Você está na página 1de 3

Terceira bem aventurança

Por Rafael Rangel Moreira

Bem aventurados os que têm coragem de amar!

A terceira bem aventurança proposta por Cristo traz uma recompensa que ser humano algum
desprezaria, receber a terra por herança!

Essa recompensa de fato pode chamar um pouco mais de atenção, talvez tenha acontecido
isso com os ouvintes daquele sermão, porque caracteriza uma recompensa mais mensurável,
palpável.

Mas como em cada bem aventurança, Cristo propõe um comportamento para que a
recompensa seja recebida. E aqui ele diz, que felizes serão os mansos, ou os humildes, porque
serão eles que receberão a terra por herança.

Os adjetivos usados no texto original, para manso e humilde, são respectivamente [πρᾶος
(praós)] e [πραΰς (praús)], muito parecidos no significado e usados apenas duas vezes por
Jesus, em todos os quatro Evangelhos. O outro momento em que ele usou está de certa forma
diretamente relacionado a esta bem aventurança, no mesmo livro de Mateus, capítulo 11
versículo 29:

Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e
vocês encontrarão descanso para suas almas.

Fazendo um parêntese aqui, a recompensa está perfeita! Receber a terra por herança e ter
descanso para a alma! Talvez parafraseando as promessas de Cristo, algum de nós poderia
pensar em algo como morar em um local paradisíaco com as contas pagas e vivendo do bom e
do melhor!

Mas afinal, o que significa ser manso e humilde nas palavras de Jesus?

Cada bem aventurança mencionada por Cristo não foi apenas um discurso, mas estão
retratadas na sua própria vida. Seus seguidores, desde a multidão que o acompanhava
diariamente até o seu círculo íntimo de 12 discípulos, tinham no fundo de seus corações uma
única expectativa; o de um Messias político, guerreiro, que implantasse seu Reino pela força.
Durante os 3 anos de ministério Cristo frustrou essa expectativa. No ápice de sua
popularidade, quando anuncia sua chegada a Jerusalém naquela que seria sua última páscoa,
as multidões estão preparadas para anunciar a chegada do seu rei político, com mantos e
ramos de oliveiras espalhados pelo caminho e anunciando em alta voz: “Bendito é o que vem
em nome do Senhor! Hosana nas alturas!”

Mas Cristo não está interessado em receber toda aquela popularidade, e com um simples e
humilde gesto ele comunica isso a todos que estavam presentes, entrando pelas portas de
Jerusalém no lombo de um jumento.

Em todo momento Cristo se mostrou manso e humilde, até mesmo nos momentos mais tensos
de sua jornada, do início de sua prisão, passando pelos açoites, apanhando e sendo cuspido
pelos soldados romanos, sendo blasfemado e acusado injustamente pelos seus conterrâneos
enquanto estava pendurado na cruz.

Ele não revidou. Ele suportou absolutamente tudo em silêncio. Ele se manteve manso e
humilde.

Em Cristo não havia violência ou guerra, como está escrito pelo transformado apóstolo Pedro
em sua primeira carta, no capitulo 2 versículo 23:

Quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele
que julga com justiça.

E aqui começa o nosso conflito. Porque não agimos dessa forma. Em nosso comportamento
diário está enraizada a lei “olho por olho, dente por dente”, ou pode ser traduzida pelo “bateu,
levou”.

Toda a história da humanidade está marcada por violências e guerras. As maiores aconteceram
até por motivos religiosos, em nome de Deus e do seu Filho Jesus Cristo. A todo momento
somos bombardeados por notícias de guerras e violências cada vez mais assustadoras.

Mas, ainda que não estejamos na linha de frente de uma batalha ou somos contra o porte de
armas, todos praticamos as guerras e violências em nossos pequenos comportamentos. Contra
o nosso próximo e contra nós mesmos.

Sentimentos como raiva, ódio, ira e inveja são produzidos diariamente em nosso interior.
Palavras são lançadas às pessoas que, nem que seja por um momento, desejamos agredir.
Manifestações físicas de violência e guerra são comuns a todos nós, desde a infância.

Mas de onde vem, qual a origem de tanta guerra e violência? A raiz de tudo está no medo.
Veja por exemplo o comportamento de um animal, que chamamos de irracional. Quando ele
se sente encurralado, qual a sua atitude? Ataque.

O medo é sim o maior destruidor do ser humano e da vida, e nele está a origem das guerras e
violência. Cristo era manso e humilde, resistindo à guerra e violência que recebia todos os dias,
e até a que pediam para que fizesse, porque nele não havia medo, mas o Amor Perfeito. E no
primeiro livro de João, no capítulo 4 versículo 18 o apóstolo traz esse entendimento:

No amor não existe receio; antes, o perfeito amor lança fora todo o medo.

É por isso que nós da Casa do Amor Pleno acreditamos nisso e buscamos viver essa verdade.
Em nossa cultura, acreditamos que em outra passagem quando Cristo é questionado sobre
qual seria o maior mandamento, ele responde em Mateus capítulo 22 nos versículos 37 e 39:

Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu
entendimento. E o segundo é semelhante a ele: ame o seu próximo como a si mesmo.

De maneira simples, ele encerra a discussão afirmando que toda a Bíblia se cumpre nesses dois
mandamentos! Mas em complemento a essa verdade, pelo entendimento dado pelo Espírito
Santo o apóstolo João continua a ensinar sobre o amor em sua primeira carta, ainda no
capítulo 4 versículo 20:

Se alguém afirmar: “Eu amo a Deus”, mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama
seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.
E aqui o entendimento sobre todo o ensinamento de Cristo, assim como sobre essa bem
aventurança, está completo!

Não sou capaz de amar a Deus, se primeiro não amar o meu irmão (ou próximo). E não sou
capaz de amar o meu irmão, se eu não me amar primeiro!

Isso pode de início parecer bastante egoísta, mas precisamos entender que podemos somente
entregar aquilo que temos! Não há como entregar amor verdadeiro ao meu próximo se dentro
de mim não houver esse amor verdadeiro! Mas enquanto houver medo que alimenta as
guerras e violências internas dentro de mim, serei incapaz de praticar essa bem aventurança
de ser manso e falharei em viver o Evangelho de Jesus Cristo.

Porque ele, o amor encarnado, veio para nos deixar o exemplo e rasgar o véu do templo para
dizer a mim e a você que não existem barreiras para que recebamos o amor perfeito de Deus
derramado em nossos corações!

Como costumamos dizer na Casa do Amor Pleno, precisamos permitir que o jardineiro cultive
nosso jardim, para que possamos entregar as mais belas flores à outras pessoas!

Amor é mais que um sentimento, é uma atitude! Que no dia de hoje você possa tomar a
decisão de ligar para alguém que não fala há muito tempo e perguntar como está, que você
possa liberar perdão a quem te ofendeu, que você possa abrir a janela do seu quarto e
agradecer pela vida que Deus te deu. Que você possa abraçar alguém, que você possa dizer um
bom dia com um sorriso no rosto a alguém que não conhece na rua!

Ser manso é ser simples, é ser grato, é ser gentil. O mundo já está cheio de guerras e
violências, que possamos ao invés disso espalhar mais gentilezas, a nós mesmo e às pessoas ao
nosso redor. Foi isso que Cristo fez, é isso que ele espera de nós. É essa a essência do seu
Evangelho.

Que Deus te abençoe, e até a próxima bem aventurança!

Você também pode gostar