O documento discute como a mentalidade do baixo-medievo era obsessiva com a culpabilização e promovia a interiorização da consciência moral. A vida era vista como uma batalha contra o pecado, com constantes apelos à conversão e penitência devido ao medo onipresente de Satanás e da própria natureza pecaminosa do homem. O clero reforçou sua autoridade através da dramatização do pecado e do medo da condenação, tornando os confessores figuras centrais.
O documento discute como a mentalidade do baixo-medievo era obsessiva com a culpabilização e promovia a interiorização da consciência moral. A vida era vista como uma batalha contra o pecado, com constantes apelos à conversão e penitência devido ao medo onipresente de Satanás e da própria natureza pecaminosa do homem. O clero reforçou sua autoridade através da dramatização do pecado e do medo da condenação, tornando os confessores figuras centrais.
O documento discute como a mentalidade do baixo-medievo era obsessiva com a culpabilização e promovia a interiorização da consciência moral. A vida era vista como uma batalha contra o pecado, com constantes apelos à conversão e penitência devido ao medo onipresente de Satanás e da própria natureza pecaminosa do homem. O clero reforçou sua autoridade através da dramatização do pecado e do medo da condenação, tornando os confessores figuras centrais.
Mentalidade obsessiva do baixo-medievo acompanhada de uma culpabilização
massiva, bem como a promoção sem precedentes da interiorização e consciência moral. “Medo de si mesmo”, angústia global que se fragmentava em medos nomeados. Epístola aos Gálatas (5,16-24), noção de uma “guerra contínua do cristão contra si, sua carne, sua vontade. Sua própria natureza propensa a todos os males” (DELUMEAU, p.09); Existência como um teatro de combate ininterrupto entre o amor de Cristo e aquilo doravante chamado pecado (QUERE, France. Les Péres Apostoliques, Paris, Seuil, 1980, p.38); Almanaques e literaturas de época, incessantes apelos à conversão e à penitência. Reforço da ideia de que Satã está em todos os lugares e no coração de cada um (pecado original, caso não haja intervenção da graça) (DELUMEAU, p.10-11); Excessos de humildade, sujeito apenas vício sem Deus. Medo de Satã, perseguido pelos agentes de Cristo, além do inimigo mais encarniçado: o próprio sujeito, quando se descuida de vigiar a si mesmo. Tempos de pré-modernidade, no qual noções de subconsciente ainda eram distantes. De modo que se soma ao terror pelo exterior (da natureza e dos homens) outros dois: o horror do pecado e a obsessão pela danação (DELUMEAU, p.11-12); Desvalorização espantosa da vida material e das preocupações cotidianas (vide DEFECERUNT, reforçando o pecado de amar coisas seculares/materiais. Cada coisa que se ama do mundo, é um espaço a menos para Deus). Mais valorizado que o capital, o ofício secular e as querelas, a graça de Deus (DELUMEAU, p.12); Cristianismo, religião da ansiedade, antítese da tranquilidade hinduísta e budista (ARAPURA, J.G.Religion as Anxiety and Tranquility. Paris: La Haye: Mouton, 1975). Reforço da autoridade clerical, confessor se tornando um personagem insubstituível, cujo poder emana da dramatização do pecado e suas consequências. Confessor colocado antes do príncipe do tabelião, já que se trata daquele que abre as portas do céu (DELUMEAU, p.13); Impossibilidade de reduzir a história da culpabilização a uma história do poder clerical. Pecado vai muito além, em especial no recorte feito pelo autor, o Ocidente do século XIII ao XVIII. O sujeito no Ocidente baixo-medieval se vê levado a aprofundar-se, conhecer melhor seu passado, desenvolver sua memória (confissão geral, exame subjetivo da consciência do ato penitencial). Segundo DELUMEAU, uma consciência culpada desenvolveu-se ao mesmo tempo que a arte do retrato, a ascensão do individualismo e do senso de responsabilidade (DELUMEAU, p.13-14); Advogados e procuradores em Castela do séc. XV, compartilhariam dessa angústia coletiva do medievo ao alongar seus pleitos e prevaricarem? O medo da danação eterna permearia os maus advogados, os levaria ao confessionário? Será que a prerrogativa, ligações com o clero secular e patronatos com os altos escalões da corte os protegeria do fantasma subconsciente da culpa ?