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Jean Delumeau o Pecado e o Medo Vol 1 Cap 1
Jean Delumeau o Pecado e o Medo Vol 1 Cap 1
Doutrina do desprezo do mundo deriva de uma cosmologia antiga que deprecia a terra
de duas formas: (1) mundo sublunar opõe-se à parte sideral do universo. Terra ocupa a
parte inferior e mais vulgar do mundo porque é feita de um elemento inferior. (2)
depreciação do tempo. As coisas terrestres são vãs porque são fugazes. (pág. 20-21)
Mas nem tudo é tão ruim, o mundo ainda manifesta a bondade e sabedoria do criador e,
sendo imperfeito, cabe aos homens aperfeiçoa-lo. O próprio homem vai ser regenerado
no final dos tempos. Os cristãos não são deste mundo, mas estão no mundo. Renunciar
às cobiças não significa não se utilizar dele para a caridade ou tentar construir um
mundo melhor (pág 23-24).
Nesta inspiração que o tema do ubi sunt adquire importância na IM (pág 26).
Tema da morte niveladora dos maiores destinos encontra transcrição iconográfica nas
danças macabras (pág 27).
Vínculo entre caráter transitório e tristeza da vida, algo constante no discurso sobre o
desprezo do mundo. Vários exemplos de religiosos que mostram isso. (pág 28 – 31).
Pierre Damien – representa uma corrente de pensamento monástica que tem na oposição
radical entre corpo e alma e a condenação da vida secular como corrompida as
principais características. Vida no mundo extremamente desprezada e prazeres humanos
extremamente repudiados (pág 31-32).
Fala da ideia da sexualidade como irracional, casamento como sujo e castidade como a
virtude preferível. Autores de livros de confissão formados nestas formas de pensar. Por
isso lançam sobre a sexualidade e casamento um olhar de extrema suspeição (pág 32 -
33).
Temas principais do contemptos mundi. O desprezo do mundo e a vergonha de si
mesmo acompanham os monges da IM numa experiência global do pecado e um
pessimismo arraigado. Forma de pensar presente mesmo nos monges mais cristãos
homens da Igreja, sobretudo os próprios monges. (pág 33-34).
Nos mosteiros e conventos que surge a “consciência infeliz” que logo seria imposta a
toda uma civilização. Seus três componentes principais: ódio ao corpo e ao mundo,
evidência do pecado e sentimento agudo de fuga do tempo (pág 34).
Descrição anterior inspirada em Robert Bulot. Críticos dizem que Bulot denegriu a
hostilidade ao mundo por parte das Ordens contemplativas medievais. O contemptos
mundus não seria o objetivo delas. Ignoraria a admiração ao universo e um otimismo
escatológico que teria existido junto com o desprezo do mundo. A depreciação do
mundo seria necessária aos monges em sua busca pelo eterno e pelo amor preferencial
de Deus, mas eles não deixaram de promover o Renascimento do séc XII. Acusam ele
também de anacronismo (pág 36).
Discurso sobre todas essas questões fica em Agostinho, padres do deserto e religiosos
dos séc X – XIII. Mas é importante perceber uma posteridade longa de um discurso
homogêneo, insistentemente retomado. Mas há algo novo: difusão de uma
culpabilização e de uma ética que se julgaria destinada a uma restrita elite de ascetas
(pág 37).
Sécs XIV – XVI são inúmeros os textos em que religiosos denunciam o mundo,
perpetuando e agravando a ambiguidade do termo mundo. Desprendimento então só é
proposto a seres excepcionais, mas deve ter em mente a expansão de obras redigidas por
grandes míticos que gera ambiguidade e causa confusão entre os sentidos de mundo
(pág 37). As obras desses religiosos citadas falam sobre a necessidade de se despojar de
tudo do mundo e do desprezo do mundo para ascender a Deus (p. 37 – 43).
Frei Luis de Leon – Sombrio comentário ao livro de Jó. Questão da vida como um
caminho para a morte presente em sua obra. Topos que vinha da IM e seque no início da
Im. Fala do desprezo do mundo, coisas boas da vida como ilusões Paradoxo do perigo
maior quanto mais tranquila for a vida. Ideia de guerra invisível. Inspiração agostiniana.
(p. 40 – 43).
Imitação de cristo – discurso sobre o desprezo do mundo atinge o grande público (p. 46
47) e outras obras sobre o desprezo do mundo e o reconhecimento dos males do mundo
como forma de ascensão com grande difusão (até p. 51).
Neste último ponto, é explorada a obra de Santo Inácio de Loyola (p. 49 – 50).
Justificação pela fé mais sombria que o casuísmo católico. Na teologia protestante que a
depreciação do homem e do mundo atingem sua maior violência no ocidente (p. 54 –
55). Zuínglio tem um pensamento exageradamente pessimista sobre o ser humano (p. 56
– 57). Calvino – só se pode chegar a Deus pelo caminho do desespero (p. 57). Desprezo
de si como única rota para se chegar a Deus (p. 58).
O contemptos mundi no mundo protestante não levava à fuga mundi, mas à margem do
protestantismo ela ressurgiu na forma de seitas. Ele faz uma diferenciação entre seita e
igreja seguindo o estudo de Ernst Troeltsch e mostra como as seitas costumam ser
reações ao fato de que as igrejas se misturam ao século, repudiando e se opondo à
sociedade (p. 62 – 63).