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R$ 15,00

9 770100 336002
ISSN 01003364

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Informe Agropecuário
Uma publicação da EPAMIG
v.31 n.259 nov./dez. 2010
Belo Horizonte-MG

Sumário

Editorial .......................................................................................................................... 3

Entrevista . ...................................................................................................................... 4

Métodos e sistemas de irrigação


Édio Luiz da Costa, Polyanna Mara de Oliveira, João Batista Ribeiro da Silva Reis, Fúlvio
Rodriguez Simão e Flávio Gonçalves Oliveira .................................................................... 7

Manejo da irrigação
Apresentação Paulo Emílio Pereira de Albuquerque.................................................................................. 17

Projetos de irrigação
A necessidade da otimização dos recursos
produtivos, do aumento da competitividade no Luís César Dias Drumond e André Luís Teixeira Fernandes . ................................................. 26
mercado, do aumento de produtividade e da re-
dução de custos leva a uma tendência de adoção Avaliação de sistemas de irrigação
de tecnologias capazes de tornar a exploração Flávio Gonçalves Oliveira, Flávio Pimenta de Figueiredo, Polyanna Mara de Oliveira e
agrícola cada vez mais competitiva e rentável. A Édio Luiz da Costa . ......................................................................................................... 43
irrigação é uma dessas tecnologias, por ser uma
prática agrícola de fornecimento de água às cul- Qualidade da água na agricultura e no ambiente
turas, em locais ou épocas em que a distribuição
Ricardo Augusto Lopes Brito e Camilo de Lelis Teixeira de Andrade ............................................... 50
de chuvas é insuficiente para suprir as necessida-
des hídricas das plantas.
A irrigação exerce papel fundamental no Fertirrigação
agronegócio como um dos principais instrumen- Eugênio Ferreira Coelho, Édio Luiz da Costa, Ana Lucia Borges, Torquato Martins de Andrade
tos para a modernização da agricultura brasilei- Neto e José Maria Pinto ................................................................................................... 58
ra, permitindo enormes benefícios, com destaque
para redução da sazonalidade de produção, apli- Automação em irrigação
cação de novas tecnologias como a quimigação e Luiz Antônio Lima, Guilherme Augusto Bíscaro, Luciano Oliveira Geisenhoff e João Batista
conservação do solo e da água.
Ribeiro da Silva Reis ........................................................................................................ 71
Em algumas regiões, a irrigação é uma prá-
tica essencial, entretanto o déficit e/ou excesso
de água aplicada, bem como o modo de aplica- Gestão de recursos hídricos nas atividades agrícolas
ção, podem propiciar condições desfavoráveis Antônio Marciano da Silva, Carlos Rogério de Mello, Polyanna Mara de Oliveira e Rosângela
ao desenvolvimento da cultura e levar à queda Francisca de Paula Vitor Marques . ......................................................................................... 80
na produtividade, além de aumentar os custos
com energia de bombeamento e fertilizantes ao Agricultura irrigada no Brasil
se trabalhar com baixa eficiência de irrigação e Marcos Vinícius Folegatti, Cornélio Alberto Zolin, Janaína Paulino, Rodrigo Máximo Sánchez-
de fertirrigação.
Román e Maíra Ometto Bezerra . ...................................................................................... 94
Diante disso, esta edição da revista Informe
Agropecuário traz informações sobre a aplicabi-
lidade da irrigação, para que o usuário alcance Agricultura irrigada: oportunidades e desafios
elevada eficiência com seu uso, maximização Helvecio Mattana Saturnino, Demétrios Christofidis, Édio Luiz da Costa e João Batista Ribeiro
econômica do negócio e sustentabilidade am- da Silva Reis ................................................................................................................... 101
biental.
Importância do manejo da irrigação sobre a ocorrência de doenças de plantas
Édio Luiz da Costa Wânia dos Santos Neves, Polyanna Mara de Oliveira, Douglas Ferreira Parreira, Rosangela
João Batista Ribeiro da Silva Reis
Dallemole Giaretta e Édio Luiz da Costa ............................................................................ 110
Polyanna Mara de Oliveira

ISSN 0100-3364

Informe Agropecuário Belo Horizonte v.31 n.259 p. 1-116 nov./dez. 2010

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© 1977 EPAMIG Informe Agropecuário é uma publicação da
ISSN 0100-3364 Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
INPI: 006505007 EPAMIG

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Enilson Abrahão autorização escrita do editor. Todos os direitos são reservados à
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Mairon Martins Mesquita
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Vânia Lacerda
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COMISSÃO EDITORIAL DA REVISTA INFORME AGROPECUÁRIO
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Diretoria de Operações Técnicas para conveniência do leitor, não havendo preferências, por parte da
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Departamento de Pesquisa técnicos seguiu a nomenclatura proposta pelos autores de cada artigo.
Cristiane Viana Guimarães Ladeira
Divisão de Produção Animal
O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data de
Marcelo Lanza publicação da edição.
Divisão de Produção Vegetal

Trazilbo José de Paula Júnior


Chefia de Centro de Pesquisa Assinatura anual: 6 exemplares
Vânia Lacerda
Departamento de Publicações Aquisição de exemplares
Divisão de Gestão e Comercialização
EDITOR-TÉCNICO Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - União
Édio Luiz da Costa, João Batista Ribeiro da Silva Reis e CEP 31170-495 Belo Horizonte - MG
Polyanna Mara de Oliveira
Telefax: (31) 3489-5002
CONSULTORES TÉCNICO-CIENTÍFICOS www.informeagropecuario.com.br; www.epamig.br
Fúlvio Rodriguez Simão e Abílio José Antunes (EPAMIG) E-mail: publicacao@epamig.br
CNPJ (MF) 17.138.140/0001-23 - Insc. Est.: 062.150146.0047
PRODUÇÃO
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Décio Corrêa
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Vânia Lacerda
REVISÃO LINGUÍSTICA E GRÁFICA
Marlene A. Ribeiro Gomide, Rosely A. R. Battista Pereira e
Maria Cláudia Carvalho (estagiária) Informe Agropecuário. - v.3, n.25 - (jan. 1977) - . - Belo
Horizonte: EPAMIG, 1977 - .
NORMALIZAÇÃO
v.: il.
Fátima Rocha Gomes e Maria Lúcia de Melo Silveira
PRODUÇÃO E ARTE Cont. de Informe Agropecuário: conjuntura e estatísti-
ca. - v.1, n.1 - (abr.1975).
Diagramação/formatação: Maria Alice Vieira, Erasmo dos Reis
Pereira, Ângela Batista P. Carvalho, Fabriciano Chaves Amaral e ISSN 0100-3364
Débora Nigri (estagiária)
1. Agropecuária - Periódico. 2. Agropecuária - Aspecto
Coordenação de Produção Gráfica Econômico. I. EPAMIG.
Fabriciano Chaves Amaral
Capa: Fabriciano Chaves Amaral CDD 630.5

Foto da capa: Luiz Antônio Lima

Selo 35 anos Informe Agropecuário: Ângela Batista P. Carvalho


O Informe Agropecuário é indexado na
Impressão: AGROBASE, CAB INTERNATIONAL e AGRIS

Governo do Estado de Minas Gerais


Secretaria de Estado de Agricultura,
Pecuária e Abastecimento

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Governo do Estado de Minas Gerais
Antonio Augusto Junho Anastasia
Governador
Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Gilman Viana Rodrigues
Secretário

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais


Irrigação racional e sustentável
Conselho de Administração
Gilman Viana Rodrigues Sandra Gesteira Coelho
O aumento da população mundial gerou grande
Baldonedo Arthur Napoleão Elifas Nunes de Alcântara
Pedro Antônio Arraes Pereira Vicente José Gamarano demanda por alimentos, intensificação da agricultura, das
Adauto Ferreira Barcelos Joanito Campos Júnior
Osmar Aleixo Rodrigues Filho
Décio Bruxel
Helton Mattana Saturnino indústrias e das moradias. Isto tem proporcionado maior
Conselho Fiscal pressão sobre os recursos ambientais, em particular, sobre os
Carmo Robilota Zeitune Evandro de Oliveira Neiva
Heli de Oliveira Penido Márcia Dias da Cruz estoques de água do Planeta. A previsão é de que, em 2048, a
José Clementino Santos Celso Costa Moreira
Presidência
população mundial atinja 9 bilhões de habitantes.
Baldonedo Arthur Napoleão
Diante desse cenário, tecnologias para a utilização
Diretoria de Operações Técnicas
Enilson Abrahão mais racional dos recursos hídricos devem ser priorizadas, a
Diretoria de Administração e Finanças
Luiz Carlos Gomes Guerra fim de tornar o uso da água mais eficiente. Tais recursos são
Gabinete da Presidência
Thaissa Goulart Bhering Viana
renováveis, porém finitos. Assim, a preservação da água é de
Assessoria de Comunicação extrema importância.
Roseney Maria de Oliveira
Assessoria de Desenvolvimento Organizacional A produção mundial de alimentos é altamente dependente
Felipe Bruschi Giorni
da irrigação, pois quase 50% destes provêm da utilização desse
Assessoria de Informática
Silmar Vasconcelos sistema. O Brasil apresenta, atualmente, uma área de 4,45
Assessoria Jurídica
Nuno Miguel Branco de Sá Viana Rebelo milhões de hectares cultivados com irrigação, sendo a Região
Assessoria de Negócios Tecnológicos
Sebastião Alves do Nascimento Neto Sudeste a maior irrigante, seguida pelas Regiões Sul, Nordeste,
Assessoria de Planejamento e Coordenação
Renato Damasceno Netto
Centro-Oeste e Norte. As culturas de cana-de-açúcar, arroz,
Assessoria de Relações Institucionais soja e milho destacam-se em área irrigada.
Marcílio Valadares
Assessoria de Unidades do Interior Esses dados geram reflexões sobre novos meios de
Júlia Salles Tavares Mendes
garantir a sustentabilidade das atividades agropecuárias,
Auditoria Interna
Márcio Luiz Mattos dos Santos sob a ótica da segurança alimentar e nutricional, aliadas
Departamento de Compras e Almoxarifado
Sebastião Alves do Nascimento Neto à proteção do meio ambiente. A pesquisa, a tecnologia e a
Departamento de Contabilidade e Finanças
Warley Wanderson do Couto informação são imprescindíveis para alcançar este objetivo.
Departamento de Engenharia
Luiz Fernando Drummond Alves As tecnologias recentes de irrigação no Brasil são instrumentos
Departamento de Transferência Tecnológica para a modernização de sua agricultura, as quais permitem
Juliana Carvalho Simões
Departamento de Patrimônio e Serviços Gerais benefícios, como: aumento da produtividade, garantia de
Mary Aparecida Dias
Departamento de Pesquisa colheita, redução do custo unitário de produção, intensificação
Maria Lélia Rodriguez Simão
do uso do solo, mão de obra e máquinas, melhoria na oferta
Departamento de Publicações
Vânia Lúcia Alves Lacerda e qualidade de produtos e incorporação de novas áreas, antes
Departamento de Recursos Humanos
Flávio Luiz Magela Peixoto inadequadas para uso e agora aptas para produção.
Departamento de Eventos Tecnológicos
Mairon Martins Mesquita Esta edição do Informe Agropecuário apresenta
Departamento de Transportes
José Antônio de Oliveira
tecnologias para utilização da irrigação de forma racional e
Instituto de Laticínios Cândido Tostes sustentável, com o objetivo de contribuir para a melhor gestão
Luiz Carlos G. C. Júnior, Gérson Occhi e Nelson Luiz T. de Macedo
Instituto Técnico de Agropecuária e Cooperativismo dos recursos hídricos na agropecuária.
Luci Maria Lopes Lobato e Francisco Olavo Coutinho da Costa
EPAMIG Sul de Minas
Gladyston Rodrigues Carvalho e Ana Paula de M. Rios Resende Baldonedo Arthur Napoleão
EPAMIG Norte de Minas Presidente da EPAMIG
Polyanna Mara de Oliveira e Josimar dos Santos Araújo
EPAMIG Zona da Mata
Trazilbo José de Paula Júnior e Giovani Martins Gouveia
EPAMIG Centro-Oeste
Édio Luiz da Costa e Waldênia Almeida Lapa Diniz
EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba
José Mauro Valente Paes e Marina Lombardi Saraiva

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Irrigação: estabilidade da produção agrícola
Jônadan Ma é  engenheiro agrônomo, formado pela Escola Superior Luiz
de Queiroz (Esalq-USP), e pós-graduado em MBA Executivo, pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV). É vice-presidente da Cooperativa dos Produtores Rurais
do Triângulo e Alto Paranaíba (Cotrial) e da Associação Brasileira dos Criadores
de Girolando, diretor da Associação dos Empresários Canavieiros do Vale do Rio
Grande, sócio-fundador do Clube Amigos da Terra (CAT Uberaba) e ex-diretor
da Associação de Plantio Direto no Cerrado (APDC). É também diretor-executivo
do Grupo Boa Fé - Ma Shou Tao, com sede em Conquista, MG, que atua em
diversos setores da agropecuária, com destaque para o cultivo da cana-de-
açúcar, em fazendas que utilizam tecnologia de ponta, especialmente na área
de irrigação.

IA - Qual a importância do uso da tinentes para os produtores Jônadan Ma - Podemos dizer que o
irrigação na propriedade como considerados irrigantes? maior custo da irrigação, além da água
equilíbrio das atividades agrí- e dos equipamentos, é com a energia
colas?
Jônadan Ma - Sem dúvida alguma, elétrica, que ainda é o grande gargalo.
a gestão técnica e econômica é o item Moeda de troca entre produtos de valor
Jônadan Ma - O Grupo Boa Fé – mais importante para o sucesso da irri- agregado, tais como hortaliças, além de
Ma Shou Tao implantou dois sistemas gação que atenda aos objetivos do in- necessária, tem sido favorável. Para al-
de irrigação: pivô central de 105 ha, vestimento. Para isso, é necessário que gumas culturas, como a da batata e a do
com cana-de-açúcar, e outro de 25 ha, o produtor irrigante tenha: definição feijão, trabalha-se no dito popular “en-
com sistema de malha para irrigação clara dos objetivos e metas para o uso tre o céu e o inferno” (um dia bom e ou-
de pasto de ‘Tifton-85’ rotacionado, do da irrigação; gestão tecnológica “ao pé tro ruim). As demais culturas, de modo
sistema de pecuária leiteira. A integra- da letra”, com o subsídio de informa- geral, têm uma relação mais estável.
ção das atividades agrícola e pecuária ções e dados para tomada de decisão A grande questão é a de que os custos
faz parte dos fundamentos do Grupo, de quando e quanto irrigar; gestão fi- sempre vêm antes da receita e o produto
além da importância da diversificação nanceira da cultura irrigada, comparada irrigado, nos dias de hoje, não significa
e verticalização. A irrigação é de suma aos custos de sequeiro diante do custo produto de maior valor agregado, mas
importância para viabilizar a melhor efi- de oportunidade gerado pelo uso da totalmente dependente da lei de oferta e
ciência técnica e econômica das ativida- irrigação; gestão de pessoas, inclusive demanda.
des agrícola e pecuária dentro do Grupo, o proprietário ou fazendeiro irrigante,
onde as demais atividades industriais e para que os itens citados sejam fatores IA - Como o senhor analisa as
comerciais também têm sua devida im- básicos e essenciais na tomada de de- alternativas de viabilização
portância. Além do aumento da rentabi- cisão de questões como: O que irrigar? econômico-financeiras de pro-
lidade, a irrigação vem proporcionando Por que irrigar? Quando? Quanto e a jetos de irrigação?
a estabilidade da atividade agrícola, que custo? Jônadan Ma - Viabilizar o proje-
notadamente a da cana-de-açúcar, cujo to de irrigação no aspecto econômico
objetivo é produzir uma cana com pelo IA - Para quem trabalha com a e financeiro é quase que um resultado
menos dez safras e produtividade média agropecuária, a moeda de tro- natural para grande parte das culturas,
de 130 t/ha. ca é o produto gerado. Como e dificilmente um projeto será conside-
tem ficado a relação de troca rado inviável. Vejo como grande bar-
IA - Em termos de gestão, quais entre produtos agrícolas e o reira para esta viabilização efetiva de
recomendações seriam per- custo da irrigação? implantação da irrigação, os aspectos
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legais, burocráticos e normativos, que, Jônadan Ma - Em primeiro lugar das por rios e córregos, onde a irrigação
por sua vez, impedem o acesso ao cré- temos que estar conscientes da gran- direta poderia ser utilizada.
dito oficial do sistema financeiro. U ma de responsabilidade do produtor rural
opção que vejo como importantíssima como produtor de águas, além de pro- IA - Uma das contribuições da
neste momento, em que as exigências dutor de alimentos. Como é isto? A agricultura em favor da pre-
relativas ao Código Florestal ainda não agricultura moderna e sustentável que servação ambiental está no uso
estão definidas e boa parte dos irrigan- trabalha com as melhores tecnologias, dos resíduos agrícolas, sólidos e
tes e dos potenciais irrigantes ainda não principalmente nos trópicos, como
líquidos como adubo orgânico.
possui licenciamento ambiental, seria plantio direto, mudou totalmente o
Como a irrigação pode ajudar
estruturar um sistema de crédito com status do produtor em relação ao meio
na solução de problemas am-
as empresas fabricantes, atreladas às ambiente. O plantio direto, amplamente
garantias normalmente utilizadas em adotado nas culturas de grãos e crescen- bientais e na diminuição dos
operações agrícolas, tais como Cédulas te na cana-de-açúcar e outras culturas, é custos da agropecuária? O Gru-
de Produto Rural (CPRs). Outra opção uma tecnologia que, além de sequestrar po Boa Fé - Ma Shou Tao tem
seria viabilizar o sistema de consórcios gás carbônico (CO2), ajuda a produzir projetos com esta finalidade?
para o sistema de irrigação. água no sistema, aumentando seu volu-
Jônadan Ma - Estamos implan-
me no lençol freático, reduzindo o asso-
tando um projeto onde os dejetos ani-
IA - Que tipo de apoio os órgãos reamento de rios, açudes e represas, per-
fiscalizadores têm dado aos mitindo, assim, um aumento do volume mais (chorume) das vacas instaladas no
produtores nos processos de disponibilizado ao ambiente e ao uso. freestall são recolhidos, e a fase líqui-
legalização ambiental? Com base nesta linha, minha opinião é da possa ser separada e aplicada via
a de que o agricultor irrigante, que tra- fertirrigação nos pastos rotacionados
Jônadan Ma - Considerando o Bra- com ‘Tifton-85’. Hoje, este chorume é
balha com tecnologias sustentáveis, seja
sil como um todo, com raras exceções
isentado de taxas pelo uso da água. In- aplicado por meio de chorumeiras que
de algumas regiões, temos visto uma
clusive, ele deveria receber uma parcela exigem uma contínua carga e descarga
grande falta de apoio por parte dos ór-
da taxa que será cobrada daqueles que por meio de trator com tanque. A irriga-
gãos fiscalizadores, que preocupam
não trabalham de modo sustentável na ção, além de reduzir os custos, tornaria
mais em penalizar do que ajudar o pro-
essência do seu negócio agropecuário. o sistema muito mais prático e eficiente.
dutor. Por um lado, entendemos que a
atual legislação, além de ser antiquada, IA - Qual sua opinião sobre a cons- IA - Qual a importância da pes-
não leva em consideração tudo o que trução de represas e barragens
vem sendo realizado pelos produtores quisa para o desenvolvimento
no meio rural, em relação ao sustentável da irrigação na
irrigantes para que sua atividade seja le- armazenamento de água para
galizada da melhor maneira e da forma agropecuária?
a irrigação?
mais rápida possível. Esperamos que Jônadan Ma - Podemos dizer que
neste ano de 2011, finalmente, o novo Jônadan Ma - Com base em nos-
pesquisa, desenvolvimento sustentável
Código Florestal seja aprovado na es- sa história e experiência, as represas e
e sistema produtivo, que envolve os
trutura que contemple viabilidade da barragens só têm pontos favoráveis e
positivos para contribuírem com o sis- produtores irrigantes, indústrias, for-
atividade agropecuária para a produção
tema, seja natural, seja em exploração. necedores de insumos e outros, fazem
de alimentos, com preservação ambien-
No sistema natural, o represamento, parte de uma grande cadeia, para que o
tal justa, comparando-se com as demais
atividades e com os habitantes dos cen- além de disponibilizar água em mo- Brasil seja visto como uma grande po-
tros urbanos. mentos críticos, principalmente nos tência agrícola. Um grande passo tem
Cerrados, onde temos um período de sido o incremento das pesquisas regio-
IA - Como o senhor analisa as pos- seis meses sem chuvas, proporciona um nalizadas pelos órgãos estaduais e mes-
sibilidades de incremento da embelezamento, o que torna o ambiente mo federais, contemplando-se, dessa
irrigação na agricultura, con- mais agradável, principalmente para os forma, as características edafoclimáticas
siderando a necessidade do uso componentes da fauna e flora da região. de cada região, bem como o nível tec-
sustentável da água e a participa- No aspecto de exploração de represas e nológico e econômico das culturas e de
ção do agricultor no pagamento barragens, a importância se faz pelo au- seus produtores.
de taxas pelo seu uso? Qual a sua mento da capacidade de irrigação e pro-
opinião sobre este pagamento? dução de alimentos em áreas não servi- Por Vânia Lacerda

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Associar-se a ABID significa juntar forças em
favor da Agricultura Irrigada ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE IRRIGAÇÃO E DRENAGEM
É O COMITê NACIONAL
48 BRASILEIRO DA

49
50
51 ICID-CIID
52/53
54
55
56/57

58
59
60
61/62
63
64
65/66
67
CONIRDs
“A marca dos CONIRDs simboliza o ciclo
hidrológico, com as indissociáveis relações
solo-água-planta, numa visão mundial,
68 para sensibilizar a todos sobre a segurança
69/70 alimentar, de produção de fibras para os
71/72 mais diversos fins, de produção de energia
73 e das garantias hídricas e ambientais para o
74/75 bem estar das populações. Uma marca em
76 favor da exploração econômica em harmonia
77 com a natureza, pautando um equilibrado
78 desenvolvimento da agricultura irrigada,
com a adequada conservação dos recursos
naturais para as futuras gerações.”.

79
80
81
82

83/84

85/86

87
Em 2001, uma rica programação do XI CONIRD e 4th IRCEW, em Fortaleza, CE, registrada na Item 50,
com a edição dos 2 anais e de um livro em inglês e a inserção internacional da ABID.
Em 2002, o XII CONIRD em Uberlândia, MG, com os anais em CD e a programação na Item 55.
Em 2003, o XIII CONIRD em Juazeiro, BA, com os anais em CD e a programação na Item 59.
Em 2004, o XIV CONIRD em Porto Alegre, RS, com os anais em CD e a programação na Item 63.
Em 2005, o XV CONIRD em Teresina, PI, com os anais em CD e a programação na Item 67.
Em 2006, o XVI CONIRD em Goiânia, GO, com os anais em CD e a programação na Item 69/70.
Visite: Em 2007, o XVII CONIRD em Mossoró, RN, com os anais em CD e a programação na Item 74/75.
www.abid.org.br Em 2008, o XVIII CONIRD em São Mateus, ES, com os anais em CD e a programação na Item 78.
Associe-se, e tenha acesso Em 2009, o XIX CONIRD em Montes Claros, MG, com os anais em CD e a programação na Item 82.
a todas as edições da Item Em 2010 , o XX CONIRD em Uberaba, MG, com os anais N0 87 em•CD
30etrimestre
a programação
2010na•Item 87. 1
ITEM

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Irrigação 7

Métodos e sistemas de irrigação


Édio Luiz da Costa 1
Polyanna Mara de Oliveira 2
João Batista Ribeiro da Silva Reis 3
Fúlvio Rodriguez Simão 4
Flávio Gonçalves Oliveira 5

Resumo - A intensificação da produtividade agrícola no Brasil tem uma participação


ativa e significativa na agricultura irrigada. Os métodos de irrigação, bem como as cul-
turas a serem trabalhadas, diferem quanto à utilização da água. Todos esses métodos
possuem particularidades que indicam ou limitam o seu uso. A definição deve passar
por uma criteriosa avaliação técnica e econômica. Hoje, diante dos conflitos entre os
diferentes usuários, da preocupação ambiental e da cobrança pelo uso da água, prevista
na Lei das Águas no 9.433 de janeiro de 1997, existe a tendência de utilizar métodos de
irrigação que proporcionem maior eficiência de aplicação da água. Para tal, devem ser
preferidos projetos que garantam uma boa aplicação da engenharia, acompanhados de
técnicas de manejo e gerenciamento.

Palavras-chave: Método de irrigação. Sistema de irrigação. Sulco. Faixa. Inundação. Lo-


calizada. Gotejamento. Microaspersão. Aspersão. Pivô central. Autopropelido.

INTRODUÇÃO Em 1955, foi criada a primeira indús- localizada, nos quais os componentes eram
tria brasileira para produzir sistemas de todos importados.
As tecnologias recentes de irrigação no
irrigação por aspersão e seus componentes Em 1986, surgiu uma série de empresas
Brasil são instrumentos para a modernização
(STROTBEK, 1984). Somente em 1965 é fabricantes no País.
de sua agricultura, as quais permitem bene-
que foi ofertada maior variedade de mate- Atualmente, o Brasil conta com fabri-
fícios, como: aumento da produtividade, ga-
rial de irrigação por aspersão ao mercado. cantes ou representantes das mais variadas
rantia de colheita, redução do custo unitário
Fábricas de motores a diesel e elétricos linhas, ou seja, sistemas de irrigação, tubu-
de produção, intensificação do uso do solo, lações, bombas, automação, equipamentos
começaram a surgir, principalmente na
mão de obra e máquinas, melhoria na oferta e Região Sudeste do País. para quimigação, etc.
qualidade de produtos e incorporação de no- Em 1975, iniciou-se a produção dos Diante da oferta favorecida pelo mer-
vas áreas como as de Cerrado e de Semiárido. primeiros equipamentos de irrigação me- cado, a escolha criteriosa de um adequado
A irrigação no Brasil teve início com canizados, os autopropelidos. sistema de irrigação para uma determi-
os sistemas de irrigação por superfície com Em 1978, foi fabricado no Brasil o nada área e cultura envolve estudos que
os cultivos de arroz. primeiro pivô central, com capacidade para vão desde a caracterização dos recursos
Em 1950, começaram as importações irrigar áreas de até 128 ha. hídricos, e isso inclui a legislação vigente
de sistemas de irrigação por aspersão, in- Ainda na década de 1970, foram ins- quanto à outorga de água, bem como as
centivadas pelo governo federal. talados os primeiros sistemas de irrigação características de solo, clima, topografia,

1
Engo Agrícola, D.Sc., Pesq. EPAMIG Centro-Oeste/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG.
Correio eletrônico: edio.costa@epamig.br
2
Enga Agrícola, D.Sc., Pesq. EPAMIG Norte de Minas/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG.
Correio eletrônico: polyanna.mara@epamig.br
3
Engo Agrícola, D.Sc., Pesq. EPAMIG Norte de Minas/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG.
Correio eletrônico: jbrsreis@epamig.br
4
Engo Agro, M.Sc., Pesq. EPAMIG Norte de Minas, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio eletrônico: fulvio@epamig.br
5
Engo Agrícola, D.Sc., Prof./Pesq. UFMG - Instituto de Ciências Agrárias, CEP 39404-006 Montes Claros-MG. Correio eletrônico:
flaviogoliveira@ibest.com.br

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259.indb 7 8/2/2011 15:56:37


8 Irrigação

o recurso humano, o respeito à legislação e os sistemas lineares têm maior eficiência faixas e inundação. Em caso de doenças
ambiental, até o nível de tecnologia a ser em áreas com comprimento maior que sua fúngicas na parte aérea, os sistemas por
empregado. São fatores que não podem largura. Já os demais sistemas adaptam-se aspersão devem ser evitados.
ser analisados de forma individual, mas bem às variações do formato da área. Considerando a necessidade de otimi-
associados. Assim será determinado, com Áreas de relevo plano e de solos mais zar a irrigação, pelo grande volume de água
maior precisão, o melhor sistema a adotar, uniformes são adequadas ao método de exigido, outro aspecto de grande importân-
proporcionando maior garantia de sucesso. irrigação por superfície. Em relevos mais cia na escolha do método e do sistema a
Este artigo tem por finalidade prestar es- acentuados e superfícies do solo mais de- ser utilizado é a sua eficiência. Bernardo,
clarecimento ao leitor dos diversos métodos suniformes, que necessitariam de grandes Soares e Mantovani (2006) apresentam, no
e sistemas de irrigação, bem como apresentar investimentos para sua sistematização, o Quadro 1, a eficiência de aplicação (Ea)
algumas de suas características principais. método de irrigação pressurizado seria o ideal e aceitável para diferentes métodos de
mais indicado. irrigação. Como pode ser observada, a irri-
MÉTODOS E SISTEMAS DE Águas com muitas partículas em sus- gação por superfície, mesmo em condição
IRRIGAÇÃO pensão, comumente encontradas nas águas ideal, apresenta baixa eficiência comparada
Os métodos de irrigação classificam-se superficiais, têm restrições de uso para os a outros métodos (Quadro 1). Esse pode ser
em não pressurizados, que é o método por sistemas pressurizados, e águas com alta um dos fatores para a baixa utilização desse
superfície, e pressurizados. concentração de sais não devem ser aplica- método na maioria das culturas.
No método por superfície, a água é das sobre as plantas. Quando há restrições O custo, muitas vezes, é determinante
conduzida diretamente sobre a superfície na quantidade disponível de água, deve-se na escolha do sistema de irrigação a adotar
do solo, por gravidade. Esse método neces- dar preferência aos sistemas mais eficientes ou mesmo na definição pelo uso ou não
sita de sistematização da área e limita-se como gotejamento e microaspersão. desta tecnologia. Mencionar custos é ex-
à diferença de nível de até 6%, de acordo Solos muito permeáveis não são re- tremamente difícil, a não ser apenas como
com o sistema a ser adotado, se em sulcos, comendados para o método de superfície, indicativo. Portanto, é necessário que se
faixas ou inundação. pela alta perda por percolação, não tendo faça uma consulta técnica a um profissio-
Nos métodos pressurizados, que se clas- a mesma limitação para o método pressu- nal na área de irrigação, a fim de definir a
sificam em aspersão e localizada, a água é rizado, com uma atenção para o sistema melhor opção técnica e econômica.
conduzida em tubulações sob pressão. de gotejamento que deverá ter o manejo Apresenta-se, no Quadro 2, o custo
Dentro do método por aspersão, têm- acompanhado com maior precisão. médio estimado de 1 ha de irrigação para
se os sistemas: aspersão convencional, Regiões de baixa umidade relativa do a cultura do cafeeiro, dentro de sistemas
aspersão em malha, canhão hidráulico, au- ar, altas temperaturas e ventos fortes não com potencial de uso para a cultura.
topropelido, pivô central e sistema linear. são propícias para o sistema por aspersão. Não existe um método de irrigação que
Dentro do método de irrigação locali- A escolha do sistema de irrigação deve se adapte a todas as situações. A escolha
zada, têm-se os sistemas de gotejamento e considerar também a cultura. Em cultivos do método a ser utilizado deve ser feita
microaspersão. com grandes espaçamentos, deve-se optar de forma que proporcione maior retorno
Os métodos de irrigação adaptam-se por sistemas localizados. Culturas com financeiro ao produtor, adapte-se ao siste-
a diversas condições e, para cada uma maior suscetibilidade a encharcamentos ma de produção utilizado e cause menores
delas, é importante observar critérios que não podem ser irrigadas pelo sistema de impactos ambientais.
possibilitam a sua escolha.

CRITÉRIOS PARA ESCOLHA QUADRO 1 - Eficiência de aplicação (Ea) ideal e aceitável para diferentes sistemas de irrigação
DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO Ea ideal Ea aceitável
Métodos/sistemas de irrigação
(%) (%)
Os aspectos que devem ser considera-
Superfície
dos na escolha do sistema de irrigação são:
Sulco (convencional) ≥75 ≥60
área, topografia, qualidade da água, tipo
Aspersão
de solo, clima, capacidade de investimen-
to, espaçamento da cultura, mão de obra Convencional ≥85 ≥75
disponível, disponibilidade de assistência Pivô central ≥85 ≥75
técnica, entre outros. Localizada
Áreas de formato comprido são impró- Gotejamento ≥95 ≥80
prias para o sistema de pivô central, pois Microaspersão ≥95 ≥80
este irriga em círculos. Os autopropelidos FONTE: Bernardo, Soares e Mantovani (2006).

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Irrigação 9

QUADRO 2 - Custo estimado para diferentes sistemas de irrigação na cultura do cafeeiro solos arenosos, que pode ser agra-
Custo/ha vada pela interrupção desses canais
Métodos/sistemas de irrigação
(R$ mil) por restos culturais, como folhas;
Aspersão
b) menor controle da lâmina aplicada;
Convencional 2,5 a 4
c) falta de uma estrutura de canais e
Convencional semifixo 3,5 a 5
comportas para distribuição da água
Convencional tipo malha 3a5
nas parcelas;
Pivô central 4a6
d) maior utilização de mão de obra;
Localizada
e) necessidade de sistematização do ter-
Gotejamento 5,5 a 8
reno e declividades de, no máximo,
Gotejamento alternativo 3,5 a 5,5
2% e maior dificuldade na adubação
NOTA: Valores estimados no ano de 2011. de cobertura, uma vez que faz parte
do próprio processo o escoamento
superficial da água que arrasta parte
IRRIGAÇÃO NÃO movimenta-se tanto vertical quanto late-
PRESSURIZADA - IRRIGAÇÃO do adubo e acarreta perdas.
ralmente. Podem ser usados um ou dois
POR SUPERFÍCIE sulcos, onde a própria fileira de plantio Entretanto, a irrigação por sulco apre-
constitui o sulco de irrigação, ou ser aber- senta a vantagem de, quando as condições
O método de irrigação por superfície
pode ser dividido em irrigação por sulco, tos dois sulcos equidistantes da fileira de topográficas são propícias, a água ser
plantio. A distância dependerá da textura conduzida por ação da gravidade, sendo
faixa e inundação.
do solo. Nos arenosos, os sulcos são mais desnecessário seu bombeamento. Dessa
Irrigação por sulco próximos do que nos argilosos. Também forma, dispensa-se a utilização de mo-
podem ser utilizados sulcos em zigue- tores elétricos ou de combustão interna
A irrigação por sulco (Fig. 1) é, entre
zague ou em corrugação. (exemplo, motor a diesel), tubulações e
os demais sistemas de irrigação por super-
O sistema de irrigação por sulco apre- emissores, reduzindo-se o custo do inves-
fície, o de maior potencial de utilização em
senta uma série de inconvenientes, tais timento inicial.
alguns cultivos, como o de pinhão-manso,
feijão, cebola, cana, banana, citros etc. como:
Irrigação por faixa
Consiste na aplicação de água em peque- a) baixa uniformidade de distribuição
Consiste na aplicação de água ao longo
nos canais. A infiltração da água dá-se ao da água infiltrada ao longo do sulco,
longo do perímetro molhado do sulco e especialmente quando utilizada em de uma faixa de irrigação. Esta é separada
por diques ou taipas (Fig. 2). Geralmente
existe uma declividade ao longo do com-
primento da faixa e, no sentido transversal,
recomenda-se que a declividade seja nula.
A infiltração da água acontece somente no
sentido vertical.

Irrigação por inundação


Consiste na aplicação de água em
bacias e tabuleiros (Fig. 3). Essa aplica-
ção pode ser intermitente, onde a água é
aplicada e deixada até que se infiltre. Após
um determinado turno de rega, volta-se a
aplicar a água. No regime permanente, a
cultura permanece quase todo o tempo sob
inundação, a exemplo da cultura de arroz.
Os tabuleiros devem ser construídos em
Figura 1 - Sistema de irrigação por sulcos nível, a fim de manter uma mesma altura
FONTE: Magro (2002?). da lâmina d’água.
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10 Irrigação

d) alta eficiência de aplicação de água;


e) menor desenvolvimento de plantas
daninhas entre as linhas de plantio;
f) facilidade de distribuição e maior
parcelamento de fertilizantes e ou-
tros produtos químicos via água de
irrigação;
g) não interferência nas práticas cultu-
rais;
h) adaptação a diferentes tipos de solo
e topografia;
i) pouca mão de obra;
j) facilidade de automação;
k) possibilidade de uso de águas salinas
e servidas;
l) método de maior sintonia com a
nova Lei de Recursos Hídricos - Lei
no 9.433 de 8/1/1997 (Brasil, 1997).
Quanto às limitações, estas podem
ser causadas pelos emissores e acessórios
utilizados e pela forma com que a água
é aplicada. Portanto, podem apresentar
suscetibilidade ao entupimento (princi-
Figura 2 - Sistema de irrigação por faixas
palmente o gotejamento), exigência de
filtragem altamente eficiente, acúmulo de
sais no solo, restrição ao desenvolvimento
das raízes das plantas e alto custo inicial
(BERNARDO; SOARES; MANTOVANI,
2006).
O método de irrigação localizada, por
ter maior eficiência e menor consumo de
água e energia, a princípio, deve ser o mais
recomendado, principalmente em regiões
onde o fator água é limitante e em culturas
com grande espaçamento.
De forma geral, os sistemas de irrigação
localizada são fixos. Seus componentes são:
a) motobomba;
Figura 3 - Sistema de irrigação por inundação
b) cabeçal de controle (medidores de
FONTE: Deutsch Wikipedia (200-).
pressão e vazão, filtros, registros e
injetores de produtos químicos);
IRRIGAÇÃO PRESSURIZADA campo. Possui uma eficiência da ordem c) sistema de automação;
de 90%.
Irrigação localizada d) válvulas;
São vantagens da irrigação localizada:
e) linha principal ou de recalque;
No método de irrigação localizada, a a) controle rigoroso da água fornecida
água é aplicada diretamente sobre a região para a planta; f) linha de derivação;
radicular, em pequena intensidade e com b) baixo consumo de energia elétrica; g) linha lateral;
alta frequência, para manter o teor de água c) possibilidade de funcionamento 24 h) emissores (gotejadores ou microas-
próximo do ideal, que é a capacidade de horas por dia; persores).

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Irrigação 11

Dentre os sistemas de irrigação locali-


zada destacam-se o de gotejamento e o de
microaspersão (Fig. 4).

Irrigação por gotejamento


Fim de
No gotejamento (Fig. 5), aplicam-se linha
vazões pequenas, de 2 a 10 L/h, gota a
gota. Os emissores podem ser encontrados Microaspersor
na forma de botão, que é inserido sobre
Estaca
a linha lateral; em linha, quando a linha
lateral é seccionada e o emissor é inserido;
e intruso, quando o emissor é introduzido
dentro da mangueira no seu processo de Válvula
fabricação. TPBD
Têm-se ainda as mangueiras gote-
jadoras, nas quais são feitos orifícios e
labirintos. Nessa categoria, destacam-se Conector
os T-Tapes e as mangueiras de exudação.
Uma tecnologia mais recente no Bra-
sil, é o sistema de gotejamento enterrado.
Filtro
Nesse sistema, a lateral com gotejadores é
enterrada, evitando que o bulbo molhado Início de
linha
fique exposto, reduzindo perdas de água
por evaporação. A profundidade de insta- Tubo
lação deve ser tal que o sistema radicular PVC
da cultura fique na região do bulbo. Em
cana-de-açúcar, tem-se instalado o sistema
a 25 - 30 cm de profundidade (Fig. 6). Gotejador

Gotejamento alternativo Figura 4 - Esquema de montagem de sistema de irrigação por gotejamento e microas-
persão
Em algumas regiões, para viabilizar a NOTA: TPBD - Tubo de polietileno de baixa densidade.
cafeicultura irrigada, têm sido utilizados
sistemas de irrigação localizada conside-
rados alternativos, dentre os quais são cita-
dos: sistema de tubos flexíveis perfurados,
“tubinho-de-geladeira”, “gravatinha” e
“MB-2”. Esses sistemas apresentam baixo
custo, mas são sujeitos a maior desgaste,
menor uniformidade de distribuição de
água e menor confiabilidade.

Irrigação por microaspersão


Trata-se de um sistema de irrigação em
Polyanna Mara de Oliveira

que a água é aspergida por meio de micro-


aspersores, na área de maior concentração
do sistema radicular das plantas. É larga-
mente utilizado em fruticultura, irrigação
em casas de vegetação, jardins etc. Adapta-
se a diversas culturas e a qualquer tipo de
condições topográficas (Fig. 7). Figura 5 - Método de irrigação por gotejamento

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12 Irrigação

31 36 43 47

B A B
Tubo Tubo
gotejador gotejador 54 64 74 80

Paulo Eduardo da Silveira


Zona seca

Bulbo úmido Bulbo úmido


90 96 115
Figura 6 - Sistema de gotejamento enterrado em cana-de-açúcar
Figura 8 - Exemplo de diferentes bocais
utilizados para alterar a vazão
do microaspersor
FONTE: AMANCO (200-).

São menos suscetíveis ao entupimento


do que o sistema de gotejamento, exigindo
menos em termos de filtragem da água. Na
maioria dos casos, utilizam-se somente fil-
tros de tela ou disco, dispensando o de areia.

Irrigação por aspersão


Irrigação por aspersão é o método em
que a água é aspergida sobre as plantas. Em
alguns casos específicos, a água é aspergida
sob a copa, como acontece com a cultura da
Édio Luiz da Costa

bananeira. Nesse método, a água é aplicada


de forma que atinja 100% da área a ser
irrigada, à semelhança da chuva. Isso dá-se
em razão do fracionamento do jato d’água
Figura 7 - Cultivo de morango irrigado pelo sistema de microaspersão em gotas, na passagem sob pressão por
pequenos orifícios ou bocais, conhecidos
O sistema de microaspersão é compos- As vazões dos microaspersores vão como aspersores.
to por tubulações fixas distribuídas na área da ordem de 20 a 150 L/h. A vazão dese- São componentes de um sistema de
jada é conseguida com a troca de bocais, irrigação por aspersão:
de acordo com as características do plantio,
mantendo-se a mesma estrutura ou haste
onde emissores fixos ou rotativos de baixa a) conjunto motobomba;
do microaspersor (Fig. 8).
vazão distribuem a água diretamente na b) acessórios (registro, curvas, válvu-
Os sistemas por microaspersão, além
zona de maior concentração de raízes, las, manômetro etc.);
de permitir total automação, otimizam o
resultando em uma melhor eficiência de uso de fertilizantes, via água de irrigação c) aplicadores de produtos químicos;
uso da água. (fertirrigação). d) linha principal ou de recalque;
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Irrigação 13

e) linha de distribuição; c) aspersores de média pressão (20 a mais utilizados são: aspersão conven-
f) linha lateral; 40 mca): possuem alcance de 12 cional, aspersão por canhão hidráulico,
g) aspersores. a 36 m. Constituem os tipos mais autopropelido e pivô central.
utilizados. Podem ser de um ou dois
Como principais vantagens da asper- bocais; Aspersão convencional
são, pode-se destacar a possibilidade de ser
d) aspersores de alta pressão (40 a Uma grande vantagem desse sistema é
usada em quase todos os tipos de cultura e
100 mca): nesta faixa de pressão a facilidade de condução da irrigação. É
solo, em terrenos declivosos, ser possível
encontram-se dois modelos. Os ca- um sistema muito comum, principalmente
a automação e a aplicação de fertilizantes
nhões, que trabalham na faixa que em áreas pequenas. Tem como desvan-
via água de irrigação.
vai de 40 a 80 mca, com alcance de tagem a exigência de mão de obra para
Como desvantagens, têm-se a eficiência
30 a 60 m. Esses são largamente mudança das tubulações (Fig. 9).
reduzida pela evaporação da água, quando
utilizados em capineiras, pastagens, Uma variação da aspersão convencio-
em regiões de climas secos e quentes a
cana-de-açúcar e pomares. Na outra nal é o sistema de canhão hidráulico que
aplicação da água sobre a copa das plantas
faixa de pressão (50 a 100 mca), permite o uso de espaçamento maior entre
pode lavar produtos aplicados na folhagem
encontram-se os canhões de alto as linhas laterais e os aspersores. Consiste
e favorecer uma maior incidência de doen-
porte “gigantes”. Estes possuem na utilização de aspersores maiores. Em
ças na parte aérea; a desuniformidade de
raio de alcance de 40 a 80 m e são relação à aspersão convencional, exige
distribuição de água, quando a irrigação mais utilizados em sistemas auto-
é feita com velocidade do vento acima de menos mão de obra e pode irrigar áreas
propelidos para irrigação de cana-
2 m/s. Paz (2010?) apresenta, no Quadro 3, maiores.
de-açúcar, pastagens e capineiras.
valores de espaçamento de aspersores em Outra opção para redução de custos
função da velocidade do vento e do porcen- Os sistemas de irrigação por aspersão na irrigação por aspersão é o sistema de
tual de diâmetro molhado pelos emissores.
No mercado, são encontrados asperso- QUADRO 3 - Espaçamento entre aspersores em função da velocidade do vento e porcentual
res de diversas configurações. de diâmetro molhado
Quanto ao sistema de giro, têm-se Velocidade do vento Diâmetro molhado
aspersores rotativos com giro completo (m/s) (%)
ou setoriais (com regulagem de ângulo de Sem vento 65 a 70
giro) e aspersores estacionários. 0a2 55 a 65
Quanto ao ângulo de inclinação do 2a4 45 a 55
jato d’água com a horizontal, têm-se as-
>4 30 a 45
persores de 30º, que são os mais comuns,
FONTE: Paz (2010?).
e aspersores com 6º, os mais utilizados em
irrigação subcopa.
Os aspersores podem ser de um bocal
apenas e de dois bocais. A configuração dos
bocais (diâmetro) e pressão de serviço do
aspersor permitirão obter diferentes com-
binações de vazão (m3/h), alcance (m) e,
consequentemente, diferentes intensidades
de precipitação (mm/h).
De acordo com Bernardo (1996), os as-
persores podem ser classificados segundo
a pressão de serviço em:
a) aspersores de muito baixa pressão
(4 a 10 mca): são os de pequeno
alcance (0,5 a 6 m). Compreendem
aspersores especiais como os micro-
aspersores e aspersores de jardim;
b) aspersores de baixa pressão (10 a Figura 9 - Sistema de irrigação por aspersão
20 mca): têm alcance de 6 a 12 m; FONTE: Associação da Comunidade Educativa de Aveiro (200-).

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14 Irrigação

aspersão em malha, com tubos enterrados


de menores diâmetros (Fig. 10). Nesse sis- 7
tema, ao invés de movimentar toda a linha
lateral, são trocados apenas os aspersores,
o que reduz a mão de obra na mudança
de posições. Estima-se que um único
homem seja capaz de realizar esse tipo
de serviço, por exemplo, em um cafezal 0,5 Q 0,5 Q
irrigado de até 100 ha. Outras vantagens
desse tipo de irrigação é a adaptação a Q 2Q 2Q Q
diferentes tipos de terreno, baixo custo de 8 8
implantação, quando comparado a outros
sistemas, baixo consumo de energia (0,6
a 1,1 cv por ha irrigado) e facilidade de 5 6
operação e manutenção (FERNANDES;
DRUMOND, 2000). 4

Pivô central
Como forma de automatizar a irrigação 4Q
foi desenvolvida a irrigação por pivô cen-
Q = Vazão da água
tral, cuja linha lateral é movimentada por
1 Fonte de água 5 Linha lateral
sistema de rodas que giram em torno do
ponto central do pivô (Fig. 11). Assim, nes- 2 Tubulação de sucção 6 Ponto para conexão
se sistema, por causa do plantio circular, ao 3 dos aspersores
3 Conjunto motobomba Aspersores em
terminar uma irrigação, a linha encontra-se 7
2 funcionamento
na posição para iniciar a próxima. Dentre 4 Linha principal
8 Linha de derivação
as vantagens, podem-se destacar custo
competitivo e otimização da utilização da
1
mão de obra.
O plantio circular em áreas uniformes e
Figura 10 - Esquema de montagem da irrigação em malha
planas permite a utilização de sistemas de
FONTE: Irrigação...(2010).
distribuição da água sobre a fileira da planta
ou subcopa que possuem maior eficiência na
utilização da água e da quimigação.
Visando aumentar a eficiência do uso
da água na irrigação por pivô central, foi
desenvolvido o tipo Low Energy Precision
Aplication (LEPA) (Fig. 12), que, por
adaptações nos emissores, aplica a água
diretamente nas plantas. Emissores desse
sistema alteram a forma de aspergir a água,
Arquivo EPAMIG Norte de Minas - FEJA

em bulbo, spray e para uso na quimigação.

Autopropelido
O sistema autopropelido trabalha com
modelo de carretel enrolador e mangueira
rígida (Fig. 13). Apresenta menor custo ini-
cial, entretanto, tem uma limitação quanto
ao maior consumo de energia e ao alto
custo com a reposição da mangueira rígida,
que, por ser de arraste, sofre desgaste. Figura 11 - Sistema de irrigação por pivô central

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Irrigação 15

cientizar-se do manejo da irrigação, da


gestão da atividade como um todo. Para
obter êxito na atividade é importante
atentar para cada etapa do planejamento
da implantação do projeto de agricultura
irrigada, tais como:
a) concepção do projeto;
b) planejamento agronômico;
c) determinação dos parâmetros
básicos para dimensionamento e
especificação dos materiais;
d) capacitação da mão de obra opera-
cional e gerencial;
e) análise criteriosa da melhor relação
custo-benefício das possíveis alter-
nativas;
Figura 12 - Método de irrigação por pivô central tipo Low Energy Precision Aplication (LEPA)
FONTE: Fernandes (2010?). f) mercado;
g) implantação de uma metodologia de
avaliação dos resultados e eventuais
correções de rumos etc.
Somente dessa forma, encarando a
agricultura irrigada como uma atividade al-
tamente profissionalizada e competitiva,
será possível proporcionar maior garantia
de sucesso no cenário econômico e finan-
ceiro, que, muitas vezes, é inconstante.

REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO DA COMUNIDADE EDU-
CATIVA DE AVEIRO. Blogs ACEAV. [S. l.
200-]. Disponível em: <http://www.aceav.
pt/blogs/rogerfernandes/lists/fotografias>.
Acesso em 13 out. 2010.

AMANCO. Soluções AMANCO: linha


agrícola. São Paulo, [200-]. Disponível
Figura 13 - Método de irrigação por autopropelido em: <http://www.cimfel.com.br/manuais/
FONTE: Terra Molhada (2010?). amanco/catalogo_microaspersão.pdf>.
Acesso em: 13 out. 2010.

BERNARDO, S. Manual de irrigação. 6. ed.


CONSIDERAÇÕES FINAIS elevada competência, são formados nas Viçosa, MG: UFV, 1996. 657p.
instituições de ensino. Novas e melhores _______. SOARES, A.A.; MANTOVANI, E.C.
É importante salientar o avanço da técnicas de uso da irrigação são investi- Manual de irrigação. 8. ed. Viçosa, MG:
tecnologia de irrigação hoje no Brasil. gadas pelas instituições de pesquisa. No UFV, 2006. 625p.
Fábricas mais especializadas e produtos entanto, de nada valem essas vantagens
BRASIL. Lei no 9.433, de 8 de janeiro de
cada vez mais precisos e eficientes são e a adoção desses recursos tecnológicos, 1997. Institui a Política Nacional de Re-
lançados no mercado, assim como siste- sem o conhecimento prévio e adequado cursos Hídricos, cria o Sistema Nacional
mas de automação e controle cada vez dos parâmetros necessários ao controle de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
mais inteligentes. Novos profissionais eficiente da irrigação. A engenharia está regulamenta o inciso XIX do art. 21 da
ligados à engenharia de irrigação, de muito avançada, mas é preciso cons- Constituição Federal, e altera o art. 1o da Lei

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16 Irrigação

no 8.001, de 13 de março de 1990, que mo-


dificou a Lei no 7.990, de 28 de dezembro de
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Irrigação 17

Manejo da irrigação
Paulo Emílio Pereira de Albuquerque 1

Resumo - A consciência sobre o manejo da irrigação ainda não está satisfatoriamen-


te introduzida na mente dos agricultores brasileiros. Afora o manejo da irrigação em
si, ainda se observam muito desperdício e má uniformidade de distribuição da água e
mau funcionamento hidráulico dos vários sistemas de irrigação implantados. Apesar
de todos os benefícios e do alto investimento realizado pelos agricultores para implan-
tar a irrigação, a maioria deles não dá a devida importância ao manejo da irrigação,
por inúmeras causas, dentre estas são citadas: carência de dados edafoclimáticos, falta
de consultoria especializada, desconhecimento da metodologia de manejo, custos do
bombeamento, inexistência do pagamento pela água etc. Tudo isso leva a uma baixa
eficiência global da irrigação, com o comprometimento da sustentabilidade ambiental e
socioeconômica da agricultura irrigada.

Palavras-chave: Requerimento de água. Sustentabilidade agrícola. Sustentabilidade


ambiental. Programação da irrigação. Eficiência de irrigação.

INTRODUÇÃO bomba etc., e as necessidades normais de lâmina d’água requerida e o momento ou


irrigação que controlam o funcionamento dia mais certo de aplicá-la. Com isso, serão
Na agricultura moderna, desde aquela
do sistema. Portanto, o que importa para obtidos tanto a recomendação de lâminas
de grande escala, que utiliza altas tec-
o projetista são as necessidades máximas, brutas de água quanto o tempo para sua
nologias, até a de pequena escala, como
que permitem calcular a hidráulica das aplicação. Se a programação for com base
a agricultura familiar, a irrigação pode
instalações. As necessidades normais, em algumas ferramentas computacionais,
ser uma tecnologia imprescindível para
aquelas de interesse do irrigante durante a como planilhas eletrônicas, que dão supor-
incrementar a produtividade das culturas. te ao irrigante para a tomada de decisão,
condução do dia a dia de sua cultura, são
Deve ser, contudo, praticada com todos os poderá haver a flexibilização da operação,
obtidas pelo manejo de irrigação, que é o
cuidados requeridos, para causar o menor ajustamento da duração e/ou a frequência dentro da capacidade desse irrigante, tendo
impacto possível ao ambiente e ser susten- de irrigação em função da lâmina d’água em vista que a decisão de irrigar pode ser
tável por um longo período. requerida para determinada fase ou perí- tomada em qualquer dia, observando a
O primeiro passo para elaboração do odo do ciclo da cultura (VERMEIREN; reserva de água do solo para que a cultura
projeto e dimensionamento de qualquer JOBLIN, 1997). não sofra excesso nem déficit hídrico.
sistema de irrigação é determinar as neces- A racionalidade do uso da água de
sidades hídricas das culturas que serão im- irrigação passa pela eficiência de distri- CONCEITOS NECESSÁRIOS
plantadas. Geralmente, esses cálculos são buição da lâmina aplicada e pela progra- PARA PROGRAMAR A
realizados para as condições críticas que IRRIGAÇÃO
mação bem planejada. A programação ou
poderão ocorrer com a cultura em função o manejo da irrigação é aplicar a água na
do solo, do clima, da fase dessa cultura e quantidade e no momento requeridos pela Evapotranspiração da
da época do ano. Por isso, deve-se definir cultura
cultura (ALBUQUERQUE, 2003).
com clareza a diferença entre as necessida- Este artigo tem como objetivo apre- A água necessária a uma cultura é equi-
des máximas de irrigações que se utilizam sentar o correto manejo da irrigação, ou valente a sua evapotranspiração, que é a
para o cálculo do diâmetro das tubulações, seja, o acompanhamento diário da cultura combinação de dois processos: evaporação
do dimensionamento do conjunto moto- no campo em termos da quantidade ou da água do solo e transpiração das plan-

1
Eng o Agrícola, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico:
emilio@cnpms.embrapa.br

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18 Irrigação

tas. A necessidade hídrica de uma cultura


baseia-se na sua evapotranspiração potencial
máxima (ETm) e é expressa, normalmente,
em milímetros por dia (mm/dia).
Em situação prática, tem-se a evapo-
transpiração de cultura (ETc) relacionada
com a evapotranspiração de uma cultura
de referência (ETo), que é a grama-batatais,
ou uma cultura hipotética, com uma altura
uniforme de 12 cm, resistência do dossel da
cultura de 70 s/m e albedo de 0,23, em pleno
crescimento e sem deficiência de água, de
modo que simplifique o processo de estimar
a ETc, que pode ser obtida pela expressão:
Equação 1:

Clenio Araujo
ETc = Kc . ETo

em que:
Figura 1 - Tanque de evaporação Classe A, utilizado para estimar a evapotranspiração
ETc = evapotranspiração da cultura do de referência (ETo)
milho (mm/dia);
Kc = coeficiente da cultura do milho
(adimensional);
ETo = evapotranspiração da cultura de 1,2
Kc médio
referência (mm/dia).
1,0
Com base nos dados meteorológicos
disponíveis, seleciona-se um método para 0,8
o cálculo da ETo. Na literatura especiali-
zada, encontra-se a descrição de alguns 0,6
métodos para estimar a ETo. Mais recen- Kc final
Kc inicial
temente tem sido recomendada pela FAO
0,4
a equação de Penman-Monteith. Também
muito utilizado é o tanque de evaporação 0,2 FASE 1 FASE 2 FASE 3 FASE 4 FASE 5
Classe A (Fig. 1).
0,0
Coeficiente de cultura
Fase do ciclo
Os valores do coeficiente de cultura
Gráfico 1 - Evolução do coeficiente de cultura (Kc) em função das fases de crescimento
(Kc) são influenciados pelo tipo de cul- de culturas de ciclo curto ou anuais
tura, pelas características da variedade ou
cultivar, época de semeadura, estádio de
desenvolvimento da cultura e condições de irrigação nessa fase. Também o valor de Deve-se atentar para o fato de que cul-
gerais de clima. Uma cultura de ciclo curto Kc3 é constante, sendo mais influenciado turas de ciclo perene, como as fruteiras e a
ou anual pode ter o seu estádio de desen- pela demanda evaporativa predominante. cultura do café, não seguem exatamente o
volvimento dividido em quatro fases, para Os valores assumidos para as fases 2 e 4 padrão da evolução temporária do Kc, como
efeito do estudo da evolução dos valores de variam linearmente entre os valores das mostrado no Gráfico 1. Para essas culturas,
Kc ao longo do tempo (Gráfico 1). fases 1 e 3 e fases 3 e 5, respectivamente, há necessidade de pesquisar na literatura
De acordo com o Gráfico 1, o valor de como está apresentado no Gráfico 1. especializada qual é o padrão de Kc para
Kc na fase 1 (Kc1) é constante e influen- No Quadro 1, estão os valores de Kc o ciclo da cultura específica, normalmente
ciado, significativamente, pela frequência para as fases do ciclo de diversas culturas. apresentado num ciclo de um ano.
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Irrigação 19

QUADRO 1 - Coeficientes de cultivo único (Kc) e alturas máximas médias de plantas (h), CRITÉRIOS DE MANEJO DE
para cultivos sob condição padrão – culturas bem manejadas, não estressadas, IRRIGAÇÃO
em clima subúmido (URmin = 45% e u2 = 2 m/s)
h Critério com base no
Cultura Kc inicial Kc médio Kc final
(m) uso das características
Leguminosas 0,40 1,15 0,55 físico-hídricas do solo
Amendoim 1,15 0,60 0,4
e na estimativa da
(1) (2)
evapotranspiração da
Ervilha 1,15 1,10 - 0,30 0,5
cultura
(2) (2)
Feijão 0,40 1,05 - 1,15 0,90 - 0,35 0,4
Feijão ‘Caupi’ 1,05 (2)
0,60 - 0,35 0,4
O turno de rega ou de irrigação (TI)
é normalmente variável de acordo com a
Grão-de-bico 1,00 0,35 0,4
variabilidade temporal da ETc. Entretanto,
Lentilha 1,10 0,30 0,5
um critério de manejo de irrigação com o
Soja 1,15 0,50 0,5 - 1,0
TI variável, apesar de ser o ideal, muitas
Fibras 0,35
vezes torna-se de difícil operacionalidade
Algodão 1,15 - 1,20 0,70 - 0,50 1,2 - 1,5
em condição prática.
Oleaginosas 0,35 1,15 0,35
Na adoção de um TI fixo, parte-se do
(3)
Canola 1,00 - 1,15 0,35 0,6 pressuposto que a ETc diária possui um
(3)
Girassol 1,00 - 1,15 0,35 2,0 valor constante, que pode ser obtido pela
Mamona 1,15 0,55 2,0 média diária prevista para todo o período
Cereais 0,30 1,15 0,40 de desenvolvimento da cultura ou pelo
Arroz 1,05 1,20 0,90 - 0,60 1,0 valor crítico estabelecido no dimensiona-
Aveia 1,15 0,25 1,0 mento do sistema de irrigação, mas são
Cevada 1,15 0,25 1,0 valores que não retratam o dia a dia da ETc
Milheto 1,00 0,30 1,5 no campo. O que se recomenda pelo menos
Milho 1,20 (4)
0,60 - 0,35 2,0 é que se adote o TI fixo para cada uma das
Sorgo 1,00 - 1,10 0,55 1,0 - 2,0 quatro fases relatadas no item referente à
Trigo 1,15 (5)
0,25 - 0,40 1,0
seleção do Kc, de modo que se considere
a ETc média diária reinante em cada uma
Cana-de-açúcar 0,40 1,25 0,75 3,0
FONTE: Allen et al. (1998). dessas fases. Esse critério normalmente é
NOTA: URmin - Umidade relativa mínima diária; u2 - Velocidade do vento a 2 m da superfície. empregado quando se trabalha com dados
(1) Algumas vezes utilizam-se estacas com 1,5 a 2,0 m de altura, assim o valor de Kc médio pode históricos (de no mínimo 15 anos) da ETo
atingir 1,20. (2) O primeiro valor é para colheita fresca e o segundo para colheita de grãos secos. para o local do cultivo.
(3) Os valores mais baixos referem-se a condições chuvosas com menor densidade populacional. Dessa forma, o TI e a lâmina líquida
(4) O primeiro valor para Kc final é para colheita com alta umidade nos grãos. O segundo valor (LL), determinados para cada uma das
para Kc final é para cultura colhida após o grão estar seco (cerca de 18% de umidade à base de
quatro fases do ciclo do milho, são dados
peso úmido). (5) O valor mais alto é para colheita manual.
pelas expressões:
Equação 2:
Água disponível no solo inferior da água disponível. Verificou-se
que, na maioria dos solos e das situações, TIi = Armi
Além de outras importantes funções ETci
o solo encontra-se na CC, quando o po-
que o solo desempenha no sistema agrí-
cola, é também o “reservatório” de água tencial matricial da água (ψm) contida nele Equação 3:
para as plantas. A capacidade de água oscilar na faixa entre -10 (solos arenosos
disponível no solo (CAD), que pode ser e Latossolos em geral) e -30 kPa (solos LLi = TIi . ETci
absorvida pela planta é definida como a argilosos). Também foi verificado que o
valor desse potencial para o PMP é de em que:
água contida no solo que está entre o teor
de água do solo na capacidade de campo -1.500 kPa. Em laboratório, tanto a CC i = índice correspondente à fase (Grá-
(CC), ou limite superior da água dispo- quanto o PMP podem ser determinados fico 1) do ciclo da cultura (i = 1, 2,
nível, ou teor de água do solo no ponto com o mesmo equipamento utilizado para 3, 4 ou 5);
de murcha permanente (PMP), ou limite detectar a curva de retenção. TIi = turno de irrigação na fase i (dia);
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20 Irrigação

Armi = lâmina d’água armazenada no


solo na fase i que será usada
como suprimento para a cul-

Evolução do sistema radicular (Z)


tura (mm); Zo

ETci = evapotranspiração da cultura


média diária na fase i (mm/dia);
LLi = lâmina líquida de irrigação na
fase i (mm).
A lâmina d’água, que fica armazenada
no solo (Arm) e pode-se tornar disponível
à planta, é representada pela expressão:

Idmar Pedro
Equação 4: Zmáx

(CC-PMP)
Arm = .f.d.Z Figura 2 - Estimativa do desenvolvimento do sistema radicular de culturas de ciclo curto
10
em função das fases da cultura
em que: NOTA: Z0 - Profundidade de semeadura (cm); Zmáx - Profundidade máxima efetiva do
sistema radicular (cm).
Arm = lâmina d’água armazenada no
solo que será usada como su-
primento para a cultura (mm); QUADRO 2 - Fator de disponibilidade (f) para grupos de cultura em função da evapotrans-
piração máxima (ETm)
CC = teor de água do solo na capaci-
ETm
dade de campo (% peso); Grupo de (mm/dia)
PMP = teor de água do solo no ponto de cultura
2 3 4 5 6 7 8 9 10
murcha permanente (% peso);
d = densidade do solo (g/cm3); 1 0,50 0,425 0,35 0,30 0,25 0,225 0,20 0,20 0,175

10 = constante necessária para conver-


2 0,675 0,575 0,475 0,40 0,35 0,325 0,275 0,25 0,225
são de unidades;
f = coeficiente de depleção da água 3 0,80 0,70 0,60 0,50 0,45 0,425 0,375 0,35 0,30
no solo (adimensional, 0 < f < 1);
4 0,875 0,80 0,70 0,60 0,55 0,50 0,45 0,425 0,40
Z = profundidade efetiva do sistema
radicular (cm - Z0 ≤ Z ≤ Zmáx, sendo FONTE: Doorenbos e Kassan (1979).
Z0 a profundidade de semeadura); NOTA: 1 - Cebola, pimentão e batata; 2 - Banana, repolho, uva, ervilha e tomate; 3 - Alfafa,
feijão, citros, amendoim, abacaxi, girassol, melancia e trigo; 4 - Algodão, milho,
Zmáx = profundidade máxima efetiva azeitona, açafrão, sorgo, soja, beterraba, cana-de-açúcar e fumo.
do sistema radicular, conforme
a Fig. 2).
da no Quadro 3, entretanto, dependendo mento seja linear a partir da profundidade
O coeficiente de depleção ou fator de
das circunstâncias, impedimentos no de semeadura até atingir a fase 3, como
disponibilidade (f) estabelece o ponto
solo de ordem física e/ou química podem está representado na Figura 2.
da água no solo onde não haverá perda
alterar esses valores. Assim, é preferível Geralmente, no cálculo do TI (Equa-
de rendimento da cultura proveniente
da demanda evaporativa. Assim, maior que se realize um teste em campo para ção 2), é muito comum a não obtenção
demanda evaporativa normalmente exi- encontrar o valor mais compatível com de número inteiro, ou seja, o TI com
girá menores valores de f e vice-versa. a realidade local. Na fase inicial, o siste- fração de dias. O que se faz comumente
Os valores de f podem ser encontrados ma radicular começa a desenvolver-se a é o arredondamento para o próximo
no Quadro 2, de acordo com a cultura partir da profundidade de semeadura até valor inteiro inferior, de modo que o
e a ETm. atingir o seu pleno desenvolvimento, que coeficiente f fique ajustado para um valor
A profundidade máxima efetiva do deve ocorrer no término da fase 2. Pode menor ao originalmente adotado. Isto
sistema radicular (Zmáx) pode ser observa- ser considerado que o seu desenvolvi- se faz por medida de segurança, para
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Irrigação 21

não submeter a cultura a algum tipo de Critério com base em máxima atividade radicular (ponto A -
estresse hídrico. Entretanto, quando o sensores para monitoramento que corresponde aproximadamente a
seu valor na casa decimal for superior do potencial ou teor de região mediana da profundidade efetiva
a 8 décimos (> 0,8), não será problema água do solo
do sistema radicular, para a cultura em
o seu arredondamento para o próximo Os equipamentos que possuem senso- seu máximo desenvolvimento) e outra
número inteiro superior, desde que se res que monitoram o potencial matricial nas proximidades da parte inferior da
analise o que ocorre com o coeficiente (tensiômetros e blocos de resistência zona radicular (ponto B). No caso do
f. Desse modo, haverá a necessidade de elétrica) e o teor de água no solo (TDR2 milho, o que pode ser considerado,
corrigir a LL obtida pela Equação 3, em e sonda de nêutrons) podem ser empre- quando só se dispuser de equipamento
função do TI corrigido, com a conse- gados também para fazer o manejo de para monitorar o potencial ou o teor de
quente mudança do valor de f. irrigação. água do solo, é que se realizem irriga-
O tensiômetro funciona adequa- ções frequentes (um ou dois dias) até
damente na faixa de potencial 0 a -80 os 15 dias após a semeadura (DAS) e
QUADRO 3 - Profundidade máxima efetiva
kPa, e não representa grande problema, de 15 a 30 DAS instalem-se os sensores a
(Zmáx) do sistema radicular de
algumas culturas
porque a maior parte da água facilmente 10 cm (ponto A) e 20 cm de profundidade
disponível dos solos usados em agri- (ponto B). Após os 30 DAS, os sensores
Zmáx
Cultura cultura está retida dentro dessa faixa de nos pontos são aprofundados para 20 cm
(cm)
potencial. Quando há necessidade de (ponto A) e 40 cm (ponto B) (Fig. 3). As
Abacaxi 20 extrapolar essa faixa (potenciais < -80 medições no ponto A são as que devem
kPa), podem-se empregar os blocos de ser utilizadas para o critério do momen-
Algodão 30
resistência elétrica, havendo necessidade to da irrigação, e as no ponto B servem
Amendoim 50 - 60 da calibração destes para cada tipo de como complementares, para que se tenha
solo. Em ambos os casos, haverá a ne- um controle sobre o movimento da água
Arroz 20 - 30
cessidade também da obtenção da curva no solo durante a extração de água pela
Banana 40 de retenção do solo, ou pelo menos dos cultura e mesmo durante os processos de
teores de água do solo na CC, e no PMP irrigação (infiltração) e redistribuição da
Batata 20 - 30
e do potencial de referência para fazer a água no perfil.
Café 50 irrigação (ψir). Ao controlar a irrigação por meio
Para a maioria das culturas, o poten-
Cana-de-açúcar 50 - 70 desses sensores instalados no solo, o
cial de referência para efetuar a irrigação
momento de irrigar fica completamente
Cebola 20 (ψir) varia de acordo com o clima local e a
independente do estabelecimento prévio
época de plantio. Porém, de modo geral,
Culturas perenes 50 - 70 de turnos de irrigação. Contudo, deve-se
para a garantia de plantas sem estresse
acompanhar o desenvolvimento do sis-
Feijão 20 - 30 hídrico, pode-se considerar o ψir em tor-
tema radicular, para determinar a zona
no de -70 kPa. Mas cada caso deve ser
Melancia, melão 30 ativa das raízes (Zi) e considerar a leitura
estudado em suas condições peculiares.
do potencial ou do teor de água do solo
Milho 40 - 50 Estudos de Resende, França e Couto
feita no ponto médio dessa profundidade
(2000) indicam, para a cultura do milho,
Pastagem 30 como a indicadora de quando irrigar.
o potencial de -70 kPa em condições de
Ao usar este método como manejo de
Soja 40 - 50
verão nos Cerrados e em qualquer época
irrigação, a lâmina líquida de irrigação
no Semiárido e de -300 kPa no inverno
Tomate, fumo 20 - 50 por fase da cultura (LL i) é dada pela
nos Cerrados.
expressão:
As medições do potencial ou do teor
Trigo 30 - 40
de água do solo devem ser feitas em Equação 5:
Videira 50 pelo menos três a quatro pontos repre-
(CC-Uir) . d . Z
FONTE: Arruda et al. (1987) e Brasil (1986) sentativos da área e, no mínimo, a duas LLi = i
(apud MOREIRA, 1993).
10
profundidades (Fig. 3): uma na zona de

2
TDR - Time Domain Reflectometer.

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22 Irrigação

do qual realizar-se-á a irrigação. Por


exemplo, como já visto para o milho,
o valor de ψir pode ser de -70 kPa lido
num tensiômetro.
A lâmina líquida de irrigação na fase
i é determinada pelo somatório da ETc
acumulada desde a última irrigação re-
alizada, conforme a expressão:
Equação 6:

LLi = Kci . Σnj = 1EToj

em que:
P1 LLi= lâmina líquida de irrigação na
fase i (mm);
A i = índice correspondente à fase do
Z P2
ciclo do milho (i = 1, 2, 3 ou 4);
j = índice correspondente ao dia da
coleta dos dados da ETo;

Idmar Pedro
n = número máximo de dias de coleta
B dos dados da ETo até que o poten-
cial (ψir) ou teor de água no solo
Figura 3 - Posição dos instrumentos de medição do potencial ou do conteúdo de água no (Uir) seja atingido;
solo junto às plantas e profundidades de instalação
NOTA: Z - Profundidade efetiva do sistema radicular; P1 - Profundidade inicial de instala- Kci = coeficiente de cultura na fase i;
ção do tensiômetro; P2 - Profundidade final de instalação do tensiômetro. EToj = evapotranspiração de referên-
cia no dia j (mm/dia).

em que: entanto, quando se utilizam instrumentos Esse critério de manejo adapta-se


que medem apenas o potencial matricial bem quando se utiliza o tensiômetro
LLi = lâmina líquida de irrigação na para estabelecer o momento da irrigação
(como o tensiômetro), é necessário con-
fase i (mm);
verter o valor de ψir em Uir por meio da e o tanque Classe A para a estimativa
CC = teor de água do solo na capaci- curva de retenção de água do solo. da ETo diária, havendo, neste caso, a
dade de campo (%peso); necessidade de multiplicar a evaporação
Uir = teor de água do solo no ponto Critério conjunto com da água do tanque Classe A (ECA) por
A correspondente ao potencial sensores de solo e um coeficiente de tanque (Kt), conforme
com algum método de
referente ao momento de efetuar o Quadro 4.
medir ou estimar a
a irrigação (ψir = -70 kPa) (% evapotranspiração de O cálculo da ETo é feito conforme a
peso); referência expressão:
d = densidade do solo (g/cm3);
Esse critério tem a vantagem de Equação 7:
Zi = profundidade efetiva do sistema poder programar a irrigação sem conhe-
radicular na fase i (cm); cimento prévio das características físico- ETo = Kt . ECA
10 = constante necessária para conver- hídricas do solo, como, por exemplo,
são de unidades. em que:
a sua curva de retenção de água e do
Observa-se que o coeficiente f não clima. O sensor de potencial ou de teor ETo = evapotranspiração de referência
aparece explícito na Equação 5, porque de água do solo indicará o momento de (mm/dia);
esse fator está implícito ao se estabelecer irrigar, conhecendo-se antecipadamente Kt = coeficiente do tanque Classe A;
um limite mínimo de teor de água do o limite mínimo do potencial ψir ou do ECA = evaporação da água do tanque
solo para reinício da irrigação (Uir). No conteúdo de água (Uir) no solo, a partir Classe A (mm/dia).
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Irrigação 23

QUADRO 4 - Coeficiente de tanque (Kt) para diferentes condições de cobertura de solo, de níveis de umidade relativa média do ar e de
velocidade de vento de 24 h1
Caso A - tanque exposto em local coberto com
Caso B - tanque exposto em local de solo nu
UR média vegetação verde
(%) Baixa Média Alta Baixa Média Alta
<40 40 - 70 >70 <40 40 - 70 >70
Vento Bordadura
(km/dia) (R) m
Leve 1 0,55 0,65 0,75 0,70 0,80 0,85
<175 10 0,65 0,75 0,85 0,60 0,70 0,80
(<2 m/s) 100 0,70 0,80 0,85 0,55 0,65 0,75
1000 0,75 0,85 0,85 0,50 0,60 0,70
Moderado 1 0,50 0,60 0,65 0,65 0,75 0,80
175-425 10 0,60 0,70 0,75 0,55 0,65 0,70
(2-5m/s) 100 0,65 0,75 0,80 0,50 0,60 0,65
1000 0,70 0,80 0,80 0,45 0,55 0,60
Forte 1 0,45 0,50 0,60 0,60 0,65 0,70
425-700 10 0,55 0,60 0,65 0,50 0,55 0,65
(5-8m/s) 100 0,60 0,65 0,70 0,45 0,50 0,60
1000 0,65 0,70 0,75 0,40 0,45 0,55
Muito 1 0,40 0,45 0,50 0,50 0,60 0,65
forte 10 0,45 0,55 0,60 0,45 0,50 0,55
>700 100 0,50 0,60 0,65 0,40 0,45 0,50
(>8 m/s) 1000 0,55 0,60 0,65 0,35 0,40 0,45
FONTE: Doorenbos e Pruitt (1977).
NOTA: UR - Umidade relativa.
(1) Para obter ETo: ETo = Kt x ECA (ECA é a evaporação da água no tanque Classe A).

IRRIGAÇÃO DO DIA DO CC = teor de água do solo na capacida- Logo após o plantio, a semente ou
PLANTIO E DOS DIAS de de campo (% peso); a muda necessitará de umidade no solo
PRÓXIMOS SUBSEQUENTES para iniciar o processo de germinação ou
Uin = teor de água inicial do solo, ou
É recomendável que a irrigação do seja, no dia do plantio (% peso); de desenvolvimento. A reserva de água
dia do plantio ou da semeadura seja feita no solo necessária à germinação limita-se
d = densidade do solo (g/cm3);
para umedecer uma profundidade de solo à profundidade de semeadura (Z0) e um
Z = profundidade do solo que se deseja
preestabelecida até a CC. Essa camada de pouco além dela. Portanto, é de funda-
irrigar até a CC (cm). Recomenda-
solo a considerar deverá ser de, no míni- mental importância manter o solo sempre
se que Z seja profundidade efetiva
mo, a profundidade máxima efetiva do úmido no período de pré-emergência ou
igual à máxima do sistema radicu-
sistema radicular anteriormente discutida. pegamento da muda. A grande perda de
lar (Zmáx);
Assim, a equação para calcular a LL água pelo solo nesse período ocorre da
de plantio é semelhante à Equação 5 e é 10 = constante necessária para conver- evaporação pela sua superfície.
escrita pela expressão: são de unidades.
O Uin pode ser determinado pelo mé- LÂMINA BRUTA DE
Equação 8:
IRRIGAÇÃO
todo gravimétrico por meio de amostra
(CC-Uin)
LLplantio = 10 .d.Z retirada do local até a Z. Dependendo da A lâmina bruta de irrigação (LB)
condição climática, como, por exemplo, baseia-se na LL, eficiências do sistema
em que: após um período de seca prolongado, o e na necessidade de lâminas extras de
LLplantio = lâmina de irrigação a ser apli- seu valor poderá até ser menor do que lixiviação, para o caso de controle de
cada no dia do plantio (mm); o PMP. salinização em áreas propícias.
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24 Irrigação

Desse modo, a LB é dada pela ex- tem alguns recursos computacionais dis-
pressão: poníveis, como uma planilha eletrônica,
Equação 9: que pode ser acessada pela internet3 ou
fazer pedidos do programa IrrigaFácil4.
LL Mesmo que ainda haja dificuldades
LB = Ef + Lr
técnicas para implantar o manejo de ir-
em que: rigação das culturas, o agricultor deve-se
conscientizar sobre a importância desta
LB = lâmina bruta de irrigação (mm); prática, e procurar assistência técnica
especializada ou fazer consultas a ins-
LL = lâmina líquida de irrigação (mm);
tituições públicas ou privadas que lhe
Lr = lâmina complementar necessária
possam dar o apoio necessário.
para lavagem do solo, em situ-
ação propícia à salinização do REFERÊNCIAS
solo (mm);
ALBUQUERQUE, P.E.P. de. Planilha eletrô-
Ef = eficiência de irrigação (em de- nica para a programação de irrigação em
cimal). pivôs centrais. Sete Lagoas: Embrapa Milho
A Ef representa a porcentagem da e Sorgo, 2003. 9p. (Embrapa Milho e Sorgo.
água total aplicada à cultura que foi Circular Técnica, 25).
beneficamente utilizada para o uso con- _______. Planilha eletrônica para progra-
suntivo. Ef é basicamente uma função da mação da irrigação em sistemas de asper-
são convencional, pivô central e sulcos.
uniformidade de aplicação de água, mas
Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2007.
também depende de perdas menores (es- 18p. (Embrapa Milho e Sorgo. Circular Téc-
coamento superficial, vazamentos, fluxos nica, 97).
na rede e drenagem), perdas inevitáveis ALLEN, R.G. et al. Crop evapotranspira-
(percolação profunda, por causa do pa- tion: guidelines for computing crop wa-
drão de molhamento no solo, e chuva fora ter requirements. Rome: FAO, 1998. 300p.
de época) e perdas evitáveis (resultantes (FAO. Irrigation and Drainage Paper, 56).
de programação inadequada). DOORENBOS, J.; KASSAM, A.H. Efectos
Em regiões úmidas, que possuem um del agua sobre el rendimiento de los culti-
período de chuvas regulares, que promo- vos. Roma: FAO, 1979. 212p. (FAO. Estudio.
Riego y Drenage, 33).
vem a lavagem do solo, é desnecessário
o uso da Lr. Entretanto, em regiões de _______; PRUITT, W.O. Crop water require-
ments. Rome: FAO, 1977. 144p. (FAO. Irri-
chuvas escassas, como em locais áridos e
gation and Drainage. Paper, 24).
semiáridos, há necessidade de considerar
MOREIRA, H.J.C. S.A.A.C.I. - Sistema agro-
esse termo no cálculo da LB.
climatológico para o acompanhamento
Os valores da Ef são obtidos em função das culturas irrigadas: manual prático para
da uniformidade de aplicação que o siste- o manejo da irrigação. Brasília: Ministério
ma de irrigação empregado pode fornecer. da Integração Regional - Secretaria Nacio-
Por isso, é importante realizar testes de nal de Irrigação, 1993. 86p.
uniformidade de aplicação de água nos RESENDE, M.; FRANÇA,G.E.de.; COUTO,
diversos sistemas de irrigação existentes. L. Cultivo do milho irrigado. Sete Lagoas:
Embrapa Milho e Sorgo, 2000. 39p. (Embra-
pa Milho e Sorgo. Circular Técnica, 6).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
VERMEIREN, L.; JOBLING, G.A. Irrigação lo-
Para a programação da irrigação das calizada. Campina Grande: UFPB, 1997. 184p.
culturas, na Embrapa Milho e Sorgo exis- (FAO. Estudos. Irrigação e Drenagem, 36).

3
Acessar: www.cnpms.embrapa.br, entrando em Publicações, Publicações On-line, Circular
Técnica, Ano 2007, 0097 (ALBUQUERQUE, 2007).
4
Por meio do correio eletrônico: irrigafacil@cnpms.embrapa.br

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26 Irrigação

Projetos de irrigação
Luís César Dias Drumond 1
André Luís Teixeira Fernandes 2

Resumo - Dentro de todo sistema de irrigação, o projeto assume grande importância no


sucesso desta atividade. Um projeto técnico e economicamente correto deve ser pensado
para cada situação em particular. Não existe um projeto pronto para qualquer situação.
O projetista deve atentar para diversas particularidades como o método e o sistema ade-
quado de irrigação, conhecer as características das plantas, o tipo de solo a ser irrigado,
o clima da região, a necessidade hídrica da cultura, o manejo a ser adotado e, ainda, o
nível de tecnificação da propriedade. É importante que se faça também a análise de via-
bilidade econômica do projeto. Portanto, torna-se necessário esclarecer alguns passos,
processos e dicas para a elaboração do projeto de um sistema de irrigação.

Palavras-chave: Irrigação localizada. Irrigação por aspersão. Irrigação de paisagismo.

INTRODUÇÃO O desenvolvimento dos recursos hídri- nutrientes, e evita-se a deterioração do


cos não pode ser considerado em separado solo. Além disso, todo projeto deverá ser
A água é um dos principais fatores do
da conservação ambiental, já que em sua sustentável e respeitar o meio ambiente.
desenvolvimento das culturas. A irregulari-
essência envolve a sustentabilidade do ho- Por isso é preciso conhecer a relação entre
dade do regime pluviométrico de algumas
mem no meio natural. Em termos agrícolas, os fatores de produção.
regiões pode tornar-se uma restrição ao
o aspecto da qualidade da água tem sido Para cada situação deve-se atentar para
desenvolvimento agropecuário. Os recur- a escolha do tipo adequado de irrigação,
desprezado em grande parte dos projetos
sos hídricos são renováveis, porém finitos. conhecer as características da planta, do
que envolvem agricultura irrigada, pelo
Assim, sua preservação é de extrema tipo de solo que vai irrigar, do clima da
fato de, no passado, serem abundantes as
importância. região, da necessidade hídrica de cada
águas de boa qualidade e fácil utilização.
Nas diversas atividades humanas, agrí- Porém, essa situação está-se alterando, cultura e do manejo a ser adotado. Pensar
colas, industriais ou recreativas, em que de por causa do uso intensivo do manancial nesses fatores é a certeza de sucesso da
alguma forma a água é consumida, técnicas hídrico, o que exige, para novos projetos, atividade irrigada.
para a utilização mais racional desse re- a utilização de água residuária.
curso hídrico devem ser priorizadas, tanto Assim, é de suma importância um bom ELABORAÇÃO DO PROJETO
para minimizar o seu consumo, quanto projeto, que é o coração do sistema de irri- DE IRRIGAÇÃO
para preservar sua finalidade. A água uti- gação. Sem um bom projeto é impossível Para a elaboração de um projeto de
lizada para irrigação é, em geral, obtida ter um sistema de irrigação funcionando irrigação e instalação do equipamento,
de fontes superficiais ou subterrâneas. No adequadamente. Deve-se pensar na vazão, para qualquer sistema, deve-se levar em
Brasil, a quase totalidade provém de fontes na pressão de serviço, na capacidade da consideração os parâmetros a seguir.
superficiais, como lagos, represas, rios e motobomba, na fertirrigação, na utilização
riachos, os quais estão sujeitos à poluição de água residuária etc. Levantamento
e à proliferação de organismos aquáticos. planialtimétrico
Em um projeto de irrigação buscam-
O consumo de água é crescente, para os se aumento de produção, com economia Deve-se fazer um levantamento pla-
diversos fins, e sua disponibilidade com de mão de obra e de água, racionalização nialtimétrico do local onde será implan-
qualidade está-se tornando cada vez menor. de energia elétrica, redução de perdas de tado o projeto, com escala compatível

1
Eng o Agr o , D.Sc., Prof. Adj. UFV, Campus de Rio Paranaíba, CEP 38810-000 Rio Paranaíba-MG. Correio eletrônico: irriga@ufv.br
2
Eng o Agr o , D.Sc., Prof./Pesq. Uniube/Fazu, CEP 38055-500 Uberaba-MG. Correio eletrônico: andre.fernandes@uniube.br

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Irrigação 27

com o tamanho da área e curvas de nível com maior uniformidade possível. Para PROJETOS DOS SISTEMAS DE
equidistantemente espaçadas. O ideal é ter isso, é bom que o projetista tenha conhe- IRRIGAÇÃO
a planta em arquivo do Autocad (extensão cimento do perfil de distribuição de água
dwg), que deve conter informações do do emissor a ser usado. Irrigação localizada
posicionamento da água, sua cota do nível Neste método de irrigação a água é
mais baixo, estradas, rede de energia elétri- Quantidade e qualidade
aplicada no solo, diretamente sobre a re-
ca, cercas, afloramentos rochosos e outros da água
gião radicular, em pequenas quantidades,
detalhes que possam interferir na seleção Apesar do elevado consumo, a irriga- mas com alta frequência, mantendo o solo
e no layout do sistema. É conveniente ção representa uma maneira eficiente e pro- sempre com teor relativamente elevado de
realizar uma visita à área, para verificar dutiva de obter alimentos em quantidade umidade. Os sistemas mais utilizados são
possíveis detalhes que possam não conter suficiente para atender ao crescimento do os de microaspersão e gotejamento.
na planta ou que tenham surgido após sua consumo. Para as áreas irrigadas, é neces- A irrigação localizada tem sido muito
elaboração. Devem-se, também, retirar sário um planejamento, que vise seu uso utilizada por apresentar vantagens, tais
amostras do solo para análises físicas, de maneira racional, evitando desperdícios como: baixo consumo de água e energia
químicas e enumerar, na planta, os pontos elétrica, boa uniformidade de aplicação,
e degradação de sua qualidade.
de coleta. possibilidade de aplicação de adubo via
De acordo com a Carta Magna da
água de irrigação (fertirrigação). Na maio-
Retenção de água no solo Nação, a água é um bem da União. A
ria dos projetos de irrigação localizada é
principal consequência disso é que, quan-
A curva de retenção de água no solo, possível trabalhar com baixas pressões, o
do há necessidade de sua utilização como
além de representar a capacidade que o solo que permite, além da economia de energia,
insumo de produção, torna-se necessária a
tem de armazenar água, tem sido estendida o uso de tubulação de menor diâmetro e
outorga, que é o consentimento do órgão
para a previsão e quantificação de diversos espessura de parede, resultando em maior
gestor do recurso hídrico (BRASIL, 1997). leveza, facilidade de transporte, instalação
parâmetros de grande interesse na solução
O objetivo da outorga é organizar a retira- e manutenção, com consequente redução
dos problemas geotécnicos, como a con-
da da água de uma determinada fonte, de dos custos totais de implantação e de
dutividade hidráulica. Devem ser coleta-
maneira que os usuários tenham garanti- operação do projeto. A seguir será exem-
das e enviadas para laboratório amostras
indeformadas, de várias profundidades,
das suas necessidades com quantidade e plificado o dimensionamento de irrigação
qualidade, em qualquer época. A outorga por gotejamento.
para a elaboração da curva característica
deverá ser solicitada, pelo pretendente, ao A característica da irrigação localizada
de cada solo da propriedade. Para cada
tipo de solo, deve ser feita uma curva de órgão competente. No caso da necessidade é a aplicação de água de forma pontual,
retenção específica. de financiamento, a maioria dos agentes fi- formando um bulbo molhado em torno da
nanceiros só libera o empréstimo mediante planta ou uma faixa molhada ao longo da
Dados climáticos outorga aprovada. fileira da cultura (Fig. 1). Não se aplica
água no restante da área, o que acarreta
O conhecimento dos dados climatoló- Layout do projeto uma concentração de raízes no bulbo ou
gicos do local onde será instalado o pro-
na faixa efetivamente molhada, reduzindo
jeto é de extrema importância. É possível Na elaboração do projeto, é importante
o volume de solo explorado pelas plantas
instalar uma estação meteorológica auto- conhecer os dados agronômicos das espé-
(Fig. 2). Nesse sistema de irrigação, a água
matizada para efetuar coleta de dados de cies que serão cultivadas, do manancial
é aplicada em alta frequência e em baixa
temperatura, umidade relativa, velocidade onde será realizada a captação (vazão
quantidade, visando suprir as demandas
do vento, radiação, evapotranspiração etc. mínima, cotas máximas e mínimas, qua-
de evapotranspiração e manter o bulbo
Esses dados são importantes para o desen- lidade da água etc.), da rede elétrica (se
ou faixa molhada próximo à capacidade
volvimento do projeto e para o manejo da for acionamento a diesel, deve-se fazer de campo.
irrigação. Algumas estações são adquiridas uma projeção do armazenamento do com- O movimento da água no solo determi-
por associações ou cooperativas de produ- bustível e a forma de transportá-lo para o na a forma e o tamanho do bulbo molhado,
tores, o que torna bem mais acessível sua equipamento) e do solo. que tem grande importância, na medida
aquisição. Todo o planejamento será realizado em que é nessa região que se desenvolve
com base nesses dados, escolhendo a forma o sistema radicular.
Escolha do emissor
mais racional de utilizar o equipamento, A água no solo move-se em todas as
Um bom emissor deve distribuir a água principalmente, no que se refere à econo- direções. Em uns casos, com maior ou me-
sobre a superfície do solo ou das culturas mia de água e de energia elétrica. nor facilidade que em outros, dependendo
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28 Irrigação

Figura 1 - Bulbo molhado de um gotejador Figura 2 - Concentração de raízes na faixa molhada

da porosidade do solo. Nos macroporos, a


água circula, movimenta-se por gravidade
e, nos microporos, a circulação é feita por
capilaridade, em todas as direções.
A forma e o tamanho do bulbo depen-
dem dos seguintes fatores: ARGILOSO

a) textura do solo: em solos arenosos, TEXTURA MÉDIA


com grande quantidade de macro-
poros, a água circula com maior ARENOSO
facilidade na vertical. Em solos
argilosos, o bulbo estende-se com
mais facilidade para os lados. Em
consequência, em solos arenosos, o Figura 3 - Forma do bulbo molhado em relação à textura do solo
bulbo tem a forma alongada e, em
solos argilosos, apresenta a forma
achatada (Fig. 3);
b) vazão do emissor: quando a água
4L
sai de um emissor, forma-se um
pequeno empoçamento. O tamanho 8L
desse empoçamento depende da
16 L
vazão do emissor, ou seja, a maior
vazão corresponde a uma superfície Vazão = 4 L/h
maior de encharcamento e, portanto,
a um bulbo mais extenso no sentido 4L
8L
horizontal (Fig. 4). Em relação ao 16 L
tempo de irrigação, à medida que
aumenta o tempo de irrigação (su-
Vazão = 20 L/h
pondo a vazão constante do emis-
sor), o tamanho do bulbo aumenta
em profundidade. Figura 4 - Simulação do bulbo molhado de acordo com a vazão aplicada

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Irrigação 29

Componentes do sistema c) linha principal: conduz a água da de irrigação localizada e, por terem
motobomba até as linhas de deriva- uma estrutura hidráulica que pode
Em geral, um sistema típico de irri- ção (LD). Geralmente, utilizam-se ser muito complicada, são também
gação localizada é fixo e constituído das na LP tubos de PVC rígido ou aço os mais delicados do sistema. Toda
seguintes partes (Fig. 5 e 6): galvanizado. Pode ser instalada na dificuldade do seu projeto constru-
a) sistema de captação e bombea- superfície do solo ou enterrada, fa- tivo reside no seguinte problema:
mento: o conjunto motobomba é de cilitando, nesse caso, as operações os emissores devem proporcionar
fundamental importância no sistema com máquinas agrícolas na área. O uma vazão baixa, mesmo porque
de irrigação localizada. As bombas, cabeçal de controle é, em geral, ins- os diâmetros das tubulações, tanto
normalmente usadas neste sistema talado no início da LP ou no ponto das laterais como das linhas de dis-
de irrigação, são as do tipo centrí- mais elevado da área; tribuição, são reduzidos. Em função
fuga de eixo horizontal. A água é d) linha de derivação: conduz a água das grandes distâncias que os tubos
pressurizada por meio do sistema de da LP até às linhas laterais (LL). conduzem a água em sistemas de
bombeamento e, antes que chegue Normalmente, utilizam-se tubos irrigação localizada, conclui-se que
a ser aplicada, necessita passar por de PVC. É comum a instalação de um ligeiro incremento no diâmetro
um sistema de filtragem. Equipa- válvulas de controle de pressão e encareça sobremaneira a instalação.
mentos de bombeamento podem ventosas no início dessas linhas; Por outro lado, a pressão de serviço
ser elétricos ou a diesel. Na maioria e) linha lateral: são as linhas nas quais dos emissores não deve ser muito
das situações que se encontram na estão instalados os emissores que baixa, para minimizar o efeito da re-
prática, sistemas de gotejamento não aplicam água junto às plantas. De- dução da uniformidade de aplicação
trabalham sob gravidade ou com vem ser dispostas em nível e são de água em condições de declive do
caixas d’água elevadas. Embora constituídas de polietileno flexível, terreno. Ambas as condições, vazão
as pressões de trabalho não sejam com diâmetro que varia, geralmente, baixa e pressão relativamente alta,
altas, para que os sistemas operem de 16 a 32 mm. São instaladas ao conduzem, do ponto de vista exclu-
corretamente, é necessário que as longo das fileiras da cultura a ser sivamente hidráulico, a emissores
irrigada, com distâncias preestabe- com orifícios muito pequenos, que,
motobombas sejam capazes de pres-
lecidas; por outro lado devem ser os maiores
surizar o sistema com valores muito
acima daqueles possíveis por caixas f) emissores (gotejadores ou microas- possíveis para evitar problemas de
d’água ou quedas naturais; persores): os emissores são, talvez, entupimentos. Essa contradição
os componentes mais importantes da resulta na fabricação de grande
b) cabeçal de controle : juntamente
rede de distribuição de um projeto variedade de emissores.
com os emissores, constituem as
principais partes de um sistema
de irrigação localizada. Fica, nor-
malmente, situado após o conjunto Bombeamento Cabeçal de controle

motobomba, ou seja, no início da


linha principal (LP). Em algumas Adutora Linha principal
situações, dependendo da topografia
e do projeto, o cabeçal deverá ser Linha de derivação Linha de derivação

adequadamente instalado. É consti-


tuído, em geral, das seguintes partes:
Linha lateral

- medidores de vazão,
Emissor
- filtros (hidrociclones, areia, tela,
disco ou anéis),
- injetores de produtos químicos e
orgânicos,
Linha lateral
- válvulas de controle de pressão e
medidores de fluxo, Figura 5 - Layout geral de um projeto de irrigação localizada
- registros e manômetros; FONTE: Bernardo (1995).

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30 Irrigação

Motobomba e válvula reguladora de vazão Controlador elétrico e solenoides

Filtros de areia Filtros de discos ou anéis

Válvula de controle de fluxo e manômetro Sistema de aeração e decantação

Injetor de produtos químicos Válvulas de derivação


Figura 6 - Componentes do cabeçal de controle e bombeamento

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Irrigação 31

Para cálculo de um projeto de irrigação O Quadro 1 traz as características técni- Exemplo de projeto
por gotejamento por exemplo, o primeiro cas do equipamento e mostra a forma como
Dimensionar um projeto de goteja-
passo é fazer um levantamento planialti- é composto o nome comercial do produto.
mento para atender às condições descritas
métrico detalhado da área a ser irrigada. Escolhido o modelo que melhor satis- a seguir. Para o exemplo em questão serão
De posse desses dados o projeto poderá faça a condição de cultivo da área, deve- adotados os dados do Quadro 2, onde tais
ser calculado. se decidir qual será o espaçamento entre valores encontram-se destacados.
gotejadores (Quadro 2). Isso depende, Em relação à cultura do café, será
Exemplo de dimensionamento
basicamente, do espaçamento entre plan- considerado o espaçamento de plantio
Para dimensionamento de um projeto tas, tipo de solo e lâmina a ser aplicada, de 3,8 x 0,75 m e a dotação de rega de
de irrigação por gotejamento o primeiro considerando a época de maior demanda 10,5 L/planta/dia.
passo é escolher o tipo de tubo gotejador de água para a cultura. Nesse caso, efetua- Dependendo do estudo de demanda de
(ou gotejador), que irá trabalhar. se um estudo climatológico, com base em água de determinada região, a pressão de
É necessário conhecer os fabricantes e dados fornecidos por estações climatoló- serviço do gotejador varia de 10 a 35 mca
seus representantes. No processo de esco-
gicas instaladas na região. Tratando-se de ou de 1,0 a 3,5 kgf/cm2, conforme tabela
lha, os principais fatores a ser considerados
irrigação de café, o processo mais utilizado do fabricante, a vazão do gotejador é de
são: qualidade do material, preço, projeto,
é a irrigação em faixa, isto é, formar uma 2,1 L/h, conforme Quadro 1, e o tempo
consumo de energia, proposta de manejo
faixa molhada ao longo da fileira. de funcionamento do projeto de 20 h.
e pós-venda. Escolhido o fabricante, o
Essa escolha, juntamente com o espaça-
produtor deverá ser orientado com relação
mento entre gotejadores, irá influenciar
ao modelo mais adequado a ser usado para
o comprimento máximo da LL. Este, por
sua situação. No caso de um cafeicultor,
sua vez, determinará a divisão da área em
este deve fazer cotação com mais de um
parcelas, conforme será visto na alínea c
fabricante e depois submeter os projetos à
(dimensionamento da linha de derivação).
análise de um especialista, que funcionará
Teoricamente poder-se-iam adotar 21 h
como consultor do projeto.
de funcionamento por dia, para obter o
Os catálogos dos fabricantes trazem
benefício da Tarifa Verde. Portanto, serão
informações das características hidráulicas
adotadas 20 h, para não correr risco de
de cada modelo.
entrar no horário de pico. Por isso, foi dada
Será adotado o seguinte exemplo:
Figura 7 - Detalhe do tubo gotejador uma folga de 1 h. Assim, o funcionário
a) modelo: NaanDan Jain PC, confor- NaanDan Jain PC responsável pelo projeto poderá ligar e des-
me apresentado na Figura 7;
b) características: segundo o fabrican-
QUADRO 1 - Performance do tubo gotejador NaanDan Jain PC
te, o tubo gotejador NaanDan Jain
Vazões nominais Diâmetro interno Espessura de parede Bobina
PC atende uma grande diversidade Produto
(L/h) (mm) (mm) (m)
de culturas, com excelente desem-
NaanDan Jain PC 16 1.6 2.1 3.8 13,9 0,9 500
penho. Tabelas de características
técnicas, vazão x pressão e compri- NaanDan Jain PC 18 1.6 2.2 3.8 16,0 1,0 400
mento máximo recomendado para a NaanDan Jain PC 20 1.6 2.2 3.8 18,0 1,2 300
linha lateral encontram-se a seguir e FONTE: NaanDan Jain Irrigation (2010?b).
devem ser usadas no processo de di-
mensionamento. A pressão máxima
recomendada para funcionamento QUADRO 2 - Comprimento máximo recomendado das linhas laterais (LL) para o NaanDan
Jain PC
desses gotejadores é de 35 mca.
Espaçamento dos gotejadores
Este equipamento tem as seguintes (m)
Vazão(L/h)
características: diâmetro de 16 mm,
0,30 0,40 0,50 0,60 0,75 0,80 0,90 0,100 0,110 0,125
espessura de 0,9 a 1,2 mm, vazões
1,6 130 170 205 240 290 305 335 365 395 430
de 1,6, 2,1 e 3,8 L/h e é fabricado
com resina virgem de polietileno de 2,1 110 140 170 200 240 255 280 305 330 360
baixa densidade; 3,8 70 95 115 135 160 170 190 205 220 240
c) performance do tubo gotejador. FONTE: NaanDan Jain Irrigation (2010?b).

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 1 , n . 2 5 9 , p . 2 6 - 4 2 , n o v. / d e z . 2 0 1 0

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32 Irrigação

ligar o sistema de irrigação meia hora antes A perda de carga é definida como um A seguir, serão apresentados os cál-
e depois do horário de pico, considerando termo genérico designativo do consumo culos gerais para o dimensionamento do
que o turno de rega é de 1 dia. de energia desprendido por um fluido, projeto:
Em relação ao manejo a ser adotado, para vencer as resistências (atrito) ao a) cálculos iniciais:
a decisão do turno de rega depende do escoamento. - escolha do gotejador: deve ser
consultor ou do projetista. Porém, em Em relação ao coeficiente de rugosida- considerado o tubogotejador
irrigação localizada, é interessante que a de, admite-se CPolietileno= 144 e CPVC= 140. de 16 mm (diâmetro interno de
água seja aplicada com alta frequência e
O coeficiente C depende da natureza do 13,9 mm) NaanDan Jain PC au-
baixa intensidade. tocompensado; vazão de 2,1 L/h,
material e é uma variável da equação de
Quanto ao terreno de instalação, este com pressão de serviço de 10 a
Hazen-Williams, utilizada para cálculo
está demonstrado na Figura 8. A área 35 mca; espaçamento entre gote-
da perda de carga. É adimensional. Seus
representada na Figura 8 tem 20 ha. Para jadores de 0,75 m; comprimento
valores mais usuais são apresentados no
dimensionamento do projeto, é impres- máximo da LL recomendado pelo
cindível a planta planialtimétrica da área, Quadro 3.
fabricante de 240 m, conforme
com curvas de nível interpoladas de 1 em Os valores de diâmetros comerciais Quadro 2.
1 m. Considera-se que o café está plantado são dados em mm, para tubos de PVC - área total, conforme a planta: 20 ha,
em nível e, na pior situação, existe 0,5 m (LD e LP): 25; 40; 50; 75; 100; 125; 150; - número de gotejadores por planta:
entre o início e o final da fileira nas plantas. 175; 200; 225; 250; 300; 350 e 400. Esses 1 (espaçamento entre gotejadores
O solo da área é de textura média. É, diâmetros são fornecidos pelos fabricantes é igual ao espaçamento entre plan-
portanto, imprescindível o conhecimento de tubulações de PVC. tas),
da curva de retenção de água no solo. Logo
que for escolhida a área a ser irrigada,
recomenda-se que o produtor trace a curva
de retenção de água. Para isso, basta retirar 4m
as amostras de solo, nas profundidades 815 815
desejadas. É comum trabalhar com as
280 m

faixas de 0 a 20; 20 a 40 e 40 a 60 cm de SETOR 2 SETOR 4


profundidade, mas isso pode ser definido
pelo técnico responsável pelo projeto ou

2m
consultor. O número de amostra varia com
280 m

a homogeneidade do solo da área. Devem


SETOR 1 SETOR 3
ser retiradas amostras não deformadas.
810 810
Considerando-se 400 m a distância da
casa de bomba e dos filtros até a entrada da
parcela (adutora), e a irrigação em faixa, 210 m 210 m
com uma LL por fileira da cultura.
400 m

805 805
Admite-se uma perda de carga nas
conexões da LL (haLL) de 1 m; nos cava-
letes das LD (haLD) de 2 m; na válvula de 800 800
regulagem da LD de 2 m e nos filtros do
cabeçal de controle (hafiltros) da LP de 6 m. Figura 8 - Planta planialtimétrica da área
Considere que as perdas localizadas da LP
(haLP) sejam de 1,5 m.
QUADRO 3 - Valores do coeficiente de rugosidade (C) em função do material
É importante esclarecer que esta perda
de carga ocorre por causa de atritos. Tais Material Valor de C
valores podem variar com o sistema de Aço zincado 120
conexão e filtragem. Os valores adotados
Ferro fundido 100
já citados ocorrem normalmente em filtros
de tela ou de disco. Quando se têm filtros PVC 140
de areia e hidrociclones, essa perda ficará Polietileno 144
em torno de 10 mca. FONTE: Drumond e Fernandes (2001).

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 1 , n . 2 5 9 , p . 2 6 - 4 2 , n o v. / d e z . 2 0 1 0

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Irrigação 33

- vazão por planta (Qp): 2,1 x 1 = - A Equação 2 é a de Hazen-Williams em que:


2,1 L/h (um gotejador por planta), escrita para calcular a perda de
PINLL = pressão no início da linha
- tempo de irrigação (Ti): 10,5/2,1 = carga unitária (J), que representa
lateral (m)
5 h, considerando-se 5 h por setor a perda de carga a cada metro da
Ps = pressão de serviço do gote-
(é a razão entre a quantidade de tubulação. Daí sua unidade ser
jador (m)
água que a planta necessita por m/m, que significa metro de perda
de carga por metro de tubulação. Dz = desnível ao longo da linha
dia e a vazão total recebida pela
lateral (m)
planta), Equação 2:
haLL = perda de carga na conexão
- adota-se o comprimento de 240 m
da linha lateral
para a LL, conforme Quadro 2. J = 1,21 . 1010. ( QLL/C )1,85 . D-4,87
Dessa forma, divide-se a área em No entanto, conclui-se que:
quatro setores de 5,0 ha, já que em que: PINLL = 10 + (0,75 . 16,98) + 0,5 + 1 =
se tem 20 h/dia para funcionar
J = perda de carga unitária (m/m) 24,33 mm = 25 m
o sistema. A LP ficará no meio,
abastecendo as quatro válvulas Q = vazão (L/s)
que irão derivar o fluxo para cada C = coeficiente de Hazen-Williams c) dimensionamento da linha de de-
um dos setores; (Quadro 3) (adimensional) rivação:
b) dimensionamento da linha lateral: D = diâmetro da linha lateral (mm) - comprimento da LD = 208 m.
- comprimento da LL = 210 m, Sendo assim: Divide-se em quatro trechos, um
de cada lado do carreador,
- número de gotejadores por LL =
J = 1,21 . 1010 . (0,1633/144)1,85 . - número de LL por LD = 208/3,8 =
210/0,75 = 280 gotejadores (é a
13,9 -4,87
= 0,1168 m/m 55 LL de cada lado (foi desconta-
razão entre o comprimento e o
do o carreador de 2 m de largura).
espaçamento entre gotejadores),
- A Equação 3 calcula a perda de Têm-se 55 por setor. Trabalha-se
- F280 = 0,3526 (representa um fator com uma LD dentro de cada setor.
carga na LL, isto é, em toda sua
de ajuste da perda de carga de uma Representa o número de LL que
extensão.
tubulação de uma única saída (para será abastecida pela LD. Adota-se
qual a equação de Hazen-Williams Equação 3: uma ou duas LD por setor. Serão
está ajustada) e uma tubulação de adotadas duas LD dentro de cada
múltiplas saídas (tubo gotejador). DH = J . LLL . F . ( C/100 )1,85 setor,
Pode ser calculado pela expressão:
- vazão da LD = 55 x 588 = 3.240 L/h =
Equação 1: em que:
8,98 L/s,
DH = perda de carga na linha - LD de PVC: CPVC = 140,
F1 1 m 1 lateral (m)
+  - F55 = 0,3600.
m+ 1 2. n 6. n 2 LLL = comprimento da linha lateral
Comercialmente tem-se a opção:
(m)
tubo de PVC azul, com diâmetro
em que: F = fator de correção para múl-
nominal de 100 mm. Pela pressão
tiplas saídas (adimensional)
F = fator de ajuste para múltipla no início da LL e pelo fato de a área
saída ou fator de Christiansen Portanto, verifica-se que: ser relativamente plana, provavel-
(adimensional) mente trabalha-se com tubo PN 40.
DH = 0,1168 . 210 . 0,3526 . 1,441,85 = O diâmetro nominal desse tubo é de
m = expoente da equação de perda
16,98 100 mm e a espessura da parede é
de carga utilizada (neste caso
de 2 mm. O diâmetro interno desse
m = 1,85)
- A Equação 4 determina a pressão tubo é de 97,6 mm.
n = número de saídas no início da LL. O cálculo para determinação da
- vazão da LL = 280 x 2,1 = 588 L/h = Equação 4: pressão no início da LD (PINLD) se-
0,1633 L/s. É o produto do número gue a mesma sequência estabeleci-
de gotejadores na LL pela vazão da para cálculo da pressão no início
PINLL = Ps + (0,75 . DH) + Dz + haLL
de cada gotejador, da LL, utilizando-se a expressão:
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 1 , n . 2 5 9 , p . 2 6 - 4 2 , n o v. / d e z . 2 0 1 0

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34 Irrigação

Equação 5: hfLP = perda de carga na linha prin- Altura manométrica total


cipal (m) (HMT) = 69 m + 3 + 2 = 74 m
J = 1,21 . 1010 . ( QLD/C )1,85 . D-4,87 Vazão do conjunto motobomba
LLP = comprimento da linha prin-
10
J = 1,21 . 10 . (8,98/140) 1,85 -4,87
. 97,6 = cipal (m) (Q) = 36,96 m3/h
0,0154 m/m DLP = diâmetro da linha principal Consultando catálogos de fabri-
DH = J . LLD . F . ( C/100 ) 1,85 (m) cantes, pode-se determinar o modelo
da motobomba a ser utilizado.
DH = 0,0154 . 208 . 0,3600 . 1,401,85 = QLP = vazão da linha principal (m3/s)
2,15 m Irrigação por aspersão
Esta equação é de Hazen-
PINLD = PINLL + (0,75 . DH) + Dz + haLD Williams para cálculo da perda de Este método utiliza dispositivos de-
PINLD = 25 + (0,75 . 2,15) + 3,5 + 4 = carga em tubulações. nominados aspersores, que distribuem a
34,11 m água na forma de chuva artificial sobre as
Demonstra-se o método de Ten-
plantas. A formação de gotas é conseguida
tativas utilizando tubo de PVC azul
Como a pressão no início da LD pela passagem do fluxo de água sob pressão
com diâmetro nominal de 100 mm
é de 34,11 mca, consequentemente, por meio dos aspersores, que possuem mo-
PN 80. O diâmetro interno desse
a pressão estará próxima desse valor delos e características variáveis. A pressão
tubo é de 94,4 mm e a espessura da
nas primeiras LL. Este valor está necessária para o fracionamento da água
parede é de 3,6 mm.
dentro da recomendação de pressão é obtida com a utilização de conjuntos
O cálculo, neste caso, será feito motobombas ou com diferença de nível
máxima de funcionamento, que é de
de acordo com a Equação 6. considerável entre a captação e a área a ser
35 mca para os gotejadores.
irrigada (BERNARDO, 1995).
Portanto, serão usados tubos de
Houve grande desenvolvimento desse
PVC DN 100 PN 40. hfLP = 10,65 (400/0,09444,87) .
método de irrigação no início do século 20,
(0,00898/140)1,85
d) dimensionamento da linha principal: com o avanço das indústrias de fabricação
hfLP = 7,32 de tubulações que passaram a utilizar ma-
O projeto ficará dividido em qua-
tro setores, sendo cada um de 55 LL. teriais plásticos, ferro e alumínio. O surgi-
Serão adotados valores de perda mento dos primeiros aspersores rotativos
No caso da LP, cada setor funcio-
de carga nos litros (hafiltros) e de ve- aconteceu entre 1914 e 1922, nos Estados
nará por 5 h, no máximo. Portanto,
locidade de condução da água (V): Unidos e na Europa, quando passaram a
o sistema irá funcionar, no máximo,
ser os grandes incentivadores da irrigação
20 h/dia.
v = 1,28 m/s por aspersão.
A LP será de PVC (C = 140). A Os principais sistemas de irrigação
hafiltros = 6 m
vazão da LP será a vazão total do por aspersão são: aspersão convencional,
setor. Portanto, tem-se: Sendo assim: aspersão em malha, autopropelido e pivô
central.
QLP = 55 . 672 = 36.960 L/h = PINLP = PINLD + DNLP + hfLP + hafiltros + haLP Será exemplificado o cálculo de um
0,00898 m3/s = 10,26 L/s projeto de irrigação por aspersão em malha.
PINLP = 34,11 + 12 + 7,32 + 6 + 1,5 = 60,93 =
O comprimento da LP será de 61 m Sistema de irrigação por
400 m (Fig. 8). O desnível entre o aspersão em malha
ponto de captação e o cavalete de Esse valor está adequado, pois
Para dimensionamento de um projeto
LD (DNLD) será de 12 m. encontra-se dentro da classe de
de irrigação por aspersão em malha o pri-
pressão da tubulação adotada (PN
Para um diâmetro de 100 mm, meiro passo é ter o levantamento planial-
80). Portanto, pode-se trabalhar com
tem-se a expressão: timétrico bem-feito, com curvas de nível
esse diâmetro.
interpoladas de 1 em 1 m, para cálculo e
Equação 6:
e) dimensionamento do conjunto mo- análise. Nesse levantamento deverá ser
tobomba: locada a fonte de água de onde poderá
hfLP = 10,65 . ( LLP/ DLP 4,87 ) . (QLP /C )1,85 Considerando a altura de sucção ser feita a captação, seja represa, córre-
de 3 m e perdas localizadas de 2 m, go ou rio. A indicação do nível da água,
em que: têm-se: assim como do barranco, até a área que
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Irrigação 35

será irrigada é extremamente importante. bocais e o espaçamento que devem Escolhido o modelo que melhor satisfa-
Devem ser locados: cercas dos piquetes, ser usados no processo de dimensio- ça a condição do projeto, pode-se começar
afloramentos de rocha, divisas com matos namento; o processo de dimensionamento.
e capoeiras, estradas e pontos de energia d) dados hidráulicos do aspersor É interessante lembrar que será de-
elétrica. A área a ser irrigada deverá estar NaanDan Jain 5035. O Quadro 4 signada de LL, a tubulação onde estarão
marcada na planta de maneira muito clara. apresenta as características técnicas localizados os aspersores. As LL estarão
Após a análise da planta da área, da do aspersor, como a vazão, a pressão diretamente conectadas em tubulações,
variedade, do espaçamento adotado no de serviço, o diâmetro de bocais e a que serão chamadas LD. A tubulação que
plantio da cultura, das condições de ma- intensidade de aplicação de acordo liga a LD no conjunto motobomba será
nejo e da análise física e química do solo, com o espaçamento adotado. designada de LP.
a capacidade de retenção de água no solo Portanto, será dimensionado um pro-
definirá a lâmina máxima que pode ser jeto de aspersão em malha para atender às
aplicada a cada irrigação, para que não condições descritas a seguir:
haja perda por percolação e por drenagem a) informações e cálculos iniciais:
e, consequentemente, irá definir a vazão do - cultura: café,
projeto. Em seguida será feita a escolha do
- espaçamento de plantio: 4,0 x 0,5 m,
aspersor que será usado no projeto. Todo
o processo de dimensionamento vai de- - capacidade de retenção de água do
pender diretamente dessa escolha. Assim, solo: 1,31 mm de água por cm de
é importante conhecer as marcas e os mo- profundidade de solo,
delos dos aspersores, das tubulações, das - profundidade efetiva das raízes:
motobombas, das válvulas, dos acessórios 60 cm,
e também suas características hidráulicas. - dotação de rega: 9 L/planta/dia.
Nesse processo de escolha, devem ser leva- Esta depende do estudo de deman-
dos em consideração os seguintes fatores: da de água da região,
qualidade, preço e facilidade de compra - pressão de serviço do aspersor:
de material para reposição (DRUMOND; 2,80 bar @ 28 mca, conforme tabe-
AGUIAR, 2005). la do fabricante. A vazão para essa
Com relação às tubulações, aos asper- pressão Qasp.será de 1,874 m3/h ou
Figura 9 - Detalhe do aspersor NaanDan
sores e às motobombas, que constituem Jain 5035 1.874 L/h,
os principais componentes do sistema de
irrigação por aspersão em malha, os catá-
QUADRO 4 - Características hidráulicas do aspersor NaanDan Jain 5035, de dois bocais
logos dos fabricantes trazem informações
Intensidade de aplicação
das características hidráulicas de cada (mm/h)
Diâmetros Pressão de
componente. Vazão Espaçamento entre aspersores e entre as linhas laterais
dos bocais serviço
A seguir serão demonstrados exemplos (m3/h) (m)
(mm) (bar)
de projetos que utilizam modelos de asper- 12 x 15 12 x 18 18 x 18 20 x 20
sores mais usados. 4,5 x 2,5 2,50 1,45 8,10 6,70 4,50 3,60

3,00 1,64 9,10 7,60 5,10 4,10


Exemplo de dimensionamento
de projeto 3,50 1,77 9,8 8,20 5,50 4,40

Será adotado o seguinte: 5,0 x 2,5 2,50 1,76 9,80 8,10 5,40 4,40
a) aspersor NaanDan Jain; 3,00 1,95 10,80 9,00 6,00 4,90
b) modelo: 5035 de dois bocais (Fig. 9); 3,50 2,10 11,70 9,70 6,50 5,2
c) características: segundo o fabri-
5,5 x 2,5 2,50 2,09 11,60 9,70 6,40 5,20
cante, esse aspersor possui boa
uniformidade de aplicação de água. 3,00 2,30 12,80 10,60 7,10 5,70
O Quadro 4 apresenta a vazão, a 3,50 2,47 13,70 11,40 7,60 6,20
pressão de trabalho, o diâmetro de FONTE: NaanDan Jain Irrigation (2010?a).

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36 Irrigação

- o espaçamento entre aspersores haverá três ciclos de irrigação por que for escolhida a área a ser ir-
(Espasp.) e entre as LL (EspLL.) será mês. Isso significa que poderá rigada, recomenda-se ao produtor
de 18 x 16 m, respectivamente, por aplicar uma lâmina bruta de até traçar a curva de retenção. Para
causa do espaçamento de plantio 195,30 mm de água por mês, isso, basta retirar as amostras de
da lavoura e por estar dentro - terreno: a área representada na solo, nas profundidades desejadas.
dos limites recomendados pelo Figura 10 tem 5,18 ha. Para o É comum trabalhar com as faixas
fabricante, dimensionamento do projeto, é de 0 a 20; 20 a 40 e 40 a 60 cm
- a intensidade de aplicação (Ia) será: imprescindível a planta planial- de profundidade, mas isso pode
timétrica da área, com curvas de ser definido pelo técnico respon-
Qasp. (L/h)
Ia (mm/h) = nível interpoladas de 1 em 1 m. sável pelo projeto ou consultor. O
Espasp.(m) . EspLL(m)
Considere-se que o café está plan- número de amostra varia com a
tado em nível e, na pior situação, homogeneidade do solo da área.
1.874 L/h
Ia = 18 m . 16 m = 6,51 mm/h há 2 m de desnível entre o início As amostras não devem ser de-
e o final da fileira de plantas e, formadas,
- de acordo com a retenção de água consequentemente, entre o início
- distância entre a casa de bomba e
no solo, tem-se: lâmina máxima e o final da LL,
a LD é a LP: 320 m,
a ser aplicada: 1,31 mm/cm x 60 - as LL devem ser instaladas ao
- perda de carga localizada: admite-
cm = 78,60 mm de água. Essa é a longo da fileira e, de acordo com o
máxima quantidade de água que espaçamento adotado, haverá uma se uma perda de carga nas cone-
seria retida nos primeiros 60 cm LL a cada quatro fileiras de café. xões da LL (haLL) de 2 m, na LD
de profundidade de solo, Os aspersores estarão distanciados (haLD) de 2 m e na LP (haLP) de
- o tempo máximo de funcionamen- de 18 em 18 m ao longo da LL, 1 m,
to do aspersor em cada ponto de - solo de textura média: é impres- - em todo o projeto usa-se tubula-
aspersão seria: cindível o conhecimento da curva ção de PVC azul. Admita CPVC=
de retenção de água no solo. Logo 140 (tabelado). O coeficiente C
Tmáx = 78,60 mm ÷ 6,51 mm/h = 12 h

7
81
- tempo de funcionamento do pro- Projeto de irrigação por aspersão em malha
816
jeto: 20 h 815

Teoricamente poder-se-iam 814


813
adotar 21 horas de funcionamento
812
por dia, para obter o benefício da 811
810
Tarifa Verde. Mas foram adotadas
809
20 h, para não correr o risco de
entrar no horário de pico. Por isso,
817
foi dada uma folga de 1 h. Assim,
o funcionário responsável pelo
Detalhe da malha
816
projeto poderá ligar e desligar o
815 m
sistema de irrigação meia hora 18
18

814
m

antes e depois do horário de pico 813


(DRUMOND; FERNANDES, 812 32
0m
2001), 811
Legenda de tubos
Casa de bomba
- deve-se considerar, portanto, um 810 Tubulação PVC Ø 75 mm PN 80
Tubulação PVC Ø 50 mm PN 80
tempo máximo de funcionamento Tubulação PVC Ø 32 mm PN 80 Nível d´água: 800 M
Tubulação PVC Ø 25 mm PN 80
de 10 h por posição. Isto significa Válvula ventosa ARI Rio
... Pontos de aspersão
que serão aplicados 65,10 mm em Direção de caminhamento do aspersor na malha
cada ponto e a cada ciclo, Início do caminhamento do aspersor na malha
Motobomba
- turno de rega: serão adotados dez Obs.: Um aspersor para cada cor (malha)

dias para o turno de rega. Assim, Figura 10 - Planta planialtimétrica da área e disposição das malhas

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 1 , n . 2 5 9 , p . 2 6 - 4 2 , n o v. / d e z . 2 0 1 0

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Irrigação 37

depende da natureza do material - será usado tubo de PVC azul - coeficiente de rugosidade (CPVC)
e é uma variável da equação de (linha tubo agropecuário). O di- da LD: 140,
Hazen-Williams, utilizada para âmetro nominal da linha lateral - F4 = 0,4855. “F” representa um
cálculo da perda de carga. É adi- será de 25 mm e a espessura da fator de ajuste da perda de carga
mensional (Quadro 3), parede desse tubo é de 1,2 mm. de uma tubulação de uma única
Portanto, o diâmetro interno desse saída (para a qual a equação de
- área total conforme a planta: 5,18
tubo é de 22,6 mm (0,0226 m). Hazen-Williams está ajustada) e
ha.
Assim tem-se: uma tubulação de múltiplas saídas
Trata-se de uma área relativa-
(tubo gotejador). Pode ser calcula-
mente pequena que será dividida hf = 10,65 . (174/0,02264,87) . (2,603 . do pela expressão:
em dois setores. A LP ficará no 10-4/140)1,85 = 4,80 m
meio abastecendo os dois setores. Equação 3:
Na área tem-se um total de 160 - a pressão no início da LL (PINLL) 1 1 m 1
F  
pontos de aspersão, isto é, pontos será conforme a expressão: m 1 2.n 6.n 2
a serem irrigados em um período
Equação 2: em que:
de dez dias. Por isso, em toda a
área haverá oito aspersores fun-
PINLL = Ps + (0,75 . DH) + DNLL + AA + haLL F = fator de ajuste para múltipla
cionando ao mesmo tempo. Con- saída ou fator de Christiansen
siderando um tempo de irrigação (adimensional)
em que:
de 10 h por posição, cada aspersor
PINLL = pressão no início da linha m = expoente da equação de perda
irrigará dois pontos por dia. Dessa
de carga utilizada (neste caso
forma os oito aspersores irrigam lateral (m)
m = 1,85)
toda a área em dez dias, ou seja: Ps = pressão de serviço do gotejador
n = número de saídas
número de pontos totais irrigados (m)
= 2 . 8 . 10 = 160 pontos (o que - utilização do tubo de PVC azul
DNLL = desnível ao longo da linha
corresponde a toda a área). Fortilit (Irrifort Linha Fixa PN 80)
lateral (m)
com diâmetro nominal de 50 mm.
AA = altura do aspersor (m)
b) dimensionamento da linha lateral: Isto ocorre pelo fato de o trecho
haLL = perda de carga acidental na estar em ascensão na área. O
- vazão da LL (QLL): vazão do as-
conexão da linha lateral (m) diâmetro externo desse tubo é de
persor ÷ 2 = 937 L/h ou 2,603 x
10 -4 m 3/s (a vazão do aspersor Esta equação determina a pressão no 50,5 mm e a espessura da parede
início da linha lateral. é de 1,9 mm. Assim, o diâmetro
divide-se, pois há um aspersor
No entanto, conclui-se que: interno é de 46,7 mm ou 0,0467 m,
por malha),
- o cálculo para determinação da
- comprimento da LL = 174 m,
PINLL = 28 + (0,75 . 4,80) + 2 + 2 + 2 = pressão no início da linha de
- cálculo da perda de carga na LL derivação (PINLD) segue a mes-
37,60 m
(hfLL), conforme a expressão: ma sequência estabelecida para
Equação 1: c) dimensionamento da linha de de- cálculo da pressão no início da
rivação: LL. A perda de carga na LD (hfLD)
segue o mesmo procedimento
hfLL = 10,65 . (LLL/ DLL 4,87) . (QLL/C)1,85 Divide-se em dois setores, con-
estabelecido para a linha lateral.
forme a planta topográfica: Setor 1
Assim tem-se:
e Setor 2.
em que:
Setor 1: hfLD = 10,65 . (LLD/DLD 4,87) . (QLD/C)1,85 . F
hf = perda de carga (m)
- comprimento da LD1 = 48 m (con-
LLL = comprimento da linha lateral (m) forme planta), hfLD = 10,65 . (48/0,04674,87) .
DLL = diâmetro da linha lateral (m) (2,08 10-3/140)1,85 . 0,4855 = 0,9 m
- número total de aspersores funcio-
QLL = vazão da linha lateral (m3/s) nando neste setor: 4, PINLD = PINLL + hfLD + DNLD + haLD
C = coeficiente de Hazen-Williams - vazão da LD = 4 x 1.874 L/h =
PINLD = 37,6 + 0,9 + 4 + 2 = 44,5 m
(Quadro 3) (adimensional) 7.496 L/h = 2,08 10-3 m3/s,
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38 Irrigação

Setor 2: tubo é de 75,5 mm e a espessura da nacional, é o pivô central. Foi criado em


- comprimento da LD2 = 64 m, parede é de 2,5 mm. Assim, o diâme- 1952, no estado de Nebraska, Estados
tro interno é de 70,5 mm (0,0705 m). Unidos, por Frank Zybach. Até 1960, seu
- número total de aspersores funcio-
A vazão da linha principal será uso não estava consolidado.
nando neste setor: 4,
a vazão total do projeto. Portanto, A fácil aceitação desse equipamento e
- vazão da LD = 4 x 1.874 L/h = a alta demanda do mercado fizeram com
tem-se:
7.496 L/h = 2,08 10-3 m3/s,
que a maioria dos fabricantes nacionais da
- CPVC da LD: 140, QLP = 8 . 1.874 = 14.992 L/h = área de irrigação adquirisse no exterior, so-
- F4 = 0,4855. Como esse trecho está 0,004164 m3/s = 4,164 L/s bretudo nos Estados Unidos, esse sistema
na parte de descida da área, será de irrigação. Dessa forma, o pivô central é
usado tubo de PVC azul (linha O comprimento da LP (LLP) será um dos sistemas de irrigação automatizada
tubo agropecuário), com diâmetro de 320 m. mais utilizados na atualidade em todo o
nominal de 32 mm, pois poderá O desnível entre o ponto de mundo.
haver um pouco mais de perda de captação e o ponto de conexão da
carga, o que será compensado pelo LP na LD é de 12 m. Descrição do sistema
desnível. O diâmetro externo des-
Cálculo da perda de carga na LP: Segundo Fernandes e Drumond (2002),
se tubo é de 32 mm e a espessura
o sistema pivô central consiste funda-
da parede é de 1,5 mm. Assim, hfLP = 10,65 . (LLP/ DLP 4,87) . (QLP /C )1,85 mentalmente de uma tubulação metálica,
o diâmetro interno é de 29 mm
hfLP = 10,65 . (320/ 0,07054,87) . onde estão instalados os aspersores, que
(0,029 m),
(0,004164/140)1,85 giram continuamente ao redor de uma
- o cálculo para determinação da estrutura fixa. Os aspersores, abastecidos
pressão no início da LD (PINLD), hfLP = 5,85 m
pela tubulação metálica, dão origem a uma
segue a mesma sequência esta- irrigação uniformemente distribuída sobre
belecida para cálculo da pressão A pressão no início da LP
(PINLP) será: uma grande superfície circular.
no início do Setor 1. A perda de É um sistema de irrigação por aspersão
carga será: que opera em círculo, constituído de uma
PINLP = PINLD + DNLP + hfLP + haLP
4,87 1,85 PINLP = 47,5 + 12 + 5,85 + 1 = 66,35 m @ linha lateral com aspersores, ancorada em
hfLD = 10,65 . (LLD/DLD ) . (QLD/C) .F
66,5 m uma das extremidades e suportada por
hfLD = 10,65 . (64/0,0294,87) . (2,08 10-3/ torres dotadas de rodas, equipadas com
140)1,85 . 0,4855 = 11,9 m e) dimensionamento do conjunto mo- unidades propulsoras. Na maioria das
PINLD = PINLL + hfLD + DNLD + haLD tobomba: vezes, estas unidades são compostas por
Considerando uma altura de um motorredutor de 1 ou 1,5 CV, o qual
PINLD = 37,6 + 11,9 + (- 4) + 2 = 47,5 m
sucção (HS) de 2,5 m e perdas loca- transmite o movimento, mediante um eixo
lizadas na sucção (haS) em torno de cardã, aos redutores das rodas existentes
É importante observar que a
0,5 m. Conclui-se que: nas torres móveis, que são do tipo rosca
pressão no início do Setor 1 está
sem fim. Dessa forma, a linha lateral realiza
muito próxima da pressão no HMT = PINLP + HS + haS HMT = 66,5 um giro de 360º em torno da torre central.
início do Setor 2. Quando esses + 2,5 + 0,5 = 69,5 @ 70 m, A velocidade de rotação das torres móveis
valores estão muito desiguais,
é regulada por um relé porcentual, locali-
é necessário um equilíbrio. A E a vazão do projeto (Q) é de zado no painel de controle, que comanda a
forma mais usual de efetuar esse 4,164 L/s que equivale a 14,98 m3/h. velocidade da última torre de acionamento.
equilíbrio é dividir a LD em dois
Ao consultar catálogos de fabri- As torres movem-se de forma contínua,
ou mais trechos com diâmetros di-
cantes, pode-se determinar o modelo acionadas individualmente por dispositi-
ferentes, de forma que o somatório
da motobomba a ser utilizado. vos elétricos ou hidráulicos, descrevendo
das perdas de carga nesses trechos
circunferências concêntricas ao redor da
compense o desnível e equilibre
Sistema de irrigação por pivô torre central. O movimento da última torre
as pressões. central móvel (anel externo) inicia uma reação
d) dimensionamento da linha principal de avanço em cadeia, progredindo para
Características do sistema
A linha principal será de PVC o centro.
azul PN 80 com diâmetro nominal O sistema de irrigação por aspersão Em virtude de cada torre descrever
de 75 mm. O diâmetro externo desse mais automatizado, disponível no mercado uma circunferência de raio diferente, suas
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Irrigação 39

velocidades de deslocamento deverão ser determinada pela velocidade da última Q = vazão do pivô (m3/h ou L/s);
diferentes. Portanto, a última torre controla torre. Para isso, regula-se o relé porcen- H = tempo por volta do equipamento
a velocidade das demais. O alinhamento tual de acordo com a necessidade. Ao se (h);
das torres é garantido por um sistema lo- regular em 50%, indica que a última torre A = área irrigada (ha).
calizado em cada torre, que liga e desliga movimentar-se-á por um tempo, cujo valor
o sistema de propulsão. depende do fabricante e ficará parada pelo d) intensidade média máxima de apli-
A estrutura do equipamento é rígida, mesmo tempo. Se o sistema de alinhamen- cação
composta por tubulação, cantoneiras, to falhar e alguma unidade desalinhar-se 4 . z . 60
Imáx =
suportes e barras de tensão, fabricadas em excessivamente, um dispositivo de segu- p.t
aço zincado. Um conjunto motobomba de rança é acionado e o sistema para automa-
acionamento elétrico ou a diesel fornece ticamente, evitando o tombamento do pivô. em que:
água pressurizada ao sistema, com vazão Nesse equipamento, o tempo de giro, Imáx = intensidade média máxima
e pressão de acordo com o projeto.
o tempo mínimo de rotação, a lâmina apli- (mm/h);
Com o objetivo de aumentar a área irri-
cada por volta, a intensidade de aplicação z = lâmina média ponderada (mm);
gada, parte da LL projeta-se além da última
e a uniformidade de aplicação podem ser
torre e, em sua parte final, pode-se colocar T = tempo de aplicação(min),
calculados pelas equações a seguir:
um aspersor de grande raio de alcance. Dá- calculado pela relação entre a
se o nome de balanço a esta tubulação final. a) tempo total de giro largura do padrão molhado e a
T = 2r0
Nos sistemas de baixa pressão, atualmente velocidade da última torre.
mais comumente usados, utiliza-se uma V e) uniformidade de Christiansen
bomba Booster, para funcionamento desse
canhão final. em que:
R s (zs 
z)
UC = 1,0 -
T = tempo total do giro (h); z Rs
Operação do sistema
V = velocidade de deslocamento da
O sistema pivô central deverá ser última torre (m/h); em que:
projetado para aplicar uma lâmina d’água ro = distância entre o ponto do pivô UC = índice de uniformidade de
suficiente para atender o pico de demanda e a trilha da última torre (m). Christiansen (decimal).
da forrageira. O equipamento deverá ser
b) tempo mínimo de rotação do pivô f) uniformidade de distribuição
manejado de tal forma que promova a
aplicação de água necessária para manter z (25)
um bom nível de armazenamento no solo. Tmín = 2 r0 UD =
z
Por isso, é importante fazer análise física
Vmáx
do solo e, se possível, traçar a curva de em que: em que:
retenção de água do solo. Assim, este terá UD = índice de uniformidade de
umidade próxima à capacidade de campo, Tmín = tempo mínimo de rotação do
distribuição (decimal);
antes de iniciar o período de consumo pivô (h);
z (25) = soma dos produtos dos me-
máximo da planta. V = velocidade máxima de deslo-
nores volumes coletados
O processo de abastecimento de água camento da última torre (m/h);
pelo fator de ponderação
é feito por um conjunto motobomba, que ro = distância entre o ponto do pivô correspondentes a 25% da
a leva até o pivô por uma adutora de aço e a trilha da última torre (m). área, ou seja:
zincado ou PVC. Materiais como ferro
fundido, alumínio e fibrocimento já não c) lâmina aplicada por volta do pivô
são mais usados. O acionamento do con- z(25) =
Rs zs (25)
Q.H
junto motobomba pode ser feito de acordo Lmédia = (m3/h)
10.A
com a conveniência do irrigante. Aqueles
movidos a eletricidade e a diesel são os Q.H Sistema de irrigação por
Lmédia = 0,36 (L/s) autopropelido
mais usados. A propulsão do pivô é geral- A
mente elétrica, embora exista propulsão O autopropelido foi um dos primeiros
em que:
hidráulica. sistemas de irrigação mecanizados que
A velocidade de rotação de cada torre Lmédia = lâmina média aplicada pelo surgiram no Brasil. Apesar de existir des-
e do avanço da linha de distribuição é equipamento por volta (mm); de 1960, nos Estados Unidos em escala
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40 Irrigação

comercial, só foi importado no início da funcionamento não difere muito, sendo a Apesar da demanda crescente por esse
década de 1970. Em 1975, começou a ser maior diferença a exclusão do cabo de aço tipo de equipamento, tem-se verificado
produzido e comercializado no Brasil, nesses modelos. São indicados para irriga- falta de informações técnicas a respeito
seguindo duas linhas básicas de produção, ção em faixas, com larguras que variam de desses materiais, o que proporciona siste-
a de propulsão por pistão e a por turbinas 24 a 96 m e comprimento de até 900 m, mas maldimensionados, gastos excessivos
hidráulicas. Outros mecanismos de deslo- com declividades máximas em torno de de água e desenvolvimento inadequado das
camento que foram utilizados por alguns 20%. O aspersor deverá ser deslocado plantas. O principal problema encontrado
fabricantes, como hidrocâmaras e tornique- em nível ou em terrenos de relevo pouco em sistemas de irrigação de paisagismo é
tes hidráulicos, deixaram de ser utilizados. inclinado. Ao movimentar-se em área de a baixa eficiência de aplicação de água. Na
O autopropelido teve grande aceitação declive, pode ocorrer um embolamento maioria dos casos, a fonte de água utilizada
entre os produtores de cana-de-açúcar e da mangueira. para irrigação é a mesma do abastecimento
em usinas de produção de álcool, sendo Nesse tipo de sistema de irrigação, nor- urbano, de forma que um gasto excessivo
utilizado para irrigação e distribuição de malmente, são usados aspersores de grande de água pode-se tornar bastante dispendio-
vinhaça. alcance (alta pressão de funcionamento). so, além de comprometer o abastecimento
A irrigação, utilizando autopropelido, Associado a isso tem-se uma elevada perda urbano.
surgiu da necessidade de irrigar cada vez de carga na mangueira que acompanha o No entanto, não existem disponíveis
maiores áreas com menor mão de obra. canhão e no dispositivo de movimentação normas específicas para a avaliação desses
Esse equipamento apresenta uma razoá- (turbina ou pistão hidráulico) do equipa- equipamentos. As normas existentes são
vel adaptação a culturas de porte elevado mento. Dentre os sistemas de irrigação designadas para aspersores utilizados ba-
e a terrenos irregulares. Atualmente, os pressurizados, o autopropelido é conside- sicamente para fins agrícolas, com caracte-
modelos comercializados irrigam áreas de rado o de maior consumo de energia por rísticas de funcionamento bastante distintas
15 a 70 ha. Existe o modelo tracionado a unidade de área irrigada. Por esse motivo, dos aspersores utilizados em sistemas de
cabo de aço e pela própria mangueira de na atualidade, não vem sendo utilizado irrigação para paisagismo. Em geral, esses
polietileno, que é o mais comercializado. para irrigação de pastagem (DRUMOND;
aspersores diferenciam-se dos demais nos
Consta basicamente de um aspersor que FERNANDES, 2004). seguintes aspectos:
se desloca sobre a área a ser irrigada, mo-
lhando faixas individuais. Após a irrigação Irrigação de paisagismo a) alta precipitação (que pode chegar
de uma faixa, o equipamento é transpor- a 60 mm/h);
As principais aplicações do sistema
tado para outra, seguindo uma sequência b) raios de alcance variáveis;
autopropelido de irrigação são:
de irrigação. No final, toda a área deverá c) mecanismo setorial (os ângulos de
a) em praças públicas: sistemas em-
estar irrigada, e a máquina disponível para molhamento podem variar de 1º até
butidos (escamoteáveis), garante
iniciar um novo ciclo de irrigação. 360º) e trajetória dos jatos variável.
proteção contra vandalismo e visual
É um equipamento que se locomove
adequado (os aspersores somente Para assegurar um completo e adequa-
utilizando energia hidráulica da água de ir-
aparecem quando estão em funcio- do projeto de sistema de irrigação de paisa-
rigação. Pode ser tracionado no campo por
namento); gismo, existem oito passos a ser seguidos,
meio de um cabo de aço ou com a própria
b) em jardins residenciais: áreas verdes até que se obtenha a planta final.
mangueira de condução de água. A energia
com grande variedade de espécies
despendida no deslocamento do aspersor
vegetais, que necessitam de forne- Informações locais
vem do processo de transformação da
cimento adequado de água sem uso Obter informações como área total,
energia hidráulica em energia mecânica.
de mão de obra para operação. Ga- existência ou não de planta de paisagismo,
Normalmente, a transformação se dá por
rante um visual adequado ao jardim desníveis, fonte de água, fonte de energia
meio de turbinas ou pistão. A diferença
que o modelo tracionado por mangueira (aspersores embutidos); etc., são essenciais para um dimensiona-
apresenta, em relação ao modelo traciona- c) campos esportivos: em geral grama- mento eficiente de um sistema de irrigação
do por cabo de aço, consiste no emprego dos de campos de futebol, campos para paisagismo. Este dimensionamento
de mangueira flexível de polietileno de de golfe, haras etc., onde se deseja deve ser feito em cima do projeto de pai-
média densidade (PEMD). Isto para pro- irrigação eficiente e automática; sagismo, para que seja possível a locação
vocar movimento do aspersor instalado d) quadras de tênis: com pisos de gra- correta de aspersores, válvulas e tubulações
sobre um chassi com duas ou quatro rodas ma (a irrigação deve ser eficiente e na área onde se deseja instalar o sistema.
pneumáticas, por causa do tracionamento automática) ou de saibro (a irrigação A planta paisagística é de fundamental
provocado pelo enrolamento da mangueira é utilizada para reduzir a poeira importância para o início do dimensiona-
no carretel. Na realidade, o princípio de característica desse tipo de piso). mento do sistema.
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Irrigação 41

Quando a planta de paisagismo não vento, temperatura e precipitação; seguidas para uma correta locação dos
estiver disponível, deve ser feito um levan- f) tipo de solo; equipamentos:
tamento das espécies vegetais existentes g) compatibilidade entre os aspersores, a) começar a plotar os aspersores pelas
na área, onde será implantado o projeto, para que possam ser agrupados. áreas mais problemáticas, ou seja,
coletando informações a respeito de porte áreas com densa vegetação, obstru-
da planta, espaçamento, altura, densidade O tamanho e a forma das áreas a serem
ções, espaços curtos etc.;
etc., locando numa planta baixa ou planial- irrigadas em geral determinam que tipo de
equipamento deve ser utilizado. A meta b) depois de preenchidas essas áreas,
timétrica da área. Esse trabalho deve ser
é selecionar equipamentos que cubram a completa-se a locação com asper-
feito por engenheiro agrônomo/agrícola
área irrigada adequadamente, utilizando o sores de espaçamentos mais largos;
ou arquiteto especialista em paisagismo.
menor número possível de unidades. c) para facilitar esse procedimento, são
Determinação da fonte de O tipo de planta existente na área utilizados aspersores setoriais, que
água e energia também pode ditar o tipo de emissor a ser permitem uma excelente cobertura
A fonte de água para alimentar o utilizado. Árvores, arbustos, forrações, da área, independentemente do seu
sistema de irrigação deve ser analisada cercas vivas, gramados requerem tipos formato.
antes do início do projeto propriamente diferentes de irrigação.
dito. Com o auxílio de um manômetro e Outro fator limitante é a pressão e a Determinação dos parâmetros
de um hidrômetro, devem ser definidas as vazão disponíveis, que podem restringir o hidráulicos do projeto
condições de funcionamento do sistema uso de determinados tipos de aspersores. Um adequado projeto hidráulico pode
hidráulico a ser utilizado, em várias horas Condições climáticas também podem reduzir consideravelmente problemas
do dia. Se não for possível a utilização de exigir o uso de aspersores especiais. Por ao longo da vida útil de um sistema de
um hidrômetro, a medição da vazão da exemplo, áreas com grande incidência de irrigação. Em geral, um projeto malfeito
fonte de água pode ser obtida diretamente ventos demandam aspersores com ângulos proporciona uma baixa performance do
com o auxílio de um recipiente graduado, mais fechados, que mantenham os jatos de sistema de irrigação, que pode significar a
onde se coletará o volume de água em um água próximos à superfície das plantas. morte de plantas ou danos em aspersores
tempo conhecido. Outra particularidade importante é a e tubulações.
compatibilidade entre aspersores contro- Além desses problemas, deve ser ana-
Seleção de emissores lados por uma mesma válvula. Uma das lisado também o aspecto econômico do
mais importantes recomendações que deve projeto, pois da mesma forma que deve
Existe uma grande variabilidade de
ser seguida num projeto de irrigação para ser hidraulicamente correto, deve ser eco-
emissores que podem ser utilizados num
paisagismo é evitar misturar diferentes nomicamente viável.
sistema de irrigação para paisagismo. Cada
tipos de aspersores numa mesma válvula Pelo fato de os sistemas para paisagis-
um tem uma faixa particular de aplicações
de controle. Além disso, aspersores com mo, em geral, destinarem-se a áreas rela-
que o projetista deve estar familiarizado.
diferentes taxas de aplicação devem ser tivamente pequenas, o uso de conexões é
Os principais tipos de equipamento são:
separados dentro do mesmo sistema. muito maior, quando comparado a sistemas
a) aspersores tipo spray;
de irrigação agrícolas. Além disso, as tubu-
b) aspersores tipo rotor; Locar emissores e válvulas lações, na maioria das vezes, sofrem des-
c) aspersores de impacto; na planta vios, curvas, tendo em vista os obstáculos
d) emissores de baixo volume, que são A locação dos aspersores é outro fator existentes numa área de construção civil,
os gotejadores e os microaspersores. importante a ser considerado. Pelo fato de como tubulações de esgoto, pisos, funda-
Para uma adequada seleção dos equi- a maioria dos sistemas de irrigação para ções, fios etc. Por essa razão, utilizam-se
pamentos a serem utilizados num projeto, paisagismo ser enterrado, os problemas são tubulações de PVC marrom, para a instala-
alguns fatores devem ser considerados, muito mais difíceis de ser resolvidos depois ção dos setores irrigados, pela facilidade e
como: que o sistema entra em funcionamento. confiabilidade das conexões. As tubulações
A principal recomendação é o posicio- de PVC azul, em geral, são utilizadas para
a) tipo de emissor requerido pelo con-
namento dos pontos de emissão de água, de as linhas principais (adutoras).
tratante;
maneira tal que as áreas irrigadas tenham
b) tamanho e forma das áreas a serem
uma sobreposição adequada proporcionada Locação do controlador e
irrigadas; dimensionamento da fiação
pelos aspersores. Nunca se devem instalar
c) tipos de planta existentes; elétrica
aspersores com espaçamentos superiores às
d) pressão e vazão disponíveis; faixas recomendadas. Depois que a tubulação e demais
e) condições climáticas locais, como Algumas recomendações podem ser componentes do sistema estiverem dimen-
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42 Irrigação

sionados, e toda a parte hidráulica estiver (diferenças) de nível; tobomba: baseia-se na vazão, na
calculada, passa-se para o dimensionamen- d) deve conter todas as fontes de água altura manométrica e na potência
to da parte elétrica, iniciando pela locação e energia utilizadas. necessária;
do controlador. g) elaboração de planta ou croqui:
Em grandes projetos, onde muitos CONSIDERAÇÕES FINAIS efetuados os cálculos, deve ser ela-
controladores são instalados, a escolha borada uma planta ou croqui, onde
deve levar em consideração alguns fatores. Para a elaboração de projetos de irri-
são locados o ponto de captação, a
Primeiramente, para minimizar o compri- gação, várias etapas devem ser seguidas,
linha mestra, as linhas laterais, os
mento da fiação elétrica, o controlador, que para que seja possível o dimensionamento acessórios e o posicionamento do
serve a determinado número de válvulas, técnico e econômico adequado às condi- equipamento.
deve estar centralizado ou próximo à região ções de cada cultura e condição irrigada.
Os principais parâmetros discutidos neste Além desses itens, são também im-
de maior concentração destas válvulas. Ou-
artigo foram: portantes a análise econômica do projeto
tra recomendação é que os controladores,
e outros itens, tais como, custos, receitas,
quando conveniente, devem ser instalados a) definição da precipitação ou lâ-
fluxo de caixa, comercialização etc., con-
em pares ou em conjunto, para diminuir mina a ser aplicada na área: esta
forme a exigência da situação.
o comprimento da linha de alimentação precipitação varia em função, prin-
elétrica. Preferencialmente, tais controla- cipalmente, da cultura e da região
REFERÊNCIAS
dores devem ser instalados numa posição geográfica, onde a área se situa;
em que os aspersores operados possam ser BERNARDO, S. Manual de irrigação. 6.ed.
b) seleção do equipamento mais
Viçosa, MG: UFV, 1995. 657p.
facilmente visíveis. Esse procedimento adequado ou das alternativas dos
facilita os testes operacionais durante a BRASIL. Lei no 9.433, de 8 de janeiro de
equipamentos para a área : esta
instalação e, posteriormente, durante as 1997. Institui a Política Nacional de Recur-
seleção leva em consideração a
sos Hídricos, cria o Sistema Nacional de
manutenções de rotina. cultura plantada ou a ser plantada, Gerenciamento de Recursos Hídricos, regu-
Controladores instalados em área exter- a topografia da área, o tamanho da lamenta o inciso XIX do art. 21 da Constitui-
na devem ser acondicionados em caixas ou área e a disponibilidade de água; ção Federal, e altera o art. 1o da Lei no 8.001,
cabines de proteção. De preferência, insta- de 13 de março de 1990, que modificou a
c) cálculo do turno de rega e tempo
lar o controlador numa posição, na qual não Lei no 7.990, de 28 de dezembro de 1989.
de funcionamento por posição :
seja atingido pelos jatos dos aspersores. Diário Oficial [da] República Federativa do
para fazer estes cálculos, devem-se
Como medidas de proteção, recomenda- Brasil, Brasília, 9 jan. 1997.
levar em conta, principalmente, o
se o aterramento elétrico do controlador e DRUMOND, L.C.D.; AGUIAR, A.P.A. Irriga-
consumo diário de água da cultura,
também a instalação de um regulador de ção de pastagem. Uberaba, 2005. 210p.
a profundidade do sistema radicular,
voltagem, para uma proteção efetiva do ______; FERNANDES, A.L.T. Irrigação por
a resistência que a planta apresenta
equipamento, que constitui, na maioria dos aspersão em malha. Uberaba: Universidade
ao déficit de água e as característi-
projetos, componente mais caro. de Uberaba, 2001. 84p.
cas físicas do solo, principalmente,
quanto a sua capacidade de armaze- ______; ______. Utilização da aspersão em
Preparo da planta final do malha para cafeicultura familiar. Uberaba:
namento de água;
projeto UNIUBE, 2004. 88p.
d) cálculo da vazão: esse cálculo refe-
A planta final representa um diagrama re-se à vazão total do equipamento FERNANDES, A.L.T.; DRUMOND, L.C.D.
de como o sistema deve parecer após a Coleção cafeicultura irrigada: pivô central.
e baseia-se na área a ser irrigada, na
Uberaba: Universidade de Uberaba, 2002.
instalação. Deve ser elaborada da forma precipitação definida e no número
87p. (Universidade de Uberaba. Programa
mais completa possível, respeitando-se de horas de trabalho diário; de Educação a Distância, v.1).
algumas recomendações:
e) dimensionamento hidráulico: dimen-
NAANDAN JAIN IRRIGATION. 5035. [S.l.,
a) a planta deve ser legível e de fácil sionamento das tubulações e dos 2010?a]. Disponível em: <http://www.
utilização, com uma escala conve- acessórios. Uma vez selecionadas as naandanjain.com/products/sprinklers/
niente; tubulações e os acessórios, procede- overhead-sprinklers/5035---5035G>.
Acesso em: 13 out. 2010.
b) deve ter uma legenda detalhada que se à locação destes na área, inclusive
explique todos os símbolos utiliza- as posições necessárias para o equi- ______. PC driplines. [S.l., 2010 ?b]. Dispo-
nível em: <http://www.naandanjain.com/
dos no projeto; pamento escolhido;
products/drip-Irrigation/PC-Driplines>.
c) deve mostrar as principais mudanças f) dimensionamento do conjunto mo- Acesso em: 13 out. 2010.

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Irrigação 43

Avaliação de sistemas de irrigação


Flávio Gonçalves Oliveira 1
Flávio Pimenta de Figueiredo 2
Polyanna Mara de Oliveira 3
Édio Luiz da Costa 4

Resumo - O aumento populacional, aliado à elevação do padrão de consumo da socie-


dade, tem provocado um consumo de água cada vez maior. Isto tem gerado conflitos
entre os setores usuários. A agricultura, sendo a maior consumidora dos recursos hí-
dricos, tem sido pressionada a reduzir essa demanda, o que só pode ser atingido com a
redução do uso da água na irrigação. Entretanto, isto só é possível caso haja o manejo
racional da água, pela avaliação dos sistemas de irrigação. Os parâmetros técnicos de
desempenho desses sistemas, tradicionalmente utilizados, são: eficiência, uniformidade
e grau de adequação da irrigação. A eficiência diz respeito ao balanço de água na área
irrigada. A uniformidade representa a distribuição da lâmina d’água ao longo da área
irrigada e normalmente é expressa pelo coeficiente de uniformidade de Christiansen
(CUC) e pela uniformidade de distribuição (UD). E o grau de adequação representa a
porcentagem da área irrigada que recebe lâmina d’água igual ou maior que a necessária
à cultura. Independentemente do sistema de irrigação avaliado (aspersão convencional,
pivô central e irrigação localizada), existem procedimentos de campo que são utilizados,
mas que em geral buscam informações das vazões, e/ou lâminas d’água, desde o con-
junto motobomba, até o solo ao longo de toda a área irrigada. A avaliação de sistemas
de irrigação permite melhorias no seu uso, com vistas a reduzir o consumo de água e de
energia, os custos e, ainda, proporcionar benefícios ao meio ambiente.

Palavras-chave: Água de irrigação. Adequação de irrigação. Eficiência de irrigação.

INTRODUÇÃO recursos hídricos. Sabe-se que os vegetais o quanto de água aplicar. Quanto aplicar,
necessitam de muita água para a produção pode ser estimado por métodos que deter-
A produção de alimentos em nível
plena, no entanto, também é sabido dos minam a evapotranspiração. Quando apli-
mundial é altamente dependente da irri-
desperdícios ocorridos pelo mau uso dos car, é determinado pelo balanço de água
gação, uma vez que das áreas irrigadas é sistemas de irrigação por parte de alguns no solo, de forma que permita a aplicação
que se derivam, aproximadamente, 40% irrigantes. Assim, são necessários proce- eficiente da água, e se obtenha uma relação
da produção de alimentos. Entretanto, dimentos que analisem a eficiência e a satisfatória entre unidade de água aplicada
a agricultura irrigada é responsável por uniformidade desses sistemas, como forma e produção. Isto diminui o desperdício cau-
60% do consumo de água no Planeta. Essa de garantir o uso racional e sustentável dos sado pela percolação do excesso de água,
dicotomia nos leva a pensar o quanto é recursos hídricos. que, além de elevar o custo, acarreta danos
importante o uso da irrigação na agricultura Para o bom desempenho de um sistema ao meio ambiente. Portanto, a avaliação do
e a refletir sobre o consumo elevado dos de irrigação é necessário saber quando e sistema, após a sua implantação, torna-se

1
Engo Agrícola, D.Sc., Prof./Pesq. UFMG - Instituto de Ciências Agrárias, CEP 39404-006 Montes Claros-MG. Correio eletrônico:
flaviogoliveira@ibest.com.br
2
Engo Agrícola, D.Sc., Prof. Adj. III UFMG - Instituto de Ciências Agrárias, CEP 39404-006 Montes Claros-MG. Correio eletrônico:
figueiredofp@yahoo.com.br
3
Enga Agrícola, D.Sc., Pesq. EPAMIG Norte de Minas/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio
eletrônico: polyanna.mara@epamig.br
4
Engo Agrícola, D.Sc., Pesq. EPAMIG Centro-Oeste/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG. Correio
eletrônico: edio.costa@epamig.br

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44 Irrigação

importante para o conhecimento das perdas Equação 1: Já a eficiência de armazenamento (Es)


de água durante a irrigação e para manter a define a fração do volume de água necessá-
uniformidade de sua aplicação, objetivan- Ei = Vn ria para suprir o déficit estabelecido na re-
do controlar e melhorar o processo. Isso Vc gião da zona radicular das culturas, sendo,
requer um manejo integrado de todos os portanto, um indicador do reabastecimento
componentes do sistema, para obter sua do solo nesta região, segundo Botrel e Fri-
em que:
máxima eficiência de uso. zzone (1996). Walker e Skogerboe (1987)
Este artigo visa abordar as metodologias Vn = volume ou lâmina d’água ne- e Heermann, Wallender e Bos (1992)
de avaliação dos sistemas de irrigação por as- cessária ao desenvolvimento definem a eficiência de armazenamento
persão convencional, pivô central e localizada. potencial da cultura; pela expressão:
Equação 3:
PARÂMETROS UTILIZADOS Vc = volume ou lâmina d’água capta-
NA AVALIAÇÃO DE SISTEMAS da na fonte de suprimento.
DE IRRIGAÇÃO Es = Vs
O volume de água (Vn) necessário ao Vr
Segundo Botrel e Frizzone (1996), desenvolvimento potencial da cultura in-
os objetivos principais que se buscam na corpora em seu conceito múltiplos propó-
avaliação de desempenho de sistemas de sitos, dentre os quais o atendimento pleno em que:
irrigação abrangem desde a adequação do da evapotranspiração da cultura (ETc), a Vs = volume ou lâmina d’água arma-
sistema à determinada condição de utili- lixiviação dos sais, a proteção contra geada zenada até a profundidade efetiva
zação, até aqueles bem genéricos como e a aplicação de pesticidas e fertilizantes, das raízes após um evento de
estudos comparativos, levantamento de quando assim forem necessários (HEER- irrigação;
parâmetros de projetos ou de dados para MANN; WALLENDER; BOS, 1992).
desenvolvimento de novos equipamentos. A eficiência de irrigação é composta Vr = volume ou lâmina d’água neces-
Frizzone e Dourado Neto (2003) citam pelas eficiências de condução, de aplicação sária para o suprimento hídrico
que, na análise do desempenho da irrigação e de armazenamento, englobando ainda as da cultura irrigada.
em campo, basicamente utilizam-se os parâ- perdas por percolação.
metros de desempenho relativos à eficiência, A perda por percolação representa a
A eficiência de condução expressa a
à uniformidade e ao grau de adequação. razão entre a quantidade de água percolada
relação entre o volume de água que chega
abaixo da profundidade efetiva do sistema
à área irrigada e o volume de água captado
Eficiência de irrigação radicular e a quantidade de água aplicada,
na fonte, cujo valor é 1,0 em adutoras fixas
e, segundo Heermann, Wallender e Bos
Segundo Frizzone e Dourado Neto e sem a presença de vazamentos.
(1992), é usualmente avaliada com outros
(2003), o termo eficiência representa a A eficiência de aplicação (Ea) é alvo
parâmetros de eficiência.
razão entre quantidades de água envolvidas de divergências entre diversos autores.
no processo de irrigação, que expressa Entretanto, a conceituação mais utilizada Uniformidade de irrigação
o balanço entre os seguintes volumes de é a citada por Botrel e Frizzone (1996),
água: captado na fonte de suprimento; for- Heermann, Wallender e Bos (2002) e A uniformidade de irrigação é comu-
necido à parcela pelo sistema de irrigação; Frizzone e Dourado Neto (2003), dada mente expressa por meio de coeficientes
necessário à planta; armazenado no solo até pela expressão: que visam determinar o grau de dispersão
a profundidade efetiva das raízes; perdido da lâmina d’água aplicada na área irrigada.
Equação 2: Várias definições têm sido propostas e
por evaporação e deriva pelo vento, perco-
lação e escoamento superficial. usadas para descrever a uniformidade de um
Heermann, Wallender e Bos (1992), Ea = Vzr sistema de irrigação.
Va Christiansen (1942) definiu o coeficiente
conceituando nesse mesmo sentido, afir-
mam que o objetivo da irrigação é aplicar de uniformidade para avaliar sistemas de
em que:
água e armazená-la no perfil do solo, para irrigação por aspersão convencional, sendo
o uso das culturas irrigadas, e que, a obten- Vzr = volume ou lâmina d’água ar- difundido mais tarde para a avaliação de ou-
ção do crescimento uniforme das plantas mazenada até a profundidade tros métodos de irrigação. Este coeficiente
cultivadas requer uma aplicação de água efetiva da zona radicular; leva em consideração o desvio médio em
uniforme em toda a área irrigada. Walker relação à média das lâminas d’água como
e Skogerboe (1987) definem a eficiência Va = volume ou lâmina d’água total medida de dispersão, e a uniformidade de
de irrigação (Ei), conforme a expressão: aplicada pelo sistema de irrigação. aplicação é definida pela expressão:
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Irrigação 45

Equação 4: Equação 5: em que:


X25 = valor médio dos 25% menores
n n valores de lâminas de irrigação
∑ (Xi – x) n ∑ Xi.i coletadas;
∑i
i=1 i=1
CUC = 100 1– Xi –
nx n
i=1
∑i Xm = lâmina média coletada.
i=1
CUC = 100 1 – No uso da Equação 7 para irrigação lo-
n
em que: ∑ Xi.i calizada, substituem-se também as lâminas
i=1
d’água por vazão.
CUC = coeficiente de uniformidade de Keller e Bliesner (1990), na correlação
Christiansen (%); de valores de CUC com os de UD, obser-
em que:
Xi = lâmina d’água aplicada em cada varam que estes eram sempre menores
coletor (mm); i = número de ordem do coletor, nu- que os primeiros, chegando ao modelo de
x = valor médio das lâminas d’água merados a partir do centro do pivô. correlação apresentado pela expressão:
aplicadas (mm); Para sistemas de irrigação localizada, Equação 8:
n = número de coletores instalados na utiliza-se a vazão dos emissores no lugar
avaliação. da lâmina de irrigação. UD% = 100 – 1,59 (100 – CUC%)
Segundo Keller e Bliesner (1990),
Segundo Frizzone e Dourado Neto
outro parâmetro de determinação da uni-
(2003), o valor de CUC de 85% correspon-
formidade de irrigação é a uniformidade
de ao mínimo aceitável, sendo os valores
de emissão (Eu), que pode ser determinada Grau de adequação do
inferiores a este aceitáveis quando: a pre- sistema de irrigação
pela expressão:
cipitação pluvial é considerável durante a
O grau de adequação de irrigação é
época de cultivo; o custo do sistema é sufi- Equação 6:
também conhecido como área adequada-
cientemente pequeno, a fim de compensar mente irrigada (EDad) e é definido por Kel-
financeiramente essa redução do CUC; as ler e Bliesner (1990) como a porcentagem
linhas laterais são operadas em posições 1,27 Cvm qm
Eu = 100 1 – da área que recebe lâmina d’água igual ou
q
alternadas nas sucessivas irrigações. √n maior que a lâmina real necessária à cul-
Segundo Heermann, Wallender e Bos tura. Para culturas de baixo, médio e alto
(1992), a definição original de CUC re- valor econômico, sugerem EDad de 70%,
quer que cada coletor represente a lâmina em que:
80% e 90%, respectivamente. Tomando
d’água aplicada em áreas homogêneas,
Cvm = coeficiente de uniformidade de como exemplo a área adequadamente
o que não é verdadeiro no caso de pivô irrigada de 80% (ED80), esta pode ser cal-
fabricação;
central, onde os coletores são distribuídos culada pela expressão:
n = número de emissores por planta;
equidistantemente ao longo do raio do
qm = vazão mínima coletada corres- Equação 9:
pivô. Neste caso, segundo definição de
Heermann e Hein (1968), é necessário pondente à mínima pressão de
operação do emissor; X80
ponderar as lâminas d’água dos coletores, ED80 = 100
Xmc
uma vez que cada um destes representa q = vazão média coletada.
áreas progressivamente maiores a partir em que:
Outra medida utilizada é a uniformi-
do ponto-pivô. Segundo Frizzone e Dou-
dade de distribuição (UD), denominada ED80 = eficiência de distribuição para
rado Neto (2003), o fator de ponderação
por Kruse (1978) e determinada pela área adequadamente irrigada
pode ser a distância do coletor ao ponto-
expressão: de 80%;
pivô, o número de ordem do coletor i ou
a área de cada coroa circular representada Equação 7: X80 = lâmina coletada para área adequa-
pelo coletor i. A determinação do CUC damente irrigada de 80% (mm);
para o pivô é então feita, conforme Ber- X25 Xmc = lâmina média coletada projeta-
nardo, Soares e Mantovani (2006), com UD = da para alcançar 80% de área
Xm
o uso da seguinte expressão: adequadamente irrigada (mm).
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46 Irrigação

A EDad também pode ser estimada pelo Mantovani et al. (1995) citam que, Quando se tenta ressaltar os fatores
método proposto por Keller e Bliesner quando a água não é escassa e a cultura é de ambientais que interferem na UD de água,
(1990), conforme a expressão: alto valor econômico, deve-se compensar a ação do vento é fator preponderante, cuja
a baixa UD de água pela aplicação de uma distorção dependerá de sua velocidade e do
Equação 10:
lâmina maior de irrigação, visando reduzir tamanho das gotas de água. Quanto maior a
a área de déficit. Entretanto, segundo Fri- velocidade do vento e menor o tamanho das
EDad = 100 + (606 – 24,9Pa + 0,349 Pa2 –
zzone e Dourado Neto (2003), em função gotas, maior será a distorção na distribuição
0,00186 Pa3) 1 – CUC% ) do aumento dos custos operacionais, da da água, em comparação com aquela para
100
possibilidade da lixiviação de nutrientes condição de vento fraco (GOMIDE, 1978;
e da contaminação do lençol freático e SOLOMON; KINCAID; BEZDEK, 1985).
em que: visando ainda a questão ambiental, talvez Aspersores que operam com pressões muito
EDad = eficiência de distribuição para não seja prudente irrigar com elevado grau altas têm excessiva pulverização do jato
área adequadamente irrigada de adequação. d’água, diminuindo seus raios de alcance
(%); e causando encharcamento próximo ao
FATORES QUE INFLUENCIAM aspersor. Aspersores que operam com pres-
Pa = porcentagem de área adequada- NA EFICIÊNCIA E NA sões baixas resultam em uma inadequada
mente irrigada (%). UNIFORMIDADE DA pulverização do jato d’água, tornando o
O Gráfico 1 apresenta a área adequada- IRRIGAÇÃO perfil de distribuição muito irregular (BER-
mente irrigada de um sistema de irrigação Merrian e Keller (1978) citam a NARDO; SOARES; MANTOVANI, 2006;
avaliado. Esse gráfico é construído a partir influência dos vários elementos meteo- BILANSKI; KIDDER, 1958).
das lâminas d’água coletadas durante a rológicos, ou seja, velocidade do vento, Outro fator a ser considerado, na
avaliação de irrigação no campo e a partir umidade relativa (UR) e temperatura do avaliação de um sistema de irrigação
da fração da área total de cada coletor. As ar, como causas das perdas de água na por aspersão convencional, é o tempo de
lâminas são então arranjadas em ordem aplicação de uma lâmina de irrigação nos rotação dos aspersores, onde, de acordo
decrescente e a porcentagem da área, que sistemas de aspersão. Mantovani e Ramos com Marouelli (1989), os aspersores em
recebe essa quantidade de água ou mais, é (1994) ainda citam outros elementos como condições normais devem completar uma
então calculada. a radiação solar e o déficit de pressão de rotação entre 46 segundos e 3 minutos e
Conforme o Gráfico 1, 50% da área vapor, e fatores como a pressão de serviço nunca menos que 20 segundos. Rotações
irrigada recebe lâmina d’água igual ou dos aspersores, a distribuição e o tamanho elevadas implicam em maior pulverização
superior a 2,0 mm, enquanto a outra me- das gotas, a distância do percurso da gota do jato, com redução de seu alcance, maior
tade recebe lâminas inferiores. Neste caso, no ar e a intensidade de aplicação de água desgaste do aspersor e maior efeito do
a área adequadamente irrigada é de 50%. ao solo também interferem no processo. vento no perfil de distribuição. A rotação
do aspersor deve ser uniforme para propor-
cionar melhor distribuição de água.
Em irrigação por aspersão, altos índices
Área (%) de uniformidade em geral estão relacio-
0 20 50 100
nados com menores espaçamentos. Isso
10 30 40 60 70 80 90
0,0 ocasiona elevação do custo de implantação
do sistema de irrigação. Entretanto, para
0,5
culturas de alto valor econômico, especial-
Lâmina (mm)

1,0 mente aquelas com sistema radicular pouco


profundo, talvez esta prática seja a mais re-
1,5
comendada (BOTREL; FRIZZONE, 1996).
2,0 No caso da irrigação localizada, os
2,5 emissores possuem bocais de pequenas
dimensões, o que aumenta a propensão ao
3,0
entupimento. Isso provocaria uma redução
importante na uniformidade de irrigação.
Perfil de distribuição Lâmina média
Este problema pode ser minimizado com a
Gráfico 1 - Área adequadamente irrigada utilização de sistemas de filtragem dimen-
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Irrigação 47

sionados em função da qualidade da água,


que deve ser analisada antes mesmo do
dimensionamento do sistema de irrigação.

METODOLOGIA DE
AVALIAÇÃO DE SISTEMAS DE
IRRIGAÇÃO

Aspersão convencional
Conforme Bernardo, Soares e Manto-
vani (2006), para determinar a UD da água
de um sistema de irrigação por aspersão
convencional, instala-se um conjunto de
pluviômetros, equidistantes em torno do
aspersor a ser testado. A área em torno do
aspersor é dividida em subáreas quadradas,
geralmente no espaçamento de 3 m (Fig. 1).
Segundo Frizzone e Dourado Neto
(2003), deve-se obedecer o seguinte pro-
cedimento:
a) instalar os aspersores em uma área Figura 1 - Disposição dos pluviômetros em torno de um aspersor instalado no centro da
livre de obstáculos; área
b) a superfície do terreno deve estar
preferencialmente em nível;
que o tempo de teste seja o suficiente para campo, onde são sugeridos apenas dois
c) o tubo de subida dos aspersores deve coletar uma lâmina d’água de pelo menos raios espaçados num ângulo de 3o (Fig. 3).
estar na posição vertical; 5 mm. Os coletores devem ser numerados
d) o aspersor deve estar localizado no Para obter os coeficientes de uniformi- em ordem crescente, a partir do centro
centro da malha de coletores insta- dade, quando se testa somente um aspersor, do pivô, e igualmente espaçados entre si,
lados; deve-se simular a sobreposição das lâminas tomando-se o cuidado de evitar a instalação
d’água aplicadas por quatro aspersores, de coletores no caminho percorrido pelas
e) a área mínima da boca de captação
cada um localizado num vértice em área rodas. Segundo Bernardo, Soares e Man-
dos coletores deve ser de 50 cm2 e o
com dimensões correspondentes ao espa- tovani (2006), o espaçamento pode variar
bordo destes deve estar na horizontal;
çamento desejado para os aspersores. de 4 a 10 m.
f) os coletores devem estar dispostos Frizzone e Dourado Neto (2003) suge-
quadricularmente, e no mínimo
Pivô central rem que os principais dados a ser coletados
50 coletores devem receber água durante a avaliação no campo sejam:
durante o ensaio; Para determinar a uniformidade de
aplicação de água em sistema de irrigação a) lâmina d’água coletada;
g) a direção e a velocidade do vento
devem ser determinadas continua- por pivô central, os recipientes coletores b) dados meteorológicos (velocidade
mente; devem ser colocados em quatro raios do e direção do vento e evaporação),
círculo irrigado (Fig. 2), de acordo com sendo recomendado que os ensaios
h) a pressão de serviço deve ser deter-
o método proposto por Merriam e Keller sejam realizados sob condição de
minada no bocal principal e na base vento com velocidade inferior a
(1978). Caso a área possua declividade,
do aspersor; 1 m/s (3,6 km/h);
devem-se tomar dois raios no sentido da
i) a vazão do aspersor deve ser deter- maior declividade e os outros dois em c) velocidade de giro do pivô central,
minada na pressão de ensaio. nível. A metodologia para determinar a com velocidade de 100% no relé
O sistema de irrigação é acionado por UD sugerida pela Associação Brasileira de porcentual;
um período de duas ou mais horas (BER- Normas Técnicas (1998) difere da proposta d) medidas de pressão tomadas na
NADO; SOARES; MANTOVANI, 2006). por Merriam e Keller (1978) somente na motobomba (em funcionamento
Já Frizzone e Dourado Neto (2003) citam forma de distribuição dos coletores no normal e com o registro fechado),
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48 Irrigação

+ +
Linha lateral

+ + + +
43 44
+ + + + + + + + + + + + +
1 1 2 3 4
+ + + +

2 3º
3
5,0 m Coletores
4

43
+ +

44
Raio adicional irrigado

Figura 2 - Disposição dos coletores no campo para teste de unifor- Figura 3 - Avaliação da uniformidade de distribuição de água
midade de aplicação de água por pivô central por pivô central

no ponto-pivô, no último emissor escolhendo-se a primeira, uma a um terço dois minutos em um recipiente de volume
e na entrada e saída de pelo menos da entrada da subunidade, outra a dois adequado e, posteriormente, medindo-se
um regulador de pressão; terços e a última linha lateral. Em cada esse volume com uma proveta. Obtém-se
e) largura do diâmetro molhado no linha lateral selecionam-se também quatro a vazão pela divisão do volume pelo tempo
último emissor com o pivô parado emissores, conforme procedimento utiliza- de coleta. Os coeficientes de uniformidade
mas em funcionamento; do para seleção das linhas laterais (Fig. 4). e os de eficiência do sistema são obtidos
A vazão de cada microaspersor é medida, com a utilização das equações menciona-
f) estimativa da vazão conforme a
coletando-se o volume de água durante das anteriormente.
expressão:
Equação 11:
Válvula Linha de derivação
A.X
Q= t Primeiro

em que:
Q = vazão estimada do sistema (m3/h);
1/3
A = área irrigada (m2);
Linha lateral

X = lâmina média coletada no teste (mm);


t = tempo de giro completo (h).
Além das medidas citadas, deve-se me- 2/3
dir também a velocidade de deslocamento
da última torre.

IRRIGAÇÃO LOCALIZADA Último

Primeira Um terço Dois terços Última


Segundo Merriam e Keller (1978) são
avaliados 16 emissores por subunidade Figura 4 - Esquema dos pontos de coleta do volume de água para determinação da
operacional, em quatro linhas laterais, uniformidade de distribuição de água

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Irrigação 49

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50 Irrigação

Qualidade da água na agricultura e no ambiente


Ricardo Augusto Lopes Brito 1
Camilo de Lelis Teixeira de Andrade 2

Resumo - A crescente demanda por água de boa qualidade, associada à migração das
populações das zonas rurais para áreas urbanas, tem sérias implicações na produção de
alimentos, geração de energia e suprimento de água potável nas cidades, inclusive na
América Latina, e requer medidas estratégicas a serem desenvolvidas e implementadas.
A agricultura irrigada, como maior usuária da água captada e principal alternativa para
alcançar o aumento requerido na produção de alimentos até 2025 ou 2050, torna-se alvo
das atenções, tanto pela sua condição de consumidora de recursos hídricos, quanto pelo
seu potencial efeito na qualidade da água e no ambiente. Por outro lado, a irrigação
pode ser comprometida pela deterioração na qualidade das águas a montante, causada
pela poluição industrial e urbana, bem como pela erosão e consequente assoreamento de
cursos d’água. Apresentam-se dados sobre lixiviação de nitrogênio e atrazina pela água
de irrigação e efeitos de salinidade e toxicidade de sais específicos, bem como limites de
concentração dos elementos mais frequentemente encontrados. Sugerem-se intervenções
quanto ao uso e manejo da água, que é considerada insumo estratégico e recurso natural
limitado.

Palavras-chave: Irrigação. Impacto ambiental. Lixiviação. Salinidade. Estratégia de manejo.

INTRODUÇÃO o canal apropriado para satisfazer essa número de pessoas que vivem em países
demanda. com carência de água está projetado para
O crescimento da demanda mundial por
A disponibilidade de recursos hídricos subir de 500 milhões para 3 bilhões, em
água de boa qualidade, em velocidade su-
deve ser confrontada com um mundo cada 2025 (STOCKLE, 2001).
perior à capacidade de renovação do ciclo
vez mais populoso. A população mundial A alimentação humana e animal tem
hidrológico, é, consensualmente, previsto
em 1900 era de 1,6 bilhão, aumentando sua origem na agropecuária e as expecta-
nos meios técnicos e científicos interna-
para 2,5 bilhões, em 1950, e 6,1 bilhões até tivas mundiais apontam para uma necessi-
cionais. Esse crescimento tende a tornar o ano 2000. Apesar de uma queda geral nas dade crescente de produção de alimentos,
maior a pressão sobre os recursos naturais taxas de fecundidade, a população mundial com uma projeção de duplicação dessa
do Planeta neste século. Além disso, a qua- continua a crescer rapidamente. Projeta-se demanda até o ano 2025, no âmbito in-
lidade dos mananciais vem decrescendo que a população mundial atingirá entre 7,5 ternacional. Isto representa uma demanda
rapidamente pela ação antrópica. e 10,5 bilhões, em 2050, dependendo dos adicional de, aproximadamente, 780 km3
Tanto a migração da população do cenários futuros da taxa de crescimento. A de água, equivalentes a cerca de dez vezes
campo para a cidade quanto a industria- população da América Latina, que era de a vazão anual do Rio Nilo. Isso implica na
lização, além de exercerem significativa 475 milhões, em 1997, deve atingir quase possível ampliação da área agrícola e/ou
demanda de água dos mananciais, exigem 700 milhões de pessoas até 2025. A popu- no aumento da sua eficiência na produção
o crescimento do parque gerador de ener- lação mundial tem-se expandido rapida- de alimentos, o que significa um aumento
gia elétrica, que, por sua vez, implica na mente, com o correspondente aumento das na demanda de água para uso agrícola e/
necessidade de aproveitamentos hidrelé- pressões sobre a oferta de alimentos e do ou um aumento na eficiência agrícola de
tricos. Adicionalmente, houve a pressão ambiente. A competição pela água está-se uso de água. A agricultura é responsável
para aumentar a produção de alimentos, o tornando crítica, e a degradação ambiental por cerca de 70% do consumo mundial da
que veio encontrar na agricultura irrigada relacionada com o uso da água é grave. O água captada.

1
Eng o Agr o , Ph.D., Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: ricardo.brito001@gmail.com
2
Engo agrícola, Ph.D.,Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: camilo@cnpms.embrapa.br

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Irrigação 51

Os usos industrial e municipal têm Por exemplo, o Rio Colorado (EUA), mui- cola, devendo ser analisado dentro de um
ainda implicações importantes quanto ao tas vezes, não contém água no momento enfoque sistêmico. Assim, a utilização da
tratamento da qualidade da água e requer em que se atravessa a fronteira no México, bacia hidrográfica como unidade de plane-
dois tipos de tratamento de água a serem por causa das retiradas para áreas urbanas jamento para ações integradas, a adoção de
feitos. O primeiro, um processamento pré- e agrícolas. Na verdade, na maioria dos estratégias de conservação de solo e água,
vio, para ajustar a água aos seus padrões anos, o Rio Colorado não chega ao oce- a captação das águas das chuvas, como
de uso; o segundo, um tratamento posterior ano. Isto tem consequências para o rio e as barraginhas, a utilização de sistemas
de efluentes, para reduzir ou eliminar a seus ecossistemas ribeirinhos, bem como de manejo que aumentem a infiltração e a
presença de poluentes ou contaminantes. para o estuário do delta e do sistema na retenção da água, como o plantio direto, o
Dependendo da finalidade de uso da água, sua foz, que não recebe a recarga de água controle biológico, o controle integrado de
os parâmetros analisados variam dentro doce e nutrientes que normalmente recebia. pragas e doenças e outros, aparecem como
de um amplo espectro (pH, sais, micror- O mesmo ocorre com o Rio Amarelo, na opções de grande potencial para a solução
ganismos, coliformes, Na, Ca, NO3, N China. O Rio San Joaquin, na Califórnia, dessa problemática. A questão é que, dentro
total, metais pesados, agroquímicos etc.) é tão frequentemente superexplorado que do sistema de produção, o agricultor pode
(BRITO, 2007; REBOUÇAS, 2004). as árvores estão crescendo em seu leito e considerar a água também como um de
A utilização descontrolada de água alguns planejamentos regionais têm sugeri- seus produtos, e o manejo adequado não
levou à degradação dos recursos, tanto em do a construção de urbanizações na região. pode ser considerado uma etapa indepen-
termos de qualidade quanto de reservas de Nos últimos 33 anos, o Mar de Aral (Ásia) dente no processo de produção agrícola,
águas subterrâneas. Este fato preocupante perdeu 50% de sua superfície e 75% do seu devendo ser analisado dentro do contexto
significa que, em algum momento, as volume, com uma concomitante triplicação de um sistema integrado.
cidades não só terão de dar mais atenção em sua salinidade por causa, em grande Não só os nutrientes são transportados
às crescentes necessidades, mas também parte, do desvio de água de seus afluentes pela água de irrigação. A erosão do solo
terão de encontrar substitutos para as para a irrigação de algodão. e subsequente transporte de sedimentos
fontes de água esgotadas, salinizadas ou Em 1982, a salinização afetou cerca e produtos químicos são causados pelo
poluídas. A degradação ambiental restringe de 196.550 km² (0,7%) dos solos agrí- escoamento da água de irrigação em ex-
o fornecimento de água para as cidades colas na América Central e México, e cesso nas terras cultivadas. A erosão do
e é também afetada por águas residuais 1.291.630 km2 (7,6%) na América do Sul. solo diminui a produtividade da terra. A
contaminadas. Embora o tratamento da Argentina e Chile têm cerca de 35% de suas irrigação por sulco causa mais erosão do
água seja uma resposta possível, apenas terras irrigadas afetadas pela salinidade, que os aspersores ou gotejadores. Sedi-
10% dos efluentes nos países em desen- ao passo que 30%, ou 250 mil hectares, mentos transportados pela água eventual-
volvimento são tratados, e os custos envol- da região costeira do Peru, sob irrigação, mente retornam aos mananciais, afetando
vidos são enormes. É, portanto, provável sofre impactos desse problema. No Brasil, negativamente canais e outras estruturas
que o uso das águas subterrâneas, que até 40% das terras irrigadas no Nordeste são de transporte de água. Além disso, causam
agora têm sido responsáveis por grande afetadas pela salinidade, como resultado assoreamento dos reservatórios e outras
parte do abastecimento de áreas urbanas, de irrigação inadequada. O total de terras estruturas, afetando a durabilidade e a
gere uma reação inversa no futuro, com com salinidade natural e salinidade indu- uniformidade de sistemas de aspersão e
a pressão retornando para a água super- zida pelo homem, em Cuba, abrange cerca gotejamento, e criam problemas signi-
ficial. Novamente, o conflito entre o uso de 1,2 milhão de hectares. No México, ficativos para o hábitat de peixes e dos
humano, em geral, e o uso ambiental, em cerca de 12,4% da superfície irrigada do ecossistemas aquáticos.
particular, é talvez mais crítico do que país foi total ou parcialmente afetada pela A infiltração da água de irrigação em
entre a agricultura e as cidades (MOLLE; salinização, em 1980 (STOCKLE, 2001). excesso (acima da capacidade de arma-
BERKOFF, 2006). A agricultura, como grande usuária zenamento disponível na zona radicular)
dos recursos hídricos, vem sendo apontada penetra além do alcance das raízes e pode
IMPACTO AMBIENTAL DERIVADO como uma das principais causas do trato chegar às águas subterrâneas de recarga.
DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA irracional da água. Contudo, embora possa Nitratos, sais e outras substâncias (agro-
E OPERAÇÃO DOS PROJETOS ser fonte de alguns problemas, a agricultura químicos), dissolvidos na água, serão
DE IRRIGAÇÃO
pode também ser parte da solução deles. O transportados com a água. Isso tende a
Uma retirada excessiva de água para manejo adequado da água na agricultura aumentar o risco potencial de poluição
irrigação tem claramente um significativo não pode ser considerado uma etapa inde- por nitratos e outros elementos, em águas
impacto no ambiente em algumas áreas. pendente no processo de produção agrí- subterrâneas. Solos de textura leve e de
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52 Irrigação

produção intensiva de culturas de raízes


superficiais sob irrigação podem sofrer 2,5

Concentração de amônio percolado (mg/L)


consideráveis perdas de nitrato por lixivia- L4 (452mm)
ção, ou facilitar a contaminação do subsolo L6 (561mm)
2,0 L7 (716mm)
e águas subterrâneas por agroquímicos.
Em um trabalho conduzido por Andrade
et al. (2004a), monitorou-se, com o uso de 1,5
três lisímetros (L4, L6 e L7 no Gráfico 1A),
a percolação semanal do fluxo de retorno da
1,0
irrigação de milho em um Latossolo com o
objetivo de determinar as concentrações e Cobertura = 112 kg/ha de N

avaliar perdas de nitrogênio (N), via lixi- 0,5


viação, nas formas de amônio e nitrato. No Plantio = 20 kg/ha de N
Gráfico 1A, observaram-se baixas concen-
0,0
trações iniciais de amônio na água perco-
-20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
lada dos três lisímetros, aproximadamente
entre 0,5 e 1,5 mg/L, mesmo com o excesso Dias após plantio (DAP)
de irrigação e de chuvas (716 mm), verifi- L - Lisímetro A
cado no L 7. Entretanto, aproximadamente
dos 60 aos 110 dias após plantio (DAP), 16
Limite na água potável = 10 mg/L
Concentração de nitrato percolado (mg/L)

pôde-se constatar aumento da concentração


14
de amônio na água percolada, atingindo
picos próximos de 2,0 mg/L. 12
Com relação ao nitrato (Gráfico 1B),
10
após um pico de lixiviação que ocorreu
aos 14 dias depois da cobertura, iniciou-se, 8
nos L 4 e L 6, uma fase de decréscimo da
6
concentração de nitrato no percolado, que
Plantio = 20 kg/ha de N
se estendeu até os 75 DAP. Contrariamente, 4 L4 (452mm)
no caso do L 7 (com lâmina excessiva de Cobertura = 112 kg/ha de N L6 (561mm)
2 L7 (716mm)
água), foram constatados vários eventos Limite
com concentrações de nitrato no percolado 0
acima de 10 mg/L, que é o limite máximo -20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
aceitável para água potável (BRASIL,
Dias após plantio (DAP)
2004).
L - Lisímetro B
O pico de perda de N mineral (nitrato +
amônio) ocorreu aos 14 DAP, nos três Gráfico 1 - Concentração de amônio e de nitrato na água percolada ao longo do ciclo
tratamentos, antecipando-se à época de da cultura do milho - Sete Lagoas, MG, 2002
maior concentração de nitrato no percolado NOTA: Gráfico 1A - Concentração de amônio. Gráfico 1B - Concentração de nitrato.
(Gráfico 1B). No L 6, que recebeu 561 mm
de água, as perdas praticamente cessaram
lençol freático de boa parte das regiões O excesso de irrigação causou a lixi-
aos 48 DAP, enquanto, no L 7, que recebeu
produtoras de milho, pode-se assumir que viação de N-NO3 acima do limite aceitável
excesso de água, as perdas estenderam-se
o risco de contaminação das águas sub- para água potável, que é de 10 mg/L. A pre-
até os 110 DAP. Nesse tratamento, a perda
de N mineral foi de 23,2 kg/ha, equivalente terrâneas por amônio ainda é baixo, pois sença de nitrato no percolado foi observada
a 17,6% dos 132 kg/ha de N aplicados. somente com o excesso de irrigação houve durante todo o ciclo da cultura do milho
Nos tratamentos que receberam irrigação perdas maiores. Todavia, os resultados irrigado. Já as concentrações mais elevadas
normal ou déficit, as perdas foram menores observados demonstraram a importância foram observadas no início do ciclo.
que 3%. da qualidade da irrigação para reduzir Andrade et al. (2004b) monitoraram
Considerando-se a profundidade de problemas de contaminação da água sub- também a percolação do herbicida atrazina
amostragem do percolado de 1,5 m e a do terrânea por nitrato. no fluxo de retorno da irrigação, utilizando
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Irrigação 53

a mesma bateria de lisímetros, conforme


90
ilustrado no Gráfico 2A. Mesmo nos tra- L4
80 L6
tamentos que receberam irrigação normal
L7 Atrazina aplicada
(L 6, 561 mm) e com déficit (L 4, 452 mm), 70 Limite na água
Limite 2.728 g/ha potável =2 µg/L
foram observados piques de concentração

Atrazina no percolado ( µg/L )


60
elevada do herbicida na água percolada, 50
indicando que essa molécula movimentou-
40
se com a água, por fluxo preferencial, por
meio de poros grandes ou de orifícios dei- 30

xados por raízes e mesofauna, comuns no 20


Sistema Plantio Direto (SPD) (Gráfico 2A). 10
Valores de concentração de atrazina 0
acima de 2 µg/L – limite tolerado para água
-10
potável (BRASIL, 2004) – foram observa-
-20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
dos durante quase todo o ciclo da cultura
Dias após plantio (DAP)
(Gráfico 2A). Picos de mais de 60 µg/L A
L - Lisímetro
foram detectados no L 4 e L 6, nos quais
mediram-se taxas pequenas de percolação
10
profunda (ANDRADE et al., 2004b).
9 L4 L6 L7
Lixiviação acumulada de atrazina (g/ha)

Nota-se que, quanto maiores as lâminas


8
de irrigação, mais atrazina é lixiviado, em-
7
bora os valores acumulados representem
menos de 1% da quantidade de herbicida 6
Atrazina aplicada
aplicada por unidade de área (Gráfico 2B). 5 2.728 g/ha
Mesmo nos tratamentos que receberam 4
irrigação normal ou com déficit, piques 3
com concentrações elevadas de atrazina 2
foram observados ao longo do ciclo da 1
cultura do milho irrigado, indicando o
0
efeito do fluxo preferencial da água no
-1
transporte dessa molécula. Quantidades de
-20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
atrazina acumuladas ao longo do período
Dias após plantio (DAP)
de estudo indicam que menos de 1% do B
L - Lisímetro
total aplicado na superfície do solo foi
Gráfico 2 - Concentração do herbicida atrazina e lixiviação acumulada ao longo do ciclo
lixiviado. Vale chamar a atenção para a
da cultura do milho - Sete Lagoas, MG, 2002
dose de aplicação de atrazina, que foi de
NOTA: Gráfico 2A - Atrazina no percolado. Gráfico 2B - Lixiviação acumulada de atrazina.
2,7 kg/ha (Gráfico 2A).
Trabalho semelhante foi conduzido
por Azevedo, Kanwar e Pereira (1998), No caso do solo de textura mais fina, Diferentemente, o solo de textura
em Portugal, onde foi observada a con- sua capacidade de retenção de água mais arenosa requereu um regime de irrigação
centração de atrazina ao longo do perfil de favorável requereu um total de quatro mais frequente, totalizando 19 eventos e
dois solos irrigados em complementação eventos de irrigação, acumulando 272 mm acumulando 710 mm de irrigação suple-
à chuva e cultivados com milho. Um dos de irrigação complementar a uma pluvio- mentar. A combinação de alta velocidade
solos era de textura franco-siltosa e o outro sidade de 115 mm. Como consequência, a de infiltração desse solo com o excesso de
de textura arenosa, os quais receberam apli- maior parte do herbicida foi degradada ao água aplicada em suplementação provo-
cação de atrazina em doses de 1,2 kg/ha e longo do primeiro mês de cultivo, ficando cou grande movimentação do herbicida
1,0 kg/ha, respectivamente. Em ambos os a maioria restante contida nos primeiros 15 ao longo do perfil e, consequentemente,
solos foram coletadas amostras periódicas a 20 cm do perfil, não havendo lixiviação lixiviação abaixo da zona radicular.
a cada 10 cm, até a profundidade de 60 cm. significativa do agroquímico. Ao traçar uma analogia entre os dois
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54 Irrigação

trabalhos citados, embora em regiões problema mundial, particularmente agudo qualidade da água de irrigação e da tole-
distintas, vale ressaltar que, do ponto de nas zonas semiáridas, onde se utilizam rância à salinidade da cultura cultivada.
vista das características físico-hídricas, os grandes quantidades de água de irrigação O teor de sal da zona das raízes va-
solos de Cerrado do estudo de Andrade et e, geralmente, são maldrenadas. ria com a profundidade. A variação é
al. (2004b) têm altas taxas de infiltração, A salinidade é frequentemente asso- aproximadamente igual ao teor da água
muitas vezes semelhantes a solos arenosos ciada com a elevação dos lençóis freáticos de irrigação, perto da superfície do solo,
do trabalho apresentado por Azevedo, resultante da irrigação em excesso e dre- até muitas vezes a mesma concentração
Kanwar e Pereira (1998). Ainda que não nagem deficiente, em perímetros irrigados inicial da água aplicada, ao atingir a parte
se disponha das velocidades de infiltração de larga escala. Como resultado, os lençóis inferior do sistema radicular. A cultura
de ambos os solos, é possível vislumbrar freáticos rasos trazem sais para as camadas não responde exatamente aos extremos de
que a existência de alta infiltração, com- superiores do perfil do solo. salinidade baixa ou alta na zona radicular,
binada com lâminas excessivas de água, Um problema de salinidade existe se mas sim a um efeito integrado da dispo-
pode contribuir significativamente para a o sal acumula na zona radicular da cultura nibilidade e absorção da água de onde é
lixiviação de atrazina. E o limite permitido a uma concentração que provoca perda mais prontamente disponível. O calendário
da concentração desse herbicida na água na produtividade. Em áreas irrigadas, de irrigação é, portanto, importante na
potável (2 μg/L) é consideravelmente baixo esses sais geralmente originam-se de manutenção de uma boa disponibilidade
(BRASIL, 2004). uma solução salina, lençol freático alto de água no solo. Para as culturas irrigadas
ou a partir de sais na água aplicada. As com menor frequência, como é normal
PROBLEMAS DE QUALIDADE reduções na produção ocorrem quando quando se utilizam os métodos de super-
DA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO os sais acumulam-se na zona da raiz, de fície e aspersão convencional, a colheita é
A qualidade da água de irrigação pode tal forma que a cultura já não é capaz de mais bem correlacionada com a salinidade
variar significativamente, conforme o extrair água suficiente da solução do solo, média na zona de raiz, mas para as culturas
tipo e a quantidade de sais dissolvidos. À resultando em um estresse hídrico por irrigadas diariamente ou quase diariamente
medida que o conteúdo de sais aumenta, um período significativo. Se a absorção (irrigação localizada), as colheitas são mais
agravam-se os problemas do solo e das de água é consideravelmente reduzida, a bem correlacionadas com a salinidade
culturas, sendo necessária a adoção de planta diminui sua taxa de crescimento. média ponderada da água na zona radicular
estratégias de manejo para alcançar pro- Os sintomas observados nas plantas são (RHOADES, 1982).
dutividades aceitáveis das culturas. de aparência similar aos de seca, como Na agricultura irrigada, muitos pro-
Os problemas de solo mais comuns, murchamento ou uma cor mais escura, blemas de salinidade estão associados ou
usados para avaliar os efeitos da qualida- verde-azulada e, por vezes, as folhas ad- fortemente influenciados por um lençol
de da água, são salinidade, velocidade de quirem aspecto espesso, graxoso. Os sin- freático superficial (no perfil de 2 m da
infiltração, toxicidade e outros. tomas variam de acordo com o estádio de superfície). Sais acumulam-se no lençol
crescimento, sendo mais perceptíveis se os freático e isso frequentemente torna-se
Salinidade sais afetarem a planta durante os estádios uma importante fonte adicional de sal que
Toda água de irrigação contém sais dis- iniciais de crescimento. Em alguns casos, se move para cima na zona radicular das
solvidos, originados pela passagem sobre a os efeitos moderados do sal podem passar culturas. O controle de um lençol freático
superfície e ao longo do perfil do solo; e a completamente despercebidos, por causa superficial existente é, portanto, essencial
água de chuva também contém alguns sais. de uma redução uniforme do crescimento para o controle da salinidade e o sucesso
Esses sais estão geralmente em concentra- em toda a área (STOCKLE, 2001). da agricultura irrigada no longo prazo. Se
ções muito baixas na água. No entanto, a Sais que contribuem para o problema a drenagem for adequada, o controle de
evaporação da água da superfície do solo de salinidade são solúveis em água e facil- salinidade requer simplesmente um bom
deixa os sais para trás. É provável que mente transportados pela água. Uma parte manejo para garantir o abastecimento ne-
isto se torne um sério problema em solos dos sais que se acumulam de irrigações cessário às culturas e à lixiviação suficiente
maldrenados, quando as águas subterrâ- prévias pode ser movida para abaixo da dos sais dentro dos limites de tolerância
neas estão a 3 m ou menos da superfície, profundidade das raízes (lixiviação), se da cultura.
dependendo do tipo de solo. Nesses casos, uma lâmina adicional de irrigação infiltra-
a água sobe até a superfície pela ação da se no solo. A lixiviação é a chave para con- Taxa de infiltração de água
no solo
capilaridade, ao invés de percolar para trolar um problema de salinidade da água
baixo através do perfil do solo, e depois relacionado com a qualidade. A quantidade Um problema de infiltração relacio-
evapora da superfície. Salinização é um necessária de lixiviação é dependente da nado com a qualidade da água ocorre,
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Irrigação 55

quando a taxa de infiltração aplicada ou de íons relativamente baixa para as culturas de um problema secundário relacionado
precipitação é sensivelmente reduzida e a sensíveis, manifestados por queimaduras com a baixa taxa de infiltração de água, a
água permanece na superfície do solo por nas primeiras folhas marginais e clorose utilização de águas residuais para irrigação,
muito tempo sem suprir suficientemente entre as nervuras foliares. Se o acúmulo ou a má drenagem.
a cultura para manter rendimentos aceitá- é grande o suficiente, o resultado é uma A presença de sedimentos minerais e
veis. Embora a taxa de infiltração de água diminuição do rendimento. As culturas substâncias orgânicas em suspensão pode
no solo varie muito e possa ser influenciada anuais mais tolerantes não são sensíveis causar problemas em sistemas de irrigação,
pela qualidade da água de irrigação, outros a baixas concentrações, mas quase todas por entupimento de comportas, aspersores
fatores do solo, como estrutura, grau de as culturas serão danificadas ou mortas, e gotejadores, e danos às bombas, se filtros
compactação, teor de matéria orgânica se as concentrações são suficientemente não forem usados para excluí-los. Comu-
(MO) e composição química também po- elevadas. mente, os sedimentos tendem a assorear
dem influenciar fortemente nessa variação. A toxicidade pode também ocorrer pela canais e valas e requerer serviços caros
Os dois fatores mais comuns de qua- absorção direta dos íons tóxicos por meio de dragagem, além de causar problemas
lidade da água que influenciam a taxa de das folhas irrigadas por aplicações aéreas de manutenção. Os sedimentos também
infiltração são a salinidade (quantidade (aspersão ou microaspersão). Sódio e clo- tendem a reduzir ainda mais a taxa de
total de sais solúveis na água) e seu teor de reto são íons primários absorvidos pelas infiltração de água do solo, às vezes já
sódio em relação ao teor de cálcio (Ca) e folhas, e a toxicidade de um ou de ambos pouco permeável.
magnésio (Mg) (alcalinidade ou sodicida- pode ser um problema com determinadas
de). A alta salinidade da água irá aumentar culturas sensíveis, tais como citros. DIRETRIZES SOBRE A
QUALIDADE DA ÁGUA
a infiltração. A água alcalina (normalmente
de baixa salinidade) ou a água com elevada Outros problemas Diretrizes para avaliar a qualidade
relação sódio/cálcio diminuem a infiltra- Vários outros problemas, relacionados da água de irrigação são apresentadas no
ção. Ambos os casos podem ocorrer ou com a qualidade da água de irrigação, Quadro 1 (AYERS; WESTCOT, 1994).
interagir-se ao mesmo tempo. ocorrem com frequência. Nestes incluem Enfatizam a influência, a longo prazo, da
Problemas secundários também ocor- as altas concentrações de N na água de irri- qualidade da água na produção agrícola,
rem, originados de irrigações prolongadas gação, as quais podem causar crescimento as condições e o manejo do solo agrí-
que alcançam a infiltração de lâmina vegetativo excessivo, maturidade tardia e cola. Foram preparadas pelo Comitê de
maior. Dentro desses problemas incluem a tendência ao acamamento. Manchas em Consultores da Qualidade da Água, da
formação de crostas em canteiros, desen- folhas e frutos provocadas por depósitos Universidade da Califórnia, em 1974, em
volvimento de plantas daninhas, distúrbios de sais, em consequência da irrigação colaboração com a equipe do Laboratório
nutricionais e inundação, podridão de por aspersão com água que contém altos de Salinidade dos Estados Unidos. Essas
sementes e desenvolvimento vegetativo teores de bicarbonato, gesso ou ferro. E, diretrizes são o primeiro passo para apontar
insuficiente nas partes baixas. A ocorrên- ainda, problemas associados a pH anormal as limitações da qualidade da água, para
cia de altos teores de sódio pode causar a da água. uma grande quantidade de condições en-
dispersão de partículas, que obstruem os Um dos problemas específicos enfren- contradas na agricultura irrigada, porém,
poros do solo e criam uma camada pouco tados por alguns agricultores que praticam podem-se fazer ajustes, quando se têm
permeável. a irrigação é a deterioração dos equipamen- circunstâncias peculiares.
tos por corrosão ou incrustação, pelos ele-
Toxicidade DEMANDA DE INTERVENÇÃO
mentos presentes na água. Esse problema
Problemas de toxicidade podem ocor- é mais grave para poços e bombas, mas, O cenário existente aponta para uma ne-
rer, se determinados componentes, (íons) em algumas áreas, a água de má qualidade cessidade de enfocar a água como insumo
do solo ou da água, são absorvidos pela também pode danificar o equipamento de estratégico e recurso natural limitado. Do
planta e acumulam-se em concentrações irrigação e os canais. ponto de vista de insumo estratégico, a ên-
elevadas o suficiente para causar danos Em áreas onde existe risco potencial de fase maior deve ser colocada no seu uso e,
às culturas ou diminuição do rendimento. doenças como a malária, a esquistossomose portanto, requer racionalização, para evitar
O grau de dano depende da absorção e e a filariose linfática, os problemas devem perdas em quantidade (desperdício) e qua-
da sensibilidade da cultura. As culturas ser considerados com outros relacionados lidade (contaminação). Do ponto de vista
perenes são as mais sensíveis. Danos mui- com a qualidade da água. A incidência de do recurso natural limitado, o foco deverá
tas vezes ocorrem com concentração de vetores (mosquitos) geralmente origina-se ser centrado na produção e preservação de
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QUADRO 1 - Diretrizes para interpretação de indicadores de qualidade da água para irrigação1


Grau de restrição ao uso
Problema potencial na irrigação Unidade Leve a
Nenhum Severo
moderado
Salinidade (afeta a disponibilidade de água para as culturas) (2)

CEa dS/m < 0.7 0.7 – 3.0 > 3.0


TDS mg/L < 450 450 – 2000 > 2000
Infiltração (afeta a velocidade de infiltração da água no solo. Avaliar usando CEa
e RAS juntas)(3)
RAS =0–3 CEa = > 0.7 0.7 – 0.2 < 0.2
=3–6 = > 1.2 1.2 – 0.3 < 0.3
= 6 – 12 = > 1.9 1.9 – 0.5 < 0.5
= 12 – 20 = > 2.9 2.9 – 1.3 < 1.3
= 20 – 40 = > 5.0 5.0 – 2.9 < 2.9

Toxicidade de ions específicos (afeta culturas sensíveis)


Sódio (Na)(4)
Irrigação por superfície RAS <3 3–9 >9
Irrigação por aspersão me/L <3 >3
Cloro (Cl)(4)
Irrigação por superfície me/L <4 4 – 10 > 10
Irrigação por aspersão me/L <3 >3

Boro (B) (5)


mg/L < 0.7 0.7 – 3.0 > 3.0
Efeitos diversos (afetam culturas suscetíveis)
Nitrogênio (NO3 - N)(6) mg/L <5 5 – 30 > 30
Bicarbonato (HCO3) (apenas aspersão convencional) me/L < 1.5 1.5 – 8.5 > 8.5

pH Faixa normal: 6.5 – 8.4


FONTE: Ayers e Westcot (1994).
(1) Adaptado do Comitê de Consultores da Universidade da Califórnia 1974. (2) CEa significa condutividade elétrica, uma medida da salini-
dade da água, em deciSiemens por metro (dS/ m) a 25 °C, ou em unidades de millimhos por centímetro (mmho/cm). Ambos são equivalentes.
TDS representa os sólidos totais dissolvidos, informados em miligramas por litro (mg/L). (3) RAS significa razão de adsorção de sódio. Pode
causar redução na infiltração do solo, dependendo do nível de salinidade (CEa ). Os dois indicadores têm efeito opostos na infiltração. (4) Na
irrigação por superfície, as árvores e plantas lenhosas são sensíveis ao sódio e cloreto. A maioria das culturas anuais não são tão sensíveis.
Existem tabelas mais completas para várias culturas (AYERS; WESTCOT, 1994). (5) Para tolerância ao boro, existem tabelas mais específicas
(AYERS; WESTCOT, 1994). (6) NO3-N significa nitrogênio nitrato apresentado em termos do elemento nitrogênio. NH4-N e N-orgânico devem
ser incluídos quando águas residuárias são testadas.

água de boa qualidade. A Figura 1 procura ÁGUA: INSUMO ESTRATÉGICO E RECURSO NATURAL FINITO
esquematizar esse conceito.
SISTEMAS HÍDRICOS
O aspecto da gestão de recursos hí-
Urbano
dricos merece especial atenção na busca
de soluções para o cenário descrito. Para Energia
RECARGA USO MÚLTIPLO
alcançar tal objetivo, a gestão dos recursos GESTÃO
E OFERTA DA ÁGUA
Recreação
deverá estar apropriadamente focada nas
prioridades identificadas. Segundo Brito, Agrícola
Couto e Santana (2002), os focos deverão Proteção de nascentes Política de recursos hídricos
tratar de: Conservação de matas ciliares Gestão de demanda
Proteção de aquíferos
a) gestão da demanda (racionalização Gestão de oferta
Revitalização de lagos Racionalização do uso da água
Revitalização de rios Gestão de qualidade
do uso); “Produção de água”
Controle de contaminantes Formação de gestores
Monitoramento da qualidade
b) gestão da oferta (produção de água); Dessalinização

c) gestão da qualidade (conservação/ Figura 1 - Diagrama ilustrativo da água como insumo estratégico e recurso natural finito
prevenção). FONTE: Brito, Couto e Santana (2002).

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Irrigação 57

CONSIDERAÇÕES FINAIS por usuários posteriores, que podem GRESSO NACIONAL DE IRRIGAÇÃO E
ser também de uso agrícola ou não. DRENAGEM, 14.; ENCONTRO LATINOA-
Um programa enfocando água na agri- MERICANO DE IRRIGAÇÃO, DRENAGEM
Portanto, o conceito de qualidade
cultura deve ter a qualidade da água como E CONTROLE DE ENCHENTES, 1., 2004,
será diferenciado, tanto em termos
um dos seus focos principais. A água, do Porto Alegre. Anais… Porto Alegre : ABID,
de parâmetros químicos, físicos e
ponto de vista das atividades agrícolas ou 2004b.
biológicos, quanto em termos de
rurais, precisa ser vista em dois momen- ANVISA. Portaria no 518, de 25 de março
concentração desses parâmetros.
tos, ou em duas posições: a montante e a de 2004. Norma de qualidade da água para
jusante. Com base no exposto, três linhas são consumo humano. Diário Oficial [da] Re-
A água a montante é aquela que será sugeridas como prioridades para estudos/ pública Federativa do Brasil, Poder Exe-
usada na agricultura ou na atividade rural pesquisas futuros: cutivo, Brasília, 26 mar. 2004. Seção 1,
p.266.
e, portanto, constitui seu insumo maior. A a) reutilização de águas residuais,
agricultura, enquanto principal usuária, incluindo o uso de processos de AYERS, S.; WESTCOT, D.W. Water quality
enfatiza a qualidade tendo em vista a ade- dessalinização de águas salobras, for agriculture. 3rd. ed. Rome: FAO, 1994.
quabilidade do insumo para sua produção. no Semiárido, em pequenas proprie- 153p. (FAO. Irrigation and Drainage. Paper,
29R).
Dentro desse enfoque, as exigências estão dades rurais. Se por um lado alivia
voltadas para questões relacionadas com a escassez de água para o consumo AZEVEDO, A. S.; KANWAR, R. S.; PEREIRA,
parâmetros como pH, dureza, salinidade, humano e animal, por outro lado L. S. Assessing atrazine in irrigated soil pro-
apresenta o desafio quanto ao ma- files. In: PEREIRA, S.; GOWING, J.W. (Ed.).
presença de elementos ou organismos no-
Water and the environment: innovative is-
civos à produção agrícola e/ou pecuária e nejo do rejeito salino;
sues in irrigation and drainage. London: E &
à saúde da população rural. b) monitoramento da qualidade da FN Spon, 1998. p.12-19.
Outra característica peculiar à água a água de mananciais que suprem
BRITO, R. A. L. Disponibilidade e produti-
montante é o volume a ser usado, que, no sistemas agrícolas ou que recebem
vidade da água: um desafio para o século
caso da maior usuária, trata-se de grandes seus fluxos de retorno. Adquire 21. In: SIMPÓSIO DE PESQUISA EM CIÊN-
volumes. considerável importância, ao de- CIAS AGRÁRIAS NO SEMI-ÁRIDO MINEI-
A água a jusante é aquela que já foi tectar possíveis efeitos nocivos e RO 1., 2007, Janaúba. Anais... Desenvolvi-
utilizada, ou eliminada, no processo de sugerir intervenções preventivas ou mento sustentável regional. Montes Claros :
produção agropecuária. Conhecida como corretivas; UNIMONTES, 2007. v.1, p.47-56.
o fluxo de retorno, que é a parcela que c) estudos sobre toxidez causada por _______; COUTO, L.; SANTANA, D. P. Agri-
percola através da zona radicular e aquela substâncias ou elementos presentes cultura irrigada, recursos hídricos e produ-
que é perdida por escorrimento superficial. em águas a montante ou a jusante ção de alimentos: uma interação produtiva
No caso da agricultura irrigada, onde se e positiva. ITEM: Irrigação & Tecnologia
de áreas agrícolas, que possam
Moderna, Brasília, n. 55, p.64-69, 2002.
utilizam sistemas de aspersão, há ainda contaminá-las ou ser contaminadas,
uma pequena fração que se perde por passam a merecer alta prioridade, MOLLE, F.; BERKOFF, J. Cities versus agri-
deriva (vento). Como a maior parte do principalmente no contexto am- culture: revisiting intersectoral water trans-
volume usado é evapotranspirado e retorna fers, potential gains and conflicts. Colombo,
biental.
Sri Lanka: IWMI, 2006. 70p. (Comprehensi-
à atmosfera, o volume do fluxo de retorno
ve Assessment Research Report, 10).
é muito menor que o volume que foi deri- REFERÊNCIAS
vado a montante. REBOUÇAS, A. C. Uso inteligente da água.
ANDRADE, C. L. T. et al. Dinâmica de água São Paulo: Escrituras, 2004. 207p.
Existem dois enfoques importantes: e soluto em um latossolo cultivado com mi-
a) racionalização do uso do insumo, lho irrigado: 2 - lixiviação de nitrogênio. In: RHOADES, J. D. Reclamation and manage-
CONGRESSO NACIONAL DE IRRIGAÇÃO ment of salt-affected soils for drainage. In:
para evitar perdas controláveis;
E DRENAGEM, 14.; ENCONTRO LATINO- ANNUAL WESTERN PROVINCIAL CON-
b) preservação da qualidade do fluxo FERENCE ON RATIONALIZATION OF
AMERICANO DE IRRIGAÇÃO, DRENA-
de retorno enquanto recurso natural, GEM E CONTROLE DE ENCHENTES, 1., WATER AND SOIL RESEARCH AND MAN-
que irá retornar ao sistema hídrico, 2004, Porto Alegre. Anais… Porto Alegre : AGEMENT, 1., 1982, Alberta, Canada. [Pro-
para os lençóis freáticos e/ou os ABID, 2004a. ceedings]…Alberta, 1992. p.12-197.
mananciais a jusante. Os parâme- _______. et al. Dinâmica de água e soluto STOCKLE, C. O. Environmental impact of
tros envolvidos nessa fase estão em um latossolo cultivado com milho irri- irrigation: a review. Pullman: Washington
relacionados com os possíveis usos gado: 3 - lixiviação de atrazine. In: CON- State University, 2001. 15p.

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58 Irrigação

Fertirrigação
Eugênio Ferreira Coelho 1
Édio Luiz da Costa 2
Ana Lucia Borges 3
Torquato Martins de Andrade Neto 4
José Maria Pinto 5

Resumo - A fertirrigação, técnica de aplicar fertilizantes via água de irrigação, difere


significativamente da aplicação via solo, em especial por acelerar o ciclo dos nutrientes
utilizados. A disponibilidade de fertilizantes solúveis no mercado, o custo de mão de
obra rural na adubação convencional, o constante incremento de área irrigada no Brasil,
sob irrigação pressurizada, tudo isso tem incentivado os produtores a adotarem a fertir-
rigação, uma vez que os custos de implantação, comparados aos custos totais, viabilizam
o seu uso. O conhecimento da dinâmica de íons no solo, principalmente do nitrogênio
(N) e do potássio (K), tem permitido estabelecer critérios de aplicação desses nutrientes
ao solo pela fertirrigação. O conhecimento da necessidade de nutrientes pelas culturas,
da marcha de absorção desses nutrientes durante o ciclo, da frequência mais adequada
de aplicação desses nutrientes permite determinar a quantidade de fertlizantes e a fase
do ciclo em que esses devem ser aplicados. Além disso, é preciso conhecer também o
volume de água necessário para compor a solução a ser injetada no sistema de irrigação.
A fertirrigação necessita, entretanto, de acompanhamento e avaliação contínua, a fim
de evitar impactos negativos ao solo pelo uso indevido da técnica. Isso pode ser feito
por meio de acompanhamento da condutividade elétrica da solução ou do extrato de
saturação do solo.

Palavras-chave: Manejo de água. Fertilizante. Equipamento. Bomba de irrigação. Tan-


que fertilizante.

INTRODUÇÃO significativamente reduzido, em razão de o podem não corresponder à região do solo


fertilizante encontrar-se misturado na água de maior concentração de raízes.
A fertirrigação é uma técnica que
que será aplicada ao solo compondo sua Este artigo objetiva expressar conhe-
viabiliza o uso racional de fertilizantes na cimentos e experiências sobre o uso da
solução nutritiva. Na aplicação convencio-
agricultura irrigada, uma vez que aumenta fertirrigação nas condições edafoclimáticas
nal, os nutrientes sólidos são depositados
a eficiência do seu uso, reduz a mão de próximo da planta e na superfície do solo e do Brasil.
obra e o custo com máquinas, além de há necessidade de chuva ou irrigação para
flexibilizar a época de aplicação, podendo entrarem na solução do solo, podendo ou ASPECTOS BÁSICOS
ser fracionada conforme a necessidade da não ser interceptados pelo sistema radicu- O sucesso da fertirrigação depende da
cultura. Na fertirrigação, o tempo de che- lar. Mas, muitas vezes, esses fertilizantes distribuição de água às plantas, o que deve
gada do fertilizante às raízes das plantas é sólidos são depositados em posições que ocorrer o mais uniforme possível, uma vez

1
Engo Agrícola, Ph.D., Pesq. Embrapa Mandioca e Fruticultura, Caixa Postal 007, CEP 44380-000 Cruz das Almas-BA. Correio eletrônico:
ecoelho@cnpmf.embrapa.br
2
Engo Agrícola, D.Sc., Pesq. EPAMIG Centro-Oeste/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG. Correio
eletrônico: edio.costa@epamig.br
3
Enga Agra, D.Sc, Pesq. Embrapa Mandioca e Fruticultura, Caixa Postal 007, CEP 44380-000 Cruz das Almas-BA. Correio eletrônico:
analucia@cnpmf.embrapa.br
4
Eng o Agro, D.Sc. Correio eletrônico: andradeneto@hotmail.com
5
Engo Agrícola, Dr., Pesq. Embrapa Semiárido, Caixa Postal 23, CEP 56302-970 Petrolina-PE. Correio eletrônico: jmpinto@cpatsa.embrapa.br

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Irrigação 59

que os nutrientes são dissolvidos na água e, na aspersão, o volume de solo molhado é equalizar as concentrações no meio
se houver desuniformidade da água aplica- significativamente maior. Isto resulta em poroso, onde os solutos se movem
da, haverá desuniformidade na distribuição menores valores de umidade ao longo da de regiões de maior concentração
de nutrientes, isto é, as plantas receberão área molhada, com menor quantidade de para a de menor concentração;
quantidades diferentes. Na irrigação por íons em solução, insuficiente para atender c) dispersão: dá-se pelas diferenças e
aspersão, coeficientes de uniformidade de à adsorção do solo, limitando o avanço
velocidades da água em capilares
distribuição (UD) acima de 85% são pos- desses íons em profundidade (BAR-
e poros de diferentes tamanhos e
síveis em condições especiais de aspersão YOSEF, 1999).
formas, o que causa uma mistura
convencional, minimizando a variação É comum o uso de um microaspersor
(dispersão) de soluções residentes
entre a vazão dos emissores e com um para quatro plantas, no caso de fruteiras,
em dadas regiões do solo com so-
espaçamento entre aspersores que permita como a bananeira e o mamoeiro, cujo
luções que entram nessas regiões.
tal coeficiente, dentro de determinadas emissor é posicionado no centro das
condições meteorológicas. Os sistemas de quatro plantas. A distribuição individual Os íons do solo movimentam-se por
pivô central dos tipos low elevation spray da água, próxima ao entorno do microas- meio de fluxos convectivos e/ou disper-
application (LESA), medium elevation persor, tende a seguir uma distribuição sivos.
spray application (MESA) e low energy tipo sino, com lâminas mais elevadas Os principais nutrientes aplicados via
precision application (LEPA) enquadram- próximas deste e menor, à medida que fertirrigação referem-se ao nitrogênio (N),
se em valores de coeficientes de uniformi- se afasta do emissor. A distribuição potássio (K) e fósforo (P). Qualquer fonte
dade iguais ou superiores a 85%. Karmeli do fertilizante em solução segue a da de N aplicada resulta em íons de nitrato
e Keller (1975) sugerem uma variação lâmina de irrigação. Dependendo da no perfil do solo, os quais são altamente
máxima de 5% na vazão dos emissores. vazão e do raio de ação do emissor e do solúveis em água e não adsorvidos às par-
Na irrigação localizada, o uso de emisso- espaçamento entre plantas, se estas es- tículas do solo, o que os tornam altamente
res autocompensantes garante uma vazão tiverem numa posição onde a lâmina de
móveis, tanto por convecção como por
uniforme na linha lateral, minimizando o irrigação é reduzida, os íons em solução
difusão no solo. O P tem suas restrições
efeito da variação de pressão. poderão não ser suficientes para atender
à aplicação via água de irrigação, por sua
A fertirrigação é mais recomendada à adsorção do solo, ficando indisponíveis
característica de adsorção à matriz do
para os sistemas de irrigação localiza- à absorção pelas raízes. No uso de um
solo, com consequente baixa mobilidade e
da (BRESLER, 1977; HERNÁNDEZ emissor para quatro plantas, deve-se ater
enorme possibilidade de precipitação dos
ABREU et al., 1987). A fertirrigação ao espaçamento entre plantas que deve
ser, de preferência, em fileiras duplas e fosfatos (HAYNES, 1985; CHASE, 1985).
ajusta-se muito melhor ao sistema de
à escolha de um emissor que tenha um Se aplicado na superfície do solo em forma
gotejamento que ao de microaspersão,
raio de ação suficiente para aplicar as sólida, não se move mais que 3 cm, porém,
em razão de, no gotejamento, o sistema
quantidades necessárias de fertilizantes em condições de fertirrigação, pesquisas
radicular da cultura coincidir com as
no entorno das plantas. têm registrado movimento de 0,20 m, tanto
regiões de maiores valores de umidades
A distribuição dos solutos na solução horizontal como vertical em profundidade,
do volume molhado gerado por um ou
mais gotejadores, otimizando, com isso, do solo nos diferentes pontos do perfil en- a partir de um gotejador, num solo franco-
tre dois eventos de fertirrigação depende arenoso (ROLSTON et al., 1979).
o aproveitamento dos fertilizantes. Na
da mobilidade desses e das reações com O K movimenta-se no solo conforme
microaspersão, isso ocorre quando se
usa um microaspersor por planta ou uma a matriz do solo a que estão sujeitos, isto a sua concentração na solução deste e
faixa molhada contínua. No gotejamento, é, do meio poroso, do nutriente (íon) e da a capacidade de troca catiônica (CTC).
todo o volume aplicado infiltra em uma fonte de aplicação. O transporte de solutos Pesquisas têm mostrado que o K aplicado
pequena área, gerando um volume molha- no solo está inserido no movimento de água via gotejamento resulta em avanços laterais
do menor, com níveis de umidade internos e pode ser feito por: e verticais do nutriente de 0,60 m a 0,75
que podem chegar próximo ou à saturação a) convecção: processo passivo de m de distância do emissor (ROLSTON et
temporária. Nesse caso, os fertilizantes movimento de massas líquidas com al., 1979). Avaliações da distribuição do K
dissolvidos tendem a suprir a adsorção solutos dissolvidos, em resposta a no volume molhado do solo gerado pela
das micelas, permitindo maior avanço gradientes de potenciais, em que a microaspersão, em bananeira, mostraram
dos nutrientes no solo em profundidade água e o soluto movimentam-se à que as maiores incidências do nutriente e
ou em distância do emissor, a depender mesma taxa; as suas maiores variações com o tempo
da sua vazão e do tipo de solo. Na mi- b) difusão: resultante do movimento ocorreram até 0,40 m de profundidade no
croaspersão, e de forma mais agravante desordenado de moléculas, visa perfil do solo (SILVA et al., 2002).
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60 Irrigação

Um ponto a ser observado na fertir- FERTILIZANTES PARA fosfato diamônico (DAP) e, mais recen-
rigação é a dinâmica de íons no solo e o FERTIRRIGAÇÃO temente, como monofosfato de potássio
balanço catiônico-aniônico na solução do Os fertilizantes utilizados na fertirri- (MKP). Existe um alto risco de precipi-
solo. Nesse balanço, um tipo de cátion ou gação devem-se adequar ao sistema de tação de fosfatos, como fosfato tricálcico,
ânion em excesso na solução poderá ser irrigação, às exigências das plantas, bem se as águas contiverem cálcio (Ca) e o pH
mais absorvido pelas raízes, limitando a como apresentar alta solubilidade. O N é for superior a 6,5.
absorção de outros cátions importantes o nutriente mais aplicado em fertirrigação Dentre as fontes de K, têm-se o cloreto,
(VIEIRA; COSTA; RAMOS, 2001). Caso e pode-se apresentar nas formas quími- o sulfato e o nitrato de potássio (Quadro 2).
se aplique N na forma de NH4+,em excesso, cas: nítrica [nitrato de cálcio – Ca(NO3)2; O cloreto e o nitrato de potássio possuem
isso provocará uma redução da absorção nitrato de potássio – KNO3; nitrato de alta solubilidade, enquanto o sulfato de po-
dos outros cátions, K+, Ca++ e Mg++, bem magnésio – Mg(NO3)2]; amoniacal [(DAP tássio, além de pouco solúvel, possibilita a
como absorção acima do normal de fos- – (NH4)2HPO4; MAP – NH4H2PO4; sulfato formação de sulfato de cálcio, ainda menos
fatos, sulfatos e cloretos. O aumento de de amônio – (NH4)2SO4]; nítrica-amoniacal solúvel, quando a água de irrigação é rica
NO3- na solução do solo provoca a redução (nitrato de amônio – NH4NO3); amídica em Ca e magnésio (Mg).
da absorção do cloreto, fosfato e sulfatos [ureia – CO(NH2)2]. De modo geral, as A melhor fonte de Ca para fertirrigação
e aumento da absorção de K+, Ca++ e Mg++ fontes nitrogenadas apresentam alta solu- é o nitrato de cálcio (Quadro 1), por ser a
(BURT; O’CONNOR; RUEHR,1995). Em bilidade, elevado índice salino e alto índice mais solúvel. Nesse caso, recomenda-se
casos de presença de Na+ e Ca++na solução de acidez (Quadro 1). adicionar ácido nítrico concentrado (0,3
do solo, em concentrações elevadas, inibe- O P pode ser aplicado na forma de ácido L/kg de nitrato de cálcio), quando o pH
se a absorção de K+. fosfórico, fosfato monoamônico (MAP), da água de irrigação for superior a 6,5.

QUADRO 1 - Características dos fertilizantes nitrogenados utilizados na fertirrigação


Concentração do nutriente
(g/kg) Solubilidade (1)
Índice (2)
Índice salino/ (3)
Índice de acidez/
Fertilizante
(g/L) a 20 oC salino unidade basicidade
N Outros

Ureia 450 - 780 75 1,63 71

Sulfato de amônio 205 240 de S 710 69 3,37 110

Nitrato de amônio 340 - 1.180 105 3,28 60

Nitrato de cálcio 140 280 de Ca 1.020 61 4,36 Básico (-20)

Nitrato de magnésio 110 95 de Mg 2.500 - - Básico

Nitrato de potássio 140 440 de K2O 320 31 2,21 Básico (-15)

Nitrato de sódio 160 - 730 100 6,25 Básico (-29)

Uran 320 - Alta - - Ácido

Fosfato diamônico (DAP) 170 400 de P2O5 400 34 2,00 88

Fosfato monoamônico (MAP) 110 440-600 de P2O5 230 30 2,73 60

MAP purificado 120 440-610 de P2O5 370 30 2,73 60

Fosfato de amônio 60-100 300 Alta

Fosfato de ureia 180 440 de P2O5 Alta

FONTE: Vitti, Boaretto e Penteado (1994) e Villas Bôas, Bull e Fernandes (1999).
(1)Relativo ao valor do índice salino do nitrato de sódio (NaNO3) considerado como 100. (2)Índice salino dividido pelo teor de N no fertili-
zante x 10. (3)Quantidade de CaCO3 necessária para neutralizar 100 kg do adubo (+) e ”adicionadas” pela aplicação de 100 kg de adubo (-). 

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Irrigação 61

QUADRO 2 - Características dos fertilizantes potássicos utilizados na fertirrigação


Concentração do nutriente
(g/kg) Solubilidade Índice
(1) (2)
Índice salino/ Índice de
Fertilizante
(g/L) a 20 oC salino unidade acidez/basicidade
K2O Outros

Cloreto de potássio 600 480 de Cl 340 115 1,92 Neutro

Sulfato de potássio 520 170 de S 110 46 0,88 Neutro

Nitrato de potássio 460 130 de N 320 74 1,68 Básico

Nitrato de sódio e potássio 140 140 de N 623 31 2,21 Básico

Sulfato de potássio e magnésio (K-Mg) 220 220 de S + 110 de Mg 290 43 1,95 -


Fosfato de potássio e magnésio 190 550 de P2O5 + 48 de Mg 400 - - -
Monofosfato de potásso (MKP) 340 520 de P2O5 230 8 0,24 Neutro
FONTE: Coelho (1994) e Vitti Boaretto e Penteado (1994).
(1)Relativo ao valor do índice salino do nitrato de sódio (NaNO3) considerado como 100. (2)Índice salino dividido pelo teor de K2O no
fertilizante x 10.

A aplicação de Ca via água de irrigação QUADRO 3 - Características dos fertilizantes contendo micronutrientes utilizados na fer-
é vantajosa para culturas que apresentam tirrigação
demanda elevada por este nutriente, como Concentração de nutriente Solubilidade
Fertilizante
a mangueira e a videira. (g/kg) (g/L)
O Mg pode ser suprido na forma de Ácido bórico (H3BO3) 160 de B 50
sulfato de magnésio (90-160 g de Mg/kg
Bórax (Na2B4O7.10H2O) 110 de B 50
e 120-140 g de S/kg), pois apresenta alta
solubilidade (710 g/L de água) e pH 6,5. Molibdato de amônio ((NH4)2MoO4) 480 de Mo 400
Existem também o nitrato de magnésio Molibdato de sódio (Na2MoO4.2H2O) 390 de Mo 560
(pH 6,0-7,0, CE 1,1 dS/m, densidade 1,4
Quelato de Fe (NaFeEDDHA) 60 de Fe 140
g/mL) (Quadro 1) e o sulfato de potássio
e magnésio (Quadro 2). Quelato de zinco (Na2ZnEDTA) 140 de Zn -
O enxofre (S), na forma de sulfato Sulfato de cobre (CuSO4.5H2O) 250 de Cu 220
(SO42-), apresenta alta mobilidade no solo,
como o N, existindo fontes solúveis para Sulfato de ferro (FeSO4.7H2O) 190 de Fe 240
sua aplicação via fertirrigação. De maneira Sulfato de manganês (MnSO4.4H2O) 280 de Mn 1.050
geral, o fornecimento desse nutriente é
Sulfato manganoso (MnSO4.3H2O) 270 de Mn 742
feito por meio de fertilizantes carreadores
de macronutrientes primários (N, P e K). Sulfato de zinco (ZnSO4.7H2O) 220 de Zn 750
O sulfato de amônio (Quadro 1) e o sulfato Solubor (Na2B8)O13. 4H2O) 200 de B 220
de potássio (Quadro 2) são as fontes mais
FONTE: Vitti Boaretto e Penteado (1994) e Villas Bôas, Büll e Fernandes (1999).
empregadas, existindo ainda o sulfato de
magnésio. Na forma de fertilizante fluido
existe a fórmula 20-00-00 + 4% S (sulfu- caso, são aplicados como quelatos, que Os sólidos devem ser altamente solúveis
ran), que é obtida pela adição de sulfato são facilmente solúveis e causam poucos e os nitrogenados são os mais utilizados
de amônio ao uran. Os micronutrientes problemas de precipitação e entupimento. (Quadro 1), como também as fontes
podem ser encontrados na forma de sais e potássicas, principalmente o cloreto e o
quelatos (Quadro 3). Considerações gerais nitrato, que apresentam maior solubilidade
Micronutrientes como o zinco (Zn), sobre fertilizantes para (Quadro 2). Os fertilizantes líquidos são
fertirrigação
ferro (Fe), cobre (Cu) e manganês (Mn) apresentados em três formas:
podem reagir com sais da água de irrigação Os fertilizantes empregados via água de a) soluções claras: soluções puras
e causar precipitação e entupimento. Neste irrigação são sólidos e líquidos (fluidos). ou perfeitas, empregadas tanto na
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62 Irrigação

fertirrigação por aspersão quanto efeito de acidificação mais intenso e podem Tanque de derivação ou
por gotejamento. As soluções nitro- promover a redução do pH em um único tanque fertilizante
genadas são as mais comuns, como ciclo da cultura. Depósito onde se coloca a solução que
o uran (320 g de N/L, pH 6,0-7,0, se quer incorporar ao solo e que, uma vez
densidade 1,32 g/mL); EQUIPAMENTOS PARA
fechado, alcança em seu interior a mesma
FERTIRRIGAÇÃO
b) soluções coloidais: soluções líquidas pressão que a rede de irrigação. Por isso, o
compostas, obtidas pela reação do Todo sistema de injeção de fertilizante tanque deve ser capaz de suportar a pressão
ácido fosfórico com amônia; requer um reservatório para dissolução dos estática e dinâmica da rede. O normal é que
c) misturas em suspensão: mistura a produtos químicos, um sistema de agitação resista à pressão de cerca de 300 kPa, como
frio, sem reação química, obtida para estes produtos e deve resistir à corro- mínimo, ainda que se recomenda suportar
a partir das formulações fluidas são causada pelos fertilizantes (Fig. 1). O uma pressão de trabalho próxima de 600
(32-00-00, 10-30-00, 6-30-00) em volume mínimo do reservatório deve ser su- kPa. Esses dispositivos são colocados em
conjunto com cloreto de potássio. ficiente para a fertirrigação de uma unidade, paralelo em relação à tubulação de irriga-
sem que se requeira o reabastecimento. O ção, sendo que a diferença de pressão da
As compatibilidades entre os fertili-
volume do reservatório pode ser calculado ordem de 10 e 50 kPa, entre a entrada e a
zantes na mistura de mais de um tipo de
pela seguinte fórmula: saída do tanque de fertilizante, causadora
fertilizante devem ser consideradas, a fim
Equação 1: do fluxo por meio do tanque, é conseguida
de evitar a formação de precipitados dentro
por intermédio da instalação de um regis-
dos condutos de água do sistema de irriga- V = nQ . A tro na linha principal do sistema, entre os
ção. A maioria das misturas é compatível, sol
pontos de saída para o tanque e de retorno
exceto o sulfato de amônio com nitrato
em que: do tanque (Fig. 2).
de cálcio, nitrato de cálcio com sulfato de
Para a injeção do fertilizante na tu-
potássio ou com fosfato de amônio, ou com
V = volume do reservatório, em m3; bulação de irrigação fecha-se o registro
sulfatos de Fe, Zn, Cu e Mn, ou com ácido
n = número de aplicações ; que está na linha principal, para que parte
fosfórico ou ácido sulfúrico
da água destinada à irrigação passe pelo
O poder de corrosão dos fertilizantes Q = quantidade de fertilizantes, em
tanque. Portanto, a vazão até o tanque
é variável e pode afetar os equipamentos kg/ha;
pode ser regulada mediante o registro na
de fertirrigação. Os materiais plásticos são A = área a fertirrigar, em ha; linha principal. Como a vazão de água que
mais resistentes que os metais. A lavagem
sol = solubilidade do fertilizante, em entra no tanque é igual a vazão da solução
do sistema de irrigação com água pura, por
kg/m3. de fertilizante que sai, evidentemente a
aproximadamente 30 minutos, minimiza os
riscos de corrosão. A temperatura da água,
recomendada em torno de 20 ºC e a pureza
do fertilizante interferem na sua solubilida-
de. Os fertilizantes precisam ser solúveis
para que a concentração final do nutriente
na solução seja, de fato, a calculada, como
também para não causar entupimentos nos
emissores, principalmente nos gotejadores.
Alguns problemas de salinidade podem
surgir em razão do manejo inadequado do
fertilizante, da quantidade aplicada e da sua
escolha, bem como da qualidade da água
de irrigação. Os índices salinos de alguns
fertilizantes são apresentados nos Quadros
José Maria Pinto

1 e 2. Fontes de nutrientes que tenham caráter


ácido, no caso dos nitrogenados (Quadro 1),
principalmente em fertirrigação por goteja-
mento, onde o fertilizante se encontra em
zona restrita de solo molhado, geram um Figura 1 - Tanque para dissolução de fertilizantes

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Irrigação 63

solução de fertilizante que fica no tanque


vai-se diluindo com o tempo de funcio-
Filtro de tela Registro
namento, assim como a concentração da
solução incorporada à rede que também
vai diminuindo.

Injetor tipo Venturi


A concentração da solução fertilizante
no injetor tipo Venturi é constante no de-
correr do tempo de aplicação. O princípio
de funcionamento consiste no estrangula- Tanque de Filtro de areia
mento do fluxo da água de irrigação, que fertilizantes

provoca aumento de velocidade e uma


pressão negativa que causa a aspiração da Dreno

Cletis José Bezerra


solução fertilizante (Fig. 3 e 4).
A vantagem desses injetores de fertili-
zantes é a simplicidade do dispositivo, bem
como seu preço, manutenção e durabilida-
Figura 2 - Tanque de fertilizante
de, além de não necessitar de uma fonte de
energia especial. Como limitação, tem-se
a grande perda de carga provocada pelo
estrangulamento da tubulação, que pode
variar de 10% a 50% da pressão de entrada,
dependendo do modelo. Entretanto, exis-

Cletis José Bezerra


tem soluções alternativas para contornar
essa limitação, como a instalação do injetor
com uma bomba auxiliar.

Bomba injetora Figura 3 - Detalhe do sistema hidráulico Venturi


A solução fertilizante contida num
reservatório aberto é introduzida ao sis-
tema de irrigação com pressão superior
Filtro de tela
à da água de irrigação, em concentração Registro de gaveta
constante, por meio de uma bomba elé-
trica ou hidráulica. As bombas injetoras
com motores elétricos são desenvolvidas
para a injeção de fertilizantes. São bombas
de deslocamento positivo, de pistom ou
de membrana, acionadas por um motor
elétrico de baixa potência, fabricada com
materiais não corrosivos (Fig. 5 ).
Filtro de areia
Nas bombas de membrana, o elemento Venturi
alternativo é um diafragma flexível que
Cletis José Bezerra

oscila por um dispositivo mecânico como Depósito de fertilizante


nas bombas de pistom, ou pelas pulsações
de pressão iniciadas em uma câmara de
fluidos. Este tipo denomina-se acionamen-
to hidráulico. Figura 4 - Esquema de injetor tipo Venturi

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64 Irrigação

Bomba injetora com por possuir numerosas peças móveis, A fertirrigação adequadamente executada
acionamento hidráulico a qualidade da água é de fundamental deve fornecer ao solo a quantidade de
O injetor hidráulico é uma bomba cons- importância considerando que, qualquer nutrientes para atender à planta, especifica-
tituída por uma pequena câmara que, alter- impureza pode afetar o bom funcionamen- mente no estádio em que se encontra. Deve
nativamente, se enche e esvazia, acionada to do injetor. Na Figura 6, apresenta-se o ser aplicada dentro de uma frequência que
pela pressão da rede de irrigação. Como a modelo comercial Dosatron e as formas
favoreça a dinâmica dos íons no solo com
bomba injetora por acionamento hidráuli- de instalação do equipamento. Este tem a
o mínimo risco de perdas e deve ser exe-
co, o dosificador hidráulico acionado por capacidade de injetar soluções fertilizantes
cutada para não causar desbalanços iônicos
pistão também não requer energia elétrica uniformemente na faixa de 0,02 a 250 L/h,
desfavoráveis à cultura, com impactos
para o seu funcionamento. Sua instalação em uma razão de diluição de 1:500 a 1:50,
ou seja, de 0,2% a 2%. negativos nos atributos químicos do solo.
é da mesma forma que a do injetor Venturi,
Como primeiro passo, é necessário, na
sendo indicado em instalações comunitá-
MANEJO DA FERTIRRIGAÇÃO fertirrigação, o conhecimento da quantida-
rias, donde a água é fornecida com pressão
de total do nutriente (QTN) a ser aplicado
muito superior à necessária, ou então, A fertirrigação, como a irrigação, en-
quando se dispõe de um reservatório que se volve uma série de atividades que requer à cultura em seu ciclo. A necessidade de
encontra em uma cota muito elevada. Por conhecimentos relativos à cultura, às con- nutrientes para uma cultura é calculada
causa da complexidade do equipamento, dições de solo e ao manejo da irrigação. pela seguinte fórmula:
Equação 2:

QTN = QTNex _ QTNs


Eff

em que:
QTN = quantidade total do nutriente
(kg);
QTNex = quantidade de nutrientes ex-
José Maria Pinto

portados pela planta (kg );


QTNs = quantidade de nutrientes a ser
fornecido pelo solo (t);
Figura 5 - Bomba injetora com motor elétrico Eff = eficiência da fertirrigação.

Fotos: José Maria Pinto


Cletis José Bezerra

Figura 6 - Bomba injetora com acionamento hidráulico TMB e por pistão

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Irrigação 65

Essa QTN pode ser recomendada a bananeira (SOTO BALLESTEROS, solo, da cultura e do sistema de irrigação.
em kg/ha, em função da necessidade da 2000). A declividade da curva expressa Fertilizantes com maior potencial de
cultura e da disponibilidade do nutriente a taxa de absorção dos nutrientes, sendo lixiviação, como os nitrogenados, devem
no solo, que varia com a produtividade que, no caso do N e K, por exemplo, a taxa ser aplicados com maior frequência, solos
esperada ou pode ser calculada em função apresenta-se constante durante o início do com maior capacidade de retenção de
da profundidade do sistema radicular da desenvolvimento vegetativo, aumentando água podem ser fertirrigados com menor
cultura, da densidade do solo, área do solo em seguida, mantendo-se constante até frequência, culturas de maior demanda
ocupada pelas raízes e dos nutrientes dis- próximo à colheita, reduzindo-se imedia- nutricional e de ciclo curto requerem
poníveis, conforme análise de solo. Com tamente antes desta, caracterizando três maior Ff do que culturas de menor de-
essas informações, calculam-se a massa fases de absorção. A quantidade absorvida manda e ciclos mais longos. No caso de
de solo ocupada pelas raízes, a quantidade em cada fase dividida pela QTN resulta na hortaliças, a fertirrigação pode acompa-
de nutrientes disponíveis nessa massa e a porcentagem da quantidade total (PDF), nhar a irrigação, ou seja, seguir a frequ-
quantidade de nutrientes necessária. necessária no ciclo naquele período. Essa ência de irrigação, uma vez que o sistema
Uma vez conhecida a quantidade de porcentagem permite obter a quantidade radicular é pouco profundo e frequências
nutrientes a ser aplicada durante o ciclo, de nutriente a ser aplicada nas fases do mais altas são mais adequadas. No caso
é preciso avaliar o consumo destes pelas ciclo (QNF), conforme a taxa de absorção de fruteiras, como bananeira, mamoeiro,
plantas ao longo do ciclo, isto é, a curva de dessas fases. por exemplo, culturas de alta densidade e
absorção de nutrientes do solo. Essa curva Uma vez definida as quantidades de de alta demanda nutricional, recomenda-
permite avaliar a taxa de extração de um fertilizantes a serem aplicadas nas fases se fertirrigar de uma a duas vezes por
nutriente pela cultura em suas diferentes de diferentes taxas de absorção, é neces- semana (a cada três ou sete dias), embora
fases fenológicas. O Gráfico 1 representa sário definir a frequência da fertirrigação haja trabalhos que não demonstram dife-
a curva de absorção de nutrientes para (Ff), em função do tipo de fertilizante, do renças entre tratamentos para frequências

800 5,00
700 N K 4,50
Fe Mn
600 4,00
Conteúdo de N e K

Conteúdo de Fe e Mn

3,50
500
(kg/ha)

3,00
(kg/ha)

400 2,50
300 2,00
1,50
200
1,00
100
0,50
0 0,00

160 0,35
140 P Ca Mg S 0,30 Cu Zn B
Conteúdo de P, Ca, Mg e S

Conteúdo de Cu, Zn e B

120
0,25
100
(kg/ha)

0,20
(kg/ha)

80
0,15
60
0,10
40
20 0,05

0 0,00
Inicial F10 FM Floração Colheita Inicial F10 FM Floração Colheita

Fases do desenvolvimento Fases do desenvolvimento

Gráfico 1 - Curva de absorção de nutrientes pela bananeira


FONTE: Soto Ballesteros (2000).

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66 Irrigação

de até 15 dias, como no caso da bananeira QUADRO 4 - Equações para cálculo da solução de fertilizantes para injeção no sistema de
(COSTA; SILVA; SOUTO, 2001). Já para irrigação
fruteiras arbóreas, de menor demanda Ordem Equação Especificação dos parâmetros
nutricional, como citros e manga, a fertir- A PDF QFN = quantidade necessária numa fase (kg);
QFN = QTN
rigação pode ser feita a cada 7 ou 15 dias, 100 QNT = quantidade total do nutriente (kg);
principalmente no caso de irrigação por PDF = porcentagem da quantidade total do ciclo na fase
considerada (%).
aspersão, miniaspersão e microaspersão.
No caso de gotejamento, tendo em vista B PPF NF = número de eventos de fertirrigação em uma fase;
NF =
Ff PPF = número de dias de uma fase;
o menor volume molhado, recomendam-
Ff = frequência de fertirrigação (dias).
se frequências maiores a fim de manter
os nutrientes dentro do volume molhado C QFN QAF = massa do fertilizante a ser aplicada em kg.
QAF =
gerado pelos tempos de irrigação. NF

Ao conhecer a QTN, a PDF em cada D QAFc . qb . 1000 QAFc = massa do fertilizante, fonte do nutriente (kg);
fase da cultura diferenciada pela taxa Vágua =
qi . ci . 0,001 qb = vazão de injeção por bomba, tanque diferencial
de absorção, a QNF pela Equação A ou Venturi (L/h);
(Quadro 4), o número de dias de cada qi = vazão do sistema de irrigação (L/h);
fase (PPF) pela curva de absorção, a Ff, Vágua = volume de água da solução fertilizante ou
injetora (L);
pode-se determinar o número de even-
Ci = concentração da água na saída dos emissores (mg/L).
tos de fertirrigação (NF) pela Equação
B e a quantidade de fertilizante a ser
aplicada a cada evento de fertirrigação
Tendo a concentração da água de irriga- verificar se há elevação da condutividade
(QAF), pela Equação C (Quadro 4). Em
ção (Ci) em mg/L, a QAF em quilo, a ser elétrica (CE) a níveis indesejáveis às plan-
seguida transforma-se QAF para a fonte
colocada no tanque de solução fertilizante tas e/ou alterações no pH da solução do
correspondente, por exemplo, no caso de
ou injetora, a vazão de injeção da bomba solo. O acompanhamento da concentração
K2O, para cloreto de potássio, dividindo
ou tanque diferencial ou Venturi, qb, em da solução nas saídas dos emissores, por
por 0,52 dado que o cloreto de potássio
L/h, a vazão do sistema de irrigação (qi) meio da coleta de amostras e análise, é
possui 52% de K2O. Deve-se determinar o
em L/h, obtém-se o volume de água (Vágua) uma ferramenta de importância no sucesso
volume de água referente à concentração
em L pela Equação D (Quadro 4). Conhe- da fertirrigação e, consequentemente, na
desejada da água de irrigação durante a
cendo-se o volume do tanque da solução redução dos impactos ambientais.
aplicação do fertilizante. O conhecimento
de injeção disponível, pode-se planejar a Além disso, um correto monitoramento
da concentração da solução a ser injetada
no sistema de irrigação e da concentração
fertirrigação em termos de tempo e quantos evita as flutuações da quantidade de sais na
da água de irrigação, isto é, aquela que sai tanques de injeção serão necessários. O solução do solo, além de manter em níveis
dos emissores, é fundamental na fertirriga- Vágua calculado pode demandar um tempo adequados a CE e o pH do solo. A falta de
ção. A concentração excessiva da água de de fertirrigação superior ao regular de monitoramento na fertirrigação no geral é
irrigação pode causar elevação temporária irrigação, e exigir um fracionamento da resultado da falta de informação, principal-
da salinidade do solo e da sua tensão os- fertirrigação ou atuar no valor da concen- mente sobre dosagens, tipo de fertilizantes,
mótica, podendo afetar o desenvolvimento tração da água de irrigação. modo e época de aplicação. Isso reflete na
das plantas. As concentrações das soluções salinização do solo, na contaminação de
MONITORAMENTO DA fontes de água e na degradação ambiental.
em condições de campo não têm seguido
FERTIRRIGAÇÃO A fertirrigação é uma técnica que
critérios técnicos, que, muitas vezes, se
limitam a considerar apenas a solubilidade Por ser a fertirrigação uma técnica que pode provocar impactos de ordens física e
dos fertilizantes. As recomendações das permite alterações rápidas e precisas na química no solo. Os problemas de ordem
concentrações adequadas nas condições quantidade de nutrientes aplicados, torna- química são mais comumente encontrados.
do Brasil ainda não são conclusivas, mas se importante um monitoramento para A salinização temporária e as alterações
valores de até 5,0 g/L da água de irrigação que se promova, ainda durante o ciclo da no pH são mais observadas nesse sentido.
não têm causado elevações da condutivida- cultura, o manejo necessário no que se No caso da salinidade, quando ocorrer,
de elétrica em Latossolo Amarelo a níveis refere às quantidades aplicadas e à época poderá ser corrigida com lavagem do perfil
superiores a 1,2 dS/m (ANDRADE NETO ideal de aplicação. O monitoramento da pelo uso da irrigação ou pelas chuvas. É
et al., 2009). solução do solo é importante, a fim de necessário manter uma concentração da
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Irrigação 67

solução de injeção, a qual permita uma de solução (Fig. 7). O extrator de solução atividade do sistema radicular da planta,
concentração na água de irrigação na é composto de uma cápsula porosa, um o que poderia corresponder à metade da
saída dos emissores e não aumente a con- tubo de PVC rígido, borracha de vedação profundidade efetiva do sistema radicular,
centração salina ou a CE do solo a níveis na parte superior e uma tampa. A instalação e a outra na profundidade limite da zona
indesejáveis. do extrator inicia-se geralmente uma a duas radicular efetiva, normalmente, entre 0,60
É importante salientar que as fontes horas após a fertirrigação. Antes de ser e 0,70 m. Os extratores devem ser instala-
amoniacais (ureia) podem reduzir o pH do instalado é lavado com água destilada em dos cerca de 0,10 m do gotejador, entre o
gotejador e a planta. Na aspersão e na mi-
solo, como observado por Silva, Borges e laboratório. Já no campo, por meio de um
croaspersão, entre 0,15 e 0,50 m da planta,
Malburg (1999). Em contrapartida, Car- trado adequado, consegue-se a profundida-
dependendo da cultura. A solução retirada
valho, Coelho e Costa (2009) observaram de desejada para instalar o extrator. Após a
do solo poderá ser avaliada por condutiví-
que a ureia até a concentração de 7,2 g/L instalação, é realizada a sucção com bomba
metro de bolso ou de bancada e por kits de
não promoveu redução do pH da solução manual. Geralmente, usa-se um vácuo com
determinação rápida de íons ou mesmo ser
do solo (Gráfico 2). tensão de 70 kPa, podendo-se utilizar uma levada ao laboratório para análise.
Andrade Neto et al. (2008) observaram seringa para promover a sucção. Realizada Outra opção de monitoramento consis-
que concentrações acima de 4,0 g/L de essa etapa, o extrator pode permanecer no te na amostragem de solo para processa-
nitrato de cálcio e ureia podem resultar campo por até 24 h. Em seguida, retira-se mento da pasta do extrato de saturação em
em níveis críticos de CE da solução do a solução coletada. Recomenda-se pelo laboratório e extração da solução, sendo
solo (Gráfico 3). menos uma bateria de extratores de solução, um processo que requer maior tempo. A
O monitoramento da fertirrigação é rea- instalados em duas profundidades diferen- solução será processada da mesma forma
lizado por meio da utilização de extratores tes. Uma que represente a região de maior que a solução do solo já citada.

9,0 9,0
ureia - 0,30 m ureia - 0,60 m
8,0 8,0
7,0 7,0
6,0 6,0
5,0 5,0
pH

pH

4,0 4,0
3,0 3,0
2,0 2,0
1,0 1,0
0,0 0,0
50 150 250 350 450 550 50 150 250 350 450 550
Dias após plantio (DAP) Dias após plantio (DAP)
2,7 4 6,6 7,2 g/L 2,7 4 6,6 7,2 g/L

Gráfico 2 - pH do solo sob diferentes concentrações de ureia

Ureia
Nitrato de cálcio
1,8000 1,800
CE (dS/cm)

CE (dS/cm)

1,2000 1,200

0,6000 0,600

0,0000 0,000
109 141 172 231 265 294 109 141 172 203 231 265 294
Dias após plantio (DAP) Dias após plantio (DAP)

1g/L 2,5g/L 4g/L 1g/L 2,5g/L 4g/L

Gráfico 3 - Condutividade elétrica (CE) da solução do solo sob diferentes concentrações de ureia na fertirrigação

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68 Irrigação

Uma das metas do monitoramento da diferentes nutrientes, tais como: nitrato, REFERÊNCIAS
fertirrigação é conseguir avaliar os íons K, dentre outros. Por necessitarem de ANDRADE NETO, T. M. de. et al. Valida-
(nutrientes) do solo, a partir de proce- amostras de solução do solo que são facil- ção em campo de um modelo matemático
dimentos de fácil acesso ao usuário. A mente coletadas por meio de extratores de de estimativa de potássio na solução do
coleta de amostras de solo para avaliação solução, torna-se um procedimento com solo como função da condutvidade elétri-
ca aparente e umidade do solo. In: CON-
química em laboratório demanda tempo e resultados mais rápidos, cruciais na tomada
GRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA
não traduz a situação de campo em tempo de decisão do manejo da fertirrigação. AGRÍCOLA - CONBEA, 38., 2009, Juazeiro.
real. Pesquisas têm sido desenvolvidas e Andrade Neto et al. (2009) mostram [Anais]... Planejamento da bacia hidrográfi-
mostram ser possível a estimativa de de- que é possível estimar íons de K na solução ca e o desenvolvimento da agricultura. Pe-
terminados íons, a partir da CE com o uso do solo como função da CE por meio de trolina: UNIVASF, 2009. 1 CD-ROM.

de modelos matemáticos (HEIMOVAARA um modelo matemático potencial (CEw _________. et al. Salinidade do solo sob fer-
et al., 1995; MUÑOZ-CARPENA et al., = aKµ ), com resultados satisfatórios da tirrigação com três concentrações de uréia
em dois sistemas de irrigação localizada. In:
2001). Essas pesquisas têm estabelecido estimativa de K pelas leituras da CE da
CONGRESSO NACIONAL DE IRRIGAÇÃO
relações entre CE da solução do solo e solução do solo (Gráfico 4). E DRENAGEM - CONIRD, 18., 2008, São
Mateus. Anais... O equilíbrio do fluxo hí-
drico para uma agricultura irrigada susten-
tável. São Mateus: ABID, 2008. 1 CD-ROM.
BAR-YOSEF, B. Advances in fertigation. Ad-
vances in Agronomy, v. 65, p.1-75, 1999.
BRESLER, E. Trickle drip-irrigation: princi-
ples and application to soil-water manage-
ment. Advances in Agronomy, New York,
v. 29, p. 343-393, 1977.
Fotos: Eugênio Ferreira Coelho
BURT, C.; O´CONNOR, K.; RUEHR, T. Ferti-
gation. San Luis Obispo: Irrigation Training
Research Center, 1995. 295p.
CARVALHO, G. C.; COELHO, E. F.; COSTA,
F. S. pH do solo no primeiro ciclo da bana-
neira da terra fertirrigada com diferentes
concentrações de uréia e nitrato de potássio
Figura 7 - Extratores de solução no campo na água de irrigação. In: CONGRESSO BRA-

40 40

30 30
K (mg/L)

K (mg/L)

20 20

10 10

0 0
0 100 200 300 400 0 100 200 300 400

Dias após plantio (DAP) Dias após plantio (DAP)

K medido K estimado K medido K estimado

Gráfico 4 - Correlação entre os valores de K+ medidos na solução do solo e estimados pelo modelo potencial em função da condutividade
elétrica - da solução do solo

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70 Irrigação

SILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 32., 2009, HERNÁNDEZ ABREU, J.M. et al. El riego Anais... A engenharia agrícola para o de-
Fortaleza. Resumos... O solo e a produção localizado. Madrid: Instituto Nacional de senvolvimento sustentável: água, energia e
de bioenergia: perspectivas e desafios. For- Investigaciónes Agrarias, 1987. 317 p. meio ambiente. Salvador: Sociedade Bra-
taleza: Sociedade Brasileira de Ciência do sileira de Engenharia Agrícola, 2002. 1CD-
MUÑOZ-CARPENA, R. et al. Determinaci-
Solo, 2009. 1 CD-ROM. ROM.
ón simultánea mediante TDR del transporte
COELHO, A.M. Fertigação. In: COSTA, E.F. de agua y un soluto salino en el suelo. In: SOTO BALLESTERO, M. Bananos: cultivo y
da; VIEIRA, R.F.; VIANA, P.A. (Ed.). Quimi- LÓPEZ, J.J.; QUEMADA, M. (Ed.). Temas de comercialización. 2. ed. San José: Imprenta
gação: aplicação de produtos químicos e investigación en zona no saturada. Pam- Lil, 2000. 1 CD- ROM.
biológicos via irrigação. Brasília: EMBRA- plona: Universidade Pública de Navarra,
PA-SPI; Sete Lagoas: EMBRAPA-CNPMS, VIEIRA, R.F.; COSTA, E.L.da; RAMOS,
2001. p.1-7. M.M. Escolha e manejo de fertilizantes na
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didade de irrigação no desenvolvimento e
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tin, 1893) p. 203-217.
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Irrigação 71

Automação em irrigação
Luiz Antônio Lima 1
Guilherme Augusto Bíscaro 2
Luciano Oliveira Geisenhoff 3
João Batista Ribeiro da Silva Reis 4

Resumo - Pelo potencial aumento da eficiência do uso da água e da energia, pela pos-
sibilidade de controlar a aplicação de produtos químicos, de reduzir a mão de obra e,
principalmente, pela necessidade de incrementar a produção agrícola, cresce o interesse
do produtor brasileiro na automatização da operação e manejo da irrigação. Sistemas
automáticos de controle de irrigação tornaram-se uma ferramenta essencial para a apli-
cação de água na quantidade necessária e no momento oportuno, contribuindo para a
manutenção da produção agrícola e para a utilização eficiente e racional dos recursos
hídricos. A automação na irrigação tem, basicamente, duas funções: a) controlar quando
e quanto irrigar; b) proteger e garantir a adequada operação do sistema. A automação
da irrigação iniciou-se com dispositivos mecânicos, depois elétricos e, finalmente, eletrô-
nicos, em que valores de variáveis elétricas são processados e comparados para aciona-
mento ou não de algum dispositivo. Inovadoras ou não, as possibilidades de automação
da irrigação devem valorizar cada vez mais a facilidade e a precisão da irrigação, bem
como a conservação dos recursos hídricos.

Palavras-chave: Controle da irrigação. Precisão da irrigação. Automatização. Eficiência


hídrica. Proteção da irrigação. Válvulas. Pivô central. Fertirrigação.

INTRODUÇÃO tornem o trabalho no campo mais produti- contribuindo para a manutenção da produ-
vo, utilizando um menor número de insu- ção agrícola e para a utilização eficiente e
A crescente demanda por alimentos,
mos e de trabalhadores por unidade de área. racional dos recursos hídricos. Assim, é
aliada à escassez de terras cultiváveis
Pelo potencial aumento da eficiência do possível automatizar praticamente todo o
próximas a grandes centros consumido-
uso da água e da energia, pela possibilidade sistema de irrigação, desde o acionamen-
res, diminuição da oferta de água de boa
de controlar a aplicação de produtos quí- to de motobombas, válvulas hidráulicas,
qualidade, salinização do solo, poluição
micos, de reduzir a mão de obra e, princi- injeção de fertilizantes (fertirrigação),
ambiental, problemas fitossanitários e a
palmente, pela necessidade de incrementar retrolavagem de filtros, até a impressão de
globalização do mercado fazem com que
a produção agrícola, cresce o interesse do relatórios de operação do sistema, dentre
a produção de alimentos torne-se alta-
muitas outras possibilidades.
mente tecnificada para ser competitiva e produtor brasileiro na automatização da
operação e manejo da irrigação. A automação na irrigação tem, basica-
sustentável.
Sistemas automáticos de controle de mente, duas funções:
A modernização do setor agrícola, com
a migração de mão de obra para o setor irrigação tornaram-se uma ferramenta a) controlar quando e quanto irrigar;
urbano-industrial, resultou na necessidade essencial para a aplicação de água na quan- b) proteger e garantir a adequada ope-
de o produtor rural buscar alternativas que tidade necessária e no momento oportuno, ração do sistema.

1
Eng o Agrícola, Ph.D., Prof. Adj. UFLA - Depto. Engenharia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: lalima@deg.ufla.br
2
Eng o Agrícola, D.Sc., Prof. Adj. I, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) - Faculdade de Ciências Agrárias, Caixa Postal 533,
CEP 79804-970 Dourados-MS. Correio eletrônico: GuilhermeBiscaro@ufgd.edu.br
3
Eng o Agr o ,Dr., Prof. Adj. Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) - Faculdade de Ciências Agrárias, Caixa Postal 533, CEP
79804-970 Dourados-MS. Correio eletrônico: lucianogeisenhoff@ig.com.br
4
Eng o Agrícola, D.Sc., Pesq. EPAMIG Norte de Minas/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio
eletrônico: jbrsreis@epamig.br

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72 Irrigação

Para a primeira função, são utilizados d) economia de fertilizantes, pois a nicas e humanas, os agricultores passam
controles por tempo, volume ou leituras automatização da operação de adu- a confiar excessivamente no sistema e
de sensores que detectam, por exemplo, o bação (fertirrigação) permite admi- tornam-se relapsos com os tratos cultu-
consumo de água pelas plantas, a umidade nistrar quantidades de fertilizantes rais, monitoramento da lavoura e outras
ou a tensão de retenção da água no solo, de forma mais precisa e racional atividades. Assim, deixam de executar a
a tensão de água na folha, a evapotranspi- com aplicações a baixas concentra- manutenção preventiva e de verificar se o
ração, a temperatura etc. Para a segunda ções, evitando perdas, toxidez das manejo adotado automaticamente satisfaz
função, trata-se de dispositivos que permi- plantas e contaminação ambiental; as necessidades da cultura implantada.
tem aliviar pressões elevadas que possam e) melhor administração da atividade
comprometer tubulações, que detectam agrícola, uma vez que permite o TIPOS DE CONTROLE
níveis anormais de água em reservatório, controle centralizado de várias ativi- Sistemas de controle consistem basi-
que desligam o bombeamento em caso de dades, com o monitoramento do sis- camente de uma combinação de hardware
ausência de fluxo de água, causada, por tema, executadas com segurança e e software, que atuam como supervisores,
exemplo, pela não abertura de válvulas precisão, e tomadas de decisão mais com o objetivo de gerenciar o sistema
controladoras de setores etc. rápidas e com base em históricos de
De modo geral, a automação da irriga- controlado.
aplicação de água e de fertilizantes. Esse gerenciamento permite especifi-
ção iniciou-se com dispositivos mecânicos,
depois elétricos e, finalmente, eletrônicos, Tais vantagens, somadas ao manejo e car, manter e executar ações de controle
em que valores de variáveis elétricas são ao acompanhamento adequados da cultura, com base na entrada de dados fornecidos
processados e comparados para aciona- em todas as suas fases de desenvolvimento, pelo próprio sistema.
mento ou não de algum dispositivo. oferecem maior produtividade a um custo Em sistemas de irrigação, dois tipos de
menor e, portanto, aumentam a lucrativi- controle são utilizados:
VANTAGENS E LIMITAÇÕES dade da atividade agrícola. a) sistemas de controle em malha aber-
Apesar do grande número de van- ta;
Várias são as vantagens na utiliza-
tagens, também ocorrem limitações na b) sistemas de controle em malha fe-
ção do controle automático em sistemas
implantação e uso desses sistemas. Dentre
de irrigação localizada. Dentre estas chada.
estas podem-se citar:
destacam-se: A diferença entre ambos é que os
a) custo relativamente elevado, pois os
a) uso racional dos recursos hídricos, sistemas em malha fechada possuem re-
sistemas de controle em projetos de
com a possibilidade de monitorar alimentação, ou seja, existem elementos
irrigação localizada exigem investi-
mais precisamente os volumes de capazes de enviar informações sobre o
mentos, onerando, assim, o seu cus-
água aplicado; processo ao controlador, para que este seja
to inicial e limitando seu uso apenas
b) economia de energia, pois a opera- capaz de definir seu modo de atuação. O
a produtores mais capitalizados;
ção do sistema de bombeamento é sistema de controle em malha aberta possui
b) necessidade de mão de obra espe- basicamente dois elementos essenciais: a
otimizada e ocorre somente em fun-
cializada, já que a complexidade central de controle ou controlador, que
ção das reais necessidades de irriga-
ção, evitando-se, assim, a operação dos sistemas de controle e sua forma pode ser um programador ou uma válvula
excessiva desse sistema, permitindo pouco conhecida de programação volumétrica, e os atuadores que serão
também que os motores operem fora exigem treinamento para uso e ge- acionados a distância, como, por exemplo,
dos horários de pico, o que contribui renciamento das informações; as válvulas hidráulicas que atuarão sobre
para um melhor aproveitamento dos c) assistência técnica deficiente, pois o processo, neste caso a irrigação. Por
descontos concedidos pelas conces- não há um volume expressivo no outro lado, os sistemas em malha fechada
sionárias de energia elétrica; mercado de peças e serviços capaz incorporam um terceiro elemento que é o
c) menor demanda de mão de obra, de reunir representantes e técnicos sensor, responsável por monitorar variáveis
pois a maioria das operações que em todas as regiões para a solução presentes no processo e de realimentar o
ocorrem em um evento de irriga- de problemas. programador com informações que defini-
ção pode ser automatizada, por A confiança excessiva no sistema de rão se é necessário ou não irrigar, ou ativar
exemplo, o ligar e desligar de mo- controle também pode incorrer em erros. outras ações no sistema.
tobombas, abertura e fechamento de Ao acreditar que o sistema automatizado A seguir são apresentados, em detalhes,
válvulas e registros, fertirrigação, é a solução para todos os problemas e que os sistemas de controle em malha aberta
retrolavagem de filtros; este consegue autossolucionar falhas téc- e fechada.
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Irrigação 73

Sistema de controle em Sistema de controle em controle de irrigação em malha fechada é


malha aberta malha fechada apresentado na Figura 1B.
Nesse tipo de sistema de controle, um Neste sistema tem-se a presença de A diferença em relação ao diagrama
sinal de referência é aplicado ao controla- um sensor capaz de enviar informações apresentado na Figura 1A é o sinal de es-
dor que, por sua vez, encaminha um sinal do processo ao controlador, permitindo tado do processo (sensor de umidade). De
de controle ao processo a ser controlado. que este tome decisões automaticamente, fato, todas as funcionalidades do sistema
Para um sistema de irrigação, o sinal de a partir de estratégias de controle definidas proposto na Figura 1A podem ser preser-
referência pode ser uma decisão tomada pelo operador. Exemplo de um sistema de vadas nesse tipo de estratégia de controle.
pelo operador para acionar ou desligar
o relé, que comanda a bomba que irriga
um determinado setor, ou até mesmo os Rede elétrica Válvulas solenoides
instantes que determinam o intervalo que
um relé temporizador deve manter a mo- V3
tobomba acionada e qual o volume total de controlador
água a ser aplicado. Exemplo de sistema RS T
de controle de irrigação em malha aberta Chave de
é apresentado na Figura 1A. partida
V2
Por sua vez, o sinal de controle envia-
do deve refletir a decisão do controlador,
acionando ou desligando algum atuador ___ S S C MV 1 2 3 4
__
_
presente no sistema. Para o caso de um 1L1 A1
V1
Relé
sistema de irrigação, por exemplo, o sinal auxiliar
de controle deve efetivamente acionar 2T1 A2

ou desligar o conjunto motobomba, que ___


__
_
promove a irrigação. Nesta estratégia de Motobomba
A
controle para a irrigação, os parâmetros
de controle são instantes de acionamentos Rede elétrica Sensor de umidade Válvulas solenoide
ou desligamentos do conjunto motobomba,
abertura e fechamento de válvulas que V3
controlam a irrigação em diversos setores controlador
e/ou o volume de água aplicado. R S T
A maioria dos sistemas de controle en-
Chave de
contrados comercialmente funciona com a partida
V2
presença de microprocessadores que atuam
por meio do acionamento temporizado dos
eventos de irrigação. O produtor deve defi- ___ S S C MV 1 2 3 4
__
_
nir o intervalo entre irrigações e a duração 1L1 A1
da irrigação, pois a estratégia de controle Relé V1
auxiliar
é obtida basicamente em função da lógica Rain Bird Brasil
2T1 A2
programada pelo usuário. ___
__
_ Motobomba
A principal vantagem desse tipo de
controle é o seu baixo custo. Por outro
B
Figura 1 - Sistemas de controle em malhas
lado, este tipo de sistema não é capaz de
NOTA: Figura 1A - Malha aberta. Figura 1B - Malha fechada.
responder automaticamente a mudanças
RST - Fases da rede de energia elétrica trifásica, o mesmo que fase 1, 2, 3; SS -
no ambiente que exijam resposta imediata Conector NA (normalmente aberto) dos sensores; C - Conector comum; MV - Co-
por parte do controlador. Dessa forma, sis- nector de ligação da válvula mestre, usado normalmente para o acionamento da
temas de controle em malha aberta podem motobomba; V1, V2, V3 - Válvulas solenoides; 1, 2, 3 - Conectores para ligação
comprometer a eficiência da utilização dos das válvulas solenoides; A1, A2 - Conector para acionamento da bobina do relé
auxiliar (24 volts); 1L1, 2T1 - Conector NA (normalmente aberto) do relé auxiliar
recursos hídricos, se concomitantemente
(24 volts); 2T1 - Conectado ao terminal 96 do relé térmico da chave de partida;
ao seu uso não forem adotadas técnicas de 2L1 - Conectado ao terminal 1L1 ou 3L2 do contator da chave de partida, que
manejo adequadas da irrigação. estão conectados as fases R e S, respectivamente.

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74 Irrigação

Portanto, o sistema de controle em ou tomadas de água, antes dos medidores Válvula de duplo efeito
malha fechada apenas acrescenta uma de vazão, e nos pontos de alteração de
Essa válvula tem a função de permitir
funcionalidade a mais ao sistema em aclive para declive (Fig. 2). O número de a entrada de ar ou expulsar as bolhas de
malha aberta: a opção de realizar o con- válvulas a serem instaladas depende da ar da tubulação para impedir, respectiva-
trole do processo de maneira automática, ocorrência de pontos de transição, como mente, o colapso da tubulação a jusante,
mediante possíveis alterações no estado descritos anteriormente, da vazão e do eventualmente quando um registro é
do processo. diâmetro da tubulação. fechado, ou a interrupção do fluxo por
bolhas de ar.
DISPOSITIVOS AUTOMÁTICOS
DE PROTEÇÃO DO SISTEMA Válvula de alívio
DE IRRIGAÇÃO
Essa válvula tem a função de liberar
Válvula de fluxo água da tubulação, com o objetivo de
reduzir a pressão que excedeu à máxima
Esta válvula é instalada para detectar a ajustada no piloto da válvula de alívio
ausência de fluxo causada, possivelmente (Fig. 4). A pressão de liberação de água é
porque nenhuma das válvulas abriu. Nes- definida em 5 a 10 m de coluna de água
se caso, o funcionamento da bomba sem acima da pressão máxima de operação
fluxo pode aquecer a água, e a ausência esperada na tubulação.
de refrigeração levaria ao mau funciona-
mento, com possíveis vazamentos e até
mesmo quebra de rolamentos e retentores.

Luiz Antônio Lima


Válvula ventosa
Essa válvula tem a função única de ex-
pulsar bolsas de ar da tubulação, o que faci-
lita o movimento de água. A presença de ar Figura 2 - Válvula ventosa
no interior dos tubos reduz o desempenho
da tubulação e pode até mesmo interromper
o fluxo. O excesso de ar reduz o fluxo de Válvula antivácuo
água e pode comprometer o funcionamento Essa válvula tem a função de permitir
dos medidores de vazão, resultando em a entrada de ar na tubulação para impedir
medições que incluem água e ar. O controle o colapso da tubulação a jusante, even-

Luiz Antônio Lima


de ar na tubulação pode ser obtido com a tualmente quando um registro é fechado
instalação de válvulas ventosas em lugares (Fig. 3). Sua localização dá-se logo após os
corretamente determinados. registros de abertura e fechamento de água.
Por exemplo, uma tubulação com
vazão de 1.000 m3/h de água pode liberar Figura 4 - Válvula de alívio de pressão em
operação
cerca de 5 m3/h de ar. As bolsas de ar
movimentam-se com a água, mas podem
ficar estacionadas em trechos da tubulação,
Boia de nível
sempre que a velocidade da água reduzir-se
a valores menores que 0,6 m/s. Os pontos As boias de nível são utilizadas para
de ocorrência de bolsas de ar são geral- dar partida à motobomba, quando o nível
mente nas transições de declividades, de da água num reservatório atinge um va-
Luiz Antônio Lima

aclive para declive. lor mínimo, e permitem o desligamento,


Além de reduzir a vazão da tubulação, quando o nível atingir um valor máximo
as bolsas de ar também reduzem a pressão. predefinido. Boias de mercúrio, utilizadas
As válvulas ventosas são instaladas na en- até pouco tempo, têm sido substituídas por
trada (parte mais alta) de filtros, cavaletes Figura 3 - Válvula antivácuo boias de esfera, para evitar possíveis conta-
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Irrigação 75

minações. Também podem ser empregadas São apresentados nas Figuras 6A, 6B (Fig. 6A), designado duas vias, é aquele
boias de varetas, ilustradas na Figura 5. e 6C os esquemas mais comuns para aber- em que a água caminha pelo solenoide
tura e fechamento de válvulas. Percebe- por duas vias possíveis. A válvula possui
se que o elemento-chave é o solenoide, uma câmara (parte superior com presença
uma válvula composta de um eletroímã de uma mola) que pode ser esvaziada a
(bobina elétrica que acionada gera um jusante, pelo solenoide, fazendo com que
campo magnético capaz de mover um o êmbolo se eleve, permitindo a passagem
elemento metálico). O primeiro esquema da água.

Solenoide

Válvula manual
Luiz Antônio Lima

Válvula fechada Válvula aberta


A
Figura 5 - Boias de vareta

MÉTODOS DE CONTROLE EM
IRRIGAÇÃO LOCALIZADA
Os métodos de controle podem ser
classificados de acordo com a sua forma
de operação nos seguintes tipos: método
de controle por tempo ou volume, método
de controle sequencial ou não sequencial.

Método de controle por


tempo B
A automação por tempo é obtida pelo
Solenoide
uso de dois equipamentos: válvulas vo-
lumétricas ou elétricas e programadores Válvula manual
ou controladores eletromecânicos ou
eletrônicos.
Os programadores eletrônicos são
instrumentos que possuem um relógio que
pode ser acertado com a hora real e, por
meio de dispositivos que variam segundo
Bermad

os modelos, fecham e abrem circuitos


Válvula aberta Válvula fechada
elétricos nas horas programadas. Esses C
circuitos acionam os solenoides das válvu- Figura 6 - Esquemas de abertura e fechamento de válvulas
las elétricas que são geralmente fechadas NOTA: Figura 6A - Esquema de abertura da válvula com acionamento do solenoide
de duas vias. Figura 6B - Esquemas de abertura e fechamento de válvulas com
e mantidas abertas enquanto recebem um solenoide de três vias normalmente aberto. Figura 6C - Esquemas de abertura e
sinal elétrico. fechamento de válvulas com solenoide de três vias normalmente fechado.

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Na Figura 6B, o solenoide é de três vias manal, quinzenal ou até estabelecer os dias Método de controle por
e fica normalmente aberto, permitindo que da semana nos quais a irrigação funcionará. volume
a água a montante entre na câmara superior. A programação por tempo é confiável, No método de controle por volume
Na Figura 6C, percebe-se que o solenoide de custo relativamente baixo e fácil de mede-se a água aplicada em cada irrigação.
fica do lado montante, normalmente fe- combinar com o arranque e parada do Quando atinge o volume necessário pre-
chado. O acionamento elétrico permite a conjunto motobomba. Entre seus incon- definido, interrompe-se automaticamente
passagem de água para a câmara, fechando venientes está o fato de que, se a vazão a passagem de água.
a passagem de água pela válvula. Percebe- do sistema por algum motivo for alterada, A automatização por volume pode ser
se nas Figuras 6A, 6B e 6C a presença de a lâmina d’água requerida e programada conseguida em vários níveis:
um dispositivo (cor verde), que permite não será aplicada na quantidade prevista. a) nível 0: realiza-se a irrigação abrin-
a abertura ou fechamento da válvula de Alguns controladores também per- do e fechando manualmente as
modo manual. mitem a conexão de um sensor de chuva válvulas da entrada de cada unidade,
São vários os modelos de programa- (Fig. 8). A função do sensor é interromper assim que o medidor de volume
dores eletrônicos disponíveis no mercado. a irrigação caso a chuva atinja um valor (hidrômetro) indicar o momento de
Os digitais permitem programação com predeterminado pelo operador (5 a 20 mm), fechar. Nesse caso, pode-se dizer
intervalos de 1 minuto ou mesmo de se- por meio de um dispositivo mecânico de que não existe automação e sim uma
gundos, enquanto que os de acionamento regulagem. O funcionamento do sensor de indicação visual do equipamento de
mecânico na faixa de 5 a 15 min. Encontra- chuva apresentado dá-se pela expansão de medição de volume;
se apresentado na Figura 7 um modelo discos de material especial que, ao serem b) nível 1: cada unidade dispõe de uma
de controlador digital, com acionamento molhados, expandem-se para acionar um válvula volumétrica que é aberta
de sete válvulas solenoides de três vias, interruptor. Ao secarem, os discos se con- manualmente e, quando o volume de
que permitem o fornecimento, via tubo de traem, permitindo que o interruptor volte à água atinge um valor predefinido no
comando hidráulico, de água pressurizada posição original. O interruptor ao ser acio- marcador da válvula, esta se fecha
para válvulas instaladas no campo. nado interrompe a passagem de corrente automaticamente;
Alguns controladores permitem pro- elétrica em um circuito do controlador, o c) nível 2: irrigação sequencial com
gramação por um período de 24 horas e que faz parar a irrigação, pois o forneci- válvulas volumétricas;
esta programação repete-se todos os dias. mento de energia para funcionamento da d) nível 3: irrigação com programação
Outros modelos permitem programação se- bomba de irrigação é interrompido. eletrônica por volumes.
Luiz Antônio Lima

Rain Bird

Figura 7 - Controlador digital com banco de solenoides de três vias Figura 8 - Sensor de chuva

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Método de controle As válvulas de operação a distância fechada e trabalha de forma sequencial ou


sequencial com comando hidráulico mais utilizadas não sequencial. Geralmente, esse sistema
Nas condições em que é possível irrigar são as de membrana ou de pistão. A aber- atua para cobrir todas as necessidades de
toda a área de uma só vez, o controle mais tura e o fechamento dessas válvulas são automatização existentes em sistemas de
simples seria o uso de um temporizador que realizados por pressão diferencial entre os irrigação localizada. É utilizado principal-
permitisse ligar ou desligar a motobomba, dois lados da membrana ou pistão, como mente em irrigação de hortaliças, parques
quando atingido o tempo de funcionamento exemplificados nas Figuras 6A, 6B e 6C. e jardins, cultivo protegido etc.
preestabelecido. Como alternativa, poderia Sistemas sequenciais com acionamento O funcionamento da automação desse
ser instalada uma válvula volumétrica que hidráulico apresentam falhas de funcio- sistema é em função do tempo, e a sequên-
fecharia automaticamente, quando o volu- namento, quando instalados a distâncias cia completa de acionamentos pode ser
me previamente definido fosse aplicado. acima de 800 m em nível, declives acima programada para diferentes conjuntos de
Entretanto, o emprego desse tipo de de 10 m e aclives maiores que 12 m, neces- setores.
procedimento, na maioria das proprieda- sitando da instalação de acessórios e com- Os sistemas sequenciais com comando
des que utilizam da irrigação localizada, ponentes extras como: relés hidráulicos elétrico normalmente utilizam válvulas
dificilmente torna-se possível, em especial Shastomit ou Galit, válvula antigotas LPD operadas por solenoides. O sinal elétrico
pela limitação na oferta do volume de água e ampliador de sinais TED, contribuindo originado no controlador é enviado às
captada ou por questões de diâmetros de para o aumento no custo de implantação válvulas por cabos ou por sinal de RF.
tubulações, equipamentos e dispositivos de do projeto. Como medida de segurança, o sinal
controle, ou mesmo pela potência instalada enviado corresponde a uma corrente
Sistema sequencial com alternada gerada por uma tensão de 24
do conjunto motobomba. acionamento elétrico
Nesse caso, como é comum a existência volts. Uma das limitações desses sistemas
de emissores (gotejadores, microasper- Esse sistema caracteriza-se por enviar é que as válvulas solenoides, pelo tamanho
sores) em toda a área a ser irrigada, esta sinais elétricos por meio de cabos ou por reduzido, são recomendadas para vazões
pode ser dividida em setores que serão sinais de radiofrequência (RF) remotamen- relativamente baixas. Exemplo de um sis-
irrigados de forma sequencial, ou seja, em te, para a unidade de controle das válvulas tema sequencial com acionamento elétrico
uma ordem preestabelecida de necessidade atuadoras. Pode ser de malha aberta ou é apresentado na Figura 9.
de irrigação. Após a irrigação de todos
os setores, o ciclo é finalizado e pode ser
reiniciado.
A irrigação sequencial consiste em
aplicar água consecutivamente às distintas
unidades de irrigação, cada uma podendo
inclusive necessitar de volumes diferentes.
O método de controle da irrigação
por sistema sequencial pode ser realizado
com acionamento hidráulico, elétrico e
pneumático.

Sistema sequencial com


acionamento hidráulico
Esse sistema utiliza válvulas volumétri-
cas automáticas, acionadas hidraulicamen-
te de forma sequencial e ajustadas manu-
almente, para permitir a passagem de um
determinado volume de água. Em seguida
Rain Bird Brasil

fecham-se automaticamente, independen-


temente de variações de pressão e vazão,
e permite a abertura de outra válvula, de
forma sequencial e programada. Figura 9 - Esquema de um sistema sequencial com acionamento elétrico

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78 Irrigação

Sistema sequencial com Tecnologias que são adaptadas prin- aplicação de fertilizantes e defensivos
acionamento pneumático cipalmente da indústria para a agricultura agrícolas de acordo com um programa
Esse sistema é semelhante ao sistema necessitam de tempo para se adequarem preestabelecido, que também pode avaliar
sequencial com acionamento elétrico e às características peculiares impostas pe- condições ambientais e de solo por meio de
hidráulico, porém o sinal enviado para los setores agrícolas, devendo o seu uso sensores, ajustando a irrigação em função
o acionamento das válvulas é feito por ser avaliado de modo criterioso, levando das reais necessidades hídricas da cultura.
meio de tubo de comando provido de ar em consideração principalmente critérios Em esquema de um sistema micro-
comprimido. como: manutenção e operacionalidade do processado, cada setor de campo irrigado
Muito utilizado na automação indus- sistema e a relação custo-benefício. recebe uma unidade que envia informações
trial, esse sistema foi adaptado para uso na para o controlador central via cabo ou
Método de controle não radiofrequência. Esses sistemas geren-
agricultura e seu funcionamento é idêntico sequencial
aos métodos de controle apresentados ciam dados climáticos ou dados enviados
anteriormente, diferindo apenas no sinal No método de controle não sequencial, por sensores para manejar o sistema de
de comando enviado para a abertura das as válvulas ou atuadores funcionam de for- irrigação em tempo real. Um exemplo é o
válvulas, nesse caso, de forma pneumática. ma automática e independente em relação sistema Irriwise divulgado pela Netafim.
O sistema necessita de uma fonte ao tempo e ao volume. Cada válvula pode
fornecer volumes de água diferentes em USO DA AUTOMAÇÃO EM
constante de ar comprimido pressuriza-
tempos diferentes, seguindo um programa PIVÔ CENTRAL
do, obtida por meio de um compressor.
Também são necessários equipamentos preestabelecido ou definido por sensores. Os conjuntos de irrigação tipo pivô
e acessórios específicos para esse tipo de Esse sistema controla válvulas inde- central possuem muitos dispositivos de
operação, principalmente válvulas e tubos pendentemente uma da outra, tanto do automação, controlados por um painel
de comando. ponto de vista de volume aplicado como central que pode ser digital ou analógico,
É possível encontrar alguns projetos de de frequência de irrigação, e cada setor de como apresentado na Figura 10. O painel
irrigação em café e citros que se utilizam irrigação pode receber diferentes lâminas possui um voltímetro para avaliação da
desse sistema e que funcionam de forma de irrigação. voltagem disponível, um horômetro para
satisfatória. A vantagem desse método Nesse sistema, o controlador é micro- contabilizar as horas de funcionamento e
seria o não comprometimento do correto processado, o que permite controlar vál- um percentímetro (canto superior esquer-
funcionamento do sistema, quando ins- vulas, sistemas de retrolavagem de filtros, do). A função do percentímetro é regular
talado a longas distâncias e em aclives e
declives muito acentuados, não havendo,
portanto, a necessidade de instalação de
componentes extras ao sistema como visto
anteriormente, evitando, assim, maiores
investimentos.
A desvantagem seria a total dependên-
cia do sistema de uma fonte de ar compri-
mido, especificamente um compressor.
Outro problema seria a dificuldade de
reparo imediato, na hipótese da ocorrência
de perda de pressão no sistema ocasionada
por rupturas ou defeitos em tubos de co-
mando e conexões.
Os vazamentos de ar comprimido do
sistema podem ser de difícil solução, pois
Luiz Antônio Lima

a localização do ponto exato para se rea-


lizar a manutenção não é visível, já que o
vazamento de ar comprimido não deixa
marcas no solo, como acontece com tubos
de comando hidráulicos. Figura 10 - Painel central analógico de pivô central

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a velocidade de deslocamento da última USO DA AUTOMAÇÃO NA de gastos operacionais e na racionalização


torre. Quando em 100%, a velocidade será FERTIRRIGAÇÃO do uso dos recursos hídricos de uma pro-
a máxima (em geral em torno de 250 m/h). Um sistema de fertirrigação automá- priedade.
Se acionado em 50%, a velocidade cai para tico possibilita diferentes alternativas de A potencialidade em aumentar a efici-
cerca de 125 m/h, o que permite aplicar ência de aplicação de água e fertilizantes,
operação, desde o funcionamento de um
maior lâmina d’água, pois a vazão dos reduzindo os custos de energia, insumos e
tanque misturador de fertilizantes até um
emissores permanece constante. É impor- mão de obra, pode transformar esses sis-
sistema completo que controla o valor de
tante salientar que, quando em movimento, temas, independentemente de seus custos,
condutividade elétrica (CE) e pH na água
a velocidade de deslocamento permanece a em uma ferramenta de grande valia no
de irrigação, incluindo a operação das
mesma (250 m/h), mas o percentímetro em planejamento do uso dos recursos hídricos
bombas, dispositivos de diagnóstico de
50% faz com que a torre desloque 50% de para o agricultor.
falhas e defeitos.
seu tempo e permaneça estática os outros
É apresentado, na Figura 12, um
50%. Este procedimento ocorre com a
sistema com quatro bombas injetoras de CONSIDERAÇÕES FINAIS
interrupção da energia elétrica capaz de
soluções químicas acionadas por um con- São muitas as possibilidades de auto-
movimentar o motorredutor posicionado
trolador posicionado acima e à esquerda mação e, com o tempo, novas tecnologias
em cada torre, que movimenta o redutor
das bombas, alimentado por sensor de pH e surgirão. Pode-se prever que, em poucos
da roda. Os painéis digitais utilizados em
pivô central também permitem ajustar a CE da água. Esse sistema permite a injeção anos, haverá outras aplicações, procedi-
velocidade de deslocamento, conforme de ácido e soluções fertilizantes para o tan- mentos e sensores. Algumas tendências
a posição do pivô no campo. Assim, é que cilíndrico azul à direita, que alimenta já se revelam, tal como o uso de redes
possível irrigar um quadrante com uma uma motobomba que, por sua vez, injeta a Wireless (sem fio). Inovadora ou não, a
velocidade e outro com outra, permitindo solução resultante na rede hidráulica. automação deve valorizar cada vez mais
a aplicação de diferentes lâminas. A utilização apropriada de sistemas a facilidade e a precisão da irrigação,
Outra automação existente em pivôs é automáticos para o fornecimento de nu- bem como a conservação dos recursos
a presença do pressostato, um dispositivo trientes às plantas pode auxiliar na redução hídricos.
que permite o pivô movimentar-se somente
quando a pressão da água atingir valores
adequados para o bom funcionamento da
irrigação. É importante ressaltar que, em
cada torre, há uma caixa de controle com
vários componentes elétricos (Fig. 11).
Luiz Antônio Lima

Luiz Antônio Lima

Figura 11 - Componentes da caixa de co-


mando de cada torre de um
pivô Figura 12 - Sistema de automação em fertirrigação

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Gestão de recursos hídricos nas atividades agrícolas


Antônio Marciano da Silva 1
Carlos Rogério de Mello 2
Polyanna Mara de Oliveira 3
Rosângela Francisca de Paula Vitor Marques 4

Resumo - A consideração dos recursos hídricos como bens públicos e a convocação da


sociedade para assumir espaços de decisão, repartindo com o Estado a responsabilidade
de uma gestão mais eficiente e equilibrada, vieram, sem dúvida, favorecer a consolida-
ção de uma cidadania corresponsável pelos interesses coletivos, resultado da conscien-
tização de que as questões ambientais também fazem parte das necessidades dos cida-
dãos. Assim, apresenta-se uma abordagem de pontos relevantes da evolução da gestão
dos recursos hídricos no Brasil, tendo o estado de Minas Gerais, como área geográfica
referencial de análise, uma interação com o seu Zoneamento Ecológico-Econômico do
Estado de Minas Gerais (ZEE-MG) e com os sistemas agrícolas, aqui representados pelo
cenário de evolução da cana-de-açúcar. Sinaliza-se a partir dessa abordagem de que se
deve ter sempre em conta que os principais vetores de desenvolvimento econômico de
Minas Gerais trazem algum impacto importante sobre a disponibilidade quantitativa e
qualitativa dos recursos hídricos estaduais, que se agravam quando se consideram a va-
riabilidade climática e as incertezas sobre as estatísticas utilizadas para a avaliação das
disponibilidades hídricas. Esses fatores tornam a gestão dos recursos hídricos uma ati-
vidade estratégica para o alcance do desenvolvimento sustentável em termos ambiental,
social e econômico. Isto remete à necessidade de que todo processo de planejamento de
desenvolvimento econômico e social requeira o estabelecimento de cenários e de avalia-
ção ambiental estratégica e integrada, para que se possam ter elementos de suporte ao
processo decisório.

Palavras-chave: Água. Potencial hídrico. Bacia hidrográfica. Legislação. Agricultura.

INTRODUÇÃO denominada recurso hídrico e dotada de hídricos é o consumo humano e a desse-


valor econômico. dentação de animais.
Desde os tempos remotos o acesso
à água converteu-se em fonte de poder A água atende a múltiplas utilidades, Classificam-se os recursos naturais
ou em ponto de discórdia e, neste caso, como abastecimento doméstico e indus- em renováveis e não renováveis ou exau-
quase sempre gerou conflitos. Essencial trial, dessedentação animal, geração de ríveis. Em muitos casos, há dificuldades
à vida, a água sempre foi, e é hoje com energia elétrica, irrigação, navegação, em estabelecer as fronteiras entre essas
maior intensidade, um fator preponde- recreação, turismo, aquicultura, pisci- categorias, pois há que inserir, necessaria-
rante e, cada vez mais, limitante para cultura, pesca e, ainda, assimilação e mente, o contexto dentro do qual se faz a
o desenvolvimento sócioeconômico do condução de esgoto. Em situações de análise. A água é considerada por muitos,
homem, passando, nesse contexto, a ser escassez, o uso prioritário dos recursos um recurso natural renovável, tendo-se

1
Eng o Agro, Pós-Doc, Prof. Tit. UFLA - Depto. Engenharia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
marciano@deg.ufla.br
2
Eng o Agrícola, Dr., Prof. Adj. UFLA - Depto. Engenharia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
crmello@deg.ufla.br
3
Enga Agrícola, D.Sc., Pesq. EPAMIG Norte de Minas/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG.
Correio eletrônico: polyanna.mara@epamig.br
4
Enga Florestal, Mestranda UFLA, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: rosa@posgrad.ufla.br

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Irrigação 81

como base sua capacidade de recompo- é reutilizada dentro da sua dinâmica de decrescente, não só no aspecto quantitati-
sição, propiciada pelas suas mudanças de circulação. vo como, principalmente, no qualitativo.
fase, ao circular na natureza por meio do Desde os primórdios da história Observa-se uma redução gradual do uso
ciclo hidrológico. até 1850, a população mundial cresceu da água em atividades agrícolas, em face
Entretanto, como a quantidade total vagarosamente, atingindo 1 bilhão de do crescimento da demanda industrial e
de água na Terra (1,386 milhão de km3) pessoas. A explosão demográfica ocorreu do consumo humano em função de sua
tem permanecido de modo constante no século 20 com o aumento de, aproxi- modernização. À medida que a sociedade
durante os últimos 500 milhões de anos, madamente, 5 bilhões de habitantes, con- se sofistica, exigindo mais dos recursos
conforme dados coletados por cientistas centrados principalmente nos países da naturais, os efeitos dessa pressão fazem-se
soviéticos, e como não se “fabrica água”, Ásia e África. Verifica-se, na atualidade, sentir nos recursos naturais, especialmen-
pode-se considerá-la como um recurso uma redução gradativa do crescimento de- te nos recursos hídricos.
natural que, ao realizar as etapas do ciclo mográfico, mas, mesmo assim, o mundo Sendo a água um recurso indispensá-
hidrológico na natureza, se apresenta terá 9 bilhões de habitantes em 2048, uma vel à vida, é de fundamental importância
sob diferentes fases físicas, nos diversos média de 1 bilhão de habitantes a cada a discussão de suas relações com o ho-
sítios ou reservatórios, onde ocorre, com 16 anos, demandando principalmente mem, uma vez que a sobrevivência das
qualidade e estado de energia, também empregos, energia e alimentos. gerações futuras depende diretamente das
diferenciados. Com o crescimento populacional, a hu- decisões que hoje estão sendo tomadas e,
Em média a água evaporada fica na manidade vê-se compelida a usar a maior em particular, daquelas relacionadas com
atmosfera em torno de oito dias, o que quantidade possível de solo agricultável, o a gestão dos recursos hídricos.
lhe dá um caráter dinâmico e potencial- que vem impulsionando o uso da irrigação, Este artigo tem como objetivo rever
mente renovador. Por outro lado, a água não só para complementar as necessidades pontos relevantes da evolução da gestão
presente em outros reservatórios tem um hídricas das regiões úmidas, como para dos recursos hídricos, fazendo-se uma
processo de renovação mais lento, como tornar produtivas as áreas áridas e semiá- abordagem sobre estes em sistemas
é o caso da umidade do solo e da água ridas do globo, as quais constituem, apro- agrícolas, tendo o estado de Minas Ge-
subterrânea. A água oriunda dos oceanos ximadamente, 55% de sua área continental rais, como área geográfica referencial
é recirculada, em média, 2,7 vezes sobre a total. Atualmente, quase 50% da população de análise.
terra, por meio do processo precipitação- mundial depende de produtos irrigados.
evaporação, antes de escoar de volta para Essa informação reafirma ainda mais a HISTÓRICO DAS AÇÕES
os oceanos. Essa característica é funda- importância que a água assume para uma RELACIONADAS COM A
mental no contexto do controle ambien- agropecuária sustentável, que, além de GESTÃO DOS RECURSOS
HÍDRICOS
tal e, em particular, dentro da ótica de atender a uma demanda crescente de pro-
preservação da qualidade da água, pois, dução e produtividade, deve também aten- O Quadro 1 apresenta um panorama
o ciclo hidrológico é, em síntese, uma tar para a conservação e preservação de um histórico das principais ações relacionadas
demonstração que naturalmente a água recurso que é finito e com disponibilidade com a gestão de recursos hídricos.

QUADRO 1 - Síntese histórica das principais ações relacionadas com a gestão de recursos hídricos no Brasil (continua)
Época/Período Ação característica/Marco referencial Meta/Objetivo
1723 Construção do primeiro aqueduto da Lapa. Aumentar o beneficio à população, com o atendimento de serviços
básicos de saneamento.

1864 Adoção de sistema de coleta de esgoto da cidade Ser a primeira cidade brasileira e a quinta do mundo a beneficiar-
do Rio de Janeiro. se deste serviço.

Década de 1920 Implantação da Inspetoria de Águas e Esgotos. Reverter a insatisfação generalizada, pelo precário atendimento
dos serviços de saneamento e pela falta de novos investimentos
para ampliação das redes de saneamento.

1934 Aprovação do Decreto no 24.643 que instituiu o Estabelecer regras de controle para o uso e aproveitamento dos recur-
Código de Águas (BRASIL, 1934). sos hídricos, principalmente com fins energéticos e definir a base para
Criação do Departamento Nacional de Produção a gestão pública de saneamento, sobretudo água para abastecimento.
Mineral (DNPM).
1939 Criação do Conselho Nacional de Águas e Energia Promover a implantação e o controle da exploração de água como
Elétrica (CNAEE). força hidráulica para geração de energia.

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82 Irrigação

(continuação)
Época/Período Ação característica/Marco referencial Meta/Objetivo
Década de 1940 1o modelo de planejamento regional: Plano Geral Promover o desenvolvimento regional a partir de investimentos
(fim da 2a Guerra de Aproveitamento do Vale do Rio São Francisco em obras hidráulicas e de infraestrutura básica complementadas
Mundial) com Programa de Desenvolvimento Agrícola.
Departamento Nacional de Obras de Saneamen- Construir sistemas de águas e esgotos, além de obras de drenagem,
to (DNOS) estendido a todo território nacional aterros e canais.
a partir da experiência adquirida na Baixada
Fluminense.
Criação do Código Penal de 1940 (BRASIL, 1940). Penalizar pela poluição de água potável com dois a cinco anos
de reclusão.

1946 Constituição de 1946 (BRASIL, 1946). Regulamentar a utilização dos recursos naturais, reservando à
União a competência de legislar sobre as águas.

Década de 1950 Criação dos modelos de gestão de saneamento Gerir serviços de saneamento (abastecimento e esgotamento
de águas e esgotos – Serviço Autônomo de Água sanitário) instituídos como Autarquias com atuação simultâ-
e Esgoto (Saae). nea de órgãos governamentais, nos níveis federal, estadual ou
municipal.

1953 Aprovado o primeiro Plano Nacional de Sa- Regulamentar metas e diretrizes na área de saneamento.
neamento.
Criação da Fundação de Serviços de Saúde Pú- Introduzir o princípio da autossustentação tarifária – utilização
blica (Fsesp). de taxas progressivas para custeio da operação e manutenção dos
Sistemas de Saneamento Básico.

Meados da década Transformação da Divisão de águas do DNPM Adequar as estruturas física e orgânica para desempenhar o papel
de 1960 em Departamento Nacional de Águas e Energia de gestão na área de produção de hidroenergia.
(DNAE) e depois em Departamento Nacional de
Água e Energia Elétrica (DNAEE).
DNAEE fica subordinado ao Ministério das Minas Responsabilizar este Ministério pela tutela da água – período de
e Energia. grandes obras hidrelétricas.

1961 Decreto no 49.974-A regulamentou o Código Na- Prever tratamento de águas residuárias de qualquer natureza,
cional de Saúde (BRASIL, 1961). as quais alterem a composição das águas receptoras, obrigando
as indústrias a submeterem planos de tratamento de resíduos a
autoridades sanitárias competentes.

1965 A Unesco lançou o “Decêndio Hidrológico In- Inventariar os recursos hídricos e capacitar pessoal técnico no
ternacional”. seu manejo.

1967 Constituição Federal (BRASIL, 1967) e Emenda Implementar regras genéricas e competência da União para legislar
Constitucional 01/69 (BRASIL, 1969). sobre as águas.

1969 Criação do Plano Nacional de Saneamento Implantar uma política nacional para provimento de serviços de
(Planasa). água e esgotos. A cobertura dos serviços de abastecimento de água
foi ampliada e do esgotamento sanitário reduzida.

1972 Conferência da ONU – Meio Ambiente. Organizar o setor ambiental.

1973 Criação da Secretaria Especial de Meio Ambiente Promover ações de controle da degradação ambiental e da polui-
(Sema). ção generalizada.

1976 Ação conjunta entre o Ministério das Minas e Programar melhoria das condições sanitárias do Rio Tietê e
Energia e o governo do estado de São Paulo. Cubatão.

Criação do Comitê Especial de Estudos Integrados Atuar em conjunto DNAEE, Sema, Eletrobras e Departamento
de Bacias Hidrográficas (CEEIBH). Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) – nas bacias de rios
federais, promovendo estudo integrado e acompanhamento da
utilização racional de recursos hídricos.

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(conclusão)
Época/Período Ação característica/Marco referencial Meta/Objetivo
1977 Conferência da Água das Nações Unidas instituin- Estimular o crescimento da oferta de abastecimento de água tra-
do o “Decêndio Internacional de Abastecimento tada e coleta e tratamento de esgoto sanitário.
de água potável e Saneamento 1980-1990”.
Bacia hidrográfica retomada como unidade terri- Equacionar problemas de poluição e conflitos intersetoriais de
torial de planejamento. usos da água.

Início dos anos 80 Estabelecido o Programa Nacional de Meio Am- Estabelecer diretrizes das ações ambientais.
biente (PNMA).
Previsão da implantação do Sistema Nacional do Formular as políticas ambientais e participação pública de orga-
Meio Ambiente (Sisnama), tendo como instância nizações públicas e representativas da sociedade civil.
superior o Conselho Nacional do Meio Ambiente
(Conama).

1985 Criação do Ministério de Desenvolvimento Urba- Estabelecer estrutura orgânica para implementar política e pro-
no e Meio Ambiente. gramas ambientais.

1988 Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988). Prever a necessidade de implementação de instrumentos de gestão
integrada e controle dos recursos hídricos. Água – recurso natural
de domínio público.

1989 Criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente Executar a política ambiental e fiscalizar as ações vinculadas ao
e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). ambiente.

1992 Criação do Ministério do Meio Ambiente. Enfatizar a importância da gestão das questões ambientais.

Realizada a Conferência Mundial de Meio Am- Elaborar a Carta da Terra e a Agenda 21, com ênfase para a gestão dos
biente (ECO 92 – Rio de Janeiro) recursos naturais e em particular a água (pensar na sua escassez).

1997 Criação da Lei no 9.433 – Lei das Águas (BRASIL, Estabelecer a Política Nacional de Recursos Hídricos e criar o Sis-
1997). tema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh).
2000 Criação da Agência Nacional de Águas (ANA). Implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos e coordenar
o Singreh.
2008 Minas Gerais – Lei no 17.727, de 13 de agosto de Conceder incentivo financeiro para agricultores que atuem na
2008 – Bolsa Verde (MINAS GERAIS, 2008). recuperação, preservação e conservação de formações ciliares e
áreas de recarga de aquíferos, etc.

LEGISLAÇÃO BRASILEIRA necessidade de autorização (outorga) para de 31/8/81 (BRASIL, 1981), caracteriza
SOBRE ÁGUA uso da água, com prazo limitado, bem a água como recurso ambiental. Esta Lei
como, do pagamento pelo uso e de situa- foi regulamentada pelo Decreto no 97.632
Síntese dos principais ções em que o poluidor deverá responder
marcos regulatórios de 10/4/89 (BRASIL, 1989a) e Decreto
pelos prejuízos que causar a terceiros. no 99.274 de 6/6/90 (BRASIL, 1990a) e
O Código de Águas, marco legal ini- Com a promulgação da Constitui- alterada em sua redação pela Lei no 7.804
cial da Gestão das Águas, surgiu com o ção Federal de 1988 (BRASIL, 1988),
de 18/7/89 (BRASIL, 1989b) e Lei no 8.028
Decreto no 24.643 de 10/7/34 (BRASIL, questões básicas relativas a água foram
de 12/4/90 (BRASIL, 1990b). Nesta Lei e
1934). Embora seja antigo, ainda consti- inseridas (todos os corpos d’água pas-
dispositivos regulamentadores, existem
tui legislação básica brasileira de águas, saram a ser de domínio público, sendo
pelo menos quatro instrumentos previs-
naquilo que não conflita com a Constitui- considerados como bens do Estado ou da
ção de 1988 (BRASIL, 1988) ou com a União – artigos 20; 26 e 176), e estabele- tos que incidem sobre o uso da água. São
Lei no 9.433 de 8/1/97 (BRASIL, 1997) ceu o Sistema Nacional de Gerenciamento eles: Padrões de Qualidade Ambiental,
e Lei no 9.984 de 17/7/2000 (BRASIL, de Recursos Hídricos (Singreh) (art. 21, Avaliação de Impacto Ambiental, Zo-
2000). Vale destacar dentre vários artigos 22, 23,24, 30, 165, 182 e 225). neamento Ambiental e Licenciamento
ainda atuais, art. 43, 46, 48, 49, 52, 109, A Política Nacional de Meio Ambien- de atividades efetivas ou potencialmente
110, 111 e 112. Nestes, há a previsão da te (PNMA), expressa pela Lei no 6.938 poluidoras.
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A Política Nacional de Irrigação é belecendo suas legislações, em caráter Enquadramento de corpos


outro instrumento legal consubstanciado complementar e específico, naquilo que d’água em classes de usos
pela Lei no 6.662 de 25/6/79 (BRASIL, couber. O estado de São Paulo, pionei- preponderantes
1979) que foi regulamentada pelo Decre- ro no País, teve sancionada a sua Lei Em relação ao enquadramento dos
to no 89.496 de 29/3/84 (BRASIL, 1984). no 7.663, em 30 de dezembro de 1991 cursos de água segundo uso preponde-
O art. 21 desta Lei estabelece que: (SÃO PAULO, 1991). rante, existem algumas experiências em
a utilização de águas públicas, para fins Em 17 de julho de 2000, foi san- andamento, porém o que se constata é a
de irrigação e atividades decorrentes, cionada a Lei no 9.984 (Brasil, 2000), grande dificuldade de implementação
dependerá de remuneração a ser fixada que criou a Agência Nacional de Águas de programas e práticas condizentes
de acordo com a sistemática estabeleci- (ANA), entidade federal, responsável com os requisitos da classe e, acima de
da em regulamento. (BRASIL, 1979). pela implementação da Política Nacional tudo, dos mecanismos de fiscalização
de Recursos Hídricos e pela coordenação e controle. Conforme definida pela
A Lei no 9.433/97 (BRASIL, 1997), do Sistema Nacional de Informações Resolução CNRH n o 91 de 5/11/2008
sancionada pelo Presidente da República sobre Recursos Hídricos (SNIRH), como (CONSELHO NACIONAL DE RECUR-
em 8 de janeiro de 1997, estabelece a
parte integrante do Singreh. SOS HÍDRICOS, 2009), são quatro as
Política Nacional de Recursos Hídricos e
etapas necessárias para a realização do
o Singreh. Esta constitui um marco para Instrumentos da Política enquadramento:
o planejamento e a gestão dos recursos Nacional de Recursos
hídricos no Brasil, por estar embasada Hídricos I - diagnóstico;
em princípios básicos, norteadores da Os instrumentos previstos na Política II - prognóstico;
gestão das águas no âmbito mundial. Nacional de Recursos Hídricos estão III - proposta de metas relativas às
Tais princípios, de forma resumida, alternativas de enquadramento; e
gradativamente sendo implementados,
assim se apresentam:
num processo de autoaprendizagem e IV - programa de efetivação.
a) bacia hidrográfica é a unidade de de internalização da cultura da gestão
Como pode ser avaliado, além da
planejamento e gestão dos recursos dos recursos hídricos, como bem público
superação das etapas, que requerem
hídricos; estratégico.
um investimento vultoso, outro grande
b) todos os setores usuários de água têm desafio a ser vencido é elevar o nível de
Plano de recursos hídricos
igual acesso ao uso deste recurso; conscientização da sociedade em termos
c) a água é um bem finito e vulnerável; Em nível da União Federativa existe de internalizar e praticar o desenvolvi-
o Plano Nacional de Recursos Hídricos mento ambientalmente sustentável.
d) a gestão dos recursos hídricos deve
(PNRH) aprovado em 2006, que está
ser descentralizada e participativa.
em processo adiantado de atualização, Outorga dos direitos de uso
Em seu art. 5 o, a Lei n o 9.433/97 contemplando uma visão integradora da água
(BRASIL, 1997) elenca os instrumentos dos diferentes níveis de gestão, pro- A outorga do direito de uso da água
da Política Nacional de Recursos Hídri- gramas e metas projetados para 2025. é um instrumento jurídico que tem por
cos, quais sejam: Minas Gerais também possui em vi- objetivo:
I) os Planos de Recursos Hídricos; gência um Plano Estadual de Recursos
Hídricos (PERH) aprovado em 2005. assegurar controle quantitativo e qua-
II) o enquadramento dos corpos de
O Conselho Estadual de Recursos Hí- litativo dos usos da água e o efetivo
água em classes, segundo os usos
dricos de Minas Gerais (CERH-MG) exercício dos direitos de todo usuário
preponderantes da água;
tem como meta a aprovação, ainda ao seu acesso. (BRASIL, 1997).
III) a outorga dos direitos de uso de
em 2010, de uma versão atualizada do Ou ainda, assegurar à atual e às fu-
recursos hídricos;
PERH, com a inclusão de programas turas gerações a necessária disponibili-
IV) a cobrança pelo uso de recursos de desenvolvimento para os diferentes dade de água, em padrões de qualidade
hídricos; setores da economia, além dos previs- adequados aos respectivos usos – Lei
V) a compensação a municípios; tos nos planos de bacia, os quais já no 9.443/97, art. 11 (BRASIL, 1997). A
VI) o sistema de Informações sobre acumulam número significativo, numa outorga é o instrumento obrigatório que
Recursos Hídricos. efetiva demonstração de que a ativida- regulariza, no órgão gestor, a situação do
Paralelamente e simultaneamente os de de gestão está sendo exercitada em usuário de água, que passa a ter o direito
Estados e o Distrito Federal foram esta- diferentes esferas e hierarquias. outorgado de utilizar uma quantidade de
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água, com prazo de validade e tempo de de 30% da Q7,10, devendo em qual- no prazo de um ano da data de pu-
uso, devidamente especificados e trans- quer situação, garantir o fluxo resi- blicação ou do fim das obras.
critos na Portaria, que deve ser publicada dual de, no mínimo, 70% da Q7,10;
nos Diários Oficiais, para tornar público b) quando houver regularização, vazão Cobrança pelo uso da água
o direito outorgado. O poder outorgante maior pode ser retirada desde que Com relação à cobrança pelo uso da
será a União, os Estados ou o Distrito garantido o fluxo residual mínimo água, a Constituição Federal de 1988
Federal, dependendo a quem o domínio de 70% da Q7,10; é omissa. Entretanto, seu art. 22 esta-
da água outorgada esteja adstrito. Trata-
c) no caso de água subterrânea, “a va- belece ser da competência privativa da
se de um ato administrativo sujeito ao
zão total outorgável’’ deverá estar União legislar sobre águas (BRASIL,
exercício do Poder de Polícia, e pressu-
associada à capacidade de recarga 1988). O Decreto no 24.643/34 dispõe
põe o uso privativo de um bem público.
do aquífero, sendo da competência em seu art. 36 da possibilidade de cobrar
Antes da implantação de qualquer
dos Estados e do Distrito Federal a pelo uso da água (BRASIL, 1934). A Lei
intervenção que venha a alterar o regime,
gestão desses recursos. no 9.433/97 (BRASIL, 1997) estabelece
a quantidade ou a qualidade das águas, o
futuro usuário deve solicitar a outorga. A outorga pode ser suspensa nos se- de forma mais contundente a cobrança
As outorgas em águas de domínio do guintes casos: (art. 19, 20, 21 e 22).
estado de Minas Gerais são obtidas a) não cumprimento dos termos da A necessidade de conservar, qualita-
no Instituto Mineiro de Gestão das outorga; tiva e quantitativamente as águas de um
Águas (Igam) e nas Superintendências curso, a fim de permitir seus usos atuais
b) não utilização da água por três anos
Regionais de Meio Ambiente e De- e futuros, exige investimentos vultosos,
consecutivos;
senvolvimento Sustetável (Suprams) cada vez mais crescentes, o que não deve
c) necessidade premente de água para
Lei n o 13.199 de 29/1/1999 (MINAS ser uma tarefa exclusiva do governo.
atender a situações de calamidade;
GERAIS, 1999). As outorgas em águas A cobrança tem sido adotada em
de domínio da União são concedidas d) necessidade de prevenir ou reverter muitos países, inclusive nos desenvol-
pela ANA por meio da Lei no 9.984/2000 grave degradação ambiental;
vidos, onde também funciona como
(BRASIL, 2000). e) necessidade de atender a usos prio- incentivo indireto, para que os usuários
Estão sujeitas à outorga do direito de ritários; modifiquem seus hábitos e alterem suas
uso, todas as intervenções que alterem f) necessidade de manter as caracte- tecnologias, reduzindo perdas e custos
a qualidade, a quantidade ou o regime rísticas de navegabilidade do corpo excessivos de seu tratamento. Segundo
dos corpos d’água (incluindo os usos não d’água; Lanna (1997), algumas premissas básicas
consuntivos), e independentemente da
g) não fazer uso do direito outorgado devem ser estritamente observadas:
natureza pública ou privada da atividade.
Independem de outorga o abasteci-
mento a pequenos núcleos populacionais
rurais (não regulamentado), e acumu- Captações e derivações
lações, derivações, captações e lança- Acumulações com volume máximo
mentos considerados insignificantes
que, entretanto, devem estar cadastrados 0,5 L/s
no Igam. Para Minas Gerais, os usos 3.000 m³
insignificantes estão regulamentados
para as diferentes Unidades de Planeja- 1,0 L/s
mento e Gestão dos Recursos Hídricos 5.000 m³

(UPGRH) do estado de Minas Gerais


pela Deliberação Normativa n o 9 de
16/6/2004 (CONSELHO ESTADUAL
DE RECURSOS HIDRÍCOS, 2004), Poços manuais, surgências e cisternas:
sintetizada na Figura 1. 10 m³/dia para todo o Estado

São critérios de outorga:


Figura 1 - Usos que independem de outorga para as Unidades de Planejamento e Gestão
a) para captação direta no curso de dos Recursos Hídricos (UPGRH) do estado de Minas Gerais
água, a vazão máxima outorgável é FONTE: Conselho Estadual de Recursos Hídricos (2004).

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a) a receita gerada pela cobrança deve estabelecimento de uma rede de monito- Sistema Nacional de
ser compatibilizada com as neces- ramento do clima e dos recursos hídricos Gerenciamento de Recursos
sidades de investimento na própria (em termos quantitativos e qualitativos), Hídricos
bacia hidrográfica; de um sistema de comunicação integrado, O Singreh é integrado pelos seguintes
b) o valor cobrado deve ser compatível além de sistema de análise dos dados órgãos e colegiados, cujo arranjo orgânico
com a capacidade de pagamento do obtidos, para dar credibilidade à infor- evidencia-se na Figura 2:
usuário; mação disponibilizada para a sociedade.
a) Conselho Nacional de Recursos
Há que se reconhecer o grande avanço já
c) o valor cobrado pela poluição hídrica Hídricos (CNRH);
alcançado neste sistema, nos últimos 10
não confere “direitos para poluir’’; b) ANA;
anos, seja em nível Federal, sob a batuta
d) o valor cobrado dos serviços de c) Conselhos de Recursos Hídricos dos
da ANA, que disponibiliza um banco de
saneamento básico (água e esgoto), Estados e do Distrito Federal;
dados de boa qualidade, principalmente
deve ser significativamente menor d) Comitês de Bacia Hidrográfica;
sobre vazão e cotas (recursos hídricos) e
que o cobrado para outros usos, e) Órgãos dos poderes públicos fede-
precipitação, via sistema Hidroweb, bem
pois há um forte “enlace” entre estes rais, estaduais e municipais relacio-
como, o dispêndio de grandes esforços
serviços e a saúde pública; nados com a gestão das águas;
no cadastramento de usuários. Na esfera
e) o valor cobrado da agricultura deve do estado de Minas Gerais merece desta- f) Agências de Água.
considerar os benefícios decorrentes car o trabalho desenvolvido pelo Igam,
O conjunto de órgãos e entidades que
de um manejo adequado do solo que vem desenvolvendo uma série de atuam na gestão dos recursos hídricos no
agrícola. atividades relacionadas com o Sistema Brasil é chamado “Sistema Nacional de
As motivações para a cobrança pelo uso Estadual de Informações sobre Recursos Gerenciamento de Recursos Hídricos”. A
da água podem ser agrupadas em: Hídricos (Seirh), podendo-se destacar denominação foi dada pela Constituição
o sistema Fundo de Recuperação, Pro- Federal de 1988 (art. 21, inciso XIX)
a) financeira: recuperação de inves- teção e Desenvolvimento das Bacias (BRASIL, 1988) e repetida no Título II
timentos e pagamentos de custos Hidrográficas do Estado de Minas Gerais da Lei no 9.433/97 (BRASIL, 1997).
operacionais e de manutenção, (Fhidro), a Base Ottocodificada de Bacias O fato de a Constituição Federal de
geração de recursos para a expansão Hidrográficas de Minas Gerais, sistema 1988 ter inserido o tema em seu texto
dos serviços; de outorgas, e, sobretudo a densa rede tem como imediata consequência a
b) econômica: estímulo ao uso produ- de monitoramento da qualidade de água obrigação para a União, os Estados,
tivo ou racionalizado do recurso; superficial, que conta com uma série his- o Distrito Federal e os Municípios de
c) distribuição de renda: transferência tórica de mais de dez anos consecutivos e articularem na gestão das águas. A exis-
de renda de camadas mais privile- dispõe, em 2010, de quase 300 estações. tência de um sistema hídrico não elimina
giadas economicamente para aque- Outra ação de fôlego do Igam diz respeito a autonomia das entidades federadas;
ao cadastro de usuários, que em pratica- mas, o art. 18, da referida Constituição
las menos privilegiadas;
(BRASIL, 1988), relata que a autonomia
d) equidade social; mente dois anos conseguiu multiplicar
existe nos termos desta constituição. As-
por 10 o número de usuários cadastrados
e) sustentabilidade ambiental. sim unidos, Estados, Distrito Federal e
e em processo de regularização.
Municípios são autônomos e, ao mesmo
No Brasil, os casos mais comuns de Felizmente os avanços tecnológicos,
tempo, obrigatoriamente integrados no
cobrança pelo uso da água são aqueles sustentados por um período de inves-
Sistema Nacional de Gerenciamento de
com base na Lei da Política Nacional de timentos financeiros substanciais no
Recursos Hídricos.
Irrigação – Lei no 6.662/79 (BRASIL, sistema – Fundos Setoriais do Ministério A existência constitucional desse Sis-
1979) e dos serviços de água e esgoto. da Ciência e Tecnologia (MCT) –, propi- tema Nacional não permite que os Estados
ciaram uma mudança expressiva e para organizem a cobrança pelos diferentes
Sistema Nacional de melhor, do quadro de informações sobre usos dos recursos hídricos sem a imple-
Informações sobre Recursos
recursos hídricos e clima, favorecendo mentação das Agências de Águas, com
Hídricos
a realização de estudos hidrológicos a exceção do art. 51 da Lei no 9.433/97
A atividade de gestão pressupõe o co- de elevada qualidade pela comunidade (BRASIL, 1997), e a instituição dos
nhecimento do objeto a ser gerido. Neste técnico-científica brasileira nessa área Comitês de Bacias Hidrográficas. Não há
contexto, assume importância ímpar o do conhecimento. um sistema federal de recursos hídricos e
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Sistema de Gerenciamento dos Recursos Hídricos

FORMULAÇÃO DA POLÍTICA IMPLEMENTAÇÃO DOS


INSTRUMENTOS DE POLÍTICA
ÂMBITO

ORGANISMOS ADMINISTRAÇÃO PODER ENTIDADE DA


COLEGIADO DIRETA OUTORGANTE BACIA

NACIONAL
CNRH MMA/SRHU ANA

COMITÊ DE AGÊNCIA
BACIA DE BACIA

CERH SEMAD IGAM

ESTADUAL

COMITÊ DE AGÊNCIA
BACIA DE BACIA

Figura 2 - Esquema do Sistema de Gerenciamento dos Recursos Hídricos – Nacionais e do estado de Minas Gerais
NOTA: CNRH - Conselho Nacional de Recursos Hídricos; MMA - Ministério do Meio Ambiente; SRHU - Secretaria de Recursos Hídricos
e Ambiente Urbano; ANA - Agência Nacional de Águas; CERH - Conselho Estadual de Recursos Hídricos; SEMAD - Secretaria
de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; IGAM - Instituto Mineiro de Gestão das Águas.

um sistema estadual de recursos hídricos V - promover a cobrança pelo uso de Comitês de Bacia
isolados e com regras não convergentes. recursos hídricos. Hidrográfica
Os Estados e o Distrito Federal poderão
O conceito de sistema hídrico é um Os Comitês de Bacia Hidrográfica
adaptar estas instituições hídricas às suas
imperativo da natureza, pois os cursos constituem a base do Singreh. Têm
peculiaridades, desde que respeitem as
de água, na maioria das vezes, não ter- como objetivo a gestão participativa e
características gerais do Sistema Nacional
minam num município ou num Estado descentralizada dos recursos hídricos
e dos Comitês e das Agências referidas,
ou mesmo num país, o que sinaliza a naquele território, utilizando-se da im-
que estão apontados na Lei no 9.433/97
possibilidade de ter sistemas hídricos plementação dos instrumentos técnicos
(BRASIL, 1997).
continentais de recursos hídricos inte- de gestão, harmonizando os conflitos e
O Singreh tem como objetivos fixa-
grando os diversos países de uma mesma promovendo a multiplicidade dos usos
dos na Lei no 9.433/97, em seu art. 32
(BRASIL, 1997): bacia hidrográfica. da água, respeitando a dominialidade
A gestão das águas é descentralizada das águas, integrando as ações de todos
I - coordenar a gestão integrada das no Singreh, mas não pode ser antagônica os governos, no âmbito dos Municípios,
águas; dos Estados e da União, propiciando
e desordenada. As Agências de Águas, os
II - arbitrar administrativamente os Comitês de Bacia Hidrográfica, os Con- o respeito aos diversos ecossistemas
conflitos relacionados com os selhos de Recursos Hídricos dos Estados naturais, promovendo a conservação e
recursos hídricos; e o CNRH são ligados por laços de hie- recuperação dos corpos d’água, garan-
III - implementar a Política Nacional rarquia e de cooperação. O arbitramento tindo a utilização racional e sustentável
de Recursos Hídricos; dos possíveis conflitos de águas não será dos recursos para a manutenção da boa
IV - planejar, regular e controlar o uso, feito somente pelo Poder Judiciário, mas qualidade de vida da sociedade local.
a preservação e a recuperação dos passa a ter instâncias administrativas Dentre suas principais competências
recursos hídricos; anteriores às do próprio Singreh. destacam-se:
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a) arbitrar os conflitos relacionados Ambiental (Codema), inserido no Sistema os recursos ambientais e, em particular,
com os recursos hídricos naquela Municipal de Meio Ambiente (Sismuma). sobre os estoques de água do planeta.
bacia hidrográfica; Além destes Conselhos existem outras Essas questões conduzem a reflexões
b) aprovar o Plano de Recursos Hídri- organizações sociais que contribuem para sobre novos meios de garantir a susten-
cos da Bacia Hidrográfica; a gestão dos recursos hídricos. tabilidade das atividades agropecuárias
c) acompanhar a execução do Plano e sob a ótica da segurança alimentar e
sugerir as providências necessárias Agências de Água nutricional, aliadas à proteção do meio
ao cumprimento de suas metas; As Agências de Água são os órgãos ambiente.
executores da política e dos programas A agricultura irrigada em escala
d) estabelecer os mecanismos de
cobrança pelo uso de recursos hí- previstos em cada plano de bacia. Sua le- mundial ocupava em torno de 18% (275
dricos e sugerir os valores a serem galização requer a aprovação pelo CNRH milhões de hectares) da área total culti-
cobrados; e os Conselhos de Recursos Hídricos dos vada no planeta (1,5 bilhão de hectares),
Estados, conforme a dominialidade das consumindo, aproximadamente, 70% do
e) definir os investimentos a serem
águas, por proposição do respectivo total de água de qualidade usada, valor
implementados com a aplicação dos
Comitê de Bacia. No Brasil e em Minas superior à quantidade consumida pelo
recursos da cobrança.
as Agências em funcionamento ainda são setor industrial (21%) e pelo consumo
A Lei n o 9.433/97 estabelece dois em número limitado, mesmo porque um doméstico (9%) (SANTOS, 2000). Es-
tipos de Comitês de Bacia Hidrográfica, dos grandes argumentos para sua orga- tima-se que o Brasil apresente em torno
o primeiro mencionado no art. 37, pa- nização é a existência de programas de de 3,7 milhões de hectares irrigados, ou
rágrafo único e o segundo indicado no desenvolvimento dos recursos hídricos seja, quase 5,9% da área plantada. A área
art. 39, § 4o, respectivamente: dentro do âmbito da bacia, que tenham irrigada responde por mais de 16% do
A instituição de Comitês de Bacia Hi- recursos financeiros para sustentá-los, volume total de produção e 35% do valor
drográfica em rios de domínio da União incluindo-se aí a cobrança pelo uso da econômico total da produção, enquanto
será efetivada por ato de Presidente da água, que ainda está em fase de avaliação no mundo estes números ficam em 44% e
República. A participação da União da viabilidade de implantação na maioria 54%, respectivamente (CHRISTOFIDIS,
nos Comitês de Bacia Hidrográfica das bacias hidrográficas. 2002). Portanto, uma unidade de área
com área de atuações restrita a bacias irrigada equivale a, aproximadamente,
de rios sob domínio estadual, dar-se-á USO DE RECURSOS HÍDRICOS 2,7 unidades de área não irrigada em
na forma estabelecida nos respectivos NA AGRICULTURA
termos de volume de produção e a 5,9
regimentos. (BRASIL, 1997).
A grande demanda por alimentos, o unidades em termos de valor econômi-
uso intenso em agricultura, indústrias co da produção agrícola. No Quadro 2,
Órgãos dos poderes
e residências e as mudanças climáticas apresenta-se uma síntese dos indicadores
públicos com interface
com a gestão dos recursos têm proporcionado maior pressão sobre relativos às áreas plantadas e irrigadas.
hídricos
Vários órgãos vinculados ao poder QUADRO 2 - Indicadores de áreas plantadas e irrigadas dos 62 principais cultivos (2003/2004)
público, nas diferentes hierarquias atuam
complementarmente na gestão dos recur- Cultivos Cultivos Área Área Área irrigada/
Brasil/Regiões permanentes temporários plantada total Irrigada Área plantada
sos hídricos. A Lei no 6.938/81 (BRASIL, (106 ha) (106 ha) (106 ha) (106 ha) (%)
1981) institui o Conselho Nacional do
Meio Ambiente (Conama), que se insere Brasil 6,35 52,11 58,46 3,44 5,89
no Sistema Nacional do Meio Ambiente
(Sisnama), onde as associações ambientais Norte 0,58 1,98 2,56 0,001 3,89

e os setores dos empresários e empregados


Nordeste 2,27 9,71 11,98 0,07 6,12
foram representados. Em nível de Estado,
existe o Conselho Estadual de Política Sudeste 2,90 8,85 11,75 0,99 8,41
Ambiental (Copam), ou similar, que se
vincula ao Sistema Estadual do Meio Am- Sul 0,48 18,74 19,22 1,30 6,77

biente (Sisema), e em nível de municípios


Centro-Oeste 0,12 12,83 12,95 0,32 2,46
o Conselho Municipal de Desenvolvimento
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Irrigação 89

Com base em estudos realizados para


21%
a elaboração do Zoneamento Ecológico-
Econômico do Estado de Minas Gerais
(ZEE-MG), pôde-se avaliar a situação dos
recursos hídricos quanto à outorga do direi- 55%
7%
to de uso da água, que está sintetizada no
Gráfico 1, representativa de um momento,
visto que esta questão tem uma dinâmica 17%
muito intensa e se altera continuamente,
exigindo assim muita atenção do órgão Irrigação Abastecimento Industrial Outros
gestor para identificar possíveis conflitos
Gráfico 1 - Situação de outorgas de direito de uso da água, por modalidade de uso em
e gerenciá-los. Minas Gerais
Constata-se que a irrigação é também FONTE: Silva, Mello e Coelho (2008).
em Minas Gerais, um uso dos mais rele-
vantes requerendo por parte de todos os
segmentos (usuários e gestores de recur-
sos hídricos) um esforço no sentido da
prática da racionalidade técnica, aliada a
uma maior eficácia no uso, para alcançar
mais produtividade por unidade de água
consumida.
Ainda com base no ZEE-MG pôde-se
avaliar a situação dos recursos hídricos
no Estado, tanto superficial quanto sub-
terrâneo, e o seu grau de comprometi-
mento, representado pela relação volume
outorgado/volume outorgável.
A representação dos recursos hídricos
por meio do indicador vulnerabilidade
natural (Fig. 3A) deve-se ao fato de que A
todos os recursos ambientais foram assim
representados, segundo metodologia pro-
posta pelo Ministério do Meio Ambiente
(MMA). No Quadro 3, apresenta-se o
critério que permitiu converter índices de
RE7,10 (rendimento ou vazão específica,
obtida pela relação: Q7,10/Ad, sendo Q7,10 - o
valor mínimo das vazões médias de 7 dias
consecutivos com recorrencia de 10 anos e
Ad - a área de drenagem até o ponto onde
a vazão é medida ou estimada) em vulne-
rabilidade propriamente dita. Observa-se
que o estado de Minas Gerais apresenta
um gradiente de disponibilidade hídrica,
decrescente do Sul para o Norte-Nordeste,
fato que guarda estreita correlação com
B
o clima e, em particular, com o balanço
Figura 3 - Recursos hídricos superficiais para o estado de Minas Gerais
hídrico regional e o regime pluvial. Nesta
FONTE: (Figura 3A) Mello et al. (2008) e (Figura 3B) Silva, Mello e Coelho (2008).
situação, a região Sul é a que apresenta os NOTA: Figura 3A - Vulnerabilidade natural. Figura 3B - Nível de comprometimento.
maiores volumes de chuva, bem como sua NOTA: COPAM - Conselho Estadual de Política Ambiental

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distribuição temporal menos concentrada QUADRO 3 - Critério para conversão de RE7,10 em grau de vulnerabilidade natural dos
que outras do Estado, uma vez que esta recursos hídricos superficiais adotados no ZEE-MG
região recebe com mais frequência e in- RE7,10
Vulnerabilidade natural
(L/s km2)
tensidade, sistemas frontais (frentes frias),
Muito alta < 1,5
além de temperaturas mais amenas.
Na Figura 3B, pode-se avaliar o quanto Alta 1,5 - 2,5

a disponibilidade hídrica superficial já se Média 2,5 - 3,5


encontrava comprometida, sinalizando a Baixa 3,5 - 5,5
necessidade de tomadas de decisões no Muito baixa > 5,5
tocante à sua gestão. Fica evidenciada FONTE: Silva, Mello e Coelho (2008).
NOTA: ZEE-MG - Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado de Minas Gerais.
a situação crítica na bacia do Rio Verde RE7,10 - rendimento ou vazão específica, obtida pela relação: Q7,10/Ad, sendo Q7,10 - o
Grande e na região Noroeste do Estado, valor mínimo das vazões médias de 7 dias consecutivos com recorrencia de 10 anos
em situação clara de conflito. Os dados e Ad - a área de drenagem até o ponto onde a vazão é medida ou estimada.
considerados no estudo, no tocante a
volume de água outorgado, representam a
parcela de usuários a qual está legalizada,
e que na época, correspondia a menos de
50% dos usuários.
A mesma avaliação pode ser feita
em relação aos recursos hídricos sub-
terrâneos, cuja vulnerabilidade natural/
oferta está representada na Figura 4A,
visualizando-se também o grau de seu
comprometimento (Fig. 4B). No Qua-
dro 4, apresenta-se o critério de conver-
são do grau de vulnerabilidade natural
dos recursos hídricos subterrâneos, com
as lâminas médias de restituição anual
de água subterrânea.
As informações contidas no ZEE-
A
MG constituem subsídio para ações
de planejamento e gestão dos recursos
hídricos. Neste sentido, apresenta-se
como exemplo, parte do estudo realiza-
do para avaliar o cenário decorrente do
processo de expansão da cana-de-açúcar
no Estado. Para tanto, foram elabo-
rados estudos diagnósticos sobre as
condições edafoclimáticas, bem como,
impactos no uso dos recursos hídricos
superficiais.
No tocante à aptidão edáfica, esta foi
conduzida avaliando-se as característi-
cas pedológicas gerais e declividade,
conforme Ramalho Filho e Beek (1995),
permitindo gerar um mapa, onde se
identificam as unidades de solos classi- B
ficadas em inaptas, restritas, regulares e Figura 4 - Recursos hídricos subterrâneos para o estado de Minas Gerais
FONTE: (Figura 4A) Mello et al. (2008) e (Figura 4B) Silva, Mello e Coelho (2008).
boas. Este mapa foi sobreposto ao mapa NOTA: Figura 4A - Vulnerabilidade natural. Figura 4B - Nível de comprometimento.
de aptidão climática, o qual foi desen- NOTA: COPAM - Conselho Estadual de Política Ambiental

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Irrigação 91

volvido com base no balanço hídrico QUADRO 4 - Critério para conversão da lâmina de restituição (LR) – mm/ano – em grau de
climatológico, seguindo metodologia vulnerabilidade natural dos recursos hídricos subterrâneos
proposta por Thornthwaite e Mather Lâmina média de restituição
Vulnerabilidade natural
(1955), descrita por Pereira, Villa Nova (mm/ano)
e Sediyama (1997), e classificada para as
< 220 Muito alta
condições da cana-de-açúcar (Quadro 5),
conforme Silva e Barros (2003). 220 - 250 Alta
Assim, foi gerado o mapa de ap- 250 - 280 Média
tidão edafoclimática geral para cana-
de-açúcar no estado de Minas Gerais, 280 - 310 Baixa

o qual foi complementado no tocante > 310 Muito baixa


à necessidades de irrigação (Fig. 5).
Foram caracterizadas duas zonas, onde
a cultura pode ser plantada. Porém a QUADRO 5 - Critérios para caracterização da aptidão climática da cana-de-açúcar
irrigação consiste de um fator funda-
Índice de umidade
mental para tomada de decisão. Essas Condições térmicas
(Iu)
zonas foram classificadas em áreas com
irrigação necessária em algum período Inapta (Iu < -10) Apta (T > 21 oC)
do ano e áreas com irrigação reco-
Moderada seca (-10 < Iu < 10) Moderada (19 oC < T < 21 oC)
mendada, ou seja, com características
suplementares.
Região apta (10 < Iu < 60 ) Restrita (18 oC < T < 19 oC)
Com o intuito de fornecer um melhor
subsídio em termos de tomada de decisão Moderada úmida (Iu > 60 ) Inapta (T < 18 oC)
pelos empreendedores, o mapa de Nível
de Comprometimento (Fig. 3B) foi rein-
terpretado, considerando alguns níveis
importantes no contexto de um possível
conflito pelo uso da água (Quadro 6).
Com esta análise, é possível identifi-
car zonas problemáticas no contexto de
emissão de outorgas para uso da água
associado ao cultivo da cana-de-açúcar
(Fig. 6).
Em termos práticos, o empreendedor
localizará uma determinada área de in-
teresse, verificando a aptidão edafocli-
mática. Se esta área estiver localizada
nas regiões onde a irrigação implica
num fator decisório, este deverá avaliar
a possibilidade de risco de conflito com
outros usuários já existentes na área,
com outorgas vigentes. Observa-se que
este mapa torna-se uma ferramenta de
planejamento importante tanto para o
usuário, quanto para os órgãos ambien-
tais do Estado, no contexto do plane- Figura 5 - Mapa de aptidão edafoclimática e necessidade de irrigação para a cultura da
jamento sustentável da exploração da cana-de-açúcar no estado de Minas Gerais
cana-de-açúcar e da gestão dos recursos FONTE: Carvalho et al. (2008).
hídricos. NOTA: COPAM - Conselho Estadual de Política Ambiental.

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QUADRO 6 - Critérios para a identificação de conflito pelo uso da água a partir do nível mento sustentável em termos ambiental,
de comprometimento social e econômico.
Nível de comprometimento Isto remete à necessidade de que todo
Possibilidade de conflito de uso da água
(%) processo de planejamento de desenvolvi-
mento econômico e social requer o esta-
< 20% Baixa
belecimento de cenários e de avaliação
20% - 60% Moderada ambiental estratégica e integrada, para
que se possam ter elementos de suporte
60% - 100% Alta para o processo decisório.
O setor da gestão de recursos hídricos
> 100% Muito alta
apresenta desafios ditados pela enorme
diversidade ambiental e de riqueza de
recursos entre as diversas regiões ge-
ográficas. É, portanto, necessário que
haja a disponibilidade de informações
processadas que evidenciem a variabi-
lidade regional como suporte, tanto para
o usuário no seu processo de decisão,
quanto para os gestores que se devem
aparelhar com instrumentos de precisão
e atualizados para exercerem, a contento,
sua função de controle da disponibilida-
de desse recurso natural tão essencial ao
desenvolvimento da sociedade.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1946). Constituição
dos Estados Unidos do Brasil: promulgada
em 18 de setembro de 1946. Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil, Rio de
Janeiro, 18 set. 1946.

_______. Constituição (1967). Constituição


Figura 6 - Mapa de aptidão edafoclimática da cana-de-açúcar associada à possibilidade da República Federativa do Brasil: promul-
de risco por conflito por água nas áreas de irrigação gada em 24 de Janeiro de 1967. Diário Ofi-
FONTE: Carvalho et al. (2008). cial [da] República Federativa do Brasil,
Brasília, 24 de Janeiro de 1967.
NOTA: COPAM - Conselho Estadual de Política Ambiental.
_______. Constituição (1988). Constituição
da República Federativa do Brasil: promul-
CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste sentido, há que se ter sempre gada em 5 de outubro de 1988. Diário Ofi-
em conta que os principais vetores de cial [da] República Federativa do Brasil,
A transformação dos recursos natu-
desenvolvimento econômico de Minas Brasília, 5 de out. de 1988.
rais em bens públicos e a convocação da
Gerais trazem algum impacto importante _______. Constituição (1988) Emenda cons-
sociedade para assumir espaços de deci-
sobre a disponibilidade quantitativa e titucional no 1, de 17 de outubro de 1969.
são, repartindo com o Estado a responsa- qualitativa dos recursos hídricos esta- Diário Oficial [da] República Federativa
bilidade de uma gestão mais eficiente e duais, que se agravam, quando se con- do Brasil, Brasília, 17 out. 1969.
equilibrada, veio, sem dúvida favorecer sideram a variabilidade climática e as _______. Decreto no 24.693, de 10 de julho
a consolidação de uma cidadania cor- incertezas sobre as estatísticas utilizadas de 1934. Decreta o Código de Águas. Diário
responsável pelos interesses coletivos, para a avaliação das disponibilidades Oficial [da] República Federativa do Bra-
resultado da conscientização de que as hídricas, fatores estes que tornam a ges- sil, Rio de Janeiro, 11 jul. 1934.
questões ambientais também fazem parte tão dos recursos hídricos uma atividade _______. Decreto no 49.974-A, de 21 de ja-
das necessidades dos cidadãos. estratégica para o alcance do desenvolvi- neiro de 1961. Regulamenta, sob a deno-

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 1 , n . 2 5 9 , p . 8 0 - 9 3 , n o v. / d e z . 2 0 1 0

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Irrigação 93

minação de Código Nacional de Saúde, a dá outras providências. Diário Oficial [da] rais: componentes geofísicos e biótico. La-
Lei no 2.312. de 3 de setembro de 1954, de República Federativa do Brasil, Brasília, 13 vras, UFLA, 2008. v. 1, p. 103-135.
Normas Gerais sobre Defesa e Proteção da de abr. 1990b.
MINAS GERAIS. Lei no 13.199, de 29 de
Saúde. Diário Oficial [da] República Fede-
_______. Lei n 9.433, de 8 de janeiro de
o
janeiro de 1999. Dispõe sobre a Política
rativa do Brasil, Brasília, 21 jan. 1961
1997. Institui a Política Nacional de Recur- Estadual de Recursos Hídricos e da outras
BRASIL. Decreto no 89.496, de 29 de mar- sos Hídricos, cria o Sistema Nacional de providências. Minas Gerais, Belo Horizon-
ço de 1984. Regulamenta a Lei no 6.662, de Gerenciamento de Recursos Hídricos, re- te, 30 jan. 1999. p.3.
25 de junho de 1974, que dispõe sobre a gulamenta o inciso XIX do art. 21 da Cons-
_______. Lei no 17.727, de 13 de agosto de
Política Nacional de Irrigação, e dá outras tituição Federal, e altera o art. 1o da Lei no
2008. Dispõe sobre a concessão de incen-
providências. Diário Oficial [da] República 8.001, de 13 de março de 1990, que modi-
Federativa do Brasil, Brasília, 30 mar. 1984. tivo financeiro a proprietários e posseiros
ficou a Lei no 7.990, de 28 de dezembro de
rurais, sob a denominação de Bolsa Verde,
_______. Decreto no 97.632, de 10 de abril 1989. Diário Oficial [da] República Federa-
para os fins que especifica, e altera as Leis
de 1989. Dispõe sobre a regulamentação do tiva do Brasil, Brasília, 9 jan. 1997.
no 13.199, de 29 de janeiro de 1999, que
artigo 2o , inciso VIII, da Lei no 6.938, de 31 _______. Lei no 9.984, de 17 de julho de dispõe sobre a política estadual de recur-
de agosto de 1981, e dá outras providências. 2000. Dispõe sobre a criação da Agência sos hídricos e 14.309, de 19 de junho de
Diário Oficial [da] República Federativa Nacional de Águas – ANA, entidade fede- 2002, que dispõe sobre as políticas flores-
do Brasil, Brasília, 12 de abr. 1989a. ral de implementação da Política Nacional tal e de proteção à biodiversidade no Esta-
_______. Decreto no 99.274, de 6 de junho de Recursos Hídricas e de coordenação do do. Minas Gerais, Belo Horizonte, 14 ago.
de 1990. Regulamenta a Lei no 6.902, de 27 Sistema Nacional de Gerenciamento de Re- 2008. p.1.
de abril de 1981, e a Lei no 6.938, de 31 de cursos Hídricos e dá outras providências.
PEREIRA, A.R.; VILLA NOVA, N.A.;
agosto de 1981, que dispõem, respectiva- Diário Oficial [da] República Federativa
SEDIYAMA. G.C. Evapo(transpi)ração.
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CARVALHO, L. G. et al. Zoneamento da
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República Federativa do Brasil, Brasília, 7 terras. 3. ed. Rio de Janeiro: EMBRAPA-
OLIVEIRA, A. D.; CARVALHO, L. M. T. Zo-
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Irrigação e dá outras providências. Diário
CONSELHO ESTADUAL DE RECURSOS ção à Política Estadual de Recursos Hídricos
Oficial [da] República Federativa do Bra-
HÍDRICOS. Deliberação Normativa CERH bem como ao Sistema Integrado de Geren-
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no 9, de 16 de junho de 2004. Define os ciamento de Recursos Hídricos. Diário Ofi-
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Meio Ambiente, seus fins e mecanismos da Minas Gerais, Belo Horizonte, 28 de junho SILVA, M.A.V.; BARROS, A. H. C. Zone-
formulação e aplicação e dá outras provi- de 2004. amento de aptidão climática do estado de
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derativa do Brasil, Brasília, 2 set. 1981.
de 2008. Dispõe sobre procedimentos gerais pluviométricos. Boletim do IPA, Recife,
_______. Lei no 7.804, de 18 de julho de 2003.
para o enquadramento dos corpos de água
1989. Altera a Lei no 6.938. de 31 de agosto
superficiais e subterrâneos. Diário Oficial SILVA, A.M. da; MELLO, C. R. de; Coelho,
de 1981, que dispõe sobre a Política Nacio-
[da] República Federativa do Brasil, Brasí- G. Nível de comprometimento da água. In:
nal do Meio Ambiente, seus fins e meca-
lia, 6 fev. 2009. SCOLFORO, J.R.S.; OLIVEIRA, A.D.; CAR-
nismos de formulação e aplicação, a Lei no
7.735, de 22 de fevereiro de 1989, a Lei no LANNA, A.E. Gestão das águas: reflexões VALHO, L.M.T. (Org.) Zoneamento Ecoló-
6.803, de 2 de julho de 1980, e dá outras a respeito de sua aplicação no Brasil. Porto gico-Econômico do Estado de Minas Ge-
providências. Diário Oficial [da] República Alegre: UFGRS, 1997. 235p. rais: zoneamento e cenários exploratórios.
Federativa do Brasil, Brasília, 20 jul. 1989b. Lavras, UFLA, 2008. v.2, p.37-52.
MELLO, C. R. de et al. Recursos hídricos.
_______. Lei no 8.028, de 12 de abril de In: SCOLFORO, J.R.S.; CARVALHO, L.M.T.; THORNTHWAITE, C.W.; MATHER, J.R.
1990. Dispõe sobre a organização da Pre- OLIVEIRA, A.D. (Org.). Zoneamento Eco- The water balance. New Jersey: Drexel Ins-
sidência da República e dos Ministérios, e lógico-Econômico do Estado de Minas Ge- titute of Technology, 1955. 104p.

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94 Irrigação

Agricultura irrigada no Brasil


Marcos Vinícius Folegatti 1
Cornélio Alberto Zolin 2
Janaína Paulino 3
Rodrigo Máximo Sánchez-Román 4
Maíra Ometto Bezerra 5

Resumo - A irrigação é importante no contexto alimentar, uma vez que cada hectare
irrigado equivale a 3 ha de sequeiro em produtividade física e 7 ha em produtividade
econômica. Tendo em vista essa importância e o fato de o Brasil ter disponibilidade
hídrica diferenciada dos demais países, realizou-se uma abordagem sobre a agricultura
irrigada no País, considerando a área irrigada em âmbito regional e estadual, com base
no Censo Agropecuário 2006. O Brasil apresenta, atualmente, uma área de 4,45 milhões
de hectares cultivados com irrigação, sendo a Região Sudeste a maior irrigante, seguida
pelas Regiões Sul, Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Entre as culturas, a cana-de-açúcar,
o arroz, a soja e o milho destacam-se em área irrigada. O método de irrigação mais uti-
lizado é o por aspersão (sem pivô), seguido pelo de inundação, pivô central, localizada
e em sulco.

Palavras-chave: Irrigação. Área irrigada. Brasil.

INTRODUÇÃO todo alimento consumido, ou seja, a área que demanda a maior quantidade de água,
irrigada mundialmente equivale a quase 2,5 em termos mundiais, sendo estimados 70%
Grande parte do potencial produtivo
vezes a produção de alimentos das áreas de do seu uso (FAO, 2007).
do Brasil que gera riquezas, bem como
empregos diretos e indiretos, no campo sequeiro. No Brasil, cada hectare irrigado O Brasil possui um potencial de ex-
e na cidade, só é possível com o uso da equivale a 3 ha de sequeiro em produti- pansão para agricultura irrigada de cerca
água como insumo direto desse processo. vidade física e a 7 ha em produtividade de 30 milhões de hectares (CHRISTOFI-
Nesse contexto, a irrigação assume papel econômica (AGÊNCIA NACIONAL DE DIS, 2002). Isto equivale a um adicional
fundamental, na medida em que seu princi- ÁGUAS, 2004). de 25,5 milhões, considerando a área
pal objetivo é fornecer adequada e precisa De acordo com Mukherji et al. (2009), irrigada atual de, aproximadamente, 4,5
quantidade de água para as plantas em 80% dos produtos necessários para satisfa- milhões. Contudo, essa expansão torna-se
função da distribuição irregular das chuvas. zer as necessidades da população mundial, questão estratégica, uma vez que impli-
Estima-se que a área irrigada no Planeta nos próximos 25 anos, serão providos cará em maior demanda pelos recursos
ocupe cerca de 17% de toda terra arável e pelos cultivos irrigados. Por outro lado, a hídricos e possíveis conflitos pelo uso
responda pela produção de mais de 40% de agricultura irrigada é a atividade humana da água.

1
Eng o Agr o , Pós-Doc, Prof. Tit. USP-ESALQ - Depto. Engenharia de Biossistemas, Caixa Postal 09, CEP 13418-900 Piracicaba-SP. Correio
eletrônico: mvfolega@esalq.usp.br
2
Eng o Agrícola, Dr. Irrigação e Drenagem, Pesq. Embrapa Agrossilvipastoril, Av. dos Jacarandás, 2639, CEP 78550-003 Sinop-MT. Correio
eletrônico: cornelio.zolin@embrapa.br
3
Eng a Agrícola, M.Sc., Doutoranda Irrigação e Drenagem, USP-ESALQ - Depto. Engenharia de Biossistemas, Caixa Postal 09, CEP 13418-900
Piracicaba-SP. Correio eletrônico: jpaulino@esalq.usp.br
4
Eng o Agrícola, Pós-Doc, Prof. Doutor UNESP-FCA-Depto. Engenharia Rural, Caixa Postal 237, CEP 18610-307 Botucatu-SP. Correio ele-
trônico: rmsroman@fca.unesp.br
5
Eng a Agr a , M.Sc., Pesq. USP-ESALQ - Depto. Engenharia de Biossistemas, Caixa Postal 09, CEP 13418-900 Piracicaba-SP. Correio eletrô-
nico: mairabezerra@yahoo.com.br

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Irrigação 95

AQUISIÇÃO E Brasil aumentou de 0,45 milhão de hec- se com 1,58 milhão de hectares irrigados,
SISTEMATIZAÇÃO DOS tares para 3,1 milhões de hectares, sendo representando 35,6% da área total do País,
DADOS cerca de 90% dessas áreas desenvolvidas e a Região Sul apresenta uma área de 1,22
Como base de pesquisa sobre a área pela iniciativa privada e os restantes 10%, milhão de hectares (27,5%).
irrigada no Brasil, foram utilizados dados por projetos públicos (AGÊNCIA NACIO- Em 2006 foram colhidos, no Brasil,
do Censo Agropecuário 2006 (CENSO NAL DE ÁGUAS, 2009). aproximadamente, 53 milhões de hectares,
AGROPECUÁRIO, 2007), por intermédio Entre os anos de 1996 e 2006, a área incluindo todas as lavouras (permanentes e
do Sistema IBGE de Recuperação Auto- irrigada no País deu um salto de 3.121.644 temporárias). Dentre todas as lavouras so-
mática (Sidra). para 4.453.925 ha, o que representou um mente nove representam 83% de toda área
De acordo com o Censo Agropecuário aumento de 1,3 milhão de hectares em colhida ou, aproximadamente, 44 milhões
2006 (CENSO AGROPECUÁRIO, 2007), dez anos, resultando em um ritmo médio de hectares. Destas nove culturas, somente
os métodos de irrigação discriminados de 150 mil hectares por ano. Com esses o café Arábica é lavoura permanente, as
a seguir, foram divididos em seis, para números, o Brasil assume o 16 o lugar demais são temporárias (arroz, cana-de-
melhor compreensão: entre os países com maior área irrigada açúcar, feijão de cor, feijão-fradinho,
a) inundação: consiste no nivelamen- no mundo, detendo pouco mais de 1% da mandioca, milho, soja, trigo) (Gráfico 2).
to do terreno para alagamento ou área mundial irrigada, que é cerca de 277 Entre lavouras temporárias e perma-
inundação da área de cultivo de milhões de hectares. nentes, no Brasil, da área total colhida,
determinadas lavouras; Ainda no Gráfico 1, é possível notar somente 11% utilizaram algum tipo de
b) sulco: consiste na condução e distri- que a Região Sul foi a que sempre apre- irrigação e destes, 89% da área colhida foi
buição da água por meio de sulcos sentou a maior área irrigada, até o ano destinada ao cultivo de lavouras temporá-
ou canais de irrigação, localizados de 1996, seguida pelas Regiões Sudeste, rias, representando, aproximadamente, 5
entre as linhas de plantio das cultu- Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Nessa milhões de hectares.
ras; última década, houve uma inversão entre as Cerca de 71% da área irrigada colhi-
c) pivô central: considera o método no Regiões Sudeste e Sul, pois até o Censo de da no Brasil é representada por apenas
qual a área é irrigada por sistema 1995/1996 (CENSO AGROPECUÁRIO, quatro culturas. A que ocupa o primeiro
móvel, constituído por uma barra 1998), a Região Sul, com 1.195.440 ha, lugar é a da cana-de-açúcar, com 30%
com aspersores, que se movimentam era a que possuía a maior área irrigada do total da área irrigada colhida; em se-
em torno de um ponto fixo; (35,1%), contra 890.974 ha (29,8%) da gundo lugar está a cultura do arroz, com
Região Sudeste, segunda maior área. 20%; as lavouras de soja e milho vêm
d) aspersão (sem pivô): método con-
siderado por aspersores fixos e Atualmente, a Região Sudeste encontra- em terceiro e quarto lugares, com maior
móveis, exceto pivô central;
e) localizada: gotejamento, microas-
persão etc., ou seja, aquele método
1800
que conduz a água por tubos, sendo
1600
a sua distribuição feita gota a gota;
1400
Área irrigada (1.000 ha)

f) outros: consiste nas regas manuais,


1200
utilizando regadores, mangueiras,
1000
baldes, latões etc.
800
As análises foram conduzidas com
600
base nos seguintes temas principais: área
400
e número de estabelecimentos agropecuá-
200
rios com uso da irrigação no Brasil e área
0
colhida irrigada por tipo de cultura. 1960 1970 1975 1980 1985 1995/1996 2006

IRRIGAÇÃO NO BRASIL Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

De acordo com dados da Agência Na-


cional de Águas (2009), desde 1960 até Gráfico 1 - Evolução da área irrigada no Brasil
1995/1996 (Gráfico 1), a área irrigada no FONTE: Dados básicos: Agência Nacional de Águas (2009) e Censo Agropecuário (2007).

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96 Irrigação

16000

14000

12000
Área (1.000 ha)

10000

8000
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Gráfico 2 - Área total colhida no Brasil, para lavouras com mais de 100 mil hectares colhidos
FONTE: Censo Agropecuário (2007).

área colhida irrigada, sendo 11% e 10%, Arroz (casca) Cana-de-açúcar Feijão de cor (grão)
1200
respectivamente. Ainda merecem destaque
Feijão-fradinho (grão) Milho (grão) Soja (grão)
as culturas de feijão (de cor e fradinho), de 1000 Laranja Café
café (Canephora, Robusta e Arábica) e de
Área (1.000 ha)

laranja, com, respectivamente, 6%, 5% e 800


3% (Gráfico 3).
No Gráfico 4, estão apresentadas as 600

áreas irrigadas nas diferentes regiões ad-


400
ministrativas, com os respectivos métodos
de irrigação utilizados. Pode-se notar 200
que a maior área irrigada por inundação
encontra-se na Região Sul (cerca de 85%). 0
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
A área irrigada por sulco é mais bem distri-
buída entre as regiões. A Região Nordeste Gráfico 3 - Área colhida por tipo de lavoura com uso de irrigação por região administrativa
é responsável pela utilização de 43% desse FONTE: Censo Agropecuário (2007).
sistema, seguida pela Região Sul (32%),
Centro-Oeste (13%), Sudeste (11%) e 1000
Norte, com somente 1%. 900
Para os demais métodos de irrigação 800
(pivô central, aspersão (sem pivô), loca- 700
Área (1.000 ha)

lizada e outros) observa-se que a Região 600


Sudeste apresentou as maiores áreas irriga- 500
das, seguida pela Região Nordeste. 400
Analisando os métodos de irrigação 300
utilizados, pode-se observar que os sis- 200
temas de irrigação por aspersão (sem 100
pivô) são empregados na maior parte das 0
Inundação Sulco Pivô central Aspersão Localizada Outros
áreas irrigadas, com 1.572.960 ha (35%),
(sem pivô)
seguidos pelos de inundação (24%), pivô
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
central (19%), localizada (8%) e outros
(8%) e, por último, a irrigação por sulcos, Gráfico 4 - Área irrigada nas diferentes regiões administrativas com os respectivos mé-
todos de irrigação utilizados
com 6%. FONTE: Censo Agropecuário (2007).

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Irrigação 97

Área irrigada por região de 13% (ligeiramente superior a verificada mentando assim sua área irrigada em mais
administrativa para a Região Sudeste). Regionalmente, a de 650 mil hectares. Teve destaque o estado
No Gráfico 5, pode-se visualizar a cana-de-açúcar representa 50% da área to- de São Paulo, com uma expansão de 330
área irrigada no Brasil por regiões admi- tal colhida com uso de irrigação. Merecem mil hectares. Considerando que essa região
nistrativas. destaque ainda as culturas do milho e do possuía a segunda maior área irrigada em
A Região Norte apresenta a menor área feijão-fradinho, as quais representam 8% e 1995/1996 (929.189 ha), esse acréscimo
irrigada do Brasil, com apenas 107.789 7%, respectivamente, da área total colhida foi o suficiente para que a Região Sudeste
ha, que representam 2,4% do total. Essa com uso da irrigação (Gráfico 3). ultrapassasse a Região Sul, assumindo o
região teve um acréscimo de 23% na área A Região Sudeste, de acordo com primeiro lugar.
irrigada, quando comparada com o Censo Christofidis (1999), tem 4.429.000 ha O estado de São Paulo representa quase
de 1995/1996, sendo uma das menores do aptos para irrigação (sem várzea) e sua 50% da irrigação da Região Sudeste com
Brasil. Entre os Estados da Região Norte, área irrigada, em 2006, foi de 1.586.744 ha uma área de 770.011 ha (Gráfico 6). Esta
Tocantins é o maior irrigante, represen- (Gráfico 5). Essa região teve um aumento área é equivalente à soma das áreas irrigadas
tando 38,4% das áreas irrigadas, seguido de 41,4% de área irrigada, quando se nas Regiões Norte e Centro-Oeste. O siste-
pelo estado do Pará. Esses dois Estados comparam os dois últimos levantamentos ma de irrigação mais utilizado no estado de
somam juntos 70.673 ha, ou seja, 65,6% do do Censo Agropecuário (1998, 2007), au- São Paulo é o por aspersão (sem pivô), com
total irrigado na região. Entre os diversos
métodos de irrigação, o por inundação é o
mais utilizado, seguido pelo método por 1800
aspersão (sem pivô) e outros. Nessa região, 1600
destacam-se as culturas do arroz, da soja e 1400
da cana-de-açúcar, com, respectivamente,
1200
Área (1.000 ha)

29%, 16% e 12% da área total colhida com


1000
o uso de irrigação (Gráfico 3).
A Região Nordeste, de acordo com 800

Agência Nacional de Águas (2003), possui 600


156 milhões de hectares (18% do territó- 400
rio nacional), ocupando a maior parte da
200
região Semiárida do Brasil. É a terceira
0
colocada no ranking de área irrigada no Sudeste Sul Nordeste Centro-Oeste Norte
País, mantendo a sua colocação ao longo
Gráfico 5 - Área irrigada (1.000 ha) por regiões administrativas
dos anos, com uma expansão de 23,7% em
FONTE: Censo Agropecuário (2007).
relação aos últimos dois Censos, e pos-
suindo, atualmente, 985.348 ha irrigados.
O estado da Bahia representa 30,4% da
1000
irrigação da Região Nordeste com, apro-
900
ximadamente, 300 mil hectares irrigados
800
(Gráfico 6), sendo o método por aspersão
700
Área (1.000 ha)

o mais utilizado no Estado, tanto aspersão


600
sem pivô (30,6%), quanto com pivô central
(23,1%). As maiores áreas irrigadas por as- 500

persão (sem pivô) e por pivô central nessa 400

região são do estado de Alagoas, sendo 300

110.049 ha e 73.041 ha, respectivamente. 200

Já os demais métodos são pouco represen- 100

tativos em área irrigada. 0


TO

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Na Região Nordeste, destaca-se a cul-


tura da cana-de-açúcar, com participação Gráfico 6 - Área irrigada (1000 ha) por Estado
na área total colhida com uso de irrigação FONTE: Censo Agropecuário (2007).

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98 Irrigação

53%, e o por pivô central, com 25,3% da é menor do que o apresentado pela Região Número de
área irrigada. Com 33,1% da área irrigada Sudeste. estabelecimentos
da Região Sudeste está o estado de Minas O estado do Rio Grande do Sul é res- agropecuários
Gerais (525.250 ha), seguido pelo Rio de Ja- ponsável por mais de 80% da irrigação na Considerando todos os métodos de ir-
neiro que é o Estado menos expressivo, com Região Sul e, dos 984.085 ha irrigados rigação levantados pelo IBGE (inundação,
somente 81.683 ha irrigados (Gráfico 6). (Gráfico 6), 82,6% são pelo método de
sulco, pivô central, aspersão (sem pivô), lo-
A cultura que apresenta a maior área inundação. Em Santa Catarina, o método
calizada e outros) é possível verificar que a
colhida irrigada é a da cana-de-açúcar, de inundação também prevalece, porém
Região Nordeste apresenta o maior número
com 12% da área total do Brasil, e 38% da a área irrigada nesse Estado representa
de estabelecimentos agropecuários com uso
área da Região Sudeste. A segunda cultura apenas 11% de toda a região. O estado do
de irrigação, detendo, aproximadamente,
mais irrigada nessa região é a do milho, Paraná é pouco representativo em área irri-
41% do total deles. A Região Sudeste é a
que representa 4% da área total irrigada gada. Possui apenas 8,5% do total irrigado
na Região Sul, sendo que, diferentemente segunda região administrativa com maior
colhida no Brasil e 12% da Região Sudeste.
dos outros Estados da região, o método número de estabelecimentos que utilizam
Em terceiro lugar estão as culturas da la-
mais utilizado é o de aspersão, empregado irrigação, detendo, aproximadamente,
ranja e da soja, sendo que, nacionalmente,
em 53,8% das áreas irrigadas. 35% do total nacional. A Região Sul segue
ambas representam 3% e, regionalmente,
Na Região Sul existe o predomínio da em terceiro lugar com cerca da metade de
8% da área colhida com o uso de irrigação
cultura do arroz em termos de área colhi- estabelecimentos agropecuários com uso
(Gráfico 3).
da, com o uso de irrigação. Da área total de irrigação, em relação à Região Sudeste,
Levando em conta que a cultura da
colhida nessa região, 65% são destinados ou seja, 15% do total nacional (Gráfico 7).
cana-de-açúcar tem grande participação
ao arroz. Merece destaque, ainda, a cultura Comparando o número de estabeleci-
na área irrigada da Região Sudeste, e que
da soja, que representa 4% da área total mentos com a área irrigada nas regiões, é
o método de irrigação mais utilizado na
colhida com uso de irrigação no País e 13% possível verificar que não há uma relação
região é o de aspersão, pode-se supor que
na Região Sul (Gráfico 3). direta entre estas. A região que apresen-
foi considerada a prática da aplicação de
A Região Centro-Oeste possui, de tou o maior número de estabelecimentos,
vinhaça como irrigação, o que teve grande
acordo com Christofidis (1999), 7.724 mil necessariamente, não apresentou a maior
relevância para o aumento da área irrigada
hectares aptos ao uso da irrigação. Foi a área irrigada.
na região.
região que teve, em porcentagem, o maior A Região Sudeste apresentou a maior
Nesse sentido, vale observar que,
acréscimo em área irrigada nos últimos dez área irrigada, porém em número de estabe-
tecnicamente, a aplicação da vinhaça não
anos, passando de 260.952 ha para 549.466 lecimentos é a segunda colocada. O mesmo
deveria ser considerada como irrigação,
ha, o que representa 52,5% de acréscimo. acontece na Região Sul que é a segunda
mas sim como prática de disposição de Esta região é a quarta colocada em área
efluentes agroindustriais no solo, bem em área irrigada e a terceira em número de
irrigada no País.
como tratamento de resíduos agroindus- estabelecimentos. Já a Região Nordeste foi
Goiás é o Estado com maior área irriga-
triais ou adubação orgânica. Uma vez a que apresentou o maior número de esta-
da da Região Centro-Oeste. Possui 269.921
considerada como irrigação ou fertirriga- belecimentos e não a maior área irrigada.
ha irrigados que equivalem a 50% da área
ção, a aplicação de vinhaça deveria ter um Nos Gráficos 8 e 9, estão apresentados
da região (Gráfico 6). Desta área, 88%
caráter de aplicação permanente ao longo o número de estabelecimentos e as áreas
são realizados por aspersão (pivô central
do período de desenvolvimento da cultura irrigadas pelos vários métodos de irrigação,
e aspersão sem pivô). O estado de Mato
e não pontual. em diferentes tamanhos de propriedades. É
Grosso possui 148.425 ha irrigados, onde
Diferentemente da Região Sudeste, a a soma dos métodos pivô central e asper- fácil visualizar que a maior área irrigada é
área irrigada na Região Sul aumentou ape- são (sem pivô) equivale a 92,6% da área representada pelas grandes propriedades (>
nas 10%, conforme observado no Censo irrigada. O estado do Mato Grosso do Sul 500 ha) e que estas, por sua vez, ocorrem
1995/1996. Este acréscimo foi bastante é menos representativo, em relação à área em menor número. O mesmo é verificado
inferior ao ocorrido na Região Sudeste, irrigada na região. Possui cerca 116.612 para as propriedades menores que 10 ha,
fato que impossibilitou a Região Sul de ha, representando 21% das áreas irrigadas as quais têm menos representatividade em
permanecer em primeiro lugar, em relação da Região Centro-Oeste. As culturas mais área irrigada, porém representam o maior
à área irrigada. De acordo com Christofidis expressivas são a da cana-de-açúcar e a da número de estabelecimentos que utilizam
(1999), essa região possui 4.407.000 ha soja que somam juntas 62% da área total irrigação.
em terras (sem várzea) consideradas aptas colhida com uso de irrigação no Brasil e Com isso, pode-se entender o motivo
para a irrigação. Esse número, por sua vez, 4% na Região Sudeste. de a Região Nordeste apresentar o maior
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Irrigação 99

número de estabelecimentos e não a maior


160
Número de estabelecimentos (1.000)

área irrigada. Provavelmente a Região


140
Nordeste apresenta áreas irrigadas, em sua
120
maior parte, por propriedades pequenas.
100 Este mesmo raciocínio pode-se ter para
80 a Região Sul, onde a maior parte de suas
60 áreas com irrigação é representada por
40 grandes propriedades.
20 Analisando os Gráficos 8 e 9, do ponto
de vista dos métodos de irrigação, pode-
0
Sudeste Sul Nordeste Centro-Oeste Norte se perceber que, quanto à área irrigada,
Gráfico 7 - Número de estabelecimentos que utilizam irrigação nas regiões administrativas os sistemas utilizados tipo pivô central
FONTE: Censo Agropecuário (2007). e inundação concentram-se geralmente
nas maiores propriedades. Para irrigação
por sulco, localizada e outros métodos
1000
não foram notadas diferenças, já por as-
persão (sem pivô), houve concentração
800
Área irrigada (1.000 ha)

nas propriedades maiores que 500 ha,


destacando-se também nas propriedades
600 com até 100 ha.
Quanto ao número de estabelecimen-
400 tos, nota-se claramente sua diminuição
com o aumento da área da propriedade.
200 Por exemplo, as propriedades maiores
que 500 ha quase não aparecem na escala
0 do Gráfico 9, porém, representam a maior
<10 10 a 100 100 a 500 >500
parcela da área irrigada no País, assim
Inundação Sulco Pivô central como as propriedades menores de 10 ha,
Aspersão (sem pivô) Localizada Outros métodos que representam o maior número de esta-
Gráfico 8 - Área irrigada (1.000 ha) pelos diferentes métodos, por tamanho de propriedade belecimentos.
FONTE: Censo Agropecuário (2007).
CONSIDERAÇÕES FINAIS

120 A área total irrigada no Brasil é de


Número de estabelecimentos (1.000)

4.453.925 ha, e os métodos de irrigação mais


100 representativos em ordem crescente são os
80
por aspersão (sem pivô), inundação, pivô
central, localizada, sulco e outros métodos.
60 As regiões com as maiores áreas irriga-
das do Brasil são, respectivamente, Sudeste
40
(35,6%), Sul (27,5%), Nordeste (22,12%),
20 Centro-Oeste (12,3%) e Norte (2,4%).
A cultura da cana-de-açúcar ocupa o
0
<10 10 a 100 100 a 500 >500 primeiro lugar em área irrigada no Brasil,
Área (ha) possivelmente por considerar a aplicação
Inundação Sulco Pivô central
de vinhaça como técnica de irrigação.
Aspersão (sem pivô) Localizada Outros métodos
Em sequência, as outras culturas mais
expressivas no uso da irrigação são arroz,
Gráfico 9 - Número de estabelecimentos que utilizam irrigação pelos diferentes métodos,
por tamanho de propriedade (ha) soja e milho, respectivamente, em segundo,
FONTE: Censo Agropecuário (2007). terceiro e quarto lugares.
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100 Irrigação

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Irrigação 101

Agricultura irrigada: oportunidades e desafios


Helvecio Mattana Saturnino 1
Demétrios Christofidis 2
Édio Luiz da Costa 3
João Batista Ribeiro da Silva Reis 4

Resumo - As estatísticas disponíveis, com as necessidades de formulações de políticas


voltadas para o setor, indicam a importância de planos, programas e projetos integrados,
que se baseiam na agricultura irrigada, para impulsionar o setor de forma equilibrada. É
imprescindível as mudanças de atitude em relação à agricultura irrigada, para obter um
adequado aproveitamento das vantagens comparativas brasileiras. A multiplicação dos
bons exemplos no campo que priorizam a capacitação, com destaque para a gerencial,
configura-se como imprescindível para uma logística que requer investimentos básicos
para uma sadia competição e um desenvolvimento que proporcione a capitalização dos
produtores e maiores impulsos para o desenvolvimento do Brasil. Do pequeno ao grande
empreendimento que viabiliza a agricultura irrigada aos perímetros públicos e empre-
endimentos que exigem realocações de pessoas, descortina-se um amplo e diversificado
leque de oportunidades, cujos impactos precisam ser considerados desde os estudos de
pré-viabilidade de cada projeto.

Palavras-chave: Projeto integrado. Gestão. Capacitação.

INTRODUÇÃO As indissociáveis inter-relações entre Especialmente na virada do milênio,


o econômico, o social e o ambiental, afloraram reflexões em diversos cenários
A agricultura irrigada enseja aber-
como condicionantes para um harmônico sobre a segurança alimentar, o fornecimen-
tura de um amplo leque de alternativas
e equilibrado desenvolvimento, tendo a to de fibras e energia, as necessidades de
de explorações ao longo de todo o ano.
agricultura irrigada como base para esse duplicar a produção mundial de alimentos
Tem a capacidade de mudar os perfis das
processo e considerando as vantagens com- em meio século ou em menos tempo, a
propriedades, promover a prosperidade parativas, a logística e as oportunidades de
dos produtores e fortalecer as cadeias dos promoção do desenvolvimento sustentável
utilização dos recursos hídricos superficiais
agronegócios, com geração de riquezas etc. Assim, o despertar para a associação de
e subterrâneos disponíveis, requerem um
e abertura de muitos postos de trabalhos esforços em favor da agricultura irrigada,
trabalho integrado com base na gestão das
com a iniciativa de revitalizar a Associação
a custos convidativos para programas de bacias hidrográficas.
governo. Enseja também os sinergismos e Brasileira de Irrigação e Drenagem (Abid),
A agricultura irrigada tem muito a
complementaridades para integrações com contribuir para esse desenvolvimento, com que é o Comitê Nacional Brasileiro da
a agricultura de sequeiro, áreas de proteção mais suporte de pesquisas e assistência téc- International Comission on Irrigation and
ambiental, arranjos produtivos e comer- nica, foco na capacitação dos mais diversos Drainage (Icid), que congrega uma centena
ciais os mais diversos, e positivos reflexos empreendedores. Assim, fazer a agricultura de países no mundo e tem sua sede em
para o desenvolvimento socioeconômico irrigada permear no seio da sociedade bra- Nova Deli, na Índia, tem estreita correlação
dos municípios, regiões, Estados e do País. sileira é cada vez mais premente. com este artigo.

1
Eng o Agr o , M.Sc., Presidente da ABID, CEP 70760-533 Brasília-DF. Correio eletrônico: helvecio@gcsnet.com.br
2
Eng o Civil, D.Sc., Diretor da ABID, CEP 70760-533 Brasília-DF. Correio eletrônico: dchristofidis@gmail.com
3
Eng o Agrícola, D.Sc., Pesq. EPAMIG Centro-Oeste/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG. Correio
eletrônico: edio.costa@epamig.br
4
Eng o Agrícola, D.Sc., Pesq. EPAMIG Norte de Minas/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio
eletrônico: jbrsreis@epamig.br

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Os impactos socioeconômicos e am- para o produtor e para o País. Como re- VISÃO MUNDIAL SOBRE A
bientais decorrentes do complexo e amplo verter isso? AGRICULTURA IRRIGADA
negócio calcado na agricultura irrigada são Essas interlocuções, no âmbito das or- As estatísticas mundiais evidenciam
analisados de forma positiva, sem perder ganizações internacionais, sempre afloram que 44% das colheitas são advindas da
de vista a importância da sabedoria no de forma muito proveitosa, ao trazerem agricultura irrigada (Gráfico 1), que ocupa
aproveitamento dessa competência bra- à tona questionamentos sobre os ônus somente 18% da área, o que representa
sileira, evitando rotas insustentáveis. O decorrentes da sazonalidade de utilização aproximadamente 278 milhões de hectares
uso do recurso hídrico poderá caminhar dos fatores de produção ao longo do ano, em um total de 1,533 bilhão de hectares
tanto para o cenário de sustentabilidade dos riscos dos déficits ou excessos de água, cultivados. Vale lembrar também que a
quanto de insustentabilidade, de acordo entre outras fragilidades ocasionadas pelos decantada Revolução Verde, que fez a Ásia
com o adequado ou inadequado uso da livrar-se da fome, foi 100% realizada com
regimes pluviométricos, com as irregulari-
água (Fig. 1). cultivos sob irrigação, com captação de
dades das chuvas, que tanto caracterizam
Nos intercâmbios e aprendizados inter- águas subterrâneas, como registrado pelo
os trópicos.
nacionais evidencia-se, de forma marcante, presidente honorário da Icid, Peter Lee,
A lógica seria a de perseguir um plano
o rico e milenar histórico da agricultura sobre o pai dessa Revolução Verde (Dr.
de negócios com vistas a, primeiro, esgotar
irrigada, com diversos países que a têm Borlaug), Nobel da Paz (ITEM, 2009b).
as possibilidades de desenvolver a agricul-
impregnada em seus costumes5. Diante Em dezembro de 2009, durante a aber-
tura irrigada em cada propriedade, tendo
desse quadro, dirigentes das congêneres da tura da Cúpula Mundial de Segurança Ali-
Abid, como os Comitês Nacionais da Icid, como objetivo central um harmonioso e mentar, em Roma, o diretor-geral da FAO,
especialmente os dos países da Ásia, como integrado projeto para o empreendimen- Jacques Diouf, lembrou que a produção
o da China, por exemplo, ao visitarem o to, para que os efeitos multiplicadores da mundial de alimentos precisa crescer 70%
Brasil, verificaram que, em geral, os pro- agricultura irrigada, com seus positivos até 2050 para atender às futuras demandas
dutores, os governos, as universidades, as impactos socioeconômicos e ambientais, da população. Mas destacou que entre os
instituições de pesquisa e desenvolvimento aflorassem em benefício de todos. Nisso, países emergentes, o desafio é maior: “nes-
e tantos outros organismos e atores, como vale lembrar que o potencial da agricultura ses países é preciso dobrar essa produção
os agentes financeiros, não privilegiam irrigada, para mitigar e controlar efeitos das para atender à demanda”. (FAO..., 2009).
a agricultura irrigada, colocando-a como mudanças climáticas, precisa também ser Nos possíveis efeitos das mudanças
uma estratégica vantagem comparativa devidamente explorado. climáticas e da segurança alimentar, a
agricultura irrigada é uma interessante al-
ternativa para amenizar muitos dos efeitos
deletérios esperados (FEDOROFF et al.,
2010). Trata-se de um interessante debate,
com diferentes cenários, entre eles o de au-
Cenário de mento de temperatura e drásticas quedas de
sustentabilidade
Disponibilidade de água

produção quando as médias ultrapassam os


desejado
Trajetória 30 ºC, o que reduz a eficiência do processo
sustentável
fotossintético na maioria das culturas.
Vida
Em recente encontro promovido pelo
Cenário de World Agricultural Forum - Latin America,
Alimento insustentabilidade
Saúde 12-13 May 2010, The Role of Latin Ameri-
ca in Feeding the World in 2050, realizado
Trajetória
tendencial em Brasília6, a Presidência da Abid foi
Ruptura
convidada para representar a Icid. Lá esta-
Anos Crise atual Crise do amanhã Questão de vam ex-ministros, representantes de vários
longo prazo
organismos internacionais, setores privado
Tempo
e público. O denominador comum foi o
Figura 1 - Impactos socioeconômicos decorrentes da disponibilidade de água em função da necessidade de duplicar a produção de
do tempo alimentos nos países em desenvolvimen-

5
Mais informações podem ser encontradas no site: http://www.icid.org
6
Para informações complementares acessar: http://www.worldagforum.org

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to. As fronteiras já esgotadas em diversos um dos presidentes honorários da Icid, que to pouco diante do potencial já estimado
países, dificuldades de avanços em países enfatizou a necessidade de duplicar a área (Quadros 1 e 2). Em fóruns como os da
como a China e o papel esperado da região irrigada no mundo e que o Brasil tem um Icid, com o histórico e a experiência de
e do Brasil, evidenciaram o potencial a enorme papel a desempenhar nessa emprei- muitos países, há muito para tratar sobre o
ser explorado com o desenvolvimento da tada. Essa reunião fez parte dos preparati- potencial do mundo e do Brasil, seja com
agricultura irrigada. Mais especificamente, vos para o Congresso Mundial da China7. mais refinamentos e avanços da pesquisa,
o setor foi abordado nos debates e pelo O Brasil tem condições excepcionais especialmente com a expansão vertical e
representante do Canadá, Aly Shady, hoje perante o mundo, porque ainda irriga mui- uma maior produtividade da água.

QUADRO 2 - Potencial para o desenvolvimen-


Mundo Brasil
to sustentável da irrigação no
Brasil
82% 56% 51,5% 95% 84% 65%
Área potencial
Região/ Estado
(ha)
Norte 14.598.000
Rondônia 995.000
Acre 615.000
Amazonas 2.852.000
49,5% Roraima 2.110.000
44%
35% Pará 2.453.000
Amapá 1.136.000
Tocantins 4.437.000
18% 16% Nordeste 1.304.000
5%
Maranhão 243.500
Área Produção Valor da Área Produção Valor da
colhida produção colhida produção Piauí 125.600
Ceará 136.300
Sob chuva com agricultura tradicional em sequeiro Rio Grande do Norte 38.500
Irrigação com infraestrutura hídrica Paraíba 36.400
Pernambuco 235.200
Gráfico 1 - Agricultura irrigada no mundo e no Brasil
Alagoas 20.100
FONTE: Christofidis (2010).
Sergipe 28.200
Bahia 440.200
QUADRO 1 - O Brasil e os dez países que mais irrigam Sudeste 4.229.000
Área irrigada Minas Gerais 2.344.900
 Ordem País Ano
(ha)
Espírito Santo 165.000
1 Índia 57.286 2000 Rio de Janeiro 207.000
2 China 53.820 2000 São Paulo 1.512.100
3 Estados Unidos 25.023 2000 Sul 4.507.000
4 Paquistão 17.820 2001 Paraná 1.348.200

5 Iran 8.132 2003 Santa Catarina 993.800


Rio Grande do Sul 2.165.000
6 Namibia 7.573 2002
Centro-Oeste 4.926.000
7 México 6.256 1997
Mato Grosso do Sul 1.221.500
8 Barbados 5.435 1989
Mato Grosso 2.390.000
9 Tailândia 5.004 1995 Goiás 1.297.000
10 Turquia 4.983 2006 Distrito Federal 17.500
23 Brasil 2.870 1998 Brasil 29.564.000
FONTE: Christofidis (2010). FONTE: Christofidis (2002).

7
Informações complementares podem ser encontradas no site: http://www.worldagforum.org/events.htm#congress

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DESENVOLVIMENTO DA As vantagens comparativas de poder estão necessitando de maior articulação do


AGRICULTURA IRRIGADA explorar mais intensamente cada pro- setor, dada a necessidade de formulação de
NO BRASIL priedade, com mais controles ambientais programas integrados, que requerem apoios
Por que um país com condições eda- e mercantis, constituem um diferencial e participações de vários organismos. Nes-
foclimáticas tão excepcionais tem feito a inigualável proporcionado pelas condições sa linha, com especial foco no Nordeste e
opção de evoluir de forma tão acanhada na brasileiras em favor da agricultura irriga- estudos centrados em perímetros públicos,
agricultura irrigada? Por que essa opção da. Isso exige estratégicos planejamentos. que estão sob o comando da Companhia
pelo maior risco de perdas e dos crescen- Assim, arrolar os potenciais que vão das de Desenvolvimento dos Vales do São
tes e problemáticos endividamentos com micros às grandes bacias hidrográficas, das Francisco e do Parnaíba (Codevasf), do
alternativas de utilização dos mais diversos Departamento Nacional de Obras Contra
recorrentes sinistros em decorrência da
mananciais, incluindo-se aí o reúso das as Secas (DNOCS) e de Estados, foi de-
falta ou excesso de água?
águas servidas, seja para uma área dentro senvolvido um amplo trabalho com vistas
Uma das respostas pode ser o da falta
de uma pequena propriedade, seja nas mais a um novo modelo para a irrigação, com o
de coragem e de segurança para mudar,
variadas escalas e arranjos produtivos, pre- apoio e participação de várias instituições,
decorrente da falta de políticas voltadas
cisa ser uma constante nas mais diversas sob a coordenação operacional do Banco
para o setor, com claros sinais para que
políticas. Trata-se de uma alternativa de do Nordeste.
todo o universo de produtores considere
investimentos nas formulações de planos, Nesse modelo, os impactos decorrentes
essa oportunidade de investir de forma
programas e projetos nos mais diversos do baixo custo dos empregos gerados, da
positiva, com perspectiva de melhores
níveis de governo, tendo como objetivo capacidade de abrir postos de trabalho que
resultados em seus negócios. O que é mais
maior fomentar o empreendedorismo do podem contemplar desde o analfabeto até
crucial para levar avante adequados pro-
setor privado.
jetos nas propriedades? Há a necessidade os mais sofisticados níveis de formação
Quanto mais elaboradas as regiona-
de maior capacitação nesse setor, com acadêmica e científica, aos modernos
lizações agroclimáticas, maiores serão
destaque especial para a logística, para conceitos para organizar e implementar
as chances de refinadas utilizações das
os indispensáveis programas integrados, negócios que tratam da logística e dos efei-
ferramentas proporcionadas pela agricul-
tendo a água como vetor de significativos tos multiplicadores nas cadeias produtivas,
tura irrigada, principalmente as do melhor
avanços. Podem ser várias as conjectu- agroindustriais e comerciais, explicitam
rendimento dos fatores de produção ao
ras, mas a falta de tradição e de cultura fundamentos importantes para os setores
longo do ano, com maiores possibilidades
dos brasileiros em torno da irrigação, da público e privado.
de maximização do seu aproveitamento.
drenagem, da reservação das águas e dos Com os resultados dos dois últimos
Fatores como, por exemplo, os dos ganhos
negócios delas decorrentes, é um fato que Censos Agropecuários, realizados pelo
genéticos e também da maior eficiência
se configura como dos mais determinan- na utilização dos diversos insumos pela
IBGE, em 1996 e 2006, foi possível obser-
tes para limitar os desejáveis avanços e garantia da presença da água nas horas var o crescimento da área irrigada no País,
crescimento dos agronegócios calcados na mais críticas, mais estratégicas. Assim terá de 2,66 milhões de hectares (1996), para
agricultura irrigada. a produção para conquistar as melhores 4,45 milhões de hectares (2006) (CENSO
Há um ônus decorrente de equivocadas janelas do mercado e lograr os menores AGROPECUÁRIO, 1998, 2007). Um acrés-
políticas econômicas e financeiras, com custos por unidade produzida, alcançando cimo que corresponde a cerca de 1,8 milhão
empreendedores que se inviabilizaram, as melhores oportunidades de negócios. de hectares em dez anos. Destaque especial
correndo todos esses riscos, sem que os O conhecimento em favor da elabo- para o crescimento da porcentagem da área
devidos ajustes fossem logrados. Isso cons- ração e condução de projetos de ponta, o irrigada pelos métodos de irrigação pres-
titui um pedágio, em injustos passivos, que preparo para que se faça a classificação dos surizados. Isso significa um crescimento
diversas lideranças têm lembrado de forma solos para a agricultura irrigada, aliados à médio anual bem melhor que o de todo o
recorrente, fazendo com que o almejado disponibilidade de equipamentos e insu- período, apesar de ainda muito modesto
empreendimento em favor da água irrigada mos para se implantar projetos com o que diante das potencialidades brasileiras.
seja inibido. Com uma visão mais holística há de mais avançado no mundo, já é uma Esses e outros estudos retratam a evo-
dessas iniciativas de muitos projetos inova- realidade no Brasil. Nesse ambiente, abrir lução de áreas com irrigação no Brasil. De
dores no bojo de uma política voltada para caminhos para bons investimentos, com forma consolidada, observa-se um incre-
o setor, certamente haverá um ambiente viabilidade socioeconômica e ambiental, mento médio de cerca de 80 mil ha/ano,
que enalteça o alcance positivo de muitos configura-se como dos mais promissores. de 1950 a 2006 (Gráfico 2). Isso, quando
desses projetos, tendo-os como exemplos Os desafios para o maior desenvolvi- comparado com o potencial de cerca de
em favor de bons negócios. mento da agricultura irrigada no Brasil 30 milhões de hectares considerados ap-
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tos para a agricultura irrigada (Quadro 2), nos mananciais hídricos, o que se confi- Dos macros aos pequenos
constata-se que seriam necessários quase gura como um complexo e amplo leque impactos da agricultura
quatro séculos para o Brasil usufruir plena- de opções, sempre a harmonizar com os irrigada
mente dessa riqueza em benefício de toda múltiplos usos da água e suas prioridades. Ao fazer uma reflexão, no final dos
a sociedade. Em todos os casos, numa visão bem anos 80, em decorrência de programas
Para o melhor acompanhamento e simples, trata-se de exercitar ao máximo e que movimentaram positivamente diver-
planejamento do setor, vale destacar a com equilíbrio, o natural ciclo hidrológico, sos segmentos com base na agricultura
importância das estatísticas oficiais, como ao perseguir a maior produtividade da água irrigada, especialmente nas décadas de
essas do IBGE. Com base nos resultados na agricultura, fazendo-a passar mais vezes 1970 e 1980, o governo federal instituiu
dos dois últimos Censos Agropecuários pelo sistema solo-planta antes de desaguar o Ministério Extraordinário da Irrigação
(CENSO AGROPECUÁRIO, 1998, 2007), no mar. Os mecanismos para esse empre- e slogans como “um hectare irrigado vale
realizados pelo IBGE em 1996 e 2006, endimento florescer de forma consistente, por dez”. Ou seja, o trabalho iniciado em
sendo esse último publicado em 2007, há com adequados projetos e equipamentos favor da agricultura irrigada, com diversos
muito para ser apreciado, refinado e devida- para atender do mini ao grande produtor, programas, refletiu na criação de um orga-
mente trabalhado, para que haja um seguro com o racional aproveitamento dos recur- nismo de âmbito nacional que teve vários
e rápido aproveitamento das vantagens sos hídricos em favor do desenvolvimento desdobramentos.
comparativas do Brasil perante o mundo. socioeconômico e ambiental, precisam ser Merecem destaques para aquela época,
Os solos aptos ao desenvolvimento sus- permeados por todo o Brasil. especialmente as duas que antecederam
tentável da agricultura irrigada no Brasil Assim, vale analisar os caminhos para à criação do Ministério Extraordinário,
são da ordem de 29.564.000 hectares. Essas que o País possa usufruir desse potencial o desenvolvimento dos cursos de pós-
possibilidades foram obtidas dos estudos constituído pelos negócios calcados na graduação e o fortalecimento da graduação.
desenvolvidos, em 1999, pelo Ministério agricultura irrigada, fazendo-o em toda a Com essa política, houve significativos
do Meio Ambiente (MMA), Secretaria sua plenitude. investimentos na qualificação dos recur-
de Recursos Hídricos, Departamento de Os levantamentos das áreas irrigadas sos humanos, com várias universidades
Desenvolvimento Hidroagrícola (CHRIS- pelos diversos métodos e por Estado, no podendo hoje dar suporte permanente ao
TOFIDIS, 2002). Levaram-se em conta Brasil, indicam que havia 4,454 milhões setor. Assim, as possibilidades de frutífe-
a existência de solos aptos à prática da de hectares irrigados no País (CENSO ras mobilizações e de desenvolvimento
irrigação (classes 1 a 4), a disponibilidade AGROPECUÁRIO, 2007). de programas integrados, que possam ser
de recursos hídricos sem risco de conflitos Com esses dados do Censo Agropecuá- implementados rapidamente em âmbitos
com outros usos prioritários da água, o rio (2007), foram elaborados os Quadros 3 nacional, regional, estadual, municipal,
atendimento às exigências da Legislação e 4, com as áreas em hectares dos dez sobre o melhor aproveitamento das bacias
Ambiental e Código Florestal, resultando Estados e dos 20 municípios que mais hidrográficas focadas na agricultura irri-
no potencial, por Estado, que caracteriza irrigam no Brasil. gada, com o respaldo de profissionais com
a diversidade dos ecossistemas brasileiros
e as capacidades de suporte à expansão da
agricultura irrigada de forma sustentável. 5.000
Potencialmente, toda propriedade tem 4.500
espaço para evoluir em negócios com o 4.000
desenvolvimento da agricultura irrigada. 3.500
Seja com o pequeno jardim bem trata- 3.000
mil (ha)

do, seja com a pequena horta ou pomar, 2.500


fazendo um diferencial no dia a dia das 2.000
refeições ao longo de todo o ano. Assim, 1.500
nas pequenas irrigações, nos detalhes, já 1.000
se pode celebrar marcantes diferenciais, 500
com impactos significativos para o desen- 0
volvimento e bem-estar das pessoas. Isso 1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2006
Ano
pode ser conseguido desde com a coleta de
chuvas, mesmo que estas sejam sazonais Gráfico 2 - Expansão da área irrigada no Brasil
e escassas, até com grandes captações FONTE: Christofidis (2010).

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QUADRO 3 - Estados que mais irrigam no Brasil


Área total Método/sistema de irrigação
Ordem Estado irrigada
(ha) Inundação Sulco Pivô central Aspersão Localizada Outros

1 Rio Grande do Sul 984.085 813.193 69.147 44.787 33.232 8.902 14.824

2 São Paulo 770.011 10.262 8.877 194.238 409.020 71.418 76.196

3 Minas Gerais 525.250 11.587 11.664 166.691 168.059 66.330 100.919

4 Bahia 299.485 17.061 56.183 69.040 91.574 41.532 24.097

5 Goiás 269.921 8.181 12.739 108.510 129.387 4.598 6.507

6 Espírito Santo 209.801 3.072 2.254 23.319 115.535 51.534 14.087

7 Alagoas 195.764 2.058 3.066 73.041 110.049 3.866 3.684

8 Pernambuco 152.917 6.325 21.036 20.887 73.264 17.828 13.577

9 Mato Grosso 148.425 963 1.397 30.909 106.506 2.460 6.190

10 Santa Catarina 136.249 98.532 10.948 1.020 19.160 2.430 4.158


FONTE: Christofidis (2010).

QUADRO 4 - Municípios que mais irrigam no Brasil


Área total Método/sistema de irrigação
Unidade da
Ordem Município irrigada
Federação Inundação Sulco Pivô central Aspersão Localizado Outros
(ha)
1 Itaqui RS 68.352 54.791 12.606 709 1 203 42

2 Uruguaiana RS 60.180 54.346 4.676 560 80 381 137

3 Santa Vitória do Palmar RS 56.464 55.396 550 0 0 7 8

4 Ribeirão Preto RS 55.921 0 25 0 55.218 36 637

5 São Borja RS 44.185 37.835 2.535 742 2.832 129 113

6 Alegrete RS 43.232 39.341 3.157 447 95 93 100

7 Coruripe Al 41.029 19 0 28.251 10.538 1.832 89

8 Cachoeira do Sul RS 39.291 36.211 2.373 252 142 34 280

9 Itamarandiba MG 37.615 0 0 0 33 957 36.618

10 Dom Pedrito RS 36.459 34.102 1.466 0 126 184 370

11 São Gabriel RS 32.342 27.266 2.683 1.400 85 38 871

12 Casa Branca SP 31.702 50 483 8.191 21.627 1.065 287

13 Juazeiro PE 30.758 366 24.222 0 1.405 4.423 163

14 Campos dos Goytacazes RJ 29.676 1.778 3.315 5.279 15.419 417 3.467

15 Mostardas RS 29.327 28.419 521 0 237 0 150

16 Unaí MG 28.573 0 69 26.362 1.718 325 99

17 Linhares ES 25.748 1.866 153 8.150 6.177 9.094 308

18 Paracatu MG 25.609 0 0 21.715 3.382 126 80

19 São Desidério BA 25.278 1.086 822 14.318 8.781 0 20

20 Itapira SP 24.688 0 39 0 24.586 11 36


FONTE: Christofidis (2010).

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elevada capacitação, já podem ser consi- produtividades médias de 6 toneladas de motiva programas cooperativos, partindo-
deradas como um positivo diferencial para trigo por hectare e as perspectivas são cada se da organização dos produtores, para que
que se encetem arrojados programas no vez mais promissoras. haja mais efetividade e eficiência na aloca-
Brasil. Àquela época, com a súbita mudan- Outro exemplo prático, da área animal, ção de esforços em favor de substanciais
ça política, independentemente de manter em curso é o Programa Cooperativo de mudanças, especialmente as de gestão dos
ou não esse Ministério Extraordinário, fal- Irrigação na Pecuária (PCIP), com uma negócios e de cada propriedade. Um grande
tou a percepção estratégica do alcance da ampla integração de esforços, envolvi- desafio, mais indicadores como esses da
agricultura irrigada. Em decorrência disso, mento do sistema cooperativo, como da Fazenda Boa Fé e de outros, significa algo
desde o início dos anos 90, o setor passou Cooperativa Central dos Produtores Rurais como produzir três vezes mais pasto/ano
a carecer de uma política nacional e dos de Minas Gerais (CCPR/MG) - Itambé e que a avançada Nova Zelândia.
programas integrados que o mesmo tanto concurso de organizações de pesquisa, Vale também observar que a geografia
requer. Qual o impacto dessa falta de uma como a EPAMIG. Para iniciá-lo, tomou-se do café no Brasil, graças à irrigação, tem
política nacional coordenada e articulada como referência um trabalho de irrigação avançado para fronteiras até pouco tempo
para a agricultura irrigada? de pastagens já consolidado, na Fazenda inimagináveis. Com essas mudanças, além
Boa Fé, em Conquista, MG, com vários dos enormes ganhos em produtividade, a
Negócios com base na anos de manejo do ‘Tyfton-85’, com o
agricultura irrigada e seus superior e diferenciada qualidade do café,
manejo dos animais e do pastejo sendo com significativas conquistas de mercado.
benefícios socioeconômicos
cuidadosamente controlados, tendo con-
e ambientais Como nos organizarmos para fazer isso
seguido até 22 unidades animais (UA)/ha florescer cada vez mais e melhor?
Quando se trata de segurança alimentar, nos momentos de climas mais favoráveis A amplitude de oportunidades com a
vale buscar como exemplo, o trigo irrigado e de 5 UA/ha nos extremos de frio. Nas introdução da irrigação nas propriedades,
no Brasil Central. Segundo a Item (2009a), avaliações, a produção de mais de 60 t de
seja parcial seja total, está na diversificação
esse cereal tem o potencial de colocar o matéria seca (MS)/ha/ano, digestibilidade
das atividades, nos trabalhos ao longo do
Brasil da situação de grande importador da ordem de 63% e 17% de proteína bruta
ano, inclusive na conjugação da agricultura
para a de exportador, de poder organizar e (PB), com uma média anual em torno de 13
garantir melhor qualidade dos produtos e irrigada como parceira do saneamento
a 14 UA/ha. Com esses indicadores, com o
de utilizar os instrumentos de comerciali- e revitalização dos corpos d’água, nos
acompanhamento da pesquisa, há muito a
zação, incluindo-se aí contratos de compras sinergismos e complementaridades com
desenvolver em favor dessa intensificação,
antes de plantar, bem como de impulsionar as explorações de sequeiro, bem como
com a possibilidade de muitas transforma-
diferentes e salutares mecanismos de ne- com todo o arcabouço para um profícuo
ções, revertendo-se o quadro das pastagens
gócios, a exemplo da participação do setor e harmônico trabalho em favor de melho-
degradadas, com capacidade média anual
segurador privado com os avanços nas ramentos ambientais. Entre eles está o da
de menos de 1 UA/ha. Esse quadro faz
políticas de governo, para que haja uma menor pressão por abertura de novas áreas
descortinar um campo para muitos ne-
adequada cesta de produtos de seguros, e, mais significativo ainda, intensificar
gócios em decorrência da introdução da
com positivas inovações. Um ambiente a produção por área, com a liberação de
irrigação. O diagnóstico geral é de que a
que permite tratar inclusive do seguro de grande maioria dessas pastagens brasilei- mais espaços para outras atividades, entre
renda. Como cultura de inverno, excelente ras está degradada e a capacidade média estas os negócios com florestas planta-
formadora de palha e de fácil manejo, o de suporte não chega a 1 UA/ha. Diante das e recomposição de áreas protegidas,
trigo facilita também uma exploração mais disso, se menos que 10% da área total da como das nascentes, de recuperação de
ampla de todo o Sistema Plantio Direto propriedade for organizada com pastagens áreas degradadas, com as possibilidades,
(SPD), com o melhor aproveitamento das e forragens irrigadas para corte, pode-se inclusive, de adequar as propriedades para
áreas ao longo do ano e possibilidades de abrigar todo o rebanho, liberando mais de recebimentos por serviços ambientais. Dis-
projetos que possam contemplar sequên- 90% da propriedade para outros negócios, so resulta mais riqueza, mais empregos e
cias e rotações de culturas que favoreçam como os de florestas plantadas, com as atividades mais sustentáveis sob o ponto de
uma melhor sanidade, o melhoramento dos desejáveis recomposições florísticas, for- vista ambiental, econômico e social. A pla-
solos e tantos outros benefícios. Para isso, talecimento dos mananciais hídricos e dos nejada organização da agricultura irrigada,
são necessários os programas integrados, negócios do produtor. Assim, o fomento de tendo como princípio o mais adequado
com a visão sistêmica do conjunto de pro- programas integrados, com amplas opor- aproveitamento das bacias hidrográficas
dutos na agricultura irrigada. Os produto- tunidades de visitas e acompanhamentos e a logística dos negócios, favorece a
res, como os da Cooperativa Agropecuária de bons exemplos, facilita os processos de formação de polos, que caracterizam o
do Alto Paranaíba (Coopadap), já registram transferência de tecnologia. Esse exemplo cluster, com toda a gama de abertura de
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novos serviços e efeitos multiplicadores sinergismos e complementaridades que diversos níveis de governo para fomentar
para atrair investimentos para as mais possam florescer, com novos patamares a agricultura irrigada, com o exercício de
diversas regiões. de negócios em decorrência das liberações uma ampla integração tecnológica, cientí-
Como negócio, vale destacar também, de áreas para novos empreendimentos e fica, socioeconômica, ambiental, mercantil
diante das dificuldades com o saneamento, diversificações, conforme mercados, de e de toda a logística requerida pelo setor.
que são diversas as culturas que podem ser articulações para melhor gerir as bacias Assim, nessa experiência recente da ABID,
irrigadas com águas servidas, entre estas as hidrográficas e fortalecer seus Comitês. mas que já passa de uma década, têm sido
florestas plantadas, com projetos devida- É óbvio que para conseguir esse avan- forjados bons embriões para impulsionar
mente preparados para esse fim. Daí o inte- ço nos negócios com base na agricultura arrojadas iniciativas. No bojo dessas
ligente aproveitamento dos nutrientes que irrigada e ser competitivo, há necessidade interlocuções, evidencia-se a carência de
podem vir do esgoto urbano, dos dejetos de de mais domínios sobre os diversos reque- políticas para o setor, a falta de planos, pro-
suínos, do setor sucroalcooleiro e de tantos rimentos da atividade, de um novo perfil gramas e projetos para, de forma ordenada
outros efluentes. Essas águas servidas, ao administrativo, de mudanças de compor- e integrada, atender a todos os requisitos
passarem pelo sistema solo-planta são de- tamentos e de inovações nas atitudes dos dentro e fora das propriedades, para que os
puradas e devolvidas ao ciclo hidrológico, agentes que possam atuar em favor desse positivos impactos da agricultura irrigada
podendo gerar riquezas e empregos, como desenvolvimento. Daí a importância dos possam beneficiar, de forma permanente e
já evidenciado em diversos empreendimen- programas integrados, para que haja en- crescente, toda a sociedade.
tos. No reúso dessas águas, há também a volvimento adequado em toda a logística Agricultura irrigada implica em mane-
utilização dos efluentes dos biodigestores, requerida, caso a caso. jar a água com sabedoria, controlando-a
que podem ser intermediários nesses Os trabalhos cooperativos e a utilização pela irrigação e drenagem, de forma que
processos, incluindo-se aí a geração de de exemplos que tiveram êxito, que já são supra as plantas nas quantidades e nos
energia e os negócios com os créditos de muitos pelo Brasil afora, são boas bases momentos certos, com a preservação e re-
carbono. Em todos os casos, cada um com de referências para fortalecer as tomadas vitalização dos recursos hídricos, fazendo-
seus requerimentos e peculiaridades, há um de decisões e, também, para promover as a mola propulsora do desenvolvimento.
saudável e desejável mecanismo de trans- indispensáveis capacitações dos recursos Como vantagens e impactos positivos para
formar essas eutroficações em benefícios humanos. Com o permanente envolvi- o desenvolvimento mineiro e brasileiro,
que vão do ambiental ao socioeconômico. mento e respaldo da pesquisa, do ensino vale salientar:
São projetos que requerem monitoramento e da assistência técnica, com o adequado a) geração de empregos permanentes,
para eliminar o indesejável a montante, trato das inovações e dos equipamentos e que podem ser considerados, como
antes da água servida entrar no sistema de serviços já disponíveis, o ambiente para média geral, da ordem de 0,5 a
irrigação. Mas são estratégicos para solu- a concepção de bons planos, programas 1/ha, a custos relativamente baixos
cionar problemas como os de lançar esses e projetos tem sido cada vez melhor no quando comparados com outros
efluentes diretamente nos cursos d’água. Brasil. Isso precisa ser permeado em todo setores da economia, com efeitos
o universo dos produtores, bem como nas multiplicadores na cadeia produtiva
CONSIDERAÇÕES FINAIS Ciências Agrárias e tantos outros segmen- e na formação e distribuição espa-
Diante da lógica de mais investimentos tos envolvidos nos negócios com base na cial de polos de desenvolvimento.
por área, com a contrapartida de menos agricultura irrigada. Trata-se de abraçar São diversos os estudos a estimar
riscos e muito mais oportunidades de uma política de resultados, com o governo os possíveis graus de manipulações
ganhos, aflora, de forma muito evidente, promovendo uma ampla abertura e fomen- e agregações de valores a cada
a necessidade do salto em gestão para que to junto ao setor privado. Os impactos daí produto específico, dentro e fora
se aproveite plenamente desse universo de derivados são altamente positivos. da propriedade, podendo ocupar,
negócios, com base na agricultura irrigada. Para isso, é indispensável uma mu- como um indicador geral, de até 4
Isso significa fomentar programas integra- dança de atitudes em favor da agricultura a 6 pessoas/ha nas hortaliças, de 2
dos para contemplar uma ampla capaci- irrigada, com um trabalho que facilite os a 4/ha na fruticultura e de 0,4 a 1/ha
tação, o melhor aproveitamento possível empreendimentos e uma adequada har- no restante;
dos fatores de produção ao longo de todo monia com os requerimentos ambientais, b) maior estabilidade e maior con-
o ano, com oportunidades de mais riquezas cuja resultante é a melhor convivência em centração espacial da produção,
e mais postos de trabalhos, impulsionando- prol de um próspero e sustentável desen- facilitando a formação desses polos
se os diversos elos das cadeias produtivas e volvimento. de desenvolvimento, com efeitos
comerciais, com arranjos cooperativos para Nesse ambiente, ano a ano, são recor- multiplicadores nas cadeias agroin-
favorecer ao máximo o aproveitamento dos rentes as demandas a provocarem os mais dustriais e de produtos in natura;
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Irrigação 109

c) significativa diminuição, ou mes- É oportuno destacar as permanentes ex- _______. Irrigação: a fronteira hídrica na
mo eliminação, de um dos mais pectativas por novos tempos na agricultura produção de alimentos. ITEM: Irrigação &
Tecnologia Moderna, Brasília, n.54, p.46-
perversos riscos agrícolas, que é o irrigada. Desde o ano de 1995 tramita no
55, 2002.
provocado pelas secas, por erráticos Congresso Nacional o Projeto de Lei (PL)
CENSO AGROPECUÁRIO 1995 - 1996. Rio
veranicos e, algumas vezes, pelos no 6.381, chamada Lei da Irrigação, que já
de Janeiro: IBGE, 1998.
encharcamentos das áreas em cul- contou com diversas audiências públicas e
CENSO AGROPECUÁRIO 2006. Resultados
tivo; é considerada fundamental para dinamizar
preliminares. Rio de Janeiro: IBGE, 2007.
d) utilização dos fatores de produção a gestão dos perímetros públicos. Em 19
FAO diz que países emergentes precisam
ao longo do ano, girando os recursos e 20 de maio de 2009 foi realizado o Se-
dobrar produção de alimentos até 2050.
e facilitando o retorno dos investi- minário Nacional – Agricultura Irrigada e Journal Agrosoft, 17 nov. 2009. Disponível
mentos; Desenvolvimento Sustentável, justamente em: <http://agrosoft.org.br/agropag/212448.
na Câmara dos Deputados, quando o presi- htm>. Acesso em: 17 ago. 2010.
e) aumento da capacidade compe-
titiva pela maior produção, pela dente daquela Casa sinalizou que esse PL FEDOROFF, N. et al. Radically rethinking
seria votado dentro de um mês. Naquela agriculture for the 21st century. Science,
melhor qualidade e uniformidade
ocasião instalou-se o Fórum Permanente de v.327, n. 5967, p.833-834, Feb. 2010.
dos produtos, pelas alternativas
Desenvolvimento da Agricultura Irrigada, ITEM: Irrigação & Tecnologia Moderna. Bra-
de controles das produções e pela
sob a inspiração do Ministério da Integra- sília: ABID, n.81, 2009a.
maior facilidade de constância no
ção Nacional. No âmbito do Ministério ITEM: Irrigação & Tecnologia Moderna. Bra-
mercado, com possibilidades de pro-
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento sília: ABID, n.83/84, 2009b.
dutividade cada vez mais crescente,
considerando as melhores condições (MAPA) houve a organização da Câmara
hídricas para o aproveitamento Temática de Agricultura Sustentável e Ir- BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
dos resultados dos investimentos rigação. Mas com as precárias evoluções CHRISTOFIDIS, D. Olhares sobre a políti-
em Pesquisa & Desenvolvimento observadas após esses acontecimentos, ca de recursos hídricos no Brasil: o caso da
(P&D) como um todo; registra-se a falta de prioridades para o bacia do rio São Francisco. Brasília: UnB,
setor, o que evidencia a necessidade de 2001. 430p.
f) melhor utilização de insumos, com
atenções diferenciadas de um novo gover- _______. Recursos hídricos, irrigação e se-
menores impactos ambientais. De
no para com a agricultura irrigada. gurança alimentar: o estado das águas no
fato, a agricultura irrigada bem- Brasil, 2001-2002. Brasília: Agência Nacio-
feita, associada a sistemas como nal de Águas, 2003. p.111 -134.
REFERÊNCIAS
SPD tem a capacidade de aproveitar ITEM: Irrigação & Tecnologia Moderna. Bra-
melhor a água, inclusive depurando- CRISTOFIDIS, D. Estatísticas agricultura sília: ABID, n.54, 2002.
a, facilitar o manejo da irrigação, irrigada: fórum agricultura irrigada. Brasília:
Ministério da Integração Nacional, 2010. ITEM: Irrigação & Tecnologia Moderna. ����
Bra-
e desempenhar importante papel sília: ABID, n.79, 2008.
Disponível em: <http://www.irrigacao.
socioeconômico e ambiental para org.br/docdownload/Apresentacao_ SATURNINO, H. M.; LANDERS, J. N. (Ed.).
um equilibrado desenvolvimento Demetrios_04maio2010.pdf>. Acesso em: The environment and zero tillage. Brasília:
nas bacias hidrográficas. 17 ago. 2010. APDC, 2002. 144p.

( 3 5 ) 3 7 3 5 1 1 0 1

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Importância do manejo da irrigação sobre a ocorrência


de doenças de plantas
Wânia dos Santos Neves 1
Polyanna Mara de Oliveira 2
Douglas Ferreira Parreira 3
Rosangela Dallemole Giaretta 4
Édio Luiz da Costa 5

Resumo - A irrigação de culturas agrícolas é uma prática que tem sido cada vez mais
adotada pelos agricultores, por possibilitar a obtenção de produtos de melhor qualidade
e significativos aumentos de produtividade. Entretanto, o aumento da produtividade
das lavouras irrigadas pode predispor as plantas ao ataque de várias doenças, se me-
didas de manejo integrado não forem adotadas adequadamente. Dentre essas medidas
está o manejo da irrigação que, quando feito de maneira correta, auxilia na redução de
algumas doenças em viveiros de produção de mudas e em campo. Existe uma relação
entre a ocorrência de determinadas doenças e o sistema de irrigação utilizado, sendo,
de maneira geral, as doenças da parte aérea favorecidas pelos sistemas de irrigação por
aspersão e as doenças de solo favorecidas pelos sistemas superficiais e por gotejamento.
É, portanto, necessário que se faça um manejo correto da irrigação com base na cultura
plantada, no clima da região e nas doenças presentes na área. Esse manejo é importante
para obter maior produção da cultura e melhor qualidade do produto, reduzindo danos
econômicos causados pelas doenças e auxiliando na questão ambiental, já que pode tam-
bém reduzir a quantidade de agrotóxicos aplicados nas culturas agrícolas.

Palavras-chave: Condição ambiental. Fitopatógenos. Doença de planta. Produção agrícola.

INTRODUÇÃO penha um papel de grande importância no agronômico e permitiu o cultivo em áreas


agronegócio mundial, já que é, tipicamen- limitadas pelas condições pluviométricas.
Para satisfazer uma necessidade huma-
te, uma técnica que se aplica aos cuidados Estudos científicos demonstram que o
na primordial, faz-se necessária a obtenção
operacionais na fase de produção vegetal. estresse causado pela falta de água reduz
de produtos agrícolas com qualidade e em
quantidade suficiente para a população A irrigação de culturas agrícolas é uma sensivelmente a produção vegetal, invia-
mundial. Em geral, esta função é determi- prática que tem possibilitado a obtenção de bilizando-a, por exemplo, em regiões de
nada por um conjunto de atividades que se produtos de melhor qualidade, significati- clima árido ou semiárido, onde a falta de
iniciam no segmento da própria produção vos aumentos de produção e produtivida- água é constante e limita a atividade agrí-
agrícola até atingir o consumidor final. des mais estáveis. Esta prática favoreceu a cola (FERNANDES; TESTEZLAF, 2002;
Dentre essas atividades, a irrigação desem- expansão de diversas culturas de interesse PULUPOL; BEHBOUDIAN; FISHER,

1
Enga Agra, Pós-Doc, Pesq. EPAMIG Centro-Oeste/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG.
Correio eletrônico: wanianeves@epamig.br
2
Enga Agrícola, D.Sc., Pesq. EPAMIG Norte de Minas/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio
eletrônico: polyanna.mara@epamig.br
3
Engo Agro,Doutorando, Bolsista CAPES/UFV - Depto. Fitopatologia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: douglas2002ufv@yahoo.com.br
4
Enga Agra, D.Sc., Prof a Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Campus CEDETEG - Depto. Agronomia, CEP 85040-080
Guarapuava-PR. Correio eletrônico: rodalemolle@yahoo.com.br
5
Engo Agrícola, D.Sc., Pesq. EPAMIG Centro-Oeste/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG.
Correio eletrônico: edio.costa@epamig.br

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1996). Por outro lado, em diversas pes- Uma das formas de disseminação de Entretanto, o excesso de rega geralmente é
quisas realizadas, já foi relatado o efeito patógenos para áreas onde eles ainda não mais prejudicial do que a falta, pois dificul-
positivo da irrigação sobre a produtividade ocorrem é através da água. A disseminação ta a circulação de ar no solo, impedindo o
de lavouras agrícolas em várias regiões do pode ocorrer tanto pela água de chuva crescimento das raízes, lixivia os nutrientes
País (MANTOVANI; SOARES, 2003). como pela água de irrigação advinda de e propicia o aparecimento de doenças. É
Entretanto, esse aumento de produtividade fontes contaminadas. A água utilizada para interessante ressaltar que a rega eficiente
das lavouras irrigadas pode predispor as irrigação de lavouras deve ser de origem é obtida quando o terreno fica suficiente-
plantas ao ataque de várias doenças, se conhecida e livre de patógenos. Mesmo mente umidificado, sem apresentar sinais
medidas de manejo integrado não forem que a água utilizada seja de boa qualidade, de encharcamento. Por isso, as sementeiras
adotadas adequadamente. Dentre essas é importante que esta não passe antes por devem apresentar solo com boa drenagem
medidas está o manejo da irrigação que, áreas onde estejam presentes patógenos natural e a irrigação deve ser realizada
quando feito de maneira correta, auxilia de solo, para que não haja contaminação adequadamente com água de boa quali-
na redução de algumas doenças em cam- de outras áreas. Em estudos realizados em dade. Alguns fatores podem interferir na
po. Esse manejo é importante para evitar a água utilizada para irrigação advinda de qualidade da água, dentre eles o pH, que
redução da produção e da qualidade, pois reservatórios, na Geórgia, Estados Unidos, poderá afetar a absorção de nutrientes, e a
atua no microclima da lavoura, o que pode foi observada a presença de fungos dos gê- contaminação por patógenos, que poderão
resultar em condições favoráveis ou não para neros Phytophthora, Pythium, Rhizoctonia e veicular doenças no viveiro. Irrigações
a ocorrência de epidemias (BERGAMIN Fusarium (SHOKES; MCCARTER, 1979). mais frequentes e com menor volume de
FILHO; KIMATI; AMORIM, 1995). Em outro trabalho realizado por Whiteside água evitam o acúmulo e a permanência
e Oswalt (1973) também foi relatada a pre- de água livre por mais tempo na superfí-
ORIGEM DA ÁGUA DE sença de espécies do gênero Phytophthora cie foliar e no substrato (GRIGOLETTI
IRRIGAÇÃO em água dos diques utilizados para irri- JÚNIOR; AUER; SANTOS, 2001).
gação de pomares de citros nos Estados Os principais fatores que vão determi-
A água utilizada na irrigação é, geral-
Unidos, que servia como fonte de inóculo nar a quantidade de água a ser usada na
mente, proveniente de rios, córregos, lagos
do patógeno, causando grandes prejuízos produção de mudas são: tipo de substrato,
ou poços localizados na propriedade ou nas
econômicos na cultura. tamanho do recipiente, umidade relativa
suas proximidades. É mais rara a utilização
Em um estudo realizado na água (UR) e temperatura. A boa distribuição das
de água de abastecimento público, princi-
utilizada para irrigação em sistema de mudas e um substrato com boa textura são
palmente pelo seu alto custo, uma vez que
plantio no Distrito Federal, foram de- fundamentais para uma irrigação eficiente.
a demanda exigida para este propósito é
tectados os fungos dos gêneros Pythium O tamanho do recipiente onde as mudas
bastante elevada. Portanto, a água destina-
spp., Rhizoctonia e Fusarium (FREITAS; serão plantadas também interfere na quan-
da à irrigação, na maioria das vezes, não
NASSER; CAFÉ FILHO, 2001). Esses tidade de água disponível para a planta, o
passa por qualquer tratamento prévio, o
fungos podem ser introduzidos em áreas que reflete na obtenção de mudas de boa
que pode vir a ser uma fonte potencial de
de produção agrícola e, em alta concen- qualidade. No que se refere à arquitetura
patógenos para a cultura agrícola a ser irri-
tração, causar sérios prejuízos, como o da planta, dependendo da distribuição
gada (SOUTO, 2005). Por isso, é de grande
tombamento de plântulas nos viveiros de e da posição de suas folhas, a irrigação
importância que a água de irrigação seja de
mudas, em cultivo protegido e no campo por aspersão poderá ou não molhar ade-
boa qualidade, para evitar o aparecimento
e, em baixa concentração, servem para quadamente o substrato (GRIGOLETTI
de doenças de plantas. Muitas vezes, a falta
colonizar novas áreas anteriormente livres JÚNIOR; AUER; SANTOS, 2001).
de conhecimento por parte do agricultor
de problemas fitossanitários (THOMSON; A podridão das sementes e o tomba-
sobre a importância na escolha da origem
ALLEN, 1974). mento de mudas são doenças importantes
e da qualidade da água pode refletir em
prejuízos futuros, já que o uso da água nas fases de sementeira e viveiro (Fig. 1).
IRRIGAÇÃO EM VIVEIROS DE Essas doenças podem causar a redução da
contaminada traz, como consequência, a
MUDAS população de plantas, o que traz danos eco-
necessidade de compra de produtos quí-
micos para controle de doenças e a queda A irrigação, quando realizada de nômicos e produtivos. Vários patógenos
de produtividade da cultura. Sendo assim, maneira correta e combinada com tratos podem causar tombamento de plântulas,
além da questão econômica, o uso de água culturais, possibilita a obtenção de mudas sendo muitos deles fungos do sistema ra-
de qualidade para a irrigação auxilia na de qualidade, tanto em relação ao tamanho dicular com grande adaptação ao solo. O
questão ambiental, já que pode reduzir a como em relação ao vigor. A falta e o ex- tombamento de mudas ou damping-off é
quantidade de agrotóxicos aplicados nas cesso de água podem ser prejudiciais para causado por fungos do solo, entre os quais
culturas agrícolas. a obtenção de mudas de boa qualidade. podemos citar como exemplo os dos gêne-
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112 Irrigação

irrigação serve como veículo de dissemi-


nação do patógeno, que leva os esporos
produzidos sobre as lesões para outras
partes da planta e para plantas vizinhas, o
que pode causar uma epidemia no viveiro
(FERREIRA, 1989).

INFLUÊNCIA DO SISTEMA
DE IRRIGAÇÃO SOBRE AS
DOENÇAS DE PLANTAS
Existe forte relação entre a ocorrência
de certos tipos de doenças e o sistema de

Rosangela Dallemole Giaretta


irrigação utilizado nas lavouras. Segundo
Lopes, Marouelli e Café Filho (2006), de
maneira geral, as doenças da parte aérea
são favorecidas pelos sistemas de irrigação
por aspersão, enquanto as doenças de solo
são favorecidas pelos sistemas superficiais
e por gotejamento.
Figura 1 - Tombamento de plântulas de pepino em sementeira, causado pelo fungo
Rhizoctonia sp. Na produção do tomate em sistema
orgânico, a irrigação por gotejamento tem
sido recomendada em substituição à as-
ros Pythium, Rhizoctonia e Phytophthora, Brasil (CARDOSO, 1990; CERESINI; persão por favorecer a economia de água,
que são comumente encontrados e podem SOUZA, 1997), causando podridões de se- o aumento da produtividade e da qualidade
infectar individualmente ou simultanea- mentes e raízes e tombamento de plântulas dos frutos, e a redução na incidência de
mente as plântulas (BERGAMIN FILHO; (Fig. 2 e 3). O controle da doença em solos é doenças foliares (SOUZA, 2003). Porém,
KIMATI; AMORIM, 1995). O tomba- extremamente difícil, podendo inviabilizar dentre os diversos fatores que favorecem o
mento ocorre normalmente associado ao a exploração econômica do feijoeiro. Dessa processo infeccioso das doenças em siste-
excesso de água do solo. forma, a irrigação adequada nessa fase é mas orgânicos, a umidade no dossel vege-
Doenças que causam tombamento de muito importante para reduzir as condições tativo e no solo é um dos mais importantes
mudas em viveiros, como as causadas pelo favoráveis ao aparecimento da doença. (BAPTISTA; MAROUELLI; RESENDE,
fungo Rhizoctonia sp., podem ter como Além das doenças que causam tomba- 2009). O sistema de gotejamento não dis-
controle preventivo a irrigação da muda mento e podridão de raízes de plântulas, tribui bem a água e aumenta a incidência
com água de boa qualidade e ambiente sem outra doença bastante comum em viveiros de podridão de raízes, caso os emissores
excesso de umidade e sombreamento. Em de mudas é o mofo-cinzento, causado pelo sejam colocados muito perto da planta
um trabalho realizado por Lewis e Papavi- fungo Botrytis cinerea. Essa doença ocorre (ZAMBOLIM; OLIVEIRA, 2007). Com o
zas (1977) foi observado que teores de água com frequência em mudas de eucalipto em aumento do cultivo protegido do tomate e o
no solo (acima de 70% da capacidade de viveiros florestais (ALFENAS et al., 2004) uso da irrigação por gotejamento, doenças
campo) favoreceu a infecção de R. solani e pode causar tanto a morte de mudas em como as causadas por oídios passaram a
em soja, o que demonstra a importância reboleiras como aleatoriamente nos cantei- ser importantes para a cultura. Segundo
da irrigação na quantidade correta já que ros, com abundante esporulação de colo- Baptista, Marouelli e Resende (2009), a
esse é um fungo de ocorrência comum em ração cinza sobre as estacas e miniestacas irrigação por aspersão reduz a severidade
viveiros de produção de mudas. mortas, folhas e brotações (FERREIRA, da doença, representando uma alternativa
Determinados patógenos presentes nas 1989). A constante irrigação por aspersão de controle do oídio em sistemas orgâni-
sementes e em plântulas, mesmo em taxas realizada nos viveiros de mudas garante a cos de produção. Portanto, é importante
relativamente baixas, podem gerar grandes formação de um microclima favorável ao avaliar quais as doenças presentes na área
perdas na produção, como é o caso da longo do ano, já que a presença de água de cultivo, para que seja recomendado o
podridão-radicular de Rhizoctonia, causada livre é essencial para a infecção de folhas sistema de irrigação mais apropriado, já
pelo fungo Rhizoctonia solani. Trata-se de de diferentes espécies hospedeiras de que em cultivos orgânicos não é permitido
uma das doenças radiculares mais comuns B. cinerea (COLEY-SMITH; VERHOEFF; o uso de produtos químicos para o manejo
do feijoeiro (Phaseolus vulgaris  L.) no JARVIS , 1980). Além disso, a água de de doenças.
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Rosangela Dallemole Giaretta

Rosangela Dallemole Giaretta


Figura 2 - Detalhe do sintoma causado pelo fungo Rhizoctonia solani, em plântulas de Figura 3 - Plântulas de feijão atacadas pelo
feijão, em condições de casa de vegetação fungo Rhizoctonia solani, em
condições de casa de vegetação

A irrigação por aspersão, especialmente dos benefícios diretos de uma irrigação e podridão-mole (Erwinia carotovora).
quando em regime de alta frequência, fa- bem realizada, esse manejo pode causar A doença conhecida como podridão-de-
vorece condições de elevada umidade na reduções no uso de agrotóxicos, o que Sclerotium causada pelo fungo Sclerotium
folhagem, podendo aumentar a incidência reduz a contaminação do meio ambiente rolfsii é uma doença comum em algumas
de doenças da parte aérea, como, por e do homem, além de aumentar a receita hortaliças. Plantas afetadas murcham
exemplo, a mancha-púrpura causada por líquida do agricultor. Mesmo nos sistemas ou ficam enfezadas em consequência de
Alternaria porri e o mofo-cinzento cau- de irrigação por aspersão, o agricultor necrose na região do colo, quase sempre
sado por Botrytis sp., ambas em cebola. O deve evitar a formação de pontos de en- circunscrevendo o caule. Em condições
impacto da gota d’água ao atingir a folha charcamento, os quais, frequentemente, se de alta umidade, verifica-se crescimento
da planta pode espalhar esporos fúngicos transformam em focos de disseminação e micelial branco que se desenvolve junto
ou células bacterianas, presentes em lesões multiplicação de doenças de solo. Dentre ao tecido doente, formando numerosos
preestabelecidas, aumentando a área afeta- as principais causas de encharcamento escleródios pequenos, arredondados, de cor
da na planta e propiciando a disseminação têm-se: vazamentos e desuniformidade de branca que evoluem para a cor pardo-escura
para plantas vizinhas. As doenças da parte distribuição de água, drenagem deficiente, (PUNJA; JENKINS, 1984). O patógeno
aérea são favorecidas por injúrias nas depressões no solo e áreas compactadas por pode atacar também frutos em contato
folhas, sejam mecânicas, sejam causadas máquinas e implementos (MAROUELLI, com o solo contaminado, provocando po-
por insetos, que, na presença de umidade, 2004). Deve-se evitar o plantio em solos dridão e deixando os frutos impróprios ao
funcionam como “porta de entrada” para maldrenados ou sujeitos ao encharca- comércio (Fig. 4), além de servir de fonte
fungos e bactérias (PINTO; COSTA; mento com impedimento físico (camada de inóculo no campo. Embora a maioria
RESENDE, 2007). adensada), já que nesta condição pode das doenças seja favorecida pelo exces-
No que diz respeito às hortaliças, em faltar oxigênio nas raízes e favorecer seu so de água, outras encontram condições
geral, o importante é saber que o excesso de apodrecimento. Algumas das principais favoráveis sob irrigação deficitária, como
água durante determinadas fases da cultura doenças de solo em área irrigada em ex- por exemplo, a sarna-comum da batata,
favorece ou reduz o aparecimento de do- cesso e/ou de drenagem inadequada são: que aumenta de intensidade em solos mais
enças (SILVA; MAROUELLI, 2005?). O tombamento de muda (Rhizoctonia solani, secos, e o oídio, que tem maior incidência
manejo de irrigação deve ser considerado Pythium spp., Fusarium spp.), antracnose- quando menor quantidade de água é aplica-
pelo produtor como medida preventiva foliar (Colletotrichum gloeosporioides), da na parte aérea das plantas (BERGAMIN
no controle integrado de doenças. Além podridão-basal (Fusarium oxysporum) FILHO; KIMATI; AMORIM, 1995).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
As doenças de plantas podem ocorrer
mesmo sob condições onde a irrigação é
realizada de forma adequada. Nesse caso,
deve-se reavaliar a frequência e a lâmina
de irrigação aplicada. Os danos causados
pela ocorrência de doenças são maiores do
que os provocados pela falta moderada de
água. Por isso, faz-se necessário um mane-
jo correto da irrigação com base na cultura
plantada, no clima da região e nas doenças
presentes na área. No caso de alta inci-
dência de doenças favorecidas pela água,

Rosangela Dallemole Giaretta


por exemplo, deve-se aumentar o turno
de rega, ou seja, diminuir a frequência de
irrigação ou reduzir o tempo de irrigação.
Em geral, o aumento do intervalo de irri-
gação deve ser a estratégia preferida para
doenças favorecidas pelo excesso de água,
Figura 4 - Sintomas da doença podridão-de-Sclerotium, causada pelo fungo Sclerotium principalmente em se tratando daquelas
rolfsii, em fruto de pimentão da parte aérea e irrigação por aspersão
(MAROUELLI, 2004).
Para o caso de fruteiras, o sistema de aumenta a incidência de doenças e lixivia
AGRADECIMENTO
aspersão ou pivô central não é adequado por os nutrientes, afetando consequentemente
molhar a parte aérea da planta e acarretar a produtividade da cultura. À Fapemig pelo apoio financeiro às
problemas na polinização e aumento da Em relação ao café irrigado, alguns pesquisas.
incidência de doenças. Esse sistema lava os trabalhos demonstram que o sistema
defensivos e fertilizantes foliares, faz com de irrigação utilizado pode interferir no REFERÊNCIAS
que os intervalos de aplicação sejam redu- progresso de certas doenças, como é o
ALFENAS, A.C. et al. Clonagem e doenças
zidos, aumentando, dessa forma, o volume caso da ferrugem (Hemileia vastatrix). do eucalipto. Viçosa, MG: UFV, 2004. 442p.
de defensivos e o custo de produção. Deve- A intensidade da ferrugem é maior em
BAPTISTA, M.J.; MAROUELLI, W.A.;
se, então, evitar a irrigação por aspersão lavouras irrigadas por pivô central, do que
RESENDE, F.V. Influência dos sistemas
convencional. Caso o produtor já tenha esse em lavouras irrigadas por gotejamento, por
de irrigação por aspersão e gotejamen-
sistema de irrigação, recomenda-se irrigar causa do molhamento foliar que possibilita
to na ocorrência de oídio em tomateiro
somente pela manhã, para evitar o aumento a disseminação e a reinoculação do pató- cultivado em sistema orgânico de produ-
da umidade durante a noite. Os sistemas geno nas plantas (JULIATTI et al., 2000). ção. Revista Brasileira de Agroecologia,
de irrigação localizados (microaspersão e Outra doença importante para a cultura é a v.4, n.2, 2009. VI Congresso Brasileiro de
gotejamento) são os mais indicados para mancha-de-olho-pardo, causada pelo fungo Agroecologia e II Congresso Latinoameri-
o caso de fruteiras, pois não molham as Cercospora coffeicola. O fungo ataca tanto cano de Agroecologia.
folhas. Entretanto, existem algumas des- folhas quanto frutos do cafeeiro, causando BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM,
vantagens para os dois sistemas. O sistema desfolha, amadurecimento precoce, queda L. (Ed.). Manual de fitopatologia: princípios
de microaspersão distribui bem a água, mas prematura dos frutos e redução na produ- e conceitos. 3. ed. São Paulo: Agronômica
aumenta a incidência de plantas daninhas tividade do cafeeiro. Segundo Carvalho e Ceres, 1995. v.1, 919p.
e de certas doenças. O sistema de goteja- Chalfoun (2000), baixo nível de água no CARDOSO, J.E. Doenças do feijoeiro cau-
mento não distribui bem a água e aumenta solo é um dos principais fatores que pre- sadas por patógenos de solo. Goiânia:
a incidência de podridão de raízes, caso os dispõem o cafeeiro ao ataque desta doença. EMBRAPA-CNPAF, 1990. 30p. (EMBRAPA-
emissores sejam colocados muito perto do Dessa forma, é de fundamental importância CNPAF. Documento Técnico, 30).
tronco (ZAMBOLIM; OLIVEIRA, 2007). um estudo das características do solo e CARVALHO, V.L. de; CHALFOUN, S.M. Do-
O correto, para qualquer sistema de irriga- do clima da região de plantio para que a enças do cafeeiro: diagnose e controle. Belo
ção a ser adotado, é irrigar na medida certa, irrigação seja feita sem que haja excesso Horizonte: EPAMIG, 2000. 44p. (EPAMIG.
já que o excesso de água durante a irrigação ou falta de água no solo. Boletim Técnico, 58).

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Irrigação 115

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INSTRUÇÕES AOS AUTORES


INTRODUÇÃO PRAZOS E ENTREGA DOS ARTIGOS
O Informe Agropecuário é uma publicação seriada, periódica, Os colaboradores técnicos da revista Informe Agropecuário devem
bimestral, de caráter técnico-científico e tem como objetivo principal observar os prazos estipulados formalmente para a entrega dos
difundir tecnologias geradas ou adaptadas pela EPAMIG, seus parceiros trabalhos, bem como priorizar o atendimento às dúvidas surgidas ao
e outras instituições para o desenvolvimento do agronegócio de Minas longo da produção da revista, levantadas pelo coordenador técnico,
Gerais. Trata-se de um importante veículo de orientação e informação pela Revisão e pela Normalização. A não-observância a essas normas
para todos os segmentos do agronegócio, bem como de todas as ins- trará as seguintes implicações:
tituições de pesquisa agropecuária, universidades, escolas federais e/ a) os colaboradores convidados pela Empresa terão seus trabalhos
ou estaduais de ensino agropecuário, produtores rurais, empresários excluídos da edição;
e demais interessados. É peça importante para difusão de tecnologia, b) os colaboradores da Empresa poderão ter seus trabalhos excluídos
devendo, portanto, ser organizada para atender às necessidades de ou substituídos, a critério do respectivo coordenador técnico.
informação de seu público, respeitando sua linha editorial e a priori- O coordenador técnico deverá entregar ao Departamento de
dade de divulgação de temas resultantes de projetos e programas de Publicações (DPPU) da EPAMIG os originais dos artigos em CD-ROM ou
pesquisa realizados pela EPAMIG e seus parceiros. pela Internet, já revisados tecnicamente, 120 dias antes da data prevista
A produção do Informe Agropecuário segue uma pauta e um para circular a revista. Não serão aceitos artigos entregues fora desse
cronograma previamente estabelecidos pelo Conselho de Difusão de prazo ou após o início da revisão lingüística e normalização da revista.
Tecnologia e Publicações da EPAMIG, conforme demanda do setor O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data
agropecuário e em atendimento às diretrizes do Governo. Cada edi- de publicação da edição.
ção versa sobre um tema específico de importância econômica para
Minas Gerais. ESTRUTURAÇÃO DOS ARTIGOS
Do ponto de vista de execução, cada edição do Informe Agropecuário Os artigos devem obedecer a seguinte seqüência:
terá um coordenador técnico, responsável pelo conteúdo da publicação, a) título: deve ser claro, conciso e indicar a idéia central, podendo
pela seleção dos autores dos artigos e pela preparação da pauta. ser acrescido de subtítulo. Devem-se evitar abreviaturas, parên-
teses e fórmulas que dificultem a sua compreensão;
APRESENTAÇÃO DOS ARTIGOS ORIGINAIS b) nome do(s) autor(es): deve constar por extenso, com nume-
ração sobrescrita para indicar, no rodapé, sua formação e títulos
Os artigos devem ser enviados em CD-ROM ou pela Internet, no
acadêmicos, profissão, instituição a que pertence e endereço.
programa Word, fonte Arial, corpo 12, espaço 1,5 linha, parágrafo
Exemplo: Engo Agro, D.Sc., Pesq. U.R. EPAMIG SM, Caixa
automático, justificado, em páginas formato A4 (21,0 x 29,7cm).
Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
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c) resumo: deve constituir-se em um texto conciso (de 100 a 250
tar o quadro, bem como valer-se de “toques” para alinhar elementos
palavras), com dados relevantes sobre a metodologia, resulta-
gráficos de um quadro.
dos principais e conclusões;
Os gráficos devem ser feitos em Excel e ter, no máximo, 15,5 cm
d) palavras-chave: devem constar logo após o resumo. Não
de largura (em página A4). Para tanto, pode-se usar, no mínimo, corpo
devem ser utilizadas palavras já contidas no título;
5 para composição dos dados, títulos e legendas.
e) texto: deve ser dividido basicamente em: Introdução, Desenvol-
As fotografias a serem aplicadas nas publicações devem ser re-
vimento e Considerações finais. A Introdução deve ser breve e
centes, de boa qualidade e conter autoria. Podem ser enviadas em
enfocar o objetivo do artigo;
papel fotográfico (9 x 12 cm ou maior), cromo (slide) ou digitalizadas.
f) agradecimento: elemento opcional;
As foto-grafias digitalizadas devem ter resolução mínima de 300 DPIs
no formato mínimo de 15 x 10 cm e ser enviadas em CD-ROM ou g) referências: devem ser padronizadas de acordo com o
“Manual para Publicação de Artigos, Resumos Expandidos e
ZIP disk, prefe-rencialmente em arquivos de extensão TIFF ou JPG.
Circulares Técnicas” da EPAMIG, que apresenta adaptação das
Não serão aceitas fotografias já escaneadas, incluídas no texto, em
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em computador no Corel Draw. Neste último caso, enviar em CD-ROM NOTA: Estas instruções, na íntegra, encontram-se no “Manual para
ou pela Internet. Os arquivos devem ter as seguintes extensões: TIFF, Publicação de Artigos , Resumos Expandidos e Circulares Téc-
EPS, CDR ou JPG. Os desenhos não devem ser copiados ou tirados de nicas” da EPAMIG. Para consultá-lo, acessar: www.epamig.br,
Home Page, pois a resolução para impressão é baixa. entrando em Publicações ou Biblioteca/Normalização.

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