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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO” (UNESP)

FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS, DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA – câmpus


de Assis
CURSO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA (LICENCIATURA)

Disciplina: História Medieval


Professor Responsável: Leandro Alves Teodoro

ALUNO: Thiago Pereira Camargo Comelli

DELUMEAU, Jean, O Pecado e o Medo, Vol.1 A Culpabilização no Ocidente (séculos


XIII-XVIII). Trad. Álvaro Lorencini, Ed. EDUSC, 2003

 Mentalidade obsessiva do baixo-medievo acompanhada de uma culpabilização


massiva, bem como a promoção sem precedentes da interiorização e consciência moral. “Medo
de si mesmo”, angústia global que se fragmentava em medos nomeados. Epístola aos Gálatas
(5,16-24), noção de uma “guerra contínua do cristão contra si, sua carne, sua vontade. Sua
própria natureza propensa a todos os males” (DELUMEAU, p.09);
 Existência como um teatro de combate ininterrupto entre o amor de Cristo e aquilo
doravante chamado pecado (QUERE, France. Les Péres Apostoliques, Paris, Seuil, 1980, p.38);
 Almanaques e literaturas de época, incessantes apelos à conversão e à penitência.
Reforço da ideia de que Satã está em todos os lugares e no coração de cada um (pecado original,
caso não haja intervenção da graça) (DELUMEAU, p.10-11);
 Excessos de humildade, sujeito apenas vício sem Deus. Medo de Satã, perseguido
pelos agentes de Cristo, além do inimigo mais encarniçado: o próprio sujeito, quando se descuida
de vigiar a si mesmo. Tempos de pré-modernidade, no qual noções de subconsciente ainda eram
distantes. De modo que se soma ao terror pelo exterior (da natureza e dos homens) outros dois:
o horror do pecado e a obsessão pela danação (DELUMEAU, p.11-12);
 Desvalorização espantosa da vida material e das preocupações cotidianas (vide
DEFECERUNT, reforçando o pecado de amar coisas seculares/materiais. Cada coisa que se ama
do mundo, é um espaço a menos para Deus). Mais valorizado que o capital, o ofício secular e as
querelas, a graça de Deus (DELUMEAU, p.12);
 Cristianismo, religião da ansiedade, antítese da tranquilidade hinduísta e budista
(ARAPURA, J.G.Religion as Anxiety and Tranquility. Paris: La Haye: Mouton, 1975). Reforço
da autoridade clerical, confessor se tornando um personagem insubstituível, cujo poder emana da
dramatização do pecado e suas consequências. Confessor colocado antes do príncipe do tabelião,
já que se trata daquele que abre as portas do céu (DELUMEAU, p.13);
 Impossibilidade de reduzir a história da culpabilização a uma história do poder
clerical. Pecado vai muito além, em especial no recorte feito pelo autor, o Ocidente do século
XIII ao XVIII. O sujeito no Ocidente baixo-medieval se vê levado a aprofundar-se, conhecer
melhor seu passado, desenvolver sua memória (confissão geral, exame subjetivo da consciência
do ato penitencial). Segundo DELUMEAU, uma consciência culpada desenvolveu-se ao mesmo
tempo que a arte do retrato, a ascensão do individualismo e do senso de responsabilidade
(DELUMEAU, p.13-14); Advogados e procuradores em Castela do séc. XV, compartilhariam
dessa angústia coletiva do medievo ao alongar seus pleitos e prevaricarem? O medo da
danação eterna permearia os maus advogados, os levaria ao confessionário? Será que a
prerrogativa, ligações com o clero secular e patronatos com os altos escalões da corte os
protegeria do fantasma subconsciente da culpa ?

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