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Quem é a

geração X?
Os líderes
que têm
cerca de 30
anos ou menos
são diferentes:
não toleram limites
hierárquicos, gostam
de trabalho em equipe,
querem que a empresa
funcione como
comunidade. Se você
não é um deles, precisa
ALTA GERÊNCIA

aprender a entendê-los
Por Jay Conger
Maxx Figueiredo

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HSM Management 11 novembro-dezembro 1998


Você pertence à geração X? Em outras palavras, você nasceu em 1965 ou A Coca-Cola e o resto do mundo
depois? É filho de mãe que trabalha fora ou de pais divorciados? É fã de descobriram que certos mitos sobre
essa geração são grosseiramente
história em quadrinhos? Mostra-se cético em relação a quase tudo e planeja
incorretos. Os integrantes da gera-
friamente eliminar aquilo que se interpõe em seu caminho? Se as respostas ção X estão bastante sintonizados
a essas perguntas forem afirmativas, saiba que executivos como você e com as novas regras do local de
outros de sua geração estão impondo um novo estilo de liderança ao mundo trabalho e com a paixão dos EUA
empresarial. (E se forem negativas, saiba lidar com quem é desse grupo.) pelo sucesso financeiro. Ao mesmo
Como mostra o artigo a seguir, esses líderes emergentes têm valores tempo, eles são diferentes das
bem próprios. Não acreditam, por exemplo, em hierarquia; preferem acordos turmas anteriores. Por exemplo,
informais; e são menos leais à empresa do que seus antecessores, da entre as mulheres da geração X que
responderam a uma pesquisa do
geração do baby boom. Adoram o trabalho em equipe e não vêem mistério
Gallup, 61% disseram preferir se
nos computadores. Gostam muito de dinheiro, sim, mas também procuram subordinar a outra mulher, contra
na organização uma comunidade. 26% das mulheres de um grupo da
O autor, Jay Conger, mostra que a geração X é um fenômeno que geração baby boom.
já atravessou fronteiras, como o leitor brasileiro bem notará. E se Madonna fosse mesmo uma
O especialista também diz que, em nome do sucesso empresarial, ela deve “garota materialista” (material girl,
ser compreendida pelos executivos das duas gerações anteriores –a do uma brincadeira com o título de
baby boom e a silenciosa, também descritas aqui. Conger, reconhecido uma música da cantora), com
hoje como um dos melhores professores de liderança dos EUA, realizou certeza seria a precursora dessa
“geração materialista”. Por exemplo,
uma série de entrevistas para este estudo.
quando a University of California de
Los Angeles (UCLA) perguntou aos
calouros de 1993 por que era impor-
tante fazer uma faculdade, 75,1%
Quem quiser uma prova do peso guiçosos) ou “geração MTV”, os inte- responderam que era “para ganhar
da questão das gerações em uma grantes da geração X foram conside- mais dinheiro”. Apenas 49,9%
sociedade só precisa passar pela rados em um primeiro momento um deram essa resposta em 1971 (veja
garagem da casa de repouso onde grupo de niilistas desmotivados e quadro na página 137), na geração do
meus pais moram. Lá se vêem filas e céticos. Afinal, seus ícones culturais baby boom.
filas de automóveis Buick, Cadillac, eram Beavis e Butt-Head. Mais importante talvez seja o fato
Lincoln, Oldsmobile e Chrysler. Há A Coca-Cola também pensava de os integrantes da geração X
poucos veículos Toyota, Nissan, assim quando lançou um refrigerante terem um conjunto diferente de
Mazda e Audi. com o nome OK em 1994. Suas latas atitudes em relação ao trabalho.
De início, a ausência de carros eram cinza e o rótulo dizia: “Não Curto e grosso, eles desconfiam da
importados pode até parecer estra- acredite quando alguém lhe disser hierarquia. Preferem arranjos mais
nha. Por isso, você precisa saber uma que para tudo tem de existir um informais. Querem julgar mais pelo
coisinha sobre meus pais e seus motivo” e “Qual é a importância do mérito do que pelo status. São bem
contemporâneos. Eles estão na faixa refrigerante OK? Bem, qual é a menos leais a suas empresas.
dos 80, são frutos da Segunda importância de qualquer coisa?” Para Apreciam o trabalho em equipe.
Guerra Mundial, uma geração que surpresa da Coca-Cola, a campanha Conhecem os computadores por
era profundamente leal aos Estados foi um fracasso e o produto teve de fora e por dentro. Gostam de
Unidos e a seus produtos. Mesmo ser retirado do mercado. dinheiro, mas também procuram
com os altos e baixos do setor
automobilístico, eles permaneceram
fiéis ao lema “Buy American” (com-
pre produtos americanos). Essas
pessoas são apenas um pequeno
A campanha do refrigerante OK da
exemplo de como a história molda o
comportamento e as preferências de
Coca-Cola foi um fracasso porque tratou
uma geração.
Neste artigo, vamos voltar nossa
a geração X como um grupo de niilistas
atenção para a mais nova geração
adulta, a geração X, e particularmen-
desmotivados. Um dos slogans era:
te para suas atitudes em relação ao “Qual é a importância de qualquer coisa?” ➙
local de trabalho e à gestão. Primeira-
mente chamados de “slackers” (pre- O produto foi retirado do mercado 129

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Image Bank/Petrified Colle
equilíbrio com a vida pessoal. Enfim, receberam lealdade em troca. era sinal de sucesso. Só usávamos
estão mudando as empresas. Em nenhuma outra parte o camisas brancas. Usávamos chapéu
mundo dos “burocratas” era tão dentro e fora do escritório; os
A turma do silêncio
visível quanto no setor bancário chapéus faziam parte do uniforme.
Para entendermos como os norte-americano. Os comentários de E, obviamente, não ousávamos tirar
executivos da geração X são diferen- um executivo sênior de um banco o paletó. Nem mesmo dentro da
tes dos outros, precisamos dar um de Nova York, por exemplo, que sala, para os que tinham uma. Era
passo atrás e analisar rapidamente começou a carreira nos anos 60, são totalmente proibido. Ficávamos de
os executivos da geração silenciosa, representativos da era de comando paletó o dia todo, mesmo com a
para os quais foi cunhado o termo que existia há apenas uma geração: porta da sala fechada.
“burocrata”. Eles são nosso ponto “Como subalterno, eu nem sequer “Era mais fácil ser administrador
de comparação –afinal, foram os tinha uma sala, é claro. Trabalhava em um ambiente estritamente
executivos dos anos 50, 60 e 70. Eles num local que eles costumavam hierárquico, porque esse era o
foram leais às suas empresas e chamar de plataforma. Ter uma sala sistema honrado, reverenciado e
temido, tanto pelos que compu-
nham o nível hierárquico mais alto
como pelos que estavam nos pata-
Os executivos da geração silenciosa, mares inferiores. Você sempre sabia
exatamente qual era sua posição.
para os quais foi cunhado o termo A ascensão –incentivada de forma
subliminar– deveria ser degrau por
“burocrata”, foram leais às suas empresas degrau. Um de cada vez.
“Havia divisões rigorosas do traba-
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e receberam lealdade em troca lho. Os vice-presidentes e os vice-pre-

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À medida que o modelo de comando Os baby boomers também davam
mais importância à independência
perdia eficácia e o trabalho em equipe individual do que seus antecessores.
Se em 1890, por exemplo, apenas
crescia, as relações de trabalho ficavam 16% dos pais acreditavam que a
independência era uma qualidade
mais informais na geração do baby-boom importante nos filhos, no final dos
anos 70 aproximadamente 75%
a viam como traço fundamental.
À medida que a importância do
sidentes seniores discutiam as políti- À medida que o modelo de fator independência foi crescendo,
cas do banco entre eles. Jamais ousa- comando perdia eficácia e o traba- sua antítese –a obediência– perdeu
riam discuti-las com o pessoal subal- lho em equipe crescia, os relaciona- terreno. Por exemplo, 64% dos pais
terno, que, por sua vez, nunca ousa- mentos no local de trabalho se de 1890 mencionavam a obediência
ria questionar suas decisões. tornavam mais informais e os funcio- como uma das três características
“O relacionamento com os chefes nários mais dinâmicos. Eles passa- mais importantes na educação dos
era muito mais formal do que hoje. ram a ter menos paciência com as filhos. Esse percentual caiu para
Você tinha de trabalhar muitos, restrições do sistema hierárquico 17% em 1978.
muitos anos antes de poder chamar e menos disposição de se submeter A grande importância atribuída
o vice-presidente, e principalmente o automaticamente aos chefes. à independência está, em parte,
vice-presidente sênior, pelo primeiro Um chefe não conseguia mais relacionada ao crescente aumento
nome. O tempo de casa quase sempre administrar com a facilidade que da riqueza nos EUA. As pessoas
significava idade e posição; seus chefes tinha na década anterior. A lealdade passaram a dispor de mais dinheiro
eram mais velhos que você. Acho que diminuiu drasticamente –no início para adquirir os serviços e aparelhos
a cerimônia era necessária para a por parte da empresa, mas os necessários para manter uma casa.
manutenção do sistema hierárquico. funcionários não demoraram a Esse fator tornou-as menos depen-
“Compartilhar os segredos, então, seguir o exemplo. dentes da família e da comunidade.
era coisa para poucos. Nossas Ao mesmo tempo, começava a Além disso, nos anos 60, as pílulas
conversas com o chefe se limitavam desmoronar a tradicional aura que anticoncepcionais chegaram ao
ao assunto do dia. Geralmente a envolvia as posições de autoridade, mercado, dando às mulheres maior
pergunta mais comum era ‘como em parte devido ao nivelamento das controle sobre si mesmas e contri-
estão indo as coisas?’, e a resposta hierarquias organizacionais, em buindo para o surgimento do movi-
esperada era ‘as coisas estão indo parte devido à educação –os cursos mento feminista.
muito bem, senhor’.” universitários de graduação e pós se Essas mudanças criaram a nova
O mundo que nosso banqueiro “popularizaram” e seus alunos eram “raça” dos executivos da geração do
descreve era um mundo que, até incentivados a criticar os livros e os baby boom. Usarei Paul como um
muito recentemente, moldou as conceitos que estavam estudando. paradigma deles. Com apenas 40
ações e os valores da maioria dos Na verdade, eles recebiam notas por anos, ele é o principal executivo da
executivos. Em meados dos anos 70, sua capacidade de desafiar o raciocí- subsidiária de uma das maiores
esse mundo dos “burocratas” come- nio não só dos colegas como tam- empresas farmacêuticas do mundo.
çou a ruir. As mudanças se iniciaram bém dos professores. Se formos mais Ex-jogador de hóquei, Paul faz uma
assim que a geração do baby boom fundo, veremos que isso aconteceu bela figura. Elegante, ele parece ser
entrou para a força de trabalho. também por conta de eventos sociais um jovem CEO tão perfeito que nos
como a Guerra do Vietnã (veja lembra um ator no teatro. Quando
Os boomers
quadro na página 134). Para a geração ele fala, sentimos confiança na voz,
A concorrência tornava-se bem do baby boom, a autoridade perdia ainda que também seja perceptível a
mais intensa e as empresas foram for- cada vez mais sua confiabilidade e, reflexão que caracteriza uma linha-
çadas a aumentar sua capacidade de muitas vezes, parecia errada. gem diferente de presidentes de
responder ao mercado em uma velo-
cidade jamais vista. A cadeia hierár-
quica de comando da geração silen-
ciosa mostrou-se lenta demais para
isso, e equipes de projeto multifun-
Entre os boomers, caía a tradicional aura
cionais tiveram de assumir as novas
unidades organizacionais para resol-
que envolvia posições de autoridade, até
ver o problema. Nesse momento en-
trava em cena a geração do baby boom,
devido à educação –os estudantes eram ➙
de pessoas nascidas entre 1943 e 1964. incentivados a criticar livros e conceitos 131

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empresa. Profundamente preocupa- trabalho na firma tal. Não digo que mais sinais positivos de realização e
do com o trabalho em equipe e com sou o presidente da firma. A gente autoridade, mas sim símbolos de
a participação, Paul acredita na não se orgulha de ser chefe. O que distanciamento das pessoas, de
organização igualitária: nos deixa felizes são as conquistas de agressividade gratuita, e de outros
“Eu me formei sob líderes auto- nossa organização e a forma como atributos indesejáveis.
cráticos –gestão de cima para baixo. ajudamos as pessoas no dia-a-dia. Comparados com executivos de
Descobri que sempre havia vencedo- “Então, meu estilo é o envolvimen- gerações anteriores, Paul e seus
res e perdedores com eles, e tam- to com as pessoas. Eu prefiro ter a colegas são nitidamente diferentes
bém vi que esse tipo de comporta- opinião de um especialista antes de em estilo e atitude, e isso é visível
mento não resolve, necessariamente, impor uma decisão pessoal. Não nos pequenos e nos grandes gestos.
os problemas com eficácia nem faz a tenho medo de impor uma decisão se Depois de uma entrevista com Paul
organização progredir. Para mim, a precisar, mas prefiro envolver mais durante o almoço, entramos no
palavra ‘chefe’ é cheia de significa- pessoas no processo de decisão. Dessa carro da empresa e Paul se sentou
dos. As pessoas da minha geração maneira, a solução é sempre melhor.” no banco dianteiro para ficar “na
não gostam dessa palavra. Não No espaço de uma única geração, frente” com o motorista, que conhe-
queremos ser ‘chefes’. portanto, palavras como “chefe” e cia. Nessa simples escolha de onde
“Quando as pessoas me pergun- “presidente” mudaram completa- se sentar, ele estava afirmando de
tam onde trabalho, eu respondo que mente de sentido. Não representam uma maneira não tão sutil sua
atitude em relação aos funcionários
de níveis hierárquicos mais baixos.
Image Bank/Marc Romanelli

A nova tribo
Irmãos mais novos do pessoal da
geração do baby boom, os integrantes
da geração X têm quatro proemi-
nentes traços de caráter com impli-
cações no local de trabalho de
nossos dias:
1. Eles buscam um equilíbrio
real entre trabalho e vida pessoal.
2. São profundamente indepen-
dentes, seguindo os passos de seus
antecessores imediatos.
3. São a primeira geração que
verdadeiramente domina os com-
putadores e representa a Era da
Informação.
4. Sonham com locais de trabalho
que lembrem comunidades.

1. Equilíbrio entre trabalho e vida


pessoal. Os integrantes da geração X
procuram com afinco encontrar um

Na geração baby-
boom, a idéia é evitar
o distanciamento
das pessoas, a
agressividade gratuita
e outros atributos
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de “chefia”
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Os integrantes da geração X procuram Marie é um bom exemplo dessa
nova atitude. Ela acabou de sair da
com afinco encontrar um equilíbrio entre faculdade e está se preparando para
começar carreira no setor bancário.
trabalho e vida pessoal. Essa busca tem Com boa formação, filha de pais
divorciados, Marie incorpora muitas
raízes nos lares onde passaram a infância das características associadas a sua
geração. Ela gosta de dar duro no
trabalho e de ter sucesso, mas até
um certo ponto:
equilíbrio entre trabalho e vida davam tanta importância. Com “Estou perfeitamente disposta a
pessoal. Essa busca tem suas raízes frequência, ouvi este comentário em enfrentar uma longa jornada de
nos lares onde eles passaram a entrevistas: “Não vivemos para trabalho durante a semana, mas há
infância e nas organizações em que trabalhar, trabalhamos para viver. um limite. Precisamos de um tempo
seus pais trabalham. Escolhemos viver em vez de simples- para nós mesmos, para a família, para
Para começar, os integrantes da mente sustentar uma casa”. o lazer. As pessoas da minha idade
geração X, na maioria, vêm de lares Eles também querem uma família. preocupam-se mais com a qualidade
onde ambos os pais trabalhavam fora. Uma pesquisa revelou que, entre de vida. Não queremos férias longas e
De fato, a porcentagem de mulheres o final dos anos 80 e o final dos 90, caras –queremos desfrutar a vida.
que trabalhavam fora e tinham filhos a porcentagem de pessoas com cerca Não se trata de possuir mais coisas.
com menos de seis anos cresceu de de 29 anos que afirmava não querer Trata-se das incertezas da vida. Hoje a
18,6% em 1960 para 59,5% em 1992. ter filhos havia caído de 21% para vida é muito diferente do que era nos
Os integrantes da geração X benefi- meros 8%. anos 50 e 60. A quantidade de coisas
ciavam-se da renda familiar extra, mas
sentiam-se privados da companhia
dos pais, uma situação que se torna-
va ainda mais grave pelo fato de que
uma porcentagem muito alta deles
A história das três gerações
era de filhos de pais divorciados. As gerações são produtos de fatos ficaram conhecidos como yuppies.
Foi durante os anos de crescimen- históricos que influenciam profun- Suas visões eram moldadas por fatos
to dessa geração que as taxas de di- damente os valores e a visão de como o escândalo Watergate e a
vórcio explodiram –praticamente mundo de seus membros. Esses Guerra do Vietnã, que expuseram a
dobraram entre 1965 e 1977, o maior eventos trazem às pessoas lembran- vulnerabilidade da autoridade e as
aumento até então na história do ças e emoções fortes, que moldam loucuras de uma nação poderosa.
país. A causa básica desse aumento profundamente suas idéias sobre Eles também testemunharam
era o grande número de mães que instituições, autoridade, dinheiro, contrastes surpreendentes entre os
possuíam renda própria e, conse- família e carreira. líderes –alguns transmitindo espe-
quentemente, estavam menos preo- Por exemplo, a chamada geração rança e idealismo, como Martin
cupadas com as dificuldades econô- silenciosa –os nascidos entre 1925 e Luther King Jr., e outros promoven-
micas que poderiam advir de um 1942– era composta majoritariamen- do o cinismo e a apatia, como
divórcio. Em consequência, por volta te por filhos de famílias que passaram Richard Nixon.
dos 16 anos, mais de 40% dessa gera- pela Grande Depressão; os tempos A geração mais recente –os
ção morava com apenas um dos pais. difíceis enfrentados por seus pais nascidos entre 1965 e 1981– é a X
Aparentemente, os integrantes da influenciaram essas crianças no (que recebeu esse nome devido a
geração X não querem viver o sentido de valorizarem demais o um romance sobre o assunto). Seus
mesmo tipo de vida que seus pais. emprego e de se tornarem funcioná- membros são os filhos de mães que
Eles querem construir famílias mais rios obedientes. A participação dos trabalham fora ou de pais divorcia-
tradicionais e passam mais tempo pais na Segunda Guerra Mundial, por dos. Diferentemente dos integrantes
com seus filhos. Como explicou um sua vez, fez com que elas adquirissem da geração do baby boom, que ten-
executivo de 25 anos: “Você precisa um estilo de liderança autoritário. diam a se especializar em ciências
ter muito cuidado para não se Depois veio a geração do baby humanas, os membros desse grupo
dedicar 100% ao trabalho, caso boom, grupo que nasceu mais ou preferiram as áreas de administração
contrário não terá nada para ofere- menos entre 1943 e 1964. Seus e economia, trocando o idealismo
cer a seu cônjuge quando chegar em integrantes, criados na era do rock por um realismo mais pragmático e
casa no fim do dia”. e da rebeldia e em um período de cético. Entre suas principais influên-
Eles acham que passar mais extraordinária riqueza nos EUA, cias estão Ronald Reagan, a explosão
tempo em casa com a família não tornaram-se uma tribo um tanto do ônibus espacial Challenger e a
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era uma prioridade a que seus pais quanto indulgente e narcisista e Guerra do Golfo.

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Eles também querem ter família. Uma trabalho: auto-suficiência”. Correta-
mente, os integrantes perceberam
pesquisa revelou que a porcentagem de que a lealdade à empresa era coisa
do passado. O contrato de trabalho
pessoas que afirmam não querer filhos vitalício, que havia começado a se
deteriorar na época da geração do
caiu para 8% (era 21% há dez anos) baby boom, praticamente deixou de
existir para a geração X.
Quando lhes perguntamos sobre
suas expectativas de carreira, esses
desagradáveis que podem acontecer As atitudes dos integrantes da jovens executivos respondem tranqui-
é muito maior. Doença, violência geração X foram moldadas em parte lamente que, segundo suas previsões,
–quer dizer, somos constantemente por um presidente norte-americano deverão trabalhar em três ou cinco
bombardeados por todas essas coisas que pregou a auto-suficiência. Como empresas durante toda a carreira.
negativas, o que nos leva a pensar me disse um executivo de 25 anos: Quando perguntamos por que tantas,
que precisamos também desfrutar a “Uma das pessoas que mais influen- eles respondem que têm certeza de
vida. Além disso, nossa família é tão ciaram nossa geração foi Ronald que cedo ou tarde serão demitidos.
importante quanto nossa carreira. Reagan. Basicamente ele dizia: ‘O Eles também acham que não con-
Muitas das minhas amigas estão seu destino está em suas mãos. Se seguirão melhores oportunidades,
pensando seriamente em ficar em trabalhar duro, você terá sucesso. Vai melhores salários e melhores desafios
casa para criar os filhos, embora depender de você. Você é o capitão esperando pacientemente para gal-
sejam pessoas brilhantes e tenham do seu navio. Esta é a terra das gar os degraus necessários, mas sim
uma ótima carreira.” oportunidades. Se você não tiver mudando para outra empresa.
Por desejar uma vida mais equili- sucesso, a culpa será sua’”. Seu objetivo é usar cada um dos
brada, esta geração terá mais confli- Nas gerações anteriores, as empregos para desenvolver as
tos que as anteriores. Por exemplo, pessoas eram obedientes e sacrifica- habilidades que criarão as oportuni-
os integrantes da geração X valori- vam a vida pessoal para demonstrar dades para o próximo. A lealdade
zam muito um trabalho interessante, lealdade à empresa em que traba- deve ser somente para consigo
e este geralmente vem acompanha- lhavam. Em geral, as recompensas mesmo e com os colegas, não para
do de uma jornada de trabalho mais eram promoções, emprego vitalício com o chefe ou a empresa.
longa e de níveis de exigência mais e o poder de comandar outras Para essa nova geração, o trabalho
altos. Ao mesmo tempo, eles querem pessoas. Esse tipo de contrato é, antes de qualquer coisa, uma
desfrutar seus fins de semana, significa pouco para a geração X. transação. Ela espera de seus patrões
querem casamentos felizes. Esse desinteresse pela lealdade foi uma recompensa apenas imediata.
Esse conjunto de valores poderá desencadeado pelas próprias empre- Nas palavras de um jovem e talen-
mudar à medida que essas pessoas sas. Exatamente quando eles estavam toso executivo:
forem entrando na meia-idade, saindo da faculdade começava a “Somos mais céticos em relação a
quando aumentam muito as pressões onda de downsizing e, sem nenhuma nossos empregadores: você me usa
da carreira, mas, por ora, tais valores cerimônia, as empresas começaram por alguns anos, e eu vou usá-lo por
parecem ser sua marca registrada. a colocar antigos funcionários na alguns anos. Assim que deixarmos
Essa geração vai demandar das rua. Entre 1979 e 1995, 43 milhões de ser úteis um para o outro, adeus.
organizações maneiras mais flexíveis de postos de trabalho desaparece- As empresas podem esperar de nós
de incorporar um tempo para a vida ram devido ao downsizing. longas jornadas de trabalho e longas
familiar e pessoal àquelas carreiras Muitos desses “despejados” eram viagens, mas, em troca, nós espera-
com um alto nível de exigência. pais dos integrantes da geração X. mos ganhar a experiência e o
Nas capas das revistas especializadas treinamento que poderemos levar
2. Donos do próprio nariz. Os inte- jogadas na mesa de centro da sala para o próximo emprego.”
grantes da geração X já demonstra- desses pais, apareciam manchetes E o executivo da geração X
ram estar muito menos dispostos a se como “Sua carreira está em suas continua: “Com a morte do empre-
identificar exageradamente com mãos” ou “O novo contrato de go vitalício, as empresas perderam
qualquer organização. Eles acreditam
que fazem parte de uma tribo inde-
pendente e podem mudar de lugar
quando não gostam de onde estão. A geração X não é leal ao chefe,
Eles estão dando continuidade à ten-
dência de independência iniciada mas a si mesma, pois utiliza o emprego ➙
com a geração do baby boom e levan-
do-a a seu extremo lógico –pouca ou para desenvolver novas habilidades 135

nenhuma lealdade.
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Image Bank/Davis de Lossy
uma de suas ferramentas mais rio e diria: ‘Bom, o Jack me disse Esta tarde eu tenho uma reunião
importantes para conquistar o que você está meio descontente. com um jovem que está ponderando
compromisso. Em consequência, Vamos conversar sobre isso’. se deve ou não permanecer no ban-
somos muito mais dinâmicos e “A conversa provavelmente seria co. É um rapaz muito inteligente e
caímos fora assim que percebemos circunspecta. Seria na terceira impaciente que acha que não está
que nossas expectativas e necessida- pessoa –a referência ao que o banco progredindo tão rapidamente quanto
des não estão sendo atendidas”. achava de você e como seus superio- deveria. Ele vai me dizer, com palavras
Para ilustrar essa mudança, vamos res tinham uma alta consideração muito precisas e um monte de deta-
voltar ao banqueiro sênior de Nova por você etc. etc. Não havia muita lhes, por que, em sua opinião, nós
York, que faz uma comparação entre coisa que a gente pudesse fazer. O não o deixamos assumir a responsabi-
como um jovem funcionário descon- chefe tinha todas as cartas na mão. lidade que esperava. E também por
tente e ambicioso teria sido tratado “A geração atual, ao contrário, que acha que poderia mudar para o
há uma geração, quando ele estava tem outra atitude e um conjunto de concorrente, já que ouviu dizer que
começando sua carreira, e como é expectativas totalmente diferente. lá, em um ano e oito meses, uma
tratado hoje:
“No passado, os funcionários
particularmente ativos eram muito
mansos comparados ao modo como
se comportam hoje. Um subordina-
Estar “por dentro” do computador, tendo
do descontente procuraria seu
superior e diria, muito educadamen-
facilidade de manipular informações, dá
te: ‘Jack, não sei se tenho jeito para
fazer isso’, ou coisa do gênero. Jack,
ao pessoal da geração X maior mobilidade
136
então, conversaria com seu superior.
Esse superior chamaria o funcioná-
de carreira e certo grau de poder
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pessoa pode atingir certa posição.” a história do computador é bem marcada pela chegada do micro.
Com grande velocidade, essa nova diferente. Eles são de fato a primeira Estar “por dentro” do computa-
atitude diante da lealdade está geração criada sob a influência dessa dor, tendo facilidade de acesso e de
minando os modelos tradicionais de máquina. Quando adolescentes, já manipulação das informações,
gestão. Para conquistar essa geração, gozavam de plena intimidade com o proporciona aos integrantes da
os executivos precisam compreender computador –como uma pequena geração X duas vantagens: maior
que seus representantes querem caixa em cima de uma mesa. mobilidade de carreira e certo grau
experiências que sejam adequadas às Na realidade, a Era do Computa- de poder. Ou seja, o conhecimento
suas aspirações de carreira e infor- dor começou com a geração do baby de informática pode ser facilmente
mações que os mantenham atualiza- boom –o primeiro computador transportado de uma empresa para
dos e em crescimento contínuo. comercial, o Univac 1, surgiu no outra; e ele dá ao jovem executivo
início dos anos 50. Mas por várias certas “alavancas” de controle dos
3. “Micreiros” experientes. Os décadas, no entanto, todo o poder superiores que tenham menos
integrantes da geração do baby boom da computação permaneceu relativa- conhecimento do que ele.
devem se lembrar dos primeiros mente distante da maioria das Um exemplo bastante forte da
computadores que viram na faculda- pessoas. Foi somente a partir de última vantagem é Chris, um jovem
de. Eles eram colocados em salas 1970, com a criação do microproces- executivo que entrevistei. Ele traba-
especiais e geralmente em prédios sador pela Intel, que as pessoas lha em uma empresa de US$ 1 bilhão
exclusivos. De grande porte, tinham realmente tiveram acesso à computa- que distribui componentes eletrôni-
um ar místico ali atrás da parede de ção. O microprocessador, ou “o cos. Chris é responsável pelo moni-
vidro da sala com ar condicionado. computador em um chip”, represen- toramento da capacidade financeira
Para os integrantes da geração X, tou o “big bang” para uma nova era, dos clientes e do estoque geral da
empresa, para saber o que tem boa
venda e o que não tem. Ele faz
previsões de vendas para garantir
“ C O N F L I T O ” D E G E R A Ç Õ E S que os níveis de estoque estejam
adequados. Juntamente com outros
Motivos que levaram a fazer uma faculdade 12 gerentes de ativos, Chris reporta-
0 25 50 75 100% se diretamente a um vice-presidente
Satisfazer os pais de operações. Existem duas diferen-
Conseguir um emprego melhor ças-chave entre Chris e seu vice-
presidente. Uma é a idade –Chris
Ter uma formação geral
tem 30 anos e seu chefe 52. Outra
Ganhar mais dinheiro é o conhecimento de informática
Aprender mais sobre as coisas –Chris tem, seu chefe não.
Preparação para cursos de Uma vez por mês, o vice-presiden-
pós-graduação/profissionalizantes te entrega a Chris um relatório de
mil páginas para ele revisar. Chris
Objetivos essenciais ou muito importantes leva de quatro a cinco dias para
0 25 50 75 100% examinar o relatório, procurando
Constituir família problemas, tais como estoque
inchado de determinado componen-
Adquirir boa situação financeira
te ou dificuldades de crédito. Certo
Ajudar pessoas em dificuldades dia, Chris pediu ao vice-presidente
Ter sucesso em empreendimento próprio uma cópia em disquete do banco de
Participar de ações comunitárias dados que gerava o relatório. Com o
disquete, seu trabalho poderia ser
Estudantes acima da média ou no alto da escala feito em muito menos tempo. O
0 25 50 75 100% vice-presidente relutou muito, mas,
Capacidade acadêmica depois de Chris insistir por vários
Capacidade de liderança
dias, entregou o disquete.
Chris, então, analisou o relatório
Capacidade em matemática
em apenas três horas. Enquanto
Popularidade pesquisava o banco de dados para
Autoconfiança intelectual descobrir problemas de crédito,
Autoconfiança social Chris aproveitou para fazer outras
análises. E se surpreendeu. Desco- ➙
137
Fonte: Higher Education Research Institute,
University of California at Los Angeles (UCLA). Geração do baby boom Geração X briu, por exemplo, que a firma

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estava comprando alguns componen- a idade. Hoje, a sabedoria está cada projetados para criar a impressão de
tes dos quais havia menos pedidos vez mais ligada à juventude, graças, que ainda estamos na faculdade.
colocados ou até nenhum pedido. em grande medida, às mudanças As vantagens da criação de espaços
Em alguns casos, esses erros estavam rápidas na área tecnológica. O que lembram a vida universitária são
custando à firma dezenas de milha- segredo está em as gerações mais claras. Na escola, estudávamos por
res de dólares por componente. velhas saberem aproveitar isso. muitas horas sem ver o tempo passar.
Chris comunicou suas descobertas O que tornava isso tolerável era o fato
ao vice-presidente. Este não gostou 4. Buscando o lar. Analisando de que os amigos estavam sempre por
nada, e no mês seguinte se recusou a as empresas de ponta que surgiram perto, trabalhando e se divertindo
entregar o arquivo em disquete para nas duas últimas décadas na costa conosco. Formávamos uma comuni-
Chris. Chocado com essa reação, oeste dos Estados Unidos –as Micro- dade. Os ambientes semelhantes aos
Chris resumiu assim as implicações softs, as Nikes, as Sun Microsystems–, dos campi das empresas conseguem
do pedido: muitas se diferenciam por sua resultados semelhantes.
“O vice-presidente percebeu que a “cultura de campus”. O que distingue os integrantes da
entrega do arquivo me possibilitaria Basicamente, a arquitetura e os geração X dos membros das outras
o acesso a informações totalmente serviços dessas empresas têm como gerações é a redefinição do conceito
desconhecidas para mim. Ele levaria objetivo eliminar a distinção entre de comunidade. Não podemos nos
seis semanas para fazer manualmen- local de trabalho, campus universitá- esquecer de que, na infância dessa
te o que eu fiz em duas horas. Ele rio e comunidade. As atividades geração, sua comunidade mais próxi-
também percebeu que eu poderia extratrabalho programadas por essas ma, a família, sofria abalos –com os
substituí-lo, porque sabia exatamen- empresas assemelham-se às dos cam- índices recordes de divórcio– e as
te como fazer as perguntas certas ao pi universitários, com jogos de vôlei, comunidades registravam baixas, co-
computador. Imagine o que eu churrascos, bailes. As cantinas das em- mo as associações de pais e mestres,
poderia fazer se tivesse acesso total. presas ficam abertas dia e noite. Suas os escoteiros, as lojas maçônicas, as
Ninguém mais precisaria dele. geladeiras estão sempre perto, cheias câmaras de comércio e até as igrejas.
“Agora o presidente anda dizendo: de petiscos e refrigerantes, exatamen- Isso significa que os integrantes
‘Não consigo entender o que aconte- te como a de casa. Esses locais são da geração X são a primeira geração
ce nessa área de operações’. Um dia que não conta com a presença
alguém vai descobrir que o vice-presi- significativa de uma comunidade
dente é quem está empatando nosso real em sua vida. Suas comunidades,
potencial. O problema é que, quando A arquitetura das ao contrário, tendem a ser pequenos
isso acontecer, será muito tarde. Trin-
ta por cento dos nossos gerentes de empresas da círculos de amigos.
Exatamente por esse motivo, os
ativo já deixaram a empresa, e imagi-
no que os que sobraram também não
geração X visa locais de trabalho que conseguem
criar um verdadeiro senso de comu-
vão ficar muito tempo. Eu e outro
gerente estamos indo embora na se-
eliminar a distinção nidade tornam-se os ambientes de
trabalho preferidos dessa geração. E
mana que vem.”
O que precisamos compreender é
entre local de o trabalho em equipe é um dos
melhores caminhos para a criação
que, na área do conhecimento de
informática, a diferença de habilida-
trabalho, campus de comunidades.
O convívio é possível
des entre as gerações aumenta de
forma espetacular. No passado, a
universitário e A intenção desta pesquisa sobre a
sabedoria vinha com a experiência e comunidade geração X é ajudar os executivos e as
empresas a conhecê-la e assim poder
aproveitar todo o seu potencial.
Para trabalhar de forma eficaz
Saiba mais sobre Jay Conger com o pessoal mais novo, as gera-
ções mais velhas terão de ser mais
Jay Conger é diretor-executivo Schuster). Antes de assumir o Institu- sensíveis. Se conseguirem oferecer
e professor do Instituto de Lideran- to de Liderança, Conger era profes- aos mais jovens projetos desafiado-
ça da University of Southern Cali- sor da Harvard Business School, res, respeitar suas necessidades de
fornia, com sede em Los Angeles. em Cambridge, Massachusetts, e do independência e criar comunidades
É autor de quatro livros sobre o INSEAD, na Suíça. no local de trabalho, eles os recom-
assunto, entre os quais Líder Carismá- A revista Business Week classificou-o pensarão com uma coisa bastante
tico –O Segredo da Liderança (ed. como o melhor professor da atuali- rara e valiosa: dedicação. ◆
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Makron Books) e Managing in the dade nos EUA de cursos sobre
Age of Persuasion (ed. Simon & liderança para executivos. © Strategy & Business

HSM Management 11 novembro-dezembro 1998

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