVISTA DV/TSF — P. 04-05

Faria
precisa Custo do coronavírus já é de Oliveira
“A banca
superior a 300 milhões de euros ajudará
a minimizar
PROFILAXIA Ascontas estão em fase preliminar, mas são os primeiros sinais de efeitos que ainda a crise do
são incertos. Países do euro começam a deitar mão ao arsenal pesado para fazer frente covid-19, mas
à pandemia, cujo centro passou agora para a Europa. Os governos ainda têm algumas as empresas
ferramentas ao dispor. Conheça-as. P. 06-09
têm de ser
viáveis”

Atualizar Moratórias para


o Orçamento o pagamento de
do Estado 2020, impostos singulares
que já está ligado e coletivos, para que
ao ventilador não falte sustento
às famílias

Investir e gastar mais Mais investimento


é o melhor e despesa no Serviço
medicamento para Nacional de Saúde,
a economia, diz que já está em
Christine Lagarde, stress por causa
presidente do Banco da pandemia

GERARDO SANTOS/GLOBAL IMAGENS


Central Europeu

Pôr os olhos na Dotar o emprego e a


bazuca alemã, que Segurança Social de
decidiu usar toda meios para fazer face
a artilharia para a uma emergência
reanimar o doente nacional que está
usando um banco a afetar postos À CONVERSA — P. 12
de fomento de trabalho
Novo presidente
Implementar Pedagogia da ANJE: “Vamos
o teletrabalho em comportamental
todas as empresas para que os precisar de mais
e instituições que portugueses possam ajuda” para
consigam manter proteger-se a si, aos
a atividade remota outros e à economia vencer o vírus
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02 sábado, 14 de março de 2020
www.dinheirovivo.pt

A abrir EDITORIAL
ROSÁLIA
AMORIM

ANÁLISE SOBE&DESCE Grandes podem


ajudar PME
Rapidez, ANTÓNIO
SARAIVA
CHRISTINE LAGARDE
a não cair

A
PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL EUROPEU

flexibilidade, Em tempos de crise, há que assumir as s medidas tomadas pelo

adaptabilidade respostas necessárias e sem perder tem-


po. Lagarde manteve os juros em míni-
mos históricos e anunciou um pacote de
governo, depois de ouvi-
dos os partidos, tranquili-
zaram só em parte a po-
ajudas de emergência de combate ao co- pulação. A sensação de

À
ronavírus, com mais 120 mil milhões, até medo continua a crescer à medida que
medida que a pandemia do covid-19 se propaga, também o seu fim do ano, canalizados para compra de os casos de contágio aumentam.
impacto económico nas empresas se vai alastrando e intensifi- dívida. Problema? Os mercados queriam Algumas medidas são de efeito es-
cando. mais e as bolsas derraparam. casso ou duvidoso. Veja-se o caso de
Aos graves efeitos sentidos nas atividades relacionadas com o tu- reduzir a um terço a lotação dos res-
rismo, somam-se agora notícias de perturbações severas em diver- taurantes. Quem vai controlar as en-
sos setores industriais. PATRÍCIA GASPAR tradas, vai haver um polícia em cada
Um dos maiores grupos contratantes da indústria portuguesa de vestuário SECRETÁRIA DE ESTADO porta? E qual a distância segura den-
DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA
cancelou todas as encomendas que ainda não foram produzidas; a indústria ex- tro de um restaurante, pois muitos
trativa reporta problemas de abastecimento de material de desgaste, de redu- Corajosa, a secretária de Estado foi, dos espaços são pequenos e com me-
ção da procura e de falta de contentores e transportadores por via marítima; nesta semana, a primeira governante sas coladas umas às outras? Terá esta
a cerâmica dá conta de casos de cancelamento de todas as encomendas coloca- a admitir aos microfones da TSF medida o objetivo de descartar res-
das para entrega durante os meses de maio e junho. que o fecho de fronteiras poderá ser ponsabilidades? Ou seja, se falirem e
Estes são apenas os exemplos mais recentes de que tive conhecimento, no uma das opções tomadas e ainda a mandarem os trabalhadores para o de-
momento em que escrevo. A situação altera-se a cada instante, quer na intensi- imposição de quarentenas forçadas. semprego, a culpa não é da decisão do
dade quer nos seus contornos. Se, por um lado, a China já está a retomar a labo- É assim mesmo, em altura de guerra, governo... Também os shoppings vão
ração, esperando-se para breve a restauração da normalidade, a Europa ainda é preciso pôr todos os cenários em ter uma lotação limitada e quem irá
está a começar a sentir os efeitos diretos da pandemia. cima da mesa. controlar as entradas?
Em Portugal, os casos de suspensão da atividade de empresas por motivos de É altura de fazer perguntas. Muitas
saúde pública são pontuais, mas devemos preparar-nos para a eventualidade de perguntas. Até porque já não estamos
se tornarem mais frequentes. PEDRO PESSOA E COSTA no início do surto, mas num estado de
Tudo isto requer uma resposta dinâmica por parte do governo, conforme o EMBAIXADOR DE PORTUGAL EM ANGOLA alerta máximo de pandemia.
exigir a evolução da situação. As medidas do governo são boas, fa-
No plano das medidas dirigidas às empresas, o objetivo é o de manter a con- “A relação entre os dois países tem zem sentido, mas em breve terão de
fiança em toda a comunidade empresarial e o de mitigar o impacto económico, sempre um potencial para ser ainda ser alargadas. E poderiam ter chegado
garantindo que a generalidade das empresas sobrevive às dificuldades atuais e melhor”, disse nesta semana o novo mais cedo? Sim. Fazendo um inquéri-
mantém a sua capacidade para impulsionar a recuperação quando as restrições embaixador de Portugal em Angola. to rápido pelas grandes empresas por-
forem levantadas. O diplomata, acabado de chegar a ter- tuguesas, a maioria já tinha começado
Confio na determinação e discernimento do governo português para que, ras da rainha Ginga, afirma que preten- a atuar desde janeiro, acreditando na
com a resposta apropriada, o impacto seja temporário. de “reforçar e muscular” a cooperação premissa de que a globalização chegou
À semelhança do que está a ser feito um pouco por toda a Europa, foi já bilateral. É importante para ambos para o bem e para o mal. Ainda assim,
anunciado um leque alargado de medidas dirigidas às empresas, que deverá retomar a relação de irmãos. passarão por várias dificuldades devi-
ainda ser detalhado por forma a ser implementado no terreno com a necessária do à contração económica que já co-
urgência. É certo que algumas dessas medidas precisam de ser ajustadas, sobre- meçou e anseiam pelas notícias do go-
tudo na sua abrangência, mas são um primeiro passo positivo. O contacto com MÁRIO CENTENO verno e dos bancos relativas a even-
os representantes empresariais tem sido constante e construtivo e estão já pre- MINISTRO DAS FINANÇAS tuais moratórias (sobre este tema,
vistas reuniões semanais com os parceiros sociais. vale a pena ler a entrevista do presi-
Também das autoridades europeias têm vindo sinais positivos. O Banco Cen- A preparação para a guerra faz-se em dente da APB, Faria de Oliveira, nas
tral Europeu anunciou o lançamento de novos estímulos monetários e o alívio tempo de paz, mas nada disso tem acon- páginas 4 e 5).
no cumprimento das exigências de rácios de capital por parte dos bancos, para tecido, ora por falta de dinheiro ora por Por fim, para ajudar a salvar as PME,
assegurar a resposta às necessidades acrescidas de crédito à economia real. cativações. O desinvestimento no Serviço deixo aqui um apelo às grandes em-
Da Comissão Europeia vem a intenção (que deverá ser devidamente concre- Nacional de Saúde e em serviços milita- presas nacionais e estrangeiras insta-
tizada) de apoio financeiro, bem como de flexibilidade nas regras orçamentais res põe a nu as fragilidades nacionais ladas em Portugal: é importante que
e nas ajudas de Estado. face ao coronavírus. Só ontem o labora- estas organizações, e que têm maior
Nas autoridades públicas, como nas empresas, as palavras de ordem são: rapi- tório militar anunciou que vai produzir folga, mantenham as suas avenças e
dez, flexibilidade, adaptabilidade. gel de limpeza e fazer testes para o SNS. prestação de serviços eventuais para
com as de menor dimensão, de modo
a que o tecido empresarial não colap-
se. Manter as retribuições durante o
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REVISTA N.º 24
POR APENAS

3,90 €NAS
BANCAS

TEMA DE CAPA DESTAQUE HISTÓRIAS SOLTAS ENTREVISTA


Da queda da República, em Encerrando o extenso trabalho Durante a Segunda Guerra Fernando Catroga, nome
1926, à chegada de Salazar à que vêm publicando, a Mundial, uma unidade cimeiro da história das ideias,
chefia do governo, em 1932, propósito dos 200 anos da composta apenas por entrou na historiografia
houve vários levantamentos revolução liberal, Vital Moreira e mulheres, a bordo de aviões pela porta da filosofia. Isso
armados para derrubar a José Domingues lançam, nesta de madeira e lona e voando reflete-se, claro, no discurso
ditadura, todos sem sucesso. edição, um apelo à recuperação depois do sol-posto, causou com que desmonta temas
Reviralho foi o nome dado a dos monumentos que o pesadas baixas entre os absolutamente centrais no
esses movimentos. miguelismo destruiu. nazis: eram as “Bruxas da mundo de hoje.
Noite”.

SAIBA MAIS EM
JNHISTORIA.JN.PT
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Entrevista
A VIDA DO DINHEIRO

Faria de Oliveira Banca Um gestor


na banca
Presidente da Associa-
ção Portuguesa de Ban-

ajudará a minimizar a cos há oito anos, Fer-


nando Faria de Oliveira
desempenhou vários
cargos governativos

crise mas tem de ver se e na banca, incluindo


a presidência da CGD
entre 2008 e 2011.

as empresas são viáveis


O presidente da APB reconhece consequências do covid-19 em toda a
economia. Espera que o Novo Banco não precise de mais dinheiro e diz
que não dispararam alarmes no Montepio. Texto: Rosália Amorim e Hugo Neutel (TSF)
O coronavírus já deixou empre- tenham o efeito que permita uma falar em moratórias concedidas pe- ultrapassar um período curto de di-
sas em situações complexas e vai redução num tempo curto, os efei- las próprias instituições, uma espé- ficuldades. Isto foi usado em 2009
piorar... O malparado vai subir? tos serão menores. Senão, pode- cie de reestruturação de crédito pelas instituições bancárias no
É muito natural que o crédito mal- mos entrar numa situação que con- em que se permite que haja um pe- apoio às empresas e no crédito à ha-
parado tenha tendência para au- duzirá a uma recessão global. Auto- ríodo de carência, uma extensão do bitação. O que também é essencial,
mentar, mas este é um momento ridades, governos, Banco Central financiamento concedido. na medida em que os bancos têm
especial, um momento para agir, Europeu e Comissão terão de estar Nesse caso, poderiam atuar já, de cumprir modelos de avaliação
exatamente para evitar que as con- muito empenhados em pôr em tentar ajudar já a economia... de risco rigorosos, é que essas con-
sequências para a economia desta curso medidas que ajudem a mini- O que acontece, e é uma preocupa- dições se deem a empresas viáveis.
crise de saúde pública de grande in- mizar os efeitos. Tem havido um ção significativa, é que para não ter O BCE disse nesta quinta-feira
tensidade – e que tem de ser olha- diálogo importante entre o setor efeitos particularmente negativos que admite que os bancos pos-
da com a máxima seriedade – sejam bancário e essas autoridades a nível em termos de rácios de capital e de sam falhar temporariamente li-
minimizadas. Certos setores estão nacional e europeu, designada- incumprimento é necessário que mites de capital. Será também
a ser já bastante afetados, com que- mente através da Federação Bancá- haja uma flexibilização da regula- para ajudar nisso? E chega?
bras significativas da oferta e do ria Europeia. O setor bancário está ção. Hoje já há medidas, quer no É uma das matérias que considerá-
lado da procura. As cadeias de pro- profundamente empenhado em âmbito da política monetária do vamos particularmente relevan-
dução podem ser afetadas pela difi- contribuir para minimizar a crise. BCE quer no da área da supervisão, tes, que houvesse uma flexibiliza-
culdade de receber componentes. Mas de que forma? A banca pode que vêm ao encontro destas preo- ção no que respeita ao cumpri-
Todo o movimento causado pelas dar um contributo, por exemplo cupações. Uma moratória é um mento de rácios, e foram tomadas
medidas de contenção adotadas le- facilitando a vida às empresas acordo para dilatar o prazo de paga- várias medidas que vêm ao encon-
vam grande parte das pessoas a di- que tenham dificuldades em pa- mento dos empréstimos e permitir tro desse desejo. Mas não pode-
minuir o consumo. Há setores au- gar os créditos? mos deixar de analisar com rigor
tomática e profundamente afeta- Uma das soluções que se admite os indicadores. Nas bolsas, está já
dos – tudo o que tem que ver com poder vir a ter particular impacto a descontar-se a possibilidade de
viagens, turismo, restauração, tem que ver com a concessão de
Será preciso recessão global, que pode ser
eventos... E portanto é natural que moratórias. Isto, aliás, foi adotado um Orçamento maior ou menor de acordo com a
haja uma quebra enorme dos pro-
veitos das empresas que trabalham
no início da crise financeira global...
A moratória tem de ter autoriza-
retificativo? duração da crise.
Nas moratórias em que os ban-
nesses setores e que possam ter ção de Banco de Portugal e BCE? “Vamos esperar, cos podem tomar a decisão, essa
grandes dificuldades de tesouraria. A moratória deverá ser decidida a mas a probabilidade poderá acontecer em que prazo?
Agora vai depender da duração... nível político, eventualmente exi- Depende de banco para banco. Em
Sim, se se conseguir que o pico seja girá medidas legislativas se for ge- existe e pode ser 2009, as decisões foram tomadas
atingido rapidamente e as medidas neralizada. Mas podemos também significativa.” com a rapidez que se justificava.
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Tenho a certeza de que isso aconte- este papel vai voltar a ser mais re- preocupado com a situação frágil
cerá com dois tipos de condições: ferido no que respeita àquilo que do banco. A APB está otimista?
que não afete em termos de rácios de positivo a banca ofereceu a este Como presidente da APB não pos-
de capital e situação patrimonial país. Os bancos hoje não têm pro- so falar numa instituição em con-
dos bancos as instituições e que, blemas de liquidez, estamos com creto. O Montepio tem sido acom-
em termos de avaliação do risco, as rácios muito altos, mais do dobro panhado pela supervisão do Banco
empresas sejam mesmo viáveis. do requerido. O valor de depósitos de Portugal e do BCE, com o neces-
Não seria esta uma boa altura é francamente superior ao crédito sário rigor e precaução. Quando há
para deixar cair a taxa sobre os concedido e isso é favorável. qualquer tipo de clamor de que se
depósitos, por exemplo? A crise do coronavírus pode pôr passa qualquer coisa, são reforçados
Na realidade, Portugal é, no âmbi- em risco as metas orçamentais? os mecanismos de acompanha-
to da União Europeia, um caso de Acho que afetará seguramente. mento da instituição, e até agora
exceção nessa matéria. E portanto A extensão vai depender da forma não há indicação que possa pôr em
é uma medida discriminatória para como conseguimos debelar o pro- causa a solidez do Montepio. Em
o sistema bancário português, que blema o mais rapidamente possível. relação ao acionista do Montepio,
do nosso ponto de vista não faz O governo terá de apresentar também não vou pronunciar-me, é
sentido. Nós estamos numa união um orçamento retificativo? matéria da maior relevância, por-
bancária e o que se pretende é que Vamos esperar, mas a probabilida- que se trata de uma instituição da
exista um nível igual para todos os de existe e pode ser significativa. economia social com um número
sistemas bancários; nós sentimos Em relação ao Orçamento aprova- muito significativo de associados,
que estamos a ser penalizados, co- do há pouco tempo, creio que o que seguramente o próprio gover-
locamos os nossos bancos em des- quadro macroeconómico que lhe no está a acompanhar.
vantagem em relação aos pares. estava subjacente provavelmente Vamos ao EuroBic. O Luanda
O governo anunciou um regime já não corresponde à realidade. Leaks terá minado a confiança
de lay-off simplificado para em- Mudemos de tema. O Novo Ban- dos clientes nos bancos?
presas que precisam de parar e co já pediu quase três mil mi- Não temos nenhum registo que in-
uma linha de crédito para apoiar lhões ao Fundo de Resolução. dicie quebra de confiança. E sobre
a tesouraria de cerca de 200 mi- Vai atingir o limite de 3,9 mil essa matéria, a defesa do branquea-
lhões, entre muitas outras medi- milhões? mento de capitais, gostaria de refe-
das. São os remédios certos? Aquilo que tem sido publicamente rir – porque estive envolvido em
Parecem-me medidas completa- referido, designadamente pelo pre- conversações – que o sistema bancá-
mente adequadas, e a banca segu- sidente do Novo Banco, é que espe- rio português em dezembro 2017 foi
ramente vai estar presente – serão ra que isso não aconteça. No entan- avaliado pelo GAFI, instituição in-
provavelmente linhas de crédito to, já estamos muito próximo do li- ternacional que acompanha os me-
protocoladas. A banca estará dis- mite. Essa foi uma das razões por canismos adotados pelas institui-
posta a adotar também outro tipo que o sistema bancário, quando foi ções financeiras para satisfazer os re-
de medidas e soluções, quando se feita a negociação, levantou reser- quisitos nesta matéria. E foi conside-
trata de problemas de tesouraria. vas. O sistema bancário paga um rado que o sistema bancário nacio-
O coronavírus deve obrigar a re- montante muito relevante anual- nal era robusto. Não é num período
pensar o modelo de crescimen- mente para o Fundo de Resolução tão curto, um ano e pico, que houve
to, muito assente no turismo? e paga ao mesmo tempo para o fun- alterações. Pelo contrário, penso que
O turismo é uma atividade econó- do de resolução europeu. É um far- todas as instituições têm vindo a re-
mica em que Portugal tem mani- do significativo e com consequên- forçar significativamente as suas
festamente vantagens comparati- cias. Um dos grandes consultores áreas da AML. E o sistema bancário
vas e competitivas e condições na- internacionais há dias referiu que a português tem hoje um custo que
turais para ser desenvolvida. Este digitalização da banca portuguesa representa mais de 10% do custo to-
modelo tem de ser complementa- deveria ser reforçada com mais in- tal do sistema bancário.
do com o desenvolvimento de ou- vestimento e apontou o montante Termina o mandato na APB no
tros setores, mas será sempre nu- de mais cem milhões por ano para final deste ano. Vai continuar?
clear. Também temos condições atingir o ritmo do quartil superior Não, no final deste ano deixarei de
particularmente favoráveis para o dos sistemas bancários mais digita- ser presidente da APB. Tenho 78
desenvolvimento da economia di- lizados da Europa. Só a CGD e o anos, vou ficar por aqui.
gital e todo um outro conjunto de BCP pagam para o Fundo de Reso- Quem gostaria de ver à frente da
atividades económicas indispensá- lução anualmente mais do que APB? Nuno Amado seria uma
veis para o crescimento. E este está cem milhões. boa escolha?
muito dependente do investimen- Uma nova crise pode levar o Só os associados da APB terão aí
to – o papel da banca, mais uma Novo Banco a precisar de mais uma palavra, a escolha é deles.
vez, é de importância vital. Portu- injeções de capital?
GERARDO SANTOS/GLOBAL IMAGENS

gal sempre teve insuficiência de ca- Uma nova crise e uma recessão que
pitais, o capital privado sempre foi possa acontecer vai afetar o sistema
exíguo e o sistema bancário nacio- bancário, afeta sempre. Agora, é
nal durante décadas tem vindo a para isso que os bancos têm acio-
colmatar essa insuficiência. Tem nistas e, no caso do Novo Banco, o
sido verdadeiramente o motor da acionista maioritário é privado. A
economia. E, passado este período primeira responsabilidade é dele.
de dificuldades na banca, estamos Vamos falar de outro tema sensí-
francamente mais fortalecidos e vel: o Montepio. O mercado está
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Destaque
PANDEMIA ECONÓMICA

Impacto
do novo
coronavírus
já soma
mais de
300 milhões
de euros ainda de somar toda a despesa não
prevista com a aquisição de bens e
serviços, como os equipamentos de
proteção individual.
Mas os cofres do Estado também
vão ficar mais vazios, com menos
conter a epidemia do novo coronaví- impostos cobrados. Uma desacelera-
rus em Portugal já tiveram um im- ção do consumo e da produção re-
pacto de dez milhões no orçamento presentam menos receitas fiscais.
da Saúde, anunciou a ministra Mar- A começar pelo setor da hotelaria e
ta Temido na quinta-feira numa au- restauração (turismo), o primeiro a
É um Orçamento do Estado já liga- dição no Parlamento. ser castigado pela redução do núme-
As contas ainda estão numa fase do às máquinas. A pressão sobre o
documento, que ainda não entrou
A situação deverá agravar-se ten-
do em conta que já no primeiro mês
ro de turistas, mas também pelo
menor consumo dos portugueses.
muito preliminar, mas são os em vigor, é agora maior: as contas
estão desatualizadas por via de mais
do ano a despesa com profissionais
do Serviço Nacional de Saúde (SNS)
Por este lado, são menos receitas e
IVA, IRC e também IRS (por via dos
primeiros sinais de efeitos que despesa prevista para minimizar os
impactos económicos do novo coro-
cresceu 7,1% face a janeiro de 2019
e as medidas tomadas nesta semana
salários mais baixos pagos a quem
fica em casa ou doente). E para a Se-
ainda são incertos. Países do navírus.
Só do lado da proteção social às fa-
para contenção e mitigação do vírus
fazem prever um aumento ainda
gurança Social as receitas das contri-
buições também descem e as despe-
euro começam a deitar mão ao mílias, o governo estima uma des-
pesa adicional de 294 milhões de eu-
mais significativo.
Entre essas medidas está a sus-
sas com proteção social sobem.

arsenal pesado para fazer frente ros para assegurar dois terços do sa-
lário base dos pais que precisem de
pensão de limites de horas extraor-
dinárias, a simplificação da contrata-
Para além do paracetamol
As medidas adotadas pelo governo
à pandemia, cujo centro passou ficar em casa com filhos menores
até aos 12 anos e que não possam es-
ção de trabalhadores e a contratação
de médicos aposentados sem sujei-
português são muito semelhantes
às de outros países europeus, mas
agora para a Europa. Os governos tar em regime de teletrabalho.
Do lado da saúde também são es-
ção aos limites de idade. É um regi-
me excecional que representa mais
menos musculadas do que por
exemplo as anunciadas pela Alema-
ainda têm algumas ferramentas peradas despesas adicionais e já co-
meçaram a ser sentidos os primeiros
despesa. E aqui só estamos a contar
com gastos adicionais no reforço
nha. Mas já vamos à “bazuca” ger-
mânica para fazer face aos impactos
ao dispor. Texto: Paulo Ribeiro Pinto efeitos. As medidas aplicadas para dos recursos humanos. Teremos económicos do covid-19.
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Salários em quarentena,
pelo menos, até 9 de abril,
com fecho das escolas
Na segunda-feira, há nário vai ficar durante a medida a atenção à variabilidade de rendi-
mais de 1,6 milhões de receber dois terços do salário, com mentos ao longo do tempo, algo
impacto nos vencimentos de que deverá ser acautelado no des-
alunos em casa. Pais março e abril correspondentes ao pacho da medida. Há limites mí-
sem teletrabalho perdem período da medida. Na quinta-fei- nimos e máximos para o que es-
um terço do rendimento. ra, a ministra do Trabalho, Solida- tes trabalhadores poderão rece-
riedade e Segurança Social deu ber. O mínimo são 438,81 euros e
IRC também vê o prazo alargado É a medida de maior impacto das conta da intenção de que “ne- o máximo 1097 euros.
para 31 de julho e o pagamento por que têm sido tomadas para salva- nhum trabalhador receba com
conta do IRC passa de 31 de julho guardar rendimento das famílias esta medida menos do que o salá- Quais os prazos
para o dia 31 de agosto. devido à pandemia do novo coro- rio mínimo nacional”. O impacto para o pagamento?
navírus. A Segurança Social prevê da medida é, na prática, dividido O governo ainda não esclareceu.
A bazuca alemã gastar até 294 milhões de euros por três. Um terço da retribuição Relativamente a outros apoios
O governo português aprovou 30 Tanto a Comissão Europeia como o com pagamento de parte das re- caberá ao Estado suportar, outro antes anunciados para suporte de
medidas para combater o surto, no Banco Central Europeu pediram munerações dos trabalhadores terço o empregador. Os trabalha- rendimento em situações de qua-
que o primeiro-ministro classificou mais aos governos. Numa pressão que se vejam forçados a ficar em dores suportarão a perda do terço rentena e doença, as datas de pa-
como “uma luta pela nossa própria sem precedentes sobre os ministros casa para assistência a menores de remanescente do salário. Será, se- gamento pela Segurança Social
sobrevivência”. Para ajudar a econo- das Finanças do euro, Christine La- 12 anos cujas escolas fecham até 9 gundo Ana Mendes Godinho, são aquelas previstas no calendá-
mia a ultrapassar esta crise, o exe- garde, presidente do BCE, pediu de abril na sequência do estado de “um esforço de todos”. rio regular das prestações sociais
cutivo de António Costa apontou mais investimento, mais gastos para alerta decretado pelo governo na quanto ao subsídio de doença –
para as empresas com linhas de cré- fazer face à pandemia que está ago- última quinta-feira. Parte equiva- Qual dos pais poderá ficar habitualmente, meados do mês
dito e prorrogação de prazos para o ra centrada na Europa, podendo, no lente deverá ser suportada pelas em casa? (o subsídio é este mês pago a 16 de
pagamento de impostos. limite, causar uma recessão no pri- empresas, com o restante impac- Será opção dos pais, mas só cabe- março). O mesmo calendário vale
Foram aprovadas duas linhas de meiro semestre do ano. to a traduzir-se na perda de rendi- rá a um dos progenitores ficar para as prestações familiares. Mas
crédito de apoio à tesouraria das em- Aos apelos de Lagarde, a Alema- mentos em um terço para aqueles em casa no âmbito desta medida ainda não é conhecido o enqua-
presas de 200 milhões de euros. nha parece ter respondido com a ar- pais que tiverem de ficar em casa – pelo menos, de cada vez. Se- dramento que terá o novo apoio
Para as microempresas do turismo, tilharia pesada. “Esta é a bazuca e va- sem opção de teletrabalho. gundo os esclarecimentos pres- extraordinário.
foi disponibilizada uma linha espe- mos utilizá-la para fazer o que for As regras da medida estavam tados pelo governo, os pais pode-
cífica de 60 milhões. preciso”, declarou o ministro das Fi- ontem ainda por publicar à hora rão prestar assistência de forma O que muda na quarentena
Foi criado um regime de lay-off nanças alemão, Olaf Scholz. de fecho desta edição, esperando- alternada, apenas nunca ao mes- ou doença?
simplificado, com apoio extraordi- A maior economia da zona euro e -se um despacho do Ministério do mo tempo. Os apoios já estavam acautelados,
nário à manutenção dos contratos o terceiro maior cliente das exporta- Trabalho, Solidariedade e Segu- mas agora há novidades. A qua-
de trabalho em empresa em situa- ções portuguesas abriu mão de qua- rança Social. Entre outras coisas, E os trabalhadores rentena suportada a 100% (por 14
ção de crise empresarial, no valor de se tudo o que tinha disponível, a co- para explicitar quem dá, e como independentes? dias) passa a estar expressamente
2/3 da remuneração, assegurando a meçar por uma liquidez ilimitada às dá, início ao processo de pedido Também serão abrangidos, mas prevista também para os traba-
Segurança Social o pagamento de empresas afetadas pelo surto. Tal di- de justificação de falta e apoios, nestes casos o salário fica reduzi- lhadores independentes (estava
70% desse valor, sendo o remanes- nheiro vai ser canalizado através do um que exigirá coordenação en- do a um terço da remuneração antes subentendida na inclusão
cente suportado pela entidade em- banco estatal de desenvolvimento – tre empregadores, trabalhadores média declarada nos últimos três de todos os trabalhadores do setor
pregadora. KfW –, uma espécie de banco de fo- e Estado. meses. O governo diz que vai ter privado) e o acesso ao subsídio de
Ainda neste âmbito da suspensão mento. As empresas também po- doença para quem fique infetado
temporária do trabalho, as empresas dem adiar o pagamento de impos- Quanto recebe quem ficar acontece a partir do primeiro dia
deixam de pagar a TSU, enquanto tos. A instituição financeira tem ga- em casa? de contágio declarado pelas auto-
estão em lay-off. É um regime exce- rantidos 460 mil milhões de euros Para quem ficar a realizar teletra- ridades de saúde. Antes, os traba-
cional e temporário de isenção do através do Orçamento do Estado, balho enquanto acompanha os fi- lhadores por conta de outrem
pagamento de contribuições à Segu- mas este montante pode ser au- lhos menores, não há perda de (público e privado) recebiam ape-
rança Social. mentado em 93 mil milhões de eu- rendimentos. A diferença estará Medida de fecho nas a partir do quarto dia de doen-
O Ministério das Finanças esten-
deu os prazos de pagamentos de im-
ros, atingindo 550 mil milhões.
A Espanha adotou medidas no va-
em trabalhar em casa, mas o salá-
rio será mantido integralmente,
de escolas exige ça, e os trabalhadores indepen-
dentes só ao 11.o dia. No subsídio
postos e outras obrigações declarati- lor de 18 mil milhões de euros. O Di- ainda que o empregador possa, “esforço de todos”, de doença, a Caixa Geral de Apo-
vas. Em causa o adiamento da pri- nheiro Vivo pediu, às Finanças, por esse motivo, decidir não atri- diz o governo, que sentações cobre as remunerações
meira prestação do pagamento es- o montante potencial que estaria buir subsídio de refeição. Quem em 90% e a Segurança Social em
pecial por conta (PEC) que passa em causa, mas não obteve resposta não tiver essa opção e necessitar prevê gastar 294 55%, nos 30 primeiros dias de
para 30 de junho. O modelo 22 do até ao fecho desta edição. de aceder a este regime extraordi- milhões com apoio. baixa médica.
08 Destaque sábado, 14 de março de 2020
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PANDEMIA ECONÓMICA

Hotéis vazios, corrida


aos supers e gasolina
a preço de saldo
Petróleo em mínimos corta preços mas arrasa a Galp. Hotelaria
Hotela
telaria e
restauração nas ruas da amargura enquanto prateleiras de comid
mida
comida
estão esvaziadas Os efeitos do vírus contaminam toda a economia.ia.
Texto: Ana Laranjeiro, Ana Marcela, Cátia Rocha, Ilídia Pinto e Joana Petiz
Soluções mais ambiciosas e à medi- de negócios e outros eventos. mia do novo coronavírus. É a maior nhece que o ciclo é “desafiante”, lojas e responder ao “aumento de
da de cada setor para evitar o desas- Se este é o cenário apenas na descida de sempre na gasolina, que mas diz-se “confiante”, dado o “per- procura” e o próprio governo a falar
tre. O discurso é comum a todas as franja de atividade da construção nas últimas três semanas já desceu fil integrado” dos negócios. em “alarme injustificado”. “Não es-
áreas de atividade num momento que se dedica aos eventos, a reali- 19 cêntimos, e tudo indica que a si- tamos na iminência de ruturas de
em que só há dúvidas quanto ao dade do setor é de desastre imi- tuação é para durar. stock dos géneros alimentícios mais
que se conseguirá preservar, numa nente. Numa altura em que o nú- “Com aquilo a que temos assis- Corrida às lojas relevantes e essenciais”, garante o
pandemia que muitos antecipam mero de insolvências em Portugal tido, a volatilidade aumenta. E a Prateleiras esvaziadas, carrinhos secretário de Estado do Comércio,
que levará à pior recessão de sem- subiu 27,8% e a constituição de decisão do presidente Trump de em fila durante metros... Há setores João Torres, pelo que “não se verifi-
pre. O desafio é gigante e não há novas empresas abrandou em impedir a entrada de europeus é em que o efeito do covid-19 é o in- cam necessidades de estabelecer
quem passe ao lado da transforma- 20%, o setor da construção não mais uma acha para a redução da verso. A generalidade dos operado- um número máximo de produtos
ção. Com o país em travagem brus- toca música diferente: até feverei- atividade económica”, diz o dire- res de retalho tem vindo a registar que podem ser comprados”.
ca, a economia tenta adaptar-se a ro, é desta área um sexto das em- tor-geral da Associação de Empre- subidas na procura. “Temos assisti- A verdade é que nem o online es-
uma nova vida – e se as medidas presas que fecharam portas. Agora, sas Petrolíferas. António Compri- do a um acréscimo significativo nas capa: entregas no próprio dia são
para conter o contágio de covid-19 entre paragens obrigatórias fruto do reconhece que, a curto prazo, vendas de artigos de primeira ne- para esquecer e, no Continente,
obrigam ao isolamento, teletraba- do plano de contenção que durará, a descida de preços pode parecer cessidade, de farmácia e básicos de uma simulação para entrega em
lho é a nova realidade de muitos no mínimo, um mês e o atraso pre- boa notícia, mas garante que arras- saúde e higiene. Algumas lojas já es- Lisboa dá o prazo de 28 de março.
portugueses. Mas há setores em visto nas grandes obras públicas, tará “impactos muito gravosos”. gotaram o gel desinfetante”, adian- Também o marketplace Mercadão,
que essa perspetiva é uma impossi- como o novo aeroporto, não se an- Que o diga a Galp que perdeu mais ta fonte oficial do Intermarché ao que assegura entregas do Pingo
bilidade. E há ainda que contabilizar tecipa boas notícias numa área que de cinco mil milhões em bolsa nos Dinheiro Vivo. O mesmo admite o Doce, já indica “várias zonas em
efeitos cruzados. já registava abrandamento. últimos dois meses, estando em Lidl, com “mais afluência às suas lo- que o serviço não garante a entrega
mínimos de 8,50 euros/ação, jas, assim como do volume de com- nos dias seguintes”. O marketplace
o que representa uma queda sema- pras em diversas categorias”. “Esta- tem vindo a registar subidas de
Obras suspensas Combustíveis a cair nal de 25% (-40% em 2020). mos há várias semanas a trabalhar 30% no seu volume de negócios,
“O cancelamento de mais de 680 Abastecer o carro a partir da próxi- “A Galp vai ser impactada negati- com fornecedores e parceiros para mas na última semana, adianta o
eventos põe em risco mais de 2 mil ma segunda-feira vai custar, em vamente não só pela exposição ao garantir a chegada de produtos e CEO, Gonçalo Soares da Costa, teve
postos de trabalho diretos e ameaça média, menos 12 cêntimos por litro mercado brasileiro, onde as mar- proporcionar uma normal expe- um pico de mais dez pontos percen-
uma atividade que fatura 300 mi- na gasolina. É uma poupança de 6 gens estreitaram significativamen- riência de compra aos portugue- tuais face a igual período do ano
lhões de euros/ano”, alerta a Asso- euros num depósito de 50 litros (4 te e podem dar lugar a perdas, mas ses”, diz a cadeia alemã com mais de passado. “Tivemos um crescimento
ciação dos Industriais da Constru- no gasóleo), uma descida histórica também pelo abrandamento ou re- 250 supers. também do valor da cesta média.”
ção Civil e Obras Públicas, após que resulta da quebra das cotações cessão devido ao covid-19. Falta sa- Antecipando o isolamento força- “Nesta semana tem-se verificado
uma reunião com empresas que se do petróleo nos mercados interna- ber até que ponto esta cotação espe- do, os portugueses protagonizaram um aumento nas vendas online
dedicam a atividades associadas à cionais, devido à guerra de preços lha esses impactos, se já desconta uma corrida aos supermercados, acompanhando a tendência verifi-
construção e montagem de stands e entre Rússia e Arábia Saudita, agra- notícias negativas que possam sur- mesmo com o setor do retalho ali- cada na loja física”, confirma tam-
à prestação de serviços no âmbito vada pelos receios do abrandamen- gir”, diz Paulo Rosa, economista do mentar a assegurar ter capacidade bém fonte oficial do Intermarché.
de exposições, feiras internacionais to económico decorrente da pande- Banco Carregosa. A petrolífera reco- para manter o abastecimento das “Com picos de procura, os clientes
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são avisados dos eventuais condi- comerciais e fazer face a responsabi- que vão afetar mais o setor, como O número pode aumentar depois à distância.” O mesmo tem feito a
cionalismos na entrega.” lidades financeiras com a banca, o encerramento de discotecas e as de o presidente dos EUA ter proibi- Adecco: “Temos procurado imple-
defende Francisco Rebelo de An- restrições nos restaurantes. Antes do a entrada de cidadãos do espaço mentar soluções para as entrevis-
drade, empresário que gere quatro de a epidemia chegar em força à Schengen. Sem adiantar números, tas, como o uso de videoconferên-
Epidemia no turismo restaurantes em Lisboa, dois no Europa, a associação estimava que a companhia liderada por Anto- cia e Skype”, assume a diretora-ge-
Voos cancelados, camas vazias, re- Terreiro do Paço. “A quebra no con- o setor precisava de mais de 40 mil noaldo Neves assume que a não ral, Carla Rebelo.
feições por servir e espaços cultu- sumo é evidente, o prejuízo é trans- pessoas. “As empresas que anteci- realização destes voos terá efeitos Mas entre lay-off, quebras de
rais e de entretenimento fechados. versal a todos os agentes económi- param movimento com reforço de na receita e já determinou a sus- consumo e receitas, ainda se recru-
A cada semana que passa os prejuí- cos e, portanto, tem de ser assumi- pessoas vão ter um problema mais pensão de todos os investimentos ta? “Estamos mais cautelosos, mas
zos para as empresas do turismo so- do por todos”, defende. grave. Sem procura, o que vão fa- não críticos, bem como a revisão e é business as usual”, diz Inês Velo-
bem, acompanhando a evolução da A AHRESP – associação que re- zer aos trabalhadores?” Se não corte de despesas não essenciais so, lembrando que as crises trazem
epidemia, com a suspensão de via- presenta a hotelaria e a restauração houver apoios, irão perder-se 200 para o negócio e a suspensão de oportunidades: “Há, por exemplo,
gens a traduzir-se numa quebra da – assegura ao Dinheiro Vivo que mil empregos no setor, alerta a as- contratações. empresas a precisar de call centers e
procura que contagia sem dó, des- desde que se tornou claro que o se- sociação PRO.VAR – Promover e linhas de apoio para informar clien-
de as companhias aéreas obrigadas tor ia ser contagiado “pediu ao go- Inovar a Restauração Nacional. tes e há sempre negócios a crescer.”
a cancelar voos aos hotéis vazios. verno que tomasse medidas que Se os despedimentos poderão ser Recrutamento virtual A Manpower diz que “ainda é cedo
Antecipando o pior, as empresas pudessem minorar os impactos”. inevitáveis, a desistência de con- Deslocação, apertos de mão, con- para determinar o impacto” do ví-
destas áreas estão a criar soluções Isso explica, diz Ana Jacinto, líder da tratações é certa. O presidente da versa... Mas com o vírus na equa- rus nesta área. Ainda não sente
como lay-offs temporários ou gozo associação, a aprovação de um apoio AHP, Raul Martins, admite mesmo ção, os principais players no recru- “um abrandamento nos processos,
antecipado de dias de férias, mas, se de tesouraria para o setor. “Mas não que, dos cem mil trabalhadores da tamento já tomaram medidas que mas é muito cedo para chegar a
a crise se prolongar, serão pouco chega. Fizemos um conjunto de hotelaria em Portugal, 30 mil em vão do trabalho remoto ao recruta- esta conclusão”, concorda Paula
mais do que pensos rápidos em propostas, incluindo a questão das regime de extras não vão entrar. A mento sem contacto físico. “A en- Baptista, da Hays, que também faz
membros amputados. rendas, para que pudéssemos en- associação estima prejuízos de 800 trevista presencial passa a ser exce- “o contacto através das platafor-
Sem portugueses ou turistas, contrar outro tipo de soluções e milhões, só de 1 de março a 30 de ção”, indica Inês Veloso, diretora mas digitais”. Só a Mercer indica
também os restaurantes estão a so- apoios.” A AHRESP põe as quebras junho, contando que o setor tenha de marketing e comunicação da que o plano de recrutamento para
frer duramente. “A única maneira nas taxas de ocupação na hotelaria uma quebra de cerca de 50%. Até Randstad Portugal. A empresa já ti- 2020 pode mudar. “Nos processos
de limitar perdas seria um esforço acima dos 40%. “Estamos a falar de dia 9, as unidades hoteleiras já ti- nha uma plataforma de entrevis- em curso, estamos a dar seguimen-
concertado entre instituições fi- reservas imediatas e período da Pás- nham registado mais de 350 mil tas online, que agora ganhou peso. to”, explica Tiago Pimentel, head of
nanceiras, governo e senhorios para coa, mas há também cancelamen- noites canceladas. “Não faz sentido pedir às pessoas marketing and communications,
conceder condições aos empresá- tos para o verão. E a restauração está O panorama para as companhias para vir a entrevistas, salvo algu- nos novos, “vamos fazer um freeze
rios que lhes permitissem lidar com com o mesmo nível de prejuízos.” aéreas é igualmente desolador, mas exceções – há candidatos que devido ao período de incerteza que
os problemas”, nomeadamente o Entre as medidas anunciadas com a TAP a confirmar o cancela- podem não ter acesso a tecnologia estamos a viver e a prioridade de
pagamento de rendas dos espaços pelo governo contam-se algumas mento de 3500 voos até maio. e não consigam fazer a entrevista salvaguardar a saúde das pessoas”.
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Negócios
INVESTIMENTO

“Vamos ter oportunidades


e as pessoas vão investir”
O coronavírus foi “a ignição de uma grande crise financeira”. Mas em Portugal
a situação não é tão preocupante como em Espanha. Texto: Elisabete Tavares
“O mercado acionista é virtual” e
apenas quem investe na economia
Fundos Apostar
real vai conseguir resistir à nova com cautela
crise financeira mundial. O aviso é e na economia real
de Frédéric Puzin, presidente da
Corum Investments, que gere A Corum Investments tem vindo
fundos num valor global de 3,6 mil a investir em Portugal desde
milhões de euros. “Penso que uma 2012. Investiu mais de 60 mi-
boa situação, neste momento, é lhões de euros em 11 edifícios
não se ter dívida e estar a investir desde 2014. O seu negócio con-
na economia real. Claro que todos siste em arrendar edifícios a
vamos sentir o impacto, mas vai grandes empresas e depois paga
haver um recomeço.” aos investidores dos fundos sob
O Dinheiro Vivo entrevistou a forma de dividendos mensais.
Puzin na manhã de um dos piores Entre os seus arrendatários es-
dias de sempre nas bolsas mun- tão o Pingo Doce e o grupo Ru-
diais. Uma quinta-feira negra. Foi mos. A Corum começou a co-
pior do que no início da crise finan- mercializar dois dos seus fundos
ceira de 2008. “Estamos no limite de investimento imobiliário em
de um grande crash”, profetizou o Portugal em 2019, ano em que
presidente da Corum. abriu o escritório no país. O re-
A empresa francesa (Corum) in- torno anual de cada fundo su-
veste em imobiliário comercial pera os 6%. Atraiu até hoje 105
através dos seus fundos e a renda investidores em Portugal e um
que recebe dos locatários é distri- investimento de sete milhões de
buída pelos investidores mensal- euros.
mente, sob a forma de dividendos. Frédéric Puzin, presidente da Corum Investments. FOTO: REINALDO RODRIGUES/GLOBAL IMAGENS
O retorno anual dos dois fundos
que comercializa em Portugal tem hotel em Itália. Tenho hotéis va- ponível vai mudar. “Vai haver foi talvez um pouco longe. Dema-
superado os 6%. liosos na Finlândia, perto do Polo muito menos dinheiro e os inves- siado dinheiro a entrar no país.”
A Corum investe no mercado Norte. Comprar hoje um hotel em tidores vão procurar ativos segu- “Se esses investidores tiverem
imobiliário comercial em 16 paí- Itália é uma boa operação: todos ros”, alertou. problemas, podem deixar de inves-
ses europeus. Começou a com- querem vender por nada. Pode ser tir ou mesmo desinvestir”, avisou.
prar imóveis em Portugal em uma boa operação, mas temos de Bolha em Portugal? “Mas os fundamentais da econo-
2012, quando o país estava sob se esperar”. Para Puzin, o surto de coronavírus mia portuguesa estão estáveis.
resgate internacional e a viver O mesmo acontece no Reino “foi a chave de ignição de uma Vão talvez ter um ajustamento.”
uma crise profunda. “Sim, adora- “Temos de comprar Unido, que tem registado a saída grande crise financeira”. E aconte- Quanto a Espanha, tem outra
mos” uma crise, assumiu. “Todos de investidores devido ao brexit. ce quando o mundo vive um cená- perspetiva. “Em Espanha, em
os dias nos preparamos para uma
quando tudo “Temos investido imenso no Rei- rio de preços inflacionados em vá- 2008 rebentou tudo. E vai verifi-
crise. Investimos no longo prazo. ‘crashou’, temos de no Unido”, garantiu. E sugere que rios tipos de ativos, das ações aos car-se a mesma situação em bre-
Temos de comprar quando tudo
crashou, temos de esperar um
esperar um pouco. a opção é não seguir o comporta-
mento de manada. “Todos pensam
imóveis.
Em Portugal, o mercado imobi-
ve”, afirmou. A nível global, apon-
tou que o mundo vai estar sob o
pouco. Depois há uma recupera- Em Portugal, fizemos a mesma coisa ao mesmo tempo. liário vive uma era de boom. Puzin efeito da epidemia durante um
ção. Em Portugal fizemos isso, isso, esperámos Quando se tem uma situação acredita que não se trata de uma ano e há dois cenários para a crise
esperámos um pouco”. como o brexit, temos de sair, é o bolha, mas de preços inflacionados financeira: ou será em V, com uma
E dá o exemplo de Itália, um dos um pouco”. que pensam.” pelo interesse de investidores es- recuperação rápida, ou uma desci-
países mais afetados pelo surto de —FRÉDÉRIC PUZIN Mas Puzin avisa que o ambiente trangeiros, sobretudo no segmen- da em queda livre. A Corum esta-
coronavírus. “Não tenho nenhum Presidente da Corum Investments de enormes fluxos de dinheiro dis- to residencial. “Penso que Portugal rá atenta para comprar.
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Revolução 4.0
muito forte”, explica José Manuel
Mendonça, que destaca a impor-
tância das tecnologias 4.0 nos proje-
tos ali desenvolvidos.
Neste âmbito, o INESC-TEC tem
desenvolvido, entre outros, mode-
los de gémeos digitais – digital twin,
um modelo informático que replica
no computador o funcionamento
de uma fábrica atuando no apoio à
gestão e decisão – para empresas
como a Fly London ou IKEA, ou
projetos na área da cooperação ho-
mem-robô, como o desenvolvido
para a Renault Europa que visa um
processo colaborativo na monta-
gem do interior de um dos modelos.
Em todos eles, independente-
mente da dimensão da empresa –
que deve ter uma ideia muito clara
do que pretende, criando antecipa-
damente um roteiro de investi-
mento –, o envolvimento desta no
processo é sempre necessário.
A JPM – Automação e Equipa-
mentos Industriais, empresa de
Vale de Cambra vencedora do Pré-
mio PME Inovação COTEC-BPI,
sempre viu a inovação como forma
de agregar valor. A relação com os
No INESC TEC faz-se investigação a pensar na relevância social e impacto económico dos projetos. FOTO: IGOR MARTINS/GLOBAL IMAGENS centros de saber iniciou-se assim
que a empresa, criada em 1994
PARCERIAS numa garagem, conseguiu a massa
crítica suficiente para o fazer. “Foi

Centros de saber e empresas, uma uma decisão muito importante.


A empresa nunca teve uma postu-
ra fechada e cedo percebeu que isso

relação em que todos ganham era algo que gerava valor. A aproxi-
mação às universidades vem no se-
guimento deste raciocínio já que
nos dava a possibilidade de nos con-
frontarmos com pessoas com uma
forma de pensar diferente e de nos
Trabalho conjunto entre empresas e universidades permite criar valor para ambas sentirmos desafiados pelos proces-
as partes, e funciona como mecanismo de financiamento da investigação. sos em que nos fomos envolven-
do”, recorda Miguel Henriques,
A parceria entre as universidades e instalado na Universidade do António Cunha sublinha que a recimento das relações entre as em- board member da empresa.
os centros de Investigação & De- Minho e presidido por António estratégia de investigação e inova- presas e as instituições de I&D. As A JPM desenvolve a sua relação
senvolvimento (I&D) e o tecido Cunha, esta relação é a sua própria ção está presente mesmo nas pe- boas soluções são resultado de um com universidades e centros tecno-
empresarial revela-se uma relação razão de ser. “O CoLab está instala- quenas empresas. Contudo, deixa trabalho conjunto que vai sendo lógicos segundo três perspetivas:
win-win. Se as empresas ganham do na universidade mas é uma ins- um alerta: “Só faz sentido uma em- elaborado e que demora sempre melhorar processos organizativos
em termos de posicionamento na tituição marcadamente liderada pe- presa empenhar-se em projetos de dois a três anos a dar resultado”, diz. internos, desenvolvimento de tec-
cadeia de valor e dos próprios resul- las empresas e com uma agenda de I&D se a posição que tem nas ca- “O modelo do INESC TEC sem- nologia que possa ser útil para a em-
tados, do lado da academia as vanta- investigação consubstanciada num deias de valor em que está envolvi- pre foi fazer investigação aplicada, presa ou para os seus clientes e de-
gens também se multiplicam. Esta road map tecnológico a quatro ou da lhe permitir fazê-lo. Mas é um dirigida à relevância social e ao im- senvolvimento de produto.
relação não só permite uma cons- cinco anos feito em sintonia com as pouco como uma ‘pescadinha de pacto económico mas também fa- Para Miguel Henriques é essen-
tante atualização dos grupos de in- empresas associadas”, esclarece An- rabo na boca’: para subir na cadeia zer transferência de tecnologia, pas- cial que este tipo de relação seja
vestigação mas também funciona tónio Cunha, para quem os desafios de valor é preciso ter I&D, mas se sar para a sociedade, para as empre- assente no valor criado e, no caso
como mecanismo de financiamen- colocados na tentativa de resposta não tiver I&D não sobe. É preciso sas, os resultados dos projetos de in- da JPM, os ganhos são evidentes.
to e assegura uma maior prosperi- às necessidades das empresas vão conseguir quebrar este círculo.” vestigação. No fundo ter uma ca- “Desde a classificação dos projetos
dade económica à região, garantin- muito para lá da componente tec- O que, de acordo com António deia de valor e evitar o ‘vale da mor- em que estamos envolvidos, a va-
do-lhes um futuro mais promissor. nológica. “A transformação digital Cunha, poderá ser feito quer atra- te’ onde jazem os esqueletos dos lorização das vendas que vêm
No caso de centros de investiga- está a alterar o modelo de negócio vés de constituição de parcerias, projetos de investigação que não através deles, a valorização dos
ção como o INESC TEC, presidido das empresas o que faz que a nossa conquista de massa crítica ou da servem para nada. Trabalhamos de projetos de inovação em que par-
por José Manuel Mendonça ou pelo articulação com a estratégia das em- aposta em estratégias de diferencia- acordo com este paradigma em to- ticipamos, tudo isso tem a inova-
CoLab em Transformação Digital, presas tenha de ser total.” ção. “Isto pressupõe algum amadu- das as áreas sendo a da indústria ção por base.”
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ENTREVISTA

Alexandre Meireles “Apoios não vão


chegar, mas são ponto de partida”
Novo presidente da associação dos jovens empresários admite que as empresas vão precisar de mais
ajudas, mas que o momento atual é de preocupação com a saúde e com a contenção da doença.
—ILÍDIA PINTO citar de modo a saberem até como
ilidia.pinto@dinheirovivo.pt podem chegar aos apoios.
Os apoios ao empreendedorismo
Alexandre Meireles, o novo presi- em Portugal são os adequados?
dente da Associação Nacional dos O acesso ao capital é difícil. A ban-
Jovens Empresários, está apostado ca não está muito preparada para
em torná-la, de novo, um hub de re- apoiar os jovens empresários, exige
ferência do empreendedorismo em sempre três anos de IES (informa-
Portugal, através do apoio a star- ção empresarial simplificada) e coi-
tups de setores tradicionais, low sas desse género. Os fundos estru-
tech, incentivando a digitalização e turais existem mas são sempre
capacitando os empresários com muito burocráticos. O que nós que-
ferramentas necessárias, por via da remos é ajudar as pessoas a pensa-
ANJE Business School. rem o seu negócio, a delineá-lo
mentalmente, independentemen-
O Portugal Fashion está a come- te de haver linhas de apoio ou não.
morar o seu 25.º aniversário Para as tecnológicas há os busi-
num ano particularmente desa- ness angels, como convencê-los a
fiante. O evoluir da pandemia do investir no low tech?
Covid-19 obrigou ao cancela- Temos de criar projetos sólidos de
mento dos desfiles, que deve- raiz, dar-lhes as ferramentas, tudo
riam estar a decorrer neste fim o que foi feito no tecnológico. En-
de semana, mesmo depois da de- siná-los a fazer um business plan,
cisão de os fazer à porta fechada. um pitch, a serem melhores gesto-
Que prejuízos traz uma decisão res e, aí sim, as coisas vão aparecer.
destas? Claro que os apoios são sempre
O Portugal Fashion é um evento bem-vindos, mas acredito que a
profissional, para profissionais, e o capacitação dos empresários é o
que mais nos preocupou, até aqui, mais importante nesta fase. Há

IGOR MARTINS/GI
foi sobretudo o impacto que o can- muitas empresas familiares a fazer
celamento de desfiles teria nas es- a transição geracional e queremos
tratégias de negócio dos nossos de- aproveitar essa nova geração para
signers e marcas. Foi esse o nosso os ajudar a fazer a transformação
foco, bem como um grande sentido digital. Quem não o fizer vai ter
de responsabilidade relativamente que com o profissional. Os efeitos parceiros. muita dificuldade em sobreviver.
a uma questão que é de emergência Perfil O engenheiro que far-se-ão sentir mais para a frente. Vai funcionar no Porto ou tam- Há dias, o primeiro-ministro pe-
nacional e de saúde pública. Posto Tomou posse há menos de um bém em Lisboa? dia salários mais altos para evitar
isto, perceberemos [mais tarde] o trocou as máquinas mês e anunciou, então, a inten- Não queremos um espaço físico a fuga de cérebros. Concorda?
que ficará em causa do ponto de pelas pessoas ção de voltar a fazer da ANJE um com uma escola de negócios tradi- É um caminho que tem de ser fei-
vista de investimentos, acreditan- hub de referência do empreen- cional, queremos ter os meios para to, de forma bem pensada e estru-
do que o Governo, que sempre nos Licenciado em Engenharia Eletro- dedorismo em Portugal. Como? capacitar os jovens empresários em turada.
apoiou durante este processo, esta- técnica, a previsibilidade das má- A ANJE nasceu, há mais de 30 anos, todo o país. Já a CGTP veio dizer que espera
rá também atento às necessidades quinas levou o coordenador da e tinha na sua génese o apoio aos A ideia será fazer uma parceria que, a curto prazo, o salário mí-
que se seguirão para apoiar as em- divisão de energia da Mota-Engil jovens empresários. Depois, come- com alguma escola de negócios? nimo seja de 850€. É exequível?
presas e projetos lesados. a trocar a estabilidade do traba- ça a fazer o Portugal Fashion e, al- Com uma ou várias. Nacionais ou Qual é o curto prazo? Se for daqui
O governo anunciou um pacote lho por conta de outrem pelo de- gures no tempo, ficou quase resu- internacionais. Estamos a traba- a meio ano, não, não é. Se for daqui
de medidas de apoio às empresas safio do empreendedorismo. mida a isso. A direção passada, que lhar nisso. a cinco... A verdade é que se estivés-
para ajudar a mitigar os efeitos Com a NY Sliders prosseguiu o eu já integrava, apresentou uma es- Porquê esta aposta no low tech? semos a ter esta conversa há duas
do coronavírus. São apropriadas? ramo familiar da restauração, tratégia, que vamos executar, as- Porque há muita gente a fazer coi- semanas, provavelmente as mi-
É tudo muito recente. Tenho dúvi- projeto de êxito mas que, com a sente em três pontos: a aposta no sas muito bem feitas no apoio às nhas respostas seriam diferentes.
das se irão chegar, mas penso que, expansão, desmoronou. Foi essa empreendedorismo low tech, o startups de base tecnológica, mas Falar então do peso dos impos-
como ponto de partida, são um a sua “escola empresarial”, uma apoio para a transição digital e a ca- há um vazio no apoio aos empresá- tos também é extemporâneo...
bom caminho. Falta saber, depois, experiência “muito dura”, mas pacitação dos empresários, através rios nos setores mais tradicionais. A carga fiscal é alta e claro que se
como é que as empresas vão efeti- que lhe permite dizer que é, “se- da ANJE Business School. Não sei Falamos na moda, mas também gostaria que o Governo tentasse
vamente conseguir aceder a elas e guramente, melhor empresário se vai ser esse o nome, apenas que restauração, turismo, ourivesaria, aliviá-la, principalmente para jo-
com que celeridade. hoje do que era há cinco anos”. será uma escola de negócios. calçado da indústria mais tradicio- vens que estão a começar a cons-
Como é que os vossos associados Lançou, entretanto, a My’Kai Vai nascer quando? nal. Sentimos que há aí muito para truir uma empresa de raiz. Mas,
têm encarado o tema? Poké Bowls e é diretor executivo É nossa intenção que seja lançada fazer. Há muita gente com exce- nesta fase, é mais importante con-
Acho que as pessoas, neste mo- da Psicoespaço, uma rede de oito durante o nosso mandato, quando lentes ideias, mas que tem dificul- centrarmos esforços na situação
mento, estão mais preocupadas clínicas fundada pela sua mãe. não sei. Estamos numa fase muito dades em concretizá-las num plano atual [do Covid-19] porque as em-
com o plano pessoal e de saúde do É adepto da corrida e do padbol. inicial, com reuniões com alguns de negócios. Precisamos de as capa- presas vão precisar de apoio.
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ANÁLISE
ALBERTO
CASTRO
MARL
CONVERSAS GRUPO SIMAB
Chão comum A engenheira que trocou
a eletrónica pelos legumes
A
desigualdade vai muito para lá das polé-
micas sobre disparidades de rendimento
e riqueza que ocupam os media, descen- Nos anos 80, a mãe de Sandra Figueiredo deu os primeiros passos,
trando o olhar da natureza endémica do criando a empresa que a filha acabaria por tomar as rédeas.
problema e, no fundo, acabando por jus-
tificar a intrusão estatal, mais ou menos confiscató- Decorria a década de 80 do século
ria. XX quando a mãe de Sandra Fi-
Em alternativa, foquemo-nos em dois aspetos con- gueiredo mostrou ter “uma visão
cretos, causa e manifestação dessa disparidade: a saú- extraordinária”, como descreve a
de e a educação. Os mais pobres têm níveis de educa- filha. Começou a trabalhar com
ção formal baixos e, mesmo esses, são mais formais chefs de cozinha de hotéis em Lis-
do que reais: muitas das escolas que puderam fre- boa, preparando alguns alimen-
quentar são fracas e as competências adquiridas limi- tos. “Na altura era muito vulgar
tadas. Na saúde a situação não melhora: a obesidade vender ervilhas e favas ainda na
infantil e a diabetes têm maior incidência entre os jo- vagem, a minha mãe já as descas-
vens carenciados; as maleitas acompanham-lhes a cava e vendia assim.” Foram os
vida e, quando atingem a primeiros passos do que haveria
“Se, com Orwell, idade de reforma, têm
uma esperança de vida
de ser uma empresa de quarta
gama. A agora sócia-gerente recor-
considerarmos parca e uma qualidade de da na sua infância ver os empre-
que a decência é vida má. Fruem pouco da gados a descascar ervilhas, favas,
reforma. No limite, o que grelos, espinafres... Quando a mãe
um chão descontaram funciona faleceu, há dois anos, Sandra Fi-
civilizacional como subsídio às pensões gueiredo não hesitou. “Larguei
dos mais educados e de toda a minha vida e agarrei a em-
comum; se maior nível de rendimen- presa que a minha mãe fundou.”
tivermos um to, numa política objetiva- Engenheira de telecomunica-
pingo de mente regressiva. Uma in- ções no ramo da eletrónica, Sandra
decência. Figueiredo, de 45 anos, assume
vergonha, tem de Estas desigualdades vêm não só funções administrativas,
ser possível desde a nascença e ten- como, sempre que necessário, está
dem a persistir, quando presente na produção. As origens
desenhar um não a agravar-se, ao longo da empresa Maria Augusta Nunes
conjunto da vida, numa espiral vi- Ribeiro Esteves & Filhas remon-
integrado de ciosa e degradante, de que tam à avó e bisavó da sócia-geren-
a condição económica é te, que já comercializavam frutas e
políticas expressão e motor. O ele- legumes. “A minha mãe, desde
estruturais que vador social está avariado. muito cedo, começou com uma
Família, vizinhança, esco- banca no mercado 21 de Janeiro
alterem o atual las, empresas são fatores [em Lisboa]”, recordou. A relação Sandra Figueiredo quer apostar na fruta. FOTO: DIANA QUINTELA/GI
estado de coisas.” da segregação e desespe- com alguns chefs permitiu o cresci-
rança, com expressões vá- mento do negócio. Em novembro vantagem estarmos juntos dos pessoas serem assíduas e responsá-
rias, entre as quais o vício do jogo, visto como a últi- de 1991 nasceu a empresa. Mais tar- nossos fornecedores. A capacidade veis. Contratamos e hoje aparecem
ma e única oportunidade de promoção social, jogo de, a irmã Elvira Figueiredo acaba- de compra, a logística associada, e amanhã não”, desabafou. “Na
esse que é, mais uma vez, objetivamente um imposto ria por ter a sua própria empresa de é tudo muito mais fácil. Nós conse- quarta gama, quando entra al-
regressivo. Uma indecência. quarta gama. guimos chegar primeiro aos produ- guém, tem pelo menos uma sema-
Se, com Orwell, considerarmos que a decência é São uma vintena os clientes com tos mais frescos.” na de formação. Tem de se saber
um chão civilizacional comum; se tivermos um pingo maior peso na faturação. “Nós con- Quando se questiona qual é o fa- cortar, lavar, acondicionar. Muitas
de vergonha, tem de ser possível desenhar um con- tinuamos nos três catering de avia- tor diferenciador da Maria Augusta vezes termina a formação e a pes-
junto integrado de políticas estruturais que alterem o ção que existem em Portugal. Te- Nunes Ribeiro Esteves & Filhas, soa acaba por ir embora e temos de
atual estado de coisas. Políticas fundadas nas melho- mos hotéis e restaurantes e depois a resposta é imediata. “A forma ar- voltar a contratar e a formar.”
res práticas, focadas nas pessoas e nas suas condições temos uma cadeia de distribuidores tesanal como fazemos as coisas. Atualmente conta com 23 em-
e modos de vida, instituindo as condições necessárias dentro do MARL que vêm aqui Marca a diferença. Nós temos algu- pregados. Para 2020, Sandra Figuei-
para que a “grande divergência”, como lhe chama o comprar e levam o nosso produto”, mas máquinas que nos ajudam na redo tem um plano a concretizar:
Banco Mundial, possa ser revertida. Há já bons exem- explicou. É também no Mercado produção, mas maioritariamente “Vamos apostar bastante na fruta.
plos, com mais ou menos Estado. Que, entre nós, não Abastecedor da Região de Lisboa, os produtos são feitos pela nossa Até agora tinha sido muito os legu-
se chegue a um acordo, que nem sequer se tente, é onde a empresa está instalada des- mão.” No entanto, os recursos hu- mes. Cubos de fruta, aqueles copi-
uma indecência. de 2010, que Sandra Figueiredo vai manos acabam por ser uma das di- nhos prontos a comer, como abaca-
Economista e professor universitário buscar os produtos. “É uma grande ficuldades. “É bastante difícil as xi, meloa, quivi, laranja, melão...”
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Fazedores
Unbabel é uma das Game Jam vai criar Vale do Tua apoia
mais inovadoras soluções sustentáveis empreendedorismo
A startup portuguesa Unbabel, que Chama-se Game Jam 1.0 e é o pri- O Parque Natural Regional do Vale
www.dinheirovivo.pt alia a inteligência artificial de últi- meiro jogo online português que do Tua apoia com vários progra-
Leia as últimas notícias ma geração com pós-edição hu- procura soluções para o desenvol- mas o empreendedorismo e proje-
sobre fazedores, mana à tradução automática, foi vimento sustentável. Esta competi- tos empresariais novos e vai candi-
conheça novas ideias eleita como uma das empresas ção junta programadores, de- datar-se ao programa nacional
e saiba passo a passo mais inovadoras do mundo em signers, artistas, escritores e entu- Startup Voucher para ser o primei-
o que precisa para criar 2020 na lista anual da revista Fast siastas de jogos, que vão criar a ro organismo do género com um
o seu negócio Company – World’s Most Innovati- melhor solução. A supervisionar as centro de apoio ao empreendedo-
ve Companies for 2020. propostas está a startup Taikai. rismo regional.

Not Yet Famous


A marca
com consciência
ecológica que
só verá nas lojas

SARA MATOS/GLOBAL IMAGENS


Filipa Silva lançou há um ano a linha
de roupas e acessórios sustentáveis que
só se vendem em lojas físicas “à antiga”. Filipa Silva trabalhou uma década em publicidade. Escritora e empreendedora, lançou a sua marca há um ano.

—ANA LARANJEIRO mas se integrassem no meu estilo biológicos são caros.” A empreen- lojas físicas. “Não quis criar mais novo mercado: Espanha. “No pri-
ana.laranjeiro@dinheirovivo.pt mais urbano e contemporâneo. dedora não queria que estes produ- uma marca que fosse inundar to- meiro ano consegui angariar 18 lo-
Normalmente, nas marcas que tos fossem feitos à base de plástico, dos os espaços e que todos tives- jas. Gostava de aumentar. E tam-
Not Yet Famous. É esta a frase que existem, ou há coisas muito clássi- mas ambicionava que fossem mais sem t-shirts iguais. Quis criar uma bém expandir o negócio. Tenho já
serve de chapéu à marca de roupa cas ou muito hippies”. baratos do que os das chamadas certa exclusividade, não apenas no contactos com Espanha. Mas como
e acessórios que a empreendedora O primeiro passo nem foi o lan- marcas premium, o que dificulta a preço mas também pelo canal. O sou só eu, tem de ser passo a passo.
Filipa Silva criou há um ano. São çamento do seu próprio negócio, produção em solo nacional. online leva a compras por impulso; A ideia é também alargar a oferta,
T-shirts, óculos de sol e acessórios foi criar uma linha de t-shirts. Com O objetivo da coleção é que seja estamos em frente ao computador, por exemplo a vestidos de algodão,
que, além de uma vertente ecológi- um passado ligado à criatividade e composta por peças intemporais. é barato e compro. Uma compra in cumprindo a assinatura que tem a
ca, se inserem no movimento slow à publicidade, há dois anos Filipa “Os modelos não são da moda. loco é mais ponderada e também marca: produtos básicos, intempo-
fashion, que advoga princípios decidiu mudar de vida e abandonar Criamos modelos clássicos, inspira- cria mais ligações com os lojistas e rais, com qualidade.”
como a boa qualidade dos materiais o mundo dos anúncios para cons- dos no dos anos 1950 e 1960, para incentiva o comércio local.” Fundada com capitais próprios, a
e um reposicionamento das estra- truir algo seu. Assim nasceu o pro- criar uma peça que possa durar Presente em 18 lojas – de Braga empreendedora assume que vai
tégias de design, produção, consu- jeto. T-shirts, bonés, óculos de sol e quer pelo material e qualidade, até Lagos, tendo já duas fora do precisar de ajuda. “Para já, consigo
mo e uso da moda. É um contra- correntes são todos criados por Fi- quer pelo design. Queremos criar país, na Alemanha –, Filipa quis dar conta do recado. O primeiro
ponto à chamada fast fashion, pro- lipa Silva. As camisolas e os bonés produtos sustentáveis acessíveis.” apostar em “lojas à antiga, em que ano foi o de maior investimento
dutos que são apresentados nos são 100% algodão orgânico e a pro- o dono está lá e é a pessoa que dá a sobretudo em material. Neste se-
desfiles de moda e que rapidamen- dução das t-shirts é realizada por Comércio tradicional cara. Queria com a minha marca gundo ano é mais comercial, de an-
te chegam ao consumidor final. uma fábrica em Portugal. O mesmo Se nos dias que correm o lança- mostrar que há uma maneira dife- gariar mais lojas. Vou mesmo bater
“Sou consumidora de tudo quan- não acontece com os óculos, uma mento de uma nova marca, vem rente de fazer as coisas; continuar a à porta. Vou precisar de, eventual-
to são produtos ecológicos e bioló- vez que a fazedora fazia questão de necessariamente acompanhado de consumir sem sermos consumis- mente, ter alguém que me ajude.”
gicos – da comida à cosmética – e o que estes respondessem a duas uma página online onde é possível tas”. E não quer ficar por aqui. A médio prazo, Filipa sonha ain-
que sempre senti foi uma dificul- questões: sustentabilidade e preço. comprar os produtos, este não é o A empreendedora quer alargar a da ter uma loja própria em Lisboa:
dade grande em encontrar roupa e “Os óculos são produzido na Chi- caso. Com 12 meses de vida, a Not rede de lojas em que a marca está “É a forma de se passar verdadeira-
acessórios que fossem sustentáveis na... é que os produtos ecológicos e Yet Famous só tem presença em presente e estuda também um mente o conceito da marca.”
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Buzz
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PUBLICIDADE
MANUEL
FALCÃO

Covid-19, publicidade
e um apelo nacional
Missão ExoMars Super Mario ganha

É
adiada até 2022 vida em Lego
A missão que quer colocar um rover A Nintendo e a Lego juntaram-se ainda muito cedo para reagir sobre os
www.dinheirovivo.pt em Marte não acontecerá neste ano, para criar novos sets temáticos, que efeitos do covid-19 nas atividades econó-
Leia a versão integral conforme era planeado. A Agência dão uma vida mais interativa a Super micas em geral e na indústria publicitária
destas e de outras Espacial Europeia e a russa Roscos- Mario, o canalizador mais famoso do em particular. Já é, no entanto, patente
notícias no nosso site mos anunciaram o adiamento da mundo. Além de ganhar um formato que um conjunto de marcas e anuncian-
missão até 2022, algures entre agos- em blocos de Lego, estas versões tes estão a alterar aquilo que tinham previsto. Há
to e outubro desse ano. As agências vão ainda ter uma componente tec- informação sobre cancelamentos de campanhas –
referem que precisam de mais tem- nológica. Os novos sets são lançados nomeadamente as ligadas à realização de eventos,
po para testes. ainda neste ano. feiras, conferências, espectáculos. Mas também as
que têm que ver com alguma atividade sazonal es-
pecial no próximo período da Páscoa.
É impossível quantificar o que isto vai significar

Publicidade Segunda metade – o simples cancelamento dos jogos da Liga impli-


ca não só a não concretização das ações publicitá-
rias dentro dos estádios mas também a publicidade

do ano ditará quão fundo irá cair nas transmissões televisivas. É muito provável que
se mais medidas de restrição de circulação forem
tomadas haja meios que ganhem relevância –
como a televisão, o digital e a rádio – e outros, no-
meadamente o outdoor, que percam capacidade de
comunicação porque é expectável uma diminui-
Só nos eventos cancelados estima-se prejuízos de mais de 15 milhões. ção do tráfego pedonal e automóvel nas ruas das
Investimento publicitário não deverá cumprir crescimento previsto. grandes cidades.
Como acontece sempre em situações desta na-
—ANA MARCELA “Aquilo que já é possível garantir é que tureza as pessoas vão procurar informação; o con-
ana.marcela@dinheirovivo.pt as campanhas de publicidade e investi- sumo de televisão vai aumentar, seja por essa via,
mentos associados aos eventos estão a ser seja porque há mais pessoas em casa que, além de
Em duas semanas, eventos, congressos e cancelados ou adiados”, confirma Ma- informação, vão procurar séries, filmes, entreteni-
conferências foram cancelados à medida nuela Botelho, secretária-geral da Asso- mento. É impossível prever como evoluirá a au-
que se espalhavam os receios com o covid- ciação Portuguesa de Anunciantes. diência dos canais generalistas versus canais de
-19. Com o país a passar de alguns casos O mesmo diz Manuel Falcão. “Há campa- cabo e plataformas de streaming. Mas é seguro di-
suspeitos para mais de cem infetados, nhas (em torno de eventos/conferências) zer que vai haver mais gente a ver televisão duran-
o setor travou a fundo e já se fala prejuízos a ser adiadas” e as habituais no período da te mais tempo até a situação normalizar. Se alguns
estimados em mais de 15 milhões. Das Páscoa estão a ser repensadas”, afirma o anunciantes podem ter tendência a abrandar a co-
agências aos media, entrou-se em estado BTL foi um dos eventos cancelados. responsável da Nova Expressão. O inves- municação, outros poderão seguir os ensinamen-
de alerta e nem os mais otimistas acredi- timento no outdoor deverá ter uma que- tos de crises anteriores e aproveitar este potencial
tam que as estimativas de crescimento de cluir eventos desportivos”, diz o respon- bra, admite. “Não tenho dúvidas de que de comunicação para reforçar a notoriedade das
4% do investimento publicitário se irão sável, exemplificando com o adiamento nesta fase as empresas já estão a repensar respetivas marcas para, quando a crise passar, elas
manter. Qual a dimensão da crise? Vai de- de várias maratonas. investimentos, porque os comportamen- terem um posicionamento reforçado na recorda-
pender da duração. O covid-19 apanhou as empresas “sem tos de compra estão a alterar-se. Haverá ção dos consumidores.
“A situação é de catástrofe”, resume o tesouraria” e “alguns empresários já con- campanhas que remetem para compras Num mundo ideal poderia haver nesta circuns-
presidente da Associação Portuguesa de sideram fechar”, assume, revelando até di- online, nos setores que estejam em condi- tância um esforço nacional, de governantes, criati-
Empresas de Congressos, Animação Tu- ficuldades em “pagar os salários de mar- ções de abastecer o mercado dessa for- vos e grupos de media para trabalharem em con-
rística e Eventos. “O setor parou abrupta- ço”. No setor onde atuam, incluem-se dez ma”, diz Manuela Botelho. E lamenta: “O junto no reforço da comunicação e na difusão de
mente aqui e lá fora e se os primeiros can- a vinte mil empresas e entre 60 e 120 mil ano de 2020 começou muito bem e havia conselhos básicos e simples. Não creio que fosse
celamentos eram na ordem dos 40%, em empregos diretos – e já há negociações uma expectativa positiva em relação à impossível montar rapidamente uma campanha
15 dias passámos a perdas de 100%.” Al- com o governo para encontrar formas de evolução económica neste ano.” institucional sobre as precauções a tomar, de difu-
guns eventos mantêm-se a aguardar me- apoio que permitam “manter os empregos “O crescimento neste ano andaria à são massificada oferecida pelos operadores de tele-
lhor data, “não há novos pedidos”, confir- e a capacidade de alimentar as famílias”. volta de 4%. Não penso que vá ser atingi- visão, desenvolvida probono por criativos e que en-
ma António Marques Vidal. “O impacto Nas agências de comunicação o cenário do. Não é possível dizer que vai cair, mas volvesse as principais figuras da televisão portu-
do abrandamento da economia vai fazer- é semelhante. “O impacto é preocupan- não vai crescer ao mesmo ritmo”, refere guesa num conjunto de mensagens simples, em
-se sentir nos eventos”, reforça o respon- te. O padrão tem sido, em 90% dos casos, Luís Mergulhão, presidente da Omni- spots muito curtos, no máximo de 15 segundos,
sável, lembrando que Portugal era desti- o adiamento, sobretudo em eventos pre- com MediaGroup. Alberto Rui Pereira faz para poderem ser difundidos em canais generalis-
no de congressos internacionais e encon- vistos para março e abril”, diz Teresa Fi- o diagnóstico. “Esta indústria vai ser for- tas, cabo e vídeo online. Um esforço nacional de co-
tros de quadros. gueira, presidente da Apecom. A grande temente afetada. Esperemos que o ciclo municação, uma participação dos media e seus pro-
Da organização às produtoras de stands esperança é que no fim de maio seja pos- seja curto”, diz o CEO da IPG Media- tagonistas na sociedade, em prol de um reforço da
e brinde, o cenário na fileira é desolador. sível planear com maior segurança a se- brands. “Se em maio a situação estiver compreensão do que se pode fazer para vencer esta
“Contas por baixo, estamos a ter mais de gunda metade do ano. “O primeiro se- controlada, há tempo para recuperar. Se batalha. Não é utopia, pode ser realidade.
15 milhões de prejuízos diretos e mais mestre será abaixo da expectativa, mas o entrar pelo verão fica o segundo semestre Membro do Conselho Executivo da Nova Expressão,
milhões de indiretos – e nem estou a in- segundo pode ajudar.” comprometido e não vai ser possível.” Agência de Planeamento de Media e Publicidade
16 sábado, 14 de março de 2020
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2
THE

GRAN COUPÉ

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