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Artigo de revisão de literatura

O psicopedagogo na Educação Especial

Claudovil Barroso de Almeida Júnior1


1
Pedagogo pelo Instituto de Ensino Superior do Amapá – IESAP. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela
Faculdade Internacional de Curitiba – FACINTER. Professor da Educação Especial do Centro Educacional Raimundo Nonato
Dias Rodrigues – CERNDR

RESUMO: Este artigo expõe o trabalho psicopedagógico desenvolvi-


do na educação especial. Tendo como objetivos a análise e a reflexão
sobre a ação psicopedagógica no ambiente educacional inclusivo. Sua
metodologia concentra-se na revisão bibliográfica sob uma perspecti-
va crítica da inclusão escolar. E, para finalizar o estudo, conclui-se so-
bre a necessidade de um olhar diferenciado da psicopedagogia no pro-
cesso de ensino-aprendizagem da criança com necessidades educacio-
nais especiais. Assim, o trabalho psicopedagógico deve ultrapassar a
ideia genérica da inclusão, expandindo sua proposta e possibilitando
seu apoio essencial e continuo a essa criança na vida educacional e so-
cial.
Palavras-chave: Trabalho Psicopedagógico, Educação Especial, Am-
biente Educacional Inclusivo, Psicopedagogia, Criança com Necessi-
dades Educacionais Especiais.
ABSTRACT. The psychopedagogue in special education. This pa-
per describes the work developed in psychology special education.
Having as objective analysis and reflection on action psicopedagogic
in inclusive educational environment. Its methodology focuses on the
literature review on a critical school inclusion. And, to complete the
study, we conclude on the need for a different look of educational psy-
chology in the teaching and learning of children with special educa-
tional needs. Thus, work psychology exceed the general idea of inclu-
sion, expanding its proposal and allowing your essential support and
keep the child in the educational and social life.
Keywords: Job Psicopedagogic, Special Education, Environment Inclusive
Education, Educational Psychology, Child with Special Educational Needs.

1 Introdução referentes à atuação do psicopedagogo


A produção deste artigo desenvol- na educação especial através de para-
veu-se a partir de uma pesquisa biblio- digmas inclusivos.
gráfica. Tendo como justificativa a im- A priori, será realizada uma aborda-
portância da compreensão do trabalho gem objetiva e sucinta sobre a psicope-
psicopedagógico desenvolvido no am- dagogia, iniciando seus estudos na Eu-
biente educacional inclusivo. Bem co- ropa, consolidando-se na América Lati-
mo objetivando analisar o trabalho do na, mais precisamente na Argentina e,
psicopedagogo e interpretar os dados estendendo-se ao Brasil. Como também
o trabalho psicopedagógico desenvol-
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vido na educação especial, através do notoriedade nas discussões científicas.


processo de ensino-aprendizagem de A presente autora complementa que,
crianças com necessidades educacio- além disso, no final do mesmo século,
nais especiais1. Educadores europeus, como Jean Marc
Por conseguinte, ressaltará a impor- Gaspard Itarde, Johann Heinrich Pesta-
tância do trabalho psicopedagógico ao lozzi e Edouard Seguin, tomando por
recorrer a múltiplos pressupostos teóri- base os pensamentos do Psicanalista
cos, no tocante ao fundamentar-se em Jacques-Marie Émile Lacan, começa-
assistir sistematicamente o desenvolvi- ram a dedicar seus estudos às crianças
mento das crianças com necessidades que apresentavam dificuldades de a-
educacionais especiais. Para comple- prendizagem em razão de vários distúr-
mentar essa discussão/análise, será a- bios.
presentada o foco central da presente, o Assim, em 1898 o professor de Psi-
trabalho do psicopedagogo no ambiente cologia Edouard Claparèd e o Neurolo-
educacional inclusivo. Assim, compre- gista François Neville, foram os precur-
ende-se que a ação psicopedagógica no sores ao introduzirem em escolas públi-
ambiente educacional inclusivo é de cas as "classes especiais" destinadas à
extrema relevância, ao oferecer um a- educação de crianças com retardo men-
poio efetivo à criança com necessidades tal. Na mesma época, a Psiquiatra itali-
educacionais especiais no contexto e- ana Maria Montessori, cria um método
ducacional e social. de aprendizagem destinado a essas cri-
anças.
2 Psicopedagogia e educação especial Influenciado pela tendência montes-
Os estudos, bem como sucessivas soriana, o Psiquiatra belga Ovide De-
preocupações sobre os problemas de croly, começa a interessar-se sobre as
aprendizagem começaram a ser difun- situações de aprendizagem de crianças -
didos na Europa no século XIX. O de- educação infantil, visando consequen-
senvolvimento da psicopedagogia ocor- temente à "apreensão globalizadora: a
reu na França. Na literatura francesa, criança e a família, a criança e a escola,
destaca-se a psicopedagoga francesa a criança e o mundo animal e assim por
Janine Mery. Segundo Bossa (2007), diante" (ARANHA, 1996, p. 173).
Mery ressalta que ainda no século XIX Em meio a esse contexto, surgem es-
estudos e interesses sobre a compreen- colas destinadas a crianças com a a-
são e o atendimento de portadores de prendizagem lenta. Na França por volta
deficiências2 sensoriais, debilidade de 1930, são criados os primeiros cen-
mental e outros problemas que com- tros de orientação educacional infantil
prometem a aprendizagem, ganharam formado por educadores, médicos, psi-
cólogos e assistentes sociais. Já em
1946, J. Boutonier e George Mauco
1
Alunos com deficiência, transtornos globais do fundam os primeiros Centros Psicope-
desenvolvimento e altas habilidades e/ou
superdotação. dagógicos. Com objetivo de um estudo
2
A menção a portadores de deficiências diz respeito interdisciplinar através dos conheci-
em atribuir ao contexto daquela época. Atualmente, mentos da psicologia, da psicanálise e
o termo usado é pessoas com necessidades
especiais.
da educação, para tratar de crianças
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com problemas de aprendizagem. gando ao Brasil.


A partir de 1948, Debesse passa a u- No Brasil, a psicopedagogia come-
tilizar o termo "Pedagogia Curativa", a çou a ser difundida na década de 80,
qual tinha como objetivo atender tais com profissionais engajados no estudo
crianças. De acordo com Maluf (2007), das causas e intervenções dos proble-
na literatura psicopedagógica outros mas de aprendizagem. Nesse período,
profissionais, como Maud Mannoni, acreditava-se que os problemas de a-
Françoise Douto, Pierre Vayer, Pichon- prendizagem decorriam de fatores or-
Rivière como tantos, foram importantes gânicos. Em 1987, Doris J. Johnson e
e grandes expoentes na contribuição Helmer R. Myklebrust, através de sua
através de estudos sobre os problemas literatura: Distúrbios de Aprendizagem,
de aprendizagem, originando a Psico- foi possível compreender os fatores
pedagogia Clínica. orgânicos através dos conceitos de Dis-
Com o século XX, a expansão do en- função Cerebral Mínima (DCM).
sino é evidente ao tornar a educação A psicopedagogia paulatinamente
básica obrigatória em vários países. Na vem sofrendo transformações significa-
Argentina, a atuação psicopedagógica tivas desde os primeiros conceitos, refe-
configura-se na estruturação e/ou na renciados pela DCM. Atualmente, o
fundamentação da educação e da saúde. estudo psicopedagógico possui um ca-
Na educação, o trabalho psicopedagó- ráter interdisciplinar, possibilitando a
gico está relacionado em cooperar na transposição um conhecimento especí-
diminuição do fracasso escolar e, a sa- fico, para um conhecimento cuja sua
úde referencia-se em reconhecer e atuar amplitude seja realizada por meio da
sobre as alterações da aprendizagem Sociologia, Psicologia, Antropologia,
sistemática e/ou assistemática. Linguística, Filosofia, Psicolinguística,
Para tanto, "a psicopedagogia é o Psicanálise, Neurologia, Fonoaudiolo-
campo da reflexão e do fazer pedagógi- gia, Medicina, Pedagogia e dentre ou-
cos, tendo como foco os fatores psico- tras.
lógicos. Tem como objeto de estudo o A psicopedagogia nasceu para aten-
processo de aprendizagem e utiliza na der à demanda da não-
prática recursos diagnósticos, corretores aprendizagem, das dificuldades de
e preventivos próprios" (ASSIS, 2007, aprendizagem e do fracasso escolar,
p.19). fundamentando-se no conhecimento
Com a abordagem da epistemologia de várias ciências e áreas do conhe-
convergente de Visca (1991) perante a cimento. Organizou-se como prática
psicanálise de Sigmund Freud, a psico- exercida por profissionais de dife-
logia social de Pichon Rivière e a epis- rentes áreas até o surgimento de cur-
temologia genética de Jean Piaget, o sos específicos. A junção de deman-
estudo sobre as dificuldades de apren- da, fundamentação teórica e prática
dizagem deixa de ser apenas clínico e originou essa nova área de conheci-
configura-se também institucional. A mento e essa nova profissão, inaugu-
psicopedagogia a partir desta concep- rando a área de atuação específica
ção começa a expandir-se, superando (GRASSI, 2009, p. 96).
limites geográficos e/ou culturais, che- Assim, baseando-se pelas relações
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interdisciplinares, está o ambiente esco- criança com necessidades educacionais


lar no que diz respeito à inclusão de especiais o direito à educação e, o res-
crianças com necessidades educacio- peito por sua diversidade estudantil
nais especiais, através da educação es- (MITTLER, 2003).
pecial. Para Vygotsky apud Beyer O modelo educacional carece neces-
(2006), o ensino destinado à criança sariamente do olhar do psicopedagogo
com necessidades educacionais especi- sobre a prática pedagógica no ambiente
ais tende a propiciar o seu desenvolvi- educacional inclusivo, haja vista que a
mento cognitivo através do conheci- psicopedagogia não se ocupa em estu-
mento histórico-cultural existente na dar somente às dificuldades que o aluno
sociedade em que ela nasceu, isto é, apresenta no processo de ensino-
seja marcada pela promoção variada e aprendizagem, mas sim sua relação
rica de suas vivências sociais. com o social, em meio à construção do
[...] A intervenção pedagógica pro- conhecimento coletivo, bem como às
voca avanços que não ocorreriam influências que podem ser constituídas
espontaneamente. A importância da mediante essa relação.
intervenção deliberada de um indi- [...] apesar de a psicopedagogia ter
víduo sobre os outros como forma de surgido como uma disciplina com-
promover desenvolvimento articula- plementar da psicologia e da medi-
se como um postulado básico de Vy- cina, devido a necessidade do aten-
gotsky: a aprendizagem é fundamen- dimento ao aluno com dificuldade de
tal para o desenvolvimento desde o aprendizagem, atualmente esse ramo
nascimento da criança. A aprendiza- preocupa-se não só com o aluno e
gem desperta processos internos de sua família, mas com tudo que o cer-
desenvolvimento que só pode ocorrer ca, influencia e constrói: a escola
quando o indivíduo interage com ou- como instituição, a comunidade onde
tras pessoas. O processo de ensino- estão inseridos, os professores, a e-
aprendizagem que ocorre na escola quipe técnica administrativa. [...]
propicia o acesso dos membros ima- dessa forma, é preciso lançar seu o-
turos da cultura letrada ao conheci- lhar para a comunidade, a sociedade
mento construído e acumulado pela e a cultura. O foco deixa de ser ape-
ciência e a procedimentos metacog- nas clínico e torna-se também insti-
nitivos, centrais ao próprio modo de tucional (ASSIS, 2007, p. 19/20).
articulação dos conceitos científicos Refletir sobre a importância do tra-
(OLIVEIRA, 1992, p. 33). balho do psicopedagogo no ambiente
A figura do psicopedagogo é de ex- escolar inclusivo é imprescindível, de-
trema relevância na educação especial, vido à necessidade do mesmo conduzir
por auxiliar a criança com necessidades à criança com necessidades educacio-
educacionais especiais em sua adapta- nais especiais a uma formação sócioin-
ção no ambiente escolar, beneficiando-a teracionista entre o aprender e o com-
com que a escola possa lhe oferecer. A preender, isto é, possibilitá-la a um en-
escola, de acordo com essa premissa tendimento em vista daquilo que está
precisa rever sua postura, como tam- sendo mais relevante naquele momento
bém a de seus profissionais ofertando à para ela, seja tal representado por meio
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de valores, sonhos ou fantasias, levando preveni-la. Nesse sentido, considera-se


em consideração a comunidade que faz que o contingente educacional é multi-
parte do convívio social deste ser. cultural, assim a aprendizagem é um
A educação do século XXI prima-se resultado da estimulação ambiental so-
para a abertura de novos olhares e pen- bre o indivíduo e suas relações (JOSÉ;
samentos sobre as pessoas, onde a ética COELHO, 2008).
e a solidariedade prevaleçam com ênfa- Essa relação dialética deverá aconte-
se. A pedagogia contemporânea assume cer a partir do momento em que é ga-
uma característica interdisciplinar, pro- rantido o acesso à educação de crianças
pondo o redimensionamento nas ações com necessidades educacionais especi-
e nos valores, pautados em uma visão ais. Para tanto, fundamentando-se pela
dialética do social e do mundo (SAN- ideia de Facion e Castro (2009), a edu-
TOS, 2007). Logo, o trabalho psicope- cação contemporânea prima pela diver-
dagógico na educação especial é indis- sidade humana, propondo o redirecio-
pensável ao fundamentar-se em pressu- namento dos valores profissionais, con-
postos epistemológicos cujo seus enfo- templados através de uma prática peda-
ques garantem a contextualização dos gógica diferenciada ao privilegiar as
organismos/sistemas que compõem a subjetividades da criança com necessi-
vida social da criança com necessidades dades educacionais especiais.
educacionais especiais. O professor, precisa estar preparado
para os novos desafios educacionais,
3 Noções e implicações no processo em vista de desenvolver posturas refle-
de inclusão de crianças com necessi- xivas e críticas, mediante a busca e o
dades educacionais especiais: uma aprendizado constante de conhecimen-
abordagem psicopedagógica tos. E, para que isso ocorra o profissio-
As discussões sobre o termo psico- nal precisa conhecer, como também
pedagogia, atualmente perpas- buscar entender o porquê de seguir esta
sam/produzem na sociedade científica ou aquela tendência educacional, avali-
sucessivos estudos em decorrência do ando até que ponto ela se faz relevante
que vem a ser o presente. A psicopeda- quanto sua perspectiva educacional.
gogia se ocupa com a aprendizagem Assim, é notório considerar que a prá-
humana, o que acaba por representar e xis pedagógica do educador da educa-
extrapolar os limites da Psicologia e da ção especial, bem como do psicopeda-
Pedagogia. Como também, estuda al- gogo poderá vir estar fundamentada sob
gumas características desta aprendiza- o paradigma crítico-materialista.
gem, tais sejam: como se aprende, co- Segundo Reichmann apud Beyer
mo se processa esse aprendizado, que (2006), o paradigma crítico-materialista
fatores produzem a aprendizagem ou deverá ser interpretado, mediante a rea-
por que não estar aprendendo. lidade dos indivíduos, que são inseridos
Ao observar essa situação, o psico- em um contexto social concreto, por
pedagogo lançar-se a três questiona- revelar situações relacionais convergen-
mentos fundamentais sobre essa difi- tes e/ou divergentes, através da tomada
culdade apresentada pelo aluno: como de consciência por sua existência ao
reconhecê-la, como tratá-la ou como confrontar-se com o real por ser uma
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pessoa com deficiência. mudanças de comportamentos e atitu-


No entanto, para recorrer e atribuir des ao ampliar as potencialidades da
esse paradigma à ação psicopedagógica criança com necessidades educacionais
na educação especial, o psicopedagogo especiais, visando atribuir às situações
carece estar fundamentado, ao tecer novos conhecimentos, novas habilida-
reflexões em decorrência de bases epis- des e/ou novas aprendizagens, com ex-
temológicas e/ou conceituais, permitin- periências enriquecedoras advindas de
do-lhe a inovação e a reelaboração de seu meio social.
novas práticas de ensino, em decorrên-
cia de propor a inclusão de alunos com 4 O psicopedagogo no ambiente edu-
necessidades especiais no ambiente e cacional inclusivo
educacional e social. O desenvolvimento do trabalho psi-
Tomando como referência as ideias copedagógico originou-se nos atendi-
de Lakomy (2008), o conhecimento de mentos a crianças que apresentam pro-
concepções teóricas no ambiente edu- blemas relacionados a dificuldades de
cacional, torna possível ao professor aprendizagem. A atuação de profissio-
e/ou ao psicopedagogo o uso de estra- nais que estudam questões que envol-
tégias, no sentido de estimular o desen- vam o objeto de estudo da Psicopeda-
volvimento cognitivo e o processo de gogia foi ampliado em diferentes âmbi-
aprendizagem de uma criança, seja esta tos, não permanecendo restrito ao am-
até mesmo com necessidades educacio- biente da escola de ensino regular ou
nais especiais. até mesmo em clínicas onde a ação psi-
As experiências vividas pelo edu- copedagógica desenvolvia-se através de
cando em desenvolvimento são refe- um trabalho inter ou multidisciplinar e,
ridas e imprimem significação de- sim sofrendo uma abertura significativa
terminante em seu processo de cons- (OLIVEIRA, 2008).
trução pessoal. A aprendizagem co- A atuação psicopedagógica poderá
loca em foco as diferentes dimensões ser concebida no ambiente escolar in-
do educando sob a ótica integradora clusivo, com alternativas metodológicas
do aspecto cognitivo, afetivo, orgâ- e procedimentos didáticos que viabili-
nico e social. O 'olhar' sobre esses zará a inclusão e, sobretudo a educação
aspectos, ao mesmo tempo em que de crianças com necessidades educa-
relativiza a importância da escola na cionais especiais, através de atendimen-
aprendizagem, coloca em foco a im- tos multidisciplinares, incluindo o tra-
portância de toda reunião de fatores balho psicopedagógico.
'extra-classes' que interferem no Esses atendimentos são de extrema
processo de construção do conheci- importância ao serem realizados no
mento e do papel do aprendente ambiente educacional, pois segundo
(RELVAS, 2008, p. 112/113). Weiss (2008), através da atuação de
Ao atribuir à práxis psicopedagógica vários profissionais3 engajados e estu-
essa visão holística do processo de en- dando com afinco as dificuldades de
sino-aprendizagem, a atuação do psico-
pedagogo na educação especial irá con- 3
Esses profissionais referenciam-se à: área da
tribuir satisfatoriamente, por provocar educação, saúde e assistência social.
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aprendizagem apresentada pela criança ser vivente. Se educar é buscar o


com necessidades educacionais especi- bem-estar do humano em todo este
ais, permitirá maior propriedade em contexto, o espaço/tempo educativo
examinar os fatores orgânicos e psico- deve priorizar construções de pro-
lógicos que desencadeiam tais, com a cessos harmônicos com as condições
contribuição de uma discussão satisfa- da vida humana, e interação com a
tória entre a equipe, sobre a realidade natureza do próprio homem e do
estudada. planeta. A escola do sujeito em pro-
Ao realizar o trabalho multidiscipli- cesso de interação permanente deve-
narmente, as intervenções psicopeda- se voltar à compreensão de que todo
gógicas que são realizadas com crian- conhecimento é, na verdade, 'saber
ças com necessidades educacionais es- do outro' (BEAUCLAIR, 2007, p.
peciais, não constituem em uma série 22).
de testes que acontecem apenas uma A psicopedagogia contribui para a
vez, mas são baseadas nos estudos das compreensão destas transformações
respostas que a mesma apresentou du- necessárias, implicando em produzir
rante um período determinado, incitan- discussões, análises e observações que
do posteriormente em análises com desencadearão em intervenções essen-
propósitos de oportunidades significati- ciais. A atuação do psicopedagogo no
vas para intervenções futuras, com ambiente escolar inclusivo acontece sob
perspectivas de mudanças no seu con- uma prévia observação do indivíduo
texto familiar e escolar. que estar sendo assistido, por meio da
O psicopedagogo como também a compreensão da situação apresentada,
equipe multidisciplinar, precisam co- para posteriormente apoiar-se em co-
nhecer holisticamente a criança que é nhecimentos/pressupostos epistemoló-
assistida diante do momento ensino e gicos.
aprendizagem mediante suas subjetivi- Com essa fundamentação pertinente
dades, criando espaços e condições fa- decorrente de conhecimentos/ pressu-
voráveis para expor suas potencialida- postos epistemológicos haverá a elabo-
des, capacidades, habilidades, destrezas ração do informe psicopedagógico com
e até mesmo suas limitações, como situações concretas, planejando ações
também propiciar seu desenvolvimento organizadas futuras no intuito de esco-
através de suas estruturas cognitivas, lher alternativas flexíveis para intervir
afetivas, sociais, pedagógicas e corpo- nas dificuldades de aprendizagem, com
rais. o uso de critérios adotados, bem como
No processo de objetividade e subje- objetivos a serem alcançados, respei-
tividade, elos entre o lidar consigo tando as características biológicas da
mesmo e com os outros se constituem criança com necessidades educacionais
como problemática a ser vivenciada. especiais, para serem desenvolvidas na
O sujeito humano deve interagir com escola de ensino regular.
os objetivos e com as regras do mei- Ao observar várias produções requi-
o, mas deve também interagir com sitadas a criança com necessidades e-
suas limitações, possibilidades e im- ducacionais especiais e, dispondo de
possibilidades e carências enquanto dados concretos, chega a hora de con-
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versar entre/com os profissionais que enganos nem dissimulações, mas ao


atendem em comum esta criança e, com mesmo tempo, ser capaz de conse-
seus pais. A abordagem do psicopeda- guir que a pessoa que receba essas
gogo deverá ser estabelecida mediante informações não se sinta culpada ou
a dados fidedignos quanto ao diagnósti- atacada, mas perceba saídas possí-
co suscitado, primando pelo Código de veis e veja mais vantagens na mu-
Ética estabelecido pela Associação Bra- dança do que em permanecer na
sileira de Psicopedagogia (ABPp), em mesma situação (VILANA, 2008, p.
vista de contextualizar as hipóteses que 80).
foram levantadas diante da ação psico- O psicopedagogo em consonância
pedagógica, perante aos profissionais e com os profissionais, escola e pais terá
a família. oportunidade de modificar a percepção
O diagnóstico psicopedagógico é um destes em relação à criança com neces-
processo, um contínuo sempre revi- sidades educacionais especiais, possibi-
sável, onde a intervenção do psico- litando-os reverem suas atitudes e a
pedagogo inicia, [...] em uma atitude maneira de se relacionarem com vários
investigadora, até a intervenção. É organismos que fazem parte da socie-
preciso observar que essa atitude in- dade. A inclusão é compreendida como
vestigadora, de fato, prossegue du- um processo, em face de certos valores
rante todo o trabalho, na própria in- e princípios. A parceria estabelecida
tervenção, com o objetivo da obser- entre psicopedagogo, profissionais e
vação ou acompanhamento da evo- pais implica em um respeito mútuo,
lução do sujeito (BOSSA, 2007, p. baseando-se na troca de experiências
94). salutares diante desta criança, através
O psicopedagogo deverá considerar do compartilhamento de informações e,
vários organismos que fazem parte da até mesmo de sentimentos.
história de vida da criança com neces- Tal relação é benéfica e, possui um
sidades educacionais especiais, repre- valor inestimável, por propiciar aos pais
sentados por sua família, pela escola e, o encorajamento necessário em acredi-
inclusive pelo social como todo, pelo tar nas potencialidades da criança com
fato em adquirir informações amplas e necessidades educacionais especiais em
suficientes para formular possíveis hi- se tratando de um sucesso bastante al-
póteses. Assim sendo, esse profissional mejado, ou então, ao conquistar um
precisa colaborar com dados verídicos, desenvolvimento superior ao esperado,
em relação a todo trabalho psicopeda- em decorrência do comprometimento,
gógico que será executado com a crian- como também da qualidade de ensino e,
ça em vista à sua subjetividade perante sobretudo através da motivação ilimita-
seu processo de ensino-aprendizagem da de profissionais e pais.
na escola e na sociedade. Como se pode observar, o contexto
Consideramos que um dos maiores onde as crianças com necessidades e-
desafios que se apresentam ao psi- ducacionais especiais estão inseridas, é
copedagogo é proporcionar à famí- o mesmo contexto de todos, com suas
lia, à escola e ao aluno informações convergências, contradições, dificulda-
amplas de tudo o que coletou, sem des e alegrias, tornando-se irrelevante
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segregá-las, ou então protegê-las ao psicopedagógica configura-se em mobi-


modo de reforçar (in)consequentemente lizar e aplicar conhecimentos acadêmi-
suas limitações (BEYER, 2006). Assim, cos úteis para o desenvolvimento de
a práxis psicopedagógica co- suas estruturas cognitivas, sociais, afe-
relacionada à educação especial é aque- tivas e motrizes atribuindo funções cor-
la que possibilita a convivência de cri- roborativas ao serem incluídas em situ-
anças com/sem necessidades educacio- ações relacionais, como também nos
nais especiais de maneira pacífica, res- tratamentos de informações e na parti-
peitando as diversidades e diferenças cipação da vida em sociedade.
culturais e biológicas, através do rom- A educação sob esta perspectiva de-
pimento de paradigmas excludentes ao ve seguir ao encontro da vida afetiva,
admitir o multiculturalismo perante o maturacional e social da criança com
social. necessidades educacionais especiais,
sem segregação de gênero, de cultura e
5 Conclusão de estrutura biológica.
A partir das observações tecidas, Em suma, a presença do psicopeda-
suscitadas e analisadas no decorrer des- gogo na educação especial é de extrema
te estudo, a atuação do psicopedagogo importância, pois poderá contribuir
no ambiente educacional inclusivo estar mediante a um contexto multidiscipli-
sendo contemplada paulatinamente, nar em um ambiente educacional inclu-
com a difusão de propostas inclusivas sivo através do atendimento à criança
no cenário educacional brasileiro. com necessidades educacionais especi-
A realização do trabalho psicopeda- ais em parceria e/ou com o auxílio de
gógico na educação especial tende a outros profissionais, sejam estes da área
propiciar um redimensionamento na educacional, saúde e assistência social
práxis educativa de todos àqueles e, incluindo sua família e, englobando
sobretudo do psicopedagogo que assiste satisfatoriamente a escola de ensino
a criança com necessidades educacio- regular e os professores, em vista de
nais especiais, no tocante a construção apoiá-la efetivamente no processo de
de novas competências relacionadas à ensino-aprendizagem e na inclusão des-
abertura de um projeto de educação ta na sociedade.
inclusiva. Assim, compreende-se que apesar
A educação deste século pressupõe das relevantes considerações expostas
abordagens holísticas. Isto é, o psico- neste estudo, o mesmo merece maiores
pedagogo junto à educação especial, reflexões e aprofundamento, além das
precisa conhecer culturalmente a crian- enaltecidas aqui, em decorrência de
ça com necessidades educacionais es- haver pequena quantidade de produções
peciais que está sendo atendida, em científicas relacionadas ao trabalho do
vista de possibilitar um trabalho com psicopedagogo na educação de crianças
mais profundidade/propriedade em ci- com necessidades educacionais especi-
ma de seus avanços, retrocessos, difi- ais, visto que as discussões sobre o te-
culdades e progressos. ma em questão são inesgotáveis.
O processo de ensino-aprendizagem
destas crianças aliado a uma concepção 6 Referências

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