1 Pedagogo pelo Instituto de Ensino Superior do Amapá – IESAP. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Faculdade Internacional de Curitiba – FACINTER. Professor da Educação Especial do Centro Educacional Raimundo Nonato Dias Rodrigues – CERNDR
RESUMO: Este artigo expõe o trabalho psicopedagógico desenvolvi-
do na educação especial. Tendo como objetivos a análise e a reflexão sobre a ação psicopedagógica no ambiente educacional inclusivo. Sua metodologia concentra-se na revisão bibliográfica sob uma perspecti- va crítica da inclusão escolar. E, para finalizar o estudo, conclui-se so- bre a necessidade de um olhar diferenciado da psicopedagogia no pro- cesso de ensino-aprendizagem da criança com necessidades educacio- nais especiais. Assim, o trabalho psicopedagógico deve ultrapassar a ideia genérica da inclusão, expandindo sua proposta e possibilitando seu apoio essencial e continuo a essa criança na vida educacional e so- cial. Palavras-chave: Trabalho Psicopedagógico, Educação Especial, Am- biente Educacional Inclusivo, Psicopedagogia, Criança com Necessi- dades Educacionais Especiais. ABSTRACT. The psychopedagogue in special education. This pa- per describes the work developed in psychology special education. Having as objective analysis and reflection on action psicopedagogic in inclusive educational environment. Its methodology focuses on the literature review on a critical school inclusion. And, to complete the study, we conclude on the need for a different look of educational psy- chology in the teaching and learning of children with special educa- tional needs. Thus, work psychology exceed the general idea of inclu- sion, expanding its proposal and allowing your essential support and keep the child in the educational and social life. Keywords: Job Psicopedagogic, Special Education, Environment Inclusive Education, Educational Psychology, Child with Special Educational Needs.
1 Introdução referentes à atuação do psicopedagogo
A produção deste artigo desenvol- na educação especial através de para- veu-se a partir de uma pesquisa biblio- digmas inclusivos. gráfica. Tendo como justificativa a im- A priori, será realizada uma aborda- portância da compreensão do trabalho gem objetiva e sucinta sobre a psicope- psicopedagógico desenvolvido no am- dagogia, iniciando seus estudos na Eu- biente educacional inclusivo. Bem co- ropa, consolidando-se na América Lati- mo objetivando analisar o trabalho do na, mais precisamente na Argentina e, psicopedagogo e interpretar os dados estendendo-se ao Brasil. Como também o trabalho psicopedagógico desenvol- Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902 Macapá, v. 2, n. 1, p. 01-10, jan./jun., 2012 2 Almeida Júnior
vido na educação especial, através do notoriedade nas discussões científicas.
processo de ensino-aprendizagem de A presente autora complementa que, crianças com necessidades educacio- além disso, no final do mesmo século, nais especiais1. Educadores europeus, como Jean Marc Por conseguinte, ressaltará a impor- Gaspard Itarde, Johann Heinrich Pesta- tância do trabalho psicopedagógico ao lozzi e Edouard Seguin, tomando por recorrer a múltiplos pressupostos teóri- base os pensamentos do Psicanalista cos, no tocante ao fundamentar-se em Jacques-Marie Émile Lacan, começa- assistir sistematicamente o desenvolvi- ram a dedicar seus estudos às crianças mento das crianças com necessidades que apresentavam dificuldades de a- educacionais especiais. Para comple- prendizagem em razão de vários distúr- mentar essa discussão/análise, será a- bios. presentada o foco central da presente, o Assim, em 1898 o professor de Psi- trabalho do psicopedagogo no ambiente cologia Edouard Claparèd e o Neurolo- educacional inclusivo. Assim, compre- gista François Neville, foram os precur- ende-se que a ação psicopedagógica no sores ao introduzirem em escolas públi- ambiente educacional inclusivo é de cas as "classes especiais" destinadas à extrema relevância, ao oferecer um a- educação de crianças com retardo men- poio efetivo à criança com necessidades tal. Na mesma época, a Psiquiatra itali- educacionais especiais no contexto e- ana Maria Montessori, cria um método ducacional e social. de aprendizagem destinado a essas cri- anças. 2 Psicopedagogia e educação especial Influenciado pela tendência montes- Os estudos, bem como sucessivas soriana, o Psiquiatra belga Ovide De- preocupações sobre os problemas de croly, começa a interessar-se sobre as aprendizagem começaram a ser difun- situações de aprendizagem de crianças - didos na Europa no século XIX. O de- educação infantil, visando consequen- senvolvimento da psicopedagogia ocor- temente à "apreensão globalizadora: a reu na França. Na literatura francesa, criança e a família, a criança e a escola, destaca-se a psicopedagoga francesa a criança e o mundo animal e assim por Janine Mery. Segundo Bossa (2007), diante" (ARANHA, 1996, p. 173). Mery ressalta que ainda no século XIX Em meio a esse contexto, surgem es- estudos e interesses sobre a compreen- colas destinadas a crianças com a a- são e o atendimento de portadores de prendizagem lenta. Na França por volta deficiências2 sensoriais, debilidade de 1930, são criados os primeiros cen- mental e outros problemas que com- tros de orientação educacional infantil prometem a aprendizagem, ganharam formado por educadores, médicos, psi- cólogos e assistentes sociais. Já em 1946, J. Boutonier e George Mauco 1 Alunos com deficiência, transtornos globais do fundam os primeiros Centros Psicope- desenvolvimento e altas habilidades e/ou superdotação. dagógicos. Com objetivo de um estudo 2 A menção a portadores de deficiências diz respeito interdisciplinar através dos conheci- em atribuir ao contexto daquela época. Atualmente, mentos da psicologia, da psicanálise e o termo usado é pessoas com necessidades especiais. da educação, para tratar de crianças Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902 Macapá, v. 2, n. 1, p. 01-10, jan./jun.,2012 O psicopedagogo na Educação Especial 3
com problemas de aprendizagem. gando ao Brasil.
A partir de 1948, Debesse passa a u- No Brasil, a psicopedagogia come- tilizar o termo "Pedagogia Curativa", a çou a ser difundida na década de 80, qual tinha como objetivo atender tais com profissionais engajados no estudo crianças. De acordo com Maluf (2007), das causas e intervenções dos proble- na literatura psicopedagógica outros mas de aprendizagem. Nesse período, profissionais, como Maud Mannoni, acreditava-se que os problemas de a- Françoise Douto, Pierre Vayer, Pichon- prendizagem decorriam de fatores or- Rivière como tantos, foram importantes gânicos. Em 1987, Doris J. Johnson e e grandes expoentes na contribuição Helmer R. Myklebrust, através de sua através de estudos sobre os problemas literatura: Distúrbios de Aprendizagem, de aprendizagem, originando a Psico- foi possível compreender os fatores pedagogia Clínica. orgânicos através dos conceitos de Dis- Com o século XX, a expansão do en- função Cerebral Mínima (DCM). sino é evidente ao tornar a educação A psicopedagogia paulatinamente básica obrigatória em vários países. Na vem sofrendo transformações significa- Argentina, a atuação psicopedagógica tivas desde os primeiros conceitos, refe- configura-se na estruturação e/ou na renciados pela DCM. Atualmente, o fundamentação da educação e da saúde. estudo psicopedagógico possui um ca- Na educação, o trabalho psicopedagó- ráter interdisciplinar, possibilitando a gico está relacionado em cooperar na transposição um conhecimento especí- diminuição do fracasso escolar e, a sa- fico, para um conhecimento cuja sua úde referencia-se em reconhecer e atuar amplitude seja realizada por meio da sobre as alterações da aprendizagem Sociologia, Psicologia, Antropologia, sistemática e/ou assistemática. Linguística, Filosofia, Psicolinguística, Para tanto, "a psicopedagogia é o Psicanálise, Neurologia, Fonoaudiolo- campo da reflexão e do fazer pedagógi- gia, Medicina, Pedagogia e dentre ou- cos, tendo como foco os fatores psico- tras. lógicos. Tem como objeto de estudo o A psicopedagogia nasceu para aten- processo de aprendizagem e utiliza na der à demanda da não- prática recursos diagnósticos, corretores aprendizagem, das dificuldades de e preventivos próprios" (ASSIS, 2007, aprendizagem e do fracasso escolar, p.19). fundamentando-se no conhecimento Com a abordagem da epistemologia de várias ciências e áreas do conhe- convergente de Visca (1991) perante a cimento. Organizou-se como prática psicanálise de Sigmund Freud, a psico- exercida por profissionais de dife- logia social de Pichon Rivière e a epis- rentes áreas até o surgimento de cur- temologia genética de Jean Piaget, o sos específicos. A junção de deman- estudo sobre as dificuldades de apren- da, fundamentação teórica e prática dizagem deixa de ser apenas clínico e originou essa nova área de conheci- configura-se também institucional. A mento e essa nova profissão, inaugu- psicopedagogia a partir desta concep- rando a área de atuação específica ção começa a expandir-se, superando (GRASSI, 2009, p. 96). limites geográficos e/ou culturais, che- Assim, baseando-se pelas relações Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902 Macapá, v. 2, n. 1, p. 01-10, jan./jun., 2012 4 Almeida Júnior
interdisciplinares, está o ambiente esco- criança com necessidades educacionais
lar no que diz respeito à inclusão de especiais o direito à educação e, o res- crianças com necessidades educacio- peito por sua diversidade estudantil nais especiais, através da educação es- (MITTLER, 2003). pecial. Para Vygotsky apud Beyer O modelo educacional carece neces- (2006), o ensino destinado à criança sariamente do olhar do psicopedagogo com necessidades educacionais especi- sobre a prática pedagógica no ambiente ais tende a propiciar o seu desenvolvi- educacional inclusivo, haja vista que a mento cognitivo através do conheci- psicopedagogia não se ocupa em estu- mento histórico-cultural existente na dar somente às dificuldades que o aluno sociedade em que ela nasceu, isto é, apresenta no processo de ensino- seja marcada pela promoção variada e aprendizagem, mas sim sua relação rica de suas vivências sociais. com o social, em meio à construção do [...] A intervenção pedagógica pro- conhecimento coletivo, bem como às voca avanços que não ocorreriam influências que podem ser constituídas espontaneamente. A importância da mediante essa relação. intervenção deliberada de um indi- [...] apesar de a psicopedagogia ter víduo sobre os outros como forma de surgido como uma disciplina com- promover desenvolvimento articula- plementar da psicologia e da medi- se como um postulado básico de Vy- cina, devido a necessidade do aten- gotsky: a aprendizagem é fundamen- dimento ao aluno com dificuldade de tal para o desenvolvimento desde o aprendizagem, atualmente esse ramo nascimento da criança. A aprendiza- preocupa-se não só com o aluno e gem desperta processos internos de sua família, mas com tudo que o cer- desenvolvimento que só pode ocorrer ca, influencia e constrói: a escola quando o indivíduo interage com ou- como instituição, a comunidade onde tras pessoas. O processo de ensino- estão inseridos, os professores, a e- aprendizagem que ocorre na escola quipe técnica administrativa. [...] propicia o acesso dos membros ima- dessa forma, é preciso lançar seu o- turos da cultura letrada ao conheci- lhar para a comunidade, a sociedade mento construído e acumulado pela e a cultura. O foco deixa de ser ape- ciência e a procedimentos metacog- nas clínico e torna-se também insti- nitivos, centrais ao próprio modo de tucional (ASSIS, 2007, p. 19/20). articulação dos conceitos científicos Refletir sobre a importância do tra- (OLIVEIRA, 1992, p. 33). balho do psicopedagogo no ambiente A figura do psicopedagogo é de ex- escolar inclusivo é imprescindível, de- trema relevância na educação especial, vido à necessidade do mesmo conduzir por auxiliar a criança com necessidades à criança com necessidades educacio- educacionais especiais em sua adapta- nais especiais a uma formação sócioin- ção no ambiente escolar, beneficiando-a teracionista entre o aprender e o com- com que a escola possa lhe oferecer. A preender, isto é, possibilitá-la a um en- escola, de acordo com essa premissa tendimento em vista daquilo que está precisa rever sua postura, como tam- sendo mais relevante naquele momento bém a de seus profissionais ofertando à para ela, seja tal representado por meio Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902 Macapá, v. 2, n. 1, p. 01-10, jan./jun.,2012 O psicopedagogo na Educação Especial 5
de valores, sonhos ou fantasias, levando preveni-la. Nesse sentido, considera-se
em consideração a comunidade que faz que o contingente educacional é multi- parte do convívio social deste ser. cultural, assim a aprendizagem é um A educação do século XXI prima-se resultado da estimulação ambiental so- para a abertura de novos olhares e pen- bre o indivíduo e suas relações (JOSÉ; samentos sobre as pessoas, onde a ética COELHO, 2008). e a solidariedade prevaleçam com ênfa- Essa relação dialética deverá aconte- se. A pedagogia contemporânea assume cer a partir do momento em que é ga- uma característica interdisciplinar, pro- rantido o acesso à educação de crianças pondo o redimensionamento nas ações com necessidades educacionais especi- e nos valores, pautados em uma visão ais. Para tanto, fundamentando-se pela dialética do social e do mundo (SAN- ideia de Facion e Castro (2009), a edu- TOS, 2007). Logo, o trabalho psicope- cação contemporânea prima pela diver- dagógico na educação especial é indis- sidade humana, propondo o redirecio- pensável ao fundamentar-se em pressu- namento dos valores profissionais, con- postos epistemológicos cujo seus enfo- templados através de uma prática peda- ques garantem a contextualização dos gógica diferenciada ao privilegiar as organismos/sistemas que compõem a subjetividades da criança com necessi- vida social da criança com necessidades dades educacionais especiais. educacionais especiais. O professor, precisa estar preparado para os novos desafios educacionais, 3 Noções e implicações no processo em vista de desenvolver posturas refle- de inclusão de crianças com necessi- xivas e críticas, mediante a busca e o dades educacionais especiais: uma aprendizado constante de conhecimen- abordagem psicopedagógica tos. E, para que isso ocorra o profissio- As discussões sobre o termo psico- nal precisa conhecer, como também pedagogia, atualmente perpas- buscar entender o porquê de seguir esta sam/produzem na sociedade científica ou aquela tendência educacional, avali- sucessivos estudos em decorrência do ando até que ponto ela se faz relevante que vem a ser o presente. A psicopeda- quanto sua perspectiva educacional. gogia se ocupa com a aprendizagem Assim, é notório considerar que a prá- humana, o que acaba por representar e xis pedagógica do educador da educa- extrapolar os limites da Psicologia e da ção especial, bem como do psicopeda- Pedagogia. Como também, estuda al- gogo poderá vir estar fundamentada sob gumas características desta aprendiza- o paradigma crítico-materialista. gem, tais sejam: como se aprende, co- Segundo Reichmann apud Beyer mo se processa esse aprendizado, que (2006), o paradigma crítico-materialista fatores produzem a aprendizagem ou deverá ser interpretado, mediante a rea- por que não estar aprendendo. lidade dos indivíduos, que são inseridos Ao observar essa situação, o psico- em um contexto social concreto, por pedagogo lançar-se a três questiona- revelar situações relacionais convergen- mentos fundamentais sobre essa difi- tes e/ou divergentes, através da tomada culdade apresentada pelo aluno: como de consciência por sua existência ao reconhecê-la, como tratá-la ou como confrontar-se com o real por ser uma Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902 Macapá, v. 2, n. 1, p. 01-10, jan./jun., 2012 6 Almeida Júnior
pessoa com deficiência. mudanças de comportamentos e atitu-
No entanto, para recorrer e atribuir des ao ampliar as potencialidades da esse paradigma à ação psicopedagógica criança com necessidades educacionais na educação especial, o psicopedagogo especiais, visando atribuir às situações carece estar fundamentado, ao tecer novos conhecimentos, novas habilida- reflexões em decorrência de bases epis- des e/ou novas aprendizagens, com ex- temológicas e/ou conceituais, permitin- periências enriquecedoras advindas de do-lhe a inovação e a reelaboração de seu meio social. novas práticas de ensino, em decorrên- cia de propor a inclusão de alunos com 4 O psicopedagogo no ambiente edu- necessidades especiais no ambiente e cacional inclusivo educacional e social. O desenvolvimento do trabalho psi- Tomando como referência as ideias copedagógico originou-se nos atendi- de Lakomy (2008), o conhecimento de mentos a crianças que apresentam pro- concepções teóricas no ambiente edu- blemas relacionados a dificuldades de cacional, torna possível ao professor aprendizagem. A atuação de profissio- e/ou ao psicopedagogo o uso de estra- nais que estudam questões que envol- tégias, no sentido de estimular o desen- vam o objeto de estudo da Psicopeda- volvimento cognitivo e o processo de gogia foi ampliado em diferentes âmbi- aprendizagem de uma criança, seja esta tos, não permanecendo restrito ao am- até mesmo com necessidades educacio- biente da escola de ensino regular ou nais especiais. até mesmo em clínicas onde a ação psi- As experiências vividas pelo edu- copedagógica desenvolvia-se através de cando em desenvolvimento são refe- um trabalho inter ou multidisciplinar e, ridas e imprimem significação de- sim sofrendo uma abertura significativa terminante em seu processo de cons- (OLIVEIRA, 2008). trução pessoal. A aprendizagem co- A atuação psicopedagógica poderá loca em foco as diferentes dimensões ser concebida no ambiente escolar in- do educando sob a ótica integradora clusivo, com alternativas metodológicas do aspecto cognitivo, afetivo, orgâ- e procedimentos didáticos que viabili- nico e social. O 'olhar' sobre esses zará a inclusão e, sobretudo a educação aspectos, ao mesmo tempo em que de crianças com necessidades educa- relativiza a importância da escola na cionais especiais, através de atendimen- aprendizagem, coloca em foco a im- tos multidisciplinares, incluindo o tra- portância de toda reunião de fatores balho psicopedagógico. 'extra-classes' que interferem no Esses atendimentos são de extrema processo de construção do conheci- importância ao serem realizados no mento e do papel do aprendente ambiente educacional, pois segundo (RELVAS, 2008, p. 112/113). Weiss (2008), através da atuação de Ao atribuir à práxis psicopedagógica vários profissionais3 engajados e estu- essa visão holística do processo de en- dando com afinco as dificuldades de sino-aprendizagem, a atuação do psico- pedagogo na educação especial irá con- 3 Esses profissionais referenciam-se à: área da tribuir satisfatoriamente, por provocar educação, saúde e assistência social. Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902 Macapá, v. 2, n. 1, p. 01-10, jan./jun.,2012 O psicopedagogo na Educação Especial 7
aprendizagem apresentada pela criança ser vivente. Se educar é buscar o
com necessidades educacionais especi- bem-estar do humano em todo este ais, permitirá maior propriedade em contexto, o espaço/tempo educativo examinar os fatores orgânicos e psico- deve priorizar construções de pro- lógicos que desencadeiam tais, com a cessos harmônicos com as condições contribuição de uma discussão satisfa- da vida humana, e interação com a tória entre a equipe, sobre a realidade natureza do próprio homem e do estudada. planeta. A escola do sujeito em pro- Ao realizar o trabalho multidiscipli- cesso de interação permanente deve- narmente, as intervenções psicopeda- se voltar à compreensão de que todo gógicas que são realizadas com crian- conhecimento é, na verdade, 'saber ças com necessidades educacionais es- do outro' (BEAUCLAIR, 2007, p. peciais, não constituem em uma série 22). de testes que acontecem apenas uma A psicopedagogia contribui para a vez, mas são baseadas nos estudos das compreensão destas transformações respostas que a mesma apresentou du- necessárias, implicando em produzir rante um período determinado, incitan- discussões, análises e observações que do posteriormente em análises com desencadearão em intervenções essen- propósitos de oportunidades significati- ciais. A atuação do psicopedagogo no vas para intervenções futuras, com ambiente escolar inclusivo acontece sob perspectivas de mudanças no seu con- uma prévia observação do indivíduo texto familiar e escolar. que estar sendo assistido, por meio da O psicopedagogo como também a compreensão da situação apresentada, equipe multidisciplinar, precisam co- para posteriormente apoiar-se em co- nhecer holisticamente a criança que é nhecimentos/pressupostos epistemoló- assistida diante do momento ensino e gicos. aprendizagem mediante suas subjetivi- Com essa fundamentação pertinente dades, criando espaços e condições fa- decorrente de conhecimentos/ pressu- voráveis para expor suas potencialida- postos epistemológicos haverá a elabo- des, capacidades, habilidades, destrezas ração do informe psicopedagógico com e até mesmo suas limitações, como situações concretas, planejando ações também propiciar seu desenvolvimento organizadas futuras no intuito de esco- através de suas estruturas cognitivas, lher alternativas flexíveis para intervir afetivas, sociais, pedagógicas e corpo- nas dificuldades de aprendizagem, com rais. o uso de critérios adotados, bem como No processo de objetividade e subje- objetivos a serem alcançados, respei- tividade, elos entre o lidar consigo tando as características biológicas da mesmo e com os outros se constituem criança com necessidades educacionais como problemática a ser vivenciada. especiais, para serem desenvolvidas na O sujeito humano deve interagir com escola de ensino regular. os objetivos e com as regras do mei- Ao observar várias produções requi- o, mas deve também interagir com sitadas a criança com necessidades e- suas limitações, possibilidades e im- ducacionais especiais e, dispondo de possibilidades e carências enquanto dados concretos, chega a hora de con- Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902 Macapá, v. 2, n. 1, p. 01-10, jan./jun., 2012 8 Almeida Júnior
versar entre/com os profissionais que enganos nem dissimulações, mas ao
atendem em comum esta criança e, com mesmo tempo, ser capaz de conse- seus pais. A abordagem do psicopeda- guir que a pessoa que receba essas gogo deverá ser estabelecida mediante informações não se sinta culpada ou a dados fidedignos quanto ao diagnósti- atacada, mas perceba saídas possí- co suscitado, primando pelo Código de veis e veja mais vantagens na mu- Ética estabelecido pela Associação Bra- dança do que em permanecer na sileira de Psicopedagogia (ABPp), em mesma situação (VILANA, 2008, p. vista de contextualizar as hipóteses que 80). foram levantadas diante da ação psico- O psicopedagogo em consonância pedagógica, perante aos profissionais e com os profissionais, escola e pais terá a família. oportunidade de modificar a percepção O diagnóstico psicopedagógico é um destes em relação à criança com neces- processo, um contínuo sempre revi- sidades educacionais especiais, possibi- sável, onde a intervenção do psico- litando-os reverem suas atitudes e a pedagogo inicia, [...] em uma atitude maneira de se relacionarem com vários investigadora, até a intervenção. É organismos que fazem parte da socie- preciso observar que essa atitude in- dade. A inclusão é compreendida como vestigadora, de fato, prossegue du- um processo, em face de certos valores rante todo o trabalho, na própria in- e princípios. A parceria estabelecida tervenção, com o objetivo da obser- entre psicopedagogo, profissionais e vação ou acompanhamento da evo- pais implica em um respeito mútuo, lução do sujeito (BOSSA, 2007, p. baseando-se na troca de experiências 94). salutares diante desta criança, através O psicopedagogo deverá considerar do compartilhamento de informações e, vários organismos que fazem parte da até mesmo de sentimentos. história de vida da criança com neces- Tal relação é benéfica e, possui um sidades educacionais especiais, repre- valor inestimável, por propiciar aos pais sentados por sua família, pela escola e, o encorajamento necessário em acredi- inclusive pelo social como todo, pelo tar nas potencialidades da criança com fato em adquirir informações amplas e necessidades educacionais especiais em suficientes para formular possíveis hi- se tratando de um sucesso bastante al- póteses. Assim sendo, esse profissional mejado, ou então, ao conquistar um precisa colaborar com dados verídicos, desenvolvimento superior ao esperado, em relação a todo trabalho psicopeda- em decorrência do comprometimento, gógico que será executado com a crian- como também da qualidade de ensino e, ça em vista à sua subjetividade perante sobretudo através da motivação ilimita- seu processo de ensino-aprendizagem da de profissionais e pais. na escola e na sociedade. Como se pode observar, o contexto Consideramos que um dos maiores onde as crianças com necessidades e- desafios que se apresentam ao psi- ducacionais especiais estão inseridas, é copedagogo é proporcionar à famí- o mesmo contexto de todos, com suas lia, à escola e ao aluno informações convergências, contradições, dificulda- amplas de tudo o que coletou, sem des e alegrias, tornando-se irrelevante Estação Científica (UNIFAP) ISSN 2179-1902 Macapá, v. 2, n. 1, p. 01-10, jan./jun.,2012 O psicopedagogo na Educação Especial 9
segregá-las, ou então protegê-las ao psicopedagógica configura-se em mobi-
modo de reforçar (in)consequentemente lizar e aplicar conhecimentos acadêmi- suas limitações (BEYER, 2006). Assim, cos úteis para o desenvolvimento de a práxis psicopedagógica co- suas estruturas cognitivas, sociais, afe- relacionada à educação especial é aque- tivas e motrizes atribuindo funções cor- la que possibilita a convivência de cri- roborativas ao serem incluídas em situ- anças com/sem necessidades educacio- ações relacionais, como também nos nais especiais de maneira pacífica, res- tratamentos de informações e na parti- peitando as diversidades e diferenças cipação da vida em sociedade. culturais e biológicas, através do rom- A educação sob esta perspectiva de- pimento de paradigmas excludentes ao ve seguir ao encontro da vida afetiva, admitir o multiculturalismo perante o maturacional e social da criança com social. necessidades educacionais especiais, sem segregação de gênero, de cultura e 5 Conclusão de estrutura biológica. A partir das observações tecidas, Em suma, a presença do psicopeda- suscitadas e analisadas no decorrer des- gogo na educação especial é de extrema te estudo, a atuação do psicopedagogo importância, pois poderá contribuir no ambiente educacional inclusivo estar mediante a um contexto multidiscipli- sendo contemplada paulatinamente, nar em um ambiente educacional inclu- com a difusão de propostas inclusivas sivo através do atendimento à criança no cenário educacional brasileiro. com necessidades educacionais especi- A realização do trabalho psicopeda- ais em parceria e/ou com o auxílio de gógico na educação especial tende a outros profissionais, sejam estes da área propiciar um redimensionamento na educacional, saúde e assistência social práxis educativa de todos àqueles e, incluindo sua família e, englobando sobretudo do psicopedagogo que assiste satisfatoriamente a escola de ensino a criança com necessidades educacio- regular e os professores, em vista de nais especiais, no tocante a construção apoiá-la efetivamente no processo de de novas competências relacionadas à ensino-aprendizagem e na inclusão des- abertura de um projeto de educação ta na sociedade. inclusiva. Assim, compreende-se que apesar A educação deste século pressupõe das relevantes considerações expostas abordagens holísticas. Isto é, o psico- neste estudo, o mesmo merece maiores pedagogo junto à educação especial, reflexões e aprofundamento, além das precisa conhecer culturalmente a crian- enaltecidas aqui, em decorrência de ça com necessidades educacionais es- haver pequena quantidade de produções peciais que está sendo atendida, em científicas relacionadas ao trabalho do vista de possibilitar um trabalho com psicopedagogo na educação de crianças mais profundidade/propriedade em ci- com necessidades educacionais especi- ma de seus avanços, retrocessos, difi- ais, visto que as discussões sobre o te- culdades e progressos. ma em questão são inesgotáveis. O processo de ensino-aprendizagem destas crianças aliado a uma concepção 6 Referências
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