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Gestão Financeira

Prof. Gonter Bartel

2011
Copyright © UNIASSELVI 2011

Elaboração:
Prof. Gonter Bartel

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

658.15
B283g Bartel, Gonter
Gestão financeira / Gonter Bartel. 2ª ed. Indaial :
Uniasselvi, 2011. 181 p. il.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7830-454-6

1. Gestão financeira
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci
Apresentação
Caro(a) acadêmico(a)!

Ao finalizar este caderno você terá conhecido o que envolve o ambiente


da Gestão Financeira, as decisões de curto e longo prazo. A compreensão da
Gestão Financeira nos possibilitará obter melhores resultados.

Na primeira unidade serão abordados os aspectos introdutórios


da disciplina: os aspectos que compõem o ambiente da Gestão Financeira,
mercado, tributação, demonstrações, índices de análise para tomada de
decisão, fluxos de caixa e variáveis que alteram os resultados.

Os investimentos e financiamentos serão abordados na segunda


unidade, nos quais é preciso identificar os fluxos relevantes, conhecer algumas
técnicas e avaliar os riscos na decisão de financiamentos, investimentos. É
fundamental que o gestor financeiro consiga lidar com os financiamentos, a
fim de conseguir a alavancagem de capital.

No fechamento deste caderno, a gestão é abordada baseada em valor,


algumas decisões de curto prazo, pertinentes, principalmente, ao capital de
giro. O não dimensionamento do capital de giro tem comprometido muitas
empresas, levando-as, muitas vezes, a uma situação de falência. Também
conheceremos um pouco sobre o sistema financeiro nacional e alguns
aspectos internacionais.

Ao estudar este caderno, procure refletir sobre estes conteúdos na


sua própria gestão financeira. Cada um de nós precisa gerir os seus recursos
financeiros.

Este Caderno de Estudos foi cuidadosamente elaborado com a


intenção de facilitar sua caminhada e ajudá-lo(a) nos primeiros passos para
se tornar um administrador.

Prof. Gonter Bartel

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – GESTÃO FINANCEIRA ........................................................................................... 1

TÓPICO 1 – AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA ................................................................ 3


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 3
2 TRIBUTAÇÃO DE EMPRESAS ...................................................................................................... 5
3 DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS ........................................................................................... 9
3.1 DRE – DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADOS DO EXERCÍCIO ...................................... 10
3.2 BALANÇO PATRIMONIAL ..................................................................................................... 12
4 ÍNDICES FINANCEIROS ................................................................................................................ 16
4.1 ÍNDICES DE LIQUIDEZ ............................................................................................................ 17
4.1.1 Índice de liquidez corrente ............................................................................................... 17
4.1.2 Índice de liquidez seca ...................................................................................................... 18
4.2 ÍNDICES DE ATIVIDADE ......................................................................................................... 19
4.2.1 Giro de estoques ................................................................................................................. 19
4.2.2 Prazo médio de recebimento ............................................................................................ 20
4.2.3 Prazo médio de pagamento .............................................................................................. 21
4.2.4 Giro do ativo total .............................................................................................................. 21
4.3 ÍNDICES DE ENDIVIDAMENTO ............................................................................................ 22
4.3.1 Índice de endividamento geral ......................................................................................... 22
4.3.2 Índice de cobertura de juros ............................................................................................. 23
4.4 ÍNDICES DE RENTABILIDADE ............................................................................................... 23
4.4.1 Margem de lucro bruto ..................................................................................................... 23
4.4.2 Margem de lucro operacional .......................................................................................... 24
4.4.3 Margem de lucro líquido .................................................................................................. 25
4.4.4 Retorno do ativo total ........................................................................................................ 25
4.4.5 Retorno do capital próprio ............................................................................................... 26
4.4.6 Análise completa ................................................................................................................ 26
RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 29
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 30

TÓPICO 2 – FLUXOS E PLANEJAMENTO .................................................................................... 33


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 33
2 FLUXOS DE CAIXA .......................................................................................................................... 33
3 ORÇAMENTOS DE CAIXA ............................................................................................................ 38
4 DEMONSTRAÇÕES E BALANÇOS PROJETADOS ................................................................. 43
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 47
RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 52
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 53

TÓPICO 3 – VARIÁVEIS NA GESTÃO FINANCEIRA ............................................................... 57


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 57
2 VALOR DO DINHEIRO NO TEMPO ........................................................................................... 57
3 RISCO E RETORNO ......................................................................................................................... 61
4 TAXAS DE JUROS ............................................................................................................................. 63

VII
5 AÇÕES ................................................................................................................................................. 65
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 67
RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 70
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 71

UNIDADE 2 – INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS ........................................................ 73

TÓPICO 1 – INVESTIMENTOS ........................................................................................................ 75


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 75
2 ORÇAMENTO DE CAPITAL .......................................................................................................... 75
2.1 PROJETOS INDEPENDENTES ................................................................................................ 78
2.2 PROJETOS MUTUAMENTE EXCLUDENTES ....................................................................... 79
3 FLUXOS RELEVANTES ................................................................................................................... 79
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 82
RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 86
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 87

TÓPICO 2 – MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS ............. 89


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 89
2 PAYBACK ............................................................................................................................................. 89
2.1 PAYBACK SIMPLES ................................................................................................................... 90
2.2 PAYBACK DESCONTADO ....................................................................................................... 93
3 VPL ........................................................................................................................................................ 95
4 TIR ........................................................................................................................................................ 98
5 VPL x TIR ............................................................................................................................................ 101
6 TIR/ANÁLISE INCREMENTAL ..................................................................................................... 102
7 RISCOS ................................................................................................................................................ 102
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 106
RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 108
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 109

TÓPICO 3 – FINANCIAMENTOS E ALAVANCAGEM DE CAPITAL ..................................... 111


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 111
2 ESTRUTURA DE CAPITAL ............................................................................................................. 111
3 CUSTO DE CAPITAL E FINANCIAMENTOS ............................................................................ 114
3.1 CUSTO MÉDIO PONDERADO DE CAPITAL (CMPC) ....................................................... 116
4 ALAVANCAGEM .............................................................................................................................. 119
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 124
RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 127
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 128

UNIDADE 3 – CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS ............................................................ 129

TÓPICO 1 – GESTÃO BASEADA EM VALOR .............................................................................. 131


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 131
2 CRIAÇÃO DE VALOR E CUSTO DE OPORTUNIDADE ........................................................ 131
3 RESULTADO OPERACIONAL E EFEITO DO IR ...................................................................... 133
4 EVA ....................................................................................................................................................... 134
5 CÁLCULO DO EVA .......................................................................................................................... 136
6 RESUMO DAS DEMONSTRAÇÕES DE RESULTADO ........................................................... 140
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 141

VIII
RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 144
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 145

TÓPICO 2 – CAPITAL DE GIRO ....................................................................................................... 147


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 147
2 ATIVOS CIRCULANTES ................................................................................................................. 147
3 PASSIVOS CIRCULANTES ............................................................................................................ 150
4 NECESSIDADES DE CAPITAL DE GIRO ................................................................................... 151
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 156
RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 159
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 160

TÓPICO 3 – INCORPORAÇÕES E FALÊNCIAS ........................................................................... 161


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 161
2 ARRENDAMENTOS ........................................................................................................................ 161
3 FUSÕES E AQUISIÇÕES ................................................................................................................. 162
4 FALÊNCIA DE EMPRESAS ............................................................................................................. 164
RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 166
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 167

TÓPICO 4 – SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E GESTÃO FINANCEIRA


INTERNACIONAL ....................................................................................................... 169
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 169
2 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL ......................................................................................... 169
3 GESTÃO FINANCEIRA INTERNACIONAL .............................................................................. 171
3.1 RISCOS ........................................................................................................................................... 172
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 174
RESUMO DO TÓPICO 4 .................................................................................................................... 177
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 178

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 179

IX
X
UNIDADE 1

GESTÃO FINANCEIRA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:

• apresentar o ambiente da Gestão Financeira;

• demonstrar a tributação nos resultados financeiros;

• explicar as demonstrações financeiras;

• compreender e calcular os diferentes índices financeiros;

• demonstrar a importância dos fluxos de caixa;

• analisar as variáveis da Gestão Financeira.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos, sendo que em cada um deles
você encontrará atividades que o(a) ajudarão na compreensão dos conteúdos
apresentados. Os três tópicos desta primeira unidade permitem conhecer
elementos básicos da gestão financeira.

TÓPICO 1 – AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

TÓPICO 2 – FLUXOS E PLANEJAMENTO

TÓPICO 3 – VARIÁVEIS NA GESTÃO FINANCEIRA

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

1 INTRODUÇÃO
Introduzimos os estudos da Gestão Financeira com a seguinte citação:
“Podemos definir finanças como a arte e a ciência da gestão do dinheiro”
(GITMANN, 2004, p. 4). Pelas mãos das pessoas e das empresas circula o dinheiro,
onde recebemos, pagamos e investimos.

A Gestão Financeira é uma atividade dinâmica, que deve começar por


você. Cada um precisa saber gerenciar o seu dinheiro, fazê-lo render. Além deste
autogerenciamento, obviamente, o seu campo de atuação estende-se para as
empresas públicas e privadas, todas precisam também fazer render o dinheiro.

Juridicamente, as empresas podem se organizar em:

• Firmas individuais: a própria expressão já revela que nesta modalidade


a empresa pertence ao indivíduo. Nesta modalidade, todo o patrimônio do
indivíduo – único dono da empresa – pode ser utilizado para saldar as dívidas e
sua responsabilidade é ilimitada. Esta é uma modalidade comum para pessoas
com pequenos estabelecimentos. A tributação sobre os seus ganhos ocorre na
sua declaração de rendimentos de pessoa física do proprietário.

• Sociedade por cotas: nesta modalidade, a própria expressão revela a situação


de uma sociedade, a qual se caracteriza pela existência de dois ou mais sócios.
Cada um dos sócios tem a sua responsabilidade limitada às suas cotas de
participação na sociedade. A tributação é diferente da firma individual e
distingue-se entre as diferentes atividades industriais, comerciais e de serviços.

• Sociedade por ações: é formada pelos seus acionistas, que compram e


detêm quantidades de ações ordinárias ou preferenciais, limitando a sua
responsabilidade. Os acionistas podem comprar mais ações, serem acionistas de
outras empresas, negociarem suas ações a fim de maximizar os seus resultados.
As ações são negociadas nas bolsas de valores, através de seus corretores.

3
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

Independente do regime jurídico das organizações, as pessoas das mais


diferentes áreas precisam atuar de forma integrada; onde, de uma forma ou de
outra, acabam interagindo com as finanças.

Vamos exemplificar com o departamento de compras de uma empresa, no


qual os fornecedores apresentam valores diferentes e as mais diferentes condições
de pagamento. O comprador não poderá decidir, isoladamente, sem conhecer as
possibilidades financeiras de a empresa realizar este pagamento. No pagamento à
vista pode-se obter um desconto, mas se não há disponibilidade, precisamos buscar
um empréstimo e, então, é necessário avaliar o que custa mais e o que custa menos.

Da mesma forma, o departamento comercial também precisa estar


integrado com o financeiro, para poder estabelecer a sua política comercial de
prazos, acréscimos e descontos. Aqui também é necessário conhecer o mercado.

AUTOATIVIDADE

“Não basta saber, é preciso saber fazer”, por isso, a partir do que
acabamos de relatar, se você trabalha em alguma empresa ou conhece quem
trabalha, procure descobrir como funciona a relação do setor financeiro com
os demais setores da empresa. Leve suas contribuições para discutir com seus
colegas de turma.

A Gestão Financeira tem uma relação direta com a teoria econômica e com
a contabilidade. Em relação à teoria econômica, é preciso compreender e estar
atento aos diferentes níveis de atividades econômicas, às mudanças políticas, à
análise da oferta e da demanda, à teoria da formação de preços etc.

Nesse tema, a Gestão Financeira tem que estar bem informada sobre o
mercado de capitais, os custos dos juros, as perspectivas da inflação (para enxergar
tendências no incremento dos insumos e preços a serem repassados aos clientes) e
as perspectivas de crescimento e decrescimento do mercado onde atua a empresa.

Já com a contabilidade, a Gestão Financeira também tem uma relação


direta, pois é desta movimentação financeira que ocorrem os registros contábeis.
Isto vai auxiliar você a conhecer o seu fluxo de caixa e a tomar decisões. Mais
adiante serão aprofundados os conhecimentos sobre fluxo de caixa.

É preciso fazer render o dinheiro. Este fazer render o dinheiro é


interpretado por muitos, na gestão financeira, como a maximização dos lucros.
Esta maximização de lucro deve considerar o tempo, os fluxos de caixa e o risco;
sendo que esta interpretação difere entre as empresas por cotas e por ações.

4
TÓPICO 1 | AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

E
IMPORTANT

Você é responsável por controlar o seu dinheiro e fazê-lo render. Na empresa, a


sua Gestão Financeira também objetiva o controle do dinheiro, o seu rendimento, alinhado
às expectativas dos sócios ou acionistas.

2 TRIBUTAÇÃO DE EMPRESAS
Os trabalhadores compõem o seu montante de dinheiro para pagar as
suas contas e realizar os investimentos a partir do seu trabalho, prestado a uma
ou mais empresas. As empresas compõem este montante de dinheiro a partir
do resultado dos produtos e/ou serviços comercializados para as pessoas, outras
empresas ou mesmo para o governo.

Os governos: municipais, estaduais e nacionais compõem parte da


estrutura pública que necessita de recursos financeiros para sua manutenção.
Além das receitas aferidas pelas empresas do governo (estatais), nós (pessoas
físicas) e as empresas (pessoas jurídicas) precisamos contribuir financeiramente
com estes governos por meio de impostos, taxas e tributos.

Ao adquirir algo, um bem móvel ou imóvel, estamos contribuindo com o


pagamento de algum imposto embutido ou não no preço. Por exemplo: no preço
dos alimentos que adquirimos no supermercado estão incluídos: os custos, o lucro
e os impostos que este supermercado deve pagar ao governo. Da mesma forma,
ao comprar um veículo, boa parte do valor corresponde aos impostos devidos
pela montadora e concessionária ao governo.

Cada vez mais os veículos de comunicação têm divulgado a parte que


corresponde aos impostos, do valor que é pago pelos produtos e/ou serviços. Para
compreender, segue um exemplo: imagine que o imposto sobre os medicamentos
seja de 50%. Neste caso, ao adquirir um medicamento qualquer por R$ 50,00, você
está pagando R$ 25,00 pelo medicamento e R$ 25,00 de impostos. Sem o imposto,
você poderia comprar dois medicamentos ou pagar a metade.

Discute-se muito, no Brasil, a chamada “carga tributária” sobre os


produtos e/ou serviços. Há itens em que a tributação é muito alta, dificultando o
acesso à população aos mesmos.

5
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

Anualmente, a grande maioria das pessoas precisa realizar a sua


declaração de Imposto de Renda. Nesta declaração constam os dados pessoais, os
bens, pagamentos realizados e, principalmente, os rendimentos obtidos. A partir
de uma tabela do governo federal, o sistema realiza um cálculo para determinar
o quanto é possível restituir do imposto já deduzido mensalmente, na folha de
pagamento. Há casos em que, além do imposto já deduzido, mensalmente, a
pessoa ainda deve ao governo um pouco mais de Imposto de Renda, geralmente,
nos casos de mais de um emprego ou de ter outros rendimentos.

E
IMPORTANT

Para maiores detalhes sobre o Imposto de Renda de Pessoa Física, consulte na


internet o site da Receita Federal do Brasil.

Bem, até aqui é tudo muito simples. Agora, vamos falar das empresas. Sua
natureza é pessoa jurídica. Ao constituir a empresa é preciso definir o seu objeto
social, ou seja, estabelecer o que ela vai fazer, qual a sua atuação.

Pode-se constituir uma indústria madeireira, metal-mecânica, alimentícia,


têxtil, entre outras. Também é possível constituir um estabelecimento comercial
atacadista e/ou varejista; ou ainda, uma prestadora de serviços. A empresa não precisa
se caracterizar, individualmente, por uma das modalidades acima, pode incorporar
as três, pois pode produzir, comercializar e ainda prestar serviços aos clientes.

Em cada uma destas situações encontramos uma legislação específica


de impostos e alíquotas, em todas as esferas: municipal, estadual e federal. Por
exemplo, uma prestadora de serviços precisa recolher um imposto ao município
onde está instalada, denominado de ISS (Imposto Sobre Serviço). Alguns
municípios têm alíquota única, independente do serviço, enquanto outros têm
alíquotas diferenciadas, dependendo do serviço.

ATENCAO

Imaginando escolas de idiomas de três municípios, pode-se ter o município “A”


cobrando 2% de ISS, o município “B” cobrando 3% de ISS, enquanto que o município “C” pode
isentar a escola do ISS durante um período, com o intuito de desenvolver a cidade, dando-lhe
este incentivo fiscal.

6
TÓPICO 1 | AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

Assim como variam os impostos entre os municípios, também vamos


constatar a variação dos impostos estaduais e federais. Além dos impostos serem
diferentes nas esferas municipais, estaduais e federal, também dependem da
atividade e do porte da empresa.

E
IMPORTANT

Ao decidir onde instalar a empresa ou sua unidade de negócios, avalia-se, além


de outros fatores, também a carga tributária.

O município e/ou o Estado podem conceder incentivo fiscal com o


propósito de atrair empresas para a sua região, fomentando emprego, renda
e desenvolvimento. Da mesma forma, a nação pode dar benefícios para que
empresas internacionais se instalem no Brasil.

Obviamente, que as empresas não avaliam apenas a carga tributária,


sendo necessário avaliar outros aspectos, tais como: mão de obra qualificada,
disponibilidade de matéria-prima, recursos tecnológicos, infraestrutura (seja
rodoviária, aeroviária, ferroviária ou portuária), dentre outros. São realizados
muitos cálculos, considerando o conjunto de todas as variáveis, simulando
diferentes cenários, para que se possa decidir pelo mais favorável.

Neste cenário empresarial, o contador é o profissional que auxilia na


constituição de uma empresa, bem como: na correta identificação do regime de
tributação da empresa, de seus produtos e/ou serviços. Geralmente, na maioria
das micro, pequenas e médias empresas, este profissional é representado por um
escritório de contabilidade – prestador de serviços. Há casos em que o contador
é um funcionário da empresa. Independente de ser funcionário ou prestador de
serviços, o contador realiza todos os registros contábeis fiscais, apurando todos
os impostos a serem pagos.

Este conhecimento tributário não deve ser apenas do contador, mas


também do gestor financeiro. Você deve conhecer o regime de tributação de sua
empresa e de cada um dos seus produtos, para garantir que a receita das vendas
assegure o pagamento dos impostos, dos fornecedores, de todas as despesas
administrativas e de pessoal, garantindo o resultado positivo (lucro) no final do
período (exercício). O conhecimento de toda esta denominada “carga tributária”
pode ser obtido em cada um dos órgãos competentes: município, estado e nação.

7
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

ATENCAO

Procure manter-se sempre atualizado quanto à tributação da sua empresa, pois a


legislação sofre mudanças constantes. Se neste período você tributa sobre uma alíquota, pode
no próximo período ter uma alíquota maior, menor ou, ainda, estar isento do seu pagamento.

Para melhor compreensão de cálculos básicos do preço de venda, impacto


de impostos, custos e lucros, vamos ao exemplo a seguir:

Exemplo: você comercializa camisetas brancas, compra-as ao preço de R$ 7,00


e deseja trabalhar com uma margem de lucro de 30%. Vamos supor que os impostos
representam 10%. Como ocorrem os resultados a partir de duas interpretações:

Situação A: se a partir do preço de compra você acrescentar 30%, terá:


Preço de venda é: (R$ 7,00 + 30%, ou seja, R$ 7,00 + R$ 2,10). R$ 9,10
Dedução dos 10% de impostos (R$ 9,10 – 10%). - R$ 0,91
Valor já deduzidos os impostos (R$ 9,10 – R$ 0,91). R$ 8,19
Pagamento ao fornecedor (custo da mercadoria). R$ 7,00
Deste lucro, você precisa ainda pagar suas despesas administrativas e de pessoal. R$ 1,19

Situação B: se do seu preço de venda vai obter 30% para chegar ao custo, terá:
Seu preço de venda é: (R$ 7,00 / (1-30%), ou seja, (R$ 7,00 / 70%). R$ 10,00
Dedução dos 10% de impostos (R$ 10,00 – 10%). R$ 1,00
Valor já deduzidos os impostos (R$ 10,00 – R$ 1,00). R$ 9,00
Pagamento ao fornecedor (custo da mercadoria). R$ 7,00
Deste lucro, você precisa ainda pagar suas despesas administrativas e de pessoal. R$ 2,00

NOTA

A maioria dos impostos tem como base de cálculo o faturamento (valor das
vendas), e a partir daí deduz-se os impostos. Observe ainda que o exemplo anterior considera
30% de lucro de duas formas – interpretações.

8
TÓPICO 1 | AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

Do exemplo anterior, a situação B apresenta um lucro superior à situação


A. Agora, se você tiver uma baixa despesa administrativa e de pessoal e vender
bastante (alto giro), poderá lucrar mais na situação A. Se você tiver uma despesa
administrativa e de pessoal dentro da média, mas o seu giro (vendas) não for
significativo, mesmo que pratique a situação B, poderá não ter lucro.

Além do custo, dos impostos, da despesa administrativa e de pessoal,


também precisamos considerar o volume de vendas (giro) mensal. Há produtos
com os quais conseguimos trabalhar com margens maiores, e com outros
precisamos trabalhar com margens menores para conseguir vender.

TUROS
ESTUDOS FU

As demonstrações do exemplo anterior não consideram a forma nem a condição


de pagamento do cliente, bem como ao fornecedor. Veremos variáveis exploradas mais adiante.

3 DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS
Ao receber dinheiro e efetuar os pagamentos, a empresa está tendo a
sua movimentação financeira, e toda esta movimentação precisa ser registrada
e demonstrada.

As demonstrações, como a própria palavra diz, vão demonstrar tudo o


que aconteceu ou está por acontecer com os recursos financeiros da empresa: as
entradas, as saídas e os resultados.

Dentre as formas de demonstrações, este tópico abordará: o DRE –


Demonstração dos Resultados do Exercício e o Balanço Patrimonial.

Os demonstrativos podem ser gerados por competência ou por caixa.


Um demonstrativo por competência ou regime de competência é uma análise
econômica, que expressa as receitas, despesas e o resultado do período, sem
considerar o momento temporal em que ocorrem os pagamentos ou recebimentos.

Já o demonstrativo por caixa ou regime de caixa expressa o momento


temporal em que ocorrem os pagamentos e recebimentos. Sabe-se, exatamente, o
momento em que o dinheiro entrou ou saiu, podendo ser de outras competências
diferentes do período apresentado.

9
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

3.1 DRE – DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADOS DO


EXERCÍCIO

O DRE é uma forma resumida de apresentar os resultados operacionais


da empresa dentro de um determinado período, geralmente anual ou mensal. O
DRE anual apresenta os resultados que a empresa obteve dentro do seu chamado
ciclo ou exercício fiscal, enquanto que os DRE´s mensais auxiliam nas decisões de
curto prazo, para que os objetivos anuais sejam alcançados.

Esta demonstração parte do “faturamento”, tecnicamente denominado de


ROB (Receita Operacional Bruta). A partir daí, apresenta-se a demonstração das
movimentações, até encontrarmos o Lucro ou Prejuízo Líquido da empresa no
período de apuração.

O quadro a seguir apresenta uma estrutura básica e resumida de um DRE:

QUADRO 1 – ESTRUTURA DO DRE

(=) ROB / faturamento Total da Receita Operacional Bruta, Faturamento, Vendas.


Impostos que incidem sobre a Receita Operacional Bruta
(-) Impostos
(ROB).
(=) ROL Receita Operacional Líquida (ROB menos os impostos).
(-) CMV CMV - Custo das Mercadorias Vendidas.
O lucro bruto é o que sobra da ROB, menos impostos e CMV.
É a partir desta margem bruta que vamos descontar as demais
(=) Lucro bruto
despesas da empresa. Este lucro bruto também é conhecido
como margem de contribuição.

Total das despesas administrativas (aluguel, água, energia


(-) Despesas administrativas
elétrica, telefonia etc.), descontadas do lucro bruto.

O total das despesas com pessoal, incluindo os encargos


sociais e trabalhistas. Na indústria, as despesas com pessoal
(-) Despesas de pessoal
da produção podem ser adicionadas ao CMV (matéria-prima
e pessoal da produção).
(=) Lucro operacional (antes das O lucro operacional é o resultado, já descontadas as despesas
despesas e receitas financeiras) administrativas e de pessoal.
(-) Despesas financeiras Despesas com capital de terceiros.
(+) Receitas financeiras Receitas de aplicações e ganhos financeiros.
(=) Lucro/prejuízo líquido Agora encontramos o lucro ou prejuízo líquido do período.

FONTE: O autor

10
TÓPICO 1 | AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

E
IMPORTANT

As demonstrações podem ser por regime de competência ou de caixa.

Partindo da estrutura de um DRE, apresentada no quadro 1, vamos


visualizar, no quadro a seguir, o exemplo de um DRE com os números anuais.
Vamos imaginar que seja o DRE do nosso exemplo da camisaria e vamos visualizar
os resultados de dois anos consecutivos (2009 e 2010), onde cada camiseta foi
vendida ao valor de R$ 10,00.

QUADRO 2 – EXEMPLO DO DRE

DRE 2010 2009


(=) ROB / faturamento R$ 120.000,00 R$ 114.000,00
(-) Impostos (10% sobre a ROB) R$ 12.000,00 R$ 11.400,00
(=) ROL (ROB – impostos) R$ 108.000,00 R$ 102.600,00
(-) CMV R$ 84.000,00 R$ 79.800,00
(=) Lucro bruto R$ 24.000,00 R$ 22.800,00
(-) Despesas administrativas R$ 6.000,00 R$ 5.000,00
(-) Despesas de pessoal R$ 15.600,00 R$ 16.100,00
(=) Lucro operacional R$ 2.400,00 R$ 1.700,00
(-) Despesas financeiras R$ 250,00 R$ 200,00
(+) Receitas financeiras R$ 25,00 R$ 10,00
(=) Lucro/prejuízo líquido R$ 2.175,00 R$ 1.510,00

FONTE: O autor

O DRE do quadro 2 considera o regime de competência, ou seja, os fatos


ocorreram em cada um dos anos. Não considera quando pagamos os fornecedores,
nem mesmo o recebimento das vendas dos clientes.

Este DRE já nos permite realizar algumas análises para a tomada de decisão:

Sabendo-se que em 2009 cada camiseta foi vendida a R$ 10,00, a ROB


(Receita Operacional Bruta) considera um total de 11.400 camisetas vendidas.

Mantendo-se o mesmo preço de venda de 2009, em 2010 foram vendidas 12


mil camisetas, ou seja, 5,26% a mais que no ano anterior. Como não houve aumento
no preço de venda, nem mudança na carga tributária (impostos) e também não houve
aumento do CMV, o aumento do lucro bruto foi proporcional às vendas (5,26%).
11
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

O lucro líquido final teve um aumento de 44,04%, de R$ 1.510,00 em


2009, para R$ 2.175,00 em 2010, que, além do aumento das vendas, também teve a
contribuição das despesas administrativas e das despesas com pessoal.

Ao aumentar ou reduzir o valor de qualquer um dos itens do DRE acima,


tem-se um reflexo imediato no lucro/prejuízo líquido.

Ao aumentar apenas o preço de venda, o montante dos impostos


aumentará na proporção das vendas. Lembre-se de que um aumento de preços
pode diminuir a quantidade a ser vendida, bem como: a redução do preço pode
aumentar as vendas – vai depender muito do produto e do mercado.

Se houver apenas aumento da alíquota dos impostos (sem preço de venda e


quantidade vendida), você irá pagar mais impostos e, consequentemente, os lucros
brutos (operacional e líquido) vão ser menores, talvez até revelando prejuízo.

Agora, imagine se apenas o fornecedor aumentar o custo da camiseta e


você não conseguir repassar este aumento aos seus clientes. Isto também afetará
o lucro bruto, operacional e líquido.

Bem, também se pode imaginar que ocorram mudanças apenas nas


despesas administrativas e/ou de pessoal. Os resultados também serão afetados.

O gestor financeiro precisa estar atento a todas as mudanças da empresa, com


o objetivo de garantir que os resultados estabelecidos pelos sócios sejam alcançados.

3.2 BALANÇO PATRIMONIAL


O balanço patrimonial traz elementos da contabilidade e apresenta um
resumo da posição financeira da empresa numa determinada data. Tratando-se
de elementos contábeis, vale lembrar que as contas do:

• Ativo: representam os direitos e bens, agrupados em contas que estão ordenadas


pela sua liquidez. Começa com as de maior liquidez (caixa) até as de menor
liquidez. O Ativo ainda está dividido em dois grandes grupos: as contas de
recebimento de curto prazo (Ativo Circulante) e de longo prazo (Realizável de
Longo Prazo).

• Passivo: representam os deveres e as obrigações, que também estão ordenados


pelo seu prazo: do curto ao longo prazo de pagamento. O Passivo também está
dividido no curto prazo (Passivo Circulante) e no longo prazo (Exigível de
longo prazo).

12
TÓPICO 1 | AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

UNI

O gestor financeiro necessita ter noções básicas da contabilidade.

O quadro a seguir apresenta algumas contas do ativo, com sua explicação:

QUADRO 3 – CONTAS DO ATIVO

CONTA EXPLICAÇÃO
Caixa/bancos Disponibilidades de dinheiro em caixa/bancos.
Aplicações financeiras Valores aplicados, que, se necessário, pode-se resgatar.
Parte da ROB (Receita Operacional Bruta) não é recebida à vista, e sim
Contas a receber
nos prazos negociados. Todo o montante a receber consta nesta conta.
Totaliza o valor do estoque de mercadorias e/ou de matéria-prima.
O estoque de mercadorias ou produtos acabados representa o valor
Estoque
destes produtos para comercialização. Já o estoque de matéria-prima
representa o que temos para produzir.
Representam o ativo permanente da empresa, compreendido pelos
Imobilizações terrenos e edificações, máquinas e equipamentos, móveis e utensílios,
veículos etc.

FONTE: O autor

Observe no quadro 3 que as contas estão ordenadas de maior liquidez


(Caixa), até as de menor liquidez (Imobilizações). Ao necessitar efetuar pagamentos
imediatamente, o dinheiro pode estar disponível no caixa, bancos ou, ainda, em
aplicações financeiras, e prontamente os pagamentos podem ser feitos.

Já se não houver recursos nestas contas, mas a empresa tiver contas a


receber, poderá efetuar os pagamentos assim que receber de seus clientes. Para
antecipar estes recebimentos (fazer caixa), poderá conceder descontos aos clientes
ou, ainda, antecipar o desconto dos cheques e duplicatas em bancos.

Agora, se também não houver contas a receber, os estoques precisam ser


convertidos em vendas, gerar contas a receber e receber os valores para poder ter
caixa e realizar os pagamentos.

Se também não houver estoque de mercadorias, a situação fica ainda


mais crítica. Neste caso, a empresa necessita realizar algum empréstimo, ou os
donos precisam injetar dinheiro, ou ainda, a empresa precisa vender parte do seu
patrimônio para ter recursos financeiros para realizar os pagamentos.

13
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

E
IMPORTANT

É fundamental o equilíbrio das contas do ativo, para não afetar a liquidez. Mais
adiante veremos alguns indicadores que permitem avaliar a liquidez.

O quadro 4 apresenta, de forma geral, algumas contas do passivo, para


que possamos compreender as demonstrações seguintes deste caderno:

QUADRO 4 – CONTAS DO PASSIVO

CONTA EXPLICAÇÃO
Contas a pagar Representam as compras realizadas a prazo.
Títulos a pagar Representam empréstimos de curto prazo.
Despesas a pagar Representam despesas com empréstimos, salários etc.
Patrimônio Expressa o capital investido pelos sócios no início do período, incluindo
líquido lucros ou prejuízos acumulados.

FONTE: O autor

Retomando o exemplo da camisaria, o quadro 5 ilustra um balanço


patrimonial, com dados de dois períodos (2009 e 2010).

QUADRO 5 – EXEMPLO DE BALANÇO PATRIMONIAL

ATIVOS 2010 2009


Ativos Circulantes
Caixa 232,00 202,00
Aplicações financeiras 1.050,00 980,00
Contas a receber 7.500,00 5.500,00
Estoques 9.800,00 12.500,00
Total dos ativos circulantes 18.582,00 19.182,00
Ativos permanentes (ao custo)
Terrenos e edificações 25.200,00 23.000,00
Máquinas e equipamentos 3.950,00 3.470,00
Móveis e utensílios 1.890,00 1.420,00
Veículos 0,00 0,00
Total dos ativos permanentes 31.040,00 27.890,00
Depreciação acumulada 10.010,00 9.760,00
Ativos permanentes líquidos 21.030,00 18.130,00

14
TÓPICO 1 | AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

TOTAL DOS ATIVOS 39.612,00 37.312,00

PASSIVOS E PATRIMÔNIO LÍQUIDO


Passivo Circulante
Contas a pagar 8.359,00 7.297,00
Títulos a pagar 3.340,00 2.980,00
Despesas a pagar 4.160,00 3.915,00
Total dos passivos circulantes 15.859,00 14.192,00
Exigível de longo prazo 3.503,00 3.240,00
Total dos passivos 19.362,00 17.432,00
Patrimônio líquido
Capital social 20.250,00 19.880,00
TOTAL DOS PASSIVOS E PL 39.612,00 37.312,00

FONTE: O autor

Algumas considerações do balanço patrimonial do quadro 5.

A disponibilidade em caixa e em aplicações financeiras aumentou em 2010.

Em 2010 as contas a receber são maiores, podendo ser resultado da


concessão de maior prazo de pagamento aos clientes.

A quantidade de mercadorias em estoque diminui. Lembre-se de que


neste exemplo não houve aumento, nem redução nos custos das camisetas. Se
houvesse uma redução nos custos, pode-se ter o mesmo volume de peças, mas
um custo menor.

O ativo aumentou pelos investimentos no imobilizado.

Em 2010, o passivo circulante aumentou, enquanto que o ativo circulante


diminuiu. Ou seja, as dívidas de curto prazo aumentaram, enquanto que as
disponibilidades de curto prazo diminuíram.

ATENCAO

O balanço patrimonial e o DRE de uma empresa apresentam-se mais detalhados


do que nos exemplos deste item.

15
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

4 ÍNDICES FINANCEIROS
Qual foi o rendimento da poupança neste mês? E no mês passado? Qual
será o aumento dos combustíveis? Da passagem de ônibus? Do aluguel? Estas e
outras perguntas passam a ser respondidas a partir de índices.

No ambiente empresarial, “a análise de índices envolve métodos de


cálculo e interpretações de índices financeiros visando analisar e acompanhar o
desempenho da empresa” (GITMAN, 2004, p. 42), e funcionam como termômetros.

Fundamentalmente, os índices procuram avaliar a liquidez, a atividade, o


endividamento e a rentabilidade de uma empresa.

Estes índices precisam ser calculados e atualizados para que se possa


tomar decisões para a manutenção ou aumento dos resultados, bem como ajudar
a identificar fatores que levaram ao desempenho ruim.

UNI

Se na semana passada a temperatura média foi de 27ºC e nesta semana está


sendo de 30ºC, o que isto pode significar? Será efeito do aquecimento global? É normal para
a época do ano? Ou é anormal?

A partir das demonstrações, encontramos elementos que nos permitem


calcular alguns índices, que vão avaliar o desempenho operacional e auxiliar na
tomada de decisão. Não é meramente o resultado do cálculo de um índice que
permitirá uma interpretação do seu valor, mas a partir de comparações.

Através dos índices pode-se realizar comparações pelos seguintes métodos:

• Análise Vertical (Cross-Sectional): consiste numa forma de comparar os


índices da sua empresa com a concorrência ou com o índice médio do mercado.
Nesta comparação pode-se descobrir o quanto estamos melhores ou piores em
cada um dos índices em relação ao mercado e identificar as ações que possam
corrigir o valor destes índices.

• Análise Temporal ou de Série Temporal: consiste numa análise dos índices


da empresa ao longo do tempo, de um passado até o momento presente, com
a finalidade de avaliar o desempenho no período. A análise temporal permite
ainda estabelecer uma tendência futura de desempenho.

16
TÓPICO 1 | AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

• Análise Combinada: combina a análise vertical e a temporal, trazendo a


possibilidade de comparar o desempenho da empresa com o mercado no
decorrer do tempo.

Estas análises vão orientar o gestor financeiro nas suas tomadas de decisão,
e ao compartilhar estes resultados com os demais setores, você sensibiliza mais
pessoas aos resultados propostos.

Os índices apresentados a seguir estão agrupados em quatro categorias


básicas: liquidez, atividade, endividamento e rentabilidade. Os três primeiros
grupos: liquidez, atividade e endividamento medem, principalmente, o risco,
enquanto que os índices de rentabilidade medem o retorno do empreendimento.

ATENCAO

Todos os índices a seguir serão calculados com base nas demonstrações dos
quadros 2 e 5, abordados anteriormente. Na exemplificação da fórmula de cada um dos
índices, teremos como base os dados de 2010.

4.1 ÍNDICES DE LIQUIDEZ


“A liquidez de uma empresa é medida por sua capacidade de cumprir
as obrigações de curto prazo à medida que vencem” (GITMAN, 2004, p. 46),
indicando a capacidade de pagar as contas que vencem no curto prazo.

Ao encontrar um índice de liquidez menor que 1, temos a informação de


que a empresa poderá ter dificuldades de realizar os seus pagamentos e sinaliza
dificuldades de fluxo de caixa. Já um índice de liquidez maior que 1 sinaliza que
a empresa tem condições de realizar os pagamentos. A seguir, vamos explicar o
índice de liquidez corrente e seca.

4.1.1 Índice de liquidez corrente


O índice de liquidez corrente é muito utilizado, pois mede a capacidade
da empresa de saldar suas contas de curto prazo, e tudo que é curto prazo está
relacionado ao Ativo Circulante e Passivo Circulante.

17
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

QUADRO 6 – CÁLCULO DO ÍNDICE DE LIQUIDEZ CORRENTE

Fórmula de Cálculo Resultado


Ativo Circulante 18.582,00
Índice de Liquidez Corrente = = 1,17
Passivo Circulante 15.859,00

FONTE: O autor

O quadro acima apresenta que em 2010 a Liquidez Corrente foi de 1,17.


Ao calcular este índice para 2009, obtém-se a liquidez de 1,35 (19.182 / 14.192).
Observa-se que em 2009 a liquidez corrente foi melhor que em 2010, demonstrando
uma queda de 13,33%. Em 2009 havia melhores condições para o pagamento das
dívidas de curto prazo.

Em 2009, o Ativo Circulante estava 35% acima do Passivo Circulante,


já em 2010 apenas 17%. Mesmo com esta queda de 2009 para 2010, a empresa
apresenta liquidez. Para a manutenção desta liquidez faz-se necessário manter o
Ativo Circulante acima do Passivo Circulante.

4.1.2 Índice de liquidez seca


O Índice de liquidez seca também mede a capacidade da empresa de
saldar as suas contas de curto prazo, mas desconsidera os estoques.

Para a atividade de algumas empresas, o estoque é considerado de baixa


liquidez, podendo ser matéria-prima que ainda precisa gerar produto acabado,
ou ainda, na maioria dos casos, as vendas do estoque ocorrem a prazo e uma
pequena parte vem para o caixa e o restante é contas a receber.

QUADRO 7 – CÁLCULO DO ÍNDICE DE LIQUIDEZ SECA

Fórmula de Cálculo Resultado


Ativo Circulante – Estoque 8.782,00
Índice de Liquidez Seca = = 0,55
Passivo Circulante 15.859,00

FONTE: O autor

Neste caso, a liquidez seca de 2010 (0,55) é superior à de 2009, que foi de
0,47 (6.682/14.192). Houve uma melhora de 16,82% de 2009 para 2010, atribuído a
uma redução dos estoques.

18
TÓPICO 1 | AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

AUTOATIVIDADE

Analise o balanço patrimonial de sua empresa, e procure conhecer a


liquidez corrente e seca.

4.2 ÍNDICES DE ATIVIDADE


Segundo Lemes (2005, p. 75), “os índices de atividade medem a velocidade
com que várias contas se transformam em vendas ou caixa”. As mercadorias
não podem ficar paradas no estoque, precisam resultar em vendas, que, por
consequência, são a receita da empresa.

Quanto maior o giro das mercadorias, melhor será o resultado dos índices
de atividade: o giro de estoques, o prazo médio de recebimento, o prazo médio
de pagamento e o giro do ativo total.

4.2.1 Giro de estoques


O giro de estoques mede a liquidez do estoque. Quanto maior este índice,
significa que mais rápido as vendas ocorrem, bem como: quanto menor, pode
indicar que os produtos ficam muito tempo parados no estoque.

Para avaliar o giro é necessário ter índices de diferentes períodos para


comparar. Há empresas que apresentam um giro com poucas oscilações mensais,
enquanto que outras podem apresentar um giro muito alto em alguns meses do
ano e praticamente nulo noutros.

QUADRO 8 – CÁLCULO DO GIRO DE ESTOQUES

Fórmula de Cálculo Resultado


Custo dos produtos vendidos 84.000,00
Giro de Estoques = = 8,57
Estoque 9.800,00

FONTE: O autor

Em 2010, obteve-se um giro de 8,57, superior ao de 2009, que foi de 6,38


(79.800/12.500). O crescimento no giro de um ano para o outro foi de 34,24%.
Como avaliado, anteriormente, em 2010 foram vendidas mais peças e o ano
de 2010 terminou com menos peças no estoque, o resultado disto é um maior
giro de estoques.

19
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

UNI

Foi demonstrado o giro dos estoques de uma forma geral, mas há empresas que
conhecem o giro de estoque de cada um de seus produtos.

4.2.2 Prazo médio de recebimento


Todas as vendas realizadas geram recebimentos dos clientes, em diferentes
prazos: há vendas em que o recebimento ocorre no ato da venda, consideradas
“à vista”, outras em que parte do valor total é recebida como entrada e o saldo
é parcelado num período futuro, outras nem entrada têm – o valor total está
parcelado em datas futuras.

É fundamental conhecer o prazo médio de recebimento, para saber em


quanto tempo estamos recebendo o dinheiro das vendas, para avaliar as políticas
de crédito e cobrança.

QUADRO 9 – CÁLCULO DO PRAZO MÉDIO DE RECEBIMENTO


Fórmula de Cálculo Resultado
Contas a receber 7.500,00
Prazo Médio de Recebimento = = 22.50
Vendas ÷ 360 120.000,00 ÷ 360

FONTE: O autor

O prazo médio de recebimento passou a ser de 22,50 dias em 2010, enquanto


que em 2009 foi de 17,37 dias. Isto revela uma política de que a loja passou a
conceder mais prazo aos seus clientes. Havendo disponibilidades financeiras,
ou ainda, conseguindo repassar ao preço do produto o custo do dinheiro neste
prazo, consegue-se manter os resultados financeiros da empresa.

UNI

Nos últimos anos, no Brasil, vivenciamos uma política de crédito muito forte. Os
brasileiros puderam adquirir seus bens móveis e imóveis pagando em diversos meses e/ou anos.
A partir de 2011, o governo vem aplicando medidas para frear um pouco o consumo, elevando
algumas taxas de juros e impostos para conter a inflação.

20
TÓPICO 1 | AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

4.2.3 Prazo médio de pagamento


Da mesma forma que recebemos dos clientes pela vendas efetuadas,
também é necessário realizar o pagamento aos fornecedores pelos estoques
que formamos. Neste caso, é fundamental saber em quanto tempo ocorrem os
pagamentos aos fornecedores, ou seja, o prazo médio de pagamento. Também há
fornecedores que recebem tudo à vista, outros parcelam com e/ou sem entrada.

QUADRO 10 – CÁLCULO DO PRAZO MÉDIO DE PAGAMENTO


Fórmula de Cálculo Resultado
Contas a pagar 8.359,00
Prazo Médio de Pagamento = = 35,82
Compras (CMV) ÷ 360 84.000,00 ÷ 360

FONTE: O autor

Em 2010, os pagamentos aos fornecedores são realizados num prazo médio


de 35,82 dias, enquanto que em 2009 havia um prazo de 32,92 dias. Entende-se
que em 2010 a empresa passou a ter mais prazo para o pagamento.

Considerando os resultados destes dois últimos índices: Prazo Médio de


Recebimento (PMR) e Prazo Médio de Pagamento (PMP), analisa-se que se o PMR
é de 22,50 e o PMP é de 35,82 dias, significa que primeiro recebemos as vendas dos
clientes para depois pagar os fornecedores. Isto é verdadeiro, se tudo ocorrer num
mesmo momento inicial, ou seja, comprar as mercadorias, colocar no estoque e
vender. Agora, se você vendeu apenas 10 dias depois da compra, estará recebendo
por volta do 32º dia, sendo que no 35º estará pagando o fornecedor. Esta análise é
válida para o exemplo em questão, tendo que ser ajustada a outros casos.

4.2.4 Giro do ativo total


O giro do ativo total indica a eficiência com que a empresa usa seus ativos
para gerar vendas. Para que este índice apresente bons resultados é fundamental
o crescimento das vendas e/ou a manutenção do ativo total.

QUADRO 11 – CÁLCULO DO GIRO DO ATIVO TOTAL

Fórmula de Cálculo Resultado


Vendas 120.000,00
Giro do Ativo Total = = 3,03
Ativo Total 39.612,00

FONTE: O autor

21
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

O giro do ativo total de 3,03 em 2010 apresentou-se menor que em 2009


(3,06). Ao avaliar o quadro 5, percebe-se que em 2010 a loja aumentou o seu ativo
imobilizado, acima do crescimento das vendas. Desta forma, o giro do ativo total
em 2009 era de 3,06, melhor que em 2010 (3,03). As imobilizações comprometeram
este índice.

4.3 ÍNDICES DE ENDIVIDAMENTO


A palavra endividamento expressa o quanto temos de dívidas. Ao possuir
dívidas, estamos utilizando um dinheiro que não é nosso; daí a expressão “capital
de terceiros”. Geralmente, a empresa apresentará algum grau de endividamento,
pois o capital de terceiros pode apresentar um custo inferior ao custo estabelecido
pelo dono do negócio, que pretende retirar lucros.

Segundo Gitman (2004, p. 49), “os índices de endividamento indicam o


volume de dinheiro de terceiros que usamos para gerar lucros”.

TUROS
ESTUDOS FU

De uma forma ou de outra, as empresas apresentarão algum endividamento,


o que, dependendo das condições, não significa nenhuma situação ruim. Mais adiante
aprofundaremos esta análise.

4.3.1 Índice de endividamento geral


O índice de endividamento geral mede a proporção dos ativos totais que
são financiados por terceiros. Quanto maior este índice, maior a quantidade de
dinheiro que a empresa tem emprestado.

QUADRO 12 – CÁLCULO DO ÍNDICE DE ENDIVIDAMENTO GERAL, ANO 2010

Fórmula de Cálculo Resultado


Total dos Passivos 19.362,00
Índice de Endividamento
Geral: Ativo Total 39.612,00 = 0,49 * 100 = 48,88%

FONTE: O autor

O endividamento geral de 2010 (48,88%) é superior a 2009 (46,72%),


apontando que a empresa passou a contar com mais capital de terceiros. O
aumento desse endividamento foi de 2,16% de um ano para outro.

22
TÓPICO 1 | AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

4.3.2 Índice de cobertura de juros


Ao utilizar capital de terceiros, ter empréstimos, a empresa precisa
devolver o capital tomado acrescido dos juros cobrados pelo terceiro.

O índice de cobertura de juros mede a capacidade da empresa de pagar os


juros dos empréstimos, e, quanto maior, melhor a capacidade de pagar os juros
sobre o capital de terceiros.

QUADRO 13 – CÁLCULO DO ÍNDICE DE COBERTURA DE JUROS

Fórmula de Cálculo Resultado


Lucro Operacional 2.400,00
Índice de Cobertura de Juros = = 9,60
Juros 250,00

FONTE: O autor

A capacidade de pagar os juros em 2010 foi de 9,60, superior à de 2009, de


8,50. Tanto para quem empresta o dinheiro, bem como para quem toma o dinheiro
emprestado em 2010, constata que a empresa apresenta melhores condições de
cobrir os juros.

4.4 ÍNDICES DE RENTABILIDADE


A palavra rentabilidade lembra o quão rentável algo é, ou seja, os
resultados que estão sendo apurados. Quando você tem alguma disponibilidade
de dinheiro, procura aplicar numa modalidade que num primeiro momento
apresenta melhor rentabilidade, ou seja, aufere melhores ganhos.

Este ganho – a rentabilidade de uma empresa – pode ser analisado


conhecendo a margem de lucro bruto, a margem de lucro operacional, a margem
de lucro líquido, o retorno do ativo total e o retorno do capital próprio.

4.4.1 Margem de lucro bruto


A margem de lucro bruto é a diferença do preço de venda de nossos
produtos, descontados os impostos e custos destes produtos (quadro 2). Quanto
maior a margem, maiores são as disponibilidades para as despesas administrativas,
de pessoal e financeiras.

23
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

QUADRO 14 – CÁLCULO DA MARGEM DE LUCRO BRUTO

Fórmula de Cálculo Resultado


Lucro Bruto 24.000,00
Margem de Lucro Bruto = = 0,20 * 100 = 20,00%
Receita de Vendas 120.000,00

FONTE: O autor

Em ambos os períodos, 2009 e 2010, obteve-se os mesmos 20% de margem de


lucro bruto. O volume de vendas cresceu, mas com a manutenção do preço de venda,
do CMV e da carga tributária, a margem de lucro bruto manteve-se a mesma.

As ações que permitem aumentar esta margem são:

• aumentar o preço de venda e/ou;


• reduzir os custos do produto, ou ainda;
• aumentar o giro com a redução do preço de venda e/ou aumento dos prazos de
recebimento.

4.4.2 Margem de lucro operacional


A margem de lucro operacional é a diferença do preço de venda dos
produtos, descontados todos os impostos, custos das mercadorias vendidas,
despesas administrativas e de pessoal. Apenas não são consideradas as despesas
ou receitas financeiras.

QUADRO 15 – CÁLCULO DA MARGEM DE LUCRO OPERACIONAL

Fórmula de Cálculo Resultado


Lucro Operacional 2.400,00
Marge de Lucro Operacional = = 0,02 * 100 = 2%
Receita de Vendas 120.000,00

FONTE: O autor

A margem de lucro operacional de 2009 foi de 1,49%, que aumentou para


2,00% em 2010. As ações que contribuem para melhorar a margem de lucro bruto
também contribuem para melhorar a margem de lucro operacional.

Na melhora da margem de lucro operacional devem ser observadas as


despesas administrativas e de pessoal.

24
TÓPICO 1 | AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

4.4.3 Margem de lucro líquido


A margem de lucro líquido é a diferença do preço de venda dos produtos,
descontados todos os impostos, custos, despesas administrativas, de pessoal e
financeiras. Agora são consideradas as despesas ou receitas financeiras.

QUADRO 16 – CÁLCULO DA MARGEM DE LUCRO LÍQUIDO

Fórmula de Cálculo Resultado


Lucro Líquido 2.175,00
Marge de Lucro Líquido = = 0,0181*100 = 1,81%
Receita de Vendas 120.000,00

FONTE: O autor

A elevação das despesas financeiras de 2009 para 2010 não impediu que a
margem de lucro líquido fosse elevada de 1,32% para 1,81% em 2010. O aumento
das vendas, a manutenção dos custos das mercadorias vendidas, o controle das
despesas administrativas e financeiras e as despesas financeiras contribuíram
para a elevação da margem de lucro líquido.

As ações desenvolvidas para a melhora da margem de lucro bruto


e operacional também afetam a margem de lucro líquido, influenciada
principalmente pelas despesas e receitas financeiras.

4.4.4 Retorno do ativo total


O retorno do ativo total, também conhecido por retorno do investimento,
mede a eficácia geral da empresa em obter lucros com os seus ativos. Quanto
maior, melhor o retorno.

QUADRO 17 – CÁLCULO DO RETORNO DO ATIVO TOTAL

Fórmula de Cálculo Resultado


Lucro Líquido 2.175,00
Retorno do Ativo Total = = 0,05 * 100 = 5,49%
Ativo Total 39.612,00

FONTE: O autor

Em 2010, o retorno do ativo total foi de 5,49%, enquanto que em 2009 foi
de 4,05%. Para que seja melhorado o retorno do ativo total, a empresa precisa
aumentar o seu lucro líquido nas operações, evitando aumento do ativo total.

25
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

4.4.5 Retorno do capital próprio


O capital próprio representa o montante de recursos investidos pelo sócio
ao negócio. O dono do capital analisa as diferentes oportunidades no mercado
para investir o seu dinheiro e deste espera o retorno. O retorno do capital próprio
é o índice que mede o retorno que os donos têm sobre o seu capital investido no
empreendimento.

Compara-se este retorno com outras oportunidades disponíveis no


mercado, a fim de direcionar os investimentos ao que apresentar maior retorno.

QUADRO 18 – CÁLCULO DO RETORNO DO CAPITAL PRÓPRIO

Fórmula de Cálculo Resultado


Lucro Líquido 2.175,00
Retorno do Capital Próprio = = 0,11 * 100 =10,74%
Capital Social 20.250,00

FONTE: O autor

O retorno do capital próprio também aumentou em relação a 2009, onde


tínhamos 7,60% e agora em 2010 este retorno é de 10,74%. Numa situação real,
possivelmente, o retorno de 2009 é inexpressivo, já em 2010 apresenta-se um
pouco superior à aplicação do dinheiro na poupança.

Nestes casos, você, dono do capital, passa a exigir um retorno mais alto. Nestes
percentuais apresentados, é mais conveniente procurar uma aplicação financeira
para fazer render o seu dinheiro, ao invés de se arriscar numa atividade empresarial.

DICAS

Elabore uma planilha eletrônica com os principais dados do DRE e do balanço


patrimonial de uma empresa, elabore as fórmulas para calcular os índices e faça as análises
e simulações.

4.4.6 Análise completa


Não se pode realizar uma análise por meio de um único índice, pois este
pode apresentar uma imagem falsa. Nenhum índice, por si só, é adequado para
avaliar os aspectos relativos à situação financeira da empresa.

26
TÓPICO 1 | AMBIENTE DA GESTÃO FINANCEIRA

Uma análise completa da situação financeira da empresa poderá ser feita por:

• Análise Geral: de vários índices, para reunir todos os aspectos das


atividades da empresa, identificando as principais necessidades ou áreas de
responsabilidade. Para se chegar a este resultado é necessário realizar uma
análise dos quatro grupos, isoladamente, avaliando: liquidez, atividade,
endividamento e rentabilidade. Na sequência, avaliar o risco (liquidez,
atividade e endividamento) com as possibilidades de retorno (rentabilidade).

• Análise DuPont: visa identificar as principais áreas responsáveis pelo retorno


do patrimônio líquido, ou seja, pelo desempenho financeiro; a partir do
desdobramento do: lucro sobre as vendas, eficiência na utilização do ativo e
uso da alavancagem.

E
IMPORTANT

Na análise, o gestor financeiro precisa considerar o conjunto destes indicadores.

A figura a seguir ilustra o Sistema de Análise DuPont, aplicado ao exemplo


da camisaria deste Caderno de Estudos:

27
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

FIGURA 1 – SISTEMA DE ANÁLISE DUPONT

(=) ROB: R$ 120.000,00


menos
(-) Imposto: R$ 12.000,00

menos
(=) Lucro
(-) CMV: R$ 84.000,00
Líquido
menos (=) Margem
dividido por
(-) D. Adm: R$ 6.000,00 Líquida 1,81%
(=) ROB
menos
(-) Pessoal: R$ 15.000,00
menos
(-) D. Financ: R$ 250,00
multiplicado por (=) Retorno sobre o
mais Ativo Total 5,48%
(+) R. Financ: R$ 25,00
o

(=) ROB

(+) Ativo Circulante dividido por (=) Giro do


Ativo Total 3,03
(=) Ativo (=) Taxa de
mais
Circulante Retorno sobre
multiplicado por
(+) Ativo Permanente o Patrimônio
Líquido: R$ 21.030,00
Líquido 10,72%

(+) Passivo Circulante


(=) Exigível
mais
Total
(+) Exigível a Longo (=) Passivo e PL,
Prazo mais R$ 39.612,00
(=) Multiplicador
(=) Pat. Líquido, dividido
de Alavancagem
R$ 20.250,00 por
Financeira 1,96
(=) Pat. Líquido,
R$ 20.250,00

FONTE: Adaptado de: Gitman (2004, p. 126)

Os elementos da figura acima foram extraídos do exemplo da camisaria,


tomando como base o ano de 2010, e alguns índices já foram calculados
anteriormente.

28
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste primeiro tópico desta unidade aprendemos um pouco sobre:

• A gestão financeira é a gestão do dinheiro. Para isso é necessário saber como


recebemos, pagamos, investimos e, principalmente, fazer este dinheiro render.

• As empresas podem ser firmas individuais, sociedade por cotas ou ainda


sociedade por ações. Independentemente da sua forma, todas precisam realizar
a gestão financeira.

• Todas as pessoas e empresas estão sujeitas a um enquadramento e regime de


tributação, nas suas esferas municipal, estadual e federal.

• Na gestão financeira precisamos contar com demonstrações dos fatos. Conhecemos


o DRE (Demonstração do Resultado do Exercício e o Balanço Patrimonial).

• As demonstrações são elaboradas em Regime de Competência ou Regime de Caixa.

• O regime de competência representa uma análise econômica que expressa as


receitas, despesas e resultados, sem considerar o momento temporal em que
ocorrem os pagamentos ou recebimentos.

• O regime de caixa expressa o momento temporal em que os pagamentos e


recebimentos ocorrem.

• Os índices são termômetros para as empresas, e em cada uma de suas


classificações, têm finalidades específicas de medição.

• Os índices vão apontar algumas situações, para que possamos tomar decisões,
a fim de garantir os resultados.

• Apresentamos índices de liquidez, atividade, endividamento e rentabilidade.


Todos vão permitir avaliar a situação da empresa, comparando-a com períodos
anteriores, projetando períodos futuros e, ainda, com outras empresas do
mesmo setor.

• O risco é avaliado a partir dos índices de liquidez, atividade e endividamento.


Os índices de rentabilidade evidenciam o retorno do negócio.

• A análise financeira de uma empresa não pode ocorrer com os índices isolados.
Deve-se considerar o conjunto de índices. O sistema de análise DuPont permite
uma análise completa.

• A análise de índices pode ser vertical, temporal ou combinada.

29
AUTOATIVIDADE

Vamos agora fixar o que aprendemos, respondendo algumas questões:

1 Complete a sentença a seguir:


A Gestão Financeira é uma atividade __________, que pode ser definida
como ______ e _______ da gestão do __________.

2 Por que a Gestão Financeira tem relação direta com a teoria econômica e
com a contabilidade?

3 Quais são as três esferas governamentais de tributação, nas quais as


empresas podem estar inseridas?

4 Diferencie as demonstrações: DRE e balanço patrimonial.

5 Qual a estrutura básica de um DRE?

6 Como são organizadas as contas do ativo e do passivo?

7 O que é descoberto com os índices de liquidez, atividade, endividamento e


rentabilidade?

8 Monte o DRE e o balanço patrimonial, considerando os seguintes dados de


uma empresa que comercializou calças em 2010.

a) Vendeu 13.000 calças ao preço de R$ 20,00, sendo que cada uma custa R$ 10,00.
b) 15% de impostos sobre as vendas.
c) O terreno da empresa representa R$ 40.000,00, as máquinas e equipamentos
R$ 7.000,00 e os móveis e utensílios R$ 3.500,00. A depreciação acumulada
representa o total de R$ 13.000,00.
d) As despesas de pessoal são de R$ 30.000,00 e as administrativas de R$ 12.000,00.
e) As contas a pagar representam R$ 9.000,00, os títulos a pagar R$ 5.000,00 e
as despesas a pagar R$ 8.000,00.
f) Os estoques totalizam R$ 20.000,00 e o contas a receber é de R$ 13.000,00.
g) O caixa é de R$ 1.000,00 e as aplicações financeiras totalizam R$ 10.000,00.
h) O capital social investido pelos sócios representa R$ 34.000,00.
i) As dívidas de longo prazo somam a importância de R$ 25.500,00.

9 A partir do DRE e balanço patrimonial a seguir, calcule os índices:

30
ATIVOS 2010
Ativos Circulantes
Caixa 2.320,00
Aplicações financeiras 6.050,00
Contas a receber 15.500,00
Estoques 19.800,00
Total dos ativos circulantes 43.670,00
Ativos permanentes (ao custo)
Terrenos e edificações 20.200,00
Máquinas e equipamentos 9.950,00
Móveis e utensílios 4.890,00
Veículos 0,00
Total dos ativos permanentes 35.040,00
Depreciação acumulada 7.010,00
Ativos permanentes líquidos 28.030,00
TOTAL DOS ATIVOS 71.700,00

PASSIVOS E PATRIMÔNIO LÍQUIDO


Passivo Circulante
Contas a pagar 12.359,00
Títulos a pagar 11.340,00
Despesas a pagar 8.498,00
Total dos passivos circulantes 32.197,00
Exigível de longo prazo 13.503,00
Total dos passivos 45.700,00
Patrimônio líquido
Capital social 26.000,00
TOTAL DOS PASSIVOS E PL 71.700,00

DRE 2010
(=) ROB / faturamento R$ 250.000,00
(-) Impostos (20% sobre a ROB) R$ 50.000,00
(=) ROL (ROB – impostos) R$ 200.000,00
(-) CMV R$ 80.000,00
(=) Lucro bruto R$ 120.000,00
(-) Despesas administrativas R$ 60.000,00
(-) Despesas de pessoal R$ 45.000,00
(=) Lucro operacional R$ 15.000,00
(-) Despesas financeiras R$ 5.000,00
(+) Receitas financeiras R$ 0,00
(=) Lucro/prejuízo líquido R$ 10.000,00

Liquidez Corrente
Liquidez Seca
Giro de Estoques
Prazo Médio de Recebimento (PMR)
Prazo Médio de Pagamento (PMP)
Giro do Ativo Total
Endividamento Geral

31
Cobertura de Juros
Margem de Lucro Bruto
Margem de Lucro Operacional
Margem de Lucro Líquido
Retorno do Ativo Total
Retorno do Capital Próprio

32
UNIDADE 1
TÓPICO 2

FLUXOS E PLANEJAMENTO

1 INTRODUÇÃO
Na Gestão Financeira, os fluxos expressam os recebimentos e os
pagamentos, ou seja, as entradas e as saídas de dinheiro do caixa. Estes fluxos,
geralmente, não apresentam equilíbrio, ou seja, a mesma quantidade que
recebemos não é a que pagamos, e vice-versa.

Conhecer este fluxo da empresa é fundamental para o gestor financeiro saber


lidar com os picos: será que vou ter dinheiro para realizar estes pagamentos? O que
fazer com todo este dinheiro? E como lidar com a necessidade de novos investimentos?

Estas dúvidas passam a ser sanadas a partir do momento em que temos


todos os dados que nos dão uma noção certa das coisas. O planejamento é
indispensável, pois, ao planejar você estará criando um cenário futuro do que
poderá acontecer. Neste momento, você também pode avaliar a possibilidade de
novos investimentos ou, ainda, tomar decisões para enfrentar uma crise.

Ao final desta unidade iremos projetar as demonstrações e os balanços


para auxiliar a cuidar do dinheiro ao longo do tempo.

2 FLUXOS DE CAIXA
Antes de falarmos sobre os fluxos de caixa, precisamos relembrar o regime
de competência e o regime de caixa, explicado no tópico anterior. Um demonstrativo
por competência ou regime de competência é uma análise econômica, que pretende
expressar as receitas, despesas e o resultado do período, não importando o
momento temporal em que ocorrem os pagamentos ou recebimentos. Aqui não
sabemos exatamente o momento em que o dinheiro entra ou sai.

Já o demonstrativo por caixa, ou regime de caixa, expressa o momento


temporal em que ocorrem os pagamentos e recebimentos. Sabemos exatamente o
momento em que o dinheiro entrou ou saiu, podendo ser de outras competências
diferentes do período apresentado.

33
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

O fluxo de caixa apresenta as entradas e saídas, bem como as necessidades


diárias ou de um período. Nos fluxos de caixa também aparecem os investimentos
e sua depreciação – desvalorização que ocorre em função da idade e do uso do bem.

Ao elaborar a demonstração do fluxo de caixa, consideramos:

• Fluxos operacionais: consideram todas as entradas e saídas diretamente


relacionadas à produção e comercialização dos produtos e/ou serviços.
• Fluxos de investimentos: expressam as aquisições de imobilizado (terrenos,
edificações, máquinas, equipamentos, móveis, utensílios e veículos) e
participações societárias.
• Fluxos de financiamentos: demonstram os recebimentos e pagamentos de
capital próprio (dinheiro dos sócios) e ainda do capital de terceiros (dinheiro
emprestado de não sócios).

FIGURA 2 – FLUXOS DE CAIXA

FONTE: Gitman (2004, p. 87)

Da figura acima é preciso conhecer cada um dos detalhes dos fluxos:


operacionais, de investimento e de financiamentos; pois destes detalhes chegamos
aos resultados, revelando lucro ou prejuízo do período.

O quadro a seguir ilustra os fluxos operacionais, de investimentos e


financiamentos para o ano de 2010 do exemplo da camisaria. Para melhor
compreensão, utilize também os quadros 2 e 5 do Tópico 1 desta unidade.

34
TÓPICO 2 | FLUXOS E PLANEJAMENTO

QUADRO 19 – DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA

DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA


Fluxo de caixa das atividades operacionais Cálculo Fluxo
Lucro líquido 2.175,00
Depreciação (e outras despesas não
10010,00 – 9760,00 250,00
desembolsáveis)
Contas a receber (aumentou) 7500,00 – 5500,00 -(2.000,00)
Estoques (diminuiu) 9800,00 – 12500,00 2.700,00
Contas a pagar 8359,00 – 7297,00 1.062,00
Outras despesas a pagar 4160,00 – 3915,00 245,00
Caixa gerado pelas atividades operacionais 4.432,00

Fluxo de caixa das atividades de investimento


Ativo Permanente (aumentou) 31040,00 – 27890,00 -(3.150,00)
Variações em participações societárias 0,00 – 0,00 0,00
Caixa aplicado em atividades de investimentos -(3.150,00)

Fluxo de caixa das atividades de financiamento


Títulos a pagar (aumentou) 3340,00 – 2980,00 360,00
Exigível de longo prazo (aumentou) 3503,00 – 3240,00 263,00
Variações no patrimônio líquido (aumentou) 20250,00 – 19880,00 370,00
Caixa gerado pelas atividades de financiamento 993,00

Aumento Líquido em caixa e títulos negociáveis 4432 + (-3150) + 993 2.275,00

FONTE: O autor

Algumas explicações do quadro acima:

A depreciação deve ser tratada com valor positivo, pois não ocorreu a
saída de caixa.

A diferença no contas a receber é de R$ 2.000,00. Como ocorreu um


aumento, este valor é representado no fluxo como negativo; já se tivesse ocorrido
uma redução, então o valor seria positivo.

O valor do estoque diminuiu, representando a diferença de R$ 2.700,00


como uma disponibilidade, por isso o valor no fluxo é positivo. Caso houvesse
um aumento nos estoques, este valor no fluxo seria negativo.

35
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

Contas a pagar aumentou, então a diferença é positiva no fluxo. Se tivesse


diminuído, a diferença representaria uma redução no fluxo (negativo).

Outras despesas a pagar têm a mesma interpretação de contas a pagar.

Somados os fluxos operacionais, encontra-se o resultado de caixa gerado


pelas atividades operacionais.

O ativo permanente aumentou, representando que a diferença diminui


o fluxo.

Títulos a pagar também aumentou, significando que a diferença é


positiva no fluxo; agora, se tivéssemos reduzido os títulos a pagar, teríamos uma
disponibilidade menor no fluxo (negativa).

Da mesma forma, temos a interpretação para o exigível de longo prazo e


a variação do Patrimônio Líquido.

Ao final, somados os fluxos operacionais, de investimentos e financiamentos,


é obtido o aumento líquido em caixa e títulos negociáveis de R$ 2.275,00. Caso o
fluxo retornasse um valor negativo, teríamos sinais de problemas na empresa.

UNI

O fluxo de caixa deve ser elaborado com muita atenção, pois qualquer
lançamento ou interpretação errada trará um resultado final errado.

Um gestor financeiro não vai se limitar apenas aos resultados apresentados,


mas irá realizar o planejamento financeiro, considerando as ações de:

• Longo Prazo: geralmente, as decisões tomadas pelos dirigentes estratégicos em


cada uma das áreas da empresa. Podemos exemplificar como: construção de
uma nova fábrica, expansão para novos mercados, criação de uma nova linha
de produtos, novos investimentos na produção, ou até mesmo a redução de
quaisquer itens.

• Curto Prazo: são as providências operacionais do dia a dia, conforme ilustradas


na Figura 1 – nos fluxos operacionais.

36
TÓPICO 2 | FLUXOS E PLANEJAMENTO

O Quadro 19 apresentou a demonstração do fluxo de caixa anual,


incluindo os fluxos operacionais, de investimentos e financiamentos. No dia a
dia das empresas, o fluxo de caixa é controlado em detalhes, identificando todas
as receitas e despesas, apontando, ao final de cada dia, a disponibilidade ou
necessidade de dinheiro. Uma demonstração deste fluxo está representada no
quadro a seguir:

QUADRO 20 – FLUXO DE CAIXA OPERACIONAL DIÁRIO

Movimento / Data 04-mês-ano 05-mês-ano 06-mês-ano 07-mês-ano ... 15-mês-ano


(=) Saldo inicial 2.000,00 2.200,00 600,00 1.025,00 480,00
(+) Vendas 300,00 350,00 500,00 450,00 200,00
(-) Impostos 0,00 1.000,00 0,00 0,00 0,00
(-) Fornecedores 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
(-) Despesas
100,00 50,00 0,00 300,00 0,00
administrativas
(-) Despesa pessoal 0,00 900,00 0,00 400,00 0,00
(-)Despesas
0,00 0,00 75,00 0,00 0,00
financeiras
(+)Receitas
0,00 0,00 0,00 25,00 0,00
financeiras
(=) Saldo final 2.200,00 600,00 1.025,00 800,00 680,00

FONTE: O autor

O quadro acima revela:

O saldo final de cada período é o saldo inicial do período seguinte.

Não podemos nos iludir com o saldo de R$ 2.200,00 do dia 4, pois nas
datas futuras é preciso efetuar o pagamento dos impostos, das despesas com
pessoal e dos fornecedores – estes não foram demonstrados no quadro acima.

As despesas de pessoal ocorreram em duas datas, possivelmente no dia


5 foi o pagamento aos funcionários e no dia 7 o pagamento dos encargos sociais.

O pagamento dos impostos e das despesas com pessoal costuma estar


concentrado em poucas datas no mês.

Espera-se que as vendas e o seu recebimento sejam diários, mas a


cada dia o montante é diferente, apresentando oscilações. No exemplo acima,
possivelmente, nos dias 6 e 7 o volume de vendas foi maior, por ser próximo à
data em que as pessoas recebem o seu pagamento e podem ir às compras.

O saldo ao final do dia 8 representa ser 1/3 do saldo final do dia 4. Existem
períodos no mês em que as saídas são maiores que as entradas, e vice-versa.
37
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

É preciso lembrar-se da necessidade de recompor o saldo para pagar os


fornecedores.

Assim que o fluxo revelar um saldo negativo, estará representando falta de


dinheiro para pagar as contas. Neste caso, o gestor financeiro precisa aumentar ou
antecipar recebimentos, e ainda, negociar os pagamentos para uma data futura.

3 ORÇAMENTOS DE CAIXA
Segundo Gitman (2004, p. 94):

O orçamento de caixa é uma demonstração que apresenta as entradas


e as saídas de caixa planejadas da empresa, que a utiliza para estimar
suas necessidades de caixa no curto prazo, com especial atenção para
o planejamento do uso de superávits e a cobertura de déficits.

Os orçamentos de caixa procuram projetar em torno de um ano.

O departamento comercial da empresa é o nosso ponto de partida. A


partir do momento em que conhecemos as previsões de vendas mensais e anuais,
podemos nos programar com a compra de estoques (matérias-primas ou produtos
acabados) e a alocação dos demais recursos para que ocorra a produção necessária
para atender à demanda prevista, nos casos das indústrias; ou ainda, que se tenha
um controle dos estoques de produtos acabados para a sua comercialização.

A atividade de prever as vendas deve considerar as capacidades internas


de produção da empresa, para que não se venda mais do que efetivamente é
possível produzir ou entregar. Ainda mais importante é observar o mercado,
com a finalidade de compreendermos se nosso produto terá aceitação, verificar
a existência de produtos substitutos ou, ainda, a concorrência. Em tempos de
turbulência, não é uma tarefa fácil.

UNI

Como está o seu orçamento para o próximo mês? Sabe quanto vai receber
e gastar? Sabe o que fazer para sobrar, ou sobrar um pouco mais? Verifique como pode
aumentar a sua renda e diminuir os seus gastos.

O orçamento pode ser realizado estimando-se os fluxos diários, que


podem, ao final, projetar o orçamento mensal e anual. O quadro a seguir ilustra
um orçamento.

38
TÓPICO 2 | FLUXOS E PLANEJAMENTO

QUADRO 21 – ORÇAMENTO DE CAIXA OPERACIONAL DIÁRIO

Movimento / data 04-mês-ano 05-mês-ano 06-mês-ano 07-mês-ano ... 15-mês-ano


(=) Saldo inicial 2.500,00 2.880,00 1.340,00 1.667,00 480,00
(+) Vendas 500,00 500,00 400,00 400,00 200,00
(-) Impostos 0,00 1.100,00 0,00 0,00 0,00
(-) Fornecedores 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
(-) Despesas
120,00 40,00 0,00 200,00 0,00
administrativas
(-) Despesa pessoal 0,00 900,00 0,00 400,00 0,00
(-) Despesas financeiras 0,00 0,00 73,00 0,00 0,00

(+) Receitas financeiras 0,00 0,00 0,00 25,00 0,00


(=) Saldo final 2.880,00 1.340,00 1.667,00 1.492,00 680,00

FONTE: O autor

NOTA

Este Quadro 21 segue a mesma estrutura do Quadro 20. Será que estou andando
em círculos? Preciso avançar neste caderno. Calma, vamos explicar...

No Quadro 21 estamos orçando os acontecimentos, estamos realizando


uma previsão. O quadro 20 apresentou os fluxos ocorridos. Vamos ao próximo
quadro, para comparar o orçado com o realizado.

QUADRO 22 – VALORES ORÇADOS


Movimento / 04-mês-ano 05-mês-ano 06-mês-ano
data Orçado Realizado Diferença Orçado Realizado Diferença Orçado Realizado Diferença
(=) Saldo Inicial 2.500,00 2.000,00 -(500,00) 2.880,00 2.200,00 -(680,00) 1.340,00 600,00 -(740,00)
(+) Vendas 500,00 300,00 -(200,00) 500,00 350,00 -(150,00) 400,00 500,00 100,00
(-) Impostos 0,00 0,00 0,00 1.100,00 1.000,00 100,00 0,00 0,00 0,00
(-) Fornecedores 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
(-) Despesas 120,00 100,00 20,00 40,00 50,00 -(10,00) 0,00 0,00 0,00
administrativas
(-) Despesa 0,00 0,00 0,00 900,00 900,00 0,00 0,00 0,00 0,00
pessoal
(-) Despesas 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 73,00 75,00 -(2,00)
financeiras
(+) Receitas 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
financeiras
(=) Saldo final 2.880,00 2.200,00 -(680,00) 1.340,00 600,00 -(740,00) 1.667,00 1.025,00 -(642,00)

FONTE: O autor

39
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

O Quadro 22 confronta os valores orçados com o efetivamente realizado,


apontando as diferenças:

• O recebimento das vendas ficou abaixo do orçado nos dias 4 (40%) e 5 (30%),
superando apenas no dia 6 (25%).

• O valor pago de impostos ficou abaixo do previsto, possivelmente, pelas baixas


vendas do mês anterior.

• As despesas administrativas apresentaram uma pequena variação.

• As despesas de pessoal não apresentaram variações, pois este é um custo


previsível para a maioria das atividades. Sabe-se o salário e todos os encargos
sociais, bem como as datas mensais para os seus pagamentos.

• O realizado das despesas financeiras ficou um pouco maior do que o orçado.


Talvez as baixas vendas do período anterior fizeram com que a empresa tivesse
que recorrer a mais capital de terceiros e, consequentemente, aumentar sua
despesa financeira.

Deste orçamento diário (quadros 21 e 22) vai derivar o orçamento de caixa


mensal, ilustrado no quadro a seguir, num formato geral de orçamento de caixa.

QUADRO 23 – ORÇAMENTO DE CAIXA


Janeiro Fevereiro ... Dezembro
(=) Recebimentos R$ 2.500,00 R$ 5.000,00 R$ 10.000,00
(-) Pagamentos R$ 3.500,00 R$ 7.000,00 R$ 7.000,00
(=) Fluxo líquido de caixa (-R$ 1.000,00) (-R$ 2.000,00) R$ 3.000,00
(+) Saldo inicial R$ 0,00 (-R$ 1.000,00) R$ 21.500,00
(=) Saldo final (-R$ 1.000,00) (-R$ 3.000,00) R$ 24.500,00
(-) Saldo mínimo de caixa R$ 1.000,00 R$ 1.000,00 R$ 1.000,00
(=) Financiamento total exigido R$ 2.000,00 R$ 4.000,00 R$ 0,00
(=) Saldo excedente R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 23.500,00

FONTE: Adaptado de Gitman (2004)

O quadro acima pode ilustrar o orçamento do exemplo que nos acompanha


neste caderno – a camisaria. Para o faturamento de 12 mil camisetas em 2010,
teríamos vendido 10 mil camisetas/mês, mas elas não ocorrem igualmente em
cada um dos meses. Há meses em que vendemos mais e, noutros, menos.

Se tivéssemos realizado o orçamento do quadro 23 para o ano de 2010,


no ano anterior, estaríamos prevendo alguma dificuldade de recebimento
nos primeiros meses do ano, com a necessidade de algum financiamento. Já o
aquecimento das vendas nos meses seguintes projeta um saldo excedente ao final
do ano (Dezembro/2010).

40
TÓPICO 2 | FLUXOS E PLANEJAMENTO

NOTA

Lembre-se de que não vendemos todos os meses exatamente a mesma


quantidade e ao mesmo preço. As quantidades podem variar mês a mês, por uma série de
variáveis. Assim como os recebimentos, as despesas também oscilam.

Que saldo fantástico que obtivemos em um ano: R$ 23.500,00! Não


se iluda, no orçamento de caixa do quadro anterior consideramos apenas o
preço de venda e preço de compra. As vendas incluem as vendas previstas, as
vendas à vista, os recebimentos das contas a receber e outros recebimentos. Já
os pagamentos são muitos.

O orçamento de caixa revelará a evolução dos números no decorrer do


ano, mês a mês. Através dele também pode-se tomar algumas decisões para
que os resultados finais sejam alcançados, realizando ajustes no decorrer dos
meses. Pode-se ainda constatar determinado mês com uma falta muito grande de
dinheiro, mas em alguns meses poderá haver o excedente (superávit).

Para evitar surpresas, um orçamento mais provável também deve


considerar um cenário pessimista e outro otimista. As atividades de planejamento
precisam levar sempre em consideração as três condições:

• Pessimista: onde muitas coisas podem dar errado, poucas vendas, inadimplência
alta e muitos pagamentos a serem realizados.

• Mais provável: geralmente é reproduzido dentro daquilo que vem ocorrendo


nos últimos períodos.

• Otimista: geralmente consideramos altas vendas, além do pagamento de todos


os compromissos.

Também é possível combinar as condições citadas acima no decorrer do ano.

Um bom gestor financeiro dá os seus primeiros passos controlando


o seu dinheiro, procurando aumentar os seus ganhos, diminuir as despesas e
acumulando alguma riqueza. O quadro a seguir apresenta um orçamento familiar.

41
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

QUADRO 24 – ORÇAMENTO DOMÉSTICO

Jan Fev Mar


Orçamento
Valor % Valor % Valor %
Recebimento de salários e outros
1.635,00 100% 2.175,00 100% 1.635,00 100%
auxílios.
Despesas.

Alimentação (supermercado,
lanchonete, restaurante, padaria, 400,00 24,5% 390,00 21,7% 400,00 25,4%
entre outros).

Comunicação (telefone fixo,


65,00 3,9% 65,00 3,6% 65,00 4,1%
móvel, internet, entre outros).

Educação (mensalidade, material


200,00 12,4% 300,00 16,7% 200,00 12,7%
escolar, uniforme etc.).

Impostos (Imposto de Renda, IPTU,


IPVA, Seguro Obrigatório, ente 30,00 1,8% 30,00 1,7% 20,00 1,3%
outros).

Lazer (cinema, livros, revistas,


50,00 3,0% 80,00 4,4% 30,00 1,9%
cd´s, viagens, entre outros).

Moradia (aluguel, condomínio,


manutenção, água, energia, gás 400,00 24,5% 400,00 22,3% 420,00 26,7%
etc.).

Saúde (plano de saúde, remédios,


80,00 4,9% 60,00 3,4% 40,00 2,5%
médicos, dentista, academia etc.)

Seguros (carro, casa, vida,


50,00 3,0% 50,00 2,8% 50,00 3,2%
previdência, residência etc.).

Transporte (ônibus/metrô,
combustível, seguros, 300,00 18,4% 340,00 19,0% 310,00 19,7%
manutenção, entre outros).

Vestuário (roupas e calçados). 60,00 3,6% 80,00 4,4% 40,00 2,5%


Total das despesas 1.635,00 100% 1.795,00 100% 1.575,00 100%
Saldo 0,00 0% 380,00 17,5% 60,00 3,6%

FONTE: O autor

Deste orçamento (modelo Quadro 23), algumas considerações:

Os ganhos são da média de R$ 1.635,00. Em janeiro não sobrou nem


faltou dinheiro.

No mês de fevereiro o ganho foi maior, proveniente do adicional de férias.


As despesas também aumentaram um pouco, mas com controle, pois fez sobrar
R$ 380,00, ou seja, 17,5% dos ganhos do mês.

42
TÓPICO 2 | FLUXOS E PLANEJAMENTO

No mês de março os recebimentos voltaram à normalidade, mas agora


com uma sobra de R$ 60,00, ou seja, 3,6% dos ganhos.

As grandes contas neste primeiro trimestre são: moradia, alimentação


e transporte.

A educação teve no mês de fevereiro um adicional de R$ 100,00, proveniente


de despesas com material e uniforme escolar de seu filho. A sua despesa com
educação permanece estável. A educação é considerada um investimento, pois o
conhecimento permitirá melhor desempenho e trará oportunidades de ascensão.

As demais despesas não somam tanto quanto moradia, alimentação,


transporte e educação; mas necessitam de controle, pois afetam o saldo final do mês.

A coluna do percentual (%) em cada um dos meses expressa o quanto da


despesa total é atribuído a cada uma das despesas.

O quadro 23 pode expressar o orçamento, projetando os resultados, sendo


uma previsão para o trimestre, semestre ou ano.

Vale a pena repetir o quadro, agora considerando o que efetivamente


aconteceu. Será que houve empate, sobra ou falta de dinheiro?

DICAS

Torne-se um bom gestor financeiro, dando os primeiros passos ao cuidar das


suas finanças. Você pode encontrar na internet uma série de planilhas que permitem elaborar
orçamentos domésticos mais detalhados.

4 DEMONSTRAÇÕES E BALANÇOS PROJETADOS


No Tópico 1 desta unidade apresentamos o DRE - Demonstração de
Resultados do Exercício e as estruturas do Balanço Patrimonial. Estas estruturas
são muito utilizadas pelos administradores e gestores, para análise dos indicadores
de desempenho e outras providências.

É fundamental que no planejamento financeiro possamos projetar as


demonstrações e os balanços. Com estas projeções conseguimos, inclusive, avançar
na análise dos índices. Geralmente, tem-se como base os dados do exercício
anterior e incorporam-se às previsões para o período ou exercício seguinte.

43
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

O DRE a seguir, projetado para 2011, projeta um aumento geral de 9% nos


custos e demais despesas e um incremento nas vendas de 10%. O aumento de 9%
no custo das camisetas será repassado ao preço de venda.

A camiseta que custava R$ 7,00, com o aumento de 9%, passará a custar


R$ 7,63. Mantendo a margem de 30%, esta camiseta será vendida por (7,63 / (1-
30%)) R$ 10,90 em 2011.

Como se projeta um incremento de 10% nas vendas em relação ao ano


anterior, em 2011 estima-se a venda de 13.200 camisetas ao preço de R$ 10,90,
que resulta numa ROB ou faturamento de R$ 143.880,00. A partir daí, podemos
concluir o DRE projetado, conforme o quadro a seguir.

QUADRO 25 – PROJEÇÃO DO DRE


2011 2010
(=) ROB / faturamento R$ 143.880,00 R$ 120.000,00
(-) Impostos (10% sobre a ROB) R$ 14.388,00 R$ 12.000,00
(=) ROL (ROB – impostos) R$ 129.492,00 R$ 108.000,00
(-) CMV (R$ 7,00 + 9% = R$ 7,63 / camiseta) R$ 100.716,00 R$ 84.000,00
(=) Lucro bruto R$ 28.776,00 R$ 24.000,00
(-) Despesas administrativas R$ 6.540,00 R$ 6.000,00
(-) Despesas de pessoal R$ 17.004,00 R$ 15.600,00
(=) Lucro operacional (antes das despesas e receitas financeiras) R$ 5.232,00 R$ 2.400,00
(-) Despesas financeiras R$ 272,50 R$ 250,00
(+) Receitas financeiras R$ 28,00 R$ 25,00
(=) Lucro/prejuízo líquido R$ 4.987,50 R$ 2.175,00

FONTE: O autor

Da projeção de venda de 13.200 camisetas para 2011, sabe-se que não irá
ocorrer a venda média de exatamente 1.100 camisetas/mês. Alguns fatores farão
com que em determinados meses as vendas estejam abaixo desta média, enquanto
outros na média e, ainda, alguns acima da média. O planejamento, projetando
as vendas mensais, deve considerar esta variação mensal nas vendas, a fim de
projetar os resultados próximos da sua realização.

O Quadro 25 apresenta a projeção do DRE para o ano de 2011, considerando


o realizado em 2010. É fundamental que esta projeção anual esteja diluída em
períodos menores: meses ou dias.

As surpresas do dia a dia podem acarretar em dificuldades financeiras


do mês. Repetindo-se estas surpresas nos meses seguintes, a empresa pode ter
dificuldades de fechar mais um ano (exercício). Quanto mais detalhada for esta
projeção, melhor pode-se acompanhar o realizado, revendo algumas decisões a
fim de alcançar os resultados projetados.
44
TÓPICO 2 | FLUXOS E PLANEJAMENTO

ATENCAO

Para que micro e pequenas empresas cresçam, é necessário projetar os seus


resultados. Muitas desconhecem os seus fluxos e não apresentam orçamentos, da mesma
forma que um barco vai para a direção em que sopra o vento.

Assim como se projetou um DRE, o quadro a seguir projeta o balanço


patrimonial para 2011.

QUADRO 26 – PROJEÇÃO DO BALANÇO PATRIMONIAL

ATIVOS 2011 2010


Ativos circulantes
Caixa 1.232,00 232,00
Aplicações financeiras 2.050,00 1.050,00
Contas a receber 8.000,00 7.500,00
Estoques 8.800,00 9.800,00
Total dos ativos circulantes 20.082,00 18.582,00
Ativos permanentes (ao custo)
Terrenos e edificações 25.200,00 25.200,00
Máquinas e equipamentos 5.850,00 3.950,00
Móveis e utensílios 2.190,00 1.890,00
Veículos 0,00 0,00
Total dos ativos permanentes 33.240,00 31.040,00
Depreciação acumulada 12.140,00 10.010,00
Ativos permanentes líquidos 21.100,00 21.030,00
TOTAL DOS ATIVOS 41.182,00 39.612,00
PASSIVOS E PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Passivo Circulante
Contas a pagar 8.392,00 8.359,00
Títulos a pagar 2.040,00 3.340,00
Despesas a pagar 3.970,00 4.160,00
Total dos passivos circulantes 14.402,00 15.859,00
Exigível de longo prazo 6.530,00 3.503,00
Total dos passivos 20.932,00 19.362,00
Patrimônio líquido
Capital social 20.250,00 20.250,00
TOTAL DOS PASSIVOS E PL 41.182,00 39.612,00

FONTE: O autor

45
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

É importante lembrar que durante o ano podem ocorrer situações que


impliquem no ajuste do planejamento. Da projeção do balanço acima, evidenciamos:

• Mais dinheiro no caixa e nas aplicações financeiras.

• Uma redução dos níveis de estoque. Compram-se menos mercadorias ou as


vendas aumentam para as quantidades que sempre eram compradas.

• Algum investimento em máquinas e equipamentos.

• Redução do Passivo Circulante, mas aumento do Exigível de longo prazo.


Projeta-se a realização de algum financiamento de longo prazo.

A partir destas projeções do DRE (Quadro 25) e do balanço patrimonial


(Quadro 26), é possível recalcular todos os índices que você aprendeu no Tópico 1
desta unidade, para verificar o que melhora e o que piora. O quadro a seguir sintetiza
os índices numa série temporal de 2009 e 2010, incluindo a projeção de 2011.

QUADRO 27 – SÉRIE TEMPORAL DOS ÍNDICES REALIZADOS E PROJETADOS


Índice 2009 2010 2011
Índices de liquidez
Liquidez corrente 1,35 1,17 1,39
Liquidez seca 0,47 0,55 0,78
Índices de atividade
Giro do estoque 6,38 8,57 11,45
Prazo médio de recebimento 17,37 22,50 20,02
Prazo médio de pagamento 32,92 35,82 30,00
Giro do ativo total 3,06 3,03 3,49
Índices de endividamento
Endividamento geral 8,68% 8,84% 15,86%
Cobertura de juros 8,50 9,60 19,20
Índices de rentabilidade
Margem de lucro bruto 20,00% 20,00% 20,00%
Margem de lucro operacional 1,49% 2,00% 3,64%
Margem de lucro líquido 1,32% 1,81% 3,47%
Retorno do ativo total 4,05% 5,49% 12,11%
Retorno do capital próprio 7,60% 10,74% 24,63%
FONTE: O autor

Se for confirmada a projeção para 2011, os índices do Quadro 27 estarão


corretos e as análises a seguir poderão ser consideradas verdadeiras numa análise
dos três últimos anos:

• A liquidez corrente apresentou recuperação pela diminuição das contas a


receber (os prazos de recebimento foram reduzidos), pelos menores níveis de
estoque e pela redução do passivo circulante.
46
TÓPICO 2 | FLUXOS E PLANEJAMENTO

• A liquidez seca demonstra uma melhor gestão dos estoques: menores


quantidades e, consequentemente, maior giro.

• Os prazos médios de recebimento são reduzidos, bem como o de pagamento.


Este ao menor nível.

• O giro total do ativo aumentou, decorrente do aumento das vendas e da


manutenção do ativo total.

• O endividamento geral da empresa aumentou bastante, mas a sua cobertura de


juros também aumentou.

• Quanto à rentabilidade, observa-se que a margem de lucro bruto vem sendo


mantida, a margem de lucro operacional aumenta em função da manutenção
das despesas administrativas e de pessoal, enquanto que o lucro líquido
também aumenta, mas fica inferior ao lucro operacional, em função das
despesas financeiras com o capital de terceiros, comprovado pelo aumento do
endividamento geral.

● O retorno do ativo total e do capital próprio também tem reflexos significativos


em 2011.

E
IMPORTANT

Tudo o que foi mencionado acima não passa de uma projeção para 2011, mas
se for confirmada a sua projeção, aí sim, as considerações são válidas.

LEITURA COMPLEMENTAR

A CPMF DOS MALES NÃO É O MENOR

A economia não é, definitivamente, a ciência dos cenários ideais, mas


sim, a dos melhores cenários possíveis dentro de determinadas circunstâncias,
que nem sempre são as mais favoráveis sob a ótica de promoção do crescimento
do PIB. Como é bem sabido, fazer crescer a economia é o graal que move nove
entre dez economistas. No dia a dia, porém, os arranjos político-institucionais
levam a escolhas que nem sempre correspondem ao que o economista mediano
consideraria como as melhores opções, já que, muitas vezes, a busca do crescimento
econômico não é o objetivo almejado.

47
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

No caso do brasileiro, o aumento de carga tributária desde a década de 1990


distribuiu benesses estatais e pode ter contribuído para reduzir a desigualdade
nacional. O problema, porém, é que o crescente peso dos tributos tem sido um
freio ao crescimento potencial do país.

Para os economistas, nem de longe são diferentes as questões de equidade,


e provavelmente, a maioria deles gostaria de manter ou expandir os programas
sociais mais eficientes e baratos, como o “Bolsa Família”. Por outro lado, eles
tendem a ser menos favoráveis à política dos últimos anos, de aumentos reais
do salário mínimo, cuja reconhecida eficácia distributiva depende de enormes
gastos fiscais. A ideia é que, com a política social mais focada e afiada, utilizando-
se programas de melhor relação custo-benefício, seria possível aumentar o
crescimento potencial sem prejudicar a guerra à desigualdade e à pobreza.

Esse último roteiro, porém, simplesmente não faz parte do cardápio


que, no atual momento histórico, é oferecido à sociedade brasileira pelas
forças políticas mais relevantes. Sempre é útil bater na tecla de que acelerar o
crescimento, com equidade e sem aumento na carga tributária, é tecnicamente
possível. Uma vez bem estabelecido este ponto, porém, é hora de virar a página
e analisar qual é o melhor caminho dentro das alternativas politicamente viáveis
de gestão econômica.

CUSTO

A confirmação de que está mantida a regra de reajuste real do salário


mínimo acordada no governo anterior indica que, em 2012, haverá um custo
adicional para o Tesouro de R$ 22 bilhões. Para frustração de muitos economistas,
há indicações de que a sociedade aprova esse curso de ação.

Em recente livro, o sociólogo Alberto Carlos de Almeida sugere que 93,7%


da população é favorável ao aumento do salário mínimo. Quando perguntados
se manteriam essa opinião mesmo que o aumento acarretasse ampliação da carga
tributária, 56% dos que apoiaram a alta do mínimo confirmaram essa posição, e
39% mudaram de ideia, ficando contra.

Refazendo-se o cálculo, para incluir os que inicialmente se declaravam


contrários à elevação do mínimo, chega-se a 52% favoráveis a essa política, mesmo
que vinculada à carga tributária, e 43% contra. Fica claro, portanto, que a disputa
entre os principais partidos políticos pela bandeira de “campeão” dos aumentos
reais do salário mínimo, em que pese os tons demagógicos frequentemente
apresentados, encontra eco na maioria do eleitorado, mesmo quando ligada à
noção naturalmente popular da alta dos impostos.

48
TÓPICO 2 | FLUXOS E PLANEJAMENTO

É verdade, por outro lado, que a sólida minoria de 43% que é contra o
aumento do mínimo, pelo menos quando este é vinculado ao aumento da carga
tributária, indica que os políticos poderiam trabalhar melhor a bandeira da
manutenção ou da redução de impostos. No momento, porém, dado o apoio
majoritário da população à elevação do salário mínimo, parece improvável que
o Executivo banque um ajuste fiscal à custa dessa política altamente simbólica.

Por outro lado, na seara macroeconômica, o processo de redução da


taxa de juros está longe de concluído, e ainda vai exigir anos de superávits
primários elevados. Por conta disso, uma nova rodada de elevação da carga
tributária é provavelmente a solução a ser adotada para se manter o equilíbrio
macroeconômico.

A outra saída, uma desaceleração consistente e prolongada do ritmo de


crescimento da despesa pública, exigiria a revisão da política de aumento real do
salário mínimo. E, como fica evidente tanto na dinâmica política do Legislativo
quanto na dinâmica social da opinião pública, a saída pelo aumento dos impostos
é mais palatável do que a de conter decisivamente o mínimo (ou romper a sua
vinculação ao do piso de diversos benefícios sociais ou previdenciários, outro
anátema político atual).

Uma vez constatado que a sociedade move-se inexoravelmente em uma


determinada direção, a melhor contribuição que a ciência econômica pode dar é
a de indicar quais são os custos e os benefícios das diferentes maneiras de trilhar
o caminho escolhido. No caso do tema desta Carta, isso significa saber qual a
melhor maneira (ou a menos prejudicial) de se aumentar a carga tributária para
viabilizar o salto de gastos que se vislumbra no horizonte a curto e médio prazo.

A CPMF tem sido uma das ações mais discutidas para proporcionar o
necessário aumento de carga tributária (sempre na suposição de que é “carta
fora do baralho” a descontinuação da atual política de aumentos reais do gasto
público corrente). É interessante, portanto, avaliar as qualidades e desvantagens
do chamado “imposto do cheque”.

CASCATA

O grande problema de impostos sobre transações financeiras (ITF), como


a CPMF, é que eles incidem sobre o faturamento das empresas – funcionam,
portanto, como um tributo em cascata ao longo de toda a cadeia de produção. Os
ITFs também podem levar à desintermediação financeira, embora tenham efeito
benéfico de atingir o setor informal, contribuindo para equalizar o ônus tributário
entre os agentes econômicos.

49
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

A partir de fevereiro de 2002, a receita da CPMF estabilizou-se em 1,4% do


PIB, permanecendo nesse nível até o fim, em 2008. Não houve, portanto, contínua
deterioração da base de tributação. Naturalmente, por ter uma base de incidência
específica, a arrecadação por meio da CPMF gera distorções na economia.
Segundo estudo de 2001 dos economistas Sérgio Koyama e Márcio Nakane, do
Banco Central, o uso do tributo reduz a utilização de cheques e desloca aplicações
de depósito a prazo para fundos financeiros. Além disso, a contribuição aumenta
o spread bancário bruto, e reduz o líquido. Quanto a esta última característica, os
autores observam que ela leva à perda de rentabilidade para as partes diretamente
envolvidas – tomadores de empréstimo, aplicadores e intermediários financeiros.

Por outro lado, a CPMF estimula a demanda por moeda ao elevar a coleta
de imposto inflacionário pelo governo. Em outras palavras, ao tentar fugir dessa
contribuição, os contribuintes elevam outra forma de arrecadação. Evidentemente,
ninguém defende a inflação como forma de tributação. Mas, uma vez que ela
existe, a CPMF acaba sendo um tributo difícil de ser contornado – isto é, ao dele
fugir, o contribuinte não impede que o governo arrecade.

EQUAÇÃO

Como fica claro, a CPMF não é o pior dos impostos, mas não há por que
pressupor que seja o melhor e o mais adequado para resolver a equação fiscal
que se projeta para 2012. Um detalhado estudo de Rodrigo Suescún, de 2004,
busca avaliar os efeitos no crescimento e na produtividade dos diferentes tipos
de tributo no Brasil.

O autor afere, a partir de simulações em um modelo calibrado para


reproduzir as principais características da economia brasileira, quais seriam os
impactos no crescimento de aumentos de arrecadação de 2% do PIB obtidos com
a majoração isolada de diferentes tipos de impostos.

A sua conclusão é que a opção menos custosa, em termos de crescimento,


é aumentar os impostos sobre o consumo. Na sequência, viriam tributação sobre
o trabalho e sobre transações financeiras (neste último caso, com a CPMF). A pior
opção seria aumentar o Imposto de Renda das empresas.

Os resultados dos exercícios de Suescún estão em linha com o que


prevê a teoria econômica, já que a taxação ao consumo é considerada a menos
prejudicial à eficiência da economia, e os impostos sobre a renda das empresas,
que oneram os investimentos, a pior. Como o trabalho não considera a existência
de um setor informal, e como uma das vantagens da CPMF é justamente a de
atingir os agentes fora da formalidade, provavelmente o “imposto do cheque” é
superior aos tributos sobre o trabalho – por render o bônus (em comparação com
estes últimos) da tributação do setor informal. Por outro lado, com a substituição
tributária, a capacidade do setor informal de sonegar tributos diminuiu.

50
TÓPICO 2 | FLUXOS E PLANEJAMENTO

Assim, se o Brasil está mesmo na iminência de um novo salto na carga


tributária, a CPMF não é, provavelmente, a melhor opção disponível. O governo
deveria considerar a possibilidade de, em seu lugar, utilizar o instrumento
dos tributos indiretos. Como discutido na Carta do IBRE de abril, a taxação do
consumo no Brasil tem uma fama, provavelmente, injusta de regressividade.
Desse modo, diante da aparente falta de apetite da sociedade brasileira para
enfrentar a questão fiscal pelo lado da despesa, uma cuidadosa e bem pensada
elevação de algumas alíquotas de impostos indiretos sobre o consumo talvez seja,
dos males, o menor.

FONTE: Conjuntura Econômica. Maio-2011, v. 65 – n. 05. Disponível em: <www.fgvpr.br/novo3/


carta/maio_2011.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2011.

51
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você viu que:

• O fluxo representa todas as entradas e saídas de dinheiro, onde o gestor


financeiro precisa conhecer os momentos em que o saldo é positivo e negativo.

• A projeção destes fluxos ao futuro representa o orçamento de caixa – atividade


que integra o planejamento da empresa. O orçamento poderá auxiliar numa
visão futura de resultados, auxiliando a tomada de decisão para corrigir
algumas ações que possam prejudicar estes resultados.

• Os fluxos representam uma análise econômica que expressa as receitas,


despesas e o resultado do período. Fluxos de caixa também são elaborados
para se conhecer investimentos realizados, com seus pagamentos, receitas e
depreciação.

• A depreciação é a desvalorização de um bem durante um período, que precisa


ser considerado no caixa para fazer a sua reposição.

• Na elaboração das demonstrações do fluxo de caixa são considerados os fluxos


operacionais, de investimentos e de financiamentos; de curto e longo prazo.
Os fluxos operacionais consideram todas as entradas e saídas diretamente
relacionadas à produção e comercialização de nossos produtos e/ou serviços.
Aqui encontramos muitos itens e lançamentos.

• Enquanto os fluxos de investimentos expressam as aquisições de imobilizado


e participações em outras empresas, os fluxos de financiamentos expressam
os fluxos do dinheiro dos sócios e do dinheiro emprestado de outros que não
sejam os sócios.

• Além de considerar um ambiente natural ou normal, o orçamento de caixa


também deve prever um cenário pessimista e otimista.

• A projeção dos resultados permite avançar na análise dos índices, simulando o


resultado futuro.

52
AUTOATIVIDADE

Vamos responder às questões a seguir para fixar o aprendizado:

1 O que são os fluxos?

2 Como posso projetar os fluxos?

3 O que é o orçamento de caixa?

4 Assinale com “X” os elementos que compõem os fluxos operacionais:

( ) Vendas.
( ) Patrimônio.
( ) Salários.
( ) Matéria-prima.
( ) Despesas gerais.
( ) Ativo fixo.
( ) Empréstimos.
( ) Produto em processo e produto acabado.
( ) Exigível de curto e longo prazo.
( ) Contas a pagar.

5 Da Figura 2 (p. 34), quais elementos compõem os fluxos de investimentos e de


financiamentos?

6 Diferencie um orçamento pessimista de um otimista.

7 A partir do balanço patrimonial e do DRE a seguir, preencha o quadro da


demonstração dos fluxos de caixa.

DRE 2010 2009


(=) ROB / faturamento R$ 250.000,00 R$ 200.000,00
(-) Impostos (20% sobre a ROB) R$ 50.000,00 R$ 40.000,00
(=) ROL (ROB – impostos) R$ 200.000,00 R$ 160.000,00
(-) CMV R$ 80.000,00 R$ 70.000,00
(=) Lucro bruto R$ 120.000,00 R$ 90.000,00
(-) Despesas administrativas R$ 60.000,00 R$ 45.000,00
(-) Despesas de pessoal R$ 45.000,00 R$ 35.000,00
(=) Lucro operacional R$ 15.000,00 R$ 10.000,00
(-) Despesas financeiras R$ 5.000,00 R$ 3.000,00
(+) Receitas financeiras R$ 0,00 R$ 0,00
(=) Lucro/prejuízo líquido R$ 10.000,00 R$ 7.000,00

53
ATIVOS 2010 2009
Ativos Circulantes
Caixa 2.320,00 1.300,00
Aplicações financeiras 6.050,00 4.000,00
Contas a receber 15.500,00 10.000,00
Estoques 19.800,00 25.000,00
Total dos ativos circulantes 43.670,00 40.300,00
Ativos Permanentes (ao custo)
Terrenos e edificações 20.200,00 20.200,00
Máquinas e equipamentos 9.950,00 7.500,00
Móveis e utensílios 4.890,00 4.500,00
Veículos 0,00 0,00
Total dos ativos permanentes 35.040,00 32.200,00
Depreciação acumulada 7.010,00 6.500,00
Ativos permanentes líquidos 28.030,00 25.700,00
TOTAL DOS ATIVOS 71.700,00 66.000,00

PASSIVOS E PATRIMÔNIO LÍQUIDO


Passivo Circulante
Contas a pagar 12.359,00 9.500,00
Títulos a pagar 11.340,00 9.000,00
Despesas a pagar 8.498,00 8.000,00
Total dos passivos circulantes 32.197,00 26.500,00
Exigível de longo prazo 13.503,00 13.500,00
Total dos passivos 45.700,00 40.000,00
Patrimônio líquido
Capital social 26.000,00 26.000,00
TOTAL DOS PASSIVOS E PL 71.700,00 66.000,00

DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA


Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais Cálculo Fluxo
Lucro líquido
Depreciação (e outras despesas não desembolsáveis)
Contas a receber (aumentou)
Estoques (diminuiu)
Contas a pagar
Outras despesas a pagar
Caixa gerado pelas atividades operacionais

Fluxo de caixa das atividades de investimento


Ativo permanente (aumentou)
Variações em participações societárias
Caixa aplicado em atividades de investimentos
Fluxo de caixa das atividades de financiamento

54
Títulos a pagar (aumentou)
Exigível de longo prazo (aumentou)
Variações no patrimônio líquido (aumentou)
Caixa gerado pelas atividades de financiamento

Aumento líquido em caixa e títulos negociáveis

8 A partir do DRE e do balanço patrimonial da questão anterior (questão


7), recalcule os índices de liquidez, atividade, endividamento e de
rentabilidade, para os anos de 2009 e 2010, preenchendo o quadro a seguir
numa série temporal.

Índice 2009 2010


Índices de liquidez
Liquidez corrente
Liquidez seca
Índices de atividade
Giro do Estoque
Prazo médio de recebimento
Prazo médio de pagamento
Giro do ativo total
Índices de endividamento
Endividamento geral
Cobertura de juros
Índices de rentabilidade
Margem de lucro bruto
Margem de lucro operacional
Margem de lucro líquido
Retorno do ativo total
Retorno do capital próprio

9 A partir dos índices constantes no quadro da questão anterior (questão 8),


faça uma análise individual de cada um deles na série temporal.

55
56
UNIDADE 1
TÓPICO 3

VARIÁVEIS NA GESTÃO FINANCEIRA

1 INTRODUÇÃO
Até agora, a Gestão Financeira foi apresentada como se tudo transcorresse
às mil maravilhas. Mas se sabe que as empresas lidam com uma série de
dificuldades internas e externas, que se revelam nas surpresas do dia a dia.

Neste ambiente é preciso considerar que nem tudo acontecerá como fora
planejado. Algumas variáveis precisam ser consideradas para que os resultados
projetados sejam alcançados.

Este último tópico do caderno apresenta o valor do dinheiro no tempo, o


risco, o retorno e as taxas de juros.

Então, vamos lá, estamos finalizando esta primeira unidade.

2 VALOR DO DINHEIRO NO TEMPO


Ao iniciar esta unidade de Gestão Financeira, as finanças são definidas
como a gestão do dinheiro. É preciso desenvolver a habilidade de captar e
empregar o dinheiro para que o seu valor aumente.

O dinheiro tem o seu valor ajustado no decorrer do tempo, ilustrado


com a seguinte situação: relacione 10 itens que podem ser comprados hoje com
R$ 500,00. Se você guardar este dinheiro em sua carteira durante um ano, com
certeza daqui a um ano não poderá mais comprar estes itens pelo mesmo preço
e com aquela cédula de R$ 500,00. Isto se deve ao fato de que o preço da maioria
dos produtos e/ou serviços oscila com o decorrer do tempo. Alguns produtos
podem ter o seu valor reduzido, noutros o valor se mantém, e ainda há aqueles
em que o preço aumenta.

57
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

Este valor do dinheiro está associado ao tempo: dias, meses e anos; e este
tempo torna-se a principal variável na gestão financeira. Do exemplo, os R$ 500,00
de hoje não serão os mesmos amanhã, nem os R$ 500,00 de amanhã representam
o mesmo montante hoje.

Este hoje e amanhã nos remete ao presente e ao futuro distante por um


intervalo de dias, meses ou anos, denominado de linha do tempo. Nesta linha do
tempo, entre um valor presente e outro futuro, os montantes são corrigidos por
uma taxa preestabelecida.

E
IMPORTANT

As taxas podem ser expressas nos diferentes intervalos:


ao dia (a.d.), ao mês (a.m.), ao ano (a.a.) etc.
A Matemática Financeira ensina como converter as taxas de um período a outro.

As expressões a seguir são fundamentais para o gestor financeiro:

• Valor Presente (VP): corresponde ao montante de dinheiro que temos neste


exato momento (valor presente) - hoje. Em algumas literaturas e calculadoras,
também podemos encontrar, do inglês, a sigla PV (Present Value).

• Valor Futuro (VF): corresponde ao montante de dinheiro que teremos em data


futura. Do inglês, temos a sigla FV (Future Value).

Para melhor compreensão, vamos utilizar o seguinte exemplo: imagine ter


aplicado R$ 1.000,00 numa conta-poupança no dia 10 do mês passado. Neste mês,
no dia 10, a sua aplicação completa um mês, e você terá direito ao rendimento
destes últimos 30 dias.

Diariamente, o BACEN (Banco Central do Brasil) divulga a taxa de


rendimento da poupança. Supondo que o rendimento, considerando juros e
correção monetária, foi de 0,60% a.m. (ao mês), agora o saldo é de R$ 1.006,00,
sendo que R$ 6,00 foi o rendimento. Para o próximo mês, a base de cálculo será
o saldo de R$ 1.006,00 – tecnicamente a aplicação tem como base a capitalização
composta (juros sobre juros).

Acompanhe a projeção do valor futuro da aplicação no quadro a seguir:

58
TÓPICO 3 | VARIÁVEIS NA GESTÃO FINANCEIRA

QUADRO 28 – PROJEÇÃO DE VALOR FUTURO ANUAL SEM DEPÓSITOS


Período Saldo Inicial Correção (0,60%) Saldo Final
0 1.000,00 0,00 1.000,00
1 1.000,00 6,00 1.006,00
2 1.006,00 6,04 1.012,04
3 1.012,04 6,07 1.018,11
4 1.018,11 6,11 1.024,22
5 1.024,22 6,15 1.030,36
6 1.030,36 6,18 1.036,54
7 1.036,54 6,22 1.042,76
8 1.042,76 6,26 1.049,02
9 1.049,02 6,29 1.055,31
10 1.055,31 6,33 1.061,65
11 1.061,65 6,37 1.068,02
12 1.068,02 6,41 1.074,42
TOTAL 74,42

FONTE: O autor

UNI

Tente refazer os cálculos do quadro anterior, mas agora considerando um


rendimento de 0,70% a.m. Você terá ao final de um ano o montante de R$ 1.087,31. Terá obtido
um rendimento de R$ 87,31 em um ano.

UNI

Agora imagine que você consiga ter aplicação de R$ 100.000,00 com esta
rentabilidade de 0,70% a.m. O seu rendimento anual será de R$ 8.731,00.

Do exemplo anterior (Quadro 28), vamos supor que este dinheiro foi
aplicado há um ano e que em cada um dos meses o rendimento da poupança foi
de 0,60% a.m. No término deste primeiro ano de aplicação, o montante total da
aplicação é de R$ 1.074,42, e neste caso a taxa de correção foi de 7,44% a.a. (ao ano).
Apenas com o depósito inicial de R$ 1.000,00, com uma correção fixa de 0,60% a.m.,
obtivemos durante um ano o rendimento de R$ 74,42, ou seja, 7,44% a.a.

59
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

Agora vamos considerar que, além de um depósito inicial de R$ 1.000,00,


sejam aplicados mais R$ 100,00 em cada um dos meses subsequentes, e ainda a
uma taxa de 0,70% a.m. Qual será o nosso saldo daqui a um ano?

QUADRO 29 – EXEMPLO DE POUPANÇA ANUAL COM DEPÓSITOS

Período Saldo Inicial Correção (0,70%) Saldo Parcial Depósito Saldo Final
0 1.000,00 0,00 1.000,00 0,00 1.000,00
1 1.000,00 7,00 1.007,00 100,00 1.107,00
2 1.107,00 7,75 1.114,75 100,00 1.214.75
3 1.214,75 8,50 1.223,25 100,00 1.323,25
4 1.323,25 9,26 1.332,52 100,00 1.432,52
5 1.432,51 10,03 1.442,54 100,00 1.542,54
6 1.542,54 10,80 1.553,34 100,00 1.653,34
7 1.653,34 11,57 1.664,91 100,00 1.764,91
8 1.764,91 12,35 1.777,27 100,00 1.877,27
9 1.877,27 13,14 1.890,41 100,00 1.990,41
10 1.990,41 13,93 2.004,34 100,00 2.104,34
11 2.104,34 14,73 2.119,07 100,00 2.219,07
12 2.219,07 15,53 2.234,61 100,00 2.334,61
TOTAL 134,61 1.200,00

FONTE: O autor

Algumas considerações:

Sabemos da dificuldade de muitas pessoas em conseguir acumular R$


1.000,00 para depositar numa conta-poupança. O orçamento e fluxo de caixa
podem auxiliar.

O rendimento de R$ 134,61 resultou da taxa de 0,70% a.m. e dos depósitos


mensais de R$ 100,00. Estes depósitos mensais somaram a importância de R$
1.200,00 no ano.

Muitas vezes, assumimos financiamentos (dívidas) com parcelas em torno


de R$ 100,00 durante um período de pelo menos 12 meses. Imagine se você tivesse
assumido este compromisso consigo, ao final deste ano poderia adquirir aquele
bem pretendido, negociado um desconto, pago à vista e talvez sobrado dinheiro.

60
TÓPICO 3 | VARIÁVEIS NA GESTÃO FINANCEIRA

ATENCAO

A explosão de produtos eletroeletrônicos dos últimos anos evidencia o rápido


avanço tecnológico. Geralmente, em um ano encontramos estes produtos tecnologicamente
superiores pelo mesmo preço.

Geralmente, o rendimento das aplicações financeiras costuma ser inferior à


taxa de juros paga nos empréstimos. No ambiente empresarial, o gestor financeiro
lida, constantemente, com estas variáveis: valor presente e valor futuro, tanto nas
atividades operacionais, de investimento e de financiamento.

Ao realizar o orçamento, prever resultados futuros, o gestor financeiro


precisa projetar uma taxa de juros para corrigir o valor presente num valor futuro.
A projeção feita da camisaria, no tópico anterior deste caderno, para o ano de
2011, considerou um aumento de 9% nos custos e despesas.

UNI

Procure analisar alguns produtos, analisando o seu valor à vista e as demais


condições de pagamentos oferecidas pela empresa. Verifique o quanto é pago de juros.

3 RISCO E RETORNO
Na Gestão Financeira, o risco está presente em diferentes níveis: há
situações de maior e outras de menor risco. Segundo Gitman (2004, p.184),
“fundamentalmente, o risco é a possibilidade de perda financeira”, e em nossas
ações não queremos perder dinheiro.

Ainda, segundo Lemes (2005, p. 123), “risco é a possibilidade de prejuízo


financeiro, ou, mais formalmente, a variabilidade de retorno associado a
determinado ativo”. Entende-se esta perda financeira não apenas como a perda
do dinheiro em espécie, mas como todo o ativo.

Os recursos financeiros estão expostos a algum risco. Estes riscos devem


ser conhecidos, a fim de se manter o retorno esperado. “Retorno é o total de ganhos
ou de perdas de um proprietário ou aplicador sobre investimentos realizados”
(LEMES, 2005, p. 123).

61
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

Obviamente que não queremos ter uma perda ao aplicar os recursos


financeiros. Almejamos a obtenção de ganhos, e para isto precisamos lidar com
a incerteza, a insegurança, ou seja, as possibilidades de ocorrência de situações
positivas ou negativas em nossas ações. O quadro a seguir relaciona algumas
fontes tradicionais de risco para os gestores financeiros:

QUADRO 30 – FONTES TRADICIONAIS DE RISCO


Fonte de risco Descrição
Riscos específicos da empresa
Risco operacional A possibilidade de que a empresa não seja capaz de cobrir seus custos de
operação. Seu nível é determinado pela estabilidade das receitas da empresa
(fixos) e pela estrutura de seus custos operacionais (variáveis).
Risco financeiro A possibilidade de que a empresa não seja capaz de saldar suas obrigações
financeiras. Seu nível é determinado pela previsibilidade dos fluxos de caixa
operacionais da empresa e suas obrigações financeiras com encargos fixos.
Riscos específicos dos acionistas
Risco de taxa de A possibilidade de que as variações das taxas de juros afetem negativamente
juros o valor de um investimento. A maioria dos investimentos perde valor quando
a taxa de juros sobe, e ganha valor quando ela cai.
Risco de liquidez A possibilidade de que um ativo não possa ser liquidado com facilidade a
um preço razoável. A liquidez é significativamente afetada pelo porte e pela
profundidade do mercado no qual o ativo é costumeiramente negociado.
Risco de mercado A possibilidade de que o valor de um ativo caia por causa de fatores de
mercado independentes do ativo (como eventos econômicos, políticos e
sociais). Em geral, quanto mais o valor do ativo reage ao comportamento
do mercado, maior é seu risco; quanto menos reage, menor é seu risco.
Riscos para empresas e acionistas
Risco de evento A possibilidade de que um evento totalmente inesperado exerça efeito
significativo sobre o valor da empresa ou um ativo específico. Esses eventos
raros, como a decisão do governo de mandar recolher do mercado um
medicamento popular, costumam afetar somente um pequeno grupo de
empresas ou ativos.
Risco de câmbio A exposição dos fluxos de caixa esperados para o futuro, a flutuação das
taxas de câmbio. Quanto maior a possibilidade de flutuações cambiais
indesejáveis, maior o risco dos fluxos de caixa e, portanto, menor o valor
da empresa ou do ativo.
Risco de poder A possibilidade de que a variação dos níveis gerais de preços, causada por
aquisitivo inflação ou deflação na economia afete, desfavoravelmente, os fluxos de
caixa e o valor da empresa ou de um ativo. Normalmente, as empresas ou
os ativos com fluxos de caixa que variam com os níveis gerais de preços
apresentam risco mais baixo de variação de poder aquisitivo. Ao contrário,
se os fluxos de caixa não variarem de acordo com os níveis gerais de preços,
oferecem maior risco de poder aquisitivo.
Risco de tributação A possibilidade de que mudanças adversas na legislação tributária venham
a ocorrer. Empresas e ativos cujos valores são sensíveis a essas mudanças
implicam maior risco.

FONTE: Gitman (2004, p. 185)

62
TÓPICO 3 | VARIÁVEIS NA GESTÃO FINANCEIRA

Segundo Gitman (2004), as atitudes dos administradores diferem


quanto ao risco:

• Indiferente ao risco: é uma atitude que não faz sentido em nenhuma situação
empresarial. O administrador indiferente ao risco entende que o retorno não
varia em relação ao risco – independente do risco, o retorno é o mesmo. Sabe-se
que o risco afeta o retorno.

• Avesso ao risco: o administrador tem medo do risco e, por isso, quanto mais
alto o risco, mais alto o retorno exigido. Geralmente, este administrador procura
retorno em investimentos conservadores.

• Propenso ao risco: o administrador está disposto a abrir mão de algum retorno


para assumir riscos maiores, onde este comportamento não beneficiaria a
empresa. O retorno cai se o risco aumenta.

Algumas oportunidades típicas do dia a dia possibilitam investir


dinheiro na poupança, ou no fundo de renda fixa, ou no mercado de câmbio,
ou no mercado de ações, ou em qualquer outra oportunidade, como um negócio
próprio. Cada uma destas apresenta uma perspectiva de retorno (alto ou baixo),
que está associado a um risco (alto ou baixo).

UNI

O desafio consiste em encontrar uma oportunidade de alto retorno e baixo risco.

4 TAXAS DE JUROS
No cotidiano financeiro, as taxas de juros estão presentes e sempre
estamos questionando: “Qual é a taxa?”. Nesta pergunta podemos encontrar
duas situações: a taxa de juros cobrada por um empréstimo ou taxa esperada
num determinado investimento. Segundo Gitman (2004, p. 226), “a taxa de juros
ou retorno exigido representa o custo do dinheiro”.

Neste contexto, a inflação é outra variável a ser considerada com a taxa de


juros. Em resumo, a inflação representa o aumento relativo dos preços quando o
poder relativo da população cai. Aqui podemos encontrar as situações de:

Inflação: quando o nível geral de preços aumenta e o poder de compra do


dinheiro precisa acompanhar este nível geral de preços.

63
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

Estabilidade: momento em que o nível geral de preços não tem variação


ou está muito próximo de zero.

Deflação: momento em que há uma queda no nível geral de preços.

NOTA

Nos primeiros meses de 2011, o Brasil voltou a apresentar uma taxa de inflação
um pouco mais elevada do que nos anos anteriores. Esta elevação também foi movida pelo
poder de compra das pessoas.

Num momento econômico de estabilidade, sem inflação ou deflação, a taxa


de juros seria estabelecida e mantida – denominada de taxa de juros real. A partir do
momento em que esta estabilidade é rompida, a taxa precisa ser ajustada ao momento
da inflação ou deflação – denominada de taxa de juros nominal ou corrente.

Por volta de 1990, a economia brasileira apresentava taxas de inflação entre


50% a 100% a.m. (ao mês). Imagine só: você recebia o salário de $ 1.000,00 e, se
aplicado, em uma semana já estava corrigido em aproximadamente 15% ($ 1.150,00).
Não vamos nos iludir, pois tudo era corrigido: aumentava o valor dos produtos das
lojas, supermercados, combustíveis, remédios, mensalidades escolares etc.

A história brasileira revela momentos de altas taxas de inflação, e nos últimos


anos estas taxas são baixas – o que nos remete a uma estabilidade da economia.

O cálculo ou ajuste da taxa de juros compreende um conjunto de variáveis


que não vamos detalhar neste momento, mas é importante considerar em cada
uma das situações em que são apresentadas taxas diferentes.

ATENCAO

A taxa de rendimento da aplicação do dinheiro é menor que o juro pago pelo


uso do limite do cheque especial – que varia conforme a instituição financeira.

64
TÓPICO 3 | VARIÁVEIS NA GESTÃO FINANCEIRA

Ao aplicar os recursos da empresa, o gestor financeiro precisa obter a


melhor taxa de rendimento, com o menor risco e, sempre que necessitar captar
dinheiro, considerar as menores taxas.

5 AÇÕES
No primeiro tópico desta unidade conhecemos a natureza jurídica das
empresas, sendo que uma delas é a sociedade por ações. A ação é a menor parte
de uma empresa acionária. Então, quanto maior a quantidade de ações, maior
será a participação acionária da pessoa na empresa.

Na sociedade por ações, quanto ao capital social, podem ser classificadas em:

• Capital Aberto: as ações são negociadas publicamente por corretores nas


bolsas de valores, sem a necessidade de escrituração pública da propriedade.
Uma parte ou, ainda, a totalidade das ações, podem estar nas mãos de pessoas
muitas vezes desconhecidas. Por exemplo: eu posso comprar um lote de ações
de uma determinada empresa hoje da qual me torno sócio e vendê-las amanhã;
e, assim, a rotatividade de papéis de ações pode se tornar muito alta.

• Capital Fechado: quando as ações estão em poder de um grupo de pessoas


distintas que as mantêm em seu meio. As negociações destas ações ocorrem
entre os membros deste grupo e não na bolsa de valores, pois não possuem
o registro junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Geralmente, as
empresas de Capital Fechado representam casos familiares, onde um grupo
da(s) família(s) detém e mantém estas ações.

O valor de uma ação é influenciado por uma série de variáveis, das


quais destacamos: a empresa, a sua situação, o mercado em que está inserida,
a conjuntura econômica e financeira da região ou ainda do mundo, e ainda, “a
lei da oferta e da procura”. Esta lei da oferta e da procura aponta que quando a
procura é grande, o valor das ações pode aumentar. Quando a procura é pequena,
o valor das ações pode diminuir.

ATENCAO

Esta “lei da oferta e da procura” aplica-se em muitas situações, não apenas no


mercado de ações.

65
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

No mercado de ações você pode comprar ações de uma determinada


empresa ao preço de R$ 10,00 e daqui a um intervalo de tempo pode valer apenas
R$ 2,00; bem como, no dia seguinte, esta ação estar valendo R$ 30,00. A história
de negociar ações tem revelado altos ganhos, bem como perdas.

As ações ainda estão classificadas em:

• ON – Ordinárias Nominativas: são ações que dão direito ao voto nas assembleias
da empresa e proporcionam participação nos resultados econômicos. Os
detentores destas ações não têm direito preferencial no recebimento dos
dividendos, preferência dos detentores das ações nominativas (PN).

• PN – Preferenciais Nominativas: os detentores destas ações têm preferência


no recebimento dos dividendos e/ou no reembolso de capital para os casos de
dissolução da empresa. Estas ações não dão direito ao voto.

DICAS

O mercado de ações apresentou grande valorização no início deste século XXI


e de 2008 para cá as perdas foram grandes. Você poderá conhecer e acompanhar um pouco
desta história através da BM&F Bovespa (Bolsa de Valores, Mercadorias & Futuros). Disponível
em: <http://www.bovespa.com.br>.

Uma empresa, ao tornar-se uma sociedade por ações, ou seja, fracionar o


seu capital social em ações, também pode fazê-lo com o objetivo de aumentar o
seu capital social.

Os acionistas são os verdadeiros donos de uma empresa desta natureza:


sociedade por ações, e entendida na maioria das vezes como sociedade anônima,
pelo fato dos detentores das ações muitas vezes serem desconhecidos.

Os detentores das ações ordinárias (ON) são os acionistas que elegem um


Conselho de Administração – este conselho tem autoridade máxima para decidir
os assuntos da sociedade e formular as suas políticas gerais.

O Conselho de Administração passa a escolher o presidente da empresa, o


mais alto nível de administração deste tipo de organização. O presidente é responsável
pela execução das políticas estabelecidas pelo Conselho de Administração.

As ações são classificadas, pela sua liquidez, como:

• Primeira Linha ou Blue Chips: caracterizam-se pelo grande volume negociado,


bem como pelo grande volume de compradores e vendedores.

66
TÓPICO 3 | VARIÁVEIS NA GESTÃO FINANCEIRA

• Segunda Linha: são as ações menos negociadas.

As ações ainda podem ser classificadas pelo seu grau de capitalização:


alta, média ou baixa capitalização.

LEITURA COMPLEMENTAR

A ECONOMIA TEM SALVAÇÃO?


Jack e Suzy Welch

Não podemos censurar você pela pergunta. Vivemos dias mais do que
difíceis. Não há precedentes para os tempos atuais — até mesmo para o Jack,
que esteve à frente de uma empresa durante três recessões (1973-75, 1980-82 e
1990-91). Em cada uma delas, em qualquer dia que fosse de fevereiro, mesmo
com a economia em queda, ainda era possível contabilizar antecipadamente em
alguns pontos percentuais as vendas de abril. Hoje, é como se uma névoa espessa
tivesse se estendido sobre o comércio: a visibilidade é praticamente nula. Não
é de espantar que os gerentes estejam apavorados com a sobrevivência de suas
empresas, fazendo das tripas coração para reduzir custos.

Mas, então, a economia não tem salvação? Claro que sim. Há muitas
pessoas inteligentes e dedicadas tratando do assunto. O que realmente ninguém
sabe é com que rapidez a economia vai começar a se recuperar, e com que rapidez
ela vai se estabilizar a partir do momento em que a recuperação começar. Isso, em
nossa opinião, depende da capacidade dos estrategistas de saber lidar com três
fatos controversos, porém inexoráveis.

Fato número 1: de nada adianta se preocupar com os detalhes do pacote


de estímulo à economia sem, antes, pôr em ordem o sistema.

Os bancos saudáveis são para a economia o que um coração saudável é


para qualquer pessoa. O coração nos mantém vivo com o “sangue” do crédito.
Neste momento, porém, em que o paciente está tendo um infarto, os estrategistas
do governo estão ocupados tentando descobrir quanto devem gastar no terno
que o paciente vai usar no ano que vem.

O programa de alívio para ativos problemáticos e outras iniciativas postas


em prática bem cedo parecem ter estabilizado os mercados, mas só isso não basta,
por mais intragáveis que tais medidas tenham se tornado para a população,
já saturada dos pacotes de socorro do governo. A queda dos preços das casas
continua a preocupar, e o governo ainda não pôs em prática nenhum programa
sério de controle das execuções de hipotecas. É preciso também retirar os ativos
tóxicos dos balanços patrimoniais que continuam contaminados por eles. Em
1989, a estratégia de “banco bom/banco ruim” da Resolution Trust Corporation
funcionou muito bem, mas o socorro recente ao Citigroup mostrou que outra
opção possível seria a garantia dos ativos pelo governo.
67
UNIDADE 1 | GESTÃO FINANCEIRA

Nossa intenção aqui, entretanto, não é nos demorarmos nos detalhes, e sim
deixar claro que os estrategistas do governo estarão simplesmente desperdiçando
seu capital político discutindo o pacote de estímulo se antes não investirem suas
energias no resgate do sistema financeiro.

Fato número 2: o pacote de estímulo está se transformando em uma


enorme barafunda opaca, de potencial questionável para criação de empregos.

O pacote passou pela Câmara dos Representantes na semana passada,


mas isso não significa que a maior parte das pessoas confie nele ou acredite que
ele possa representar o que de melhor o governo pode oferecer. Fazemos coro
com aqueles que esperam que o debate no Senado contribua para a transparência
e o bom senso do projeto de lei.

Todavia, acreditamos que isso só deva acontecer no momento em que os


estrategistas do governo começarem a falar do pacote de estímulo à economia da
maneira adequada, especificando o teor de três conjuntos distintos de propostas.
O primeiro deles compreende todos os planos destinados a estimular o emprego,
e cujos gastos devem remeter a projeções detalhadas do número e do tipo de
empregos criados. O segundo conjunto deverá conter todas as propostas de
gastos destinados a ajudar as pessoas prejudicadas pelo colapso econômico.
O terceiro conjunto deverá conter todas as medidas propostas pelo pacote, já
que os políticos lançarão mão delas na hora de distribuir favores e de prestar
solidariedade ao partido.

Esse terceiro conjunto, naturalmente, é deplorável, mas política é isso. Seria


ingênuo negar sua existência. Contudo, seria pior ainda para os estrategistas se o
governo continuar a discutir o pacote como se fosse um bloco único de projetos.
O pacote vai restituir a confiança tão necessária, portanto o debate em torno dele
será muito mais produtivo se levar em conta o que realmente importa: criação de
emprego e ajuda a quem o perdeu.

Fato número 3: o desejo de vingança é tentador, mas não é uma estratégia


vitoriosa. A lista de pessoas que poderia ter evitado ou atenuado o desastre
econômico é longa. Informações recentes sobre os bilhões em bônus pagos a
funcionários da Merrill Lynch serviram apenas para reforçar ainda mais a ideia
de que alguém deveria ser responsabilizado por esse desvario do capitalismo.

Contudo, os estrategistas do pacote precisam se dar conta de que hoje


somos todos investidores (isto é, nós, contribuintes) em empresas às quais o
governo está ajudando. Dentro de certos limites, devemos permitir que essas
empresas façam o que tiverem de fazer para prosperar em um mundo competitivo
de escala global, inclusive recompensando o bom desempenho e cortejando os
clientes com liquidações. Caso contrário, nossos investimentos se reduzirão a
carcaças sem valor.

68
TÓPICO 3 | VARIÁVEIS NA GESTÃO FINANCEIRA

Não queremos minimizar o desafio que temos pela frente, e você deixou
clara a magnitude dele na maneira como formulou sua pergunta. No entanto,
se concordarmos que o sistema bancário deve ter prioridade, se estivermos de
acordo em relação ao verdadeiro conteúdo do pacote, e se entendermos o custo
autodestrutivo da vingança, encontraremos juntos uma saída.

Jack e Suzy Welch

FONTE: Disponível em: <http://portalexame.abril.com.br/gestaoepessoas/artigo-economia-tem-


salvacao-425648.html>. Acesso em: 20 mar. 2009.

69
RESUMO DO TÓPICO 3
No fechamento desta primeira unidade, neste terceiro tópico,
aprendemos:

• Na Gestão Financeira há variáveis a serem consideradas na tomada de decisões:


o valor do dinheiro no tempo, o risco, o retorno, a taxa de juros.

• O valor do dinheiro pode aumentar ou diminuir com o passar do tempo


(intervalo entre o presente e o futuro). Esta variação está condicionada a uma
taxa de juros (correção ou desconto).

• É necessário considerar o risco em cada uma das operações, pois o risco indica
a variabilidade do retorno, ou seja, a possibilidade de uma perda financeira.

• Há riscos específicos da empresa, do acionista (dono do capital) e riscos comuns


a ambos.

• Administradores podem ser indiferentes ao risco, avessos ao risco e propensos


ao risco.

• Ao aplicar ou investir o dinheiro, há a expectativa de um retorno financeiro.


Deseja-se o retorno de tudo aquilo que foi investido e mais um pouco – a
correção.

• O dinheiro é corrigido por uma taxa que leva em consideração a situação


econômica e financeira de estabilidade, inflação ou deflação.

• Numa relação financeira há dois personagens: quem tem o recurso e quem


necessita de recurso financeiro. Ao necessitar de dinheiro é necessário avaliar o
seu custo, pois dentre as instituições financeiras e suas diferentes modalidades
de empréstimos, apresentam-se diferentes taxa de juros. Da mesma forma que
oferece uma taxa de remuneração nas suas opções de aplicação.

• As empresas de sociedade de ações podem ter o seu capital aberto ou fechado


de suas ações ordinárias e preferenciais.

70
AUTOATIVIDADE

Vamos agora fixar o que aprendemos respondendo a algumas questões:

1 Na tomada de decisões que envolvem a gestão financeira é necessário


considerar: o valor do dinheiro no _________, o ________, o retorno e a
_______ de juros.

2 O que é um valor presente e um valor futuro? O que pode mudar este valor?

3 Defina risco.

4 O que é o retorno na Gestão Financeira?

5 Diferencie o comportamento do indiferente ao risco, do avesso ao risco e do


propenso ao risco.

6 Como a estabilidade, a inflação ou ainda a deflação afetam a taxa?

7 Diferencie a inflação da deflação.

8 Ao aplicar R$ 10.000,00 com rendimento de 0,65% a.m., qual será o valor


daqui a seis meses?

9 Aplicando-se R$ 5.000,00 com rendimento de 0,65% a.m. e depósitos


mensais de R$ 500,00 nos meses subsequentes, qual será o valor daqui a
seis meses?

10 Diferencie a sociedade de ações de capital aberto da de capital fechado.

11 Qual a diferença entre ações preferenciais e ações ordinárias?

71
72
UNIDADE 2

INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Nessa unidade vamos:

• compreender os investimentos e seu impacto no orçamento de capital;

• diferenciar projetos independentes de mutuamente excludentes;

• conhecer métodos de avaliação de projetos de investimentos;

• avaliar os riscos dos investimentos;

• compreender a estrutura de capital e seus custos;

• analisar mecanismos de alavancagem.

PLANO DE ESTUDOS
Para que possamos alcançar os objetivos propostos, passaremos por três tó-
picos nesta unidade, que visam ajudá-lo(a) a ter uma noção de investimentos
e financiamentos.

TÓPICO 1 – INVESTIMENTOS

TÓPICO 2 – MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE


INVESTIMENTOS

TÓPICO 3 – FINANCIAMENTOS E ALAVANCAGEM DE CAPITAL

73
74
UNIDADE 2
TÓPICO 1

INVESTIMENTOS

1 INTRODUÇÃO
A entrada e a saída de dinheiro na Gestão Financeira ocorrem a todo
instante, para os mais diferentes eventos. Todas as saídas de caixa que cobrem
as despesas de produção, impostos, administrativas, pessoal, fornecedores etc.,
são classificadas como as despesas de curto prazo – denominadas de despesas ou
gastos operacionais.

Todo o bem (móvel ou imóvel) em que houve algum investimento sofre a


sua depreciação com o decorrer do tempo. Estes bens são: os terrenos, as edificações,
as máquinas e equipamentos, e assim por diante. Todos são considerados
investimentos e, contabilmente, representam o ativo imobilizado da empresa.

Todo e qualquer investimento precisa produzir riqueza para que se


obtenha o retorno. O montante financeiro pode variar em relação a cada um dos
investimentos, nos diferentes fluxos que apresentam.

Nesta segunda unidade iniciamos os estudos avaliando o orçamento de


capital, projetos independentes e projetos mutuamente excludentes.

2 ORÇAMENTO DE CAPITAL
“O Orçamento de Capital é um processo que consiste em avaliar e
selecionar investimentos em longo prazo, que sejam coerentes com o objetivo da
empresa de maximizar a riqueza de seus proprietários” (GITMAN, 2004, p. 288).

Os investimentos da empresa devem ser cuidadosamente analisados, pelo


montante do dinheiro que será comprometido no longo prazo dos pagamentos
e expectativa de retorno deste investimento. Se o investimento de capital tem
a expectativa de gerar benefícios após um ano, as saídas de caixa recebem a
denominação de “Dispêndio de Capital”. Quando a expectativa de resultados é
inferior a um ano (curto prazo), denomina-se de “Dispêndio Corrente”.

Alguns motivos levam a empresa a realizar um dispêndio de capital,


tais como:

75
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

QUADRO 31 – MOTIVOS PRINCIPAIS DE INVESTIMENTOS


MOTIVO DESCRIÇÃO
Expansão O aumento do nível de operações tem sido o motivo mais comum para as
empresas. A empresa em crescimento, muitas vezes, investe em ativos imobilizados
rapidamente, como imóveis e instalações de produção.
Substituição Ao atingir um nível de maturidade, o crescimento da empresa sofre uma
desaceleração. Neste momento, grande parte dos ativos imobilizados já está velha,
obsoleta, desgastada, depreciada, fazendo-se necessária a sua substituição. Aqui
se faz necessária uma análise criteriosa, a fim de avaliar o valor do conserto e o
investimento para substituir o imobilizado.

Renovação As inovações tecnológicas são um dos motivos que fazem com que as empresas
renovem seus ativos imobilizados por outros que produzam uma quantidade
maior, num espaço de tempo menor e ampliando a qualidade. Há vezes em que
a renovação permite ampliar a produção, através da sua capacidade produtiva,
evitando outros investimentos de expansão.
Outros Podem ser considerados os investimentos que não refletem resultados
imediatamente tangíveis e que envolvem algum resultado futuro. Pode-se destacar
os investimentos em: publicidade e propaganda, programas sociais e ambientais,
pesquisa e desenvolvimento, consultorias em gestão e novos produtos.

FONTE: Adaptado de: Gitman (2004, p. 305)

Independente do motivo que possa levar à necessidade de investimento,


o processo para o orçamento de capital consiste nas seguintes etapas inter-
relacionadas (GITMAN, 2004):

• Geração de propostas: podem ser feitas por todas as pessoas da organização,


nos seus diferentes níveis organizacionais, sempre revisadas pelos superiores.

• Avaliação e análise: consiste em assegurar que as propostas são apropriadas


aos objetivos e planos da empresa, bem como uma avaliação da sua validade
econômica. A série dos fluxos (receitas e despesas) vai aferir a possibilidade do
investimento.

• Tomada de decisão: quanto maior o dispêndio de capital, maior e mais alto


será o nível hierárquico que irá decidir quanto a investimento e proposta.

• Implementação: implementar a proposta aprovada.

• Acompanhamento: monitorar os resultados, comparando-os com os projetados.


Quando há divergências entre o projetado e realizado, são necessárias medidas
que visam diminuir as saídas e melhorar os resultados. Há casos em que o
projeto deve ser suspenso.

76
TÓPICO 1 | INVESTIMENTOS

UNI

Procure encontrar um motivo de orçamento de capital para a sua empresa que


esteja relacionado aos motivos de: expansão, substituição, renovação, entre outros.

A série de fluxos de caixa irá representar a(s) saída(s) de caixa e a(s)


entrada(s) de caixa. Estes fluxos podem representar uma série de fluxos de caixa
convencionais e não convencionais.

Uma série de fluxos de caixa convencionais é representada por uma saída


de caixa inicial e entradas fixas no decorrer de um período.

Retomando o exemplo da camisa (primeira unidade), vamos imaginar


a possibilidade de investir em uma máquina para empacotar as camisetas. A
máquina custa R$ 12.000,00 e trará um retorno de R$ 1.500,00 anuais por 10 anos.

Veja no quadro a seguir a representação destes fluxos:

QUADRO 32 – SÉRIE DE FLUXOS DE CAIXA CONVENCIONAIS

Ano Saídas Entradas


0 R$ 12.000,00
1 R$ 1.500,00
2 R$ 1.500,00
3 R$ 1.500,00
4 R$ 1.500,00
5 R$ 1.500,00
6 R$ 1.500,00
7 R$ 1.500,00
8 R$ 1.500,00
9 R$ 1.500,00
10 R$ 1.500,00

FONTE: O autor

Uma série de fluxos de caixa não convencionais são os investimentos


que requerem diferentes saídas de capital para a manutenção das entradas. Do
exemplo anterior, a máquina para empacotar camisetas pode ser reformada e
atualizada para continuar provendo as entradas de R$ 1.500,00; mas para isso é
necessário que no sexto ano seja realizada esta manutenção, representando mais
uma saída de R$ 4.000,00.

77
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

QUADRO 33 – SÉRIE DE FLUXOS DE CAIXA NÃO CONVENCIONAIS


Ano Saídas Entradas
0 R$ 12.000,00
1 R$ 1.500,00
2 R$ 1.500,00
3 R$ 1.500,00
4 R$ 1.500,00
5 R$ 1.500,00
6 R$ 4.000,00 R$ 1.500,00
7 R$ 1.500,00
8 R$ 1.500,00
9 R$ 1.500,00
10 R$ 1.500,00
FONTE: O autor

Há ainda a série de fluxos mista, na qual as entradas são variadas. O


quadro a seguir ilustra uma série mista para a proposta de investimento na
máquina de empacotar:

QUADRO 34 – SÉRIE DE FLUXOS DE CAIXA MISTA


Ano Saídas Entradas
0 R$ 12.000,00
1 R$ 500,00
2 R$ 500,00
3 R$ 1.000,00
4 R$ 1.000,00
5 R$ 1.500,00
6 R$ 1.500,00
7 R$ 2.000,00
8 R$ 2.500,00
9 R$ 3.000,00
10 R$ 3.000,00

FONTE: O autor

Este fluxo de saída(s) e entradas dos investimentos é considerado no


orçamento de capital.

2.1 PROJETOS INDEPENDENTES


Dentre os diferentes projetos que a empresa possui, há um grupo de projetos
que são independentes entre si, ou seja, um não depende do outro. Nos projetos

78
TÓPICO 1 | INVESTIMENTOS

independentes, os fluxos de caixa não estão relacionados, não dependem um do


outro e a aceitação de um dos projetos não exclui os demais (GITMAN, 2004).

Dos exemplos destacados neste Caderno de Estudos, a camisaria pode


investir numa máquina para estampar as camisetas brancas e/ou numa máquina
para empacotar. Os fluxos de caixa de um projeto não estão relacionados
ao outro. Observe que se houver recursos para os projetos, ambos podem ser
implementados, pois um não afetará o outro.

Nestes casos, as empresas se deparam com a decisão de investir numa


nova unidade de negócios, aquisição de um fornecedor, modernização da fábrica,
troca de um sistema de informática etc.

Na maioria dos casos, dentre os projetos independentes, a empresa


precisa estabelecer prioridades nos investimentos, mas, havendo recursos, todos
os projetos podem ser implementados simultaneamente.

2.2 PROJETOS MUTUAMENTE EXCLUDENTES


Ao contrário dos projetos independentes, os projetos mutuamente
excludentes são os que apresentam a mesma função, portanto, competem entre
si. Ao decidir por um dos projetos mutuamente excludentes, é eliminada a
necessidade dos demais.

Do exemplo da camisaria: é necessário investir num mecanismo para


lavar as camisetas com água quente. Dos projetos apresentados, cada um permite
o aquecimento da água de diferentes formas: aquecimento elétrico, aquecimento
solar, aquecimento a gás, aquecimento por caldeira a lenha etc. Cada um dos
projetos tem seu fluxo distinto. Ao optar por um dos projetos, automaticamente,
a necessidade pelos outros é eliminada.

A necessidade de aumentar a produção de uma empresa pode ser atendida


com projetos de: aquisição de outra empresa, terceirização da produção, criação
de mais um turno de trabalho ou, ainda, com a ampliação da fábrica. Todos os
projetos são mutuamente excludentes.

3 FLUXOS RELEVANTES
Em orçamento de capital, os fluxos relevantes são:

• O investimento inicial: representa a saída de caixa inicial para o investimento.


Além do investimento no ativo, também deve incluir os custos de instalação.

79
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

• As entradas de caixa operacional: são resultantes do investimento realizado,


expressando a recuperação do investimento inicial em cada um dos períodos.
As entradas consideram as receitas geradas pelo ativo, menos as despesas. Deste
resultado descontamos a depreciação, a alíquota do Imposto de Renda para
reconsiderar a depreciação e encontrarmos as entradas operacionais de caixa.
Embora a depreciação não gere um gasto que seja saída de dinheiro, tem que
ser considerada, pois esse gasto gera um impacto no IR (Imposto da Renda),
podendo diminuir a saída de caixa devido ao pagamento desse imposto.

• O fluxo de caixa terminal: também é relevante, por demonstrar o fluxo de caixa


ao final do investimento ou projeto. Nesta fase consideramos o valor recebido
pela venda do ativo antigo.

Retornando aos quadros 32, 33 e 34, do item anterior (Orçamento de


Capital), identificam-se os fluxos relevantes:

• Investimento inicial: (R$ 12.000,00).

• Entradas de caixa operacional: cada um dos quadros exemplos revelou estas


entradas.

• Fluxo de caixa terminal: supondo que ao final de 10 anos a máquina possa ser
vendida por R$ 3.000,00, este é o fluxo de caixa terminal. Lembre-se de que,
contabilmente, a máquina já está depreciada – não vale absolutamente mais
nada, mas economicamente ainda apresenta um valor residual.

Para saber o total das entradas de caixa até a efetiva entrada de caixa
operacional são necessários alguns cálculos, melhor demonstrados com o auxílio
da estrutura de Demonstrações dos Resultados.

UNI

Quais são os fluxos relevantes dos últimos investimentos realizados pela


empresa onde trabalho?

Observe, no quadro a seguir, a interpretação quanto à nossa máquina


para empacotar camisetas:

80
TÓPICO 1 | INVESTIMENTOS

QUADRO 35 – CÁLCULO DAS ENTRADAS DE CAIXA OPERACIONAIS


Ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
(=) Receita 5.000,00 5.000,00 5.000,00 5.000,00 5.000,00 5.000,00 5.000,00 5.000,00 5.000,00 5.000,00
(-) Despesas
(sem 3.500,00 3.500,00 3.500,00 3.500,00 3.500,00 3.500,00 3.500,00 3.500,00 3.500,00 3.500,00
depreciação)
(=) Resultado 1.500,00 1.500,00 1.500,00 1.500,00 1.500,00 1.500,00 1.500,00 1.500,00 1.500,00 1.500,00
(-) Depreciação
1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00
(10% a.a.)

(=) Lucro líquido


300,00 300,00 300,00 300,00 300,00 300,00 300,00 300,00 300,00 300,00
antes do IR

(-) Imposto de
75,00 75,00 75,00 75,00 75,00 75,00 75,00 75,00 75,00 75,00
Renda (25%)

(=) Lucro líquido


225,00 225,00 225,00 225,00 225,00 225,00 225,00 225,00 225,00 225,00
depois IR

(+) Depreciação 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00 1.200,00
(=) Entradas
1.425,00 1.425,00 1.425,00 1.425,00 1.425,00 1.425,00 1.425,00 1.425,00 1.425,00 1.425,00
operacionais Cx.

FONTE: O autor

UNI

O Quadro 35 não considera o valor do dinheiro no decorrer dos 10 anos?

O quadro acima (Quadro 35) considera a depreciação de 10% a.a. sobre o


investimento (R$ 12.000,00), gerando parcelas anuais de R$ 1.200,00. Sabe-se que
esta pode ser uma depreciação contábil, mas, na realidade, temos uma depreciação
muito maior nos primeiros anos e menor nos anos finais, para a maioria dos bens.
Esta oscilação da depreciação pode ser considerada no cálculo das entradas de
caixa operacional (fluxo relevante).

Considerou-se a alíquota de 25% a.a. de Imposto de Renda, gerando


parcelas anuais de R$ 75,00, pagos sobre os R$ 300,00 anuais de lucro líquido.

Para a substituição de ativos, os três componentes da figura a seguir


consideram os elementos para determinar os fluxos relevantes:

81
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

FIGURA 3 – FLUXOS DE CAIXA RELEVANTES PARA DECISÕES DE SUBSTITUIÇÃO

Investimento Entradas de
inicial caixa após a
Investimento necessário para liquidação do
Inicial adquirir o novo antigo ativo
ativo
Entradas
Entradas Entradas de caixa
de caixa de caixa operacionais do
operacionais operacionais do antigo ativo
novo ativo
Fluxos de caixa
Fluxo de caixa Fluxo de caixa após o término
final após o término do antigo ativo
do novo ativo

FONTE: Adaptado de: Gitman (2004, p. 309)

TUROS
ESTUDOS FU

Para o investimento de um novo ativo, estes três componentes devem ser


claramente identificados. Neste primeiro tópico desta unidade não consideramos o risco,
que será abordado no tópico a seguir.

LEITURA COMPLEMENTAR

OS DONOS DO LIXO

O lixo – quem diria? – virou um grande negócio no Brasil.

Diante de um mercado de 20 bilhões de reais, empresários se unem a


banqueiros para investir no setor.

Em uma entrevista recente gravada em vídeo pela revista americana de


negócios Fortune, o executivo David Steiner soltou a seguinte previsão: daqui
a dez anos será possível extrair tanta riqueza do lixo que as empresas do setor
poderão fazer sua coleta de graça, sem que nenhum governo tenha de pagar pelo

82
TÓPICO 1 | INVESTIMENTOS

serviço. Ao ouvir a declaração, o interlocutor de Steiner esboçou um sorrisinho


de deboche, mas não retrucou. David Steiner ainda está em posição de receber
crédito por suas palavras, por mais que elas soem como delírio.

Há sete anos ele é presidente da Waste Management, a maior empresa


de lixo dos Estados Unidos e uma das maiores do mundo. Sob sua gestão estão
273 aterros sanitários, 17 usinas de geração de energia por meio da incineração
do lixo e 119 operações de conversão do gás metano dos aterros em energia. A
Waste Management ainda opera 91 estações de reciclagem de lixo comum e 34 de
processamento de lixo orgânico. Com isso, fatura cerca de 12 bilhões de dólares
por ano. Hoje, não há nada no Brasil que se pareça com isso – nem em tamanho
de receita nem em modelo. Mas, para alguns empresários e investidores, a Waste
Management já é uma referência num negócio por muito tempo negligenciado.
Segundo estimativas, o mercado de lixo, hoje tremendamente pulverizado,
movimenta quase 20 bilhões de reais por ano no país.

Um dos que acompanham com entusiasmo o desempenho da Waste


Management e sonham em fazer algo parecido é o paulista Wilson Quintella
Júnior, de 54 anos – o homem à frente da Estre. A empresa nasceu há 11 anos
com a construção de um aterro sanitário no município de Paulínia, no interior
de São Paulo – na época, Quintella deixou um emprego na GP Investimentos
para se dedicar ao novo negócio. De lá para cá, ampliou seus domínios e hoje
opera dez aterros, que atendem centenas de clientes públicos e privados e estão
localizados nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, e em Bogotá, na
Colômbia, e Buenos Aires, na Argentina. Outros dois deverão ser inaugurados
nos próximos meses – na cidade paulista de Piratininga e em Aracaju. Em março
deste ano, Quintella fez uma manobra ousada: com a ajuda do BTG Pactual,
de André Esteves, atropelou um fundo de private equity que vinha já há algum
tempo negociando a empresa de coleta de lixo urbano Cavo, do grupo Camargo
Corrêa, e a comprou por 610 milhões de reais. A aquisição da Cavo fará com que o
faturamento da Estre, previsto para alcançar 640 milhões de reais em 2011, dobre.

Com os negócios da Estre nessa toada, não é de admirar que, numa palestra
recente dada em São Paulo para convidados do Bank of America Merrill Lynch, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha feito menção a Quintella, presente
na plateia, dizendo que ele “está rindo de orelha a orelha com o lixo”. O que faz
Quintella sorrir não é tanto o que ele já conseguiu construir, mas o potencial que
vê pela frente. Ainda hoje a coleta atinge apenas 88% do lixo gerado no Brasil. E,
desse volume, 42% ainda são destinados aos lixões. No ano passado, depois de
quase 20 anos tramitando no Congresso Nacional, a lei da Política Nacional de
Resíduos Sólidos foi finalmente aprovada.

Com ela, foi determinado que 2014 será a data-limite para que todos os
municípios do país fechem seus lixões. As prefeituras também terão de estabelecer
programas de gestão do lixo que permitem separar os resíduos – aquilo que pode
ser reaproveitado – dos rejeitos – material que realmente merece ir para os aterros.

83
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

Além disso, a lei deixa claro que a indústria e os consumidores têm deveres
a cumprir em relação aos resíduos que geram. Mas isso é o que está no papel. “Há
ainda muitos questionamentos sobre como todas essas premissas vão funcionar
na prática”, diz Fabrício Soler, advogado especializado em meio ambiente do
escritório Felsberg e Associados, de São Paulo. E se vão funcionar.

CONSÓRCIO DE RESÍDUOS

No passado, muito dinheiro público foi distribuído a pequenos


municípios para que eles construíssem aterros. O baixo volume de resíduos,
associados ao custo e à complexidade de operação do empreendimento, fez com
que a maioria se transformasse em lixões. O desafio agora está em fazer com
que os municípios trabalhem juntos, de modo a criar uma espécie de “consórcio”
para administrar seu lixo. Os diferentes setores da indústria também terão de
se mexer e apresentar ao governo propostas sobre como vão fazer a Logística
Reversa de seus produtos. Pela lei, as indústrias são responsáveis por dar uma
destinação correta a seus produtos descartados pelo consumidor. Até agora,
segundo especialistas, as discussões setoriais têm sido mais acaloradas do que
produtivas. Independentemente desse cenário ainda nebuloso, muitas empresas
ligadas ao negócio do lixo já estão se movendo para aproveitar as oportunidades
de negócios decorrentes dessas mudanças. “Esse setor vai explodir no Brasil
nesta década. Sobrarão os que estiverem muito preparados”, diz o grego Antonis
Mavropoulos, diretor da Associação Internacional de Resíduos Sólidos.

Por enquanto, a Estre é vista como uma das candidatas a liderar essa
consolidação. Sua maior concorrente nesse processo é a Haztec, com sede no Rio
de Janeiro. Até ser comprada pelo paulista Paulo Tupinambá e mais dois sócios,
em 2003, a Haztec era uma consultoria ambiental que faturava 7 milhões de reais
por ano prestando serviços como o de descontaminação de solos. Desde então, a
empresa cresceu um bocado. O fundo Infrabrasil – dos fundos de pensão Petros
(da Petrobras) e Funcef (da Caixa Econômica Federal), gerido pelo Santander
– injetou 200 milhões de reais na empresa entre 2007 e 2010 e hoje tem uma
participação de 50%.

Em 2008 foi a vez do fundo de private equity do Bradesco investir 160


milhões de reais para ficar com uma fatia de 28% da Haztec. Há um mês, a
empresa recebeu grau de investimento – ou seja, representa baixo risco de
calote para seus credores – pela agência de classificação de risco Fitch Ratings.
A previsão é que a companhia encerre 2011 com faturamento de 700 milhões de
reais, a maior parte desse dinheiro oriunda da gestão de quatro aterros sanitários
públicos nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco. Recentemente,
a Haztec começou a operar sua quinta unidade, o aterro de Seropédica, na região
metropolitana do Rio de Janeiro.

84
TÓPICO 1 | INVESTIMENTOS

O local é emblemático da mudança da administração dos negócios do lixo


no país. Isso porque ele substituirá, até 2012, Jardim Gramacho – misto de aterro e
de lixão que por décadas manchou a imagem do Rio de Janeiro e foi cenário de Lixo
Extraordinário, documentário sobre o trabalho do artista plástico brasileiro Vik
Muniz com catadores de material reciclável e que concorreu ao Oscar deste ano.

Além dos aterros, a empresa também ganha com outros negócios. Em


janeiro, a Haztec comprou a Biogás, empresa que usa o metano resultante da
decomposição do lixo de dois aterros para gerar algo como 40 megawatts de
energia, suficientes para iluminar, por exemplo, uma cidade de 200 mil habitantes.
A energia obtida é vendida no mercado livre.

Um dos desafios das empresas que atuam no mercado de lixo é descobrir


novos nichos. Foi o que fez a paulista Ambitec, que prevê faturar neste ano algo
como 400 milhões de reais – a maior parte dessa receita vem da gestão de resíduos de
empresas de grande porte, como Johnson&Johnson, Embraer e International Paper.

Em abril, a Ambitec pagou 4,5 milhões de reais para adquirir 49% da


Startup Descarte Certo. Fundada pelo ex-executivo Lucio Di Domenico há menos
de três anos, a Descarte Certo oferece aos consumidores, por meio de seu próprio
site ou nas lojas de varejistas como Carrefour e Cybelar, um serviço de coleta e de
descarte ecologicamente correto de produtos.

Até agora, a empresa atuava apenas como intermediária entre


consumidores e empresas de manufatura reversa. “Nos próximos meses faremos
investimentos para que ela mesma execute todo o processo”, diz André Oda,
professor de finanças da FEA-USP que há um ano foi chamado pela família
Borlenghi, dona da Ambitec, para ajudá-la no processo de profissionalização e
de preparação para um futuro IPO. “A hora desse mercado é agora, quem não se
posicionar rapidamente perderá a oportunidade.”

FONTE: Revista EXAME. Edição 993 – Ano 45 – nº 10 – 01/06/2011 – p. 157-161.

85
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste primeiro tópico desta segunda unidade do caderno tivemos uma
introdução aos investimentos, compreendendo:

• Investimentos representam uma saída de dinheiro do caixa que precisam gerar


entradas. O gestor financeiro deve conhecer claramente estes fluxos.

• O orçamento de capital consiste em selecionar investimentos coerentes


com o objetivo da empresa para maximizar o retorno dos proprietários. Os
investimentos são motivados pela necessidade de expansão, substituição,
renovação ou outros motivos.

• Um processo de orçamento de capital compreende a geração de propostas de


investimentos, a avaliação e análise de cada uma das propostas, a decisão por
uma das propostas ou a decisão de priorizar cada uma das propostas, a sua
implementação e o acompanhamento.

• Dentre os principais motivos de investimento, temos a expansão, substituição


e renovação.

• Os fluxos de caixa podem ser convencionais, não convencionais ou mistos.

• Os projetos de investimentos podem ser independentes ou mutuamente


excludentes. Os independentes não apresentam qualquer dependência entre si
e, havendo disponibilidade financeira, todos podem ser atendidos.

• Os projetos mutuamente excludentes são os que competem entre si,


apresentando a mesma função. Assim que um projeto é escolhido, os demais
são eliminados.

• Qualquer que seja o investimento, este apresenta uma depreciação –


desvalorização que os bens sofrem pelo seu uso, desgaste, idade, inovação
tecnológica etc.

• Os fluxos relevantes compreendem: o investimento inicial, as entradas de caixa


operacional e o fluxo de caixa final.

• No próximo tópico estudaremos alguns métodos de avaliação de projetos de


investimentos.

86
AUTOATIVIDADE

As questões a seguir visam fixar o que aprendemos neste primeiro tópico:

1 O orçamento de __________ é um processo que consiste em _________ e


__________ investimentos a ________ prazo. Estes investimentos precisam
ser coerentes com os ____________ da empresa de maximizar a riqueza e
seus _______________.

2 O que representa a depreciação de um investimento?

3 A sua empresa deseja investir num projeto de aquecimento de água e são


apresentados dois projetos. Para as opções a seguir, represente o fluxo de caixa:

a) Aquecimento elétrico: investimento inicial de R$ 10.000,00 com cinco


entradas anuais de R$ 3.000,00.
b) Aquecimento a gás: investimento inicial de R$ 8.000,00 e nova saída no ano
2 de R$ 4.000,00. As cinco entradas anuais são de R$ 3.100,00.

4 Da questão anterior (questão 3), elabore um demonstrativo das entradas


operacionais de caixa, considerando para ambos os projetos uma depreciação
de 20% a.a., Imposto de Renda de 25% a.a. e as seguintes receitas e despesas
para os projetos:

a) Aquecimento elétrico: receita de R$ 8.000,00 e despesas de R$ 5.000,00 anuais.


b) Aquecimento a gás: receita de R$ 7.500,00 e despesas de R$ 3.500,00 anuais.

5 Diferencie projetos independentes de projetos mutuamente excludentes.

6 Explique os três fluxos relevantes de um investimento.

7 O orçamento de capital pode ser motivado por uma necessidade de


expansão, substituição e renovação. Explique-os.

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88
UNIDADE 2 TÓPICO 2

MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE


INVESTIMENTOS

1 INTRODUÇÃO
O tópico anterior apresentou os investimentos, a elaboração de orçamento
de capital, a diferença entre projetos independentes e mutuamente excludentes,
com a identificação dos fluxos relevantes.

Este segundo tópico apresenta alguns métodos de avaliação de projetos


de investimentos para avaliar a aceitação ou não dos mesmos. A aceitação vai
depender do retorno que este projeto trará para a empresa.

Há técnicas que consideram apenas as entradas de caixa operacional para


abater as saídas, calculando o tempo de retorno em períodos. As técnicas mais
avançadas consideram o valor do dinheiro ao longo do tempo, realizando a sua
atualização a valores presentes líquidos, segundo uma taxa.

Aprimorando a análise do custo do dinheiro ao longo do tempo, esta


unidade encerra com a análise do risco. O risco poderá influenciar positiva ou
negativamente o projeto de investimento.

2 PAYBACK
Traduzindo-se a expressão Payback, temos pay = pagamento e back =
voltar, retorno. Desta forma, fica fácil de iniciarmos a conceituação de Payback:
é a quantidade de períodos necessários para recuperar o investimento realizado.

A técnica do Payback é muito usada pelas grandes empresas na análise de


pequenos investimentos, em que é pequena a quantidade de períodos de retorno.
Também é muito usada por pequenas empresas na análise da maioria de seus
investimentos, muitas vezes, pela simplicidade do processo intuitivo.

O resultado do Payback expressa a quantidade de períodos necessários


para a empresa recuperar o investimento inicial a partir das entradas de caixa.

89
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

Ao utilizar o Payback com critério para investir num determinado projeto,


o gestor financeiro:

• Aceita: quando o Payback for menor que o número máximo de períodos


aceitáveis.

• Rejeita: quando o Payback for superior ao número máximo de períodos


aceitáveis.

O Payback apresenta-se com as técnicas do Payback simples e do Payback


descontado.

2.1 PAYBACK SIMPLES


O Payback simples não considera o custo de capital da empresa no decorrer
dos períodos, apenas a quantidade de períodos necessários para recuperar o
investimento realizado a partir de seus fluxos de caixa.

Resgatando o exemplo da camisaria, a necessidade de adquirir uma


máquina para estampar as camisetas. Inicialmente, apresentam-se duas propostas
de investimento A e B: ambos os projetos apresentam as mesmas características
quanto aos volumes de produção e qualidade, atendendo igualmente às
necessidades da empresa.

O projeto A representa um investimento inicial de R$ 24.000,00, enquanto


o projeto B, um investimento de R$ 20.000,00. O projeto B parece mais interessante,
pois custa menos que o projeto A. Como já estudamos, é necessário avaliar as
entradas de caixa previstas em cada um dos projetos no decorrer dos períodos
futuros (anos).

A expectativa é de que o retorno do investimento seja de no máximo


10 anos, ou seja, em 10 anos os fluxos de entrada devem se igualar à saída
(investimento inicial). Neste caso, são projetadas as entradas de caixa para os 10
anos (períodos).

O quadro a seguir demonstra os fluxos e seus respectivos saldos anuais:

QUADRO 36 – PAYBACK SIMPLES DOS PROJETOS A E B


Ano Investimento – Estamparia Projeto A Investimento - Estamparia Projeto B
Saídas Entradas Saldo Saídas Entradas Saldo
0 (24.000,00) (24.000,00) (20.000,00) (20.000,00)
1 6.000,00 (18.000,00) 5.500,00 (14.500,00)
2 4.000,00 (14.000,00) 4.500,00 (10.000,00)

90
TÓPICO 2 | MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS

3 4.000,00 (10.000,00) 3.000,00 (7.000,00)


4 3.000,00 (7.000,00) 3.000,00 (4.000,00)
5 2.500,00 (4.500,00) 2.000,00 (2.000,00)
6 2.500,00 (2.000,00) 2.000,00 0,00
7 2.000,00 0,00 2.000,00 2.000,00
8 1.500,00 1.500,00 2.000,00 4.000,00
9 1.500,00 3.000,00 1.500,00 5.500,00
10 1.500,00 4.500,00 1.000,00 6.500,00

FONTE: O autor

Ao analisar o quadro acima, constata-se que o projeto A representa um


investimento de R$ 24.000,00 e a partir das suas entradas, este investimento é
recuperado no 7º ano, quando cobre o investimento realizado, ou seja, o saldo
deixa de ser negativo. Já o projeto B representa um investimento de R$ 20.000,00
e o seu retorno ocorre no 6º ano, 1 (um) ano antes do modelo A.

Assim, dentre estes projetos, além do projeto B ter um investimento inicial


menor, os fluxos de entradas dos períodos retornam este investimento inicial
antes do projeto A, ou seja, apresenta um tempo de retorno menor.

Surge então outro projeto, revelando fluxos convencionais, com entradas


anuais de R$ 5.000,00, diferente dos fluxos mistos apresentados no quadro 36.
O investimento inicial é de R$ 22.000,00 e gera entradas iguais de R$ 5.000,00
durante cada um dos dez períodos. Anteriormente, o projeto B apresentava um
Payback simples de seis anos. O quadro a seguir demonstra o Payback simples
deste projeto C:

QUADRO 37 – PAYBACK SIMPLES DO PROJETO C – COM FLUXO CONVENCIONAL


Ano Investimento - Estamparia Projeto C
Saídas Entradas Saldo
0 (22.000,00) (22.000,00)
1 5.000,00 (17.000,00)
2 5.000,00 (12.000,00)
3 5.000,00 (7.000,00)
4 5.000,00 (2.000,00)
5 5.000,00 3.000,00
6 5.000,00 8.000,00
7 5.000,00 13.000,00
8 5.000,00 18.000,00
9 5.000,00 23.000,00
10 5.000,00 28.000,00

FONTE: O autor

91
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

Este projeto C apresenta o resultado positivo de R$ 3.000,00 antes de


finalizar o 5º ano, no qual já ocorre o Payback simples deste investimento. Para
ser mais preciso, podemos calcular o Payback simples na fração de anos: (22000 /
5000) = 4,40 anos (pouco menos de quatro anos e meio).

Quando o período do Payback simples for usado para tomar decisão, aceitamos
o projeto de investimento quando este período for menor que o número máximo de
períodos aceitáveis; ou ainda, rejeitamos quando esta quantidade de períodos for
maior que o número de períodos aceitáveis para recuperação do investimento.

Neste caso, todos os três projetos apresentam retorno num período


inferior a 10 anos, mas é aceito o projeto C, por apresentar o menor Payback
simples, dentre os três.

Durante os períodos de saídas e entradas de caixa do investimento,


até que atinja o período de retorno, podem surgir fatores que desfavoreçam o
investimento, denominados também de riscos. Quanto maior ou menor o número
de períodos, maior ou menor também será o risco.

Os Paybacks simples entre os projetos A e B são muito próximos, com


diferença de um ano apenas. Neste caso, uma análise de risco seria fundamental,
pois qualquer risco que afetasse as entradas poderia alterar o payback destes projetos.

Já entre o projeto C (menor payback) e o projeto B (segundo menor payback),


a diferença de 4,4 anos para 6(seis) anos (um pouco mais de 1 ano e meio) é
maior do que entre os projetos A e B. Neste caso, também é necessário avaliar
os riscos, mas possivelmente, as entradas não seriam tão afetadas nos primeiros
anos quanto aos projetos A e B. O que talvez pudesse ocorrer no projeto C é que
o Payback simples fosse um pouco maior.

À medida que aumenta a quantidade dos períodos e/ou riscos, a empresa


deverá considerar o custo do dinheiro ao longo do tempo, variável que o Payback
simples não considera, ou seja, receber R$ 5.000,00 hoje ou daqui a 10 anos
representa o mesmo.

UNI

Você prefere receber R$ 5.000,00 hoje ou daqui a 10 anos, sem correção?

92
TÓPICO 2 | MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS

2.2 PAYBACK DESCONTADO


O Payback descontado difere do Payback simples, pois considera o custo do
dinheiro no decorrer dos períodos de aceitação do retorno do investimento. Este
custo pode ser representado através da acumulação do valor presente em cada
período do projeto.

Vamos basear a análise do projeto C, apontado anteriormente como o melhor


projeto, e calcular o Payback descontado. Vamos calcular cada uma das entradas de
caixa anuais de R$ 5.000,00 ao seu valor presente, descontando-se 9% a.a. (custo do
dinheiro). O quadro a seguir ilustra a composição do saldo a valor presente:

QUADRO 38 – PAYBACK DESCONTADO DO PROJETO C


Ano Investimento - Estamparia Projeto C
Saídas Entradas Valor Presente Saldo Presente
0 (22.000,00) (22.000,00)
1 5.000,00 4.587,16 (17.412,84)
2 5.000,00 4.208,40 (13.204,44)
3 5.000,00 3.860,92 (9.343,52)
4 5.000,00 3.542,13 (5.801,39)
5 5.000,00 3.249,66 (2.551,73)
6 5.000,00 2.981,34 429,61
7 5.000,00 2.735,17 3.164,78
8 5.000,00 2.509,33 5.674,11
9 5.000,00 2.302,14 7976,25
10 5.000,00 2.112,05 10.088,30
FONTE: O autor

No Payback simples, o retorno ocorria em 4,4 anos. Agora, considerando


o custo do dinheiro, a taxa de 9% a.a., o Payback descontado revela o retorno do
investimento ao final do 6º período.

NOTA

No Payback simples, o projeto B ocorria em seis anos. O projeto C tinha o


Payback simples de 4,4 anos e agora, com Payback descontado, é de seis anos.

A fórmula matemática para calcular o valor presente é:


VP FC0: FC1 + FC2 + FC3 + FC4 ++... + FCn
(1+k)1 (1+k)2 (1+k)3 (1+k)4 (1+k)n

93
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

Vamos recorrer ao uso da calculadora HP12C para facilitar os cálculos do


valor presente de cada um dos períodos:

QUADRO 39 – CÁLCULO DO PAYBACK DESCONTADO NA HP12C


Sequência de teclas Explicação
f REG Limpar todos os registradores.
5000 ENTER CHS FV Atribuir R$ 5.000,00, como Valor Futuro (FV).
9i Estabelecer a taxa de desconto de 9% a.a.
1n Informar que deve ser descontada a taxa para 1(um) período.
PV Obter o Valor Presente (PV) de R$ 4.587,16 para o primeiro período.

FONTE: O autor

Para calcular para os demais períodos você pode repetir os passos acima
(quadro 39), apenas alterando 1n para 2n, 3n e assim por diante, até o último
período (10n).

Ao calcular o Payback descontado para os projetos A e B, observamos


que as entradas de caixa variam de um ano para outro. Neste caso, é necessário
atualizar cada entrada ao valor presente. O quadro a seguir apresenta o Payback
descontado do projeto B, igualmente considerando a taxa de 9% a.a.:

QUADRO 40 – PAYBACK DESCONTADO DO PROJETO B


Ano Investimento - Estamparia Projeto B
Saídas Entradas Valor Presente Saldo Presente
0 (20.000,00) (20.000,00)
1 5.500,00 5.045,87 (14.954,13)
2 4.500,00 3.787,56 (11.166,57)
3 3.000,00 2.316,55 (8.850,02)
4 3.000,00 2.125,28 (6.724,74)
5 2.000,00 1.299,86 (5.424,88)
6 2.000,00 1.192,53 (4.232,35)
7 2.000,00 1.094,07 (3.138,28)
8 2.000,00 1.003,73 (2.134,55)
9 1.500,00 690,64 (1.443,91)
10 1.000,00 422,41 (1.021,50)
FONTE: O autor

O projeto B deve ser rejeitado, pois em 10 anos não ocorre o Payback


descontado. Ao final do 10º ano, seu saldo ainda é negativo (em R$ 1.021,50).

94
TÓPICO 2 | MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS

O valor do Payback descontado pode ser considerado como sendo o prazo de


recuperação do investimento remunerado no valor da taxa de juros que representa
o custo do capital, mas não considera todos os capitais do fluxo de caixa.

Na técnica do Payback descontado, a decisão continua centrada no número


de períodos.

3 VPL
O VPL (Valor Presente Líquido) é uma das técnicas muito utilizadas
ao realizar o orçamento de capital para avaliar os projetos de investimentos. O
propósito é o de atualizar todas as entradas dos fluxos de caixa futuros para um
valor presente, considerando o custo do dinheiro ao longo do tempo.

Ao atualizar os valores das entradas futuras, é preciso conhecer em que


período consta cada entrada e, principalmente, qual é a taxa de desconto a ser
aplicada. Esta taxa de desconto também pode ser denominada de taxa de retorno
exigido, custo de oportunidade ou, ainda, custo de capital.

Vamos resgatar o exemplo do quadro 32, do primeiro tópico desta unidade.


Neste quadro é demonstrado o investimento em uma máquina de empacotar
camisetas, com investimento inicial de R$ 12.000,00, que apresenta 10 entradas
anuais de R$ 1.500,00. Cada uma das dez entradas está expressa em valor futuro
e, para trazer ao valor presente, vamos considerar a taxa de 5% a.a. (ao ano).

Será calculada cada uma das entradas ao valor presente, descontando a


taxa de 5% a.a., com o uso da calculadora HP12C.

A forma mais simples é operar com as funções de fluxos de caixa.

QUADRO 41 – VPL POR FUNÇÕES DE FLUXO DE CAIXA


Sequência de teclas Explicação
f REG Limpar todos os registradores da calculadora.
12000 CHS g CFo Atribuir a saída ao fluxo de caixa no período 0 (zero).
1500 g CFj Atribuir o valor da entrada ao fluxo de caixa.
10 g Nj Atribuir a quantidade de períodos da entrada.
5i Estabelecer a taxa de desconto de 5% a.a.
f NPV Para obter o VPL – Valor Presente Líquido ao final dos 10 anos.
FONTE: O autor

Obtivemos o resultado líquido de -(R$ 417,40), que retrata o prejuízo deste


projeto. A taxa considerada neste exemplo é de apenas 5%, inferior ao rendimento
anual da poupança.

95
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

Outra possibilidade é trazer cada um dos valores futuros das entradas


para valor presente e descontá-los do investimento inicial.

QUADRO 42 – VPL POR FUNÇÕES DE VALOR PRESENTE


Sequência de teclas Explicação Resultado
g REG Limpar todos os registradores da calculadora.
1500 CHS FV Atribuir a entrada como valor futuro.
1n Atribuir que esta entrada refere-se ao 1º ano.
5i Estabelecer a taxa de desconto de 5% a.a.
PV Calcular o valor presente para o 1º ano. 1.428,57
2 n PV Entrada do 2º ano calculada a valor presente. 1.360,54
3 n PV Entrada do 3º ano calculada a valor presente. 1.295,76
4 n PV Entrada do 4º ano calculada a valor presente. 1.234,05
5 n PV Entrada do 5º ano calculada a valor presente. 1.175,29
6 n PV Entrada do 6º ano calculada a valor presente. 1.119,32
7 n PV Entrada do 7º ano calculada a valor presente. 1.066,02
8 n PV Entrada do 8º ano calculada a valor presente. 1.015,26
9 n PV Entrada do 9º ano calculada a valor presente. 966,91
10 n PV Entrada do 10º ano calculada a valor presente. 920,88
Total das 10 entradas trazidas a valor presente. 11.582,60
FONTE: O autor

Do quadro acima, a última coluna apresenta o valor presente líquido de


cada uma das anuidades. Ao descontar a soma destas entradas de caixa, o valor
presente (R$ 11.582,60) do investimento inicial (R$ 12.000,00), o projeto resulta no
mesmo prejuízo de -(R$ 417,40).

NOTA

A simplificação apresentada no quadro 41 é válida para projetos que apresentam


as entradas de caixa anuais iguais.

Para continuar exercitando a técnica do VPL, vamos resgatar os três projetos


da máquina de estampar: A, B e C. Destes três, o projeto C foi aceito por apresentar
o menor Payback simples (4,4 anos) e o menor Payback descontado (6 anos).

Os demais projetos foram rejeitados por apresentarem um retorno


superior ao projeto C (Payback simples) e por não apresentarem retorno em 10
anos (Payback descontado).

96
TÓPICO 2 | MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS

Vamos reavaliar estes três projetos com a técnica do VPL, sendo que o
quadro a seguir analisa, inicialmente, os projetos A e B (rejeitados anteriormente).

QUADRO 43 – VPL DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS A E B


Ano Investimento - Estamparia Modelo A Investimento - Estamparia Modelo B
Fluxo Teclas Resultado Fluxo Teclas Resultado
0 (24.000,00) f REG (20.000,00) f REG
24000 CHS g 20000 CHS g
CFo CFo
1 6.000,00 6000 g CFj 5.500,00 5500 g CFj
2 4.000,00 4000 g CFj 4.500,00 4500 g CFj
3 4.000,00 4000 g CFj 3.000,00 3000 g CFj
4 3.000,00 3000 g CFj 3.000,00 3000 g CFj
5 2.500,00 2500 g CFj 2.000,00 2000 g CFj
6 2.500,00 2500 g CFj 2.000,00 2000 g CFj
7 2.000,00 2000 g CFj 2.000,00 2000 g CFj
8 1.500,00 1500 g CFj 2.000,00 2000 g CFj
9 1.500,00 1500 g CFj 1.500,00 1500 g CFj
10 1.500,00 1500 g CFj 1.000,00 1000 g CFj
9i (-R$ 3.628,06) 9i (-R$ 1.021,49)
f NPV f NPV
FONTE: O autor

No quadro acima, ambos os projetos de investimentos foram calculados


a valor presente líquido, apresentando VPL negativo: projeto A (-R$ 3.628,06) e
projeto B (-R$ 1.021,49); assim, devem ser rejeitados – não apresentam resultado.

ATENCAO

Espera, estamos andando em círculos?


Estes valores negativos já foram apresentados anteriormente aos projetos A e B.
O que está acontecendo?

Ao analisar os projetos A e B com Payback descontado, houve a necessidade


de trazer as entradas de caixa a valor presente. O cálculo do PayBack descontado
e da VPL é o mesmo! A diferença está na análise: no payback vamos avaliar a
quantidade de períodos necessários para o retorno e no VPL vamos encontrar o
saldo dos fluxos em valor presente.

97
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

E
IMPORTANT

A diferença de R$ 0,01 do valor presente dos projetos A, B e C, calculados no


Payback descontado e agora no VPL, são decorrentes do arredondamento dos valores em
duas casas decimais. Esta diferença não ocorre ao considerar todas as casas decimais.

Desta forma, o valor presente líquido obtido no projeto C ao calcular


o Payback descontado será o mesmo, desde que a taxa seja a mesma. Vamos
aproveitar e exercitar mais um pouco, calculando o VPL do projeto C. Ao final do
10º ano, o VPL representa a importância de R$ 10.088,29.

Sequência de teclas Explicação


f REG Limpar todos os registradores da calculadora.
22000 CHS g CFo Atribuir a saída ao fluxo de caixa no período 0 (zero).
5000 g CFj Atribuir o valor da entrada ao fluxo de caixa.
10 g Nj Atribuir a quantidade de períodos da entrada.
9i Estabelecer a taxa de desconto de 9% a.a.
f NPV Para obter o VPL – Valor Presente Líquido ao final dos 10 anos.
FONTE: O autor

Estes métodos Payback descontado e VPL são muito idênticos. Ou a


mesma coisa? Na representação temos os mesmos elementos, mas a diferença
consiste nas respostas:

• No Payback descontado temos a informação da quantidade de períodos.


• No VPL temos o valor presente líquido ao final dos períodos.

As limitações do VPL consistem em conhecer a taxa de juros que mede


o custo do capital futuro e ainda no resultado expresso em valor monetário, ao
invés de uma porcentagem.

4 TIR
A TIR (Taxa Interna de Retorno) é uma técnica avançada para se calcular o
orçamento de capital. É mais ampla do que o VPL, e muito utilizada na avaliação
de alternativas de investimentos.

A TIR é definida como a taxa de desconto que iguala o valor presente das
entradas de caixa ao investimento inicial de um projeto; ou seja, é a taxa que zera
o VPL das entradas de caixa (GITMAN, 2004).
98
TÓPICO 2 | MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS

O gestor financeiro também precisa saber qual é a TMA (Taxa Mínima de


Atratividade). A TMA é uma taxa de juros mínima que o dono do capital espera
ao investir no projeto (custo de capital), ou ainda, para quem pega dinheiro
emprestado, o máximo que está disposto a pagar pelo capital de terceiros.

Ao decidir por uma das alternativas de projetos a partir da TIR, o


projeto pode ser:

• Aceito: quando a TIR for maior que o custo de capital.


• Rejeitado: quando a TIR for menor que o custo de capital.

Vamos resgatar o exemplo do investimento na máquina de empacotar


camisetas, com investimento inicial de R$ 12.000,00, gerando entradas de caixa
anuais de R$ 1.500,00 durante 10 anos.

Para calcular a TIR, seguimos os mesmos passos do quadro 41, mas, ao


invés de finalizar a operação com as teclas f NPV, substituímos por f IRR (última
linha do quadro a seguir):

QUADRO 44 – CÁLCULO DA TIR


Sequência de teclas Explicação
f REG Limpar todos os registradores da calculadora.
12000 CHS g CFo Atribuir a saída ao fluxo de caixa no período 0 (zero).
1500 g CFj Atribuir o valor da entrada ao fluxo de caixa.
10 g Nj Atribuir a quantidade de períodos da entrada.
5i Estabelecer a taxa de desconto de 5% a.a.
f IRR Para obter a TIR – Taxa Interna de Retorno.
FONTE: O autor

ATENCAO

TIR tem sua origem na sigla inglesa IRR (Internal Rate of Return).
Nas planilhas eletrônicas e calculadoras financeiras podemos encontrar a função TIR ou,
geralmente, IRR.

No investimento acima, a TIR é de 4,277497804%, particularmente,


considerada baixa. Agora, é preciso compará-la com a TMA estabelecida pelo(s)
dono(s) do capital. Se a TMA é de 10%, rejeitamos o projeto, pois obtivemos uma
TIR menor. Já se a TMA é de 3%, aceitamos o projeto, pois a TIR foi superior.

99
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

Se a TIR é a taxa de desconto que iguala o VPL das entradas de caixa ao


investimento inicial, o resultado de uma operação de VPL com a TIR encontrada
deve ser VPL=0.

Significa dizer que se procurarmos o VPL do projeto de investimento


na máquina de empacotar camisetas, com investimento inicial de R$ 12.000,00,
gerando entradas de caixa anuais de R$ 1.500,00 durante 10 anos, o VPL deve ser
0 (zero). Para calcular VPL precisamos de uma taxa que, no nosso caso, será a taxa
encontrada pela TIR=4,277497804%.

O quadro a seguir apresenta o cálculo:

QUADRO 45 – VPL POR FUNÇÕES DE FLUXO DE CAIXA


Sequência de teclas Explicação
f REG Limpar todos os registradores da calculadora.
12000 CHS g CFo Atribuir a saída ao fluxo de caixa no período 0 (zero).
1500 g CFj Atribuir o valor da entrada ao fluxo de caixa.
10 g Nj Atribuir a quantidade de períodos da entrada.
Estabelecer a taxa de desconto de 4,277497804% a.a. (TIR encontrada
4,277497804 i
anteriormente).
f NPV Para obter o VPL – Valor Presente Líquido ao final dos 10 anos.
FONTE: O autor

Agora o resultado do projeto revela o valor presente de R$ 0,00 (zero),


ou seja, com a taxa de 4,277497804% o projeto tem seus fluxos zerados em 10
anos. Manteve-se a TIR expressa com 9 (nove) casas decimais, e as utilizamos da
mesma forma, para evitar diferenças de centavos.

E qual a TIR dos projetos A, B e C, das máquinas de estampar camisetas?


O quadro a seguir reúne o cálculo da TIR de cada um dos três projetos:

QUADRO 46 – TIR DE INVESTIMENTOS A, B e C


Investimento - Projeto A Investimento - Projeto B Investimento - Projeto C
Ano Fluxo Teclas Fluxo Teclas Fluxo Teclas
f REG f REG f REG
0 (24.000,00) 24000 CHS g (20.000,00) 20000 CHS (22.000,00) 22000 CHS
CFo g CFo g CFo
1 6.000,00 6000 g CFj 5.500,00 5500 g CFj 5.000,00 5000 g CFj
2 4.000,00 4000 g CFj 4.500,00 4500 g CFj 5.000,00 5000 g CFj
3 4.000,00 4000 g CFj 3.000,00 3000 g CFj 5.000,00 5000 g CFj
4 3.000,00 3000 g CFj 3.000,00 3000 g CFj 5.000,00 5000 g CFj
5 2.500,00 2500 g CFj 2.000,00 2000 g CFj 5.000,00 5000 g CFj
6 2.500,00 2500 g CFj 2.000,00 2000 g CFj 5.000,00 5000 g CFj

100
TÓPICO 2 | MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS

7 2.000,00 2000 g CFj 2.000,00 2000 g CFj 5.000,00 5000 g CFj


8 1.500,00 1500 g CFj 2.000,00 2000 g CFj 5.000,00 5000 g CFj
9 1.500,00 1500 g CFj 1.500,00 1500 g CFj 5.000,00 5000 g CFj
10 1.500,00 1500 g CFj 1.000,00 1000 g CFj 5.000,00 5000 g CFj
f IRR f IRR f IRR
TIR = 4,33% TIR = 7,43% TIR = 18,60%
FONTE: O autor

Do quadro anterior, a maior TIR é encontrada no projeto C (18,60%). Se


a TMA (Taxa Mínima de Atratividade) ou custo de capital estabelecido pelos
donos de capital for de 20%, todos os três projetos serão rejeitados.

A maior vantagem da TIR é que o resultado é expresso na forma de


porcentagem, ao invés de valor monetário (VPL).

5 VPL x TIR
O método VPL apresenta o valor monetário ao final de um determinado
período, considerando os fluxos futuros em seu valor presente, conforme uma
taxa de desconto estabelecida pelos donos do capital. O VPL está associado ao
conceito de maximização da riqueza, ou seja, os ganhos absolutos que geram
valor aos acionistas – donos do capital.

Já o método TIR expressa a taxa interna de retorno (%) – retornos relativos,


que estão associados ao conceito de maximização da lucratividade.

Como já foi estudado nesta segunda unidade, o orçamento de capital


pode avaliar projetos mutuamente excludentes – são aqueles dentre os quais
é preciso optar por um deles e rejeitar os demais. Estes projetos apresentam
diferentes VPL e TIR.

Neste caso, ao escolher o melhor projeto, devo me basear na VPL ou na TIR?

Para responder a esta pergunta, imagine que você tem duas alternativas
de investimentos:

- Investimento A: TIR = 10% e VPL = R$ 100.000,00.


- Investimento B: TIR = 20% e VPL = R$ 50.000,00.

Obviamente que você investiria no projeto A, pois ele o torna imediatamente


R$ 100.000,00 mais rico. Na análise de projetos mutuamente excludentes, o
método a ser considerado para realizar a escolha é o método do valor presente
líquido (VPL).

101
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

6 TIR/ANÁLISE INCREMENTAL
Para realizar a escolha entre projetos mutuamente excludentes com o
método da TIR, obrigatoriamente devemos realizar a análise incremental entre o
projeto desafiado em relação ao desafiante.

Vamos partir do seguinte exemplo: o custo de capital da empresa é de


15% e tem dois projetos para ampliar a sua capacidade de produção. Deverá
permanecer com o projeto A (desafiante) ou optar pelo projeto B (desafiado)?

QUADRO 47 – TIR E ANÁLISE INCREMENTAL


Desafiante Desafiado Desafiado – Desafiante
Anos
Projeto A Projeto B Análise Incremental (B-A)
0 (290.000,00) (450.000,00) (160.000,00)
1 125.000,00 90.000,00 (35.000,00)
2 110.000,00 110.000,00 0,00
3 80.000,00 140.000,00 60.000,00
4 55.000,00 170.000,00 115.000,00
5 45.000,00 210.000,00 165.000,00
TIR 16,46 % 15,41 % 14,52%
VPL 8.292,14 5.094,11 (3.198,02)
FONTE: O autor

A análise incremental (quadro 47) mostra que o projeto A deve ser


escolhido, porque o fluxo incremental é negativo e a TIR é menor de 15%.

A seguir, as condições que vão auxiliar na escolha do melhor projeto,


entre desafiante e desafiado:

Se TIR (B-A) > custo de capital, então o projeto B é melhor; senão o


projeto A é melhor.

Se VPL (B-A) > 0 (zero), então o projeto B é melhor; senão o projeto A é melhor.

7 RISCOS
No terceiro tópico da primeira unidade deste caderno conversamos um
pouco sobre risco: a possibilidade de perda financeira, variabilidade de retorno
ou, ainda, comprometimento do retorno previsto. Este risco pode aumentar ou
diminuir, a partir de variáveis internas ou externas.

102
TÓPICO 2 | MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS

Os fatores internos estão relacionados à empresa e geralmente podem ser


controlados, assim temos maior controle dos riscos. Já os fatores externos estão
relacionados aos aspectos fora da empresa: mercado, finanças, economia etc.; e,
que não estão sob nosso controle e, muitas vezes, aparecem como “elementos-
surpresa”, elevando o risco.

Ao abordarmos técnicas de orçamentos neste segundo tópico desta


unidade, Payback, VPL e TIR, consideramos que o ambiente não apresenta
incertezas, ou seja, o mesmo grau de risco. Isto é algo praticamente raro ou
utópico. Precisamos compreender que cada um dos projetos de investimentos
apresenta seus graus de riscos, que afetam o risco geral da empresa.

Vamos recordar um fato: as indústrias tinham máquinas e equipamentos


que eram movidos pela queima de madeira ou energia elétrica. Com o advento do
gás natural, algumas adotaram projetos de investimentos expressivos adotando
este recurso, substituindo a madeira e a energia elétrica. O gás apresentava-se
como um recurso natural de baixo custo, onde também muitos carros foram
convertidos para gás.

Será que os reajustes que o gás natural sofreu estavam previstos nestes
projetos? Com o aumento da demanda, algumas indústrias sofreram com a falta
de gás, tendo que interromper a produção, pois já não tinham mais os recursos
anteriores das caldeiras e da energia elétrica. Estes são alguns fatos que elevam o
risco das empresas e afetam os seus resultados.

Ao realizar orçamentos de capital é necessário considerar o risco das


entradas de capital, pois se elas não se realizarem, nosso Payback, VPL e TIR
não serão os mesmos. O tempo de retorno poderá se prolongar, o valor presente
líquido poderá ser menor ou, ainda, negativo; e a taxa interna de retorno poderá
ser menor que a taxa mínima de atratividade (custo de capital).

Para reduzir os riscos é necessária uma análise de sensibilidade para avaliar


a variabilidade do retorno, onde é preciso considerar estimativas pessimistas (o
pior), estimativas prováveis (o esperado) e, ainda, estimativas otimistas (o melhor).

UNI

Encontramos gestores que no seu orçamento de capital são extremamente


otimistas, no pior dos casos são prováveis. É preciso considerar também situações pessimistas.

103
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

Numa ação mais ampla, o gestor financeiro deve complementar sua análise
de sensibilidade considerando uma análise de cenários onde o seu escopo é mais
amplo por considerar, simultaneamente, um conjunto de variáveis integradas
que afetam os resultados. Destacamos o poder aquisitivo das pessoas, a inflação,
a demanda, a entrada de novos concorrentes, a entrada de novos produtos, a
inovação tecnológica etc.

Para lidar com o risco, o gestor financeiro pode realizar simulações


considerando todas as variáveis que afetam os resultados. No passado, estas
simulações eram realizadas manualmente com lápis, papel e calculadora.
Atualmente, encontramos uma série de simuladores empresariais fazendo uso
do computador, que coletam os dados operacionais e permitem ao gestor simular
os resultados futuros, tratando situações pessimistas, prováveis e otimistas.

DICAS

A cada instante surgem novos recursos que permitem realizar simulações antes
das situações reais. Procurem sempre simular os resultados de ações.

Dos estudos que realizamos até o momento, para se tomar decisões de


orçamento de capital, devemos (GITMAN, 2004):

• Estimar os fluxos de caixa relevantes.


• Aplicar uma técnica de decisão apropriada com VPL ou TIR.
• Medir o risco do projeto e ajustar a técnica de decisão em função deste risco.

UNI

Como está o orçamento de capital de sua empresa?

Dentre as opções estratégicas da empresa para viabilizar o seu valor


presente líquido ou alcançar a sua taxa interna de retorno, a decisão pode ser de
abandono, flexibilidade, crescimento ou oportunidade.

104
TÓPICO 2 | MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS

QUADRO 48 – TIPOS BÁSICOS DE OPÇÕES REAIS


Opção Descrição
A opção de abandonar ou terminar um projeto antes do final de sua duração
planejada. Essa opção permite à administração evitar ou minimizar perdas com
Abandono
projetos malsucedidos. Reconhecer explicitamente a opção de abandono ao
avaliar um projeto quase sempre aumenta seu VPL.
A opção de adicionar flexibilidade às operações da empresa, particularmente na área
da produção. Em geral, inclui a oportunidade de projetar o processo de produção
para a aceitação de insumos alternativos, o uso de tecnologia flexível de produção
para criar uma variedade de saídas reconfigurando as mesmas instalações e os
Flexibilidade
mesmos equipamentos, a compra e a manutenção da capacidade ociosa em indústria
de capital intensivo suscetíveis de grandes variações de demanda e caracterizadas
por longos prazos de construção da capacidade adicional. O reconhecimento dessa
opção implícita em um gasto de capital tende a aumentar o VPL do projeto.
A opção de desenvolver projetos de extensão ou continuação, expandir mercados,
expandir ou reconfigurar instalações de produção, entre outras, que não existiria
sem a implantação do projeto em análise. Se um projeto que estiver sendo
Crescimento avaliado apresentar um potencial significativo de abertura de novas portas,
em caso de êxito, o reconhecimento dos fluxos de caixa de tais oportunidades
deve ser feito no processo de decisão inicial. As oportunidades de crescimento
implícitas em um projeto geralmente aumentam seu VPL.
A opção de determinar quando diversas iniciativas em relação a um projeto
devem ser tomadas. Essa opção reconhece a oportunidade de adiar a aceitação
de um projeto por um ou mais períodos, acelerar ou retardar o seu processo de
Oportunidade implantação em decorrência do surgimento de novas informações, fechar um projeto
temporariamente em resposta a mudança de condições no mercado do produto ou
da concorrência. Assim como no caso dos outros tipos de opção, o reconhecimento
explícito de opções de oportunidade pode aumentar o VPL de um projeto.
FONTE: Gitman (2004, p. 380)

Além das diferentes opções estratégicas apresentadas acima, a empresa


poderá ter diferentes projetos para investir. Cada um deles apresenta-se com
um investimento inicial que totaliza um montante superior ao seu orçamento
de capital (risco), bem como calculamos sua respectiva TIR. Dada a limitação de
capital, é preciso priorizar os que apresentam maior TIR, limitados ao orçamento.

O quadro a seguir resume cinco projetos (A, B, C, D e E) que totalizam o


montante de R$ 66.000,00. Dada a limitação de R$ 35.000,00 para investimentos,
faz-se necessário priorizar os que apresentam maior TIR.

QUADRO 49 – RISCO DE DIFERENTES PROJETOS COM LIMITE DE CAPITAL


Projeto Investimento Inicial TIR
A R$ 12.000,00 3%
B R$ 15.000,00 19%
C R$ 10.000,00 21%
D R$ 22.000,00 13%
E R$ 7.000,00 16%
TOTAL R$ 66.000,00
FONTE: O autor

105
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

Dada a limitação de R$ 35.000,00, são escolhidos os projetos C, B e E (nesta


ordem, da maior à menor TIR), que juntos somam o investimento de R$ 32.000,00.

UNI

Aproveite para realizar as autoatividades deste tópico logo e revisar os métodos


de avaliação de projetos de investimentos.

LEITURA COMPLEMENTAR

UM CASTELO DE CARTAS QUE DESABA?

Stephen Kanitz

Duas alegorias estão sendo associadas à crise de 2008. A primeira, a de


que se trata de um castelo de cartas que desabou, como o Muro de Berlim – só
que agora é o muro de Wall Street –, o que significaria uma nova ordem mundial
a ser construída, com Barack Obama no comando. Por isso tão poucos artigos
foram escritos numa tentativa de impedir essa crise. Muito pelo contrário, a
maioria dos intelectuais americanos noticiava, com certo prazer, cada detalhe
desse desmoronamento. Quanto pior e mais rápido, melhor. O problema é que
o castelo de cartas era americano, e não brasileiro, e quem vai pagar pelo pânico
aqui gerado é nosso trabalhador, como sempre.

Uma pesquisa do Datafolha revela que 29% dos trabalhadores brasileiros


acham que perderão o emprego em 2009, o que mostra a extensão do medo
disseminado. Nem em 1929 o desemprego chegou a tanto. Pesquisa do Ibope
indica que 50% dos brasileiros vão reduzir gastos.

Se não revertermos esse pânico, aí, sim, teremos uma recessão em 2009.
Portanto, demos vários tiros no pé, poderíamos ter passado relativamente imunes,
mas não agora, com esse pessimismo todo. Acreditar que reduzir juros resolve,
como muitos estão sugerindo, é até infantil. Quem teme perder o emprego não
compra a prazo nem com juro zero. Nem com redução de IPI.

A outra alegoria, a que eu prefiro, é a da cadeia de dominós que tombam


um a um. É o setor imobiliário, que derruba o setor financeiro, que derruba o
setor automobilístico, que derruba o de autopeças, e assim por diante. Não é um
castelo de cartas que desaba, mas, sim, uma única peça que cai por alguma razão
e arrasta as demais. Perguntas que aqueles que se dizem especialistas no assunto
deveriam fazer, mas, infelizmente, não fazem, são: por que o segundo dominó
não conseguiu aguentar o tranco do primeiro?

106
TÓPICO 2 | MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS

Por que, quando um cliente seu não paga, você tem de atrasar seu
fornecedor ou despedir seus funcionários? Quando uma empresa despede 2% dos
funcionários, como fez a Vale do Rio Doce, o que ela está dizendo é o seguinte:
"Vocês, trabalhadores, que sobrevivam usando as suas reservas financeiras pessoais.
Não vamos ajudá-los usando as nossas reservas empresariais. Boa sorte e adeus!".

A solução para o futuro é fazer indagações como estas: por que as


companhias não possuem as reservas que deveriam ter para aguentar o tranco do
parceiro na frente, se ele tropeçar? Por que as empresas não constituem reservas
nos tempos bons para usar nos tempos difíceis? Não é por ganância, mas por
arrogância intelectual. Muitas companhias passaram a contratar especialistas em
prever o cenário econômico, aqueles que previram que o dólar fecharia o ano
a 1,67 real, lembram-se? Derrubaram a Sadia, a VCP e a Aracruz. "O futuro é
previsível, senhores, o câmbio não passa de 1,80 real, portanto as reservas da
sua empresa podem ser reduzidas." Ledo engano, como já alertei inúmeras vezes
aqui. O futuro não é previsível, minha gente, e foi essa arrogância intelectual que
fez o sistema todo ruir.

O Brasil, em outros tempos, já estaria pedindo socorro ou reservas


financeiras ao FMI. O que ocorreu de diferente desta vez? O país tinha
reservas de 200 bilhões de dólares, acumuladas sob críticas constantes de que
eram desnecessárias. Existem inúmeras outras razões por que empresas não
constituem reservas, desde a pressão de analistas, a tributação de reservas, o que
é um absurdo, e otimismo demasiado com relação ao futuro. No Brasil, taxamos
reservas na pessoa jurídica em 32% e na pessoa física em 20%, o que leva à
distribuição imediata aos sócios. Outro absurdo.

Para que companhias se mantenham sólidas no futuro, temos de lidar


com essas questões, e não com a redução de juros, mais gastos do governo, mais
supervisão mundial. Portanto, preparem-se, porque em 2009 vamos ler um
monte de bobagens, com prêmios Nobel sugerindo uma nova ordem mundial,
e ninguém vai se lembrar do óbvio, de que países, empresas e famílias precisam
de reservas financeiras adequadas, para aguentar as tempestades futuras e não
demitir pessoal.

Stephen Kanitz é administrador pela Harvard Business School (www.


kanitz.com.br)

FONTE: Revista Veja. Editora Abril, edição 2094, ano 42, nº 17 de janeiro de 2009, p. 14.

107
RESUMO DO TÓPICO 2
Este tópico foi pontual nos métodos de avaliação de projetos de
investimentos e ao final inclui a variável do risco. Os tópicos a seguir resumem
os conteúdos:

• O payback é uma técnica que vai determinar a quantidade de períodos necessários


para a empresa recuperar o investimento inicial a partir das suas entradas
de caixa. O Payback simples não considera o custo do capital no decorrer dos
períodos, enquanto que o Payback descontado considera este custo.

• A decisão de aceitar um projeto com a informação do payback está relacionada


ao menor número de períodos para retorno do investimento, desde que este
período esteja abaixo do máximo aceitável.

• A simplicidade no processo intuitivo leva as empresas a utilizarem o payback


para tomada de decisão de investimento.

• O VPL é uma técnica avançada, pois considera o valor do dinheiro no decorrer


do projeto. Todas as entradas projetadas são ajustadas para valor presente
líquido, da qual é aplicada uma taxa de desconto, também conhecida como
taxa de retorno exigido ou, ainda, custo do capital.

• A TIR é a mais avançada das técnicas, pois irá determinar a taxa que iguala os
fluxos de entrada ao investimento. Igualar entradas de caixa e investimento
significa obter um valor presente líquido nulo no período (VPL=0).

• A aceitação de projetos analisados pela TIR vai depender da TMA (Taxa


Mínima de Atratividade). Esta TMA é estabelecida pelos donos do capital
(dinheiro). Caso a TIR seja superior à TMA, o projeto pode ser aceito; caso
contrário, rejeitado.

• Juntamente com estas técnicas de orçamento de capital, devemos adicionar o


risco – a variabilidade do resultado. Para se tomar decisão em relação a um
orçamento de capital é preciso: estimar os fluxos de caixa relevantes, aplicar
uma técnica de decisão apropriada com VPL ou TIR e medir o risco do projeto
e ajustar a técnica de decisão em função deste risco.

• Para a empresa alcançar a sua TIR ou viabilizar o seu VPL, poderá tomar
decisões estratégicas de abandono, flexibilidade, crescimento ou oportunidade.

108
AUTOATIVIDADE

Que maravilha! Vamos responder às questões para revisar os conteúdos:

1 Complete a sentença a seguir:

Payback representa ser uma técnica de _________de projetos, que vai calcular a
___________de ___________ necessários para recuperar o ___________ realizado.

2 O que diferencia o Payback simples do Payback descontado?

3 Complete a sentença a seguir:

Utilizando-se o método do payback na análise de investimento de um


determinado projeto, o gestor financeiro ___________ o projeto quando o
______________ for menor que o número máximo de períodos aceitáveis e
rejeita quando for superior ao ____________ de ________________ aceitáveis.

4 Demonstre o fluxo dos projetos a seguir, calcule o Payback simples de cada


um dos projetos e apresente o melhor:

a) Projeto A: investimento Inicial de R$ 30.000,00 com entradas anuais de R$


5.000,00 durante 10 anos.
b) Projeto B: investimento Inicial de R$ 27.000,00 com entrada de caixa de R$
7.000,00 nos dois primeiros anos, R$ 6.000,00 nos próximos dois anos, R$
4.000,00 nos próximos dois anos e R$ 3.000,00 nos quatro próximos anos.

5 Da questão anterior, demonstre o fluxo dos projetos A e B, calcule o Payback


descontado e o VPL de cada um dos projetos, trazendo a indicação do
melhor dentre eles. Considere a taxa de 5% a.a.

6 Quais são os elementos fundamentais para que possamos considerar o


custo do capital ao longo do tempo, no cálculo do valor presente líquido?

7 O que é a TMA e o que representa?

8 Analisando projetos a partir da TIR, em que situação o projeto pode ser


aceito ou deve ser rejeitado?

9 O que é o risco?

10 Por que considerar o risco nas técnicas de orçamento?

11 Explique a decisão de abandono, flexibilidade, crescimento e oportunidade


para se alcançar o VPL ou TIR da empresa.

109
12 Nossa camisaria necessita de um veículo para entrega dos produtos nos
pontos de revenda. O projeto divide-se no investimento de um automóvel
flex (gasolina e álcool) ou diesel. Ambos apresentam entradas anuais de
10 anos. Calcule o Payback descontado, VPL e TIR de cada uma das opções
de investimento a seguir. Considere a taxa de 10% a.a. para o cálculo do
Payback descontado e VPL:

a) Flex: investimento de R$ 40.000,00 e entradas de caixa de R$ 7.500,00 anuais.


b) Diesel: investimento de R$ 55.000,00 e entradas de caixa de R$ 9.000,00 anuais.

110
UNIDADE 2
TÓPICO 3
FINANCIAMENTOS E ALAVANCAGEM DE CAPITAL

1 INTRODUÇÃO
O capital (dinheiro) de uma empresa é formado pelo capital investido
pelos sócios e por capital de terceiros. Cada um deles apresenta uma taxa de
retorno, que compõe o custo do capital.

Ao decidir por saídas de longo prazo (investimentos) são encontradas


opções de financiamentos para realizá-los. É fundamental avaliar o custo de cada
uma das opções de financiamento (próprio e de terceiros) para que os resultados
não sejam comprometidos.

Nesta aplicação do capital, as empresas buscam alavancar os seus


resultados, sejam operacionais e/ou financeiros. O ponto de equilíbrio é uma das
ferramentas indispensáveis para que se conheça o ponto de alavancagem.

Vamos lá e bons estudos.

2 ESTRUTURA DE CAPITAL
Ao montar uma empresa há a necessidade de dinheiro, ou seja, de capital,
que pode ser:

• Capital próprio: representa os recursos dos sócios da empresa.


• Capital de terceiros: são os recursos emprestados, financiados com os não sócios.

A decisão de compor a estrutura de capital da empresa entre capital próprio


e capital de terceiros é uma atividade bastante complexa para o gestor financeiro.

Ao considerar os fluxos de caixa a valor presente líquido, considerando


o valor/custo do dinheiro ao longo do tempo, uma decisão errada poderá gerar
VPL´s menores, enquanto que as decisões acertadas vão gerar VPL´s maiores.

111
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

O quadro a seguir destaca, de forma simplificada, as contas do passivo


de um balanço patrimonial, para a identificação da composição da estrutura de
capital total:

QUADRO 50 – BALANÇO PATRIMONIAL x ESTRUTURA DE CAPITAL


Balanço Patrimonial
Passivo circulante
Ativo Exigível de longo prazo  Capital de dívidas (emprestado de terceiros)
Patrimônio líquido  Capital próprio

FONTE: Adaptado de: Gitman (2003, p. 445)

Apesar de algumas fontes divulgarem índices de endividamento por setor


ou ramo de atividade, não há uma receita ou fórmula para a sua composição: o
ponto de equilíbrio entre o capital próprio e o capital de terceiros.

Para evitar a falência da empresa, a estruturação do capital (próprio e de


terceiros) considera:

• Risco econômico: a preocupação da empresa de não conseguir cobrir os seus


custos operacionais.

• Risco financeiro: a preocupação de não conseguir cobrir suas obrigações


financeiras.

• Custo de agency: também interpretado como a taxa imposta pelos investidores


da empresa, os donos do capital. A imposição de altas taxas pode comprometer
os resultados. É necessário considerar que se a empresa puder captar recursos
de terceiros, poderá investir em novos projetos ou devolver o capital investido
pelos donos. Ao arriscar na aplicação deste capital de terceiros em novos
projetos, estes podem dar certo (aumenta a possibilidade de retorno aos
investidores) ou errado (diminuir as chances de retorno).

Informação assimétrica: a preocupação com o desencontro das


informações, onde algo positivo pode de fato ser julgado como bom ou não; e
vice-versa. A condição deste desencontro de informações, de tempos em tempos,
gera nas empresas a necessidade de não esgotarem o seu limite de capital de
terceiros e capital próprio, para que possam usar estas reservas para aproveitar
oportunidades de investimento.

O quadro a seguir sintetiza os fatores de algumas preocupações quanto à


estruturação do capital:

112
TÓPICO 3 | FINANCIAMENTOS E ALAVANCAGEM DE CAPITAL

QUADRO 51 – FATORES NA DECISÃO DE ESTRUTURA DE CAPITAL


Preocupação Fator Descrição
Empresas com receitas estáveis e previstas podem
adotar com maior segurança estruturas de capitais
altamente alavancadas, ao contrário das com receitas
de vendas voláteis. Empresas com vendas crescentes
Estabilidade de receitas
tendem a se beneficiar com o uso do capital de
terceiros adicional, permitindo benefícios positivos
da alavancagem financeira, a qual amplia o efeito do
Risco Econômico aumento das vendas
Numa nova estrutura de capital, a empresa deve
concentrar sua atenção na sua capacidade de gerar
os fluxos de caixa necessários para cobrir suas
Fluxo de caixa obrigações. Os fluxos de caixa projetados devem
se mostrar capazes de fazer o serviço das dívidas,
para que apoiem qualquer alteração da estrutura
de capital.
Empresas podem estar contratualmente limitadas
quanto ao tipo de fundo que podem captar.
Exemplo: pode estar proibida de obter capital
de terceiros adicional, a não ser que os direitos
dos fornecedores dos novos recursos fiquem
Obrigações contratuais
subordinados aos dos titulares das dívidas já
existentes. Também podem existir restrições
contratuais à venda de novas ações, bem como
à capacidade de pagamento de dividendos aos
acionistas.
Custos de agency Ocasionalmente, a empresa imporá alguma restrição
interna sobre o uso de capital de terceiros, para
Preferências dos limitar sua exposição a risco a um nível considerado
administradores aceitável pela administração. Por força de aversão a
risco, a administração limita a estrutura de capital
a um nível considerado o verdadeiro ótimo ou não.
Em geral, somente em empresas fechadas ou
ameaçadas por tentativas de aquisição o controle
Controle
chega a ser uma questão importante na decisão a
respeito da estrutura de capital.
A capacidade de obter fundos rapidamente e a
taxas favoráveis depende das avaliações externas
de risco por fornecedores de recursos e por agências
de classificação de risco. Consequentemente, a
Avaliação externa de
empresa deve considerar o impacto das decisões
risco
relativas à estrutura de capital sobre o valor da ação
e sobre demonstrações financeiras publicadas, com
as quais os fornecedores de recursos e as agências
Informação de classificação avaliam o risco.
assimétrica Às vezes, quando o nível geral de taxas de juros
é baixo, o financiamento com capital de terceiros
pode ser mais atraente. Em algumas ocasiões, tanto
capital de terceiros como capital próprio tornam-se
Oportunidade indisponíveis em condições que seriam consideradas
razoáveis. As condições econômicas gerais – em
especial as do mercado de capitais – podem assim
afetar significativamente as decisões relativas à
estrutura de capital.
FONTE: Adaptado de: Gitman (2003, p. 462)

113
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

ATENCAO

Não há uma fórmula para calcular uma estrutura ótima de capital, portanto, as
empresas procuram operar numa faixa que lhes permite acreditar ser a estrutura ótima de
capital. É fundamental aumentar o valor da empresa e manter ou reduzir os custos.

3 CUSTO DE CAPITAL E FINANCIAMENTOS


O gestor financeiro poderá conseguir capital através de diferentes
fontes com diferentes custos, e este custo de capital é um fator importante a ser
considerado na tomada das decisões financeiras, quanto à estrutura de capital.

São análises e decisões que circundam o gestor financeiro, pois em cada


uma das situações terá que analisar o custo do capital. Neste tópico vamos tratar
das fontes de capital de terceiros e do capital próprio – ambos podem alterar os
resultados da empresa.

Nas fontes de capital de longo prazo temos os projetos de investimentos


em ativos permanentes. Este investimento é financiado junto com as instituições
financeiras (bancos), conhecido também por “financiamentos”. A taxa estabelecida
pelo banco varia:

• de instituição para instituição;

• do montante captado;

• da quantidade de períodos para a devolução deste capital; e,

• principalmente da análise que o banco realiza sobre a nossa empresa: o seu


tempo de mercado, ativo, liquidez, grau de endividamento etc.

Já o custo do capital próprio é estabelecido pelo dono do capital, sócios


da empresa. É uma taxa esperada pelos sócios pela aplicação do seu dinheiro
na empresa. Alguns denominam de taxa de oportunidade ou taxa mínima de
atratividade (abordado anteriormente).

O custo do capital próprio investido na empresa deverá ser no mínimo


igual à taxa livre de risco da economia. No Brasil, esta taxa livre de risco é a SELIC
(Sistema Especial de Liquidação de Custódia), que reflete o custo do dinheiro para
empréstimos bancários baseado na remuneração dos títulos públicos. Se o custo do
capital próprio (taxa esperada) for menor que a SELIC, não vale a pena investir na
empresa e sim aplicar no mercado financeiro, que seu retorno será maior.

114
TÓPICO 3 | FINANCIAMENTOS E ALAVANCAGEM DE CAPITAL

“O custo do patrimônio líquido é a taxa de retorno que os investidores


exigem para realizar um investimento patrimonial em uma empresa”
(DAMODARAN, 1997, p. 59). Desta forma, o custo do capital próprio é dado pela
expectativa de retorno sobre o patrimônio líquido - %RPL (abordado na primeira
unidade deste caderno).

É importante saber que na busca de capital de terceiros, o montante


emprestado é pago em diferentes modalidades. Nos primeiros períodos, podemos
ter carência de juros e/ou valor emprestado, assim como as parcelas podem ser
prefixadas (com juros embutidos) ou corrigidas por um índice.

Estes fatores afetam diretamente o orçamento de capital, principalmente na


projeção dos resultados. Quando temos um período de carência, talvez pagando
apenas os juros, as entradas líquidas de caixa podem ser mais expressivas. Num
período começamos a pagar a dívida (amortizar o capital emprestado), além dos juros,
o que pode representar entradas líquidas de caixa menor, ou de repente negativa.

O quadro a seguir ilustra um projeto de investimento inicial de R$


40.000,00, gerando entradas anuais de R$ 18.000,00; no qual nos dois primeiros
anos serão pagos apenas os juros e a partir do 3º ano, além dos juros também
será amortizado o empréstimo nos quatro anos seguintes. Serão considerados os
valores fixos, não atualizando a valor presente.

QUADRO 52 – ORÇAMENTO COM FINANCIAMENTO


Período Saídas Entradas Pagamento Entradas Líquidas
0 (R$ 40.000,00) 0,00 0,00 0,00
1 0,00 18,000,00 4.000,00 14.000,00
2 0,00 18,000,00 4.000,00 14.000,00
3 0,00 18,000,00 14.000,00 4.000,00
4 0,00 18,000,00 14.000,00 4.000,00
5 0,00 18,000,00 14.000,00 4.000,00
6 0,00 18,000,00 14.000,00 4.000,00

FONTE: O autor

No exemplo acima verifica-se que durante os seis períodos as entradas


foram iguais, nos dois primeiros períodos foram pagos juros e nos quatro anos
seguintes foi paga a parcela mais os juros. As entradas líquidas iniciais foram
altas, mas as finais baixas.

115
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

NOTA

É necessário considerar o risco ao determinar o custo de capital próprio e de


terceiros, pois, se mal estimado este custo, pode comprometer os resultados da empresa.

Outro fator muito importante a ser considerado no uso do capital de


terceiros é que os terceiros não são tributados pelo IR ao resultado. No DRE, eles
são descontados antes do IR (Imposto de Renda). O quadro a seguir simula os
resultados com capital de terceiros e sem capital de terceiros:

QUADRO 53 – RESULTADO COM E SEM CAPITAL DE TERCEIROS x IR

DRE Com Capital de Terceiros Sem Capital de Terceiros


(=) ROB R$ 1.200.000,00 R$ 1.200.000,00
(-) Impostos (10%) R$ 120.000,00 R$ 120.000,00
(=) ROL R$ 1.080.000,00 R$ 1.080.000,00
(-) CMV R$ 740.000,00 R$ 740.000,00
(=) Lucro bruto R$ 340.000,00 R$ 340.000,00
(-) Despesas administrativas R$ 80.000,00 R$ 80.000,00
(-) Despesas de pessoal R$ 100.000,00 R$ 100.000,00
(=) Lucro operacional (antes de juros R$ 160.000,00 R$ 160.000,00
e IR)
(-) Despesas financeiras R$ 100.000,00 R$ 0,00
(=) Lucro antes do IR (LAIR) R$ 60.000,00 R$ 160.000,00
(=) Imposto de Renda (30%) R$ 18.000,00 R$ 48.000,00
(=) Lucro/prejuízo líquido R$ 42.000,00 R$ 112.000,00

FONTE: O autor

3.1 CUSTO MÉDIO PONDERADO DE CAPITAL (CMPC)


O custo do capital de uma organização representa a taxa de juros necessária
para satisfazer esta estrutura de capital próprio e de terceiros.

Para isso se faz necessário determinar o Custo Médio Ponderado do


Capital (CMPC). É muito simples! Calculamos a média ponderada entre o custo
do capital próprio e o custo do capital de terceiros, após o Imposto de Renda.

116
TÓPICO 3 | FINANCIAMENTOS E ALAVANCAGEM DE CAPITAL

Vamos calcular o CMPC considerando a seguinte situação: Para você


investir na camisaria, necessita de R$ 10.000,00, dos quais:

• Capital Próprio: dispõe de R$ 4.000,00 que estão aplicados na poupança, com


rendimento de 9% a.a.

• Capital de Terceiros: o banco emprestará R$ 4.000,00 a uma taxa de 20% a.a.

Um amigo irá lhe emprestar os R$ 2.000,00 restantes, que para ele rendem
14% a.a. numa aplicação.

Ao final de um ano, você deverá devolver os valores tomados, acrescidos


dos juros devidos:

- Você deverá resgatar os R$ 4.000,00, acrescidos dos 9% de juros, R$ 360,00.


- Ao banco deverá pagar R$ 4.000,00, acrescidos dos 20% de juros, R$ 800,00.
- Ao seu amigo deverá devolver R$ 2.000,00, acrescidos dos 14% de juros, R$ 280,00.

Resumidamente, ao final do ano a camisaria deverá, no mínimo, conseguir


devolver os R$ 10.000,00 que você investiu, mais a soma dos juros no valor de R$
1.440,00. Desta forma, a taxa mínima requerida para pagar os fornecedores do
capital é de 14,40% (1.440,00/10.000,00).

Cada uma das fontes de capital: você, o banco e seu amigo, tem
participações distintas na estruturação do capital, que é igual à média ponderada
das taxas de juros de cada fonte, ou seja:

CMPC = (4000 * 0,09) + (4000 * 0,20) + (2000 * 0,14) = 14,40%.


R$ 10.000,00.

Ao demonstrar esta composição num balanço patrimonial, teríamos o


seguinte:

QUADRO 54 – COMPOSIÇÃO CAPITAL DO BALANÇO

ATIVO PASSIVO
Circulante Circulante
Caixa 10.000,00 Empréstimos de terceiros 2.000,00
Empréstimos bancários 4.000,00
Patrimônio líquido 4.000,00
Total do ativo 10.000,00 Total do passivo 10.000,00

FONTE: O autor

117
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

Do balanço acima, observe que no passivo consta a composição do


capital, o que integra o caixa e que representa o total do ativo. Neste exemplo não
consideramos as demais contas do balanço, apenas para ilustrar a demonstração
da estrutura do capital.

Agora vamos demonstrar esta estrutura de capital num DRE, conforme a


ilustração a seguir:

QUADRO 55 – ESTRUTURA DE CAPITAL NO DRE


Modelo Tradicional Modelo Ajustado
(=) ROB 120.000,00 (=) ROB 120.000,00
(-) Impostos 12.000,00 (-) Impostos 12.000,00
(=) ROL 108.000,00 (=) ROL 108.000,00
(-) CMV 84.000,00 (-) CMV 84.000,00
(=) Lucro bruto 24.000,00 (=) Lucro bruto 24.000,00
(-) Despesas administrativas 6.000,00 (-) Despesas administrativas 6.000,00
(-) Despesas com pessoal 15.600,00 (-) Despesas com pessoal 15.600,00
(-) Despesas financeiras 1.080,00 (=) Lucro operacional antes IR 2.400,00
(=) Lucro operacional antes IR 1.320,00 (-) Provisão IR (30%) 720,00
(-) Provisão IR (30%) 396,00 (=) Lucro operacional após IR 1.680,00
(-) Despesa financeira antes IR
(1.080,00) – Economia do IR 756,00
(720,00 – 396,00 = 324,00)
(=) Lucro líquido 924,00 (=) Lucro líquido 924,00

FONTE: O autor

Observe que as despesas financeiras totalizam a importância de R$


1.080,00, proveniente de R$ 800,00 de juros devidos ao banco e de R$ 280,00 de
juros devidos ao amigo.

A partir dos demonstrativos financeiros, podemos calcular o custo do


capital de uma empresa:

- Custo do Capital Próprio = Lucro Líquido = 924,00 = 9,24%


- Patrimônio Líquido 10.000,00
- Custo do Capital de Terceiros = Despesas Financeiras = 1.080,00 = 18,00%
- Total de Financiamentos 6.000,00

Observa-se que o custo do capital próprio obtido acima foi de 9,24%, um


pouco acima dos 9% desejados pelo investidor.

118
TÓPICO 3 | FINANCIAMENTOS E ALAVANCAGEM DE CAPITAL

Ambas as fórmulas a seguir permitem calcular o CMPC:

CMPC = (Capital Próprio/Total de Capitais) x Custo do Capital Próprio + (Capital


de terceiros/Total de Capitais) x Custo do Capital de Terceiros (1 – Alíquota do
Imposto de Renda.
CMPC = (CP/TC) x CCP + (CT/TC) x CCT (1-Alíquota IR).
CMPC = (Capital Próprio x Custo do Capital Próprio) + (Capital de Terceiros x Custo
do Capital de Terceiros) x (1 – Alíquota do Imposto de Renda) / Total de Capitais
CMPC = (CP x CCP) + (CT x CCT) x (1 – Alíquota IR)
Total de capitais

NOTA

Calcular o CMPC – Custo Médio Ponderado de Capital é como determinar a média


ponderada, aplicando-se os devidos pesos a provas e trabalhos que compõem sua média final.

4 ALAVANCAGEM
Recorrendo ao dicionário, alavancagem é uma expressão usada para
denominar um meio de ação para vencer qualquer resistência.

O gestor financeiro precisa lidar com a alavancagem da empresa, que


pode ser:

● Operacional: quando o percentual aumento das operações é superior ao


aumento de seus custos. Exemplo: a elevação da produção é percentualmente
superior ao custo de produção; ou ainda, quando a elevação das vendas é
percentualmente superior aos custos.

● Financeira: quando a empresa consegue usar os encargos financeiros fixos


para aumentar o seu lucro (GITMAN, 2003).

● Combinada: a alavancagem é combinada entre operacional e financeira – é o


efeito da variação percentual da receita operacional no lucro líquido.

O quadro a seguir ilustra a composição da alavancagem total:

119
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

QUADRO 56 – COMPOSIÇÃO DA ALAVANCAGEM TOTAL


(=) Receita de vendas
(-) CMV (Custo das mercadorias vendidas)
Alavancagem Operacional (=) Lucro bruto
(-) Despesas operacionais
(=) Lucro antes de despesas financeiras e IR
(-) Despesas financeiras
(=) Lucro líquido antes do IR
Alavancagem Financeira (-) Imposto de Renda
(=) Lucro líquido após IR

FONTE: Adaptado de: Gitman (2003, p. 434)

Ao estudar alavancagem é necessário também conhecer o conceito de


ponto de equilíbrio, do inglês break-even-point. O ponto de equilíbrio é o momento
em que as receitas (entradas) pagam todas as despesas (saídas) e o resultado final
é 0 (zero) (ASSAF, 2009).

Quando os resultados são inferiores ao ponto de equilíbrio, significa


dizer que há prejuízo, faltam recursos para as contas. Já quando os resultados
superam o ponto de equilíbrio, há resultado. O ponto de equilíbrio pode ser
operacional e financeiro.

O ponto de equilíbrio operacional é obtido no momento em que as


vendas cobrem as despesas operacionais, então temos o “Lucro antes de despesas
financeiras e IR” = 0 (zero).

As empresas necessitam operar no ponto de equilíbrio operacional, para


evitar prejuízos, e podem alavancar as operações através:

• Do aumento do preço de venda e/ou o aumento da quantidade vendida e/ou


ainda o ajuste dos custos das mercadorias vendidas e das despesas.

• Ao lidar com o ponto de equilíbrio operacional, decidimos o preço. A teoria da


demanda elástica e a teoria da elasticidade afetam o ponto de equilíbrio.

• A teoria da demanda elástica estabelece que: o aumento do preço pode gerar


uma queda na demanda, a redução do preço pode gerar um aumento na
demanda; desconsiderando qualquer ação de valor agregado.

• A teoria da elasticidade mostra que para conseguir reduzir os custos da


mercadoria vendida, a empresa pode ter que aceitar condições de maior
volume de compra e/ou menor prazo de pagamento aos fornecedores.

120
TÓPICO 3 | FINANCIAMENTOS E ALAVANCAGEM DE CAPITAL

Vamos recorrer ao DRE da nossa camisaria, relembrando alguns elementos:

- O custo da camiseta é de R$ 7,00.


- O preço de venda é de R$ 10,00.
- Os impostos totalizam 10% sobre as vendas, ou seja, R$ 1,00 por camiseta.
- Os custos fixos (despesas administrativas e de pessoal) totalizam R$ 21.600,00.

Agora, vamos encontrar o Ponto de Equilíbrio Operacional com a


seguinte fórmula:

QUADRO 57 – CÁLCULO DO PONTO DE EQUILÍBRIO OPERACIONAL


Fórmula de Cálculo Resultado
Custos Fixos 21.600,00
Ponto de Equilíbrio Operacional (Qtde) = = 10.800
Preço-CMV-Impostos 10 – 7 – 1
FONTE: O autor

Desta forma, com a venda de 10.800 camisetas, atingimos o ponto de


equilíbrio, ou seja, as receitas cobrem as despesas.

O quadro a seguir apresenta uma simulação da alavancagem operacional, no


qual se apresenta uma situação inicial para avaliar o impacto no lucro considerando
uma redução e um aumento de 10% na receita operacional bruta - vendas:

QUADRO 58 – ALAVANCAGEM OPERACIONAL


Alavancagem Operacional
Variação % da receita operacional -10% Situação Inicial +10%
(=) Receita operacional 90.000,00 100.000,00 110.000,00
(-) Custos e despesas operacionais variáveis 45.000,00 50.000,00 55.000,00
(-) Custos e despesas operacionais fixas 25.000,00 25.000,00 25.000,00
(=) Lucro antes de juros e IR (LAJIR) 20.000,00 25.000,00 30.000,00
Variação % do LAJIR -20% - +20%

FONTE: O autor

O exemplo acima apresenta uma variação, tanto positiva quanto negativa,


da ordem de 20% no lucro, com uma variação de apenas 10% na receita operacional.
Neste caso, é preciso considerar alguns pontos no dia a dia:

Ao comprarmos menos, pois as vendas são menores (10%), podemos nos


deparar com preços mais altos. Da mesma forma que ao comprar uma quantidade
maior (10%), podemos conseguir custos e despesas variáveis mais baixos.

121
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

Os custos e despesas operacionais fixas podem sofrer alterações,


dependendo do volume de serviço: reduzindo as vendas pode-se ter pessoas
ociosas, já para alcançar um volume de vendas maior, pode-se ter a necessidade
de contratação de mais pessoas.

A partir destas informações podemos determinar o GAO (Grau de


Alavancagem Operacional), que vai demonstrar quantos pontos percentuais
haverá de variação no lucro antes dos juros e IR (LAJIR) a cada variação de um
ponto percentual na variação da receita operacional.

QUADRO 59 – CÁLCULO DO GRAU DE ALAVANCAGEM OPERACIONAL


Variação LAJIR 20%
GAO = =2
Variação da Receita Operacional 10%
FONTE: O autor

Interpretamos do seguinte modo: para cada ponto percentual que variar a


receita da empresa, o lucro antes dos juros e IR (LAJIR) terá uma variação de dois
pontos percentuais.

Agora, o quadro a seguir irá apresentar a alavancagem financeira, com o


mesmo crescimento de 10% a.a.:

QUADRO 60 – ALAVANCAGEM FINANCEIRA


Alavancagem Financeira
Variação % do LAJIR -10% Situação Inicial +10%
(=) LAJIR (Lucro antes dos juros e IR) 22.500,00 25.000,00 27.500,00
(-) Despesas financeiras 10.000,00 10.000,00 10.000,00
(=) Lucro antes do IR 12.500,00 15.000,00 17.500,00
(-) IR – Imposto de Renda (30%) 3.750,00 4.500,00 5.250,00
(=) Resultado final 8.750,00 10.500,00 12.250,00
Variação % do resultado -16,67% - +16,67%

FONTE: O autor

Novamente, precisamos compreender que as despesas financeiras estão


fixas, ou seja, não está sendo considerada a variação das despesas financeiras, elas
podem aumentar ou diminuir em função do volume de compras e/ou dos prazos
concedidos aos clientes.

Vamos determinar o GAF (Grau de Alavancagem Financeira), que vai


demonstrar quantos pontos percentuais haverá de variação no Resultado a cada
variação de um ponto percentual no lucro antes dos Juros e IR (LAJIR).

122
TÓPICO 3 | FINANCIAMENTOS E ALAVANCAGEM DE CAPITAL

QUADRO 61 – CÁLCULO DO GRAU DE ALAVANCAGEM FINANCEIRA


Variação do Resultado 16,67 %
GAF = = 1,67
Variação LAJIR 10%
FONTE: O autor

Interpretamos do seguinte modo: para cada ponto percentual que variar


o lucro antes dos juros e IR (LAJIR), teremos uma variação de 1,67 pontos
percentuais no resultado.

Agora vamos combinar a alavancagem operacional e a alavancagem


financeira, no que se denomina de alavancagem combinada:

QUADRO 62 – ALAVANCAGEM COMBINADA


Alavancagem Combinada
Variação % da receita operacional -10% Situação Inicial +10%
(=) Receita operacional 90.000,00 100.000,00 110.000,00
(-) Custos e despesas operacionais variáveis 45.000,00 50.000,00 55.000,00
(-) Custos e despesas operacionais fixas 25.000,00 25.000,00 25.000,00
(=) Lucro antes de juros e IR (LAJIR) 20.000,00 25.000,00 30.000,00
(-) Despesas financeiras 10.000,00 10.000,00 10.000,00
(=) Lucro antes do IR 10.000,00 15.000,00 20.000,00
(-) IR – Imposto de Renda (30%) 3.000,00 4.500,00 6.000,00
(=) Resultado final 7.000,00 10.500,00 14.000,00
Variação % do resultado -33,33% - +33,33%
FONTE: O autor

Vamos determinar o GAC (Grau de Alavancagem Combinada), que vai


demonstrar quantos pontos percentuais haverá de variação no resultado a cada
variação de um ponto percentual na receita operacional.

QUADRO 63 – CÁLCULO DO GRAU DE ALAVANCAGEM COMBINADA


Variação do Resultado 33,33 %
GAC = = 3,33
Variação da Receita 10%
FONTE: O autor

Interpretamos do seguinte modo: para cada ponto percentual que variar


a receita operacional, teremos uma variação de 3,33 pontos percentuais no
resultado.

DICAS

Outra maneira simples de calcularmos o GAC é: GAO x GAF, ou seja: GAC = 2


x 1,67 = 3,33.

123
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

LEITURA COMPLEMENTAR

EXPANSÃO ACELERADA

Mercado brasileiro de franquias movimentou 75,98 bilhões de reais em


2010 e completa mais de uma década de crescimento acima do PIB.

O ano de 2010 foi bastante positivo para a economia brasileira, que


apresentou um crescimento de 7,5% em relação a 2009. O Brasil foi o terceiro
país do mundo com maior crescimento, atrás apenas da China (10,3%) e da Índia
(8,6%). Para alguns setores, porém, o ano foi ainda mais brilhante.

É o caso dos segmentos de franquias, que, desde 2005, cresce a taxas de


dois dígitos e fechou o ano passado com crescimento de 20,4% em relação a 2009,
movimentando 75,98 bilhões de reais, o equivalente a 2,1% do PIB brasileiro. O
número de redes em operação no país avançou 12,9% na comparação anual, para
1.855 marcas, e a quantidade de lojas (próprias e franqueadas) chegou a 86.365,
8% mais que no ano anterior. Com essa expansão, o setor de franquias abriu mais
de 57 mil vagas de trabalho, passando a empregar mais de 777 mil pessoas.

O desempenho do setor ficou acima das expectativas da Associação Brasileira


de Franchising (ABF), que projetava crescimento entre 14% e 19%. “O aumento do
poder de compra da população, a expansão da oferta de crédito e a boa performance
da economia como um todo impulsionaram as franquias, demonstrando o grande
potencial do setor”, comenta Ricardo Camargo, diretor executivo da entidade.

Em faturamento, o setor com maior expansão foi o de alimentação, que


fechou 2010 com um volume de negócios de 15,28 bilhões de reais, 39,9% mais que
2009, e total de 12.015 unidades, entre franqueadas e próprias. O crescimento do
segmento, de 14% em números de lojas, reflete a forte expansão de todo o setor de
alimentação fora do lar. É um segmento que, desde 2005, teve aumento de 88% em
seu faturamento e movimentou mais de 180 bilhões de reais no ano passado, em
mais de 140 mil estabelecimentos comerciais. “As franquias de alimentação ganham
espaço em um momento de grande ebulição no mercado, pois o crescimento da
renda da população faz com que mais pessoas possam consumir. O foodservice, hoje,
corresponde a 31% das despesas com alimentos, mas se aproxima dos 40% nas
grandes capitais do Sudeste, onde os consumidores desejam mais conveniências
em suas refeições”, afirma Marco Gouvêa de Souza, consultor de varejo.

Outro segmento de franquias que se destacou em 2010 foi o de acessórios


pessoais e calçados, com expansão de 29,9% no faturamento e de 27% em números
de lojas (4.178 pontos de venda).

Nesse caso, várias indústrias optaram pelo desenvolvimento de seu próprio


canal de vendas, como forma de expor todo o seu mix de produtos, apresentar
seu posicionamento de mercado e escapar da comparação direta dos preços.

124
TÓPICO 3 | FINANCIAMENTOS E ALAVANCAGEM DE CAPITAL

“Aproveitando o momento de destaque do Brasil no cenário mundial, diversas redes


têm, inclusive, aberto operações internacionais, levando a moda e o estilo nacionais
para outros países”, comenta Ricardo Camargo. A expansão dos canais próprios da
indústria também explica o crescimento de 29% do setor de vestuário, cujas franquias
movimentaram 6,58 bilhões de reais no ano passado, com 220 redes e 5.073 lojas.

FIGURA 1 – DESEMPENHO DO FRANCHISING NO BRASIL – FATURAMENTO

FONTE: EXAME (2011)

FIGURA 2 – DESEMPENHO DO FRANCHISING NO BRASIL – REDES

FONTE: EXAME (2011)

125
UNIDADE 2 | INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS

FIGURA 3 – DESEMPENHO DO FRANCHISING NO BRASIL – GERAÇÃO DE EMPREGOS

FONTE: EXAME (2011)

FIGURA 4 – DESEMPENHO DO FRANCHISING BRASILEIRO – UNIDADES

FONTE: EXAME (2011)

FONTE: Revista EXAME. Edição 993 – Ano 45 – nº 10 – 01/06/2011 – p. 62-64.

126
RESUMO DO TÓPICO 3
Chegamos ao final desta segunda unidade, e neste último tópico estudamos:

• O capital das empresas é composto por capital próprio, que representa os


recursos dos donos investidores na empresa; e de capital de terceiros, obtido
geralmente com instituições financeiras.

• O custo do capital próprio é estabelecido pelo dono do capital, que procura


obter no mínimo a taxa SELIC.

• Ao realizarmos um investimento (financiamento), a instituição que nos


empresta o capital pode conceder um período de carência do pagamento dos
juros e/ou do empréstimo, e isto afeta as entradas líquidas.

• O capital de terceiros não sofre a tributação do IR (Imposto de Renda), assim as


empresas com capital de terceiros pagam menos IR, pois ele é descontado antes
da tributação.

• Para determinar o CMPC (Custo Médio Ponderado do Capital), aplicam-se os


custos de cada um como pesos ao montante de capital.

• O capital é composto pelo capital próprio e de terceiros, não existindo uma


fórmula para determinar a sua composição ideal.

• Na estruturação do capital temos preocupações com o risco econômico,


financeiro, custo de agency e informações assimétricas.

• Uma empresa pode buscar a sua alavancagem operacional, financeira e combinada.


É fundamental determinar o grau de alavancagem de cada uma delas.

• O Ponto de Equilíbrio é o momento em que as receitas são suficientes para o


pagamento de todas as despesas, e o resultado é zero (0). Não há lucro nem
prejuízo.

• O GAO demonstra quantos pontos percentuais haverá de variação no lucro


antes dos juros e IR (LAJIR) a cada variação de um ponto percentual na variação
da receita operacional.

• O GAF demonstra quantos pontos percentuais haverá de variação no resultado


a cada variação de um ponto percentual no lucro antes dos juros e IR (LAJIR).

• O GAC vai demonstrar quantos pontos percentuais haverá de variação no


resultado a cada variação de um ponto percentual na receita operacional.

127
AUTOATIVIDADE

Que tal responder a algumas perguntas para fixar seu aprendizado?

1 Como está estruturado o capital de uma empresa?

2 Complete a sentença a seguir:

O capital _______________ representa os recursos dos donos da empresa,


enquanto que o capital de _______________ representa os ______________
emprestados, financiados com ____ sócios.

3 Do capital total de R$ 1 milhão, você dispõe de 55% de capital próprio ao custo


de 25%, e 45% de capital de terceiros ao custo de 35%. Determine o CMPC.

4 Represente a estrutura de capital da questão anterior, num balanço patrimonial.

5 Diferencie alavancagem operacional, financeira e combinada.

6 Para o DRE, determine o GAO, GAF e GAC, considerando uma variação


(negativa e positiva) de 20% na receita operacional.
-20% Situação Inicial + 20%
(=) Receita operacional 500.000,00
(-) Custos e despesas operacionais variáveis 120.000,00
(-) Custos e despesas operacionais fixas 180.000,00
(=) Lucro antes de juros e IR (LAJIR) 200.000,00
Variação % do LAJIR
GAO – Grau de Alavancagem Operacional
(=) Lucro antes de juros e IR (LAJIR) 200.000,00
(-) Despesas financeiras 100.000,00
(=) Lucro antes do IR 100.000,00
(-) IR – Imposto de Renda (30%) 30.000,00
(=) Resultado final 70.000,00
Variação % do resultado
GAF – Grau de Alavancagem Financeira
(=) Receita operacional 500.000,00
(-) Custos e despesas operacionais variáveis 120.000,00
(-) Custos e despesas operacionais fixas 180.000,00
(=) Lucro antes de juros e IR (LAJIR) 200.000,00
(-) Despesas financeiras 100.000,00
(=) Lucro antes do IR 100.000,00
(-) IR – Imposto de Renda (30%) 30.000,00
(=) Resultado final 70.000,00
Variação % do resultado
GAC – Grau de Alavancagem Combinada

7 Na estrutura de capital, no que consiste a preocupação no risco econômico?

128
UNIDADE 3

CURTO PRAZO E TÓPICOS


ESPECIAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:

• estudar a gestão baseada em valor;

• conhecer o que vem a ser o capital de giro;

• verificar a estrutura do ativo e passivo circulante, sua influência no capital


de giro;

• estabelecer a necessidade de capital de giro;

• conhecer algumas modalidades de incorporações, tais como arrendamen-


to, fusões e aquisições;

• conhecer a história e estrutura do SFN – Sistema Financeiro Nacional;

• analisar os riscos, investimentos e financiamentos de curto prazo.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos e no final de cada um deles
você encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado, na compreen-
são dos temas abordados.

TÓPICO 1 – GESTÃO BASEADA EM VALOR

TÓPICO 2 – CAPITAL DE GIRO

TÓPICO 3 – INCORPORAÇÕES E FALÊNCIAS

TÓPICO 4 – SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E GESTÃO FINANCEIRA


INTERNACIONAL

129
130
UNIDADE 3
TÓPICO 1

GESTÃO BASEADA EM VALOR

1 INTRODUÇÃO
Em diversos tópicos deste caderno estudamos que o dono do capital estabelece
percentuais mínimos de retorno ao investir um montante de dinheiro numa empresa.

O gestor financeiro tem o papel fundamental de gerar valor e criar riqueza


para a empresa, a fim de que os donos do capital obtenham, no mínimo, o retorno
exigido. Ao superar esta taxa mínima, o gestor estará criando valor, enquanto
que, ao não alcançar esta taxa, estará destruindo valor.

Para agregar valor é necessário avaliar a eficiência operacional, a eficiência


financeira, o crescimento rentável e a racionalização do capital.

Este primeiro tópico ensina a calcular o valor econômico agregado (EVA),


permitindo a análise da situação de agregação ou destruição de valor.

2 CRIAÇÃO DE VALOR E CUSTO DE OPORTUNIDADE


Na primeira unidade deste caderno estudamos que as empresas necessitam
realizar o registro de todas as situações patrimoniais, financeiras e econômicas da
empresa, adotando o Regime de Competência. Este trabalho do contador está baseado
no que ocorreu (passado), limitando-o a projetar algumas tendências da empresa.

O administrador gestor financeiro tem um papel fundamental para gerar


valor e riqueza para a organização, pois analisa o presente e futuro do fluxo de
caixa, participando das previsões e decisões da organização, considerando o
regime de caixa. Participa ativamente nas decisões que procuram maximizar o
valor da organização.

131
UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

Recorrendo ao exemplo da camisaria, apresenta-se um DRE por regime


de competência e outro por regime de caixa, considerando algumas variáveis:

- Compra de camisetas: R$ 84.000,00, tendo pago 80% em 2010.


- Venda de camisetas: R$ 120.000,00, tendo recebido 70% em 2010.

QUADRO 64 – DRE REGIME DE COMPETÊNCIA x REGIME DE CAIXA


Demonstração de Resultados
Regime de Competência Regime de Caixa
(=) ROB 120.000,00 (=) Recebimento das vendas 84.000,00
(-) Impostos (10%) 12.000,00 (-) Impostos 12.000,00
(=) ROL 108.000,00 (=) ROL 72.000,00
(-) CMV 84.000,00 (-) CMV 67.200,00
(=) Lucro bruto 24.000,00 (=) Lucro bruto 4.800,00
(-) Despesas administrativas 6.000,00 (-) Despesas administrativas 6.000,00
(-) Despesas com pessoal 15.600,00 (-) Despesas com pessoal 15.600,00
(=) Lucro operacional 2.400,00 (=) Lucro operacional (16.800,00)

FONTE: O autor

O quadro anterior ilustra que contabilmente, ou seja, no regime de


competência, demonstra-se o lucro operacional da organização; enquanto que ao
gestor financeiro permanecem as necessidades de caixa para cobrir as despesas
administrativas e com pessoal.

Observe que a empresa faturou R$ 120.000,00, mas recebeu apenas R$


84.000,00 e não foi considerada a inadimplência neste exemplo. Os impostos
continuam sendo calculados sobre o faturamento e pagos integralmente,
independente do recebimento dos clientes. E por aí vão as diferenças.

ATENCAO

Lembre-se da diferença entre o regime de competência e o regime de caixa,


para acertar nas suas decisões financeiras.

Geralmente o investidor – dono do capital – tem mais de uma alternativa


para aplicar o seu dinheiro. Ao optar por uma, acaba renunciando ao lucro das
demais de mesmo risco. Obviamente que nesta escolha é avaliado o custo de
oportunidade, que precisa considerar os investimentos ou oportunidades que
apresentam riscos semelhantes.

132
TÓPICO 1 | GESTÃO BASEADA EM VALOR

Não se pode comparar a taxa de retorno de duas alternativas que


apresentam o mesmo valor a ser investido, sendo uma com risco e outra sem
risco. Obviamente,que se vai optar pela de menor risco.

Da mesma forma que o investidor decide por uma oportunidade dentre


as alternativas apresentadas, também vive o conflito do valor da organização e
do seu lucro:

- Imagine que a camisaria esteja avaliada em R$ 300.000,00 e apresenta um


lucro operacional de R$ 30.000,00. Neste caso, o retorno é de 10% (30.000,00 /
300.000,00). O lucro operacional demonstrado é de R$ 30.000,00, mas o valor
da empresa para mais de R$ 300.000,00 vai diminuir o percentual de retorno,
assim como um valor menor da empresa com o mesmo lucro operacional vai
aumentar o percentual de retorno.

- Se o valor da empresa for de R$ 330.000,00 com lucro operacional de R$


30.000,00, o retorno é de 9,09% (30000,00 / 330000,00). Caso o valor da empresa
seja de R$ 270.000,00, com o mesmo lucro operacional, o seu retorno representa
11,11% (30000,00 / 270000,00).

- Se para os investidores a rentabilidade exigida é de 15%, a empresa avaliada


em R$ 300.000,00 deveria estar gerando um lucro operacional de R$ 45.000,00
(45000,00 / 300000,00). Como o lucro operacional é de R$ 30.000,00 e a
rentabilidade exigida é de 15%, então a empresa poderia valer no máximo R$
200.000,00 (200000,00 / 30000,00).

Há um conflito entre os lucros positivos e o valor de mercado.

3 RESULTADO OPERACIONAL E EFEITO DO IR


Como estudamos na Unidade 1, a partir do lucro operacional é que
deduzimos as despesas financeiras, que compreendem os juros sobre o passivo
(empréstimos e financiamentos).

A legislação brasileira considera o lucro operacional após o desconto das


despesas financeiras, ou seja, são consideradas despesas operacionais da empresa. O
quadro a seguir compara as duas situações, no qual vamos avaliar os impactos sobre
a remuneração aos donos do capital e o impacto sobre o Imposto de Renda (IR).

133
UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

QUADRO 65 – RESULTADO OPERACIONAL E EFEITO DO IR


Modelo Tradicional Modelo Ajustado
(=) ROB 120.000,00 (=) ROB 120.000,00
(-) Impostos 12.000,00 (-) Impostos 12.000,00
(=) ROL 108.000,00 (=) ROL 108.000,00
(-) CMV 84.000,00 (-) CMV 84.000,00
(=) Lucro Bruto 24.000,00 (=) Lucro bruto 24.000,00
(-) Despesas administrativas 6.000,00 (-) Despesas administrativas 6.000,00
(-) Despesas com pessoal 15.600,00 (-) Despesas com pessoal 15.600,00
(-) Despesas financeiras 250,00 (=) Lucro operacional antes IR 2.400,00
(=) Lucro operacional antes IR 2.150,00 (-) Provisão IR (30%) 720,00
(-) Provisão IR (30%) 645,00 (=) Lucro operacional após IR 1.680,00
(-) Despesa financeira antes IR 175,00
(250,00) – Economia do IR (720,00
– 645,00 = 75,00)
(=) Lucro líquido 1.505,00 (=) Lucro líquido 1.505,00
FONTE: O autor

Do quadro anterior, no modelo tradicional, a empresa conta com capital


de terceiros, aferindo um lucro operacional menor, bem como uma provisão
menor de IR.

E
IMPORTANT

Sobre as despesas com capital de terceiros não há incidência de IR.

Já o modelo ajustado, que é apenas gerencial, revela o uso de capital


próprio, sem capital de terceiros, impactando num lucro operacional maior,
consequentemente, numa provisão de IR maior.

Se, do quadro anterior, no modelo tradicional, a empresa não tiver despesas


financeiras, terá o lucro operacional de R$ 2.400,00 e, consequentemente, a sua
provisão de IR será dos mesmos R$ 720,00.

O financiamento próprio não é considerado gasto, portanto, não tem


redução de Imposto da Renda.

4 EVA
A sigla EVA, do inglês Economic Value Added – significa Valor
Econômico Agregado: é uma metodologia de trabalho na qual a contabilidade

134
TÓPICO 1 | GESTÃO BASEADA EM VALOR

financeira passou a reconhecer a rentabilidade sobre capitais próprios, a juros de


TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), de acordo com a Lei 9.249/95.

Ao utilizar a metodologia EVA, o gestor financeiro age como se fosse


acionista, com o objetivo de obter mais retorno que o custo do capital. Como
vimos nos exemplos anteriores, o custo do capital de terceiros é apresentado nas
despesas financeiras, enquanto que o custo do capital próprio fica omitido.

Por se tratar de uma medida de desempenho, para mensurar o quanto de


valor está sendo criado ou destruído pela empresa, a fórmula de cálculo parte
do princípio de que o capital investido no negócio deve ser remunerado acima
do seu custo. A implantação da metodologia EVA proporciona alguns benefícios
para a empresa:

• Os objetivos da empresa são definidos de forma clara, objetiva, consistente e,


principalmente, quantificável.
• Define uma taxa mínima de retorno a ser exigida nos atuais e em novos projetos.
• Evidencia questões como estrutura de capital, custo de capital de terceiros,
custo de capital próprio, política de dividendos, custo de manutenção de ativos
não operacionais.

Para elevar o valor econômico agregado (EVA) de uma empresa, quatro


aspectos precisam ser considerados:

Eficiência Operacional: reduzir os custos para aumentar o resultado operacional


líquido, operar de modo mais eficiente para garantir um retorno maior sobre o
capital investido pelos donos.

Eficiência Financeira: realizar investimentos nos quais o resultado líquido seja


maior que o aumento de encargos de capital; ou seja, investir em projetos cujo valor
presente seja positivo.

Crescimento Rentável: investir em ativos e atividades que estejam gerando


retornos iguais ou maiores do que o custo do capital.

Racionalização do Capital: estruturar as finanças da empresa de forma que


reduzam o custo do capital.

NOTA

EVA é o Lucro após o Imposto de Renda (IR), menos o custo total do capital.

135
UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

5 CÁLCULO DO EVA
Para determinar o EVA é necessário apurar o custo total do capital
empregado, sendo que o capital de terceiros aparece nas demonstrações de
resultado como despesas financeiras e o capital próprio não aparece nos
resultados. O EVA pode ser calculado com base em resultados realizados, bem
como pode ser projetado.

Para calcular o EVA com base no passado é necessário:

• Ajustar a estrutura patrimonial pelos ativos não operacionais.


• Calcular o lucro operacional.
• Calcular o CMPC (Custo Médio Ponderado do Capital), estudado na Unidade 2.
• Determinar o EVA (Lucro Operacional – Custo de Capital de Terceiros – Custo
do Capital Próprio).

Já para projetar o EVA projetado é necessário:

• Calcular o ativo operacional líquido, ou seja, o capital aplicado no investimento.


• Calcular o CMPC.
• Calcular o lucro operacional projetado.
• Determinar o EVA (subtraindo do lucro operacional projetado o custo de
capital total).

Fórmula: EVA = Lucro Líquido – Custo do Capital (Terceiro e Próprio)

UNI

Vamos exemplificar: se os capitais aplicados num negócio são da ordem de R$


100.000,00, com o custo destes capitais de 20%, espera-se um retorno de R$ 20.000,00. Se o
lucro apurado for de R$ 25.000,00, seu EVA será de R$ 5.000,00, significando que foi agregado
valor em mais R$ 5.000,00.

A estrutura básica de cálculo do EVA é apresentada no quadro a seguir:

QUADRO 66 – ESTRUTURA BÁSICA DE CÁLCULO DO EVA


(=) Lucro operacional após o IR R$ 0,00
(-) CMPC (CMPC Investimento) R$ 0,00
(=) EVA (Valor Econômico Agregado) R$ 0,00
FONTE: O autor

136
TÓPICO 1 | GESTÃO BASEADA EM VALOR

O CMPC apura o custo de todos os capitais e seus dados podem ser


extraídos a partir do balanço patrimonial, conforme é ilustrado a seguir:

QUADRO 67 – BALANÇO PATRIMONIAL


ATIVO PASSIVO
Ativo operacional 10.000,00 Passivo operacional 2.000,00
Capitais de terceiros 4.000,00
Capitais próprios 4.000,00
Total do ativo 10.000,00 Total do passivo 10.000,00
FONTE: O autor

O ativo operacional representa os investimentos necessários para que


a empresa consiga gerar receitas: caixa, contas a receber, estoques, máquinas,
equipamentos, veículos, construções, etc.

Já o passivo operacional representa os passivos não onerosos, ou seja,


os de funcionamento. São aqueles que não provocam encargos financeiros, se
liquidados nos prazos concedidos por: fornecedores, impostos a recolher, salários
a pagar, encargos sociais a recolher etc.

O quadro a seguir acrescenta o ativo operacional líquido, que representa


a diferença entre o ativo operacional e o passivo operacional.

QUADRO 68 – BALANÇO PATRIMONIAL


ATIVO PASSIVO
Ativo operacional líquido 8.000,00 Capitais de terceiros 4.000,00
Capitais próprios 4.000,00
Total do ativo 8.000,00 Total do passivo 8.000,00
FONTE: O autor

Do quadro anterior, o Ativo Operacional Líquido (AOL) é de R$ 8.000,00,


sendo, R$ 4.000,00 com capitais de terceiros e R$ 4.000,00 de capitais próprios.
Neste caso, o retorno obtido pelo AOL deverá ser pelo menos o CMPC. O CMPC
serve para estabelecer o retorno mínimo a ser obtido pelo AOL.

CMPC Bruto = (Capital Próprio x Custo do Capital Próprio + Capital de Terceiros x Custo de
Capital) / (Capital Total)
CMPC Bruto = ((4.000*0,18)+(4.000*0,12))/8.000 = 15,00% 1200

CMPC Líquido = (Capital Próprio x Custo do Capital Próprio + Capital de Terceiros x Custo de
Capital x (1-Alíquota do Imposto de Renda)) / (Capital Total)
CMPC Líquido = ((4.000*0,18)+(4.000*0,12)*(1-0,30))/8.000 = 13,20% 1056

137
UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

A diferença entre a taxa do CMPC Bruto e a taxa do CMPC Líquido é o


Imposto de Renda (IR). Para o CMPC Bruto, o Lucro Operacional é de R$1.200,00
 (8.000 x 15%) e para o CMPC Líquido, o Lucro Operacional após o IR é de R$
1.056  1.200 – 144  144 = 4.000 x 0,12 = 480  480 x 30% (Imposto da Renda).

UNI

Na Unidade 2 deste caderno você já aprendeu a calcular o CMPC (Custo Médio


Ponderado de Capital).

Considerando o AOL de R$ 8.000,00 e com um CMPC líquido de 10,50%,


precisamos ter um lucro líquido de R$ 840,00 para o nosso ponto de equilíbrio, ou
seja, EVA zero reflete num Retorno sobre o Ativo Operacional Líquido (RAOL)
de 10,50% (840/8000), contra um CMPC também de 10,50% (840/8000).

Este resultado de R$ 840,00 representa um limite, do qual: acima dos R$ 840,00


encontramos os gastos da operação: matéria-prima, energia elétrica, propaganda,
folha de pagamento etc. Já abaixo do lucro de R$ 840,00 encontramos os gastos com a
estrutura de capital de terceiros (R$ 336,00) e do capital próprio (R$ 504,00).

Para criar estratégias para a criação de valor, podemos elevar a receita e/


ou reduzir gastos operacionais. A seguir, temos o cálculo da demonstração dos
resultados em três cenários (A, B e C):

QUADRO 69 – DRE
A B C
(=) Lucro operacional 1.440,00 1.200,00 960,00
(-) Imposto de Renda (30%) 432,00 360,00 288,00
(=) Lucro operacional após IR e antes dos juros 1.008,00 840,00 672,00
(-) Juros / custo capital terceiros antes do IR (480 – 144 de 336,00 336,00 336,00
economia do IR)
(=) Lucro líquido após o IR 672,00 504,00 336,00
(-) Custo de capital próprio 504,00 504,00 504,00
(=) EVA 168,00 0,00 (168,00)

FONTE: O autor

O cenário A revela um aumento no lucro operacional, resultante do aumento


da receita e/ou redução dos custos, que, ao final, revela R$ 168,00 de valor econômico
agregado (EVA). Enquanto que no cenário C temos uma redução no lucro operacional,
consequentemente, uma destruição de R$ 168,00 do valor econômico agregado (EVA).

138
TÓPICO 1 | GESTÃO BASEADA EM VALOR

Outra possibilidade para agregar valor está na redução dos custos com a
estrutura de capital, que poderá seguir uma das estratégias a seguir:

• Redução dos custos com capitais de terceiros com a seleção de melhores fontes de
financiamento que apresente maior prazo (longo prazo) e menores taxas de juros.

• Reduzir o custo do capital próprio a limites mais baixos de retorno.

• Trabalhar melhor a composição entre o capital de terceiros e capital próprio,


captando mais recursos onde o custo é menor.

• Reduzir o ativo operacional para reduzir a necessidade de fontes de


financiamento, a exemplo dos estoques.

UNI

O gestor financeiro precisa encontrar uma maneira de gerar valor econômico


agregado (EVA).

Neste caso, vamos recompor a estrutura de capital, fazendo com que o


capital de terceiros represente a importância de R$ 6.000,00 e o capital próprio
a importância de R$ 2.000,00. O capital de terceiros custa menos que o capital
próprio. No quadro a seguir, atualizamos as demonstrações:

QUADRO 70 – BALANÇO PATRIMONIAL


ATIVO PASSIVO
Ativo operacional líquido 8.000,00 Capitais de terceiros 6.000,00
Capitais próprios 2.000,00
Total do ativo 8.000,00 Total do passivo 8.000,00

FONTE: O autor

Vamos calcular um novo CMPC:

CMPC bruto = ((6000 * 0,12) + (2000 * 0,18)) / 8000 = 13,50%.


CMPC líquido = (((6000 * (0,12 * (1 – 0,30))) + ((2000 * (0,18 * (1 – 0,30)))) / 8000 = 9,45%.

139
UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

QUADRO 71 – DRE
A B C
(=) Lucro operacional 1.440,00 1.200,00 960,00
(-) Imposto de Renda (30%) 432,00 360,00 288,00
(=) Lucro operacional após IR e antes dos juros 1.008,00 840,00 672,00
(-) Juros / custo capital terceiros antes do IR (720 – 216 504,00 504,00 504,00
de economia do IR)
(=) Lucro líquido após o IR 504,00 336,00 168,00
(-) Custo de capital próprio 252,00 252,00 252,00
(=) EVA 252,00 84,00 (84,00)
FONTE: O autor

Da ilustração acima, apenas mudamos a estrutura de capital, que não


interfere nas vendas, consequentemente não altera o lucro operacional. O custo
do capital de terceiros de 12% não sofre alterações, evidentemente que o valor
absoluto bruto passa de R$ 480,00 para R$ 720,00, pois se capta R$ 2.000,00 a mais
com terceiros.

Da mesma forma, o custo do capital próprio também não sofre alteração


dos seus 18%, mas o valor absoluto bruto diminui de R$ 720,00 para R$ 252,00;
decorrente de comprometer menos capital próprio.

Antes o custo total bruto de capital somava a importância de R$ 1.200,00


e no caso acima representa a importância de R$ 972,00. Este último exemplo
novamente demonstra que o capital tem custo: o capital de terceiros na forma de
juros pagos pelos empréstimos e financiamentos, enquanto que o capital próprio,
através de uma taxa de remuneração mínima esperada pelos donos deste capital.

6 RESUMO DAS DEMONSTRAÇÕES DE RESULTADO


Para facilitar a análise dos resultados, as demonstrações podem ser
resumidas da seguinte forma:

QUADRO 72 – RESUMO DAS DEMONSTRAÇÕES DE RESULTADO


A B C
(=) LO (Lucro Operacional, depois do IR) 1.008,00 840,00 672,00
(-) GEC (Gastos com Estrutura de Capital) 840,00 840,00 840,00
(=) EVA 168,00 0,00 (168,00)
Análise da situação Boa, Equilíbrio, Ruim,
pois LO > GEC pois LO = GEC pois LO < GEC
FONTE: O autor

140
TÓPICO 1 | GESTÃO BASEADA EM VALOR

EVA é o valor que a empresa agrega após ter remunerado o capital de


terceiros e o capital próprio, capitais estes que estão financiando a empresa, logo:

• EVA = 0: o dono do capital está obtendo o retorno mínimo do esperado.

Para calcular o EVA = 0, você tem que fazer os seguintes passos:

1 Encontrar a taxa do CMPC (Custo Médio Ponderado do Capital) considerando


o IR (Imposto da Renda)  CMPC (Custo Médio Ponderado do Capital)
(1 - IR)

2 Encontrar o Lucro Operacional Referencial para que o EVA seja igual a 0,00:
CMPC (Custo Médio Ponderado do Capital)
(1 - IR)

• EVA > 0: há criação de valor, o dono do capital está obtendo retorno acima do
esperado.

• EVA < 0: há destruição de valor, o dono está obtendo retorno menor que o
esperado ou não está obtendo retorno.

UNI

Para apurar o EVA considera-se o lucro operacional após o IR e antes dos juros
de capital de terceiro e próprio e o CMPC líquido (depois de calculado o benefício fiscal).

LEITURA COMPLEMENTAR

A VEZ DA PERIFERIA
Luciene Antunes

Agora é o Banco Mundial que prevê a ascensão dos emergentes até 2025 – mas,
para o Brasil cumprir a sua parte da profecia, o governo terá de sair do imobilismo.

Desde a saída do francês Dominique Strauss-Kahn do FMI, esquentou a


disputa sobre quem deve sucedê-lo. A regra que prevalece desde o final da Segunda
Guerra Mundial – um americano no comando do Banco Mundial e um europeu no
FMI – foi colocada em xeque. Para os países emergentes, esse é um arranjo que não
traduz mais o mundo, um mundo em que a periferia tem mais força a cada dia.
Não está claro ainda quem sentará na cadeira que foi de Strauss-Kahn, mas o certo
é que os conceitos de centro e periferia nunca estiveram tão sobrepostos.

141
UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

O último a chancelar essa impressão foi – quanta ironia! - o próprio


Banco Mundial. Em seu último relatório anual, batizado de Horizontes para
o Desenvolvimento Global, Justin Yifu Lin, o economista-chefe do banco, é
categórico ao prever que, em 2025, Brasil, Rússia, Índia, Indonésia, China e Coreia
do Sul – os países do Briick, na expressão em inglês – vão responder por mais de
50% do crescimento mundial. Juntos, os emergentes, numa versão estendida da
já tradicional sigla, Briick, terão o mesmo peso dos países da zona do euro, moeda
que, ao lado do iuane, fará frente ao dólar.

Adivinhação? Não exatamente. O que o Banco Mundial faz é apostar na


manutenção da tendência atual. Em 1990, os países do Briick respondiam por 6,5%
do PIB mundial. Duas décadas depois, com a ajuda do efeito devastador da última
crise mundial nos países ricos, o percentual era de 18%. “Somos testemunhas
oculares da mudança na distribuição de renda e riqueza entre os países”, diz o
americano Kenneth J. Arrow, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1972.
“Definitivamente, estamos assistindo a grandes transformações na economia
global”, diz Tyler Cowen, professor de Economia na Universidade George Mason
e, recentemente, eleito um dos economistas mais influentes dos Estados Unidos.

No relatório, o Banco Mundial parte do pressuposto de que as principais


economias emergentes vão continuar avançando num ritmo anual mais elevado
do que as desenvolvidas, o que faz sentido devido ao crescimento populacional e
da classe média nesses países. Mas o relatório dá um passo mais ousado e estima
o ritmo dessa expansão. Prevê, para os próximos 15 anos, um crescimento médio
anual de 4,7% nos países do Briick, ante 2,3% nas nações mais desenvolvidas.

DESAFIOS

Para fazer jus à profecia, os países emergentes terão de galgar vários


obstáculos, reconhece o próprio estudo. “As perspectivas são boas, mas, para
manter o bom momento econômico e se consolidar como verdadeiros polos de
desenvolvimento, as economias emergentes, como o Brasil, deverão realizar
mudanças estruturais”, disse Justin Yifu Lin, autor de Horizontes para o
Desenvolvimento Global, ao apresentá-lo em Washington em meados de maio.
“Como boa parte do crescimento dos emergentes tem origem na demanda
interna, é necessário seguir com políticas que fortaleçam a ascensão social e a
educação do povo.”

Embora não mencione, Lin cita algumas das questões analisadas em 2022:
Propostas para um Brasil Melhor no ano Bicentenário, livro recém-lançado pelos
economistas Fabio Giambiagi e Claudio Porto. Na lista dos principais gargalos,
além da baixa qualidade da educação, está a infraestrutura deficitária. “O Brasil
está diante de uma janela de oportunidade histórica para alcançar padrões de
países de Primeiro Mundo. Mas não basta se deixar levar ao sabor da maré”,
diz Claudio Porto, presidente da consultoria de negócios Macroplan. O indiano
Vinod Thomas, ex-número 1 do Banco Mundial no Brasil e atual diretor-geral do
Grupo de Avaliação Independente, braço responsável pela avaliação de projetos

142
TÓPICO 1 | GESTÃO BASEADA EM VALOR

da mesma entidade, analisou comparativamente as vantagens e os pontos fracos


de cada um dos principais países emergentes. O pano de fundo de sua análise é a
compreensão de que, embora sejam tratados como bloco, os países do Briick são
também competidores entre si. Sua conclusão é que, no médio prazo, nenhum
outro país reúne melhores condições para manter o ritmo atual de crescimento do
que o Brasil. Temos vastas quantidades de terras cultiváveis e vamos muito bem
nas questões relacionadas à sustentabilidade ambiental, que pautarão fortemente
a agenda de desenvolvimento nos próximos anos.

Somos também uma democracia, o que pode ajudar na coesão social


necessária ao desenvolvimento. Os asiáticos, por sua vez, estão melhores em termos
de crescimento e, especialmente, investimento – uma área ainda crítica em nosso
país. No geral, o Brasil se sai bem e surge como um potencial líder dos emergentes.
O futuro, claro, está por ser construído, e projeções podem ou não se concretizar.
Mas o fato é que nunca tivemos tantas chances de dar certo como agora.

FONTE: Revista EXAME. Edição 993 – Ano 45 – n. 10 – 01/06/2011 – p. 54-56.

143
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste primeiro tópico da última unidade abordamos:

• É preciso compreender as diferenças na demonstração dos dados entre o


regime de competência e o regime de caixa, para não tomar decisões erradas.

• Além de decidir por uma oportunidade, também é necessário avaliar o valor


da organização e seu lucro. Há um conflito entre os lucros positivos e o valor
de mercado.

• As despesas financeiras com capital de terceiros não têm impacto sobre o IR,
pois são descontadas antes do lucro operacional.

• A sigla EVA, do inglês Economic Value Added – significa Valor Econômico


Agregado: é uma metodologia de trabalho na qual a contabilidade financeira
passou a reconhecer a rentabilidade sobre capitais próprios, a juros de TJLP
(Taxa de Juros de Longo Prazo), de acordo com a Lei nº 9.249/95.

• Para elevar o EVA de uma empresa é necessário considerar: a eficiência


operacional, a eficiência financeira, o crescimento rentável e a racionalização
do capital.

• Para calcular o EVA com base no passado é necessário ajustar a estrutura


patrimonial pelos ativos não operacionais, calcular o lucro operacional, calcular
o CMPC.

• Para projetar o EVA é necessário calcular o ativo operacional líquido, calcular


o CMPC, calcular o lucro operacional projetado.

• EVA=0 significa que o dono do capital está obtendo o retorno mínimo esperado.

• EVA>0 significa que há criação de valor, ou seja, o dono do capital está obtendo
retorno acima do esperado.

• EVA<0 significa que não há criação de valor, ou seja, o dono do capital está
obtendo retorno menor que o esperado ou não está obtendo retorno.

144
AUTOATIVIDADE

Responda às questões a seguir para fixar os conhecimentos:

1 Qual a diferença entre as demonstrações no regime de competência e o


regime de caixa?

2 Qual o retorno de uma empresa avaliada em R$ 30.000,00, que apresenta um


lucro operacional de R$ 6.000,00?

3 Uma empresa que apresenta o lucro operacional de R$ 10.000,00 tem o seu


valor em R$ 100.000,00. Qual seria o valor desta empresa mantendo o lucro
operacional de R$ 10.000,00, considerando uma taxa de retorno de 16%?

4 Complete as sentenças a seguir:

a) A legislação brasileira considera o ____________ ____________ após o


desconto das despesas financeiras, ou seja, são consideradas despesas
operacionais da empresa e não tem a incidência do ____________ de
____________, sabendo-se que os juros já foram pagos.
b) EVA é uma ____________ de trabalho, na qual a ____________ ____________
passou a reconhecer a ____________ sobre capitais próprios, de acordo com
a Lei 9.249/95.
c) EVA é uma ____________ de desempenho que vai mensurar o quanto de
valor está sendo ____________ ou ____________ pela empresa.

5 Do quadro a seguir, preencha o modelo ajustado para fins de análise do


impacto do IR.

Modelo Tradicional Modelo Ajustado


(=) ROB 144.000,00 (=) ROB
(-) Impostos (10%) 14.400,00 (-) Impostos (10%)
(=) ROL 129.600,00 (=) ROL
(-) CMV 94.000,00 (-) CMV
(=) Lucro bruto 35.600,00 (=) Lucro bruto
(-) Despesas administrativas 9.000,00 (-) Despesas administrativas
(-) Despesas com pessoal 20.600,00 (-) Despesas com pessoal
(-) Despesas financeiras 500,00 (=) Lucro operacional antes IR
(=) Lucro operacional antes IR 5.500,00 (-) Provisão IR (30%)
(-) Provisão IR (30%) 1.650,00 (=) Lucro operacional após IR
(-) Despesa financeira antes IR –
Economia do IR
(=) Lucro líquido 3.850,00 (=) Lucro líquido

145
6 Agora, suponhamos que a empresa não tenha despesas financeiras. Conclua
o cálculo no modelo tradicional, no modelo ajustado e aponte as diferenças
no lucro operacional, provisão de IR e lucro líquido.

Modelo Tradicional Modelo Ajustado


(=) ROB 144.000,00 (=) ROB
(-) Impostos (10%) 14.400,00 (-) Impostos (10%)
(=) ROL 129.600,00 (=) ROL
(-) CMV 94.000,00 (-) CMV
(=) Lucro bruto 35.600,00 (=) Lucro bruto
(-) Despesas administrativas 9.000,00 (-) Despesas administrativas
(-) Despesas com pessoal 20.600,00 (-) Despesas com pessoal
(-) Despesas financeiras 0,00 (=) Lucro operacional antes IR
(=) Lucro operacional antes IR (-) Provisão IR (30%)
(-) Provisão IR (30%) (=) Lucro operacional após IR
(-) Despesa financeira antes IR –
Economia do IR
(=) Lucro líquido (=) Lucro líquido

7 Explique os quatro aspectos que precisam ser considerados para elevar o


EVA de uma empresa.

8 Seguindo a estrutura da demonstração do Quadro 69, calcule EVA = 0, ou


seja, o ponto de equilíbrio, considerando:

a) Ativo operacional líquido ou capital investido = R$ 30.000,00.


b) Capital próprio ao custo de 20% a.a. = R$ 20.000,00.
c) Capital de terceiros ao custo de 15% a.a. = R$ 20.000,00.
d) Alíquota de IR (Imposto de Renda) = 30%.

9 Partindo dos resultados do quadro da questão anterior (questão 8), faça


uma projeção do EVA, considerando um aumento nas receitas e/ou redução
dos custos que representa uma variação positiva e negativa de 15% no lucro
operacional. Veja qual foi a agregação e destruição de valor.

10 Outra possibilidade de agregar valor está na redução com os custos da


estrutura de capital. Refaça as questões 8 e 9, mantendo o ativo operacional
líquido, a alíquota de IR e o lucro operacional calculado. Apenas considere
a nova estrutura de capital:

a) Capital próprio ao custo de 20% a.a. = R$ 8.000,00.


b) Capital de terceiros ao custo de 16% a.a. = R$ 32.000,00.

11 Considerando o EVA, em que situação pode-se afirmar que o dono do


capital está obtendo o retorno mínimo esperado? Em que situações há
criação de valor e destruição de valor?

146
UNIDADE 3
TÓPICO 2
CAPITAL DE GIRO

1 INTRODUÇÃO
Esta é uma das expressões bastante ouvidas na Gestão Financeira e muitas
empresas desconhecem o seu “capital de giro”, que será abordado neste segundo
tópico desta última unidade do caderno.

Os ativos e passivos circulantes estão diretamente relacionados ao capital


de giro, contribuindo para estabelecer a sua necessidade de capital de giro.

Muitas vezes, as pessoas conseguem reunir o capital para iniciar um


empreendimento e logo nos primeiros meses ou anos de atividade enfrentam
dificuldades de mantê-lo, em função da necessidade de mais capital para o giro
de suas atividades.

O mesmo também ocorre em empresas que já estão em atividade há algum


tempo e algumas decisões tomadas podem levá-la a uma necessidade maior de
capital de giro.

Então, vamos lá, conhecer um pouco sobre estas ações de curto prazo na
Gestão Financeira.

2 ATIVOS CIRCULANTES
Ao revisar alguns elementos contábeis, na primeira unidade deste caderno
demonstramos que a empresa possui os seus ativos, compreendendo os bens e
direitos. A ordenação contábil das contas do ativo começa com as que apresentam
maior liquidez até as de menor liquidez. O quadro a seguir relembra estas contas:

147
UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

QUADRO 73 – CONTAS DO ATIVO


ATIVOS
Ativos circulantes
Caixa 232,00
Aplicações financeiras 1.050,00
Contas a receber 7.500,00
Estoques 9.800,00
Total dos ativos circulantes 18.582,00
Ativos permanentes (ao custo)
Terrenos e edificações 25.200,00
Máquinas e equipamentos 3.950,00
Móveis e utensílios 1.890,00
Veículos 0,00
Total dos ativos permanentes 31.040,00
Depreciação acumulada 10.010,00
Ativos permanentes líquidos 21.030,00
TOTAL DOS ATIVOS 39.612,00
FONTE: O autor

Destas contas, vamos prestar atenção nas contas que compõem o ativo
circulante. Elas são alimentadas pelos eventos de curto prazo e vão expressar a
disponibilidade para o pagamento das contas de curto prazo.

Observe que temos R$ 232,00 em caixa e R$ 1.050,00 nas aplicações,


totalizando R$ 1.282,00, que podemos resgatar para o pagamento de alguma conta.
Qualquer conta superior a R$ 1.282,00 nos obrigará a recorrer às contas a receber.

• Destas contas a receber: os títulos, duplicatas, cheques com vencimento futuro


(curto prazo) deverão ser descontados com alguma instituição financeira
para que possamos ter dinheiro à vista para o pagamento das contas. Se os
R$ 7.500,00 são recebíveis em 30 dias e a taxa cobrada pelo banco é de 3%,
poderíamos contar com R$ 7.275,00 líquidos em caixa.

• Adicionando, agora, aos R$ 1.282,00 as contas a receber descontadas (R$


7.275,00), temos o montante de R$ 8.557,00 para o pagamento das contas.
Mas não para por aí, ainda temos um estoque de mercadorias que pode ser
vendido, gerando contas a receber, e ao descontar também representa capital
disponível à vista. Está ficando um pouco mais complexo, mas todas estas ações
se resolvem no curto prazo (dentro de um ano). O total do ativo circulante
demonstrado no quadro anterior não está expresso em valor presente líquido,
mas sua variação é pequena.

• É necessário avaliar as variações dos ativos circulantes, e para isso vamos dividi-
lo pelo total do ativo. Do quadro anterior temos o seguinte resultado: 18.582 /
39.612 = 0,4691 ou 46,91%. O quadro a seguir explica a variação deste quociente:

148
TÓPICO 2 | CAPITAL DE GIRO

QUADRO 74 - VARIAÇÃO DOS ATIVOS CIRCULANTES SOBRE LUCRO E RISCO


Quociente Variação do quociente Efeito sobre o lucro Efeito sobre o risco
Ativos circulantes Aumento Diminuição Diminuição
Ativos totais Diminuição Aumento Aumento
FONTE: Adaptado de: Gitman (2003, p. 511)

Nos ativos circulantes avalia-se o ciclo de conversão de caixa, ou seja, o


prazo desde o início do processo de produção ao recebimento de caixa. Calcula-
se CCC (Ciclo de Conversão de Caixa) = IME (Idade Média dos Estoques) + PMR
(Prazo Médio de Recebimento) – PMP (Prazo Médio de Pagamento). CCC = IME
+ PMR - PMP

UNI

Das suas finanças pessoais, como está a sua disponibilidade para o pagamento
das contas de curto prazo? Qual o seu CCC (Ciclo de Conversão de Caixa)?

Segundo Gitman (2003, p. 515), as seguintes estratégias tendem a melhorar


a gestão do ciclo de conversão de caixa:

Girar o estoque com maior velocidade possível, sem faltas que


resultem em vendas perdidas. Assim conseguimos reduzir a IME
(idade média dos estoques) e para isso temos que gerenciar os níveis
de estoques a partir de algumas técnicas, como sistema ABC, modelo
do lote econômico, sistema just-in-time (JIT) e sistema de planejamento
de necessidades de materiais (MRP).

Cobrar as contas a receber com a maior rapidez possível, sem perder


vendas resultantes do uso de técnicas de cobrança muito agressivas.
A tendência de reduzir o PMR (prazo médio de recebimento),
abrangendo a seleção e padrões de crédito, as condições de crédito e o
monitoramento de crédito.

Gerir os tempos de correspondências, processamento e compensação para


reduzi-los ao cobrar dos clientes e aumentá-los ao pagar fornecedores.
Efetuar o pagamento das contas a pagar com maior lentidão possível,
sem prejudicar a classificação de crédito da empresa.

O ativo circulante subdivide-se em:

• Ativo circulante financeiro: compreende as contas que representam dinheiro,


como: caixa, bancos e aplicações financeiras.

• Ativo circulante operacional: compreende as contas que representam a


operação, atividades: contas a receber, estoques, entre outras.

149
UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

3 PASSIVOS CIRCULANTES
Do mesmo modo que avaliamos anteriormente os ativos circulantes, vamos
agora observar as contas do passivo, que expressam os nossos deveres e obrigações.
As contas do passivo circulante destacam as obrigações que temos no curto prazo e
necessitamos de capital para honrá-las, e, neste caso, totaliza R$ 15.859,00.

QUADRO 75 – CONTAS DO PASSIVO

TOTAL DOS PASSIVOS E PL 39.612,00

PASSIVOS E PATRIMÔNIO LÍQUIDO


Passivo circulante
Contas a pagar 8.359,00
Títulos a pagar 3.340,00
Despesas a pagar 4.160,00
Total dos passivos circulantes 15.859,00
Exigível de longo prazo 3.503,00
Total dos passivos 19.362,00
Patrimônio líquido
Capital social 20.250,00
TOTAL DOS PASSIVOS E PL 39.612,00

FONTE: O autor

Do mesmo modo que avaliamos a variação do ativo circulante, também


determinamos a variação do passivo circulante, dividindo o passivo circulante
pelo ativo total, ilustrado no quadro a seguir que adiciona o efeito da variação
deste quociente sobre o lucro e o risco.

QUADRO 76 - VARIAÇÃO DOS PASSIVOS CIRCULANTES SOBRE LUCRO E RISCO


Quociente Variação do quociente Efeito sobre o lucro Efeito sobre o risco
Passivos circulantes Aumento Aumento Aumento
Ativos totais Diminuição Diminuição Diminuição

FONTE: Adaptado de: Gitman (2003, p. 511)

Considerando os dados dos quadros 73 e 75, conseguimos encontrar a


porcentagem dos ativos totais que está sendo financiada por passivos circulantes
de: 15859 / 39612 = 0,4004 ou 40,04%.

É preciso cumprir com o passivo circulante, ou seja, pagar as contas, mas é


preciso decidir entre as fontes comuns de financiamento destas contas de curto prazo:

150
TÓPICO 2 | CAPITAL DE GIRO

• Contas a pagar: precisamos negociar com fornecedores de matéria-prima e


mercadoria para prolongar os pagamentos, sem elevar o custo deste capital de
terceiros; a não ser que o desconto oferecido para pagamento em prazo menor
seja atrativo e não afete o fluxo de caixa.

• Despesas a pagar: as datas para pagamentos a funcionários e governos estão


preestabelecidas e o não cumprimento nestas datas acarreta em multa e juros.

• Notas promissórias, linhas de crédito e acordos de crédito rotativo:


normalmente são fontes de empréstimos sem garantia e todas apresentam uma
taxa (custo do capital).

• Descontos e factoring: representam contas a receber como garantia.

• Alienação de estoques: também representa uma fonte de empréstimo de curto


prazo com garantia.

UNI

Caro(a) acadêmico(a), como está o controle das suas despesas pessoais?


Há determinados compromissos que não conseguimos mudar o seu vencimento, mas é
importante conhecer o custo dos encargos de cada um deles. É como analisar o CMPC
(Custo Médio Ponderado de Capital).

O passivo circulante também está subdividido em:

• Passivo circulante financeiro: compreende as contas relacionadas ao


pagamento de juros: duplicatas descontadas, empréstimos bancários etc.

• Passivo circulante operacional: compreende as contas relacionadas ao


pagamento das contas ligadas à atividade operacional da empresa: água, luz,
telefone, impostos, fornecedores, funcionários, encargos, comissões, entre outras.

4 NECESSIDADES DE CAPITAL DE GIRO


A partir desta breve explanação de ativos e passivos circulantes,
poderemos compreender o capital de giro. O capital que se move entre as contas
do ativo circulante compreende o capital de giro da empresa (ASSAF, 2009).

Este capital de giro irá pagar os empréstimos de curto prazo expressos


no passivo circulante. Alguns autores também classificam o capital de giro como
sendo os recursos que farão a manutenção do ativo e passivo circulante.

151
UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

Nesta situação do capital de giro pagar o passivo circulante, surge o capital


de giro líquido, que representa a diferença entre ativo e passivo circulante. Se o
ativo circulante supera o passivo circulante, temos a indicação de que a empresa
possui capital de giro; caso contrário, tem necessidade de capital de giro.

O Capital de Giro (CDG) também pode ser denominado de Capital


Circulante Líquido (CCL) e, para determiná-lo, subtraímos o passivo circulante
do ativo circulante: CDG = AC – PC.

QUADRO 77 – EMPRESA COM CAPITAL DE GIRO LÍQUIDO POSITIVO


Passivo Circulante
Ativo Circulante PC = R$ 15.859,00
AC = R$ 18.582,00
Exigível a longo prazo
ELP = R$ 3.503,00
Ativo permanente
AP = R$ 21.030,00 Patrimônio líquido
PL = R$ 20.250,00
Total do ATIVO = R$ 39.612,00 Total do PASSIVO e PL = R$ 39.612,00
FONTE: Adaptado de: Assaf (2009, p. 17)

O quadro anterior demonstra o capital de giro líquido positivo da empresa


(18.582,00 - 15.859,00) em R$ 2.723,00.

Poderíamos ter uma situação inversa, com capital de giro líquido negativo;
ou seja, passivo circulante maior que o ativo circulante. Neste caso, a empresa está
usando recursos passivos correntes para financiar seus investimentos permanentes.

Observe o quadro a seguir:

QUADRO 78 – EMPRESA COM CAPITAL DE GIRO LÍQUIDO NEGATIVO


Ativo Circulante
Passivo Circulante
AC = R$ 19.000,00
PC = R$ 23.000,00

Exigível a longo prazo


Ativo permanente ELP = R$ 5.000,00
AP = R$ 29.000,00
Patrimônio líquido
PL = R$ 20.000,00
Total do ATIVO = R$ 48.000,00 Total do PASSIVO e PL = R$ 48.000,00
FONTE: Adaptado de: Assaf (2009, p. 17)

152
TÓPICO 2 | CAPITAL DE GIRO

Do quadro anterior, o ativo circulante de R$ 19.000,00 e o passivo


circulante de R$ 23.000,00 revelam o capital de giro líquido negativo de -(R$
4.000,00). Com este resultado, o nosso ativo circulante não é suficiente para cobrir
o passivo circulante e precisamos de mais capital para o giro, ou seja, aumenta a
nossa NCG (Necessidade de Capital de Giro).

NOTA

Quando há necessidade de capital de giro, é importante avaliar o custo de


cada uma das fontes de capital, reunindo o montante necessário com o menor CMPC (Custo
Médio Ponderado de Capital).

“Empresas com fluxos de caixa bastante previsíveis podem operar com


capital circulante líquido baixo ou até mesmo negativo, como costuma ser o caso
de companhias prestadoras de serviços públicos” (ASSAF, 2009, p. 18).

Para a grande maioria das empresas é necessário um valor de capital de giro


líquido positivo, pois os pagamentos são geralmente previsíveis, enquanto que os
recebimentos tornam-se imprevisíveis. A variação das vendas, da inadimplência,
dos custos, das despesas financeiras, bem como a combinação de dois ou mais
elementos citados, afetam a previsibilidade do capital de giro.

O capital de giro é dividido em Capital de Giro Permanente (CGP) e


Capital de Giro Variável (CGV). O capital de giro permanente é um montante
de dinheiro mínimo que necessitamos ter aplicado no ativo circulante para que a
empresa possa honrar seus compromissos no passivo circulante.

Já o Capital de Giro Variável (CGV) é representado pelas necessidades


adicionais e temporais de recursos, verificadas em determinados períodos e
motivadas por:

• Prazos de recebimento: quanto maior em relação ao prazo de pagamento,


maior a NCG para financiar a venda aos clientes e pagar os fornecedores.

• Prazos de pagamento: quanto maior em relação ao prazo de recebimento,


menor a NCG, pois estamos financiando nossas compras com capital dos
fornecedores e com o recebimento dos clientes.

• Aumento no volume de vendas: dependendo da relação dos prazos médios


de recebimento e pagamento, poderá gerar um aumento na NCG. Muitas
empresas que apresentam um crescimento rápido não conseguem captar todo
o capital de giro necessário para acompanhar este crescimento e correm riscos.

153
UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

• Política de estoques altos: o dinheiro está investido no estoque e se o giro for


baixo, se transforma numa maior NCG.

O quadro a seguir ilustra a variação da necessidade de capital de giro, em


relação aos prazos anteriormente citados:

QUADRO 79 – VARIAÇÃO DA NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO


NCG Condição
Aumenta Maior PMP e/ou Menor PMR
Diminui Menor PMP e/ou Maior PMR
FONTE: O autor

Imagine se a empresa conseguisse comprar as mercadorias para


pagamento a prazo e receber de seus clientes todas as vendas à vista. Desta forma,
não haveria necessidade de capital de giro. Dependendo da atividade, muitas
vezes precisamos comprar, pagar, estocar, produzir, vender para depois receber.

Neste contexto, é necessário considerar o ciclo operacional, o ciclo


financeiro e o ciclo econômico. A figura a seguir ilustra estes ciclos, tendo como
base a indústria:

FIGURA 4 – CICLO OPERACIONAL DA INDÚSTRIA

FONTE: Adaptado de: Assaf (2009)

154
TÓPICO 2 | CAPITAL DE GIRO

Entre cada uma das fases temos um prazo médio. Compramos a matéria-
prima, que é estocada na indústria até o início da fabricação. Muitas vezes, antes
de iniciar a fabricação, a indústria precisa, primeiro, reunir todas as matérias-
primas, das quais algumas são prontamente entregues, enquanto que outras
demoram mais tempo. Neste intervalo, calculamos o prazo médio de estocagem
das matérias-primas. E assim por diante, até o efetivo recebimento das vendas.

Quanto maior for o ciclo operacional, maior será a necessidade de capital


de giro. Assim, a aplicação do sistema Just-in-Time pode reduzir os efeitos dos
prazos médios, implicando menor necessidade de capital de giro, refletindo em
menores custos e permitindo uma maior lucratividade. O sistema Just-in-Time
prevê que o produto ou a matéria-prima chegue ao local de utilização somente no
momento em que for necessário, bem como os produtos somente são produzidos
ou entregues a tempo de serem vendidos ou montados.

Ciclo operacional é a denominação dada ao intervalo de tempo em que a


empresa permanece sem a entrada de recursos dos seus clientes, necessitando de
capital para financiar os seus custos, ou seja, necessita de capital de giro.

O ciclo financeiro avalia o período compreendido entre a primeira


movimentação de caixa, seja pagamento e/ou recebimento, até o recebimento da
venda do produto. Em resumo, o ciclo financeiro mede o intervalo de tempo que
a indústria vai necessitar de recursos para a sua atividade.

Já o ciclo econômico considera o período da compra da matéria-prima até


a venda do produto, não levando em conta os reflexos de caixa da operação, e
sim, econômicos.

Segundo Assaf (2009, p. 22), os ciclos correspondem a:

Ciclo Operacional = PME (Mp) + PMF + PMV + PMC.


Ciclo Financeiro = Ciclo Operacional – PMPF – PMDD.
Ciclo Econômico = Ciclo Operacional – PMC.

Onde:
PME (Mp): Prazo Médio de Estocagem de Matéria-prima.
PMF: Prazo Médio de Fabricação.
PMV: Prazo Médio de Venda, ou também, o prazo médio de estocagem dos
produtos acabados.
PMC: Prazo Médio de Cobrança, ou também, prazo médio de Recebimento.
PMPF: Prazo Médio de Pagamento aos Fornecedores.
PMDD: Prazo Médio de Desconto de Duplicatas.

155
UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

Geralmente, a redução nas vendas desencadeia problemas financeiros, os


quais podem elevar a necessidade de capital de giro. Mas o gerenciamento do
capital de giro vai além dos aspectos financeiros. É necessário considerar aspectos
estratégicos da organização, que apenas quer recuperar a sua lucratividade,
restabelecendo o seu fluxo de caixa.

Isto pode resultar na reestruturação geral da organização, mudando


o negócio como um todo. Pode haver o lançamento de novos produtos e/ou
serviços, bem como a eliminação de alguns. Também pode haver mudanças nos
processos de produção, nas matérias-primas e na própria estrutura de pessoal.

UNI

Empresas vêm se reestruturando a fim de manter a lucratividade.

Uma boa gestão, com a aplicação adequada das tecnologias, tem garantido sucesso a
algumas empresas.

LEITURA COMPLEMENTAR

CAPITAL DE GIRO DEVE SER USADO COM CUIDADO

Quantia deve equivaler a, no mínimo, um terço do valor do aporte inicial na


empresa.

Para garantir crescimento sustentado, uma empresa precisa contemplar,


em seu plano de negócios, percentual relativo ao capital de giro, o qual deve
equivaler a, no mínimo, um terço do valor do investimento inicial. Mas não basta
apenas separar esse recurso. É imprescindível que os empreendedores tenham
sistema eficaz para gerenciar os compromissos financeiros da empresa.

"Não precisar operar com o capital de giro é resultado de plano de negócio


bem desenvolvido. É necessário primeiro criar condições para entrada de recursos.
O investimento em ativos, como reformas ou compra de novos equipamentos,
só deve ser feito sob segurança financeira. É recomendada a administração do
fluxo de caixa, para evitar a utilização do limite do cheque especial ou ter que se
submeter a uma operação bancária, a qual, certamente, terá juros altos", aconselha
Claudia Bittencourt, presidente do Grupo Bittencourt, consultoria especializada
em expansão de redes.

156
TÓPICO 2 | CAPITAL DE GIRO

Observar o mercado, principalmente a concorrência, avaliar os serviços


que estão sendo prestados, perceber se os clientes estão satisfeitos e montar
sistema de avaliação de custos são outras ações importantes para garantir a
lucratividade e, assim, evitar ter que mexer no fundo de reserva. Claudia alerta
que os empresários não devem ceder às tentações ofertadas pelas instituições
bancárias, pois podem prejudicar o negócio. "Utilizar esse recurso só com a
certeza de que haverá cobertura das parcelas acordadas. Mas, se não houver
outro caminho, não estender por muito tempo a dívida", ressalta a executiva.

EMERGÊNCIAS

Na Overboard, loja especializada em surf e streetwear, o capital de giro só


é utilizado em situações emergenciais. O diretor-geral da marca, João Luiz Perez,
explica que todas as transações comerciais e as expansões são feitas com recursos
próprios, sem que haja necessidade de mexer na reserva. "Felizmente, temos
tranquilidade financeira. Depois que acertamos o fluxo de capital e mantivemos
reservas para realizar coleções futuras, conseguimos trabalhar com pagamento
dos fornecedores à vista, o que também nos permite estender prazos para acerto
de contas", destaca ele.

Com oito lojas espalhadas por São Paulo e 17 anos de mercado, a


inauguração de novas unidades sempre envolve forte negociação do estoque,
para garantia do pagamento à vista e não utilização do capital de giro disponível.
"Negociamos prazos maiores de pagamento, o que é importante para se tomar
fôlego. Não somos tomadores de empréstimos. Fazemos a programação de vários
meses, antecipadamente. Assim, independentemente das condições do comércio,
podemos negociar com fornecedor quanto à entrega de mercadorias, retardando
o fornecimento ou diminuindo o estoque em caso de desaquecimento de vendas",
revela o empresário.

EXPANSÃO

Cautela é a palavra-chave da XSITE, quando o assunto é capital de giro.


Dessa forma, a estratégia de crescimento da empresa é baseada na resposta da
clientela. Ricardo Nunes, diretor-geral da marca de moda feminina, explica que,
à medida que a marca ganha mercado, as expansões vão acontecendo. "Nossa
proposta é desenvolver expansão pausada, justamente para manter o equilíbrio
e não precisar se valer do capital de giro. Evitamos ter que injetar dinheiro de
mercado, pois este suga o dinheiro da empresa. Dessa forma, conseguimos
expandir com capital próprio, de maneira sustentável, pois a própria operação
alimenta a receita", observa ele.

157
UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

Entendendo que utilizar o capital de giro permite lucratividade em médio


prazo, Elvio Paladino ressalta que essa reserva é utilizada sempre que surgem
boas oportunidades oferecidas pelos fornecedores. "Não trabalhamos com
estoque, mas existe a possibilidade de comprarmos produtos que estejam com
preços especiais ou com desconto. Assim, disponibilizamos o capital de giro para
aproveitar a oferta", diz o franqueado da Portobello Shop, loja especializada em
revestimentos cerâmicos, lembrando que para reinvestir em melhorias na loja
também é feito o uso desse dinheiro.

RENTABILIDADE

Na opinião de Paladino, quanto mais uma loja vende, mais há necessidade


de ter capital de giro. Isso porque, quando da encomenda feita por um cliente, essa
pode ser paga à vista para o fornecedor, ainda que a venda seja paga em parcelas,
utilizando-se o dinheiro extra. Outra situação apontada pelo franqueado é a de
que o valor das vendas parceladas em cheques é recebido integralmente, via
financeira, para quem são repassados os cheques. "Assim, conseguimos manter a
margem de contribuição e garantir rentabilidade melhor, já que compras à vista
proporcionam preços mais em conta", explica ele.

Para Fábio Ramos, diretor comercial da Sport Nutrition Center (SNC), o


capital de giro é visto como margem de segurança. "A SNC, como qualquer outra
franqueadora, exige que o investidor disponha do capital todo para abrir uma
unidade e que tenha também 10% do valor total do investimento, que atuará
como fundo de reserva. No início de qualquer negócio é necessário fazer uso desse
capital, até tomar fôlego. É importante levar em consideração que, muitas vezes,
os valores calculados em um plano de negócios podem não valer mais depois
de certo tempo, uma vez que a entrada de novos lojistas do mesmo segmento
pode baixar a lucratividade, por exemplo. Quando o negócio estiver se pagando,
o dinheiro fica reservado para qualquer eventualidade", afirma o empresário.

FONTE: Disponível em: <http://www.sebrae-sc.com.br/newart/default.asp?materia=14658>.


Acesso em: 22 maio 2009.

158
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico da última unidade abordamos:

• As contas do ativo circulante e do passivo circulante estabelecerão a necessidade


de capital de giro da empresa.

• O capital de giro da empresa representa o total dos ativos circulantes que devem
pagar os passivos circulantes. Caso o AC não seja suficiente, a necessidade de
capital de giro aumenta.

• O ativo representa os bens e direitos da empresa, onde, num primeiro grupo,


encontramos o curto prazo, denominado de circulante e subdividido em
financeiro e operacional.

• Da mesma forma, o passivo representa as obrigações e os deveres, onde


aparecem os compromissos de curto prazo, também subdivididos em:
financeiro e operacional.

• A variação do quociente dos ativos e passivos circulantes sobre os ativos totais


gera efeitos sobre o lucro e o risco.

• No ativo circulante se faz necessário calcular o CCC (Ciclo de Conversão de


Caixa). Aqui precisamos conhecer a idade média dos estoques, o prazo médio
de recebimento e pagamento.

• A melhora do ativo circulante pode ocorrer a partir do aumento do giro dos


estoques, da antecipação dos recebimentos e da ampliação dos prazos de
pagamento.

• Para financiar o passivo circulante pode-se prolongar os pagamentos com


os fornecedores (considerando o custo do capital), buscar linhas de crédito,
realizar descontos das contas a receber etc.

• A necessidade de capital de giro está diretamente relacionada aos prazos


médios de pagamento e recebimento, bem como ao aumento do volume das
vendas e dos estoques.

• O ciclo operacional, financeiro e econômico é considerado na análise do


capital de giro.

159
AUTOATIVIDADE

Responda às questões a seguir para fixar os conhecimentos:

1 Analise o balanço a seguir:

ATIVO PASSIVO
Caixa 4.640,00 Contas a pagar 17.050,00
Aplicações financeiras 2.100,00 Títulos a pagar 17.120,00
Contas a receber 13.000,00 Despesas a pagar 8.650,00
Estoques 17.040,00 Exigível de longo prazo 15.960,00
Ativos permanentes 62.000,00 Capital social 40.000,00

a) Separe o grupo de contas do ativo e passivo circulante.


b) Destes, subdivida em circulante financeiro e operacional.
c) Calcule o capital de giro.

2 Como a variação do quociente pode gerar efeitos nos lucros e risco?

3 O que representa o CCC (Ciclo de Conversão de Caixa)?

4 As necessidades extras do CG são motivadas por que fatores?

5 Qual a influência dos prazos médios de pagamento e recebimento sobre o


capital de giro?

6 O que compreende o ciclo operacional de uma indústria na análise do capital


de giro?

160
UNIDADE 3
TÓPICO 3

INCORPORAÇÕES E FALÊNCIAS

1 INTRODUÇÃO
As empresas não se desenvolvem de forma isolada, estão em interação com
seus concorrentes e mercado. Neste ambiente, o gestor financeiro procura manter
os resultados positivos, garantindo a sua liquidez e retorno de investimento aos
donos do capital.

Neste esforço podem surgir oportunidades de arrendamento, fusões e


aquisições, como alternativas para evitar situações mais complicadas, como a
falência da empresa.

Neste tópico da última unidade vamos abordar um pouco sobre estes


assuntos.

2 ARRENDAMENTOS
O arrendamento é uma modalidade onde você pode se apropriar de
uma empresa por um determinado período. Por meio de um contrato, as partes
pactuam todas as condições de arrendamento entre si: arrendador e arrendatário.

Para simplificar o entendimento, poderíamos dizer que é uma espécie de


aluguel de uma empresa. Você pode alugá-la, usufruir de seus ativos, receita,
responsabilizar-se por eles e ainda pagar o aluguel, uma importância financeira,
para o proprietário (arrendador).

Com esta simplificação da expressão “aluguel”, cabe a decisão de


arrendar ou comprar, ou seja: arrendar os ativos, tomar dinheiro emprestado para
comprá-los ou, ainda, adquiri-los com recursos líquidos disponíveis. Esta decisão
compreende as técnicas de orçamento de capital, onde identificamos os fluxos de
caixa relevantes e aplicamos técnicas de valor presente líquido. Conforme Gitman
(2003), para isso é necessário:

• Determinar as saídas de caixa depois do Imposto de Renda em cada ano da


opção de arrendamento, compreendendo o ajuste fiscal simples dos pagamentos
anuais de aluguel e o custo do exercício de uma opção de compra no último
ano do prazo de arrendamento.
161
UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

• Encontrar as saídas de caixa depois do Imposto de Renda em cada um dos anos da


alternativa de compra. É necessário ajustar a soma dos pagamentos programados
de acordo com a despesa de manutenção pelos benefícios fiscais resultantes das
deduções permitidas por custos de manutenção, depreciação e juros.

• Calcular o valor presente das saídas de caixa associadas às alternativas de


arrendamento e compra usando o custo de capital de terceiros depois do
Imposto de Renda como taxa de desconto. Usa-se o custo de capital de terceiros
depois do Imposto de Renda para avaliar a decisão entre arrendar e comprar.
Isto envolve duas técnicas de financiamento: arrendamento e empréstimo.

• Optar pela alternativa de menor valor presente líquido de saídas de caixa,


sendo esta a alternativa de financiamento mais barata.

3 FUSÕES E AQUISIÇÕES
As empresas buscam alternativas de fusões e de aquisições para encontrar
alternativas de manutenção e expansão no mercado. Pode nascer de uma parceria
entre as partes, seguindo na união de seus ativos (aquisição), através do qual
procuram rentabilizar os seus ativos.

Na aquisição, a união das empresas resulta, principalmente, na


manutenção da identidade de uma das empresas. Podemos ilustrar com a história
do Grupo UNIASSELVI, que iniciou suas atividades em 22 de fevereiro de 1999
como faculdade. Cinco anos mais tarde, em 2004, foi elevado ao status de Centro
Universitário. Durante estes primeiros anos de atividade, o GRUPO UNIASSELVI
expandiu sua atividade no Ensino Superior com outros sócios, criando faculdades
nos municípios vizinhos, como Blumenau, Rio do Sul, Brusque e Guaramirim.
Em 2005, também recebeu a autorização do MEC para atuar com Ensino Superior
na modalidade à distância em todo o território nacional.

A partir do ano de 2006, estas faculdades foram assediadas por outros


grupos de Ensino Superior, que, por meio de aquisições e fusões, pretendiam
ampliar seus negócios e atividades. No início de 2008, a família Tafner, por
acreditar no seu modelo de educação, decidiu por não vender e nem fundir com
outros grupos e, sim, criar o Grupo UNIASSELVI, hoje o maior grupo de Ensino
Superior privado do Estado de Santa Catarina, e está dentre os maiores do país.

162
TÓPICO 3 | INCORPORAÇÕES E FALÊNCIAS

UNI

Toda esta história de uma faculdade que hoje é o Grupo UNIASSELVI emana
sua filosofia na sua cor, no seu símbolo, no seu patrono “Leonardo da Vinci” e nos seus
princípios norteadores.

As fusões e aquisições são movidas por uma série de motivos, dos quais
se destacam:

• Crescimento ou diversificação.
• Sinergia.
• Captação de fundos.
• Aquisição de capacidade gerencial ou tecnologia.
• Considerações fiscais.
• Aumento da liquidez para os proprietários.
• Defesa contra aquisição hostil.

As fusões podem ser classificadas em:

• Fusão horizontal: quando duas empresas do mesmo ramo de atividade se


unem.

• Fusão vertical: quando uma empresa adquire um fornecedor ou cliente.

• Fusão congenérica: quando é adquirida uma empresa do mesmo setor genérico,


mas não do mesmo ramo específico.

• Formação de um conglomerado: combinação de empresas em ramos não


relacionados.

Destas fusões e aquisições surgem as denominadas “holding´s”, uma


sociedade de investimentos de capitais que teoricamente tem por objetivo a
gestão de uma carteira de empresas.

Além dos motivos que podem levar a uma fusão ou aquisição, é


fundamental uma análise minuciosa – uma avaliação detalhada da empresa que
se pretende fundir ou adquirir. Muitas vezes, surge um passivo enorme após a
fusão ou aquisição, oriundo de dívidas fiscais, trabalhistas etc.

163
UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

4 FALÊNCIA DE EMPRESAS
A data de constituição de uma empresa pode ser entendida como a data
de nascimento da pessoa. Temos a data em que iniciamos as atividades, a nossa
vida, mas não temos uma data final preestabelecida para o encerramento ou
fechamento da empresa.

O fechamento ou a falência das empresas vai se delineando no decorrer


de sua gestão, que pode estar motivado por:

• Resultados baixos: podem não expressar o retorno esperado pelos donos do


capital, não alcançando a TMA (taxa mínima de atratividade) do negócio.

• Insolvência: tem dificuldade de liquidez, de transformar seus ativos em


caixa. A partir deste momento, pode-se agravar a situação, partindo-se para
resultados negativos.

• Resultados negativos: a empresa não tem como se manter ao longo do tempo


com resultados negativos, vai aumentando o seu prejuízo e alcança níveis nos
quais não tem mais credibilidade ou, ainda, seu ativo não cobre o passivo.

As causas de quebra das empresas, levando-as à situação de falência,


podem ser movidas pela má administração, pelo nível de atividade econômica
ou, ainda, pelo seu envelhecimento.

Inicialmente, tratando da má administração, percebemos que muitas


fontes relatam que boa parte das empresas tem dificuldades e quebram pela má
administração, falta de gestão. Na gestão da empresa, precisamos compreender
que ela precisa ter uma perfeita integração interna e estar alinhada com o mercado.

UNI

O ser humano é um sistema complexo, onde todas as suas partes precisam


estar perfeitamente integradas e em interação com o ambiente externo, enfrentando o
relacionamento entre as pessoas, as mudanças climáticas etc.

Tratando da má administração, associamos a ela mais aos elementos de


gestão interna da empresa, onde o seu gestor não consegue coordenar, integrar e
sincronizar todas as ações externas, que levam a resultados baixos ou até negativos.

164
TÓPICO 3 | INCORPORAÇÕES E FALÊNCIAS

O nível de atividade econômica está relacionado aos momentos de


recessão que a economia historicamente enfrenta. As vendas caem drasticamente,
ou os custos externos têm um aumento expressivo... Situações externas que
surpreendem o gestor.

Aproveitando nossa analogia com o ser e corpo humanos, abordado


anteriormente, na má administração também destacamos que envelhecemos com o
decorrer do tempo: alguns mais rápido e outros de forma mais lenta. Enfrentamos
os estágios de nascimento, crescimento, maturidade, declínio e quebra. As empresas
precisam nascer a cada dia nos seus produtos, serviços, na sua prática de gestão,
prorrogando ao máximo seu estágio de maturidade, ou de declínio.

Nos últimos anos estamos vivenciando uma crise econômica global. Países
e blocos econômicos, que eram vistos como potências econômicas imbatíveis, hoje
apresentam sinais claros de dificuldades financeiras. Os EUA vêm, ano após ano,
elevando o seu nível de endividamento, pela sua dificuldade de pagar as dívidas
externas. Nesta mesma situação também encontramos outros países da Europa
com dificuldades financeiras.

ATENCAO

A Gestão Financeira precisa acontecer em nossa vida pessoal, familiar, social,


nas empresas e no poder público.

165
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste terceiro tópico da última unidade descobrimos:

l Algumas modalidades para que ocorram as incorporações são o arrendamento,


as fusões e aquisições.

l O arrendamento é uma modalidade em que você se apropria de uma empresa


por tempo determinado, através de contrato pactuado entre as partes:
arrendador e arrendatário. Podemos simplificar, dizendo que é uma espécie de
“aluguel” da empresa.

l As fusões e aquisições são uma forma de junção das empresas, onde podem ser
preservados os ativos e passivos de cada uma delas. Então pode surgir outra
empresa, ou não.

l Numa aquisição, a união das empresas resulta principalmente na manutenção


da identidade de uma das empresas.

l O crescimento ou diversificação, a sinergia, a captação de fundos, a aquisição da


capacidade gerencial ou tecnológica, os aspectos fiscais, o aumento da liquidez
para os proprietários e a defesa contra aquisição hostil são alguns motivos que
levam a fusões e aquisições.

l Uma fusão pode ser horizontal, vertical, congenérica ou, ainda, pela formação
de conglomerado.

l Raras são as empresas que têm suas atividades fixadas por uma vigência
preestabelecida. O administrador financeiro precisa avaliar as situações
de falência da empresa, que podem ser motivadas por resultados baixos,
insolvência ou, ainda, por resultados negativos.

166
AUTOATIVIDADE

Vamos ver se você lembra o que aprendemos neste tópico?

1 O que é o arrendamento?

2 Por que o arrendamento pode ser definido como uma espécie de aluguel da
empresa?

3 O que representam as fusões e aquisições?

4 Cite motivos que levam as empresas a situações de fusões ou aquisições.

5 Diferencie a fusão horizontal da vertical, da congenérica e da formação de


conglomerado.

6 O que é uma falência?

7 O que pode motivar a falência?

167
168
UNIDADE 3
TÓPICO 4

SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E GESTÃO FINANCEIRA


INTERNACIONAL

1 INTRODUÇÃO
Neste último tópico da última unidade deste Caderno de Estudos de Gestão
Financeira, trazemos a você algumas informações sobre o mercado financeiro
nacional, bem como a gestão financeira internacional.

O SFN (Sistema Financeiro Nacional brasileiro) é reconhecido ao redor do


mundo, destacando-se entre os demais países. Vamos abordar um pouco sobre a
sua história e origem.

Durante todo este Caderno de Estudos tratamos a Gestão Financeira


sem tratar de aspectos internacionais. Finalizamos este tópico abordando alguns
pontos importantes a serem considerados sobre a gestão financeira internacional,
ligados aos aspectos individuais das relações que os países têm entre si e também
dentro de seus blocos econômicos.

Bons estudos!

2 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL


A vinda de Dom João VI e da família real ao Brasil viabilizou o nascimento
do primeiro Banco do Brasil, em 1808. A partir deste momento surgiram muitos
outros bancos no Brasil, que iniciaram e encerraram suas atividades.

Destacamos a Inspetoria Geral dos Bancos (1920), a Câmara de Compensação


do RJ (1921) e SP (1932), que, juntamente com os bancos e instituições financeiras,
fortaleceram o sistema financeiro nacional. Internacionalmente, após a II Guerra
Mundial, surge o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial.

A Superintendência da Moeda e do Crédito surgiu em 1945, que em 1964


deu origem ao Banco Central do Brasil, regulamentando o SFN com o surgimento
do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), do Banco
Nacional da Habitação e do Conselho Monetário Nacional (BACEN, 2011).

169
UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

A evolução de todo o sistema financeiro nacional brasileiro torna-se um


dos mais eficientes e regulamentados do mundo, a partir da sua estruturação
através da Constituição de 1988, que promove o desenvolvimento e equilíbrio do
país buscando a estabilidade econômica. No quadro a seguir você pode observar
a divisão do SFN:

QUADRO 80 – ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Órgãos Entidades
Operadores
normativos supervisoras

Demais
Instituições instituições
Banco Central do financeiras financeiras.
Brasil (BACEN) captadoras de
Conselho dinheiro à vista. Bancos de Outros intermediários
Monetário câmbio. financeiros e administradores
Nacional de recursos de terceiros.
(CMN)
Comissão
Bolsas de
de Valores Bolsas de
Mercados e
Mobiliários valores
Futuros.
(CVM)

Conselho
Superintendência Entidade
Nacional Sociedades
de Seguros Sociedades abertas de
de Seguros Resseguradores de
Privados seguradoras previdência
Privados capitalização
(SUSEP) complementar.
(CNSP)

Conselho Superintendência
Nacional de Nacional de
Entidades fechadas de previdência complementar (fundos de
Previdência Previdência
pensão).
Complementar Complementar
(CNPC) (SNPC)

FONTE: Banco Central do Brasil (2011)

O SFN – Sistema Financeiro Nacional está dividido em três níveis:

• Órgãos normativos: responsáveis por criar todas as normas e regras a serem


cumpridas.

• Entidades supervisoras: trabalham para verificar se as regras criadas pelos


órgãos normativos são cumpridas.

• Operadores: são todos os agentes que realizam as operações financeiras no


dia a dia.

170
TÓPICO 4 | SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E GESTÃO FINANCEIRA INTERNACIONAL

DICAS

Sugerimos que você acesse a página do Banco Central do Brasil, através do


endereço eletrônico: <http://www.bacen.gov.br>, para conhecer mais sobre o Sistema
Financeiro Nacional.

3 GESTÃO FINANCEIRA INTERNACIONAL


Neste caderno abordamos muitos aspectos relacionados à Gestão
Financeira de empresas, sem considerar questões específicas das empresas
internacionais, pois cabe aí o conhecimento de aspectos principalmente tributários
destas relações entre os países.

O crescimento, a expansão dos mercados e a evolução das tecnologias


retratam um ambiente altamente globalizado, no qual podemos ter empresas
instaladas em nossa cidade, em que parte do seu capital social pode ser externo
ou totalmente internacional.

Uma parcela significativa destas empresas tem sua forma jurídica de


Sociedades Anônimas (S.A.). Além desta modalidade, também destacamos
as joint-ventures, uma parceria contratual entre as partes de investimentos,
trocas e participação de resultados em determinados projetos, mantendo a
independência das partes.

As empresas internacionais, além dos impostos, taxas e alíquotas locais,


também assumem responsabilidades de tributação internacional. Há que se
considerar no orçamento de capital destas empresas que, além do Imposto de
Renda local, também há a incidência de imposto estrangeiro sobre as remessas.

Para melhorar a relação comercial entre os países e as empresas


internacionais, os governos de determinados países se unem para criar e manter
blocos econômicos, tais como: Nafta, União Europeia e Mercosul.

Além das demonstrações que estudamos, as empresas de caráter


internacional também precisam ter as suas demonstrações financeiras, que,
geralmente, envolvem questões de consolidação, tradução de contas individuais,
unificação das moedas e divulgação de lucros internacionais.

171
UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

3.1 RISCOS
Não podemos descartar o risco das empresas internacionais, que do ponto de
vista de alguns analistas financeiros, este risco torna-se mais amplo e complexo. Um
dos riscos de maior destaque é o risco de câmbio, ou seja, a diferença de valor entre
as moedas dos países. A sua variação poderá, em determinados momentos, favorecer
a empresa estabelecida num dos países e, noutro momento, a outro. É necessário
encontrar um ponto de equilíbrio entre estas possíveis variações cambiais.

Para que possamos compreender um pouco sobre a variação cambial,


voltamos ao exemplo da nossa camisaria. Vamos comprar uma máquina
empacotadora que custa no mercado externo US$ 2.000,00. Hipoteticamente, vamos
considerando que todos os impostos, taxas e alíquotas de importação representem
50% do seu valor; assim, esta máquina vai custar o total de US$ 3.000,00.

Como estamos no Brasil, precisamos pagar o investimento na nossa


moeda corrente, o Real (R$); mas, quem está nos vendendo – de quem estamos
importando, quer receber em sua moeda, onde vamos pressupor Dólares (US$).
Para resolver este impasse, diariamente o Bacen tem o valor das moedas, e basta
realizarmos a conversão. Supondo que US$ 1,00 esteja valendo R$ 1,55, basta
calcular o valor devido em R$ - moeda nacional:

US$ 3.000,00 x R$ 1,55 = R$ 4.650,00.

Supondo que destes US$ 3.000,00 tenhamos dado um sinal de US$


1.000,00 e o saldo para 30 dias, tivemos uma saída de capital de US$ 1.000,00 ou
R$ 1.550,00. Ficamos devendo US$ 2.000,00 e a quantos reais (R$)? A resposta a
esta pergunta vai depender da variação cambial.

• Aumento do câmbio: se aumentar o valor do US$ em relação ao R$, este saldo


vai nos custar mais caro do que o previsto. Ex.: 1 US$ = R$ 1,70; logo US$
2.000,00 x R$ 1,70 = R$ 3.400,00. Vamos refletir: o câmbio teve alta em 30 dias de
9,68%, pois passou de R$ 1,55 para R$ 1,70. Analisando sobre o saldo devedor
de R$ 3.100,00 (4650-1550), agora estamos pagando R$ 3.400,00, ou seja, 9,68%
– R$ 300,00 a mais.

• Manutenção do câmbio: se considerarmos que em 30 dias o câmbio manteve-


se estável (1 US$ = R$ 1,55), vamos ter uma saída de caixa apenas do saldo de
R$ 3.100,00 (4650-1550). Esta condição pode nos favorecer, pois poderíamos ter
aplicado este saldo devedor numa opção do mercado.

• Baixa do câmbio: supondo que o dólar tenha tido uma queda e passou a valor
R$ 1,40 ao final destes 30 dias, nosso valor devido passa a ser de R$ 2.800,00
(US$ 2.000,00 x R$ 1,40). Esta condição é ainda mais favorável para o resultado
da empresa, pois do saldo devedor de R$ 3.100,00, agora precisamos pagar os
mesmos US$ 2.000,00, mas em reais este valor representa uma queda de R$ 300,00.

172
TÓPICO 4 | SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E GESTÃO FINANCEIRA INTERNACIONAL

A variação cambial, além de fatores econômicos e políticos é, principalmente,


afetada pelas diferentes taxas de inflação entre os países. Basta lembrar ou procurar
a variação do câmbio de 1990 para cá: nos primeiros anos, US$ 1,00 valia centavos
de reais. De repente, tivemos momentos da história brasileira em que o real foi
se desvalorizando e chegou a patamares altos, onde US$ 1,00 valia quase R$ 4,00.
Depois deste episódio, novamente o câmbio teve uma queda.

Analisando o impacto destas flutuações, podemos dizer que num


momento em que a taxa de câmbio é baixa, estão favorecidas as importações
(compra de outros países). À medida que esta taxa de câmbio se eleva, tornam-se
favoráveis as exportações (venda para outros países).

UNI

A variação cambial foi um dos motivos para a falência das empresas. As


empresas exportadoras fecharam contratos de venda dos produtos numa taxa elevada do
dólar, as quais seriam beneficiadas com seus contratos pactuados para serem pagos em
dólares. Com a queda do câmbio num momento seguinte, o que as empresas recebiam em
US$ e convertido para R$ não cobria nem seus custos.

Analisamos o risco associado à variação cambial das moedas entre os


países. Também é necessário compreender que os países, isoladamente ou no
seu bloco econômico, desenvolvem políticas para proteger o seu mercado. Estas
políticas incluem a permissão ou proibição de determinadas mercadorias, bem
com a isenção ou a alta taxa de encargos de importação.

Ao permitir a importação com baixas taxas, o país pode estar permitindo


o ingresso de determinados produtos que, possivelmente, não é capaz de
produzir internamente. Da mesma forma que, ao proibir ou permitir com altas
taxas de importação, o governo pode estar favorecendo a indústria interna para a
produção destes mesmos produtos.

É importante ressaltar que estas políticas governamentais podem alterar


o risco das operações das empresas nos diferentes países ou blocos econômicos,
representando novas oportunidades ou ameaças.

173
UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

LEITURA COMPLEMENTAR

UM ANO DE RECORDES

As 500 maiores empresas do Brasil venderam mais de 1,2 trilhão de


dólares em 2010 e tiveram o maior lucro dos 38 anos de MELHORES e MAIORES,
de EXAME.

A elite empresarial do país soube aproveitar bem o excepcional momento


da economia em 2010, quando o PIB brasileiro cresceu 7,5%, maior expansão desde
1986. No ano passado, as 500 maiores empresas do Brasil faturaram mais de 1,2
trilhão de dólares e lucraram mais de 80 bilhões de dólares, de acordo com dados
preliminares de MELHORES e MAIORES, edição especial de EXAME que chega
às bancas em 7 de julho. O total de lucros foi o maior já registrado desde 1974,
quando foi lançada a publicação. “Temos recordes em diversos indicadores, e isso
é resultado da combinação de economia aquecida em 2010 com real valorizado”,
diz Ariovaldo dos Santos, coordenador técnico da Fundação Instituto de Pesquisas
Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), da Universidade de São Paulo,
responsável pelas análises de MELHORES e MAIORES.

Um dos recordes que chamam a atenção é o do número de empresas com


faturamento acima de 1 bilhão de dólares. São 50 a mais que no ano anterior. Ao
todo, 291companhias atingiram a marca – 57 delas pela primeira vez. A maioria
das novas bilionárias atua em setores que tiveram forte crescimento graças à
ampliação da oferta de crédito e ao aumento da renda. Entre os setores mais
beneficiados estão autoindústria, varejo, construção e serviço.

A gaúcha Marcopolo, fabricante de carrocerias de ônibus, figura entre as


companhias que estrearam no grupo de bilionárias. A ascensão de uma nova classe
média impulsionou o turismo rodoviário e incentivou as empresas de ônibus a
renovar suas frotas. Em 2010, a Marcopolo produziu 27.500 ônibus, 42% mais que
no ano anterior. Seu faturamento atingiu 1,5 bilhão de dólares, com crescimento
real de 38%. “Foi o melhor desempenho que tivemos em nossa história de 62
anos”, diz José Rubens de la Rosa, diretor-geral da Marcopolo. As vendas no
mercado brasileiro foram responsáveis por 65% do faturamento, invertendo a
situação de sete anos atrás, quando as exportações chegaram a representar dois
terços da receita. “Desde 2003, triplicamos nossa produção no exterior, mas é no
Brasil que fabricamos os ônibus de maior valor”, afirma De la Rosa.

Num ano marcado pela força do mercado interno, o setor de varejo foi um
dos mais vigorosos. A rede carioca Hermes, por exemplo, mudou de patamar.
Atuando com vendas porta a porta e internet, faturou 1,2 bilhão de dólares, 73%
mais do que ano anterior. Sua taxa de crescimento é uma das mais altas entre
as empresas analisadas por MELHORES e MAIORES. O comércio eletrônico por

174
TÓPICO 4 | SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E GESTÃO FINANCEIRA INTERNACIONAL

meio da loja virtual Comprafácil representa 70% do faturamento da Hermes. “A


popularização dos computadores e o aumento do acesso da população à rede são
as principais alavancas de nosso crescimento”, afirma Gustavo Bach, executivo
que assumiu a presidência da Hermes há dois anos.

Após estimular os consumidores a comprar mais em 2010, o governo


começou no início do ano a puxar o freio, elevando a taxa básica de juro para
conter a inflação. Na Hermes, surgiram os primeiros efeitos do aperto monetário,
embora de forma ainda tênue. Em abril, seu faturamento caiu 10% em relação à
média dos três primeiros meses do ano.

A queda, no entanto, ocorreu em comparação com uma base elevada: as


vendas da Hermes no primeiro trimestre foram 60/% superiores às do mesmo
período em 2010. Mesmo que a economia desacelere, Bach mantém o plano de
aumentar o número de vendedores, de 600 mil para 700 mil no decorrer deste
ano. “Nossa meta este ano é crescer 70%”, diz Bach. “Estamos confiantes de que
vamos continuar a crescer”.

FIGURA 1 – EVOLUÇÃO DAS EMPRESAS

FONTE: EXAME (2011)

175
UNIDADE 3 | CURTO PRAZO E TÓPICOS ESPECIAIS

FIGURA 2 – FAIXA DE FATURAMENTO

FONTE: EXAME (2011)

QUADRO 1 – SETORES DA MELHORES E MAIORES

Setores Quantidade
Serviços 10
Varejo 9
Autoindústria 6
Energia 6
Indústria da construção 5
Atacado 3
Bens de consumo 3
Transportes 3
Demais setores 12

FONTE: EXAME (2011)

As 291 empresas bilionárias, juntas, faturaram um total de US$ 1,1 trilhão,


sendo que 12 empresas tiveram lucro líquido superior a US$ 1 bilhão em 2010.

FONTE: Revista EXAME, Edição 993 – Ano 45 – nº 10 – 01/06/2011 – p. 52-53.

176
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste último tópico da terceira unidade estudamos e descobrimos:

l O SFN (Sistema Financeiro Nacional) veio se estruturando desde a vinda da


família real ao Brasil. Muitos bancos surgiram e quebraram, contribuindo na
estruturação do SFN, onde destacamos o Banco do Brasil S/A.

l Atualmente, o Sistema Financeiro Nacional brasileiro torna-se um dos mais


eficientes e regulamentados do mundo. Isto ocorreu a partir da Constituição
de 1988, que promoveu o desenvolvimento e equilíbrio do país, buscando a
estabilidade econômica.

l O SFN está dividido em três órgãos normativos: o CMN (Conselho Monetário


Nacional), o CNSP (Conselho Nacional de Seguros Privados) e o CGPC
(Conselho de Gestão da Previdência Complementar).

l Os órgãos normativos são responsáveis por criar todas as normas e regras a


serem cumpridas pelo SFN. As entidades supervisoras trabalham para verificar
se estas regras criadas são cumpridas. Os operadores são todos os agentes que
realizam as operações financeiras no dia a dia.

l Cada um dos países tem o seu sistema financeiro, do qual as empresas precisam
conhecer o sistema financeiro de cada um dos países onde estão inseridas,
direta ou indiretamente.

l O crescimento, a expansão dos mercados e a evolução das tecnologias retratam


um ambiente altamente globalizado, no qual podemos ter empresas instaladas
em nossa cidade, em que parte do seu capital social pode ser externo ou
totalmente internacional.

l O câmbio é um dos riscos evidentes para as empresas que, de alguma forma,


estão presentes além de suas fronteiras nacionais. É preciso verificar os riscos
frente ao aumento do câmbio, sua manutenção ou, ainda, a baixa do câmbio.

177
AUTOATIVIDADE

Vamos ver se você lembra o que estudamos ao final deste caderno,


respondendo às questões:

1 O que é o SFN (Sistema Financeiro Nacional)?

2 Explique o que vem a ser o CMN, CNSP e o CGPC.

3 O que fazem as entidades normativas, supervisoras e os operadores?

4 O que é a flutuação cambial?

5 Como o câmbio pode representar um risco para as empresas?

178
REFERÊNCIAS
ASSAF Neto, Alexandre; SILVA, Augusto Tiburcio. Administração do capital de
giro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

BACEN. Banco Central do Brasil. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br>.


Acesso em: 14 maio 2011.

CAMPOS FILHO, Ademar. Demonstração dos fluxos de caixa: uma ferramenta


indispensável para administrar sua empresa. São Paulo: Atlas, 1999.

DAMODARAN, Aswath. Avaliação de investimentos: ferramentas e técnicas para


a determinação do valor de qualquer ativo. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997.

GITMAN, Lawrence J. Princípios da administração financeira. 10. ed. São Paulo:


Pearson/Addison Wesley, 2004.

LEMES Jr., Antônio Barbosa; RIGO, Cláudio Miessa; CHEROBIM, Ana Paula
Mussi Szabo. Administração financeira: princípios, fundamentos e práticas
brasileiras. Aplicações e casos nacionais. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

ROSS, Stephen A.; WESTERFIELD, Randolph W.; JORDAN, Bradford D. Jordan.


Princípios de administração financeira. São Paulo: Atlas, 2000.

SILVA, José Pereira da. Análise financeira das empresas. São Paulo: Atlas, 2001.

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ANOTAÇÕES

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