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1.

As influências anteriores sobre a psicologia da Gestalt

O estudo da percepção da Gestalt foi baseado no trabalho de Immanuel Kant (1724-1804),


onde alegava-se que a percepção de um objeto era composta por partes e pedaços. Essa ideia
era semelhante às defendia pelos empiristas e associacionistas, entretanto, Kant afirmava que
os elementos são organizados de forma que tenha algum sentido, excluindo o processo de
associação.

Franz Brentano (1838-1917), propôs à psicologia o estudo do ato da experiência e defendia


uma observação menos rígida e mais direta da experiência na forma como ela ocorre.
Ernst Mach (1838-1916) teve uma grande influência sobre o pensamento da Gestalt por conta
da obra “Analise das sensações”. Mach afirmava que a percepção de um objeto não muda,
ainda que modiquemos nossa orientação em relação a ele.
Christian von Ehrenfels (1859-1932) propôs a Gestalt Qualitäten (qualidades de forma), que vai
além da união de sensações individuais. Para Ehrenfels, a mente seria munida de capacidade
para criar formas a partir de sensações elementares. O trabalho de Ehrenfels, segundo Max
Wertheimer, foi a maior influência para o movimento da Gestalt.
William James (1842-1910) afirmava que as pessoas veem os objetos como unidade e não
como pacotes formados de sensações.
Um movimento da filosofia também teve bastante influência na Gestalt. Conhecida como
fenomenologia, essa doutrina é baseada em uma experiência do senso comum e não uma
experiência relatada por um observador treinado, com orientação ou tendência sistemática.
2. Fundadores da Gestalt

 Max Wertheimer (1880-1943)


Nascido em Praga, Wertheimer iniciou o curso de direito na University of Prague, porém
mudou sua graduação para filosofia, e seguiu para a University of Berlin, onde prosseguiu seus
estudos em filosofia e também em psicologia. Obteve seu doutorado em 1904 pela University
of Wurzburg e começou a lecionar e realizar pesquisas na University of Frankfurt.
Na University of Berlin, em meados da década de 1920, Wertheimer realizou alguns trabalhos
que foram fundamentais para o desenvolvimento da psicologia da Gestalt. Um discípulo dele
relata que Wertheimer acreditava que as cores fortes eram estimulantes, por isso as paredes
de seu escritório eram de um vermelho vivo, pois segundo ele, cores mais suaves não o
deixariam trabalhar tão bem.
As aulas de Wertheimer eram complexas e imaginativas. Alguns de seus alunos achavam esse
estilo confuso, mas outros achavam que desse modo facilitava o entendimento. Uma aluna em
especial, relata que demorou meses para compreender as aulas, entretanto, ao começar a
entender, viu sua vida ser mudada por tamanho conhecimento. A vida dessa aluna teve
realmente uma mudança significativa, pois aos 22 anos se casou com Wertheimer, e antes do
casamento ele deixou bem claro sua obsessão pelo trabalho, pois ele queria criar a teoria da
Gestalt.
Em 1921 Wertheimer, Koffka e Kohler, fundaram o periódico Psychological Research, que veio
a se tornar a publicação oficial da escola de pensamento da Gestalt. Por conta do nazismo na
época, a publicação foi suspensa em 1938, mas foi retomada em 1929, após a guerra.
Wertheimer fugiu da Alemanha nazista para os Estados Unidos, se estabeleceu em Nova York
em 1933 e associou-se à New School for Social Research, onde permaneceu até sua morte, em
1943.
 Kurt Koffka (1886-1941)

Kurt Koffka nasceu em Berlim e iniciou os estudos em psicologia na University of Berlin. Ele é
considerado o mais criativo entre os fundadores da Gestalt. Koffka iniciou sua amizade com
Wertheimer e Kohler na University of Frankfurt, um ano após obter seu doutorado, em 1910.
Koffka trabalhou em uma clínica psiquiátrica durante a Grande Guerra, tratando de pacientes
com danos cerebrais. Depois da guerra, Koffka percebeu que os psicólogos norte-americanos
estavam se interessando pela Gestalt, devido a isso, ele publicou um artigo intitulado
“Percepção: uma introdução à psicologia da Gestalt”. Neste artigo foi apresentado os
conceitos básicos da Gestalt, juntamente de resultados e consequência de várias pesquisas.
Esse artigo teve uma grande importância para explicação do movimento da Gestalt para os
psicólogos norte-americanos, contudo, ele provocou mais danos do que benefícios. A palavra
usada no título deu a impressão que os psicólogos da Gestalt lidavam exclusivamente com a
percepção, e que ela não seria importante para as outras áreas da psicologia. Em 1925,
Wertheimer escreveu que essa ideia não passava de um mal-entendido, e que a Gestalt se
preocupava com os processos cognitivos, ao pensamento, a aprendizagem, e outros aspectos
da experiencia consciente.
Koffka publicou um livro em 1921 que fez muito sucesso tanto nos Estados Unidos quanto na
Alemanha. Esse livro sobre a psicologia do desenvolvimento infantil foi chamado de O
desenvolvimento da mente. Também publicou Princípios da psicologia Gestalt, em 1925, mas
por ter uma linguagem de difícil compreensão, não se tornou uma obra popular. Koffka
lecionou na Smith College, em Massachusetts, onde permaneceu até sua morte, em 1941.

 Wolfgang Kohler (1887-1967)


Wolfgang Kohler nasceu na Estônia, mas logo se mudou para o norte da Alemanha. Obteve seu
doutorado em 1909 pela University of Berlin e seguiu para a University of Frankfurt, no qual
chegou um pouco antes de Max Wertheimer.
Em 1913 viajou para o Tenerife, nas ilhas de Canárias, afim de estudar os chipanzés. Seis meses
depois de sua chegada, começou a Primeira Guerra Mundial, Koffka chegou a ser acusado de
ser um espião alemão e de transmitir informações sobre os movimentos das frotas aliadas.
Kohler passou sete anos estudando o comportamento dos chipanzés e publicou sobre o
trabalho no livro A mentalidade dos macacos (1917). Em 1920 retornou à Alemanha. Por conta
da publicação de Static and stationary physical Gestalts, onde ele sugere que a teoria da
Gestalt consistia em uma lei geral da natureza que poderia ser aplicada em todas as ciências,
recebeu um convite para lecionar na University of Berlin. Em 1929, publicou A psicologia da
Gestalt, uma descrição completa do desenvolvimento da Gestalt.
Durante a Alemanha nazista Koffka protestou diversas vezes contra o governo de Hitler. Por
conta de divergências contra o governo ele teve que deixar a Alemanha. Historiadores
relataram que Koffka foi o único psicólogo não judeu a ir contra as demissões de intelectuais
judeus. Pois tanto alunos como professores apoiaram de imediato o governo nazista.
Após chegar nos Estados Unidos, Koffka lecionou na Swerthmore College, na Pensilvânia, e
editou a revista gestáltica Psychological Reserch. Em 1959 tornou-se presidente da APA.
3. A expansão da psicologia da Gestalt
Na década de 1920, a Gestalt era uma escola de pensamento que prevalecia na Alemanha.
Contudo, no momento que os nazistas assumiram o poder, vários intelectuais, judeus e até
mesmo os fundadores da Gestalt deixaram o país. Assim, o núcleo da Gestalt foi transferido
para os Estados Unidos.
O movimento da Gestalt vinha se tornando conhecida nos Estados Unidos por meio de
publicações das obras dos fundadores e até mesmo de psicólogos norte-americanos, mas
apesar disso, a sua aceitação como escola de pensamento foi lenta. Primeiro, porque lá o
behaviorismo estava no auge da popularidade. Segundo, todas as principais obras da Gestalt
estavam em alemão, e a tradução para o inglês atrasava a divulgação completa e precisa.
Terceiro, porque os psicólogos norte-americanos limitavam os estudos da Gestalt a percepção.
Quarto, porque os fundadores vinham de universidade poucos conhecidas e renomadas.
Quinto, porque a psicologia norte-americana já estava além das ideias de Wundt e Titchener,
as quais os psicólogos da Gestalt estavam se opondo. Eles acreditavam que os psicólogos da
Gestalt estavam lutando contra um inimigo já derrotado.
O movimento revolucionário depende de uma oposição para sobreviver. Entretanto, quando
os psicólogos da Gestalt chegaram aos Estados Unidos, encontraram pouca oposição, o que
era arriscado para a sobrevivência da escola da Gestalt.
 A batalha contra o behaviorismo
Logo que os psicólogos da Gestalt perceberam que não havia mais sentido protestar contra as
ideias de Wundt, já que desaparecera da psicologia americana, começaram a estudar as
tendências na psicologia norte-americana.
Os psicólogos da Gestalt afirmavam que o behaviorismo se dedicava a abstrações artificiais e
contestavam o fato de os behavioristas não aceitarem a validade da introspecção e
descartarem qualquer reconhecimento da consciência. Para Koffka não fazia sentido uma
psicologia sem o conceito de consciência, como faziam os behavioristas, porque significava que
a psicologia era pouco mais do que uma coleção de pesquisas com animais.
 A teoria da Gestalt na Alemanha nazista
Apesar de os fundadores da Gestalt terem fugido da Alemanha para os Estados Unidos durante
a guerra, alguns de seus discípulos permaneceram no país. Esses continuaram a conduzir
pesquisas focadas nos estudos da visão e da percepção de profundidade. As universidades da
época não tinham mais liberdade para serem adeptos á novas pesquisas, apesar disso, o
instituto psicológico de Koffka continuou a funcionar. Foi relatado que as atividades da maioria
dos psicólogos alemães eram voltadas ao esforço de guerra, principalmente na avaliação dos
militares.
4. As críticas à psicologia da Gestalt
Os opositores da Gestalt afirmavam que a organização dos processos de percepção, como o
fenômeno phi, não era tratado como problema científico a ser investigado, mas era como se
fosse uma negação da existência do problema. Além disso, afirmavam que os conceitos básicos
não eram definidos com o rigor suficiente para possuírem algum significado científico. A
explicação que era dada dizia que, em uma ciência jovem, as explicações eram incompletas,
mas não vagas.
Outros psicólogos alegavam que a Gestalt ressaltava muita teoria, apesar de que a escola da
Gestalt assumisse a orientação teórica, e enfatizou a experimentação e uma considerável
quantidade de pesquisas. Com isso, houve uma afirmação de que o trabalho experimental da
Gestalt era inferior à da psicologia behaviorista por falta de controle adequados. Mas a maioria
das pesquisas da Gestalt tem caráter explanatório, investigando os problemas psicológicos em
um modelo diferente.
Também consideravam as hipóteses fisiológicas adotadas pelos psicólogos da Gestalt
pobremente definidas. Os pesquisadores da Gestalt reconheciam esse problema como uma
tentativa, mas acreditavam que essas argumentações eram validas para o sistema.
5. A revolta da Gestalt
Os psicólogos da Gestalt se opuseram às ideias se Wundt por não concordarem com o seu
atomismo ou elementarismo. Embora o movimento da Gestalt contra a oposição de Wundt
coexistisse ao surgimento do Behaviorismo nos Estados Unidos, os dois movimentos, apesar de
inicialmente se oporem as mesmas ideias, eram totalmente independentes e acabaram se
voltando uma contra a outra.
Enquanto os psicólogos da Gestalt admitissem o valor da consciência, embora desaprovassem
a tentativa de reduzia-las a elementos ou átomos, os psicólogos behavioristas não
reconheciam o valor da consciência na psicologia cientifica. Os psicólogos da Gestalt também
afirmavam que quando os elementos sensoriais são combinados, eles formam um novo
padrão ou configuração, sendo o todo diferente da soma das partes.
6. A natureza da revolta da Gestalt
Os psicólogos da Gestalt dedicaram-se a outro fenômeno perceptual, chamado de constância
perceptual, onde uma qualidade de integridade não se altera mesmo com a mudança dos
elementos sensoriais. A percepção não pode ser explicada apenas como um conjunto de
elementos ou soma das partes.
Diferente do funcionalismo e do behaviorismo, a palavra Gestalt não expressava a ideia
principal do movimento. Ademais, não existe um significado exato para ela. Apesar de Kohler
afirmar que o significado remete a formas, a Gestalt envolve o campo de aprendizagem, o
pensamento, as emoções e o comportamento.
7. As contribuições da psicologia da Gestalt
O movimento da Gestalt influenciou o trabalho a respeito da percepção, da aprendizagem, do
pensamento, da personalidade, da psicologia social e da motivação e deixou uma marca
permanente na psicologia. Ela continuou a promover o interesse na experiência consciente
como um problema para a psicologia. A Gestalt também se fez presente em muitos aspectos
da psicologia cognitiva contemporânea.
8. Os princípios da Gestalt sobre a organização perceptual
Wertheimer apresentou os princípios em um artigo em 1923. Ele alegava que percebemos os
objetos como unidade completas e não como agrupamentos de sensações individuais. Esses
princípios seriam as regras fundamentais em como organizamos nossa percepção. De acordo
com a teoria da Gestalt, o cérebro é um sistema dinâmico onde todos os elementos ativos
interagem em determinado momento.
Os princípios de organização são:
Proximidade: as partes próximas parecem unidas e tendem a ser percebidas juntas.
Continuidade: há uma tendência da percepção para conectar os elementos de modo que eles
pareçam contínuos.
Semelhança: partes iguais tendem a ser vistas juntas
Preenchimento: há uma tendência de nossa percepção completar figuras incompletas e
preencher lacunas.
Simplicidade: chamada de prägnanz, é uma condição de vermos a figura como tendo boa
qualidade sob condições de estímulos.
Figura/fundo: É uma figura substancial no qual o fundo também pode destacar-se.
9. A teoria de Campo: Kurt Lewin
A teoria de campo dentro da psicologia atua no mesmo sentido do campo de forças da física.
Atualmente na psicologia, o termo teoria de campo refere-se às ideias de Kurt Lewin. O
sistema de Lewin usa o exemplo do conceito de campo de força para explicar o
comportamento de um indivíduo com base no seu campo de influencias sociais.
 Kurt Lewin (1890-1947)
Kurt Lewin nasceu na Alemanha, obteve seu Ph.D. na University of Berlin, 1914, onde também
estudou matemática e física. Serviu ao exército durante a Primeiro Guerra e retornou a
University of Berlin e se dedicou à pesquisa da Gestalt. Apresentou uma versão da teoria de
campo aos psicólogos norte-americanos, em Yale.
Em 1933 decidiu deixar a Alemanha por causa da ameaça nazista. Lewin realizou uma pesquisa
a respeito da psicologia social infantil o que lhe rendeu um convite para desenvolver o Centro
de Pesquisa para a Dinâmica de Grupo, no Massachusetts Institute of Technology. Seu
programa foi tão eficaz que o centro de pesquisa permanece até hoje.
 O espaço vital
Kurt Lewin dedicou-se a descrever o comportamento humano dentro do contexto social e
físico. Seu conceito de psicologia focado nas questões sociais que afetam a vida pessoal e
profissional.
Com base nos seus conhecimentos da teoria de campo da física, Lewin imaginou que em um
indivíduo também ocorresse um campo psicológico, chamado espaço vital, que compreende
todos os acontecimentos do passado, presente e do futuro que nos afetam. O espaço vital
exibe diversos graus em desenvolvimento em função da quantidade e do tipo de experiencia
acumulados.
Lewin tentou criar um sistema para representar esse conceito teórico. Ele escolheu a topologia
para criar um diagrama do espaço vital. No mapa topológico, Lewin usava seta, chamada de
vetores, que representava a direção do movimento do indivíduo em busca da meta.
Acrescentou pesos a essas opções, chamada de valência, para se referir ao valor positivo ou
negativo dos objetos dentro do espaço vital. Os objetos atraentes ou que satisfizessem as
necessidades humanas recebiam valência positiva, e os ameaçadores recebiam valência
negativa. Esses diagramas chegaram a ser chamados de “psicologia do quadro negro”.
 Psicologia Social
Lewin teve uma grande importância na história da psicologia. O seu trabalho mais admirado
na psicologia social foi a criação da dinâmica de grupo, aplicação dos conceitos psicológicos
aos comportamentos individuais e coletivos. O grupo e seu ambiente formam o campo social
assim como o indivíduo e o seu ambiente formam um campo psicológico. Os comportamentos
socias resultam de entidades sociais coexistentes. O comportamento coletivo é uma função da
situação de todo o campo. Várias pesquisas foram feitas por Lewin a respeito do
comportamento em várias situações sociais. Essas pesquisas deram início a novas áreas da
pesquisa social e impulsionaram o crescimento da psicologia social.
A maior parte de seus programas experimentais e as descobertas das pesquisas de Lewin são
mais aceitos pelos psicólogos do que muitos de seus conceitos teóricos. Lewin teve uma
grande influência na psicologia infantil e social e até hoje suas técnicas são usadas nos estudos
da personalidade e da motivação.
 A motivação e o efeito de Zeigarnik
Lewin apresentou a existência de um equilíbrio entre o indivíduo e o ambiente. Afirmava que o
comportamento abrange estados de tensão ou estados de necessidade seguidos de atividade e
alívio. Para testar essa proposta, Bluma Zeigarnik realizou uma experiência onde os indivíduos
recebiam tarefas e era permitido a eles terminar algumas, mas outras eles eram interrompidos
antes de completarem.
Após isso, foi confirmado os resultados de Zeigarnik. As pessoas tinham tendência de se
lembrar mais facilmente das tarefas não completadas do que das completadas. Essa proposta
ficou conhecida desde então por efeito Zeigarnik.

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